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Escola Técnica Estadual - unidade Parque da Juventude

Curso técnico de Museologia

Mar Aguirre Castellani

Levantamento de casos envolvendo os dez agentes agentes de degradação incidentes sobre


acervos museológicos.

São Paulo

2022
Levantamento de casos envolvendo os dez agentes agentes de degradação incidentes sobre
acervos museológicos.
Água - Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville (MASJ).

Inaugurado em 1972 em cooperação técnica com o Instituto do Patrimônio Histórico


Artístico e Nacional (IPHAN)1, o MASJ é uma instituição pública vinculada à Secretaria de
Cultura e Turismo do município de Joinville, no estado de Santa Catarina. Atua na
salvaguarda, pesquisa e difusão de conhecimentos do/sobre o legado de povos pré-coloniais
que habitaram a América do Sul, em especial o dos grupos pescadores-caçadores-coletores
que construíram, no atual território municipal de Joinville, os sambaquis, ou “monte de
conchas” / “tamba ki”, em tupi.
Seu acervo é constituído a partir de 1963, quando a Prefeitura compra a coleção
arqueológica de Guilherme Tiburtius, “um estudioso de sambaquis que registrou, coletou e
classificou diversos artefatos e sepultamentos de sítios que estavam sendo destruídos na
região”2. Ao longo do tempo os acervos foram ampliados em decorrência de doações
particulares, pesquisas e a localização de novos sítios arqueológicos, sendo que hoje, segundo
dados do site da Prefeitura, a instituição “possui cerca de 45 mil artefatos que evidenciam a
cultura e o estilo de vida do povo sambaquiano”3.
O prédio do MASJ foi construído com o propósito de tornar-se museu, mas, situado às
margens do rio Cachoeira, tem registros de alagamentos desde a sua fundação. Entre os mais
desastrosos constam o de 1998 e, mais recentemente, o de 2015, quando, segundo a Redação
do portal NSC4, cerca de “55 centímetros de água e lama invadiram gavetas, prateleiras e
arquivos”. Segundo o jornal, nesse episódio “o estrago só não foi maior porque o Museu de
Sambaqui passou a tomar medidas preventivas desde a grande enchente de 1998. As portas
receberam contenção de madeira e borracha para barrar a entrada da água. Os objetos foram
guardados em prateleiras mais altas, incluindo o acervo em exposição, que fica em vitrines
fechadas. Mesmo assim, o volume ultrapassou o que era esperado e chegou até as peças
importantes (sic), algumas delas do acervo de Guilherme Tiburtius”.
As soluções para o problema recorrente das inundações foram parte de um longo e
conflituoso debate devido ao significado que o prédio, vinculado ao Museu, adquiriu como
referência territorial. Considerou-se como alternativa à mudança de sede a construção de área
anexa para a reserva técnica, mas há queixas quanto à incapacidade do prédio abrigar o corpo
funcional atual da instituição, dado seu tamanho, más condições de circulação de ar e mesmo
precariedade estrutural5. Por ora, parte do acervo foi transferida para a Centreventos Cau
Hansen e suas atividades seguem na Rua Dona Francisca, 600, a sede original, onde foram
feitas adaptações na altura de prateleiras e abertura de escoamento.

Fogo: Cinemateca Brasileira.

