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MODULO II

UNIDADE I
• Fatores que influenciam nossas
escolhas
• Dimensões da Orientação Profissional
• Trabalho , individuo e Sociedade
• Modalidade em Orientação
Profissional
FATORES QUE INFLUENCIAM NOSSAS ESCOLHAS

FATORES POLÍTICOS • O projeto econômico e social defendido


pelos nossos políticos objetiva adequar a
• Atualmente, a educação passou a ser produção nacional às demandas e pressões
do capital internacional. Assim, não
vista como um bem de investimento conseguimos planejar adequada e
associada ao capital. A politica realisticamente as nossas necessidades na
educacional não atende aos interesses área de formação profissional. Para tentar
da maioria da população e a educação atender às necessidades da imprevisibilidade
do capitalismo, corremos sempre o risco de
mais uma vez é desprezada como
preparar técnicos em excesso para o
possibilidade de desenvolvimento. mercado, enquanto que em outros campos
profissionais temos carências.
FATORES QUE INFLUENCIAM NOSSAS
ESCOLHAS
FATORES ECONÔMICOS • Nesse cenário, os números de formandos
aumentam, mas o mercado de trabalho interno não
consegue absorver essa população de novos
• No Brasil, nas décadas de 1970 e 1990,
profissionais e as primeiras sensações de insucesso
aponta Soares (2002), há um aumento
aparecem com esses jovens se direcionando a
significativo do numero vagas nas outras atividades profissionais, longe de sua
universidades, e a classe média formação para garantir sua sobrevivência.
reconhece o ensino superior como
• Outro fator econômico que atinge a formação desse
mecanismo para realizar a sua ascensão
jovem é a impossibilidade de ele manter seus
social. Ter um filho formado passou a ser estudos sem uma atividade remunerada, ou seja,
sinônimo de status social e possibilidades sem possibilidades de ser só estudante, o jovem
de melhores condições para a família. vira estudante trabalhador.
FATORES QUE INFLUENCIAM NOSSAS
ESCOLHAS
FATORES SOCIAIS • O histórico de vida em seu contexto social
também reflete nos objetivos da formação
profissional no terceiro grau. Um jovem que
• Esses fatores estão relacionados com a nasce em famílias mais simples, com baixo
classe social em que nossos jovens nascem, nível de instrução, tende a ter ao longo de seu
afirma Sores (2002). Sua condição social desenvolvimento menos contato com os
também apontará suas possibilidades de estudos.

formação profissional e de trabalho, sendo • Na classe media ou alta, o cenário configura-se de


