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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DA __ª VARA DO

TRABALHO DE PORTO ALEGRE-RS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, Procuradoria Regional do


Trabalho da 3ª Região, por intermédio do Procurador do Trabalho que esta
subscreve, com fulcro nos arts. 127, caput, e 129, III e IX, da CF/88, 6º, VII, “a” e “d”, e
83, I e III, da Lei Complementar nº 75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público da
União), bem como nas Leis nº 7347/1985 (Lei da Ação Civil Pública) e nº 8078/1990
(Código de Defesa do Consumidor), vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA c.c. PEDIDO DE TUTELA
PROVISORIA DE URGÊNCIA em face de RED VELVET LTDA, pessoa jurídica de
direito privado, CNPJ, endereço completo, pelas razões de fato e de direito que passa
a expor.

I – DOS FATOS

Foi instaurado Inquérito Civil após o recebimento de notícias de fato


recebidas.

A notícia de fato relatava diversas irregularidades ocorridas na empresa


RED VELVET LTDA, confirmadas pelo depoimento de testemunhas ouvidas por este
órgão.
A empresa fez uma reunião em seu pátio, no dia 27 de setembro de
2022, poucos dias antes da eleição presidencial, na qual ameaçou os trabalhadores a
pensarem em seus votos, pois estariam correndo o risco de perderem seus empregos,
com o fechamento da empresa, a depender do resultado das eleições.

Além disso, a empresa viola a liberdade religiosa, através de uma


obrigação velada, de realizar uma oração todas as segundas-feiras, de fé evangélica,
inclusive cobrando “taxa lanche” pelo lanche ofertado aos trabalhadores no momento
da oração, sem qualquer comprovação de autorização pelos mesmos para o desconto
de tal taxa de seus pagamentos.

Os trabalhadores também são proibidos de usarem cabelos compridos,


dreadlocks, barbas compridas e tatuagens visíveis. Os cabelos afro ou rastafaris
também são desencorajados/discriminados.

A ré obriga os trabalhadores a se ativarem em horas extras habituais,


em mais de 2 horas diárias. Além de nos últimos 5 meses estar atrasando os
pagamentos de salários de 10 a 15 dias.

Destarte, em razão das lesões aos interesses transindividuais


cometidos pela ré, o Parquet decidiu pelo ajuizamento da presente Ação Civil Pública.

II – PRELIMINARMENTE

a) DA COMPETÊNCIA MATERIAL E FUNCIONAL DA VARA DO TRABALHO

Todos os fatos narrados na exordial são referentes à relação de


emprego. Ainda, à Justiça do Trabalho compete julgar as ações de indenização por
dano moral decorrentes da relação de emprego.

Portanto, clara é a competência da justiça do trabalho para apreciar a


presente demanda, por força dos incisos I e VI do art. 114 da CF.

A competência da justiça do trabalho para o julgamento da ação civil


pública ajuizada para a defesa de interesses transindividuais ou metaindividuais de
cunho laboral está explicitada também no art. 83, III, da LC 75/93 (lei orgânica do
Ministério Público da União).

A competência funcional, por sua vez, é definida pelo lugar onde


ocorreu ou deva ocorrer o dano, em cuja vara do trabalho respectiva deve ser ajuizada
a ação civil pública, a teor do disposto no art. 2º da Lei 7347/85. Nesse diapasão,
imperioso consignar o art. 93 da Lei 8078/90.

Ainda, para disciplinar a competência funcional na ação civil pública o


TST editou a OJ 130 da SDI-II.

Assim, considerando-se que se trata de dano local, é competente uma


das varas do trabalho de Porto Alegre para julgar a lide.

b) DA LEGITIMIDADE DO MPT E DO CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, CF).

Para efetivar sua missão constitucional, a legislação confere ao


Ministério Público a atribuição para a defesa de qualquer interesse difuso, coletivo ou
individual homogêneo, interesses esses que se busca a tutela na presente ação civil
pública. É o que preveem a Lei Complementar 75/93, em seus artigos 6º, VII, “a” e “d”,
XII, e 83, III; o art. 1º, IV, da Lei 7347/85; e o art. 81 da Lei 8078/90.

Para a defesa desses interesses transindividuais foi estabelecido um


microssistema processual da tutela coletiva, formado pela constituição federal, CDC e
pela Lei 7347/85.

