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DIREITO CONSTITUCIONAL
Pontos atualizados: nº 15 (Info 930); nº 01 (Info 931); nº 03 (Info 932); nº 18 (Info 933); nº 03
(Info 934); nº 04 (Info 934); nº 15 (Info 934)
Por que fazer essa exigência? Qual a razão disso? A exigência desse registro é para garantir o
respeito ao princípio da unicidade sindical, adotado pela CF/88, em seu art. 8º, II, segundo o
qual é proibida a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial. Assim, o
Ministério do Trabalho controla para que não exista mais de um sindicato, da mesma categoria
profissional ou econômica, na mesma base territorial. Nesse sentido:
Súmula 677-STF: Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do
Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela observância do
princípio da unicidade.
Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que
inexistam reajustes automáticos. Isso não configura afronta ao art. 7º, IV, da CF/88 nem à
SV 4.
STF. 1ª Turma. RE 1077813 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/2/19 (Info 929).
STF. 2ª Turma. ARE 1110094 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/6/18.
Como a decisão da Justiça do Trabalho determina que a atualização salarial ficará vinculada
aos termos do que foi definido em acordo ou convenção coletiva, ela não afronta o art. 7º,
IV, da CF/88 e a SV 4, considerando que não utiliza o salário mínimo como “indexador de base
de cálculo de vantagem”, cuja prática é vedada pela SV nº 4.
Em suma, não viola o art. 7º, IV, da CF/88 o estabelecimento de piso salarial em múltiplos
do salário mínimo do valor à época da contratação, desde que o mesmo não seja indexador
para reajustes futuros:
(...) A decisão que aplica o piso salarial estabelecido no art. 5º da Lei 4.950/66,
mas ressalva a vedação de vinculação aos futuros aumentos do salário mínimo,
está em consonância com o enunciado da Súmula Vinculante 4 e com a decisão
proferida na ADPF 53 MC. (...) STF. 1ª Turma. Rcl 19130 AgR, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 03/03/2015.
Segundo restou apurado, atos de manifestação de pensamento e mesmo aulas teriam sido
interrompidos ou proibidos.
Art. 37 da Lei 9504/97: Os juízes e TRE’s deferiram essas ordens de busca e apreensão alegando
que o art. 37 da Lei 9.504/97 proíbe propaganda eleitoral em universidades públicas:
Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público, ou
que a ele pertençam, e nos bens de uso comum, inclusive postes de iluminação
pública, sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e
outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de
qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta e exposição de placas,
estandartes, faixas, cavaletes, bonecos e assemelhados.
§ 1º A veiculação de propaganda em desacordo com o disposto no caput deste
artigo sujeita o responsável, após a notificação e comprovação, à restauração do
bem e, caso não cumprida no prazo, a multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) a R$ 8.000,00 (oito mil reais).
§ 2º Não é permitida a veiculação de material de propaganda eleitoral em bens
públicos ou particulares, exceto de:
I - bandeiras ao longo de vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o
bom andamento do trânsito de pessoas e veículos;
II - adesivo plástico em automóveis, caminhões, bicicletas, motocicletas e janelas
residenciais, desde que não exceda a 0,5 m² (meio metro quadrado). (...)
ADPF: A PGR ajuizou ADPF contra esse conjunto de atos do Poder Público (decisões judiciais
e ações policiais). Alegou que tais apreensões ultrapassaram os limites de fiscalização do
processo eleitoral e afrontaram o preceito fundamental da liberdade de expressão, na qual
se incluem a livre manifestação do pensamento e de cátedra e a autonomia universitária.
A autonomia universitária, por sua vez, está consagrada no caput do art. 207 CF/88:
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Pediu, portanto, a declaração de nulidade desses atos e que fosse garantido o direito à
liberdade de expressão no ambiente universitário.
Primeira pergunta: cabe ADPF neste caso? SIM. A arguição de descumprimento de preceito
fundamental é uma ação prevista no art. 102, § 1º, da CF/88:
CF/Art. 102 (...)
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta
Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.
Foi editada a Lei 9.882/99 para regulamentar a ADPF. Trata-se de um instrumento de controle
concentrado de constitucionalidade. A competência para julgar a ADPF de que trata o art.
102, § 1º da CF/88 é do STF. As hipóteses de cabimento da ADPF estão previstas no art. 1º da
Lei nº 9.882/99:
Art. 1º A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será
proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar
lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito
fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou
ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição;
E quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido da PGR? SIM. Os atos questionados
violam:
Os princípios constitucionais que asseguram a liberdade de manifestação do
pensamento e
As garantias inerentes à autonomia universitária.
Por isso, toda interpretação de norma jurídica que colida com qualquer daqueles princípios
ou que restrinja ou impeça a manifestação da liberdade é inconstitucional e, portanto,
inválida.
Essa nulidade é ainda mais grave porque a restrição à liberdade de manifestação ocorreu
dentro do ambiente universitário, onde vigora, por força constitucional, a liberdade de
informação, ensino e aprendizagem, além da autonomia universitária.
Finalidade do art. 37 da Lei 9.504/97: A finalidade desta norma é impedir o abuso do poder
econômico e político e preservar a igualdade entre os candidatos no processo. A norma visa,
portanto, resguardar a liberdade do cidadão, o amplo acesso às informações, para que ele
decida conforme sua livre convicção, sem cerceamento direto ou indireto a seu direito de
escolha. Assim, esse artigo não proíbe o exercício das liberdades individuais e públicas, ou
seja, não veda que os cidadãos divulguem suas ideias, opiniões, ideologias. Da mesma forma,
não proíbe as atividades de docência, que devem ser exercidas com liberdade.
Valor cobrado não é tributo; logo, não há violação ao princípio da legalidade tributária: A
quota mensal escolar cobrada dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio
Militar do Brasil não possui natureza tributária. Não se trata de tributo porque o ingresso no
Sistema de Ensino do Exército é facultativo e baseado em critérios meritocráticos. Assim, o
vínculo jurídico do aluno com a instituição possui natureza contratual, de forma que o valor
pago por ele não é tributo. Vale a pena relembrar que o conceito de tributo, previsto no art. 3º
do CTN, exige compulsoriedade e, portanto, exclui de sua abrangência os valores pagos a título
de contrato (ajuste de vontades):
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Uma pergunta: existem alguns colégios militares da Polícia Militar, ou seja, colégios
estaduais mantidos e organizados pela Polícia Militar. É válida a cobrança de mensalidade
ou de outros valores por parte desses colégios? O STF não enfrentou este tema nesta ADI
5082/DF. Os Ministérios Públicos, em âmbito estadual, questionam essa cobrança alegando que
ela violaria o princípio da gratuidade. Veremos como os Tribunais irão interpretar o tema
agora com essa decisão do STF. Será necessário analisar o caso concreto para saber se esses
colégios da Polícia Militar gozam das mesmas características dos Colégios Militares do
Exército, inclusive quanto à questão orçamentária.
2) o titular deverá se afastar do mandato seis meses antes das eleições: Ex:
Auricélio era Prefeito e renunciou ao cargo seis meses antes das eleições a fim de
permitir que seu cunhado Hélio (que é parente por afinidade em segundo grau)
fosse candidato ao mesmo cargo.
Terceiro mandato no mesmo núcleo familiar: O TSE considerou que, se fosse permitido que
Hélio continuasse no cargo de Prefeito e exercesse o mandato de 2017 a 2020, isso significaria
o terceiro mandato consecutivo do mesmo núcleo familiar para o mesmo cargo. Para o TSE,
ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão
sobre qual foi a intenção do legislador constituinte: proibir que pessoas do mesmo núcleo
familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo. Em
outros termos, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos
consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente. Quando Hélio foi eleito em 2012 e
passou a exercer o mandato em 2013, este foi o segundo mandato consecutivo de Prefeito
daquele grupo familiar. Mesmo sendo uma outra pessoa, é como se fosse a reeleição de
Auricélio. O mandato de 2013-2016 desempenhado por Hélio é como se fosse o segundo
mandato de Auricélio. Logo, já chega. Não pode um terceiro consecutivo.
Obs1: quando falamos em “núcleo familiar” aqui estamos nos referindo ao cônjuge e aos
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção (art. 14, § 7º).
Obs2: a causa de inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º da CF/88 abrange o
cunhado/cunhada do chefe do Poder Executivo (STF. Plenário. RE 171061, Rel. Min. Francisco
Rezek, julgado em 02/03/1994).
Situação de Hélio foi parecida com o caso Garotinho e Rosinha: A situação acima exposta foi
semelhante ao que aconteceu no Governo do RJ envolvendo Anthony Garotinho e sua esposa
Rosinha. Em 1998, Garotinho foi eleito Governador do RJ. No final do seu 1º mandato (em
2002), ele renunciou ao cargo para se desincompatibilizar e concorrer à Presidência da
República. Sua esposa, Rosinha, candidatou-se ao cargo de Governador na eleição de 2002,
tendo sido eleita. O TSE considerou que Rosinha poderia concorrer e assumir o cargo porque
seu marido havia renunciado e ainda estava no 1º mandato. A lógica utilizada pelo TSE foi a
seguinte: ora, se o próprio Garotinho poderia concorrer novamente ao cargo de Governador,
não haveria sentido em se negar à sua esposa o direito de disputar a eleição. Vale ressaltar, no
entanto, que ao ganhar a eleição, é como se Rosinha estivesse exercendo o 2º mandato
consecutivo. Logo, em 2006, ele não pode concorrer novamente ao Governo. Em suma, este
núcleo familiar foi eleito Governador em 1998 e reeleito em 2002, não podendo figurar em
um terceiro mandato consecutivo.
O STF concordou com o argumento de Hélio? A proibição de que um mesmo núcleo familiar
exerça três mandatos consecutivos deve ser afastada se um desses mandatos é apenas um
mandato-tampão? NÃO. O STF concordou com a decisão do TSE e afirmou que a proibição
de que um mesmo núcleo familiar exerça três mandatos consecutivos existe ainda que um
desses mandatos seja apenas mandato-tampão:
A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo
núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convocação
do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão. STF. 2ª
Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/10/18 (Info 921).
1.6. DIREITO À EDUCAÇÃO: Lei estadual tratando sobre livre organização de entidades
estudantis – (Info 920)
A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do ADCT somente exige a anterioridade
da gravidez à dispensa sem justa causa.
Art. 10. (...) II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada
gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.
O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a
gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer
outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.
Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela
tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez.
STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes,
j. 10/10/18 (repercussão geral) (Info 919).
Nesse sentido, é necessário que a lei que venha a regulamentar o ensino domiciliar prescreva,
dentre outros pontos, o que será essa “frequência”.
Desse modo, para o STF, o homeschooling (o ensino domiciliar utilitarista ou por conveniência
circunstancial), atualmente, não é permitido por falta de regulamentação legal. No entanto,
como a CF/88 não o proíbe, é possível que o Congresso Nacional edite uma lei disciplinando
o tema, respeitados os dispositivos constitucionais relacionados com a educação.
E se, atualmente, os pais adotarem o “homeschooling”, o que pode acontecer? Tais pais ou
responsáveis poderão ser responsabilizados civil e até mesmo criminalmente. Isso porque o
ordenamento jurídico, atualmente, obriga que os pais matriculem seus filhos menores nas
escolas de educação formal. Veja:
Código Civil
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I – dirigir-lhes a criação e a educação;
Como o homeschooling atualmente não é permitido, há quem defenda que os pais que o
praticam cometem o crime de abandono intelectual, tipificado no art. 246 do Código Penal:
Abandono intelectual
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Para Damásio de Jesus, não há crime: Educação domiciliar constitui crime? Jornal Carta
Forense, 1º abr. 2010. Por outro lado, Cleber Masson entende que o homeschooling, enquanto
não houver disciplina legal sobre o assunto, configura o delito do art. 246 do CP (Direito Penal.
São Paulo: Método, 2018, p. 215).
São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso,
respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data
limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas.
STF. Plenário. ADPF 292/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 1º/8/2018 (Info 909).
OBS: O STJ também possui o entendimento de que tais Resoluções são válidas:
As Resoluções nº 01/2010 e nº 06/2010, ambas emanadas da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), ao estabelecerem corte etário para ingresso de
crianças na primeira série do ensino fundamental (6 anos completos até 31 de março do
correspondente ano letivo), não incorreram em contexto de ilegalidade (não violaram a lei).
Ao contrário, tais Resoluções encontram respaldo na interpretação conjunta dos arts. 29 e
32 da Lei nº 9.394/96 (LDB).
O Poder Judiciário não pode substituir-se às autoridades públicas de educação para fixar
ou suprimir requisitos para o ingresso de crianças no ensino fundamental, quando os atos
normativos de regência não revelem traços de ilegalidade, abusividade ou ilegitimidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1412704/PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2014.
Uma decisão judicial determinou a retirada de matéria de “blog” jornalístico, bem como a
proibição de novas publicações, por haver considerado a notícia ofensiva à honra de
delegado da polícia federal.
Essa decisão afronta o que o STF decidiu na ADPF 130/DF, que julgou não recepcionada a
Lei de Imprensa.
A ADPF 130/DF pode ser utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação que
verse sobre conflito entre a liberdade de expressão e de informação e a tutela das garantias
individuais relativas aos direitos de personalidade.
A determinação de retirada de matéria jornalística afronta a liberdade de expressão e de
informação, além de constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam preferência em
relação ao direito à intimidade, ainda que a matéria tenha sido redigida em tom crítico.
O STF assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor da liberdade de expressão,
para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se projetar no Judiciário.
STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz Fux, j.
5/6/18 (Info 905).
Sobre o mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
6/3/2018 (Info 893).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: Determinado blog publicou matéria jornalística criticando
vazamentos de informações na “Operação Lava-Jato” e os atribuindo a uma Delegada e a
membros do MPF que atuam na força tarefa. A referida Delegada ajuizou ação de indenização
por danos morais acusando o jornalista responsável pelo blog de ter veiculado matérias
jornalísticas supostamente atentatórias a sua honra. A autora, além de requerer reparação
pecuniária pelas alegadas ofensas, postulou, em sede de tutela de urgência, a retirada das
matérias publicadas do blog do jornalista, bem como a proibição de que ele divulgasse novas
matérias acerca de sua atuação na “Operação Lava-Jato”. O juízo do 8ª Juizado Especial Cível
de Curitiba (PR) concedeu liminar determinando a retirada da matéria jornalística veiculada
no blog, sob pena de multa diária. Diante disso, o jornalista ingressou com reclamação no STF
alegando que o magistrado, ao assim agir, teria violado a autoridade do que decidiu o Tribunal
na ADPF 130, que entendeu que a Lei de Imprensa (Lei 5.250/1967) não foi recepcionada pela
Constituição de 1988.
A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)? SIM. A 1ª Turma do STF julgou
procedente a reclamação. Em matéria de liberdade de expressão, o STF tem aceitado julgar
reclamações mesmo que não tenham correlação direta com o julgado no caso paradigma. A
decisão representa afronta ao julgado na ADPF 130, pois não ficou claro que o intuito do
jornalista tenha sido o de ofender a honra da delegada mediante a divulgação de notícia
sabidamente falsa contra sua honra, mas sim apontar a existência de vazamentos de
informações na Operação Lava-Jato e, para tanto, identificou supostas fontes. A jurisprudência
do STF é no sentido de que deve haver uma maior tolerância quanto às matérias de cunho
potencialmente lesivo à honra de agentes públicos, especialmente quando existente
interesse público, como considera ser o caso do conteúdo das matérias jornalísticas excluídas
do blog. A retirada de matéria divulgada em blog jornalístico exige uma caracterização
inequívoca de comportamento doloso contra alguém. No caso concreto, houve apenas a
divulgação de matéria com críticas à Lava-Jato.
Além disso, o dispositivo impugnado ofende o art. 134 do Pacto de San Jose da Costa Rica
(Convenção Americana sobre Direitos Humanos), segundo o qual o exercício do direito à
liberdade de pensamento e de expressão não pode estar sujeito a censura prévia, mas a
responsabilidades ulteriores.
A restrição imposta pelo § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98 ao proselitismo não é compatível com
as liberdades de expressão e de religião.
1.12. SIGILO BANCÁRIO: Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser
divulgados abertamente em site oficial – (Info 899)
Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem ser
mantidos sob reserva.
Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por
meio da quebra de sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI).
STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/18 (Info 899).
A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)? SIM. A 1ª Turma do STF julgou
procedente reclamação.
Como explica o Min. Roberto Barroso, essa recusa em se admitir a transcendência dos motivos
determinantes representa “uma jurisprudência defensiva, destinada a conter a multiplicação
de reclamações, em número que ultrapassaria a capacidade física de julgamento dos
ministros”.
Essa linha restritiva, no entanto, tem sido excepcionada em processos relacionados com a
liberdade de expressão ou liberdade de imprensa. Nesses casos, o STF tem proferido
inúmeras decisões admitido reclamações mesmo que a decisão reclamada não esteja baseada
no mesmo ato declarado inconstitucional em sede concentrada. A justificativa para essa
postura mais ampla está no fato de que “a liberdade de expressão ainda não se tornou uma
ideia suficientemente enraizada na cultura do Poder Judiciário de uma maneira geral. Não
sem sobressalto, assiste-se à rotineira providência de juízes e tribunais no sentido de
proibirem ou suspenderem a divulgação de notícias e opiniões, num “ativismo antiliberal”
que precisa ser contido.” (Min. Roberto Barroso). Em suma, o STF possui uma posição menos
rigorosa ao analisar reclamações envolvendo decisões que violem a liberdade de expressão.
Por essa razão, é cabível reclamação contra decisão judicial que determina a retirada de
matéria jornalística da página eletrônica do meio de comunicação mesmo que esta decisão
esteja supostamente baseada no art. 20 do Código Civil, e não na Lei de Imprensa.
Razões pelas quais a liberdade de expressão ocupa lugar privilegiado: O Min. Roberto Barroso
cita 5 motivos principais pelos quais a liberdade de expressão ocupa um lugar privilegiado
tanto no ordenamento jurídico interno como nos documentos internacionais. São eles:
a) a liberdade de expressão desempenha uma função essencial para a democracia,
ao assegurar um livre fluxo de informações e a formação de um debate público
robusto e irrestrito, condições essenciais para a tomada de decisões da
coletividade e para o autogoverno democrático;
b) a proteção da liberdade de expressão está relacionada com a própria dignidade
humana, ao permitir que indivíduos possam exprimir de forma desinibida suas
ideias, preferências e visões de mundo, bem como terem acesso às dos demais
indivíduos, fatores essenciais ao desenvolvimento da personalidade, à autonomia
e à realização existencial;
c) este direito está diretamente ligado à busca da verdade. Isso porque as ideias
só possam ser consideradas ruins ou incorretas após o confronto com outras
ideias;
d) a liberdade de expressão possui uma função instrumental indispensável ao
gozo de outros direitos fundamentais, como o de participar do debate público, o
de reunir-se, de associar-se, e o de exercer direitos políticos, dentre outros; e
e) a liberdade de expressão é garantia essencial para a preservação da cultura e
da história da sociedade, por se tratar de condição para a criação e o avanço do
conhecimento e para a formação e preservação do patrimônio cultural de uma
nação.
Liberdade de expressão não é absoluta: Vale ressaltar que nenhum direito constitucional é
absoluto e, portanto, a liberdade de expressão também não é. A própria Constituição impõe
alguns limites ou qualificações à liberdade de expressão, como por exemplo:
a) vedação do anonimato (art. 5º, IV);
b) direito de resposta (art. 5º, V);
c) restrições à propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos e
terapias (art. 220, § 4º);
d) classificação indicativa (art. 21, XVI); e
e) dever de respeitar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas
(art. 5º, X).
Isso significa que é indispensável que haja uma ponderação entre a liberdade de expressão e
os direitos da personalidade.
d) local do fato: deve-se analisar também se os locais dos fatos narrados são
reservados ou protegidos pelo direito à intimidade.
1.14. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: A incitação de ódio público feita por líder religioso
contra outras religiões pode configurar o crime de racismo – (Info 893) – IMPORTANTE!!!
Sobre o tema:
As operadoras de plano de saúde que estejam em débito quanto ao ressarcimento
de valores devidos ao SUS podem, em razão da inadimplência, ser inscritas no
Cadin. STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 307.233-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 6/6/2013 (Info 524).
Não são nulas as provas obtidas por meio de requisição do Ministério Público de
informações bancárias de titularidade de Prefeitura para fins de apurar supostos crimes
praticados por agentes públicos contra a Administração Pública.
É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas de
titularidade da Prefeitura, com o fim de proteger o patrimônio público, não se podendo
falar em quebra ilegal de sigilo bancário.
O sigilo de informações necessário à preservação da intimidade é relativizado quando há
interesse da sociedade em conhecer o destino dos recursos públicos.
Diante da existência de indícios da prática de ilícitos penais envolvendo verbas públicas,
cabe ao MP, no exercício de seus poderes investigatórios (art. 129, VIII, CF/88), requisitar os
registros de operações financeiras relativos aos recursos movimentados a partir de conta-
corrente de titularidade da Prefeitura. Essa requisição compreende, por extensão, o acesso
aos registros das operações bancárias sucessivas, ainda que realizadas por particulares, e
objetiva garantir o acesso ao real destino desses recursos públicos.
STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 20/10/15 (Info 572).
STF. 2ª Turma. RHC 133118/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 26/9/17 (Info 879).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O MP instaurou procedimento de investigação criminal
(PIC) para apurar possíveis delitos de desvios de verbas públicas, fraudes em licitações e
lavagem de dinheiro que estariam sendo praticados pelo Prefeito de um Município do interior.
Como uma das diligências, o MP, sem autorização judicial, requisitou do gerente do banco
informações bancárias da conta corrente mantida pelo Município naquela agência. Tais
informações foram prestadas pelo banco e, com base nelas, descobriu-se a prática de crimes,
tendo esses documentos servido como base para o ajuizamento de ação penal contra o Prefeito.
A denúncia foi recebida pelo Tribunal de Justiça (art. 29, X, da CF/88). A defesa, no entanto,
impetrou habeas corpus alegando que as provas obtidas eram ilícitas e, portanto, o processo
era nulo. Isso porque teria havido quebra do sigilo bancário sem autorização judicial. Segundo
argumentou a defesa, “quando o MP solicitou ao gerente do Banco do Brasil da Agência de
Potengi/CE as fitas do caixa bancário das contas da prefeitura, ele, por via reflexa, invadiu a
privacidade das pessoas físicas que com a prefeitura tinham alguma prestação de serviço,
quebrando indiretamente o sigilo dessas pessoas naturais”.
A tese da defesa foi aceita pelo STJ e pelo STF? NÃO.
Sigilo bancário não se aplica para contas públicas: O sigilo bancário constitui espécie do
direito à intimidade/privacidade, consagrado no art. 5º, X e XII, da CF/88, devendo, portanto,
ser protegido. No entanto, as contas bancárias dos entes públicos, em regra, não são
albergadas pelo direito à intimidade/privacidade e, em consequência, não são protegidas
pelo sigilo bancário. Isso porque, no que tange às contas públicas, vigoram os princípios da
publicidade e da moralidade (art. 37, CF/88). Quando a CF/88 fala em intimidade e vida
privada, ela está se referindo à pessoa humana, aos indivíduos que compõem a sociedade e às
pessoas jurídicas de direito privado. Tais conceitos (intimidade e vida privada) são inaplicáveis
aos entes públicos. Dessa forma, o MP, na investigação de crimes, possui o poder de requisitar
os registros de operações financeiras relacionadas com recursos públicos movimentados a
partir de conta corrente de titularidade do Município.
MP pode requisitar os registros de operações financeiras feitas com recursos públicos, ainda
que isso acabe atingindo indiretamente terceiros beneficiários dos valores: O poder do MP de
requisitar informações bancárias de conta corrente de titularidade do Município abrange,
por extensão, o direito de acesso aos registros das operações bancárias realizadas por
particulares, a partir das verbas públicas creditadas naquela conta. Em outras palavras, o MP
pode, por exemplo, requisitar, sem autorização judicial, os valores que o Município
transferiu para contas de particulares. Ora, de nada adiantaria permitir ao MP requisitar
diretamente os registros das operações feitas na conta bancária da Municipalidade e negar-lhe
o principal: o acesso ao real destino dos recursos públicos, a partir do exame de operações
bancárias sucessivas (v.g., desconto de cheque emitido pela Municipalidade na boca do caixa,
seguido de transferência a particular do valor sacado).
A CF/88 prevê que “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.” (art. 210, § 1º).
Diante disso, nas escolas públicas são oferecidas aulas de ensino religioso, normalmente
vinculadas a uma religião específica. É o chamado ensino religioso confessional.
O PGR ajuizou ADI pedindo que fosse conferida interpretação conforme a Constituição ao
art. 33, §§ 1º e 2º da LDB e ao art. 11, § 1º do acordo Brasil-Santa Sé. Na ação, o PGR afirmava
que não é permitido que se ofereça ensino religioso confessional (vinculado a uma religião
específica). Para o autor, o ensino religioso deve ser voltado para a história e a doutrina das
várias religiões, ensinadas sob uma perspectiva laica e deve ser ministrado por professores
regulares da rede pública de ensino, e não por pessoas vinculadas às igrejas.
O STF julgou improcedente a ADI e decidiu que o ensino religioso nas escolas públicas
brasileiras pode ter natureza confessional, ou seja, pode sim ser vinculado a religiões
específicas.
A partir da conjugação do binômio Laicidade do Estado (art. 19, I) e Liberdade religiosa (art.
5º, VI), o Estado deverá assegurar o cumprimento do art. 210, § 1º, CF/88, autorizando na
rede pública, em igualdade de condições o oferecimento de ensino confessional das
diversas crenças, mediante requisitos formais previamente fixados pelo Ministério da
Educação.
Assim, deve ser permitido aos alunos, que expressa e voluntariamente se matricularem, o
pleno exercício de seu direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, ministrada de acordo com os
princípios de sua confissão religiosa, por integrantes da mesma, devidamente credenciados
a partir de chamamento público e, preferencialmente, sem qualquer ônus para o Poder
Público.
Dessa forma, o STF entendeu que a CF/88 não proíbe que sejam oferecidas aulas de uma
religião específica, que ensine os dogmas ou valores daquela religião. Não há qualquer
problema nisso, desde que se garanta oportunidade a todas as doutrinas religiosas.
STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 27/9/17 (Info 879).
OBS: Apesar de o julgado ter sido publicado na parte de Direito Previdenciário, é inegável a
sua importância no estudo do Direito Constitucional.
1.24. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Pesquisador tem direito de acesso aos áudios das
sessões secretas de julgamento ocorridas no STM durante a época do regime militar – (Info
857)
O STF deferiu mandado de segurança impetrado por pesquisador que queria ter acesso aos
áudios das sessões de julgamento do STM ocorridas na década de 1970, época do regime
militar.
Entendeu-se que a coleta de dados históricos a partir de documentos públicos e registros
fonográficos, mesmo que para fins particulares, constitui-se em motivação legítima a
garantir o acesso a tais informações.
Ocorre que, mesmo com essa decisão judicial, o STM somente autorizou que o pesquisador
tivesse acesso aos áudios das sessões públicas realizadas (na qual havia leitura do relatório
e sustentação oral dos advogados). O Tribunal se negou, contudo, a fornecer os áudios das
sessões secretas, nas quais os votos dos magistrados eram colhidos.
O impetrante ingressou, então, com reclamação, julgada procedente pelo STF.
Ao autorizar a consulta apenas dos registros relacionados com a parte pública das sessões,
o STM violou a decisão do STF, que deu acesso amplo aos áudios das sessões.
Além disso, a recusa do STM está em descompasso com a ordem constitucional vigente, que
garante o acesso à informação como direito fundamental.
O STF concluiu, portanto, que o STM deve permitir o acesso do reclamante a todos os
documentos e áudios das sessões de julgamento, com exceção apenas daqueles que forem
considerados sigilosos no resguardo do interesse público, na defesa da intimidade e para a
proteção da sociedade e do Estado, desde que isso seja motivado de forma explícita e
pormenorizada a fim de que possa ser novamente questionado no STF caso se mostre
indevido.
STF. Plenário. Rcl 11949/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15/3/2017 (Info 857).
1.25. DIREITO DE RESPOSTA: Sentença que nega direito de resposta por não ter havido
ofensa não ofende a decisão do STF na ADPF 130/DF – (Info 851)
Não cabe reclamação para o STF contra sentença que julgou improcedente pedido de direito
de resposta sob o fundamento de que não houve, no caso concreto, ofensa.
Esta sentença não afronta a autoridade da decisão do STF no julgamento da ADPF 130/DF.
Como a sentença não violou nenhuma decisão do STF proferida em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, o que se percebe é que o autor, por meio da reclamação,
deseja que o Supremo examine se a sentença afrontou, ou não, o art. 5º, V, da CF/88.
Para isso, seria necessário reexaminar matéria de fato, o que não é possível em reclamação,
que se presta unicamente a preservar a autoridade de decisão do STF.
Ademais, isso significaria o exame per saltum, ou seja, "pulando-se" as instâncias recursais
do ato impugnado diretamente à luz do art. 5º, V, CF/88.
STF. 1ª Turma. Rcl 24459 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 13/12/16 (Info 851).
1.26. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Análise do caso "Jonas Abib" (racismo) – (Info 849) –
IMPORTANTE!!!
Determinado padre escreveu um livro, voltado ao público da Igreja Católica, no qual ele
faz críticas ao espiritismo e a religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé.
O MP da Bahia ofereceu denúncia contra ele pela prática do art. 20, § 2º da Lei 7.716/89 (Lei
do racismo).
No caso concreto, o STF entendeu que não houve o crime.
A CF/88 garante o direito à liberdade religiosa. Um dos aspectos da liberdade religiosa é o
direito que o indivíduo possui de não apenas escolher qual religião irá seguir, mas também
o de fazer proselitismo religioso.
Proselitismo religioso significa empreender esforços para convencer outras pessoas a
também se converterem à sua religião.
Desse modo, a prática do proselitismo, ainda que feita por meio de comparações entre as
religiões (dizendo que uma é melhor que a outra) não configura, por si só, crime de racismo.
Só haverá racismo se o discurso dessa religião supostamente superior for de dominação,
opressão, restrição de direitos ou violação da dignidade humana das pessoas integrantes
dos demais grupos. Por outro lado, se essa religião supostamente superior pregar que tem
o dever de ajudar os "inferiores" para que estes alcancem um nível mais alto de bem-estar
e de salvação espiritual e, neste caso não haverá conduta criminosa.
Na situação concreta, o STF entendeu que o réu apenas fez comparações entre as religiões,
procurando demonstrar que a sua deveria prevalecer e que não houve tentativa de subjugar
os adeptos do espiritismo.
Pregar um discurso de que as religiões são desiguais e de que uma é inferior à outra não
configura, por si, o elemento típico do art. 20 da Lei 7.716/89. Para haver o crime, seria
indispensável que tivesse ficado demonstrado o especial fim de supressão ou redução da
dignidade do diferente, elemento que confere sentido à discriminação que atua como verbo
núcleo do tipo.
STF. 1ª Turma. RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/11/16 (Info 849).
Ex: um programa de TV que não exiba cenas de violência, sexo ou uso de drogas é classificado
como "livre para todos os públicos". Se ele tiver cenas de nudez velada, insinuação sexual,
linguagem de conteúdo sexual, simulações de sexo etc., poderá ser classificado como
"recomendado para maiores de 12 anos".
O governo estipulou horários em que cada um desses programas deverá passar de acordo com
a faixa etária que ele foi enquadrado. Ex: o programa livre para todos os públicos poderá ser
exibido em qualquer horário; por outro lado, o programa recomendado para maiores de 12
anos somente podia ser transmitido a partir de 20h.
Quem faz essa classificação? O Ministério da Justiça, por meio de um setor específico que
cuida do assunto. Há uma portaria que regulamenta o tema (Portaria 368/2014-MJ).
Quais os critérios utilizados? Existe uma espécie de "manual" utilizado pelo MJ para fazer esta
classificação. Há, em resumo, três critérios de análise: a) violência; b) sexo e nudez; c) drogas.
A partir daí, o programa pode ser classificado em seis diferentes faixas: livre, 10, 12, 14, 16 ou
18 anos. No rádio e na TV aberta existem horários apropriados para que estes programas sejam
exibidos, de acordo com a faixa etária classificada.
A Constituição Federal trata sobre o assunto? Sim. O tema é tratado em alguns dispositivos
da CF/88. Confira:
Art. 21. Compete à União:
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de
programas de rádio e televisão;
Duplo dever: De acordo com a redação do art. 254 do ECA, as emissoras de rádio e TV possuíam
dois deveres impostos por lei:
1) Avisar, antes de o programa começar, qual é a classificação etária do espetáculo (aquele
famoso aviso: "programa recomendado para todos os públicos" ou "programa recomendado
para maiores de 12 anos");
2) Somente transmitir os programas nos horários compatíveis com a sua classificação etária.
Ex: se o programa foi recomendado para maiores de 12 anos, ele não podia ser exibido antes
das 20h.
ADI: Em 2001, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ingressou com uma ADI contra o art. 254
do ECA alegando que ele violou o art. 5º, IX (liberdade de expressão), o art. 21, XVI e o art. 220,
caput e parágrafos, da CF/88. Isso porque o art. 254 do ECA extrapolou o que determina a
Constituição Federal, já que impôs que as emissoras de rádio e TV somente exibissem os
programas em determinados horários sob pena de serem punidas administrativamente.
O STF finalmente enfrentou o tema. O que foi decidido? A ADI foi julgada procedente? SIM.
O STF julgou a ADI procedente e decidiu que: É inconstitucional a expressão “em horário
diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, j. 31/8/2016 (Info 837).
Proteção das crianças e adolescentes: Por outro lado, a criança e o adolescente, pela posição
de fragilidade em que se colocam, devem ser destinatários, tanto quanto possível, de normas
e ações protetivas voltadas ao seu desenvolvimento pleno e à preservação contra situações
potencialmente danosas a sua formação física, moral e mental.
O que fez a CF/88 para compatibilizar esses dois valores? Ela determinou, em seu art. 21, XVI
e art. 220, § 3º, que fosse criado um sistema de classificação indicativa dos espetáculos. Assim,
os programas devem ser classificados de acordo com faixas etárias e essa classificação deve ser
divulgada aos telespectadores a fim de que eles tenham as informações necessárias para
decidir se permitem ou não que as crianças e adolescentes assistam tais programas. No entanto,
em nenhum momento o texto constitucional determinou que as empresas sejam obrigadas
a veicular os programas em determinados horários, sob pena de punição. O sistema de
classificação indicativa foi o ponto de equilíbrio tênue adotado pela CF/88 para compatibilizar
os dois postulados, a fim de velar pela integridade das crianças e dos adolescentes sem deixar
de lado a preocupação com a garantia da liberdade de expressão. A classificação dos produtos
audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos pais a existência de conteúdo inadequado
para as crianças e os adolescentes. Essa classificação desenvolvida pela União possibilita que
os pais, calcados na autoridade do poder familiar, decidam se a criança ou o adolescente pode
ou não assistir a determinada programação.
Classificação indicativa não se confunde com autorização para exibir os programas: A CF/88
conferiu à União e ao legislador federal margem limitada de atuação no campo da classificação
dos espetáculos e diversões públicas. A autorização constitucional é para que a União
classifique, informe, indique as faixas etárias e/ou horários não recomendados. Ela não
pode, contudo, proibir, vedar ou censurar os programas. A classificação indicativa deve ser
entendida como um aviso aos usuários sobre o conteúdo da programação, jamais como
obrigação às emissoras de exibição em horários específicos, especialmente sob pena de sanção
administrativa. Por essa razão, percebe-se que o art. 254 do ECA violou a CF/88 ao instituir
punição para as emissoras que transmitam espetáculo "em horário diverso do autorizado". O
uso do verbo “autorizar” revela a ilegitimidade do dispositivo legal. O art. 255, ao estabelecer
punição às empresas do ramo por exibirem programa em horário diverso do autorizado,
incorre, portanto, em abuso constitucional.
Censura prévia: A expressão “em horário diverso do autorizado”, contida no art. 254 do ECA,
embora não impedisse a veiculação de ideias, não impusesse cortes nas obras audiovisuais,
mas tão-somente exigisse que as emissoras veiculassem seus programas em horário adequado
ao público-alvo, implicava verdadeira censura prévia, acompanhada de elemento repressor,
de punição. Esse caráter não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, XVI; e 220, § 3º, I, todos da
CF/88.
Efeito pedagógico: A exibição do aviso de classificação indicativa deve ter apenas efeito
pedagógico, a exigir reflexão por parte do espectador e dos responsáveis. É dever estatal, nesse
ponto, conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem como desenvolver
programas educativos acerca desse sistema. Além disso, o controle pelos pais e responsáveis
sobre os programas assistidos pelas crianças e adolescentes pode ser feito com o auxílio de
meios eletrônicos de restrição de acesso a determinados programas, como já feito em outros
países. Essa tecnologia, inclusive, é de uso obrigatório no Brasil, apesar de ainda não adotada
na prática, conforme previsto no art. 1º da Lei nº 10.359/2001:
Art. 1º Os aparelhos de televisão produzidos no território nacional deverão
dispor, obrigatoriamente, de dispositivo eletrônico que permita ao usuário
bloquear a recepção de programas transmitidos pelas emissoras, concessionárias
e permissionárias de serviços de televisão, inclusive por assinatura e a cabo,
mediante:
I - a utilização de código alfanumérico, de forma previamente programada; ou
II - o reconhecimento de código ou sinal, transmitido juntamente com os
programas que contenham cenas de sexo ou violência.
Outros dispositivos do ECA: O ECA possui outro dispositivo parecido que trata sobre o tema,
mas que não foi impugnado nem declarado inconstitucional. Trata-se do art. 76, que possui a
seguinte redação:
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário
recomendado para o público infanto juvenil, programas com finalidades
educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso
de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
Este dispositivo não estabelece nenhuma punição para as emissoras de rádio e TV que
exibirem programas fora de horários estipulados pelo Poder Público. Por essa razão, não é
considerado inconstitucional, já que não viola a liberdade de expressão. Cuidado nas provas
porque o enunciado da questão pode tentar confundir você.
São constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei nº 13.146/2015, que determinam que as
escolas privadas ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com
deficiência sem que possam cobrar valores adicionais de qualquer natureza em suas
mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa obrigação.
STF. Plenário. ADI 5357 MC-Referendo/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j 9/6/16 (Info 829).
(TJPR-2017-CESPE): A respeito da ordem e dos direitos sociais previstos na CF, assinale a
opção correta: É constitucional norma que obriga escolas privadas a oferecer atendimento
adequado a pessoas com deficiência, vedado o repasse do custo financeiro da adaptação
às mensalidades escolares. BL: Info 829, STF.
1.30. EDUCAÇÃO: Poder Judiciário pode obrigar Município a fornecer vaga em creche –
(Info 827) – (TJPR-2017)
O Poder Judiciário pode obrigar o Município a fornecer vaga em creche a criança de até 5
anos de idade.
A educação infantil, em creche e pré-escola, representa prerrogativa constitucional
indisponível garantida às crianças até 5 anos de idade, sendo um dever do Estado (art. 208,
IV, da CF/88).
Os Municípios, que têm o dever de atuar prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil (art. 211, § 2º, da CF/88), não podem se recusar a cumprir este mandato
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi conferido pela CF/1988.
STF. Decisão monocrática. RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, j. 12/5/16 (Info 827).
OBS: Dessa forma, impõe-se ao Poder Público a obrigação constitucional de criar condições
objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das crianças até 5 anos de idade o
efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se
inaceitável omissão governamental.
Precedentes: Apesar de a decisão acima ter sido monocrática, existem outros precedentes no
mesmo sentido. É o caso do STF. 2ª Turma. ARE 639337 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j.
23/8/11.
Repercussão geral: Vale ressaltar que o tema acima ainda será definitivamente dirimido
considerando que a questão está submetida ao STF, em regime de repercussão geral
reconhecida, no AI 761.908, que aguarda julgamento.
O art. 210 da Lei 8112/90, assim como outras leis estaduais e municipais, prevê que o prazo
para a servidora que adotar uma criança é inferior à licença que ela teria caso tivesse tido
um filho biológico. De igual forma, este dispositivo estabelece que, se a criança adotada for
maior que 1 ano de idade, o prazo será menor do que seria se ela tivesse até 1 ano. Segundo
o STF, tal previsão é inconstitucional. Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
Os prazos da licença-adotante não podem ser inferiores ao prazo da licença-gestante, o
mesmo valendo para as respectivas prorrogações. Em relação à licença-adotante, não é
possível fixar prazos diversos em função da idade da criança adotada.
