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EXMO. SR.

JUIZ FEDERAL DA ___ VARA FEDERAL DA SEÇÃO


JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL.

Assunto: Tempo de contribuição na


advocacia anterior à EC n. 20/1998.
Aproveitando automático,
independentemente de prova de
contribuições. Direito dos Procuradores
da República. Tramitação prioritária
(interesse potencial de idosos – art 71 da
Lei n. 10.741/2013).

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DA


REPÚBLICA - ANPR, sociedade civil sem fins lucrativos, devidamente
inscrita no CNPJ sob o nº 00.392.696/0001-49, sediada no SAF Sul,
Quadra 04, conjunto C, bloco B, Salas 113/114, Edifício Sede da
Procuradoria-Geral da República, Brasília – DF, CEP 70.050-900, neste ato
representada por seu Presidente, Procurador Regional da República, Sr.
José Robalinho Cavalcanti, por seus advogados subfirmados (mandado
anexo), vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., com fulcro nos
artigos 19, I, e 20, 300 e ss., do CPC/2015, propor

AÇÃO DECLARATÓRIA
(COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA)

Em face da UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito


público interno, devendo, neste ato, ser representada judicialmente pela
Advocacia-Geral da União, com sede no Setor de Autarquias Sul, Qd. 03,
Lote 5/6, Ed. Multi Brasil Corporate, Brasília – DF, CEP 70.070-030, Tel.
61 2026-9202, pelas razões de fato e direito a seguir aduzidas.

SHIS QL 08, Conjunto 05, Nº 12 – Lago Sul – Brasília/DF – CEP 71.620-255 | Tel.: 61 3248.6363
I. SÍNTESE DOS FATOS.

Os associados que concederam autorização específica


para que a Associação Nacional dos Procuradores da República - ANPR
ajuíze a presente ação (docs. anexos), exerceram, em período anterior à
Emenda Constitucional nº 20/1998 (promulgada em 15 de dezembro de
1998), advocacia privada, inclusive como estagiários e/ou solicitadores
acadêmicos.

Como é cediço, antes da citada alteração constitucional, a


legislação previdenciária se referia ao tempo de serviço para fins de
concessão de benefícios previdenciários. Bastava, portanto, a
comprovação do exercício de atividade laborativa, sem a necessidade de
verter contribuições ao sistema previdenciário.

Ademais, vale ressaltar que Lei Complementar nº 75/93,


denominada Estatuto dos membros do MPU, garante, em seu artigo 231,
§1º, o cômputo, para fins de aposentadoria, o tempo de exercício de
advocacia privada, sendo pacífico na jurisprudência brasileira, sobretudo
do col. STJ e do pretório STF, o entendimento de que é devido o cômputo
do tempo de serviço prestado como advogado, estagiário e/ou solicitador
acadêmico, antes da EC nº 20/1998, para fins de aposentadoria.

Não obstante isso, os associados foram surpreendidos


com a notícia de que o Tribunal de Contas da União – TCU, em diversos
casos, vem proferindo decisões contrárias ao aproveitamento do tempo
ficto de exercício da advocacia e também como estagiário e/ou solicitador
acadêmico, anterior à Emenda Constitucional nº 20/1998, como tempo de
serviço para fins de aposentadoria e os seus demais reflexos financeiros e
previdenciários, razão pela qual não restou alternativa à ANPR senão
ajuizar a presente demanda, visando que o Poder Judiciário garanta aos

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representados um direito que lhes é inerente, salvaguardado pela
Constituição da República Federativa do Brasil.

Vejamos.

II. DO INTERESSE JURÍDICO E DA LEGITIMIDADE ATIVA DA


AUTORA.

A Associação Nacional dos Procuradores Da República –


ANPR é entidade que, dentre as suas finalidades, tem por objetivos
institucionais velar pelo prestígio, pelos direitos, bem como resguardar os
interesses e pugnar pelo zelo às prerrogativas funcionais de mais de mil
Procuradores da República, sendo, o seu estatuto, claro ao dispor que:

Art. 3º - Constitui finalidade da Associação:

I - velar pelo prestígio, direitos e prerrogativas da classe;


II - propugnar pelos interesses de seus sócios, mediante adoção de
medidas que incentivem o bom desempenho das funções e cargos
do Ministério Público Federal;
III - colaborar com o Estado no estudo e na solução das questões
relativas ao exercício das funções atribuídas aos Procuradores da
República, bem como na definição, estruturação e disciplina da
respectiva carreira;
IV - defender seus associados, judicial e extrajudicialmente
perante autoridades públicas, sempre que desrespeitados em
seus direitos e prerrogativas funcionais;
V - realizar ou promover cursos, seminários, conferências, estudos
em geral e a publicação de trabalhos jurídicos, objetivando o
aprimoramento profissional dos membros do Ministério Público;
VI - promover o congraçamento da classe e estimular o intercâmbio
de estudos e trabalhos entre associados.

Como é cediço, o artigo 5º, XXI e LXX, da Constituição


da República, garante às Associações a prerrogativa e legitimidade para
representar em juízo os seus associados, nos seguintes termos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]

3
XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados
judicial ou extrajudicialmente;
[...]
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
(g.n.)

A esse respeito, a pretoriana jurisprudência pátria é


uníssona ao estabelecer que a representação por ente coletivo não se
limita ao mandado de segurança, sendo possível também em ações
ordinárias 1. Aliás, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 573.232/SC, em
sede de repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal fixou o
entendimento segundo o qual a atuação das associações não enseja
substituição processual, mas representação específica, consoante o
disposto no indigitado artigo 5º, inciso XXI, da CRFB.

REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º, INCISO


XXI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE. O disposto no
artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra
representação específica, não alcançando previsão genérica
do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses
dos associados. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL –
ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. As balizas subjetivas do
título judicial, formalizado em ação proposta por
associação, é definida pela representação no processo de
conhecimento, presente a autorização expressa dos
associados e a lista destes juntada à inicial.(RE 573232,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Relator(a) p/
Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
14/05/2014, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182
DIVULG 18-09-2014 PUBLIC 19-09-2014 EMENT VOL-02743-
01 PP-00001)

Por “credenciamento específico”, cabe trazer à baila


trecho do Voto do Ilustre Ministro Marco Aurélio, no caso acima
mencionado, que inaugurou a divergência, posteriormente acompanhada

1
RE 612043, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-229 DIVULG 05-10-2017 PUBLIC 06-10-201 ; AO 152, Relator(a): Min. CARLOS
VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 15/09/1999, DJ 03-03-2000 PP-00058 EMENT VOL-01981-01 PP-
00019.
4
pela maioria do pretório excelso 2, em que expressamente preconiza ser
“inconcebível que haja uma associação que, pelo estatuto, não atue em
defesa dos filiados”, definindo ao final que:
O que nos vem da Constituição Federal? Um trato diversificado,
considerado sindicato, na impetração coletiva, quando realmente
figura como substituto processual, inconfundível com a entidade
embrionária do sindicato, a associação, que também substitui os
integrantes da categoria profissional ou da categoria econômica, e as
associações propriamente ditas.
Em relação a essas, o legislador foi explícito ao exigir mais
do que a previsão de defesa dos interesses dos filiados no
estatuto, ao exigir que tenham – e isso pode decorrer de
deliberação em assembleia – autorização expressa, que diria
específica, para representar – e não substituir, propriamente dito
– os integrantes da categoria profissional. Digo que o caso é
péssimo para elucidar essa dualidade. Por quê? Porque, conforme
consta do acórdão do Tribunal Regional Federal, a ação de
conhecimento foi ajuizada pela Associação Catarinense do Ministério
Público. E o que fez, atenta ao que previsto no inciso XXI do artigo 5º
da Constituição Federal? Juntou a relação dos que seriam
beneficiários do direito questionado. Juntou, também – viabilizando,
portanto, a defesa pela parte contrária, a parte ré –, a autorização
para atuar. Prevê o estatuto autorização geral para a associação
promover a defesa, claro, porque qualquer associação geralmente
tem no estatuto essa previsão. Mas, repito, exige mais a Constituição
Federal: que haja o credenciamento específico. [...]
Indago: formado o título executivo judicial, como o foi, a
partir da integração na relação processual da associação, a
partir da relação apresentada por essa quanto aos beneficiários,
a partir da autorização explícita de alguns associados, é possível
posteriormente ter-se – e aqui penso que os recorridos pegaram
carona nesse título – a integração de outros beneficiários? A
resposta para mim é negativa. Primeiro, Presidente, porque,
quando a Associação, atendendo ao disposto na Carta, juntou as
autorizações individuais, viabilizou a defesa da União quanto àqueles
que seriam beneficiários da parcela e limitou, até mesmo, a
representação que desaguou, julgada a lide, no título executivo
judicial. Na fase subsequente de realização desse título, não se pode
incluir quem não autorizou inicialmente a Associação a agir e quem
também não foi indicado como beneficiário, sob pena de, em relação
a esses, não ter sido implementada pela ré, a União, a defesa
respectiva. [...]
Presidente, não vejo como se possa, na fase que é de realização
do título executivo judicial, alterar esse título, para incluir pessoas que
não foram inicialmente apontadas como beneficiárias na inicial da
ação de conhecimento e que não autorizaram a Associação a atuar
como exigido no artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal.[...] (g.n.)

Resta claro, portanto, que os beneficiários da sentença


que eventualmente julgue procedentes os pedidos formulados nessa

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Vencidos os Ministros Ricardo Lewandowski (Relator), Joaquim Barbosa e Cármen Lúcia.
5
demanda são os associados que concederam as autorizações específicas
para este fim, quais sejam:
BENEFICIÁRIOS

1. Adriana da Silva Fernandes


2. Ageu Florêncio Cunha
3. Alcides Martins
4. Alessander Wilckson Cabral Sales
5. Alexandre Espinosa Bravo Barbosa
6. Alexandre Halfen da Porciuncula
7. Alexandre Meireles Marques
8. Alexandre Melz Nardes
9. Alvaro Lotufo Manzano
10. Alvaro Luiz de Mattos Stipp
11. Ana Carolina Previtalli Nascimento
12. Ana Cristina Bandeira Lins
13. Ana Paula Mantovani Siqueira
14. Anelise Becker
15. Antonio Carlos de Vasconcelos Coelho Barreto Campello
16. Antonio Carlos Simões Martins Soares
17. Antonio José Donizetti Molina Daloia
18. Bianca Matal
19. Carlos Alberto Bermond Natal
20. Cícero Augusto Pujol Correa
21. Claudio Dutra Fontella
22. Claudio Gheventer
23. Cristianna Dutra Brunicelli Nacul
24. Daniele Cardoso Escobar
25. Danilo José Matos Cruz
26. Duciran Van Marsen Farena
27. Edmar Gomes Machado
28. Edmundo Antônio Dias Netto Junior
29. Eduardo Andre Lopes Pinto
30. Emerson Kalif Siqueira
31. Fernanda Teixeira Souza Domingos
32. Flávio Augusto de Andrade Strapason
33. Francisco Luiz Pitta Marinho
34. Gino Servio Malta Lobo
35. Hindenburgo Chateaubriand Pereira Diniz Filho
36. Isabel Guimarães da Camara Lima
37. Israel Gonçalves Santos Silva
38. Jaime Arnoldo Walter
39. Janice Agostinho Barreto Ascari