Nesse sentido, um dos instrumentos colocados à disposição do Parquet


para a realização de suas atribuições é a ação civil pública (art. 129, III, CF).

Ademais, expressam a legitimidade do Ministério Público para a


propositura de ação civil pública os arts. 5º, I, da Lei 7347/85 e o art. 82, I, da Lei
8078/90.

Portanto, não há dúvida de que o Ministério Público do Trabalho tem


legitimidade para propor a presente ação civil pública para a tutela dos interesses
metaindividuais desrespeitados pela ré, sendo cabível a presente ação para a
concretização da missão constitucional.
III – DO DIREITO

a) DO ASSEDIO ELEITORAL

Conforme denúncia recebida pelo MPT, confirmadas inteiramente pelos


depoimentos testemunhais, inclusive por uma testemunha que esteve presente no dia
do fato ocorrido, além de vídeos gravados por vários trabalhadores da empresa ré, no
dia 27 de setembro de 2022, o Sr. Luiz Henrique fez uma reunião no pátio da empresa
com todos os empregados na qual proferiu discurso em tom de ameaça de que os
trabalhadores deveriam pensar bem em seus votos, pois isso estaria colocando em
risco a atividade da empresa e, consequentemente, os empregos daqueles que ali
trabalham.

Em que pese a alegação da empresa de que o Sr. Luiz não representa


a empresa, sendo apenas um consultor e amigo da família, por não estar no contrato
social, as testemunhas foram claras e uníssonas ao dizerem que acreditavam que o
Sr. Luiz de fato mandava, que era membro da família. Além disso, as provas do
inquérito civil demonstram que o Sr. Luiz mantém ascendência diretiva na empresa,
sendo verdadeiro sócio de fato.

O assédio, no meio ambiente de trabalho, caracteriza-se a partir de


práticas que geram humilhação, perseguição e discriminação. Quando o assédio
decorre de perseguição política em época eleitoral, a fim de que o empregado vote em
determinado candidato ou deixe de votar, com a finalidade de obter o engajamento
subjetivo da vítima em relação a determinadas praticas ou comportamentos de
natureza política durante o pleito eleitoral, configura-se o assédio eleitoral. É
exatamente o enquadramento do caso em tela, em que os empregados tiveram seus
empregos ameaçados e foram compelidos a “pensar bem antes de votar”, além de
ouvirem que “Tivemos experiência de quem está no poder. Fomos enganados assim
como vocês. Quero que vocês pensem”.
Observa-se que a conduta viola a liberdade de consciência e de crença
e ao pluralismo político protegidos pela Constituição (art. 5º, VI e VIII; art. 1º, V), bem
como pelas normas internacionais (art. 18 DUDH; art. 18 PIDCP; art. 12 da Convenção
Americana de Direitos Humanos), além de afrontar diversas declarações
internacionais que tratam sobre a temática, a exemplo da Declaração sobre a
eliminação de todas as formas de intolerância e discriminação fundadas na religião ou
convicções da ONU e a Declaração universal sobre a diversidade cultural da
UNESCO. Inclusive, considerando a proteção ao voto no art. 14 da CF, verifica-se
violação à garantia fundamental que constitui cláusula pétrea (art. 60, parágrafo 4º, II).
Ademais, há previsão na CLT de se buscar tratamento justo e imparcial aos
empregados, impedindo qualquer forma de discriminação, entre outros, por motivo de
opinião política (art. 510-B, V).
Destaca-se que a conduta configura uma violação do Poder Diretivo do
empregador. Cabe ao empregador dirigir a prestação de serviços e a atividade
econômica, entretanto não se trata de um poder ilimitado e absoluto, mas que deve
ser pautado na valorização do trabalho, na função social e na dignidade do
trabalhador, vetor axiológico do ordenamento brasileiro (art. 1º, III e IV; 5º, XXIII; 170,
III CF).
Ainda, o assédio eleitoral configura uma violação psicológica ao
trabalhador, o que vai de encontro à Convenção 190 da OIT, que determina a
eliminação da violência e do assédio no mundo do trabalho (art. 5º). Da mesma forma,
observa-se afronta à NR 17 (6.13), que veda a utilização de métodos que causem
assédio moral, medo ou constrangimento.
Pode-se afirmar também que se trata de discriminação praticada no
ambiente de trabalho, o que viola o art. 4º, IV e 7º, XXX da Constituição e a lei
9.020/95, além das Convenções 100 e 111 da OIT, que vedam a discriminação em
matéria de emprego e constituem direito fundamental no âmbito da OIT (“core
obligations”).
Desse modo, verifica-se que a prática gera um desequilíbrio no meio
ambiente de trabalho, que se torna contaminado diante das perseguições direcionadas
aos trabalhadores, deixando se ser hígido e saudável, o que viola os art. 7º, XXII; 200,
VIII e 225 da CF, bem como as Convenções 155 e 187. Consoante expressamente
dispõe o art. 3º, “e” da Convenção 155, a saúde no ambiente de trabalho envolve não
apenas afecção de doenças, mas os elementos físicos e mentais que afetam a saúde
e estão diretamente relacionados com a segurança e a higiene no trabalho, que
tiverem ameaçados seus empregos, o sustento de suas famílias. A conduta da
empresa e do Sr. Luiz configura crime eleitoral, na forma do art. 301 do Código
Eleitoral.
Pelo exposto, a conduta da ré deve ser severamente punida, com
caráter pedagógico e que se reverta em benefícios dos próprios trabalhadores. Assim,
requer seja a ré condenada a abster-se de praticar, permitir ou incentivar condutas de
assédio eleitoral no local de trabalho, com ameaças e demais comportamentos
ofensivos aos trabalhadores.

