Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE BELAS-ARTES
MESTRADO EM DESENHO
2013
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS-ARTES
MESTRADO EM DESENHO
2013
Resumo
The Divine Comedy is one of the most illustrated literary works of all time,
however, and within this vast subject, there are few records of illustration about this text
in Portugal.
This study aims to explore the possibilities of the illustration of Hell through a
technique that until now has been poorly investigated, and to solve the problems faced
in its use.
Hell was shown in its entirety for the first time in Portugal by António Carneiro,
through forty-two drawings. This project also intends to publicize his drawing project
and to further enrich a little the existing studies of this work which, unfortunately and so
far, have received little attention and few publications. This existing documentation,
allowed us to address issues relating to the origin, motives and methods used by
António Carneiro, and to establish a connection with the end result of these drawings
which, along with several other works of the various illustrators of Dante, constituted
the support of this research.
This work placed its emphasis on the strategies of representation with the aim of
providing a different view, looking for expressive techniques appropriate to the
illustration of Hell, and, like António Carneiro, to contribute to the illustration of the
Divine Comedy.
It is argued that the intention of António Carneiro when he completed the forty-
two drawings of Hell was to later illustrate the Divine Comedy through paintings, but
this project would ultimately never materialize. However, the intentions of António
Carneiro are unclear and this study suggests some particular difficulties regarding the
lack of information.
In this study, the aesthetic and expressive potentials of the technique of frottage
are discovered, which according to the research conducted here, has never been used to
illustrate the Divine Comedy, or, from what is known, as a strategy to illustrate other
works.
À Professora Doutora Luísa Arruda, não só pela orientação desta dissertação, mas
também pela sua disponibilidade, pelas suas opiniões e críticas construtivas que foram
sempre uma mais valia para a realização deste estudo.
Ao Museu Nacional Soares dos Reis por ter autorizado fotografar e visionar in situ os
quarenta e dois desenhos de António Carneiro, e à Técnica Superior Elisa Soares que
facilitou o acesso aos desenhos e a outros documentos relacionados.
Ao João Decq pelos seus conselhos e informações prestados para este estudo.
Ao Afonso Porfírio, pela boleia e estadia no Porto durante a visita ao Museu Nacional
Soares dos Reis.
A todos os meus Amigos, em especial ao André Carvalho, Diogo Silva, Ivo Soares,
Joana Ferreira e Matilde Pessoa pela ajuda que me prestaram ao longo deste estudo.
Por fim, mas não menos importante, um agradecimento especial aos meus Pais que
sempre me apoiaram.
Índice
Introdução………………………………………………………………………………3
1. Ilustradores de Dante
1.1 Primeiras representações……………………………………………………..9
1.2 Ilustradores de Dante em Portugal………………………………………….15
1.3 Listagem de ilustradores de Dante
como proposta de futuro projecto de investigação........................................21
1. Memória descritiva…………………………………………………………….139
2. Matrizes e ilustrações………………………………………………………….151
Conclusão…………………………………………………………………………….173
Bibliografia…………………………………………………………………………...175
1
2
Introdução
1
Inferno, Canto I, 1-3
3
percurso do Mestrado em Desenho, continuando a investigar e a aprofundar os méritos
expressivos de uma técnica de desenho abordada ao longo do primeiro ano de e que tem
como princípio a técnica de frottage de Max Ernst. Julgamos que a ilustração do Inferno
de Dante que propomos aprofunda e questiona este meio expressivo.
Assim, na memória descritiva abordamos os princípios teóricos e práticos da
frottage e ainda o processo de trabalho envolvido na nossa proposta de ilustração, para
que de alguma forma possa também servir de modelo para uma eventual investigação
no futuro.
2
Maria José Queirós Lopes, Natureza e Símbolo em António Carneiro Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1983 [Dissertação de Mestrado em História de Arte].
3
António Manuel de Melo Fernandes, Simbologia do Tríptico «A Vida» do Pintor António Carneiro
Universidade Lusíada de Lisboa, 1998 [Dissertação de Mestrado em História da Arte].
4
CANDIAGO, Anna, António Carneiro Ilustrador de Dante, Porto, Civilização, 1965.
4
A internet foi uma ferramenta essencial, desempenhando um papel fundamental
na pesquisa para a lista de artistas que foi aqui apresentada por ordem alfabética. Porém,
e tendo em conta a vastíssima obra de ilustração da Divina Comédia, foi-nos impossível
registar todos os nomes e haverá certamente muito trabalho a fazer.
Não se incluiu grande parte da biografia e a restante obra de António Carneiro,
devido à quantidade de informação já existente. No entanto, registou-se o máximo de
informação possível em relação aos desenhos de António Carneiro, referente ao título,
técnica, material, tipo de papel, dimensão e número de inventário da colecção de todos
os desenhos de António Carneiro fotografados no Museu Nacional de Soares dos Reis.
Os desenhos foram apresentados por ordem de acordo com a estrutura narrativa do
poema e da própria numeração dos desenhos, juntamente com os textos correspondentes
à cena de cada canto escritos em italiano e reveladores da grande admiração que o
artista nutria pela composição original da Divina Comédia. Este registo fotográfico é
aqui apresentado na sua totalidade para que possa ser devidamente divulgado e
apreciado.
Finalmente, e quanto ao trabalho prático nesta investigação, a metodologia
artística será por nós abordada em profundidade no capítulo Memória Descritiva e
coloca a questão da validade e da actualidade do estudo e da ilustração da obra de
Dante.
5
6
A ilustração da Divina Comédia e António Carneiro
7
8
1. Ilustradores de Dante
9
3. Giotto di Bondone 4. Sandro Botticelli
Juízo Final (pormenor), c.1332-1337 Retrato de Dante Alighieri, 1495
Fresco Óleo sobre tela
Florença, Palazzo del Bargello Génova, colecção particular
Apesar de não existirem certezas em relação à autoria desta obra, sabe-se que
Dante e Giotto se conheciam. Dante faz alusão a Giotto no canto XI do Purgatório.
No seu livro Le Vite de' Più Eccellenti Pittori, Scultori, e Architettori, publicado pela
primeira vez em 1550, Giorgio Vasari5 apresenta-nos os três versos do Purgatório e
descreve Cimabue como sendo mestre de Giotto:
“Se a glória de Cimabue não tivesse sido contrastada pela grandeza do seu
discípulo, a sua fama teria sido maior, tal como dá a entender Dante na Divina
Comédia quando, no canto XI do Purgatório em alusão à própria inscrição da sua
sepultura, afirma:
5
Giorgio Vasari realizou igualmente representações de Dante, entre os quais Os Seis Poetas Toscanos
(1544), um possível Dante presente no tecto do Salone dei Cinquecento no Pallazzo Vecchio em
Florença, (1555-1572) e um retrato de Dante presente na capa de uma edição da Divina Comédia de 1564
com comentários de Christoforo Landino, Allessandro Vellutello e Francesco Sansovino.
10
Cimabue foi, portanto, entre as trevas, a primeira luz da pintura, e não só no
desenho de figuras como também na cor, sendo muito aclamado pelas suas
novidades. Despertou nos seus compatriotas o ânimo de segui-lo numa ciência tão
bela e difícil. Merece, por este motivo, infinitos elogios, dada a impossibilidade e a
inabilidade do século em que nasceu e, deste modo, muito mais que se o século já
dominasse esta ciência.”6
“…Em pouco tempo, Giotto não só alcançou o estilo de Cimabue mas, mais
ainda, ao imitar a natureza desterrou o tosco estilo grego em voga na sua época e
ressuscitou a boa arte da pintura moderna, introduzindo o retrato humano natural
que não era realizado desde há séculos atrás. Hoje em dia ainda é possível
contemplar na capela do Palácio de Podestà em Florença o retrato da efigie de
Dante Alighieri, poeta coetâneo e amigo de Giotto, do qual apreciava os
extraordinários dotes que a natureza lhe tinha concedido, tal como destaca
Giovanni Bocaccio na novella V dedicada a Micer Forese da Rabatta e a Giotto.”7
“Mas, até que ponto é que Giotto, embora contemporâneo do poeta, teria, não
digo falsificado, mas estilizado, espiritualizado a fisionomia de Dante, na
preocupação de revelar-nos, não a «realidade humana» do grande florentino, mas o
retrato psicológico da personagem super-humana que lograra descer aos infernos,
6
“Si la gloria de Cimabue no hubiera tenido por contraste la grandeza de su discípulo Giotto, su fama
habría sido mayor, como afirma Dante en la Divina Commedia, cuando en el canto XI del Purgatorio, en
alusión a la propia inscripción de su sepultura, dice:
Por tanto, Cimabue fue, entre tantas tinieblas, la primera luz de la pintura, y no sólo en el dibujo de las
figuras, sino también en su color, siendo muy celebrado por sus novidades. Despertó en sus compatriotas
el ánimo de seguirlo en una ciência tan bella y difícil, por lo que merece alabanza infinita, dada la
imposibilidad y la torpeza del siglo en el que nació, y, por tanto, mucho más que si el siglo ya hubiese
dominado esta ciencia.” (VASARI, 2004, p.109)
7
“…Giotto en poco tiempo no sólo alcanzó el estilo de Cimabue, sino que, aún mas, imitando a la
naturaleza desterró el tosco estilo griego de su época y resucitó el buen arte de la pintura moderna, e
introdujo el retrato humano del natural, que no se realizaba desde hacía siglos. Todavía hoy se puede
contemplar en la capilla del Palacio del Podestà de Florencia el retrato de la efigie de Dante Alighieri,
poeta coetáneo y amigo de Giotto, y al que apreciaba por las extraordinarias dotes que la naturaleza le
había concedido; como destaca Giovanni Bocaccio en la novella V dedicada a Micer Forese da Rabatta y
a Giotto” (VASARI, 2004, p. 117)
11
escalar o ofuscante Olimpo cristão, e falar a Deus? Os autores italianos que se têm
ocupado da iconografia dantiana, e aos quais me reporto, apresentam uma dúvida
que me parece legítima, tanto mais quanto é certo que Boccaccio, na Vida de
Dante, nos dá do poeta um retrato sensivelmente diferente. Com efeito, o Dante
que o autor do Decamerone descreve – ele. Que o conheceu – possui, é certo, o
mesmo nariz aquilino, o mesmo lábio inferior procidente e severo da pintura de
Giotto; mas o rosto é largo, de uma palidez de ouro baço, e aparece-nos ornado de
uma barba negra, crespa e revolta. Este Dante barbado constitui um problema para
os iconógrafos. Qual é o verdadeiro,- o glabro ou o felpudo? O da face larga, ou o
do perfil cortante de lava do Vesúvio? Não vejo razões para que o não sejam os
dois. O ilustre florentino, como qualquer simples mortal, podia ter engordado e
emagrecido; e nada o impedia, nem mesmo a glória, de usar barbas e de deixar de
as usar. […]
Dir-se-á que o facto de Dante ter ou não ter usado barba não influi de modo
algum na ideia que nós possamos fazer do seu génio ou da sua obra.
Evidentemente. Mas já o mesmo não se sucede com a extrema emaciação revelada
no retrato de Giotto; com a cor da pele, que faz pensar numa possível sufusão
ictérica; com o exophthalmus, o progeneísmo e a hipertrofia do lábio inferior,
susceptíveis de ser interpretados pelo médico como estigmas de degenerescência,
ou, pelo menos, como perturbações do ritmo morfológico; e, enfim, como a
«atitude curvada» que, no dizer de Boccaccio, caracterizava a figura de Dante, e
que alguns peritos italianos explicam por um desvio cifótico da coluna vertebral.
