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.· Lazer é coisa séria?

Ê verdade que a
· maioria das pessoas o vê como um
simples passatempo, mas o lazer .
interfere decisivamente nas relações
JamHiare-s, -religlosas; políticas, e -··
mesmo nas relações de trabalho. Vem
crescendo em tempo e importância
desde o começo do século, quando
os movimentos sindicais passaram a .
reivindicar reduções r,1a jorn~da de
trabalho. Hoje, um trabalhador urbano ·
tem, em média, 30 horas semanais de
lazer. Uma conquista séria, porque
lazer é coisa séria. Af_inal, ·
lazer é pura dive~o.
·Luiz O. Lima Camargo

O QUE É
LAZER
editora brasiliense edito~~ brasiliense
. 1
. '
O que é Lazer 71

s fveis de· serem discutidas .e reinterpretadas. O


ritmo é ao mesmo tempo controlado por si e pelos·
demais participantes. A criança certamente deve se
perguntar por que a e~ola não é assim, ou deve,
quem sabe, sonhar com um lugar futuro no mer-
. cado de trabalho, onde esse estilo dê aplicação e
de sociabilidade possa $er mantido. Ou deve inda-
gar a si mesma por que a vida doméstica tem um
clima diferente. ·
LAZER -E EDUCAÇÃO No bate-papo inconseqüente após o trabalho, o
que importa á. a conquist~ de um _tempo menos
opressivo,- menos guiado por::objetivos ·me')suráveis.
Também devem surgir perguntas: não existe um
Processo educativo no lazer trabalho assim? :
O lazer é um modelo cultural de prática social
.Até agora tentei mostrar q_ue as . atividades de que interfere no desenvolvimento pe5$oal e social
lazer; mesmo a·s '· q4e _parecem: inconseqüentes, dos indivíduos. Esta é a chamada _educação ·;nfÕ-
repousam sobre uma dinâmica social bastante formal, numa sociedade que, ·não apenas através
-. ·. da escola ou da famma, mas também -dos seus ·
complexa. · •. · · · ·•-
, .,

Numa pelada de rua existe algo mais do que a pontos de encontro, das informações difusas de
· bola correndo de pé em pé e deba»«> dos auto- tevê, jornais, out-doors, cinema, bate-papos, se
móveis. .Num aperitivo após o trabalho, existe algo converte numa sociedade educativa. Esse desen-
-·mais· p;ofundo do que o blá-blâ-blá das pessoas, volvimento será positivo ou negativo? Esses mode-
correndo sobre vários temas ou mesmo nenhum. los lúdicos auxiliam as pessoas a suportar os limi-
tes à expressão pessoal existent~s no trabalho,
na famma, ou as desajustam?
A educação informal . Os baixos índices de sucesso na escola, a baixa
freqüência a sindicatos, a fraca adesão afetiva ao
A .pelada tem regras. Ora é o ·gol, ora é o "joão- . trabalho não têm as mesmas causas?
-bobo". Mas mesino estas regras centrais são pos-
\.
....
Luiz Octávio de Lima Camargo O que é Lazer 73

O jogo cie _Penélope·

. O processo da educação informal é parecido com


o jogo de Penélope, a mulher.do guerreiro-AJlisses,
' que, assediada pelos pretendentes durante a longa
ausência do marido, prometia-lhes conceder . os
s-eus favores assim que . terminasse uma peça que
cosia durante o dia e descosia de noite.
O tempo de Jazer, para desespero de pais e edu-
·-:.·. :~· '.badores escolaré$ ou pot fticos, -repete_esse jogo. No - -·
_.·_ · ~-·r~empo de lazer, todos os indiv(duos agem à manei• -
.-:,a de Penélope. Assimilam, digerem ou expelem,
segundo motivações íntimas próprias, tudo o que
vem como . norma, como prescrição ou mesmo
como sugestão dás · instituições de base da socie- 1.
dade - o trabalho, a família, a religião, o partido · 1
político, quando ainda contaminados por atitudes
autoritárias.
l!
~- por esse motivo que alguns estudiosos dizem 1
que o lazer é o tempo da anarquia cultural. Con- !1
trolar essa anarquia é o sonho d.Q. p9_d_er familiar, . 1
profissional, religioso ou político. Sobretudo das
ditaduras políticas, cuja fantasia é de que, se pene-
. trarem nesslr tempo tão rico e misterioso, conse- l
guirão o poder total sobre os cidadãos. 1
Na prática, felizmente, eles ounca tiv~ram
sucesso. A afirmação de que o. governo Médici se
firmou graças à Copa do Mundo de 1970 é, no O bate:.Papo após o trabalho é importante pela conquista
mfmino, temerária. Por que João Goulart não con- de um tempo de descontração. /
Luiz Octávio de Lima Camargo O que é Lazer . 75·
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seguiu o mesmo em 1962, tendo adotado pro}eto do Grande-1 rmão.
semelhante de beneficiar-se politicamente do resul- É natural acrescentar que a existência de um
tado esportivo? Por que Mussolini, após um bicam- tempo de lazer estimulador da liberdade de esco-
peonato mu·ndial da Itália em 193~ e 1938, e dos lha, da gratuidade, do prazer, tenha contribuído
jogos olímpicos de 1936, conduztd<;>s dentro d? para esse fim.
seu projeto político, terminou poucos anos depois
chacinado pela população?
Há efetivamente políticos que se promovem Educação não-formal ou animação cultural
através do lazer. Mas é difícil responder a que se
deve realmente seu êxito: se ao lazer que propor- Este tempo de lazer seria, então, impermeável
clo-naraffi ou~ · antes;· a outros _atributos. que a
0

