A RESPONSABILIDADE DO PADRINHO
ASPECTOS ÉTICOS E FILOSÓFICOS
ão se pode conhecer uma
mo
N pessoa completamente, mes-
que tenhamos uma convivência
plena com ela. Cada ser humano rep-
resenta um universo, com seus va-
lores próprios, seus sentimentos, seu
conceito de liberdade, ideais e que
estão fixados em sua personalidade.
Cada ser humano está colocado no
seu patamar de evolução, em razão
da qualidade do seu crescimento in-
terior. Evoluir culturalmente e espiri-
tualmente, representam metas pri-
mordiais na existência humana. A vi-
da grupal, em sociedade, gera conlli-
tos e confrontos, medos e ansiedades.
Entretanto, a vida gregária é funda-
mental, ainda que movida por impul-
sos, desejos, paixões e crenças as
mais diversificadas.
Eticamente, a obrigação moral
é conceito aplicável pelo dever de
se fazer isto ou aquilo, num ato mo-
ralmente correto.
As qualidades morais mais vi-
vamente admiradas são a coragem
de ser e o auto-sacrifício em favor
do próprio grupo.
O principal propósito da moral
é promover a conduta do indivíduo
que atenda os interesses do grupo e
não apenas do homem em si mesmo ...
Isto posto, devemos destacar o
potencial e abrir o caminho para a
manifestação da personalidade, co-
laborando para a afirmação, felici-
dade e valorização no grupo. Por
outro lado, a falta de capacidade de
comunicação pode afetar a quali-
dade do relacionamento.
A vida é um movimento de re-
lação uns com os outros, sejam ínti-
mas ou não, nessa relação pode
ocorrer desordem e desajustes, co-
locando em desequilíbrio os senti-
mentos. A sociedade e em especial
as Instituições estão baseadas no re-
lacionamento entre os seus mem-
bros; na inexistência dessa relação
4 o PRUMO
Ir:. Jarbas Teixeira Filho
"O que se encontra alrás de nós e o que se encontra à frenle. são problemas
menores. comparados com o que exisle dentro de nos"
entre os seus integrantes, as Insti-
tuições deixam de ser um marco
construtivo para tornarem-se meras
abstrações. Não se assume o papel
de padrinho ocasionalmente, por
circunstâncias ou por favor. Trata-
se de um ato consciente envolvendo
responsabilidades ainda que não es-
teja descrito e penalizado nos textos
da legislação' maçônica, mas que
moralmente é atribuído ao padri-
nho perante a Loja e que o mesmo
tem a obrigação de assumi-Ia
Certos Aprendizes, Compan-
heiros, Mestres e Mestres Instala-
dos desvincularam-se da Loja por
terem perdido o rumo de suas vi-
das, quer por serem pessoas huma-
nas falíveis, quer por inadaptabili-
dade ou por terem aqui aportado
em busca de interesses pessoais.
Com a mesma convicção ou
impulso que conduziu a propositu-
ra, deve o padrinho tomar a iniciati-
va de promover, de algum modo, o
desligamento daquele Irmão consi-
derado irrecuperável, independen-
temente do grau que possua, respei-
tadas as circunstâncias de cada caso
e obedecidas as formalidades legais.
E, qual seria a posição de um
Aprendiz ou Companheiro que se
sinta abandonado e desprestigiado
pelo alheamento do seu padrinho?
Sugerimos que, esgotados os
recursos de apelo junto ao seu tu-
tor, recorra ao Irmão Vigilante,
protetor de sua coluna, ou direta-
mente ao Venerável Mestre. Du-
rante toda a vida passamos por es-
tágios seqüenciais de crescimento e
desenvolvimento. Uma criança
aprende a virar, sentar, engatinhar e
depois a andar e a correr. Nenhuma
parte do processo pode ser pulada.
Essa conceituação alcança todos os
indivíduos nas diversas fases da vida
e em todas as áreas da atividade hu-
mana, quer sejam artista, pintor,
OLNER HOLME8
carpinteiro, poeta, empresário, pro-
fessor, aprendiz ou mestre.
A história registra que quando
os homens divergiam em suas po-
sições morais e éticas, enfrentavam-se
em duelos, manipulando armas pre-
viamente escolhidas. Os duelistas in-
dicavam de per si o seu padrinho que
ia testemunhar o ato quanto a sua la-
citude bem como para socorrer o seu
afilhado como vítima perdedora do
confronto. Essa é a figura do padri-
nho praticamente passiva. Numa Lo-
ja Maçônica, o Aprendiz também é
um duelista, que luta dentro de si
mesmo para encontrar o caminho pa-
ra o seu aperfeiçoamento, esgriman-
do para desbastar a pedra bruta que
repousa em seu mundo interior, ten-
do figurativamente como arma para
duelar a sua mente e os seus pensa-
mentos, para ordenação dos seus va-
lores. Como oposto da situação ante-
rior, O padrinho, neste caso, terá pa-
pel ativo, pois é seu dever ajudar e
colaborar com o seu afilhado, a fim
de que o mesmo consiga identificar a
dimensão do seu mundo e que possa
se equilibrar intelectualmente, emo-
cionalmente e psicologicamente. Esse
é o fator esotérico preponderante na
relação homem-universo, e conse-
qüentemente na relação homem-pro-
fano com o homem-maçom.
Ajudar o afilhado a livrar-se
das águas turbulentas é o papel do
padrinho, é a sua responsabilidade.
Ao afilhado, seja Aprendiz, Com-
panheiro ou Mestre, compete se
ajustar aos fins a que cada um livre-
mente se propôs.
Por derradeiro, afirmamos que
um padrinho pode ser culto e inteli-
gente, porém precisa ter a sabedo-
ria para orientar, aconselhar e ensi-
nar, e por outro lado, a humildade
para aprender e reaprender. •
O autor é Past Master da Loja José
Bonifácio n? 20 - Oriente de Santos
NQ89