1 NSC (Redação). Alagamento no Museu de Sambaqui em Joinville compromete acervo. NSC Total.
19/03/2015. Disponível em: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/alagamento-no-museu-de-sambaqui-em-
joinville-compromete-acervo>. Acesso em 15/09/2022.
2SINSEJ. Museu Sambaqui está com a estrutura comprometida. 01/04/2019. Disponível em:
<http://sinsej.org.br/2019/04/01/post11274/>. Acessado em 04/09/2022.
3JOIVILLE (PREFEITURA). Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville – SECULT.UPM.MAS. 2021.
Disponível em < https://www.joinville.sc.gov.br/institucional/secult/upm/mas/>, acesso em 15/09/2022.
4AGÊNCIA SENADO, idem.
5 AGÊNCIA SENADO. Incêndio na Cinemateca é resultado de descaso do governo, apontam senadores.
Senado Notícias. 30/07/2021. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/07/30/incendio-na-cinemateca-e-resultado-de-descaso-do-
governo-apontam-senadores>. Acesso em 15/09/2021.
A Cinemateca Brasileira possui uma longa história desde sua criação na década de
1940, por Paulo Emilio Gomes, como um clube de cinema. Ela se integrou a diversas
instituições até adquirir autonomia, em 1956, com o nome que porta atualmente. Ela foi
incorporada pelo Governo Federal e, atualmente, é vinculada à Secretaria Especial de
Cultura, do Ministério do Turismo e gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca6.
É a instituição responsável pela salvaguarda da produção audiovisual brasileira, e tem
hoje sob sua posse “mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais,
fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação
cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção
nacional”7.
Mas esse acervo já foi muito maior; Segundo retrospectiva traçada pelo jornal BBC, o
acervo da Cinemateca foi acometido por 5 incêndios: em 1957, quando situado na rua 7 de
Abril; em 1969 e 1982, momento em que esteve guardado em galpões anexos ao prédio da
Bienal, no parque Ibirapuera; em 2016, quando a Cinemateca, já tornada pública, funcionava
no antigo matadouro de São Paulo, na Vila Clementino sob a administração de uma OSC; e,
novamente, em 29/07/2021, quando fogo se alastrou em um de seus galpões, situado na Vila
Leopoldina8.
Nos casos anteriores os incêndios ocorreram por combustão espontânea dos filmes de
nitrato. Já no episódio de 2021 o incêndio começou após a manutenção de um ar
condicionado9. Segundo a CNN, “a estimativa do Corpo de Bombeiros indicou que o fogo
atingiu cerca de 300 m², o que incluiu três salas com arquivos históricos”10.
Diversas matérias afirmam que, após a interrupção do contrato de gestão com a última
OSC responsável em 2019, a instabilidade administrativa da cinemateca refletiu nos setores
técnicos, com falta de profissionais e prejuízos para a gestão do acervo e dos riscos
associados. Uma semana antes do último acidente, em audiência, o Ministério Público
Federal de São Paulo teria alertado o governo federal do perigo de incêndio. Por isso,
“parlamentares afirmaram que a tragédia é um exemplo do descaso com a cultura 11”, tendo
sido já anunciada.

Crime: Museu de Arte Sacra de Santos (MASS)