outra maneira, com a ausência das dificuldades
que a maioria dos jovens depende de
financeiras e uma vida escolar iniciada logo cedo.
recursos financeiros para custear uma Na primeira infância, o jovem pode apresentar
formação em instituições particulares. certo desestímulo para o terceiro grau.
FATORES QUE INFLUENCIAM NOSSAS
ESCOLHAS
• As representações sociais das profissões
FATOR FAMILIAR também refletem a identificação e os valores
• Na relação familiar, os pais sempre pregados no grupo família. Como apresenta
Soares (2002), varias pesquisas retratam que
apresentarão expectativas na vida dos seus
o projeto profissional dos jovens contamina-
filhos. A criança já́ é socializada pela
se com as expectativas dos pais e dos
família, que escolhe alguns estilos e próprios jovens em relação à sua vida futura.
maneiras de estar no mundo em detrimento
• Em nossa sociedade, as realizações estão
de outras formas. Nosso primeiro grupo
conectadas com o status profissional, e a
social, a família, interfere na nossa visão de valorização das pessoas faz-se pela sua
mundo, estabelecendo parte de nossos atividade e resultados alcançados na sua vida
hábitos e interesses. profissional, por isso o nível superior se torna
para as famílias um status social almejado.
FATORES QUE INFLUENCIAM NOSSAS
ESCOLHAS
FATORES PSICOLÓGICOS • . Assim, o jovem deve pensar suas rotinas,
seus gostos, suas habilidades, suas
• Na confecção de um projeto de vida, o dificuldades, seu passado e seus anseios
jovem deve considerar como um dos futuros. Pensar em si proporciona um
pontos de partida o conhecimento que autoconceito e assegura a ele reconhecer
quanto dele há em suas escolhas
tem de si mesmo. Esse autoconceito não
profissionais.
é trabalhado nas escolas e, portanto, a
empreitada da construção de seu projeto • Outro olhar importante para clarificar suas
já́ começa com a alienação de quais são opções é repensar quais foram suas
experiências com as diversas profissões?
suas potencialidades e dificuldades.
Qual é o contato que esse jovem já
estabeleceu com as profissões?
DIMENSOES DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
• TRABALHO, INDIVIDUO E SOCIEDADE
• É por meio da profissão, como afirma Coutinho (apud LUCCHIARI, 1993), que as pessoas
inserem-se no mundo do trabalho e, assim, o homem passa a ser um agente de
transformação.
• Como trabalho, podemos considerar a concepção de Arendt (2007) como toda a atividade
que transformaria a natureza em produtos artificiais, por exemplo, extraímos da natureza as
essências para produzir nossos medicamentos. Segundo a posição da autora, o trabalho não é
intrínseco, ou seja, ele não está na essência da espécie humana, mas é resultado de nossos
processos culturais.
• O trabalho do homem difere do labor dos animais. Esses utilizam seus instintos para atender às suas
necessidades, saem à caça para saciar sua fome, acionando um instinto de preservação da espécie,
mas o homem, em sua execução de trabalho, aciona muito mais que o instinto. O homem pode
planejar sua ação, e a inteligência permite que tenhamos estratégias de ação levantadas antes da
execução do trabalho. A capacidade de planejamento é uma característica inerente à espécie humana.
• Assim, como afirma Coutinho, o homem desenvolve a capacidade até de diferenciar o planejamento
da ação da própria ação. A concepção da ação pode ser planejada por alguém, que não
necessariamente deverá executá-la. “Com isso criam-se dois tipos de homens: aqueles que planejam
e aqueles que apenas executam o trabalho” (COUTINHO apud LUCCHIARI, 1993, p. 120
• Essa concepção do processo de trabalho oriundo de uma ordem econômica, em que se
estabelece a separação entre o trabalho de planejamento e estratégias, visto como intelectual, e
o trabalho de execução, visto somente como manual, impede a alguns trabalhadores o acesso
ao conhecimento de seu trabalho, inviabilizando, portanto, o desenvolver de sua autonomia,
liberdade e solidariedade, como afirmam Gonçalves e Wyse (1997).
• A esse cenário acrescenta-se a crise dos valores da sociedade, que reflete nas relações de
trabalho hoje configuradas. As autoras apontam uma ruptura de valores pela qual a sociedade
passa e, consequentemente, esses conflitos vão atingir a visão que se estabelece de trabalho.
• O desinteresse por identificar uma profissão surge de uma desconexão entre o
trabalho e a possibilidade de obter a dignidade e realização social. A atividade
produtiva alienada produz um sujeito que não se identifica com seu trabalho e
realiza sua função como objeto para que outros lucrem com isso.
• Essa perda de significado do trabalho, consequência de um processo de
modernização baseado apenas na produtividade e lucro, ignorando a qualidade de
vida e satisfação das pessoas, está contaminando as atividades profissionais
• A crise do trabalho é a crise da própria modernidade, descrevem Gonçalves e
Wyse (1997). Há uma ruptura de valores na pós-modernidade, como podemos
denominar esse período, a qual leva os sujeitos a uma situação em que
percebemos a ausência de valores e modelos que norteiem sua nova visão de
mundo.
• Para entendermos está ruptura de valores, precisamos considerar as relações sociais
que estavam sendo construídas nesta sociedade moderna. No modo capitalista de
produção, a maximização de lucros é esperada, o acumulo de bens é almejado e, para
que isso ocorra, é possível se estabelecer uma moral própria, muitas vezes,
desrespeitando princípios éticos estabelecidos. Este mundo, sob a ordem econômica
capitalista, desenvolve nas pessoas o comportamento de posse, egoísmo e
individualismo. A liberdade do ser humano de decisão e ação, na modernidade, é
transformada em liberdade econômica, perdendo, nesta concepção, a autenticidade.
• A modernidade destaca um conceito de liberdade que garante a ordem
econômica capitalista, conceituando liberdade como: liberdade de comprar, de
vender, de estabelecer preços e salários.