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40. João Akira Omoto
41. João Heliofar de Jesus Villar
42. Joaquim José de Barros Dias
43. José Adonis Callou de Araújo Sá
44. Kelson Pinheiro Lages (Assinada Manualmente)
45. Kelson Pinheiro Lages (Assinada Eletrônicamente)
46. Lilian Guilhon Dore
47. Luciana Guarnieri
48. Sônia Cristina Niche
49. Luis Roberto Gomes
50. Luiz Fernando Voss Chagas Lessa
51. Luiza Cristina Fonseca Frischeisen
52. Manoel Henrique Munhoz
53. Marcelo Antônio Ceara Serra Azul
54. Marcelo Antônio Moscogliati
55. Marcelo Mesquita Monte
56. Marcia Noll Barbosa
57. Marcio Andrade Torres
58. Marco Túlio Lustosa Caminha
59. Marcos José Gomes Correa
60. Maria Cristiana Simões Amorim Ziouva
61. Maria Cristina Manella Cordeiro
62. Mario Pimentel Albuquerque
63. Marlon Alberto Weichert
64. Maurício da Rocha Ribeiro
65. Maurício Ribeiro Manso
66. Max dos Passos Colombo
67. Moacir Mendes Sousa
68. Neide Mara Cavalcanti Cardoso de Oliveira
69. Osnir Belice
70. Osvaldo Capelari Júnior
71. Patrick Montemor Ferreira
72. Paula Bajer Fernandes
73. Paulo de Tarso Garcia Astolphi
74. Paulo Gilberto Gogo Leivas
75. Paulo Thadeu Gomes da Silva
76. Paulo Vasconcelos Jacobina
77. Priscila Costa Schreiner Roder
78. Ricardo Nakahira
79. Robério Nunes dos Anjos Filho
80. Rogério de Paiva Navarro
81. Ronaldo Sérgio Chaves Fernandes
82. Rudson Coutinho da Silva
83. Sidney Pessoa Madruga da Silva

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84. Valquíria Oliveira Quixada Nunes
85. Vitor Hugo Gomes da Cunha
86. Wagner Natal Batista
87. Wanderley Sanan Dantas
88. Wellington Cabral Saraiva
89. Wellington Luis de Sousa Bonfim

Ante o exposto, havendo autorização expressa dos


associados em destaque para o ajuizamento da presente demanda, resta
incontroversa a legitimação da ANPR para atuar em nome dos
representados.

Como se analisará a seguir, não obstante o direito


pretendido nesta demanda seja pacífico e cristalino, os associados da
demandante vêm experimentando prejuízos em razão da jurisprudência
hesitante do Tribunal de Contas da União, vem proferindo decisões
contrárias ao aproveitamento do tempo ficto de exercício da advocacia e
também como estagiário e/ou solicitador acadêmico, anterior à Emenda
Constitucional nº 20/1998 (promulgada em 15 de dezembro de 1998),
como tempo de serviço para fins de aposentadoria e, caso preenchidos os
requisitos constitucionais (art. 40, §19, da CRFB), garantir o direito ao
recebimento de eventual abono de permanência, tudo apenas com base
em certidão expedida pela Ordem dos Advogados do Brasil e
independentemente de comprovação do recolhimento das contribuições
previdenciárias do período, a despeito de outros julgados que chancelam
esse aproveitamento, o que certamente não se pode admitir.

III. ARGUMENTAÇÃO

Inicialmente, apenas no intuito de demonstrar e


individualizar situações concretas em que o Tribunal de Contas da União
– que possui entendimento contrário ao aproveitamento do tempo ficto
de exercício da advocacia e também como estagiário e/ou solicitador

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acadêmico, anterior à Emenda Constitucional nº 20/1998 (promulgada em
15 de dezembro de 1998), como tempo de serviço para fins de
aposentadoria e, caso preenchidos os requisitos constitucionais (art. 40,
§19, da CRFB), garantir o direito ao recebimento de eventual abono de
permanência, tudo apenas com base em certidão expedida pela Ordem
dos Advogados do Brasil e independentemente de comprovação do
recolhimento das contribuições previdenciárias do período, a despeito de
inúmeros julgados, inclusive do STJ, que chancelam o aproveitamento –
tem ocasionado prejuízos ao patrimônio jurídico a Procuradores da
República e magistrados, ao indeferir o cômputo pretendido.

No caso do TC 028.440/2012-9 (docs. anexos), por


exemplo, os ex-membros do MPU Antônio Carlos Simões Martins Soares,
Fernando Henrique Oliveira de Macedo, José Manoel Viana de Castro
Júnior e Raimundo Cândido Júnior tiveram indeferidos os pedidos de
contagem do período de exercício da advocacia e de solicitador
acadêmico, anterior à EC 20/98, para fins de aposentadoria, in verbis:

GRUPO II – CLASSE V – SEGUNDA CÂMARA


TC 028.440/2012-9
Natureza: Aposentadoria.
Unidade: Ministério Público Federal.

SUMÁRIO: APOSENTADORIA. AVERBAÇÃO DE TEMPO DE


SERVIÇO PRESTADO NA CONDIÇÃO DE SOLICITADOR
ACADÊMICO. AVERBAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO
PRESTADO COMO ADVOGADO. PAGAMENTO DE
QUINTOS CUMULATIVAMENTE COM O VALOR DO
SUBSÍDIO ÚNICO. ILEGALIDADE DE DOIS ATOS.
NEGATIVA DE REGISTRO. SOBRESTAMENTO DOS
OUTROS DOIS.
Data da Sessão: 17/9/2013 – Ordinária.

Ainda exemplificando, em outro caso, TC 018.005/2014-


4 (docs. anexos), o ex-membro do MPU Antônio Augusto Cesar também
teve o seu pleito – idêntico – indeferido, em acórdão assim ementado:

GRUPO I – CLASSE V – 2ª Câmara


TC 018.005/2014-4
Natureza(s): Aposentadoria
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Órgão/Entidade: Ministério Público Federal

SUMÁRIO: APOSENTADORIA. MEMBRO DO MINISTÉRIO


PÚBLICO FEDERAL. INGRESSO DO ATO HÁ MENOS DE
CINCO ANOS. DESNECESSIDADE DE OITIVA DO
INTERESSADO, CONFORME ENTENDIMENTO FIRMADO
NO ACÓRDÃO 587/2011-TCU-PLENÁRIO. AVERBAÇÕES
IRREGULARES DE TEMPO DE SERVIÇO. NÃO
COMPROVAÇÃO DE RECOLHIMENTO DAS
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DEVIDAS.
ILEGALIDADE DO ATO. DETERMINAÇÃO AO ÓRGÃO PARA
QUE ORIENTE O INTERESSADO SOBRE A POSSIBILIDADE
DE EMISSÃO DE NOVO ATO, EM CASO DE
COMPROVAÇÃO DO RECOLHIMENTO DAS
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. NECESSIDADE DE
RETORNO À ATIVIDADE PARA COMPLETAR OS
REQUISITOS LEGAIS PARA A APOSENTADORIA, EM
CASO DE NÃO RECOLHIMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES
PREVIDENCIÁRIAS. CIÊNCIA AOS INTERESSADOS.
Data da Sessão: 10/12/2014 – Extraordinária

Nos casos acima exemplificados, os ex-membros do MPU


não lograram aproveitar em sua integralidade, para fins previdenciários
e/ou econômicos, o tempo de atividade advocatícia, estágio e/ou de
solicitador acadêmico, anterior à EC n. 20/1998, por suposta ausência ou
insuficiência de provas documentais dos recolhimentos previdenciários à
época. Todos eles, portanto, amargam ou amargaram prejuízos concretos,
que certamente não podem ser experimentados pelos associados
representados, sobretudo porque o posicionamento adotado pelo TCU
nestes casos está em inteira contradição com a pacífica jurisprudência dos
Tribunais pátrios sobre o tema.

