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26 1.1.
Compreensão/Expressã a. Situação político-social
o Oral − Assassinato do rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe.
− Início da Primeira Guerra Mundial no verão de 1914 (após assassinato do arquiduque Augusto Fernando, herdeiro do trono austro-húngaro).
− Portugal tenta manter-se afastado do conflito, uma vez que procura sanar as dificuldades do início da República.
− Declaração de guerra a Portugal, por parte da Alemanha, em 1917, o que obriga o país a entrar no conflito.
− (Acontecimentos sumariados após 1935 – Segunda Guerra Mundial, Guerra Colonial e a Guerra Fria, anos dourados do cinema, o advento da
televisão…)
− Publicação, em 1915, do 1.º número da revista Orpheu e consequente polémica (discussão entre a admiração e o escárnio, o atrevimento e a vanguarda
de uma nova geração: Fernando Pessoa e Álvaro de Campos, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, Santa-Rita Pintor – a
geração do Orpheu).
− Almada Negreiros sintetiza, No Ultimatum futurista às gerações portuguesas, a crítica: “o povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo
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Sentidos 12, Unidade 1 – Fernando Pessoa, Poesia do ortónimo Cenários de resposta
− Em Paris, a depressão de Sá-Carneiro acentua-se e, depois de intensa correspondência com Fernando Pessoa, põe termo à vida, em abril de 1916.
Morrem, pouco depois, Santa-Rita e Souza-Cardoso. O Modernismo sobrevive, mas dispersa-se em múltiplas direções e Fernando Pessoa segue o seu
próprio caminho.
− O Modernismo tem o segundo fôlego com a revista Presença. Logo nos primeiros números, José Régio reconhece Fernando Pessoa como mestre da
nova geração.
− Torna-se órfão de pai aos 5 anos; pouco depois morre o irmão Jorge com meses de idade. A mãe casa com o cônsul português em Durban e a família
parte para a África do Sul.
− Fernando Pessoa cresce, estuda e escreve sempre que pode, em português ou inglês, na língua que o poema falar, e cria os seus primeiros heterónimos.
− Amizade com Mário de Sá-Carneiro, um génio precoce que na adolescência já traduzia Goethe e Schiller, filho de famílias abastadas da alta burguesia.
− Depois da morte do padrasto, a mãe e os irmãos de Fernando Pessoa regressam a Portugal e instalam-se no n.º 16 da rua Coelho da Rocha. Fernando
Pessoa fixa-se, finalmente, na casa onde viverá até ao fim da sua vida.
− Relação (“desjeitada” e relativamente curta) com uma jovem de nome Ofélia Queirós.
− Perde a mãe em 1925 e entrega-se cada vez mais ao álcool. Vive obcecado com a sua obra e tem constantes crises depressivas. Por isso, a
reaproximação a Ofélia Queirós volta a terminar pouco tempo depois do reatamento.
− Publica o seu primeiro livro de poesia em português, em 1934: Mensagem. A obra é premiada pelo Secretariado da Propaganda Nacional, mas Pessoa
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falta à cerimónia.
d. Heterónimos pessoanos
− Cria os primeiros heterónimos, Chevalier de Pas, com cerca de 6-7 anos de idade, e Alexander Search.
− Criou, numa só noite, três heterónimos: o mestre, Alberto Caeiro; o médico e classicista, Ricardo Reis e o engenheiro futurista, Álvaro de Campos. Eram
três personalidades distintas, com uma história própria, qualquer deles candidato a melhor poeta do seu tempo.
− Terá inventado, ao longo da vida, mais de 70 heterónimos. Mas os três que ali nasciam eram mais que estilos de escrita.
− Fernando Pessoa “viveu” com Bernardo Soares durante 20 anos, escrevendo na sombra quase doentia (aparece sempre que Pessoa está cansado ou
sonolento. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a dele, é uma mutilação dela).
− Publicado em 1982.
− Caracterizado como um livro interminado, um livro impossível, sobre o qual os intervenientes destacam o hibridismo (valter hugo mãe), a surpresa,
ideias intensas que se entrechocam.
− Composto por mais de mais de 500 textos escritos à solta, sem um sentido concreto, sem princípio, nem meio, nem fim que refletem a solidão profunda
de quem vive em sonho.