Olhando o retrato do grande poeta de Florença, não nos resta dúvida de que ele foi
constitucionalmente um doente; e isso explica a sua permanente melancolia e
certos aspectos patológicos do seu carácter e da sua obra.”8
“Dante é a primeira pessoa em quase mil anos, cujo nome evoca imediatamente
uma imagem vívida da sua presença física. Não que ele tenha sido a primeira
pessoa ou até mesmo o primeiro poeta após a era clássica, cujo retrato foi
proferido, mas para apreciar todo o mundo que separa os retratos medievais da
nossa imagem de Dante, precisamos apenas de olhar para o chamado Códice
8
MANUPPELLA, 1966, p.184-186. (Texto escrito por Júlio Dantas publicado no jornal O Comércio do
Porto: ano LXXXI, nº 159, pág.1, Folhetim. Porto: 7 de Julho de 1935)
12
Manesse, uma colecção encantadora das obras alemãs Minnesänger, que podem
muito bem datar aproximadamente do período de vida de Dante. Considere a
famosa página que mostra Walter von der Vogelweide na pose em que ele se
descreve sentado de pernas cruzadas numa pedra, com a cabeça apoiada pela sua
mão. Não há claramente nenhuma tentativa de retratar as características reais de
Walter, que se assemelham à fórmula adoptada por Heinrich von Veldecke.
Certamente, o miniaturista não pôde ou nem tentou descobrir como eram esses
homens. Ele marcou-os pelos seus gestos e pelo seu traje…”9
9
“…Dante is the first person for almost a thousand years whose name immediately evokes a vivid image
of his physical presence. Not that he was the first person or even the first poet after the classical age
whose portrait was handed down, but to appreciate the whole world which separates medieval portraits
from our image of Dante, we need only look at the so-called Manesse codex, a delightful collection of the
works of German Minnesänger which may well date back approximately to Dante’s lifetime. Take the
famous page showing Walter von der Vogelweide in the pose in which he described himself sitting cross-
legged on a stone with his head supported by his hand. There clearly is no attempt here to portray the
actual features of Walter, which closely resemble the formula adopted for Heinrich von Veldecke.
Certainly the miniaturist neither could nor did attempt to find out what these men had looked like. He
marked them by their gestures or their costume…” (GOMBRICH, 1979, p. 471)
13
Dante está normalmente associado e que está igualmente presente no traje de Heinrich
von Veldecke.
Também o gesto está presente noutras representações de Dante.
Apesar da restauração de 1937 que pode ter alterado de alguma forma os seus
traços originais, a representação de Dante da autoria de Giotto pode mesmo ser a mais
fiel às verdadeiras características físicas do poeta. Giotto foi contemporâneo e
conhecido de Dante, no entanto e segundo John Ruskin “Sandro Botticelli foi o único
pintor de Itália que sentiu e entendeu completamente Dante.”10 O Retrato de Dante
Alighieri (fig.4) de Botticelli evidenciou talvez de uma forma exagerada os traços de
Dante presentes na obra de Giotto e apesar de já existirem anteriormente vários retratos
de Dante, o de Botticelli parece ter sido dos retratos que definiu com contornos mais
marcantes as características de Dante representadas posteriormente até à actualidade.
Assim como no Códice Manesse, nos códices iluminados da Divina Comédia
não houve nenhuma tentativa de retratar as verdadeiras características de Dante. Mais
do que o rosto, o que distingue neste caso as figuras é o traje, o cabelo e a barba.
“Os códices iluminados da Divina Comédia [...] não nos confrontam com o
Dante da nossa imaginação, vestido de vermelho com as suas familiares coberturas de
10
“Sandro Botticelli was the only painter of Italy who thoroughly felt and understood Dante.”
(HUNTINGTON et al., 1903, p.23)
14
cabeça e o seu perfil magro, mas pelo século XV o mais tardar, os ilustradores tenderam
a adoptá-lo, como Botticelli fez nos seus desenhos memoráveis.”11
Os desenhos de Botticelli são o culminar de uma tradição de representação da
Divina Comédia que surgiu com as iluminuras da primeira metade do século XIV.
15
assunto é técnicamente bem tratado, mas com disposição teatral; a luz e claroescuro os
característicos de Sequeira.” (COSTA, 1922, p.215) Domingos Sequeira realizou ainda
vários desenhos dantescos (fig4; fig.5).
Em 1863, o escultor Victor Bastos realizou o desenho Grupo (Inferno de Dante)
(fig.6). “Um grupo de figuras femininas nuas contorce-se em espiral, em cima uma
mulher tem a mão na testa, em baixo uma tem uma coroa de louros e outra abraça uma
que lhe está próxima; no fundo mais figuras esboçadas.”15
Em 1868, Columbano Bordalo Pinheiro fez o seu primeiro estudo a óleo, uma
pequena cópia do quadro de A barca de Dante de Delacroix, com a inscrição no verso:
“copiado por Columbano Bordalo Pinheiro em 1868.” (ALDEMIRA, 1941, p.56)
Em 1873, o jornal Diario Illustrado de 30 de Março trouxe na primeira página a
biografia de Dante e uma gravura do seu retrato (fig.7) baseada no retrato de Dante de
Stefano Tofanelli e de Raffaello Morghen. Ainda no século XIX, produziu-se a
litografia Dante Alighieri Poeta Italiano (fig.8), que tem inscrita no lado esquerdo da
folha: Lith. de M.el Luiz e no lado direito: Souza, também baseada no mesmo retrato de
Dante.
Já no século XX, no artigo Ainda Junqueiro publicado pela revista Feira da
Ladra em 1931, João Barreira revela as inabilidades de Guerra Junqueiro para a
matemática e para a música, confessadas pelo próprio. “Mas a inhabilidade para o
desenho é que Junqueiro confessava ser nele radical, não conseguindo reproduzir a
forma do mais simples objecto, sobretudo da figura humana.
- A única coisa que sei fazer é o perfil do Dante.”16 (fig.9)
No dia 26 de Abril de 1935, o Diário de Lisboa publicou o artigo Geometria de
imagens. A literatura planificada pelo cinema. O «écran» ampliador dos grandes livros
da humanidade17, escrito e ilustrado com uma caricatura de Dante (fig. 10) por Roberto
Nobre.
Em 1943 a Livraria Sá da Costa editou a adaptação em prosa de Marques Braga
da Divina Comédia com ilustrações de Alberto Sousa (fig.11) inspiradas nas gravuras
de Gustave Doré e direccionada ao público juvenil. Em 2009 a mesma obra foi
reeditada com ilustrações de André Letria (fig.12).
15
consultar página web:
http://www.matriznet.imc-ip.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=200528
16
Feira da Ladra, num.1, 1931, p.170.
17
Diário de Lisboa, 26 de Abril de 1935, p.6.
16
Entre 1961 e 1963, a Editorial Minotauro editou a Divina Comédia ilustrada por
vários artistas:
O Inferno com vinhetas e aberturas de canto desenhadas por Figueiredo Sobral18
(fig.13), e ilustrações de Manuel Lapa, Fernando Azevedo, António Areal, Francisco
Relógio, Bartolomeu Cid (fig.14), Figueiredo Sobral, Fernando Conduto, Luís Jardim,
João Abel Manta (fig.15), Rogério Ribeiro, António Ramos e Querubim Lapa.
O Purgatório com vinhetas e aberturas de canto desenhadas por Júlio Pomar, e
ilustrações de Júlio Pomar, Lima de Freitas, Luís Filipe de Abreu, Maria Keil (fig.16),
Cândido da Costa Pinto (fig.17), Fernando Azevedo, Carlos Botelho, José Júlio, Alice
Jorge, Menez, Manuel Baptista, João Abel Manta e António Charrua.
O Paraíso com vinhetas e aberturas de canto desenhadas por António Areal
(fig.18), e ilustrações de António Areal, Carlos Botelho, Sá Nogueira, Nikias
Skapinakis, Infante do Carmo, Maria Velez, Fernando Azevedo, João Vieira, Cipriano
Dourado e Guilherme Camarinha.
Em 1962, Júlio Pomar realizou um conjunto de xilogravuras para O Purgatório
(fig.19) e em 2006, a editora Bertrand lançou numa edição limitada de mil exemplares A
Divina Comédia de Dante Alighieri, traduzida por Vasco Graça Moura e ilustrada por
Júlio Pomar, com dez retratos inéditos de Dante (fig.20; fig.21). Esta edição recupera
também 33 desenhos que Pomar realizou para O Purgatório (fig.22) publicado pela
Editorial Minotauro em 1962.
Em 2011, Rui Chafes realiza 25 desenhos para a exposição Inferno (A minha
fraqueza é muito forte) (fig.23; fig.24; fig.25), embora estes desenhos não estejam
directamente relacionados com o Inferno de Dante.
Em 2012, André Graça Gomes realiza uma série de estudos do Inferno para a
exposição Matriz integrada no Projecto Vicente 2012. (fig.26; fig.27; fig.28)
18
Juntamente com António Carneiro, Figueiredo Sobral é o único artista português neste estudo que
ilustrou todos os cantos do Inferno.
17
1. 2.
3. 4. 5.
6. 7. 8.
18
9. 10. 11. 12.
19
19. 20. 21. 22.
20
1.3 Listagem de ilustradores de Dante como proposta de futuro projecto de
investigação
A. Salinas-Ternel (1862 - ?)
Achille Incerti (1907 – 1988)
Adolf von Sturler (1802 – 1881)
Adolfo de Carolis (1874 – 1928)
Adolfo Magrini (1876 – 1957)
Adolphe William Bouguereau (1825 – 1905)
Agenore Fabbri (1911 – 1998)
Agnolo Bronzino (1503 – 1572)
Agostino Arrivabene (1967)
Albert Hock (?)
Albert Maignan (1845 – 1908)
Alberto Gerardi (1889 – 1965)
Alberto Martini (1876 – 1964)
Alberto Schiavi (?)
Alberto Sousa (1880 – 1961)
Alberto Sughi (1928 – 2012)
Alberto Zardo (1876 – 1959)
21
Alberto Ziveri (1908 – 1990)
Aleksandr Golovin (1863 – 1930)
Alessandro Kokocinski (1948)
Alessandro Vellutello (1473 - ?)
Alexandre Cabanel (1823 – 1889)
Alice Jorge (1924 – 2008)
Aligi Sassu (1912 – 2000)
Ambrogio Lorenzetti (c.1290 – 1348)
Amos Cassioli (1832 – 1891)
Amos Nattini (1892 – 1985)
André Graça Gomes (1985)
André Letria (1973)
Andrea Buscemi (?)
Andrea del Castagno (1421 – 1457)
Andrea Fossombrone (1886 – 1963)
Andrea Orcagna (1308 – 1368)
Andrea Pierini (1798 – 1858)
Andre-Charles Coppier (1866 – 1948)
Angela Rossi (?)
Angelo Bioletto (1906 – 1987)
Anna Bertoni (?)
Annebelle Claudia
Anne-Fieke Later (?)
Annibale Fasan (1956)
Annibale Gatti (1828 – 1909)
Anselm Feuerbach (1829 – 1880)
Antoine Étex (1808 – 1888)
Anton Maria Mucchi Vignoli (1871 – 1945)
António Areal (1934 – 1978)
António Carneiro (1872 – 1930)
António Charrua (1925 – 2008)
Antonio Marini (1668 – 1725)
António Ramos Rosa (1924)
Antonio Rauco (?)
22
Armando Spadini (1883 – 1925)
Arnold Tóth (1979)
Arnoldo Ciarrocchi (1916 – 2004)
Arturo Martini (1889 – 1947)
Ary Scheffer (1795 – 1858)
Attilio Razzolini (?)
Auguste Rodin (1840 – 1917)
Augusto Pelliccione (1938)
Augusto Roquemont (1804 – 1852)
Baccio Baldini (1436 – 1487)
Barry Moser (1940)
Bartolomeo Crivellari (1716 – 1777)
Bartolomeo di Fruosino (c.1366 – 1441)
Bartolomeo Pinelli (1771 – 1835)
Bartolomeu Cid dos Santos (1931 – 2008)
Bela Čikoš Sesija (1864 – 1931)
Benjamin Martinez (?)