Aliás, há que se ressaltar que, infelizmente, o próprio


TCU se demonstra oscilante e inconstante em seu posicionamento. Isso
porque, a despeito de a maioria dos julgados da Corte de Contas afastar
os pleitos de cômputo nos termos já descritos, existem decisões plenárias
que reconhecem a procedência de pleitos idênticos em tudo e por tudo,
como se colhe do caso a seguir transcrito:
Em face da identidade da situação na esfera federal, regulada
pelas leis acima mencionadas, e prestigiando a orientação
emanada do Excelso Pretório, esta Corte reconheceu aos

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magistrados federais, exceto aos provenientes da
representação classista do trabalho, o direito de contarem, para
efeitos de aposentadoria e disponibilidade, o tempo de serviço
exercido na advocacia, incluída nesta atividade a função de
solicitador acadêmico, sendo o meio idôneo para a
comprovação desse tempo a certidão expedida pela OAB"
(TCU, Decisões Plenárias nºs 04/94, Ata nº 05; 514/94, Ata nº
38; e 571/96, Ata nº 36; e da 1ª Câmara nº 233/98, Ata nº 24).

Ao contrário do entendimento que o TCU vem adotando


em diversos casos relacionados à membros do MPU e de magistrados, o
Poder Judiciário vem acolhendo pretensões absolutamente
idênticas à presente. Senão vejamos.

Decerto, o tempo de serviço exercido pelos associados –


Procuradores da República –, na condição de advogados privados, deve
ser computado para fins de concessão de aposentadoria pelo regime
próprio de previdência social, ainda que não tenha havido recolhimento de
contribuições previdenciárias no período anterior à referida emenda
constitucional, em respeito ao direito adquirido.

Em suma, a controvérsia a ser dirimida consiste em


saber se o período em que os associados da autora exerceram advocacia
privada, inclusive como estagiários e/ou solicitadores acadêmicos, antes
da Emenda Constitucional nº 20/1998 (que eliminou o tempo de serviço e
criou em substituição o tempo de contribuição, para fins de concessão de
benefício previdenciário), deve ou não vir acompanhado de prova do
pagamento das contribuições previdenciárias.

Como é cediço, antes da citada alteração constitucional,


a legislação previdenciária se referia ao tempo de serviço para fins de
concessão de benefícios previdenciários. Bastava, portanto, a
comprovação do exercício de atividade laborativa, sem a necessidade de
verter contribuições ao sistema previdenciário. Após a aludida emenda,
considerada a primeira reforma da previdência social após a Constituição
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de 1988, extinguiu-se o tempo de serviço e criou-se o tempo de
contribuição, que leva em conta apenas as contribuições previdenciárias
efetivamente pagas 3.

Deriva do exposto, pois, que o serviço prestado pelos


associados da parte autora, antes da EC nº 20/98, na qualidade de
advogados privados, inclusive como estagiários e/ou solicitadores
acadêmicos, deve ser considerado para fins de concessão de benefício
previdenciário, ainda que não tenham vertido contribuições ao sistema
previdenciário, tendo por base a segurança jurídica e o direito adquirido.

Note-se que não se trata de defender a “aquisição


definitiva” de um regime jurídico qualquer, contrariando a assentada
jurisprudência do STF segundo a qual não há direito adquirido a regimes
jurídicos. Bem ao contrário, trata-se, nos termos do artigo 5°, XXXVI, da
CRFB, de (a) preservar o ato jurídico perfeito, para aqueles associados
que já obtiveram preteritamente a averbação administrativa do seu tempo
de serviço na advocacia, inclusive como estagiários e/ou solicitador
acadêmico; e/ou (b) salvaguardar o direito adquirido à contagem do
tempo de serviço na advocacia, inclusive como estagiários e/ou solicitador
acadêmico, independentemente da prova das contribuições, porque nesse
tempo incorporou-se – e não o “regime” – ao patrimônio jurídico dos
substituídos, de modo indelével e irretratável.

Tanto assim que o artigo 40, § 10 da Constituição


Federal, acrescido pela mencionada EC 20/98, dispõe, expressamente,
que “A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo
de contribuição fictício”.

3
Art. 4º, da EC 20/98: Art. 4º - Observado o disposto no art. 40, § 10, da Constituição Federal, o tempo de
serviço considerado pela legislação vigente para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a
matéria, será contado como tempo de contribuição.
12
Há que se destacar que, nesse sentido, a Lei
Complementar nº 75/93, denominada Estatuto dos membros do MPU,
estabelece em seu artigo 231, §1º, que:

Art. 231. O membro do Ministério Público da União será aposentado,


compulsoriamente, por invalidez ou aos setenta anos de idade, e
facultativamente aos trinta anos de serviço, após cinco anos de
exercício efetivo na carreira.
§ 1º Será contado como tempo de serviço para
aposentadoria, não cumulativamente, até o limite de quinze
anos, o tempo de exercício da advocacia. (g.n.)

Como se lê, o próprio regramento da carreira do MPU


garante o cômputo, para fins de aposentadoria, o tempo de exercício de
advocacia privada. Por óbvio a norma não impõe distinção entre o período
exercido antes da EC nº 20 e depois da modificação constitucional, e nem
o poderia, em razão do direito adquirido.

