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E. M. DR.

“LEANDRO FRANCESCHINI”
Ensino Médio com Habilitações Profissionais

HETERÔNIMOS DE FERNANDO PESSOA

Sumaré
2010
E. M. DR. “LEANDRO FRANCESCHINI”
Ensino Médio com Habilitações Profissionais

HETERÔNIMOS DE FERNANDO PESSOA

Paulo S. Avelar Jr. nº 24


Rafael de Camargo nº 25
Thiago R. Tozzi nº 31

Sumaré
2010
17
SUMÁRIO

1. FERNANDO PESSOA 3
1.1. Biografia 3
1.2. Poesia de Pessoa 4
1.2.1. Poesia em Inglês 4
1.2.2. Poesia Lírica 4
1.2.3. Poesia Histórico-nacionalista 5
1.3. Estilo Literário 6
1.3.1. Sentimentos e temáticas 6
1.3.2. Características Estilísticas 7
1.4. Poema: Identidade 8
1.5. Heteronímia 9
2. ÁLVARO DE CAMPOS 10
2.1. Temas 10
2.2. Estilo 11
2.3. Poema: Ode Triunfal (Fragmento) 11
3. RICARDO REIS 12
3.1. Temas 12
3.2. Estilo 13
3.3. Poema: Consciência 13
4. ALBERTO CAEIRO 14
4.1. Características: 14
4.2. Características Estilísticas 15
4.3. Poema: Acho tão natural que não se pense 16
5. BIBLIOGRAFIA 17
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1. FERNANDO PESSOA

Fernando Pessoa foi um escritor e poeta português, cujo trabalho é muito


valorizado na Literatura. Seu valor é comumente comparado com o de Camões,
apesar do fato de ter publicado poucas obras em vida. O nome de Fernando Pessoa
é essencial no estudo da Literatura luso-brasileira. E não somente na literatura,
Pessoa também atuou nas áreas de Jornalismo, Publicidade e Comércio.
O diferencial de Fernando Pessoa sobre os demais escritores é o uso de
heterônimos, ou seja, criação de personalidades completas – e complexas – das
quais fazia uso na publicação de obras. Essas personagens possuíam história,
filiação, descrição física completa, profissão e diversos outros detalhes que as
diferenciavam dos comuns pseudônimos.

1.1. BIOGRAFIA

Fernando Pessoa (Fernando Antônio Nogueira Pessoa) nasceu em Lisboa,


Portugal, no dia 13 de junho de 1888. Perdeu o pai com apenas cinco anos de
idade, o que acarretou em sua mudança para a África do Sul aos oito anos de idade,
a fim de seguir sua mãe e morar com seu novo padrasto, naquela época cônsul
interino de Portugal.
Em seu novo país, ainda muito jovem, Fernando Pessoa foi alfabetizado em
inglês e francês, idiomas que usou em alguns poemas e grandes trabalhos de
tradução. Aos 14 anos de idade, em 1902, ele escreveu o poema “Quando ela
passa”.
Quando ela passa
Em 1905, ele partiu sozinho para Lisboa, com o desejo Fernando Pessoa
de se inscrever no Curso Superior de Letras. Apesar de ter Quando eu me sento à janela
P'los vidros qu'a neve embaça
conseguido matricular-se no curso, não o terminou. Em 1912, Vejo a doce imagem d'elia
Fernando Pessoa começou a colaborar com a Revista Águia, Quando passa... passa.... passa...

publicando vários artigos e poemas. N'esta escuridão tristonha


Duma travessa sombria
A vida de Fernando Pessoa foi muito ligada às ciências Quando aparece risonha
Brilha mais qu'a luz do dia.
ocultas, algo perceptível em vários poemas. Em 1930,
Pessoa chegou a trocar correspondência com o suposto mago inglês Aleister
Crowley, este que foi visitar Pessoa em Lisboa no mesmo ano. Nessa ocasião, após
vinte e três desde sua chegada, Crowley desaparece misteriosamente. Pessoa, em
homenagem a Crowley, traduz e publica o poema “Hino e Pã”, escrito pelo inglês.
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Fernando Pessoa nunca se casou. Teve um namoro com Ophélia, acabou
desistindo para dedicar-se à literatura. Apesar de tamanha dedicação, dezenas de
artigos, ensaios e poemas durante sua vida, fazendo dele um dos maiores poetas da
língua portuguesa, Pessoa publicou somente um livro em vida: “Mensagem”, em
1934. Com o livro, ele participou de um concurso chamado “Antero de Quental” e
ganhou o segundo prêmio, sendo o primeiro o livro “Romaria” de Vasco Reis.
Em janeiro de 1935, ele fez planos para se mudar para as cercanias de Lisboa
e compor seu primeiro grande livro. Isso acabou não acontecendo, pois em 29 de
novembro do mesmo ano, Fernando Pessoa foi hospitalizado com “cólica hepática”.
No dia seguinte – 30 de novembro – ele morreu, com apenas 47 anos de vida.

