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BOLETIM DE FEVEREIRO DE 202 3

Civil e Processo Civil

SUMÁRIO

ARE 1339496 (07/02/2023): É requisito para condição da ação de mandado coletivo


a autorização expressa de seus associados?

ADI 5941 (09/02/2023): É constitucional a aplicação de meios de execução atípicos


para assegurar cumprimento de ordem judicial?

ADI 5365 (17/02/2023): É constitucional lei estadual que discipline sobre a


transferência de depósitos judiciais e extrajudiciais para o Poder Executivo?

RE 636562 (17/02/2023): É constitucional o artigo 40, caput e §4º, da Lei 6.830/1980


(Lei de Execuções Fiscais – LEF)?
Janaína Salles Rigitano
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ADC 51 (23/02/2023): Podem as autoridades nacionais requisitar dados diretamente
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a provedores de internet no estrangeiro, independente de carta rogatória ou de
observância ao procedimento de acordo celebrado entre os países?

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ARE 1339496 (07/02/2023): É requisito para condição da ação de mandado


coletivo a autorização expressa de seus associados?

Sim. Por maioria, a Segunda Turma do STF entendeu que a Associação


Brasileira de Contribuintes Tributários (ABCT) não tem legitimidade para
impetrar mandado de segurança coletivo sem autorização expressa de seus
associados.

Breve análise sobre a legitimidade das Associações

Primeiramente, faz-se necessário a distinção entre Associação e Sindicato.

A Constituição Federal prevê, em seu art. 5º, inciso XXI, que as entidades
associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente. Por outro lado, o art.
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8, III, da CF, dispõe que ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses
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coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
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administrativas.

Nota-se que, em relação aos sindicatos, a Constituição utilizou ampla expressão


para legitimá-los, permitindo-os agir em defesa da “categoria”, e não de “seus
filiados, mediante expressa autorização”, como no caso das Associações (art.
5º, XXI, CF).

No julgamento do RE 573232 pelo STF (tema 82, j. em outubro de 2014),


prevaleceu que, para a as associações terem legitimidade para a ação coletiva,
sob o procedimento ordinário, precisam de autorização que não seja tão
somente genericamente em seu estatuto.

Por outro lado, em dezembro de 2020, o STF, no julgamento do ARE 1293130 –


tema 1119, reafirmou a desnecessidade da autorização expressa dos
associados, da relação nominal e da comprovação de filiação prévia para a
cobrança de valores anteriores à decisão judicial decorrente de mandado de
segurança coletivo impetrado por entidade associativa de caráter civil.

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Nessa ocasião, o Plenário do STF assentou que o que foi decidido no Tema 82,
em outubro de 2014, não tem identidade com a discutida no Tema 1119, em
dezembro de 2020.

Isso porque no RE 573232 (tema 82, julgado em outubro de 2014) se discutiu a


possibilidade de execução de título judicial decorrente de ação coletiva sob o
procedimento ordinário ajuizada por associações, situação diversa da do ARE
1293130 (tema 1119, j. em dezembro de 2020), cujo título judicial decorre de
mandado de segurança coletivo impetrado por associação.

Vista essa diferença de procedimento, vamos ver o que o STF entendeu no ARE
1293130 (tema 1119), pois foi com base nesse julgamento que a 2ª Turma
decidiu o caso que estamos explicando.

Naquela ocasião (ARE 1293130 – tema 1119), foi fixada a seguinte tese: “É
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desnecessária a autorização expressa dos associados, a relação nominal
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destes, bem como a comprovação de filiação prévia, para a cobrança de valores
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pretéritos de título judicial decorrente de mandado de segurança coletivo
impetrado por entidade associativa de caráter civil”.

Porém, em embargos de declaração ao ARE 1293130 (tema 1119), julgados em


dezembro de 2021, estabeleceu-se que a tese supracitada não se aplicaria as
associações essencialmente genéricas, pois, nesse caso, a entidade não
estaria substituindo uma coletividade específica, mas somente a obtenção
de tutelas judiciais, com poucos ou nenhum associado.

“A União, portanto, sustenta que associações que não representam qualquer


categoria profissional ou econômica específica têm se utilizado da substituição
processual em ações coletivas como forma de atrair associados e vender seus
serviços, a exemplo da Associação Nacional dos Contribuintes de Tributos
(ANCT). Entendo, conforme consta do voto do relator, que, no caso concreto,
esta Corte não analisou se associações genéricas, que não representam
quaisquer categorias econômicas e profissionais específicas, como é o
caso da ANCT, podem ter seus associados beneficiados por decisões em

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mandado de segurança coletivo. Ou seja, esse tema ainda está em aberto e


pode vir a ser arguido pela União e discutido pelas instâncias ordinárias e,
inclusive, em outro momento, por esta Corte”, afirmou Barroso no embargos de
declaração no ARE 1293130 – tema 119 –, em dezembro de 2021.

