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Emprego obrigatório da crase:

1. Antes de palavras femininas

Esta é a regra mais básica que precisa ser aprendida sobre o uso do acento grave. Então este caso
trata da situação em que o complemento de um nome, que exige o uso da preposição “a” é um
substantivo feminino antecedido de artigo feminino “a”. Veja os exemplos:

Elas se mostraram favoráveis (a que?) à medida proposta pela vereadora.


Aqueles alunos dificilmente estão atentos (a que?) à aula.
Sua risada é idêntica (a que?) à (risada) da sua avó.
Observe que nos exemplos acima, a crase é o resultado do encontro entre a preposição que
acompanha os termos “favorável a”, “atento a” e “idêntica a” e os antigos que antecedem os
substantivos “a medida”, “a aula” e “a da sua avó, ou seja, a + a = à.

E não podemos deixar de mencionar que, salvo exceções que abordaremos mais adiante, a crase não
ocorre antes de palavras masculinas. Então, caso haja dúvida sobre quando usar esse sinal, uma
estratégia é substituir a palavra feminina por uma masculina: se o “a” se tornar “ao” este caso recebe
crase. Observe estes exemplos:

Nem toda a equipe foi à confraternização de final de ano da empresa.


Congresso aprovou novas restrições à propaganda de bebidas alcoólicas.
É importante obedecer às regras do ambiente de trabalho.
Agora, vamos substituir as palavras femininas “confraternização”, “propaganda” e “regras”, pelas
palavras masculinas “encontro”, “consumo” e “regulamento”. Veja:

Nem toda equipe foi ao encontro de final de ano da empresa.


Congresso aprovou novas restrições ao consumo de bebidas alcoólicas.
É importante obedecer ao regulamento do ambiente de trabalho.

2. Antes dos Pronomes demonstrativos e relativos

A crase será exigida quando os pronomes demonstrativos (aquele(s), aquela(s) e aquilo) e os


pronomes relativos (a qual e as quais) exercerem a função de complemento indireto. Neste caso
haverá a fusão entre a preposição “a” e o “a” no início dos pronomes. Entenda por meio dos
exemplos:

Somos contrários (a que?) àqueles que defendem o radicalismo.


Todo verão, vamos (aonde?) àquela praia.
Refere-se (a que?) àquilo que aconteceu durante o evento da noite passada.
A peça à qual assistimos (a que?) nos surpreendeu.
As organizações às quais nos dedicamos (a que?) são essenciais.

Atenção! O pronome demonstrativo pode estar implícito (oculto). Nesse caso, ocorre a crase:

Não me refiro a essa, mas à da esquerda.


Veja que quando dissemos que “mas à da direita” existe um pronome demonstrativo oculto em “mas
aquela da direita”, que se unem formando a crase.

3. Com palavras femininas que acompanham verbos que indicam destino

Verbos como: voltar, ir, vir, chegar, dirigir-se, etc. indicam destino e podem ser classificados como
verbos transitivos indiretos. Por isso, comumente, eles são acompanhados por preposição “para, de e
a” (que nos importa nesse conteúdo) ocasionando a crase, veja os exemplos:

Timothy vai à escola. (para a)


Voltamos à estaca zero. (para a)
Dirijam-se às saídas de emergência. (para as)

4. Antes de locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas femininas

A crase é aplicada neste caso quando os substantivos (na forma singular ou plural) são antecedidos
por locuções que expressam ideia de tempo, lugar e modo, como: à tarde (noite), à vontade, às vezes,
às pressas, às quatro horas, à medida que, à proporção que, à moda de. Veja estes exemplos:

Ele terminou a prova às pressas, pois já estava quase no horário limite.


Vocês são de casa, fiquem à vontade.
À medida que amadurecemos, damos mais ao silêncio.
A exceção à esta regra é a locução “a distância”, caso a distância em questão não esteja determinada,
observe:
Observávamos tudo a distância.
Observávamos tudo à distância de sete metros.