Portanto, a norma aplicável, de forma indubitável e


vinculante, garante aos membros do MPU a possibilidade da averbação do
tempo de advocacia e, considerando o texto constitucional anterior a
1998, independentemente da comprovação da contribuição previdenciária.

A própria Emenda Constitucional 20/98 cuidou de


estabelecer exceções, de forma a resguardar eventuais direitos
adquiridos, admitindo a contagem de tempo recíproca (artigo 201, § 9º,
da CF) para efeito de aposentadoria, dispondo, inclusive, em seu Artigo 4º
que “Observado o disposto no art. 40, § 10, da Constituição Federal, o
tempo de serviço considerado pela legislação vigente para efeito de
aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado
como tempo de contribuição”.

Analisando o modo de interpretação/aplicação do art. 4°


da Emenda Constitucional 20/1998, ponto central para o deslinde da
questão, o STF reconheceu a possibilidade de que o tempo a ela

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anterior seja computado como tempo de contribuição, ou seja,
reconhece a possibilidade de contagem de tempo ficto relativo a
período anterior à emenda. Observa-se que o caso a seguir destacado
refere-se exatamente a um Procurador, aplicando-se, portanto, o mesmo
raciocínio ao caso vertente:
1. Agravo regimental em agravo de instrumento. 2. Direito
Administrativo. 3. Servidor público civil. 4. Contagem do tempo de
serviço como advogado e estagiário para fins de aposentadoria e
disponibilidade no cargo de Procurador Municipal (Lei 10.182/86).
5. Regra de transição do art. 4º da EC 20/98. Possibilidade.
Admissão de que o tempo de serviço considerado pela
legislação vigente para efeito de aposentadoria, cumprido até que
a lei discipline a matéria, seja contado como tempo de contribuição. 6.
Discussão acerca da necessidade de prévia averbação do período,
por se tratar de suposta condição suspensiva para aquisição do
direito. Inviabilidade. Necessidade de análise de legislação
infraconstitucional, providência vedada no âmbito do recurso
extraordinário. 7. Agravo regimental a que se nega seguimento.
(AI 727410 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 20/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-066
DIVULG 30-03-2012 PUBLIC 02-04-2012) (g.n.)

Aliás, tal entendimento foi recentemente corroborado


pela Suprema Corte, conforme destaca-se do recentíssimo aresto a seguir
transcrito:
Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Servidor
público municipal. Averbação do tempo de serviço de advocacia
anterior à EC nº 20/98. Possibilidade. Ofensa a direito local.
Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Precedentes.
1. O Supremo Tribunal Federal, no exame do AI nº 727.410/SP,
concluiu pela possibilidade da contagem do tempo de serviço
prestado como advogado e estagiário, para fins de
aposentadoria e disponibilidade no cargo de Procurador Municipal
(Lei 10.182/86), haja vista que “o art. 4º da Emenda Constitucional
20/98, ao estabelecer regra de transição, admite que o tempo de
serviço considerado pela legislação vigente para efeito de
aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, seja
contado como tempo de contribuição”.
2. A questão relativa ao preenchimento dos requisitos para a
aquisição do direito demandaria a análise da legislação
infraconstitucional e o reexame dosfatos e provas dos autos.
Incidência das Súmulas nºs 636, 280 e 279/STF.
3. Agravo regimental não provido (STF, AgR no ARE890.269/SP, Rel.
Ministro DIAS TOFFOLI, SEGUNDA TURMA, Dje de 08/10/2015).

14
Em idêntico sentido, mas de maneira específica no que
diz respeito aos Magistrados, o col. STJ igualmente corroborou o
entendimento firmado pelo pretório excelso, dispondo que:

PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO. MAGISTRADA


FEDERAL. ATIVIDADE DE SOLICITADORA ACADÊMICA.
CONTRIBUIÇÃO. RECOLHIMENTO. DESNECESSIDADE. EMENDA
CONSTITUCIONAL 20/98.
- Admite-se o cômputo do tempo de serviço em favor de
magistrados que exerceram antes da investidura a advocacia ou
atuaram como solicitadores sem a obrigatoriedade do
recolhimento das contribuições exigidas pelo INSS para fins de
averbação do referido tempo laboral.
- Com o advento da Emenda Constitucional nº 20 de 1998, o
sistema previdenciário tornou obrigatório o recolhimento das
contribuições para fins de contagem de tempo de serviço,
resguardando, entretanto, as situações já consolidadas.
- As alterações na Lei Previdenciária não podem retroagir para
alcançar fatos anteriores a ela, em face do princípio do tempus
regit actum. - Recurso Especial improvido.
(STJ - REsp: 627472 RS 2003/0236489-3, Relator: Ministro PAULO
MEDINA, Data de Julgamento: 26/05/2004, T6 - SEXTA TURMA,
Data de Publicação: DJ 01/07/2004 p. 282) (g.n.)

Apenas para ilustrar a pacificidade do tema, são


inúmeros os casos apreciados pelo col. STJ em que, diferentemente do
que vem aduzindo o eg. TCU, há expresso reconhecimento do direito de
cômputo do período, anterior à EC nº 20/98, de exercício da advocacia
privada, inclusive como estagiários e/ou solicitadores acadêmicos, para
fins de concessão de aposentadoria e demais benefícios previdenciários
decorrentes, como se lê in verbis:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ANÁLISE DE


DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE NA VIA
DO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 535 DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA.
CERTIDÃO DE TEMPO DE SERVIÇO. MAGISTRADO.
SOLICITADOR ACADÊMICO. POSSIBILIDADE. CONTRIBUIÇÃO.
CÁLCULO DO MONTANTE. LEGISLAÇÃO VIGENTE À ÉPOCA DO
FATO GERADOR. CORRETA A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA NE
REFORMATIO IN PEJUS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO.
1. A via especial, destinada à uniformização da interpretação da
legislação infraconstitucional, não se presta à análise de possível
violação a dispositivos da Constituição da República.