a qu.a!quer. tipo J~e _açijg ed_llcativa? Não.- Mas é
população leva preferencialmente en:i conta ? que um tempo onde o ·aiscursó autóritárfo é fatalmente ..
são glamurizados pela ligação com os eleitores rejeitado. A expressão lazer dirigido · é falsa se se
quiser insinuar que é possível induzir as pessoas a ·
através do lazer.
País e educadores também estão sujeitos à ten- · fazerem algum tipo de lazer. Não se pode obrigar
tação de controlar este jogo de Penélope dos alguém a se divertir ou a fazer alguma coisa desin-
filhos e alunos. Téntam escolher par~ eles ~s moda- teressadamente.
lidade lúdicas que consideram majs adequadas O lazer abre um campo educativo não para se
para o futuro, na companhia que lhes parece mais aprender coisas, · mas para se exercitar equilibra-
promissora. O sucesso nessa tarefa·· é sempre damente as possibilidades da participação social
lúdica. A esse processo ·se denomina educação
ilusório. não-formal ou animação cultural ou, ainda, ani-
Ainda bem , é o caso de s~-~~e.-
dizer. Esse tempo de .
anarquia cultural, que pode se expressar através mação cultural ou, ainda, animação sócio-cultural.
da negativa velada ou na . revolta· assumida contra Seu objetivo é mostrar que o exercício de ativi-
· os projetos autoritários do poder,. é um refúgio dades .voluntárias, desinteressadas, prazerosas e
contra os d~sfgnios totalitários. Se não existisse liberatórias pode ser o momento ·para uma aber-
esse tempo, já teríamos vivido o 1984 de Orwell. tura a uma vida cultural intensa, diversificada e
A população que apedrejou as peruas. da Rede equilibrada com as obrigações profissionais, famh
Globo , no início da campanha das "diretas-ja", liares, religiosa·s e políticas.
. . · Pode ser, assim, uma educação para o_ lazer ou
estaria hoje escutando a voz solene e misteriosa
76 Luiz Octávio de Lima Camargo O que é Lazer 77
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através do iazer. Este é o conteúdo ·d os dois pró- um curso.
ximos capítulos, nos quais exprimo a visão de, uma Esta situação demonstra o peso do lazer no
corrente de animação cultural que eu ·estimo a · desenvolvimento pessoal e social · dos indivíduos
!TIªi~_:.:P._r~Qr~S§~sta. Ê clarJL_.g~_e existem outras e a atenção necessária dos educadores para que a
correntes. O discurso pedag6g1c!O da animaçãcf·cul- . oposição entre lazer tr:trabalh.011.não seja uma.-fQnté
tural ou da educação não-formal reproduz as de desajuste do indivíduo consigo mesmo e ·com·a _·
mesmas perplexidades do discurso educacional socied~de.
geral, com um nuànça importànte: não há curr(cu- Com as obrigações familiares, religiosas e políti- ·
los nerri diplomas; é voltado ao dia-a-dia e, por . cas ocorre fenômeno semelhante. · A rotina das
::i_:· -~~--;;is~ mesmo, ~--·_ c heio de armadilhas.- Exprimir esse obrigações, a dificuldade de se manter aceso o
i - · .:; .··discurso á um risco que e~ aceito correr. ·. ideal do dever paterno/materno, da integração com
.J-- uma divindade ou da responsa~ilidade peio bem .
comum diante de concorrência com um lazer
" I'
1
1
diversificado, colorido, animado, constituem um
1
problema para educadores que se propõem a tra-
A educação através do lazer . balhar nessas áreas. ·Como, ao mesmo -tempo,
estimular a busca da real ização pessoal e os limi-
Uma pesquisa internacional, realizada em 1979 e tes naturais que o dever familiar, religioso ou pol í-
1980, pelo Instituto Gallup, em diferentes países tico impõe à individualidade?
do Ocidente e do Oriente, mostrou que, nos·pafses
ocidentais, a maioria dos jovens confia no tempo
. livrer .mais do qu'e no tempo de trabalho; como · ~- .

campo de realização pessoal. Ou seja, ao ingressar Equilíbrio entre lazar--e tramdho· .