6FIGUEIREDO, Carolina; LOPES, Leo. Incêndio em galpão da Cinemateca foi acidental, conclui PF. CNN
Brasil. 30/07/2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/incendio-em-galpao-da-
cinemateca-foi-acidental-conclui-pf/>. Acesso em 15/09/2022.
7 O POVO, Idem.
8 Idem.
9 G1. Museu Histórico é interditado após desabamento do forro em Ribeirão. 05/03/2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2016/03/museu-historico-e-interditado-apos-desabamento-
do-forro-em-ribeirao.html>. Acesso em 15/09/2022.
10 RUDZINSKI, Mariana. Pesquisa analisa o estado de conservação do acervo do Museu de Geociências.
Agência Universitária de notícias - AUN. 24/05/2017. Disponível em:
<https://aun.webhostusp.sti.usp.br/index.php/2017/05/24/pesquisa-analisa-o-estado-de-conservacao-do-acervo-
do-museu-de-geociencias/>. Acesso em 15/09/2022.
11 IBRAM, Idem.
O Museu de Arte Sacra de Santos, instituição cultural privada gerida pela diocese
desse município, foi oficialmente inaugurado em 1981 por iniciativa do então Bispo
Diocesano Dom David Picão de Santos. Ele ocupa atualmente parte do “complexo
arquitetônico composto pela Igreja de Nossa Senhora do Desterro e o antigo Mosteiro de São
Bento”12, datado do século XVII, que é tombado pelos órgãos de preservação dos três níveis
de governo (federal, estadual e municipal).
Segundo dados divulgados no site do Museu, seu acervo conta com “mais de 600
peças sacras e religiosas, de cunho erudito e popular, datadas entre o século XVI ao XXI,
entre esculturas, pinturas, objetos litúrgicos e indumentárias” 13, entre elas uma peça
considerada a mais antiga imagem sacra de autor conhecido do Brasil - Nossa Senhora da
Conceição, de João Gonçalo Fernandes .
Algumas dessas peças foram subtraídas em 03/07/2016, quando o MASS foi vitimado
por um roubo no qual, segundo notícia do jornal O Povo, três homens renderam vigias e
levaram 20 itens, entre quadros, esculturas, imagens e outros objetos religiosos, além de
equipamentos de segurança14. Em outra matéria, o Ibram informa que somam-se aos itens
roubados 422 livros15.
Segundo a reportagem do O Povo, “esta foi a segunda vez que o equipamento perdeu
parte do acervo. Outro roubo aconteceu há 20 anos, quando apenas três objetos foram
recuperados. No episódio mais recente os ladrões teriam usado plástico bolha para envolver
as peças16, o que reforça a suspeita de um roubo encomendado.
Segundo o Ibram, “os itens roubados foram incluídos no Cadastro de Bens
Musealizados Desaparecidos, gerenciado pelo Ibram, com imagens e informações descritivas
sobre os itens. As informações serão compartilhadas com organismos de segurança pública e
de controle aduaneiro e com comerciantes de antiguidades, artes e artefatos culturais em
geral”17. Também o Sisem publicou fotos para auxiliar na busca e divulgação do crime e
contatou o Conselho Internacional de Museus (Icom) para articulação da Interpol na
investigação do caso.

Força física: Museu Nacional de Arte Antiga - Lisboa (MNAA)

12 Conforme consta no institucional do site, no qual podemos ver também uma seção nomeada “Arte da
expansão”, com itens produzidos em Ásia e África.
13 ESTADÃO. Obras do Museu Afro Brasil sofrem danos com o calor e falta de climatização. 23/01/2015.
Disponível em:<https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,obras-do-museu-afro-brasil-sofrem-danos-com-o-
calor-e-falta-de-climatizacao,1623448>. Acesso em 15/09/2022.
14MUSEU DE GEOCIÊNCIAS. História. disponível em: <https://museu.igc.usp.br/o-museu/historia/>. Acesso
em 15/09/2022.
15 A sexta está no Museu Britânico.
16MARTINS, Simone. Cariátides no Museu da Acrópole. História das artes. 29/11/2017. Disponível em:
<http://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/cariatides-no-museu-acropole/>. Acesso em 15/09/2022.
17 IMBRIZI, Marcos. Museu de Santo André encaminhará acervo para tratamento com radiação. ABCdoABC.
09/01/2015. Disponível em: <https://www.abcdoabc.com.br/santo-andre/noticia/museu-santo-andre-
encaminhara-acervo-tratamento-radiacao-24694>. Acesso em 15/09/2022.
O Museu Nacional de Arte Antiga é uma instituição hoje ligada ao Ministério da
Cultura de Portugal e que desde sua criação, em 1884, ocupa o Palácio Alvor, um edifício do
século XVII situado em Lisboa.
Sua coleção é composta, segundo dados do Museu, por cerca de 40 000 18 itens, que
vão de pinturas, esculturas e cerâmicas, até vidros e mobiliários, produzidos tanto por autores
nacionais e europeus quanto por sociedades exploradas ao longo da história pelos reinados
portugueses, ao que eles entendem, segundo texto institucional de seu site, como “herança da
história”19.
Ainda conforme o texto, este museu é considerado, historicamente, um “museu
nacional normal: o que define a norma, as boas práticas, em acordo, uma vez mais, com os
padrões internacionais, seja em matéria de conservação e de museografia, seja no âmbito do
seu serviço de educação, pioneiro no País”20.
A despeito disso, porém, em 06 de novembro de 2016 aconteceu um acidente com
uma obra em exposição quando um visitante brasileiro, ao tentar tirar uma foto, recuou e
esbarrou em uma peça que caiu e quebrou-se, chegando a haver separação entre suas partes.
A obra é uma representação de São Miguel Arcanjo sem autor definido, feita em
madeira em uma oficina portuguesa ao final do século XVIII. Segundo o site Observador, o
MNAA informou, à época, que “a escultura encontrava-se fixada a um plinto, protegido em
todo o perímetro por um estrado” e que “Após o impacto, os elementos de fixação
mantiveram-se presos ao plinto’, o que não impediu que a escultura se partisse em várias
zonas”21.
Segundo o então diretor do Museu, a peça foi especialmente afetada nas asas, num
dos braços e no manto, mas, apesar da situação ser grave, a restauração seria possível. De
fato, em março de 2017 ela já havia retornado ao seu lugar na sala de exposição em um
mobiliário de base alargada que restringe a uma maior distância a aproximação do público
com a obra.
Apesar de este ter sido um acidente pontual, o então diretor incluiu a situação em um
quadro de falta de investimento em estrutura de pessoal, pois desde antes avisava sobre a
necessidade de mais vigilantes, que eram em número de 30 pessoas para fiscalizar 82 salas de
exposição, além dos demais espaços do Museu22.