1.2. POESIA DE PESSOA

As obras e a poesia produzida por Fernando Pessoa (ele mesmo), pode ser
dividida em três grupos: poesias em inglês, lírica e histórico-nacionalista.

1.2.1. POESIA EM INGLÊS

Os primeiros poemas de Fernando Pessoa foram escritos em inglês, devido


sua alfabetização ter ocorrido na África do Sul e com ênfase na língua inglesa. Ele
tomou como inspiração as publicações de Byron, Keats, Poe, Shelley e,
principalmente, Shakespeare.
Suas publicações em inglês são: English Poems, I, II, III, IV, Antinons e 35
Sonets. Nelas, Pessoa se releva admirador do ocultismo, mistério e, também,
abúlico – com vontade suprimida.

1.2.2. POESIA LÍRICA

Grande parte desse tipo de poesia, escrita por Fernando Pessoa, está reunida
nos livros “Cancioneiro” e “Quadras”. Cancioneiro é o nome dado ao conjunto de
cantigas trovadorescas espanholas ou portuguesas. Neste livro, estão reunidas
poesias com características de antigos textos literários, forte influência do
Simbolismo e reflexões sobre a criação artística. Essa reflexão é clara em
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“Autopsicografia”, em que, segundo ele, “O poeta é um fingidor (...) [que cria] um
mundo fictício para representar o mundo real”.
Outra característica importantíssima em Cancioneiro é o interseccionismo,
teoria elaborada por Pessoa. Nela, ele une dois mundos – o exterior e o interior – e
trabalha com a união de ambos para expressar um sentimento ou realidade. Em
“Hora Absurda”, ele diz: “Hoje o céu é pesado como a ideia de nunca chegar a um
porto...”. Ele constrói a descrição de uma situação através da mistura de percepções
externas e internas. Para compreender todo o contexto, essas duas paisagens não
podem ser interpretadas separadamente.
Poucos anos antes de morrer, Fernando Pessoa também produziu quadras
portuguesas. A principal característica dessa quadra é a métrica composta por
redondilhas maiores. Esses versos de sete sílabas eram muito usados por poetas
medievais (Trovadorismo e Humanismo), antes da introdução da medida nova.
Há registros de mais de 400 quadras escritas por Pessoa, muitas não datadas.
É cogitado que esses versos seriam usados em um livro. Em 1965, muitos desses
versos foram organizados e publicados sob o título “Quadras ao Gosto Popular”. Em
1997, a edição foi incrementada com mais de 100 quadras, e republicada sob o título
de “Quadras”.
Fernando Pessoa, ao utilizar a medida velha, mostrou a capacidade de
renovação de conceitos e a ligação com o povo, pois tal medida remete às tradições
lusitanas e foi criada pelo povo na era medieval. Assim, a poesia lírica de Pessoa
tem um caráter saudosista, pois tenta trazer de volta as antigas tradições do povo
português.

1.2.3. POESIA HISTÓRICO-NACIONALISTA

Presente no livro “Mensagem” – único publicado em vida pelo poeta –, esse


tipo de poesia é visível, dada a organização dos poemas, de forma a compor uma
epopéia que conta a história de Portugal, retratando a grandiosidade e o heroísmo
da nação. Segundo Pessoa, é “um livro de poemas, formando um só poema”.
Na obra, Fernando Pessoa narra toda a história de Portugal desde sua origem,
citando a lenda de Ulisses, a pré-história, a formação do reino português, o período
das grandes navegações, as glórias vividas em “Os Lusíadas”, o advento do
Sebastianismo e terminando em Portugal sonhando em voltar a ser um grande
império.
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1.3.
17
ESTILO LITERÁRIO