O caso

A Associação Brasileira de Contribuintes Tributários (ABCT) recorreu de decisão


que inadmitiu recurso extraordinário em face de acórdão proferido pelo Tribunal
Regional Federal da 2ª Região, que extinguiu um mandado se segurança
coletivo no qual se defendia a exclusão do ICMS da base da Cofins.

De acordo com o TRF-2, a associação, por ser genérica, não poderia propor a
ação sem a presença de lista indicando os associados representados e suas
respectivas autorizações expressa.
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Para a ABCT, o mandado de segurança coletivo prescinde da juntada de
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autorização ou apresentação de lista dos associados, uma vez que se está
diante de substituição processual.

O que entendeu o STF?

Por maioria, a Segunda Turma do STF considerou que a recorrente não tem
legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo sem autorização
expressa de seus associados.

Prevaleceu o voto do ministro André Mendonça, no sentido de que a ABCT


possui caráter genérico e, portanto, capaz de representar qualquer contribuinte
brasileiro.

Para o ministro, o reconhecimento da legitimidade da ABCT para postular


mandado de segurança coletivo seria um precedente indesejável, que permitiria
a banalização de associações e das finalidades associativas, com eventual
prejuízo aos beneficiários supostamente defendidos.

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Isso porque se trata de uma associação constituída somente por advogados


como associados, que se destinaria tão somente à utilização de serviços
advocatícios para a obtenção de tutelas judiciais, o que expressamente teria sido
proibido pelo STF no julgamento do ARE 1293130 (Tema 1119), em dezembro
de 2020 e pelo julgamento dos embargos de declaração no ARE 1293130 (tema
1119), em dezembro de 2021.

André Mendonça foi acompanhado pelos ministros Nunes Marques, Ricardo


Lewandowski e Gilmar Mendes.

O relator do recurso, ministro Edson Fachin (vencido), entendeu que o acórdão


recorrido divergiu da jurisprudência da Corte (ARE 1293130 - Tema 1119), uma
vez que o mandado de segurança coletivo impetrado por associações em favor
de seus filiados não depende de autorização expressa, de relação nominal ou
de comprovação de filiação prévia, Salles
Janaína pois, nesses casos, as associações atuam
Rigitano
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como substitutos processuais e não dependem dessas condições para legitimar
sua atuação em Juízo. 285.834.298-98

ADI 5941 (09/02/2023): É constitucional a aplicação de meios de execução


atípicos para assegurar cumprimento de ordem judicial?

Sim. Por maioria, o Plenário do STF declarou constitucional dispositivo do


Código de Processo Civil que autoriza o juiz a determinar medidas coercitivas
necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, desde que não
afetem direitos fundamentais e respeitem os princípios da razoabilidade,
proporcionalidade e menor onerosidade.

Meios de execução atípicos

Primeiramente, vale distinguir medidas típicas e atípicas de execução.

As medidas típicas podem ser diretas ou indiretas. As medidas típicas


diretas de execução são aquelas previstas em nosso ordenamento processual
civil como atos materiais do Estado-juiz de invasão da esfera patrimonial do

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devedor para, contra sua vontade, satisfazer o credor. No caso da execução de


quantia, tais atos se corporificam mediante a expropriação do patrimônio
penhorável do devedor, por meio da adjudicação, alienação ou apropriação de
frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens do
devedor.

As medidas típicas indiretas são meios de coerção sobre a vontade do


devedor, com o objetivo de compeli-lo a realizar – senão de forma espontânea,
ao menos voluntariamente – a prestação devida, tais como a penhora, multa
(astreinte) e a prisão (alimentos), todas previstas na legislação processual civil.

No entanto, é impossível que o legislador preveja todas as formas de se


promover a tutela executiva, daí porque sempre existiu uma cláusula genérica
que permite ao juiz outras medidas coercitivas, indutivas, mandamentais e sub-
rogatórias, também chamadas de medidas
Janaína atípicas de execução.
Salles Rigitano
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É o caso do art. 139, IV, do CPC, que trouxe medidas atípicas ainda mais
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abrangentes do que os códigos predecessores, ao prever que o “juiz dirigirá o
processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe determinar
todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias
necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas
ações que tenham por objeto prestação pecuniária”.

Vamos ver a explicação do professor Elpídio Donizetti 1 , que foi membro da


Comissão de elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil:

“Para facilitar a compreensão a amplitude dessas medidas, podemos conceituá-las


da seguinte forma:

 Medidas coercitivas: são aquelas que objetivam forçar o cumprimento de uma


ordem judicial. Aquele que sofre a medida deve raciocinar no sentido de
compreender que é mais vantajoso cumprir e satisfazer a obrigação ou o dever
imposto do que assumir a medida coercitiva. O exemplo clássico é a imposição de
multa diária.