• Desse modo, quando manifestada na vida concreta dos homens, a liberdade passou a ser encarada como
características de cada um, do individuo com sua consciência autônoma, em defesa se sua segurança
pessoal, de sua propriedade e dos seus direitos à livre negociação (GONÇALVES; WYSE, 1997, p. 44
grifos do autor).
• O cenário retrata um dos maiores desafios da modernidade, que consiste em resgatar
a dimensão publica da ética, trazendo a convivência social, garantindo o exercício
da cidadania e participação nas decisões, em qualquer instancia do trabalho, seja
intelectual ou manual, propiciando a liberdade na sua dimensão mais autentica.
• Não se pode negar, portanto, as consequências do contexto histórico- -econômico
nas formas de evolução e ressignificado do trabalho. A não personificação do
trabalho leva as pessoas a exercerem sua atividade profissional por apelos externos e
não por uma escolha pessoal, feita com base em seus desejos e a busca de sua
realização.
• Nesse sentido, cabe ao profissional de orientação profissional estar ciente
das reconfigurações dos ambientes ocupacionais bem como das
transformações pelas quais passam o mercado de trabalho, levando seus
orientandos a um processo de reflexão sobre a sua escolha profissional em
termos de suas expectativas e postura, para de fato construir uma
identidade ocupacional.
MODALIDADES EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL.

• O uso de instrumentos psicológicos para a avaliação da personalidade, de


aptidões e comportamentos em práticas de orientação profissional tem sido
pouco utilizado no contexto clínico. Profissionais de psicologia tem optado
por realizar essa avaliação com ferramentas de análise comportamental de uso
comum a todas as categorias profissionais, bem como uso de entrevistas
semiestruturadas para compreender a história de vida e a partir disso, amparar-
se em técnicas de orientação profissional voltado para interesses
mercadológicos e de sucesso profissional (Giacaglia, 2003).
MODULO II

UNIDADE II
• Trabalho no capitalismo e a
produção de trabalho.
• A formação do trabalhador na
sociedade capitalista.
• Conhecimento e profissão na
sociedade capitalista.
TRABALHO NO CAPITALISMO
• O trabalho é o processo pelo qual o homem se defronta com a natureza, a fim de transformá-la
para responder uma determinada necessidade.
• Neste sentido, Marx expressa que o trabalho se constitui em um,
• [...] processo entre homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação,
media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria
natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua
corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropria-se da matéria natural numa forma
útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a natureza externa a ele e
ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza (MARX, 1985a, p.149).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• À medida que o homem transforma a natureza o mesmo também se transforma, pois ao
realizar o trabalho, o homem adquire novos conhecimentos e habilidades. O homem,
através do trabalho, incorpora em seu desenvolvimento peculiaridades completamente
distintas e inéditas da escala biológica. Com isso emerge na natureza um novo tipo de ser,
dotado de uma complexidade nova e exponencialmente maior do que já existente no
âmbito natural, o ser social. Esse novo ser não se relaciona com seus semelhantes segundo
determinações geneticamente naturais, mas sim por relações puramente sociais
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Desse modo, Lessa expressa que,
• [...] No mesmo compasso, salientamos que a sociedade se identifica com a
natureza e não pode ser explicado por ela. Ou seja: estamos argumentando
que a sociedade constitui um tipo de ser específico, uma esfera ontológica
peculiar, radicalmente distinta do ser natural, a que cabe a designação de
ser social [...] (LESSA, 2011, p. 139).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• É o trabalho que diferencia o homem dos outros animais, não
apenas pela atividade laboral em si, mas por seu planejamento,
sua sistematização a partir da capacidade racional .

• Como bem pontuam Marx e Engels (2007):


