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O ensino do trompete – principais problemáticas que se sentem com

alunos de iniciação

Cristiana Val (crisostema@gmail.com)

Prof. António Quítalo

RESUMO O trompete é um instrumento que assumiu sempre funções importantes dentro da


sociedade, desde a pré-história até à Idade Média. Inicialmente o trompete tanto era usado para
toques militares, como para espantar espíritos nos ritos religiosos. A partir do século XVII o
trompete passou a integrar as orquestras das cortes, e durante toda a sua história o trompete
esteve dividido entre estas duas vertentes: uma mais prática, relacionada às suas funções de
sinalização, e outra mais artística, relacionada com a nobreza. Este instrumento passou a ser
usado como referência na família dos metais e também a ocupar a posição de solista em recitais
e concertos, graças à sua longa evolução. A partir do século XX, o trompete torna-se
fundamental não só como instrumento solista, mas também como líder nas diferentes
formações instrumentais deque faz parte. O caminho que se deve levar inicialmente para a
formação de técnica base de um trompetista é o mesmo, independentemente do estilo que se
queira tocar. Este artigo visa mostrar quais as dificuldades que existem na aprendizagem deste
instrumento com vários séculos de história.

Palavras-chave: Trompete; Aprendizagem; Respiração; Postura; Registo.

Introdução

A aprendizagem de um instrumento requer o desenvolvimento de competências


e um profundo conhecimento técnico e musical. Quando uma criança inicia o seu
processo de aprendizagem no trompete, esta não tem consciência das dificuldades
técnicas e físicas que estão associadas à prática de um instrumento. O trompete é um
instrumento com apenas três pistões e requer uma grande coordenação entre o
controlo do ar, da língua e dos dedos. Este instrumento também requer de um grande
esforço físico e para isso é necessária uma boa gestão do esforço. Por isso é muito
importante que se comece desde cedo a ter foco e uma boa base de trabalho no que diz
respeito à aprendizagem do trompete.

Como professora do instrumento acima referido, quero com este estudo mostrar
quais as principais problemáticas que existem em alunos de iniciação de trompete.

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Aprendizagem do trompete

O principal objetivo das aulas de instrumento é dotar os alunos de competências


técnicas e musicais de forma a troná-los autossuficientes na resolução de problemas
com os quais se vierem a deparar ao longo das suas vidas enquanto trompetistas. O
trompete é um instrumento com apenas três pistões e requer uma grande coordenação
entre o controlo do ar, da língua e dos dedos e esta questão no início pode ser bastante
complicada, pois normalmente os alunos não costumam ter os dedos ativos, ou a
articulação não está coordenada com os dedos (Charrinho, 2015).

Para aprender a tocar trompete é necessário o aluno seja dedicado e envolvido


no que está a aprender, pois para conseguir dominar as questões físicas, técnicas e
musicais o aluno tem de perceber o que está a fazer. O professor tem um papel muito
importante para a aprendizagem do aluno, dado que é este que tem de conseguir ajudar
o aluno em todas as suas questões e tem de perceber qual o trabalho que deve fazer
com cada aluno (Charrinho, 2015).

Os principais elementos do trabalho de base para o trompete são: a respiração,


a embocadura, a articulação, a flexibilidade, a técnica e o som. A respiração engloba
todos os aspetos relacionados com o ar: inspiração (que deve ser feita pela boca),
expiração, a caixa torácica e o diafragma. A embocadura engloba tudo o que tem a ver
com o uso dos músculos faciais e dos lábios contra o bocal. A embocadura é a forma
como se colocam os lábios num instrumento de metal, para ele emitir som através da
vibração dos lábios. Uma embocadura adequada permite ao trompetista tocar toda a
extensão do trompete, manter o som limpo e evitar possíveis lesões. A articulação
engloba todas as questões relacionadas com o stacatto e com a colocação da língua nos
diferentes tipos de stacatto e nos diferentes registos do instrumento. A flexibilidade é a
coordenação entre a velocidade da passagem do ar e a colocação da língua nos
diferentes registos e harmónicos. A técnica é um termo usado pelos trompetistas para
designar a técnica de dedos. O som é trabalhado no sentido em que se tenta procurar a
melhor qualidade sonora e o controlo do som (Charrinho, 2015).