1
http://genjuridico.com.br/2021/01/22/meios-de-execucao-atipicos/

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 Medidas indutivas: essa expressão figura – creio que pela primeira vez no
ordenamento jurídico brasileiro – no projeto de lei da ação civil pública. A doutrina
ainda não se ocupou do tema. Para mim, trata-se de uma subdivisão das medidas
coercitivas. Os legisladores – os doutrinadores principalmente – têm um pendor
especial para a criação de espécies desnecessárias. Exibem exóticos termos como
a maior descoberta do século. Bem, creio que essa tal indução advém da prisão.
Isso para os que sustentam que o cumprimento de decisão judicial pode ser exigido
sob cominação de prisão, porquanto distinta da prisão por dívida. Por ora, espero
que os leitores não se preocupem com a terminologia. O que se pode dizer é que
se trata de mais uma medida para forçar o destinatário da ordem (do mandamento)
a cumpri-la.
 Medidas mandamentais: são aquelas que podem produzir parte dos efeitos de
uma decisão de cunho constitutivo, mas que não se confundem com a própria tutela
pretendida. Trata-se de uma ordem que pode ser destinada às partes ou a um
terceiro.
 Medidas sub-rogatórias: ‘São mecanismos de cumprimento da ordem judicial
que dispensam a colaboração do ordenado, já que a prestação imposta pode ser
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atribuída a terceiro, de forma a realizar exatamente o resultado idêntico àquele que
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seria operado pelo sujeito passivo’ (ARENHART, Sérgio Cruz. A intervenção judicial
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e o cumprimento da tutela específica. Revista Jurídica, Porto Alegre, v. 57, n. 385,
p. 45-60, nov. 2009).”

O caso

Um partido político ajuizou a ADI 5941 e pleiteou a inconstitucionalidade de


dispositivos do Código de Processo Civil que tratam sobre as medidas concretas
que estão sendo adotadas por juízes, a fim de assegurar o cumprimento de
ordens judiciais.

Para o autor, os dispositivos implicariam uma exagerada subjetivação da tutela


jurisdicional que restringe a liberdade e os direitos fundamentais do devedor,
como exemplo, a apreensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e de
passaporte, a suspensão do direito de dirigir e, a proibição de participação em
concurso e licitação pública.

O que decidiu o STF?

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Por decisão majoritária, o Plenário do STF julgou improcedente a ADI 5941 e


declarou a constitucionalidade do artigo 139, IV, do CPC, por entender válida a
aplicação concreta de meios de execução atípicos, tais como, mas não só, a
apreensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e de passaporte, a
suspensão do direito de dirigir e a proibição de participação em concurso e
licitação pública, desde que não se avance sobre direitos fundamentais e, ainda,
observados os princípios da proporcionalidade, razoabilidade e menor
onerosidade.

Segundo Luiz Fux (relator), seguido pela maioria, acolher a


inconstitucionalidade, ainda que sem redução do texto, equivaleria a
desconsiderar a existência de um conjunto de normas fundamentais e institutos
jurídicos positivados no novo Código de Processo Civil que possui exatamente
a função de guiar a atividade da norma in procedendo.
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Para a maioria do STF,janasalles01@gmail.com
o juiz deve obedecer aos valores especificados no
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próprio ordenamento jurídico de resguardar e promover a dignidade da pessoa
humana ao aplicar as referidas técnicas processuais, assim como observar a
proporcionalidade e a razoabilidade da medida e, aplicá-la de modo menos
gravoso ao executado – o que implica na sua análise adequada e individualizada
no caso concreto, se prejuízo de ser coibida mediante recurso.

Segundo o relator, a necessidade das medidas surgiu pela insuficiência da regra


de que o patrimônio do devedor responde por suas obrigações, uma vez que
este pode não possuir qualquer patrimônio ou, ainda, desviá-lo para se esquivar
de tal responsabilidade.

A seu ver, é inconcebível que o Poder Judiciário, destinado à solução de litígios,


não tenha a prerrogativa de fazer valer os seus julgados.

Concluiu que o art. 139, IV, do CPC, é constitucional, pois, do contrário, haveria
uma limitação ex-ante, sem saber qual medida seria tomada, com verdadeira
discricionariedade do órgão julgador em nome de proteção absoluta liberdade
do devedor, independentemente dos demais valores jurídicos.

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Assim, para a maioria da Corte, a autorização genérica contida no art. 139, IV,
do CPC, representa o dever do magistrado de dar efetividade às decisões e não
amplia de forma excessiva a discricionariedade judicial.

Por sua vez, Edson Fachin (vencido) divergiu em parte do relator para considerar
inconstitucional a parte final do inciso IV, do artigo 139 do CPC, que prevê a
aplicação das medidas atípicas em ações que tenham por objeto prestação
pecuniária.

Para Fachin, o devedor não pode sofrer sanção que restrinja sua liberdade ou
seus direitos fundamentais em razão da não quitação de dívidas, exceto na
hipótese do devedor de alimentos.