no mercado de trabalho, os jovens, hoje, sabem profissional/escolar
de antemão que o emprego a eles reservado dificil-
mente será uma oportunidade de criatividade, de A escola e o trabalho são formas obrigatórias de
enriquecimento da personalidade. Esta realização integração do indivíduo com a sociedade. ·se o
deverá ser buscada, assim, nas ações cotidianas que indivíduo não demonstra sua situação de estqdante
o rendimento do trabalho poderá proporcionar ou de trabalhador diante de uma autoridade
como um filme, uma .peça de teatro, uma viagem, policial ele está técnicamente na condiçã.o de
!,:! '--- - - - - - - - - - - , - - - - - - - - - - - - ~ ~
, 78 Luiz Octávio de L ima Camargo: O que é Lazer 79

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desocupado, de parasita social, e pode inclusive Ou da extinção pura. e simples dos atuais modelos
ser preso. de trabalho industrial e de escola.
•.
Ora,· com.. a .escola ocorre fenômeno idêntico Essa extinção vem sendo ao longo deste século · N

ao do-tr~bálho·: o da incoMpatibilidade de rltmo. pregada por diferente~.. \JtQP..i~~as. El~s desempe-


entre a aspiração individual e o modelo imposto nham · o papel altamente positivo de mostrar à;
·. de obrigação.' A gránde ,evasãó, e O$ baixos: índi~es sociedade que· t1,1do poderia ser diferente do que é
de sucesso escolar têm, entre hós, a explicação·· da hoj~. Mas nenhum político teria ~ ousadia de
miséria. Mas~ se isso fosse verdade, nos países ricos propor em seus planos eleitorais, du, se eleitos,
. -:: ·._tudo seria ,_diferente, o que .. não é . verdade.i Na de colocar em · prática projetos de · abolição do
. - França, Inglaterra.. é Estados Unidos, o fenômeno . trabalho industrial _e .da escola. A escola obrigató-
- do /aisse-tomber ou do dropout (quer diter~. do ria, por maiores que sejam seus defeitos, foi -um
desinteresse face à escola·e ao -i:rabaiho que· redµri- instrumento fundamental para a redução em parte
da em vagabundagem pur_a e simples) atinge por- das ·desigualdades sociais no acesso aos. meios de
centagens entre trinta e quarenta por cento dos luta pela vida. E o trabalho industrial permitiu à
adolescentes, segundo ·as ·estimativas · mâ_is:-:rna- · humanidade o acesso a condições de bem-estar
listas. Isto quer dizer que, no Brasif, nós temos dois material sem precedentes na história, que hoje
problémas,' -na realidade: um, o da miséri_a, qué são realidade para alguns e aspiração para muitos,
impede o aumento da rede escolar, dos. seus recur- mas, de qualquer forma, como realidade ou aspi-
sos ~ das pessoas para poderem freqüentá-las; . ração, constituem um fato social amplo. A extin~
outro, oculto, o de um modelo escol~r claramente ção da escola é pregada por aqueles que já a fre-
divõrc,ado· do interesse · e tlà aspiração dos...-:adoles- qüentaram, assim como a abolição do atual padrão
.centes. Pensar apenas no primeiro problema é de consumo industriai.é pregada por aqueles que Já
fazer o jogo da avestruz. · têm um autor;nóvel, uma geladeira ou um aparelho
Assim, a busca de um maior equil{brió entre· a · de tevê. Os que estão marginalizados, querem o
obrigação profissional/escolar . e o lazer estaria automóvel e a escola para os fi"lhos. Dê qualquer
na reformulação dos modelos de trabalho profis- forma, extinguir os atuais modelos ·de trabalho e
sional e escolar: abolição das linhas de montagem, escoia seria duplamente utópico: pelos problemas
instituição de horários flexíveis de trabalho, abo- que geraria e pelo êxito mais do que duvidoso na
lição do estilo conventual das escolas; reformulação 1mplen,entação das medidas. .
dos critérios disciplinares e de currículos rígidos. Contudo, há uma ação, mesmo que lenta, a ·ser
Luiz Octávio de Lima Camargo
80 O que é Lazer 81
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desenvolvida na reformulação dos atuais modelos
Equilíbrio entre lazer e obrigação familiar .
de participação profissi·onal e escolar. Mas uma
ação paralela deve, também, ser desenvolvida,
· Os casais e, em especial, as mães lamentam as
. através do próprio lazer, dentro do · campo da
~- inimação cultur.ab. - ·':1Pfl~~nidade~ d.e ~~.zer e entretenimento perdidos
O papel educativo do animador cultural é menos
~o cuidado com a casa e com os tffltos. Deixàr de
ir a uma festa para cuidar de um bebê repentina-
de
•,O de liderar prát.iCc!S de lazer ·e mais o mostrar
m,e~te ~oente é uma situação co111urn. Não resta
as infinitas possibilidades ·de· participação social
e de auto-realizaçãô ·através do lazer. Cabe a ele duvida de qu~, sob a· concorrênc,a dotlazer, existe
motivar os indivíduos ·para criação e desenvol- tam~ém um decHnio da ligação afetiva, às vezes
-~- ... -;~?vime·nto de práticas, dentro do"bai.rro?da escola ou mes!J)o .~!.'1ª ayetsã'q~ para . com às obrigações
domésticas. · ·- · · - ·· ·- · -.
-· .~·.:·.•;·__-da empresa, e de mostrar que a organização âe uma
·_: ·téira no Anhembi exige know-how e recursos espe- A Nestas circunst~ncias,· os modelos de família
cializados e caros, mas que atividade semelhante vem sendo reformulados. Os modelos de submissão
i ,
dos cônjuges entre si e as relações com os filhos
pode ser organizada· dentro da própria escola,
i bairro ou empresa, com recursos· materiais· escas-
se .tornam mais fle~íveJs. Pouco a p_ouco, institui-se
\ sos e cóm a · mão-de-obra dos 'próprios benefi- uma nova divisão do trabalho doméstico. Procu-
ra-s! adiar o nascimento dos filhos até que a fasci-
ciários. . naça.? pelo lazer externo diminua. A ética sexual
Essa iniciativa de animadores profissionais ou de
se hberal iza. As uniões informais já são mais
professores e educadores que assumem ·essa função aceitas pela sociedade. ·
tem a dupla vantagem de, não apenas aliviar a
. .· Contudo, aqui também _há um_Jrabalho educa-
expectativa· sobre as atuais possibilidades de -:- --two, dentro do lazer, a ser;desenvolvido pelo a'ni-
;'.retorno emocional da escola ou do trabalho, bem . mador cultural. _~eria uma espécie de educação
. como e_stimular os alunos e trabalhadores a pres- p~ra o casament9 e para a co-educação de gerações
. sionar para uma reciclagem paulatina dos· modelos diferentes de avós, pais e filhos. . ·
de escola e de empresa, sem danos irreversíveis Cabe ao animador sensibilizar os indivíduos para
para o futuro. a extensão e os limites da afetividade dentro dos
gr~pós d~ iguais, no lazer. _Sem pretender substi-
tuir o psicólogo, ou o aconselhador familiar ele
pode despertar discussões sobre as peculiarid~des .

