UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II
PROFª: Drª PATRÍCIA JUNQUEIRA

BARROCO
Arquitetura Religiosa

Para entender o barroco é preciso aceitar que a decoração não é algo acessório da arquitetura, ela
é, ao mesmo tempo, estrutura.

O Barroco não se preocupava com a honestidade dos materiais.

Ilusão de ótica: característica da arquitetura barroca.

Decoração barroca: utilização de anjos e gênios para encobrir pontos de junção da estrutura e
dispositivos responsáveis pelos efeitos de ilusão, também serviam como intermediários entre o
espaço real e o espaço criado pelo artista. A decoração barroca é a mesma num palácio ou numa
igreja, o que deixa-a com um caráter mundano.

Na Renascença, o ideal de arquitetura religiosa era a construção central com cúpula, uma unidade
perfeita e homogênea. Ao projetar Gesú, Vignola criou um novo tipo: a nave longa. Esta nova
configuração influenciou as construções posteriores, inclusive a Basílica de São Pedro.

A forma longitudinal, preferida pelo Barroco, cria um movimento em uma direção determinada. A
igreja longitudinal com cúpula intensifica essa impressão.

Plano comum das igrejas barrocas: uma nave com capelas laterais, transeptos curtos e um domo
sobre o cruzeiro. Esse modelo foi ampliado posteriormente.

Basílica de São Pedro

Grande tarefa na qual trabalharam os grandes artistas dos séculos XVI e XVII. Praticamente todos
os grandes nomes da arquitetura, pintura e escultura do Renascimento, Maneirismo e Barroco,
participaram da obra.

Nela é possível identificar várias fases do desenvolvimento dos estilos arquitetônicos, desde o
primeiro projeto de Bramante, no início do século XVI à nave longa de Maderno na segunda metade
do século XVII. Passando pelas contribuições de Rafael, Sangallo, Michelangelo e sua cúpula,
Giacomo della Porta. E, finalmente, o acabamento do interior realizado por Bernini e Borromini, além
da majestosa Colunata na piazza em frente a basílica idealizada por Bernini.

Bramante fez o primeiro projeto para a basílica em forma de cruz grega, em 1506. Após a morte de
Bramante, seu projeto foi modificado. Uma comissão formada por Rafael, Fra Giocondo e Giuliano
da Sangallo, fez um novo projeto, desta feita em forma de cruz latina.
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O Papa Paulo III confiou a obra a Antonio da Sangallo, que propôs algumas modificações no projeto
de Rafael. Com a morte de Sangallo, Michelangelo se tornou o responsável pela construção da
igreja, entre 1546 e 1564, ano de sua morte. Durante todos esses anos trabalhou na construção da
basílica se recusando a receber salário. Ele a encontrou basicamente como Bramante a havia
deixado, os planos dos arquitetos anteriores não haviam sido colocados em prática. Michelangelo
manteve o plano central de Bramante em cruz grega, mas propôs um domo central.

Giacomo della Porta, sucessor de Michelangelo nas obras da basílica, modificou seu projeto e
executou a cúpula, com algumas modificações.

A conclusão das obras da Basílica ficou a cargo de Carlo Maderno, a partir de 1603. Modificou a
planta de Michelangelo, optando pela nave em cruz latina e propondo uma nova fachada.

Após a morte de Maderno, em 1629, Gianlorenzo Bernini, aos 30 anos de idade, foi nomeado o
arquiteto principal da Reverenda Fábbrica. Bernini foi responsável por diversas obras de decoração
no interior da Basílica, como o Baldaquino, e a Piazza de San Pietro.

Piazza de San Pietro, realizada por Gianlorenzo Bernini, entre 1656 e 1667. Considerada a mais
importante obra do barroco romano. Utilização de artifícios dramáticos para elevar ainda mais a
condição da basílica enquanto sede da Igreja.

