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Nesse contexto, se faz necessário uma abordagem histórica sobre esse caráter
prescritivo do ensino ministrado nas escolas. Dito isso, se verifica que o
sistema de ensino desenvolvido no Brasil desde o século XVI até meados do
século XX, foi marcado pelas práticas tradicionalistas, conservadoras e
reformistas, cujos indícios ainda estão presentes na memória das pessoas e
em alguns fazeres escolares do presente. Nesse viés de um ensino
transmissivo e domesticado, se faz presente aquela clássica distinção proposta
por Paulo Freire sobre memorização mecânica e o aprendizado real. Todavia,
no presente mesmo com essa rejeição do modelo baseado na memorização,
intensifica-se ainda práticas e modelos curriculares que reforçam as tendências
tradicionais.
Sob a ótica de uma formação didática na “escola jesuítica no Brasil, a aula era
sistematiza no Ratio Studiorum em 5 fundamentos: a preleção do conteúdo
pelo professor, a contenda ou emulação; a memorização, a expressão e a
imitação. Essa tradição jesuítica faz prevalecer uma certa passividade do aluno
diante da ação educativa, consequentemente isso corrobora com algumas
problemáticas, como por exemplo: o conhecimento, difundido como acabado,
imutável e dogmático, desvinculado do contexto em que é produzido, é
transmitido pelo professor aos alunos como inquestionável, tornando a aula um
momento contemplação, de audição e de repetição. Tais fatores provocam nos
alunos uma incapacidade de reflexão crítica, um pensamento apolítico e uma
ingenuidade e impotência cognitiva.
Destarte, instaura-se reflexões sobre uma modificação dessa concepção
tradicional de aula, na qual seria necessário promover nos alunos uma atitude
crítica e propositiva diante dos conteúdos abordados. Ademais, fica de
responsabilidade também do professor a compreensão do ensino a partir da
relação entre os sujeitos, o objeto de estudo e a história, ou seja, como bem
cita Veiga, o conhecimento não pode estar desvinculado do contexto social.
Consequentemente, deve-se ter uma formação e relação na aula pautadas no
diálogo, na interação e produção de saberes dentro de um contexto
historicamente situado (caráter contrário ao estruturalismo visto no modo de
fazer filosofia na USP).
Nessa perspectiva, pode-se citar as aulas do curso de filosofia da UECE como
um desenvolvimento e ampliação do espaço-tempo, configurando-se então um
espaço de formação de habilidades, de atitudes e de procedimentos,
necessários à constituição de sujeitos livres, críticos e autônomos.
Diante disso, é possível ter uma prática pedagógica atrelada a um pensamento
dialético que altere essa lógica tecno-produtivista do ensino tradicional,
possibilitando assim a organização da aula em decorrência do ideário
pedagógico histórico-crítico. O embasamento central dessa discussão se
encontra justamente nessa forma de repensar o modo de construção do
saberes para se alcançar os fins educativos eficazes.
Todavia, mesmo com essa expectativa social de mudança, o que mais se
manifesta no âmbito da educação é a ausência de projetos escolares
construídos coletivamente, por consequente, isso tem mantido os aspectos da
tradição, ou seja, mantem-se aquela transmissão pautada na repetição e
memorização, e a dogmatizarão de princípios ultrapassados.
Isso evidencia uma grave contradição no processo educativo, pois as aulas
mantem o caráter do verbalismo docente, marcados por relações apenas
conflituosas e com um preocupante afastamento da reflexão sob os contextos
social, político e econômico vigente.
Desta maneira, busca-se atentar para uma práxis educativa comprometida com
mudanças estruturais da sociedade, pois, é concebendo uma prática dialética
que será possivel experienciar a aula como um processo de construção e
movimento do saber, não deixando de lado as modificações e críticas em
relação aos aspecto extra aula como: históricos, técnicos, éticos e políticos.
Considerações finais:
Portanto, é explicitado a presença de obstáculos no cenário educacional
contemporâneo, os quais remontam a um período histórico mais antigo,
conferindo uma abordagem anacrônica ao ambiente escolar. A carência de
preparo pedagógico por parte dos educadores revela-se como um dos
elementos limitadores para o desenvolvimento dos discentes, caracterizado por
uma abordagem educacional hierárquica. Nessa perspectiva, o professor figura
como o detentor exclusivo do conhecimento, enquanto o aluno é posto em
segundo plano e se torna apenas ouvinte, sem participação efetiva. Tal
configuração, ao desconsiderar as experiências individuais dos alunos e as
variadas modalidades de aprendizado, ocasionam em um empecilho que não
apenas compromete a qualidade do processo educacional, mas também se
configura como um agente excludente.
Nesse sentido, a análise filosófica dos desafios presentes na educação
contemporânea requer uma reflexão aprofundada sobre as práticas
educacionais. Isso implica em uma busca necessária para a mudança do modo
em que se leciona na contemporaneidade, rompendo com antigos padrões
educacionais que já não são eficientes. Além disso, destaca-se a importância
da abordagem do professor em sala de aula, ressaltando a eficácia de um
método dialógico. Essa abordagem não apenas facilita a compreensão dos
conteúdos, mas também promove uma interação mais significativa entre
educador e educando, contribuindo para um ambiente de aprendizado mais
enriquecedor e participativo. A superação dessas barreiras requer não apenas
uma revisão crítica desses paradigmas, mas também a implementação de
abordagens mais flexíveis e inclusivas. O reconhecimento da diversidade de
vivências dos alunos, junto à promoção de uma participação ativa no processo
de aprendizado, torna-se crucial para uma educação mais eficaz e condizente
com as demandas contemporâneas.
Referências
MARINHO, Cristiane Maria. Filosofia e educação no Brasil: da identidade à
diferença. São Paulo: Loyola, 2014.