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Luiz Octávio de Lima Camargo O ·que é Lazer . 83
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e diferenças entre· a sociabilidade que existe entre limiar fácil de ser rompido entre o lazer desinteres-
amigos num bar e no interior da família: em que sado e a participação orientada ·para mudanças na
medida o prazer da convivência vivida intensa- sociedade. Toda e qualquer participação social,
mente entre amigos pode substituir ou comple- efetiva e continuada, mesmo no lazer, constitui
mentar a plenitude afetiva do amor a uma outra ... _·... 4ma ,Qarticipação . pQ!_(tica, em senti~:Jo amplo, e
f{ê~ôà ou· aos filhos que -geram juntos? A ação --·-pode terminar na ação .. política institucional. É
educativa no laier requer uma análise sobre as for- · por este motivo que ·muitos animadores culturais
mas sociais.de intercâmbio afetivo: de que forma a consideram-se,também, militantes do movimento
riqueza da troca psiê9l(,giéa possível nos conta~os em
político, sentido estrito, ou acabam pura e sim-
variados, dentro do lazer, pode complementar ou plesmente por transferirem-se de armas e bagagens
substituir a profundidadEL_.do intercâ~bio cultural para a luta pol ítico:-partidária, em busca de uma
.-·~·--entre-=gerações familiares que trazem um pótito de -- ação mais eficaz de mudança. · · ·
vista diferente sobre fatos vividos conjuntamente? O cuidado educativo do animador cultural deve
ser, no caso, outro: o de evitar que suas ações sejam
apropriadas acriticamente pela política partidária,
Equilíbrio entre la~er:......~..... participação polít~~ _principalmente pelo partidô no poder, que dispõe ·
.- -- . - - - . . . - - ,-·
•· - • -'~.. ~
de maior capacidade de persuasão. A adesão acrí-
Já falei .rapidamente,. no capítulo 3 da 2~ parte tica significa, no caso, uma aceitação impensada do
sobre este fato: as campanhas políticas e os eventos discurso de um determinado partido ou a trans- ~
sindicais hoje estão repletos de conteúdos de lazer formação da ação cultural em militância política
ou recorrem pura e simplesmente a pérsonalidades pura e simples, sem o necessário consenso entre
que povoam o lazer cotidiano da população - 9s particip~n_tes. . . . · . _. _ --·-~·
átores, . escritôrest atletas. Ou. seja: as formas de -s... T~- • As relações cóm o poderinstalãâo são sempre
participação político-partidária e sindical evolui- difíceis. Existe a necessidade. de subvenções, que
ram e incorporaram o lazer1 ultrapassando a antiga conflita com o desejo da independência ideológica.
barreira de desconfiança.. Hoje já se acéita que o Os animadores devem saber impor-se, sem aceitar_
lazer não é necessariamente alienante, ao contrá- · a vinculação dessas circunstâncias. Subvencionar
rio, ele pode ·· até incentivar um engajamento a ações culturais educativas é dever do Estado
compromissos sociais políticos e sindicais. democrático, mesmo que as atividades veiculem
1sto significa, também, que enfim se percebe o também o ponto de vista dos partidos contrários.
....
84 Luiz Octávio de Lima Camargo O que é Lazer 85