UR: Museu Histórico de Ribeirão Preto

O Museu Histórico de Ribeirão Preto é uma instituição pública que faz parte do
Complexo de Museus (junto com o Museu do Café) vinculado à Secretaria Municipal de
Cultura de Ribeirão Preto. Foi criado em 1938 a partir da coleção do professor e historiador

18Idem, p. 97.
19 ASSIS, Neiva de; ZANELLA, Andrea; BOLIGIAN, Levon. Histórias, memórias, lugares: Seu Maneca e a
comunidade do casqueiro em São Francisco do Sul – SC. Texturas - Revista de Educação e Letras, Canoas -
RS, v.19 n. 39, pp. 92 - 111, jan-abr/2017. DOI: https://doi.org/10.17648/textura-2358-0801-19-39-2706.
20 CINEMATECA BRASILEIRA. Nossa História e Missão. Disponível em <https://www.cinemateca.org.br/>.
Acesso em 15/09/2022.
21 Idem.
22TRAGÉDIA anunciada: os 5 incêndios que já consumiram a Cinemateca. BBC. 30/07/2021. Disponível em:
< https://www.bbc.com/portuguese/brasil-58033942>. Acesso em 15/09/2022.
Plínio Travassos dos Santos, sendo denominado, a partir de 1963, de Museu Histórico e de
Ordem Geral Plínio Travassos dos Santos, em homenagem a ele23.
Seu acervo, quando já somava um considerável número de peças, “foi transferido para
uma sala no Bosque Municipal, onde permaneceu de 1948 a 1949. Em 28 de março de 1951
foi instalado definitivamente no antigo Solar Schmidt e inaugurado com as seções de Artes,
Etnologia Indígena, Zoologia, Geologia e Numismática”24. Hoje, segundo informações do site
da prefeitura de Ribeirão Preto, é composto pelas coleções de mobiliários, de veículos de
tração animal, de objetos relacionados à imagem e som, e de minerais.
Localizado na Avenida do Café, na Fazenda Monte Alegre, atualmente parte do
campus da USP, o solar foi uma construção residencial pertencente a um coronel. Suas
instalações, além de antigas, não foram pensadas para o uso atual, bem como a manutenção,
que não têm considerado o acervo e mesmo a segurança das pessoas que lá circulam. Em
2016 o telhado, comprometido pela ação da umidade e de cupins, cedeu. “O desabamento do
forro aconteceu na sala que abriga um piano de 145 anos e o primeiro órgão da Catedral de
Ribeirão Preto. O museu estava fechado e ninguém ficou ferido”.
Antes, porém, o acervo vinha sentindo os impactos dessa falta de manutenção da
estrutura do edifício. Segundo relato do então diretor do Museu, “Chove, cai água do telhado,
infiltra no forro, que é de madeira. Cai no piso, infiltra no piso e acaba comprometendo o
acervo, porque a maior parte do acervo do museu está no porão, são mais de seis mil peças
neste porão”. Na mesma matéria aponta-se que “Na biblioteca, o mofo toma conta de livros e
documentos25
Em dezembro de 2021 a Prefeitura de Ribeirão Preto noticiou que o projeto de
reforma dos edifícios do Complexo de Museus havia sido concluído e estava orçado em 15
milhões de reais. Informou que estava em processo de levantamento de verbas e, atualmente,
há notícias de que as obras já teriam se iniciado. O museu segue fechado indefinidamente.