Bernard Buffet (1928 – 1999)
Bernard von Neher (1806 – 1886)
Bernardino India (c.1535 – c.1590)
Bernardino Marinucci (1931)
Bernardino Poccetti (1548 – 1612)
Bertel Thorvaldsen (1770 – 1849)
Bonaventura Emler (1831 – 1862)
Bonaventura Genelli (1798 – 1868)
Bonino de Boninis (1454 – 1528)
Brigid Marlin (1936)
Bruno Di Maio (1944)
Bruno Sabatini (?)
Bruno Saetti (1902 – 1984)
Cândido da Costa Pinto (1911 – 1976)
Carl Christian Vogel von Vogelstein (1788 – 1868)
Carl Oesterley (1805 – 1891)
Carlo Barbieri (?)
23
Carlo Carrà (1881 – 1966)
Carlo Giancarli (?)
Carlo Guarienti (1923)
Carlo Levi (1902 – 1975)
Carlo Mattioli (1911 – 1994)
Carlo Muccioli (1857 – 1933)
Carlo Salodini (1903 – 1950)
Carlos Alonso (1929)
Carlos Botelho (1899 – 1982)
Carsten Svennson (1926)
Cas Waterman (1958)
Charles A. Buchel (1872 – 1950)
Cipriano Dourado (1921 – 1981)
Claudio Del Romano (?)
Claus Brusen (?)
Columbano Bordalo Pinheiro (1857 – 1929)
Cristina Califano (?)
Cristobal Rojas (1857 – 1890)
Cyril Bouda (1901 – 1984)
Dai Dudu (?)
Daniela Ovtcharov (1964)
Danny Evo Heinricht (?)
Dante Gabriel Rossetti (1828 – 1882)
Dario Rivarossa (1969)
Dariusz Kaleta (1960)
Dasha Shkurpela (1978)
David Bowers (1956)
David Istvan (1982)
Di Vogo (1962)
Diana Hesketh (?)
Dinko Fabris (1958)
Domenico Antonio Tripodi (?)
Domenico Boffa (1975)
Domenico Cantatore (1906 – 1998)
24
Domenico Colantoni (?)
Domenico di Michelino (1417 – 1491)
Domenico Fabris (1814 – 1901)
Domenico Ghirlandaio (1449 – 1494)
Domenico Mastroianni (1876 – 1962)
Domenico Peterlini (1822 – 1891)
Domenico Purificato (1915 – 1984)
Domingos Sequeira (1768 – 1837)
Don Simone Camaldolese (em actividade entre 1378 e 1405)
Donald Newman (1955)
Donn P. Crane (1878 – 1944)
Duccio Federighi (1975)
Dugald Stermer (1936 – 2011)
Duilio Cambellotti (1876 – 1960)
Ebba Holm (1889 – 1967)
Edgar Degas (1834 – 1917)
Edouard Jean Conrad Hamman (1817 – 1888)
Eduard Bendemann (1811 – 1889)
Eduard von Steinle (1810 – 1886)
Edward Thor Carlson (1925)
Eike Erzmoneit (1948)
Elisabeth de Lunde (1970)
Elisabeth Sonrel (1874 – 1953)
Elizabeth Harris (?)
Emilio Greco (1913 – 1995)
Emma Mazza (?)
Ennio Di Vincenzo (1930 – 2009)
Erik Heyninck (1952)
Ernesto Bellandi (1842 – 1916)
Eugen Ciuca (1913)
Eugène Auguste François Deully (1860 – 1933)
Eugène Delacroix (1798 – 1863)
Eugène Later (?)
Evelyn Paul (1883 – 1963)
25
Ezio Anichini (1886 – 1948)
Ezio Marzi (c.1875 - ?)
Fabio di Lizio (1976)
Fausto Zonaro (1854 – 1929)
Federico Faruffini (1831 – 1869)
Federico Zuccari (1539 – 1609)
Felice Giani (1758 – 1823)
Fernando Azevedo (1923 – 2002)
Fernando Cezan (?)
Fernando Conduto (1937)
Fernando Di Nicola (?)
Fernando Infante do Carmo (1945)
Ferruccio Ferrazzi (1891 – 1978)
Figueiredo Sobral (1926 – 2010)
Filippo Agricola (1776 – 1857)
Filippo Bigioli (1798 – 1878)
Filippo Napoletano (1587 – 1629)
Fiona Hall (1953)
Fortunato Rizzi (?)
Francesco Arduini (?)
Francesco Clemente (1952)
Francesco Fontebasso (1707 – 1769)
Francesco Messina (1900 – 1995)
Francesco Nenci (1782 – 1850)
Francesco Podesti (1800 – 1885)
Francesco Scaramuzza (1803 – 1886)
Francisco Relógio (1926 – 1997)
Franco Gentilini (1909 – 1981)
Franco Morelli (?)
François-Maurice Roganeau (1883 – 1973)
Franz Stassen (1869 – 1949)
Franz von Bayros (1866 – 1924)
Frederic Lord Leighton (1830 – 1896)
Frederick Richard Pickersgill (1820 – 1900)
26
Friedrich Preller (1804 – 1878)
Fritz Mock (1867 – 1919)
Fyodor Konstantinov (1910 – 1997)
G. F. Marcazzi (?)
Gaetano Previati (1852 – 1920)
Gaetano Zompini (1700 – 1778)
Galileo Chini (1873 – 1956)
Gary Panter (1950)
George Gonzalez (1966)
George Grosz (1893 – 1959)
Gérard Garouste (1946)
Giacomo Leonardis (1723 – 1794)
Giacomo Lolli (1857 - ?)
Gianfranco Gozzini (?)
Gigino Falconi (1933)
Gil Bruvel (1959)
Gio. Giacomo Macchiavelli (?)
Giorgio Bicchi (?)
Giorgio de Chirico (1888 – 1978)
Giorgio Kienerk (1869 – 1948)
Giorgio Szoldatics (1873 – 1955)
Giorgio Vasari (1511 – 1574)
Giotto di Bondone (1267 – 1337)
Giovan Battista Galizzi (1882 – 1963)
Giovanni Brancaccio (1903 – 1975)
Giovanni Britto (c.1500 – 1550)
Giovanni Buffa (1871 – 1954)
Giovanni Costetti (1874 – 1949)
Giovanni De Sanctis (?)
Giovanni del Ponte (1385 – c.1437)
Giovanni di Paolo (c.1403 – 1482)
Giovanni Fattori (1825 – 1908)
Giovanni Magnini (?)
Giovanni Maria Mataloni (1869 – 1944)
27
Giovanni Migneco (?)
Giovanni Mochi (1829 – 1892)
Giovanni Stradone (1911 – 1981)
Giovanni Toscani (1372 – 1430)
Giovanni Trombara (?)
Gisberto Ceracchini (1899 – 1982)
Giuilio Aristide Sartorio (1860 – 1932)
Giuliano Giampiccoli (1698 – 1759)
Giulio Clovio (1498 – 1578)
Giulio Ruffini (?)
Giuseppe Aprea (1879 – 1946)
Giuseppe Bagnariol (?)
Giuseppe Bertini (1825 – 1898)
Giuseppe Frascheri (1809 – 1886)
Giuseppe Mentessi (1857 – 1931)
Giuseppe Migneco (1908 – 1997)
Giuseppe Salietti (1905 – 1988)
Giuseppe Zigaina (1924)
Go Nagai (1945)
Gregory Gillespie (1936 – 2000)
Gualtiero de Baci Venuti (1857 – 1938)
Guerra Junqueiro (1850 – 1923)
Guglielmo Giraldi (em actividade entre 1445 – 1489)
Guilherme Camarinha (1912 – 1994)
Gulácsy Lajos (1882 – 1932)
Gustav Courtois (1852 – 1923)
Gustave Doré (1832 – 1883)
Gustave Moreau (1826 – 1898)
Guy Denning (1965)
Gy. Szabó Béla (1905 – 1985)
Hans von Bartels (1856 – 1913)
Harry Bennett (1919 – 2012)
Heinrich Maria von Hess (1798 – 1863)
Heinrich Muecke (1806 – 1891)
28
Helder da Rocha (?)
Henri Delaborde (1811 – 1899)
Henri Martin (1860 – 1943)
Henrik Drescher (1955)
Henry de Groux (1866 – 1930)
Henry Holiday (1839 – 1927)
Henry Siddons Mowbray (1858 – 1928)
Hermann Freihold Plueddemann (1809 – 1868)
Hugo Crosthwaite (1971)
Igor Grechanyk (1960)
Ilya Repin (1844 – 1930)
Ines Morigi Berti (?)
Ines Scheppach (1953)
Ingeborg Westfelt-Eggertzin (1855 – 1936)
Ivan Aivazovsky (1817 – 1900)
Ivan Bilibin (1876 – 1942)
J. Schnorr von Carolsfeld (1794 – 1872)
Jack Lipowczan (1951)
Jack Zajac (1929)
Jacob del Burgofraco (?)
Jacopo Guarana (1720 – 1808)
Jacques Callot (1592 – 1635)
Jan Van der Straet (1523 – 1605)
Jean Alaux (1786 – 1864)
Jean Delville (1867 – 1953)
Jean Léon Gérôme (1824 – 1904)
Jean Louis Ernest Meissonier (1815 – 1891)
Jean Paul Gahinet (?)
Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780 – 1867)
Jean-Baptiste Camille Corot (1796 – 1875)
Jean-Hippolyte Flandrin (1809 – 1864)
Jeff Weispfenning (1966)
Jennifer Strange (?)
João Abel Manta (1928)
29
João Vieira (1934 – 2009)
Johann Friedrich Overbeck (1789 – 1869)
Johann Heinrich Füssli (1741 – 1825)
John Elliott (1858 – 1925)
John Flaxman (1755 – 1826)
John William Waterhouse (1849 – 1917)
José Júlio Andrade dos Santos (1916 – 1963)
José Roosevelt (1958)
Joseph Anton Koch (1768 – 1839)
Joseph von Fürich (1800 – 1876)
Julia Bugueva (1952)
Júlio Pomar (1926)
Justus van Gent (c.1410 – c.1480)
Karl Andreae (1823 – 1904)
Karl Begas (1794 – 1854)
Karl Friedrich Lessing (1808 – 1880)
Karl Friedrich Mueller (1813 – 1881)
Karl Kunz (1905 – 1971)
Karlheinz Schäfer (1941)
Klaus Wrage (1891 – 1984)
Krittika Ramanujan (?)
Krzysztof Izdebski-Cruz (1966)
Lea Contestabile (1949)
Leila Lazzaro (?)
Lello Scorzelli (1921 – 1997)
Léon Ferrari (1920)
Leonard Baskin (1922 – 2000)
Leonardo Cremonini (1925 – 2010)
Li Tiezi (?)
Lia Garofalo (1949)
Libera Musiani (1903 – 1987)
Libero Andreotti (1875 – 1933)
Lima de Freitas (1927 – 1998)
Lino Bianchi Bariviera (1906 – 1985)
30
Lionello Balestrieri ( 1872 – 1958)
Lodovico (Cigoli) Cardi (1559 – 1613)
Lopoldo Metlicovitz (1868 – 1944)
Lord Frederick Leighton (1830 – 1896)
Lorenzo di Pietro (1410 – 1480)
Lorenzo Mattotti (1954)
Luca Signorelli (c.1445 – 1523)
Lucas van Leyden (1494 – 1533)
Luigi Ademollo (1764 – 1849)
Luigi Broggini (1908 – 1983)
Luís Filipe de Abreu (1935)
Luís Jardim Portela (1931 – 2003)
Luxoro Tammar (1825 – 1899)
M. Coquard (?)
M.el Luiz (?)
