Você está na página 1de 11

DIREITOS DIFUSOS E COLETIV OS – BRUNO BODA RT

A ULA 16 - BRUNO BODA RT - LEGITIMIDA DE COLETIV A DA S ENTIDA DES SINDICA IS

1. LEGITIMIDADE COLETIVA DAS ENTIDADES SINDICAIS

Tema previsto na C onstituição Federal - C F/88, no art. 8º, III e no art. 5º, LXX, "b", os quais

preveem:

A rt. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:


[...]
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas;
[...]
A rt. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
[...]
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
[...]
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;
[...]

1
Muito embora o art. 5º da Lei 7.347/1985 (Lei de Ação C ivil P ública) não trate

propriamente dos sindicatos, existem leis específicas sobre o assunto, como a Lei 8.073/1990, que

prevê, no art. 3º, de forma genérica, o seguinte:

NOTAS
1 1] Lei 7.347/85 Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o
Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a
associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da
lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao
meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos
raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. § 1º
O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal
da lei. § 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste
artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes. § 3° Em caso de desistência infundada
ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a
titularidade ativa. § 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância

Curso Ênfase © 2019


1
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

do bem jurídico a ser protegido. § 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios
Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida
esta lei. § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de
ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título
executivo extrajudicial.

Art. 3º As entidades sindicais poderão atuar como substitutos


processuais dos integrantes da categoria.

Nesse sentido, sendo os sindicatos substitutos processuais, afasta-se a tese de

representação que se aplica às associações.

P revê também, o art. 21, da Lei 12.016/2009 do Mandado de Segurança - MS, o seguinte:

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido
político com representação no C ongresso Nacional, na defesa de seus interesses
legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por
organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa
de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus
membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que
pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização
especial.
[...]

No que diz respeito às associações, importante relembrar os requisitos que devem ser

preenchidos para que possam ajuizar Ações C oletivas, veja-se:

1) Pré Constituição (associação legalmente constituída);

2) Pertinência Temática;

3) A utorização dos A ssociados;

4) Juntada da Lista;

Dentre esses requisitos, observe-se quais se aplicam aos sindicatos:

1) Pré-constituição (associação legalmente constituída): A jurisprudência não é

clara quanto a esse requisito, pois o STF tem precedente antigo, proferido no Recurso
1
Extraordinário - RE 198.919 do ano de 1999, que diz não ser aplicável a pré constituição há pelo

menos 1 ano aos sindicatos, como requisito para propositura, especificamente de MS C oletivo.

NOTAS
2 LEGITIMIDADE DO SINDICATO PARA A IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
INDEPENDENTEMENTE DA COMPROVAÇÃO DE UM ANO DE CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO.
Acórdão que, interpretando desse modo a norma do art. 5º, LXX, da CF, não merece censura.

Curso Ênfase © 2019


2
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

Recurso não conhecido. (STF - RE: 198919 DF, Relator: Min. ILMAR GALVÃO, Data de Julgamento:
15/06/1999, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 24-09-1999 PP-00043 EMENT VOL-01964-02 PP-
00411)

1
Em contrapartida, em decisão proferida pelo STJ, no MS 8187 , exige-se que o sindicato

esteja pré-constituído há, pelo menos, 1 ano para propositura de ações. Logo, a jurisprudência não

é clara sobre a aplicação desse requisito aos sindicatos, porém, entende o professor Hugo Nigro
2
Mazzilli , pela submissão dos sindicatos a essa pré-constituição.

