O Malhete

Informativo Maçônico, Político e Cultural

Linhares - ES, Março de 2021 - Ano XIII - Nº 143 - E-mail: omalhete@gmail.com

Arco di Giano Janus - Roma Antiga - Roma Italia

02 Março 2021 O Malhete
O Malhete
ATITUDES DOS PAIS
Queridos Irmãos!!!
Em um bate papo agradável com uma pes-
soa que sempre esta ajudando outras em
momentos difíceis, falamos mais de hora
sobre diversos temas relacionados à família,
e dentre eles, falamos do relacionamento
dos pais e filhos.
Como temos nossas famílias, filhos e
netos, pensei ser oportuno transcrever neste
artigo o que extraímos daquele bate papo.
Na verdade, listamos 15 (quinze) atitudes
dos pais em relação a seus filhos, que ao final
julguei extremamente essencial na constru-
ção da personalidade e caráter dos filhos.
Vejamos:
1 – Ser Exemplo: “A palavra convence, o
exemplo arrasta”. Essa frase já é o bastante
para dizer o significa o exemplo. Os filhos se
espelham nas ações e comportamentos dos
pais. Seja exemplo para seus filhos.
2 – Observar e Conhecer: Do mesmo
modo que seus filhos te observam, observem
eles também, e procure conhecer suas ações,
relacionamentos, comportamento, desejos,
medos, etc... Procure conhecer seus filhos.
3 – Encorajar e Confiar: Observando
suas ações, encoraje-os em suas decisões e
confiem (acreditam) neles, pois assim se
sentirão fortes na caminhada.
4 – Ser Apoio: Seja essa base para seus
filhos. Eles devem sentir o apoio dos pais
para poderem tomar as decisões com firme-
za, pois sentirão que terão uma retaguarda
para ajudá-los.
5 – Conversar e Ouvir com atenção:
Converse com seus filhos, e especialmente
procure ouvi-los (podemos aprender muita
coisa ainda com eles). As pessoas estão
carentes de atenção. De mais atenção, prin-
cipalmente quando vierem falar alguma coi-
sa.
6 – Ser Positivo e Otimista: Mesmo nos
momentos difíceis, em momentos de deci-
sões, procure sempre ser positivo e otimista,
pois isso ajuda e muito. Tem uma frase inte-
ressante que gosto muito: “O otimismo pode
não ajudar, mas o pessimismo tudo piora,
sejamos, pois otimistas”.
7 – Aconselhar e Orientar: Esse papel é
fundamental na relação pais e filhos. Os pais
devem, por dever de ofício, aconselhar, ori-
entar e educar seus filhos na formação de seu
caráter. “A família educa, a escola ensina”.
8 – Ser Amável: Seja carinhoso e amoro-
so com seus filhos, pois recebendo esse cari-
nho e essa atenção, eles certamente serão
jovens e adultos amorosos. “Amor Vincit
Omnia” (Amor conquista tudo)”.
9 – Identificar Sentimentos: Sabemos
que não é fácil, mas os pais conhecem seus
filhos e devem sempre buscar identificar e
compreender os sentimentos deles, inclusi-
ve quando há alguma mudança de comporta-
mento.
10 – Ter e Colocar Limites: Importantís-
simo, principalmente em razão do consu-
mismo exagerado em que vivemos, os pais
devem estabelecer limites aos filhos, de
forma dialogada, e caso seja extrapolado,
seja imediatamente corrigido e novamente
observado.
Março 2021 03
11 – Brincar: Isso mesmo brinque com
seus filhos, sempre que puder e a ocasião
sugerir, brinque, divirta-se com eles (estou
fazendo muito com meus netos). Isso faz
parte da formação da personalidade deles.
12 – Delegar Tarefas: Atribua aos filhos
algumas tarefas da casa, transfira para eles
algumas responsabilidades e cobre os resul-
tados. Sentir-se-ão contribuindo com a famí-
lia. O resultado é muito interessante.
13 – Ser Autoridade e Não Autoritário:
Os filhos têm que saber e reconhecer a auto-
ridade dos pais, a quem devem obediência e
satisfação de suas atitudes. Os pais devem
saber colocar essa Autoridade nos momen-
tos certos. Não seja autoritário.