Maestro delle Vitae Imperatorum (em actividade entre 1430 e 1450)
Magda Francot (1942)
Manfredo Manfredini (?)
Manolo Belzunce (1944)
Manuel Baptista (1936)
Manuel Lapa (1914 – 1979)
Marcel Rieder (1862 – 1942)
Marcel Ruijters (1966)
Marcello Avenali (1912 – 1981)
Marcin Kolpanowicz (1963)
Margaret Bowland (1953)
Maria Keil (1914 – 2012)
Maria Velez (1935)
Marie Spartali Stillman (1844 – 1927)
Marie-Philippe Coupin de La Couperi (c.1773 – 1851)
Mario Costantini (?)
Mario Donizetti (1932)
Mark Wilkinson (1952)
Markus Vallazza (1936)
31
Masaccio (1401 – 1428)
Massimina Pesce (1941)
Massimo Campigli (1895 – 1971)
Medardus Höbelt (1914 – 2011)
Menez (1926 – 1995)
Michael Hiep (1959)
Michael Mazur (1935 – 2009)
Michael Parkes (1944)
Michael Wm. Kaluta (1947)
Michel de Saint Ouen (?)
Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564)
Michelangelo Cactani (1804 – 1882)
Michelangelo Schiavoni (1712 – 1772)
Mikhail Ivanovich Pikov (1881 – 1971)
Milton Glaser (1929)
Miquel Barceló (1957)
Mirko Basaldella (1910 – 1969)
Modest Cuixart (1925 – 2007)
Moebius (1938 – 2012)
Monica Fagan (1949)
Monika Beisner (1942)
Moritz von Schwind (1804 – 1871)
Mosè Bianchi (1840 – 1904)
Nardo di Cione (? – 1366)
Natale Faorzi (?)
Nazarene Reels (1947)
Nicaise de Keyser (1813 – 1887)
Nikias Skapinakis (1931)
Nino Carmine Pitti (?)
Nino Gregori (?)
Olivier Zappelli (1966)
Orfeo Tamburi (1910 – 1994)
Osvaldo Tofani (1849 – 1915)
Otto Greiner (1869 – 1916)
32
Pacino di Bonaguida (c.1280 – antes de 1340)
Paolo Rossetto (1968)
Pasquale De Carolis (?)
Patrick Waterhouse (1981)
Patrick Woodroffe (1940)
Paul Erland (?)
Paul-Emile Colin (1867 – 1949)
Peter Cross (1951)
Peter Howson (1958)
Peter Kattenberg (1954)
Peter van Oostzanen (1962)
Peter von Cornelius (1784 – 1867)
Philipp Veit (1793 – 1877)
Pierluigi Borghi (?)
Piero Bagnariol (?)
Pierre-Charles Comte (1823 – 1895)
Pierre-Claude-François Delorme (1783 – 1859)
Pietro Antonio Novelli (1729 – 1804)
Pietro Benvenuti (1769 – 1844)
Pietro Senno (1831 – 1904)
Plinio Nomellini (1866 – 1943)
Poul Simon Christiansen (1855 – 1933)
Priamo della Quercia (c.1400 – 1467)
Primo Costa (?)
Querubim Lapa (1925)
Quinto Martini (1908 – 1990)
R. T. Rose (?)
Raffaelle Gianetti (1832 – 1916)
Raffaello Morghen (1758 – 1833)
Raffaello Sanzio (1483 – 1520)
Raffaello Sorbi (1844 – 1931)
Raoul Vistoli (1915 – 1990)
Reinhard Schmid (1960)
Remo Brindisi (1918 – 1996)
33
Renato Guttuso (1911 – 1987)
Renato Signorini (1908 – 1999)
Renzo Vespignani (1924 – 2001)
Riccardo Di Virgilio (?)
Richard M. Powers (1921 – 1996)
Richard Pernsteiner (?)
Rico Lebrun (1900 – 1964)
Robert Cimbalo (?)
Robert Hamerstiel (1933)
Robert Rauschenberg (1925 – 2008)
Robert Turner (?)
Roberta Coni (1976)
Roberta Delaney (1936)
Roberto Nobre (1903 – 1969)
Rodolfo Margheri (1910 – 1967)
Rogério Ribeiro (1930 – 2008)
Rui Chafes (1966)
Sá Nogueira (1921 – 2002)
Salvador Dalí (1904 – 1989)
Sandow Birk (1962)
Sandro Arduini (?)
Sandro Botticelli (1445 – 1510)
Sandro Cerchi (1911)
Sanne Glissov (1956)
Santo Spartà (?)
Satoshi Kitamura (1956)
Serafino Macchiati (1861 – 1916)
Sergio Cicognani (1927)
Seymour Chwast (1931)
Seymour Kirkup (1788 – 1880)
Sidney Nolan (1917 – 1992)
Siegfried Zademack (1952)
Silvestro Cutuli (1948)
Silvio Benedetto (1938)
34
Silvio Bicchi (1874 – 1948)
Silvio Gregori (?)
Simeon Solomon (1840 – 1905)
Sir Joseph Noel Paton (1821 – 1901)
Sophie Janinet Giacomelli (c.1786 - ?)
Stefano Ianni (1964)
Stefano Tofanelli (1750 – c.1810)
Stephanie Henderson (1959)
Steven Kenny (1962)
Suloni Robertson (1969)
Taddeo Gaddi (c.1300 – 1366)
Takeshi Yamada (1960)
Theodor de Bry (1528 – 1598)
Theodor Zeller (1900 – 1986)
Thomas Stothard (1755 – 1834)
Tim Roosen (1972)
Tom Duff (?)
Tom Phillips (1937)
Tommaso Piroli (1752 – 1824)
Tono Zancanaro (1906 – 1985)
Tullio Vietri (1927)
Ugo Levita (1958)
Val Dyshlov (?)
Valery Kharitonov (1939)
Victor Bastos (1830 – 1894)
Vincenzo Camuccini (1771 – 1844)
Vincenzo Gazzotto (1807 – 1894)
Vincenzo Gozzini (1806 – 1886)
Vincenzo La Bella (1872 – 1954)
Vincenzo Mascia (1957)
Vincenzo Morani (1809 – 1870)
Vincenzo Petroncini Gozzini (?)
Vincenzo Precenzano (?)
Vincenzo R. Latella (?)
35
Vincenzo Stanghi (? – 1860)
Virgilio Guzzi (1902 – 1978)
Vitale Sala (1803 – 1835)
Vito D’Ancona (1825 – 1884)
Vittorio Ribaudo (1937)
Vlada Mirkovic (1954)
Vladimir Favorsky (1886 – 1964)
Vladimir Ovtcharov (1963)
Volodia Popov (1961)
Voytek Nowakowski (1959 – 2011)
Walter Crane (1845 – 1915)
Walter Girotto (1953)
Wayne Barlowe (1958)
Wilhelm Trübner (1851 – 1917)
William Blake (1757 – 1827)
William Dyce (1806 – 1864)
Wolfgang Harms (1950)
Yan’ Dargent (1824 – 1899)
Zhang An (?)
36
2. Os desenhos do Inferno de António Carneiro
19
ver BALDAQUE (1995), p.90.
20
ver FRANÇA (1973), pp.49-55
37
do poema, para posterior estudo do ambiente desenhado in situ. Esta intenção foi
descrita pelo Visconde de Vila-Moura:
“Assisti ao acumular, durante anos, dos seus sonhos, que amei em si, a seu lado!
E que sonhos!
Era a ilustração da Divina Comédia do Dante, para o que tencionávamos visitar,
especialmente, a Itália, repetindo os lugares que pudessem dar-nos, de alguma
sorte, a geografia provável do Poema, - sobre o qual, a propósito do seu trabalho,
eu lhe prometera uma conferência…” (VILA-MOURA, 1931, p.43)
Após ter contraído tuberculose, a sua filha Maria morre em 1925. A doença e a
sua morte afectaram o ritmo de trabalho e, por sua vez, a produção das obras do pintor.
Na sua grande maioria, os trabalhos que realizou nesta fase em que se remete ao
isolamento, reduzem-se a pinturas de interiores de igrejas obscuras, abrigos silenciosos
de meditação. Quadros com um sentimento de ausência absoluto. Mais tarde, perto do
fim da vida, a sua obra adquiriu uma espiritualidade mais acentuada com os desenhos da
Divina Comédia e regressaram os seus interesses simbolistas e humanos.
Apesar da falta de vestígios que definem os espaços e as paisagens e das figuras
com falta de volume e de materialidade, estes desenhos constituem novidades na obra
do artista: o movimento e a gestualidade. António Carneiro liberta-se das suas obras
anteriores de cenas triviais, de retratos e até mesmo dos interiores e, com recursos
limitados, consegue superá-las com uma liberdade de gestos que interessaram ao
ilustrador nesta fase de maior maturidade como artista. No entanto, a sua vida chega ao
fim e António Carneiro queda-se no Inferno, sem nunca ter chegado ao Purgatório e ao
Paraíso.
38
particular de António Carneiro e contribuir para a sua divulgação que, mesmo depois da
publicação do livro de Anna Candiago, permanece quase esquecida.
21
“António Carneiro nasceu em Amarante em 16 de Setembro de 1872: o pai, que partira para o Brasil, só
dará notícias quando já o nome do filho começar a ser conhecido; a mãe, pobríssima, morrerá deixando-o
com sete anos. Da sua triste infância ele mesmo gostava de recordar com os amigos as horas mais alegres,
aquelas em que era obrigado a seguir os vários funerais com os companheiros de orfanato, onde, menino,
fora recolhido. Podia nesses momentos apanhar a cera que caía das velas durante as solenidades e
modelá-la depois a seu gosto. Já pintor famoso, recordava com manifesta comoção o dia em que teve
como presente um lápis de duas cores. Tal foi o seu entusiasmo que a mãe, pelo aniversário, lhe ofereceu
uma caixa completa. Quando entrou em poder da extraordinária dádiva, considerou-se o mais feliz dos
seus companheiros e passou todos os momentos livres a pintar.” (CANDIAGO, 1965, p.5-6)
39
a.
Não é certo o primeiro contacto que Carneiro teve com Dante ou com a Divina
Comédia, mas em 1899, nas suas notas da viagem a Itália, Carneiro escreve o seguinte:
22
MS 1080 (Milão, Biblioteca dell' Archivio Storico Civico e Trivulziana) é a mais antiga Divina
Comédia ilustrada com uma data precisa e foi produzida em Florença, em 1337. No entanto, existem
algumas cópias iluminadas da Divina Comédia que podem ter sido concluídas mais cedo na mesma
década, embora seja difícil estabelecer com precisão pois não se encontram datas escritas nos próprios
manuscritos, como é o caso do códice Palatino 313, cujas iluminuras são atribuídas à oficina de Pacino di
Bonaguida, pintor e iluminador italiano com um estilo arcaico relacionado com as tradições do final do
século XIII e com uma influência adicional das primeiras obras de Giotto. A fase final da sua carreira
(desde aproximadamente 1330 até à data da sua morte, antes de 1340) foi dedicada exclusivamente à
produção de manuscritos.
40
Basílica de Santa Cruz em Florença, 16 dias mais tarde, no domingo 29 de Junho de
1899: “Dante foi o seu grande amigo; e é possível que esta convivência com um espírito
tão superior, tivesse poderosamente influído na sua manifestação de pintor.”
(VASCONCELOS, 1982-84, p.132)
41
Ahi [sic] está, além de tudo, o anatomista, o desenhador em grande, que tem nos
olhos as imagens dos blocos humanizados de Miguel Angelo, de Rodin; das telas
formidaveis de Ticiano; de Veroneso; dos artistas das figuras musculadas; e na
alma, as primeiras lições desse genio admiravel, só obscuro por ter nascido neste
canto do mundo, que foi Soares dos Reis, e ao qual, bem por certo, a Arte do pintor
tanto deve. Incide a interpretação sobre o canto XXVIII do «Inferno».
