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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO I

PROF.: Ruy de Carvalho Rodrigues Junior


TURNO: MANHÃ

ALUNO: Antonio Antenor Lobo Neto

Tema: A desconstrução de uma matriz filosófica tradicional na ação pedagógica


contemporânea.
Introdução
O presente trabalho trata-se de uma reflexão crítica no campo da Filosofia da
Educação sobre a “aula” como um espaço-tempo na qual se estabelece uma
construção de saberes. Essa reflexão sobre a educação brasileira se baseia
por um recorte histórico, focado nas influências de uma matriz filosófica
aristotélica – tomista dos jesuítas no período colonial e como se enraíza suas
concepções na atuação pedagógicos das aulas. Diante de um cenário com
tantas ideias de progresso e reconfigurações, mostra-se ainda vigente as
práticas tradicionais de ensino. Assim, com base em vertentes filosóficas
educacionais, tentaremos construir uma crítica desconstrutiva desses
paradigmas do ensino, embasando principalmente em uma práxis contestadora
e libertadora.

1. Aula e desconstrução de normas:


Tendo em vista a análise central de compreender a prática docente como
resultante do movimento da Práxis, trataremos agora de algumas concepções
específicas e historicamente discutidas sobre o espaço - aula e a construção e
reconstrução dos saberes no decorrer dessa relação entre professor e aluno.

A atuação pedagógica como em seus primórdios, continua sendo pensada


como tempo determinado, que deve acontecer num local específico: em sala,
entre quatro paredes, em classe. No cenário hodierno, mesmo diante dos
avanços, inovações tecnológicas dentro do âmbito escolar, ainda persiste na
educação uma imagem das tendências pedagógicas tradicionais, ou seja, tem-
se ainda uma visão de aula marcada pela rigidez da organização em fileiras
das cadeiras, um condicionamento de obediência ao professor, sendo este o
único com a possibilidade de falar, restando aos alunos apenas ouvir e
absorver conteúdo.

Nesse contexto, se faz necessário uma abordagem histórica sobre esse caráter
prescritivo do ensino ministrado nas escolas. Dito isso, se verifica que o
sistema de ensino desenvolvido no Brasil desde o século XVI até meados do
século XX, foi marcado pelas práticas tradicionalistas, conservadoras e
reformistas, cujos indícios ainda estão presentes na memória das pessoas e
em alguns fazeres escolares do presente. Nesse viés de um ensino
transmissivo e domesticado, se faz presente aquela clássica distinção proposta
por Paulo Freire sobre memorização mecânica e o aprendizado real. Todavia,
no presente mesmo com essa rejeição do modelo baseado na memorização,
intensifica-se ainda práticas e modelos curriculares que reforçam as tendências
tradicionais.

Ademais, entra em questão os desafios enfrentados pelos professores ao longo


desse processo educacional, como por exemplo: a heterogeneidade de
saberes e experiências dos alunos; o desconhecimento ou a inexistência do
projeto político-pedagógico; a intensificação e precarização do trabalho
docente; a fragilidade da formação dos professores. Tais condições corroboram
com os frequentes casos de indisciplina e baixa aprendizagem. Essas
manifestações se encaminham para uma necessidade de reconfiguração das
práticas pedagógicas, levando em consideração os cuidados e a garantia de
uma aprendizagem eficaz para os alunos.

Em seguimento à discussão sobre essa reconfiguração do estruturalismo como


metodologia na “aula”, a filosofia da educação estabelece bases para uma
nova concepção baseada em pensá-la como um espaço-tempo coletivo de
construção de saberes, lócus de produção de conhecimentos que pressupõe a
existência de sujeitos que se inter-relacionam, se comunicam e se
comprometem com a ação vivida. Dessa forma, se configura agora a aula
como um espaço que possibilite o desenvolvimento de ações interativas, que
através dessa síntese entre o conflito de ideias (debates) e as aspirações de
criação e livre discussão, se possa alcançar um ensino e aprendizagem
propício.

Diante dessa reconfiguração, amplia-se consequentemente os elementos


constituintes da “aula”, por exemplo: amplia-se as situações de socialização e
de produção de conhecimentos, pois tantos novos cenários de aula podem ser
construídos, novas ferramentas podem ser disponibilizadas, bem como pode
ser redefinido o seu tempo. Com isso, podemos expandir o ambiente e o tempo
convencionais da aula até então estabelecidos. A partir dessa práxis na
construção dos saberes, a atividade pedagógica não se restringe mais a um
único momento e local, pois se caracteriza pela sequência de ações e
situações com vistas à consecução dos objetivos previamente definidos.

Retomando a discussão sobre as práticas tradicionais, vimos que ao considerar


a aula como um espaço de relações, encontros e troca de ideias, ficaria
inviável que a exposição oral se delimitasse apenas ao professor, pois toda a
construção do saber se fomenta com base nas interações sociocognitivas entre
alunos e professores, ou seja, é imprescindível essa participação (através de
linguagens e meios necessários) do aluno durante a aula.
Nessa perspectiva, podemos examinar como exemplo promissor, a ação
pedagógica do curso de Filosofia na UECE, que sempre vem estimulando
tendências pedagógicas transformadoras, caracterizadas por uma mediação
entre professor e aluno na exposição de ideias para debate livre do conteúdo
discutido, além relações firmadas em bases democráticas, isto é, no
compromisso, na confiança, na colaboração e no respeito mútuo (obviamente
não é algo completamente eficaz em todos os casos). Portanto, para o
desenvolvimento de um ensino e aprendizagem satisfatória deve-se ter uma
práxis voltada para a autonomia e consciência crítica, desenvolvida a partir das
interações dialéticas (conflito e diálogos) promovidas em sala de aula. Temos
diante dessa concepção o espaço-tempo de aula, como um ambiente de
construção e reconstrução de saberes, sendo tanto os professores como os
alunos atores do processo de formação humana e de produção cultural.