14 – Limitar e Acompanhar uso de Ele-
trônicos: Destacamos esse ponto, que pode-
ria estar contemplado do item 10, mas relaci-
onamos separadamente em razão da dimen-
são de esta tomando o uso de eletrônicos
pelas crianças, adolescentes e jovens.
Importante estipular um determinado tempo
de uso e, sobretudo acompanhar o uso (con-
teúdo que estão acessando, com quem estão
conversando, etc.).
15 – Cuidar de Si Mesmo: O último, mas
poderia ser o primeiro. Cuidar de si mesmo.
Para os pais poderem acompanhar o desen-
volvimento dos filhos, devem estar bem
consigo mesmo, portanto, devem se cuidar
nas dimensões física, mental e espiritual,
pois a responsabilidade de “criar” os filhos é
enorme.
Saudações Fraternais!!!
Valdir Massucatti
Eminente Grão Mestre Adjunto da Gran-
de Loja Maçônica do Estado do Espírito
Santo
04 Março 2021
EXISTEM AINDA IRMÃOS ABNEGADOS NA MAÇONARIA?
P ergunta coloquial e pragmática de apa-
rente resposta simples e positiva, que
motivacionou profundo e caloroso
debate , em um grupo de pesquisas e estudos
maçônicos .
Inicialmente teríamos que definir o vocábu-
lo ABNEGADOS, dentro do aspecto doutri-
nário do que preceitua nossos usos e costu-
mes.
Simbolicamente, seriam irmãos desinteres-
sados; que se caracterizam por possuírem
abnegação; sacrificados, devotados: Compro-
missados com a Ordem e o Simbolismo que
emana da mesma.
Filosoficamente, seriam irmãos altruístas,
desprendidos, filantropos. Que renunciam as
suas próprias vontades em função da Ordem e
dos outros irmãos; que não agem por interes-
ses próprios e vaidades pessoais.
Sob a ótica do esoterismo e da espiritualida-
de maçônica, a abnegação não se refere direta-
mente às práticas, antes aponta para uma atitu-
de de fundo, ou seja, para algo permanente e
estável, que posteriormente influencia os
comportamentos e as decisões. O irmão abne-
gado é aquele que se sacrifica ou renuncia aos
seus desejos e interesses primeiros. Geral-
mente fá-lo movido por altruísmo, por filan-
tropia ou inclusivamente por motivações ben-
fazejas. Esses irmãos de alguma maneira, reco-
nhecem a existência de um bem maior, que
reclama que os seus interesses particulares
sejam colocados num plano secundário. O
Irmão abnegado é capaz de envolver-se em
missões que não resultem diretamente em um
benefício pessoal. Por isso, há uma grande
proximidade entre abnegação e doação.
Diz o Sábio que o amor à sociedade e o com-
promisso pelo bem comum são uma forma
eminente de caridade, que toca não só as rela-
ções entre os indivíduos, mas também as
macro relações como relacionamentos socia-
is, econômicos, políticos. Por isso, a Maçona-
ria propõe ao mundo, seu ideal de uma civili-
zação embasada no amor fraternal. Ele é a
chave para um desenvolvimento autêntico:
para tornar a sociedade mais humana, mais
justa e igualitária, mais digna e é necessário
revalorizar o amor na vida social – nos planos
político, económico, cultural – fazendo dele a
norma constante e suprema do agir. Neste con-
texto, juntamente com a importância dos
pequenos gestos diários, o amor fraternal
impele-nos a pensar em grandes estratégias
que detenham eficazmente a degradação das
relações maçônicas, humanas e ambientais e
incentivem uma cultura do cuidado que per-
meie toda a sociedade. Quando alguém reco-
O Malhete
nhece a vocação de Deus, o Grande Arquiteto
do Universo, para intervir juntamente com os
outros nestas dinâmicas sociais, deve lem-
brar-se que isto faz parte da sua espiritualida-
de, é exercício da caridade e, deste modo, ama-
durece e se santifica.
Precisamos de tomar consciência de que
não há um autêntico cuidado sem uma capaci-
dade de abnegação. O contrário seria conver-
ter o compromisso com nossos irmãos e para
com a Maçonaria, num romantismo desencar-
nado e ilusório, numa moda passageira e
inconsequente, num programa de entreteni-
mento que desligamos quando se torna estéril,
desmotivador e que promove a discórdia e a
desunião. Os abnegados irmãos que ainda per-
sistem na Maçonaria se caracterizam por ensi-
narem diuturnamente não apenas com pala-
vras, mas com atitudes os sete valores funda-
mentais que devem nortear o verdadeiro inici-
ado, que são: Lealdade, Dever, Respeito, Ser-
viço Abnegado à Ordem, Honra, Integridade e
Coragem.