Temperatura: Museu Afro Brasil

O Museu Afro Brasil, fundado em 2004, é uma instituição pública estadual


administrada pela Associação Museu Afro Brasil. Localiza-se no Pavilhão Padre Manoel da

23MUSEU DE ARTE SACRA DE SANTOS. Disponível em: <http://mass.org.br/historia/museu-de-arte-


sacra-de-santos/>. Acesso em 15/09/2022.
24 O POVO. Criminosos se passam por visitantes e roubam 20 peças do Museu de Arte Sacra de Santos.
06/07/2016. Disponível em: <https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2016/07/criminosos-se-passam-por-
visitantes-e-roubam-20-pecas-do-museu-de-arte.html>. Acesso em 15/09/2022.

25 IBRAM. Ibram atua em busca por obras roubadas do Museu de Arte Sacra de Santos. 22/07/2016.
Disponível em: <https://antigo.museus.gov.br/ibram-atua-em-busca-por-obras-roubadas-do-museu-de-arte-
sacra-de-santos/>. Acesso em 15/09/2022.
Nóbrega, edifício projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1953 no Parque Ibirapuera,
em São Paulo.
Seu acervo, que começou com a coleção do recém falecido curador e diretor Emanuel
Araújo, conta com mais de 8 mil obras que abarcam “diversos aspectos dos universos
culturais africanos e afro-brasileiros, abordando temas como a religião, o trabalho, a arte, a
escravidão, entre outros temas ao registrar a trajetória histórica e as influências africanas na
construção da sociedade brasileira”26.
Apesar de seu porte e importância, o Museu já sofreu, em tempo recente, com a falta
de estrutura básica à conservação de suas peças, sobretudo no que diz respeito ao controle de
temperatura. Segundo reportagem de 25/01/2015, acerca do ocorrido no dia 11 do mesmo
mês, a instituição teve que colocar ventiladores no ambiente expositivo, tanto para assegurar
o conforto do público quanto para garantir a preservação das obras27.
No episódio relatado, Emanuel Araújo apresentava o Museu a visitantes do jornal O
Estado de São Paulo quando notou que uma peça, uma escultura do Frei Domingo da
Conceição, do século 17, havia soltado um fragmento de madeira policromada, o que atribuiu
ao excesso de calor.
Naquela altura, segundo o então diretor, o Museu esperava “verba de R$ 3.960.770,68
de convênio entre o Ministério da Cultura, por intermédio do Instituto Brasileiro de Museus
(Ibram), e a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, à qual a instituição é vinculada,
para a reforma de todo o telhado de seu edifício” 28, além da alteração de esquadrias, da rede
elétrica e do sistema de ventilação. Só a solução do telhado, segundo Emanuel, contribuiria
com isolamento térmico baixando a temperatura em até 7 graus.
Não foram localizadas informações quanto à efetiva consecução dessas obras, mas
sabe-se que recentemente, em 2022, o Museu lançou um novo edital para contratação de
serviços de construção/manutenção que incluem as instalações elétricas, impermeabilizações,
entre outros aspectos estruturais.

Luz: Museu de Geociências da USP.