ADI 5365 (17/02/2023): É constitucional lei estadual que discipline sobre a


transferência de depósitos judiciais e extrajudiciais para o Poder
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Executivo? janasalles01@gmail.com
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Não. Por unanimidade, o Plenário do STF declarou inconstitucional a Lei
Complementar 131/2015, do Estado da Paraíba, que disciplinou sobre a
transferência de parcelas dos depósitos judiciais e administrativos para o Poder
Executivo estadual.

O caso

O Procurador-Geral da República ajuizou a ADI 5365 e pleiteou a


inconstitucionalidade da Lei Complementar 131, de 16/07/2015, do Estado da
Paraíba, que disciplinou sobre a transferência, ao Poder Executivo estadual, de
parcela dos depósitos judiciais e administrativos, referentes a processos
tributários e não tributários, para pagamento de precatórios de qualquer natureza
e outras finalidades previstas na lei.

Segundo o autor, a referida lei violou os seguintes dispositivos da Constituição


Federal: i) art. 5º, caput, por ofensa ao direito de propriedade; ii) art. 22, I, por
invasão da competência privativa da União para legislar sobre direito civil e

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processo civil; iii) art. 148, I e II, e parágrafo único, por instituir empréstimo
compulsório; iv) art. 168, por não observar a sistemática constitucional de
transferência do Poder Executivo ao Judiciário; v) art. 170, II, por ofensa ao
direito de propriedade dos titulares de depósitos; vi) art. 192, por
desconsideração à competência da União para disciplinar o funcionamento do
sistema financeiro nacional mediante lei complementar; e, por fim, vii) art. 100
da Constituição e art. 97, §§ 2º e 3º, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias de 1988 (ADCT).

O que entendeu o STF?

Por unanimidade, o Plenário do STF declarou inconstitucional a Lei


Complementar 131/2015, do Estado da Paraíba, uma vez que a jurisprudência
da Corte já se consolidou no sentido de que leis estaduais que autorizam a
transferência de depósitos judiciaisSalles
Janaína e extrajudiciais
Rigitano para o Poder Executivo
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incorrem em vício de inconstitucionalidade formal.
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Para a unanimidade dos ministros, a referida lei usurpou a competência da União
para legislar sobre direito processual, bem como para disciplinar sobre o Sistema
Financeiro Nacional e editar as normas gerais de direito financeiro, conforme
artigos 22, I e VIII, 192 e 24, I, da Constituição Federal.

Segundo o relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, o Plenário do STF


julgou ao menos treze ações diretas de inconstitucionalidade contra leis
estaduais que disciplinavam sobre o tema.

Com efeito, no julgamento das ADIs 5455 (j. em 20.11.2019), 4114 (j. em
13.12.2019), 5747, 5456, 5080 (as três j. em 15.04.2020)e 5353 (j. em
11.05.2020), o STF entendeu que a administração da conta dos depósitos
judiciais e extrajudiciais constitui matéria processual (art. 22, I, da CF) e de
normas gerais de direito financeiro (art. 24, §1º, CF), motivo pelo qual se insere
na competência legislativa da União, o que resultou na declaração de
inconstitucionalidade das leis dos Estados de Alagoas, Sergipe, São Paulo, Rio

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Grande do Sul e Minas Gerais, que previam a transferência de depósitos


mantidos em instituição financeiras oficiais ao Poder Executivo estadual.

Já no julgamento das ADIs 5409 e 5477 (ambas j. em 13.12.2019), Barroso


relembrou que as leis estaduais da Bahia e do Rio Grande do Norte foram
declaradas inconstitucionais não apenas pelo vício formal de competência, mas
também por ofensa ao direito de propriedade dos jurisdicionados e ressaltou que
a proteção de patrimônio alheio por entes estatais não autoriza o desvirtuamento
da finalidade do depósito e o seu uso para custeio de despesas públicas.

Pelo fato de a norma impugnada interferir na relação jurídica que se origina do


contrato de depósito e colocar em risco o desenvolvimento e a sustentabilidade
da atividade bancária sintetizada pelo Banco Central do Brasil, o relator, seguido
por todos, entendeu pela exigência de lei federal para regulamentar o tema,
dada a distribuição de competências
Janaína legislativas e a consequente
Salles Rigitano
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necessidade de que se defina de maneira uniforme qual entidade deve
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atuar como depositária dos valores (se a instituição financeira ou os entes
federados), assim como a maneira que devem ser estruturados os fundos de
reserva, a fim de garantir a existência de recursos disponíveis para cumprimento
das ordens de restituição dos depósitos.

Assim, nesse sentido, a Corte julgou procedente o pedido formulado na ação


direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei Complementar nº 131/2015
do Estado da Paraíba.