O inter-relacionamento dito socialmente
perfeito, impõe deveres, não só sociais como
também morais que, quando realizados com
abnegação e devotamento, se constituem em
expressões dos sentimentos de respeito
mútuo, caridade e da humildade, porque para
exercê-los, há necessidade de renunciar-se a
satisfação de prazeres próprios. Começamos a
exercitar essas qualificações na sociedade no
lar, no trabalho e por conseguinte na Maçona-
ria Universal.
>>>>
O Malhete
Assim, apesar da evasão que
está ocorrendo à passos largos nos
últimos anos, com esvaziamento
substancial de nossas colunas,
ainda persistem um quadro peque-
no, mas persistente de abnegados
irmãos que mantém acesa a chama
da verdadeira maçonaria em nos-
sos Templos.
A grande pergunta que não quer
calar:" Por quanto tempo?"
Parece até um paradoxo, pois
abnegação, em princípio, seria " ad
eternum" mas após 33 anos de ini-
ciado, vislumbro a diminuição ine-
xorável desses baluartes em nossas
já combalidas colunas, o que pio-
rou vertiginosamente nos últimos
anos e com a Pandemia, é previsto
que a evasão será na casa de 25% em média,
nos estudos de alguns pesquisadores maçôni-
cos.
Mas, me permitam o contraditório de um
eterno sonhador, concordo com a assertiva
bíblica de que a messe é grande e pouco são os
operários, printando Lc 10-1 a 9:
A messe é grande, mas os trabalhadores são
poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que
mande trabalhadores para a colheita.
3 Eis que vos envio como cordeiros para o
meio de lobos. 4 Não leveis bolsa, nem sacola,
nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém
pelo caminho! 5 Em qualquer casa em que
entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta
casa!' 6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa
paz repousará sobre ele; se não, ela voltará
para vós. 7 Permanecei naquela mesma casa,
comei e bebei do que tiverem, porque o traba-
lhador merece o seu salário. Não passeis de
casa em casa. 8 Quando entrardes numa cida-
de e fordes bem recebidos, comei do que vos
servirem, 9 curai os doentes que nela houver e
dizei ao povo: 'o Reino de Deus está próximo
de vós'”.
Assim concluímos esse pequeno ensaio
sobre o tema, tão debatido no grupo, com uma
conclusão: Existem sim, ainda irmãos abne-
gados e altruístas de coração em nossa Subli-
me Instituição, mas os tempos são outros. A
Globalização está transformando todas as ins-
Março 2021 05
tituições em todos os seus matizes,
sejam elas públicas, privadas.
Filantrópicas, associativas e filo-
sóficas etc.
Os caminhos para enfrentamen-
to, adaptabilidade e resiliência que
serão praticados e instituídos por
nossas lideranças, terão que ser
repensados, planejados e imple-
mentados na mesma velocidade
com a qual está sendo imprimida
pela globalização.
Ai entra dois dos princípios basi-
lares de nossa Instituição que
foram relevados nas duas últimas
décadas: 1) Uma Escola de forma-
ção de líderes e 2) Uma Escola de
ética.
Assim termino conclamando às
nossas lideranças a olharem mais para a dou-
trina e estudos maçônicos e menos para o cres-
cimento, como Potência, de maneira inconse-
quente, desqualificada e empedernida que
estamos presenciando.
Olhar Mais para as Lojas e os irmãos e
menos para as próprias vaidades pessoais.
Um TFA e um CAM
Dario Ângelo Baggieri
M.'. I.'. CIM 157465
Cadeira n 1 da AMLES
Patrono Alferes Tiradentes
06 Março 2021
MITRAÍSMO, CRISTIANISMO E MAÇONARIA:
A METAMORFOSE DE JANUS EM JOÃO
INTRODUÇÃO
Para quem tem alguma noção de mitologia greco-romana, o nome
Jano, Janus ou Ianus pode soar familiar, assim como, para os que são
afetos à literatura de um modo geral, é bem possível que já tenham se
deparado com o seu nome.