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Não é fácil, mas deve ser tentado. No fundo o problema é o mesmo: consomem-se
obras prontas, bem acabadas, o que, em si, é bom e
desejável, desde que não se iniba a pr6pria capaci-
dade de produzir ou, ao menos, de criticar. :.. ..: ~-
A_.educação para o lazer· ·_..__·. . · !, AlertEt-sà que ensinar a praticar diferentes moda- --.---;
!idades de .lazer não é preparar o futuro virtuose.
-~Falei, no capítulo anterior, ·na necessidad~ de As academias tradicionais de música, de .ginástica;
.;I . . sel mostrar as imensas .possibilidades de realização de esportes, as. escolas de teatro, de cinema, de
' pessoal e social no lazer~ O que isto significa? fotografia, etc. são -enfadonhas e ostentam grandes
índices de evasão por terem_em vista modelos em-
~~~ --~-~ quilíbrio entre a produção e =- '-' ditos de prática física ou artística e não a _prática
.. .
.o.oonsumo cultural - . desinteressada no lazer. Ou seja, querem repetir
-. ..... -·. . no lazer o modelo escolar. ·
.: · · · Ainda _que não se justifiquem as afirmações A preparação de um artista-virtuose no esporte,
·-de...que o .tempo de lazer é urr tempo de ~onsun:io, na música, na literatura, no teatro, exige longos e
a HI parte deste livro procurou-mostrar que a maior difíceis anos de aprendizado. Mas todos os espor-
parcela do tempo de lazer é um tempo de expo- tes e modalidades artísticas podem ser assimilados,
sição à produção cultural de outros, sobre~udo em seus rudimentos; num tempo bastante · curto.
através dos meios eletrônicos, como a televisão, . ·· Existe uma pedagogia renovada nó lazer que liga
o rádio, o disco. o aprendizado das modalidades a~o prazer da ex-
A educação para o lazer · consiste, assim, em . pressão e não à expectativa do sucesso com~rcia! ,.
antes de mais nada estimul"r a prqdução cultural --.o u êio aplauso. Em menos de um ano de treina-..... .
pr{>pria, a_inda que ~~letante: a prã~icá -de es~rtes, menfo, ou mesmo, em alguns meses, pode-se des-
A - da-~ginást1ca, de at1v1dades manuais, a redaçao de frutar do prazer da natação~ do violão, do piano, da
cartas contos, poesias, romances, peças de teatro, composição literária ou musical, da pintura, da
a
a &~posição musical, fotografia, etc. Habitual- escultura e, ao mesmo tempo, aprimorar com mais
mente, as .pessoas julgam de~estável a su~stituição _profundidade à capacidade de analisar os obstá-
de uma pelada pela assistência de jogos ·esportivos c~fos que os gênios dessas modalidades tiveram de
pela tevê, e consideram natural e deselável a _assis- suplantar para produzir suas obras-primas.
tência de filmes, peças de teatro, a leitura de. hvros. Enfim, as pedagogias renovadas no lazer buscam
.. ~ - - - ·:\.

Luiz Octávio de Limil rmnargo OqueéLázer


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simultaneamente introduzir a prática criativa des- na Europa e nos Estados Uriidos, iniciam com
.pretenciosa, dentro das necessidades lúdicas do · um... anamnese d~ vid~ cul:tural, ou seja, a recupe- .
cotidiano, . e aprimorar a apreciação crítica das raçao das tentativas frustradas de aprimoramento -,..
obras dos gênios. . em todas as áreas de . interesse· cultural, buscand~ ~ -
recom.e.§.:fas de_ forma equ!librada no lazerprese11t-~. . ,,. .
te. E~a modahdade d~ açao é dispendíosa, séndo;-·· ·- -- · ·
Diversificaçlo dos interes~ culturais por isso, voltada basicamente para executivos e
em.l?r~sários mais expostos ao stress do trabalho, e
O perigo a ser combatido aqui é o da monocul- ODJet1va· recompor O equilíbrio não apenas entre
tura no làzer, sobretudo a tr,diçipnal oposição consumo e prática cultural no lazer como entre
e
entre cultura do corpo- cultura dà mente, enire as pos!:ibilidades . de. expressão física, manual,
os esportes e a arte. Esse problema é encaJninhado~ artística, intelectual e associativa.
através da animação cultural, de formas variadas.
· Em primeiro lugar, através da organização física
dos centros culturais em esp~os ~e p.táti~ poliva- Educação para a tolerância
lente e integràda, onde ginástica, esportes, artes,··
criatividade manual, -~te.; estã~ interligados. Outra A sociabilidade no lazer é rica d~ contatos ·so- ·
metodol.9gia utilizad.a pela pedagogia da animação ?iais yari~dos, em um momento propício ao
cultural é a integração de atividades diferentes volta- 1ntercamb10 de idéias e de·experiências; Contudo o::-i•
das ·para o mesmo tema. A técnica de programação tem~o de !azer é també'!1 um tempo precioso p~ra?
consiste, no caso, em diversificar os meios técnicos a afirmaçao de um estilo próprio de comporta- .