STF. Plenário. RE 778889/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/3/2016 (repercussão geral)
(Info 817).
1.33. SIGILO BANCÁRIO: É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras
informações bancárias sobre os contribuintes sem intervenção do Poder Judiciário – (Info 815)
– IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!! (DPEAP-2018)
O sigilo bancário é protegido pela CF/88? SIM. A CF/88 não utiliza a expressão "sigilo
bancário", mas isso está sim protegido em dois incisos do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação; (...)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal;
Para que haja acesso aos dados bancários (quebra do sigilo bancário), é necessária
autorização judicial? Em regra, sim. Segundo entende o STF, em regra, para que se tenha
acesso aos dados bancários de uma pessoa, é necessário prévia autorização judicial por se
tratar de verdadeira cláusula de reserva de jurisdição.
E no caso do Fisco? A Receita Federal pode requisitar, sem autorização judicial, informações
bancárias das instituições financeiras? SIM. Essa possibilidade está prevista no art. 6º da LC
105/01, não se exigindo autorização judicial para tanto. Logo, a lei autoriza que a Receita
Federal requisite diretamente das instituições financeiras informações sobre as movimentações
bancárias dos contribuintes.
Este art. 6º da LC 105/01, que autoriza o Fisco a ter acesso a informações bancárias sem
autorização judicial, é compatível com a CF/88? SIM. O STF decidiu que esse dispositivo é
CONSTITUCIONAL.
Mas o art. 6º não representa uma "quebra de sigilo bancário" sem autorização judicial? NÃO.
O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser
chamado de "quebra de sigilo bancário". Isso porque as informações são passadas para o
Fisco (ex: Receita Federal) em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na
Administração Tributária. É uma tramitação sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser
acessível a terceiros, não pode ser considerado violação (quebra) do sigilo.
Assim, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/01 faz não é quebra de sigilo bancário, mas
somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados, até então protegidos pelo
sigilo bancário, prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal. Para o STF, o simples fato de o Fisco
ter acesso aos dados bancários do contribuinte não viola a garantia do sigilo bancário. Só
haverá violação se esses dados "vazarem" para pessoas estranhas ao órgão fazendário. Aí sim
haveria quebra do sigilo bancário por ter sido exposta a intimidade do contribuinte para
terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/01 prevê punições ao responsável, que estará
sujeito à pena de reclusão, de 1 a 4 anos, mais multa, além de responsabilização civil,
culminando com a perda do cargo (art. 10).
As Receitas estadual e municipal também poderão requisitar dos bancos informações sobre
movimentações bancárias? SIM. O art. 6º da LC 105/01 fala que estão autorizados a requisitar
as informações bancárias as autoridades e agentes fiscais tributários não apenas da União
(Receita Federal), mas também dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Assim, as
Receitas estadual e municipal (Secretarias de Fazenda estadual e municipal) também poderão
requisitar dos bancos, sem autorização judicial, informações sobre movimentações bancárias
sem que isso configure quebra do sigilo bancário. No entanto, para que os Estados, DF e
Municípios possam fazer uso dessa prerrogativa prevista no art. 6º da LC 105/2001, eles
precisarão, antes, editar um ato normativo que regulamente e traga, com detalhes, todas as
regras operacionais para aplicação do dispositivo legal. Neste regulamento deverão ser
previstos sistemas adequados de segurança e registros de acesso para evitar a manipulação
indevida dos dados, garantindo-se ao contribuinte a transparência do processo. A Receita
Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque possui esse
regulamento (Decreto 3.724/2001, que "regulamenta o art. 6º da Lei Complementar nº 105, de 10 de
janeiro de 2001, relativamente à requisição, acesso e uso, pela Secretaria da Receita Federal, de
informações referentes a operações e serviços das instituições financeiras e das entidades a elas
equiparadas").
Mudança de entendimento do STF: Vale ressaltar que o julgado acima representa mudança de
entendimento do STF. Isso porque no RE 389808, o STF havia decidido que seria necessário
prévia autorização judicial, de sorte que o art. 6º da LC 105/01 seria inconstitucional.
Posição do STJ: O novo entendimento do STF já era adotado, em parte, pelo STJ, que possui,
inclusive, um Recurso Especial repetitivo sobre o tema (REsp 1.134.665/SP). Na ocasião, o STJ
firmou a tese de que a autoridade fiscal pode solicitar diretamente das instituições
financeiras, ou seja, sem autorização judicial, informações sobre operações realizadas pelo
contribuinte, requerendo, até mesmo, os extratos de contas bancárias. Para o STJ, no âmbito
do processo administrativo fiscal, para fins de constituição de crédito tributário, é possível a
requisição direta de informações pela autoridade fiscal às instituições bancárias sem prévia
autorização judicial. STJ. 1ª Seção. REsp 1134665/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
25/11/2009 (recurso repetitivo).
É possível que as informações bancárias obtidas pelo Fisco sem autorização judicial sejam
utilizadas em processos criminais ou somente em procedimentos administrativo-tributários?
SIM. Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produzida no âmbito da Receita
Federal do Brasil por meio da obtenção de informações de instituições financeiras sem
prévia autorização judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF decidiu que são
constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/01, que permitem o acesso direto da Receita Federal
à movimentação financeira dos contribuintes. STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min. Dias
Toffoli, j. 19/4/2016 (Info 822).
Quadro-resumo dos órgãos que podem requisitar informações bancárias diretamente (sem
autorização judicial):
SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições
financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/9/11).
Exceção: É lícita a requisição pelo MP de informações bancárias de contas
MP de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o
patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário
(STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em 20/10/15).
NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/12).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito
TCU
originárias de recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF.
MS 33340/DF, j. em 26/5/2015).
SIM, com base no art. 6º da LC 105/01. O repasse das informações dos
Receita
bancos para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo
Federal
bancário".
Fisco SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de competência,
estadual, o art. 6º da LC 105/01, de forma análoga ao Decreto Federal 3.724/01.
distrital,
municipal
SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/01).
CPI
Prevalece que CPI municipal não pode.
Art. 5º da LC 105/01: Acima falamos bastante sobre o art. 6º da LC 105/01, mas vale ressaltar
que o art. 5º da mesma Lei também foi impugnado:
Art. 5º O Poder Executivo disciplinará, inclusive quanto à periodicidade e aos
limites de valor, os critérios segundo os quais as instituições financeiras
informarão à administração tributária da União, as operações financeiras
efetuadas pelos usuários de seus serviços.
§ 1º Consideram-se operações financeiras, para os efeitos deste artigo:
I – depósitos à vista e a prazo, inclusive em conta de poupança;
II – pagamentos efetuados em moeda corrente ou em cheques;
III – emissão de ordens de crédito ou documentos assemelhados;
IV – resgates em contas de depósitos à vista ou a prazo, inclusive de poupança;
V – contratos de mútuo;
VI – descontos de duplicatas, notas promissórias e outros títulos de crédito;
VII – aquisições e vendas de títulos de renda fixa ou variável;
VIII – aplicações em fundos de investimentos;
IX – aquisições de moeda estrangeira;
X – conversões de moeda estrangeira em moeda nacional;
XI – transferências de moeda e outros valores para o exterior;
XII – operações com ouro, ativo financeiro;
XIII - operações com cartão de crédito;
XIV - operações de arrendamento mercantil; e
XV – quaisquer outras operações de natureza semelhante que venham a ser
autorizadas pelo Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários ou
outro órgão competente.
§ 2º As informações transferidas na forma do caput deste artigo restringir-se-ão a
informes relacionados com a identificação dos titulares das operações e os
montantes globais mensalmente movimentados, vedada a inserção de qualquer
elemento que permita identificar a sua origem ou a natureza dos gastos a partir
deles efetuados.
§ 3º Não se incluem entre as informações de que trata este artigo as operações
financeiras efetuadas pelas administrações direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 4º Recebidas as informações de que trata este artigo, se detectados indícios de
falhas, incorreções ou omissões, ou de cometimento de ilícito fiscal, a autoridade
interessada poderá requisitar as informações e os documentos de que necessitar,
bem como realizar fiscalização ou auditoria para a adequada apuração dos fatos.
§ 5º As informações a que refere este artigo serão conservadas sob sigilo fiscal, na
forma da legislação em vigor. (...)
Este art. 5º da LC 105/01 permite que o Poder Executivo edite um ato normativo obrigando
as instituições financeiras informem a Receita Federal sempre que houver uma operação
financeira acima de determinado valor. Atualmente, o ato normativo que regulamenta o art.
5º da LC 105/2001 é a Instrução Normativa RFB nº 1571, de 02 de julho de 2015. Segundo esta
IN, as instituições financeiras são obrigadas a informar para a Receita Federal sempre que
houver uma movimentação financeira acima de:
R$ 2 mil, no caso de pessoas físicas; e
R$ 6 mil reais, no caso de pessoas jurídicas.
Assim, se você faz a transferência de R$ 5 mil reais de sua conta bancária para a de seu pai, por
exemplo, esta informação será repassada pelo banco à Receita Federal. Caso a Receita Federal
considere que você efetuou movimentações bancárias muito superiores à renda que declarou,
para fins de imposto de renda, ela poderá instaurar uma ação fiscal para que você justifique
tais operações (art. 5º, § 4º da LC 105/01), sob pena de ela considerar que você omitiu receitas.
Desse modo, estes dados são utilizados pelo Fisco para cruzar informações e assim verificar se
há compatibilidade entre os valores movimentados e os dados apresentados na declaração do
IR. Vale ressaltar que os gastos com cartão de crédito também estão abrangidos por este dever
de informar. Assim, se o valor da fatura paga é comunicado à Receita.
Importante esclarecer que, nos termos do § 2º do art. 5º da LC 105/01, somente são informados
os valores movimentados e os titulares das operações. A Receita Federal, em tese, não tem
acesso à origem ou natureza dos gastos (ex: se a pessoa gastou tais valores no supermercado,
no hospital, no motel etc.).
O art. 5º da LC 105/2001 foi julgado constitucional pelo STF com base nos mesmos
argumentos acima explicados quanto ao art. 6º.
As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo
de seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares.
STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/10/15 (repercussão geral) (Info
802).
1.40. HABEAS DATA: Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos
sistemas dos órgãos fazendários – (Info 790) – IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!!
(Proc./IPSM-2018)
O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes
ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados
de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais.
No caso concreto, o STF reconheceu que o contribuinte pode ajuizar habeas data para ter
acesso às informações relacionadas consigo e que estejam presentes no sistema SINCOR da
Receita Federal.
O SINCOR (Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita
Federal no qual ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos contribuintes
pessoas jurídicas.
A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu raciocínio poderá ser aplicado para
outros bancos de dados mantidos pelos órgãos fazendários.
STF. Plenário. RE 673707/MG, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/6/15 (repercussão geral) (Info 790).
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo
biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia
seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada
pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes:
“É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas
literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas
como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes”.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus
direitos foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não
apenas por meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a
publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
OBS:
Interpretação literal do art. 20 do CC: As biografias não-autorizadas seriam proibidas, já que
elas constituiriam na divulgação ou publicação da imagem-atributo do biografado sem que
este tenha dado seu consentimento. Diante disso, o biografado poderia, invocando seu direito
à imagem e à vida privada, pleitear judicialmente providências para impedir ou fazer cessar
essa publicação (art. 21 do CC). Em outras palavras, o biografado poderia impedir a produção
da biografia ou, se ela já estivesse pronta, a sua comercialização. O exemplo mais emblemático
de disputa judicial envolvendo o tema ocorreu no caso do cantor Roberto Carlos, que
processou o jornalista e escritor Paulo Cesar de Araújo, autor de sua biografia não-autorizada
chamada de “Roberto Carlos em detalhes” e que havia sido lançada em dezembro de 2006 pela
Editora Planeta, sendo proibida pela Justiça em abril de 2007.
ADI 4815: Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou uma ADI
no STF com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21 do CC/02.
O pedido principal da autora foi para que o STF desse interpretação conforme a Constituição
e declarasse que não é necessário o consentimento da pessoa biografada para a publicação ou
veiculação de obras biográficas, literárias ou audiovisuais.
O STF concordou com o pedido? As biografias não-autorizadas podem ser publicadas mesmo
sem prévia autorização do biografado (ou de sua família)? SIM. O STF julgou procedente a
ADI e conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do CC para declarar
que não é necessária a autorização prévia para a publicação de biografias.
Liberdade de expressão: A CF/88 consagra a liberdade de expressão em seu art. 5º, IX,
prevendo que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”. No art. 220, § 2º, a Carta afirma que é “vedada toda e
qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Desse modo, uma regra
infraconstitucional (Código Civil) não pode abolir o direito de expressão e criação de obras
literárias.
1.42. ATO JURÍDICO PERFEITO: Aplicação imediata aos contratos em curso da lei que fixa
novos índices de correção monetária – (Info 783)
A Lei 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção
monetária previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da sua
vigência deveriam ser alterados.
Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito.
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode
incidir imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato, desde que as normas legais
sejam de natureza cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da vontade dos
contratantes.
Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se surgir
uma lei nova que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os contratantes não
podem invocar direito adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo de manter o teor
das cláusulas na forma como originalmente foram previstas no contrato.
STF. Plenário. RE 212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ,
red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, j. 29/4/15 (Info 783).
Súmula Vinculante 40: A contribuição confederativa de que trata o artigo 8º, IV, da
Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.
OBS:
Art. 8º (...)
IV — a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da
representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista
em lei;
1.44. DIREITO À INFORMAÇÃO: Jornal tem direito de obter informações sobre o uso da
verba indenizatória por senadores – (Info 776) – IMPORTANTE!!!
Determinado jornal requereu ao Senado Federal cópia dos documentos que demonstrassem
como os Senadores utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os
documentos solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos
Parlamentares.
O STF determinou que o Senado forneça cópia dos documentos solicitados.
A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e exclusivamente relacionadas ao
exercício da função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem natureza pública, tanto
pelo fato de estarem sendo pagas por um órgão público (Senado Federal) quanto pela
finalidade a que se destinam, estando vinculadas ao exercício da representação popular
(mandato). Sendo a verba pública, a regra geral é a de que as informações sobre o seu uso
são públicas.
A Corte entendeu que o fornecimento de tais informações não acarreta qualquer risco à
segurança nem viola a privacidade ou intimidade dos Parlamentares.
STF. Plenário. MS 28178/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 4/3/2015 (Info 776).
1.45. DIREITOS SOCIAIS: Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como
indexador econômico – (Info 774)
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo
vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário
mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam
a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir
interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do
benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545).
Após isso, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício
não pode acompanhar automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo,
considerando que ele não pode servir como indexador.
Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual seja
considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser
corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício
continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por
meio de índices econômicos.
STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 11/2/2015 (Info 774)
A Lei (art. 28, inciso V, da Lei 8.906/94) que veda o exercício da atividade de advocacia por
aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o
princípio da isonomia.
STF. Plenário. ADI 3541/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 12/2/14 (Info 735)
A CF/88 e a Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência asseguram
o direito dos portadores de necessidades especiais ao acesso a prédios públicos, devendo a
Administração adotar providências que o viabilizem. O Poder Judiciário, em situações
excepcionais, pode determinar que a Administração Pública adote medidas assecuratórias
de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso configure
violação do princípio da separação de poderes.
STF. 1ª Turma. RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, j. 29/10/13 (Info 726).
1.48. NACIONALIDADE: Ministro da Justiça não tem competência para rever ato de
naturalização – (Info 694)
Segundo o art. 12, § 4º, I, da CF/88, após ter sido deferida a naturalização, seu desfazimento
só pode ocorrer mediante processo judicial, mesmo que o ato de concessão da naturalização
tenha sido embasado em premissas falsas (erro de fato).
O STF entendeu que os §§ 2º e 3º do art. 112 da Lei nº 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) não
foram recepcionados pela CF/88.
Assim, o Ministro de Estado da Justiça não tem competência para rever ato de naturalização.
STF. Plenário. RMS 27840/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, j. 7/2/13 (Info 694).
É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas.
STF. Plenário. RE 597285/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 9/5/12 (repercussão geral)
(Info 665).
2. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
2.1. Alteração dos limites de um Município exige plebiscito – (Info 872)
Para que sejam alterados os limites territoriais de um Município é necessária a realização
de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, nos
termos do art. 18, § 4º da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2921/RJ, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, j.
9/8/17 (Info 872).
Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º da CF/88 exige a edição de uma Lei
Complementar Federal estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios
poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados.
Como atualmente não existe essa LC, as leis estaduais que forem editadas criando novos
Municípios serão inconstitucionais por violarem a exigência do § 4º do art. 18.
STF. Plenário. ADI 4992/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 11/9/14 (Info 758).
3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
3.1. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: Inconstitucionalidade de lei estadual que imponha
obrigações contratuais para seguradoras – (Info 934)
A Lei federal nº 9.478/97 dispõe sobre a política energética nacional e sobre as atividades
relativas ao monopólio do petróleo. Os arts. 48 e 49 dessa lei tratam sobre a distribuição dos
royalties de petróleo, a fim de dar cumprimento ao art. 20, § 1º, da CF/88.
ADI: A Presidente da República ajuizou ADI contra esses dois atos normativos (lei e decreto
estaduais). Na ação, alegou que os atos seriam inconstitucionais porque o art. 22 da CF/88
afirma que compete à União legislar sobre águas, energia e recursos minerais:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...)
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
O que decidiu o STF? O STF julgou parcialmente procedente a ADI para declarar a
inconstitucionalidade formal dos trechos da Lei e do Decreto que falavam em “arrecadação”.
A Lei baiana permitia que o Estado definisse condições para o recolhimento (pagamento) das
compensações financeiras decorrentes da exploração de recursos hídricos e minerais em seu
território e autorizava que a arrecadação dos valores fosse feita diretamente por intermédio da
Secretaria Estadual da Fazenda. A norma também impunha infrações e penalidades pelo atraso
no pagamento de tais compensações. Ocorre que tais dispositivos usurparam a competência
privativa da União para dispor sobre a exploração de recursos energéticos, hídricos e
minerais.
Condições de recolhimento e repartição são definidas pela União: Conforme vimos acima, o §
1º do art. 20 assegura aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e aos órgãos da
administração direta da União participação no resultado da exploração dos recursos hídricos
e minerais. Esses valores possuem natureza jurídica de “receita patrimonial originária”, cuja
titularidade pertence a cada um dos entes federados. Todavia, embora sejam originárias de
Estados e Munícipios, suas condições de recolhimento e repartição são definidas por
regramento da União, uma vez que a ela cabe definir as condições legislativas gerais de
exploração dos potenciais recursos hídricos e minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88). A União
possui, na verdade, dupla autoridade normativa na matéria considerando que compete a ela:
• definir as condições legislativas gerais de exploração de potenciais e recursos hídricos e
minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88 – dispositivos transcritos acima); e
• estabelecer as condições contratuais específicas caso essas atividades sejam outorgadas a
particulares (art. 176, da CF/88):
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais
de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao
concessionário a propriedade do produto da lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais
a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante
autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou
empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração
no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
§ 2º - É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra,
na forma e no valor que dispuser a lei. (...)
Logo, o Estado-membro não pode disciplinar como será a arrecadação desses valores de que
trata o § 1º do art. 20 da CF/88.
Lei estadual pode dispor sobre a fiscalização e controle: Por outro lado, não há nenhum vício
na lei estadual que estipula regras para fiscalização e controle desses recursos. Vale ressaltar,
inclusive, que o art. 23, XI, da CF/88 permite aos entes federativos adotar providências
administrativas para registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa
e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios, possibilitando que tenham
controle sobre as quotas-partes repassadas a título de compensação financeira pela União.
Confira:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: (...)
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e
exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
Por esse motivo, o STF afirmou que são constitucionais os dispositivos da Lei estadual que
tratam sobre as providências administrativas que devem ser observados pelas
concessionárias instaladas no Estado.
O que decidiu o STF? Esta Lei é inconstitucional? NÃO. O STF julgou improcedente a ADI,
mantendo a validade da lei.
Lei trata sobre direito do consumidor: De fato, a competência para legislar sobre
“telecomunicações” é privativa da União (art. 22, IV, da CF/88). Ocorre que o STF entendeu
que essa Lei do Estado do Rio de Janeiro versa, na verdade, sobre direito do consumidor,
matéria que se insere no rol de competências legislativas concorrentes:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
Medida de segurança: O objetivo da Lei foi o de conferir uma proteção aos consumidores,
para tentar evitar que eles sejam vítimas de assaltantes que se passam por funcionários das
empresas prestadoras de serviço. Desse modo, a Lei amplia a segurança dos clientes no
momento em que eles receberão prestadores de serviços em casa.
Não há interferência na atividade de telecomunicações: Vale ressaltar, por fim, que a lei
questionada, ao exigir que a empresa comunique ao consumidor os dados do funcionário
que prestará o serviço, não interfere na atividade de telecomunicações propriamente dita.
Logo, não houve ofensa à competência privativa da União.
3.4. É constitucional lei estadual que veda o corte do fornecimento de água e luz, em
determinados dias, pelas empresas concessionárias, por falta de pagamento – (Info 928) –
IMPORTANTE!!!
É constitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias façam o corte do
fornecimento de água e luz por falta de pagamento, em determinados dias.
Ex: lei do Estado do Paraná proíbe concessionárias de serviços públicos de água e luz de
cortarem o fornecimento residencial de seus serviços por falta de pagamento de contas às
sextas-feiras, sábados, domingos, feriados e no último dia útil anterior a feriado. Também
estabelece que o consumidor que tiver suspenso o fornecimento nesses dias passa a ter o
direito de acionar juridicamente a concessionária por perdas e danos, além de ficar
desobrigado do pagamento do débito que originou o corte.
O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do Consumidor, de modo que não
há vício formal. Isso porque Direito do Consumidor é matéria de competência concorrente,
nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5961/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio,
j. 19/12/18 (Info 928).
OBS:
Direito do Consumidor: O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do
Consumidor, de modo que não há vício formal. Isso porque Direito do Consumidor é matéria
de competência concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
Lei do PR não impediu o corte de forma absoluta: Vale ressaltar que a Lei do Estado do Paraná
não impediu, de forma absoluta, que a concessionária fizesse o corte dos serviços em caso de
inadimplemento. Se a lei estadual tivesse feito isso, seria inconstitucional por afrontar o que
prevê a lei federal a respeito do tema. O que a lei estadual fez foi estabelecer que esse corte não
pode ser realizado em determinados dias nos quais ficaria difícil para o consumidor
regularizar a situação, o que agravaria ainda mais a sua situação.
3.5. É inconstitucional lei do Distrito Federal que trate sobre a estrutura e o regime jurídico
da Polícia Civil do Distrito Federal (a competência para isso é da União) – (Notícia no site) –
(Sem Info) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional lei do Distrito Federal que institua, extinga e transforme órgãos internos
da Polícia Civil do Distrito Federal.
Essa lei viola o art. 21, XIV, da CF/88, que fixa a competência da União para manter e
organizar a Polícia Civil do Distrito Federal.
Deve-se reconhecer que o art. 21, XIV, CF/88 trata tanto de competência administrativa
quanto legislativa, sendo a matéria, portanto, atribuída, prioritariamente, à União.
As leis distritais impugnadas, ao criarem cargos em comissão e novos órgãos, também
instituíram novas obrigações pecuniárias a serem suportadas pela União. Ocorre que é
vedado ao Distrito Federal valer-se de leis distritais para instituir encargos financeiros a
serem arcados pela União.
Como as leis distritais declaradas inconstitucionais eram muito antigas (2001, 2002 e 2005),
o STF decidiu modular os efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 3666, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 06/12/2018 (notícia do site).
OBS:
Imagine a seguinte situação: O Distrito Federal editou três leis que promoveram a
reestruturação da Polícia Civil do DF. Tais leis instituíram, extinguiram e transformaram
órgãos internos da Polícia, bem como criaram novos cargos comissionados, dentre outras
alterações substanciais. Versaram sobre a estrutura administrativa do Polícia Civil/DF e o
regime jurídico dos respectivos servidores.
Tais leis são constitucionais? NÃO. É o que foi decidido pelo STF na ADI 3666.
Deve-se reconhecer que o art. 21, XIV, da CF/88, trata tanto de competência administrativa
quanto legislativa, sendo a matéria atribuída, prioritariamente, à União.
As três leis distritais impugnadas, ao criarem cargos em comissão e novos órgãos, também
instituíram novas obrigações pecuniárias a serem suportadas pela União. Ocorre que é vedado
ao Distrito Federal valer-se de leis distritais para instituir encargos financeiros a serem arcados
pela União. Isso reforça a ideia de que a competência para legislar sobre a Polícia Civil do
Distrito Federal não se enquadra na competência concorrente do art. 24, XVI, da CF/88,
sendo, na verdade, competência privativa da União, com base no art. 21, XIV.
Vale ressaltar que a União não tem competência absoluta para legislar sobre todas as
questões relacionadas com a Polícia Civil do Distrito Federal. Em outras palavras, não há
dúvidas de que existe a possibilidade de o Distrito Federal legislar pontualmente sobre sua
própria Polícia Civil. No entanto, o DF não pode legislar sobre a “estrutura e o regime
jurídico” da PC/DF. Se isso fosse permitido, o DF acabaria invadindo a competência da União
prevista no art. 21, XIV, da CF/88.
Modulação dos efeitos: As leis do DF declaradas inconstitucionais eram de 2001, 2002 e 2005,
ou seja, vigoravam há mais de uma década. Diante disso, o STF entendeu que não se poderia
declarar a inconstitucionalidade de tais diplomas com efeitos ex tunc (retroativos). Assim, o
STF, em nome da segurança jurídica, do excepcional interesse social e da boa-fé, decidiu
modular os efeitos da decisão, fixando as seguintes regras:
1) os atos já praticados ficam preservados;
2) a decisão deverá produzir efeitos somente a partir de 24 meses, contados da
data da sessão de julgamento; e
3) o presente acórdão não incide, exclusivamente para efeitos de aposentadoria,
para os servidores que já estejam aposentados e aqueles que implementaram os
requisitos para aposentação até a data da publicação da ata de julgamento.
3.6. É inconstitucional lei estadual que obriga empresas de telefonia e de TV por assinatura
a manterem escritórios regionais e representantes para atendimento presencial de
consumidores – (Notícia no site) – (Sem Info)
É inconstitucional lei estadual que obriga as empresas concessionárias de serviços de
telecomunicações a manterem escritórios regionais e representantes legais para
atendimento presencial de consumidores em cidades com população superior a 100 mil
habitantes, bem como a divulgarem os correspondentes endereços físicos no site, no
contrato de prestação de serviços e nas faturas enviadas aos usuários.
Trata-se de matéria relativa a “serviços públicos de telecomunicações”, cuja competência é
privativa da União (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4633/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 10/04/18 (notícia do site).
3.7. Lei estadual pode impor que as agências bancárias instalem divisórias individuais nos
caixas de atendimento – (Notícia no site) - (Sem Info)
É constitucional lei estadual ou municipal que imponha sanções às agências bancárias que
não instalarem divisórias individuais nos caixas de atendimento.
Trata-se de matéria relativa a relação de consumo, o que garante ao Estado competência
concorrente para legislar sobre o tema (art. 24, V, CF/88).
STF. Plenário. ADI 4633/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 10/4/18 (notícia do site).
STF. 1ª Turma. ARE 756593 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/12/14.
OBS: O STF já possuía um precedente em sentido semelhante, no entanto, relacionado com
uma lei municipal: STF. 1ª Turma. ARE 756593 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/12/14.
Por quê? O Min. Roberto Barroso explicou que esta Lei do Estado de Pernambuco trata sobre
direito do consumidor. Em princípio, os Estados-membros podem legislar sobre “direito do
consumidor”, considerando que se trata matéria de competência concorrente, prevista no art.
24, V, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo;
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex:
o Congresso Nacional editou o Código de Defesa do Consumidor, sendo estas as normas
gerais. A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar
as normas gerais elaboradas pela União. O Ministro Relator entendeu que, neste caso, o Estado
de Pernambuco extrapolou a competência concorrente e não apenas complementou a
legislação federal. Para o STF, foram ultrapassadas as balizas impostas ao legislador estadual
para a elaboração de normas consumeristas. O Min. Ricardo Lewandowski acompanhou o
entendimento pela inconstitucionalidade formal e salientou que o Estado-membro estaria
também, neste caso, legislando sobre “contratos”, ou seja, sobre Direito Civil, de modo que
invadiu a esfera privativa da União. Assim, o STF julgou procedente o pedido formulado na
ação direta para declarar, por vício formal, a inconstitucionalidade da Lei 15.304/14, do Estado
de Pernambuco, em sua integralidade.
Competência privativa da União: A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de
sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, CF/88:
Art. 22 (...)
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
A expressão “sistema de sorteios”, constante do art. 22, XX, CF/88, abrange os jogos de azar,
as loterias e similares (STF. Plenário. ADI 3895, Rel. Min. Menezes Direito, j. 4/6/08).
A SV fala em Estado e Distrito Federal. Isso significa que os Municípios poderiam legislar
sobre o assunto? NÃO. Os Municípios também não podem. A instituição (criação) de sistemas
de consórcios e sorteios, como no caso das loterias, é matéria de competência legislativa
privativa da União. Extrapola as competências dos Municípios para legislar sobre interesse
local a instituição de loteria municipal, tendo em vista que a legislação federal não permite
isso.
3.13. Lei estadual que fixa piso salarial profissional violando os requisitos da LC federal
103/2000 é considerada inconstitucional por ofensa ao art. 22, I e parágrafo único da CF/88 –
(Info 919)
A competência para editar lei fixando o piso salarial das categorias profissionais (art. 7º, V,
CF/88) é privativa da União por se tratar de direito do trabalho (art. 22, I).
A União editou a LC federal 103/2000 autorizando que os Estados-membros e o DF editem
leis fixando o piso salarial dos profissionais de acordo com suas realidades regionais.
Ocorre que a União exigiu, dentre outros requisitos, que essa lei seja de iniciativa do chefe
do Poder Executivo estadual (Governador).
Se uma lei estadual/distrital de iniciativa parlamentar fixa o piso salarial, essa lei ultrapassa
os limites impostos pela LC federal 103/2000 e, em última análise, viola diretamente o art.
22, I e § único, da CF/88, sendo considerada inconstitucional.
Assim, a extrapolação dos limites da competência legislativa delegada pela União aos
Estados e ao Distrito Federal representa a usurpação de competência legislativa da União
para legislar sobre direito do trabalho (art. 22, I e parágrafo único) e, consequentemente, a
inconstitucionalidade formal da lei delegada.
STF. Plenário. ADI 5344 MC/PI, Rel. Min. Edson Fachin, j. 11/10/2018 (Info 919).
OBS:
Piso salarial: A Constituição Federal, em seu art. 7º, prevê o seguinte direito social:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social: (...)
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do
trabalho;
Piso salarial é o valor mínimo que os membros de determinada categoria profissional devem
ganhar. Ex: piso salarial dos jornalistas, dos engenheiros, dos psicólogos etc.
Quem fixa esse piso salarial? O piso salarial pode ser fixado:
• por lei;
• por sentença normativa
• por acordo ou convenção coletiva de trabalho.
Se for fixado por lei, de quem é a competência para editá-la? A fixação de um piso salarial para
empregados é um assunto relacionado com Direito do Trabalho. Logo, compete à União,
privativamente, editar lei tratando sobre o piso salarial dos empregados da iniciativa privada,
conforme determina o art. 22, I, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
As competências do art. 22 podem ser delegadas pela União para os entes federativos? SIM. É
o que determina o parágrafo único do art. 22:
Art. 22 (...)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste
artigo.
LC 103/2000: O que fez a União? Editou uma lei complementar delegando para os Estados-
membros e DF a competência para editarem leis fixando o piso salarial dos profissionais.
Em outras palavras, a União falou o seguinte: como a realidade de cada Estado é diferente, eu
abro mão de fixar o piso salarial nacional para os profissionais e autorizo que cada Estado/DF
edite sua própria lei prevendo o valor mínimo que os profissionais deverão receber. Isso foi
feito por meio da LC 103/2000, que tem a seguinte redação:
Art. 1º Os Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir,
mediante lei de iniciativa do Poder Executivo, o piso salarial de que
trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal para os
empregados que não tenham piso salarial definido em lei federal,
convenção ou acordo coletivo de trabalho.
§ 1º A autorização de que trata este artigo não poderá ser exercida:
I – no segundo semestre do ano em que se verificar eleição para os
cargos de Governador dos Estados e do Distrito Federal e de
Deputados Estaduais e Distritais;
II – em relação à remuneração de servidores públicos municipais.
§ 2º O piso salarial a que se refere o caput poderá ser estendido aos
empregados domésticos.
Art. 2º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua
publicação.
Pisos salariais fixados em valor mais alto em acordos ou convenções coletivas deverão
prevalecer: Vale ressaltar que, se determinada categoria profissional conseguiu, por meio de
acordo ou convenção coletiva, estipular um piso salarial, irá prevalecer aquilo que foi definido
na negociação coletiva. Assim, o piso salarial fixado pela legislação estadual não incidirá
sobre as profissões que tenham convenção ou acordo coletivo de trabalho, preservando-se
os pisos salariais assim definidos. Por outro lado, em relação aos trabalhadores não
abrangidos por nenhuma forma anterior de negociação coletiva, o piso salarial estadual
incidirá, passando a ser esse, portanto, o patamar mínimo legalmente assegurado à categoria,
e não mais o “salário mínimo nacional”. A instituição do piso salarial regional visa reduzir as
desigualdades sociais, conferindo proteção aos trabalhadores e assegurando a eles melhores
condições salariais. A LC federal 103/00 teve por objetivo maior assegurar àquelas classes de
trabalhadores menos mobilizadas e, portanto, com menor capacidade de organização sindical,
um patamar mínimo de salário. A fim de manter-se o incentivo à negociação coletiva (art. 7º,
XXVI, CF/88), os pisos salariais regionais somente serão estabelecidos por lei naqueles casos
em que não haja convenção ou acordo coletivo de trabalho. Assim, as entidades sindicais
continuarão podendo atuar nas negociações coletivas, desde que respeitado o patamar mínimo
legalmente assegurado. STF. Plenário. ADI 4.364 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/5/13.
Lei do Estado do Piauí tratando sobre o piso salarial de fisioterapeutas: O Estado do Piauí,
conforme autoriza a LC federal 103/2000, editou a Lei 6.633/15 fixando o piso salarial do
Fisioterapeuta e do Terapeuta Ocupacional. Veja:
Art. 1º O piso salarial do Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional no
âmbito do Estado do Piauí é de:
I - R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais, para jornada de até quatro
horas diárias ou vinte horas semanais;
II - R$ 2 500,00 (dois mil e quinhentos reais) mensais, para jornada
de até seis horas diárias ou trinta horas semanais.
Art. 2º - O reajuste do piso salarial de que trata esta Lei é anual,
sempre no dia primeiro de janeiro do ano subsequente, pela variação
acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor.
Qual foi, no entanto, o “problema” desta Lei? Ela foi fruto de projeto de lei de iniciativa de
um Deputado Estadual. Em outras palavras, foi um Deputado Estadual quem propôs o projeto
que deu origem a essa lei.
Há um vício neste caso? SIM. Isso porque o art. 1º da LC federal 103/2000 afirma que “os
Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir, mediante lei de iniciativa do Poder
Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal (...)”.
Essa Lei do Estado do Piauí violou, portanto, o art. 1º da LC federal 103/2000. Isso está muito
claro... A dúvida que resta é a seguinte: podemos dizer que a Lei do Piauí é inconstitucional
ou ela é meramente ilegal? Caberia ADI contra esta Lei? SIM. A Lei do Piauí é
inconstitucional. O STF possui entendimento de que a lei estadual que extrapola, ou seja, que
ultrapassa a autorização conferida pela LC federal é considerada INCONSTITUCIONAL.
3.14. Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local,
ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor – (Info 917) –
IMPORTANTE!!!
Mais recentemente: STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1660314/GO, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, j. 07/11/2017.
A constitucionalidade dessa lei foi questionada sob o argumento de que teria havido invasão
de competência da União. O que decidiu o STF? Essa lei é inconstitucional? NÃO. O STF
decidiu que essa lei é constitucional.
Competência dos Municípios para legislar sobre assuntos de interesse local: Compete ao
município legislar sobre assuntos de interesse local, nos termos do art. 30, I, da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
Assim, os Municípios podem legislar sobre proteção ao consumidor, desde que fiquem
restritos ao interesse local. Nesse sentido:
Lei do Município de Campos do Jordão fixou tempo máximo de
espera para atendimento em caixas de supermercado. A
jurisprudência do STF vem reiteradamente afirmando a
competência dos municípios para legislar sobre matéria
consumerista quando sobreleva o interesse local, como ocorre no
caso dos autos, em que a necessidade de um melhor atendimento
aos consumidores nos supermercados e hipermercados é aferível
em cada localidade, a partir da observação da realidade local. STF.
2ª Turma. RE 818550 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
06/10/2017.
Proteção das relações de consumo: A lei atacada está dentro da competência legislativa
municipal, porque diz respeito à proteção das relações de consumo dos seus munícipes. Ela
tem por objetivo evitar o constrangimento dos particulares e de lhes proporcionar maior
conforto, haja vista que impede a dupla conferência das mercadorias e evita o enfrentamento
de várias filas.
Municípios podem legislar sobre direito do consumidor, desde que em assuntos de interesse
local: Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda
que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor. Ao se analisar leis
municipais que tratem sobre assuntos de interesse local, o STF tem procurado conferir uma
interpretação constitucional que seja mais favorável à autonomia legislativa dos
municípios, haja vista ter sido essa a intenção do constituinte ao elevá-los ao status de entes
federativos na CF/88. Essa autonomia revela-se primordialmente quando o município exerce,
de forma plena, sua competência legislativa em matéria de interesse da municipalidade, como
previsto no art. 30, I, da CF/88. Em outras palavras, uma das expressões da autonomia
municipal é justamente a sua competência para legislar sobre assuntos de interesse local.
Por isso, toda interpretação que limite ou mesmo vede a atuação legislativa do Município deve
considerar a primazia do interesse da matéria regulada, de modo a preservar a essencial
autonomia desse ente político no sistema federativo pátrio.
Não houve violação ao art. 22, I, da CF/88: O STF ressaltou que a referida lei tratou sobre o
bem-estar dos consumidores e, portanto, não houve qualquer relação com a atividade-fim
das empresas, razão pela qual não se pode dizer que a lei disponha sobre direito civil ou
direito comercial. Logo, não houve violação do art. 22, I, da CF/88.
Interesse local: Não existe um critério objetivo para definir, de maneira absolutamente
segura, em que consiste interesse local e quando a legislação ultrapassa isso. Assim, deve-se
prestigiar a vereança local, que bem conhece a realidade e as necessidades da comunidade.
3.15. É inconstitucional lei estadual que, ao tratar sobre matéria de competência concorrente
(art. 24 da CF/88), simplesmente determina que devem ser observadas as regras previstas na lei
federal – (Info 914) – IMPORTANTE!!!
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex:
o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar
as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras palavras, não
havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a respeito daquele
tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar posteriormente as normas gerais,
a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for contrário à legislação da União.
Importante também esclarecer que a competência da União restringe-se a estabelecer “normas
gerais”. Logo, se a União fizer uma lei geral que estabeleça muitos detalhes, esta lei também
será inconstitucional por invadir a competência dos Estados-membros.
Lei do Rio Grande do Sul: Em 2000, o Estado do Rio Grande do Sul editou a Lei estadual nº
11.463 tratando sobre o tema da seguinte forma:
Art. 1º O cultivo comercial e as atividades com organismos
geneticamente modificados (OGMs), inclusive as de pesquisa, testes,
experiências, em regime de contenção ou ensino, bem como os
aspectos ambientais e fiscalização obedecerão estritamente à
legislação federal específica.
O art. 2º diz que a Lei entra em vigor no dia de sua publicação e o art. 3º fala que ela revoga as
leis em sentido contrário. Em outras palavras, a lei estadual é só isso mesmo. Ela diz apenas
que, no RS, toda e qualquer atividade relacionada com os OGMs “obedecerão estritamente
à legislação federal específica”.
Essa Lei estadual possui algum vício? SIM. O STF considerou que essa lei é
INCONSTITUCIONAL.
Por quê? Em primeiro lugar, deve-se reiterar que o Estado-membro poderia legislar sobre esse
tema. O “problema” está no conteúdo. O STF entendeu que essa lei do Estado do Rio Grande
do Sul significou uma verdadeira “renúncia” ao exercício da competência legislativa
concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o Estado abriu
mão de sua competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88. O ente federado não
pode se recusar a implementar as providências impostas a ele pelo legislador constituinte.