O projeto de Bernini levava em consideração o bairro dos Borghi existente no entorno da Basílica.
Para se chegar a Basílica, era preciso passar por entre as ruas estreitas e tortuosas dos Borghi. À
esquerda ficava o Borgo Vecchio e à direito, o Borgo Nuovo, entre os dois caminhos encontrava-se
uma sequência de quarteirões estreitos conhecida como spina dos Borghi. No fim do caminho, os
dois eixos terminavam na Piazza Rusticucci, um largo idealizado por Bernini, que antecedia a Piazza
San Pietro.

Nos anos 1930, por ordem de Mussolini, a spina foi demolida sob a supervisão do arquiteto fascista
Marcello Piacentini.

O interior da basílica é composto por obras primas do Renascimento e do Barroco. As mais

importantes são a Pietá de Michelangelo e o Baldaquino de Bernini.

Nas igrejas menores, o espaço oval substitui o redondo.

No Barroco, as fachadas laterais são negligenciadas, apenas a parte principal é ornamentada.

Utilização do tijolo no lugar do travertino, como é possível notar na Igreja de Santa Maria della
Vittoria.
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Bernini X Borromini

Gianlorenzo Bernini (1598-1580): Grande figura da retomada do Classicismo revisitado do século

XVII após a superação do Maneirismo. Personalidade mais conhecida da arte e famoso até fora da
Itália. Revisão barroca do legado histórico greco-romano. Nascido em Nápoles, filho do escultor
Pietro Bernini. Foi um artista do período da segurança política da Igreja. Encarregado de compor a
nova e triunfante realidade do Estado Católico e sua sede, Roma. Coordenou as maiores inciativas
arquitetônicas do século XVII. Arquiteto da Igreja e das grandes famílias romanas.

Francesco Borromini (1599-1667): Inaugura uma nova fase do Barroco, rompendo com o sistema
compositivo tradicional, propondo uma nova produção estética. No Barroco Tardio e no Rococó, a
poética de Bernini perde espaço para a estética de Borromini, referência para a segunda geração
do Barroco. Nasceu do norte da Itália. Homem de alma atormentada com profunda fé religiosa.
Recusava todo e qualquer valor terreno visto como mundano e medíocre. Personalidade difícil.
Arquiteto das ordens religiosas. Trabalhou em grande parte de sua carreira em projetos pequenos.

A ilusão de óptica é um dos elementos mais característicos da arquitetura barroco. Bernini se

utilizou dessa estratégia na Scala Régia do Palácio do Vaticano, construída entre 1664 e 1667. Ela
foi projetada, assim como a Colunata da Piazza de San Pietro com uma forte intenção cênica.

A Scala Régia foi construída em uma área entre a igreja e o palácio, é longa, relativamente estreita
e com paredes não paralelas. Bernini tirou proveito dessas condicionantes projetando uma colunata
com abóboda de berço em que as colunas diminuem de tamanho a medida que a escada avança.
É o princípio da perspectiva cenográfica do Barroco.

A fachada da igreja de San Carlo alle Quattro Fontane, projetada por Borromini, é formada por
composição de côncavos e convexos. O nível térreo é composto por côncavo-convexo-côncavo.
Enquanto o primeiro andar possui uma conmbinação de côncavo-côncavo-côncavo, com um templo
no centro de formato oval que dá a impressão de forma convexa.

A cúpula oval da Igreja de San Carlo alle Quattro Fontane é formada por uma série de octógonos,
hexágonos e cruzes intrincadamente organizados, delineados em ouro. O tamanho das figuras
diminuem à medida que se aproximam do topo, fazendo o domo parecer mais alto e mais profundo
do que realmente é.

A Igreja de Sant'Ivo alla Sapienza (1642-1650) de Borromini, localizada no pátio interno do Palazzo
della Sapienza projetado por Giacomo della Porta, seria, segundo alguns críticos, uma das obras
mais complexas e revolucionárias da história da arquitetura.