Além disso, requer que a ré seja condenada a promover a celebração


de palestras e estudos gratuitos, durante o horário de trabalho e sem qualquer
desconto, nas vésperas da próxima eleição imediata, sobre o direito ao voto, cidadania
e sigilo do voto, devendo comprovar a realização nestes autos.

Por fim, que a ré seja condenada a implementar sistema de denúncia de


assédio eleitoral, moral ou discriminação no ambiente de trabalho e incentivar a
utilização pelos empregados, estabelecendo medidas de compliance e preventivas de
assédio e de discriminação estética e racial.

b) DA VIOLAÇÃO À LIBERDADE RELIGIOSA. DO DESCONTO INDEVIDO DE


“TAXA LANCHE”

De acordo com Jellinek, na sua teoria dos 4 Status Sociais, um dos


status é o “negativus” ou “libertatis”, segundo o qual o individuo tem um estado de
liberdade, contra os arbítrios estatais. O direito à liberdade religiosa se enquadra
nesse status, porquanto a pessoa tem o direito de liberdade de culto e de crença,
inclusive de não ter crença nenhuma.

O Estado brasileiro é laico, ou seja, não professa uma religião. Além


disso, o art. 5º, VI, da CF, prevê a inviolabilidade da liberdade de crença, assegurando
o livre exercício de cultos religiosos.

Restou claro no inquérito civil que a ré obrigava os trabalhadores a


participarem de momento de oração no pátio da empresa, todas as segundas-feiras.
Os trabalhadores eram desencorajados a negar sua participação, sob a alegação de
que seria mal visto pelo chefe.

De acordo com a prova testemunhal, as orações eram de cunho cristão-


evangélicas, de forma que os trabalhadores que não professassem aquela fé tinham
simplesmente que aceitar calados, sob pena de discriminação. Evidente a violação da
liberdade religiosa dos trabalhadores, da sua liberdade de crença e da liberdade de
professarem seus próprios cultos no local de trabalho.

Vejamos que até mesmo o ensino religioso nas escolas, previsto


constitucionalmente, tem caráter facultativo (art. 210, § 1º, CF). Os trabalhadores não
podem ser compelidos a professarem e cultuarem uma fé pela continuidade no
emprego. Essa prática viola seus direitos mais básicos, de liberdade, de dignidade, de
cidadania (art. 1º, II e art. 5º, II, CF), além de se tratar de prática discriminatória (art.
3º, IV, CF). Nesse sentido, também, a Convenção 111 da OIT, ao prever como
discriminação toda distinção, exclusão ou preferência fundada na religião e outros
fatores que alterem a igualdade de tratamento em matéria de emprego ou profissão.

Não bastasse isso, após o momento de oração era fornecido lanche aos
trabalhadores e, no final do mês, vinha descontado de seus salários uma “taxa
lanche”, não autorizada por nenhum trabalhador. Ou seja, além de terem sua liberdade
religiosa violada, de sofrerem discriminação caso não participassem da oração, ainda
pagavam por isso.