Segundo o Min. Marco Aurélio,
“O descompasso da lei impugnada é ainda maior quando se
considera o federalismo cooperativo. A lógica mostra-se
intransponível e direciona ao estabelecimento de normas gerais pela
União e à atuação dos Estados no atendimento das peculiaridades
regionais. O Estado se exime de cumprir o dever constitucional de
providenciar a implementação, harmoniosa e atenta aos interesses
regionais, de valores consagrados na Lei Fundamental.”
O Brasil possui uma extensa dimensão territorial e, por essa razão, é indispensável que exista
um tratamento particularizado para essa matéria, tendo em vista a diversidade biológica
verificada no país. Assim, é necessário que sejam elaboradas políticas públicas específicas à
realidade local. O respeito às necessidades regionais é uma condição de viabilidade da
Federação. Em outras palavras, só há Federação com a autonomia dos Estados-membros
sendo exercida. Essa Lei do RS foi uma lei remissiva, ou seja, ela falou o seguinte: a
competência para tratar sobre esse assunto é minha também, mas façam aí tudo o que a
legislação federal determinar. Para o STF, “a banalização de normas estaduais remissivas
fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da União, sem
atentar para nuances locais.”
3.16. Lei estadual que regule a forma de cobrança do ITCMD pela PGE não viola o CPC –
(Info 905)
3.17. É constitucional lei estadual que obrigue plano de saúde a justificar recusa de
tratamento – (Info 890)
Assim, a lei impugnada não disciplinou assuntos de direito civil, comercial ou política
securitária. O CDC é a norma geral editada pela União na defesa do consumidor e tal diploma
reconhece como direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem
(art. 6º, III). A lei estadual está, portanto, em harmonia com o CDC, respeitando assim as
regras do art. 24 da CF/88. Além disso, essa lei atende ao comando do inciso XXXII do art. 5º
da Constituição:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;
Sem interferência nos contratos: A lei atacada cumpre a função estatal de proteção ao consumo,
não havendo interferência nos contratos firmados entre as operadoras e os usuários nem
representando equilíbrio atuarial das operadoras de planos e seguros privados de
assistência à saúde. Conforme explicou a Min. Cármen Lúcia:
“A entrega do documento informativo expondo as razões pelo qual
um determinado tratamento ou procedimento foi negado não
amplia o rol de obrigações contratuais entre a operadora e o usuário.
Pelo contrário, o que se tem é apenas uma transparência maior para
cumprimento dos termos legislados” (Min. Cármen Lúcia).
Em outras palavras, as operadoras já tinham esse dever por força do próprio CDC e a lei
estadual apenas explicitou o comando.
Sem violação à livre iniciativa: A lei estadual impugnada não limita a livre iniciativa. Ao
contrário, fomenta o desenvolvimento de um mercado mais sustentável. Além disso, conforme
preconiza o inciso V do art. 170, a livre iniciativa deverá ser exercida observando-se como um
dos seus princípios a defesa do consumidor.
3.18. Inconstitucionalidade de lei estadual que estabeleça exigências nos rótulos dos
produtos em desconformidade com a legislação federal – (Info 871)
3.20. Compete aos Municípios legislar sobre meio ambiente em assuntos de interesse local
– (Info 870) – IMPORTANTE!!!
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição,
quando se tratar de interesse local.
Ex: é constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de
multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões
considerados aceitáveis.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
j. 29/6/17 (Info 870).
(PGEPE-2009-CESPE): O Município não está elencado no artigo constitucional que trata
da competência concorrente, mas pode legislar acerca do tema meio ambiente.
OBS:
Normas municipais prevendo multa para carros com fumaça acima dos padrões: O Município
de Belo Horizonte editou uma lei, depois regulamentada por um decreto, estipulando a
aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima
de padrões considerados aceitáveis.
O Município poderia ter legislado sobre esse tema? Essas normas são compatíveis com a
CF/88? SIM.
De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente? A competência para legislar sobre
o meio ambiente é concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle
da poluição;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex:
o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar
as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras palavras, não
havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a respeito daquele
tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar posteriormente as normas gerais,
a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for contrário à legislação da União.
Mas os Municípios não estão elencados no caput do art. 24...: É verdade. No entanto, mesmo
assim eles podem legislar sobre os assuntos do art. 24, desde que o façam para atender
peculiaridades municipais, ou seja, no interesse local. Essa autorização para que os
Municípios legislem sobre matérias de competência concorrente está prevista no art. 30, I e II,
da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
Dessa forma, os Municípios podem tratar sobre os assuntos do art. 24, no que couber, ou seja,
naquilo que for de interesse local. Em virtude do exposto, conclui-se que os Municípios
possuem competência para legislar sobre o meio ambiente, limitada esta, no entanto, ao
tratamento normativo de assuntos de interesse estritamente local.
3.21. Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam
fundamentadamente – (Info 857)
3.22. Estado-membro pode legislar sobre a concessão, por empresas privadas, de bolsa de
estudos para professores – (Info 856)
3.23. É inconstitucional lei estadual tratando sobre a venda de títulos de capitalização – (Info
847)
3.24. Viola a competência privativa da União lei estadual que exija nova certidão negativa
não prevista na Lei 8.666/93 – (Info 838) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do
Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com órgãos
e entidades estaduais.
Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas
gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
Certidão de Violação aos Direitos do Consumidor (CVDC): O Estado do Mato Grosso do Sul
editou uma lei prevendo que para a pessoa (física ou jurídica) participar de licitações ou assinar
contratos com a Administração Pública estadual acima de determinado valor, ela deveria
apresentar uma certidão negativa de violação aos direitos do consumidor. De acordo com a lei,
a pessoa ficaria impedida de tirar essa certidão negativa se já tivesse sido condenada,
administrativa ou judicialmente, por ofensa a direitos do consumidor, nos últimos 5 anos.
Isso significa que os Estados, DF e os Municípios podem editar leis tratando sobre licitações e
contratos, desde que sejam referentes a normas “não gerais”. Em outras palavras, tais entes
podem suplementar as normas gerais fixadas pela União, conforme autorizam os arts. 24, § 2º,
25, §1º, e 30, II:
Art. 24 (...)
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
Art. 25 (...)
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição.
Requisitos para que a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios seja válida: Para
se analisar se a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios foi válida ou não, deverá
ser feito um exame em duas etapas:
1ª) identificar quais são as normas gerais fixadas pela União no caso concreto como modelo
nacional;
2ª) verificar se as inovações feitas pelo legislador estadual, distrital ou municipal sobre o tema
são compatíveis com as normas gerais impostas pela União.
Lei do Estado do MS afrontou as normas gerais fixadas pela União: O principal diploma que
trata sobre licitações e contratos é a Lei nº 8.666/93. Nela, a União fixou as normas gerais sobre
o tema. A Lei nº 8.666/93 exige algumas certidões referentes à regularidade fiscal e trabalhista
(art. 29), mas não faz qualquer exigência quanto à inexistência de condenações relacionadas
com a violação de direitos do consumidor. Assim, a lei editada pelo Estado do MS criou novas
condições que somente lei federal poderia prever. Ao criar requisito de habilitação obrigatório
para a maioria dos contratos estaduais, o Estado-membro se arvorou na condição de intérprete
primeiro do direito constitucional de participar de licitações. Criou, ainda, uma presunção
legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de registros desabonadores
nos cadastros públicos de proteção do consumidor seria motivo suficiente para justificar o
impedimento à contratação de pessoas físicas e jurídicas pela Administração local.
A lei estadual impugnada introduziu um requisito genérico e inteiramente novo para
habilitação em qualquer licitação. Ao assim prever, a legislação estadual afrontou as normas
gerais do ordenamento nacional de licitações e contratos e se apropriou de competência da
União.
3.25. Lei estadual que trata sobre a cobrança em estacionamento de veículos – (Info 835) –
IMPORTANTE!!!
O Min. Marco Aurélio defendeu que a lei padece tanto de inconstitucionalidade formal (a
competência seria privativa da União) como material (indevida intervenção da norma na
iniciativa privada).
Existem diversos Municípios que possuem leis semelhantes a esta. Caso sejam questionadas,
tais leis municipais que tratam sobre o tema também poderão ser declaradas
inconstitucionais? SIM. Tanto as leis estaduais como também as municipais que estabeleçam
regras de cobrança fracionada em estacionamentos são consideradas inconstitucionais. Assim,
não muda nada o fato de a lei ser municipal ou estadual.
Leis municipais que imponham cobrança fracionada serão também consideradas
inconstitucionais, seja porque a competência para legislar sobre o tema é da União (argumento
1), seja porque violariam a livre iniciativa (argumento 2).
Lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio invade a
competência da União para legislar sobre telecomunicações.
Normas estaduais que interfiram diretamente na prestação da atividade desempenhada
pelas concessionárias de serviços de telecomunicação são formalmente inconstitucionais
considerando que, por envolverem questões relacionadas ao interesse geral ou nacional,
devem ser tratadas de maneira uniforme no País inteiro. A disciplina dos serviços públicos
que funcionam em todo o território cabe à União.
Pela teoria da prevalência do interesse, quando a matéria transcender os interesses locais e
regionais, a competência para dispor sobre o assunto é da União. A instalação de
bloqueadores de sinal nas proximidades dos presídios pode afetar diretamente a qualidade
da prestação do serviço para a população circundante, de forma que este tema deve ser
discutido e disciplinado de maneira uniforme em todo o País. Essas leis estaduais não estão
relacionadas com peculiaridades locais. Além disso, o STF não concordou com o argumento
dos Estados de que tais leis tratariam sobre direito penitenciário.
STF. Plenário. ADI 3835/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, ADI 5253/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias Toffoli, ADI
4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 3/8/16 (Info 833).
A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União art. 21,
XI e art. 22, IV, da CF/88).
Logo, é inconstitucional lei estadual que determinou às empresas telefônicas que criem e
mantenham um cadastro de assinantes interessados em receber ofertas de produtos e
serviços, que deve ser disponibilizado para as empresas de telemarketing.
STF. Plenário. ADI 3959/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2016 (Info 822).
OBS:
A competência para legislar sobre telecomunicações é privativa da União, estando prevista nos
art. 21, XI e 22, IV, da CF/88:
A Lei de que trata este inciso é a Lei 9472/97, que dispõe sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais.
3.28. Inconstitucionalidade de lei estadual que trate sobre revalidação de títulos obtidos em
instituições de ensino dos países do MERCOSUL – (Info 817)
É inconstitucional lei estadual que veda ao Poder Público estadual exigir a revalidação de
títulos obtidos em instituições de ensino superior dos países membros do Mercado Comum
do Sul – MERCOSUL.
A lei estadual que trata sobre revalidação de títulos obtidos em instituições de ensino
superior dos países membros do MERCOSUL afronta o pacto federativo (art. 60, §4º, I, da
CF/88) na medida em que usurpa a competência da União para dispor sobre diretrizes e
bases da educação nacional (art. 22, XXIV).
STF. Plenário. ADI 5341 MC- Referendo/AC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/3/2016
(Info 817).
3.29. Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê punições para quem exige teste de
gravidez nas contratações (Info 807)
3.30. A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras
leis municipais além do plano diretor, desde que sejam compatíveis com esta (Info 805)
Os Municípios com mais de 20 mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre
programas e projetos específicos de ordenamento do espaço urbano por meio de leis que
sejam compatíveis com as diretrizes fixadas no plano diretor.
Isso significa que nem sempre que o Município for legislar sobre matéria urbanística, ele
precisará fazê-lo por meio do Plano Diretor. O Plano Diretor é o instrumento legal que dita
a atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao ordenamento urbano, traçando
suas linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a expedição de outras lei e
decretos, desde que guardem conformidade com o Plano Diretor.
STF. Plenário. RE 607940/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 29/10/2015 (Info 805).
Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil
e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.
3.34. Súmula vinculante 38 – (Info 777)
3.35. Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula – (Info 775)
A competência para legislar sobre educação e ensino é concorrente (art. 24, IX, da CF/88).
No âmbito da legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as
normas gerais (§ 1º) e os Estados podem suplementar (complementar, detalhar) a legislação
federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei 9.394/96 (LDB).
Determinado Estado-membro editou uma lei prevendo o número máximo de alunos que
poderiam estudar nas salas de aula das escolas, públicas ou particulares, ali existentes.
O STF entendeu que essa lei é constitucional e que não usurpa a competência da União para
legislar sobre normas gerais de educação.
STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).
3.36. É inconstitucional lei estadual que cria obrigações pecuniárias para as concessionárias
de energia elétrica – (Info 774)
3.38. Lei estadual não pode proibir que concessionárias de serviços de telecomunicações
cobrem assinatura mensal do consumidor – (Info 763) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)
3.39. Competência do TCE para julgar as contas dos Presidentes das Câmaras Municipais –
(Info 757)
É inconstitucional norma da CE que preveja que compete às Câmaras Municipais os
julgamentos das contas de seus Presidentes.
A CF/88 somente autoriza que as Câmaras Municipais julguem as contas dos Prefeitos. No
caso das contas dos Presidentes das Câmaras de Vereadores, estas devem ser julgadas pelo
TCE.
STF. Plenário. ADI 1964/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/9/2014 (Info 757).
3.40. Lei estadual não pode impor prazos para as empresas de planos de saúde – (Info 754)
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê prazos máximos para que as empresas de
planos de saúde autorizem exames médicos aos usuários. Isso porque trata-se de lei que
dispõe sobre direito civil, direito comercial e política de seguros, matérias que são de
competência da União (art. 22, I e VII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4701/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/8/2014 (Info 754).
3.41. Competência para julgar MS contra ato de Presidente de TJ que cumpre resolução do
CNJ – (Info 753)
CE pode prever que o servidor público eleito para um cargo de dirigente sindical terá direito
de ficar afastado do serviço, recebendo sua remuneração, enquanto durar seu mandato.
STF. Plenário. ADI 510/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/6/2014 (Info 750).
3.43. União é parte legítima para figurar no polo passivo de ação buscando assegurar
gratificação a policial civil do DF – (Info 748)
3.44. Estado-membro tem competência para legislar sobre procedimentos do IP desde que
não viole as normas gerais da União – (Info 741) - Atenção! MP e Delegado!
3.45. CE não pode exigir autorização da ALE para que o Governador (ou o Vice) se ausente
do país qualquer que seja o prazo – (Info 741)
É inconstitucional norma da Constituição estadual que exija autorização da Assembleia
Legislativa para que o Governador e o Vice possam se ausentar do país por menos de 15
dias.
A CE somente poderia prever a autorização se a ausência fosse superior a esse prazo.
STF. Plenário. ADI 775/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/4/2014 (Info 741).
STF. Plenário. ADI 2453/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/4/2014 (Info 741)
3.47. Lei estadual pode regular procedimento para homologação judicial de acordo de
alimentos com a participação da Defensoria Pública – (Info 741)
É constitucional lei estadual que regula procedimento para homologação judicial de acordo
sobre a prestação de alimentos firmada com a intervenção da Defensoria Pública. Isso
porque tal legislação está inserida na competência concorrente (art. 24, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2922/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/4/2014 (Info 741).
3.48. CE não pode vincular determinadas receitas para o pagamento de apenas uma espécie
de precatório – (Info 740)
3.49. CE não pode impor prazos para que o chefe do Poder Executivo apresente proposições
legislativas ou pratique atos administrativos – (Info 736)
É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe prazos para que o chefe do
Poder Executivo apresente proposições legislativas ou pratique atos administrativos.
STF. Plenário. ADI 179/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
3.50. CE não pode vincular remuneração dos servidores públicos estaduais ao salário
mínimo profissional (piso salarial profissional) – (Info 736)
É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que preveja que os servidores
públicos estaduais não poderão receber remuneração inferior ao piso salarial profissional
(salário mínimo profissional) estabelecido em lei federal. Tal regra viola o art. 37, XIII, da
CF/88 e a autonomia dos estados para fixar os vencimentos de seus servidores (arts. 2º e 25).
STF. Plenário. ADI 290/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
STF. Plenário. ADI 668/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
3.51. É inconstitucional norma da CE que prevê que ex-Deputados que forem servidores
públicos poderão ficar em disponibilidade remunerada após o exercício do mandato – (Info
736)
3.52. CE não pode impor obrigações para servidores municipais nem para empresas
públicas e sociedades de economia mista – (Info 736)
3.53. CE não pode tratar sobre o regime trabalhista dos servidores das empresas públicas e
sociedades de economia mista – (Info 736)
3.54. CE não pode prever, para o servidor público em disponibilidade, regras diferentes do
modelo instituído pela CF/88 – (Info 736)
É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que afirme que o servidor
público em disponibilidade ficará recebendo remuneração INTEGRAL. Isso porque o § 3º
do art. 41 da CF/88 estabelece que o servidor em disponibilidade terá remuneração
PROPORCIONAL ao tempo de serviço.
É também incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que afirme que o
servidor público em disponibilidade deverá ser aproveitado em outro cargo NO PRAZO
MÁXIMO de 1 ano. Isso porque a CF/88, ao tratar sobre o tema, não estipulou tal interregno.
STF. Plenário. ADI 239/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736)
3.57. Lei estadual dispondo sobre matéria já disciplinada em lei federal – IMPORTANTE!!!
– (TJCE-2018)
4. PROCESSO LEGISLATIVO
4.1. Inconstitucionalidade de lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha
atribuições ao DETRAN – (Info 934)
4.2. É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura
de emenda à Constituição Estadual – (Info 921) – IMPORTANTE!!!
A iniciativa popular de emenda à Constituição Estadual é compatível com a Constituição
Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49,
VI, da CF/88.
Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emendas
ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedimento para
que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência
constante da Carta Federal.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).
OBS:
Quem pode propor emendas à Constituição Federal? O art. 60 da CF/88 estabelece que a
Constituição Federal poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados
ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades
da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria
relativa de seus membros.
O art. 61, § 2º, da CF/88 admite a apresentação de projeto de lei por meio de iniciativa popular.
Isso vale também para emendas à Constituição Federal? É possível a apresentação de
proposta de emenda à Constituição Federal por meio de iniciativa popular? NÃO. Isso porque
o art. 60, da CF/88 trouxe o rol de legitimados e nele não previu a iniciativa popular. Além
disso, o art. 61, § 2º é expresso ao mencionar “projeto de lei”:
Art. 61 (...)
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à
Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo,
um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos
eleitores de cada um deles.
Obs: José Afonso da Silva, talvez um dos maiores constitucionalistas do Brasil, defende que a
Constituição Federal poderia ser emendada por proposta de iniciativa popular. Isso com base
em uma interpretação sistemática e com fulcro na soberania popular (SILVA, José Afonso da.
Curso de Direito Constitucional positivo. 33ª ed. São Paulo. Malheiros, 2010, p. 64). Trata-se,
contudo, de posição francamente minoritária.
Essa previsão foi questionada no STF. O que decidiu o Supremo? É possível que Constituição
do Estado preveja a possibilidade de apresentação de proposta de emenda à Constituição
Estadual por meio de iniciativa popular? SIM. É o que foi decidido no julgado veiculado no
Info 921 do STF.
Vejamos os seguintes artigos da CF/88, citados no julgado:
Art. 1º (...)
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.
Na democracia representativa, além dos mecanismos tradicionais de seu exercício, por meio
dos representantes eleitos pelo povo, também há instrumentos de participação direta, como é
o caso do projeto de iniciativa popular. A Constituição do Amapá democratizou ainda mais o
processo de reforma das regras constitucionais estaduais. O fato de não haver regra expressa
semelhante na CF/88 não faz com que a norma da CE/AP seja inconstitucional por violação
à simetria. Isso porque se, por um lado, não existe previsão expressa, por outro, não há uma
proibição na CF/88, devendo, então, ser considerada válida a norma estadual, tendo em vista
que ela aumenta os mecanismos de participação direta do povo. Além disso, a CF/88 prevê
a possibilidade de a população ser chamada a participar por meio de plebiscitos e referendos,
de forma que não há qualquer problema em o Poder Legislativo estadual acolher a
propositura de um tema trazido ao parlamento pelos cidadãos.
4.3. É inconstitucional lei estadual que exige prévia autorização da ALE para que os órgãos
do SISNAMA possam celebrar instrumentos de cooperação no Estado – (Info 919)
É inconstitucional, por violar o princípio da separação dos poderes, lei estadual que exige
autorização prévia do Poder Legislativo estadual (Assembleia Legislativa) para que sejam
firmados instrumentos de cooperação pelos órgãos componentes do Sistema Nacional do
Meio Ambiente – SISNAMA.
Também é inconstitucional lei estadual que afirme que Fundação estadual de proteção do
meio ambiente só poderá transferir responsabilidades ou atribuições para outros órgãos
componentes do SISNAMA se houver aprovação prévia da Assembleia Legislativa.
STF. Plenário. ADI 4348/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 10/10/18 (Info 919).
OBS: Comentários no arquivo de Direito Ambiental.
OBS: Vejamos o teor da Súmula Vinculante 38: “É competente o Município para fixar o
horário de funcionamento de estabelecimento comercial”. Nesse sentido, vejamos o
seguinte julgado do STF: "O Supremo Tribunal Federal já decidiu positivamente acerca da
competência do Município, e não do Estado, para legislar a respeito de horário de funcionamento de
estabelecimento comercial, inclusive para aqueles que comercializam bebidas alcoólicas, por ser
matéria de interesse local, nos termos do art. 30, I, da Constituição Federal." (RE 852233 AgR,
Rel. Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, j. 26.8.16). Sabemos que a lei é inconstitucional. Logo,
caberá ADI. Por fim, no caso em tela, não cabe reclamação constitucional contra leis, a teor
do que dispõe o art. 103-A, §3º da CF: “Do ato administrativo ou decisão judicial que
contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo
Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,
conforme o caso.” A reclamação é, portanto, contra ato administrativo ou decisão judicial.
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Foi aprovado, na Câmara Municipal, projeto de lei
iniciado por um Vereador e que proíbe a realização de eventos patrocinados por produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros em
imóveis de propriedade do Município de São Paulo. Algum tempo depois esta lei foi
questionada judicialmente pelo Prefeito junto ao Tribunal de Justiça sob o argumento de que
ela seria inconstitucional por duas razões:
1ª) Vício de iniciativa. A lei teria invadido a esfera de atribuição do Poder Executivo
considerando que a iniciativa para propor projetos de lei que tratem sobre a Administração
Pública municipal é do Prefeito, nos termos do art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88 (aplicável ao âmbito
municipal em face do princípio da simetria):
Art. 61. (...)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis
que: (...)
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração
pública, observado o disposto no art. 84, VI;
2ª) Invasão de competência federal. A referida lei municipal teria tratado sobre propaganda
comercial, assunto que é de esfera da competência da União, conforme determina o art. 22,
XXIX, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXIX - propaganda comercial.
A referida lei municipal apresenta os vícios acima apontados? A lei é inconstitucional? NÃO.
É o que foi decidido no Info 844 do STF.
Inexistência de vício de iniciativa: A Lei municipal atacada não invadiu a esfera de atribuição
própria do Poder Executivo. O Prefeito tem atribuição constitucional para exercer a
administração do patrimônio municipal, mas isso não impede que o Poder Legislativo
estabeleça, mediante lei, limitações à realização, em imóveis do Município, de eventos
patrocinados por empresas ligadas ao comércio de cigarros e de bebidas alcoólicas. Além disso,
a realização de eventos não se enquadra nas atividades de mera administração dos bens
públicos, de forma que não se mostra ilegítima sua regulamentação, mediante lei, pela
Câmara Municipal. Vale ressaltar, por fim, que as hipóteses de iniciativa legislativa reservadas
ao Prefeito devem ser interpretadas de forma restritiva (e não ampliativa), sob pena de afronta
ao princípio da harmonia e independência entre os Poderes.
Não houve ofensa ao art. 22, XXIX, da CF/88: A Lei municipal em questão não limita a
veiculação de propagandas comerciais por distribuidoras de cigarro e de bebidas alcoólicas,
mas apenas proíbe a realização, em imóveis do Município, de eventos patrocinados por
empresas envolvidas no comércio dessas substâncias. Dessa forma, a lei local impõe restrição
que recai sobre a Administração Pública municipal e não sobre as empresas
comercializadoras de cigarros e bebidas alcoólicas. Logo, esta lei encontra-se no âmbito de
competência do Poder Legislativo local.
4.5. Disciplina sobre a extinção de empresa estatal deverá ser tratada em lei de iniciativa
do Poder Executivo – (Info 830)
Existem também outros recentes no mesmo sentido: STF. Plenário. ADI 3942/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, jugado em 5/2/2015 (Info 773).
Caso concreto julgado pelo STF: O Governador do Estado enviou projeto de lei tratando sobre
os servidores de determinada entidade estadual. Durante a tramitação do projeto, um
Deputado apresentou emenda criando uma gratificação para os servidores dessa entidade. O
projeto foi aprovado e sancionado, convertendo-se em lei. O STF julgou essa lei
inconstitucional porque houve aumento de despesa.
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem
sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o
território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no
art. 96.
(...)
Art. 96. Compete privativamente:
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais
de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no
art. 169:
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços
auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do
subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver;
"A prerrogativa para instaurar o processo legislativo, conferida ao Tribunal de Contas, tem por
finalidade preservar sua autonomia funcional, administrativa e financeira. Os projetos
apresentados ao Legislativo consubstanciam o instrumento formal do exercício do poder de
iniciativa, consistente na escolha dos interesses a serem juridicamente tutelados." (Min. Marco
Aurélio).
Obs: apesar de o art. 73 falar em TCU, essa regra também se aplica aos Tribunais de Contas
dos Estados, por força do art. 75 da CF/88:
Assim, os projetos de lei que versam sobre os Tribunais de Contas dos Estados somente podem
ser propostos pelo próprio Tribunal.
Vimos acima que os parlamentares não poderão iniciar projetos de lei que tratem sobre a
organização dos Tribunais de Contas. Mas e se o Tribunal de Contas apresentar um projeto de
lei, enquanto ele estiver tramitando na Casa legislativa, os parlamentares poderão apresentar
emendas a este projeto? SIM, é possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de
iniciativa do Tribunal de Contas, desde que respeitados dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.
ATENÇÃO: Emendas parlamentares que não respeitem a pertinência temática servem como um
meio de usurpar, ainda que de forma indireta, a iniciativa dos Tribunais de Contas para
deflagrar os seus projetos de lei, atingindo, assim, a própria autonomia constitucionalmente
assegurada à instituição.
4.9. Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo – (Infos 773 e 790)
4.12. Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos e
militares – (Info 773 e 766) – (TJPR-2019)
4.13. Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos – (Info
776)
É inconstitucional Lei Orgânica Municipal que disponha sobre o regime jurídico dos
servidores públicos (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa
de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o regime jurídico
dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito municipal por força do princípio da
simetria.
STF. Plenário. RE 590829/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/3/2015 (Info 776).
4.15. Iniciativa de lei que disponha sobre criação de cargos públicos e estruturação de órgãos
da Administração direta e autárquica – (Info 771)
É formalmente inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trata sobre a
criação de cargos e a estruturação de órgãos da Administração direta e autárquica. A
iniciativa para essas matérias é reservada ao chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “a”,
“c” e “e”, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2940/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771).
4.17. Lei que proíba o nepotismo no Poder Executivo pode ser proposta por parlamentar –
(Info 771)
As leis que proíbam o nepotismo na Administração Pública não são de iniciativa exclusiva
do Chefe do Poder Executivo, podendo, portanto, ser propostas pelos parlamentares.
STF. Plenário. RE 570392/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/12/2014 (Info 771).
4.22. Constitucionalidade de lei estadual que obriga o Poder Executivo a divulgar dados de
contratos e obras públicas – (Info 766)
4.24. O Tribunal de Contas possui iniciativa privativa para as leis que tratam sobre sua
organização e funcionamento – (Info 766)
4.25. É inconstitucional lei estadual que obriga agentes públicos de outros poderes a
apresentarem declaração de bens à ALE – (Info 765)
Determinada Lei estadual, de iniciativa parlamentar, obrigava que alguns agentes públicos
estaduais (Magistrados, membros do MP, Deputados, Procuradores do Estado, Defensores
Públicos, Delegados etc.) apresentassem, anualmente, a declaração de todos os seus bens à
ALE.
O STF entendeu que a referida lei é inconstitucional já que essa competência de fiscalização
conferida pela lei à Assembleia Legislativa não tem amparo na CF/88, que não previu
semelhante atribuição ao Congresso Nacional no âmbito federal. Não poderia a Assembleia
Legislativa outorgar-se a si mesma competência que não encontra previsão na Carta Federal.
Os Ministros consideraram que a Lei somente seria válida quanto aos servidores do próprio
Poder Legislativo que administrem ou sejam responsáveis por bens e valores, sendo
constitucional que se exija que estes apresentem sua declaração de bens à ALE por se tratar
de uma forma de controle administrativo interno.
STF. Plenário. ADI 4203/RJ e ADI 4232/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 30/10/2014
(Info 765).
4.26. Iniciativa privativa de projetos de lei do Poder Judiciário e emendas parlamentares –
(Info 765 e 756)
É possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa dos Poderes
Executivo e Judiciário, desde que cumpram dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.
4.28. Em regra, é inconstitucional a lei que vincula a receita de impostos a órgão, fundo ou
despesa – (Info 765)
4.30. Iniciativa privativa do chefe do Executivo para projetos de lei que versem sobre órgãos
públicos – (Info 760)
É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determinava que todos os
órgãos que prestassem serviços de atendimento de emergência no Estado deveriam estar
unificados em uma única central de atendimento telefônico, que teria o número 190. Essa
lei trata sobre “estruturação e atribuições” de órgãos da administração pública, matéria que
é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88).
A correta interpretação que deve ser dada ao art. 61, § 1º, II, “e” c/c o art. 84, VI, da CF/88 é
a de que a iniciativa para leis que disponham sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos
públicos continua sendo do Poder Executivo, não tendo a EC 32/2001 tido a intenção de
retirar essa iniciativa privativa. Ao contrário, tais matérias tanto são de interesse precípuo
do Executivo que podem ser tratadas por meio de Decreto.
STF. Plenário. ADI 2443/RS, Rel. Marco Aurélio, julgado em 25/9/2014 (Info 760).
4.31. Lei estadual não pode dispor sobre inspeção técnica veicular – (Info 759)
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que trate sobre inspeção técnica de veículos. Isso
porque essa Lei versa sobre TRÂNSITO, matéria de competência privativa da União (art.
22, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1972/RS, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/9/2014 (Info 759).
4.32. CE não pode dispor sobre as atribuições para a defesa dos direitos das populações
indígenas – (Info 759)
4.33. É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que trate sobre o orçamento e imponha
obrigações aos órgãos públicos – (Info 758)
É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que preveja que o Poder Executivo deverá
destinar às Secretarias de Cultura e de Segurança Pública os recursos necessários para a
realização de um evento anual de música.
O STF entendeu que a referida lei é inconstitucional por vício de iniciativa. Isso porque a
lei impõe obrigações aos órgãos públicos (serviços públicos), além de interferir no
orçamento do Poder Executivo, matérias que somente poderiam ser disciplinadas em lei de
iniciativa do Governador do Estado, nos termos do art. 61, § 1º, II, “b” e art. 165, III, da
CF/88.
STF. Plenário. ADI 4180/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2014 (Info 758).
4.35. A iniciativa de leis que tratam sobre regime jurídico de servidores é do chefe do Poder
Executivo – (Info 755)
O STF julgou inconstitucionais as seguintes leis estaduais que tratavam sobre servidores
públicos, mas foram iniciadas por Deputados Estaduais:
Lei 7.385/2002 (ES): dispunha sobre a reestruturação da carreira de fotógrafo
criminal pertencente ao quadro de serviços efetivos da polícia civil daquele Estado-
membro (ADI 2834/ES);
Lei 5.729/95 (AL): fixava regras sobre a transferência para a reserva, reforma e
elegibilidade de policiais militares (ADI 1381/AL);
LC 11.370/99 (RS): vedava a supressão administrativa de direitos e vantagens que
foram legalmente incorporados ao patrimônio funcional dos servidores, prevendo
que somente poderiam ser suprimidas pela via judicial (ADI 2300/RS).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa
de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos. Essa regra também é
aplicada no âmbito estadual por força do princípio da simetria.
STF. Plenário. ADI 2834/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755).
4.36. Lei que imponha deveres aos servidores públicos deve ser de iniciativa do chefe do
Executivo – (Info 754)
4.38. Número de Deputados Federais deve ser fixado por meio de Lei Complementar, não
podendo ser feito pelo TSE – (Info 751)
A CF/88 previu que o número total de Deputados, bem como a representação por Estado e
pelo Distrito Federal, deve ser estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à
população (§ 1º do art. 45).
Em 1993, foi editada a LC 78/93, que disciplina a fixação do número de Deputados.
O art. 1º da LC 78/93 previu que, em cada ano anterior às eleições, o IBGE deverá fornecer
ao TSE a atualização estatística demográfica das unidades da Federação. Com base nesses
dados, o TSE faz o cálculo da quantidade de Deputados Federais por Estado/DF e
encaminha para os TRE’s e para os partidos políticos o número de vagas a serem disputadas
(parágrafo único do art. 1º da LC).
Em 2013, com base no art. 1º da LC 78/93, o TSE editou a Resolução 23.389 alterando o
número de vagas de Deputado Federal de cada Estado/DF e, consequentemente, o número
de vagas de Deputados Estaduais a serem disputadas nas eleições de 2014.
O Congresso Nacional, argumentando que o TSE exorbitou do seu poder regulamentar,
publicou o Decreto Legislativo 424/2013 sustando os efeitos da Resolução TSE 23.389/2013.
O STF entendeu que:
O parágrafo único do art. 1º da LC 78/93 e a Resolução TSE 23.389/2013 são
INCONSTITUCIONAIS por violarem o § 1º do art. 45 da CF/88 e a independência
do Poder Legislativo.
O Decreto Legislativo 424/2013, editado pelo Congresso Nacional, é
INCONSTITUCIONAL por violar o art. 49, V, da CF/88 e a independência do Poder
Judiciário.
Nas eleições de outubro de 2014 deverão ser adotados os mesmos critérios aplicados
nas eleições de 2010, ou seja, o número de vagas de Deputados Federais não foi
alterado.
STF. Plenário. ADI 4947, 5020, 5028, 5130, 4963, 4965 e ADC 33/DF, Rel. p. Acórdão Min. Rosa
Weber, julgados em 18/6/2014 (Info 751).
5. MEDIDAS PROVISÓRIAS
5.1. É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente? – (Info 896)
É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre
veiculando normas favoráveis ao meio ambiente.
Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser
editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade
civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de
todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao
meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de
unidades de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao
ecossistema protegido.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória,
ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da
CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5/4/18 (Info 896).
OBS:
O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente da
República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se
fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional,
podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que
deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da CF/88.
Matérias que não podem ser tratadas por MP: Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a
edição de medidas provisórias sobre:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e
direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira
e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e
créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art.
167, § 3º;
e) que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular
ou qualquer outro ativo financeiro;
f) matéria reservada a lei complementar;
g) matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso
Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
5.2. O § 11 do art. 62 da CF/88 deve ser interpretado com cautela, não se podendo protrair
indefinidamente a vigência de medidas provisórias rejeitadas ou não apreciadas – (Info 894)
Nos arts. 6º a 12, a MP estabeleceu os requisitos para que a empresa interessada pudesse
requerer licença da Receita Federal para explorar uma CLIA. A grande vantagem da CLIA é
que, para a sua exploração, não era necessária licitação. Bastava preencher os requisitos
previstos na lei. Durante a vigência da MP, 43 empresas fizeram requerimento à Receita
Federal para instalar CLIA. O Fisco examinou e acolheu 5 desses pedidos.
Ocorre que, em 13 de dezembro de 2016, antes que a Receita tivesse terminado de examinar
todos os requerimentos, o Senado rejeitou a MP 320/2006. Desse modo, de todos os
requerimentos feitos na vigência da MP 320/2006, apenas 5 deles foram apreciados e os 38
restantes não tiveram resposta antes de a MP ser rejeitada.
O que acontece se uma MP não é convertida em lei? Se uma medida provisória não for
convertida em lei, ela perde eficácia desde a sua edição. Ocorrendo essa situação, o Congresso
Nacional deverá editar um decreto legislativo disciplinando como ficarão as relações jurídicas
que foram afetadas pela MP no período em que ela vigorou (art. 62, § 3º). Em outras palavras,
este decreto legislativo irá dizer se os efeitos produzidos pela MP no período em que ela
vigorou continuam ou não, mesmo ela não tendo sido aprovada:
Art. 62 (...)
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12
perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no
prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por
igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por
decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
E se o Congresso Nacional não editar este decreto legislativo? Se não for editado o decreto
legislativo até 60 dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, neste caso, a
fim de evitar lacuna e insegurança jurídica, o art. 62, § 11 da CF/88 determina que a falecida
MP continuará regendo as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados
durante a vigência da MP. Veja:
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até
sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida
provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos
praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.
(Incluído pela EC 32/2001)
Voltando ao caso concreto: O Congresso Nacional rejeitou a MP 320/2006, mas não editou o
decreto legislativo a que se refere o § 3º disciplinando as relações jurídicas que decorreram da
MP. Diante disso, o que fez a Receita Federal: declarou que os 38 requerimentos que haviam
sido feitos estão prejudicados, ou seja, não podem ser sequer examinados. As empresas que
fizeram esses 38 requerimentos (vamos chama-las de “grupo B”) não se conformaram e
começaram a ingressar com ações judiciais para que a Receita Federal apreciasse os pedidos
conforme as regras da MP 320/2006.
O fundamento para essas ações foi o § 11 do art. 62 da CF/88. Elas disseram o seguinte: como
o Congresso Nacional não editou o decreto legislativo, as situações ocorridas durante a
vigência da MP (requerimentos feitos) continuam regidos pela referida MP mesmo ela tendo
sido rejeitada. Por outro lado, as outras empresas que conseguiram a autorização da Receita
antes da rejeição da MP 320/2006 (vamos chamá-las de “grupo A”) tinham interesse que os
pedidos não fossem apreciados porque assim teriam menos concorrência.
Diante dessa situação, uma associação de empresas que trabalham com movimentação,
armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias, em atenção aos interesses do “grupo
A”, ajuizou ADPF no Supremo para evitar que os pedidos de registro para exploração de
CLIA feitos sob a vigência da MP 320/2006, fossem analisados pela Receita Federal. A
entidade afirmou que as ações judiciais propostas pelo “grupo B” estavam tentando dar uma
interpretação ilegítima aos §§ 3º e 11 do art. 62 da CF/88.
Segunda pergunta: os pedidos feitos durante a vigência da MP 320/2006 devem ser examinados pela
Receita? NÃO. O § 11 do art. 62 da CF/88 deve ser interpretado com cautela, não se podendo
protrair indefinidamente a vigência de medidas provisórias rejeitadas ou não apreciadas.
O mencionado § 11 tem por objetivo garantir segurança jurídica àqueles que praticaram atos
embasados em medida provisória rejeitada ou não apreciada. Isso, contudo, não pode fazer
com que haja uma sobreposição da vontade do Presidente da República sobre a vontade do
Poder Legislativo. Se a interpretação do § 11 conduzir à ideia de que todos os efeitos da MP
rejeitada ou não apreciada irão prevalecer, o que acontecerá, na prática, é que a vontade do
Chefe do Executivo, manifestada na MP, irá prevalecer ao final mesmo tendo havido rejeição
do ato normativo.
No caso concreto, os pedidos formulados pelos interessados durante a vigência da MP
320/2006 não foram sequer examinados. Logo, não se pode dizer que havia ato jurídico
perfeito. Dessa forma, o simples fato de ter sido feito o requerimento não significa “relação
jurídica constituída”, de sorte que não se pode invocar o § 11 para justificar a aplicação da
medida provisória rejeitada.
5.3. O trancamento da pauta por conta de MPs não votadas no prazo de 45 dias só alcança
projetos de lei que versem sobre temas passíveis de serem tratados por MP – (Info 870) –
IMPORTANTE!!!
O art. 62, § 6º da CF/88 afirma que “se a medida provisória não for apreciada em até quarenta
e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente,
em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a
votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando”.
Apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o STF, ao interpretar esse
§ 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão sobrestadas (paralisadas) apenas
as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre temas que possam ser tratados
por medida provisória.