− Considera Pessoa um dos maiores autores do século XX e afirma que Portugal é praticamente o único país que no século XX desafiou o grande autor e
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− Diz que houve toda uma euforia de marchandise em torno do Pessoa que ganhou um peso cultural específico.
− Afirma que há muitos brasileiros que estão convencidos que Fernando Pessoa era brasileiro, tal como Eça de Queirós, que foi mais lido no Brasil do que
em Portugal.
− A marca Fernando Pessoa é uma das primeiras linhas do património endógeno do país. Ele tinha muitos “eus” e isso é também característico da marca.
− O facto de Fernando Pessoa escrever sob vários nomes, e de criar polémicas consigo próprio, mostra que ele não acreditava em movimentos, não
acreditava em rebanhos em sentido cultural nem em sentido político. Ele ultrapassou muito a questão da época e é por isso que continua tão atual.
− Destaca a presença de uma avó maníaco-depressiva que pode ter tido grande impacto na vida de Pessoa. Evidencia, ainda, o facto de, em Pessoa, se
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verificar a procura de um génio imaginário, alguém com quem se pode falar, dialogar, que corresponde a um duplo, a um “eu” que somos “nós próprios”.
− Pessoa não foi um génio, foi cinco ou seis génios. Seria um ser humano esdrúxulo, eventualmente um louco.
− É absolutamente fascinante perceber que o escritor máximo do Modernismo português poderia ser o escritor máximo do nosso pós-Modernismo.
Ainda estamos muito longe de o esgotar.
− Refere que quando Pessoa criou um poema como Mensagem, tal como Homero com a Ilíada, fez uma coisa memorável que muda a própria língua
portuguesa e Portugal.
Desenvolvimento: Breves referências biográficas: data e local de nascimento; partida para a África do Sul; regresso a Portugal e entrega à escrita; a
criação de três grandes heterónimos e de um semi-heterónimo; revistas em que colaborou com destaque para o Orpheu, seus colaboradores e intenções.
Conclusão: Reforço da incomparável genialidade de Fernando Pessoa, o único que igualou ou suplantou Camões.
27 1. O autor nutre grande admiração por Fernando Pessoa, considerando-o a maior personalidade literária de Portugal e um poeta genial. Fundamenta a
Leitura sua opinião com as afirmações de académicos de renome internacional, como Harold Bloom ou Eduardo Lourenço.
2. Esta publicação dará a conhecer a obra de Fernando Pessoa ao público em geral e fá-lo-á de forma cientificamente correta. A preocupação de usar
textos fixados e trabalhados por alguns dos maiores especialistas pessoanos e editados por uma editora de referência como a INCM são aspetos que lhe
conferem credibilidade e fiabilidade.
3. Trata-se de um artigo/texto de apreciação crítica, que se baseia na análise de uma publicação e que expressa o ponto de vista do autor. Este faz juízos
de valor sobre vários aspetos, visíveis em afirmações como “Pessoa é a maior personalidade literária de Portugal” (l. 20), “A oportunidade de ler ou reler
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Fernando Pessoa, prefaciado por alguns dos maiores especialistas e amantes da sua obra, é um privilégio” (ll. 28-29), que evidenciam marcas de
subjetividade, confirmadas na linguagem valorativa utilizada.
28 1. Os dois textos destacam o tom dramático da poesia do ortónimo, tom que resulta da encenação, do fingimento, de que se reveste a criação poética
Informar e/ou artística. Esta implica o abandono das emoções ou, melhor, a sua intelectualização.
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Educação Literária 1. A poesia passa por diferentes etapas quer ao nível da produção quer ao nível da receção. Assim, o ponto de partida da produção é a sensação (“a dor
sentida”); segue-se a dor recriada, transformada pela imaginação, originando uma síntese, ou seja, uma nova dor. É a esta última que o leitor acede, o
que significa que o processo de receção se distancia dos dois inerentes à produção.
2. O poema pode dividir-se em três partes, correspondendo a cada uma das quadras, em que são apresentados conceitos diferentes. Na primeira estrofe
é possível efetuar uma subdivisão, atendendo a que o verso 1 apresenta a ideia-chave que será explicitada nos versos seguintes (a tese de que o
fingimento é inerente ao ato criativo). Na segunda quadra, confirma-se que o leitor não acede à dor do poeta, até porque a dor foi metamorfoseada. Na
última quadra distingue-se o coração da razão, para evidenciar o engano a que os sentimentos conduzem e que o poeta terá de abandonar forçosamente,
3. Neste poema, Fernando Pessoa esclarece o modo como a poesia se constrói, afirmando que “o poeta é um fingidor” (v. 1). Implicitamente, defende a
ideia de que a criação artística é um processo intelectual que se afasta do mero mimetismo.