de difusão e de prática cultural 'éeriti-àdas num· mes- · __ .r:rt.~!:,),,t o, através de gestos~ roupas, atitudes. ·-:
mo assunto. Por exemplo, complementar-uma expo- As classes culturais no fazer são variadas·,e nã&- ~~
sição sobre .c ultura popular tradicional~ onde estarão se_ confundem · com' as classes sócio-econômicas·
presentes as ·o br_ijs. mais· representativas da criativi- criadas p_elo trabalho ou pela posse de bens, ainda .
dade manual popular, com espetáculos e cursos de que guardem alguma relação. A sociabilidade no
danças folclóricos, teatro de circo e modalidades de lazer s~scita basicam«;_nte a .divisão entre grupos de
prática física tradicional (no caso · do Brasil, · a uma ética de expressao mais conservadora ou mais
capoeira, a corrida-de-saco, o pau-de-sebo, etc.) renovada, com todos os matizes intermediários
Os consultórios de fazer, atualmente em difusão criados peta sucessão de modas, cada uma com os
,J
Luiz Octávio de Lima Camargo . O que é Lazer 89

seus estereótipos e seus preconceitos em relação da gestão ec9nômica ou política da sociedade.


às demais. A pedagogia da animação procura mini- Conhecem-se países, hoje, com um grau de dis-
mizar ·as perdas de contato humano provocadas tribuição de renda ou com canais de acesso à
pela ::~enQJ<?b~~ cu ltur~I, ..o~.seja, pelo isolamento administração política bastante próximos do ideal.
dos- que- se estirr1ãm ··J1lerentes; a partir~e uma Mas nãa se conheée- nehuma sociedade.,ôhde:..a •vida ..
catalogação inicial apreciada: p~r que não se falaf cultural não seja dominada pela indústria cultural
"fde trabalho com alguém vestido à mod_a "bicho.; ou seu equivalente governamental, onde a prática
· ; --\grilo" ?Por qu·e · não·se··falar em g.fri:a: com .alguém. do esporte~ a freqüência ao, bom: teatro, .ou ao bom
vestido de·terno e gravata? , 1 cinema sejam realidade para a maioria · da popu-
. ._ -.• · A educação para .. a tolerância ·é essencial. dentro ,
'7>de uma pedagogia de animação cultural, ainda que
1
,:
lação. No que diz respeito aos indicadores do
desenvolvlqlentQ;econõmico ou político, bá :países:;::·
·-:.:. -: seus instrumentos sejam bastante limitados para ·se desenvolvidos e subdesenvolvidos. No plano cul- .-
..:..: atingir objetivo tão distante. Os centros culturais tural, todos os países são subdesenvolvidos. ·
·· · · são, contudo, pertinazes na busca de uma aproxi- As iniciativas para a democratização de bens cul-·
. ·" · mação mai_or entre classes_. culturais difr~~entes, turais esbarram em diversos obstáculos. Começam
1 através de debates, cartazes, estimulando o encon- por beneficiar em primeiro lugar e quase ·sempre
tro, como desestimulando . atitudes agressivas apenas os que já tinham acesso a esses bens. E
entre classes culturais: afinal, tirar a própria roupa quase nunca se ~ustentam até que os resultados
pode ser um ato estético num palco mas é, ·sem mais expressivo~ apareçam. As vezes, tàmbém,
dúvida, agressivo e de màu gosto, num· restaurante incorrem no erro de imaginar que a renda das pes-
.
fechado
-- .. .. e-abafado.
- - soas é o único fator de marginalização no acesso a
-.,: ... :_ ~. - .
.
bens culturais. Dh::$~;_por··exemplo, que--o t~nl$: __· .
é uni _esporte de ricos. Na realidade, é um esporte
~;:Oemocnitizaçio da cultura de 2% dos rfcos, segundo pesquisa recente do
lnstituro. Gallup em São Paulo. Ou seja, a maioria·
É o objetivo número um de todas a·s variantes · de todas as classes sócio-econômicas não se inte-
de pedagogias de animação cultural, assim como ressa pelo tênis ou pela ópera, ou por Guimarães
a primeira palavra de ordem em
todós·ós discu~sos Rosa ou por Picasso.
de políticos ligados à cultura. Nà realidade, é um Na realidade, um universitárió pobre de São
sonho ainda mais difícil do que a democratização Paulo pode ter um lazer muito mais diversificado e
/
Luiz Octávio de Lima Camargo O que é Lazer 91
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rico do que um empresário bem-sucedido de uma cios à ação educativa, até hoje relegados pelo· setor ·
pequ~na cidade do interior. Além de renda_, ou~ros econômico do turismo : a fase anterior, a viagem~.em
fatores como idade, sexo, local de moradia, ntvel · si, e a fase posterior. "fí
cultural dos pais desempenham papel deter- A fase anterior é a da curiosidade pelos Jocais
.... minârtte;·' ~ - . --.. . .-~► -.i;.¼ t ~• •✓ . ~ · - - ·-· -- · ·"

que se irá visitàr: Uma p·esquisa na Fràhçà''rnostrou


..,.:,-,. . - - - -- ~

Uma política dé ·democrat_iz~ão de bens cultu- que as pecúliaridades de ·outrc~s regiões e países
. rais deve, a~im, afrontàr tódq~_es~s -obstáculos, . constituem o maior interesse· intelectual extra-
