Você está na página 1de 11

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Artes

Anderson Ladislau da Rocha

Antonio Canova

Rio de Janeiro
2018
Anderson Ladislau da Rocha

Napoleão como Marte Pacificador, de Antonio Canova, e sua Relação


com a Tradição Clássica

Trabalho apresentado à
disciplina de História das Artes
I, ministrada pela Prof.ª Dra.
Evelyne Azevedo, do curso de
Licenciatura em Artes Visuais,
da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro
2018
3

SUMÁRIO

1 - BIOGRAFIA................................................................................................................ 4
2 - NAPOLEÃO COMO MARTE PACIFICADOR ............................................................ 6
3 - SIMILARIDADES COM OUTRAS OBRAS ................................................................. 6
4 - NEOCLÁSSICO ......................................................................................................... 9
5 - CONCLUSÃO .......................................................................................................... 10
6 - BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 11
4

BIOGRAFIA

Nascido em Possagno, uma pequena cidade


da República de Veneza, em 1 de novembro de
1757, Antonio Canova, carinhosamente chamado de
"Tonin", foi considerado o maior escultor neoclássico
italiano1. Aos 4 anos de idade, viu-se obrigado a
morar com o seu avô paterno em decorrência da
morte do seu pai, Pietro Canova, que havia falecido.
Sua mãe, Angela Zardo, casou-se novamente e teve
um filho, o abade Giovanni Battista Sartori, irmão
com quem teve bom relacionamento. Assim como o
1 - T. Lawrence. Retrato de Canova
seu pai, o seu avô, Pacino Canova, também
trabalhava como escultor2. Viveu toda a sua infância nas oficinas de arte na
companhia do avô cujo trabalho era patrocinado pela abastada família Falier de
Veneza. A sua já admirada habilidade artística chamou a atenção de Giovanni
Falier, que acabou se tornando o responsável por conduzir o jovem artista, até então
com 11 anos, aos estudos. Canova inicia seus estudos na escultura de Torretti em
1768, em Pagnano d'Asolo. Em Veneza começa a estudar desenho na escola nua
na Academia, quando se inspira nos moldes de gesso da Galeria Filippo Farsetti.
Após usufruir da experiência adquirida nos estúdios Torretti, A. Canova cria seu
próprio estúdio e dá início a sua magnífica trajetória artística, concretizando duas
das suas grandes obras que lhe deram projeção no cenário europeu: Orfeu e
Eurídice (1776), Dédalo e Ícaro (1779). Isto com apenas 19 anos3. No final de 1779,
com a finalidade de desenvolver ainda mais suas habilidades e técnicas na arte,

1 Disponível em: http://www.oexplorador.com.br/antonio-canova-escultor-e-pintor-italiano/


2 Algumas fontes vão tratar o avô e o pai de Antonio Canova como escultores. Em outras, são
tratados como cinzeladores e entalhadores de pedra, consideradas categorias inferiores as de um
escultor estatuário.
3 Disponível em:

https://www.museocanova.it/index.php?option=com_content&view=article&id=48&Itemid=53&lang=en
5

muda-se para Roma que, na época, era considerada o centro cultural da Europa.
Neste momento, Roma presenciava o crescimento do Neoclássico onde as obras
que representavam o estilo clássico era acessível para os estudiosos e admiradores
daquele período. E lá estava A. Canova usufruindo daquele grande "museu a céu
aberto". Chegando à cidade, foi recebido pelo embaixador de Veneza em Roma,
Girolamo Zulian, responsável pela primeira exposição pública do trabalho de A.
Canova, em sua própria
residência. Rapidamente foi
recebido no círculo dos
intelectuais e artistas