Pelo exposto, requer seja a ré condenada a abster-se de obrigar,


mesmo que de forma velada, os trabalhadores a participarem de orações, podendo os
que livremente quiserem participar fazê-lo em local isolado (e não no pátio da
empresa), sem qualquer bônus aos que participarem ou penalidade aos que não
participarem. Além de adequar um ambiente na empresa em que os trabalhadores
possam professar suas fés, dos mais variados cultos e religiões, no mesmo horário em
que os cristãos-evangélicos estiverem fazendo a oração, com cômputo na jornada de
trabalho do tempo despendido.

c) DA DISCRIMINAÇÃO ESTÉTICA E RACIAL

A ré, além da prática de discriminação religiosa relatada acima, comete


discriminação estética e racial. Conforme demonstrado nas provas colhidas pelo
inquérito civil, a empresa proíbe que os trabalhadores usem cabelos longos,
dreadlocks, barbas compridas ou tenham tatuagens visíveis.

Trata-se de clara discriminação, nos termos do art. 1 da Convenção 111


da OIT, ao negar oportunidade de emprego a pessoas com essas características, além
de interferirem nos direitos da personalidade do trabalhador (arts. 3º, IV e 5º, XLI, CF).
Tais atos também configuram crime, conforme art. 3º da Lei nº 7716/89.

Além disso, a ré, através de seus prepostos (encarregados de setor)


possuem conduta de discriminação racial, afirmando que os trabalhadores negros não
poderiam usar cabelo rastafari, pois seria “coisa de negão jamaicano maconheiro”,
ofendendo a honra, e praticando o crime do art. 2º da Lei nº 7716/89.

O argumento da empresa é de que essas orientações se dão por


questões de higiene, por se tratarem de uma produtora de cosméticos, inclusive
constando do Acordo Coletivo de Trabalho firmado com o Sindicato da Categoria.
Inicialmente, observamos que a cláusula não prevê qualquer discriminação racial ou
com tipos de cabelos específicos, além disso, o Acordo Coletivo não pode ser capaz
de renunciar direitos fundamentais dos trabalhadores, muito menos de proibi-los.
Existem diversas formas de se garantir a higiene laboral, como o uso de toucas, por
exemplo.

Pelo exposto, requer seja a ré condenada a abster-se de praticar,


permitir ou incentivar condutas discriminatórias no local de trabalho, mormente com
relação a penteados, estilos de vestimenta, tatuagens e condutas de discriminação
racial, bem como tratamento diferenciado entre empregados, bem como a adquirir,
fornecer e fiscalizar o uso de EPI a todos os empregados para garantir a higiene do
local de trabalho, como toucas e outros equipamentos, para que não seja esse o
motivo de qualquer discriminação.

d) DAS HORAS EXTRAS HABITUAIS

Desde a Revolução Industrial a busca por melhores condições de


trabalho tem como base a jornada laboral, com preocupação para a saúde o
trabalhador. O Tratado de Versalhes, na criação da OIT, já previa a fixação de uma
duração máxima da jornada de trabalho e a adoção de 8 horas diárias e 48 horas
semanais como objetivo.

A CF/88, nessa linha, prevê que a duração da jornada de trabalho não


será superior a 8 horas diárias e quarenta e quatro semanais (art. 7º, XIII). A CLT, por
seu turno, permite o acréscimo de horas extras à jornada de trabalho diária, em
número não excedente de duas (art. 59). A exceção permite a realização de horas
extras além do limite legal ou convencionado em casos de força maior, para atender à
realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar
grave prejuízo (art. 61, CLT).

A ré, entretanto, tem como hábito que seus funcionários laborem em


jornada excessiva, em mais de 2 horas extras diárias, conforme cartões de ponto.
Entretanto, não comprovou qualquer necessidade imperiosa ou força maior, impondo
aos trabalhadores jornada exaustiva sem necessidade imperiosa.
O labor excessivo afronta os direitos fundamentais dos trabalhadores,
como o direito ao lazer e à saúde. A jornada exaustiva, também, reduz a produtividade
e, com o cansaço, aumenta os riscos de acidentes laborais.

Desse modo, em que pese não haja comprovação de que essas horas
não tenham sido efetivamente pagas, com o adicional legal, necessário que essa
prática deixe de ser realizada.

