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Resumo
Neste trabalho, foi feita uma análise da rigidez rotacional de uma fundação profunda (com
estacas) que suporta uma torre eólica, onde é levado em consideração o solo, a rigidez das
estacas e a rigidez do bloco de fundação (elemento de transição entre a torre e as estacas). As
torres eólicas estão sujeitas a fortes cargas dinâmicas. De acordo com isso, as propriedades
dinâmicas do sistema estrutural (fundação, torre e aerogerador) são críticas. Com isso, os
fabricantes definem um valor mínimo para a rigidez rotacional, que deve ser respeitado no
desenvolvimento do projeto da fundação para assegurar que todo o sistema da torre eólica terá
a frequência natural dentro dos valores assumidos no projeto da torre. O objetivo deste
trabalho é definir a importância da rigidez do bloco dentro da avaliação da rigidez rotacional
da fundação (solo, estaca e bloco). Para isso serão feitas análises dinâmicas do sistema da
torre eólica, com várias hipóteses.
Palavras-chave
rigidez rotacional; dinâmica: fundações; torres eólicas; aerogeradores
Introdução
Nos últimos anos no Brasil vem se desenvolvendo, de forma exponencial, a energia eólica.
Isso pode ser visto tanto no desenvolvimento de aerogeradores mais potentes (> 5 MW),
como no aumento da altura das torres que receberão estes aerogeradores. Porém, percebe-se
um descompasso nesse avanço no que se refere à análise estrutural das fundações dessas
torres. A escassez bibliográfica e de diretrizes normativas sobre o assunto, particularmente
quando se trata das fundações das torres eólicas, pode levar a diferentes interpretações na
análise e dimensionamento dessas estruturas.
Nessas condições, o projetista da torre, por desconhecer as características do solo no qual será
implantada a torre e, conseqüentemente, do tipo de fundação a ser adotada, define uma rigidez
rotacional mínima para a fundação (bloco, estaca e solo) a ser cumprida, de modo que sejam
atendidas as frequências naturais do sistema estrutural, assumidas no projeto da torre.
Dentro desse contexto, o projetista estrutural, juntamente com o projetista geotécnico, tem a
responsabilidade de atender a esse requisito (rigidez rotacional mínima) no desenvolvimento
do projeto da fundação. Na definição da rigidez rotacional de uma fundação estaqueada,
objeto de estudo do presente trabalho, são dependentes: a rigidez do solo e a rigidez dos
elementos estruturais (estacas e bloco).
Para o projeto dos blocos de fundação, a literatura e alguns códigos normativos procuram
fazer uma distinção entre blocos flexíveis e rígidos, com o principal objetivo de definir as
hipóteses de dimensionamento (modelo de vigas ou placas para blocos flexíveis e o modelo
de bielas e tirantes para blocos rígidos). Os blocos são considerados rígidos quando é
respeitada a Equação 1, em seguida:
h ≥ a/β (1)
Onde "a" é a distância entre a face do pilar (torre) e a estaca mais afastada, “h” é a altura do
bloco (ver Figura 3) e β é um coeficiente, divergindo conforme a literatura ou o código
normativo. Na norma espanhola EHE-08 (2010) β é igual a 2, mesmo valor de MONTOYA et
al. (2002). Na norma brasileira NBR 6118:2014 (2014) é 1,5.
Figura 3 – Dimensões no bloco para classificação quanto à sua rigidez.
Modelo Numérico
A estrutura foi analisada no "software" SAP2000 (1995) pelo método numérico dos elementos
finitos. Foram utilizados elementos de três e quatro nós do tipo casca (shell) para modelar o
bloco e elementos de barra (frame) para modelar a torre. O diâmetro do bloco é 16,99m, com
o centro das estacas distribuídas no círculo de diâmetro de 15,54m. O pedestal possui altura
de 2,50m e diâmetro de 9,44m. A parte inclinada tem uma variação de altura de 0,70m a
2,00m. O bloco está apoiado sobre 36 estacas. A torre, com altura de 100m, está fixada no
pedestal, sendo o diâmetro externo variando de 7,70m na cota 0m a 3,70m na cota 100m, com
paredes de espessura de 18,5cm (Figura 4a).
A parte inclinada foi discretizada em 12 círculos concêntricos com a altura dos elementos
definida pela espessura média entre círculos (Figura 4b), e a torre foi discretizada em 10
elementos de barra com 10m (Figura 4c). Como condições de contorno, foram adicionadas
molas lineares no centro de cada uma das 36 estacas. A rigidez de mola (coeficiente de reação
vertical) adotada é igual a 3000 kN/cm. Para a análise modal foi definida uma massa de 200
ton no topo da torre (cota 100m), representando a massa da nacele e das pás do aerogerador.
No núcleo do bloco, para manter um comportamento rígido, foram adotados elementos
constraints nos nós internos ao círculo de diâmetro φ744cm (considerado o eixo das paredes
da torre). Esse artifício tem o objetivo de simular o aumento de rigidez proporcionado pela
ligação da torre ao bloco de fundação.
O concreto utilizado para o bloco foi o C30, com módulo de elasticidade secante Ecs = 27
GPa, para a torre o C50, com Ecs = 37 GPa. O coeficiente de Poisson adotado foi 0,2 e o peso
específico adotado para o concreto foi 25 kN/m3.
(4a) (4b) (4c)
Figura 4 – Sistema estrutural da Torre Eólica (4a), modelo do bloco (4b) e o modelo do
sistema com o bloco e a torre (4c).
Para o bloco em estudo, o valor do coeficiente β vale 1,57, sendo considerado rígido pela
norma espanhola EHE-08 (2010) e flexível pela norma brasileira NBR 6118:2014 (2014).
Diante da divergência, não será levado em conta esse critério na definição da rigidez do
bloco.
C rigidez da mola: 3E10 kN/cm (4) elemento constraints em todo o bloco (3)
(1) Utilização dos elementos constraints nos nós internos ao círculo de diâmetro φ744cm, no núcleo do
bloco.
(2) Mesmas condições do MODELO A1, sendo que a rigidez à flexão de todos os elementos de casca do
bloco foi reduzida à metade.
(3) Utilização dos elementos constraints em todos os nós do bloco, simulando um comportamento de corpo
rígido.
(4) O aumento da rigidez da mola tem como objetivo idealizar a indeformabilidade do apoio, que,
juntamente com os elementos de constraints em todos os nós do bloco, simulam a condição de contorno de
"engaste perfeito".
Conclusões
Quando se analisa as diferenças percentuais das rigidezes rotacionais, tem-se uma diferença
de 24,77% entre o modelo A1 (246 GN.m/rad) e B (327 GN.m/rad). A análise feita somente
sobre essa ótica é falsa, podendo inviabilizar a fundação. Enquanto a análise modal reflete
uma influência muito pequena da rigidez do bloco.
O cálculo da rigidez rotacional para fundações como as apresentadas neste trabalho (bloco
apoiado por uma coroa circular estaqueada), quando a idealização do bloco se faz como corpo
rígido, poderá ser feita de forma analítica pela Equação 2, em seguida:
Kθ = 0,5 . (kest . r . n)
2
(2)
Onde "kest" é coeficiente de reação vertical da estaca, "r" é o raio de locação das estacas e "n"
o número de estacas. Para a fundação estudada, tem-se kest = 3000 kN/m, r = 7,77m e n=36,
resultando numa rigidez rotacional Kθ = 326 GN.m/rad, valor muito próximo do MODELO B,
situação onde está idealizado o bloco como corpo rígido.
Referências