4. O texto A refere especificamente o título e alguns versos do poema pessoano; o texto B faz referência ao fingimento como algo implícito à criação
poética. No fundo, ambos os textos descodificam, em parte, a tese “o poeta é um fingidor” apresentada no poema “Autopsicografia”.
30 1. Fingir, segundo o sujeito poético, é sentir com a imaginação; mentir será, por isso, sentir apenas, usar unicamente o coração, os sentimentos.
Educação Literária
2. O coração é o ponto de partida para a imaginação, ou seja, o poeta parte do que sente, mas recria o sentimento através da razão, afastando-se, assim,
do que inicialmente sentiu. No fundo, é a imaginação que distancia o artista do homem comum.
3. O verso significa que aquilo que está além do mundo terreno, o que se encontra no mundo superior, a que se acede por meio do intelecto, é o que o
poeta deve alcançar, até porque esse é o espaço da perfeição.
4. Sendo a escrita um ato artístico, que exige o recurso à imaginação, percebe-se a necessidade de se afastar daquilo que “está ao pé” (v. 12) – as
sensações imediatas, os sentimentos, pois estes enleiam, enganam.
5. Com a interrogação, o sujeito poético está a conferir um estatuto de menoridade ao leitor, comparativamente ao artista, pois este precisa de usar a
imaginação. Por isso, ironicamente, ordena que o leitor se limite a sentir, como se visse nele a incapacidade de usar a razão.
6. Trata-se de um poema composto por três quintilhas, todas com seis sílabas métricas. A rima é cruzada e emparelhada, atendendo ao esquema
rimático: ababb / cdcdd / efeff.
7. Complemento direto.
31 1. A expressão deste desejo resulta da consciência que o "eu" tem do mal que o uso excessivo da razão produz em si próprio. Porém, esse desejo encerra
Educação Literária um conteúdo paradoxal, porque o “eu” quer ser inconsciente como a ceifeira sem deixar de ser ele, um ser consciente.
2. A sinceridade está relacionada com a inconsciência, dado associar-se à espontaneidade e ao instinto. Já o fingimento implica o uso da razão e da
consciência. Assim, o sujeito poético aspira ao impossível: ninguém pode ser inconsciente e ter consciência disso.
3. A antítese, em “alegra e entristece” (v. 9), sugere o efeito contraditório do canto da ceifeira no sujeito poético; a apóstrofe “Ó campo! ó canção!” (v.
20) e o imperativo (“entrai”, v. 22, “tornai”, v. 22, “passai”, v. 24), identificam os destinatários do apelo do "eu" e o desejo que estes o aliviem da sua dor.
4. No primeiro momento, respeitante às três primeiras estrofes, descreve-se a ceifeira e o seu canto. No segundo, relativo às três quadras seguintes, o
“eu” exprime os efeitos produzidos pelo canto, revelando a sua emoção e o seu desejo de fuga ao pensamento.
6. “no meu coração” – complemento oblíquo; “A tua incerta voz ondeando” – complemento direto.
32 1. O gato age por instinto, sendo, por isso, um “Bom servo das leis fatais” (v. 5), vive só por viver, sem saber por que vive, limitando-se apenas a sentir.
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Sentidos 12, Unidade 1 – Fernando Pessoa, Poesia do ortónimo Cenários de resposta
Educação Literária Ora, a comparação “brincas na rua / Como se fosse na cama” (vv. 1-2) salienta o caráter instintivo do gato, que não lhe permite ter consciência das
inconveniências.
2. O sujeito poético, por ser demasiado racional, não consegue ser feliz, razão pela qual inveja o gato, que, por não intelectualizar os sentidos, acaba por
viver feliz.
3. Os dois versos remetem para a complexidade e confusão interiores e para a despersonalização: ao ser muitos, o sujeito poético acaba por se
desconhecer a si mesmo.
4. Sentir implica agir instintivamente; pensar exige o uso da razão, e, quando se usa a razão, deixa-se de sentir apenas. Pensar, que exige distanciamento
dos sentimentos, opõe-se a sentir, atitude a que se acede natural e espontaneamente.