TRABALHO NO CAPITALISMO
• Uma aranha executa operações semelhantes as do tecelão, e uma abelha envergonha muitos
arquitetos com a estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o inicio distingue o pior
arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente antes de
construí́-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um resultado que já́
estava presente na representação do trabalhador no inicio do processo, portanto, um resultado
que já́ existia idealmente. Isso não significa que ele se limite a uma alteração da forma do
elemento natural; ele realiza neste ultimo, ao mesmo tempo, seu objetivo, que ele sabe que
determina, como lei, o tipo e o modo de sua atividade e ao qual ele tem de subordinar sua
vontade. E essa subordinação não é um ato isolado. Além do esforço dos órgãos que
trabalham, a atividade laboral exige a vontade orientada a um fim, que se manifesta como
atenção do trabalhador durante a realização de sua tarefa (p. 327).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• O trabalho humano envolve, portanto, atividade mental, subjetividade, e
não apenas a execução mecânica e instintiva de movimentos. Dirige-se à
consecução de objetivos pré- determinados, oriundos de suas necessidades.
Assim, desde os primórdios da existência humana, o homem trabalha para
produzir sua existência e, ao longo da história, cria meios e/ou
instrumentos para facilitar-lhe o trabalho, bem como novas formas de
organização social.
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Nas sociedades primitivas o trabalho apresentava-se como produção da
existência humana, numa perspectiva cooperativa, onde os homens
produziam sua existência em comunidade educando-se enquanto lidavam
com a terra, a natureza e por meio das relações interpessoais. À medida
que o homem se fixa na terra, considerada o principal meio de produção,
surge a propriedade privada e, com ela, a divisão em classes: a classe dos
proprietários e a classe dos não proprietários (SAVIANI, 1994).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Logo que o trabalho começa a ser distribuído, cada um passa a ter um campo de
atividade exclusivo e determinado, que lhe é imposto e ao qual não pode escapar; o
individuo é caçador, pescador, pastor ou critico, e assim deve permanecer se não
quiser perder seu meio de vida. (MARX; ENGELS, 2007, p. 37-38).
• A divisão do trabalho tem como reflexo uma divisão estrutural da sociedade. A partir
da propriedade privada, surge a possibilidade de que um individuo não precise mais
trabalhar para sobreviver, vivendo do trabalho alheio, desde que possua os meios de
produção.
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Santos Neto (2012, p. 84) esclarece que “em todas as sociedades organizadas
a partir de relações de expropriação do trabalho alheio, apresentam-se dois
grupos sociais profundamente antagônicos: escravos e senhores, servos e
senhores feudais, operários e capitalistas”. No modo de produção escravista, o
“senhor” detinha a posse não só́ dos meios de produção como do próprio
trabalhador (o escravo). Já no modo de produção feudal, o trabalho passa por
modificações e se constitui como
• servil.
TRABALHO NO CAPITALISMO
• O senhor feudal não tinha a propriedade do vassalo, mas da terra e dos
meios de produção. Os vassalos ofereciam trabalho e fidelidade aos
senhores, em troca de proteção e um lugar para morar e produzir sua
subsistência, gozando assim de uma liberdade restrita, já́ que não teriam
condições de deixar as terras dos senhores por não dispor dos meios de
produção de forma independente.
TRABALHO NO CAPITALISMO
• O advento do capitalismo transforma mais uma vez a relação do trabalhador com
os donos dos meios de produção (o capitalista), tendo como característica
principal a venda, pelo trabalhador, de sua força de trabalho, transformada então
em mercadoria. O trabalho na sociedade capitalista é degradado, se converte em
meio de subsistência, a força de trabalho é transformada em mercadoria,
enquanto o trabalho torna-se sinônimo de obrigação, adquire sentido de penúria,
causa estranhamento e alienação. O homem passa a estranhar seu semelhante,
visto como simples meio para satisfação de fins privados (ANTUNES, 2011).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Uma das características essenciais do capitalismo é transformar tudo em mercadoria,
“coisificando” o trabalho, seu resultado e até mesmo o ser humano. O fetichismo
capitalista consiste em negar a subjetividade humana. O trabalhador, na sociedade
capitalista, não só deixa de ter poder sobre o produto de seu trabalho, como passa a lhe
ser submisso, assumindo uma condição praticamente de escravo do próprio trabalho. O
individuo tem no trabalho não mais uma forma de satisfazer suas necessidades ou de
produzir sua existência, mas como algo que o priva da convivência familiar, de lazer,
enfim, de tempo para dedicar-se ao que lhe é prazeroso.
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Na sociedade capitalista, o trabalhador aliena sua força de trabalho, transferindo-