26 MNAA. História. Disponível em: <http://museudearteantiga.pt/sobre-o-museu/historia>. Acesso em


15/09/2022.
27 MNAA, idem.
28CIPRIANO, Rita. Escultura derrubada por turista já regressou ao Museu Nacional de Arte Antiga.
Observador (cultura). 23/03/2017. Disponível em: <https://observador.pt/2017/03/23/escultura-derrubada-por-
turista-ja-regressou-ao-museu-nacional-de-arte-antiga/>. Acesso em 15/09/2022.
O Museu de Geociências da USP é uma instituição pública estadual vinculada à
Universidade de São Paulo, situada no campus Cidade Universitária, no Butantã, em São
Paulo.
Sua data de fundação é de difícil definição, dado que, como afirmado no site, o
“Museu é resultado de um processo dinâmico de atividades de ensino e pesquisa na USP” 29
que, desde 1935, vêm acumulando coleções didáticas utilizadas nas atividades acadêmicas -
sendo a primeira delas a do antigo Museu de Mineralogia. Com o atual nome e vinculado ao
Instituto de Geociência, data de 1981.
Hoje conta com um acervo de cerca de 8 mil amostras, entre fósseis, minerais e
meteoritos herdados também do Museu de Petrografia, do Departamento de Geologia e
Paleontologia (DGP), do Departamento de Química da antiga FFCL e do próprio Museu de
Geociências.
Com a vantagem de ser associado a uma instituição de ensino, o Museu de
Geociências da USP realiza constantemente pesquisas e melhorias sobre seu espaço e
coleções. Em uma delas, realizada em 2017 como projeto de mestrado da historiadora Miriam
Della Posta Azevedo,foram estudados os problemas e soluções relativos à conservação do
acervo exposto.
No estudo a autora aponta diversos agentes de deterioração influentes sobre os
artefatos, como umidade e variação de temperatura, além da interferência da luminosidade.
Ela aponta que “a luz direta em minerais fotossensíveis, como as fluoritas, pode danificá-los,
o que estava acontecendo no Museu”, e informa que “Como uma forma de diminuir os danos
causados pela luz nesses minerais sem ter que tirá-los da exposição, recentemente foram
adaptadas vitrines com luzes de led que são acesas pelo visitante que deseja observar as
peças. No entanto, alguns itens, como um tipo de halita proveniente da Bolívia, ainda não
podem fazer parte da exposição porque não existem meios de garantir sua conservação”30.

Poluentes: Museu da Acrópole.