O estilo de Pessoa é pautado pela profundidade de abordagem, em que o


questionamento humano se funde aos demais questionamentos. Ele descreve
“tempestades líricas” de seus devaneios, fazendo muito uso de antíteses: mundo
interior/exterior, objetividade/subjetividade, concreto/abstrato.
Fernando Pessoa era nacionalista saudosista e retratava memórias boas e
saudades de Portugal. Porém, também escrevia sobre o interior, os sentimentos, a
insatisfação da alma humana, assim como suas limitações, dores, tristezas etc.
Ainda usando o forte choque entre opostos, ele compara as chances miseráveis com
a ambição desmedida, por fim dissipando-se no tédio.
Sua poesia, em geral, era cheia de desesperos e entusiasmos exacerbados,
ambos iluminados por uma inteligência e lucidez características. O foco não é a dor
sentida, mas o fingimento dela – embora, segundo ele, o poeta acabe chegando à
“dor que deveras sente”. Esse fingimento é essencial à arte, o real deve ser
imaginado de forma a ser exprimido artisticamente e concretizado em arte. Essa
mistura de dores é uma forte característica dele.

1.3.1. SENTIMENTOS E TEMÁTICAS

Pessoa faz uso de diversos comportamentos e sentimentos ao longo de sua


poesia:
 Identidade perdida e dificuldade de auto-definição (“eu vejo-me e estou sem
mim / Conhece-me e não sou eu”);
 Consciência do absurdo da existência;
 Recusa da realidade aparente (“Há entre mim e o real um véu”);
 Tensão causada por antíteses (sinceridade/fingimento, consciência/
inconsciência);
 Antíteses racionalizadas (sentir/pensar, esperança/desilusão, sentimento/
vontade);
 Anti-sentimentalismo (“Eu simplesmente sinto (...) Não uso o coração.”);
 Sentimentos pessimistas (solidão, ceticismo, angústia, cansaço, náusea etc.);
 Inquietação espiritual, dor de viver;
 Fusão entre o mundo interior e exterior, sendo este fruto da percepção do
primeiro;
 Citação do ocultismo (correspondência entre visível e invisível);
 Confusão temporal (o presente é o único tempo experimentado, logo em cada
momento se é diferente do que se foi; o passado não existe numa relação de
continuidade).
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Quanto às temáticas, ele também é extremamente diversificado:
 O sonho, intersecção entre realidade e sonho (“E os navios passam por
dentro dos troncos das árvores”);
 A angústia existencial, pautada pela nostalgia da infância (“Recordo outro
ouvir-te. / Não sei se te ouvi / Nessa minha infância / Que me lembra em ti.”);
 Frustração causada pela discrepância entre o idealizado e o realizado;
 A discussão e intersecção entre sentir e pensar, causando solidão e
melancolia;
 Fingimento e máscara como elaboração mental dos conceitos emocionais (“O
poeta é um fingidor”);
 Sebastianismo (movimento nacionalista português que esperava o retorno do
falecido rei Sebastião, que morreu sem herdeiros, dando o trono a um
espanhol).

1.3.2. CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS

Fernando Pessoa, ao falar dos mais diversos sentimentos e temáticas, tinha


também características próprias, tanto semânticas quanto estilísticas:
 Simplicidade formal;
 Rimas externas e internas;
 Versos em redondilha maior (gosto pelo popular, expressando simplicidade);
 Estrofes em quadra ou quintilha;
 Grande sensibilidade musical;
 Musicalidade e eufonia, com muitas aliterações, rimas e ritmo;
 Excesso de adjetivos;
 Uso de ironia para pôr tudo em causa, até a própria sinceridade;
 Linguagem sóbria, equilibrada e nobre;
 Uso freqüente de frases nominais;
 Associações inesperadas (“Pobre velha música”);
 Comparações, metáforas e oxímoros (ex: “instante eterno”).
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1.4. POEMA: IDENTIDADE

Não sei quantas almas tenho.


Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,


Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo


Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
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1.5. HETERONÍMIA