Reproduz a multidão triste dos que semearam a discordia. Ao lado as figuras
hirtas, hieráticas, dos poetas.
No final — Bertrand de Bornio, «o que deu ao rei João os maus conselhos»,
ostentando a cabeça sôlta a laia delanterna [sic].
É urna visão violenta, formidavel, a que se evola do canto de Dante, — o Poeta
de inquietação, da avidez, das sombras precitas, penitentes, caminhando pelo
scenario [sic] funéreo a orchestrar [sic] seus gemidos, que fendem «o ar sem
astros» e mal accendem [sic] o hemispherio [sic] de trevas em que se debate a
acção.
O episodio marcado é um caso macabro, extravagante, arythmico [sic],
corporizando, illustrando [sic] a vida sem esperança, fecho de toda a desavença
humana.
É um turbilhão de almas, humanizando-se por monumentalisarem [sic] seu
soffrimento [sic]; passando como arvores que houvessem perdido as raizes e um
vendaval de Justiça arremessasse para um mundo sem destino, —o do seu penar
perpetuo!
Pelo exemplo deste episodio se pode avaliar do escrupulo e trabalho do
illustrador [sic].
Este é tambem a ultima paixão, o grande tormento de Antonio Carneiro, cujo
intuito resulta, ainda, nitido, dos estudos que temos presentes, e dos quaes [sic] a
actual reproducção [sic] é documento mais do que bastante: prova duma Arte
superior e ousada, —e que cremos definitiva na obra do desenhista e do pintor.”
(VILLA-MOURA, 1921, p.99)
42
na mancha. Existe um maior contraste de luz e sombra, e a falta de volume e de
materialidade das figuras dão lugar a uma evidente modelação. Por outro lado, o
segundo desenho (fig.c) parece mais trabalhado ao nível do traço e revela a utilização
do lápis que é praticamente inexistente no primeiro. O primeiro desenho parece quase a
continuação do segundo e, a partir desta evolução “invertida”, quase é possível imaginar
um quadro final de características verdadeiramente grotescas, completamente diferente
de qualquer outra obra de Carneiro.
Segundo o Visconde de Vila-Moura, “estes são trabalhos já fora dos processos,
desenhos directos, sem sombra de academismo.” (VILA-MOURA, 1931, p.36) O
primeiro desenho (fig.b) prova que os restantes apresentados neste capítulo não são
meros acasos. Esta cena foi previamente pensada, e as diferenças, não só no aspecto de
composição da cena, mas mesmo a nível de tratamento de linha e de mancha, são muito
poucas.
b. c.
43
Dante, elas são extraordinárias na sua sensibilidade para o significado de Dante e da
atmosfera do Inferno.
Na última fase da sua vida, António Carneiro estava no auge dos seus poderes
artísticos, capaz de se ocupar completamente da imagética proverbialmente complexa
da obra de Dante e impor uma clareza relativa em cenas repletas de figuras em acção.
Por exemplo, no desenho O Acheronte (fig.5) existem várias figuras, divididas em
grupos distintos, mas muitas mostram formas individualizadas de aflição. Ao mesmo
tempo, a configuração sugere a tristeza infinita dos rios e lagos infernais, embora ainda
nenhum dos tormentos do Inferno tenha sido experimentado. Esta ilustração e muitas
outras deste conjunto, atingem grande parte do seu efeito através da expressividade da
linha que torna possível traduzir a aparência das personagens, com variação mínima, às
vezes, a atitude, as rugas subtis e as convulsões do rosto, as modificações no arranjo das
pregas e os sentimentos expressos pelos versos de Dante.
A investigação subtil do artista e a força do seu traço atingem muitas vezes
interpretações surpreendentes, incluindo folhas onde a incompletude de trabalho ou o
enredo dos episódios atingem um ritmo encantador. Este conjunto também se destaca
igualmente pela concentração desigual de sequências: em alguns casos dois desenhos
ilustram cenas diferentes do mesmo canto e não se sabe se Carneiro pretendeu dar duas
visões sobre uma determinado canto, ou se se propôs a rejeitar alguma; outros casos,
raras vezes compila numa única imagem vários momentos de um canto que revelam
pormenores fantásticos.
Por exemplo, no desenho Dante e Virgílio (fig.2) Virgílio tranquiliza Dante,
enquanto lá atrás a presença da loba passa quase despercebida e vai desaparecendo à
medida que os dois se afastam. Já no desenho Beatriz (fig.3), Carneiro decidiu
representar Dante, Virgílio e Beatriz na mesma página. Ao contrário do desenho Dante
e a Loba (fig.1) e Dante e Virgílio, em que a figura de Dante surge, respectivamente,
assustada e enfraquecida, no desenho Beatriz a aparição de Beatriz provoca um estado
de êxtase em Dante, retratado nos traços simples e expressivos que definem a sua figura.
Igualmente interessante neste desenho é a figura de Beatriz que ao contrário da loba,
que tem um aspecto quase abstracto e desaparece no horizonte afogando-se na paisagem
quase como O Cão de Goya, os traços revelam bem a sua silhueta que surge no topo de
uma montanha no canto superior da folha, apesar da dimensão da figura distante e da
impossibilidade de admirar o seu rosto. Mais nenhuma figura é colocada neste lugar.
Carneiro sentiu que Beatriz não pertencia a esta série de desenhos entre as figuras nuas
44
dos condenados, mas a sua presença foi essencial, para despertar na figura de Dante, um
sentimento oposto aos que são experienciados no Inferno.
Carneiro quase não representa estas expressões ao longo dos vários círculos do
Inferno. O desenho Geryon (A Fraude) (fig.22), não revela a face de homem justo de
Geryon23. Carneiro apresenta-nos a Fraude de cara voltada. Para além de revelarem as
transformações criativas presentes na figura de Dante ao longo do conjunto, estes
desenhos reforçam os efeitos destrutivos resultantes da condenação de Dante.
António Carneiro foi capaz de criar ritmos de beleza suave, assim como
desencadear uma tempestade de linhas nervosas e doentias, criando maior dramatismo
através do contraste entre a figura oprimida e do cenário onde cada mancha parece
destacar um sentimento de hostilidade. A maioria dos desenhos, mesmo aqueles menos
trabalhados, têm uma atmosfera conseguida através da utilização de aguadas de tinta
que exprimem as horríveis, mas sempre em mudança, condições climatéricas dos nove
círculos do Inferno que são muitas vezes aqui sugeridos por essas manchas encurvadas e
em espiral, particularmente visíveis a partir do desenho A Porta do Inferno (fig.4). Este
desenho, ao contrário dos restantes é dominado pela força das palavras que se
encontram escritas no topo da composição e onde se centra quase toda a atenção,
enquanto o aspecto indefinido produzido pelas manchas diluídas na porta, conferem
grande expressividade a esta cena. Igualmente expressivo e dramático é o desenho
Cerbero (fig.9), que após a cena apaixonante do desenho Paulo e Francesca (fig.8),
revela uma composição com vários elementos distintos, e com uma simplicidade de
traço o artista representa “mais tormentos e mais atormentados”24 debaixo da chuva
eterna. A presença discreta e o próprio tratamento indefinido de Cerbero criam na cena
um efeito avassalador, reforçando a ideia de que mais assustador que os monstros que
vão surgindo ao longo da viagem é o próprio sofrimento das almas. O desenho seguinte
Os Avaros e os Pródigos (fig.10) revela um equilíbrio e uma conjugação fenomenal
entre o traço simples do lápis que representa as figuras, e a mancha aguada que
preenche os pesos de ouro que as figuras empurram com o peito. Ainda no mesmo
canto, mas já no círculo quinto, os coléricos do desenho O Stige (Os Dominados pela
23
“Por face tinha a face de homem justo,
tão benignas feições fora revela;
e de serpente, o resto era robusto.”
Inferno, Canto XVIII, 10-12.
24
Inferno, Canto VI, 4.
45
Cólera) (fig.11) ferem-se reciprocamente ou sofrem enterrados no limo, dando sempre a
sensação de que o Inferno é um lugar enorme repleto de zonas de miséria e de tortura.
Ao longo destes desenhos assistimos ao sofrimento das figuras que se estende
até à composição trágica do penúltimo desenho: Os Traidores – Ugolino (fig.41), que
lembra de certa forma a representação da mesma cena da autoria de Domingos Sequeira
e que vimos anteriormente. De um modo geral, os quarenta e dois desenhos são
impressionantes, mesmo apesar dos escassos elementos que indicam o espaço em que a
cena decorre, a redução da configuração da paisagem e da simplicidade das figuras que
se encontram neste ambiente pouco definido, mas sugerido pela força das tonalidades
repletas de dramatismo concedido pelos negros, cinzas e sépias de uma aguada ou então
pelo traço leve de uma pena, lápis ou pincel que se respondem mutuamente. A
gestualidade das figuras surge assim de uma linguagem de claridades e sombras, através
de uma expressão gráfica nervosa, gerada pelas pinceladas e traços que projectam sem
pretensões realistas os protagonistas do Inferno.
Outro aspecto interessante são as referências das linhas de Dante nas margens de
todos os desenhos, registo minucioso da sua leitura. Longe de dificultar a imaginação do
artista, elas parecem tê-la estimulado. Os textos que António Carneiro escreveu nas
margens recuaram, por assim dizer, para a natureza puramente física da representação
para procurar refúgio nas linhas do poema, como se ele se tivesse sentido sempre
obrigado a moderar uma reinterpretação mais criativa com a autenticidade do texto.
46
perfeitamente normal visto que essas imagens são quase cinquenta anos mais antigas.
No entanto, é de salientar o caso do desenho A Perfídia (fig.33) presente nos três
registos fotográficos.
d. e. f.
47
Todos os desenhos do conjunto são de dimensões relativamente uniformes à
excepção do último (fig.42) que é de dimensões ligeiramente inferiores. Este último
desenho da série é o mais colorido de todos, com aplicações de lápis, tinta e aguada
azul, sanguínea e sépia sobre um tipo de papel meio brilhante e de menor gramagem que
os outros desenhos, apresentando dois grandes vincos que atravessam o desenho e se
cruzam na aresta esquerda da folha. Estas características quase o colocam de parte do
resto dos desenhos que se encontram todos na mesma fase de acabamento, uns com
mais indicações a lápis ou a tinta, sugerindo que o artista trabalhou sempre com o efeito
de toda a série na mente. No entanto não se sabe se Carneiro pretendeu rejeitar algum
deles, se estava satisfeito com o equilíbrio das imagens, ou se tinha a intenção de fazer
mais. A verdade é que estes desenhos nunca são explorados com exaustão, isto é, são
estudos preliminares para futuras pinturas e alguns destes desenhos podem até ter
permitido ao artista penetrar em determinadas partes do poema sem ter que transpor as
suas ideias do papel para a tela. Ao tentar acompanhar os processos criativos de António
Carneiro, é-se privilegiado com uma visão intimista de uma mente rica, apanhada nas
várias fases de criação. O facto de Carneiro deixar adormecida uma ideia que é
retomada tempos depois, pode sugerir que ele deixou-a amadurecer para mais tarde
poder criar o que ele imaginou ser uma obra de arte.
O percurso deste trabalho e as suas metamorfoses formam uma história
extraordinária, que ocuparam pelo menos os últimos dez anos da vida de um homem
que desenvolveu o seu último projecto com uma perspectiva gloriosa e difícil e com a
mesma dedicação obstinada e o mesmo espírito com que executou as suas pinturas.
Estes desenhos são únicos na obra de António Carneiro. Talvez fossem o reflexo da
despreocupação e da falta de interesse pela vida, e paradoxalmente da vontade de viver
e do medo da morte, da incerteza em relação ao futuro ou da amargura sentida pelo
próprio pintor, numa fase mais complicada da sua vida.