a para outro, tendo em vista que, por não dispor dos meios de produção, não tem
condições de trabalhar para si mesmo. Assim, o trabalhador vende sua força de
trabalho ao capitalista, em troca de dinheiro, com o qual pode comprar as
mercadorias de que necessita para sobreviver. Em contrapartida, o capitalista
organiza a produção de modo a produzir uma mercadoria cujo valor seja maior
do que a soma do valor das mercadorias requeridas para sua produção: os meios
de produção e a força de trabalho (HARVEY, 2013).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Com a alienação do trabalho, que deixa de ser compreendido como
produção da existência tornando-se algo externo, ocorre o estranhamento
do homem em relação ao seu trabalho e ao seu resultado, que não lhe
pertence. Ao contrario, quanto mais trabalha, mais o sujeito se afasta de
sua essência e menos possibilidade dispõe de acesso aos bens que produz,
não se reconhece em seu trabalho por não dispor de sua liberdade, fazendo
de sua atividade vital apenas um meio para sua existência (MARX, 2004).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Em meados da década de 1970 o capitalismo passa por um período de
reestruturação, marcado pelo processo de acumulação flexível onde a produção
de mercadorias passa a ser vinculada à demanda, tendo como uma de suas
premissas a necessidade de um mesmo trabalhador operar simultaneamente
várias máquinas, como forma de responder à crise financeira, aumentando a
produção sem elevar o número de trabalhadores, apoiando-se na flexibilidade
dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de
consumo (ANTUNES, 2011).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Com o processo de acumulação flexível, o capitalismo manifesta seu
objetivo maior de:
• Alcançar o máximo de produtividade da força de trabalho com o mínimo
de custo, ou seja, um processo de superexploração da força de trabalho
para ampliar a taxa de mais-valia e de lucro, mas sem preocupação com o
crescimento e com os efeitos de barbarização da vida social daí
decorrentes (BEHRING, 2003, p. 40).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Entre as consequências do processo de acumulação flexível, destacam-se o
desemprego estrutural, a precarização do trabalho, o enfraquecimento dos
movimentos de reação sindical e politica da classe trabalhadora, e a captura
cada vez mais acentuada da subjetividade do trabalho pela lógica do capital.
“A flexibilidade do trabalho, compreendida como sendo a plena capacidade
de o capital tornar domável, complacente e submissa a força de trabalho,
caracteriza o “momento predominante” do complexo de reestruturação
produtiva” (ALVES, 2008, p. 10).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• O processo de acumulação flexível coincide com o acelerado desenvolvimento tecnol ógico,
sobretudo da microeletrônica, provocando grandes transformações no mundo do trabalho. O
trabalhador é levado a realizar agora não mais uma única tarefa repetitiva, mas diversas atividades,
reduzindo assim os níveis hierárquicos e a quantidade de trabalhadores necessária à produção.
Além disto, passam a ter a incumbência de “gerenciar” suas equipes, inclusive mediante
instrumentos de controle da velocidade e da quantidade de produção. Torna-se comum o estímulo
da competitividade entre equipes de trabalho, a superação de metas, inclusive com benefício
financeiro para o trabalhador. Cria-se no trabalhador a ilusão de que seu sobretrabalho o favorece
(pois de fato implica uma remuneração um pouco maior), enquanto na realidade o capitalista é
quem eleva seus ganhos por meio de uma exploração cada vez mais desumana do trabalhador.
TRABALHO NO CAPITALISMO
• Outra característica do trabalho no capitalismo refere-se ao seu caráter
multifacetado, marcado por relações dialéticas, tais como a redução do
trabalho vivo (aquele realizado pelo sujeito com o emprego de sua
potencialidade natural) e progressiva ampliação do trabalho morto
(automatizado), a valorização do trabalho produtivo (com vistas a produzir
mercadorias a fim de obter mais valia), e a dualidade entre trabalho intelectual
(de natureza científica, envolvendo atividades de gestão e planejamento) e
trabalho manual (aquele realizado pelo operário) (ANTUNES, 2005).
TRABALHO NO CAPITALISMO
• A dualidade entre trabalho intelectual e trabalho manual reflete uma dualidade
social onde a classe dominante detém o conhecimento e, portanto, exerce
funções de caráter intelectual enquanto à classe operária cabe a realização do
trabalhomanual, ao passo que tem acesso apenas ao conhecimento necessário
à realização de seu trabalho. A educação, nesta perspectiva, coloca-se a
serviço do capital, por meio de diversos instrumentos de controle,
especialmente favorecendo a adesão do trabalhador aos objetivos do capital de
uma forma mais consensual, mais velada.
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• A formação do trabalhador, entendida como processo educativo, tem como