Fernando Pessoa era, de fato, um grande poeta. No entanto, sua fama não se
deve apenas às suas obras: Pessoa foi o único poeta até o presente a criar diversas
identidades, chamadas heterônimos. Heterônimo é o nome dado a personalidades
complexas, criadas pela mente de outra pessoa e coexistindo nesta. O talento do
escritor ao criar personalidades pode ser considerado natural. Aos 6 anos de idade,
ele já havia criado seu primeiro heterônimo, chamado Chevaller de Pas.
O conceito mais conhecido – pseudônimo – não é sequer semelhante aos
heterônimos. Neste primeiro, o autor do pseudônimo apenas cria um nome, uma
assinatura para suas publicações, enquanto no último, há todo um processo de
criação, resultando numa personagem com nome, família, história, infância,
características físicas, literárias e pessoais.
Desta forma, uma biografia de Fernando Pessoa necessitaria de diversos
desdobramentos para que fosse efetivamente completa. Ao total, contam-se 72
nomes diferentes, todos criados por Pessoa, entre heterônimos e semi-heterônimos.
Dentre eles, destacam-se os principais: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo
Reis. Cada um destes possuía uma linguagem própria, além das outras
características distintas.
Devido ao fato de ter criado tantas versões de si mesmo, Fernando Pessoa
passou a ser chamado de ortônimo quando escrevia usando a personalidade que
todos acreditavam ser a real. Nos demais casos, seus heterônimos era definidos por
seus próprios nomes. Houve casos, inclusive, em que Fernando Pessoa se passou
por um de seus heterônimos.
Muito provavelmente, Pessoa sofria de algum distúrbio de personalidade. No
entanto, em uma mente brilhante, esse distúrbio pôde se transformar em arte. O que
geralmente seria chamado insanidade, é reverenciado, estudado e admirado. O que
fez de Pessoa um poeta tão especial foi sua doença, sua deficiência, que foi
controlada por ele de modo a dar vida a outros escritores que nunca existiram.
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2. ÁLVARO DE CAMPOS

Álvaro de Campos é um dos heterônimos mais conhecidos de Fernando


Pessoa. Este fez uma biografia para cada um dos seus heterônimos e declarou
assim que Álvaro de Campos: Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de
Liceu, depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e
depois naval. Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas
sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo.
Pessoa disse também em relação a este heterônimo que: Entre todos os
heterônimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de
sua obra. Houve três fases distintas na sua obra.

2.1. TEMAS

Na primeira fase vemos um poeta influenciado pelo Simbolismo Decadente,


que escreve quadras metrificadas e rimadas. O poeta exprime o tédio, o cansaço e a
necessidade de novas sensações (“Opiário”). Também o decadentismo surge como
uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o
cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações.
A segunda fase de Álvaro de Campos nos revela um poeta que se rendeu ao
futurismo, à velocidade, às máquinas e a agitação das cidades. O Álvaro de Campos
dessa segunda fase tem um estilo "febril", no qual a forma fixa dos poemas e o
esquema de rimas não têm mais espaço e são substituídos por versos longos,
próximos a prosa, que têm um ritmo nervoso e emoção descontrolada.
A terceira e última fase de Álvaro de Campos nos revela um poeta amargurado,
que reflete de forma pessimista e desiludida sobre a existência. Devido a desilusão
com a vida moderna, Campos buscou, conscientemente, afastar-se do convívio
social e mergulhou nas profundezas da angústia e do pessimismo, características
essas que aproximam muito a sua obra com a de Fernando Pessoa.
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2.2. ESTILO

 Nível fônico
o Poemas muito extensos e poemas curtos;
o Versos brancos e versos rimados;
o Assonâncias, onomatopéias exageradas, aliterações ousadas;
o Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas.
 Nível morfo-sintático
o Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas,
exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com
verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos,
desvios sintáticos;
o Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a
tendência para o exagero.
 Nível semântico
o Apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas
ousadas, polissíndetos.

2.3. POEMA: ODE TRIUNFAL (FRAGMENTO)

"À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica


Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
(...)

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!


Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!"
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3. RICARDO REIS

Ricardo Reis (1887 - 1936) é um dos três heterônimos mais conhecidos de


Fernando Pessoa. Nascido na cidade do Porto, estudou num colégio de jesuítas,
formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se espontaneamente
desde 1919, indo viver no Brasil. Era latinista e semi-helenista.