Assim, por exemplo, mesmo havendo medida provisória trancando a pauta pelo fato de não
ter sido apreciada no prazo de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado
poderão votar normalmente propostas de emenda constitucional, projetos de lei
complementar, projetos de resolução, projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos
de lei ordinária que tratem sobre um dos assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a
MP somente pode tratar sobre assuntos próprios de lei ordinária e desde que não incida em
nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
STF. Plenário. MS 27931/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 29/6/2017 (Info 870).
OBS:
O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente da
República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se
fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional,
podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que
deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da CF/88.
Qual é o prazo de eficácia da medida provisória? 60 dias, podendo ser prorrogada, apenas
uma vez, por mais 60 dias. Isso está previsto no art. 62, §§ 3º e 7º da CF/88:
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12
perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no
prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por
igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por
decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
(...)
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de
medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua
publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do
Congresso Nacional.
Matérias que não podem ser tratadas por MP: Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a
edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e
direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira
e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e
créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art.
167, § 3º;
II – que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular
ou qualquer outro ativo financeiro;
III – reservada a lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso
Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
Sobrestamento atinge apenas projetos de lei ordinária que possam ser tratados por MP: Vale
ressaltar, no entanto, que, apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o
STF, ao interpretar esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão
sobrestadas (paralisadas) apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre
temas que possam ser tratados por medida provisória. Assim, por exemplo, mesmo havendo
medida provisória trancando a pauta pelo fato de não ter sido apreciada no prazo de 45 dias
(art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado poderão votar normalmente propostas de
emenda constitucional, projetos de lei complementar, projetos de resolução, projetos de
decreto legislativo e até mesmo projetos de lei ordinária que tratem sobre um dos assuntos do
art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a MP somente pode tratar sobre assuntos próprios de lei
ordinária e desde que não incida em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
Compare:
Redação literal do art. 62, § 6º CF/88 Como deve ser interpretado o dispositivo
Se a medida provisória não for apreciada em Se a medida provisória não for apreciada em
até quarenta e cinco dias contados de sua até quarenta e cinco dias contados de sua
publicação, entrará em regime de urgência, publicação, entrará em regime de urgência,
subseqüentemente, em cada uma das Casas subseqüentemente, em cada uma das Casas
do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, do Congresso Nacional, ficando sobrestadas,
até que se ultime a votação, todas as demais até que se ultime a votação, todas as demais
deliberações legislativas da Casa em que deliberações legislativas ordinárias, que
estiver tramitando. possam ser tratadas por medida provisória.
Obs: Se, em uma prova objetiva for cobrada a redação literal do art. 62, § 6º da CF/88, sem
qualquer menção ao entendimento do STF, esta alternativa deve ser assinalada como correta.
Por outro lado, a resposta será outra se o enunciado falar algo como “de acordo com o STF” ou
“de acordo com a jurisprudência”.
Curiosidade: Vale ressaltar que essa interpretação restritiva e não literal do art. 62. § 6º da
CF/88 foi criada por Michel Temer. Em 2009, Temer era Presidente da Câmara dos Deputados
e passou a adotar esse entendimento naquela Casa afirmando que só ficariam sobrestadas as
demais deliberações legislativas que envolvessem projetos de lei ordinária que pudessem ser
tratadas por medida provisória. Alguns Deputados impetraram, então, mandado de segurança
no STF contra essa decisão do então Presidente da Câmara. O STF agora julgou o MS
concordando com a interpretação realizada.
O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas
provisórias em caso de relevância e urgência.
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias
consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do
Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional.
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na
análise dos requisitos da MP.
No caso de MP que trate sobre situação tipicamente financeira e tributária, deve prevalecer,
em regra, o juízo do administrador público, não devendo o STF declarar a norma
inconstitucional por afronta ao art. 62 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851).
5.5. Análise dos requisitos constitucionais de relevância e urgência e MP que trate sobre
situação tipicamente financeira e tributária – (Info 851)
Súmula vinculante 54: A medida provisória não apreciada pelo congresso nacional podia,
até a Emenda Constitucional 32/2001, ser reeditada dentro do seu prazo de eficácia de trinta
dias, mantidos os efeitos de lei desde a primeira edição.
STF. Plenário. Aprovada em 17/03/2016, DJe 28/03/2016.
Conversão da súmula 651 do STF: A conclusão exposta nesta SV 54 já era prevista em uma
súmula “comum” do STF, a súmula 651 do STF (de 24/09/2003). O Plenário do STF tem
convertido em súmulas vinculantes algumas súmulas “comuns” com o objetivo de agilizar os
processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.
O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente da
República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se
fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional,
podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que
deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da CF/88.
Vale a pena mencionar que, antes da EC 32/2001, o STF afirmava que a medida provisória
poderia ser reeditada infinitas vezes até que fosse votada. Atualmente, só é admitida uma
reedição. Compare:
6. PEC DA BENGALA
6.1. ADI proposta contra a EC 88/2015 – (Info 786) – IMPORTANTE!!!
No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como “PEC
da Bengala” em virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos
Ministros de Tribunais Superiores.
Foi proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que
foi decidido:
O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU irão
se aposentar compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, “nas condições do art.
52 da Constituição Federal”. O que quer dizer essa parte final?
O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70
anos somente possa continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública
(“sabatina”) e votação no Senado Federal. Em outras palavras, o Ministro, quando
completasse 70 anos, poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu nome
precisaria ser novamente aprovado pelo Senado.
O STF entendeu que seria possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos
75 anos para juízes e Desembargadores mesmo sem a edição de lei complementar?
NÃO. O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 não poderia ser estendido a outros
agentes públicos até que fosse editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art.
40, § 1º, inciso II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
7. AMICUS CURIAE
7.1. AMICUS CURIAE: A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do
amicus curiae é irrecorrível – (Info 920) – IMPORTANTE!!!
Nos processos que tramitam no STF, o amicus curiae pode fazer sustentação oral.
Em regra, o amicus curiae dispõe de 15 minutos para a sustentação oral no STF.
Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para sustentação oral no STF será o mesmo?
NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte sistemática: o prazo é
duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus
curiae) terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles.
Dessa forma, se são três amici curiae para fazer sustentação oral, o prazo deverá ser
considerado em dobro, ou seja, 30 minutos, devendo ser dividido pelo número de
sustentações orais. Logo, cada um deles terá 10 minutos para manifestação na tribuna.
STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 4/5/2017 (Info 863).
OBS:
Conceito e finalidade: Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua
representatividade, é chamado ou se oferece para intervir em processo relevante com o objetivo
de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre o debate que está sendo travado nos autos,
fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão julgador possa ter mais elementos para
decidir de forma legítima.
Nomenclatura: Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte” ou
“amigo do tribunal”. Obs.: amici curiae é o plural de amicus curiae.
Origem: Alguns autores afirmam que esta figura surgiu no direito processual penal inglês,
enquanto outros identificam uma origem mais remota, lembrando que havia figura
assemelhada no direito romano (Marcelo Novelino).
Natureza jurídica: A maioria da doutrina defende que o amicus curiae seria uma forma de
intervenção anômala de terceiros. Para o Min. Luiz Fux, no entanto, o amigo da Corte não é
parte nem terceiro, mas apenas agente colaborador.
Previsão legal: O CPC 2015 passou a disciplinar expressamente a figura do amicus curiae, nos
seguintes termos:
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a
especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social
da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a
requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se,
solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica,
órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada,
no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de
competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a
oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º.
§ 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir
a intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente
de resolução de demandas repetitivas.
Quem pode ser amicus curiae? Pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada,
com representatividade adequada.
Poderes do amicus curiae: Havia uma intensa discussão a respeito de quais seriam os poderes
do amicus curiae. O novo CPC, a fim de dirimir essa polêmica, afirma que caberá ao juiz ou ao
relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae
(art. 138, § 2º do CP 2015).
Nos processos que tramitam no STF o amicus curiae pode fazer sustentação oral? SIM.
Qual é o prazo de que dispõe o amicus curiae para a sustentação oral no STF? Em regra, 15
minutos (art. 132 do RISTF).
Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para sustentação oral no STF será o mesmo?
NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte sistemática: o prazo é
duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus curiae)
terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles.
A intervenção do amicus curiae pode ocorrer não apenas em processos que tramitem em
Tribunais, mas também em feitos que estejam em 1ª instância.
Determinado Deputado Federal estava respondendo a ação penal no STF pela suposta
prática do crime de peculato.
O partido político que ele integra requereu a sua intervenção no feito como amicus curiae.
O STF indeferiu o pedido afirmando que a agremiação partidária, autoqualificando-se
como amicus curiae, pretendia, na verdade, ingressar numa posição que a relação processual
penal não admite, considerados os estritos termos do CPP.
STF. 1ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,
j. 9/8/2016 (Info 834).
7.5. Recurso contra decisão que nega intervenção de amicus curiae – (Info 772)
7.6. Não cabimento de amicus curiae em mandado de segurança – (Info 755) – (TJPR-2017)
7.7. Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção – (Info 747)
O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que seja
incluído na pauta de julgamentos.
STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/5/14 (Info 747).
OBS:
Em princípio, a manifestação dos amici curiae devem ocorrer antes
da inclusão do processo em pauta para julgamento.
No entanto, o STF admite algumas exceções se ficar demonstrado
que: a) existe grande relevância no caso; b) ou que a manifestação
do requerente poderá trazer notória contribuição para o julgamento
da causa.
Em tais situações é possível admitir o ingresso do amicus curiae
mesmo após a inclusão do processo em pauta. STF. Decisão
monocrática. RE 647827, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
27/10/2016.
Mesmo sendo uma decisão monocrática, vale a pena conhecer esta posição.
8. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
8.1. Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma
que concede prazo em dobro à Fazenda Pública – (Info 929) – IMPORTANTE!!!
Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo,
mesmo que seja para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização
normativa abstrata.
Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos
prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que
concede prazo em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de
controle concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso
extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC,
Rel. para acórdão Min. Cármen Lúcia, j. 06/02/2019 (Info 929).
OBS:
Prerrogativa de prazo em dobro: A Fazenda Pública possui prazo em dobro para recorrer.
Isso está previsto no art. 183 do CPC/15:
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas
as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação
pessoal.
• Min. Celso de Mello: defendeu que o processo de fiscalização normativa abstrata possui,
normalmente, uma autonomia em relação aos institutos peculiares aos processos de índole
meramente subjetiva. Em outras palavras, existem várias regras aplicáveis aos processos
subjetivos que não incidem em caso de processos objetivos. Assim, o direito processual
constitucional* é autônomo, regido por princípios próprios, em que são afastados os
interesses meramente subjetivos.
8.2. OBJETO DA ADI: Coexistência de ADI no TJ e ADI no STF, sendo a ADI estadual
julgada primeiro – (Info 926) – IMPORTANTE!!!
Viola a igualdade a exigência de que o cargo público seja ocupado por indivíduo com curso
de administração pública mantido por instituição pública credenciada no respectivo Estado
É inconstitucional lei estadual que, ao criar o cargo de administrador público, exige que ele
seja ocupado por profissional graduado em Curso de Administração Pública mantido por
Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no respectivo Estado.
Essa previsão da lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no acesso a
cargos públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da CF/88, que proíbe a
criação de distinções ilegítimas entre brasileiros.
STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/12/18 (Info 927).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: O Estado do Amazonas editou a Lei 2.778/02, que criou, no
âmbito da Administração Pública estadual, o cargo de “administrador público”. Até aí, Ok. O
problema foi que a lei estadual previu como requisito para esse cargo “Graduação em Curso
de Administração Pública mantida por Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no
Estado do Amazonas”. Veja o texto da Lei:
Art. 1.º Fica instituída, no Quadro de Pessoal do Poder Executivo, a
carreira de Administrador Público, com os cargos de provimento
efetivo e vencimentos fixados no Anexo Único desta Lei. (...)
Art. 3.º O provimento dos cargos na classe inicial da carreira dar-se-
á por aprovação em concurso público de provas e títulos, e
Graduação em Curso de Administração Pública mantido por
Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no Estado do
Amazonas.
§ 1.º A classificação final dos candidatos será feita pela média
ponderada da nota global do concurso, as provas e títulos com peso
1 e coeficiente final de rendimento em Curso de Administração
Pública, mantido por Instituição Pública de Ensino Superior,
credenciada no Estado do Amazonas, com peso 2. (...)
Julgamento da ADI estadual: A 1ª ação julgada foi a ADI estadual. O TJ/AM julgou a ADI
procedente e declarou esta previsão inconstitucional por violar o princípio da igualdade
previsto no art. 3º da CE do Amazonas e reproduzido no art. 5º, caput, da CF. Vale ressaltar
que, como o acórdão do TJ/AM analisou um dispositivo que é reproduzido também na
CF/88, contra esta decisão caberia recurso extraordinário para o STF. Ocorre que, como não
foi manejado nenhum recurso, houve o trânsito em julgado.
Julgamento da ADI no STF: Chegou o dia de se julgar a ADI proposta no STF. Surgiu uma
dúvida: com a decisão do TJ/AM declarando a inconstitucionalidade da lei, houve a perda do
objeto da ADI proposta no STF? Como a Lei 2.778/02 já foi declarada inconstitucional, pode-
se dizer que ficou prejudicado o conhecimento da ADI no STF? NÃO. A ADI no STF não ficou
prejudicada. Vamos entender o motivo.
O fundamento para o TJ/AM decidir que a lei é inconstitucional foi o princípio da igualdade.
Este princípio da igualdade está previsto na Constituição do Estado e possui correspondência
na Constituição Federal. Em outras palavras, essa previsão pode ser encontrada tanto na
Constituição Estadual como na Federal.
Na verdade, o que o TJ/AM deveria ter feito era suspender a ADI lá proposta a fim de
aguardar o pronunciamento do STF. Nesse sentido:
(...) A ocorrência de coexistência de jurisdições constitucionais
estadual e nacional configura a hipótese de suspensão prejudicial
do processo de controle normativo abstrato instaurado perante o
Tribunal de Justiça local. (...) STF. Plenário. ADPF 190, Rel. Min.
Edson Fachin, j. 29/9/16.
Como isso não ocorreu, não pode o STF ficar limitado ao que decidiu a Corte local. Caso
contrário, seria possível que um tribunal de justiça, por não suspender o trâmite de
representação de inconstitucionalidade, dessa interpretação à norma de repetição obrigatória
que valeria apenas para o respectivo estado-membro. Isso porque o STF poderia conferir
interpretação diversa à norma de repetição obrigatória para os demais entes da Federação.
Com esse entendimento, o STF rejeitou a alegação de prejudicialidade da ADI e julgou o
mérito da ação lá proposta.
E quanto ao mérito, o que decidiu o STF? Esta previsão da Lei estadual é realmente
inconstitucional, como decidiu o TJ/AM? SIM. O STF julgou procedente a ADI e também
considerou inconstitucional a expressão “Graduação em Curso de Administração Pública
mantido por Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no Estado do Amazonas”.
Realmente, essa previsão da lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no
acesso a cargos públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da Constituição
Federal, que proíbe a criação de distinções ilegítimas entre brasileiros.
8.5. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: É nula decisão que deixa de aplicar o art.
94, II, da Lei 9.472/97 sem observar a cláusula de reserva de plenário - (Info 919)
É nula a decisão de órgão fracionário que se recusa a aplicar o art. 94, II, da Lei nº 9.472/97,
sem observar a cláusula de reserva de plenário (art. 97, da CF/88), observado o art. 949 do
CPC/2015.
STF. Plenário. ARE 791932/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 10 e 11/10/18 (repercussão
geral) (Info 919).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A “Oi” é uma empresa concessionária de serviços de
telecomunicações. A “Oi” contratou outra empresa (Contax) para fazer o atendimento dos
consumidores que ligassem para o serviço de atendimento ao cliente da concessionária. Em
outras palavras, a “Oi” contratou uma empresa de call center para atender seus clientes. A “Oi”
invocou, como fundamento legal para a contratação o art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 (Lei das
Telecomunicações):
Art. 94. No cumprimento de seus deveres, a concessionária poderá,
observadas as condições e limites estabelecidos pela Agência:
(...)
II - contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades
inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bem como a
implementação de projetos associados.
Ocorre que uma ex-funcionária da empresa de call center ajuizou reclamação trabalhista contra
a Contax e contra a “Oi”, alegando que, embora tenha sido formalmente contratada pela
empresa fornecedora de mão-de-obra, na realidade prestou serviços apenas no interesse e sob
a fiscalização da empresa de telefonia. Logo, pediu o reconhecimento de vínculo trabalhista
com a “Oi”. Após a 1ª e 2ª instâncias, uma das Turmas do TST julgou o caso e entendeu que o
contrato de trabalho celebrado entre a funcionária e a Contax foi ilícito e que houve vínculo
empregatício direto com a concessionária. Isso porque houve terceirização de atividade-fim, o
que não é admitido pela jurisprudência do TST (Enunciado 331).
Recurso extraordinário: A empresa interpôs recurso contra esta decisão ao STF alegando que
a turma do TST (órgão fracionário daquele Tribunal), ao afastar a aplicação do art. 94, II, da Lei
9.472/97 (Lei das Telecomunicações) sem que isso tenha sido submetido ao Plenário, violou a
Súmula Vinculante 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário
(CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora
não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em
parte.
Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou
dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público.
Foi correta a decisão da Justiça do Trabalho? NÃO. A decisão do órgão fracionário do TST
desrespeitou a cláusula de reserva do plenário (art. 97, CF/88). Ao entender ilícita a
terceirização da atividade-fim, com suporte na Súmula 331, o TST, na prática, afastou, em
parte, a vigência e a eficácia do inciso II do art. 94 da Lei 9.472/97, sem deliberar
expressamente sobre a sua inconstitucionalidade. Assim, o TST fez justamente aquilo que a
SV 10 busca coibir. Diante disso, o STF fixou a seguinte tese:
É nula a decisão de órgão fracionário que se recusa a aplicar o art.
94, II, da Lei 9.472/97, sem observar a cláusula de reserva de
plenário (art. 97, CF/88), observado o art. 949, CPC/2015.
STF. Plenário. ARE 791932/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 10 e 11/10/2018 (Info 919).
O STF declarou nula a decisão do TST por violação à cláusula de reserva de plenário. Em
outras palavras, o STF disse o seguinte: a turma do TST não poderia ter declarado a lei
inconstitucional. Isso teria que ter sido feito pelo Plenário. Diante disso, com a declaração de
nulidade da decisão, o STF, obrigatoriamente, terá que determinar o retorno dos autos ao TST
para que aquele Tribunal, por meio de seu Plenário, decida sobre a constitucionalidade ou não
da lei? O retorno dos autos é a medida a ser adotada? NÃO. O STF entendeu que a devolução
ao TST não seria uma medida lógica e somente atrasaria a resolução final do processo. Isso
porque o STF já tem posição consolidada sobre o assunto, tendo decidido que o Enunciado
331 do TST é inconstitucional e que é lícita a terceirização de toda e qualquer atividade, meio
ou fim, de forma que não se configura relação de emprego entre a contratante e o empregado
da contratada. Assim, é possível que uma empresa de telefonia terceirize os serviços de call
center mesmo que consideremos isso como atividade-fim. O art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 é
constitucional. O STF considera que é lícita a terceirização de toda e qualquer atividade da
empresa, seja ela atividade-meio ou fim:
É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do
trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do
objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade
subsidiária da empresa contratante. Os itens I e III da Súmula 331 do
TST são inconstitucionais.
STF. Plenário. ADPF 324/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
29 e 30/8/2018 (Info 913).
STF. Plenário. RE 958252/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 29 e
30/8/2018 (repercussão geral) (Info 913).
Parágrafo único do art. 949 do CPC: O parágrafo único do art. 949 do CPC reforça a
desnecessidade do retorno do feito ao TST, pois o STF se pronunciou sobre a
constitucionalidade da contratação de terceiros para o desenvolvimento de atividades
inerentes ou atividade-fim, e o art. 94 autoriza a contratação da atividade-fim. Ademais, a
devolução não atende o direito fundamental da duração razoável do processo. Veja o que diz
o CPC:
Art. 949. Se a arguição for:
I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao
seu órgão especial, onde houver.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não
submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de
inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou
do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.
Caso o STF, ao julgar uma ADI, ADC ou ADPF, declare a lei ou ato normativo
inconstitucional, ele poderá, de ofício, fazer a modulação dos efeitos dessa decisão.
Ex: no julgamento de uma ADI, o STF decidiu que determinado artigo de lei é
inconstitucional. Um dos legitimados do art. 103 da CF/88 opôs embargos de declaração
pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que o STF considerou que esses embargos eram
intempestivos. O STF, mesmo não conhecendo dos embargos, poderá decretar a modulação
dos efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 5617 ED/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 2/10/18 (Info 918).
OBS:
Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos objetivos de constitucionalidade: No
julgamento de ADI, ADC ou ADPF, as Lei 9.868/99 e 9.882/99 preveem expressamente que o
STF poderá modular os efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF/88. Em
outras palavras, a Lei permite que o STF determine que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade somente valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a partir
de determinada data futura (efeitos prospectivos). Veja o que diz a Lei nº 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e
tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de
dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração
ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado
ou de outro momento que venha a ser fixado.
Imagine agora a seguinte situação: No julgamento de uma ADI, o STF decidiu que o art. XX
da Lei YY é inconstitucional. Um dos legitimados do art. 103 da CF/88 apresentou embargos
de declaração pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que o STF considerou que esses
embargos eram intempestivos.
Indaga-se: mesmo assim será possível a modulação dos efeitos? SIM. É o que foi decidido no
julgado veiculado no Info 918 do STF.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) ajuizou ADI contra esse
ato normativo.
Indaga-se: essa ação foi conhecida? Cabe ADI neste caso? SIM. Por meio da dita
“Recomendação”, fixou-se a competência da Justiça do Trabalho para analisar os pedidos de
autorização para crianças e adolescentes participarem em eventos de natureza artística. Apesar
de ter sido nominado como “recomendação”, o que se observa é que se trata de um verdadeiro
ato de caráter geral e abstrato definindo competência para os juízes trabalhistas. Como é um
ato emanado pelas Corregedorias dos referidos Tribunais, é de se supor que os juízes a eles
vinculados se sentirão propensos a cumpri-las. Diante disso, o STF entendeu que essa
recomendação conjunta representava um ato normativo de caráter cogente e vinculativo que
alterou o entendimento até então prevalecente no sentido de que a competência seria da
Justiça Estadual. Assim, considerou-se que esse ato inovou no ordenamento jurídico, fixando
competência jurisdicional com suposto fundamento direto nos incisos I e IX do art. 114 da
CF/88. Esta recomendação conjunta fez, portanto, o papel que seria próprio de lei ordinária.
Logo, a ação direta foi conhecida porque se considerou que tal recomendação possuía caráter
primário e autônomo.
8.9. É constitucional a lei que extinguiu a contribuição sindical obrigatória – (Info 908) –
IMPORTANTE!!!
São compatíveis com a Constituição Federal os dispositivos da Lei nº 13.467/2017 (Reforma
Trabalhista) que extinguiram a obrigatoriedade da contribuição sindical e condicionaram o
seu pagamento à prévia e expressa autorização dos filiados.
No âmbito formal, o STF entendeu que a Lei nº 13.467/2017 não contempla normas gerais
de direito tributário (art. 146, III, “a”, da CF/88). Assim, não era necessária a edição de lei
complementar para tratar sobre matéria relativa a contribuições.
Também não se aplica ao caso a exigência de lei específica prevista no art. 150, § 6º, da CF/88,
pois a norma impugnada não disciplinou nenhum dos benefícios fiscais nele mencionados,
quais sejam, subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito
presumido, anistia ou remissão.
Sob o ângulo material, o STF afirmou que a Constituição assegura a livre associação
profissional ou sindical, de modo que ninguém é obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado
a sindicato (art. 8º, V, da CF/88). O princípio constitucional da liberdade sindical garante
tanto ao trabalhador quanto ao empregador a liberdade de se associar a uma organização
sindical, passando a contribuir voluntariamente com essa representação.
Não há nenhum comando na Constituição Federal determinando que a contribuição
sindical é compulsória.
Não se pode admitir que o texto constitucional, de um lado, consagre a liberdade de
associação, sindicalização e expressão (art. 5º, IV e XVII, e art. 8º) e, de outro, imponha uma
contribuição compulsória a todos os integrantes das categorias econômicas e profissionais.
STF. Plenário. ADI 5794/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, j. 29/6/18
(Info 908).
OBS:
Custeio das entidades sindicais: Com o objetivo de garantir o seu custeio, a CF/88 assegurou
às entidades sindicais duas contribuições diferentes. Veja:
Art. 8º (...)
IV — a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando
de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do
sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei;
Desse modo, apesar de a redação do inciso ser um pouco truncada, é possível perceber que ele
fala em duas espécies de contribuição:
1) Contribuição fixada pela assembleia geral (destacada na primeira parte);
2) Contribuição prevista em lei (destacada na segunda parte).
O que fez a Lei 13.467/17? A Lei 13.467/17, conhecida como “Reforma Trabalhista”, alterou os
dispositivos da CLT que tratavam sobre a contribuição sindical com o objetivo de fazer com
que ela deixasse de ser compulsória e passasse a ser FACULTATIVA. Vamos comparar os
principais dispositivos sobre o tema que foram alterados:
CLT
Antes da Lei 13.467/2017 Depois da Lei 13.467/2017
Art. 578. As contribuições devidas Art. 578. As contribuições devidas
aos Sindicatos pelos que aos sindicatos pelos participantes
participem das categorias das categorias econômicas ou
econômicas ou profissionais ou das profissionais ou das profissões
profissões liberais representadas liberais representadas pelas
pelas referidas entidades serão, sob referidas entidades serão, sob a
a denominação do "imposto denominação de contribuição
sindical", pagas, recolhidas e sindical, pagas, recolhidas e
aplicadas na forma estabelecida aplicadas na forma estabelecida
neste Capítulo. neste Capítulo, desde que prévia e
expressamente autorizadas.
Art. 579. A contribuição sindical é Art. 579. O desconto da
devida por todos aqueles que contribuição sindical está
participarem de uma determinada condicionado à autorização prévia
categoria econômica ou e expressa dos que participarem de
profissional, ou de uma profissão uma determinada categoria
liberal, em favor do sindicato econômica ou profissional, ou de
representativo da mesma categoria uma profissão liberal, em favor do
ou profissão ou, inexistindo este, sindicato representativo da mesma
na conformidade do disposto no categoria ou profissão ou,
art. 591. inexistindo este, na conformidade
do disposto no art. 591 desta
Consolidação.
Art. 582. Os empregadores são Art. 582. Os empregadores são
obrigados a descontar da folha de obrigados a descontar da folha de
pagamento de seus empregados, pagamento de seus empregados
relativa ao mês de março de cada relativa ao mês de março de cada
ano, o imposto sindical por estes ano a contribuição sindical dos
devido aos respectivos sindicatos. empregados que autorizaram
(...) prévia e expressamente o seu
recolhimento aos respectivos
sindicatos.
(...)
Art. 587. O recolhimento da Art. 587. Os empregadores que
contribuição sindical dos optarem pelo recolhimento da
empregadores efetuar-se-á no mês contribuição sindical deverão fazê-
de janeiro de cada ano, ou, para os lo no mês de janeiro de cada ano,
que venham a estabelecer-se após ou, para os que venham a se
aquele mês, na ocasião em que estabelecer após o referido mês, na
requeiram às repartições o registro ocasião em que requererem às
ou a licença para o exercício da repartições o registro ou a licença
respectiva atividade. para o exercício da respectiva
atividade.
Veja, portanto, que o legislador alterou todos os dispositivos que dispunham sobre a
contribuição sindical como sendo algo obrigatório, passando a ser tratada como um
pagamento facultativo.
ADI: Algumas entidades sindicais ingressam com ADIs contra essas alterações. Nas ações, as
entidades alegaram, dentre outros argumentos, que:
A contribuição sindical foi recepcionada pela Constituição de 1988 como sendo uma
contribuição parafiscal (art. 149 da CF/88), ou seja, um tributo;
O art. 146, III, “a”, da CF/88 prevê que a instituição de tributos parafiscais e suas
definições, espécies, bases de cálculo, fatos geradores e contribuintes devem ser feitas
por meio de lei complementar. Ocorre que a Lei 13.467/17 é uma lei ordinária, de
modo que teria havido uma inconstitucionalidade formal;
Além disso, o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical foi promovida pela Lei
13.467/17 que tratou sobre vários outros assuntos. Para as entidades, isso não seria
possível porque o art. 150, § 6º, da CF/88 exige explicitamente que a matéria seja
regulada por meio de lei tributária específica:
Art. 150 (...)
§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,
concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a
impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante
lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule
exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente
tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º,
XII, g.
O que o STF decidiu? A ADI foi julgada procedente? O fim da obrigatoriedade da contribuição
sindical viola a Constituição Federal? NÃO. A ADI foi julgada improcedente e o STF decidiu
que:
São compatíveis com a Constituição Federal os dispositivos da Lei
13.467/17 (Reforma Trabalhista) que extinguiram a
obrigatoriedade da contribuição sindical e condicionaram o seu
pagamento à prévia e expressa autorização dos filiados. STF.
Plenário. ADI 5794/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Luiz
Fux, julgado em 29/6/2018(Info 908).
Dispor sobre o fim da obrigatoriedade sindical não significa tratar sobre normas gerais de
tributário: No âmbito formal, o STF entendeu que o assunto tratado pela Lei 13.467/17 (fim
da obrigatoriedade da contribuição sindical) não pode ser considerado como norma geral de
direito tributário. Logo, o fim da obrigatoriedade sindical não precisava ter sido veiculado
por meio de lei complementar por não se enquadrar na exigência do art. 146, III, “a”, da
CF/88, como argumentavam as entidades sindicais:
Art. 146. Cabe à lei complementar:
(...)
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos
geradores, bases de cálculo e contribuintes;
Acabar com a obrigatoriedade da contribuição sindical não exige lei específicas: O § 6º do art.
150 da CF/88 exige lei específica para conceder subsídio, isenção, reduzir base de cálculo e
conceder outros “benefícios fiscais”. A Lei 13.467/17 não disciplinou nenhum desses
benefícios fiscais. Logo, não se exigia a edição de uma lei específica.
Livre associação profissional ou sindical: Sob o ângulo material, o STF lembrou que a
Constituição assegura a livre associação profissional ou sindical, de modo que ninguém é
obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato (art. 8º, V). O princípio constitucional
da liberdade sindical garante tanto ao trabalhador quanto ao empregador a liberdade de se
associar a uma organização sindical, passando a contribuir voluntariamente com essa
representação. Não se pode admitir que o texto constitucional, de um lado, consagre a
liberdade de associação, sindicalização e expressão e, de outro, imponha uma contribuição
compulsória a todos os integrantes das categorias econômicas e profissionais.
CF/88 não impõe que a contribuição sindical seja obrigatória: “A contribuição sindical não
foi constitucionalizada no texto magno”. O que o STF quis dizer com essa frase: não há
qualquer comando na Constituição dizendo que deverá ser instituída uma contribuição
sindical compulsória, com natureza de tributo, em favor dos sindicatos. O inciso IV do art. 8º
da CF/88 prevê que a lei poderá instituir uma contribuição sindical, mas sem mencionar que
deva ser obrigatória.
Modelo de gestão sindical é uma decisão política: A discussão a respeito do modelo de gestão
sindical a ser adotado no Brasil é eminentemente política, cujo protagonista é o Congresso
Nacional. O STF deve ser autocontido, de forma a respeitar as escolhas políticas do Legislativo.
Votos vencidos: Ficaram vencidos os Ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Dias Toffoli, para
quem as alterações legislativas são inconstitucionais formal e materialmente.
Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias,
emendas constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos
aprovados por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de
votação. Assim, quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está
dizendo que esta lei viola a CF/88 (parâmetro).
O que acontece se, durante a tramitação de uma ADI, ocorre a alteração do parâmetro que
havia sido invocado? Ex: em 1998, determinado Estado aprovou uma lei prevendo que os
servidores aposentados deveriam pagar contribuição previdenciária; foi ajuizada uma ADI
contra esta lei alegando que ela violou o art. 40 da CF/88; em 2003, antes que a ação fosse
julgada, foi editada a EC 41 que alterou o art. 40 e passou a prever expressamente que os
servidores inativos poderiam pagar contribuição previdenciária. Em outras palavras, o
parâmetro invocado foi modificado. Diante disso, o julgamento da ADI ficará prejudicado?
NÃO. O conhecimento da ADI não fica prejudicado. Mesmo tendo havido a alteração do
parâmetro, o STF terá que examinar o mérito da ADI e verificar se a lei impugnada violava
ou não a redação do parâmetro antes da mudança efetuada. Em outras palavras, o STF terá
que examinar se aquilo que o autor afirmou na ação estava correto, ou seja, se aquela lei violava
a redação do parâmetro constitucional naquela época.
Por quê? Porque a mudança da Constituição Federal não tem o condão (a força) de convalidar
o vício da lei que era inconstitucional. Se a lei era inconstitucional na época em que foi
editada, a alteração superveniente não poderá corrigi-la. Isso significa que o direito brasileiro
não admite a figura da constitucionalidade superveniente. Nesse sentido:
(...) 1. Em nosso ordenamento jurídico, não se admite a figura da
constitucionalidade superveniente. Mais relevante do que a
atualidade do parâmetro de controle é a constatação de que a
inconstitucionalidade persiste e é atual, ainda que se refira a
dispositivos da Constituição Federal que não se encontram mais
em vigor. Caso contrário, ficaria sensivelmente enfraquecida a
própria regra que proíbe a convalidação.
2. A jurisdição constitucional brasileira não deve deixar às instâncias
ordinárias a solução de problemas que podem, de maneira mais
eficiente, eficaz e segura, ser resolvidos em sede de controle
concentrado de normas.
3. A Lei estadual nº 12.398/98, que criou a contribuição dos inativos
no Estado do Paraná, por ser inconstitucional ao tempo de sua
edição, não poderia ser convalidada pela Emenda Constitucional nº
41/03. E, se a norma não foi convalidada, isso significa que a sua
inconstitucionalidade persiste e é atual, ainda que se refira a
dispositivos da Constituição Federal que não se encontram mais
em vigor, alterados que foram pela Emenda Constitucional nº
41/03. (...) STF. Plenário. ADI 2158, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/9/10.
Questões de concurso:
(AGU CESPE 2012) Considere a seguinte situação hipotética. Foi ajuizada ADI no STF contra
lei estadual por contrariedade a dispositivo expresso na CF. Porém, antes do julgamento da
ação, o parâmetro de controle foi alterado, de modo a tornar a norma impugnada consentânea
com o dispositivo constitucional. Nessa situação hipotética, admite-se, de acordo com recente
jurisprudência do STF, a denominada constitucionalidade superveniente, devendo, portanto,
ser afastada a aplicação do princípio da contemporaneidade e julgada improcedente a ação.
(ERRADO)
(Promotor MPE GO 2016 banca própria) O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura
da constitucionalidade superveniente, exceto se houver taxativa previsão constitucional.
(CERTO)
(Juiz TJ/MS 2012) Se uma lei fere o processo legislativo previsto na Constituição sob a qual foi
editada e, até o advento da nova Constituição, não fora objeto de controle de
constitucionalidade, ela não pode ser recebida pela nova Constituição, uma vez que o Supremo
Tribunal Federal já se manifestou contra a adoção da teoria da constitucionalidade
superveniente. (CERTO)
Vale ressaltar que nos casos de alteração do parâmetro o STF deverá realizar dois juízos:
1) um juízo de constitucionalidade com relação ao parâmetro original, ou seja, verificar se a
lei ou ato normativo impugnado era constitucional (compatível com o parâmetro
impugnado);
2) um juízo de recepção ou não com o novo parâmetro, isto é, analisar se a lei ou ato
normativo impugnado está de acordo com a redação atual da CF/88. Fala-se em recepção ou
não nesta segunda hipótese porque o texto constitucional que se estará comparando é posterior
à lei ou ato normativo impugnado.
Foi o que ensinou o Min. Gilmar Mendes na ADI 94/RO: “nesses casos, impõe-se a verificação
da constitucionalidade do dispositivo em relação aos dois parâmetros constitucionais” (DJ de
16/12/11).
8.11. VOTO IMPRESSO: Inconstitucionalidade do voto híbrido previsto no art. 59-A da Lei
9.504/97 – (Info 905) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional a lei que determina que, na votação eletrônica, o registro de cada voto
deverá ser impresso e depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em
local previamente lacrado (art. 59-A da Lei 9.504/97, incluído pela Lei 13.165/2015).
Essa previsão acaba permitindo a identificação de quem votou, ou seja, permite a quebra
do sigilo, e, consequentemente, a diminuição da liberdade do voto, violando o art. 14 e o §
4º do art. 60 da Constituição Federal.
Cabe ao legislador fazer a opção pelo voto impresso, eletrônico ou híbrido, visto que a CF/88
nada dispõe a esse respeito, observadas, entretanto, as características do voto nela previstas.
O modelo híbrido trazido pelo art. 59-A constitui efetivo retrocesso aos avanços
democráticos conquistados pelo Brasil para garantir eleições realmente livres, em que as
pessoas possam escolher os candidatos que preferirem.
STF. Plenário. ADI 5889/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905).
OBS: Veja comentários no arquivo Direito Eleitoral.
8.12. Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI – (Info 905) –
IMPORTANTE!!!
O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de
procuração com poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo
que será impugnado na ação.
Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de
forma específica, o ato contra o qual se insurge.
Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida.
Vale ressaltar, contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua
regularização antes que seja reconhecida a carência da ação.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/18 (Info 905).
OBS:
Ex: uma entidade de classe de âmbito nacional contrata um escritório de advocacia para ajuizar
uma ADI; na procuração outorgada pelo presidente dessa entidade deverá constar
expressamente algo como: outorga poderes para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade
no Supremo Tribunal Federal contra os artigos X, Y e Z, da Lei nº XXX/XXXX.
8.13. Não cabe ADI contra decreto regulamentar de lei estadual – (Info 905)
Desse modo, a ADI pode ser proposta contra lei ou ato normativo federal ou estadual. Esse é
o objeto da ADI.
E se uma lei estadual ou municipal for contrária à Constituição estadual? Nesse caso, quem
julga a ADI é o Tribunal de Justiça local (art. 125, § 2º). No entanto, se a lei também contraria
a CF/88, cabe recurso extraordinário para o STF. A lei municipal também pode ser objeto de
ADPF julgada diretamente pelo STF.
Uma lei distrital (lei do DF) pode ser objeto de ADI? Depende. Como o Distrito Federal não é
dividido em Municípios, ele goza cumulativamente das competências legislativas reservadas
aos Estados e aos Municípios (art. 32, § 1º, da CF/88). Em outras palavras, o Distrito Federal
pode editar leis como se fosse um Estado-membro e também leis como se fosse um Município.
Assim, existem leis do DF que tratam de assuntos estaduais e outras de assuntos locais
(municipais). As leis que o DF editou no exercício de competência de Estado-membro (leis
de assuntos estaduais) podem ser objeto de ADI. As leis que o DF editou no exercício de
competência de Município (leis que ele editou como se fosse um Município) NÃO podem ser
objeto de ADI.
Um Decreto pode ser considerado ato normativo para os fins do art. 102, I, da CF/88? Um
decreto pode ser objeto de ADI? Depende.
Decreto que apenas regulamenta uma lei: NÃO. Não cabe ADI contra decreto
meramente regulamentar de lei. Isso porque, neste caso, esse decreto terá natureza de
ato secundário. Nesse sentido:
(...) Vocacionada ao controle da constitucionalidade das leis e atos
normativos, a ação direta de inconstitucionalidade não constitui
meio idôneo para impugnar a validade de ato regulamentar e
secundário em face de legislação infraconstitucional. (...) STF.
Plenário. ADI 4127 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, j. 16/10/14.
Decreto autônomo: SIM. Cabe ADI contra decreto autônomo. O decreto autônomo
possui “coeficiente mínimo de normatividade, generalidade e abstração”, ou seja,
ele retira seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal, não
regulamentando nenhuma lei. Ele possui caráter essencialmente abstrato e primário.
É cabível ADI contra Resolução do TSE que tenha, em seu conteúdo material, “norma de
decisão” de caráter abstrato, geral e autônomo, apta a ser apreciada pelo STF em sede de
controle abstrato de constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 5122, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/5/2018 (Info 900).
OBS:
Outro precedente no mesmo sentido:
A Resolução do TSE pode ser impugnada no STF por meio de ADI
se, a pretexto de regulamentar dispositivos legais, assumir caráter
autônomo e inovador.
STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 21/5/2014 (Info 747).
A Resolução do CNMP consiste em ato normativo de caráter geral e abstrato, editado pelo
Conselho no exercício de sua competência constitucional, razão pela qual constitui ato
normativo primário, sujeito a controle de constitucionalidade, por ação direta, no Supremo
Tribunal Federal.
STF. Plenário. ADI 4263/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 25/4/18 (Info 899).
8.16. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Decisão que deixa de aplicar o art. 25, §
1º, da Lei 8.987/95 – (Info 896) – TEMA POLÊMICO!!!
O art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 prevê o seguinte: “(...) a concessionária poderá contratar com
terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao
serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.”
Se o órgão fracionário de um Tribunal (ex: uma das Turmas do TRT) julga ilegal a
terceirização contratada por uma concessionária do serviço público, afastando a aplicação
do art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95, esta decisão viola a súmula vinculante 10?
• SIM. O art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 permite a terceirização da atividade-fim das empresas
concessionárias do serviço público. Logo, se um órgão fracionário do TRT afasta a aplicação
deste dispositivo, haverá afronta à súmula vinculante 10 por violação à cláusula da reserva
de plenário.
STF. 1ª Turma. Rcl 27068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, j.
5/3/18 (Info 896).
Uma das Turmas do TRT da 3ª Região não concordou e afirmou que este § 1º do art. 25 não
autoriza a possibilidade de terceirização da atividade-fim das empresas concessionárias do
serviço público. Afirmou o TRT, citando julgados do TST:
“A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime
de concessão e permissão de prestação de serviços públicos, ostenta
natureza administrativa e, como tal, ao tratar, em seu art. 25, da
contratação com terceiros de atividades inerentes, acessórias ou
complementares ao serviço concedido, não autorizou a terceirização
da atividade-fim das empresas do setor elétrico. Isso porque, esse
diploma administrativo não aborda matéria trabalhista, nem seus
princípios, conceitos e institutos, cujo plano de eficácia é outro. A
legislação trabalhista protege, substancialmente, um valor: o
trabalho humano, prestado em benefício de outrem, de forma não
eventual, oneroso e sob subordinação jurídica, apartes à já
insuficiente conceituação individualista. E o protege sob o influxo de
outro princípio maior, o da dignidade da pessoa humana. Não se
poderia, assim, dizer que a norma administrativista, preocupada
com princípios e valores do Direito Administrativo, viesse derrogar
o eixo fundamental da legislação trabalhista, que é o conceito de
empregado e empregador, jungido que está ao conceito de contrato
de trabalho, previsto na CLT.”
Reclamação: A concessionária não se conformou com a decisão do órgão fracionário do TRT e
ingressou com reclamação no STF alegando que a turma, ao afastar a aplicação do § 1º do
art. 25 da Lei nº 8.987/95 sem que isso tenha sido submetido ao Plenário, violou a Súmula
Vinculante 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário
(CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora
não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em
parte.
Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou
dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público.
O STF concordou com a reclamação proposta? SIM. O STF, por maioria, julgou procedente
reclamação.
A 1ª Turma do STF entendeu que o art. 25, § 1º da Lei nº 8.987/95 permite a terceirização e o
TRT, ao não aplicá-lo para a situação concreta, negou vigência ao dispositivo sem que isso
tenha sido submetido ao Plenário ou órgão especial do Tribunal. Logo, houve violação à
cláusula da reserva de plenário prevista no art. 97 da CF/88.
STF. 1ª Turma. Rcl 27.068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto,
julgado em 5/3/2018 (Info 896).
Tema polêmico: O tema é polêmico e existem decisões em sentido contrário, como é o caso
da Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).
8.17. O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em
sede de controle concentrado de constitucionalidade – (Info 896) – IMPORTANTE!!!
O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede
de controle concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo
respectivo Governador.
A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como
legitimado pelo art. 103 da CF/88).
Os Estados-membros não se incluem no rol dos legitimados a agir como sujeitos
processuais em sede de controle concentrado de constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 05/04/2018 (Info 896).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O Governador do Estado de São Paulo ajuíza uma ADI
no STF. O Supremo julga improcedente a ação. O acórdão é publicado e o Estado de São Paulo
opõe embargos de declaração alegando que há contradição no julgado.
Esse recurso terá êxito? NÃO. Os embargos de declaração não serão conhecidos.
Legitimidade não é do Estado, mas sim do Governador: A legitimidade para recorrer, neste
caso, é do Governador do Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo não tem legitimidade
para opor embargos de declaração porque o Estado de São Paulo não é parte neste processo.
Vale ressaltar que, na petição inicial da ADI, quando proposta pelo Governador, quem figura
como autor da ação é o Governador do Estado (e não o Estado).
No entanto, o recurso foi interposto desta forma (apenas um exemplo): “O ESTADO DE SÃO
PAULO vem opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO”.
Diante disso, o que acontecerá? Os embargos de declaração não serão conhecidos (seu mérito
não será apreciado) em virtude da ilegitimidade da parte recorrente. O Estado de São Paulo
não é parte legítima para recorrer.
8.18. ADPF: É possível celebrar acordo em ADPF – (Info 892) – IMPORTANTE! Não tem nos
livros!!!
Exemplo: As pessoas que tinham dinheiro em conta poupança nos anos de 1986 a 1991 foram
prejudicadas pelos planos econômicos editados neste período (Planos Cruzado, Bresser, Verão
e Collor II). Isso porque esses planos fizeram a conversão dos valores depositados de forma
errada (os chamados “expurgos inflacionários”). Em razão disso, tais poupadores ingressaram
com ações judiciais pedindo a correção disso e o pagamento das diferenças. Além das ações
individuais, também foram propostas ações coletivas ajuizadas por associações de defesa do
consumidor e por associações de poupadores. Os juízes e Tribunais estavam todos decidindo
em favor dos poupadores. A fim de tentar reverter a situação, Confederação Nacional do
Sistema Financeiro (CONSIF) ajuizou, no STF, a ADPF 165, pedindo, com eficácia erga omnes
(para todos) e efeito vinculante, a suspensão de qualquer decisão judicial que tivesse por objeto
a reposição das perdas decorrentes dos planos econômicos. Na ação, a CONSIF alegava a plena
constitucionalidade dos referidos planos, de forma que os poupadores não teriam nada a
receber. Ao longo da tramitação da ADPF, as várias associações de defesa do consumidor e
dos poupadores, que haviam ajuizado ações coletivas tratando do tema, pediram para intervir
no processo na qualidade de amicus curiae (ex: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor,
Associação Brasileira do Consumidor, entre outras), o que foi aceito pelo STF. Depois de quase
9 anos tramitando no STF, houve um acordo entre a CONSIF (autora da ADPF) e as
associações de defesa do consumidor/poupadores. Vale ressaltar que a AGU atuou como
mediadora desse ajuste (art. 4º da Lei nº 13.140/2015), por meio da Câmara de Conciliação e
Arbitragem da Administração Federal. Por meio desse acordo, os bancos aceitam pagar os
poupadores segundo cronograma e condições que estão no ajuste e, em troca, os correntistas
desistem das ações individuais que possuíam contra as instituições financeiras. Além disso,
as associações de defesa do consumidor comprometeram-se a peticionar nas ações civis
públicas que ingressaram requerendo a extinção do processo pela transação (art. 487, III, “b”,
do CPC). Os termos do acordo preveem o pagamento de mais de 12 bilhões de reais aos
poupadores, que serão inscritos em plataforma digital preparada pelo CNJ. Os bancos irão
analisar os requerimentos dos interessados. Os pagamentos serão feitos nas contas correntes
dos beneficiários, que receberão os respectivos valores à vista ou parceladamente, a depender
do montante. Terão direito à reparação todos que haviam ingressado com ações coletivas e
individuais para cobrar das instituições financeiras os valores referentes às correções. No caso
das ações individuais, poupadores ou herdeiros que ingressaram judicialmente dentro do
prazo prescricional de 20 anos da edição de cada plano também poderão receber os valores.
Igualmente poderão aderir os poupadores que, com base em ações civis públicas, requereram
execução de sentença coletiva até 31/12/2016.
E o que a aconteceu com a ADPF? Foi extinta, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC:
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
(...)
III - homologar:
(...)
b) a transação;
Apesar de a resolução da ADPF ter sido com resolução do mérito, ressalte-se, mais uma vez,
que o STF, ao homologar o acordo, não concordou com nenhuma das teses jurídicas
defendidas pelas partes no processo, ou seja, não disse que os poupadores ou que os bancos
tinham razão. Isso não foi analisado na homologação do acordo.
Existe previsão legal de que as associações autoras de ações civis públicas possam fazer
transação nessas ações? NÃO. A Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos
públicos podem fazer acordos nas ações civis públicas em curso, não mencionando as
associações privadas. Confira:
Art. 5º (...)
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, que terá eficácia de título executivo
extrajudicial.
Mesmo sem previsão legal as associações privadas podem transacionar em ações civis
públicas: O STF afirmou que, mesmo sem previsão normativa expressa, as associações
privadas também podem fazer acordos nas ações coletivas. Assim, a ausência de disposição
normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do acordo.
Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos diz
respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes
privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. Para o Min. Ricardo Lewandoswki, “não faria
sentido prever um modelo que autoriza a justiciabilidade privada de direitos e,
simultaneamente, deixar de conferir aos entes privados as mais comezinhas faculdades
processuais, tais como a de firmar acordos.”
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação?
Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação
do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na
redação original.
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de
apresentar eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade
na norma que promoveu a alteração ou revogação.
Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido em
razão da perda superveniente do objeto.
STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/18 (Info 890).
OBS:
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação?
Ex: em 1999, foi proposta uma ADI contra o art. 10 da Lei 9.656/98; em 2013, foi editada a Lei
12.880 alterando esse art. 10 da Lei 9.656/98; ocorre que a ADI ainda não foi julgada pelo STF;
o que fazer? Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a
nova redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade
que existia na redação original. Em outras palavras, ele informa ao STF que houve a alteração
legislativa, mas que, apesar disso, a nova redação continua contrariando a Constituição
Federal.
E se o autor da ADI não fizer isso? Neste caso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando
prejudicado o pedido em razão da perda superveniente do objeto (perda superveniente do
interesse de agir), nos termos do art. 485, VI, do CPC:
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
(...)
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
Nesse sentido:
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo
impõe ao autor o ônus de apresentar eventual pedido de
aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade na
norma que promoveu a alteração ou revogação.
STF. Plenário. ADI 2595 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 18/12/2017.
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes
do julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI
1203).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma
proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela
produzidos (STF ADI 3306).
Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como
não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação (STF ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 4/5/16. Info 824).
Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente
que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer, após
o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada (STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel.
Min. Roberto Barroso, j. 27/10/16. Info 845).
8.20. O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes – (Infos 808 e
887) – (PGM/Macéio-2012)
2) Quanto ao aspecto OBJETIVO (que partes da decisão produzem eficácia erga omnes e
efeito vinculante?)
1ª corrente: teoria restritiva
Somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão
(fundamentação) não são vinculantes.
Em suma, pela teoria da transcendência dos motivos determinantes (efeitos irradiantes dos
motivos determinantes), a ratio decidendi, ou seja, os fundamentos determinantes da decisão
também teriam efeito vinculante. Ocorre que o STF NÃO adota a teoria da transcendência
dos motivos determinantes (teoria extensiva). O STF já chegou a manifestar apreço pela teoria
da transcendência dos motivos determinantes, mas atualmente, a posição da Corte é no sentido
de que não pode ser acolhida.
OBS:
Imagine a seguinte situação: Foi ajuizada uma ADI contra a Lei Estadual 3.579/01, do Estado
do Rio de Janeiro. O objeto da ação (pedido do autor) era, portanto, o seguinte: Tribunal,
declare inconstitucional a Lei Estadual 3.579/01.
O que o STF decidiu? O STF não concordou com o autor da ADI e julgou improcedente o
pedido. Isso significa dizer que o STF entendeu que a Lei Estadual 3.579/01 é constitucional.
Qual é a eficácia dessa decisão do STF que declarou constitucional a Lei Estadual 3.579/01?
• Eficácia contra todos (erga omnes);
• Efeito vinculante.
Isso porque a referida lei foi declarada constitucional em sede de controle abstrato de
constitucionalidade, atraindo assim os efeitos previstos no art. 102, § 2º da CF/88:
Art. 102 (...)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas
ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos
do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal.
Qual é a eficácia da decisão do STF que declarou, incidentalmente, a Lei Federal 9.055/95
inconstitucional? Qual é a eficácia da decisão do STF que declara, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei? Segundo o entendimento clássico, a decisão do STF
reconhecendo a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo irá variar de acordo com a
espécie de controle exercido:
Desse modo, pela teoria tradicional, em regra, a decisão que declara incidentalmente uma lei
inconstitucional produz efeitos inter partes e não vinculantes.
Após declarar a inconstitucionalidade de uma lei em controle difuso, o STF deverá comunicar
essa decisão ao Senado e este poderá suspender a execução, no todo ou em parte, da lei viciada
(art. 52, X):
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal
Federal;
A decisão do Senado de suspender a execução da lei seria discricionária. Caso ele resolva
fazer isso, os efeitos da decisão de inconstitucionalidade do STF, que eram inter partes, passam
a ser erga omnes. Assim, pela teoria tradicional a resolução do Senado ampliaria a eficácia do
controle difuso realizado pelo Supremo. Assim, pela teoria tradicional, a eficácia da decisão do
STF que declarou, incidentalmente, a Lei Estadual 3.579/01 inconstitucional produziria efeitos
inter partes e não vinculante.
Ocorre que o STF decidiu abandonar a concepção tradicional e fez uma nova interpretação
do art. 52, X, da CF/88.
O que entendeu o STF? O STF decidiu que, mesmo se ele declarar, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei, essa decisão também terá efeito vinculante e erga omnes.
A fim de evitar anomias e fragmentação da unidade, deve-se atribuir à decisão proferida em
sede de controle incidental (difuso) a mesma eficácia da decisão tomada em sede de controle
abstrato.
O § 5º do art. 535 do CPC/2015 reforça esse tratamento uniforme:
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu
representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para,
querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos,
impugnar a execução, podendo arguir:
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo,
considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título
executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo
Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
O Min. Gilmar Mendes afirmou que é preciso fazer uma releitura do art. 52, X, da CF/88. Essa
nova interpretação deve ser a seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional,
mesmo em sede de controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF
apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê
publicidade daquilo que foi decidido.
Mutação constitucional: O Min. Celso de Mello afirmou que o STF fez uma verdadeira
mutação constitucional com o objetivo de expandir os poderes do Tribunal com relação à
jurisdição constitucional. Assim, a nova intepretação do art. 52, X, da CF/88 é a de que o papel
do Senado no controle de constitucionalidade é simplesmente o de, mediante publicação,
divulgar a decisão do STF. A eficácia vinculante, contudo, já resulta da própria decisão da
Corte.
Preclusão consumativa da matéria: Por fim, o Min. Edson Fachin concluiu que a declaração
de inconstitucionalidade, ainda que incidental, opera uma preclusão consumativa da matéria.
Isso evita que se caia numa dimensão semicircular progressiva e sem fim.
Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da abstrativização do controle difuso? SIM.
Apesar de essa nomenclatura não ter sido utilizada expressamente pelo STF no julgamento, o
certo é que a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a abstrativização do
controle difuso. Em uma explicação bem simples, a teoria da abstrativização do controle difuso
preconiza que, se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de
uma lei ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos
do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante. Para essa corrente, o art. 52,
X, da CF/88 sofreu uma mutação constitucional e, portanto, deve ser reinterpretado. Dessa
forma, o papel do Senado, atualmente, é apenas o de dar publicidade à decisão do STF. Em
outras palavras, a decisão do STF, mesmo em controle difuso, já é dotada de efeitos erga omnes
e o Senado apenas confere publicidade a isso.
Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da transcendência dos motivos
determinantes? NÃO. Segundo a teoria da transcendência dos motivos determinantes, além
do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também seriam
vinculantes. Com a decisão acima explicada, o STF chega mais próximo à teoria da
transcendência dos motivos determinantes, mas não se pode afirmar categoricamente que esta
passou a ser adotada pelo Tribunal. O Dizer o Direito acredita que não seja uma posição segura
para se adotar em provas, considerando que não houve afirmação expressa nesse sentido.
8.22. Se a maioria dos Ministros votou pela procedência da ADI, mas não se obteve maioria
absoluta dos votos, a lei não deverá ser declarada inconstitucional – (Info 874)
Imagine a seguinte situação: é proposta uma ADI contra determinada lei. Cinco Ministros
votam pela inconstitucionalidade da lei. Quatro Ministros votam pela constitucionalidade.
Dois Ministros declaram-se impedidos de votar.
Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada
inconstitucional por maioria de votos?
NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos para a declaração de
inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o quórum exigido
pelo art. 97 da CF/88, entende-se que o STF não pronunciou juízo de constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da lei. Isso significa que o STF não declarou a lei nem constitucional
nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem eficácia vinculante, ou seja, os
juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é constitucional ou
inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF.
STF. Plenário. ADI 4066/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. em 23 e 24/8/17 (Info 874).
OBS:
QUÓRUM DE SESSÃO (QUÓRUM PARA JULGAMENTO/VOTAÇÃO)
O que é quórum de sessão no controle de constitucionalidade? É a quantidade mínima de
Ministros presentes na sessão para que o Tribunal inicie a discussão se uma lei ou ato
normativo é inconstitucional.
Qual é o quórum de sessão para que o STF examine a constitucionalidade de uma lei ou ato
normativo? 8 (oito) Ministros. No STF, para que seja iniciada a sessão de julgamento na qual
será votada a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo é necessário que estejam
presentes no mínimo oito Ministros. Se houver sete, por exemplo, a discussão não pode sequer
ser iniciada. O quórum de sessão está previsto no parágrafo único do art. 143 do RISTF (que
fala de forma genérica, valendo tanto para controle difuso como concentrado) e no art. 22 da
Lei nº 9.868/99 (que é específico para o controle concentrado):
Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será
tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.
QUÓRUM DE JULGAMENTO
O que é quórum de julgamento no controle de constitucionalidade? É a quantidade mínima de
votos necessários para que uma lei ou ato normativo seja declarado inconstitucional.
Qual é o quórum de julgamento para que o STF declare uma lei ou ato normativo
inconstitucional? 6 (seis) votos. É necessário que seis Ministros votem pela
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. É o que determina o art. 97 da CF/88, ao prever
que, somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros, o Tribunal poderá declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. O STF possui onze membros,
de forma que a maioria absoluta corresponde a seis Ministros.
Imagine que na sessão de julgamento há apenas nove Ministros (duas cadeiras estão vagas).
Está sendo analisada ADI contra determinada lei. Cinco Ministros entendem que a lei é
inconstitucional e quatro consideram que ela é compatível com a CF/88. Teremos aí uma
maioria simples dizendo que a lei é inconstitucional. No entanto, não se chegou a uma maioria
absoluta. Logo, a lei não poderá ser declarada inconstitucional. Ela continuará sendo válida.
Repetindo: o STF só pode declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional pelo voto da
maioria absoluta de seus membros (6 Ministros).
Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada
inconstitucional por maioria de votos? NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos
para a declaração de inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o
quórum exigido pelo art. 97 da CF/88, entende-se que o STF não pronunciou juízo de
constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei. Isso significa que o STF não declarou a lei
nem constitucional nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem eficácia
vinculante, ou seja, os juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é constitucional
ou inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF. Foi o que aconteceu na ADI 4066/DF, Rel.
Min. Rosa Weber, julgado em 23 e 24/8/2017 (Info 874).
8.23. Não se admite ADI contra lei que teria violado tratado internacional não incorporado
ao ordenamento brasileiro na forma do art. 5º, § 3º da CF/88 – (Info 872)
Em regra, não é cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um
tratado internacional.
Em regra, os tratados internacionais não podem ser utilizados como parâmetro em sede de
controle concentrado de constitucionalidade.
Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra
do § 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao
ordenamento brasileiro como se fosse uma emenda constitucional.
STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 9/8/17 (Info 872).
OBS:
Parâmetro (ou norma de referência): Em controle de constitucionalidade, quando falamos em
"parâmetro", queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas para
sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras,
parâmetro são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se
determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é
inconstitucional.
Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias, emendas
constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos aprovados
por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação. Assim,
quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está dizendo que esta lei
viola a CF/88 (parâmetro).
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: Foi proposta uma ADI contra lei
estadual alegando que ela violou um tratado internacional, qual seja, a Convenção sobre
Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras Matérias, assinada em
Londres, e promulgada pelo Brasil por meio do Decreto 87.566/1982.
É cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um tratado
internacional? É cabível ADI utilizando-se um tratado internacional como parâmetro? Em
regra, não.
Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra do
§ 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao ordenamento
brasileiro como se fosse uma emenda constitucional. Veja:
Art. 5º (...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,
serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45/2004)
Obs1: quando se diz que um tratado possui status supralegal isso significa que ele está
hierarquicamente acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição Federal. É o caso,
por exemplo, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa
Rica), que foi incorporada ao Direito brasileiro antes da EC 45/2004 e, portanto, tem status
supralegal (STF. Plenário. RE 466343, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 03/12/2008). O status
normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil
torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou
posterior ao ato de adesão (STF. Plenário. RE 349703, Rel. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, DJ
5/6/2009).
Obs2: não se pode confundir parâmetro com objeto. Parâmetro já foi explicado acima. Objeto
significa os atos normativos contra os quais se pode propor ADI. Todos os tratados
internacionais aprovados pelo Brasil podem ser objeto de ADI, ou seja, pode-se ajuizar ação
alegando que eles violam a Constituição Federal. Nesse sentido:
(Diplomata 2011 CESPE) A ação direta de inconstitucionalidade
pode ser impetrada contra tratados que versem sobre direitos
humanos com status de norma constitucional, contra tratados de
direitos humanos que ingressem no ordenamento jurídico com a
natureza de norma supralegal e contra os tratados que, não
dispondo sobre direitos humanos, adentrem o ordenamento com
força de lei ordinária. (correta)
Voltando à situação acima analisada: O STF não conheceu da ADI proposta contra a referida
lei estadual porque a Convenção sobre Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de
Resíduos e Outras Matérias (Decreto 87.566/1982) não trata sobre direitos humanos e,
portanto, possui status de lei ordinária em nosso país. Logo, o autor estava alegando, em uma
ADI, que uma lei estadual teria violado uma norma com status de lei ordinária federal. Isso
não é matéria de ADI. Nas palavras do STF, “não se admite o exame de contrariedade à norma
infraconstitucional em sede de controle concentrado de constitucionalidade”.
O Estado do Rio de Janeiro vive uma grave crise econômica, estando em débito com o
pagamento de fornecedores e atraso até mesmo no pagamento da remuneração dos
servidores públicos. Os órgãos e entidades também estão sem dinheiro para custear os
serviços públicos.
Diante disso, diversas ações (individuais e coletivas) foram propostas, tanto na Justiça
comum estadual como também na Justiça do Trabalho, pedindo a realização desses
pagamentos. Os órgãos judiciais estavam acolhendo os pedidos e determinando a
apreensão de valores nas contas do Estado para a concretização dos pagamentos.
Neste cenário, o Governador do Estado ajuizou ADPF no STF com o objetivo de suspender
os efeitos de todas as decisões judiciais do TJRJ e do TRT da 1ª Região que tenham
determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou a liberação de valores das
contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro.
O STF afirmou que a ADPF é instrumento processual adequado para esse pedido e deferiu
a medida liminar.
O conjunto de decisões questionadas são atos típicos do Poder Público passíveis de
impugnação por meio de APDF.
STF. Plenário. ADPF 405 MC/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/17 (Info 869).
OBS:
Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos objetivos de constitucionalidade: No
julgamento de ADI, ADC ou ADPF, a Lei prevê expressamente que o STF poderá modular os
efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF. Em outras palavras, a Lei permite
que o STF determine que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade somente valham a
partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a partir de determinada data futura (efeitos
prospectivos).
Lei 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo,
e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de
dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração
ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em
julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
8.27. TJ pode julgar ADI contra lei municipal tendo como parâmetro norma da Constituição
Federal? – (Info 852) – IMPORTANTE!!! – (PGM-Salvador/BA-2015) (TJSC-2017)
OBS:
É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI proposta
no Supremo Tribunal Federal? NÃO. A CF/88 somente autoriza que seja proposta ADI no STF
contra lei ou ato normativo FEDERAL ou ESTADUAL. Veja:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a
guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e
a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal;
Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias, emendas
constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos aprovados
por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação. Assim,
quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está dizendo que esta lei
viola a CF/88 (parâmetro).
Quando é proposta uma ADI no TJ contra lei municipal, qual é o parâmetro que será analisado
pelo Tribunal? A Constituição Estadual. Isso está expressamente previsto no § 2º do art. 125
da CF/88: "§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de
leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual (...)".
Assim, em regra, quando o Tribunal de Justiça julga uma ADI proposta contra lei ou ato
normativo estadual ou municipal, ele deverá analisar se esta lei ou ato normativo viola ou não
algum dispositivo da Constituição Estadual.
Quando o TJ julga uma ADI contra lei estadual ou municipal, ele poderá declará-la
inconstitucional sob o argumento de que viola um dispositivo da Constituição Federal? Em
regra, não. Isso porque, como vimos acima, o parâmetro da ADI proposta perante o TJ é a
Constituição Estadual (e não a Constituição Federal).
Assim, em regra, na ADI estadual, o TJ irá analisar se a lei ou ato normativo atacado viola ou
não a Constituição Estadual. Este é o parâmetro da ação. O TJ não pode examinar se o ato
impugnado ofende a Constituição Federal. O STF, em reiteradas oportunidades, já decidiu
sobre o tema:
Não cabe a tribunais de justiça estaduais exercer o controle de
constitucionalidade de leis e demais atos normativos municipais em
face da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 347, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em
20/09/2006.
Exceção: A regra acima exposta comporta uma exceção. Os Tribunais de Justiça, ao julgarem a
representação de inconstitucionalidade proposta contra lei municipal, poderão declará-la
inconstitucional utilizando como parâmetro dispositivos da Constituição Federal, desde que
eles sejam normas de reprodução obrigatória pelos Estados.
Normas de reprodução obrigatória: Normas de reprodução obrigatória são dispositivos da
Constituição Federal de 1988 que, como o próprio nome indica, devem ser repetidos nas
Constituições Estaduais. Elas são também chamadas de "normas de observância obrigatória"
ou "normas centrais".
Importante esclarecer que, se uma norma é de reprodução obrigatória, considera-se que ela
está presente na Constituição Estadual mesmo que a Carta estadual seja silente. Ex: a CF/88
prevê que os Municípios são autônomos (art. 18). Trata-se de norma de reprodução obrigatória.
Isso significa que, mesmo se a Constituição Estadual não disser que os Municípios são
autônomos, ainda assim considera-se que essa regra está presente na Carta Estadual.
Confira a explicação do Ministro Luis Roberto Barroso, para quem normas de reprodução
obrigatória são:
"as disposições da Carta da República que, por pré-ordenarem
diretamente a organização dos Estados-membros, do Distrito
Federal e/ou dos Municípios, ingressam automaticamente nas
ordens jurídicas parciais editadas por esses entes federativos. Essa
entrada pode ocorrer, seja pela repetição textual do texto federal,
seja pelo silêncio dos constituintes locais – afinal, se sua absorção é
compulsória, não há qualquer discricionariedade na sua
incorporação pelo ordenamento local." (Rcl 17954 AgR/PR).
Não existe um artigo da Constituição Federal que diga quais são as normas de reprodução
obrigatória. Isso foi uma "construção" da jurisprudência do STF, ou seja, em diversos julgados
o Tribunal foi mencionando quais as normas seriam de reprodução obrigatória.
Como exemplos de normas de reprodução obrigatória podemos citar as regras da Constituição
Federal que tratam sobre organização político-administrativa, competências, separação dos
Poderes, servidores públicos, processo legislativo, entre outras.
Veja a importante lição de Marcelo Novelino sobre o tema:
"(...) Diversamente da Carta anterior, que as relacionava
expressamente (CF/1967-1969, art. 13, I, III e IX), na Constituição de
1988 as normas de observância obrigatória não foram elencadas de
forma textual. Adotou-se uma formulação genérica que, embora
teoricamente conferira maior liberdade de auto-organização aos
Estados-membros, cria o risco de possibilitar interpretações
excessivamente amplas na identificação de tais normas. (...)
(...)
As normas de observância obrigatória são diferenciadas em três
espécies. Os princípios constitucionais sensíveis representam a
essência da organização constitucional da federação brasileira e
estabelecem limites à autonomia organizatória dos Estados-
membros (CF, art. 34, VII). Os princípios constitucionais extensíveis
consagram normas organizatórias para a União que se estendem aos
Estados, por previsão constitucional expressa (CF, arts. 28 e 75) ou
implícita (CF, art. 58, § 3.°; arts. 59 e ss.). Os princípios
constitucionais estabelecidos restringem a capacidade organizatória
dos Estados federados por meio de limitações expressas (CF, art. 37)
ou implícitas (CF, art. 21)." (NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito
Constitucional. Salvador: Juspdodivm, 2015, p. 82).
Resumindo:
Em regra, quando os Tribunais de Justiça exercem controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais deverão examinar a validade dessas leis à luz
da Constituição Estadual.
Exceção: os Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da
Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos
Estados.
Exemplos da exceção:
Ex1: Município do Paraná aprovou lei tratando sobre direito do trabalho; foi proposta
uma ADI estadual no TJ contra esta lei; o TJ poderá julgar a lei inconstitucional
alegando que ela viola o art. 22, I, da CF/88 (mesmo que a Constituição do Estado não
tenha regra semelhante); isso porque essa regra de competência legislativa é
considerada como norma de reprodução obrigatória. Nesse sentido: STF. 1ª Turma.
Rcl 17954 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/10/2016.
Ex2: Município do Rio Grande do Sul editou lei criando gratificação para o Prefeito
fora do regime de subsídio, o que violaria o art. 39, § 4º, da CF/88; o TJ/RS poderá
julgar a lei municipal inconstitucional utilizando como parâmetro este dispositivo da
Constituição Federal; isso porque a regra sobre o subsídio para membros de Poder e
detentores de mandato eletivo é considerada norma de reprodução obrigatória. Nesse
sentido: STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 01/02/2017 (repercussão geral).
Tese fixada pelo STF: O tema acima exposto foi enfrentado pelo STF
em um recurso extraordinário julgado sob a sistemática da
repercussão geral, tendo sido fixada a seguinte tese: Tribunais de
Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de
leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição
Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória
pelos estados. STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel.
para acórdão Min. Roberto Barroso, j. 1/2/17 (repercussão geral).
Obs: a tese acima fala em "leis municipais", mas ela também pode ser aplicada para
representações de inconstitucionalidade propostas no TJ contra "leis estaduais". A tese falou
apenas de leis municipais porque foi o caso analisado no recurso extraordinário.
Vale ressaltar que a decisão do STF neste recurso extraordinário terá eficácia erga omnes
porque foi proferida em um processo objetivo de controle de constitucionalidade.
8.28. Conversão da MP em lei antes que a ADI proposta seja julgada – (Info 851) –
IMPORTANTE!!!
Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é
convertida em lei com o mesmo texto que foi atacado, esta ADI não perde o objeto e poderá
ser conhecida e julgada.
Como o texto da MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso porque
não há a convalidação ("correção") de eventuais vícios existentes na norma, razão pela qual
permanece a possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade.
Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre o ato legislativo provisório (MP) e a lei
que resulta de sua conversão.
Ex: foi proposta uma ADI contra a MP 449/1994 e, antes de a ação ser julgada, houve a
conversão na Lei nº 8.866/94.
Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ADI deverá peticionar informando esta situação
ao STF e pedindo o aditamento da ação.
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/12/2016 (Info 851).
OBS:
Nesse sentido, confira o seguinte precedente do STF:
(...) Não prejudica a ação direta de inconstitucionalidade material de
medida provisória a sua intercorrente conversão em lei sem
alterações, dado que a sua aprovação e promulgação integrais
apenas lhe tornam definitiva a vigência, com eficácia "ex tunc" e sem
solução de continuidade, preservada a identidade originaria do seu
conteúdo normativo, objeto da arguição de invalidade. (...)
STF. Plenário. ADI 691 MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado
em 22/04/1992.
8.29. Revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e julgamento da ação sem
comunicar este fato ao STF – (Infos 824 e 845) – IMPORTANTE!!!
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado
antes do julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI
1203).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma
proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por
ela produzidos (STF ADI 3306).
"Sucessivas leis distritais que tentaram revogar os atos normativos impugnados. (...)
Fatos que não caracterizaram o prejuízo da ação. Quadro fático que sugere a intenção de
burlar a jurisdição constitucional da Corte. Configurada a fraude processual com a
revogação dos atos normativos impugnados na ação direta, o curso procedimental e o
julgamento final da ação não ficam prejudicados. (...)"
(STF. Plenário. ADI 3306, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 17/03/2011)
Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como
não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação (ADI 2418/DF). (Info 824)
Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente
que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer, após
o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada. (Info 845)
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 4/5/2016 (Info 824).
STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/16 (Info 845).
OBS:
EXCEÇÃO 2: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em outro
diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no conteúdo do
instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação.
Exemplo da exceção 2: Foi proposta uma ADI contra o art. 10 da MP 2.102-27/01, que
acrescentou um parágrafo único ao art. 741 do CPC 1973. Ocorre que a ADI somente foi julgada
pelo STF em maio de 2016, ou seja, quando já havia entrado em vigor o CPC 2015, que revogou
esse dispositivo do CPC 1973. Diante disso, a AGU afirmou que a ação perdeu o seu objeto e
que, por essa razão, não deveria mais ser conhecida. A OAB, por sua vez, autora da ação,
argumentou que o CPC 2016 praticamente repetiu esse dispositivo. Dessa forma, persistia a
necessidade de enfrentamento do tema.
O que decidiu o STF? A ADI poderá ser conhecida e julgada mesmo tendo havido a revogação
do dispositivo que estava sendo impugnado? SIM. O STF entendeu que não houve a perda de
objeto da ação mesmo tendo havido a revogação do § único do art. 741 do CPC 1973 pela Lei
13105/15. Isso porque a matéria disciplinada no referido dispositivo foi mantida pelo NCPC,
que tratou sobre o tema de forma semelhante, ainda que com algumas diferenças, nos §§ 5º a
8º do art. 535 e nos §§ 12 a 15 do art. 525 do CPC 2015. Persistem, portanto, as razões invocadas
pela autora da ADI para afirmar a inconstitucionalidade da previsão. Dessa forma, como não
houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação. Nesse mesmo sentido: STF. Plenário. ADI 2.501/MG, DJe de
19/12/2008; ADI 3147 ED, julgado em 28/05/2014.
EXCEÇÃO 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente
que houve a revogação da norma atacada.
Exemplo da exceção 3: Foi ajuizada ADI contra uma lei do Estado de Santa Catarina. Poucos
meses antes do STF julgar a ação, a referida lei foi inteiramente revogada. Ocorre que o STF
não foi informado sobre a revogação e julgou a ADI procedente, declarando a lei
inconstitucional. Após o julgamento, a Assembleia Legislativa do Estado apresentou embargos
de declaração alegando contradição do acórdão sob o argumento de que o STF deveria ter
julgado a ADI prejudicada em face da revogação da lei.
O argumento exposto nos embargos de declaração foi acolhido? NÃO. Deve-se afastar a
prejudicialidade de ação direta de inconstitucionalidade caso o STF tenha julgado o mérito da
ação sem ter sido comunicado previamente a respeito da revogação da norma atacada. É
preciso preservar o trabalho já efetuado pelo Tribunal, bem como evitar que a constatação da
efetiva violação à ordem constitucional se torne inócua. Permitir que se pleiteie a
desconstituição do julgamento em embargos de declaração depois de decidido o mérito da
ação equivaleria a abrir à parte a possibilidade de manipular a decisão do STF. Assim, se esta
lhe for favorável, bastará não invocar a perda de objeto e usufruir de seus efeitos. Se, ao
contrário, lhe for desfavorável, o reconhecimento da prejudicialidade a imunizará contra os
efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade. Ademais, como a revogação da lei
catarinense não foi alegada antes do julgamento do mérito, não é possível falar em omissão,
obscuridade ou contradição nem há também, por esse motivo, fundamento para acolher os
embargos de declaração. Por fim, vale ressaltar que a lei efetivamente vigeu durante
determinado período, de modo que, se fosse considerada a prejudicialidade dessa ação, isso
significaria admitir como válidos os efeitos da lei no período em que ela vigorou, sendo que o
STF já declarou que ela era inconstitucional desde o seu início (inconstitucionalidade com
efeitos ex tunc). STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/2016 (Info
845).
Foi proposta ADI contra a Lei 3.041/05, do Estado do Mato Grosso do Sul, que tratava sobre
assunto de competência da União. Ocorre que esta Lei havia revogado outras leis estaduais
de mesmo conteúdo. Desse modo, se a Lei 3.041/05 fosse, isoladamente, declarada
inconstitucional, as demais leis revogadas "voltariam" a vigorar mesmo padecendo de
idêntico vício.
A fim de evitar essa "eficácia repristinatória indesejada", o PGR, que ajuizou a ação,
impugnou não apenas a Lei 3.041/05, mas também aquelas outras normas por ela revogadas.
O STF concordou com o PGR e, ao declarar inconstitucional a Lei 3.041/05, afirmou que não
deveria haver o efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo.
O dispositivo do acórdão ficou, portanto, com a seguinte redação:
"O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente o pedido
formulado para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 3.041/2005, do Estado de Mato
Grosso do Sul, inexistindo efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo
conteúdo, (...)"
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
O autor da ADI deverá impugnar a lei atual e a lei revogada (se esta contiver o mesmo vício) a
fim de evitar uma "eficácia repristinatória indesejada", ou seja, com o objetivo de evitar que
aquela decisão do STF seja inútil. Digo inútil porque a lei atual será declarada inconstitucional,
mas "voltará" uma lei com semelhante mácula.
"No caso de efeito repristinatório indesejado, ou seja, quando a lei revogada também for eivada
do vício de inconstitucionalidade, faz-se necessária a formulação de pedidos sucessivos de
declaração de inconstitucionalidade, tanto do diploma ab-rogatório quanto das normas por ele
revogadas. Caso a norma anterior não seja impugnada, a ADI não será conhecida." (Marcelo
Novelino).
8.31. Associação que abranja apenas uma fração da categoria profissional não possui
legitimidade para ADI/ADPF de norma que envolva outros representados – (Info 826)
As associações que representam fração de categoria profissional não são legitimadas para
instaurar controle concentrado de constitucionalidade de norma que extrapole o universo
de seus representados.
Ex: a ANAMAGES, associação que representa apenas os juízes estaduais, não pode ajuizar
ADPF questionando dispositivo da LOMAN, considerando que esta lei rege não apenas os
juízes estaduais, mas sim os magistrados de todo o Poder Judiciário, seja ele federal ou
estadual.
STF. Plenário. ADPF 254 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).
OBS:
Os legitimados para a propositura de ADI, ADC ou ADPF estão previstos no art. 103 da CF/88.
Dentre eles, destaco o inciso IX:
OBS: Vale ressaltar, no entanto, que se terminar o exercício financeiro a que se refere a lei sem
que a ADI tenha sido julgada, haverá perda superveniente do objeto. Ex: foi proposta ADI
contra a LDO relativa a 2014, mas terminou o ano sem que ela tenha sido julgada. Haverá,
portanto, perda do objeto. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4663 MC-Ref, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 15/10/2014.
Em regra, a decisão proferida pelo STF em processos individuais (ex: recurso extraordinário,
reclamação) possui eficácia inter partes. No entanto, no caso do RE 567.985/MT, do RE
580963/PR e do Rcl 4374/PE é diferente. Isso porque o Plenário da Corte Suprema, no
julgamento desses processos não apenas resolveu o conflito individual deduzido naquela
causa, mas realizou, expressamente, a reinterpretação da decisão proferida pelo STF na ADI
1.232/DF.
Em outras palavras, a decisão proferida no processo individual ganhou eficácia erga omnes
e efeito vinculante porque reinterpretou e modificou uma decisão proferida em ADI, que
possui tais atributos. Logo, por ter "substituído" um entendimento do STF que tinha eficácia
erga omnes e efeito vinculante, a nova decisão proferida em sede de controle concreto
ganhou contornos de controle abstrato.
Dessa forma, se uma decisão proferida por outro órgão jurisdicional violar o que foi
decidido pelo STF no RE 567.985/MT, no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE caberá reclamação
para o Supremo.
