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23/04/2019 Ciência Hoje | Imagens e aventuras de Hercule Florence

IMAGENS E AVENTURAS DE HERCULE FLORENCE


Página Inicial  Seção  Bastidores da Ciência

Radicado no Brasil desde jovem, o desenhista francês


que estudou o canto das aves e técnicas de impressão é
autor do mais antigo registro fotográfico das Américas.

Ao embarcar no navio Marie Thérèze, em fevereiro de 1824, em direção às Américas, o jovem francês
Hercule Florence não sabia que sua jornada, embalada pelo livro Robinson Crusoé, do escritor inglês
Daniel Defoe, seria um caminho sem volta, fazendo do Brasil a sua pátria permanente.

Nascido na cidade de Nice, na França, em 29 de fevereiro de 1804, Antoine


Hercule Romuald Florence era lho do cirurgião do exército Arnaud
Florence e de Augustine de Vignallys. Tinha um admirável talento para o
desenho e, como autodidata em matemática e física, desenvolveu desde
cedo ideias e projetos inovadores.

Em maio de 1824, Florence xou-se no Rio de Janeiro, trabalhando,


primeiro, em uma loja de tecidos e, mais tarde, como responsável por
executar litogra as em uma tipogra a. Seu espírito aventureiro, porém,
falou mais alto e, em 1825, candidatou-se ao cargo de segundo desenhista
da expedição cientí ca do barão de Langsdorff, patrocinada pelo governo
imperial da Rússia para coletar e catalogar, pelo interior do Brasil,
minerais, espécies de fauna e ora locais e fazer estudos etnográ cos. O
barão Langsdorff não só ganhou um desenhista talentoso como um exímio
cartógrafo prático.

Nessa expedição, o primeiro desenhista era o pintor alemão Johann M.


Retrato de Hercule Florence, o pioneiro da Rugendas (1802-1858). Após sua saída, em 1825, o posto foi ocupado pelo
fotogra a.
Crédito: Acervo do Museu Paulista da USP pintor francês Adrien Taunay (1803-1828), que, depois de se perder na mata,
morreu afogado ao tentar atravessar a nado o rio Guaporé, no Mato Grosso.

Várias tragédias cercaram a expedição. O próprio barão contraiu uma ‘febre


tropical’ que afetou sua saúde física e mental. A partir desse momento, Florence passou a escrever o
diário da expedição até o nal, quando entregou o material à família de Taunay.

Dos pássaros à poligrafia


Durante a expedição, Florence se dedicou ao estudo dos sons emitidos pelos animais, em especial ao
canto dos pássaros. Ao retornar para o Rio de Janeiro, em 1829, começou a escrever suas memórias e
seu tratado intitulado Zoofonia. Nesse mesmo ano, mudou-se para a Vila de São Carlos, atual
Campinas (SP), onde xou residência. Zoofoniaconsistia em transformar a vocalização de aves e
animais da fauna brasileira em pautas e notas musicais. Assim, cerca de 100 anos antes de nascer a
chamada bioacústica, Florence não apenas inovou
na área como foi o precursor dessa ciência.

No desejo de divulgar seu tratado e estudos em


um país ainda carente de formas de tipogra a,
Florence voltou seus projetos para uma forma de
reprodução de textos, como pode se constatar
em suas próprias palavras: “Tendo tido o desejo,
em 1830, de publicar uma memória tendente a
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fazer da voz dos animais um novo objeto de


estudo da natureza, e estando em país onde não
há tipogra as, compreendi o quanto seria útil
que esta antes fosse simpli cada em seu
aparelho e em seu processo…”.

Assim, debruçou-se sobre o projeto da


poligra a, um processo de impressão mais
simples que os utilizados na litogra a e na
gravura. Duas grandes vantagens desse método
inovador eram uma prancha embebida em tinta
e a possibilidade da impressão simultânea de Ao retornar da expedição Langsdorff, Florence
começou a escrever seu tratado intitulado
todas as cores
Zoofonia, que consistia em transformar a
vocalização de aves e animais da
fauna brasileira em pautas e notas musicais.
Crédito: Revista do Instituto Histórico Geográ co
e Etnográ co do Brasil (p.331, 1876).

 

Créditos: Imagens gentilmente cedidas para ns acadêmicos pelo Instituto Moreira Salles

Então, ele anunciou, em 1832, no jornal O novo farol paulistano, seu serviço de fazer o retrato original
das pessoas por $ 3.200 (três mil e duzentos réis), mais cópias poligrá cas para “distribuir entre
parentes e amigos” por $ 200 (duzentos réis) cada reprodução. Entre outras impressões, Florence fez
a impressão do mapa itinerário para o governo da província de São Carlos (SP).

Seguindo suas pesquisas na área de imagem, Florence começou a estudar um processo independente
da técnica do desenhista. Em seu diário, ele assim a escreve: “Não teria eu iniciado a arte mais do que
maravilhosa de desenhar qualquer objeto, sem dar-me ao trabalho de o fazer com a própria mão?”.
Então, ele passou a pesquisar a câmera escura, técnica conhecida desde antes do Renascimento
italiano que consiste em um aparelho óptico que projeta a imagem invertida através de um pequeno
orifício.

Contribuição crucial para a fotografia

Como estudioso das novas ciências e técnicas


surgidas a partir do século 18, Florence
acompanhou as inovações do campo da química,
como a descoberta, em 1727, da sensibilização
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pela luz dos sais de prata, feita pelo polímata


alemão Johann Schulze (1687-1744), e os estudos
do químico sueco Carl Scheele (1742-1786), que
observou que o cloreto de prata atingido pela luz
se tornava insolúvel pela ação da amônia,
podendo ser usada como xador. Em seus
ensaios, que seriam o marco para a criação da
fotogra a, Florence substituiu o cloreto de prata
pelo nitrato de prata.

Os conhecimentos adquiridos e as experiências


realizadas zeram com que Florence escrevesse
um documento sobre o processo (fotográ co), o
meio (papel fotográ co) e o produto (imagem
impressa) com o nome de ‘fotogra a’. A primeira
fotogra a documentada data de 1833, a Epréuve
n°2, que registra um conjunto de rótulos
farmacêuticos.

E, assim, após uma vida de aventuras, pesquisas


e grandes inovações, Florence faleceu em Epréuve no 2, considerada a 1a fotogra a do mundo, foi
registrada em 1833 e consistia em um conjunto de rótulos
Campinas aos 75 anos, no dia 27 de março de
farmacêuticos.
1879, deixando 19 lhos de seus dois Crédito: Imagem gentilmente cedidas para ns acadêmicos
casamentos. pelo Instituto Moreira Salles

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Rosangela Pertile

Escola de Belas Artes,


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Matéria publicada em 08.01.2019

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