NOTAS
3 DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU RELAÇÃO NOMINAL DOS SUBSTITUÍDOS. PROCESSUAL CIVIL
E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.IRREGULARIDADE DA REPRESENTAÇÃO JUDICIAL.
INEXISTÊNCIA. SINDICATO LEGALMENTE CONSTITUÍDO E EM FUNCIONAMENTO HÁ MAIS DE UM
ANO.SUBSTITUTO PROCESSUAL. PRECEDENTES DO STJ E DO STF. DECADÊNCIA RECONHECIDA.
INTELIGÊNCIA DO ART. 18 DA LEI 1.533/51. APLICAÇÃO DA SÚMULA N.º 430 do STF. 1. Como já
pacificado na jurisprudência, os Sindicatos têm legitimidade ativa para impetrar mandado de
segurança em benefício de seus associados, como substitutos processuais, independentemente de
autorização expressa dos substituídos, bastando estar legalmente constituído e em funcionamento
há, pelo menos, um ano.2. In casu, considera-se como março inicial do prazo decadencial para
impetração do mandamus a data da publicação da Portaria n.º 320/2001, ato normativo de efeito
concreto e imediato,consubstanciado na criação de Programa de Assistência Médica para os
servidores do Ministério da Educação.3. Writ impetrado após transcorridos 120 (cento e vinte) dias
do efetivo ato impugnado, de forma que nítida, à luz do disposto no art. 18 da Lei 1.533/51, a
caducidade do direito perseguido.Precedentes desta Corte.4. A teor do enunciado da Súmula 430 do
STF, o pleito administrativo não interrompe a fluência do prazo decadencial previsto no art. 18 da
Lei n.º 1.533/51.5. Mandado de segurança extinto, com julgamento do mérito, nos termos do
disposto no art. 269, inciso IV, do Código de Processo Civil. (STJ - MS: 8187 DF 2002/0015065-7,
Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 25/08/2004, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de
Publicação: DJ 13/09/2004 p. 171)
4 Hugo Nigro Mazzilli é Professor Emérito da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo e ex-
membro do MP/SP.

2) Pertinência Temática: Segundo a interpretação dada pelo plenário do STF ao art. 8º,

III, da C F/88, os sindicatos podem defender todos e quaisquer direitos subjetivos, individuais e
1
coletivos dos integrantes da categoria, conforme julgado RE 197029 , dizendo que há pertinência

temática ampla, pois o sindicato poderia defender todo e qualquer direito pertinente a categoria.

NOTAS
5 [8] CONSTITUCIONAL. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. SINDICATO. ART. 8º, III, DA CF/88. PRECEDENTE
DO PLENÁRIO. ACÓRDÃO NÃO PUBLICADO. ALTERAÇÃO NA COMPOSIÇÃO DO STF. ORIENTAÇÃO
MANTIDA PELA CORTE. I - O Plenário do Supremo Tribunal Federal deu interpretação ao art. 8º, III, da
Constituição e decidiu que os sindicatos têm legitimidade processual para atuar na defesa de todos e
quaisquer direitos subjetivos individuais e coletivos dos integrantes da categoria por ele
representada. II - A falta de publicação do precedente mencionado não impede o julgamento
imediato de causas que versem sobre a mesma controvérsia, em especial quando o entendimento
adotado é confirmado por decisões posteriores. III - A nova composição do Tribunal não ensejou a
mudança da orientação seguida. IV - Agravo improvido.(STF - RE-AgR: 197029 SP, Relator: RICARDO
LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 13/12/2006, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 16-02-
2007 PP-00040 EMENT VOL-02264-03 PP-00535 RT v. 96, n. 861, 2007, p. 116-117)

Curso Ênfase © 2019


3
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

Ainda sobre a pertinência temática, o art. 21, caput da Lei 12.016/2009, prevê

determinados requisitos para impetração de MS C oletivo, que são: 1) Defesa de direitos líquidos e

certos da totalidade ou de parte dos seus membros ou associados; 2) P revisão no estatuto; 3)

Direitos pertinentes às suas finalidades; conforme Súmula 630 do STF, veja-se:

Súmula 630 A entidade de classe tem legitimação para o mandado de


segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma
parte da respectiva categoria.

C umpre informar, sobre decisão antiga do STF, na qual entendeu-se que a decisão

proferida no MS C oletivo, não deve ser direito peculiar à classe, desse modo, não se exigiria que o
1
sindicato, estivesse na defesa de um direito próprio/peculiar daquela classe, conforme RE 193382

, de 1996.