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Alguns objetivos do programa da disciplina de trompete referente ao 1º grau

Segundo o programa de trompete do ensino artístico especializado do


conservatório – Escola de Artes do Governo Regional da Madeira, os alunos de trompete
de iniciação devem conseguir atingir os seguintes objetivos:

• Controlar a respiração através de exercícios básicos (com e sem


instrumento);
• Obter uma boa coluna de ar.
• Adquirir competências básicas ao nível da vibração dos lábios;
• Adquirir competências básicas ao nível da vibração com o bocal (buzzing);
• Adquirir uma boa posição da boca – embocadura;
• Adquirir uma postura corporal adequada;
• Sensibilizar para a busca de uma boa sonoridade através da execução de
notas longas e sustentadas;
• Adquirir competências básicas ao nível da pulsação;
• Distinguir e executar o staccato simples e o legato;
• Executar pequenas peças musicais;
• Adquirir o hábito de tocar em público com confiança.

Principais problemas dos alunos de iniciação de trompete

Quando um aluno inicia a sua aprendizagem do trompete este não tem noção de
todos os parâmetros que tem de respeitar e o papel do professor é muito importante
para que o aluno se consiga desenvolver corretamente. Como tal deve estar atento a
todos os objetivos que se devem cumprir para que o aluno se consiga desenvolver
corretamente e quando um aluno está a fazer algo de errado o professor deve corrigi-lo
e explicar o porquê e como deve corrigir o erro. De acordo com a minha experiência as
principais problemáticas dos alunos de trompete são a respiração, a postura e o registo.

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Problema 1 – respiração

A respiração é um elemento fundamental na prática de um instrumento de sopro


e deve ser a primeira etapa na aprendizagem. É considerado respiração o ato de respirar,
inspirar e expirar, no qual se efetuam troca de gases. Neste processo as células usam o
oxigénio para produzir energia, eliminando o dióxido de carbono. A inspiração é o
momento em que o ar entra nos pulmões e afeta toda a área envolvente. O diafragma
contrai -se para baixo, as costelas expandem-se e o tórax é elevado. A expiração é o
momento em que o ar armazenado anteriormente é expelido para fora. Neste
movimento associam-se os músculos abdominais e intercostais. Existem várias formas
de respiração, no entanto as mais usadas no estudo do trompete é a respiração torácica,
a respiração intercostal e a respiração abdominal, sendo esta última a mais indicada pois
permite ao trompetista uma maior amplitude sonora, frases mais longas e um melhor
controlo da afinação. A respiração abdominal usa os pulmões na sua plenitude, visto
que alarga a área pulmonar com o diafragma e este pode impulsionar a coluna de ar de
uma forma mais controlada (Charrinho, 2015).

Para a prática de um instrumento de sopro a respiração é um elemento


fundamental. Normalmente os alunos não têm em atenção a maneira como respiram e
muitas das vezes respiram de uma forma qualquer e não têm noção de como devem
respirar. Quando os alunos têm de executar um estudo em que o andamento é mais
lento estes devem ter uma respiração mais lenta, quando têm um andamento mais
rápido devem ter uma respiração mais rápida, quando entram em anacruse tem de
inspirar de uma forma, quando entram num primeiro tempo devem inspirar de outra
forma. A meu ver o professor deve fazer exercícios de respiração com o aluno,
principalmente no início, para que este possa perceber o que deve fazer e o porquê de
o fazer.

Problema 2 - postura

De uma maneira geral, os estudo referentes ao posicionamento correto da


postura têm como objetivo o alinhamento da coluna vertebral. Segundo Verderi, através
de Beltrami (2008,3) postura é a maneira particular de sustentação do corpo, do ponto
de vista estático e dinâmica. A coluna sofre uma pressão considerável quando se

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permanece numa posição inadequada por um longo período, o que promove músculos
tensos, dolorosos e, consequentemente, ligamentos dolorosos. Segundo Henes, através
de Beltrami (2008,3) os erros da postura de um trompetista numa situação de
nervosismo são: encurvar a espinha, posicionar o pescoço para trás e sentar muito na
ponta da cadeira. Todos estes fatores dificultam a respiração, bloqueando a garganta e
tórax superior (Beltrami, 2008).

Normalmente os alunos de iniciação de trompete tem uma postura inadequada,


pois colocam o trompete muito para baixo, ou põe o pescoço inclinado mais para um
lado, ou levantam demasiado a cabeça, outros não agarram corretamente o trompete e
isso pode condicionar a sua postura. Para todos estes aspetos o professor deve estar
atento e corrigir o aluno no que este faz incorretamente. O instrumentista deve estar
firme e perceber como se deve posicionar e agarrar no instrumento, pois o instrumento
não faz nada sem a vontade e ordem do instrumentista.