5. Atendendo a que todo o texto revela oposição entre o “gato” (tu) e o sujeito poético (eu), percebe-se que este jogo permite contrapor a
intelectualização do “eu” e o comportamento instintivo do gato.
6.1 [A]
6.2 [D]
33 1. Destacam-se as seguintes dicotomias: sentimento/pensamento; vida vivida/vida pensada; vida verdadeira/vida errada.
Educação Literária
2. O sujeito demonstra alguma confusão interior, como se percebe pela primeira estrofe quando afirma “Tenho tanto sentimento / Que é frequente
persuadir-me / De que sou sentimental”. Porém, acaba por admitir a sua racionalidade excessiva (vv. 4-5) e revela-se bastante consciente da realidade
quando reconhece que todos temos duas vidas, a verdadeira e a idealizada, mas que teremos de viver a que temos.
3. A mudança da primeira pessoa do singular para a primeira do plural justifica-se pelo facto de o sujeito poético considerar que a sua situação é comum a
todos nós, incluindo-se, neste aspeto no coletivo humano a que pertence.
4. A antítese é visível na oposição estabelecida entre vida “vivida” (v. 8) e “pensada” (v. 9), “verdadeira” (v. 12) e “errada” (v. 12), servindo o objetivo de
evidenciar a dicotomia sentir/pensar, ilustrada pelas contradições com as quais o ser humano se confronta.
5. O texto é composto por três sextilhas, em redondilha maior, com rimas cruzada e interpolada na primeira sextilha e apenas interpolada nas restantes,
como evidencia o esquema rimático abcbac / defdef / ghighi.
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Sentidos 12, Unidade 1 – Fernando Pessoa, Poesia do ortónimo Cenários de resposta
6.
a. “Que tudo isso é pensamento” (v. 5) ou “Que não senti afinal” (v. 6).
7. Complemento indireto.
8. Coesão lexical (por reiteração): “vida” (v. 8) e “vida” (v. 9). Coesão lexical (por substituição – antonímia): “vivida” (v. 8) e “pensada” (v. 9).
34 Informar 1.
a. V
b. F – Pensar em excesso torna-se destruidor.
c. F – O pensamento vitima aquele que o usa em excesso.
d. V
e. F – Fernando Pessoa foi dos que mais sofreram por ter usado o pensamento como ninguém.
f. V
g. V
35 Educação Literária 1. “terra de suavidade” (v. 3), “ilha extrema do sul” (v. 4), “vida é jovem”, “amor sorri” (v. 6), “palmares inexistentes” (v. 7), “Áleas longínquas” (v. 8),
“Sombra ou sossego” (v. 9), “ilhas do fim do mundo” (v. 19), “palmares de sonho” (v. 20).
2. As duas primeiras estrofes espelham a esperança de que o sonho se possa realizar, como atesta o uso do advérbio “Talvez” (v. 7). A terceira estrofe,
introduzida pela conjunção adversativa “Mas”, dá início ao desvirtuamento, ao desalento, com a constatação de que o pensamento anula o sonho; por
isso, nessa terra (a do sonho), o bem não é duradoiro. Na última estrofe, evidencia-se a certeza de que a cura para os nossos problemas tem de estar em
nós, e de que só a nossa ação nos permitirá ser felizes.
3. Na primeira ocorrência, o advérbio “ali” refere-se à “terra de suavidade” (v. 3), à “ilha extrema do sul” (v. 4); já na segunda ocorrência (última estrofe),
o mesmo advérbio tem como referente o “nós”.
4. Destaca-se, logo no primeiro verso, o emprego da antítese, para salientar a oposição que se estabelece entre o “sonho” e a “realidade” − “Não sei se é
sonho, se realidade” − e na última estrofe entre “mal” e “bem” − “Que cura a alma seu mal profundo, / Que o bem nos entra no coração” (vv. 21-22) −,
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com o intuito de realçar a inoperância do sonho e a imposição do real sobre o imaginário. Emprega-se também a metáfora ao associar a ilha ao sonho
(veja-se os vv. 19 e 20), dado que os locais exóticos são considerados espaços de evasão, de fuga à realidade.
5.
a. Sonho;
b. Realidade;
c. Mistura
6. Os deíticos de natureza pessoal e temporal estão exemplificados no pronome “nós”, nas formas verbais, no presente do indicativo, como “sei” (v. 1); o
advérbio “ali” (v. 23) corresponde a um deítico de valor locativo.