NOTAS
6 [9] CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. SUBSTITUIÇÃO
PROCESSUAL. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA. OBJETO A SER PROTEGIDO PELA SEGURANÇA COLETIVA.
C.F., art. 5º, LXX, b. I. - A legitimação das organizações sindicais, entidades de classe ou
associações, para a segurança coletiva, é extraordinária, ocorrendo, em tal caso, substituição
processual. C.F., art. 5º, LXX. II. - Não se exige, tratando-se de segurança coletiva, a autorização
expressa aludida no inciso XXI do art. 5º da Constituição, que contempla hipótese de representação.
III. - O objeto do mandado de segurança coletivo será um direito dos associados,
independentemente de guardar vínculo com os fins próprios da entidade impetrante do writ,
exigindo-se, entretanto, que o direito esteja compreendido na titularidade dos associados e que
exista ele em razão das atividades exercidas pelos associados, mas não se exigindo que o direito
seja peculiar, próprio, da classe. IV. - R.E. conhecido e provido.(STF - RE: 193382 SP, Relator: Min.
CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 28/06/1996, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 20-09-
1996 PP-34547 EMENT VOL-01842-05 PP-00949)

Logo, o direito não precisa ser próprio da classe, e sim todo e qualquer direito pertinente à

classe, trata-se portanto de interpretação mais ampla da pertinência temática.

EXEMPLO: O sindicato pode impetrar MS C oletivo, para afastar tributação indevida

cobrada dos próprios filiados, como também da classe como um todo, caso concreto do RE
1
181438 , na qual o STF analisou MS C oletivo para afastar tributação indevida.

NOTAS
7 [...] o objeto do mandado de segurança coletivo será um direito dos associados,
independentemente de guardar vínculo com os fins próprios da entidade impetrante do writ,
exigindo-se, entretanto, que o direito esteja compreendido na titularidade dos associados e que
exista ele em razão das atividades exercidas pelos associados, mas não se exigindo que o direito
seja peculiar, próprio, da classe​ (RE n. 181.438, Relator o Ministro Carlos Velloso, Pleno, DJ de
04.10.96)

Curso Ênfase © 2019


4
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

ATENÇÃ O: O STF exige a pertinência temática no ajuizamento da Ação Direta de

Inconstitucionalidade-ADI, portanto atenção a essa diferença, pois quando a confederação sindical

ajuíza ADI, necessariamente, deverá demonstrar a pertinência temática segundo a jurisprudência


1
do STF, por exemplo, a ADI 5837 , julgada em agosto de 2018.

NOTAS
8 "Ementa: Agravo regimental em ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 103, IX, CF. Controle
concentrado. Entidade de classe de âmbito nacional. Ilegitimidade. Pertinência temática. Processo
objetivo. Ausência de estreita relação entre o objeto do controle e a defesa dos direitos da classe
representada pela entidade. 1. A jurisprudência firme da Corte é no sentido de que, dentre as
entidades sindicais, apenas as confederações sindicais possuem legitimidade para propor ação
direta, conforme o disposto no art. 103, IX, da Constituição Federal. Precedentes. 2. As entidades de
classe e as confederações sindicais somente poderão lançar mão das ações de controle concentrado
quando tiverem em mira normas jurídicas que digam respeito aos interesses típicos da classe
representada. Precedentes. 3. A pertinência temática é verdadeira projeção do interesse de agir no
processo objetivo, que se traduz na necessidade de que exista uma estreita relação entre o objeto
do controle e a defesa dos direitos da classe representada pela entidade requerente. 4. Não
verificada correlação entre os objetivos institucionais perseguidos pela entidade e as normas
impugnadas, as quais dizem respeito à majoração das alíquotas da contribuição ao PIS e da Cofins
relativas à venda de combustíveis. 5. Nego provimento ao agravo regimental." (Leia na íntegra,
acesse o link)

3) A utorização dos A ssociados: O STF entende pela desnecessidade desse requisito,

pois o art. 8º, III, da C F/88, quando prevê a legitimidade coletiva dos sindicatos, não exige
1
autorização dos sindicalizados, conforme julgado do STF no RE 210.029 , reafirmada em sede de
2
repercussão geral pelo STF no RE 883642 , como também, quanto ao MS C oletivo, o

entendimento está sumulado, especificamente na Súmula 629 do STF, a qual prevê:

NOTAS
9 [5] ​P ROCESSO CIVIL. SINDICATO. ART. 8º, III DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEGITIMIDADE.
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. DEFESA DE DIREITOS E INTERESSES COLETIVOS OU INDIVIDUAIS.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. O artigo 8º, III da Constituição Federal estabelece a legitimidade
extraordinária dos sindicatos para defender em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais
dos integrantes da categoria que representam. Essa legitimidade extraordinária é ampla,
abrangendo a liquidação e a execução dos créditos reconhecidos aos trabalhadores. Por se tratar de
típica hipótese de substituição processual, é desnecessária qualquer autorização dos substituídos.
Recurso conhecido e provido​ (RE 210.029/RS, Relator Ministro Joaquim Barbosa)
10 [6] RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ART. 8º, III, DA LEI MAIOR. SINDICATO.
LEGITIMIDADE. SUBSTITUTO PROCESSUAL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. DESNECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. I ​
Repercussão geral reconhecida e reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido
da ampla legitimidade extraordinária dos sindicatos para defender em juízo os direitos e interesses
coletivos ou individuais dos integrantes da categoria que representam, inclusive nas liquidações e
execuções de sentença, independentemente de autorização dos substituídos.(STF - RG RE: 883642
AL - ALAGOAS, Relator: Min. MINISTRO PRESIDENTE, Data de Julgamento: 18/06/2015, Data de
Publicação: DJe-124 26-06-2015)

Súmula 629 A impetração de mandado de segurança coletivo por

Curso Ênfase © 2019


5
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

entidade de classe em favor dos associados independe da autorização


destes.

Segue esse mesmo posicionamento o STJ, dispensando a autorização dos sindicalizados,

porém, cumpre alertar que, apesar desses precedentes, fixados em sede de Repercussão Geral

pelo STF, existe decisão monocrática do Ministro Alexandre de Moraes, na Ação Ordinária - AO
1
2380 sobre o MS C oletivo impetrado pelos sindicatos, que somente aqueles filiados ao

impetrante, no momento do ajuizamento poderiam executar o título, portanto seguindo

entendimento diverso dos precedentes.

NOTAS
11 AO 2380/SE "[...]Assim, embora se possa admitir seja a exequente também titular do interesse
individual homogêneo que foi objeto do processo coletivo, os efeitos da sentença nele proferida não
a alcançam, justamente por não ser filiado ao sindicato autor no momento da impetração do
mandado de segurança coletivo. Em resumo, não lhe aproveita o titulo executivo judicial formado
na tutela coletiva outorgada, o que obsta, por evidente, sua habilitação no processo coletivo, ainda
que rotulada de execução individual. Em face deste cenário, resta-lhe a defesa individual do seu
direito pela via processual adequada, o que pressupõe nova fase de conhecimento.[...]" (grifos
nossos) (Leia na íntegra, acesse o link)

1
4) Juntada da Lista .

NOTAS
12 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. LEGITIMIDADE ATIVA DO SINDICATO AUTOR PARA FIGURAR NO
POLO ATIVO DA AÇÃO. PRESCRIÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. NÃO INCIDÊNCIA. ADICIONAL
DE FÉRIAS. RESTITUIÇÃO. 1. A jurisprudência do c. STJ e desta e. Corte firmou-se no sentido de que
o sindicato/associação regularmente constituídos e em normal funcionamento têm legitimidade para
postular em juízo em nome da categoria, na qualidade de substituto processual, independentemente
de autorização expressa ou relação nominal dos substituídos, bastando a existência de cláusula
específica no respectivo estatuto. Vejam-se, a título exemplificativo, os seguintes julgados: STJ - MS
7.414/DF, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/05/2003, DJ 09/06/2003 p.
168; STJ - MS 7.319/DF, Rel. Ministro VICENTE LEAL, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/11/2001, DJ
18/03/2002 p. 168; TRF/1ª Região - MS 2000.01.00.035903-7/PI, Rel. Juiza Assusete Magalhães,
Primeira Seção,DJ p.04 de 23/04/2001; TRF/1ªRegião - AC 2000.01.00.065182-8/MG, Rel. Juiz
Luciano Tolentino Amaral, Primeira Turma,DJ p.62 de 30/10/2000; TRF/1ª Região - AMS
2003.36.00.008103-0/MT, Rel. Desembargador Federal Luciano Tolentino Amaral, Sétima Turma,DJ
p.139 de 02/06/2006. [...] 3. "O sindicato ou associação, como substitutos processuais, têm
legitimidade para defender judicialmente interesses coletivos de toda a categoria, e não apenas de
seus filiados, sendo dispensável a juntada da relação nominal dos filiados e de autorização expressa
(...)." (STJ, AGA 1153516, MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, DJE
DATA:26/04/2010)[...]