Assim, requer seja a ré condenada a abster-se de impor aos


trabalhadores a prática de horas extras habituais e, quando realizadas de forma
esporádica, que não ultrapassem o limite legal de 2 horas extras diárias, devendo a
empresa juntar os cartões ponto nestes autos para comprovação.

e) DO ATRASO SALARIAL

Restou comprovado que a empresa, há 5 meses, vem pagando os


salários dos trabalhadores com atraso de 10 a 15 dias, em desacordo com o disposto
no § 1º do art. 459 da CLT.

Tal conduta afronta os direitos fundamentais da personalidade e da


dignidade do trabalhador, diante da natureza alimentar do salário, o qual garante sua
subsistência e de sua família.

Conforme jurisprudência majoritária, o dano moral em caso de mora


salarial é presumido (in re ipsa). Não há como pensar que o trabalhador e sua família
tenham a obrigação de possuir outros meios de subsistência se surpreendidos pelo
atraso no pagamento dos salários.

No mesmo contexto, o art. 483, “d”, da CLT, prevê hipótese de rescisão


indireta do contrato de trabalho em caso de não cumprimento das obrigações legais
pelo empregador, como é o caso de pagamento de salário com atraso contumaz.

Pelo exposto, requer seja a ré condenada na obrigação de pagar os


salários dos empregados sempre até o 5º dia útil do mês subsequente, sem nenhum
atraso, sob pena de rescisão indireta dos trabalhadores que tiverem recebido seus
salários com atraso e cessação das atividades da empresa até que cumpra com sua
obrigação de pagar os salários no prazo determinado pela legislação, devendo
comprovar nestes autos o pagamento tempestivo pelos próximos meses, caso não o
faça que os trabalhadores tenham seus contratos rescindidos por justa causa do
empregados e pagas todas as verbas rescisórias, com assinatura da carteira de
trabalho, liberação do FGTS e guias do seguro desemprego por alvará, caso a
empresa se negue a fazê-lo.

Além disso, nos termos da Súmula 381 do TST e do Precedente


Normativo 72, requer seja a ré condenada ao pagamento de multa de 10% sobre os
salários, a cada trabalhador lesado, além do valor correspondente à correção
monetária.

f) DA TUTELA COMPENSATÓRIA – DANO MORAL COLETIVO

O dano moral coletivo é ofensa grave, injusta e intolerável a direitos


fundamentais de toda a sociedade, verificando-se independentemente de culpa (ir re
ipsa) (arts. 1º, 3º e 13 da Lei nº 7.347/85).

O caso em apreço revela ofensa não só aos direitos fundamentais dos


trabalhadores, mas de toda a sociedade, que se vê irresignada pelo reiterado e
deliberado descumprimento da legislação garantidora do patamar civilizatório mínimo
dos trabalhadores (art. 5º, V e X, da CF e art. 6º, VI, do CDC).

Nesse contexto, a ré praticou assédio eleitoral, discriminação religiosa,


estética e racial no local de trabalho, deixaram de cumprir a normativa relativa às
horas extras, impondo aos trabalhadores horas extras habituais de mais de 2 horas
diárias, além de atrasar o pagamento dos salários dos trabalhadores, habitualmente,
em 10 a 15 dias, o que demonstra ofensa indiscutível ao patrimônio imaterial da
comunidade.

O valor devido a título de dano moral coletivo não pode ser ínfimo a
ponto de incentivar a continuidade das ofensas, devendo ser observada a reparação
integral (art. 944, CC), mas sem obstar a continuidade do empreendimento. Ainda,
deve ser capaz de gerar o efeito pedagógico, observada a capacidade econômica da
empresa e a gravidade das condutas praticadas.
A empresa emprega vários trabalhadores, além de ter celebrado acordo
coletivo com o sindicato representativo da categoria, não se enquadrando na
designação de empresa pequeno porte.

Com suporte nesses parâmetros, o MPT entende razoável imputar


indenização por danos morais coletivos à ré no valor mínimo de R$ 10.000.000,00
(dez milhões de reais), o que já se requer.

Destaca-se que os limites previstos no art. 223-G da CLT não se


aplicam aos danos morais coletivos, sendo o art. 223-A expresso no sentido de
aplicação apenas a danos sofridos por pessoas físicas, e não pela coletividade.

