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AS CONTRADIÇÕES DO ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL IMANENTES DO

CAPITALISMO. Alícia Verçosa da Silva, Gabriely Passos dos Santos, Jamile Luiza Silva dos
Santos e Stephany Rayane Gomes Albuquerque. Graduandas em Serviço Social– Faculdade de
Serviço Social – Universidade Federal de Alagoas.

I- Introdução

Este texto contém uma reflexão sobre diversas perspectivas do Estado de Bem-Estar Social e
todas as implicações que o acompanham. Os diferentes pontos de vista, opiniões e ideais
expressam qual foi o verdadeiro sentido do surgimento do Estado de Bem-estar Social
associado aos interesses da classe dominante. Por intermédio dessa reflexão será possível inferir
as contradições imanentes do sistema do capital, já que o Estado de Bem-Estar Social surge
com o agravamento das expressões da “Questão Social”, na ideia de garantir o mínimo à
população. Sob tais circunstâncias, será possível visualizar não só a perspectiva de vários
autores, mas também as falhas em suas teorias, sendo essa crítica realizada por Sérgio Lessa,
paradigma do retratado é a falsa ideia de que havia distribuição de renda de maneira igualitárias,
ou seja, que os ganhos de produtividade se dividiam de maneira equitativa entre “salários” e
“lucros”. Portanto, o objetivo central é abordar esses distintos pensamentos pelas formulações
teóricas de Sérgio Lessa.

II- O Estado de Bem-Estar Social e as políticas públicas dentro do sistema capitalista

É imprescindível destacar desde o princípio que existem diversas perspectivas sobre o que
é de fato o Estado de Bem-Estar Social, de modo que através das mesmas se notam divergências
não só no que se refere à conceituação, mas também aos seus desdobramentos. A partir desse
contexto, Sérgio Lessa em seu livro “Capital e Estado de Bem-Estar Social: o caráter de classe
das políticas públicas” expressa os ideais de diversos autores, como: Esping- Andersen e Ferran
Coll, ambos os autores com perspectivas conservadoras sobre o assunto, logo, contrárias à de
Sérgio Lessa.

De acordo com Esping-Andersen, o conceito de Estado de Bem-Estar Social está expresso no


seguinte trecho: “O que no passado eram Estados vigilantes (night-watchman States), Estados
de lei e ordem, Estados militaristas, ou mesmo órgãos repressivos de uma ordem totalitária, são
agora instituições predominantemente preocupadas com a produção e distribuição do bem-
estar. Estudar o Estado de Bem-Estar é, portanto, um meio de entender um fenômeno novo na
história das sociedades capitalistas”. Ou seja, o autor desenvolve uma ideia conservadora de
que a partir do final da Segunda Guerra Mundial o Estado interviu e causou um crescimento
econômico, por conseguinte uma crescente riqueza, sendo essa riqueza distribuída de maneira
igualitária, visando defender as ideias de justiça social, solidariedade e universalismo. Por
conseguinte, com esse cenário de miséria, fome, doenças e do aumento da desigualdade social,
o Estado objetiva intervir no que posteriormente foi se chamar de “expressões da ‘Questão
Social’”.

Como retratado, o Estado de Bem-Estar Social foi desenvolvido com a observação do


agravamento das expressões da “Questão Social”, segundo Iamamoto e Carvalho, a “Questão
Social”: “É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a
burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”.
Ou seja, a mesma advém da contradição entre capital e trabalho e consiste no conjunto das
expressões das desigualdades sociais, econômicas, políticas e ideológicas. Além disso, vale
ressaltar que a “Questão Social” não se limita ao retratado, pois sua gênese está situada com o
surgimento do capitalismo, marcado pelo crescimento da riqueza da classe dominante e
exploração da classe trabalhadora.

Diante de tudo o que foi exposto surge um primeiro questionamento: O Estado de Bem-Estar
Social foi mesmo desenvolvido como forma de justiça social ou apenas para garantir os
mínimos sociais e continuar reproduzindo a lógica do capital? Como não existe um consenso
sobre essa resposta, Sérgio Lessa, traz uma nova perspectiva que contraria Esping- Andersen.
Na fundamentação de Charles Taylor, o mesmo se afasta dessa ideia conservadora e retrata que
o Estado de Bem-Estar Social surge para reproduzir à ordem do capital. O autor ainda fala que
a estatização da economia também não era uma solução e servia como “colchão de
amortecimento” para a maior lucratividade do capital privado. Além disso, expressa que é
impossível alinhar os interesses do capitalismo com a comunidade em geral, já que nesse
sistema sempre vai predominar os interesses da classe dominante.

Sérgio Lessa continua trazendo críticas sobre os falsos ideais espalhados e idealizados
referentes ao Estado de Bem-Estar Social, como a falsa ideia de que havia distribuição de renda
de maneira igualitária. Ou seja, a teoria de que os ganhos de produtividade se dividiam
equitativamente entre ‘salários’ e ‘lucros’, sugerindo uma distribuição de riqueza entre as
classes. Todavia, nunca houve comprovação desse fato, Lessa afirma que não existem dados
confiáveis e seguros quando se trata da distribuição da renda e da riqueza, contrariando e
criticando, portanto, autores como Cornia et alli e Esping-Andersen.
Em sua crítica ao conceito idealizado de Estado de Bem-Estar Social, Sérgio Lessa diz
que definir o Estado de Bem-Estar Social pela adoção de políticas públicas é amplo e abrangeria
todos os Estados que implementaram políticas públicas no século XX. Porém, a utilização de
critérios como serem Estados democráticos e posteriores à Segunda Guerra Mundial também
trazem problemas, pois Estados considerados democráticos e de Bem-Estar como os Estados
Unidos e a França, por exemplo, realizavam práticas discriminatórias e de tortura duante o
período dos 30 anos dourados. Além disso, no período entreguerras já havia a intervenção do
Estado na economia por meio de políticas públicas em diversos países, como a Inglaterra e a
Austrália, que implementaram políticas na área do trabalho, pensões e gratificações. Os limites
impostos pelo conceito do Estado de Bem-Estar Social, como limitá-lo a adoção de políticas
públicas, a países democráticos e ao período dos 30 anos dourados explica a dificuldade em
definir um único conceito para o período e, por isso, os autores normalmente possuem
definições próprias, definições essas que apenas reproduzem uma ilusão do que foi esse período
e que têm uma utilidade imediata para explicar algo, como a ideia de que as políticas públicas
foram uma conquista da classe trabalhadora, o que foge da realidade.

De acordo com a discussão de Lessa, a amplitude do conceito de Estado de Bem-Estar


Social se dá primeiro pela sua gênese, que está na própria vida social e que tem como base
material as transformações na necessidade da reprodução ampliada do capital monopolista ao
longo do século XX, e as necessidades do capital monopolista exercem um poder de pressão
política sobre o Estado, manipula os mercados, controla a política econômica e a política
externa dos Estados, o que explica a intervenção do Estado na economia, que está voltada para
atender aos interesses do grande capital.

REFERÊNCIAS

LESSA, Sérgio. Capital e estado de bem-estar social: o caráter de classe das políticas públicas.
1ª ed. São Paulo: Instituto Lucáks, 2013.

IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. de. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço
de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez; Lima: Celats, 1982.

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