Obs: apenas para esclarecer, em 1998, na ADI 1.232/DF, o STF havia decidido que o § 3º do
art. 20 da Lei nº 8.742/93 era constitucional. Em 2013, ao apreciar novamente o tema no RE
567.985/MT, no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE, processos individuais julgados em conjunto,
o STF mudou de entendimento e afirmou que o referido § 3º é parcialmente
inconstitucional.
STF. Decisão monocrática. Rcl 18636, Rel. Min. Celso de Mello, j. 10/11/15 (Info 813).
8.34. Não cabimento de ADPF contra decisão judicial transitada em julgado – (Info 810) –
(TJMSP-2016-VUNESP)
OBS: A eficácia geral e o efeito vinculante de decisão, proferida pelo Supremo Tribunal
Federal, em ação direta de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal, só atingem os demais órgãos do Poder Judiciário e todos os do Poder
Executivo, NÃO ALCANÇANDO o legislador, que pode editar nova lei com idêntico
conteúdo normativo, sem ofender a autoridade daquela decisão." (RTJ 193/858, Rel. Min.
CEZAR PELUSO)
8.36. Cabimento de nova ADI por inconstitucionalidade material contra ato normativo já
reconhecido formalmente constitucional pelo STF – (Info 787) – IMPORTANTE!!! – (MPGO-
2016)
A Lei “X” foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei seria
formalmente inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei
constitucional. Quatro anos mais tarde, outro legitimado ajuíza nova ADI contra a Lei “X”,
mas desta vez alega que ela é materialmente inconstitucional.
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei
materialmente inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei “X” (nem
disse que ela era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a
inconstitucionalidade material da lei e nada impede que o STF decida declará-la
inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede
que ele reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/5/2015 (Info 787).
8.37. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade e ação rescisória – (Info 787) –
IMPORTANTE!!!
A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos
da petição inicial. Um desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia
judicial relevante sobre a lei objeto da ação.
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a
constitucionalidade daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais
decidindo que aquela lei é inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não
há razão para se propor a ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher
o requisito da “controvérsia judicial relevante” com poucos dias de vigência do ato
normativo?
SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível
preencher o requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa
lei ou ato normativo inconstitucional.
O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante é
qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia não
se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas
decisões em sentido contrário à lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando
inconstitucional a lei já pode ser possível o ajuizamento da ADC se o ato normativo
impugnado for uma emenda constitucional (expressão mais elevada da vontade do
parlamento brasileiro) ou mesmo em se tratando de lei se a matéria nela versada for
relevante e houver risco de decisões contrárias à sua constitucionalidade se multiplicarem.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/5/2015 (Info 786).
O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que
ocorreu o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se
deveria haver ou não a modulação dos efeitos da decisão. 7 Ministros votaram a favor, mas
como são necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de modulação foi rejeitada e o
resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava
ausente compareceu à sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da decisão
que declarou a lei inconstitucional no dia anterior.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado
concluído e encerrado e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir
novamente a modulação dos efeitos da decisão proferida.
A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
a) primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e
b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de
modulação dos efeitos.
Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre a
modulação (que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a
possibilidade de reabertura para deliberação sobre a modulação dos efeitos.
STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, julgado em 8/4/2015 (Info 780).
8.41. Quórum de sessão e discussão sobre a recepção de lei ou ato normativo – (Info 769)
No STF, para que seja iniciada a sessão de julgamento onde será votada a
constitucionalidade de uma lei ou ato normativo é necessário que estejam presentes no
mínimo 8 Ministros. Se houver 7, por exemplo, a discussão não pode sequer ser iniciada
(art. 143, parágrafo único, do art. 143 do RISTF). A isso chamamos de quórum de sessão (ou
quórum para julgamento/votação).
Essa exigência de quórum para julgamento não se aplica caso o STF esteja analisando a
recepção ou não de uma lei ou ato normativo. Isso porque não haverá, nesse caso, controle
(juízo) de constitucionalidade. Trata-se apenas de discussão em torno de direito pré-
constitucional.
Assim, por exemplo, mesmo estando presentes apenas 7 Ministros, o STF poderá discutir se
uma lei foi ou não recepcionada pela CF/88.
STF. Plenário. RE 658312/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/11/2014 (Info 769).
8.44. Membro do MPT tem legitimidade para interpor RE contra decisões do TST – (Info
759)
8.45. Regimento Interno de Assembleia Legislativa pode ser objeto de ADI – (Info 747)
8.48. CE pode prever que o ato impugnado em ADI seja defendido pelo Procurador-Geral
do Estado ou pelo Procurador-Geral da ALE – (Info 736)
8.51. Mandado de segurança contra projeto de lei supostamente inconstitucional – (Info 711)
– IMPORTANTE!!! – (TJSP-2015)
OBS:
Regra: em regra, não se deve admitir a propositura de ação judicial para se realizar o controle
de constitucionalidade prévio dos atos normativos.
Nessas duas situações acima, o vício de inconstitucionalidade está diretamente relacionado aos
aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa (regras de processo legislativo),
sendo, portanto, admitida a impetração de mandado de segurança com a finalidade de corrigir
tal vício, antes e independentemente da final aprovação da norma.
O caso concreto examinado pelo STF não se enquadrava em nenhuma dessas duas situações
excepcionais, pois não se tratava de emenda à Constituição e a tramitação deste projeto não
violou nenhuma regra constitucional sobre o processo legislativo.
Assim, a médio e longo prazo, haveria uma série de ações judiciais da mesma espécie perante
o STF, que passaria a atuar como uma espécie de terceiro participante das rodadas
parlamentares, e exerceria papel típico do Legislativo. O controle repressivo de
constitucionalidade (que atualmente é a regra) cederia espaço, então, ao controle preventivo
(que deve ser excepcional).
Por fim, deve-se ressaltar que as eventuais inconstitucionalidades do projeto poderiam ser
analisadas e resolvidas se e quando este fosse aprovado e se transformasse em lei.
No julgamento, ficaram vencidos os Min. Gilmar Mendes, relator, Dias Toffoli e Celso de
Mello, que concediam parcialmente o mandamus.
As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, em ADI e ADC, produzem eficácia
contra todos e efeito vinculante. Tais efeitos não vinculam, contudo, o próprio STF.
Assim, se o STF decidiu, em uma ADI ou ADC, que determinada lei é CONSTITUCIONAL,
a Corte poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e decidir que esta mesma lei é
INCONSTITUCIONAL por conta de mudanças no cenário jurídico, político, econômico ou
social do país.
As sentenças contêm implicitamente a cláusula rebus sic stantibus, de modo que as
alterações posteriores que alterem a realidade normativa, bem como eventual modificação
da orientação jurídica sobre a matéria, podem tornar inconstitucional norma anteriormente
considerada legítima (“inconstitucionalidade superveniente”) (obs: a expressão
inconstitucionalidade superveniente foi utilizada aqui em sentido diferente da situação em
que uma lei anterior à CF/88 torna-se incompatível com o novo Texto Constitucional. Os
autores afirmam que neste caso houve uma “não recepção”, não se podendo falar em
“inconstitucionalidade superveniente”).
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode ser
decidida durante o julgamento de uma reclamação constitucional.
STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013.
8.55. O STF pode, por meio de reclamação, fazer a (re)intepretação de decisão proferida em
controle de constitucionalidade abstrato
É possível que o STF, por meio de reclamação, faça a (re)interpretação de decisão proferida
em controle de constitucionalidade abstrato.
Ao julgar uma reclamação, o STF realiza um juízo de confronto e de adequação entre o
objeto (ato impugnado) e o parâmetro (decisão do STF tida por violada). Isso pode fazer com
que se conclua pela necessidade de redefinição do conteúdo e do alcance do parâmetro
(decisão que havia sido proferida).
Ao analisar uma reclamação, o STF faz uma espécie de “balançar de olhos” (expressão
cunhada por Karl Engisch) entre o ato impugnado (objeto) e que havia sido decidido
(parâmetro) e poderá chegar a conclusão diferente do que já tinha deliberado anteriormente.
É por meio da reclamação, portanto, que as decisões do STF permanecem abertas a esse
constante processo hermenêutico de reinterpretação realizado pelo próprio Tribunal.
A reclamação, dessa forma, constitui um instrumento para a realização de mutação
constitucional e de inconstitucionalização de normas que muitas vezes podem levar à
redefinição do conteúdo e do alcance, e até mesmo à superação, total ou parcial, de uma
antiga decisão.
STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013.
A tese de que há hierarquia entre normas constitucionais originarias dando azo a declaração
de inconstitucionalidade de umas em face de outras e incompossível com o sistema de
Constituição rígida.
Na atual Carta Magna "compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição" (artigo 102, "caput"), o que implica dizer que essa jurisdição lhe e atribuída
para impedir que se desrespeite a Constituição como um todo, e não para, com relação a ela,
exercer o papel de fiscal do Poder Constituinte originário, a fim de verificar se este teria, ou
não, violado os princípios de direito suprapositivo que ele próprio havia incluído no texto
da mesma Constituição.
Por outro lado, as cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentação da tese da
inconstitucionalidade de normas constitucionais inferiores em face de normas
constitucionais superiores, porquanto a Constituição as prevê apenas como limites ao Poder
Constituinte derivado ao rever ou ao emendar a Constituição elaborada pelo Poder
Constituinte originário, e não como abarcando normas cuja observância se impôs ao próprio
Poder Constituinte originário com relação as outras que não sejam consideradas como
clausulas pétreas, e, portanto, possam ser emendadas.
STF. Tribunal Pleno. ADI 815/DF, rel. Min. Moreira Alves, j. em 28/03/96.
Segundo o STF, não é necessária a manifestação do Advogado-Geral da União (art. 103, § 3º,
da CF/88) em ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
STF. Tribunal Pleno. ADI 480, Rel. Min. PAULO BROSSARD, j. 13/10/1994.
OBS: O AGU não se manifesta em caso de ADO simplesmente porque não há texto
impugnado.
Não é possível aplicar o art. 86, § 4º, da CF/88 para o Presidente da Câmara dos Deputados,
considerando que a garantia prevista neste dispositivo é destinada expressamente ao chefe
do Poder Executivo da União (Presidente da República).
Desse modo, por se tratar de um dispositivo de natureza restritiva, não é possível qualquer
interpretação que amplie a sua incidência a outras autoridades, notadamente do Poder
Legislativo.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816).
OBS:
Art. 86 (...) § 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado
por atos estranhos ao exercício de suas funções.
O Deputado Federal Eduardo Cunha foi denunciado pela prática de crimes e sua defesa pediu
suspensão do processo com base na aplicação, por analogia, do § 4º do art. 86, da CF/88,
considerando que ele é Presidente da Câmara dos Deputados. Tal pedido foi aceito pelo STF?
NÃO. É entendimento esposado no julgado acima, publicado no Info 816.
O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade
própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão
em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e
específicas menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional
gravidade.
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas
cautelares é do STF (art. 102, I, “b”, da CF/88).
Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF
impossibilitar, direta ou indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu
mandato, então, neste caso, o Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24
horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere
se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida.
Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares
previstas no art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou
indiretamente, que esse Deputado ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a
Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a medida cautelar que havia sido
determinada pelo Judiciário.
Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art. 53 da CF/88 também para as medidas cautelares
diversas da prisão.
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 11/10/17 (Info 881).
OBS:
O Deputado Federal ou Senador pode ser preso antes da condenação definitiva?
Regra: NÃO. Como regra, os membros do Congresso Nacional não podem ser presos
antes da condenação definitiva.
Exceção: poderão ser presos caso estejam em flagrante delito de um crime inafiançável.
Pela redação literal do art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado Estadual, o Deputado Federal e o
Senador somente poderão ser presos, antes da condenação definitiva, em uma única hipótese:
em caso de flagrante delito de crime inafiançável. Isso significa que, pela literalidade do
dispositivo constitucional, tais parlamentares não podem ter contra si uma ordem de prisão
preventiva. Trata-se da imunidade formal em relação à prisão, também chamada de
“incoercibilidade pessoal relativa” (freedom from arrest). As imunidades parlamentares são
prerrogativas conferidas pela CF/88 aos parlamentares para que eles possam exercer seu
mandato com liberdade e independência. Vale ressaltar que a imunidade prevista no art. 53, §
2º da CF/88 aplica-se não apenas para Deputados Federais e Senadores, mas também para os
Deputados Estaduais. Isso porque os Deputados Estaduais possuem as mesmas imunidades
que os parlamentares federais, por força do art. 27, § 1º da CF/88.
O Deputado Federal ou Senador pode ser preso se for condenado em processo criminal com
trânsito em julgado? SIM. O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar
(provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em
julgado, como no caso de Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF. STF.
Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712).
Em suma, pode-se dizer que o § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar
(provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em
julgado, como foi a hipótese do ex-Deputado Federal Natan Donadon, condenado pelo STF na
AP 396/RO.
Medidas cautelares diversas da prisão: A prisão preventiva é uma espécie de “prisão cautelar”.
A prisão cautelar, por sua vez, é uma das espécies de “medida cautelar”. Assim, além da prisão
existem outras espécies de medidas cautelares. As medidas cautelares são providências
urgentes que devem ser decretadas na fase pré-processual ou durante o processo penal com o
objetivo de assegurar a apuração do fato delituoso, a instrução processual, a aplicação da
sanção penal, a proteção da ordem pública ou o ressarcimento do dano causado pelo delito.
Como já disse, a prisão processual é uma espécie de medida processual. As demais medidas
cautelares diversas da prisão estão elencadas no art. 319 do CPP:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições
fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou
acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de
novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando,
por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado
dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência
seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga
quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos
concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código
Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
Segundo o art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado ou Senador não pode ser preso antes do trânsito
em julgado, salvo prisão em flagrante de crime inafiançável. Assim, pelo texto da
Constituição, o Judiciário não pode decretar a prisão preventiva de um Deputado ou Senador.
E quanto às demais medidas cautelares? O Judiciário pode decretar medidas cautelares
diversas da prisão (art. 319 do CPP) em desfavor de Deputados ou Senadores que estejam
sendo investigados ou que sejam réus? SIM.
Exemplo: O Senador Aécio Neves é alvo de diversas investigações criminais. A pedido do PGR,
o STF impôs ao investigado que cumprisse as seguintes medidas cautelares diversas da prisão:
• suspensão das suas funções como Senador (art. 319, VI);
• obrigação de recolhimento domiciliar noturno (art. 319, V);
• proibição de entrar em contato com outros investigados por qualquer meio (art. 319, III);
• proibição de se ausentar do país, com a entrega do passaporte (art. 319, IV).
O Senado Federal, aplicando o entendimento do STF na ADI 5526/DF acima explicada,
entendeu que as medidas cautelares impostas a Aécio Neves impossibilitavam que ele
exercesse o seu mandato parlamentar. Em razão disso, o Senado se reuniu e decidiu rejeitar as
medidas cautelares que haviam sido impostas pelo STF em desfavor de Aécio Neves.
De onde o STF tirou essa conclusão de que deveria encaminhar a sua decisão para o
Parlamento avaliar se deveria ou não ser mantida? Do art. 53, § 2º da CF/88:
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
inafiançável. Nesse caso (ou seja, na hipótese de o parlamentar ser
preso), os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à
Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros,
resolva sobre a prisão.
Mas o art. 53, § 2º da CF/88 fala em resolver sobre a “prisão” e não sobre “medidas cautelares”
do art. 319 do CPP...: O STF entendeu que o mesmo raciocínio que vale para a prisão dos
parlamentares deve ser aplicado também no caso de medidas cautelares. O art. 53, § 2º da
CF/88 foi pensado com um objetivo, qual seja, o de fazer com que o parlamentar somente fosse
afastado do exercício de seu mandato conferido pelo povo em uma única hipótese: prisão em
flagrante delito por crime inafiançável. Dessa forma, esta norma constitucional estabeleceu,
implicitamente, a impossibilidade de qualquer outro tipo de prisão cautelar. Diante disso, o
STF entendeu que impor ao Deputado ou Senador medidas cautelares que impeçam o exercício
do mandato seria uma forma de violar a imunidade formal que protege o livre exercício do
mandato parlamentar contra interferências externas. Assim, a decisão do Poder Judiciário que
aplique medida cautelar que impossibilite direta ou indiretamente o exercício regular do
mandato legislativo deve ser submetida ao controle político da Casa Legislativa respectiva, nos
termos do art. 53, § 2º, da CF/88.
Obs: o resultado deste julgamento ocorreu por apertada maioria (6x5).
Houve uma mudança de entendimento do STF? SIM. Em 2016, o Plenário do STF aplicou a
medida cautelar do inciso VI do art. 319 do CPP e afastou o Eduardo Cunha do seu cargo de
Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos Deputados durante a tramitação
dos inquéritos que ele respondia. Naquela ocasião, o STF afastou Cunha do cargo e não cogitou
dar à Câmara dos Deputados a possibilidade de reverter essa decisão. Em outras palavras, no
caso de Cunha, o STF impôs a medida cautelar e o Parlamento não pode se manifestar sobre
isso. STF. Plenário. AC 4070/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/5/2016 (Info 579).
A posição manifestada pelo STF na ADI 5526/DF (poder do Parlamento de dar a última
palavra sobre as medidas cautelares) aplica-se também aos Deputados Estaduais? O STF não
apreciou este tema. No entanto, penso que o entendimento pode sim valer também para os
Parlamentares estaduais. Isso porque o art. 27, § 1º da CF/88 determina que deverão ser
aplicadas aos Deputados Estaduais as mesmas regras previstas para os Deputados Federais e
Senadores relacionadas com inviolabilidade, imunidades, perda de mandato, licença,
impedimentos, entre outros.
O objetivo do legislador, ao prever este tipo penal, foi o de proteger a confiança no sistema
financeiro. Isso porque “a divulgação de uma informação falsa sobre a saúde da instituição
financeira pode provocar a corrida dos correntistas à instituição para sacarem seus valores,
trazendo prejuízo efetivo à instituição e ao sistema”. (BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes
federais. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2016, p. 636).
2) Imunidade material
A entrevista concedida tinha relação direta com o cargo de Deputado Estadual que, à época,
era ocupado pelo réu. Isso se mostra ainda mais evidente pelo fato de que as declarações foram
prestadas dentro da Assembleia Legislativa, reforçando que se tratou de uma manifestação
do exercício de suas prerrogativas de parlamentar. Em virtude disso, não se pode dizer que
tenha havido crime porque o acusado agiu acobertado pela imunidade material prevista no
art. 53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e
penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
A CF/88, ao tratar sobre as imunidades, no art. 53 fala sobre Deputados Federais e Senadores.
Indaga-se: os Deputados Estaduais e os Vereadores também gozam das mesmas imunidades?
Além disso, a Deputada ajuizou contra ele queixa-crime sob a alegação de que teria sido vítima
de injúria:
Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Defesa do Deputado: A defesa argumentou que o parlamentar não cometeu qualquer crime
com seu comentário, considerando estar acobertado pela imunidade material prevista no art.
53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e
penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
A denúncia e a queixa-crime foram recebidas pelo STF? Existem elementos indiciários para se
prosseguir com a ação penal? SIM.
Este entendimento não poderia ser aplicado ao caso concreto, considerando que as palavras e
a entrevista foram dadas dentro das dependências da Câmara dos Deputados? O STF afirmou
que as declarações prestadas pelo Deputado dentro do plenário até poderiam estar abarcadas
por este entendimento. No entanto, no dia seguinte ele deu uma entrevista na qual reafirmou
as palavras. Portanto, neste momento, a imunidade não é absoluta.
Depois das declarações do Deputado, surgiu uma campanha na internet no qual várias pessoas
postaram a seguinte frase: "eu não mereço ser estuprada". A defesa do parlamentar afirmou
que, se as palavras dele incentivaram o estupro, então as mulheres que aderiram a esse
movimento também o teriam praticado porque o contexto seria o mesmo. O STF acolheu este
argumento? NÃO. Esta campanha se trata de uma crítica e repúdio às declarações do
parlamentar. O sentido conferido, na referida campanha, ao verbo “merecer” revela-se oposto
ao empregado pelo acusado nas manifestações que externara publicamente. Essas mensagens
buscaram restabelecer o sentimento social de que o estupro é uma crueldade intolerável.
Injúria: Por fim, o STF afirmou que as declarações do Deputado atingiram a honra subjetiva
da Deputada, porque rebaixaram sua dignidade moral, expondo sua imagem à humilhação
pública, além de associar as características da mulher à possibilidade de ser vítima de estupro.
Tese da retorsão imediata: Vale ressaltar que o Deputado ainda não foi condenado. Na
verdade, agora que se inicia o processo criminal e, após toda a instrução, o mérito das
acusações ainda será analisado. Importante destacar que o STF ainda não se manifestou sobre
um dos argumentos do Deputado, qual seja, o de que ele teria apenas se defendido de prévias
agressões verbais praticadas pela Deputada (tese da "retorsão imediata" ou da "reação a injusta
provocação"). O STF afirmou que esta alegação somente deveria ser apreciada ao final do
processo, após a instrução.
A imunidade material de parlamentar (art. 53, “caput”, da CF/88) quanto a crimes contra a
honra só alcança as supostas ofensas irrogadas fora do Parlamento quando guardarem
conexão com o exercício da atividade parlamentar.
No caso concreto, determinado Deputado Federal afirmou, em seu blog pessoal, que certo
Delegado de Polícia teria praticado fato definido como prevaricação.
A 1ª Turma do STF recebeu a denúncia formulada contra o Deputado por entender que, no
caso concreto, deveria ser afastada a tese de imunidade parlamentar apresentada pela
defesa.
A Min. Rel. Rosa Weber ressaltou que a imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88)
só é absoluta quando as afirmações de um parlamentar sobre qualquer assunto ocorrem
dentro do Congresso Nacional. No entendimento da Ministra, fora do parlamento é
necessário que as afirmações tenham relação direta com o exercício do mandato. Na
hipótese, o STF entendeu que as declarações do Deputado não tinha relação direta com o
exercício de seu mandato.
STF. 1ª Turma. Inq 3672/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/10/2014 (Info 763).
10.6. O art. 53, §2º da CF veda apenas a prisão penal cautelar – (Info 712)
2ª Turma do STF: NÃO. A perda não é automática. A Casa é que irá deliberar.
O STF apenas comunica, por meio de ofício, à Mesa da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal informando sobre a condenação do parlamentar.
A Mesa da Câmara ou do Senado irá, então, deliberar (decidir) como entender de direito
(como quiser) se o parlamentar irá perder ou não o mandato eletivo, conforme prevê o art.
55, VI, § 2º, da CF/88.
Assim, mesmo com a condenação criminal, quem decide se haverá a perda do mandato é a
Câmara dos Deputados ou o Senado Federal.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/5/2018 (Info 904) (obs: o Relator
Edson Fachin ficou vencido neste ponto).
OBS: O Código Penal prevê que a pessoa condenada criminalmente perderá o cargo, função
pública ou mandato eletivo que ocupe nos seguintes casos:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou
superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou
violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo
superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
Art. 14 (...)
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
II – o pleno exercício dos direitos políticos;
Para a primeira corrente, a regra do art. 15, III, da CF/88 não se aplica a Deputados Federais
e Senadores. Isto porque no caso desses parlamentares há uma norma específica que
excepciona a regra geral. Trata- se do art. 55, VI e § 2º da CF/88, que afirma expressamente que
a perda do cargo é decidida pela respectiva Casa legislativa. Confira:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em
julgado. (...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será
DECIDIDA pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal,
por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou
de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada
ampla defesa
Logo, para esta 1ª corrente, mesmo o Deputado Federal ou o Senador tendo sido condenado
criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, ele somente perderá o mandato
se assim DECIDIR a maioria absoluta da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.
É a posição adotada pela 2ª Turma do STF: AP 996, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
29/05/2018 (obs: o Relator Edson Fachin ficou vencido neste ponto).
Para a segunda corrente, o § 2º do art. 55 da CF/88 não precisa ser aplicado em todos os casos
nos quais o Deputado ou Senador tenha sido condenado criminalmente, mas apenas nas
hipóteses em que a decisão condenatória não tenha decretado a perda do mandato
parlamentar por não estarem presentes os requisitos legais do art. 92, I, do CP ou se foi
proferida anteriormente à expedição do diploma, com o trânsito em julgado em momento
posterior. Em outras palavras:
1) Se na decisão condenatória o STF não determinou a perda do mandato eletivo, nos
termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato somente poderá ocorrer se a maioria
absoluta da Câmara ou do Senado assim votar (aplica-se o art. 55, § 2º da CF/88);
2) Se na decisão condenatória o STF determinou a perda do mandato eletivo, nos
termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato ocorrerá sem necessidade de votação
pela Câmara ou Senado (não se aplica o art. 55, § 2º).
Logo, para esta segunda corrente, se o Deputado Federal ou o Senador foi condenado
criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, o STF poderá determinar a perda
do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP. Nessa hipótese, não será necessária votação
pela respectiva Casa (não se aplica o art. 55, § 2º da CF/88). A condenação já tem o condão de
acarretar a perda do mandato.
O STF já adotou esta corrente no julgamento do “Mensalão” (AP 470/MG, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, julgado em 10 e 13/12/2012) (Info 692). No entanto, não representa mais o
entendimento da Corte. A composição dos Ministros da época já foi bastante modificada.
3ª corrente: DEPENDE:
Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado: a
perda do cargo será uma consequência lógica da condenação. Neste caso, caberá à
Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que houve a perda (sem poder
discordar da decisão do STF), nos termos do art. 55, III e § 3º da CF/88.
Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto ou
semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O Plenário
da Câmara ou do Senado irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, se o condenado
deverá ou não perder o mandato.
Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado, ele deverá
cumprir a pena em penitenciária e não poderá sair para trabalho externo. Logo, não poderá
frequentar o Congresso Nacional, devendo, por consequência, perder o mandato com base
no art. 55, III, da CF/88:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...)
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça
parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença
ou missão por esta autorizada;
Esse inciso III prevê a perda do mandato ao parlamentar que, em cada sessão legislativa, faltar
a 1/3 das sessões ordinárias. Como a sessão legislativa é anual (equivalente a 1 ano), 1/3
significa 4 meses (120 dias). Logo, se o parlamentar irá ficar preso durante mais de 120 dias, ele
não poderá comparecer às sessões neste período e, portanto, deverá ser declarada a perda de
seu mandato.
No caso deste inciso III, a perda do mandado é DECLARADA pela Mesa Diretora da Câmara
ou do Senado:
Art. 55 (...)
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada
pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de
qualquer de seus membros, ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
Declaração não é o mesmo que deliberação (decisão). Assim, ocorrendo a situação descrita no
inciso III do art. 55, a Mesa da Casa respectiva não tem o poder de decidir se o Parlamentar irá
perder ou não o mandato. A Mesa é obrigada a simplesmente declarar (reconhecer,
formalizar) que o Parlamentar perdeu o mandato. Assim, no caso do inciso III, não há
necessidade de deliberação do Plenário e a perda do mandato deve ser automaticamente
declarada pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.
Por que se o parlamentar for condenado ao regime semiaberto ou aberto ele não perderá
automaticamente o cargo? Porque nos casos de condenação em regime inicial aberto ou
semiaberto, há a possibilidade de autorização de trabalho externo. Logo, em tese, ele poderia
ser um presidiário que sai para trabalhar como parlamentar durante o dia e volta para o
presídio à noite.
Qual é a posição que devo adotar em concursos? Em uma prova de concurso, você deve expor
que existe divergência entre a 1ª e a 2ª Turmas do STF. O cenário atual é o seguinte:
O STF concordou com o pedido de João? O Vereador, enquanto parlamentar e cidadão, tem
direito de requerer diretamente do chefe do Poder Executivo informações e documentos sobre
a gestão municipal? SIM.
Art. 5º, XXXIII, da CF/88: A Constituição Federal de 1988 assegura, em seu art. 5º, XXXIII, que
TODOS têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade
e do Estado. A regra geral num Estado Republicano é a da total transparência no acesso a
documentos públicos, sendo o sigilo a exceção.
Lei 12.527/11: O tema foi regulamentado, em nível infraconstitucional, pela Lei 12.527/11, que
ficou conhecida como “Lei de Acesso à Informação”.
Apesar do princípio da colegialidade, aquilo que o cidadão pode, o parlamentar também pode:
Ocorre, no entanto, que o fato de as casas legislativas, em determinadas situações, agirem de
forma colegiada, por intermédio de seus órgãos, não afasta, tampouco restringe, os direitos
inerentes ao parlamentar como indivíduo, membro do povo, da nação. A Constituição da
República não restringe (não proíbe) o direito do parlamentar de buscar as informações de
interesse individual, público ou coletivo, nas hipóteses em que o cidadão comum pode,
solitariamente, exercer o direito fundamental. Em outras palavras, se o “cidadão comum”
pode requisitar as informações e documentos, não faz sentido proibir o parlamentar de,
sozinho, também requerer estes dados. Caso o parlamentar não pudesse requerer tais
informações, ele seria transformado em um cidadão de segunda categoria. O fato de ser
parlamentar não o despe de seus direitos de cidadão.
11.4. Afastamento de Deputado Federal do cargo por decisão judicial – (Info 824) –
IMPORTANTE!!!
Qual a natureza jurídica do pedido formulado pelo MP? Trata-se de um pedido de aplicação
de medida cautelar. O CPP prevê, em seu art. 319, um rol de medidas cautelares diversas da
prisão. Uma delas é o afastamento da pessoa investigada ou acusada do cargo, empregou ou
função pública que ocupa. Veja:
Dupla função da medida cautelar do inciso VI: A literalidade do inciso VI fala que a suspensão
do exercício de função pública pode ocorrer "quando houver justo receio de sua utilização
para a prática de infrações penais". No entanto, o STF afirmou que, além disso, esse inciso
possui duas outras funções:
Mas esse inciso VI pode ser aplicado para afastar parlamentares federais? A CF/88 não afirma
que a competência para decretar a perda do mandato é da Casa Legislativa (Câmara dos
Deputados ou Senado Federal)? SIM. Esse inciso VI do art. 319 do CPP pode ser utilizado como
fundamento para se afastar do cargo Deputados Federais e Senadores. De fato, os §§ 2º e 3º do
art. 55 da CF/88 outorgam às Casas Legislativas do Congresso Nacional a competência para
decidir a respeito da perda do mandato político nos casos em que venha a se configurar
qualquer das infrações previstas nos incisos I a VI do mesmo art. 55. Veja:
Art. 55 (...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida
pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria
absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla
defesa.
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada
pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de
qualquer de seus membros, ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
Isso não significa, no entanto, que o Poder Judiciário não possa suspender o exercício do
mandato parlamentar. A legitimidade do deferimento das medidas cautelares de persecução
criminal contra Deputados e Senadores encontra abrigo no princípio da inafastabilidade da
jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF/88) e no fato de que as imunidades parlamentares não são
absolutas, podendo ser relativizadas quando o cargo não for exercido segundo os fins
constitucionalmente previstos. Nesse sentido, já decidiu o STF no HC 89.417.
Vale ressaltar que os membros do Poder Judiciário podem ser suspensos de suas atribuições
pelo Tribunal competente para julgá-los “quando, pela natureza ou gravidade da infração
penal, se torne aconselhável o recebimento de denúncia ou de queixa contra magistrado” (art.
29 da LOMAN).
Desse modo, não há razão para conferir tratamento diferenciado apenas aos Parlamentares,
livrando-os de qualquer intervenção preventiva no exercício do mandato por ordem judicial.
Conclusão: Por reputar que os elementos fáticos e jurídicos demonstram que a manutenção de
Eduardo Cunha na função de parlamentar e de Presidente da Câmara dos Deputados
representaria risco para as investigações penais instauradas contra ele, o Plenário do STF
determinou a suspensão do exercício do mandato de Deputado Federal e, por consequência,
da função de Presidente da Câmara dos Deputados.
11.5. PERDA DO MANDATO: Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica
a cargos eletivos majoritários – (Info 787) – IMPORTANTE!!!
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi
eleito, ele perderá o cargo que ocupa?
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos
pelo sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas
pelo eleitor.
No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não
importando o quociente eleitoral nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político.
Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.
Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o
Prefeito, um Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O
Vereador ofendido ajuizou ação de indenização por danos morais contra o ofensor. A
questão chegou até o STF que, julgando o tema sob a sistemática da repercussão geral,
declarou que o Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o manto da imunidade
material. Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos casos
semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato,
garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 não se estende para
os codenunciados que não se encontrem investidos nos cargos de Presidente da República,
Vice-Presidente da República e Ministro de Estado.
A finalidade dessa imunidade é proteger o exercício regular desses cargos, razão pela qual
não é extensível a codenunciados que não se encontrem ocupando tais funções.
STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson
Fachin, j. 14 e 19/12/17 (Info 888).
OBS:
O que acontece quando o Presidente da República comete um crime? Deverá ser analisado se o
fato praticado está relacionado com as suas funções de Presidente:
1) Se o crime praticado não estiver relacionado com as suas funções de Presidente ou tiver sido
praticado antes do início do mandato: Neste caso, enquanto durar o mandato, o Presidente
não poderá ser denunciado. Após terminar o mandato, ele irá ser denunciado e responderá o
processo criminal em 1ª instância. Ex: o Presidente da República agride a sua esposa. Ele
somente irá responder por este fato quando terminar o mandato. Isso está previsto no art. 86,
§ 4º, da CF/88:
Art. 86 (...)
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não
pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas
funções.
Trata-se de uma espécie de imunidade especial e temporária porque irá durar apenas pelo
período do mandato.
Apesar de não haver previsão expressa, a doutrina majoritária entende que, nesta situação, a
prescrição ficará suspensa enquanto perdurar o mandato.
2) Se o crime praticado estiver relacionado com o exercício das suas funções: O Procurador-
Geral da República irá apresentar ao STF denúncia contra o Presidente (se o PGR se convencer
que existe crime; em caso contrário, ele pedirá o arquivamento ao STF). Se o delito praticado
for de ação penal privada, é o ofendido quem deverá apresentar queixa-crime no STF.
Depois que a denúncia ou queixa-crime chega ao STF, qual é a providência a ser adotada? O
STF deverá encaminhar a denúncia ou queixa-crime à Câmara dos Deputados para que esta
Casa decida se o Supremo poderá dar ou não continuidade à análise da peça acusatória. Na
prática, funciona assim: o Ministro que foi sorteado como relator do caso irá encaminhar à
Presidência do STF a denúncia/queixa pedindo que ela seja remetida oficialmente ao
Presidente da Câmara dos Deputados. Vale ressaltar que o STF somente poderá decidir se
aceita ou não a denúncia (ou queixa) se a Câmara dos Deputados autorizar. Para que a
Câmara autorize, exige-se o voto de, no mínimo, 2/3 dos Deputados. Confira:
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de
processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado;
O art. 51, I, e o art. 86 da CF/88 conferem ao Presidente da República (ao Vice-Presidente e aos
Ministros de Estado), portanto, uma imunidade formal em relação ao processo.
Responsabilidade subjetiva: Vale ressaltar que o fato de os corréus serem desde logo julgados
não significa que se esteja indiretamente julgando o Presidente da República, em
contrariedade ao que decidiu a Câmara dos Deputados. Isso porque vigora em nosso
ordenamento jurídico o princípio da responsabilidade subjetiva, como corolário do Direito
Penal do fato, segundo o qual a análise da responsabilidade é de acordo com a conduta de cada
indivíduo. Assim, eventual condenação ou absolvição dos corréus não irá, necessariamente,
influenciar no futuro julgamento de Temer.
14.2. PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Não é possível que o STF examine questões jurídicas
formuladas a respeito da denúncia antes do seu envio à Câmara dos Deputados para o juízo
político de que trata o art. 86 da CF/88 – (Info 878) – IMPORTANTE!!!
Imagine que foi formulada denúncia contra o Presidente da República por infrações penais
comuns. O STF deverá encaminhar esta denúncia para a Câmara dos Deputados exercer o
seu juízo político.
É possível que, antes desse envio, o STF analise questões jurídicas a respeito desta
denúncia, como a validade dos elementos informativos (“provas”) que a embasaram? NÃO.
Não há possibilidade de o STF conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva
suscitada pelo Presidente antes que a matéria seja examinada pela Câmara dos Deputados.
O juízo político de admissibilidade exercido pela Câmara dos Deputados precede a análise
jurídica pelo STF para conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva suscitada
pelo denunciado.
1) Se o crime praticado não estiver relacionado com as suas funções de Presidente ou tiver
sido praticado antes do início do mandato:
Neste caso, enquanto durar o mandato, o Presidente não poderá ser denunciado. Após
terminar o mandato, ele irá ser denunciado e responderá o processo criminal em 1ª instância.
Ex: o Presidente da República agride a sua esposa. Ele somente irá responder por este fato
quando terminar o mandato. Isso está previsto no art. 86, § 4º da CF/88:
Art. 86 (...)
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não
pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas
funções.
Trata-se de uma espécie de imunidade especial e temporária porque irá durar apenas pelo
período do mandato. Apesar de não haver previsão expressa, a doutrina majoritária entende
que, nesta situação, a prescrição ficará suspensa enquanto perdurar o mandato.
Depois que a denúncia ou queixa-crime chega ao STF, qual é a providência a ser adotada? O
STF deverá encaminhar a denúncia ou queixa-crime à Câmara dos Deputados para que esta
Casa decida se o Supremo poderá dar ou não continuidade à análise da peça acusatória. Na
prática. funciona assim: o Ministro que foi sorteado como relator do caso irá encaminhar à
Presidência do STF a denúncia/queixa pedindo que ela seja remetida oficialmente ao
Presidente da Câmara dos Deputados.
Vale ressaltar que o STF somente poderá decidir se aceita ou não a denúncia (ou queixa) se
a Câmara dos Deputados autorizar. Para que a Câmara autorize exige-se o voto de, no mínimo,
2/3 dos Deputados. Confira:
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por
dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a
julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de
responsabilidade.
A necessidade de autorização da Câmara dos Deputados exigida pela CF/88 tem a finalidade
de proteger a soberania do voto popular, impondo que, quem fora eleito pelo sufrágio, só seja
afastado do exercício de seu mandato com a autorização dos representantes do próprio povo.
Essa é a razão, também, pela qual a CF/88 elegeu a Câmara dos Deputados para realizar esse
juízo político, eis que se trata da Casa do Congresso Nacional tradicionalmente associada à
representação do povo.
Imagine agora a seguinte situação: Estava tramitando no STF um inquérito para apurar
eventuais crimes cometidos pelo Presidente Michel Temer. Pouco antes de o Procurador-Geral
da República apresentar denúncia contra Temer, a defesa do Presidente formulou uma questão
de ordem no STF requerendo que fosse sustada (suspensa) a tramitação da futura denúncia até
que fossem concluídas as investigações sobre supostas irregularidades no acordo de
colaboração premiada celebrado entre executivos do grupo J&F e a PGR. O advogado de Temer
argumentou que a denúncia do PGR seria baseada na colaboração premiada de Joesley Batista
e Ricardo Saud, executivos do grupo J&F. No entanto, surgiram indícios de que houve
irregularidades na negociação do referido acordo de colaboração premiada. Logo, para a
defesa, a denúncia somente poderia ser formulada após ser encerrada a investigação policial
sobre esse acordo de colaboração, inclusive sobre a participação do ex-Procurador da
República Marcelo Miller. Além disso, a defesa pediu que fossem desconsideradas as provas
obtidas a partir das gravações realizadas por Joesley considerando que teria havido flagrante
provocado.
Como o STF não pode fazer juízo de admissibilidade sobre a denúncia oferecida contra o
Presidente da República antes da autorização pela Câmara dos Deputados, da mesma forma,
não pode fazer juízo antecipado a respeito de eventuais teses defensivas. Isso porque o
momento adequado para este exame é justamente o do art. 4º da Lei 8.038/90.
A discussão sobre o valor probatório dos elementos de convicção (“provas”), ou mesmo a
respeito da validade desses elementos que eventualmente embasarem a denúncia, constitui
matéria relacionada com a chamada “justa causa”, uma das condições da ação penal, cuja
constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser levado a efeito pelo
Plenário do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados.
Rescisão do acordo de colaboração afeta apenas o colaborador, não produzindo efeitos sobre
terceiros: O STF decidiu, ainda, que a possibilidade de rescisão ou de revisão, total ou parcial,
do acordo de colaboração premiada de Joesley em decorrência do descumprimento dos
deveres que ele havia assumido não tem a força de fazer com que as provas obtidas a partir
deste acordo sejam consideradas imprestáveis. Isso porque a rescisão ou revisão tem efeitos
somente entre as partes, não atingindo a esfera jurídica de terceiros.