3.1. TEMAS

Profundo admirador da cultura clássica, Ricardo Reis pode ser considerado um


poeta Neoclássico tardio. Isso quer dizer que sua poesia bucólica e pastoril foi
escrita muito tempo depois de o período Neoclássico ou Arcádico ter acabado.
Os principais autores que influenciaram sua poesia foram o poeta latino
Horácio e o grego Epicuro. De Horácio herdou as filosofias da "Áurea Mediocritas"
(equilíbrio de ouro) e do "Carpe Diem" (aproveite o momento). A primeira enaltece a
vida mediana, sem grandes ambições ou desejos. Já a filosofia do "Carpe Diem"
valoriza o "momento presente", pois a vida é breve e do futuro, nada se sabe.
De Epicuro, Reis absorveu os ensinamentos de que o objetivo central do ser
humano é a busca da felicidade. Epicuro pregava que o homem deve buscar uma
vida equilibrada de prazeres, fugindo das paixões violentas e dos excessos.
Além dessas filosofias clássicas, Reis também é fortemente influenciado por
outra doutrina clássica: o estoicismo. Os estóicos pregam que o homem deve
permanecer indiferente a circunstâncias exteriores, como dor, prazer e emoção.
Procuram submeter sua conduta à razão, mesmo que isso traga dor e sofrimento, e
não prazer.
Reis mostra-se um discípulo de Alberto Caeiro ao abordar temas como o
"Locus Amenus" (local ameno) e do "Carpe Diem”. No entanto, é no paganismo que
mestre e discípulo se aproximam e, ao mesmo tempo, se distanciam. Aproximam-se,
pois os dois poetas são pagãos. Distanciam-se, pois Reis crê nos antigos deuses,
deuses esses que estão acima de tudo e controlam o destino dos homens. Caeiro,
ao contrário de Reis, é convicto de que não se deve pensar em Deus. Devido a essa
postura de Caeiro com relação a Deus, Ricardo Reis, disse que Caeiro era "mais
pagão do que o próprio paganismo".
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3.2. ESTILO

Devido a sua educação, a linguagem de Ricardo Reis é refinada, o ritmo dos


seus poemas é 'scravo, ou seja, obedecem a um número fixo de sílabas (Estrofes
regulares onde predominam os versos decassilábicos e hexasilábicos), a sua sintaxe
é rebuscada e o vocabulário, como não poderia deixar de ser, extremamente erudito.
Além disso, ele usa os recursos das frases subordinadas, o uso do hipérbato, da
metáfora, do eufemismo e da comparação. Também usa o recurso ao gerúndio e ao
imperativo (ou conjuntivo com valor de imperativo) com caráter exortativo, ao serviço
do tom sentencioso e do caráter moralista da sua poesia.
Reis escreve seus poemas na forma de Odes, poemas líricos em tom alegre e
entusiástico, cantados pelos gregos ao som da cítara ou da flauta. São elogiáveis a
concisão formal, tendo sido fundamental a erudição latina do poeta, e o seu
conhecimento estrutural da língua inglesa, concisa e reflexiva, que moldou
basicamente a sua "personalidade".

3.3. POEMA: CONSCIÊNCIA

Tirem-me os deuses
Seus fundamentos
Em seu arbítrio
São todo o mundo,
Superior e urdido às escondidas
Seu amor é o plácido Universo.
O Amor, gloria e riqueza.
Sua riqueza a vida.
Tirem, mas deixem-me, A sua glória
Deixem-me apenas É a suprema
A consciência lúcida e solene Certeza da solene e clara posse
Das coisas e dos seres. Das formas dos objectos.

Pouco me importa O resto passa,


Amor ou glória. E teme a morte.
A riqueza é um metal, a gloria é um eco Só nada teme ou sofre a visão clara
E o amor uma sombra. E inútil do Universo.

Mas a concisa Essa a si basta,


Atenção dada Nada deseja
Às formas e as maneiras dos objetos Salvo o orgulho de ver sempre claro
Tem abrigo seguro. Até deixar de ver.
17
4. ALBERTO CAEIRO

"Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem
educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-
se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó.
Morreu tuberculoso."

Nasceu em 1889, em Lisboa, e morreu em 1915, mas viveu quase toda a sua
vida no campo. Não teve profissão, e educação quase nenhuma: apenas a instrução
primária. Era de estatura média, frágil, mas não o aparentava. Era louro, de olhos
azuis. Ficou órfão de pai e mãe muito cedo e deixou-se ficar em casa a viver dos
rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Escrevia mal o Português. É o
pretenso mestre de A. de Campos e de R. Reis. É anti-metafísico; é menos culto e
complicado do que R. Reis, mas mais alegre e franco. É sensacionista.
Mestre de Pessoa e dos outros heterônimos, Caeiro dá especial importância ao
ato de ver, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num
discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passando a observar o
mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã
e primitiva da Natureza.
Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea, pois vive no
presente, não querendo saber de outros tempos, e de impressões, sobretudo
visuais, e porque recusa a introspecção, a subjetividade, sendo o poeta do real
objetivo.
Caeiro canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem
desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser
um ser uno, e não fragmentado.