48
“Os pés dilacerados dos espinhos,
E sangrando, ferido, o coração,
Ergo-me à Luz, vencida a cerração,
A Selva escura, os hórridos caminhos.
Na fase final da sua vida, António Carneiro apresenta este poema que em muitos
aspectos se assemelha à viagem de Dante pelo Inferno. Apesar de não ter chegado ao
Purgatório e ao Paraíso, António Carneiro saiu do Inferno e neste poema parece relatar
essa experiência em busca da redenção. Dia 31 de Março de 1930, três meses depois de
ter escrito este poema, António Carneiro morre junto da sua mulher e dos seus filhos,
após ter contraído hepatite no regresso a Portugal.
Como muitos dos artistas e escritores do século XIX, o pintor teve um certo
prazer pela exploração das profundezas da natureza humana. Conhecido como o
“retratista das almas” (LAPA, 2010, p.31), António Carneiro tinha uma grande
admiração pela Natureza e pela alma humana, e nos desenhos do Inferno ele quis
envolver o seu ser no sofrimento íntimo das almas. A escassez de cenas do Purgatório e
do Paraíso, é talvez o reflexo da maior dificuldade que António Carneiro teve em
interpretar a visão de Dante da redenção celeste, do que com o seu panorama infernal.
No último desenho, os horrores do Inferno dão lugar pela primeira vez a sentimentos de
ternura.
25
ALIGHIERI, Dante, A Divina Comédia, Lisboa, Livraria Sá da Costa – Editora, 1955, p.10, 45-46:
“«Se eu apreendo bem o sentido das tuas palavras», respondeu a sombra augusta de Virgílio.”
49
Tal fim aparentemente inconclusivo, bem como as pistas dadas principalmente
pela utilização da cor, do tipo de papel mais modesto, da dimensão do próprio papel e
dos vincos que nele se apresentam, levantam a questão do modo pelo qual os
sentimentos de António Carneiro em relação a algumas crenças de Dante possam
estabelecer-se fora desta série, ou pelas maneiras como o artista possa querer reforçar o
seu acordo com Dante acerca de várias questões. As intenções de Carneiro não são
claras e permanecerão sempre uma dúvida, mas para procurar respostas nas suas opções
a partir do texto original, é preciso interpretar totalmente este conjunto, apesar de o
artista nunca ter iniciado a fase final deste projecto. Se António Carneiro tivesse
iniciado as pinturas como previu, a avaliar pelas suas outras obras, provavelmente teria
encoberto algumas das suas respostas espontâneas a Dante e substituído a liberdade do
lápis e da caneta, pela aplicação mais comedida do pincel com óleo. Provavelmente
haveria ganhos de coerência global e na resolução de alguns problemas de interpretação,
mas também seria, de certa forma, a perda do conjunto como foi deixado para nós: uma
das melhores obras de António Carneiro e da ilustração em Portugal.
Quando vemos este conjunto de desenhos como uma série inacabada e com o
texto de Dante escrito pelo artista nas margens da folha, é quase como se estivéssemos a
olhar para eles na própria sala de trabalho de António Carneiro, como Anna Candiago
quando os viu pela primeira vez. A sensação da mente de António Carneiro a trabalhar o
texto de Dante, com uma percepção imediata que se iria perder na pintura e que só é
possível através do desenho.
50
“Deixai toda a esperança, vós que entrais.”
51
1.
52
53
2.
Dante e Virgílio, Canto I, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,3 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1382
Poeta, io ti richieggio
per quello Iddio che tu non conoscesti,
acciocch’io fugga questo male e peggio,
che tu mi meni là dov’or dicesti,
sì ch’io vegga la porta di san Pietro,
e color che tu fai cotanto mesti.
54
55
3.
Beatriz, Canto II, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,5 x 26 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1383
56
57
4.
A Porta do Inferno, Canto III, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,4 x 26,3 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1384
58
59
5.
O Acheronte, Canto III, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,7 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1385
60
61
6.
Os Poetas nos Limbos, Canto IV, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,8 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1386
62
63
7.
Minos, Canto V, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,6 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1387
64
65
8.
Paulo e Francesca, Canto V, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,6 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1388
66
67
9.
Cerbero, Canto VI, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,8 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1389
68
69
10.
Os Avaros e os Pródigos, Canto VII, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,8 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1390
70
71
11.
O Stige (Os Dominados pela Cólera), Canto VII, 1929-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,7 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1391
72
73
12.
Os Violentos (Os Orgulhosos), Canto VIII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,7 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1392
74
75
13.
As Três Fúrias, Canto IX, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,8 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1393
76
77
14.
Os Heréticos, Canto IX, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,8 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1394
78
79
15.
Os Epicuristas, Canto X, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
34 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1395
80
81
16.
Os Violentos, Canto XI, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
34 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1396
82
83
17.
Os Centauros, Canto XII, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,8 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1397
84
85
18.
As Harpias (Os Suicidas), Canto XIII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,5 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1398
86
87
19.
Os Blasfemadores, Canto XIV, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,5 x 26,3 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1399
88
89
20.
Os Violentos contra a Natureza, Canto XV, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,6 x 26,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1400
90
91
21.
A Ronda das Sombras (Ainda os Violentos), Canto XVI, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,4 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1401
92
93
22.
Geryon (A Fraude), Canto XVII, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,4 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1402
94
95
23.
Os Sedutores, Canto XVIII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,7 x 25,6 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1403
96
97
24.
A Lisonja Thaïs, Canto XVIII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
33,9 x 26,1 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1404
98
99
25.
A Avareza e a Fraude, Canto XIX, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
33,5 x 26,7 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1405
100
101
26.
Os Adivinhos, Canto XX, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
34 x 26,6 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1406
102
103
27.
Os Impostores, Canto XXI, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,7 x 25 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1407
104
105
28.
Ainda os Impostores, Canto XXII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,7 x 25,4 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1408
106
107
29.
Os Hipócritas, Canto XXIII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,8 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1409
108
109
30.
Ainda os Hipócritas, Canto XXIII, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
32,8 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1410
110
111
31.
Sem nome (Vence a dor), Canto XXIV, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,7 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1411
…. Vinci l’ambascia
con l’animo che vince ogni battaglia,
se col suo grave corpo non s’accascia.
112
113
32.
Os Ladrões, Canto XXIV, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
32,8 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1412
114
115
33.
A Perfídia, Canto XXV, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,7 x 25,3 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1413
116
117
34.
A Felonia, Canto XXVI, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,8 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1414
118
119
35.
Os Conselheiros de Fraude, Canto XXVII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,8 x 25,4 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1415
120
121
36.
Os que semearam discordia, Canto XXVIII, 1928-30
Lápis e aguada sobre papel,
32,8 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1416
122
123
37.
Os Falsificadores, Canto XXIX, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,6 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1417
“……………….
E ti dee ricordar, se ben t’adocchio,
com’ io fui di natura buona schimia.”
124
125
38.
Os Falsários, Canto XXX, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,9 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1418
126
127
39.
Os Gigantes - Anteu, Canto XXXI, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,6 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1419
128
129
40.
Os Traidores, Canto XXXII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,7 x 25,2 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1420
130
131
41.
Os Traidores - Ugolino, Canto XXXIII, 1928-30
Lápis, tinta preta e aguada sobre papel,
32,8 x 22,6 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1421
132
133
42.
Sem nome (E, saindo, revimos as estrelas), Canto XXXIV, 1928-30
Lápis, tinta e aguada azul, sanguínea e sépia sobre papel,
28,3 x 18,8 cm
Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
Col. MNSR, n.º 1422
134
135
136
O Inferno: uma proposta de ilustração
137
138
1. Memória descritiva
139
Caspar David Friedrich Max Ernst
Floresta no Outono, c. 1835 A Floresta Petrificada, 1929
Óleo sobre tela, 35 x 44 cm Frottage a lápis, 74 x 98 cm
Paris, Musée du Louvre Paris, Centre Pompidou
Quase tudo o que crio se transforma numa floresta. Mas neste ponto não reside
unicamente o segredo do frottage. Isto poderia levar-nos muito, muito mais além...
Na minha opinião, esta “história natural” constitui realmente o único modo que
hoje nos resta (quero dizer, no século XX) de comungar com a natureza. Claro está
que se trata de uma aproximação à natureza, que já tinha sido imaginada com
antecedência por todo o movimento romântico alemão.
Todos eles mostravam uns sentimentos em relação à natureza que transcendiam
qualquer coisa que tivesse sucedido antes daquele período no qual a imaginação - a
força da imaginação - desempenhou um papel fundamental.
A primeira vez que me adentrei numa floresta fui percorrido por sentimentos
contraditórios. Prazer e consternação, assim como o que os artistas românticos
denominavam "a sensação da natureza". A magnífica sensação de respirar
livremente nos espaços abertos e, não obstante, ao mesmo tempo, a consciência
opressiva de ver-se rodeado por árvores hostis. De ver-se simultaneamente, livre e
prisioneiro.
140
Como resolver o paradoxo?
A floresta, neste caso a Selva Escura (fig.1), marca o começo da série de dez
ilustrações da Divina Comédia aqui apresentadas. Estas ilustrações foram realizadas a
partir de chapas de platex escavadas e a representação da própria placa (fig.1a)
correspondente à ilustração da Selva Escura é uma espécie de analogia ao soalho da
hospedaria de praia. Para a concepção destes desenhos, recorreu-se à técnica de frottage
como estratégia para ultrapassar a dificuldade igualmente sentida por Max Ernst em
realizar a primeira marca na folha. Para ultrapassar esta situação, e ao invés da grafite
utilizada no tríptico mencionado no início deste capítulo, utilizou-se o carvão vegetal
sobre papel sobre as chapas de platex tamanho A1 escavadas previamente com goivas.
A grafite apresentou problemas devido ao reflexo da luz, que aumenta de
densidade conforme a sobreposição de camadas de grafite na superfície da folha,
constituindo dificuldades de observação devido ao encandeamento (mais adequado
talvez ao Purgatório ou ao Paraíso), e afectando desta forma a interpretação da obra
final. Por outro lado, sendo um mineral e por sua vez, um material mais sólido que o
carvão, a grafite acaba por tornar as formas escavadas mais evidentes e neste caso fez
menos sentido a sua utilização neste projecto visto que o resultado a nível das formas
acaba por aproximar-se do resultado de uma xilogravura, apesar das suas evidentes
diferenças.
O carvão vegetal revelou ser um material mais adequado para este projecto do
que a grafite, pois é um elemento natural que faz parte da floresta. “A floresta? Solar,
queimada, petrificada, é o lugar perturbador, misterioso de todas as metamorfoses…”27
O carvão vegetal é uma matéria queimada, morta como as personagens do Inferno.
Devido à sua forma irregular, o carvão vegetal foi alisado previamente com uma
folha de lixa de modo a criar um lado uniforme, para posteriormente ser utilizado na
26
Tradução feita a partir de legendas em espanhol do documentário Max Ernst: Mein Vagabundieren -
Meine Unruhe.
27
“La forêt? Solaire, calcinée, pétrifiée, elle est le lieu inquiétant, mystérieux de toutes les
métamorphoses…” (BEAUMELLE, 2008, p.167)
141
superfície da folha, neste caso, a superfície brilhante e macia de um papel de cenário,
permitindo desta forma um melhor deslizamento do carvão para que este não danifique
o papel. A dimensão do carvão utilizado não deve ser inferior à da forma escavada, caso
contrário torna-se difícil revelar a sua forma na superfície do papel, pois debaixo deste
não existe a chapa de platex mas sim uma bolsa de ar que desaparece com a passagem
do carvão que desta forma revela no papel as entranhas do platex, como se pode
observar por exemplo na parte superior da pequena montanha do lado esquerdo da
ilustração correspondente à Escolta dos Diabos (fig.8). Esta situação pode ser evitada
como aconteceu por exemplo no canto superior direito da ilustração correspondente à
Cidade de Dite (fig.6), onde não houve passagem de carvão. Para além de revelar as
entranhas da chapa de platex, a passagem do carvão revela os vincos presentes no papel,
visíveis principalmente no traje de Virgílio (fig.2).