14.3. Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado – (Info 872)
Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ receba
denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado, por crime comum.
Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o
Governador do Estado seja processado por crime comum.
Se a Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja
processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional.
c) separação dos Poderes: A exigência viola, ainda, a separação dos Poderes, pois estabelece
uma condição não prevista pela CF/88 para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário.
Assim, o STJ fica impedido de exercer suas competências e funções até que haja autorização
prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar
expresso na CF/88.
O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF entendia
válida a norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da Assembleia
Legislativa. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o antigo
entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência deliberada
pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a deferir o
processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a autonomia dos
Estados-membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o princípio
republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou-se que, ao
longo do tempo, as Assembleias Legislativas bloquearam a possiblidade de instauração de
processos contra os Governadores.
O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o
Presidente da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra
também se aplica para os Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-
crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder
Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O simples
recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não pode importar em
afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como
decorrência automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o Governador
do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo (art.
319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas cautelares penais. Exs: prisão
preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da comarca (art. 319, IV), fiança (art. 319,
VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas medidas cautelares poderão ser decretadas
no momento do recebimento da denúncia/queixa ou durante o curso do processo e precisam
ser sempre fundamentadas.
E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque
a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o
que é crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infrações
significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo possui,
inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União
a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento.
14.4. Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado – IMPORTANTE!!! Atualize seus livros!!! – (Info 863)
Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ receba
denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado, por crime comum.
Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o
Governador do Estado seja processado por crime comum.
Se a Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja
processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional.
c) separação dos Poderes: A exigência viola, ainda, a separação dos Poderes, pois estabelece
uma condição não prevista pela CF/88 para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário.
Assim, o STJ fica impedido de exercer suas competências e funções até que haja autorização
prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar
expresso na CF/88.
O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF entendia
válida a norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da Assembleia
Legislativa. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o antigo
entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência deliberada
pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a deferir o
processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a autonomia dos
Estados-membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o princípio
republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou-se que, ao
longo do tempo, as Assembleias Legislativas bloquearam a possiblidade de instauração de
processos contra os Governadores.
O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o
Presidente da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra
também se aplica para os Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-
crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder
Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O simples
recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não pode importar em
afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como
decorrência automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o Governador
do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo (art.
319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas cautelares penais. Exs: prisão
preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da comarca (art. 319, IV), fiança (art. 319,
VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas medidas cautelares poderão ser decretadas
no momento do recebimento da denúncia/queixa ou durante o curso do processo e precisam
ser sempre fundamentadas.
E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque
a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o
que é crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infrações
significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo possui,
inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União
a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento.
14.6. Decisão do STF que definiu o rito do processo de impeachment da Presidente Dilma –
(Info 812) – IMPORTANTE!!! – (MPGO-2016)
I – O Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na
Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar sobre crime de
responsabilidade é privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85 da CF/88.
II – As Constituições estaduais não podem prever que os Governadores serão julgados pela
Assembleia Legislativa em caso de crimes de responsabilidade. Isso porque o art. 78, § 3º
da Lei 1.079/50 afirma que a competência para julgar os Governadores de Estado em caso de
crimes de responsabilidade é de um “Tribunal Especial”, composto especialmente para
julgar o fato e que será formado por 5 Deputados Estaduais e 5 Desembargadores, sob a
presidência do Presidente do Tribunal de Justiça.
III – É constitucional norma prevista em Constituição estadual que preveja a necessidade
de autorização prévia de 2/3 dos membros da Assembleia Legislativa para que sejam
iniciadas ações por crimes comuns e de responsabilidade eventualmente dirigidas contra o
Governador de Estado. Durante a fase inicial de tramitação de processo instaurado contra
Governador, a Constituição estadual deve obedecer à sistemática disposta na legislação
federal. Isso porque não há nada que impeça que as Constituições estaduais estendam aos
Governadores, por simetria, essa prerrogativa assegurada ao Presidente da República no
art. 51, I, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 4800/RO e ADI 4792/ES, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgados em 12/2/2015 (Info 774).
OBS:
Art. 187, § 4º do RICD: Como se sabe, caso o Presidente da República seja "acusado" de ter
praticado um crime de responsabilidade, a Câmara dos Deputados decide se autoriza ou não
a instauração de processo, nos termos do art. 51, I, da CF/88:
Polêmica sobre a ordem dos Deputados que iriam votar: O art. 187, § 4º do Regimento prevê
que a votação será nominal e cada Deputado Federal será chamado e deverá responder "sim"
ou "não" para a instauração do processo. No entanto, uma frase desse § 4º gerou enorme
divergência durante as discussões sobre o processo de impeachment da Presidente Dilma. O
que gerou polêmica foi a previsão contida no referido § 4º, no sentido de que a chamada dos
Deputados Federais para votar deverá ocorrer, "alternadamente, do norte para o sul e vice-
versa". A votação do processo de impeachment da Presidente Dilma estava marcada para
ocorrer no domingo (17/04/2016). Havia a expectativa de que o então Presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha, começasse a votação pelos Deputados Federais do Estado do
sul. Ocorre que, em tese, isso seria ruim para a Presidente porque ela teria mais aliados entre
os Deputados dos Estados do norte. Assim, os aliados do Governo temiam que, se a votação
começasse pelo sul, haveria, já no início da votação, vários votos a favor do processo de
impeachment e isso geraria um "efeito manada", ou seja, uma "pressão psicológica" nos
parlamentares que viriam depois e que votariam também a favor da instauração por sentirem
que esta seria uma tendência irreversível.
ADI 5498: Tendo em vista este cenário, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no dia
14/04/2016, ingressou com ação direta de inconstitucionalidade pedindo que o STF desse
interpretação conforme a Constituição ao art. 187, § 4º, do Regimento Interno para determinar
ao Presidente da Câmara que a ordem de votação ocorresse da seguinte forma:
1ª opção: que a votação fosse intercalada (um Deputado do norte, depois um do sul,
outro do norte, outro do sul e assim por diante)
2ª opção: como pedido subsidiário, o autor da ação pedia que fosse declarada a
inconstitucionalidade do art. 187, § 4º, do Regimento e que o STF, em substituição a
essa regra, determinasse que a votação fosse em ordem alfabética, tal como ocorreu no
processo de impeachment do ex-Presidente Collor em 1992.
3ª opção: que a votação fosse nominal, aberta e simultânea por meio do painel
eletrônico.
Houve uma discussão se o STF deveria conhecer desta ADI ou se a referida ação impugnava
um ato interna corporis e, portanto, insuscetível de controle de constitucionalidade. O que
decidiu a Corte? A ação foi conhecida? SIM. O Tribunal, por maioria, conheceu da ação.
Ficaram vencidos os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, que dela não conheciam por
considerarem que a questão discutida configuraria matéria “interna corporis”, insuscetível de
controle abstrato de constitucionalidade. O STF possui precedentes no sentido de que cabe ADI
contra regimentos internos de órgãos legislativos, desde que possuam caráter normativo e
autônomo. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4587, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 22/05/2014.
Quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido do autor? NÃO. O Plenário do STF, por
maioria, indeferiu a medida cautelar formulada na ADI. O autor da ação não demonstrou de
que modo os dispositivos atacados teriam ofendido os princípios constitucionais do
contraditório, da ampla defesa, da impessoalidade, da moralidade e da República. A mera
invocação genérica de transgressão a um postulado constitucional não é suficiente para
legitimar o ajuizamento de ação direta. É preciso não apenas indicar os valores, os princípios,
mas também estabelecer as razões jurídicas que possam legitimar a pretendida ocorrência de
violação às normas de parâmetro invocadas no processo de controle objetivo de
constitucionalidade. O requerente não articulou minimamente a alegação de ofensa ao
princípio do devido processo legal, ao aduzir que a votação poderia gerar efeito cascata, de
modo que os primeiros votos pudessem influenciar os últimos, o que comprometeria o
princípio da imparcialidade. Qualquer tipo de votação nominal, independentemente do
critério adotado, jamais afastaria a possibilidade de efeito cascata. Assim, inexistindo
incompatibilidade entre o dispositivo regimental com qualquer preceito constitucional, não se
vislumbrou a relevância do direito, o que seria razão para indeferir a medida liminar. Ademais,
o Tribunal sublinhou que não se pode exigir isenção e imparcialidade dos membros da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal. Na realidade, o “impeachment” é uma questão política
que deve ser resolvida com critérios políticos. A garantia da imparcialidade está no alto
quórum exigido para a votação.
Como ficou a ordem da votação? Antes que iniciasse a sessão do STF, o então Presidente da
Câmara voltou atrás de sua ideia inicial de começar a votação pelos Estados do Sul e anunciou
que a ordem seria a seguinte: “a) (...) a chamada terá início por um Estado da região norte e,
em alternância, será chamado um Estado da região sul. Em seguida, em razão do ‘vice-versa’,
será chamado um Estado da região sul e, depois, um Estado da região norte, e assim
sucessivamente, passando pelas demais regiões; b) a ordem dos Estados seguirá a tradição da
Casa, a disposição constante no painel de votação e, por analogia, a ordem geográfica das
capitais prevista no art. 3º, § 3º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (...)”.
Além da ADI acima mencionada, havia dois mandados de segurança questionando essa ordem
de votação, mas o STF também negou os pedidos de medida cautelar formulados nos writs
que questionavam a interpretação dada por Eduardo Cunha.
Segundo entendeu o Supremo, a ordem definida pelo Presidente da Câmara era uma das
interpretações possíveis do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Além disso, os
Ministros entenderam que não havia matéria constitucional relevante sendo discutida nos
mandados de segurança.
Dessa forma, foi mantida a ordem de votação proposta pelo ex-Presidente da Câmara.
STF. Plenário. MS 34127 MC/DF, MS 34128 MC/DF, Rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/
o acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2016 (Info 821).
Se o Juiz do Trabalho Substituto está exercendo as funções do Juiz do Trabalho Titular, ele
terá direito de receber um valor a mais denominado “substituição” (art. 656, § 3º da CLT e
art. 124 da LOMAN).
Essa verba da substituição não deverá ser paga durante a licença-saúde do Juiz Substituto.
Assim, Juiz do Trabalho Substituto, durante seu afastamento para tratamento de saúde, não
tem direito de continuar recebendo a verba de substituição pelo fato de estar na Titularidade
da unidade judiciária.
Esse tipo de verba só pode ser paga enquanto mantido o desempenho da titularidade da
unidade judiciária – condição necessária para seu recebimento.
STF. 2ª Turma. AO 2234 ED/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 19/3/19 (Info 934).
É válido ato do CNJ que, ao dar plena aplicabilidade ao art. 31 do ADCT, decide pela
invalidade dos atos administrativos de nomeação de todos os titulares de cartórios
privatizados que tenham ingressado no cargo após 5 de outubro de 1988, data de
promulgação da CF em vigor.
As pessoas que assumiram as serventias judiciais depois da CF/88, em caráter privado, não
têm direito líquido e certo de nelas permanecerem, qualquer que seja a forma de
provimento. Há flagrante inconstitucionalidade a partir do momento em que assumem
cargo em serventia que deveria ser estatizada.
Isso porque é inconstitucional o provimento de pessoas para exercerem a função de titular
de serventias judiciais, com caráter privado (serventias judicias privatizadas / não
estatizadas), após a CF/88.
O art. 31 do ADCT é autoaplicável, de modo que é obrigatória a estatização das serventias
judiciais à medida que elas fiquem vagas.
O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal.
STF. 1ª Turma. MS 29323/DF, MS 29970/DF, MS 30267/DF e MS 30268/DF, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 12/2/19 (Info 930).
15.3. Constitucionalidade da verba “auxílio-voto”, paga aos juízes convocados para atuar
nos processos de 2ª instância do Tribunal – (Info 910)
Foi instituído, no Tribunal de Justiça de São Paulo, o pagamento de uma verba pela atuação
em 2ª instância de magistrados de 1ª instância. Em outras palavras, o juiz era convocado
para atuar nos processos do Tribunal e, em razão disso, recebia uma verba que ficou
conhecida como “auxílio-voto”.
O CNJ, em procedimento de controle administrativo (PCA), considerou a verba irregular,
por suposta ofensa ao teto constitucional, e determinou a devolução dos valores recebidos
pelos juízes.
O STF cassou a decisão do CNJ. Argumentos:
1) A decisão do CNJ violou o devido processo legal administrativo e os princípios do
contraditório e da ampla defesa. Isso porque os magistrados não foram notificados para
apresentação de defesa escrita, além de não terem participado da instrução processual. A
decisão proferida pelo Conselho surpreendeu a todos os envolvidos. Além disso, o PCA no
qual o CNJ decidiu pela irregularidade da verba foi instaurado para tratar sobre assunto
completamente diverso.
2) A verba paga aos magistrados de 1ª instância que atuaram nos processos do Tribunal de
Justiça foi regular, considerando que baseada no art. 124 da LC 35/79 (LOMAN). Essa
convocação de juízes para atuar no Tribunal é válida e não viola a CF/88. Como essa
convocação de juízes é válida (compatível com a CF/88), é natural que seja devido o
pagamento de um valor como forma de “recomposição patrimonial dos magistrados, dado
o exercício extraordinário de atribuições transitórias desempenhadas acumuladamente com
a jurisdição ordinária”. De igual modo, como se trata de uma verba prevista em lei, fica
afastada qualquer alegação de má-fé. Como a verba em questão servia para pagar os
magistrados por um serviço extraordinário, elas não estavam abrangidas pelo subsídio.
STF. 2ª Turma. MS 29002/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 7/8/2018 (Info 910).
A Constituição do Estado do Ceará previa que os escrivães de entrância especial teriam seus
vencimentos fixados de modo a não exceder a 80% do que fosse atribuído aos juízes da
entrância inferior, aplicando-se o mesmo limite percentual para os escrivães das demais
entrâncias.
O STF decidiu que essa regra é inconstitucional por violar o art. 37, XIII, da CF/88, que
proíbe a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias de pessoal do
serviço público e também por violar a iniciativa legislativa do Poder Judiciário (art. 96, II,
“b”, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/2018 (Info 907).
OBS:
O art. 37, XIII, da Constituição veda, expressamente, a vinculação ou equiparação de quaisquer
espécies remuneratórias para efeito de remuneração de pessoal do serviço público:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço
público; (Redação dada pela EC 19/98)
O art. 96, II, “b”, por sua vez, prevê a competência do Tribunal de Justiça para iniciar a
discussão legislativa sobre a remuneração de seus membros (magistrados) e também dos
serviços auxiliares:
Art. 96. Compete privativamente:
(...)
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos
Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo,
observado o disposto no art. 169:
(...)
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços
auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a
fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos
tribunais inferiores, onde houver;
15.7. Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da
CF/88 – (Info 848)
A lei orçamentária anual do Estado do Rio de Janeiro foi aprovada e nela previsto o
orçamento do Poder Judiciário. Ocorre que o Poder Executivo estadual não estava
cumprindo seu dever de repassar os recursos correspondentes às dotações orçamentárias do
Poder Judiciário em duodécimos. Diante disso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
impetrou mandado de segurança, com pedido de tutela de urgência, contra o ato omissivo
do Governador do Estado do Rio de Janeiro no atraso do repasse dos referidos recursos. O
Governador argumentou que o Estado passa por uma crise muito grave e que no ano de 2016
houve um déficit orçamentário de 19,6% em relação ao orçamento que foi previsto na Lei
orçamentária anual.
O STF deferiu parcialmente a medida liminar, assegurando-se ao Poder Judiciário do Estado
do Rio de Janeiro o direito de receber, até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, os recursos
correspondentes às dotações orçamentárias, sendo, contudo, facultado ao Poder Executivo
fazer um desconto de 19,6% da Receita Corrente Líquida prevista na LOA.
A crise do Estado e a queda na arrecadação não justificam que o Poder Executivo deixe de
repassar o duodécimo ao Poder Judiciário. No entanto, deve ser autorizado que o Executivo
diminua os valores a serem entregues ao TJ de forma proporcional à redução que houve na
arrecadação inicialmente prevista pela Lei Orçamentária Anual.
Não faz sentido que, diante de uma situação de déficit orçamentário (a realização do
orçamento foi muito inferior ao previsto), o Poder Executivo reduza seu orçamento e o Poder
Judiciário continue com seu duodécimo calculado com base na previsão da receita que não
foi a verificada na prática. Havendo frustração de receita, o ônus deve ser compartilhado de
forma isonômica entre todos os Poderes. Em suma, a base de cálculo dos duodécimos deve
observar o valor real de efetivo desempenho orçamentário e não o valor fictício previsto na
lei orçamentária.
STF. 1ª Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/11/2016 (Info 848).
Segundo a Min. Cármen Lúcia, "é possível que dada norma não sirva para desate do quadro
submetido ao crivo jurisdicional pura e simplesmente porque não há subsunção" (Rcl 6944).
Em palavras mais simples, a lei ou ato normativo não se enquadra no caso concreto.
O tema não é muito simples e pode gerar confusão nos concursos. Portanto, cuidado com as
seguintes afirmações aparentemente contraditórias e que poderão aparecer na sua prova:
Viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal que,
embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte. (certo)
Não viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal
que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção
aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma
interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição. (certo)
Para que haja violação da cláusula de reserva de plenário, é necessário que o órgão fracionário
do tribunal tenha afastado a lei ou ato normativo sob o argumento, expresso ou implícito, de
que a norma infraconstitucional é incompatível com os critérios previstos na CF/88. Se o
afastamento da lei ou ato normativo foi por causa de falta de subsunção, não há ofensa ao art.
97 da CF/88.
O STF entendeu que o órgão fracionário do TRF apenas interpretou a legislação federal (Lei nº
8.987/95), à luz da decisão proferida pelo Supremo na ADPF 46, sem que tenha declarado a
inconstitucionalidade do art. 25, § 1º da referida norma.
Vale ressaltar também que essa discussão (se a concessionária poderá contratar empresa
terceirizada para entregar os carnês) já se encontra judicializada em sede de recurso
extraordinário com repercussão geral reconhecida e a dúvida razoável acerca da interpretação
das normas infraconstitucionais não é hipótese de cabimento de reclamação.
Não viola o art. 97 da CF/88 nem a SV 10 a decisão de órgão fracionário do Tribunal que
declara inconstitucional decreto legislativo que se refira a uma situação individual e
concreta. Isso porque o que se sujeita ao princípio da reserva de plenário é a lei ou o ato
normativo.
Se o decreto legislativo tinha um destinatário específico e referia-se a uma dada situação
individual e concreta, exaurindo-se no momento de sua promulgação, ele não pode ser
considerado como ato normativo, mas sim como ato de efeitos concretos.
STF. 2ª Turma. Rcl 18165 AgR/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 18/10/16 (Info 844).
OBS:
REGRA DA RESERVA DE PLENÁRIO: No chamado controle difuso de constitucionalidade,
também adotado pelo Brasil, ao lado do controle abstrato, qualquer juiz ou Tribunal pode
declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo no caso concreto. No entanto, se
o Tribunal for fazer essa declaração, deverá respeitar a cláusula de reserva de plenário. A
chamada “cláusula de reserva de plenário” significa que, se um Tribunal for declarar a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, é obrigatória que essa declaração de
inconstitucionalidade seja feita pelo voto da maioria absoluta do Plenário ou do órgão especial
deste Tribunal. Esta exigência da cláusula de reserva de plenário tem como objetivo conferir
maior segurança jurídica para as decisões dos Tribunais, evitando que, dentro de um mesmo
Tribunal, haja posições divergentes acerca da constitucionalidade de um dispositivo, gerando
instabilidade e incerteza. A reserva de plenário é também conhecida como regra do full bench,
full court ou julgamento en banc e está prevista no art. 97 da CF/88 e nos art. 948 e 949 do CPC
2015:
A proteção é reforçada pelo enunciado 10 da Súmula Vinculante, que tem a seguinte redação:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário
(CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora
não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em
parte.
Essas exceções estão também consagradas no parágrafo único do art. 949 do CPC:
A tese foi acolhida pelo STF? NÃO. O que se sujeita ao princípio da reserva de plenário – e,
consequentemente, à SV 10, é a "lei" e o "ato normativo". O decreto legislativo que foi
declarado inconstitucional pelo TRF não constitui lei em sentido formal ou material, nem
possui caráter de ato normativo. Atos normativos “são aqueles expedidos sem destinatários
determinados, com finalidade normativa, alcançando todos os sujeitos que se encontram na
mesma situação de fato abrangida por seus preceitos. São atos de comando abstrato e
impessoal, semelhantes aos da lei (...)” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo
Brasileiro, 37ª ed., São Paulo: Malheiros, p. 168).
Desse modo, para que seja caracterizado como ato normativo são necessários os seguintes
requisitos: a) abstração; b) generalidade e c) impessoalidade.
Salvo em situações graves e excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena de
violação ao princípio da separação de Poderes, interferir na função do Poder Legislativo de
definir receitas e despesas da Administração Pública, emendando projetos de leis
orçamentárias, quando atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º, da
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5468/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 29 e 30/6/2016 (Info 832).
OBS:
Fixar e definir o orçamento é atividade típica do Poder Legislativo: Ressalte-se que, no caso
concreto, o corte no orçamento da Justiça do Trabalho não foi promovido pelo Poder Executivo.
Este consolidou e enviou o projeto na forma como havia sido proposto pelo TST. A redução foi
efetuada no âmbito do Parlamento. Esclarecido este ponto, deve-se chamar atenção para a
primeira conclusão do STF sobre o tema: a atividade de fixar e definir o orçamento é uma típica
atribuição do Poder Legislativo.
O corte realizado pelo Legislativo à proposta orçamentária do TST viola o art. 99 da CF/88?
NÃO. Ainda que o texto constitucional tenha estabelecido que compete ao próprio Poder
Judiciário encaminhar suas propostas orçamentárias, não há vedação absoluta, sob o ponto de
vista formal, para que o Poder Legislativo realize um controle sobre o que foi proposto.
Regras previstas no art. 166 da CF/88: Conforme já exposto, o Poder Legislativo detém a
possibilidade de emendar a proposta da lei orçamentária e o que se deve observar é se essas
mudanças estão ou não de acordo com as condicionantes exigidas pela CF/88. Tais
condicionantes ("restrições") estão elencadas no art. 166, devendo ser destacados os seguintes
dispositivos:
A aprovação da lei orçamentária pode ser classificada como um "ato complexo de elaboração
conjunta" considerando que o Poder Judiciário envia sua proposta, o Poder Executivo a
consolida e o Poder Legislativo a arbitra. Não há afronta à separação de Poderes quando o
Parlamento decide promover mudanças na proposta encaminhada.
15.11. Lei estadual que concede ressarcimento de despesas de saúde a magistrados não viola
a CF/88 nem a LOMAN – (Info 825)
OBS:
Atenção: A CF/88 exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura e do
Ministério Público, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito possua,
no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º). Essa exigência foi inserida
na CF/88 pela EC 45/2004. Desde que essa regra foi aprovada, surgiu uma intensa discussão
sobre o momento no qual deveria ser feita esta exigência.
Essa distinção possui importantes consequências práticas, considerando que, como entre a
inscrição definitiva e a posse normalmente se passam alguns meses, ou até anos, dependendo
da posição em que o candidato foi aprovado, é muito comum acontecer de, no momento da
inscrição, a pessoa não ter os três anos, mas completá-los antes do ato da posse.
Argumento utilizado pelo CNJ: Foi o de que estavam sendo aprovados muitos candidatos sem
os requisitos necessários, o que somente era percebido no momento da posse, atrapalhando o
planejamento do Poder Judiciário para o preenchimento das vagas. Assim, antecipando esta
comprovação para o ato da inscrição definitiva, os Tribunais poderiam saber previamente
quantos candidatos aprovados teriam condições de assumir e decidiriam se era caso de
deflagrar ou não, desde logo, outro concurso.
Este debate chegou até o STF. O que decidiu o Supremo? Em que momento deverão ser
comprovados os três anos de atividade jurídica? No momento da inscrição definitiva.
15.13. Férias coletivas de 60 dias para serventuários da Justiça não é compatível com a CF/88
– (Info 816)
É correta decisão do CNJ que considera indevida a existência de férias coletivas para
servidores de Tribunal de Justiça, mesmo que estas estejam previstas em lei ou ato
normativo estadual. Isso porque a EC 45/2004 incluiu o inciso XII ao art. 93 da CF/88
proibindo as férias coletivas de juízes e Tribunais de 2º grau. Com a edição da EC 45/2004,
as leis e atos normativos que previam férias coletivas nos Tribunais de 2º grau foram
considerados não recepcionados ("revogados") pela nova redação do art. 93, XII, da CF/88.
STF. 2ª Turma. MS 26739/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º/3/2016 (Info 816).
OBS:
As férias coletivas do STF, STJ, TST, TSE e STM continuam existindo. Nos meses de janeiro e
julho eles param. Assim, a regra do inciso XII do art. 93 da CF/88 não se estende aos Tribunais
Superiores (STF. 1ª Turma. AI 636765 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
15/05/2007).
15.15. Cláusula de reserva de plenário pode ser afastada quando houver jurisprudência do
STF sobre matéria – (SEM INFO) – (TJRJ-2016)
O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos
juízes de portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da
magistratura são direta ou indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88).
STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 22/4/2015 (Info 782).
15.17. CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto
constitucional – (Info 775)
A antiguidade entre magistrados deve ser aferida em razão do tempo no cargo e, no caso de
posse no mesmo dia, deve ser respeitada a ordem de classificação no concurso como critério
de desempate.
A CF/88 determina que uma Lei Complementar, de caráter nacional, deverá reger a
magistratura (art. 93 da CF/88). Logo, a norma local não pode dispor de forma diferente do
que disciplinado pela LOMAN. Justamente por isso, o STF tem declarado a
inconstitucionalidade de leis estaduais que, a pretexto de esmiuçarem questões referentes
à magistratura, modificam o critério de desempate escolhido pela LOMAN.
STF. 1ª Turma. MS 28494/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/9/2014 (Info 757).
Segundo o art. 102, I, “f”, da CF/88, compete ao STF processar e julgar “as causas e os
conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta”.
O STF confere interpretação restritiva a esse dispositivo e entende que, para se caracterizar
a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88 é indispensável que, além de haver uma causa
envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o pacto
federativo. Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra Estado que
irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em ofensa às
regras do sistema federativo.
STF. 1ª Turma. Rcl 12957/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/8/2014 (Info 756).
15.20. Recurso contra a prova oral nos concursos da magistratura – (Info 756)
15.21. Existência de inquérito contra o candidato ao quinto constitucional não impede a sua
posse no cargo de Desembargador – (Info 755)
A CF/88 prevê que a promoção por antiguidade do juiz mais antigo somente pode ser
negada se ele for recusado pelo voto fundamentado de 2/3 (dois terços) dos membros do
respectivo Tribunal, assegurada a ampla defesa (art. 93, II, “d”).
Segundo o STF, o quórum de votos para um tribunal recusar a promoção do juiz mais antigo
não deve computar os cargos vagos ou os desembargadores afastados.
A vontade de um tribunal é manifestada por seus membros juridicamente aptos.
Desfalcado o tribunal, deve-se computar apenas os magistrados em atividade, a não ser que
afastados em caráter meramente eventual.
Assim, os cargos vagos, bem como os cargos providos, mas cujos ocupantes estejam
afastados cautelarmente do exercício da função jurisdicional, não devem ser computados
para o fim de determinação do referido quórum.
STF. 1ª Turma. MS 31357/DF e MS 31361/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 5/8/2014
(Info 753).
15.23. Elevação de entrância da comarca e situação do juiz que lá era titular – (Info 752) -
Somente para concursos de Juiz de Direito!
Se a lei eleva a comarca para outra instância superior (ex: de entrância intermediária para
final), o juiz que lá é titular não pode ser removido compulsoriamente em virtude dessa
transformação.
Aplica-se, no caso, a Súmula 40 do STF: A elevação da entrância da comarca não promove
automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício de suas funções na mesma comarca.
Logo, mesmo tendo havido essa transformação, o TJ não pode abrir edital para remoção ou
promoção dessa comarca. Deve-se aguardar o magistrado decidir deixar a vaga.
STF. 1ª Turma. MS 26366/PI, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/6/2014 (Info 752).
15.24. CE não pode impor limites à remuneração do Poder Judiciário – (Info 736)
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato
administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.
STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, j. 25/10/18 (repercussão geral) (Info 921).
O § 3º do art. 127 reforça essa conclusão porque prevê que “o Ministério Público elaborará sua
proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.”
16.4. Compete ao PGR decidir conflito negativo entre MPE e MPF – (Info 851)
16.5. O PGJ somente pode ser reconduzido uma única vez – (Info 847)
Atenção: não há impedimento para que uma pessoa seja PGJ, seja reconduzida, passe um
mandato fora do cargo e, depois, seja novamente nomeada. O que se impede é a ocorrência de
três mandatos consecutivos.
16.8. Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR – (Info
826 e Info 835)
RESUMINDO:
Membros do Ministério Público não podem ocupar cargos públicos fora do âmbito da
instituição, salvo cargo de professor e funções de magistério.
A Resolução 72/2011 do CNMP, ao permitir que membro do Parquet exerça cargos fora do
MP, é flagrantemente contrária ao art. 128, § 5º, II, "d", da CF/88.
Consequentemente, a nomeação de membro do MP para o cargo de Ministro da Justiça viola
o texto constitucional.
STF. Plenário. ADPF 388/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/3/2016 (Info 817).
16.11. Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira – (Info 800)
Obs: o tema foi analisado tendo como parâmetro a redação originária da Constituição
Federal de 1988, ou seja, antes das Emendas Constitucionais 45/2004 e 80/2014.
17.3. Para que a DPE atue no STJ, é necessário que possua escritório de representação em
Brasília – (Info 856) – ATENÇÃO!! DEFENSORIA PÚBLICA!!
A Defensoria Pública Estadual pode atuar no STJ, no entanto, para isso, é necessário que
possua escritório de representação em Brasília. Se a Defensoria Pública estadual não tiver
representação na capital federal, as intimações das decisões do STJ nos processos de
interesse da DPE serão feitas para a DPU.
Assim, enquanto os Estados, mediante lei específica, não organizarem suas Defensorias
Públicas para atuarem continuamente nesta Capital Federal, inclusive com sede própria, o
acompanhamento dos processos no STJ constitui prerrogativa da DPU.
A DPU foi estruturada sob o pálio dos princípios da unidade e da indivisibilidade para dar
suporte às Defensorias Públicas estaduais e fazer as vezes daquelas de Estados-Membros
longínquos, que não podem exercer o múnus a cada recurso endereçado aos tribunais
superiores.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 378.088/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 06/12/16.
STF. 1ª Turma. HC 118294/AP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 7/3/17 (Info 856).
17.4. Constitucionalidade da EC 74/13, que conferiu autonomia à DPU e à DPDF – (Info 826)
– IMPORTANTE!!!
É possível que emenda à Constituição Federal proposta por iniciativa parlamentar trate
sobre as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88.
As regras de reserva de iniciativa fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao
processo de emenda à Constituição Federal, que é disciplinado em seu art. 60.
Assim, a EC 74/13, que conferiu autonomia às Defensorias Públicas da União e do Distrito
Federal, não viola o art. 61, § 1º, II, alínea "c", da CF/88 nem o princípio da separação dos
poderes, mesmo tendo sido proposta por iniciativa parlamentar.
STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/5/16 (Info 826).
OBS:
É possível emenda constitucional de iniciativa parlamentar tratando sobre os assuntos que,
em caso de propositura de projeto de lei, seriam de iniciativa reservada ao chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, da CF/88)?
Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM.
Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO.
17.7. Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da
CF/88 – (Info 826) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional a Lei de Diretrizes Orçamentárias que seja elaborada sem contar com a
participação da Defensoria Pública para elaborar as respectivas propostas orçamentárias.
Assim, a LDO enviada pelo Governador do Estado à Assembleia Legislativa deve contar
com a participação prévia da Defensoria Pública. Isso porque a LDO fixa limites do
orçamento anual que será destinado à Instituição.
Aplica-se às Defensorias Públicas o disposto no § 2º do art. 99 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5381 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 18/5/16 (Info 826).
O STF entende que não é seu papel fazer a revisão do mérito das decisões do CNJ.
Assim, os atos e procedimentos do CNJ estão sujeitos apenas ao controle de legalidade por
parte do STF.
O mandado de segurança não se presta ao reexame de fatos e provas analisados pelo CNJ
no processo disciplinar.
A LOMAN não estabelece regras de prescrição da pretensão punitiva por faltas
disciplinares praticadas por magistrados. Diante disso, deve ser feita a aplicação subsidiária
da Lei nº 8.112/90.
STF. 2ª Turma. MS 35540/DF e MS 35521/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 12/3/19 (Info 933).
18.2. STF mantém punição aplicada pelo CNJ à juíza envolvida no caso de prisão de
adolescente em cela masculina no Pará – (Info 929)
Deve ser mantida a decisão do CNJ que aplica pena de disponibilidade (art. 42, IV, da LC
35/79) à magistrada que, mesmo depois de informada que uma adolescente mulher estava
presa em uma mesma cela com homens, demora a tomar as providências necessárias para
corrigir essa situação e, além disso, procura se eximir de responsabilidade produzindo
documento falso com data retroativa, na tentativa de comprovar que teria adotado
providências que, na realidade, não adotou.
STF. 1ª Turma. MS 34490/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
j. 5/2/2019 (Info 929).
18.3. O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes
interessadas não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal – (Info 915)
Caso concreto: foi instaurado procedimento de controle administrativo (PCA) no CNJ para
apurar a regularidade de 300 serventias judiciais.
O impetrante alega a nulidade do PCA pelo fato de haver um grande número de
interessados no mesmo processo, defendendo a ideia de que deveria ser um procedimento
para cada parte.
O STF não concordou com o mandado de segurança impetrado e manteve a decisão do CNJ.
O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes interessadas
não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla
defesa.
O prejuízo à defesa deve ser analisado concretamente, à luz das especificidades do caso.
No caso concreto, tendo em vista que todos os interessados foram intimados para se
manifestarem no processo e o que CNJ enfrentou de maneira detida as teses jurídicas por
eles apresentadas, não há que se falar em anulação do ato impugnado.
Como regra geral, o controle dos atos do CNJ pelo STF somente se justifica nas hipóteses
de:
a) inobservância do devido processo legal;
b) exorbitância das competências do Conselho; e
c) injuridicidade ou manifesta irrazoabilidade do ato impugnado.
No caso concreto, não se identifica nenhuma dessas três situações. Logo, não há motivo para
a anulação da decisão do CNJ.
STF. 1ª Turma. MS 28495/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
13/11/2018 (Info 923).
18.4. CNJ pode determinar que Tribunais de Justiça reduzam o adicional de férias dos
magistrados para 1/3 – (Info 915)
O CNJ não pode fazer controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo de forma a
substituir a competência do STF.
Contudo, o CNJ pode determinar a correção de ato do Tribunal local que, embora
respaldado por legislação estadual, se distancie do entendimento do STF.
Assim, o CNJ pode afirmar que determinada lei ou ato normativo é inconstitucional se esse
entendimento já estiver pacificado no STF. Isso porque, neste caso, o CNJ estará apenas
aplicando uma jurisprudência, um entendimento já pacífico.
As leis estaduais que preveem abono de férias aos magistrados em percentual superior a
1/3 são inconstitucionais. Isso porque essa majoração do percentual de férias não encontra
respaldo na LOMAN, que prevê, de forma taxativa, as vantagens conferidas aos
magistrados, sendo essa a Lei que deve tratar do regime jurídico da magistratura, por força
do art. 93 da CF/88.
Não viola a autonomia dos tribunais locais deliberação do CNJ que determina aos tribunais
de justiça que enviem projeto de lei tendente à adequação da legislação local ao regramento
uniforme de âmbito nacional, pois não há no caso reserva de iniciativa da matéria aos
tribunais locais; ao contrário, os direitos da magistratura, dentre os quais o direito ao abono
de férias, são matéria de regramento nacional uniforme.
Logo, o CNJ agiu corretamente ao determinar aos Tribunais de Justiça que pagam adicional
de férias superior a 1/3 que eles enviem projetos de lei para as Assembleias Legislativas
reduzindo esse percentual.
STF. 2ª Turma. MS 31667 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 11/9/18 (Info 915).
18.5. CNJ pode avocar PAD que tramita no Tribunal se não há quórum suficiente para se
atingir maioria absoluta – (Info 901)
O TRF condenou juiz federal à pena de aposentadoria compulsória. Ocorre que, em virtude
de alguns Desembargadores terem se averbado suspeitos, este juiz foi condenado com um
quórum de maioria simples.
O CNJ reconheceu a irregularidade da proclamação do resultado e anulou o julgamento de
mérito realizado pelo TRF. Isso porque o art. 93, VIII e X, da CF/88 exige quórum de maioria
absoluta do tribunal.
Ocorre que o CNJ, após anular o julgamento de mérito realizado pelo TRF, decidiu avocar
o processo administrativo para que o magistrado fosse julgado diretamente pelo Conselho.
O juiz impetrou MS contra essa avocação, mas o STF afirmou que o CNJ agiu corretamente.
A Constituição, expressamente, confere ao CNJ competência para avocar processos de
natureza disciplinar em curso contra membros do Poder Judiciário. Assim, não há óbice
para que o CNJ anule o julgamento do Tribunal e inicie lá um outro procedimento.
Uma das causas legítimas de avocação de procedimentos administrativos pelo CNJ é
justamente a falta do quórum para proferir decisão administrativa por maioria absoluta em
razão de suspeição, impedimento ou falta de magistrados.
O CNJ poderia ter devolvido o processo ao TRF2, mas optou por exercer sua competência
concorrente, dentro da discricionariedade conferida pela Constituição, para julgar o
processo e evitar novas questões de suspeição e impedimento.
STF. 1ª Turma. MS 35100/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
j. 8/5/2018 (Info 901).
OBS: O art. 93, VIII e X, da CF/88 exige quórum de maioria absoluta do tribunal e, no caso
concreto, foi atingida apenas a maioria simples:
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá
sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...)
VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa;
(...)
X - as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública,
sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;
18.6. CNJ pode anular decisão do TJ que, em concurso de cartório, conferiu, na fase de
títulos, pontuação com base em interpretação contrária à Resolução do Conselho – (Info 895)
O CNJ não pode substituir a banca examinadora do concurso na escolha das questões, na
correção de provas e nas atribuições de notas. Assim, ao Conselho é defeso (proibido)
substituir o critério valorativo para escolha e correção das questões pela Banca Examinadora
nos concursos públicos.
O CNJ pode, no entanto, substituir, anular ou reformar decisões da banca do concurso que
firam os princípios da razoabilidade, da igualdade, da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade e da publicidade. Isso porque a discricionariedade da banca de concurso não se
confunde com arbitrariedade. Se houver desrespeito aos princípios constitucionais da
administração pública, será possível a plena revisão da decisão pelo Conselho.
Ex: o CNJ pode anular decisão do Tribunal de Justiça que, em concurso de cartório, deu
interpretação equivocada a determinado item do edital, e conferiu pontuação indevida a
certos candidatos na fase de títulos. A pontuação conferida pela Comissão no TJ violava à
Resolução do CNJ que regulamenta os concursos de cartório. Neste caso, o CNJ atuou
dentro dos limites constitucionais do controle administrativo.
STF. 1ª Turma. MS 33527/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Alexandre
de Moraes, j. 20/3/18 (Info 895).
18.7. O prazo de 1 ano previsto no art. 103-B, § 4º, V da CF/88 incide apenas para revisões de
PADs, não se aplicando para atuação originária do CNJ – (Info 886)
18.8. CNJ não pode examinar controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário – (Info 885)
Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente
administrativas, o controle de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário.
STF. 1ª Turma. MS 28845/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 21/11/17 (Info 885).
OBS:
Outro precedente no mesmo sentido:
O Conselho Nacional de Justiça não pode decidir, em procedimento
administrativo, matéria que já foi judicializada, ou seja, que está
sendo discutida em uma ação judicial.
O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativa,
razão pela qual não lhe é permitido decidir questões que estejam
submetidas à análise judicial.
Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao
CNJ conhecer e apreciar a matéria, sob pena de ele estar assumindo
funções jurisdicionais. Se a parte interessada não concorda com a
decisão judicial, ela dispõe de recursos para impugná-la, não
podendo provocar o CNJ para interferir no assunto.
STF. 2ª Turma. MS 27650/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 24/6/14
(Info 752).
