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Os entes sobrenaturais dividem-se em: soberanos e intermediários.

E os intermediários em: superiores, auxiliares e serviçais.

Os soberanos são: Nzâmbi e Kalungangombe.

E os intermediários classificam-se em: miondonas, calundus, malungas, kitutas e kiandas.

Muondonas: são espíritos tutelares. Nascem conosco e transmitem-

-se pela via paterna. Contudo, outras há que, vivendo fora de nós, também

interferem na nossa gestação e bem-estar.

Possui cada um de nós a sua muondona. Tal como a alma, que se fixa no

corpo, também o mesmo sucede à muondona. Mas por desprendimento de

uma partícula da muondona do pai. Portanto, alma e muondona coexistem

num mesmo individuo.

Constitui a muondona o nosso anjo-da-guarda. Por isso, jamais

desampara a alma, sempre a assistindo com a sua vigilância e ardor. Nas

digressões que a alma efetua em sonho, a muondona não deixa de a

acompanhar. Defende-nos do mal, chegando mesmo a lutar com almas

ofensivamente movidas por feiticeiro, por ela recusar suas aliciantes ofertas

de alimentos. Em vista desse risco, quando sentimos pertinaz desejo de comer

qualquer iguaria, devemos satisfazer o apetite, pois é a muondona que no-la

pede, em consequência do assédio do feiticeiro com suas tentações. E a voz

intima que, por vezes, ouvimos dentro de nós, mais não é que um aviso seu,

ordinariamente nos inquietando contra a prática de determinado desejo.

Dada a sua natureza espiritual, a muondona, após a morte, liberta-se

da matéria, logo a seguir à alma.

Culundus são espíritos de elevada hierarquia e evolução. Representam

almas de pessoas que viveram em época remota, numa distância de séculos.

A pessoa será calundu, o calundu foi pessoa

(Mutu, kilundu; kilundu, mutu)

- Argumenta a sabedoria popular.

Podem ser: medicantes, justiceiros e protetores. E consoante a longa

idade que atingiram, distinguem-se: o diculo, que é ancião: e o diculundundo,


que é ancião de mais avançada idade.

Transmitem-se por herança, principalmente pelo lado materno. Mas

só através de rito evocatório, constituindo a renitência de uma enfermidade

a manifestação de seu desejo de posse mediúnica. Portanto, atuam nos

viventes, deles fazendo seu instrumento de atividade, quer falando, quer

agindo. Formam uma família espiritual em relação ao seu paciente.

Culundus:

são espíritos de elevada hierarquia e evolução. Representam

almas de pessoas que viveram em época remota, numa distância de séculos.

A pessoa será calundu, o calundu foi pessoa - Argumenta a

sabedoria popular.

Podem ser: medicantes, justiceiros e protetores. E consoante a longa

idade que atingiram, distinguem-se: o diculo, que é ancião: e o diculundundo,

que é ancião de mais avançada idade.

Transmitem-se por herança, principalmente pelo lado materno. Mas

só através de rito evocatório, constituindo a renitência de uma enfermidade

a manifestação de seu desejo de posse mediúnica. Portanto, atuam nos

viventes, deles fazendo seu instrumento de atividade, quer falando, quer

agindo. Formam uma família espiritual em relação ao seu paciente.

Ao contrário do canzumbi, que é perverso, vingativamente

perseguindo com molestações várias, o calundu é complacente.

- Diz: "O meu calundu!" Não digas: "O meu canzumbi!"

(Uamba: “Kilundu kiámi-é!” Kuambé: “Nzúmbi iámi-é”)

- Sentencia o povo.

Expressando por outras palavras: antes acometido por um calundu, e

não por um canzumbi.

Em vésperas do falecimento de um médium, ou mesmo horas antes,

os calundus incorporam momentaneamente em despedida, apenas se

manifestando com menor excitação.


Malungas:

são espíritos simpatizantes. Foram indivíduos das raças

branca e negra, sendo as malungas daquela procedência, por influência

do Catolicismo, especialmente denominadas santos, ou mais precisamente,

santos de malunga. Podem ser do sexo masculino ou feminino.

Ao contrário das muondonas e calundus, não atuam em cabeça. Gostam

de se revelar isoladamente, em ambiente apropriado. Para tal, deve a criatura

favorecida com a sua simpatia possuir um santuário, ou, regionalmente,

dilombe. Falam fanhosamente, "com voz como que saída de cabaça", como

popularmente se diz. Podem ser consultadas em adivinhação. Protegem os

seus favoritos, beneficiando-os até com alimentos, tecidos e dinheiro, Mas

suas observações devem ser acatadas. De contrário, acontecem azares.