Problema 3 - Registo

Se um trompetista tiver uma embocadura adequada este conseguirá tocar toda


a extensão do trompete, no entanto, esta não é nada se o instrumentista não tiver uma
boa coluna de ar, isto porque a embocadura só vibra quando é ativada pelo sopro. A
coluna de ar é responsável pela ativação dos lábios e consequentemente pelo som que
produzimos. Se um aluno desenvolver uma boa coluna de ar será muito mais fácil que
este não tenha alguns problemas, como o excesso de força e de pressão e conseguirá
desenvolver melhor a sua resistência, flexibilidade, o seu registo e conseguirá fazer
melhor as diferenças de dinâmicas. Para o aluno ter um bom controlo da sua coluna de
ar deve pensar que no registo grave a velocidade do ar é mais lenta e no registo agudo
é mais rápida e não deve confundir velocidade de ar com pressão. Se o aluno estiver
consciente desta ideia e posicionar a sua língua corretamente será muito mais fácil
conseguir ter um registo maior no trompete, pois sem a língua não se consegue
controlar a altura das notas. Para que o aluno se aperceba do que tem de fazer o
professor deve explicar-lhe esta ideia e corrigi-lo no que estiver a fazer de incorreto.
(Longo, 2007)

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Segundo a minha experiência, normalmente os alunos de iniciação não têm um
grande registo pois ainda não se aperceberam daquilo que tem de fazer para conseguir
tocar notas mais agudas, principalmente a partir do Dó4. Mas também é importante que
os alunos consigam dominar bem o registo grave. Os alunos começam a ter maior
dificuldade a partir do registo médio pois fazem muita pressão e não pensam na coluna
de ar. Quando começam a fazer demasiada força para conseguir dar notas mais agudas
que o Sol3 os alunos ficam cansados mais rapidamente do que se estivessem a pensar
na coluna de ar e no posicionamento da língua. O professor deve dizer ao aluno o que
este tem de fazer e o que está a fazer mal, isto para que o aluno ganhe uma maior
consciência daquilo que tem de fazer.

Considerações Finais

Após o exposto concluo que para ser um bom trompetista tem de se ter
consciência de tudo o que se faz e de tudo o que se tem de fazer quando se está a
trabalhar. Os principais elementos do trabalho de base para o trompete são: a
respiração, a embocadura, a articulação, a flexibilidade, a técnica e o som. E destes o
alunos de iniciação têm mais dificuldade em ter consciência de ter uma respiração
correta e no tempo certo. Outro aspeto que os alunos de 1ºgrau não costumam dar
atenção é a postura que costuma ser de qualquer forma. Tanto na respiração como na
postura o professor desde cedo tem de dar a entender ao aluno que são aspetos que
tem de ser trabalhados corretamente, pois uma má postura pode causar lesões e
dificulta na coluna de ar, que é essencial para um bom som e uma má respiração
também influência a coluna de ar como ponto negativo. Outro aspeto que costuma ser
um ponto negativo para os alunos de iniciação é o registo, pois ainda não percebem o
que tem de fazer para ter uma boa coluna de ar, onde colocar a língua para as notas
mais agudas. O professor tem um papel fundamental no que diz respeito às alterações
que os alunos devem fazer para conseguir melhorar os aspetos em que têm mais
dificuldade. O trabalho no registo é um processo mais demorado e devemos deixar que
os alunos percebem bem o que tem de fazer ao coordenar a coluna de ar com a língua

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e não devemos querer que os alunos façam alguma coisa sem perceberem o que têm
de fazer.

Referências Bibliográficas

Beltrami, C. O. (2008). Estudos dirigidos para grupos de trompete: fundamentos


técnicos e interpretativos. (Dissertação). Universidade Estadual de Campinas, Instituto
de Artes.
Charrinho, S. F. F. (2015). Abordagem comparativa ao ensino do trompete na
música clássica e no jazz: um estudo de caso. (Dissertação). Universidade Lusíada de
Lisboa, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Academia Nacional Superior de
Orquestra, Metropolitana.
Conservatório – Escola de Artes (s.d.). Ensino Artístico Especializado – Programa
de trompete. Secretaria Regional de Educação, Conservatório – Escola de Artes,
Engenheiro Luíz Peter Clode, Governo Regional da Madeira. Disponível em:
https://www.conservatorioescoladasartes.com/wp-content/uploads/2018/11/EAE-
Programa-de-TROMPETE.pdf
Longo, R. M. (2007). A embocadura eficiente para o músico trompetista: Um
estudo baseado nas idéias e pesquisas realizadas pelo Prof. Edgar Batista dos Santos.
Disponível em: https://pt.slideshare.net/05031976/a-embocadura-eficiente-para-o-
musico-trompetista

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