Quem julga mandado de segurança contra ato do CNJ? O STF, nos termos do art. 102, I, “r”,
da CF/88.
E se o magistrado tivesse proposto ação ordinária? Quem julga ação ordinária proposta
contra ato do CNJ? Justiça Federal de 1ª instância (art. 109, I, da CF/88).
As interceptações não foram direcionadas ao Juiz Estadual, tendo seu nome surgido a partir
de uma descoberta fortuita.
Vale ressaltar que, segundo a jurisprudência do STF, a partir do momento em que surgem
indícios de participação de detentor de prerrogativa de foro nos fatos apurados, cumpre à
autoridade judicial declinar da competência, e não persistir na prática de atos objetivando
aprofundar a investigação (RHC 135683/GO).
No caso concreto, o STF entendeu que não houve atraso indevido do Juiz Federal no envio das
provas descobertas contra o Juiz Estadual aos órgãos competentes para investigá-lo (TJ e CNJ).
O CNJ pode determinar que Tribunal de Justiça exonere servidores nomeados sem
concurso público para cargos em comissão que não se amoldam às atribuições de direção,
chefia e assessoramento, contrariando o art. 37, V, da CF/88. Esta decisão do CNJ não
configura controle de constitucionalidade, sendo exercício de controle da validade dos atos
administrativos do Poder Judiciário.
STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/12/16 (Info 851).
OBS:
O STF manteve a decisão do CNJ? SIM. O STF considerou válida a atuação do CNJ.
No entanto, no caso concreto, o STF entendeu que o CNJ não fez controle de
constitucionalidade. Para o Supremo, o CNJ apenas declarou a nulidade dos atos de nomeação
afirmando que, administrativamente, não se poderia aplicar aquela lei estadual.
O STF afirmou que esse mesmo entendimento pode ser aplicado para órgãos administrativos
autônomos, como o TCU, o CNMP e o CNJ. Assim, tais órgãos, ao realizarem controle de
validade dos atos administrativos, podem determinar a não aplicação de leis inconstitucionais.
O CNJ pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde que
observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de um ano.
Essa medida pode ser instaurada de ofício ou mediante provocação de qualquer interessado
e admite que o CNJ agrave ou abrande a decisão disciplinar revista (art. 103-B, § 4º, V, da
CF/88).
STF. 1ª Turma. MS 33565/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/16 (Info 830).
OBS:
Exemplo: Determinado Juiz respondeu a um processo disciplinar na corregedoria do Tribunal
de Justiça. Ao final, recebeu, como pena, uma pena de suspensão de 90 dias.
Não houve recurso e o processo se encerrou no âmbito do TJ. O CNJ pode, de ofício ou
mediante provocação de qualquer interessado, instaurar, no âmbito do Conselho, um processo
de revisão disciplinar.
Quais são as hipóteses em que será possível essa revisão? O que justifica uma revisão pelo
CNJ? O tema foi disciplinado pelo Regimento Interno do CNJ nos seguintes termos:
Art. 83. A revisão dos processos disciplinares será admitida:
I - quando a decisão for contrária a texto expresso da lei, à evidência
dos autos ou a ato normativo do CNJ;
II - quando a decisão se fundar em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos;
III - quando, após a decisão, surgirem fatos novos ou novas provas
ou circunstâncias que determinem ou autorizem modificação da
decisão proferida pelo órgão de origem.
O que o CNJ irá fazer neste processo de revisão disciplinar? Irá examinar o processo disciplinar
que foi realizado no âmbito do Tribunal e poderá anular ou reformar a decisão que foi tomada,
seja para absolver ou condenar o magistrado processado. O CNJ poderá, ainda, aumentar ou
diminuir a pena imposta. Nesse sentido, o Regimento Interno do CNJ prevê:
Art. 88. Julgado procedente o pedido de revisão, o Plenário do CNJ
poderá determinar a instauração de processo administrativo
disciplinar, alterar a classificação da infração, absolver ou condenar
o juiz ou membro de Tribunal, modificar a pena ou anular o
processo.
Prazo: O CNJ possui um prazo decadencial de 1 ano para instaurar o processo de revisão
disciplinar. Veja o que diz a CF/88:
Art. 103-B (...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres
funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que
lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
(...)
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de
um ano;
A partir de quando é contado este prazo de 1 ano? O prazo estabelecido no art. 103-B, § 4º, V,
da CF/88 para o CNJ rever processo disciplinar instaurado contra magistrado começa a fluir
da publicação da decisão do Tribunal no órgão oficial (STF. 2ª Turma. MS 26.540, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014).
Imagine que passou o prazo de 1 ano, mas o juiz que foi punido administrativamente pelo TJ
ainda não se conformou com a decisão e deseja revertê-la. Como não pediu a revisão
disciplinar ao CNJ, o que ele ainda poderá fazer? O pedido de revisão disciplinar para o CNJ
deve ser feito até 1 ano após o julgamento do processo disciplinar pelo respectivo Tribunal.
Esgotado tal prazo só restará ao interessado socorrer-se da via judicial para discutir a
punição que lhe foi aplicada. (STF. Plenário. MS 27.767-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
j. 23/3/11).
I – É desnecessário esgotar as vias ordinárias para que o CNJ instaure processo de revisão
disciplinar.
II – Não se aplica a prescrição punitiva em perspectiva, sendo imprescindível a instauração
do competente processo administrativo disciplinar, no qual serão apurados os fatos e
indicada a infração para a qual teria concorrido o magistrado para, só então, verificar se
houve a prescrição.
STF. 1ª Turma. MS 28918 AgR/DF, Rel. Min. Dias Tofoli, julgado em 4/11/2014 (Info 766).
18.16. CNJ não pode interferir em matéria de competência jurisidicional – (Info 753)
CNJ não pode declarar inválido artigo do Regimento Interno do Tribunal de Justiça que
trate sobre competência jurisdicional. Isso porque o CNJ tem a competência de exercer o
controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos
deveres funcionais dos juízes. No caso em análise, o Conselho interferiu em matéria de
competência jurisdicional do TJ, matéria que é estranha às suas funções.
STF. 2ª Turma. MS 30793/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).
O CNJ não pode decidir, em procedimento administrativo, matéria que já foi judicializada,
ou seja, que está sendo discutido em uma ação judicial.
O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativas, razão pela qual não lhe
é permitido decidir questões que estejam submetidas à análise judicial.
Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao CNJ conhecer e apreciar
a matéria, sob pena de ele estar assumindo funções jurisdicionais. Se a parte interessada
não concorda com a decisão judicial ele dispõe de recursos para impugná-la, não podendo
provocar o CNJ para interferir no assunto.
STF. 2ª Turma. MS 27650/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014 (Info 752).
19. CNMP
19.1. Caso tenha avocado o PAD, o CNMP pode aproveitar os atos instrutórios realizados na
origem – (Info 874)
Se o CNMP decidir avocar um PAD que está tramitando na Corregedoria local por suspeita
de parcialidade do Corregedor, ele poderá aproveitar os atos instrutórios praticados
regularmente na origem pela Comissão Processante.
Não há motivo para se anular os atos instrutórios já realizados pela Comissão Processante,
sem participação do Corregedor, especialmente se o interessado não demonstra a ocorrência
de prejuízo. O princípio do pas de nullité sans grief é plenamente aplicável no âmbito do
Direito Administrativo, inclusive em processos disciplinares.
Desse modo, o STF reconheceu que não houve qualquer ilegalidade na atuação do CNMP.
STF. 2ª Turma. MS 34666 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/8/17 (Info 875).
19.3. STF não têm competência para ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do
CNJ – (Info 785)
19.4. CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei –
(Info 781) - Atenção! Ministério Público!
Esse parâmetro estabelecido pela CF/88 deverá ser seguido pelas Constituições Estaduais por
força do princípio da simetria. Em outras palavras, se as Cartas estaduais forem tratar sobre a
Polícia Civil e seu chefe, não poderão prever regra diferente do que preconiza o § 4º acima.
A Constituição Estadual poderá prever que o chefe da Polícia Civil será alguém que não é
Delegado? NÃO. É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que preveja que o
chefe da Polícia Civil seja alguém que não integre a carreira. Isso porque essa pessoa deverá
ser obrigatoriamente um Delegado de Polícia de carreira.
A Constituição Estadual poderá exigir que o chefe da Polícia Civil seja um Delegado de Polícia
integrante da classe final da carreira? Também NÃO. O cargo de Superintendente da Polícia
Civil deve ser escolhido entre Delegados de carreira. No entanto, não se pode exigir que este(a)
Delegado(a) seja da classe final da carreira. A CF/88 trata sobre o tema no art. 144, § 4º e não
faz esta exigência. Logo, o constituinte estadual violou o modelo imposto pela CF/88, criando
um novo requisito. Veja precedente do STF neste sentido:
Consoante dispõe o artigo 144, § 4º, da Constituição Federal, as
polícias civis são dirigidas por delegados de carreira, não cabendo a
inobservância da citada qualificação, nem a exigência de que se
encontrem no último nível da organização policial.
STF. Plenário. ADI 3038, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 11/12/14.
O ICMS é um imposto de competência estadual. Apesar disso, o art. 158, inciso IV da CF/88
determina que o Estado deverá repassar 25% da receita do ICMS aos Municípios. Esse
repasse será realizado após cálculos que são feitos para definir o valor da cota-parte que
caberá a cada Município, segundo critérios definidos pelo art. 158, § único, da CF/88 e pela
lei estadual.
A Constituição do Estado do Amapá previu que seria competência do TCE homologar os
cálculos das cotas do ICMS devidas aos Municípios.
Este dispositivo é inconstitucional.
Sujeitar o ato de repasse de recursos públicos à homologação do TCE representa ofensa ao
princípio da separação e da independência dos Poderes.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).
OBS:
Repartição do ICMS: É um imposto de competência estadual. A CF/88 determina que o Estado
deverá repassar 25% da receita do ICMS aos Municípios. Veja:
Art. 158. Pertencem aos Municípios: (...)
IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.
A CF/88 determina ainda que seja feito um cálculo para que os Municípios onde ocorreram
os fatos geradores do ICMS (ex: venda da mercadoria) recebam mais que os outros. Assim,
os Municípios nos quais mais se vendeu mercadorias (p. ex.) que geraram o recolhimento de
ICMS receberão, em tese, cotas maiores de repasse. Confira o texto constitucional:
Art. 158 (...)
Parágrafo único. As parcelas de receita pertencentes aos Municípios,
mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios:
I - três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações
relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em
seus territórios;
II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos
Territórios, lei federal.
Vale ressaltar que, no mínimo, 3/4 dos 25% a que os Municípios têm direito deverão obedecer
a esse critério. No entanto, é possível que no 1/4 restante o Estado adote outros critérios para
repartir o valor do ICMS.
1/4 (no máximo) deverão ser repartidos conforme critérios que o Estado definir em
lei estadual. Ex: receberão mais os Municípios com maior preservação do meio
ambiente, com menor IDH, com maior população etc.
Assim, a cota-parte que será repassada a cada Município depende desses cálculos.
Desse modo, a CE/AP estabeleceu que, após serem feitos os cálculos de quanto cada Município
deverá receber a título de ICMS (normalmente este cálculo é feito pela Secretaria de Fazenda),
o TCE deverá homologar ou não esse resultado. A Assembleia Legislativa do Amapá
argumentou que essa competência poderia ser concedida ao TCE considerando que a CF/88
conferiu ao TCU a competência para realizar os cálculos das quotas relacionadas com os
Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM), nos termos do art. 161,
parágrafo único:
Art. 161. Cabe à lei complementar: (...)
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159,
especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I,
objetivando promover o equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre
Municípios; (...)
Parágrafo único. O Tribunal de Contas da União efetuará o cálculo das quotas
referentes aos fundos de participação a que alude o inciso II.
A ALE/AP alegou, portanto, que o art. 112, XVII, foi inspirado no § único do art. 161 da CF/88
e que, portanto, poderia ser reputado, constitucional em homenagem ao princípio da simetria.
Essa previsão do art. 112, XVII, da CE/AP é constitucional? NÃO. Sujeitar o ato de repasse de
recursos públicos à homologação do Tribunal de Contas do Estado representa ofensa ao
princípio da separação e da independência dos Poderes. Como o TCE é um órgão auxiliar da
Assembleia Legislativa, o STF entendeu que, condicionar o repasse das cotas-partes dos
Municípios à homologação do TCE significaria, ao fim e ao cabo, condicionar este
pagamento à ingerência da Assembleia Legislativa. Para os Ministros, não há semelhança
entre a atividade de gerenciamento dos Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos
Municípios (FPM), exercida pelo TCU com base no art. 161, parágrafo único da CF/88, com a
homologação dos cálculos de quotas do ICMS pelo TCE. Não há que se falar em simetria neste
caso porque inexiste simetria entre os Fundos de Participação e quotas de repasse de ICMS.
São situações distintas. No caso do FPE e do FPM, o próprio TCU efetua os cálculos das quotas-
partes cabíveis aos entes federados à luz de estimativas demográficas fornecidas pelo IBGE.
Os fundos de participação são de natureza contábil, desprovidos de personalidade jurídica e
de gerenciamento do TCU por força da CF/88. Situação diversa diz respeito ao repasse
obrigatório às municipalidades das verbas arrecadadas pelo estado-membro referente ao
ICMS, uma vez que não é fundo financeiro e possui relativa liberdade de conformação. Dessa
forma, o TCE é completamente alheio ao processo de definição dos critérios das quotas, da
mesma forma que o TCU não participa dos repasses na arrecadação de tributos federais, como
o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
21.2. Competência do TCU para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil somente quanto aos
recursos oriundos do Banco do Brasil – (Info 897)
Não compete ao TCU adotar procedimento de fiscalização que alcance a Fundação Banco
do Brasil quanto aos recursos próprios, de natureza eminentemente privada, repassados por
aquela entidade a terceiros, eis que a FBB não integra o rol de entidades obrigadas a prestar
contas àquela Corte de Contas, nos termos do art. 71, II, da CF.
A FBB é uma pessoa jurídica de direito privado não integrante da Administração Pública.
Assim, a FBB não necessita se submeter aos ditames da gestão pública quando repassar
recursos próprios a terceiros por meio de convênios.
Por outro lado, quando a FBB recebe recursos provenientes do Banco do Brasil — sociedade
de economia mista que sofre a incidência dos princípios da Administração Pública
previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, — ficará sujeita à fiscalização do TCU.
Isso porque, neste caso, tais recursos, como são provenientes do BB, têm caráter público.
STF. 2ª Turma. MS 32703/DF, Rel. Min. Dias Tóffoli, j. 10/4/18 (Info 897).
OBS:
##Questiona-se: O TCU tem competência para fiscalizar o Banco do Brasil? SIM. O Banco do
Brasil integra a Administração Pública federal indireta e, portanto, está sujeito à fiscalização
do TCU, nos termos do art. 71, II, da CF/88:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será
exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual
compete:
(...)
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e
indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a
perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao
erário público;
##Questiona-se: Quando a FBB for transferir dinheiro para alguma entidade social, de
pesquisa etc., precisará observar os princípios que regem a Administração Pública (ex: a Lei nº
8.666/93)? Essa transferência está sujeita à fiscalização do TCU? Depende. É necessário
analisar a natureza jurídica do recurso transferido pela FBB (se são recursos públicos ou
eminentemente privados) para que se possa aferir, com exatidão, a necessidade de submissão
aos princípios norteadores da gestão pública, consequentemente, ao crivo do controle externo.
A situação é, portanto, a seguinte:
se os recursos que a FBB estiver transferindo para terceiros forem provenientes do
Banco do Brasil ou de alguma outra entidade do poder público (o BB transferiu esses
recursos para a FBB e agora a FBB está repassando para terceiros): haverá fiscalização
do TCU. Isso porque, neste caso, tais recursos, como são provenientes do BB, têm
caráter público.
se os valores que a FBB estiver transferindo forem “recursos próprios” (excluídas as
dotações que recebe do Banco do Brasil): não haverá fiscalização do TCU porque a
FBB não é uma entidade da Administração Pública. Logo, se são recursos
eminentemente seus (recursos próprios), a verba é privada.
##Questiona-se: A FBB não poderia ser considerada como uma fundação instituída e
mantida“pelo Poder Público federal”, atraindo sempre a fiscalização do TCU com base no art.
71, II, da CF/88? NÃO. Isso porque o STF entende que o Banco do Brasil, apesar de integrar a
Administração Pública federal, não pode ser considerado como “poder público”:
O Banco do Brasil, entidade da Administração Indireta dotada de
personalidade jurídica de direito privado, voltada à exploração de
atividade econômica em sentido estrito, não pode ser concebida
como poder público.
STF. Plenário. MS 24427, Rel. Min. Eros Grau, DJ 24/11/06.
Logo, a FBB consiste em entidade privada não instituída pelo poder público.
21.3. A Constituição Federal não proíbe a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios
– (Info 883) – IMPORTANTE!!!
Assim, por exemplo, imagine que exista um Tribunal de Contas dos Municípios na Bahia. Este
Tribunal irá auxiliar a Câmara Municipal de Ilhéus (BA) a fazer o controle externo dos recursos
daquele Município. De igual forma, irá também atuar em relação às contas de Vitória da
Conquista, Feira de Santana e todos os demais Municípios da Bahia.
Desse modo, o Tribunal de Contas dos Municípios é um órgão ESTADUAL que atua na
fiscalização das contas de todos os Municípios de determinado Estado.
Atualmente, só existem três Tribunais de Contas dos Municípios: na Bahia, em Goiás e no
Pará.
Nos demais Estados onde não há Tribunal de Contas dos Municípios, a competência para
realizar essa fiscalização é do TCE.
Vale ressaltar que a CF/88 não proíbe que os Estados criem novos Tribunais de Contas dos
Municípios.
Situação enfrentada pelo STF: No Estado do Ceará havia um Tribunal de Contas dos
Municípios, ou seja, um Tribunal de Contas específico para auxiliar as Câmaras Municipais no
exercício do controle externo sobre os Municípios cearenses. Em 2017, houve uma emenda à
Constituição do Estado do Ceará extinguindo o TCM/Ceará. A Associação dos Membros dos
Tribunais de Contas do Brasil (ATRICON) ajuizou uma ADI contra esta emenda constitucional
apresentando os seguintes argumentos:
A emenda foi aprovada pelos Deputados como retaliação pelo fato de que muitos deles
tiveram as suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios do Estado
do Ceará com relação ao período em que eram Prefeitos. Teria havido, portanto, desvio
do poder de legislar;
Não haveria redução de despesas na extinção do Tribunal de Contas;
O art. 31, § 4º da CF/88 proibiria a extinção dos Tribunais de Contas dos Municípios;
Teria havido vício de iniciativa porque a emenda constitucional foi proposta por
parlamentares.
O STF concordou com os argumentos da ATRICON? A ADI foi julgada procedente? NÃO.
Ausência de provas do suposto desvio do poder de legislar: O STF entendeu que a fraude na
edição de lei com o objetivo de alcançar finalidade diversa do interesse público deve ser
explicitada e comprovada. O mero fato de alguns dos Parlamentares terem tido suas contas
desaprovadas não conduz à conclusão de que a votação da emenda estaria viciada.
CF/88 não impede a extinção dos Tribunais de Contas dos Municípios: O art. 31, §§ 1º e 4º, da
CF/88 não proíbem a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios. A Constituição
permitiu (facultou) que os Estados-membros concentrassem toda a fiscalização no Tribunal de
Contas do Estado (TCE) ou que criassem um outro órgão (Tribunal de Contas dos Municípios)
exclusivamente com a finalidade de fiscalizar as contas dos Municípios daquele respectivo
Estado. Não há, assim, qualquer norma na Constituição Federal que proíba a extinção do
Tribunal de Contas dos Municípios por meio da promulgação de emenda à Constituição
Estadual.
Não houve vício de iniciativa: A CF/88 afirmou que cabe aos Tribunais de Contas dispor sobre
a própria organização e funcionamento, e o fez com o propósito de assegurar-lhes a autonomia
necessária para exercer atividade fundamental à integridade do erário. Isso não impede,
contudo, que haja a extinção de Tribunal de Contas dos Municípios mediante emenda cujo
processo de elaboração tenha sido deflagrado por Deputados Estaduais. Não há qualquer
dispositivo constitucional que leve à conclusão de que é impossível emenda à Constituição, de
iniciativa parlamentar, tratando sobre a extinção de Tribunal de Contas dos Municípios.
21.4. MPTC não possui legitimidade para propor reclamação no STF – (Info 883)
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas não possui legitimidade ativa para
propor reclamação no STF alegando descumprimento da decisão do Supremo.
A atuação dos membros do MPTC limita-se, unicamente, ao âmbito dos próprios Tribunais
de Contas perante os quais oficiam.
STF. 2ª Turma. Rcl 24156 AgR/DF e Rcl 24158 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 24/10/17
(Info 883).
OBS:
Cuidado com a situação excepcional reconhecida pelo STJ:
O membro do Ministério Público que atua perante o Tribunal de
Contas possui legitimidade e capacidade postulatória para
impetrar mandado de segurança, em defesa de suas prerrogativas
institucionais, contra acórdão prolatado pela respectiva Corte de
Contas.
Ex: Procurador de Contas pode impetrar mandado de segurança
contra acórdão do Tribunal de Contas que extinguiu representação
contra licitação sem incluí-la em pauta e sem intimar o MP.
STJ. 2ª Turma. RMS 52.741-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j.
8/8/17 (Info 611).
Não aplicação do art. 54 da Lei nº 9.784/99 para as fiscalizações realizadas pelo TC na forma
do art. 71, IV, da CF/88
Em casos de “fiscalização linear exercida pelo Tribunal de Contas”, nos termos do art. 71,
IV, da CF/88, não se aplica o prazo de decadência previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99. Isso
porque em processos de “controle abstrato”, o Tribunal de Contas não faz o exame de ato
específico do qual decorre efeito favorável ao administrado. A Corte está examinando a
regularidade das contas do órgão e a repercussão sobre eventual direito individual é apenas
indireta.
STF. 1ª Turma. MS 34224/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/8/2017 (Info 873).
21.6. Prazo prescricional para aplicação de multa pelo TCU – (Info 858)
O prazo prescricional para que o TCU aplique multas é de 5 anos, aplicando-se a previsão
do art. 1º da Lei nº 9.873/99.
Caso esteja sendo imputada ao agente público a conduta omissiva de ter deixado de tomar
providências que eram de sua responsabilidade, tem-se que, enquanto ele permaneceu no
cargo, perdurou a omissão. No momento em que o agente deixou o cargo, iniciou-se o fluxo
do prazo prescricional.
STF. 1ª Turma. MS 32201/DF, rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/3/17 (Info 858).
21.7. Criação de Procuradoria do Tribunal de Contas e impossibilidade de que tal órgão seja
responsável pela cobrança das multas – (Info 851)
21.9. É inconstitucional norma da CE que preveja competir à ALE julgar as contas do Poder
Legislativo – (Info 847) – (TJPE-2013) (DPEMG-2014)
As contas dos demais administradores que lidem com verbas federais serão julgados pelo
TCU? SIM. De acordo com a CF/88, o TCU irá julgar as contas de todos os administradores
que lidem com verbas federais, salvo as do Presidente da República (que são julgadas pelo
Parlamento). Essa é a interpretação que se chega a partir da leitura dos incisos I e II do art. 71.
Essas regras acima expostas são aplicáveis também para os Tribunais de Contas estaduais?
SIM. Os Tribunais de Contas estaduais são competentes para julgar as contas dos
administradores que lidem com verbas estaduais ou municipais, com exceção das contas dos
chefes do Poder Executivo (Governador e Prefeitos). Desse modo, o TCE irá julgar as contas de
todos os administradores que lidem com verbas estaduais ou municipais, salvo as do
Governador e dos Prefeitos. As contas do Governador são julgadas pela Assembleia
Legislativa, após o TCE elaborar um parecer. As contas dos Prefeitos são julgadas pelas
respectivas Câmaras Municipais, após o TCE elaborar um parecer.
21.10. Auditoria do TCU e desnecessidade de participação do servidor indiretamente afetado
– (Info 819)
Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do Poder Legislativo,
os servidores indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal não possuem direito
de serem ouvidos no processo fiscalizatório.
Não existe, no caso, desrespeito ao devido processo legal.
A atuação do TCU ficaria inviabilizada se, nas auditorias realizadas, fosse necessário
intimar, para integrar o processo administrativo de controle, qualquer um que pudesse ser
alcançado, embora de forma indireta, pela decisão da Corte.
STF. 1ª Turma. MS 32540/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/3/2016 (Info 819).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O TCU instaurou auditoria com o objetivo de averiguar
a legalidade da folha de pagamentos dos servidores da Câmara dos Deputados. O TCU
concluiu pela ilegalidade da gratificação "X". João, técnico-legislativo da Câmara dos
Deputados, é um dos servidores que recebia a verba questionada. Diante disso, ele impetrou
mandado de segurança contra o TCU alegando que houve violação ao devido processo legal
considerando que ele deveria ter sido convocado para se defender, já que poderia sofrer reflexo
patrimonial com a decisão.
Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado por
via postal?
SIM. O envio de carta registrada com aviso de recebimento está expressamente enumerado
entre os meios de comunicação de que dispõe o TCU para proceder às suas intimações.
O interessado alega que não mora mais no endereço para o qual a carta com AR foi enviada.
Contudo, constata-se que esse é o endereço que consta na Receita Federal como sendo do
interessado, além do que é o mesmo que está na petição inicial do MS por ele impetrado. A
alegação de nulidade da citação deverá ser aceita?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU não
depende de comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de carta
registrada com aviso de recebimento que comprove sua entrega no endereço do
destinatário.
No caso concreto, a citação foi enviada ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro
da Receita Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de
segurança impetrado. Logo, o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta
registrada no endereço do destinatário, de forma que não se podia falar em nulidade do
processo.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).
21.16. Competência para declarar a inidoneidade de empresa para licitar – (Info 786) –
IMPORTANTE!!!
O TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa privada para participar
de licitações promovidas pela Administração Pública. Essa previsão está expressa no art. 46
da Lei 8.443/92, sendo considerada constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a
inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na
Administração Pública Federal.
STF. Plenário. MS 30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a
Administração Pública, quando não homologado judicialmente.
Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU não pode anulá-lo porque a questão já
passou a ser de mérito da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de
Contas.
Contudo, sendo o acordo apenas extrajudicial, a situação está apenas no âmbito
administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.
STF. 1ª Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).
21.19. Lei estadual que veda acesso de documentos ao TCE é inconstitucional – (Info 760)
É inconstitucional lei estadual que proíbe que o TCE, quando estiver fazendo inspeções ou
auditorias, tenha acesso a determinados documentos inerentes à Administração Pública.
Essa previsão constitui ato atentatório à efetiva atuação do Tribunal de Contas, restringindo
sua competência para realizar o controle externo das contas do Estado-membro sem que a
CF/88 tenha permitido essa limitação.
STF. Plenário. ADI 2361/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/9/2014 (Info 760).
22. ADVOGADO
22.1. Advogado tem direito de ser atendido no INSS independentemente de distribuição de
fichas – (Info 742)
É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico
Superior do DETRAN) será responsável por:
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da
autarquia”.
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto,
exercer as suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos
Advogados do Brasil OAB”.
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do
Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88.
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao
cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções
privativas de advogado.
Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a
pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132,
caput, da CF/88.
O STF decidiu modular os efeitos da decisão para:
• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às
procuradorias;
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do
julgamento, com base na teoria do funcionário de fato.
ATENÇÃO: Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no
âmbito interno da autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e
formular medidas e soluções de otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos
e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as
atividades da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas atribuições podem
sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o princípio
da unicidade da representação judicial.
O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia
para a PGE, porque esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de
ter suas atividades inviabilizadas.
STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, j. 13/12/18 (Info 927).
OBS:
Segundo a jurisprudência do STF, é possível que lei estadual crie cargos em comissão para o
desempenho das atribuições de assessoramento jurídico no âmbito do Poder Executivo? NÃO.
A atividade de assessoramento jurídico do Poder Executivo dos
Estados deve ser exercida por Procuradores do Estado, organizados
em carreira, cujo ingresso depende de concurso público de provas e
títulos, nos termos do art. 132 da CF/88.
Esse preceito tem como objetivo garantir a necessária qualificação
técnica e independência funcional desses especiais agentes
públicos.
Assim, é inconstitucional a norma que outorgue a ocupante de
cargo em comissão ou de função de confiança o exercício, no
âmbito do Poder Executivo local, de atribuições inerentes à
representação judicial e ao desempenho da atividade de
consultoria e de assessoramento jurídicos, pois tais encargos
traduzem prerrogativa institucional outorgada, em caráter de
exclusividade, aos Procuradores do Estado.
STF. Plenário. ADI 4261, Rel. Min. Ayres Britto, j. 2/8/10.
STF. Plenário. ADI 4843/MC-ED-Ref, Rel. Min. Celso de Mello, j.
11/12/14.
Este princípio possui exceções? SIM. Podemos mencionar a existência de duas exceções:
EXCEÇÃO 2: “ADCT/Art. 69. Será permitido aos Estados manter consultorias jurídicas
separadas de suas Procuradorias-Gerais ou Advocacias-Gerais, desde que, na data da
promulgação da Constituição, tenham órgãos distintos para as respectivas funções.” O
art. 69 do ADCT foi uma exceção transitória ao princípio da unicidade orgânica
da Procuradoria estadual. Esta exceção foi prevista com o objetivo de garantir a
continuidade dos serviços de representação e consultoria jurídicas que existiam
na Administração Pública no período logo em seguida à promulgação da CF/88,
quando algumas Procuradorias estaduais ainda não estavam totalmente
estruturadas. Em outras palavras, foi pensada como uma forma de evitar
lacunas e uma desorganização da Administração Pública. Vale ressaltar que só
foram mantidas as consultorias jurídicas que já existiam antes da CF/88.
Feita esta breve revisão, veja o caso concreto julgado pelo STF: O Estado do Espírito Santo
editou lei criando o cargo de Técnico Superior do DETRAN (autarquia estadual). Até aí, ok. O
problema foi que a Lei previu que os ocupantes deste cargo seriam responsáveis por
representar o DETRAN/ES “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da
autarquia”. Além disso, determinou que tais servidores teriam a incumbência de praticar
“todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as suas
funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do
Brasil OAB”.
Tais previsões são constitucionais? NÃO. Tais previsões violam o “princípio da unicidade
da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88.
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao cargo
de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções privativas de
advogado. Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do
DETRAN a pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação
do art. 132, caput, da CF/88.
23.5. Legitimidade da ANAPE para questionar lei que equipara determinada carreira com a
de Procurador do Estado – (Info 835)
A Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (ANAPE) tem
legitimidade ativa para, via arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF),
questionar dispositivos de lei estadual que estabelece a isonomia de vencimentos entre as
carreiras de Procurador estadual e de Delegado de Polícia.
STF. Plenário. ADPF 328 AgR/MA, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, j. 18/08/16 (Info 835).
23.6. Inconstitucionalidade de lei estadual que crie cargo em comissão para o desempenho
de assessoramento jurídico no Poder Executivo – (Info 771)
Constituição Estadual pode prever que o Procurador-Geral do Estado seja julgado pelo TJ.
A lei estadual não pode prever que o Procurador-Geral do Estado tenha foro por
prerrogativa de função no TJ.
A Constituição Estadual, ao prever as competências do TJ, não pode trazer um dispositivo
aberto, delegando ao legislador infraconstitucional a tarefa de definir as autoridades com
foro privativo.
STF. Plenário. HC 103803/RR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/07/2014 (Info 752).
É constitucional lei estadual que concede o desconto de 50% no valor dos ingressos em casas
de diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade.
STF. Plenário. ADI 2163/RJ, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 12/4/2018 (Info 897).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: A Lei 3364/00, do Estado do Rio de Janeiro, assegura o
desconto de 50% no valor dos ingressos em casas de diversões, praças desportivas e similares
aos jovens de até 21 anos de idade (Lei da Meia Entrada). Em 2006, a Confederação Nacional
do Comércio (CNC) ajuizou ADI contra essa Lei afirmando que ela seria formal e
materialmente inconstitucional.
Ademais, diante da inexistência de lei federal sobre a matéria, o ente exerceu a competência
legislativa plena para atender às suas peculiaridades:
Art. 24 (...)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
Esse critério etário, ou seja, conceder meia-entrada para todo mundo que for menor que 21
anos, é válido? SIM. A lei é constitucional porque facilita o acesso dos jovens à cultura, à
educação e a atividades desportivas. “Entendo que essa é uma lei evidente e eminentemente
inclusiva. Tem como alvo o jovem que tradicionalmente não flui dessas regalias. O jovem
excluído do sistema educacional”, disse o então Min. Joaquim Barbosa, que participou do
julgamento. O Min. Ricardo Lewandowski defendeu que, nesse caso, é legítima a intervenção
do Estado no domínio econômico. “Aqui me parece que o legislador estadual foi generoso
porque ele quer também dar acesso ao lazer e à cultura aos jovens em geral, mesmo aqueles
que não tiveram o privilégio de ter ido à escola ou que possam ir à escola. São aqueles jovens
que trabalham, que não têm lazer, não têm cultura”.
Outro precedente no mesmo sentido envolvendo uma Lei do Estado de São Paulo:
(...) 1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1.988 define
opção por um sistema no qual joga um papel primordial a livre
iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de
que o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais.
2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa
Constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem realizados
pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global
normativo para o Estado e para a sociedade, informado pelos
preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170.
3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas
pela empresa, mas também pelo trabalho. Por isso a Constituição,
ao contemplá-la, cogita também da "iniciativa do Estado"; não a
privilegia, portanto, como bem pertinente apenas à empresa.
4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro
determina ao Estado a adoção de todas as providências tendentes
a garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao
desporto [artigos 23, inciso V, 205, 208, 215 e 217 § 3º, da
Constituição]. Na composição entre esses princípios e regras há de
ser preservado o interesse da coletividade, interesse público
primário.
5. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, são meios de
complementar a formação dos estudantes.
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
STF. Plenário. ADI 1950, Rel. Min. Eros Grau, julgado em
03/11/2005.
Leis federais posteriores: Depois que esta Lei do Estado do Rio de Janeiro foi publicada (2000),
o Congresso Nacional editou duas leis que tratam sobre meia-entrada em eventos culturais e
desportivos.
25.2. Lei municipal que impede instalação de estabelecimentos comerciais – (Info 790)
Súmula vinculante 49-STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que
impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
O art. 220, § 4º da CF/88 prevê que lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas
alcoólicas.
Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei 9.294/96.
Ocorre que a Lei 9.294/96 afirmou expressamente que só haveria restrições para as
propagandas de bebidas alcoólicas com teor alcoólico superior a 13º GL (art. 1º, parágrafo
único).
O PGR não concordou com a medida e ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por
omissão afirmando que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa, considerando
que deveria impor restrições à propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do
seu teor de álcool.
O STF julgou improcedente o pedido. A Corte entendeu que não é possível que o Poder
Judiciário crie norma geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é
bebida alcoólica para fins de propaganda. Além disso, o STF considerou que não existe a
alegada omissão. O legislador federal aprovou a Lei 9.294/96, que foi objeto de amplo
debate no Congresso Nacional. Foi feita uma escolha política de só serem impostas
restrições para propagandas de bebidas alcóolicas com grau superior a 13º GL, não podendo
o STF rever essa decisão.
Por fim, o STF entendeu que a Lei 9.294/96 não contraria a Lei 11.705/2008 (Lei Seca),
considerando que são diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente
diversos. A primeira lei cuida de restrições à propaganda e liberdade de expressão. Nela
não se está julgando o teor alcoólico da bebida e sim até que limite pode ir a sua
publicidade. Na segunda, estão sendo discutidos os efeitos do álcool para pessoas que
dirigem veículo automotor e a proibição imposta para essa prática.
STF. Plenário. ADO 22/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/4/2015 (Info 781).
STF suspendeu decisão de TRF que havia anulado portaria do Ministério das
Comunicações tratando sobre aspectos técnicos da transmissão dos programas de TV
(recursos de audiodescrição para deficientes visuais e intelecuais).
Segundo a Corte, a complexidade da causa requer cautela por parte dos magistrados e maior
consideração às soluções encontradas pelos órgãos técnicos especialistas na área.
STF. Plenário. ADPF 309 Referendo-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/9/2014
(Info 760).
27.2. Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a manter quantidade mínima
de determinado medicamento em estoque – (Info 752) – IMPORTANTE!!!
A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter
estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a certa doença grave,
de modo a evitar novas interrupções no tratamento.
Não há violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa
decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem
tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está fazendo é controlar os atos e
serviços da Administração Pública que, neste caso, se mostraram ilegais ou abusivos já que,
mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos, há falta em seu
estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes.
Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil a dar
continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à
saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário.
STJ. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/6/2014 (Info
752).
Como regra, se os índios não estavam na posse da área em 05/10/1988, ela não será
considerada terra indígena (art. 231 da CF/88).
Existe, contudo, uma exceção a essa regra. Trata-se do chamado renitente esbulho.
Assim, se, na época da promulgação da CF/88, os índios não ocupavam a terra porque dela
haviam sido expulsos em virtude de conflito possessório, considera-se que eles foram
vítimas de esbulho e, assim, essa área será considerada terra indígena para os fins do art.
231.
O renitente esbulho se caracteriza pelo efetivo conflito possessório, iniciado no passado e
persistente até o marco demarcatório temporal da data da promulgação da Constituição de
1988, materializado por circunstâncias de fato ou por controvérsia possessória judicializada.
Vale ressaltar que, para que se caracterize o renitente esbulho, é necessário que, no
momento da promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem disputando a posse da terra
ou tivessem sido delas expulsos há pouco tempo. Se eles foram dela expulsos muitos anos
antes de entrar em vigor a CF/88, não se configura o chamado “renitente esbulho”.
Exemplo: no caso concreto apreciado pelo STF, a última ocupação indígena na área ocorreu
no ano de 1953, data em que os índios foram expulsos da região. Nessa situação, a Corte
entendeu que não estava caracterizado o renitente esbulho, mas sim “a desocupação forçada
ocorrida no passado” já que, no momento da promulgação da CF/88, já havia se passado
muitos anos da saída dos índios do local e eles não mais estavam em conflito possessório
por aquelas terras.
STF. 2ª Turma. ARE 803462 AgR/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/12/2014 (Info
771).
O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado
emitir-lhes os títulos respectivos.”
Em 2003, foi editado o Decreto 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento para
identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos.
O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do Decreto
foi tão somente o de regular o comportamento do Estado na implementação do comando
constitucional previsto no art. 68 do ADCT. Houve o mero exercício do poder regulamentar
da Administração, nos limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição.
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto 4.887/03 prevê como deve ser o critério utilizado pelo Poder
Público para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da autoatribuição
(autodefinição). O STF entendeu que a escolha do critério desse critério não foi arbitrária,
não sendo contrária à Constituição.
O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das
terras dos quilombolas devem ser levados em consideração critérios de territorialidade
indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF afirmou que essa
previsão é constitucional. Isso porque o que o Decreto está garantindo é apenas que as
comunidades envolvidas sejam ouvidas, não significando que a demarcação será feita
exclusivamente com base nos critérios indicados pelos quilombolas.
O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a desapropriação
de determinadas áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos
quilombos estejam situados em locais pertencentes a particulares. O STF reputou válida
essa previsão tendo em vista que, em nenhum momento a Constituição afirma que são
nulos ou extintos os títulos eventualmente incidentes sobre as terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 do ADCT, apesar de
reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida os títulos de propriedade
eventualmente existentes, de modo que, para que haja a regularização do registro em favor
das comunidades quilombolas, exige-se a realização do procedimento de desapropriação.
Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras de
quilombolas aqueles que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da
promulgação da CF/88 (05/10/1988). Em outras palavras, mesmo que, na data da
promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo ocupada pelas comunidades
quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do ADCT.
STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.p/ o ac. Min. Rosa Weber, j.
8/2/18 (Info 890).
OBS: Artigos citados no julgado acima:
CF/88:
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
Decreto 4.887/2003:
Art. 2º Consideram-se remanescentes das comunidades dos
quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais,
segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica
própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção
de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão
histórica sofrida.
§ 1º Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes
das comunidades dos quilombos será atestada mediante
autodefinição da própria comunidade.
§ 2º São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos
quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodução física,
social, econômica e cultural.
§ 3º Para a medição e demarcação das terras, serão levados em
consideração critérios de territorialidade indicados pelos
remanescentes das comunidades dos quilombos, sendo facultado à
comunidade interessada apresentar as peças técnicas para a
instrução procedimental.