e- pressionar para obtê-la deve ~r a luta ~aior dos -escolar dos indivíduos. Mesrilo que _ta! afirmação
animadores culturais sobre a sociedade. não seja· válida para a sociedade brasileira, ela nos
Esta meta de.ve ser mantida,. ainda que sem ilu- permite aferir o campo educativo que se abre no
sões para · não : cair no :_desânimo, ·na -fyustração. período anterior a urna viagem. ·Uma· pedagogia da
E da mesma forma que os economistas em relação
aos indicadores econômicos, os ganhos, ainda
que de um por _cento, devem ser festejados. Sem
animação cultural aí encontra um espaço privilegia-
do de difusão de filmes, livros, romances, palestras.
As viagens em si normalmente·são confinadas em
.. .
se aceitar reducionismos do tipo de que política hotéis e passeios estereotipados que praticamente
cultural em pa(ses pobres é luxo. N~ realidade, é ··
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impedem o contato co·m a cLiltÚra da região que se
um desafio a mais para os países pobres, já que a visita. A·' integração com grupos locais, para um
abundância dos países ricos também não conse- conhecimento mais autêntico das peculiarid 4des,
guiu resolvê-la. é outra diretriz do movimento de turismo sôêial.
As viagens, mais do que a oportunidadé de pessoas
conhecerem outros locais, transformam~se numa
.. Turismo social
-.,..._.,.."T-----~-- - -- - . -
integração• e num...c.or:ftato entre grupos de regiões- ..:. · _;,
ou países diferentes. O turismo religioso encontra
O turismo é _tido como uma das mais nobres aqui sua expressão educativa máxima, já quer às ·
·atividades de lazer. O alto custo de uma viagem vezes a~~ mesmo para economizar custos, não se · ·
desestimula particularmente os animadores cultu- utiliza de hotéis, fazendo com que um grüpo
rais e, por esse motivo, o movimento de turismo · receptor hospede o grupo visitante em suas casas.
social deve ser analisado num item ~ parte. A fasé posterior é igualmente rica do ponto de ·
As viagens, mais do que todas as outras ativi- vista educativo. Contudo, os clientes do setor
dades de lazer, criam três tempos bastante propí- econômico do turismo pouco ou nada· aproveitam, I
92 Luiz Octávio de Lima Camargo
O que é Lazer 93
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além das fotos de lugares difíceis de serem reconhe- cientização dos artesãos locais qu~nto aos perigos
cidos após a revelação dos filmes de folhetos e bro- da banalização de seus bens· culturais e aos ricos
churas que acabam no · lixo. A oportunidade de de sua produção erri larga escala.
estímulo à manutenção do intercâmbio associa- Finalmente.,. o · movimento de turismo social
·. -.::,.:,tiva-entre os::membros de um mesmo grupo e entre . ·:~·-- -, -... ~
. procura Tnteffêrir m:>s custôs>'ljas viagen~.. A lem-
;:os grupos p~e e deve ser incentivada, ness~ !empo _brança deste item, ao final, tem sua razão de ser.
ú-Bem como _a montagem de uma expostçao ou Habitualmente, turismo social é confundido com
~f~~ um. audiovisµal. sobre os lugare~ visitados. · turismo pobre, em locais baratos~· Na realidade,
. O turismo social vai além: é uma crítica ao mo- · · é unia tentativa de se restituir à viagem todo o
.. . .. :.;J.ielo ~e colonialismo cu_ltura~_ inere~!~ _à a~ividad_e seu potencial educativo, inclusive mostrando aos
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''t ürística convencional, ·- atraves de · _seus hotéis
clientes que uma viagem rica nio-é necessariamente
- ~-, : •;·

'.. ~ <"~.. impessoais, · que não respeitam a paisagem local, uma viagem cara. Por este rriótivo, se iniciou ao
. : · do aproveitamento da mão-de-obra local em pe- mesmo tempo com trabalhadores e jovens, estes
quena escala e apenas em escalões mais baixos, pela maior disponibilidade em dispensar acomo-
. . - . - do aviltamento da cultura artesanal local, na medi- dações, restaurante~ e meios d_e transporte onerosos,
da em que cria uma demanda exagerada que itens de maior peso no custo de uma viagem.-
termina por aviltá-la, e da poluição que traz. dos
grandes centros emissores. Hoje em dia já se sabe
que esse modelo de turismo não é sempre fator A criança e o lazer eletrônico
de desenvolvimen~o econômico, já que os proble-
mas trazidos às vezes · não compensam os recursos A fascinação das crianças pelo lazer eletrônico -
_ j.
-·- tráz.ídos,•-7 e menos ainda de desénvolvimente . }°" desde a tevê aos.videogàntês e fliperamas - é motivo
~ cultural. As iniciativa~ rec_,omend~da__s pelo m?v,-
-z,:mento de turismo social sao a cnaçao de equipa~
de tormento para us· pais. Os seus t~mas, às vezes