15
2. O acórdão hostilizado solucionou a quaestio juris de maneira clara
e coerente, apresentando todas as razões que firmaram o seu
convencimento.
3. Para que seja apurado o montante devido a título de indenização
quanto às contribuições devidas à Previdência Social, deve ser
considerada a legislação vigente no momento em que ocorreram os
respectivos fatos geradores.
4. De forma a evitar o julgamento ultra petita e em atenção ao
princípio da ne reformatio in pejus, é de ser mantida incólume a
sentença que que resolveu a questão nos exatos termos e balizas
contidos na exordial.
5. A demonstração do dissídio jurisprudencial não se contenta com
meras transcrições de ementas, sendo absolutamente indispensável
o cotejo analítico de sorte a demonstrar a devida similitude fática
entre os julgados.
6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão,
desprovido. (STJ, REsp 654.307/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, DJe de 08/02/2010). (g.n.)

***

RECURSO ORDINÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA -


ADMINISTRATIVO - PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE
SERVIÇO - MAGISTRADO ESTADUAL – ESTADO DE
MINAS GERAIS - ATIVIDADE DE SOLICITADOR
ACADÊMICO E ADVOCACIA - CONTRIBUIÇÃO -
RECOLHIMENTO - DESNECESSIDADE - RECURSO
PROVIDO.
1. Admite-se o cômputo do tempo de serviço em favor de
magistrados que exerceram antes da investidura a advocacia ou
atuaram como solicitadores, sem a obrigatoriedade do
recolhimento das contribuições exigidas pelo INSS para fins de
averbação do referido tempo laboral. Precedentes. 2. Com o
advento da Emenda Constitucional nº 20 de 1998, o sistema
previdenciário tornou obrigatório o recolhimento das
contribuições para fins de contagem de tempo de serviço,
resguardando, entretanto, as situações já consolidadas. 3. As
alterações na Lei Previdenciária não podem retroagir para
alcançar fatos anteriores a ela, em face do princípio do tempus
regit actum. 4. Recurso provido. RECURSO EM MANDADO
DE SEGURANÇA Nº 17.683 - MG, (2003/0238107-2), Rel.
Min. Paulo Medina, publ. DJ 17/05/2005).

***

PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO.


MAGISTRADA FEDERAL. ATIVIDADE DE
SOLICITADORA ACADÊMICA. CONTRIBUIÇÃO.
RECOLHIMENTO. DESNECESSIDADE. EMENDA
CONSTITUCIONAL 20/98. - Admite-se o cômputo do tempo
de serviço em favor de magistrados que exerceram antes da
16
investidura a advocacia ou atuaram como solicitadores sem a
obrigatoriedade do recolhimento das contribuições exigidas pelo
INSS para fins de averbação do referido tempo laboral. - Com o
advento da Emenda Constitucional nº 20 de 1998, o sistema
previdenciário tornou obrigatório o recolhimento das
contribuições para fins de contagem de tempo de serviço,
resguardando, entretanto, as situações já consolidadas. - As
alterações na Lei Previdenciária não podem retroagir para
alcançar fatos anteriores a ela, em face do princípio do tempus
regit actum. - Recurso Especial improvido. (REsp 627.472, 6ª
Turma, Rel. Min. Paulo Medina, DJ 01.07.2004, p. 282).

Por fim, no mesmo sentido, vale destacar o seguinte


trecho a da decisão monocrática proferida nos autos que do RMS
17.683/MG, através da qual o eminente Relator do caso no col. STJ,
Ministro Paulo Medina, é taxativo ao asseverar que:
Com o advento da Emenda Constitucional nº 20 de 1998, o sistema
previdenciário tornou obrigatório o recolhimento das contribuições
para fins de contagem de tempo de serviço, resguardando, entretanto,
as situações já consolidadas.
In casu, verifica-se que a recorrida faz jus ao direito ao cômputo
do tempo de serviço na advocacia ou na atividade de solicitador
acadêmico, posto que desempenhou as referidas atividades no
período de 09.04.80 a 08.09.80 e de 02.08.81 a 31.12.92, sem a
exigência de qualquer contraprestação pecuniária, podendo o tempo
de advocacia ser perfeitamente comprovado mediante a prova da
inscrição na OAB e certidões emitidas por cartórios judiciais.
Urge, ainda, ressaltar que, à época em que foi exercida a referida
atividade, não era obrigatória a filiação à Previdência Social,
devendo aplicar-se a legislação vigente naquele período.
Semelhante questão fora julgada por esta Corte, quando o
renomado tributarista Sacha Calmon Navarro Coelho, à época
também Juiz Federal, requereu a averbação de tempo de serviço
prestado como estagiário em escritório de advocacia, sem
recolhimento das devidas contribuições.
[...]
Por fim, urge dizer que, com o advento da Emenda Constitucional
nº 20/98, o tempo de serviço prestado em qualquer atividade
profissional só poderá ser computado se acompanhado das
respectivas contribuições, em face da introdução explícita dessa nova
sistemática no campo previdenciário nacional. A partir desse marco,
então, o tempo de contribuição deverá ser comprovado mediante
certidão do INSS, órgão competente para atestá-lo. Não obstante,
para as situações constituídas antes da aludida Emenda, é de se
admitir o cômputo do tempo de advocacia, inclusive o prestado na
condição de solicitador acadêmico, para efeitos de aposentadoria e
disponibilidade, mediante a apresentação da certidão da OAB, nos
moldes indicados nas sua normas estatutárias e na jurisprudência
17
consolidada desta Casa, por força, inclusive, do princípio da
isonomia, já que o Tribunal o vem admitindo para os magistrados
federais. [...]
STJ, RMS 17.683/MG, Rel. Ministro PAULO MEDINA, DJU de
17/05/2005.

Os precedentes acima colacionados demonstram a


pacificidade do tema perante os tribunais pátrios, especialmente no
tocante a magistrados e Procuradores, que já tiveram reconhecidos o
direito de cômputo do período do exercício da advocacia privada, inclusive
como estagiários e/ou solicitadores acadêmicos, para fins de
aposentadoria e demais benefícios previdenciários.