uma de suas principais premissas o atendimento às demandas do capital, que
atualmente requer um trabalhador polivalente, capaz de desempenhar varias
tarefas e adaptar-se rapidamente às mudanças que o progresso tecnológico
impõe.
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• A substituição progressiva dos processos rígidos, de base eletromecânica, pelos flexíveis, de base
microeletrônica, cria novas demandas no mundo do trabalho e desloca a concepção de formação
profissional dos modos de fazer para a articulação entre conhecimentos, atitudes e
comportamentos, com ênfase em habilidades cognitivas, comunicativas e criativas (KUENZER,
2009).
• Entretanto, toda esta capacitação não assegura o acesso ao emprego num mundo do trabalho cada
vez mais excludente e competitivo, onde se exige uma formação cada vez mais elevada,
oferecendo salários cada vez menores, posto que as vagas são insuficientes para todos os
trabalhadores.
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• A exploração capitalista no contexto da reestruturação produtiva


manifesta-se, sobretudo pela captura da subjetividade do trabalhador,
estimulando o engajamento deste com os objetivos da empresa mediante
inclusive premiações por desempenho, criando no trabalhador a ilusão de
que, se a empresa cresce, ele cresce junto. A subsunção do trabalhador no
processo de produção flexível ocorre de forma mais consensual,
envolvente e, na verdade, mais manipulativa (ANTUNES, 2011).
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• A educação, segundo a logica capitalista, é considerada fator fundamental


no processo de reestruturação produtiva, responsável por formar os
trabalhadores desejáveis para determinado momento histórico. Mais que
promover a capacitação profissional, a educação constitui uma forma
eficiente de dominação, de disseminação da ideologia dominante e, até
certo ponto, de “adestramento” da força de trabalho.
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• Especialmente na formação do trabalhador a educação tem um papel decisivo a cumprir,


adequando esta formação às necessidades e exigências do mercado que, no contexto da
produção flexível é a de um trabalhador polivalente, capaz de executar diversas funções e
inclusive auxiliar em processos de controle de qualidade ou na solução de problemas no
processo produtivo.
• O conhecimento, no capitalismo, é negado ou disponibilizado conforme as necessidades do
mercado. A própria ampliação da oferta de escolarização nada mais é que uma estratégia para
assegurar a formação de indivíduos capazes de atuar em processos de trabalho flexibilizados,
executando diversas tarefas com diferentes níveis de complexidade.
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• O maior nível de escolarização, todavia, não assegura o trabalho de cunho científico-


intelectual, ao contrário, o individuo precisa ser polivalente ao ponto de exercer
determinadas tarefas de gestão sem abandonar o trabalho operacional, especialmente
aquele ligado ao manuseio de máquinas e equipamentos tecnológicos. O trabalhador,
além de lutar pelos meios de vida, precisa lutar pela aquisição do trabalho (MARX,
2004).
• Aqueles que não têm acesso a esta nova qualificação são excluídos do mundo do
trabalho pelo desemprego ou estão sujeitos a trabalhos ainda mais precarizados e sub-
remunerados.
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• É́ necessário e urgente propiciar ao trabalhador uma educação que


contribua para sua emancipação, a partir da consciência de classe e do
acesso aos saberes tradicionalmente destinados à elite, favorecendo assim
não só́ uma formação para o trabalho mas a formação omnilateral,
considerando o sujeito como ser integral.
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA EMANCIPAÇÃO

• Como bem destacam Canielles e Oliveira (2011, p. 7), “a emancipação humana está no horizonte de
toda a produção de Marx, é o princípio pelo qual haveria a possibilidade de rompimento e
superação do modelo social do capital”. Esta emancipação, todavia, tem como condição o
conhecimento amplo e profundo da realidade a ser transformada (TONET, 2012).
• Na sociedade atual, Marx admite a impossibilidade da emancipação humana plena e, neste
contexto, considera a emancipação politica não só́ uma necessidade, mas uma forma possível de
emancipação: “Não há dúvida de que a emancipação política representa grande progresso. Embora
não seja a última etapa da emancipação humana em geral, ela se caracteriza como a derradeira
etapa da emancipação humana dentro do contexto do mundo atual” (MARX, 2005, p.25).
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA
EMANCIPAÇÃO