3 - Orfeu
daquele momento. Dentre
eles estavam: Gavin
Hamilton, Willian Hamilton, o
cardeal Alessandro Albani e
Johann Joachim
Winckelmann4, considerado
4 - Eurídice
2 - Orfeu e Eurídice
o pai da arqueologia e
responsável pela construção da teoria acerca da arte clássica e que são divididos
em três períodos: 900-600 a.C (arcaico); 600-300 a.C (clássico) e; 300-146 a.C
(helenístico). Após anos trabalhando incansavelmente,
tendo diversas obras aclamadas em toda a Europa,
vários elogios dos críticos, Antonio Canova tendo já
sua saúde comprometida pelo esforço e dedicação às
suas obras, veio a falecer em 13 de outubro de 1822,
aos 64 anos, em Veneza. Seu funeral foi celebrado
em 25 de outubro de 1822 com todas as honrarias e
homenagens fúnebres chegando a Itália a entrar em
luto pois tamanho era o reconhecimento de todas as
autoridades não só da Itália mas de toda a Europa.
Seu corpo foi enterrado em sua cidade natal,

5 - Dédalo e Ícaro
Possagno, e seu coração foi depositado numa urna de
pórfido na Academia de Veneza. A urna pode ser

4 Disponível em: https:/pt.scribd.com/doc/242466082/Antonio-Canova-dpf.


6

visitada na Basílica de Santa Maria dei Frari de Veneza5.


NAPOLEÃO COMO MARTE PACIFICADOR

Após sua fama percorrer toda a Europa,


Antonio Canova foi convidado em 1802 por
Napoleão Bonaparte para reproduzir a sua imagem
e dos membros da sua extensa família. Inspirado no
modelo mitológico de Hércules Farnesio, A. Canova
esculpiu a estátua de Napoleão como Marte
Pacificador entre 1803 e 1806, pesando 15
toneladas e com 3,40m de altura. Este trabalho
gerou muita controvérsia entre os dois porque
Napoleão entendia ser impróprio representá-lo nu e
com porte atlético, bem diferente do que Napoleão
aparentara ser6. É possível observar, na imagem,
6 - Napoleão como Marte Pacificador uma leve inclinação do rosto de Napoleão para a
direita e, na mão direita, ele segura uma estátua que representa a vitória feita em
bronze sobre o globo terrestre. Na mão esquerda tem-se uma lança de cetro e
apoiado sobre o ombro e o braço esquerdo, Bonaparte possui uma capa que são as
utilizadas pelos imperadores romanos7. A perna
esquerda está recuada dando a impressão de
movimento. A estátua está ancorada á um tronco de
árvore encostada na sua perna direita, onde também
se encontra a espada.

5 Ibid., p.6.
6 Disponivel em: https://www.academia.edu/8485075/Eros_napole%C3%B3nico.
7 Ibid., p. 144.
7

SIMILARIDADES COM OUTRAS OBRAS

Muitas obras de Napoleão Bonaparte foram realizadas durante o seu império.


Evidentemente, com os inúmeros trabalhos realizados inspirados nos imperadores
romanos, deuses e deusas da mitologia grega, contribuiu para a propagação de uma
iconografia napoleônica com referências imperialistas e heróicas8:

“Além disso, a figura encomendada pelo cônsul Bonaparte


que tenha ficado satisfeito com o imperador Napoleão há quase dez
anos então, não há dúvida de que este magnífico retrato escultural é
o ponto culminante de toda uma estratégia de representação
inspirada na antiguidade, na história romana e no mito grego. ... os
modelos clássicos estavam em vigor nos tribunais europeus desde o
Renascimento, e especialmente depois das descobertas
arqueológicas de Herculano em 1738 e Pompéia em 1748, que
renovou os referentes artísticos de retrato político. Johann Joachim
Winckelmann visitara Pompéia pela primeira vez apenas dez anos
após a sua descoberta, e em 1764 ele publicou Geschichte der Kunst
des Altertums (História da Arte Antiga), onde estabeleceu os
fundamentos teóricos e estética da avaliação e recepção dos
modelos gregos. Vale lembrar que o centro monumental foi escavado
no século XVIII de Herculano, onde apareceu uma basílica fingida
com um grande pórtico decorado com uma galeria de estátuas
imperiais em mármore e bronze, que foram reproduzidos em
impressão no sexto volume de Delle Antichità di Ercolano. Pego sesto
ou sia secondo de 'bronzi De 'bronzi di Ercolano e contorni incise con
qualcue spiegazione Eu demoro o segundo. Estátua, Nella Regia
Stamperia (Nápoles, 1771). As folhas LXXVII e LXXVIII nos permitem
ver separadas Retratos colossais completos e semi-nus de Augusto e
Claudio (figuras 3 e 4), de características inspiradas por Policleto e
segurando caminhos de cetro-sceptre, muito semelhantes a Napoleão
de Canova. Seja os originais ou as estampas, essas estátuas são
outras duas possíveis fontes de inspiração para o escultor
neoclássico, mesmo em seu caráter monumental, como as figuras, os
originais atingiram 2,5 m de altura. E também na basílica de
Herculano, uma pintura foi encontrada retratando Theseus vencedor
do Minotauro, desenhado por Francesco La Vega e gravado por
Rocco Pozzi para o primeiro volume deste trabalho, Le Fractures
Antiche, que também evoca o significado heróico do nudez clássico” 9

8 Ibid., p. 144.
9 Ibid., p. 145.
8

7 - Augusto, lámina LXXVII de Delle Antichità di 8 - Claudio, lámina LXXVIII de Delle Antichità di
Ercolano (Nápoles, 1771). Ercolano (Nápoles, 1771).

Visivelmente o sentido heróico se mantinha muito presente em diversas obras


como já ditas e como podemos ver nas figuras apresentadas acima. É possível
fazermos um paralelo da estátua de Napoleão como Marte Pacificador com uma
obra de 1704, Roma, de Domenico de Rossi em que nos mostra uma estátua de
Alexandre, o Grande, seminu com uma lança na mão direita e o capacete típico que
caracteriza o exército romano10. Conclui-se também que uma imagem de poder e de
sensualidade não são antagônicas. Tais características eram presença marcante
nas estátuas que representavam os deuses, deusas e heróis do período clássico,
geralmente nus e seminus, apenas com parte do corpo coberto por túnicas
transparentes e aderentes ao corpo. Uma vez que esses elementos transformam-se
características iconográficas, os imperadores romanos e estadistas desejam que
suas representações sejam desta forma para demonstrar seu senhorio, poder e
semelhança com os deuses míticos.

10 Ibid., p. 146.
9

NEOCLÁSSICO

A cultura neoclássica surgiu em


meados do século XVIII e se estende até a
metade do século XIX, na Europa e América.
Ela foi influenciada pela tradição greco-
romana e se apresentou em reação ao
período barroco. Seu surgimento foi
estimulado pelas descobertas das cidades de
Pompéia e Herculano. Suas bases também
tem relação com o período do Iluminismo,
que foram motivados pelos ideais do
racionalismo, que se opunha aos dogmas e
superstições fortemente presentes no campo
9 - Alejandro Magno, lámina CXLVI de Raccolta di statue
antiche e moderne (Roma, 1704). religioso. Com o crescente interesse da
comunidade acadêmica sobre os estudos da antiguidade, deram início às coleções
públicas e privadas contribuindo para o estudo erudito e a sistematização do estudo
da cultura antiga, que não se limitava apenas à cultura greco-romana mas as
antiguidades celtas, egípcias e etruscas:

"A publicação de vários relatos detalhados e ilustrados de


expedições de vários arqueólogos, especialmente muitos outros, o
arqueólogo francês e gravador Anne Claude de Caylus, Recueil
d'antiquités égyptiennes, étrusques, grecques et romaines (7
volumes, Paris, 1752-1767), o primeiro a tentar agrupar as obras de
acordo com os critérios de estilo e não gênero, abordando também as
antiguidades celtas, egípcias e etruscas, contribuiu significativamente
para a educação pública e expandiu sua visão do passado,
promovendo uma nova paixão por tudo o que era velho.
... Embora a arte clássica tenha sido apreciada a partir do
Renascimento, foi relativamente circunstancial e empírico, mas agora
o interesse é construído de forma mais científica, sistemática e
racional. Com essas descobertas e estudos começaram a ser
possível formar, pela primeira vez, uma cronologia da Antiguidade
greco-romana clássica, distinguindo o que era típico de um ou outro e
gerava um interesse na tradição puramente grega, que tinha sido
eclipsado pela herança romana, especialmente porque naquela
época, a Grécia estava sob o domínio turco, portanto, na prática, foi
inacessível aos estudiosos e turistas de todo o Ocidente cristão." 11

11 Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/242466082/Antonio-Canova-pdf.


10

CONCLUSÃO

São infindáveis a quantidade de artistas que se inspiraram na cultura greco-


romana para a elaboração das suas obras. É possível examinar o estilo neoclássico
nas diversas obras desenvolvidas ao longo dos séculos XVIII e XIX. Os artistas
procuraram se limitar às suas obras embora muitos dos responsáveis pela
contratação desses trabalhos tinham interesse em perpetuar a sua supremacia e
demonstrar o seu poder. O período neoclássico foi um marco na história da
humanidade pois a Europa vivia uma convulsão cultural desde o Renascimento,
passando pelo Iluminismo, a Revolução Francesa e Revolução Industrial. O Barroco
acabou servindo de combustível para que o Neoclássico pudesse ganhar e expandir
seus conceitos e pensamentos acerca da arte que havia tomado toda a Europa.
A obra Napoleão como Marte Pacificador, assim como tantas outras
apresentadas por Antonio Canova, demonstra a importância deste artista para a
história da arte e sobretudo os apreciadores da cultura antiga como foi Napoleão
Bonaparte e tantos homens poderosos registrados na história. A. Canova deixou um
grande legado para a humanidade e o reconhecimento pela sua importância levou à
construção do Museu Canova, onde abriga diversas obras do artista. Certamente a
apreciação pelo antigo ganhou notoriedade neste período com o surgimento de
muitos colecionadores enriquecendo a cultura e a história "escritas" nas oficinas dos
inúmeros artistas que deram a sua contribuição.
11

BIBLIOGRAFIA

https://i.pinimg.com/originals/ec/8f/a9/ec8fa98509156766679e14b5870bed11.jpg.

https://pt.scribd.com/doc/242466082/Antonio-Canova-pdf.

https://www.museocanova.it/index.php?option=com_content&view=article&id=48&Ite
mid=53&lang=en

GUSANO, Miriam Cascajo. El desnudo en la escultura en el siglo XIX. Trabalho final


de graduação, 2017.

MÍNGUEZ, Víctor. Eros Napoleónico, Poder y Seducción en el Retrato Desnudo del


Emperador: Fernando Villaverdes Ediciones.

LÓPEZ, María Isabel Rodríguez. Escultura Clásica y Neoclasicismo: Publicado en


Revista de Arqueología, Año XXII, n. 238

Imagem1: T.Lawrence: Ritratto di Canova:


ttps://www.museocanova.it/index.php?option=com_content&view=article&id=48&Item
id=53&lang=en
Imagem 2: Orfeo e Eurídice: https://www.pinterest.com/pin/426575395935648651/
Imagem 3: Orfeo: https://emptysqua.re/blog/escaping-callback-hell/
Imagem 4: Eurídice: http://correr.visitmuve.it/en/sublime-canova-project/
Imagem 5: Ibid.
Imagem 6: http://warburg.chaa-unicamp.com.br/img/obras/napoleon-canova-
london_jbu01.jpg
Imagem 7: Augusto, lámina LXXVII de Delle Antichità di Ercolano (Nápoles, 1771).
Imagem 8: Claudio, lámina LXXVIII de Delle Antichità di Ercolano (Nápoles, 1771).
Imagem 9: Alejandro Magno, lámina CXLVI de Raccolta di statue antiche e moderne
(Roma, 1704).

Você também pode gostar