29 HORTA, Bruno; MATOS, Vítor; SILVA, Hugo. Visitante derruba escultura do Museu de Arte Antiga.
Observador (cultura). 06/11/2016. Disponível em: <https://observador.pt/2016/11/06/visitante-derruba-
escultura-do-museu-de-arte-antiga/>. Acesso em 15/09/2022.
30 RIBEIRÃO PRETO (PREFEITURA). Museu Histórico - Histórico. Disponível em:
https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/complexo-museus/museu-historico-historico. Acesso em:
15/09/2022.
A Acrópole de Atenas é um complexo arquitetônico datado de, pelo menos, o século
V a.e.c..“Cidade alta” construída sobre a montanha Acrópolis (em Atenas, Grécia), ela servia
a fins militares, políticos e, sobretudo, religiosos, contando com diversos templos, sendo mais
conhecidos o Pártenon - dedicado ao culto da deusa Atena - e o Erecteion, que homenageava
Atena e, também, Poseidon.
Erguidos como locais de adoração, suas estruturas de escala gigantesca foram
ricamente ornamentadas com obras de arte em homenagem às divindades a quem se lhes
ofereceu. Milenares, elas têm sofrido, inevitavelmente, os efeitos do tempo e do clima.
Conforme reportagem de Fábio Chiossi à Folha de São Paulo, “Hoje um dos piores inimigos
da preservação das ruínas da Acrópole é o enxofre que está na poluição atmosférica. O
elemento, misturado à água da chuva, transforma-se em ácido sulfúrico, o que danifica as
esculturas remanescentes no local”31.
Pensando nisso, desde 1975 o programa de conservação dos monumentos da Acrópole
decidiu que as esculturas que ainda existiam nas ruínas atenienses fossem substituídas por
réplicas, passando as originais a ser transferidas para o Museu da Acrópole. Este, fundado em
1863 sobre os restos do templo Pandion, a poucos metros do Pártenon, já sofreu diversas
intervenções arquitetônicas e foi transferido de lugar mais de uma vez, estando hoje em um
prédio inaugurado em 2009, ao sudeste da colina da Acrópole32.
Suas coleções foram formadas com peças localizadas durante a própria escavação do
Museu, além de artefatos recolhidos dos sítios arqueológicos do entorno. Com mais de 4.000
peças expostas, suas coleções estão organizadas em 5 galerias, que espera-se aumentar tanto a
partir da coleta de outros materiais em campo quanto pela devolução daqueles que estão sob
poder de instituições européias, como o Museu Britânico.
Dentre as que já constam no Museu estão os últimos frisos do Pártenon e cinco das
seis Cariátides do Erecteion33, que vinham sofrendo os efeitos da poluição atmosférica e das
chuvas ácidas. Estas últimas passaram, entre 2011 e 2014, por um processo de restauração
que “documentou a condição atual das estátuas e se concentrou na fixação de segmentos
instáveis das estátuas de mármore, sua restauração estrutural, remoção dos fatores corrosivos
e limpeza de camadas de poluentes atmosféricos”34 com o uso de tecnologia a laser
desenvolvida pelo próprio Museu em parceria com o Instituto de Estrutura Eletrônica e Laser,
na Fundação para Pesquisa e Tecnologia em Creta.
Além das soluções de restauro, no eixo da adequação ambiental para a preservação
foram tomadas medidas para reduzir os efeitos da poluição, como a conversão da rua
principal de acesso ao Museu em um calçadão, por onde se chega de metrô, evitando-se
assim a circulação muito aproximada de veículos.

31 RIBEIRÃO PRETO (PREFEITURA), idem.


32MUSEU AFRO BRASIL. Apresentação. Disponível em:
<http://www.museuafrobrasil.org.br/o-museu/apresentacao>. Acesso em 15/09/2022.
33 ESTADÃO, idem.
34 CHIOSSI, Fábio. Poluição do ar ameaça ruínas da Acrópole. Folha de S. Paulo. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx1003200304.htm#:~:text=Hoje%20um%20dos%20piores
%20inimigos,as%20esculturas%20remanescentes%20no%20local>. Acesso em 15/09/2022.
Pragas: Museu de Santo André

O Museu Dr. Octaviano Armando Gaiarsa é uma instituição pública municipal


vinculada à Prefeitura de Santo André, no estado de São Paulo, dedicada a salvaguardar bens
que registram a memória da cidade, da região em que se situa e de seu desenvolvimento
urbano, político, econômico e social.
O prédio que abriga o Museu, hoje tombado a nível municipal e estadual, faz parte de
um conjunto de edificações escolares construídas pelo Governo do Estado de São Paulo na
Primeira República (1889-1930), tendo sido inaugurado em 1914, como Primeiro Grupo
Escolar do ABC. Com o passar do tempo e aumento do número de estudantes, a construção
não mais pode sustentar essas atividades, passando, a partir de 1990, a abrigar o Museu35.
Em sua coleção somam-se cerca de 70 mil itens, destacando-se documentos relativos
à vida administrativa de Santo André e São Bernardo (cidade que antes abarcava a primeira),
além de fotografias, jornais e um acervo bibliográfico.
Em 2015, através de uma parceria feita com o Instituto de Pesquisas Energéticas
(Ipen), ligado à USP, muitos desses documentos foram enviados para um tratamento com
radiação no Centro de Tecnologia das Radiações (CTR), com o objetivo de recuperá-los dos
danos causados pela ação de fungos e de insetos, como o cupim 36. Segundo matéria publicada
no site ABCdoABC, entre a documentação tratada “estão vários livros caixa, com toda a
movimentação financeira dos anos 1920 da então Prefeitura de São Bernardo [...], registros
de funcionários municipais e da situação das vias e logradouros, registrados em sua maioria a
mão e no nanquim [...], o primeiro livro de editais públicos da região, contendo despachos,
nomeações, ordens e avisos de 1930 a 1939” além de “todas as diplomações dos eleitos nas
eleições dos poderes Executivo e Legislativo”. O jornal não detalha a condição física anterior
dos documentos, mas destaca as palavras do então secretário de Cultura e Turismo de Santo
André, Tiago Nogueira, segundo quem “O trabalho em recuperar e livrar essas obras, de
caráter histórico, da ação de fungos e insetos, representa um enorme salto de qualidade para a
cultura e preservação da memória de Santo André e da região”.