Quitutas:

são seres espirituais terrestres. Vivem em toda a parte, como:

matas, rios, cacimbas, montes, rochas.

Encarnam, ou por simpatia, ou por reabilitação, e podem provir da

via paterna ou materna: da paterna, quando o pai, em suas deambulações,

trouxe consigo um desses seres; e da materna, quando um antepassado

assassinou uma mulher grávida em cujo ventre se formava um individuo

dessa espécie, ou, ainda, se a vítima era assim. No primeiro caso, denominam-

-se de simpatia; e no segundo, de geração. Qualquer que seja a procedência,

tais filhos inspiram idolatria aos pais.

Em virtude de sua delicada sensibilidade, carecem de cuidados

especiais, não apenas domésticos, mas também espirituais.

São as quitutas, pois, entes temíveis. De entre eles, ressaltam os

gémeos, os que têm longa gestação (que vai para dois e mais anos), os que

nascem com dois dentes na maxila superior, os que nascem raquíticos ou se

raquitizam pouco tempo depois do nascimento, os que nascem com uma

depressão no alto da cabeça, ou com os pés recurvados, ou com as mãos sem

ação, sendo estes três últimos casos as características de quem, depois de


consagrado, exercerá o ministério de quilamba, ou seja, o sacerdote do culto

das sereias.

Quiandas:

São as sereias. Vivem na água, quer no mar, quer em rio,

quer em lagoa, mesmo em qualquer sitio onde haja pequena porção de água

permanente, podendo mostrar-se sob qualquer aspecto - pessoa, peixe,

coisa. Em forma humana, podem apresentar-se como indivíduos do sexo

masculino ou feminino, em diversificação das raças existentes.

Segundo um pescador centenário da ilha de Luanda - homem ainda

isento de influências estranhas- a quianda revela-se, não sob a figura de

semigente e semipeixe, conforme a tradição europeia - concepção já pene-

trada na mentalidade dos naturais de camadas mais adiantadas mas revela-

-se em toda a plenitude humana, apenas com farta cabeleira e pelugem, sob

as quais, por vezes, se fecha. Pode dirigir-se-nos ou solicitar-nos qualquer

coisa, e quando mal nos precatamos, desaparece misteriosamente.

Acerca do seu poder de atracção, referiu-nos o aludido ilhéus que, já

há umas boas décadas de anos, navegando ele de canoa, juntamente com um

escravo seu e mais companheiros, subitamente, como que impulsionado por

uma mão, o serviçal foi arrebatado para a água, permanecendo no fundo uns

longos minutos. Em grita, todos deitaram a suplicar à sereia que o libertasse.

Sob o impulso da mesma mão, o homem foi reposto na embarcação. Mas

logo a seguir, como que em arrependimento da entidade, novamente foi

arrancado para o mar. Os rogos tornaram a irromper. E o pobre escravo,

como anteriormente, outra vez foi colocado na canoa. E facto curioso: durante

a permanência na água, não experimentou nenhuma perturbação, antes uma

doce calma o invadira!

Tanto esse como outros informantes, ainda nos contaram que, em

certos lugares do mar, rio ou lagoa, se notam, durante a noite, várias luzes.

E mesmo em quarto fechado, a candeia apagada, semelhante fenómeno, por

vezes, igualmente se verifica.


As aparições das quiandas representam bom ou mau indicio. Por

efeito de simpatia, influem na gestação, originando indivíduos anormais,

como os deformados fisicamente.

Neste caso, enquadra-se o próprio Autor. A manifestação da sereia

operou-se-lhe no sentido da visão, destruindo-o com a ausência da luz. Em

compensação, dotou-o com o amor às pesquisas folclóricas e religiosas.

A entidade morou no local denominado Padrão, onde hoje se levanta a

ponte que liga Luanda à sua ilha. Foi em resultado da demolição das pedras

lá existentes que mudou de poiso-causa da ruina incessante da dita ilha.

Isto-Leitores-narramo-lo à conta de subsídio psicológico. E quem no-

-lo revelou, foi o espirito Mavitia Mbongo- revelação essa proferida através

de uma informante que exercia o ministério de quimbanda, então sob sua

possessão. E já agora, acrescentaremos que foi o aludido Mavitia Mbongo

que nos prestou vários elementos deste ensaio, mormente nos capítulos

"Iniciação de Xinguilador" e "Ritos Diversos".

A influência da quianda, entretanto, também pode ser exercida após

o nascimento, pelo que motiva perturbações na saúde da criança. O mal,

verificado por adivinhação, sana-se com uma oblata à sereia, realizando-se o

festim, não em qualquer sitio, mas no local previsto divinatoriamente.

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