Fixou-se a seguinte tese de julgamento: “É inconstitucional, por vício de


competência, lei estadual que discipline a transferência de depósitos judiciais e
extrajudiciais para o Poder Executivo”.

@stfemfoco 11
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RE 636562 (17/02/2023): É constitucional o artigo 40, caput e §4º, da Lei


6.830/1980 (Lei de Execuções Fiscais – LEF)?

Sim. Por unanimidade, o Plenário do STF julgou constitucional o artigo 40, caput
e §4º, da Lei 6.830/1980, e fixou parâmetros para se contar o início da prescrição
intercorrente na execução fiscal.

Prescrição ordinária tributária Vs. prescrição intercorrente tributária

De acordo com o art. 156, V, do CTN, a prescrição tributária é hipótese de


extinção do crédito tributário. Há duas espécies de prescrição tributária: a
prescrição ordinária tributária (também chamada somente de “prescrição
tributária” ou “prescrição tributária stricto sensu”) e a prescrição intercorrente
tributária.

Janaína Salles Rigitano


A prescrição ordinária tributária é disciplinada pelo art. 174 do CTN, que prevê
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o prazo de 5 anos, começando a fluir a partir da data de constituição definitiva
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do crédito tributário. O art. 174, § único, do CTN, por sua vez, prevê, de forma
taxativa, as causas interruptivas da prescrição. Na hipótese da ocorrência de
quaisquer delas, o prazo prescricional de 5 anos recomeça a contar em sua
integralidade.

Já a prescrição intercorrente tributária está prevista no artigo 40 da LEF,


segundo o qual, não sendo localizado o devedor ou encontrados bens sobre os
quais possa recair a penhora, o juiz suspenderá a execução fiscal. Decorrido o
prazo de 1 ano sem que tenham sido encontrados bens penhoráveis, o juiz
determinará o arquivamento do feito. Após o transcurso de 5 anos, o juiz
declarará a prescrição intercorrente.

Assim, os requisitos dessa forma de prescrição são: i) não localização de bens


penhoráveis ou do devedor da execução fiscal (não satisfação do crédito); ii)
suspensão por prazo determinado (1 ano); e iii) arquivamento dos autos por
prazo superior ao previsto no CTN para deduzir a pretensão em juízo (5 anos).

@stfemfoco 12
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Veja-se que há uma relação obrigatória entre o prazo prescricional ordinário e o


prazo prescricional intercorrente: se o prazo prescricional ordinário tributário é
de 5 anos, o prazo prescricional intercorrente deverá ser também de 5 anos.

Ambas as prescrições dão ensejo à extinção do crédito tributário (art. 156, V,


CTN), mas diferenciam-se porque a prescrição ordinária se inicia com a
constituição definitiva do crédito tributário (pretensão do direito de cobrança
do credor), ao passo que a prescrição intercorrente tributária se verifica no
curso da execução fiscal, quando está inviabilizada a satisfação do crédito (por
não se encontrarem bens penhoráveis ou o devedor).

A questão posta no RE 636562 é justamente definir o momento de início do prazo


de 5 anos da prescrição intercorrente, se automaticamente depois do decurso
do prazo de 1 ano de suspensão, ou se necessária alguma decisão do
magistrado. Isso veremosJanaína
abaixo, quando
Sallesexplicarmos
Rigitano o jugado.
janasalles01@gmail.com
Antes, precisamos explicar outra questão também discutida no RE 636562: se a
285.834.298-98
LEF, que é lei ordinária processual, pode versar sobre a prescrição
intercorrente tributária, considerando a exigência constitucional de lei
complementar para a disciplina do instituto da prescrição tributária, nos termos
do art. 146, III, “b”, da CF.

Vamos ver o histórico resumido desse dispositivo constitucional.

Necessidade de lei complementar para dispor sobre prescrição tributária

De acordo com o art. 146, III, “b”, da CF/88, compete à lei complementar a
disciplina das normas gerais em matéria tributária, entre as quais se encontra a
prescrição.

@stfemfoco 13
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Conforme nos ensina Celso Ribeiro Bastos 2, a expressão “lei complementar”


apareceu pela primeira vez na Emenda Constitucional 17/1965 (art. 6º, § 8º),
porém nada relacionado ao direito tributário.

Quanto à exigência de lei complementar para a dispor sobre prescrição tributária,


o art. 19, §1º, da Constituição de 1967, conferiu à lei complementar a
competência para dispor sobre normas gerais de direito tributário. A Emenda
Constitucional nº 1, de 1969 (art. 18, §1º), por sua vez, manteve a exigência de
lei complementar para tratar do tema.

Já a Constituição de 1988, em seu artigo 146, inciso III, além de impor a edição
de lei complementar para dispor sobre normas gerais em matéria tributária,
especificou alguns assuntos que estão compreendidos em tal exigência, dentre
eles a prescrição e a decadência (146, inciso III, alínea “b”, CF).