2. O sujeito poético sente repulsa de si mesmo (“Que nojo de mim”, v. 5) quando dá conta da sua incapacidade para concretizar o imaginado. Mostra-se
confuso, considerando-se “um mar de sargaço” (v. 8), mas também lúcido (v. 7). A dúvida e a confusão existencial são reforçadas nos dois últimos versos,
em que acentua ainda mais a ideia de angústia.
3. O verso ilustra uma metáfora que sugere a grande confusão interior em que se encontra o sujeito poético: o mar remete para a imensidão e o sargaço
para o emaranhado, para a confusão.
“Nada sou, …”
6. Através da repetição do advérbio “nada”, seguido de verbos que apontam, semanticamente, para a gradação, o sujeito poético assume uma atitude
nihilista, de anulação de si mesmo e de tudo o que o rodeia.
7. Para além da anulação expressa no primeiro verso, ao longo do texto confirma-se a incerteza em que o “eu” vive, pois traz o seu ser “por ilusão”, não
sabe se há de ser já que não é nada, como se comprova nos versos 2, 3 e 4.
8. No penúltimo verso está presente a oposição sonho/realidade, tornando-se visível a inutilidade do sonho e da própria inconsciência. No fundo,
destaca-se a importância de ter consciência da irrealidade do sonho.
9. O último verso, que encerra um apelo, traduz a incerteza da vida do “eu”: o coração é incerto e a sombra remete para o sonho, logo para a irrealidade.
10. Predominam, ao longo do texto, sons sibilantes (/s/) e nasais (/-m/, /-ão/, /nh/), sugerindo o estado de angústia e de reflexão em que o “eu” se
encontra.
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37 Educação Literária 1. Fernando Pessoa viu-se impossibilitado de ser feliz porque foi sempre movido pela vontade de conhecer, recorrendo incessantemente à inteligência e
procurando uma realidade suprassensível, existente apenas num mundo abstrato.
2. A verdadeira vocação do poeta foi pensar e sonhar. Com efeito, autoanalisou-se, recorrendo permanentemente ao pensamento, tentou iludir a vida
através dos sonhos, mas, porque se entregou “obsidiantemente ao pensamento” e se virou “para o sonho”, acabou por se separar do mundo e não
atingiu a felicidade.
3. Por “fantasmas mágicos” pode entender-se tudo aquilo que o levou a evadir-se da realidade concreta, nomeadamente o sonho e o pensamento.
4. A afirmação “O poeta dissipou os dias erguendo sonhos inúteis a um céu impassível” (ll. 30-31) aponta claramente para a inutilidade do sonho. A
afirmação “a vida que iludiu sonhando” (l. 32) encerra a ideia de que o sonho foi inútil.
39 Verificar 1.
a. Iterativo
b. Imperfetivo
c. Habitual
d. Habitual
e. Perfetivo
f. Genérico
g. Perfetivo
h. Genérico
i. Imperfetivo
j. Iterativo
k. Habitual
2.
a. F
b. V
c. F
d. V
e. F
f. F
g. V
40 Compreensão do oral 1. Apresentação, por parte de um alargado número de cidadãos de um manifesto para solicitar a legalização da morte assistida.
3.
a. Isabel Ruivo
b. O direito à vida está inscrito no património da Humanidade; a morte faz parte da vida e isso exige uma reflexão na sociedade.
c. Deputado e apoiante do manifesto
d. Rui Nunes
e. Médico e presidente da Associação Portuguesa de Biomédica
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f. Eutanásia é um conceito muito abrangente e “vago” e pode ser mal aplicada como no caso da adolescente belga.
g. Médica especialista em cuidados paliativos
h. A eutanásia não acaba com o sofrimento: a eutanásia acaba com a vida (não é um tratamento médico).
i. Os cuidados paliativos como solução para o sofrimento não são conhecidos, ou são inacessíveis à maioria da população.
j. Eutanásia não tem que ver com uma escolha individual; ela põe em causa a autonomia (dá-se autonomia ao médico e não ao doente).