5. Com expressões que indicam horas

O acento indicador de crase vai ser usado antes de locuções que indiquem horas exatas, veja:

Saio do meu trabalho às cinco horas da tarde.


As aulas do turno matutino terminam às 12h30.
Ele passou aqui às 8h procurando por você.

CUIDADO COM A EXCEÇÃO! Quando essas expressões forem acompanhadas de preposições (para,
desde, após, perante, com), a crase não é usada, não se utiliza acento indicador de crase. Observe:

Estamos prontos desde as 12h.


Marcaram o encontro no restaurante para as 20h.
Fique tranquilo, eu estarei no trabalho até as 9h.

6. Antes de palavras masculinas precedidas de palavra feminina IMPLÍCITA

A única ocasião na qual a crase acontece antes de uma palavra masculina (inclusive no plural) é
quando ela for precedida de uma palavra feminina implícita (oculta ou subtendida), como as locuções
"à moda de", “à central de” e “à maneira de”. Observe os exemplos:

Ele comprou sapatos à (moda de) Luís XV.


Necessitamos ir à (central) abastecimentos com urgência.
Era uma pintura à (maneira de) Leonardo da Vinci.

7. Para evitar duplo sentido

Quando precisamos diferenciar o sentido de uma sentença, faz-se necessário o emprego do acento
indicador de crase. Como neste caso a seguir:

Ensino à distância. EAD (modalidade de ensino)


Ensino a distância. Eu estou ensinando a distância, de longe.
Na primeira sentença fazemos referência a forma como o ensino é feito, ou seja, ele não é presencial.
Na segunda frase podemos entender que a pessoa pode estar se referindo ao alguém que demonstra
ou ensina a distância física de algo, como entre uma cidade e outra.

Agora, quando não usar crase?

Vamos saber distinguir as situações nas quais a crase não é aplicada?

1. Antes de palavra masculina


Basicamente, a crase não vai ocorrer neste caso porque antes de palavra masculina não se usa o
artigo “a”, indicador do gênero feminino, logo a fusão não acontece, ou resultado geralmente é a
contração “ao”.

O pagamento do carro foi feito a prazo.


Tempere com pimenta e sal a gosto.
Fomos ao baile de 1998.

2. Antes de verbos que não indiquem destino

Vimos nas regras de uso da crase que os verbos que indicam destino, especificamente, levam crase.
Então, todos os verbos que não apresentem esse sentido não empregam o acento grave. Observe
alguns exemplos:

Estava disposto a procurar uma nova oportunidade.


Creio que não cheguei a falar sobre esse assunto.
Meu filho está aprendendo a tocar ukelele.

3. Antes da maior parte dos pronomes

O acento grave não será usado antes dos pronomes do caso reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas) e
os do caso oblíquo (me, mim, comigo, te, ti, contigo, se, si, o, lhe), por exemplo, veja:

Já pediu ajuda a alguém?


Dei todos as minhas miniaturas a ele.
Refiro-me a quem nunca pode participar dos eventos.

4. Em expressões com palavras repetidas

O acento indicador de crase não é empregado quando houver expressões com palavras idênticas
repetidas, mesmo que elas sejam femininas, conheça algumas dessas expressões:

Gota a gota, minha paciência foi enchendo!


Precisamos marcar um encontro face a face.
Depois do afogamento, o salva-vidas fez respiração boca a boca.

5. Antes de palavras femininas de caráter genérico

O acento grave não é usado antes de palavras femininas usadas para indicar generalizações ou
palavras femininas no plural antecedidas pela preposição “a”. Acompanhe os exemplos abaixo:

Não peço nenhum favor a pessoas de caráter duvidoso.


A reportagem foi relativa a mulheres que defendem a emancipação feminina.
As bolsas de estudo foram concedidas a alunas estrangeiras.

6. Antes de expressões adverbiais de modo com substantivos no plural:

Viram o criminoso ser morto a pedradas.


A trancos e barrancos, conseguiu alcançar seus objetivos.
A discussão foi resolvida a pauladas.