Janaína Salles Rigitano


E qual seria a lei complementar que trata de prescrição tributária no nosso país?
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O próprio Código Tributário Nacional (CTN), mais precisamente seu art. 174.
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Como se sabe, o CTN foi instituído pela Lei ordinária 5.172/1966, sob a égide da
Constituição de 1946, quando ainda não havia exigência de que lei
complementar deveria regular normas gerais de direito tributário. Foi com a
promulgação da Constituição de 1967 que se passou a se obrigar que lei
complementar regesse normas gerais de direito tributário, o que foi mantido nas
Constituições seguintes, como vimos acima.

Assim, com esse mesmo status de lei complementar que o CTN também foi
recepcionado pelas Constituições de 1967, 1969 e de 1988, nas matérias que
lhe foram reservadas, dentre elas, a dispor sobre prescrição tributária.

Dito isso, é possível entender o caráter normativo do art. 174 do CTN, que trata
sobre a prescrição tributária ordinária.

2
BASTOS, Celso Ribeiro. Lei Complementar: teoria e comentários. 2. ed. São Paulo: Celso Bastos: Instituto Brasileiro
do Direito Constitucional, 1999.

@stfemfoco 14
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Eis a questão levada ao STF pela interposição do RE 636562: a LEF, que é lei
ordinária processual, poderia versar sobre a prescrição intercorrente tributária,
considerando a exigência constitucional de lei complementar para a disciplina do
instituto da prescrição tributária, nos termos do art. 146, III, “b”, da CF/1988?

Vamos analisar o caso que chegou ao STF e depois sua decisão.

O caso

Na origem, foi ajuizada uma ação de execução fiscal para a cobrança de créditos
tributários relativos a contribuições previdenciárias não recolhidas
tempestivamente.

Em 08.05.2003, a União requereu a suspensão da execução pelo prazo de 90


dias para proceder com a pesquisa de endereço e bens do executado. Em
Janaína Salles
decisão proferida em 24.07.2003, Rigitano
o magistrado da origem determinou a
janasalles01@gmail.com
suspensão do curso do processo pelo prazo de 1 ano, na forma do art. 40, § 1º,
285.834.298-98
da Lei 6.830/1980 (LEF), com o posterior arquivamento dos autos, caso nada
fosse requerido pela exequente.

Em 16.11.2009, a União foi intimada a se manifestar sobre a ocorrência da


prescrição intercorrente, na forma do § 4º do art. 40 da LEF. A exequente
sustentou não terem sido cumpridos os requisitos do art. 40 do aludido diploma
legal e que não deu causa à paralisação do processo. Ao final, requereu o
prosseguimento da execução fiscal.

Em primeira instância, o juiz, considerando que a ação permaneceu arquivada


por mais de cinco anos, sem qualquer movimentação e sem notícia de causa
interruptiva, mesmo após nova intimação do exequente, extinguiu o direito à
cobrança do crédito, pela prescrição intercorrente, razão pela qual julgou extinta
a Execução Fiscal na forma do art. 40, § 4º, da LEF.

@stfemfoco 15
BOLETIM DE FEVEREIRO DE 202 3
Civil e Processo Civil

A União interpôs recurso de apelação e alegou que não deu causa à paralisação
do processo e que não foi intimada da decisão que determinou o arquivamento
do feito, o que contrariaria os arts. 25 da LEF e 20 da Lei 11.033/2004.

O TRF-4 negou provimento ao recurso, por entender que o art. 40, caput e § 4º,
da Lei nº 6.830/1980, conflita com o art. 174 do CTN, que prevê o prazo
prescricional de 5 (cinco) anos, sem elencar hipótese de suspensão.

A União interpôs o RE 636562 perante o STF e alegou que: (i) a sistemática da


suspensão processual preconizada pelo art. 40 da Lei de Execuções Fiscais
seria compatível com o art. 174 do CTN; (ii) o § 4º do art. 40 da LEF teria trazido
segurança jurídica aos contribuintes, ao limitar a suspensão do processo pelo
prazo de 1 ano, findo o qual passaria a fluir a prescrição intercorrente; (iii) as
normas sob enfoque teriam natureza processual, de modo que não versam sobre
a suspensão do prazo Janaína
da prescrição
Salles emRigitano
si, mas constituem causa legal
suspensiva do processo janasalles01@gmail.com
executivo; e (iv) tratando-se de regra de procedimento
285.834.298-98
que determina a suspensão da execução fiscal por 1 ano, seria lógica essa
suspensão.

O que decidiu o STF?

Por unanimidade, o STF julgou constitucional o artigo 40, caput e §4º, da LEF,
pois esse dispositivo é compatível com o artigo 146, III, “b”, da CF/1988, que
reserva à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária. Ainda, fixou parâmetro para saber o início do prazo da prescrição
tributária intercorrente.