2. Sofrimento nosso de cada dia:

Sob a ótica de uma formação didática na “escola jesuítica no Brasil, a aula era
sistematiza no Ratio Studiorum em 5 fundamentos: a preleção do conteúdo
pelo professor, a contenda ou emulação; a memorização, a expressão e a
imitação. Essa tradição jesuítica faz prevalecer uma certa passividade do aluno
diante da ação educativa, consequentemente isso corrobora com algumas
problemáticas, como por exemplo: o conhecimento, difundido como acabado,
imutável e dogmático, desvinculado do contexto em que é produzido, é
transmitido pelo professor aos alunos como inquestionável, tornando a aula um
momento contemplação, de audição e de repetição. Tais fatores provocam nos
alunos uma incapacidade de reflexão crítica, um pensamento apolítico e uma
ingenuidade e impotência cognitiva.
Destarte, instaura-se reflexões sobre uma modificação dessa concepção
tradicional de aula, na qual seria necessário promover nos alunos uma atitude
crítica e propositiva diante dos conteúdos abordados. Ademais, fica de
responsabilidade também do professor a compreensão do ensino a partir da
relação entre os sujeitos, o objeto de estudo e a história, ou seja, como bem
cita Veiga, o conhecimento não pode estar desvinculado do contexto social.
Consequentemente, deve-se ter uma formação e relação na aula pautadas no
diálogo, na interação e produção de saberes dentro de um contexto
historicamente situado (caráter contrário ao estruturalismo visto no modo de
fazer filosofia na USP).
Nessa perspectiva, pode-se citar as aulas do curso de filosofia da UECE como
um desenvolvimento e ampliação do espaço-tempo, configurando-se então um
espaço de formação de habilidades, de atitudes e de procedimentos,
necessários à constituição de sujeitos livres, críticos e autônomos.
Diante disso, é possível ter uma prática pedagógica atrelada a um pensamento
dialético que altere essa lógica tecno-produtivista do ensino tradicional,
possibilitando assim a organização da aula em decorrência do ideário
pedagógico histórico-crítico. O embasamento central dessa discussão se
encontra justamente nessa forma de repensar o modo de construção do
saberes para se alcançar os fins educativos eficazes.
Todavia, mesmo com essa expectativa social de mudança, o que mais se
manifesta no âmbito da educação é a ausência de projetos escolares
construídos coletivamente, por consequente, isso tem mantido os aspectos da
tradição, ou seja, mantem-se aquela transmissão pautada na repetição e
memorização, e a dogmatizarão de princípios ultrapassados.
Isso evidencia uma grave contradição no processo educativo, pois as aulas
mantem o caráter do verbalismo docente, marcados por relações apenas
conflituosas e com um preocupante afastamento da reflexão sob os contextos
social, político e econômico vigente.
Desta maneira, busca-se atentar para uma práxis educativa comprometida com
mudanças estruturais da sociedade, pois, é concebendo uma prática dialética
que será possivel experienciar a aula como um processo de construção e
movimento do saber, não deixando de lado as modificações e críticas em
relação aos aspecto extra aula como: históricos, técnicos, éticos e políticos.
Considerações finais:
Portanto, é explicitado a presença de obstáculos no cenário educacional
contemporâneo, os quais remontam a um período histórico mais antigo,
conferindo uma abordagem anacrônica ao ambiente escolar. A carência de
preparo pedagógico por parte dos educadores revela-se como um dos
elementos limitadores para o desenvolvimento dos discentes, caracterizado por
uma abordagem educacional hierárquica. Nessa perspectiva, o professor figura
como o detentor exclusivo do conhecimento, enquanto o aluno é posto em
segundo plano e se torna apenas ouvinte, sem participação efetiva. Tal
configuração, ao desconsiderar as experiências individuais dos alunos e as
variadas modalidades de aprendizado, ocasionam em um empecilho que não
apenas compromete a qualidade do processo educacional, mas também se
configura como um agente excludente.
Nesse sentido, a análise filosófica dos desafios presentes na educação
contemporânea requer uma reflexão aprofundada sobre as práticas
educacionais. Isso implica em uma busca necessária para a mudança do modo
em que se leciona na contemporaneidade, rompendo com antigos padrões
educacionais que já não são eficientes. Além disso, destaca-se a importância
da abordagem do professor em sala de aula, ressaltando a eficácia de um
método dialógico. Essa abordagem não apenas facilita a compreensão dos
conteúdos, mas também promove uma interação mais significativa entre
educador e educando, contribuindo para um ambiente de aprendizado mais
enriquecedor e participativo. A superação dessas barreiras requer não apenas
uma revisão crítica desses paradigmas, mas também a implementação de
abordagens mais flexíveis e inclusivas. O reconhecimento da diversidade de
vivências dos alunos, junto à promoção de uma participação ativa no processo
de aprendizado, torna-se crucial para uma educação mais eficaz e condizente
com as demandas contemporâneas.

Referências
MARINHO, Cristiane Maria. Filosofia e educação no Brasil: da identidade à
diferença. São Paulo: Loyola, 2014.

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