7. Antes de nome de pessoas famosas, cidade ou vila, numerais e do artigo indefinido “uma”:

O artigo estava relacionado a Clarice Lispector.


Chegar a Ouro Preto é como viajar no tempo.
Eles foram comparados a duas matracas.
Não se deve dar crédito a uma pessoa que deve.

Casos facultativos no uso de crase

Esses são os famosos “você quem sabe”, a crase pode tanto ser utilizada nesses casos como também
é dispensável, o sentido das sentenças não será perdido ou modificado pelo seu uso. Dê uma
olhadinha no vídeo a seguir.

Então, pontuando o que foi dito pelo Professor Diogo temos que o uso do acento grave é facultativo
quando:

1. Antes de substantivos próprios femininos no singular

Em outras palavras, quando estivermos usando nomes próprios femininos o uso da crase vai
depender da decisão de quem escreve, uma vez que o artigo antes do nome não é obrigatório. Veja
alguns exemplos:
“Carlos fez um pedido à Mariana.” ou “Carlos fez um pedido a Mariana.”
“Fomos fazer uma visita à Anitta.” ou “Fomos fazer uma visita a Anitta.”
“Fizeram uma referência à Iara.” ou “Fizeram uma referência a Iara.”
Alguns gramáticos sugerem que, para verificar se o uso do acento grave é opcional, seja substituído
na frase o termo que exige o emprego da preposição “a” por outro que demande outro tipo de
preposição como:
“Não falamos da Sebastiana.” ou “Não falamos de Sebastiana.”
Existem outros que defendem que o ‘a’ antes de nomes próprios femininos só podem ser acentuados
quando estamos falando de uma pessoa que seja do nosso círculo próximo de convivência, ou seja,
com quem temos intimidade. Mas, ainda assim, essa aplicação da crase é considerada facultativa.

2. Antes dos pronomes possessivos femininos (minha, tua, nossa):

“Devemos satisfações à nossa mãe.” ou “Devemos satisfações a nossa mãe.”


“Entregue este bilhete à sua irmã.” ou “Entregue este bilhete a sua irmã.”
“Vou apresentar um filme à minha família.” ou “Vou apresentar um filme a minha família.”

3. Depois da locução prepositiva “até a”

Sempre que a expressão “até a” for seguida de uma palavra feminina que admita artigo, a crase será
opcional. Observe os exemplos:

“Chegaram até à praia e acamparam.” ou “Chegaram até a praia e acamparam.”


“Caminhamos até à escola e voltamos.” ou “Caminhamos até a escola e voltamos.”
“O desfile foi até à praça General Osório.” ou “O desfile foi até a praça General Osório.”

Casos específicos para o uso da crase

Neste caso vamos tratar de situações em que o uso do acento indicador de crase é aplicado de
maneira específica. Mas como assim? Existem mais regras?

Uma boa forma de pensar nesses casos é como se elas fossem condições para aplicação de algumas
das regras que vimos acima, para entender melhor vamos partir para o primeiro caso:

1. Antes de nomes de localidades

O acento grave vai ser usado antes de nomes de localidades (países, estados e cidades) somente
naqueles que permitem a anteposição do artigo “a” quando dependentes da preposição “a”.
Para ter certeza de que existe essa anteposição do artigo basta substituir a preposição “a”, pelas
preposições “de”, que quando contraído com artigo definido “a” gera “da”, ou “em”, que ocasiona a
contração “na”.

Isso serve para comprovar que, já que a contração ocorre com “de” e “em”, ela também irá acontecer
com a preposição “a” e, portanto, leva crase. Observe:

Vim da Posse. De + a
Estou na Posse. Em + a
Vou à Posse no próximo final de semana. A + A

ATENÇÃO! Quando houver um adjunto adnominal que determine a cidade que faça referência a uma
cidade com característica específica, a crase será usada. Veja:

Fui à Bahia de todos os Santos.


Cheguei à Brasília dos políticos corruptos.
Regressei à Curitiba de minha infância.