Segundo Barroso, seguido por todos os ministros, não há vício de


inconstitucionalidade na LEF, mesmo que disponha sobre prescrição tributária e
que o artigo 146, III, “b”, CF, exija lei complementar para tratar sobre as referidas
matérias tributárias, uma vez que o prazo da prescrição intercorrente
tributária é processual.

@stfemfoco 16
BOLETIM DE FEVEREIRO DE 202 3
Civil e Processo Civil

Nas suas palavras: “o legislador ordinário se limitou a transpor o modelo


estabelecido pelo art. 174 do CTN, adaptando-o às particularidades da
prescrição verificada no curso de uma execução fiscal. Em verdade, o tratamento
dado ao tema por meio de lei ordinária nacional atende ao comando do art. 22,
I, da CF/1988, porquanto compete à União legislar sobre direito processual”.

Assim, o CTN, que foi recepcionado pela Constituição Federal com status de lei
complementar, para a unanimidade dos ministros, deu uniformidade do
tratamento da matéria de prescrição tributária em âmbito nacional. O legislador
ordinário, ao editar a LEF, atuou na moldura definida pelo CTN em matéria
tributária, em respeito ao art. 146, III, “b”, da CF, e, ainda, especificou em relação
à parte processual, quando tratou de prescrição na execução fiscal, em respeito
ao art. 22, I, da CF (competência privativa da União para legislar sobre normas
de direito processual civil).
Janaína Salles Rigitano
Dito de outro modo, nãojanasalles01@gmail.com
se pode dizer que o prazo de suspensão de um ano
285.834.298-98
deveria estar previsto em lei complementar, pois tal previsão da LEF é uma
condição processual para que haja o início da contagem do prazo
prescricional de 5 anos previsto no art. 174 do CTN.

“O art. 40 da LEF não extrapola o dispositivo constitucional, porque, ao


estabelecer o marco inicial para a prescrição intercorrente, apenas prevê um
marco processual para a contagem do prazo, sem que deixe de observar o prazo
de 5 (cinco) anos, estabelecido no CTN”, afirmou Barroso, no que foi seguido por
todos os ministros.

Quanto ao início do prazo quinquenal da prescrição intercorrente, Barroso deu


interpretação conforme a Constituição ao art. 140, §4º, da LEF, para que,
automaticamente depois da decorrência do prazo de 1 ano de suspensão,
inicie-se a contagem do lapso quinquenal da prescrição intercorrente.

Em outras palavras, segundo entendeu a unanimidade dos ministros, após a


suspensão anual da execução, independentemente do arquivamento do
feito, deve-se iniciar a contagem do prazo da prescrição intercorrente.

@stfemfoco 17
BOLETIM DE FEVEREIRO DE 202 3
Civil e Processo Civil

“Não se sustenta, consequentemente, que o marco inicial da prescrição


intercorrente deve ser o despacho que ordena o arquivamento dos autos,
porque, em diversas situações, o referido pronunciamento judicial jamais chega
a se concretizar. Nesses casos, impedir o início automático da contagem do
prazo após o término da suspensão poderia acarretar a eternização das
execuções fiscais, em contrariedade aos princípios da segurança jurídica e do
devido processo legal, sobretudo frente à exigência de razoável duração do
processo. Com efeito, o art. 40, § 4º, da LEF, deve ser lido de modo que, após o
decurso do prazo de 1 (um) ano de suspensão da execução fiscal, inicia-se
automaticamente a contagem do prazo prescricional de 5 (cinco) anos”, aduziu
Barroso, no que também foi seguido por todos os ministros.

Quanto ao caso concreto, Barroso reconheceu a ocorrência de prescrição


intercorrente. Como na data de 24.07.2003 foi deferido o pedido de suspensão
Janaína (um
do processo, a partir de 24.07.2004 Salles Rigitano
ano depois), iniciou-se automaticamente
o prazo quinquenal de janasalles01@gmail.com
prescrição intercorrente. Em 16.11.2009, a Fazenda
285.834.298-98
Nacional foi intimada para se manifestar acerca desse fato e esclareceu que não
haviam sido identificados quaisquer bens penhoráveis durante esse período,
logo, não obstante o reconhecimento da validade do art. 40 da Lei de Execução
Fiscal, o STF reconheceu a prescrição intercorrente e negou provimento ao RE
636562.

Foi fixada a seguinte tese de Repercussão Geral: “É constitucional o art. 40 da


Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execuções Fiscais – LEF), tendo natureza processual
o prazo de 1 (um) ano de suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse
prazo, inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional tributário de
5 (cinco) anos”.

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BOLETIM DE FEVEREIRO DE 202 3
Civil e Processo Civil

ADC 51 (23/02/2023): Podem as autoridades nacionais requisitar dados


diretamente a provedores de internet no estrangeiro, independente de carta
rogatória ou de observância ao procedimento de acordo celebrado entre
os países?