Utilizando o carvão é possível alterar voluntariamente através do desenho as
formas presentes na chapa de platex, como é o caso por exemplo dos seios de Taís
(fig.7) que no platex são bastante mais discretos, e acrescentar dramatismo à cena
através do uso de dégradés, visível principalmente nos cenários ou por exemplo nos
contornos de algumas partes do corpo de Ugolino (fig.10). Por outro lado, o carvão
permite também uma alteração quase automática das formas, que devido ao seu
movimento de arrastamento na superfície da folha, sugere igualmente uma ligeira
deformação dos elementos constituintes.
Porém, a tentativa de criar uma deformação na representação figurativa levanta
uma questão: “Até que grau de deformação permaneceremos homens? Esta antiga
questão é sinal da grande dúvida que assaltou o homem contemporâneo quanto à sua
própria humanidade.” (GIL, 2006, p.12) Quanto maior a gramagem do papel e quanto
menor a rigidez do material, mais distintas se tornam as formas do platex passadas para
o papel, e quantas mais passagens, mais imperceptível se torna o resultado até ficar
completamente negro e talvez esse seja o limite da deformação e da humanidade.
Através desta técnica, o desenho acaba por se tornar um processo quase
automático que adquire formas diferentes das originais escavadas no platex, sendo
possível criar formas diferentes umas das outras, mesmo usando a mesma chapa de
platex e o mesmo instrumento de desenho. Isto é visível principalmente nas expressões
do rosto, que se alteram consoante a forma e a força que é aplicada na passagem do
material de desenho na folha e o próprio material que é utilizado.
142
Nos seguintes exemplos (fig.a e fig.b), correspondentes à cena de Ugolino
(fig.10), foi utilizado uma espécie de carvão prensado, material mole e suave que
permite uma maior alteração e desfiguração das formas:
a. b.
28
“E Caronte, demónio de olho em brasa,
143
Em todas as ilustrações realizadas para este projecto, os olhos das figuras
representadas estão virados para o observador, que assume assim o papel de observado.
Todas as ilustrações realizadas para este projecto são uma tentativa de representar o que
Dante, ou qualquer outro ser vivo, poderia ver num local estranho e inóspito do planeta.
São, acima de tudo, representações do Inferno real. Todas as cenas representadas são
possíveis no mundo real de Dante ou no mundo actual. Dante nunca surge representado
pois os seus olhos são os olhos do observador que experiencia através da cortina de
carvão, um sentimento de novidade próprio de um local deste tipo, assim como Dante
sentiu quando entrou no Inferno.
Porém, este sentimento de novidade é recíproco, na medida em que as almas
presentes no Inferno se encontram perante um ser vivo que produz sombra e que não
deveria estar naquele lugar. Por exemplo, a fig.8 representa a Escolta dos Diabos mas
poderia ser interpretada, digamos, como uma tribo selvagem que viu um ser diferente
pela primeira vez. Apesar dos adornos que possam talvez remeter para uma espécie de
demónios, as figuras possuem formas claramente humanas.
Devido ao medo ou ao receio que se forma a partir dessa novidade, as figuras
surgem sempre representadas ao longe, à excepção de Ugolino (fig.10), que é
representado num plano mais aproximado para revelar melhor a expressão do rosto e
porque Dante se dirigiu ao próprio, e de Virgílio (fig.2) que é aqui representado no
momento em que surge pela primeira vez diante dos olhos de Dante. Assim como
Beatriz nos desenhos de António Carneiro, Virgílio é colocado na parte superior da
folha e apesar do rosto escuro e indefinido devido à incerteza da sua identidade29, o
resto do corpo é iluminado pois Virgílio é a luz30 de Dante durante a viagem no Inferno.
Após a cena de Virgílio, é representada a Porta do Inferno (fig.3) sem o letreiro
por cima da porta. É a tentativa de representar uma porta banal mas com um sentimento
hostil reforçado pelo ambiente sombrio do exterior e de tensão do interior desconhecido
que está prestes a ser revelado.
144
Passada a Porta do Inferno, a primeira figura com que o observador se depara no
Inferno é a de Plutão31. Esta ilustração (fig.4) é a menos fiel ao texto e deve ser
interpretada como tal. A presença de uma criança32 sozinha no Inferno e a guardar o
círculo quarto onde estão os Avaros e os Pródigos acaba por ser uma visão mais
perturbadora do que a presença de um adulto. Assim como Virgílio, Flégias (fig.5) é
representado no topo da folha, para dar a ideia de que ainda não está perto, mas que vem
ao encontro do observador e a sua chegada está para breve devido à velocidade que
leva33 por entre uma espécie de névoa34 que só é possível criar através do dégradé
resultante da passagem do carvão na folha e não através da técnica de frottage.
Esta névoa está igualmente presente no desenho do mesmo canto quando o barco
de Flégias se aproxima da Cidade de Dite (fig.6) e ao longe por entre a névoa surgem os
“grandes bandos e a gravosa gente”35 que aguardam na entrada da cidade a chegada de
Dante. Por se encontrarem ainda longe e por entre a névoa, as formas destas figuras são
indefinidas como os Hipócritas (fig.9) que “dos capuzes descidos eram baços”.36
Assim como a ilustração de Ugolino, Taís (fig.7), “a suja rameira
desgrenhada”37 assume uma postura física que pode remeter de alguma forma para o
aspecto de Saturno devorando um filho.
Para além da obra de Goya, as ilustrações realizadas para este projecto foram
igualmente influenciadas por várias obras, como por exemplo, a primeira longa-
metragem italiana L’ Inferno (1911) de Giuseppe de Liguoro, que por sua vez foi
influenciada pelas gravuras de Gustave Doré. As ilustrações realizadas para este estudo
acabam por ser o resultado de várias camadas que se foram sobrepondo e
transformando, isto é, as gravuras de Gustave Doré foram adaptadas para filme e por
sua vez interpretadas e desenhadas de uma forma mais pessoal no platex. O desenho
31
O nome no texto original em italiano é Pluto e não Plutone, em português Plutão como se encontra na
tradução de Vasco Graça Moura. Pluto e Plutão são duas figuras mitológicas que se confundem muitas
vezes. Diz-se que Dante talvez possa ter confundido Pluto, o deus das riquezas, com Plutão, o deus dos
mortos. Por respeito à grande tradução de Vasco Graça Moura, utilizamos aqui o nome de Plutão em vez
de Pluto.
32
Pluto é referido como a Criança Divina e surge várias vezes representado como uma criança.
33
Ver os versos correspondentes ao desenho.
34
“«fumaça desta lama não to esconde.»” Inferno, Canto VIII, 12.
35
Ver os versos correspondentes ao desenho.
36
Inferno, Canto XXIII, 61.
37
“E depois o meu guia: «Dá atenção»,
me disse: «e lança avante a tua olhada,
para que a face vejas bem então
dessa suja rameira desgrenhada,
que se está arranhar de unha merdosa
e ora se agacha, ora ei-la levantada.”
Inferno, Canto XVIII 127-132.
145
feito inicialmente no platex foi ligeiramente alterado depois da escavação e as próprias
formas do platex foram alteradas com a passagem do carvão vegetal no papel. Este
projecto acaba por ser uma selecção de várias obras, ou uma espécie de imitação com
uma interpretação pessoal. “Toda a actividade criativa da raça humana depende da
selecção e a selecção implica tanto um poder para perceber as relações e a existência de
um padrão pré-estabelecido na mente.”38 As imagens dramáticas que a Divina Comédia
evoca na mente não têm um carácter individual pois são o resultado das visões de Dante
interpretadas de uma forma pessoal pela mente que influenciada igualmente por outras
interpretações visuais.
No Essai sur l'origine des langues, Jean-Jacques Rousseau diz o seguinte: "O
amor, dizem, foi o inventor do desenho; poderá também ter inventado palavras, mas
com menos sucesso.”39 O amor poderá mesmo ter inventado as palavras de Dante, mas
neste caso com sucesso. Assim como a filha de Butades,40 Dante quis deixar um
testemunho do seu amor platónico após a partida de Beatriz, recorrendo neste caso à
poesia e não ao desenho. Embora a Divina Comédia tenha sido escrita após a morte de
Beatriz, a Vida Nova reúne alguns textos escritos antes dessa data.
Muitos artistas incluindo António Carneiro, como que “encarnaram o papel de
Butades”, ilustrando as palavras de Dante. António Carneiro representa o “retratista das
almas” (LAPA, 2010, p.31) e “Dante representa o poeta da alma da humanidade, e a
interpretação visual da alma da humanidade tem sido o objectivo e a função do artista
desde que descobriu o contorno pela primeira vez há milhares de anos atrás, tendo como
finalidade “capturar” permanentemente numa superfície os símbolos da alma.”41
O resultado do processo do projecto aqui apresentado é uma tentativa de
capturar na superfície da folha os símbolos da alma que Dante viu no Inferno. A alma
38
“Every creative activity of the human race depends on selection, and selection implies both a power to
perceive relationships and the existence of a pre-established pattern in the mind.” Kenneth Clark, Looking
at Pictures, 1961, p.37.
39
“L’amour, dit-on, fut l’inventeur du dessin; il put aussi inventer la parole, mais moins heureusement.”
DERRIDA, 1990, p.56.
40
A filha de Butades oleiro de Sícion, apaixonou-se por um jovem que estava prestes a partir numa longa
viagem. Na véspera da sua partida, ela traçou o perfil do seu amado na parede enquanto ele dormia,
seguindo o contorno da sua sombra projecta pela luz de uma lanterna. Quando Butades viu o desenho na
parede, fez um modelo em Argila que cozeu no fogo juntamente com os seus outros potes de argila.
Ver Naturalis Historia, de Caio Plínio Segundo, livro XXXV, cap. XLIII.
41
“Dante represents the poet of the soul of mankind, and the visual interpretation of mankind's soul has
been the purpose and function of the artist ever since he first discovered the outline thousands of years
ago, then invented manual was to make it "capture" permanently on a surface the symbols of the soul.”
MANGRAVITE, 1965, p.17.
146
foi escavada do platex e nele ficaram buracos que revelam “corpos vazios” cuja alma
lhes foi retirada e passada posteriormente para o papel. É claro que a palavra alma
abrange aqui não só a representação das figuras mas todos os elementos escavados. O
que mais se aproxima do desenho é a parte que não foi escavada no platex, o próprio
desenho inscrito na superfície da folha, sendo a representação da alma a superfície da
folha que não foi desenhada. “«O algo (a imagem realista) deveria estar tão
imaculadamente presente quanto o nada (a tela branca)». Isto, indicativamente, é
seguido por uma referência à imaculabilidade do céu azul-ultramarino de Yves Klein.”
(RUHRBERG, 2010, p.341) “Sentir a alma, sem explicação, sem palavras e pintar esta
situação.” (Idem, p.300) As “pinturas invisíveis” e os quadros monocromáticos de Yves
Klein, podem ser uma hipótese de representação da alma, mas talvez pouco apropriada
para uma obra de elevado teor figurativo como o Inferno.
42
Ou Butades.
43
“L’origine du dessin et l’origine de la peinture y donnent lieu à de multiples représentations qui
substituent la mémoire à la perception. D’abord parce que ce sont des représentations, ensuite parce
qu’elles puisent le plus souvent à un récit exemplaire (celui de Dibutade, la jeune amante corinthienne qui
portait le nom de son père, un potier de Sycione), enfin parce que ce récit rapporte l’origine de la
représentation graphique à l’absence ou à l’invisibilité du modèle. (…) La perception appartient dès
l’origine au souvenir. Elle écrit, donc elle aime déjà dans la nostalgie. Détachée du présent de la
perception, tombée de la chose même qui se partage ainsi, une ombre est une mémoire simultanée, la
baguette de Dibutade est un bâton d’aveugle.” DERRIDA, 1990, p.54.