Por fim, requer que o montante seja destinado a projetos sociais


indicados pelo MPT em fase de liquidação e aprovados por este r. Juízo, a fim de
garantir a efetiva reparação dos bens lesados, já que o Fundo de Direitos Difusos não
abarca a seara trabalhista (art. 13 da Lei nº 7.347/85).

Caso não seja este o entendimento de Vossa Excelência,


subsidiariamente, requer seja a destinação feita ao FAT.

g) DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do art. 300 do CPC c/c arts. 83 e 84, § 3º, do CDC e art. 12
da Lei 7.347/85, o juiz deverá conceder tutela provisória de urgência quando verificada
a probabilidade do direito vindicado e o risco ao resultado útil do processo. Pode,
ainda, conceder tutela cautelar, mediante medida que assegure o direito pleiteado (art.
301, CPC).

Os documentos juntados aos feitos são suficientes para demonstrar a


probabilidade do direito, já que provenientes de investigação instaurada pelo MPT,
sendo documentos públicos, imbuídos de presunção de legitimidade e veracidade, nos
termos do art. 405 do CPC.

O periculum in mora também se revela presente, pois a espera pelo


provimento definitivo levará à manutenção das irregularidades, com danos
irreversíveis aos trabalhadores.
Assim, a fim de garantir a efetividade da prestação jurisdicional (art. 6º,
CPC c/c art. 5º, LXXVII, da CF), necessária a concessão da tutela provisória de
urgência, conforme pedidos.

h) DAS PROVAS

A exposição dos fatos narrados se encontra alicerçada em que são


documentos públicos dotados de presunção de veracidade e legitimidade, servindo de
provas, nos termos do art. 405 do CPC.

III – DOS PEDIDOS

1. PROVISÓRIOS

Ante todo o exposto, o Ministério Público do Trabalho vem requerer, a


título de tutela provisória de urgência, que a ré seja condenada, sob pena de multa
diária de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) por cláusula descumprida (arts. 536 e 537,
CPC), a ser revertida a projetos sociais indicados pelo MPT ou, subsidiariamente, ao
FAT, a:

a) abster-se de praticar, permitir ou incentivar condutas de assédio


eleitoral no local de trabalho, com ameaças e demais comportamentos ofensivos aos
trabalhadores;

b) promover a celebração de palestras e estudos gratuitos, durante o


horário de trabalho e sem qualquer desconto, nas vésperas da próxima eleição
imediata, sobre o direito ao voto, cidadania e sigilo do voto, devendo comprovar a
realização nestes autos;

c) abster-se de obrigar, mesmo que de forma velada, os trabalhadores a


participarem de orações, podendo os que livremente quiserem participar fazê-lo em
local isolado (e não no pátio da empresa), sem qualquer bônus aos que participarem
ou penalidade aos que não participarem, além de adequar um ambiente na empresa
em que os trabalhadores possam professar suas fés, dos mais variados cultos e
religiões, no mesmo horário em que os cristãos-evangélicos estiverem fazendo a
oração, com cômputo na jornada de trabalho do tempo despendido;
d) abster-se de praticar, permitir ou incentivar condutas discriminatórias
no local de trabalho, mormente com relação a penteados, estilos de vestimenta,
tatuagens e condutas de discriminação racial, bem como tratamento diferenciado entre
empregados;

e) adquirir, fornecer e fiscalizar o uso de EPI a todos os empregados


para garantir a higiene do local de trabalho, como toucas e outros equipamentos, para
que não seja esse o motivo de qualquer discriminação;

f) implementar sistema de denúncia de assédio eleitoral, moral ou


discriminação no ambiente de trabalho e incentivar a utilização pelos empregados,
estabelecendo medidas de compliance e preventivas de assédio e de discriminação
estética e racial;

g) abster-se de impor aos trabalhadores a prática de horas extras


habituais e, quando realizadas de forma esporádica, que não ultrapassem o limite
legal de 2 horas extras diárias, devendo a empresa juntar os cartões ponto nestes
autos para comprovação;

h) pagar os salários dos empregados sempre até o 5º dia útil do mês


subsequente, sem nenhum atraso, sob pena de rescisão indireta dos trabalhadores
que tiverem recebido seus salários com atraso e cessação das atividades da empresa
até que cumpra com sua obrigação de pagar os salários no prazo determinado pela
legislação, devendo comprovar nestes autos o pagamento tempestivo pelos próximos
meses, caso não o faça que os trabalhadores tenham seus contratos rescindidos por
justa causa do empregados e pagas todas as verbas rescisórias, com assinatura da
carteira de trabalho, liberação do FGTS e guias do seguro desemprego por alvará,
caso a empresa se negue a fazê-lo;

i) pagar multa de 10% sobre os salários atrasados, a cada trabalhador


lesado, além do valor correspondente à correção monetária.