4. De entre os argumentos da posição contrária à prática da eutanásia, o mais persuasivo parece ser o que refere o perigo de aquele ato se tornar “a
pedido”. Este argumento torna-se forte dada a possibilidade de refutação a que está sujeito: até que ponto a pessoa que “deseja” a prática da eutanásia
estará na posse de todas as faculdades para tomar tal decisão? Esta é uma prática irreversível! O argumento que pode assumir relevância na defesa da
eutanásia é a possibilidade que esta prática dá de uma morte com dignidade, evitando o risco da dependência total relativamente a alguém.
5. Este debate é pertinente para a abordagem do tema da eutanásia dada a informação que disponibiliza à audiência. Os intervenientes são especialistas
na área da medicina (cuidados paliativos e biomédica) e deputados da Comissão de Ética. Na defesa das suas posições, apresentam argumentos,
sustentados em exemplos concretos, que ajudam a esclarecer a opinião pública sobre o tema em causa.
6. O moderador apresenta o tema, os intervenientes e gere as várias intervenções de modo a garantir a imparcialidade do tratamento do tema. Solicita
intervenções concisas ou sintetiza ideias para melhor condução e compreensão das ideias defendidas. Respeita e promove o princípio de cortesia entre os
vários interlocutores.
41 Expressão oral
1. Resposta de caráter pessoal. Contudo, devem ser apresentados os seguintes argumentos:
−…
OU
−…
41 Escrita
1. Resposta de caráter pessoal. No entanto, os alunos poderão referir que:
− se, por um lado, pôr fim à vida é considerado um ato condenável, pelo menos numa perspetiva cristã, por outro, há filosofias que preconizam que seja o
ser humano a conduzir o seu destino;
− o sofrimento é algo que afeta não só a pessoa mas também quem a rodeia, daí haver correntes de opinião que defendem que em casos extremos se
possa pôr fim à vida;
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Sentidos 12, Unidade 1 – Fernando Pessoa, Poesia do ortónimo Cenários de resposta
− a decisão poderá caber a quem está a sofrer, caso a pessoa seja maior, esteja consciente e seja essa a sua vontade.
42 Educação Literária
1. A repetição da palavra “memória” e do possessivo “meus” concorre para acentuar a importância que o sujeito poético dá, no presente, ao passado que
agora reconstrói por não o ter valorizado outrora.
2. Através da memória, o “eu” regressa ao passado e, no presente, lamenta ter perdido aquela “história” personalizada nos contos de fadas. A recordação
traz memórias que contrastam com os cansaços do presente e justificam o apelo final: “Torna-me aos dias felizes / E deixa chorar quem riu.” (vv. 11-12)
Estes últimos versos ilustram de forma significativa a oposição passado/presente.
3. O sujeito poético admite estar em sofrimento, referindo-se à dor causada pela perda “daquela história”, aos seus “cansaços ateus”, e almeja regressar
aos dias felizes porque, se agora chora, no passado “riu”.
4. O presente de dor, desencadeado pelo uso excessivo da razão, leva o sujeito poético a evocar o tempo em que a razão não o atormentava. Esse era o
tempo da infância, conotado com o tempo de ouro em que o ser humano experiencia a felicidade. Os contos de fadas são a metáfora da infância, na
medida em que espelham um mundo de fantasia, de liberdade, e lembram as primeiras explicações para muitos dos enigmas do mundo. Contudo, a
última página, que instituía o final feliz que povoava os contos de fadas, fora rasgada. Talvez seja essa a razão do seu choro.
5. A personificação está presente no papel que o “eu” atribui à memória (invocada por meio do vocativo), responsabilizando-a por ações que são única e
exclusivamente da responsabilidade do ser humano.
9. Valor imperfetivo.
10.1 [B].
43 Educação Literária
1. As dicotomias presentes são passado/presente, jovem/adulto, sonho/vida real. Por intermédio delas, o sujeito opõe o passado ao presente, dado que o
sonho deu lugar à estranheza em face da vida.
2. No passado, ainda que a vida fosse má, parecia-lhe serena; hoje a vida é estranha e “a pena, ou a mágoa, ou o cansaço” (v. 9) impõem-se.
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Sentidos 12, Unidade 1 – Fernando Pessoa, Poesia do ortónimo Cenários de resposta
3. Os canteiros do jardim remetem para a beleza, para a harmonia e para a fragilidade que caracterizam os momentos felizes do passado. O verbo pisar,
por seu lado, adquire um valor disfórico, sugerindo o facto de o presente anular o passado.