Sim. Por unanimidade, o Plenário do STF entendeu que é constitucional a


possibilidade de autoridades nacionais solicitarem dados diretamente a
provedores de internet estrangeiros com sede ou representação no Brasil,
independente de carta rogatória e sem necessariamente seguir o procedimento
do acordo celebrado entre o Brasil e o país envolvido.

O caso

A Federação das Associações das Empresas de Tecnologia de Informação


(ASESPRO NACIONAL), ajuizou a ADC 51 e pleiteou a declaração de validade
Janaína Salles Rigitano
do Acordo de Assistênciajanasalles01@gmail.com
Judiciária em Matéria Penal (Mutual Legal Assistance
285.834.298-98
Treaty - MLAT), promulgado pelo Decreto 3810/2001 - usado em investigações
criminais e instruções penais em curso no Brasil sobre pessoas, bens e haveres
situados nos Estados Unidos, bem como a validade dos artigos 780 e 783 do
Código de Processo Penal, que versam sobre cooperação jurídica internacional,
mais precisamente sobre a necessidade de expedição de carta rogatória para
que o órgão jurisdicional estrangeiro pratique ato de cooperação jurídica, relativo
a processo em curso perante órgão brasileiro.

Ocorre que, segundo a autora, algumas decisões judiciais não têm aplicado o
Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal (Mutual Legal Assistance
Treaty - MLAT), nem o procedimento da carta rogatória, de forma a determinar
solicitação direta das informações à filial da empresa estrangeira sediada em
território pátrio, com fundamento em dispositivos do Código Civil, do Código de
Processo Civil e do Marco Civil da Internet, o que afrontaria o devido processo
legal, a igualdade e a livre iniciativa.

Por fim, a ASESPRO NACIONAL sustentou que a autoridade judiciária


competente para determinar a obtenção de dados de comunicação é aquela do
@stfemfoco 19
BOLETIM DE FEVEREIRO DE 202 3
Civil e Processo Civil

território onde localizado o controlador dos dados, portanto, quando situados em


território estrangeiro, as normas de cooperação jurídica internacional deveriam
ser seguidas.

O que decidiu o STF?

Por unanimidade, os ministros do STF julgaram constitucional a possibilidade de


autoridades nacionais solicitarem dados diretamente a provedores de internet
estrangeiros com sede ou representação no Brasil, independente de carta
rogatória e sem necessidade de seguir o procedimento do acordo celebrado
entre o Brasil e os Estados Unidos.

O relator do processo, ministro Gilmar Mendes, votou pela constitucionalidade


das normas previstas no MLAT e nos dispositivos dos Códigos Processuais Civil
e Penal brasileiros que tratam da cooperação jurídica internacional.
Janaína Salles Rigitano
janasalles01@gmail.com
Para ele, as autoridades brasileiras podem solicitar essas informações
285.834.298-98
diretamente às empresas localizadas no exterior que prestam serviços ou
tenham filial no Brasil dados de aplicações de provedores de internet cuja sede
de controle de dados não esteja localizada em território brasileiro, conforme
previsto no artigo 11 da Lei 12.965 (Marco Civil da Internet).

“As normas objeto da ação declaratória não consolidam os únicos meios


possíveis de obtenção de dados telemáticos por autoridades brasileiras, de
maneira que a declaração de sua constitucionalidade não resulta na
obrigatoriedade de adoção dos instrumentos nelas previstos”, afirmou o relator.

Por sua vez, o ministro Alexandre de Moraes ressaltou que o MLAT deve ser
aplicado quando for absolutamente impossível às autoridades judiciais
brasileiras a obtenção direta dos dados. Assim, sendo possível a solicitação
direta das informações com base no Marco Civil, esse deve ser o caminho a ser
adotado, tendo o MLAT e as cartas rogatórias papel complementar.

@stfemfoco 20
BOLETIM DE FEVEREIRO DE 202 3
Civil e Processo Civil

Segundo decidiu o STF, então, a legislação brasileira está em acordo com a


legislação de outros países, de forma que a existência de regra específica para
provas colhidas através do oferecimento de aplicativos na internet, não conflita
com a regra geral de cooperação internacional em outras hipóteses.

Assim, restringir a capacidade das autoridades do país de obterem diretamente


dados e comunicações de brasileiros, coletados por empresas aqui constituídas
ou que prestam serviços para o país, geraria imenso prejuízo a investigações em
andamento e a ações penais já transitadas em julgado, de forma a dificultar a
correta e eficiente apuração de crimes praticados pela internet.

IMPORTANTE! Nesse caso, Alexandre de Moraes relembrou alguns casos de


redes sociais que negaram pedidos de informações da Justiça e frisou que os
pedidos de informações não podem ser negados sob a justificativa de que a sede
dos provedores não está Janaína
no Brasil. Salles Rigitano
janasalles01@gmail.com
285.834.298-98

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