2. DEFINITIVOS

Por fim, requer o Ministério Público do Trabalho:

A) Seja a ré condenada à seguintes obrigações, sob pena de multa


diária de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) por cláusula descumprida (arts. 536 e 537,
CPC), a ser revertida a projetos sociais indicados pelo MPT ou, subsidiariamente, ao
FAT, a:

a) abster-se de praticar, permitir ou incentivar condutas de assédio


eleitoral no local de trabalho, com ameaças e demais comportamentos ofensivos aos
trabalhadores;

b) promover a celebração de palestras e estudos gratuitos, durante o


horário de trabalho e sem qualquer desconto, nas vésperas da próxima eleição
imediata, sobre o direito ao voto, cidadania e sigilo do voto, devendo comprovar a
realização nestes autos;

c) abster-se de obrigar, mesmo que de forma velada, os trabalhadores a


participarem de orações, podendo os que livremente quiserem participar fazê-lo em
local isolado (e não no pátio da empresa), sem qualquer bônus aos que participarem
ou penalidade aos que não participarem, além de adequar um ambiente na empresa
em que os trabalhadores possam professar suas fés, dos mais variados cultos e
religiões, no mesmo horário em que os cristãos-evangélicos estiverem fazendo a
oração, com cômputo na jornada de trabalho do tempo despendido;

d) abster-se de praticar, permitir ou incentivar condutas discriminatórias


no local de trabalho, mormente com relação a penteados, estilos de vestimenta,
tatuagens e condutas de discriminação racial, bem como tratamento diferenciado entre
empregados;

e) adquirir, fornecer e fiscalizar o uso de EPI a todos os empregados


para garantir a higiene do local de trabalho, como toucas e outros equipamentos, para
que não seja esse o motivo de qualquer discriminação;

f) implementar sistema de denúncia de assédio eleitoral, moral ou


discriminação no ambiente de trabalho e incentivar a utilização pelos empregados,
estabelecendo medidas de compliance e preventivas de assédio e de discriminação
estética e racial;

g) abster-se de impor aos trabalhadores a prática de horas extras


habituais e, quando realizadas de forma esporádica, que não ultrapassem o limite
legal de 2 horas extras diárias, devendo a empresa juntar os cartões ponto nestes
autos para comprovação;

h) pagar os salários dos empregados sempre até o 5º dia útil do mês


subsequente, sem nenhum atraso, sob pena de rescisão indireta dos trabalhadores
que tiverem recebido seus salários com atraso e cessação das atividades da empresa
até que cumpra com sua obrigação de pagar os salários no prazo determinado pela
legislação, devendo comprovar nestes autos o pagamento tempestivo pelos próximos
meses, caso não o faça que os trabalhadores tenham seus contratos rescindidos por
justa causa do empregados e pagas todas as verbas rescisórias, com assinatura da
carteira de trabalho, liberação do FGTS e guias do seguro desemprego por alvará,
caso a empresa se negue a fazê-lo;

i) pagar multa de 10% sobre os salários atrasados, a cada trabalhador


lesado, além do valor correspondente à correção monetária;

j) pagar indenização por danos morais coletivos no valor de R$


10.000.000,00 (dez milhões de reais), nos termos da fundamentação.

IV- REQUERIMENTOS FINAIS

Requer o Ministério Público do Trabalho, outrossim:

a) a citação da ré para, querendo, apresentar contestação, sob pena de


revelia;

b) a condenação da ré em custas e despesas processuais;

c) a notificação e intimação pessoal do MPT de todos os atos e termos


processuais, com remessa dos autos ao endereço declinado, conforme arts. 18, II, “h”
e 84, IV, da LC 75/93, bem como nos termos do art. 180, § 2º, do CPC.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de


reais).

Nesses termos,

Pede deferimento.

Local, data.
Assinatura

Procurador(a) do Trabalho

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