Igreja de Santa Agnese in Agone, localizada na Piazza Navona, iniciada em 1652 por Carlo Rainaldi,
com fachada de Borromini. As torres se destacam do corpo principal, separadas por curvas
convexas que ladeiam a parte central.
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Assim como Bernini, Borromini também sabia se utilizar da ilusão de óptica em seus projetos, como
demonstra na galeria construída no jardim do Palazzo Spada, entre 1652 e 1653. Tem a mesma
intenção da Scala Regia, porém em uma dimensão menos grandiosa.

A colunata curva, visível da sala principal do palácio, possui apenas 8,82 metros de comprimento,
mas parece mais longa e impressionante. As duas fileiras de colunas dóricas que se encontram na
lateral do corredor diminuem de tamanho a medida que se afastam da entrada dando a ilusão de
maior profundidade.

Espanha, Portugal, Alemanha e Áustria

O Barroco se desenvolveu nesses países posteriormente em relação à Itália, e se caracteriza como

um estilo mais extremado, interiores com decoração luxuosa e grandiosa e acúmulo de ornamentos
na superfície.

Na Espanha a decoração barroca se desenvolveu de forma excepcional e apareceu no estilo

chamado churrigueresco, nome derivado de seu principal expoente José de Churriguera. O estilo
também pode ser encontrado nas colônias espanholas e portuguesas no novo mundo. O
Transparente é considerado por alguns autores como o mais impressionante exemplo de escultura
barroca, realizado por Narciso Tomé, na catedral de Toledo, uma construção gótica, do século XIII.

O Barroco tardio alemão foi inspirado por Bernini, mais nas esculturas, Borromini e, principalmente
por Guarino Guarini (1624-1683). Nasceu em Módena e viveu grande parte de sua vida em Turim.
Era oratoriano, professor de filosofia e matemática, além de arquiteto. Seu tratado Architettura civile
foi publicado apenas em 1737, mas suas gravuras já eram conhecidas desde 1668. Além disso,
realizou frequentes viagens ao exterior possiblitando um maior contato entre Guarini e os arquitetos
estrangeiros. Fora da Itália, suas principais obras são as igrejas de Sante Anne, em Paris, já
demolida, e a da Divina Providência, em Lisboa. Elaborou ainda um projeto para a igreja da Virgem
de Öttingen, em Praga, em 1679, que não foi construída. Em seus projetos para igrejas,
especialmente a de San Lorenzo em Turim, e as de Praga e Lisboa, existe uma interação espacial
entre as partes côncavas e convexas mais elaborada do que a proposta por Borromini.

A partir do final do século XVII, floresceu um barroco de excepcionalidade próxima a do italiano na

Europa Central. Diferentemente da Itália, onde a expressão barroca foi centrada na arquitetura
religiosa e na trasnformação da cidade em espetáculo, e na França que se utilizou dos aspectos
cenográficos para intensificar o poder do soberano, na Europa Central. O estilo foi empregado tanto
no espaço religioso quanto na arquitetura imperial.

Dois importantes nomes do barroco na Áustria na passagem do século XVII foram Johann Bernhard
Fischer von Erlach (1656-1723) e Johan Lukas von Hildebrandt (1668-1726). Esses profissionais
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tinham conhecimento da segunda fase do barroco italiano e da obra de Guarino Guarini. Esse
contato não produziu uma obra italiana na Áustria, mas construções com poéticas próprias onde se
refletia a cultura austríaca.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAETA, Rodrigo Espina. O Barroco, a Arquitetura e a cidade nos séculos XVII e XVIII. Salvador:
EDUFBA, 2012.
FAZIO, Michael. A história da arquitetura mundial. Porto Alegre: AMGH, 2011. (Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580550382/pageid/35)
MORRISSEY, Jake. Gênius e Rivais. Bernini, Borromini e a disputa que transformou Roma. São
Paulo: Editora Globo, 2005.
PEREIRA, José Ramón Alonso. Introdução à história da arquitetura. Porto Alegre: Bookman,
2010. (Disponível em https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788577806645/pageid/26)
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002.