Em relação à Maçonaria, à sua história, ao seu simbolismo e às mui-
tas influências que recebeu ao longo da sua existência, a maioria de nós
se contenta em saber que, o período operativo foi um terreno fértil para
o nascimento de muitas das tradições maçônicas. Mas, a considerar a
quantidade de tradições e influências incorporadas no período citado,
algumas delas dificilmente virão à luz nas instruções ministradas no
Templo. Quando muito, poderão ser feitas alusões por ocasião das apre-
sentações de peças de arquitetura, isso conforme o tema abordado, é
claro, pois, se a depender unicamente das leituras ou do interesse pela
pesquisa relativas à história da Ordem, logo, logo, a discussão recairia
na velha polêmica a respeito de que o Maçom não lê, o que, convenha-
mos, numa época de polarizações não levaria a nada.
Ianus, Janus ou Jano, deus mitológico romano, foi muito cultuado na
época de Numa Pompílio, o segundo rei de Roma, o fundador dos “Col-
legia Fabrorum”, dos quais uma grande parte dos Maçons já ouviu falar,
eis que, um Colégio dos Arquitetos seria uma das partes. Na visão de
alguns estudiosos, antes dos colégios serem abolidos em definitivo,
souberam transmitir e levar além suas tradições secretas, sendo muito
provável que tivessem ido parar nas corporações profissionais europei-
O Malhete
as que floresceram e atuaram durante o período medieval na Maçonaria
que entrou para a história como Maçonaria Operativa.
Da religião mitraica, com fortes raízes no culto ao sol, emergiu o
deus Jano, que foi bastante adorado no âmbito dos Colégios Romanos.
Era um deus que possuía várias representações e as suas influências se
fazem sentir até hoje na Maçonaria, principalmente no simbolismo que
envolve as comemorações relativas aos solstícios, as quais perduram
até hoje.
Dando prosseguimento a esse trabalho que vai abordar os temas cita-
dos no seu título e que possuem uma ligação entre si, veremos primeira-
mente uma radiografia do deus mitológico Janus e suas representações,
que não são poucas, e após, alguns aspectos inerentes ao seu culto e ao
mitraísmo, de como esta religião teve muitas das suas práticas absorvi-
das pelo cristianismo e de como a Maçonaria também foi influenciada,
onde irá surgir a origem do nome “Lojas de São João” e a relação que se
pode encontrar com Janus.
Os temas em pauta, por sua amplitude são passíveis de desdobra-
mentos, o que faz com que acenemos para que os Irmãos interessados
em estudar e pesquisar encarem o desafio de nos apresentem novos
trabalhos.
JANUS – O SIGNIFICADO E AS ORIGENS
Quando o assunto envolve Mitologia, podemos dizer que o material
disponível é abundante, seja na forma de dicionários, de enciclopédias
e de livros, além de outras fontes de consultas. Portanto, com base em
algumas delas, vamos num primeiro momento, contemplar os leitores
com uma biografia sobre quem era e como surgiu a figura do deus
romano Ianus, Janus, ou ainda, Jano.
O nome Janus é de origem latina, Ianua, o que significa pórtico.
Então, Janus essa divindade romana, fazendo jus ao seu nome, o deus
do pórtico, mas, há outras atribuições do tipo: deus das entradas, das
soleiras, das fontes e até das leis civis. Janus era a porta, o que abre, dia-
nus, “o brilhante”, mito do verão e do dia. (Martins, pág. 162, 2004)
E tem mais: fundador da agricultura, pai do rio Tibre de Roma, aque-
le que recebia os primeiros frutos da colheita e com isso garantia o
sucesso. Assim foi cultuado durante todo o período romano.
>>>>
O Malhete
Na sua representação, ele possui dois rostos, em princípio, o que dá a
entender que ele era capaz de ver o começo e o fim de qualquer coisa,
concomitantemente. Assim também remete à dualidade, ao começo e
ao fim, à verdade e à mentira... Janus é bifronte porque abre e encerra o
dia. O nome do mês Janeiro daí procede, pois, em sua origem latina é
ianuarius, homenageando então Ianua ou Janus.
Quanto mais pesquisamos, mais coisas vão surgindo ao seu respeito.
