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o gUE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL?


UMA NOVA PROPOSTA DE ATUAÇÃO*
Dulce Helena Perna Soares Lucchiari

O que é orientação profissional

A escolha de uma profissão é uma necessidade. A cada dia que passa


vemos queos jovens têm maior dificuldade para fazer suas opçoes. Um
universo de cursos e novas especializações tem surgido. A tecnologia
está presente em todas as áreas, e o fascinio por conhecer coisas novaS

i tomando conta do jovem.


O momento da escolha de uma profissão coincide com a fase do
desenvolvimento na qual o jovem está se descobrindo novamente. Eo
nascimento existencial, segundo o existencialismo. E quando ojovem
está definindo sua identidade: quem ele quer ser e quem não quer ser.
Eo momento em queo jovem está buscando conhecer-se melhor, seus
gostos, interesses e motivações. E comum os jovens dizerem: "Eu não
"Eu gosto de
sei o que faço, pois não gosto de nada em especial"; ou

tudo, pode?"
Nessa fase começam os primeiros confrontos com a
a aparecer
família. As expectativas e desejos desta vão aparecendo mais clara
mente, e o jovem fica confuso, até diferenciá-los dos seus próprios.
Outros valores vivenciados em sociedade surgem como funda-

mentais para o adolescente, como a preocupação com a natureza, com


a ecologia, a humanidade (a fome, a pobreza), a política.

EPERGS Encontro de Psicólogos Escolares do Rio


*Este trabalho foi apresentado no V
- -

do Sul- Porto Alegre, 1983.


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a pergunta a ser feita é: de vida que vai se realizando. Nossa vida se define pelo futuro que
Em meio a esse mundo de descobertas,
elc ainda consegue escolher?". queremos alcançar.
"Como, apesar de tudo,
faz a escolha possível no É fundamental, no processo de escolha, ser trabalhada a questão
Eoadolescenle consegue escolher. Ele Para
ter muita consciencia das influencias que sofre e, da integração do tempo. o jovem definir o que quer vir a ser é
momento. Sem a ele quem foi, quem ée quem será.
informações suficientes sobre a profissão que
preciso estar claro
principalmente, sem ter O momento da escolha é quando a gente pode olhar para trás e
eslá escolhendo. nara a frente ao mesmo tempo decidindo o caminho a seguir." (Soares,
vestibulares de universi-
Analisando alguns relatórios de exames 1988.)
e a UFSC, constata-se que 25 a 30% escolha devem ser trabalhados os seguintes aspec-
dades públicas, como a UFRGS Para facilitar a

dos alunos aprovados anualmente nos vesibulares declaram já ter


tos:
iniciado antes um eurso superior.
A-Conhecimento de si mesmo
Sabe-se também que é elevadoonumero
de alunos que desistem,
Comparando o quem sou cu (quem fui, quem sou, quem serei);
de curso e solicitam transferências intenas.
trocam
anualmente em cursos superiores, qual o meu projeto de vida;
número de alunos que ingressam vejo no futuro desempenhando o meu trabalho;
c o m o me
observa-se que 40 50% não chegam a concluir seus cursos.
a
Ela tem por expectativas da família X expectativas pessoais;
Qual é, então, a larefa da Orientação Prof+ssional? quais são m e u s principais gostos,
interesses e valores.
facilitar momento da escolha ao jovem, auxiliando-o a
objetivo o
B-Conhecimento dasprofissões
compreender sua situaçãoespecífica de vida, na qual estão incluídos que fazem, como fazem, onde fazem;
dessa compreensão o que são, o
aspectos pessoais, familiares e sociais. E partir
a
o mundo do trabalho dentro do sistema político-econômico
que ele terá mais de
condições definirqual a melhor escolha- a escolha
vigente;
possiyelnoseu projeto de vida. as possibilidades de atuação-o mercado de trabalho;
visita a locais de trabalho, a cursos e laboratórios
de pesquisa da
Uma nova proposta: a facilitação da escolha
universidade;
informações sobre currículos;
Facilitar a escolha significa participar auxiliando a pensar,coordenando entrevistas com profissionais.
oprocesso para queasdificuldades decada um possamser formuladas
C-Escolha propriamente dita
c
Lrabalhadas. Coordenar o processo porque, comoprofissionais,csla- a escolha implica:
mos habilitados para issco. O descnvolvimentodo processo dependerádos
decisão pessoal;
grupos, já que eles apresentam características específicas deixar de lado tudo o que não é escolhido;
Coordenar não significa orientar, pois nós também não conhece viabilizar a escolha.
mos o melhor caminho. Significa facilitar, para que o próprio jovem fazer acontecer, isto é,
descubra quais caminhos pode
seguir.
A decisão é do. adolescente, e ninguém tem o direito de interfernr Como pode ser feito em grupo
nela. Esse
é um posicionamento filosóficoe ético. Parte de uma concep- minha
ção do homem resultados na
como ser livre para escolher. Livre dentro de umna O trabalho em grupo tem alcançado melhores
Situação cspecifica de vida que por si só prática profissional por vários motivos:
Lnite. Não se pode configurar-se como um
pode tudo ao mesmo tempo e no turmas. E
quer. Pode-se dentro de momentas em que se é própio do adolescente o convívio em grupos
e
situações concretas reaise limitadas. buscando a sua identidade,
Escolher é decidir, entre uma série de opções, a Importante, no momento em que ele está diferenciar no seu
melhor naquele momento. Cada escolha feita faz que parece
a igual Para poder se grupo
Sentir-se aos outros.
parte de um projetop familiar, cle precisa sentir-se pertencente a outro grupo;