147
cego”, pois o seu modelo gerador é invisível e só é revelado através do próprio desenho
que está desde a sua origem ligado à recordação e à memória.
44
“After the invention of paper in the 2nd century AD, ink rubbings, representing the world’s oldest
reproduction technique, were produced, contributing decisively to the art of calligraphy.” (TURNER,
1996, vol.29, p.617)
45
“Copies of incised work such as stone carvings of the memorial brasses in medieval churches may be
taken by holding a sheet of paper in contact with the surface and rubbing it with a pigmented substance,
thus transferring the design to the paper in the manner of frottage.” (MAYER, 1981, p.419)
46
“Gauguin, durante su primera estancia en Bretaña, empieza esculpiendo bajorrelieves en madera, de los
que realiza a veces grabados coloreándolas y presionando sobre un papel suave. Todas las maderas de
Gauguin (unas 40 entre 1849 y 1903, casi todas de tema tahitiano) están pensadas como esculturas y
148
e. f. g.
e. Paul Gauguin Friso de Máscaras, c.1895, Frottage sobre papel Japonês, 32,5 x 11 cm
f. Paul Gauguin Cristo na cruz, c.1895, Frottage a tinta sobre papel Japonês, 40,5 x 14 cm
g. Edvard Munch Homem e Mulher Beijando-se, Frottage a partir de uma placa de madeira (39,7 x 45 cm) gravada
por volta de 1905
realizadas con unos instrumentos y una técnica que se alejan de los tradicionales. El artista deja la madera
en bruto, de forma que las vetas y las imperfecciones de la materia aparezcan en la estampa, socava en
torno a los personajes o temas principales con una gubia y luego talla el dibujo con una punta fina sobre
los espacios en relieve, obteniendo en la estampa una composición en negativo perfeccionada a veces con
acuarela o temple (…) Gauguin y Munch empiezan a trabajar en xilografía tarde (1894), tras haber
experimentado otras técnicas de grabado a lo que quizá se debe su exigencia de simplificación y síntesis.
(…) Gaughin y Munch habían trabajado en negativo, rehundiendo el dibujo que en el grabado queda
blanco.” (MALTESE, 1997, p.244)
149
Nenhum dos artistas pesquisados para este estudo ilustrou a Divina Comédia
através da técnica de frottage. Tendo em conta as obras da História Natural assim como
as ilustrações que realizou ao longo dos anos, se Max Ernst tivesse ilustrado a Divina
Comédia através da técnica de frottage, essas ilustrações seriam possivelmente um dos
exemplos mais interessantes de ilustração da obra de Dante.
Um dos principais objectivos deste projecto foi o de investigar uma técnica que
nos pareceu adequada para representar o Inferno através da criação de uma série de
imagens “ao negro”, e onde um dos materiais utilizados, neste caso a chapa de platex,
foi previamente escavada para corresponder aos objectivos pré-definidos, ao contrário
do soalho da hospedaria de praia que não foi “trabalhado” com o propósito de ser
utilizado através da técnica de frottage. Para a realização deste projecto, recorreu-se à
fase inicial da técnica de xilogravura, isto é à escavação do negativo na chapa de platex
e, posteriormente, à técnica de frottage para revelar as formas do platex na superfície do
papel. O resultado final é uma combinação de gravura e desenho.
150
2. Matrizes e ilustrações
151
1a.
152
1. Selva Escura
153
2a.
154
2. Virgílio
155
3a.
156
3. Porta do Inferno
157
4a.
158
4. Plutão
159
5a.
160
5. Flégias
162
6. Cidade de Dite
163
7a.
164
7. Taís
166
8. Escolta dos Diabos
167
9a.
168
9. Hipócritas
169
10a.
170
10. Ugolino
171
172
Conclusão
2
ver: Vitor Manuel Fernandes dos Santos, O Desenho de Guerra de Adriano de Sousa Lopes, Faculdade
de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2006 [Dissertação de Mestrado em Desenho].
173
obra grandiosa, à qual teria dedicado dez anos de vida. A um amigo que o ouvia
maravilhado de tanta intenção, ele observou:
- Porquê? Parece-te que não me resta bastante tempo para viver?
E não lhe restou.” (CANDIAGO, 1965, p.7)
Através destes desenhos, António Carneiro libertou-se do estilo e das cenas
presentes nas suas obras anteriores. São trabalhos feitos com uma grande liberdade de
gestos e de movimentos, apesar do pequeno formato do suporte em que foram
realizados. António Carneiro deixou-nos uma das obras mais interessantes e menos
conhecidas de ilustração da Divina Comédia e que pode constituir um contributo de
grande importância não só para a ilustração em Portugal, como para a ilustração da
Divina Comédia em todo o mundo.
Esta obra específica de António Carneiro deu origem ao tema deste estudo, que
pode dizer-se, permitiu-nos contribuir de certa forma para a longa lista de ilustrações já
existentes, através da criação de peças independentes e com recurso à técnica de
frottage.
Nenhum dos artistas que fazem parte da lista apresentada neste estudo recorreu à
técnica aqui utilizada para ilustrar Dante ou a Divina Comédia. Existe pouco trabalho
desenvolvido acerca desta técnica de decalque utilizada por Paul Gauguin e por Edvard
Munch, e pareceu-nos importante abordá-la, tirando assim melhor partido da sua
utilização para estudá-la e aperfeiçoá-la através das várias tentativas realizadas.
Segundo John Ruskin, “a maioria das formas de literatura e de arte levam a
Dante.”48 A técnica utilizada neste estudo para ilustrar o Inferno poderá assemelhar-se
de alguma forma à tradução do Inferno de Vasco Graça Moura que, como refere
Luciana Stegagno Picchio ao falar de versões de Dante em português, “respeitosas da
forma e, nesta, de um tecido fónico que a semelhança das línguas consente por vezes
(embora com algum risco de penosa banalização) reproduzir com fidelidade quase por
decalque.”49
48
“Most ways in literature and art lead to Dante.” (HUNTINGTON et al., 1903, p.24)
49
Citação feita por Vasco Graça Moura na sua introdução de A Divina Comédia, Lisboa, Círculo de
Leitores, 1998, p.8, nota 1.
174
Bibliografia
ALMEIDA, Bernardo Pinto de, António Carneiro, Lisboa, Editorial Caminho, 2005.
175
ARRUDA, Luísa de Orey Capucho, “Francisco Vieira Lusitano (1699-1783): uma
época de desenho”, Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Belas-Artes da
Universidade de Lisboa, 1999.
BINDMAN, David, The Divine Comedy: William Blake, Paris, Bibliothèque de l’Image,
2000.
BRAIDA, Antonella, CALÈ, Luisa, Dante on View: The Reception of Dante in the
Visual and Performing Arts, Hampshire, Ashgate Publishing, 2007.
BRANDÃO, Júlio, Galeria das Sombras: Memórias e outras páginas, Porto, Livraria
Civilização, s/d.
176
CANDIAGO, Anna, António Carneiro Ilustrador de Dante, Porto, Civilização, 1965.
COSTA, Luis Xavier da, A morte de Camões: Quadro do pintor Domingos Antonio
Sequeira, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1922.
FINLEY, Patricia, TAYLOR, Charles H., Images of the Journey in Dante´s Divine
Comedy, New Haven, Yale University Press, 1997.
177
FRANÇA, José-Augusto, António Carneiro 1872-1930. Catálogo da Exposição
Retrospectiva do I Centenário, Lisboa e Porto, Fundação Calouste Gulbenkian e Museu
Nacional de Soares dos Reis, 1973.
GONÇALVES, Rui Mário, A Arte Portuguesa do Século XX, Lisboa, Temas e Debates,
1998.
HUNTINGTON, George P., NORTON, Charles Eliot, Comments of John Ruskin on the
Divina Commedia, Boston, Houghton, Mifflin and Company, 1903.
LAPA, Pedro, SILVEIRA, Maria de Aires, Arte Portuguesa do Século XIX, Lisboa,
MNAC – Museu do Chiado, 2010.
178
MANGRAVITE, Peppino, «Dante Through Three Artists' Eyes», Columbia Library
Columns, vol. XV, nº I, November 1965.
MAYER, Ralph, The Artist’s Handbook of Materials and Techniques, Nova Iorque, The
Viking Press, 1981.
NÉRET, Gilles, Auguste Rodin, Sculptures and Drawings, Colónia, Taschen, 1994.
179
RUHRBERG, Karl, Arte do Século XX, Colónia, Taschen, 2010.
Rui Chafes: Inferno (A Minha Fraqueza é Muito Forte), (Textos de João Esteves e
Paulo Pires do Vale), Lisboa, Catálogo de Exposição da Galeria João Esteves de
Oliveira, 2011.
TCHEN, Adelaide Ginga, MOURA, Vasco Graça, Retratos e Ficções: Júlio Pomar e a
Literatura, Tavira, Argusnauta, 2006.
The Doré Illustrations for Dante’s Divine Comedy, Nova Iorque, Dover Publications,
1976.
TURNER, Jane, The Dictionary of Art, Nova Iorque, Macmillan Publishers Limited,
1996.
VASARI, Giorgio, Las Vidas de los más excelentes arquitectos, pintores y escultores
italianos desde Cimabue a nuestros tiempos, Madrid, Ediciones Cátedra, 2004.
180
VILA-MOURA, Visconde de, O Pintor António Carneiro, Porto, Portucale, 1931.
Filmografia
L’ Inferno, 1911. Filme. Realizado por Giuseppe de LIGUORO. Itália: Milano Films.
Max Ernst: Mein Vagabundieren - Meine Unruhe, 1991. Documentário. Realizado por
Peter SCHAMONI. Alemanha: Universum Film Gmbh.
Internet
akademie der bildenden künste wien – Joseph Anton Koch in Rom. Disponível em:
http://www.akbild.ac.at/Portal/akademie/services/presse/copy_of_akbild_event.2010-
12-27.3350199029?set_language=de&cl=de [Consult. 31 Janeiro 2013].
181
Art in Tuscany. Disponível em:
http://www.casasantapia.com/art/album.htm [Consult. 31 Janeiro 2013].
182
do Porto e não só…: Um percurso visual pela Divina Comédia. Disponível em:
http://doportoenaoso.blogspot.pt/2011/06/um-percurso-visual-pela-divina-comedia.html
[Consult. 31 Janeiro 2013].
183
Hemeroteca Digital. Disponível em:
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/ [Consult. 31 Janeiro 2013].
184
Literary. Disponível em:
http://www.literary.it/ [Consult. 31 Janeiro 2013].
http://www.matriznet.imc-
ip.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=206514
[Consult. 31 Janeiro 2013].
185
Neither print nor drawing: the rubbings of Edvard Munch. Disponível em:
http://www.visitoslo.com/en/product/?TLp=587954 [Consult. 31 Janeiro 2013].
186
TATE, Art and Artists. Disponível em:
http://www.tate.org.uk/art [Consult. 31 Janeiro 2013].
The Guardian – Book news, reviews and author interviews. Disponível em:
http://www.guardian.co.uk/books [Consult. 31 Janeiro 2013].
187
To Hell and Back: Sandow Birk’s Divine Comedy – San Jose Museum of Art.
Disponível em:
http://www.sanjosemuseumofart.org/hell-and-back-sandow-birks-divine-comedy-more
[Consult. 31 Janeiro 2013].
William Bennett Gallery – Salvador Dalí – Divine Comedy Portfolio. Disponível em:
http://www.williambennettgallery.com/artists/dali/portfolios/divine.php
[Consult. 31 Janeiro 2013].
188