ligados à violência cotidiana, desper_tam receios de
'· mentos físicos capazes de serem geridos pela l
i_
que as crianças venham a ser contaminadas., ..
' população local, · e em sintonia com a pa_isage'}l Há, efetivaroente, dois riscos nessa .modalidade
local; a diversificação do fluxo para o maior nu- de lazer. Um para ser _denunciado, outro para ·
mero qe pontos de interesse conhecido ou pos!í- !
ser evitado pelos pais. Em primeiro lugar, tais
vel de ser despertado, para se evitar a concentraçao jogos refletem. uma cultura lúdica basea~a em
humana poluidora de praias, rios e matas; a cons-
1! · temas e personagens às vezes estranhos à nossa
~
1 _,
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94 Luiz Octávio de Lima Camargo O que é Lazer 95

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cultura, como aliás ocorre com a indústria cultu- O lazer eletrônico destrói o gosto pela vida asso-
ral em geral. Em segundo lugar, a exposição coti~ ciativa? Era uma hipótese a ser estudada, quando ·
.~,diana por longas horas à imagem do. vídeo .pode se viam grandes contingentes de criànças e adult6s
· -~realmente se,....~nosa à saúde da criança. As vezes, numa disputa.:solitáriil com QU_parelhos, nas casas
não há outra alternativa, _em prédios de centros comerciais de videogames, ou quando se notou·
de cidade, sem playgrounds ou áreas de la?er para q~e as pessoas · retiravam suas · cadeiras da calçada
as crianças. De.. resto, não se: vê como toma'r a s~rio para refugiar-se silenciosamente. diante de uma
as críticas correntes sobre o lazer eletrônico. tevê. Hoje se sabe que o lazer eletrônico diminuiu
--'- __ Estimula à violência? Defü1it1vamente não: Esta é a intensidade de âlgumas formas de vida associa-
- ~ -~ urria co~travérsia··an-i:igâ, sobré a qual os meios . ~tiva, mãs, em contr~partida, criou outras. Nos
científicos já chegaram a um consenso: através Estados Unidos, para uma população que pouco ·
. da violência das histórias em quadrinhos ou da tevê aumentou, o número · de associações culturais
ou dos videogames as crianças e mesmo os adultos triplicou de 1945 a 1975, época do apogeu da
descarregam, · projetam, máis do que absorvem, televisão. E muitas dessas associações somente
·modelos de violência·: ·Ha poüçós anos, na Franç~; floresceram graças às possibilidades de difusão .de
uma dupla de marginais saqueou uma residêncià seus objetivos e de suas ações através da -televisão.
do interior e seviciou os moradores no mesmo · O videogame doméstico é üma oportunidade para
estilo da.quadrilha do filme A Laranja Mecânica, de se realimentar a vida associativa •domésticai e
Stanley Kubrick. A polêmica foi enorme. O filme com vizinhos, como, aliás, ocorre com a comprá
teria sido a causa da violência? Ou ·apenas teria do primeiro carro ou do primeiro aparelho de
-forrfoêido -·êlementos para descarga de uma agres- ... . tevê. Prédios organizam . hoje campeonatos · de
sividade · preexistente, cujas raízes estão na pró- videoganies entre :ãicriã-riçâs. .
pria sociedade? Casos semelhantes ocorrem às A àventura do vídeogame substitui a vivência
vezes por aqui: de uma criança que se atirou do prática por uma fantasia? É cfaro, pois de outra
prédio como -se fosse o super-homem ou de crian- forma seria muito difícil para uma criança pilotar
ças que se ferem em jogos ·- imitativos . de seus uma astronave verdadeira num C<'"'lbate nas galá-
heróis. A hipótese mais plaµsível é que sem a des- xias. Ou pilotar uma verdadeiro carro de patrulha
carga através da projeção nos heróis a cujas aven- na lua. O que não é evidente é de que forma
turas assistem, essa agr~ssividade natural das crian- essa fantasia é prejudicfa~I para a criança.. As antigas ·
ças poderia provocar problemas ainda mais sérios. profe~oras censuravam a~ ·histórias em quadrinhos
....
______________________.J .
j
96 Luiz Octávio de Lima Omw11-•

-por inibir a redação. Nada mai's falso. As fantasias


que um texto escrito desperta são de outra natu•
re~a, mas _não necessariamente mais ricas que ua
-de-uma HO ou de üm-videdgame, .,._;.
0 -•

Finalmente, o desembaraço das crianças com os


máquinas eletrônicas cria . um fato .novo para u
vida escolar: p~la primeira vez, as crianças dispõem

;l '
de um entretenimento que não apenas aprimoro
a .; capacidade de aquisição de informações como
~: .-::;'.~-~~":--:~·-:::-:-_~-:~~ ~ ;:L!~mbém . _constit~i _uma aprendizãgerrf~·útir-para
;-?:·_.·:,:: a futura vida prof1ss1onal.

i .

... , ~-- ...

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O lazer eletrônico é ou não prejudicial à criança?

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