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istor,o'1 tola lade
há possibilidade de compartilhar sentimentos de dúvida, confu- Técnica RO
são e insegurança em relação à escolha prolissional ao scu futuro; e adaptada por
cada participantedo grupo um facilitador, pois a sua possibi- Descrita inicialmente por Bohoslavsky (1981, cap. 4)
mancira utn pouco mais
lidade de entenderooulro e poder expressar como o perccbc, auxiliam Soares (1987, p. 98), permite trabalhar de a
diversas profissöcs
no conhecimento que cada membo busca de si mesmo. concreta as relações quc se estabelecem c o m as
de cada um. Surgem estercótipos, precon
partir daexperiéncia pessoal sendo trabalha-
Operacionalização ceitos e fantasias sobre a atuação de cada profisional,
desmistificadas n e s s e momento.
das e

Tendo clara a postura de trabalho descrita anteriomente, o planejamen-


to e as técnicas a serem ulilizadas são apenas recursos auxiliares. Com
Role-play
criatividade, novas propastas e
trabalho vao surgindo em cada grupo; E uma t cnica utilizada pelo teatro e pelo psicodrama,
c s e u nome

muilas vezcs o próprio grupo cria recursos técnicoos. imaginar u m a


significa "jogar o papel". Por essa técnica, o jovem pode
Técnicas de dinâmica de grupo, de relaxamento, um papel profissional e viven-
de recreação, situação na qual tenha que desempenhar outros papis
de psicodrama, de sensibilização, de improvisação e teatro podem ciá-lo no grupo. Seus colcgas participam representando
definidos pelo protagonista. A partir dessa experiëncia o jovem
tem
serutilizadas, tendo sempre em mente o
objetivo que se quer ou não
alcançar. melhores condições de imaginar-se no futuro desempenhando
Esse trabalho pode ser feito com um jogo, em que todos sintam aquela profissão.
prazer cm participar, e seja possível existirem o humor, a graça e a
brincadcira Visitas e Entrevistas
Cada encontro é sempre um momento rico de troca, de reflexão e
de conhecimento desi mesmo. O contato direto com as profissões, seu ambiente de trabalho, sua
Da minha prática, gostaria de
citar as técnicas c atuação profissional ou entrevistas com profissionais de diversas áreas
obscrvo como importantes no descnvolvimento do
procedimento que permitem ao adolescente ter uma idéia da realidade do mundo ocupa-
processo. cional.

Técnica de Apresen tação Avaliação do Processo


Apds scr feito o aquecimento,
pcríodo em quc o
ambienie cos colegas, inicia-sea jovem reconhece o E importante fazer uma avaliação do processo de Orientação Profissio-
sarcm Após cinco organização de duplas para conver nal. Para o adolescente, porque permite que ele veja o seu crescimento
minutos, cada um deverá se apresentar como se fosse
o ul. A
possabilidade de experimentar o papel do outro facilita pessoal lhe propicia uma avaliação do grupo em relação si. Pata o
e a

maginar-se como o profissional


que ele deseja ser e
coordenador, porque, além de ser um feed-back em relação seu a
o sau
scnümento nessa
situação. perccberqual serla trabalho, também permite analisar compreernder todo o processo
e

grupal e o desfecho de cada participante.


Integração do Tempo Para um melhor entendimento do
processo de Orientação Profis-
sional e suas téenicas
espeeilicas, consulte a bibliografiä.
Soiieiar guc seja representada a história de
do
passado, do preserite c do futuro. vida, considerando Finalizando..
diversas ténicas Para isso podem ser aspectos
com o suxíilio de utilizadas
expressao coxpora recursos gráficos, de
colagem, de Trubalhar em Orientação Profissional, ou melhor, participar, com ado
lescentese coordenadores de
14 grupos, de um momento tão importante e

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especial da vida dos jovens, que é a escolha de um trabalho, é uma tarefa
cheia de prazeres e gratificações. Também é gostosa para os jovens. Ao
final do ltimo encontro, muitas vezes cles não querem ir cmbora e
propoem que o gupo continue se encontrando.
Sinto que o mais importante do trabalho é a postura profissional
para ouvir o adolescente. Seus senlimentos, problemas, dúvidas e
confusões têm muita importäancia para nós, e por isso estamos ali para
escutá-los.
São poucos os lugares em que os jovens são escutados, dizendo
aquilo que têm para dizer e não aquil que os outros querem. Vamos
deixá-los falar. Tenho certeza de quc eles têm muitas das respostas para
os problemas que enfrentamos no dia-a-dia.

Bibliografia
Bohoslavsky, Rodolfo (1977). Orientação vocacional- A estratégia clinica, São
Paulo, Martins Fontes.
Soares, Dulce H.P. (1987). Ojovem e a escolha profissional, Porto Alegre, Mercado
Aberto.
Soares, Dulce H.P. (1988). O que é escolha profissional, São Paulo, Brasiliense.

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