4. A adjetivação − “má” (v. 3), “serena” (v. 3) – permite caracterizar a vida do “eu” no passado; a enumeração, com recurso ao polissíndeto, em “a pena,
ou a mágoa, ou o cansaço” (v. 9), reforça o estado de espírito negativo do sujeito poético no momento presente.
5. Orações subordinadas adverbiais temporais – “Quando era jovem” (v. 1); “quando tinha pena” (v. 1); oração subordinada adjetiva relativa restritiva –
“Que me visita o ser” (v. 8).
6. Valor disjuntivo.
7. Conversão.
44 Educação Literária 1. Na primeira estrofe há um jogo temporal entre passado e o presente, em que o primeiro se reflecte no segundo. Com efeito, o “eu” traz para o
presente as recordações do passado, em particular o jardim e a fantasia de outrora, e admite que no futuro também não saberá o que foram essas
vivências anteriores.
2. Os versos parentéticos correspondem às presumíveis respostas da ama, o interlocutor direto do “eu”, que é símbolo do passado e o único que poderia
dar as respostas que o “eu” procura, graças à relação e ao conhecimento que tem desse passado, agora revisitado.
3. A cor salientada é o azul, particularmente o “azul do céu” (v. 7), que simboliza a pureza, a inocência, o que está além da realidade, que, por sua vez, se
associam à infância, ao sonho e à imaginação típicas das crianças. Contudo, estão subjacentes outras cores na referência às “Flores de tantas cores…” (v.
13), que, simbolicamente, sugerem a alegria mas também a fragilidade.
4. As aproximações devem-se ao facto de o sujeito poético ser do género feminino e de, no final de cada estrofe, existir um verso que funciona como uma
espécie de refrão e que representa a resposta da ama. Portanto, tanto o caráter dialogal, como a centralidade da figura feminina e a presença do refrão
são aspetos que remetem para as cantigas de amigo.
5. A anáfora permite realçar o modo carinhoso como a “ama” trata o sujeito poético. Simultaneamente, reitera o vocativo e a apóstrofe.
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Sentidos 12, Unidade 1 – Fernando Pessoa, Poesia do ortónimo Cenários de resposta
7. Como marcas deíticas, surgem as formas verbais no presente e no pretérito perfeito que contêm marcas temporais e pessoais (“Conta-me” e “fui”),
bem como pronomes (“me”). Por outro lado, também a expressão “Esse dia” configura uma marca temporal, e [esse] “jardim” uma marca deítica de
natureza espacial.
45 Informar 1. 1.
Idealização da infância
Texto A Texto B
Justificação
A infância é cor, música
2. A infância foi idealizada não só porque essa é a tarefa do poeta mas também porque Pessoa se autopenaliza por a ter abandonado, restando-lhe recriá-
la pela imaginação.
3. Pessoa cria os heterónimos como forma de reencontrar a simplicidade e a inocência próprias da infância.
46 Informar 1.
a. Poemas “rimados” (l. 1); “verso curto, de número de sílabas par ou ímpar” (ll.1-2); “concisão da quadra ou da quintilha” (l. 2).
b. “linguagem selecionada mas simples” (ll. 4-5); “vocábulos de cariz romântico ou simbolista mas um núcleo de palavras nuas e correntes” (ll. 5-6);
“expressão é límpida, a sintaxe sem pregas obscuras” (l. 11); associação de “um substantivo e um adjetivo contraditórios ou qualificam o mesmo
substantivo com dois adjetivos antitéticos: ‘alegre e anónima viuvez’” (ll. 21-23).
c. “antíteses, paradoxos, jogos de conceitos e palavras” (ll. 16-17); “repetição da mesma palavra ou palavras homónimas ou afins” (l. 25).
48 Leitura 1. [C]
2. [D]
3. [B]
4. [A]
5. [C]
6. O deítico pretende reforçar a importância, nas memórias da narradora, do espaço a que se refere – o pátio na casa transmontana.
7. “as velhas histórias” (l. 43)
8. Verbo principal intransitivo.
9. “a quem quiser habitá-las com o seu amor e a sua fantasia” (ll. 49-50).
15
Sentidos 12, Unidade 1 – Fernando Pessoa, Poesia do ortónimo Cenários de resposta
51 Verificar 1. [D]
2. [A]
3. [A]
4. [B]
5. [D]
6. [C]
7. [A]
16