1.2 A ÇÃ O COLETIVA PA SSIVA

A ação coletiva passiva é hipótese, na qual, os legitimados figuram no polo passivo da

demanda, substituindo a coletividade.

Curso Ênfase © 2019


6
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

No entanto, parte da doutrina, entende que não é possível que os legitimados figurem no

polo passivo da demanda, pois não há regulamentação legal para isso, violando o contraditório,

por falta de defesa direta dessas pessoas representadas.

Entretanto, a parte da doutrina que defende a possibilidade de ação coletiva passiva, o faz

com fundamento genérico no art. 83 do C DC ; no art. 5º, § 2º, da Lei 7.347/85 e no art. 18 do

C ódigo de P rocesso C ivil - C P C , analisa-se o que prevê cada um deles:

CDC
A rt. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este
código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar
sua adequada e efetiva tutela.
Lei 7.347/85
A rt. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
[...]
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas
nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das
partes.
[...]

Essa fundamentação é clara no sentido de que, se é possível que o legitimado coletivo

venha em litisconsórcio da parte passiva, a própria lei da ação civil pública está admitindo a figura

da ação coletiva passiva.

CPC
A rt. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá
intervir como assistente litisconsorcial.

1
A diferença entre esse artigo com relação ao código anterior é vista no art. 6º do C P C /73 ,

onde era previsto que somente pela expressa previsão da Lei, poderia admitir a legitimidade

extraordinária. Dessa forma, somente quando autorizado por lei é que seria possível o legitimado

extraordinário figurar como substituto processual, porém com o C P C /2015, o art. 18 fala em

"autorizado pelo ordenamento jurídico", o que significa dizer que, pelos princípios do acesso a

justiça, e pelos princípios que regem as ações coletivas, existe sim a possibilidade de ação coletiva

passiva.

NOTAS

Curso Ênfase © 2019


7
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

13 CPC/73 Art. 6º Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando
autorizado por lei.

Além desses fundamentos genéricos, existe a fundamentação com previsão legal

específica, art. 554, §§ 1º e 2º, do C P C /2015; art. 39-A da Lei 10.671/2003; art.114. §2º, da C F/88

e art. 232 da C F/88, observe:

C PC /2015
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que
o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados.
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande
número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que
forem encontrados no local e a citação por edital dos demais,
determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver
pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria
Pública.
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça
procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os
que não forem encontrados.
[...]

Esse artigo é novidade no C P C /2015, pois prevê a ação possessória contra invasores

indeterminados, deste modo, quando houver ação possessória contra invasores indeterminados, o

oficial de justiça deve ir ao local e citar todos os sujeitos encontrados.

Além disso, haverá citação por edital dos sujeitos que não estiverem no local e não

puderem ser identificados, desse modo, o edital de citação não precisa identificar os sujeitos que

estão sendo citados, como também o MP será intimado para intervir, pois como se trata de ação

coletiva, é obrigatória a manifestação do MP como órgão agente ou como órgão interveniente.

