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Por quais motivos enfrenta tal situação

Existem muitos motivos que acarretaram o abandono da cinemateca brasileira,


abandono esse que ocorreu principalmente pela gestão do antigo governo para com a
nossa cultura de modo geral, ocasionando em diversos problemas e incidentes que
ocorreram com a instituição. Mas infelizmente a crise se agravou com o governo atual
devido a questões contratuais e que acabou resultando nessa triste e preocupante
situação.

A crise de fato começou em 2013 quando a Cinemateca passou por uma espécie de
intervenção do governo afim de apurar irregularidades de despesas que não foram
encontradas, apenas administrativas. Contudo, todo o conselho teve seu mandato
interrompido na época culminando no agravamento da crise ao longo dos anos.

É necessário compreender que a situação atual se deve pelo encerramento do contrato


entre Acerp e o governo. A Acerp foi a instituição que administrou a cinemateca entre
2018 e 2020, mas também desde 1995 mantinha um contrato com o governo para a
gestão da TV Escola, contrato que encerrou no final de 2019 e não foi renovado,
particularmente por decisão única do ex-ministro da educação Abraham Weintraub.

A grande questão para chegar no tomamento das chaves foi de que depois de uma
investigação, o ministério público federal entendeu que em 2018, quando a Acerp
iniciou os cuidados na cinemateca, não foi assinado nenhum contrato, e sim, apenas foi
incluído um aditivo, para que a administração da Cinemateca fosse feita pela Acerp,
nesse mesmo contrato vigente desde 1995 entre o MEC (TV Escola) e a Acerp.

Devido ao término deste contrato no final de 2019, o ministério da cultura entendeu que
se encerrou também o contrato com a cinemateca, porém, este tinha vigência até 2021,
ocasionando a interrupção de um orçamento no valor de 14 milhões de reais, que foi
previsto para o ano de 2020. Isso tudo resultou na demissão dos funcionários e
profissionais que cuidavam da cinemateca, e que devem ser levados em consideração, já
que é necessário todo um parâmetro técnico especifico para que o acervo seja
preservado. Sem contar com o descaso com as famílias desses profissionais que foram
dispensados em plena pandemia, sem receber a devida assistência.
Um acontecimento trágico que poderia ser evitado muito antes da hipótese do contrato
entre o governo e a Acerp não ser renovado, colocando outra empresa para administrar a
instituição sem que a cinemateca corresse o risco de perder ou prejudicar um acervo que
guarda a identidade cultural de todo um país.

País esse que já perdeu grande parte de sua memória em um incêndio ocorrido no
Museu Nacional do Brasil em 2018, perdendo mais de 90% dos itens históricos que
permitiam que o nosso povo se lembrasse dos que antes vieram, e que agora estão
destruídos.

Todo esse material perdido definitivamente poderia ter sido preservado se estivesse em
condições totalmente preparadas para que nenhum evento desse tipo acontecesse, assim
como caso o cenário atual da cinemateca não mude, também pode ocorrer.

Refletir sobre os efeitos na produção audiovisual brasileira, assim como na


importância da preservação da memoria do audiovisual nacional

A paralisação das atividades da Cinemateca Brasileira reflete não só no risco que o


acervo corre em ser destruído sem os cuidados necessários, mas também nas produções
audiovisuais que perdem a possibilidade de serem preservadas em um local que foi
construído para tanto.

O nosso país constrói todos os dias uma história que será contada para os povos futuros
que aqui estiverem, em todos os âmbitos e aspectos sabemos que preservar a memória
artística é de extrema importância, pois define quem nós somos como pessoas e também
como nação. É de nosso direito perpetuar cada passo do progresso que o cinema produz,
manter viva a experiência que só o cinema proporciona, e também a nossa cultura.

Para isso toda a produção audiovisual precisa ter seus materiais conservados em um
bom estado para que possa ser reproduzido depois. Existem procedimentos, técnicas e
práticas especificas para a manutenção de cada tipo de material audiovisual para que
estes possam ser devidamente preservados.

Os arquivos atuais precisam ser preservados no acervo da Cinemateca, pois caso isso
não ocorra, em um efeito a longo prazo, os acervos digitais podem ser perdidos devido a
desatualização, comprometendo uma cadeia histórica de produção audiovisual na nossa
atualidade.
Um fato importante é que a Cinemateca Brasileira é a única na américa latina que
possui um laboratório capacitado para restaurar arquivos em preto e branco e também
em cores, que sem seu funcionamento, coloca em risco toda a demanda atual que
necessita desse amparo com tais recursos.

Sabemos que grande parte da cinematografia brasileira foi perdida ao longo do início do
cinema no nosso país no século passado, arquivos importantes que demonstram que os
nossos cineastas sempre estiveram preocupados em desenvolver e fazer o melhor
cinema que fosse possível, não só por uma questão econômica em busca de riquezas,
mas sim, por uma questão artística, criando algo que naquela época era muito avançado
para o conhecimento que as pessoas tinham, como a manipulação dos equipamentos,
registro e produção de filmes que hoje ficam apenas na nossa imaginação.

Mas, paralelo a isso, alguns registros desse início ainda estão preservados no acervo da
Cinemateca Brasileira, esses arquivos além de contar a história do desenvolvimento do
cinema no Brasil, serve também para a realização de muitas obras cinematográficas.

Todo o material que está contido no acervo é utilizado por pesquisadores para a
elaboração de filmes da nossa atualidade. É usado não só para pesquisas, mas também
para exibição, que é um dos pilares da Cinemateca, mostrar para as gerações atuais que
o que era produzido antigamente serve também para produzir filmes nos dias de hoje.

Referencias:

- PRADO, Luiz. Cinemateca precisa ter autonomia política e ser gerida por técnicos.
Jornal da USP, 2020. Disponível em: <https://jornal.usp.br/cultura/cinemateca-precisa-
ter-autonomia-politica-e-ser-gerida-por-tecnicos/>

- MORETTIN, Eduardo. O sequestro de nossa memória audiovisual. Jornal da USP,


2020. Disponível em: < https://jornal.usp.br/artigos/o-sequestro-de-nossa-memoria-
audiovisual/>

- OLIVEIRA, Caroline. O que se perde com o abandono da Cinemateca Brasileira?.


Brasil de Fato, 2020. Disponível em: < https://www.brasildefato.com.br/2020/07/15/o-
que-se-perde-com-o-abandono-da-cinemateca-brasileira >
- REIS, Vivian. Governo federal quer atual gestão fora da Cinemateca e diz que projeto
é reincorporar órgão à União. G1 SP, 2020. Disponível em: <
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/07/16/governo-federal-quer-atual-
gestao-fora-da-cinemateca-e-diz-que-projeto-e-reincorporar-orgao-a-uniao.ghtml >

- MORETTIN, Eduardo. ECA DEBATE: Cinemateca Brasileira: memória e produção


audiovisual em risco. 2020. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?
v=6yREdYQEjh4&list=PLnrF48YmGv8rQWg9zosfsYHuObpl8IbkN&index=3 >

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