É relevante destacar que a própria Advocacia-Geral da


União emitiu parecer endossando a tese aqui exposta. Daí que, a rigor, a
União sequer deveria contestar as pretensões vazadas nesta petição inicial
(conquanto seja certo que, por dever de ofício, seu representante o fará).
É o que se observa do Parecer lavrado nos autos do processo nº
08001.005671/2009-13, do Ministério da Justiça (doc. anexo):
[...]
12. Observe-se que a possibilidade de cômputo deste período
ficto ampara-se na própria redação do artigo 4º da Emenda nº 20.
Para o Tribunal de Contas da União no citado precedente, Decisão nº
748, de 2000, “a data-limite para a aquisição do direito, ante a nova
redação conferida ao art. 40, § 10, da Constituição Federal, deve ser
a de 16/12/98. Demais tempos fictos também poderão ser utilizados
para efeito de aposentadoria, desde que tenham sido incorporados ao
patrimônio do servidor até 16/12/98”. (g. n.)
13. Diversamente do entendimento consignado pela SAJ, o direito
de averbação do período de atividade como solicitador
acadêmico, e sua conseqüente incorporação ao patrimônio do
requerente, independe do fato de que, em 1998, ano do advento
da Emenda Constitucional, o desembargador ainda não integrava
o Tribunal, ou ainda independe do fato do requerente não haver
averbado esse tempo ou ter preenchido o direito à
aposentadoria.
[...]
22. Neste diapasão é que entendemos que o posicionamento até
então adotado pela Administração Pública de permitir o cômputo
do tempo de serviço de solicitador acadêmico, prestado pelos
magistrados ocupantes dos lugares destinados a advogados,
mediante a apresentação de certidão da OAB, anteriormente à
edição da Emenda Constitucional nº 20, de 1998, está em perfeita
sintonia com a moderna doutrina do Direito Administrativo que
deixa de dar ênfase excessiva ao princípio da legalidade para

18
prestigiar a atuação positiva dos princípios, especialmente o da
segurança jurídica.
23. Segundo essa doutrina “os princípios surgem como meio de
assegurar ao operador do direito a interpretação das normas de modo
a lhes preservar o sentido mais consentâneo com a proteção máxima
do interesse público primário e dos direitos fundamentais, porém o
fato de se mostrar necessária uma atividade hermenêutica de maior
complexidade, que exige integração de valores e fundamentos
plúrimos diante de realidades diversas não inviabiliza que se atribuam
efeitos mediatos às normas identificadas no ordenamento como
regentes do caso concreto”.
24. No caso em exame as manifestações administrativas anteriores,
impugnadas pela SAJ, favoráveis ao reconhecimento do direito à
aposentadoria do magistrado, mediante o cômputo de tempo de
serviço de solicitador acadêmico, admitido pela legislação anterior à
edição da Emenda Constitucional nº 20, de 1998 fundamentaram-se
nos princípios da segurança jurídica e da isonomia, dentre outros, e
não se dissociaram do contexto constitucional, antes pelo contrário,
buscaram amparo em posições doutrinárias e decisões pretorianas
pertinentes, devendo por esta razão serem, no entender desta
CONJUR/MP serem mantidas pela Consultoria-Geral da União.
[...]
(Processo nº 08001.005671/2009-13, do Ministério da Justiça –g.n.).

Por fim, cumpre à autora informar que ao julgar


demanda ajuizada pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho – ANAMATRA e pela Associação dos Juízes Federais do Brasil –
AJUFE (processo nº 0003825-44.2015.4.01.3400), o d. Juízo da 6ª
Vara Federal do Distrito Federal julgou procedentes os pedidos
para reconhecer aos respectivos associados para determinar à
UNIÃO que “determinar à Ré que, ao examinar os pedidos de concessão
de aposentadoria dos associados das Autoras, compute o tempo de
advocacia anterior à Emenda Constitucional nº 20/1998 apenas com base
em certidão expedida pela Ordem dos Advogados do Brasil,
independentemente de prova de pagamento das contribuições
previdenciárias, sem prejuízo da análise dos demais requisitos legais” e
para “condenar a Ré ao pagamento das diferenças remuneratórias daí
advindas aos associados da Autora que se enquadrem em tal situação”
(docs. anexos).

19
Neste caso, após o deferimento da liminar pretendida
pelas associações em questão, a União interpôs agravo de instrumento, ao
qual o d. Desembargador Francisco de Assis Betti, em 7 de junho de
2017, negou a antecipação dos efeitos da tutela recursal (docs.
anexos), asseverando que:
Correta a decisão agravada. A alteração no regime previdenciário
concernente à proibição da contagem de tempo de contribuição
fictício, introduzido no § 10, do art. 40, da Constituição Federal,
não pode alcançar fatos anteriores à sua vigência, em face do
princípio tempus regit actum. Assim, o serviço prestado pelos
associados da parte autora antes da EC nº 20/98 na qualidade de
advogados privados deve ser considerado para fins de
concessão de benefício previdenciário de aposentadoria,
independente do recolhimento das contribuições previdenciárias
ao regime de previdência a que estavam vinculados. Não se pode
desconsiderar esse direito, já incorporado ao seus respectivos
patrimônios jurídicos, nos termos da legislação vigente à época da
prestação de serviço (RE 258327, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda
Turma). Trata-se de entendimento que, além de respeitar o princípio
da segurança jurídica, que norteia, inclusive, as relações do Direito
Administrativo, coopera para a efetivação do princípio do não
retrocesso social ou da progressividade, insculpido na Constituição
Federal (art. 5º, § 2º, e 7º, caput). [...] (g.n.)

IV. DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

Como se sabe, a Lei nº 9.494/97 disciplina a aplicação


da tutela antecipada contra a Fazenda Pública. A referida norma, no
entanto, não impede a concessão de tutela antecipada no caso em apreço,
uma vez não se tratar de concessão de aumento ou vantagens, mas,
simplesmente, de apreciação/aferição de condições mínimas para
aposentadoria. É igualmente notório que o STF já decidiu reiteradas vezes
que as vedações reputadas constitucionais pela ADC nº 04 devem ser
interpretadas de maneira restritiva 4.

Dessa forma, inexistindo impedimentos legais para a


concessão da antecipação dos efeitos da tutela, resta à demandante
demonstrar a presença dos requisitos que autorizam a medida.

4
Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 4/DF, Relator : Min. Sydney Sanches, Redator do Acórdão :
Min. Celso de Mello, STF, Plenário, Julgado em 01/10/2008.
20
O novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015)
estabelece como requisitos ensejadores da concessão liminar de tutela de
urgência: a) a existência de elementos que evidenciem a probabilidade do
direito alegado (fumus boni iuris); e b) o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo (periculum in mora).