• No mesmo sentido, Adorno (2006) defende uma educação voltada para a auto- reflexão- crítica,
que não se reduza à transmissão de conhecimentos, mas que ajude o indivíduo a se orientar no
mundo. Para tanto, faz-se necessário que as poucas pessoas interessadas nesta “educação para a
emancipação” orientem toda a sua energia para que a educação seja uma educação para a
contradição e para a resistência.
• A formação com vistas à emancipação humana supõe o reconhecimento do sujeito em sua
integralidade, realizando-se, portanto, numa perspectiva onmilateral, isto é, contrapondo-se à
unilateralidade decorrente da divisão social do trabalho no sistema capitalista. Tal formação
pressupõe um ensino intelectual, físico e tecnológico para todos, considerando o homem como ser
completo (MANACORDA, 2011).
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA
EMANCIPAÇÃO

• Como bem pontua Frigotto (2012, p. 265) uma educação onmilateral


abrange “a concepção de educação ou de formação humana que busca
levar em conta todas as dimensões que constituem a especificidade do ser
humano e as condições objetivas e subjetivas reais para seu pleno
desenvolvimento histórico”. É, portanto, compreendida como uma
educação voltada para a emancipação humana em todas as suas dimensões.
A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA
EMANCIPAÇÃO

• Implica, sobretudo, o resgate da integralidade humana, do reconhecimento do sujeito


enquanto ser social e não apenas como ser que trabalha. Por outro lado, no campo da
formação para o trabalho, implica a tomada de consciência da exploração a que o trabalhador
está submetido, da necessidade de ampliar o conhecimento no seu campo de atuação
profissional quebrando as barreiras da dualidade entre o trabalho manual e intelectual.
• Uma educação com vistas à emancipação do trabalhador deve possibilitar a retomada do
sentido ontológico do trabalho como produção da existência humana, como processo que
possibilita o desenvolvimento das sociedades do ponto de vista científico e tecnológicos, não
para facilitar a exploração pelo capital, mas para melhorar a vida dos sujeitos, com vistas ao
bem comum
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• O trabalho em seu sentido ontológico é compreendido como produção da existência humana,
vinculando-se basicamente às necessidades humanas. Nesta perspectiva, a educação tem no
trabalho seu princípio educativo, considerando a necessidade de que todo ser humano
trabalhe para sobreviver.
• Com o surgimento da propriedade privada e mais tarde o advento do capitalismo, surge a
possibilidade de que um grupo de sujeitos (os proprietários dos meios de produção) não
precisem trabalhar para sobreviver, mas vivam da exploração do trabalho alheio. Assim, o
trabalho no capitalismo é alienado e o trabalhador perde o direito aos bens que produz, v ê seu
trabalho sendo fragmentado e é destituído inclusive do conhecimento que envolve seu
trabalho. O trabalho, convertido em mercadoria, concebe o trabalhador como mera
engrenagem no sistema produtivo, tal como funciona os maquinários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• A formação do trabalhador, nesta perspectiva, é condicionada aos interesses do mercado,
que dita em que medida deve ou não ser possibilitada a qualificação do trabalhador. A
dualidade entre trabalho manual e intelectual determinam os níveis de formação dos
sujeitos, formação esta que não é suficiente sequer para assegurar o direito ao emprego.
• A ruptura com esta educação vinculada aos interesses do mercado não é tarefa fácil, mas
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa. Para tanto, é importante que a
educação contribua para a emancipação dos sujeitos, por meio de uma formação onmilateral, isto é,
que abranja não só́ a formação para o trabalho como também a formação intelectual, ética e,
sobretudo, a consciência de classe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Sem perder a consciência de que, como bem pontua Marx em toda sua obra, a
emancipação plena do trabalhador ainda está distante de acontecer, é preciso
investir naquela possível, isto é, a emancipação politica, a qual depende
essencialmente da consciência de classe. Mais que a conscientização, é preciso
possibilitar ao trabalhador o acesso ao saber historicamente acumulado pela
humanidade, favorecendo sua formação como ser integral e não apenas uma
formação restrita ao trabalho ou ao desenvolvimento de aptidões desejáveis ao
capital.
REFERÊNCIAS

• LAGO, Lilian Yepez Orientação profissional / Lilian Yepez do Lago. – Londrina : Editora
e Distribuidora Educacional S.A., 2017. 184 p.
• RIBEIRO, Tatiana Cristina. A Formação do Trabalhador na Sociedade Capitalista.
Image, v.17, no 32, jan-abr (2019) ISSN: 1808-799 X

• https://periodicos.uff.br/trabalhonecessario/article/view/28311/25301
CONHECIMENTO E PROFISSÃO NA
SOCIEDADE CAPITALISTA
CONHECIMENTO E PROFISSÃO NA SOCIEDADE CAPITALISTA