Ademais, a defensoria pública deve ser intimada para intervir quando envolver pessoas em

situação de hipossuficiência econômica, afastando a necessidade de intimação da defensoria

pública para atuar nesse tipo de ação coletiva passiva, se for situação que envolva hipossuficientes

necessitados jurídicos, visto que é expressa que a hipossuficiência seja econômica. Observe-se o

julgado recente sobre o assunto no REsp 1314615, e também no julgado antes do C P C /2015 do

STJ, no REsp 977662, onde já havia entendimento no mesmo sentido:

REC URSO ESPEC IAL. DIREITO PROC ESSUAL C IVIL. REINTEGRAÇ ÃO DE POSSE.
INVASÃO C OLETIVA DE IMÓVEL POR NÚMERO INDETERMINADO DE PESSOAS.

Curso Ênfase © 2019


8
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

C ITAÇ ÃO POR EDITAL DOS INVASORES NÃO ENC ONTRADOS PELO OFIC IAL DE
JUSTIÇ A. NEC ESSIDADE. LITISC ONSÓRC IO PASSIVO MULTITUDINÁRIO
FORMADO POR RÉUS INC ERTOS. AUSÊNC IA DE C ITAÇ ÃO FIC TA. NULIDADE DO
FEITO. 1.[...] 2. Nas ações possessórias voltadas contra número
indeterminado de invasores de imóvel, faz-se obrigatória a citação por
edital dos réus incertos. 3. O C PC /2015, visando adequar a proteção
possessória a tal realidade, tendo em conta os interesses público e social inerentes a
esse tipo de conflito coletivo, sistematizou a forma de integralização da
relação jurídica, com o fito de dar a mais ampla publicidade ao feito,
permitindo que o magistrado se valha de qualquer meio para esse fim. 4.
O novo regramento autoriza a propositura de ação em face de diversas
pessoas indistintamente, sem que se identifique especificamente cada
um dos invasores (os demandados devem ser determináveis e não
obrigatoriamente determinados), bastando a indicação do local da
ocupação para permitir que o oficial de justiça efetue a citação daqueles
que forem lá encontrados (citação pessoal), devendo os demais serem
citados presumidamente (citação por edital). 5. Na hipótese, deve ser
reconhecida a nulidade de todos os atos do processo, em razão da falta de citação
por edital dos ocupantes não identificados. 6. Recurso especial provido.(STJ - REsp:
1314615 SP 2012/0055332-1, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
Julgamento: 09/05/2017, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/06/2017)
PROC ESSUAL C IVIL E DIREITOS REAIS. REC URSO ESPEC IAL. AÇ ÃO
REIVINDIC ATÓRIA AJUIZADA EM FAC E DE APENAS UM DOS
C ÔNJUGES.INEFIC ÁC IA, EM REGRA, DA SENTENÇ A, NO QUE TANGE AO
C ÔNJUGE QUE NÃO FOI C ITADO. INVASÃO DE ÁREA. C ITAÇ ÃO E QUALIFIC AÇ ÃO
DE TODOS OS INVASORES. DESNEC ESSIDADE, EM VIRTUDE DA
PREC ARIEDADE DA SITUAÇ ÃO.IMISSÃO DO C ÔNJUGE NA POSSE DE BEM
PÚBLIC O, QUE DETINHA IRREGULARMENTE. DESC ABIMENTO. 1.[...] 2. C omo os
autores ocupavam irregularmente, juntamente com várias outras pessoas, bem
imóvel pertencente à TERRAC AP, não é necessária a qualificação,
individualização e citação de cada um dos invasores,tendo em vista a
precariedade da situação exsurgida pela conduta dos próprios
ocupantes da área. Precedentes.[...]4. Recurso especial não provido.(STJ -
REsp: 977662 DF 2007/0191244-5, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data
de Julgamento: 22/05/2012, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
01/06/2012)

Logo, o próprio STJ já reconhecia essa figura de ação coletiva passiva em caso de invasões

por sujeitos indeterminados, e o C P C /2015 regulamentou essa figura.