Dissociação: Museu da Cidade de Rio Grande

O Museu da Cidade de Rio Grande, no Estado do Rio Grande do Sul, é uma


instituição cultural privada mantida pela Fundação Cidade do Rio Grande. Seu acervo é
composto de duas coleções - a Histórica e a de Arte Sacra.

35PÉ NA ESTRADA. Como visitar o Museu da Acrópole, em Atenas: tudo que você precisa entender.
19/07/2022 (atualização). disponível em: <https://www.penaestrada.blog.br/atenas-como-e-visitar-o-museu-da-
acropole/>. acesso em 15/09/2022.
36 SANTO ANDRÉ (PREFEITURA). Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa. Disponível em:
<https://www3.santoandre.sp.gov.br/turismosantoandre/museu-octaviano-gaiarsa/>. Acesso em 15/09/2022.
A Coleção Histórica é hoje abrigada no Prédio da Alfândega, um edifício datado de
1875. Foi iniciada a partir de uma doação feita pela Biblioteca Rio-Grandense e atualmente
soma cerca de 6 mil itens que buscam representar a história do cotidiano municipal, como
mobiliário, indumentária, numismática, etc.
Já a Coleção de Arte Sacra, inaugurada em 1986 no consistório da Capela de São
Francisco de Assis e que hoje ocupa a nave da Capela, compõe-se de aproximadamente dois
mil objetos “doados pela Catedral de São Pedro, Ordem Terceira de São Francisco de Assis,
pessoas da comunidade e demais instituições religiosas locais”37.
É com a segunda coleção que temos notícia de um caso de dissociação. A ocorrência
foi relatada por estudantes da Universidade Federal de Pelotas, que na disciplina de
Conservação e Restauro em Madeira II descobriram que uma peça representando a
crucificação de Cristo compunha um conjunto com cinco tocheiros. As partes estavam
dissociadas devido às diferenças na coloração, mas as semelhanças morfológicas chamaram a
atenção e, a partir da análise das camadas estratigráficas, descobriu-se que formavam uma
unidade38.
Notou-se também o acréscimo de falsos elementos na última restauração. Enfatizando
a particularidade de um objeto sacro,que é ligado à liturgia e portanto comunicador de um
certo código (o que consideram diferente de arte religiosa, na qual há maior liberdade
autoral), os/as/es estudantes optaram por intervir na peça. “Buscando o restabelecimento do
conjunto e da veracidade na leitura iconográfica da obra efetuou-se o procedimento
interventivo de remoção da repintura de forma a atender inclusive o código de ética da
Conservação e do Restauro, assim como as recomendações internacionais”39.

37MUSEU DA CIDADE DO RIO GRANDE. Coleção de Arte Sacra. Disponível em:


<https://museucrg.com.br/colecao-arte-sacra/> . Acesso em 15/09/2022.
38 CAZAUBON, Jennifer; FONSECA; Daniele; SCOLARI, Keli. análise das intervenções restaurativas em
conjunto sacro com Cristo crucificado do Museu da Cidade do rio grande - coleção de arte sacra. UFMG.
Imagem brasileira., n. 08 (2015. Disponível em:
<https://www.eba.ufmg.br/revistaceib/index.php/imagembrasileira/issue/view/8>. Acesso em 15/09/2022.
39 Idem, p. 233.

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