Ouvimos com frequência que vivemos na sociedade da informação, num


processo de globalização. Os meios de comunicação despejam sobre nós
diversas e novas combinações. Percorremos via internet, enormes distancias
em segundos. As fronteiras geográficas e culturais diminuem, a velocidade
das transformações tecnológicas aumenta. As novas tecnologias invadem e
difundem-se através de todos os setores da economia e da sociedade
exigindo informações e acesso a essas informações.
CONHECIMENTO E PROFISSÃO NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• Contudo, informações não leva necessariamente ao conhecimento, com o


aumento da quantidade de informações, sem um método de integração, aumenta
a confusão e as dificuldades de processamento. As informações não se
transformam em experiência ou conhecimento.
• A sociedade de hoje ainda não pode ser considerada como uma sociedade do
conhecimento de um modo geral é uma sociedade de informação. E para que
essa mudança ocorra, é preciso que os indivíduos consigam transformar a
matéria prima, que são os dados e as informações disponíveis em conhecimento.
CONHECIMENTO E PROFISSÃO NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

Mas nem todas as pessoas são capazes de realizar esta transformação. Seja
por falta de acesso , seja por incapacidade de utilização das tecnologias.
O conhecimento constitui-se na principal vantagem competitiva das
modernas sociedades, ou seja, o saber possui hoje um valor econômico e
social vital para o desenvolvimento humano à escala mundial.
Ressaltamos que a informação que se encontra hoje em dia disponível não é
por si só geradora de conhecimento no ser humano.
CONHECIMENTO E PROFISSÃO NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• Este terá que ser capaz de mobilizar esses conhecimentos transformando-


os em competências que lhes permita assumir –se como cidadão
responsável, integrado e elemento ativo na construção da sociedade em
que vive.
• A sociedade do conhecimento pela sua constante evolução implica uma
aprendizagem constante, durante toda a vida. E, nela não deve haver
excluídos, pois o conhecimento deve ser um bem acessível a todos.
CONHECIMENTO E PROFISSÃO NA SOCIEDADE
CAPITALISTA

• Na sociedade do conhecimento o seu representante é a pessoa


instruída. O conhecimento é produzido, aprendido, transmitido,
aplicado, e enriquecido pelo ser humano, que é o centro dessa
nova ordem. Portanto, o trabalhador instruído é aquele que
domina conhecimentos que tem valor de mercado e é adaptado a
moderna realidade das organizações.

CARACTERÍSTICAS DE UM TRABALHADOR DO
CONHECIMENTO
• Ser uma pessoa saudável, física e mentalmente-
ter qualidade de vida.
• Possuir senso de cidadania- responsabilidade
com a empresa, com os colegas de trabalho e a
comunidade.
• Conviver e incentivar a diversidade e aceitar a
inovação.
• Ser persistente
• Ser proativo-converter informações em
beneficio da empresa.
CARACTERÍSTICAS DE UM TRABALHADOR DO
CONHECIMENTO

• O Trabalhador do Conhecimento é aquele que vem acompanhando a


evolução das tecnologias, a informação e o desenvolvimento de novos
modelos de negócios. São profissionais com espírito criativo e
empreendedor, qualificados, capazes de enfrentar os desafios do futuro
com coragem e determinação, mas também com novos conhecimento e
competências.
• Investir no conhecimento hoje é ter as rédeas da vida profissional nas
mãos no futuro. De agora em diante, somente a capacidade de renovar o
seu conhecimento tornará o profissional cada vez mais empregável.
PARA CONCLUIR

• A sociedade do conhecimento vem impor uma série de desafios para os


profissionais atuais. Aqueles que entendem essa demanda, melhor se preparam
para ela e se mostram aptos a entender o que mudou, têm vantagem competitiva
sobre os demais.
• O mercado de trabalho atual exige dos profissionais algumas competências
comportamentais essenciais para sua adaptação nesse novo cenário. Dentre elas,
podem ser citadas: ter conhecimento do negócio, ser flexível para lidar com
mudanças, respeitar as diferenças individuais no trabalho em equipe, saber lidar
com incertezas e estar sempre disposto a aprender, a se reciclar e a se adaptar.
REFERÊNCIAS

• Sociedade do conhecimento e da informação.


• https://slideplayer.com.br/slide/297753/

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