2. Antes da palavra “terra”

A palavra terra vai ser antecedida por crase, apenas quando a palavra designar o sentido de “Planeta
Terra” e de “local específico”. Quando o termo for usado no sentido de chão (em sentido oposto a
“bordo”), ou seja, indeterminado, a crase não será empregada. Veja:

Os astronautas regressam à Terra em 90 dias. (Planeta Terra)


Fui à terra onde minha bisavó nasceu. (localidade identificada)
Ao chegar a terra, o marinheiro foi até o local marcado. (chão indeterminado)

3. Antes da palavra “casa”

O acento indicador de crase vai ocorrer somente quando o termo “casa” está determinado
(especificado) com um adjunto adnominal. Assim como no caso anterior, sem a determinação, que
neste caso depende de um adjunto adnominal, não haverá crase. Observe:

Vou à casa de meus pais quando posso. (Com adjunto adnominal) para a
Vou a casa sempre que posso. (Sem adjunto adnominal) para
Vou à casa de minha sogra no próximo fim de semana. (Com adjunto adnominal) para a
Vou a casa todo final de semana e feriado. (Sem adjunto adnominal) para

Macetes:

1. Para saber se deve ou não usar crase substituía a palavra feminina que vem depois da possível
crase por um termo masculino de mesmo valor. Caso o artigo “o” do novo termo gere a contração
“ao” você tem a confirmação do acento grave. Observe este esse exemplo:

Eu cheguei a escola de ônibus.


Eu cheguei ao colégio de ônibus.
Repare que, depois de fazer a troca do termo “escola” por “colégio” podemos perceber a presença do
artigo definido masculino “o” antes do substantivo “colégio”. Isso confirma a presença do artigo
definido feminino “a” antes do substantivo “escola”. Então temos:

Eu cheguei a + a escola de ônibus = Eu cheguei à escola de ônibus.


Eu cheguei a + o colégio de ônibus = Eu cheguei ao colégio de ônibus.
2. Parecido com o primeiro macete temos outra estratégia que é substituir o artigo definido feminino
“a” pelo artigo indefinido feminino “uma”. Caso o artigo indefinido seja possível, isto indica que o uso
do artigo feminino é necessário na frase. Observe:

Assistimos à luta de MMA de madrugada.


Assistimos a uma luta de MMA de madrugada.
Dado que o artigo indefinido feminino “uma” mantém o sentido da frase, concluímos que a crase é
necessária, pois temos:

Assistimos a + a luta de MMA = Assistimos à luta de MMA.


Assistimos a + uma luta de MMA = Assistimos a uma luta de MMA.

3. Por fim, outra forma de confirmar o uso, ou não, do acento grave é com o caso dos verbos que
indicam movimento (ir, chegar, voltar etc.). O truque é substituir esses verbos por outros que
indiquem procedência (cair, vir, partir etc.) ou mesmo localização (estar, ficar etc.). Veja:

Chegamos a Bahia hoje pela manhã.

Que podemos substituir pelos dois verbos:


Partimos de Bahia hoje pela manhã.
Ficamos em Bahia hoje pela manhã.
Note que em nenhuma das substituições, apesar da presença de preposição não houve a necessidade
de um artigo. Desse modo, concluímos que na primeira sentença “Chegamos a Bahia hoje pela
manhã.”, não se usa acento indicador de crase.

Para ajudar a lembrar desse ponto relacionado ao uso dos verbos que são acompanhados de
preposições diferentes de “a”, existe uma rima que vale a pena ser memorizada para ser aplicada a
este macete, a saber:

“vou a, volto da, crase há! Vou a, vou de, crase pra quê?”.

Quer ter certeza de que funciona? Observe os exemplos:

Vou à Europa, volto da Europa. (aqui há crase)


Foi a Fortaleza, voltou de Fortaleza. (aqui não há crase)
Vou à América, volto da América. (aqui há crase)
Vou a Recife, volto de Recife. (aqui não há crase)

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