No caso vertente, diante de toda argumentação aduzida no


item antecedente dessa inicial e da farta prova documental, impossível não
reconhecer, para fins de concessão de medida emergencial, a presença da
relevância do fundamento ou, como comumente costumou-se chamar, do
fumus boni iuris.

Apenas no intuito de favorecer a brevidade que se


espera – e atualmente mais do que nunca – das postulações em juízo, a
autora se reporta ao citado item, tendo, pois, como demonstrada a
plausibilidade do seu direito à concessão de tutela de urgência, com vistas
a determinar que a União, em relação aos associados abrangidos na
presente demanda, compute o período de exercício da advocacia, e
também como estagiário e/ou solicitador acadêmico, anterior à Emenda
Constitucional nº 20/1998 (promulgada em 15 de dezembro de 1998),
como tempo de serviço para fins de aposentadoria, independentemente de
prova de pagamento das contribuições previdenciárias, sem prejuízo da
análise dos requisitos legais necessários à concessão das aposentadorias
requeridas, e, caso preenchidos os requisitos constitucionais (art. 40,
§19, da CRFB), garantir o direito ao recebimento de eventual abono de
permanência, tudo apenas com base em certidão expedida pela Ordem
dos Advogados do Brasil.

Por outro lado, quanto ao perigo de dano ou risco ao


resultado útil do processo, o chamado periculum in mora, também é
inquestionável a sua existência no caso sob exame.

21
O impedimento da aposentadoria ou a redução do tempo
de serviço nela computado traz evidente prejuízo para o planejamento dos
interessados, que, na maioria das vezes, já contam com o tempo que
vinha sendo aceito para tomar decisões relativas a toda a sua vida (por
excelência, a aposentação; e, além dela, vantagens econômicas típicas,
como o abono de permanência – artigo 40, §19, da CRFB).

Ressalte-se, também, que a espera pela decisão final


certamente torna sem objeto a demanda, já que o tempo considerado
faltante pelo entendimento ora impugnado já teria sido cumprido,
situação totalmente irreversível e que torna imprestável o
pronunciamento jurisdicional.

Por outro lado, na remota hipótese de improcedência do


pedido, a Administração poderá utilizar a sistemática legal dos descontas
em folha, ou, em um raciocínio absurdo, determinar o retorno dos
Procuradores à atividade, ou ainda recalcular os proventos. Nada de
irreversível, portanto, subsiste.

Assim, em razão da possibilidade de o Poder Público vir


a ser integralmente ressarcido em caso de final improcedência do pedido,
e, sob outro prisma, em face das prementes necessidades dos
Procuradores da República representados nesta demanda, em geral com
idade mais avançada, necessitando do repouso e da tranquilidade
financeira que só o fim da carreira com proventos conformes, no tempo
devido, pode proporcionar -, emerge imperativa a outorga da antecipação
dos efeitos da tutela, “in limine litis” e “inaudita altera parte”.

V. DOS PEDIDOS

22
Forte nessas razões, a Associação Nacional dos
Procuradores da República - ANPR requer:
a) Seja concedida a antecipação dos efeitos da tutela “inaudita
altera parte” e “in limine litis”, para determinar que a União, em
relação aos associados abrangidos na presente demanda, compute o
período de exercício da advocacia, e também como de estagiário
e/ou solicitador acadêmico, anterior à Emenda Constitucional nº
20/1998 (promulgada em 15 de dezembro de 1998), como tempo
de serviço para fins de aposentadoria, independentemente de prova
de pagamento das contribuições previdenciárias, sem prejuízo da
análise dos requisitos legais necessários à concessão das
aposentadorias requeridas, e, caso preenchidos os requisitos
constitucionais (art. 40, §19, da CRFB), garantir o direito ao
recebimento de eventual abono de permanência, tudo apenas com
base em certidão expedida pela Ordem dos Advogados do Brasil;

b) Que a UNIÃO FEDERAL seja devidamente citada, para que possa, no


prazo legal, apresentar suas razões de defesa, sob pena de
confissão quanto a matéria de fato e consequente aplicação dos
efeitos da revelia;

c) No mérito, que a presente ação seja julgada integralmente


procedente para declarar definitivamente a compute o período de
exercício da advocacia, e também como de estagiário e/ou
solicitador acadêmico, anterior à Emenda Constitucional nº 20/1998
(promulgada em 15 de dezembro de 1998), como tempo de serviço
para fins de aposentadoria, independentemente de prova de
pagamento das contribuições previdenciárias, sem prejuízo da
análise dos requisitos legais necessários à concessão das
aposentadorias requeridas, e, caso preenchidos os requisitos

23
constitucionais (art. 40, §19, da CRFB), garantir o direito ao
recebimento de eventual abono de permanência e/ou de proventos
de aposentadoria que a negativa da concessão oportuna da
aposentação venha a ter minorado em detrimento dos associados,
bem como todos os efeitos previdenciários e econômicos
decorrentes daquele aproveitamento, tudo apenas com base em
certidão expedida pela Ordem dos Advogados do Brasil;

d) Em razão da procedência dos pedidos, que a União seja condenada


a ressarcir as despesas processuais (artigo 82, § 2º, NCPC) e a
pagar honorários advocatícios de sucumbência, nos termos do
artigo 85, § 8º, do CPC/2015.

Por fim, a demandante protesta provar o alegado por


todos os meios de prova admitidos em direito, em especial pela prova
documental, incluindo toda a farta documentação que acompanha a
presente exordial, cujo teor é pujante a demonstrar o direito invocado.

Nos termos do artigo 319, VII, do NCPC, os


demandantes optam pela não realização de audiência de conciliação ou de
mediação.

Atribui-se à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais), em


razão de não haver proveito econômico imediatamente mensurável (art.
291, CPC/2015).
P. Deferimento.
Brasília – DF, 19 de dezembro de 2017.

André Fonseca Roller Fernando Torreão de Carvalho


OAB/DF 20.742 OAB/DF 20.800

Felipe de Oliveira Mesquita


OAB/DF 34.673

24

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