Curso Ênfase © 2019


9
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

O Estatuto dos Torcedores, em seu art 39-A, também apresenta previsão específica, pois

são recorrentes ações coletivas envolvendo membros de torcidas organizadas, veja-se:

Lei 10.671/2003
Art. 39-A. A torcida organizada que, em evento esportivo, promover
tumulto; praticar ou incitar a violência; ou invadir local restrito aos
competidores, árbitros, fiscais, dirigentes, organizadores ou jornalistas
será impedida, assim como seus associados ou membros, de
comparecer a eventos esportivos pelo prazo de até 3 (três) anos.

Desse artigo, pode-se inferir que não é preciso que todos os membros e associados

estejam identificados na ação coletiva, para que sejam vinculados à ordem proferida na ação, ou

seja, basta que a torcida organizada esteja no polo passivo.

C om base nesse dispositivo, por exemplo, o MP do Rio de Janeiro ajuizou inúmeras ações

civis públicas contra torcidas organizadas como a Força Jovem do Botafogo e a Força Jovem do

Vasco, para impedir que esses associados ingressassem em eventos esportivos.

Na C F/88, pode-se destacar como fundamentos específicos para as ações coletivas

passivas, o art. 114, §2º que trata da negociação coletiva trabalhista e o art. 232, interessante

julgado para área federal, e no qual prevê sobre as comunidades indígenas. Seguem-se:

C F/88
Art. 114. C ompete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
[...]
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é
facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as
disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas
anteriormente.
[...]
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes
legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e
interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.

Diante desse artigo, pergunta-se: poderá a comunidade indígena, como ente

despersonalizado, figurar como substituta processual dessa coletividade de

indígenas, no polo passivo de uma demanda?

Curso Ênfase © 2019


10
Direitos Difusos e Coletivos – Bruno Bodart
Aula16 - Bruno Bodart - Legitimidade Coletiva das Entidades Sindicais

P ara responder a essa questão, o professor recomenda o acompanhamento do

julgamento pelo STF na Ação C ível Originária - AC O 2323, na qual houve procedimento em que o

Estado de Santa C atarina, ajuizou ação coletiva contra a União e contra a FUNAI, para anular

procedimento anterior que reconheceu como posse permanente dos grupos indígenas guarani, o

Morro dos C avalos, porém a ação coletiva proposta constou como polo passivo a União e a FUNAI

e a comunidade indígena guarani veio aos autos afirmando ser litisconsorte passivo necessário.

C om isso, o relator do caso, Ministro Alexandre de Moraes, proferiu entendimento dizendo

que a comunidade não seria litisconsorte passivo necessário, todavia apenas assistente simples.

Logo, a comunidade indígena agravou para o plenário do STF e está pendente de julgamento.

P orém, importante frisar que decisões monocráticas do STF já tinham reconhecido comunidades

indígenas como litisconsortes passivos necessários em casos envolvendo demarcação de terras.

Fora esses casos específicos previstos em Lei, a jurisprudência também reconhece a ação

coletiva passiva nos casos de ação rescisória de sentença em ação coletiva, na qual o réu na

sentença proferida na ação original, ajuizará a ação rescisória chamando no polo passivo,

exatamente aquele que foi legitimado coletivo autor na ação original e, na ação rescisória, figurará

como legitimado passivo coletivo.

Também em casos de invasão nas reitorias em centros acadêmicos, a jurisprudência

reconhece essa possibilidade de ajuizamento de ação para retirar os estudantes de dentro da

reitoria apenas em face do grêmio estudantil, não sendo necessário a individualização de todos os

sujeitos que estariam praticando o ilícito.

P or fim, é objeto de muitos debates na doutrina, o regime da coisa julgada na ação coletiva
1
passiva, respeitando o que orientava a finada professora Ada P ellegrini Grinover , no sentido de

que se aplica o regime da ação coletiva ativa ao contrário, ou seja, o regime de coisa julgada para

ação coletiva ativa valerá ao contrário para ação coletiva passiva.

NOTAS
14 Ada Pellegrini Grinover (Nápoles, 16 de abril de 1933 - São Paulo, 13 de julho de 2017) foi uma
jurista e advogada ítalo-brasileira, professora titular da Universidade de São Paulo e procuradora do
Estado de São Paulo.

Curso Ênfase © 2019


11

Você também pode gostar