4.1. CARACTERÍSTICAS:

 Objetivismo:
o apagamento do sujeito, atitude antilírica;
o atenção à “eterna novidade do mundo”;
o integração e comunhão com a Natureza.
 Sensacionismo:
o poeta das sensações tal como elas são;
o poeta do olhar;
o predomínio das sensações visuais e das auditivas;
o o “Argonauta das sensações verdadeiras”;
17
 Anti-metafísico
o “Há metafísica bastante em não pensar em nada.”;
o recusa do pensamento (“Pensar é estar doente dos olhos”);
o recusa do mistério;
o recusa do misticismo.
 Panteísmo Naturalista
o tudo é Deus, as coisas são divinas (“Deus é as árvores e as flores / E
os montes e o luar e o sol...”);
o paganismo;
o desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual (“Não quero
incluir o tempo no meu esquema”);
o contradição entre “teoria” e “prática”.

4.2. CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS

 Discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Proximidade da


linguagem do falar cotidiano, fluente, simples e natural;
 Pouca subordinação e pronominalização;
 Ausência de preocupações estilísticas;
 Indisciplina formal e ritmo lento mas espontâneo;
 Vocabulário simples e familiar, em frases predominantemente coordenadas,
repetições de expressões longas, uso de paralelismo de construção, de
simetrias, de comparações simples;
 número reduzido de vocábulos e de classes de palavras: (dando uma
impressão de pobreza lexical) pouca adjetivação, predomínio de substantivos
concretos, uso de verbos no presente do indicativo (ações ocasionais) ou no
gerúndio (sugerindo simultaneidade);
 Frases predominantemente coordenadas, uso de paralelismos de construção,
de comparações simples;
 Verso livre, métrica irregular;
 Despreocupação a nível fônico;
 Pobreza lexical (linguagem simples, familiar);
 Adjetivação objetiva, pontuação lógica, predomínio do presente do indicativo;
 Frases simples;
 Predomínio da coordenação;
 Comparações simples, raras metáforas;
 Aceita a realidade tal como é, de forma tranquila; vê um mundo sem
necessidade de explicações, sem princípio nem fim; existir é um fato
maravilhoso;
 Recusa o pensamento metafísico (“pensar é estar doente dos olhos”), o
misticismo e o sentimentalismo social e individual.
 Poeta da Natureza;
 Personifica o sonho da reconciliação do Universo, com a harmonia pagã e
primitiva da Natureza;
 Simples “guardador de rebanhos”;
 Inexistência de tempo (unificação do tempo);
 Poeta sensacionista (sensações): especial importância do ato de ver;
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 Inocência e constante novidade das coisas;
 Mestre de Pessoa e dos outros heterônimos;
 Relação com Pessoa Ortônimo – elimina a dor de pensar;
 Relação com Pessoa Ortônimo, Campos e Reis – regresso às origens, ao
paganismo primitivo, à sinceridade plena.

4.3. POEMA: ACHO TÃO NATURAL QUE NÃO SE PENSE

Acho tão natural que não se pense


Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa ...

Que pensará o meu muro da minha sombra?


Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...

Que pensará isto de aquilo?


Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
17
5. BIBLIOGRAFIA

DESCONHECIDO. Estilo de Fernando Pessoa. Disponível em: <http://www.


pessoa.art.br/?p=161>. Acesso em: 01 abr. 2010.
VALIS, J. S. Análise de estilo literário. Disponível em: <http://
recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/553605>. Acesso em: 01 abr. 2010.
AFONSO, J. S. Fernando Pessoa Ortónimo. Disponível em: <http://
www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/pessoa_orto.htm>. Acesso em: 01 abr. 2010.
AFONSO, J. S. Alberto Caeiro. Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/
jsafonso/Port/caeiro.htm> Acesso em 01: abr. 2010.
DESCONHECIDO. Multipessoa. Disponível <http://multipessoa.net/labirinto/>.
Acesso em: 01 abr. 2010.
DESCONHECIDO. Mundo Cultural. Disponível em: <http://www.mundo
cultural.com.br/index.asp?url=http://www.mundocultural.com.br/literatura1/mode
rnismo/pessoa/campos/index.asp> Acesso em: 01 abr. 2010.
VÁRIOS. Alberto Caeiro. Dispónível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Alberto_Caeiro> Acesso em: 01 abr. 2010.

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