Há mais coisas no tocante à sua aparência, sendo que, apresenta duas
faces e a descrição de que uma delas era velha e olhava para o passado,
a outra era jovem e olhava para o futuro. (Bullen, pág. 303, 2010)
Ou uma face com barba e a outra sem, ou ainda as duas com barba,
isso sem falar que há representações suas em que ele aparece com qua-
tro faces, supostamente guardando relação com as quatro estações do
ano, enfim...
No Fórum romano ficava o seu templo de bronze, na verdade, as
suas portas é que eram de bronze e havia sido erguido pelo rei Numa
Pompílio. A escultura de Janus em seu interior detinha o olhar de uma
das suas faces direcionado nascente, a outra para o poente. Oriente e
Ocidente. Janus representava ainda a luz criadora e geradora, pater
matutinus. (Martins, ibidem)
COMENTÁRIOS:
Do texto acima, salta aos olhos a riqueza do simbolismo inerente ao
deus Janus e que foi creditado maiormente pelos romanos. Alguma
coisa já podemos extrair do que foi visto, mesmo sem qualquer menção
ao simbolismo maçônico, pois a Maçonaria à época não existia. Mas,
podemos dizer que existe aí algo de familiar a nós: a presença aquela,
predominante, característica quando se fala sobre a base de muitas das
religiões da antiguidade, que é o culto solar, e uma influência que atra-
vessou épocas, sofreu algumas transformações, e os resquícios dessas
práticas e do seu simbolismo estão contidos sim, em muitas passagens
dos nosso Rituais. Afinal, como disse um dos nossos maiores estudio-
sos o Irmão José Castellani: “a partir do mito solar persa (seguido e
difundido pelos romanos), a senda iniciática da Maçonaria representa
a caminhada mística em direção ao Sol, que no caso representa a luz
do conhecimento.” (Castellani, pág. 75, 2004)
Fica evidente também, quando o assunto é o deus Janus, a questão da
dualidade, de onde a Maçonaria absorveu várias lições, tanto proveni-
entes da mitologia como da Bíblia, e que é um tema interessantíssimo
para ser discutido em Loja, assim como, sempre atualíssimo.
JANUS & AS LOJAS DE SÃO JOÃO
Nos antigos rituais, consta que ao Irmão visitador de uma Loja eram
feitas várias perguntas, sendo que a primeira delas era: ”_ Meu Irmão,
de onde vindes?” Ao que o Irmão visitante responderia: “_ Da Loja de
São João, Venerável Mestre.”
Reconhecidamente, escreveu Jules Boucher, os patronos dos
Maçons e dos Canteiros são os santos: São Brás, Santo Tomás, São
Luís, São Gregório, Santo Alpiniano, São Marinho, São Martinho,
Santo Estevão, Santa Bárbara, os Quatro Coroados e talvez outros
mais.
Não aparecem aí nem São João Batista, nem tampouco São João
Evangelista, mas, que sabemos serem de extrema importância para a
Maçonaria, tanto que, existem assembleias especiais ou datas come-
morativas relativas aos mesmos.


Por que então, Loja de São João se nem um nem outro foi citado?
Ou, outra pergunta que o leitor já deve estar se fazendo: onde é que
entra Janus nesta história?
Evidentemente há uma longa história por trás e que até em determi-
nados momentos poderá parecer confusa, então, antes de focar numa
sintetização, é preciso tentar tornála mais entendível.
Para isso, vamos começar definindo a religião era essa chamada de
mitraísmo, e que irá nos ajudar a pavimentar o caminho.
O QUE FOI O MITRAÍSMO?
Para falar do culto do mitraísmo, a primeira coisa é dizer que ele
sobressaiu da religião masdeísta. O mitraísmo era baseado no deus da
luz, cujo nome era Mitra. Possuía raízes hebraicas, oriundas da seita
dos fariseus, fonte de onde a Igreja aproveitou os conceitos sobre imor-
talidade da alma, Juízo final, ressurreição da carne, céu e inferno, entre
outros. Afora as influências hebraicas, com origens mitráicas mesmo
foi a santificação do 25 de dezembro.
Março 2021 07
Mitra sacrifica o touro sagrado
Os adeptos do mitraísmo cultuavam o deus da luz e do sol, e na noite
de 24 para 25 de dezembro, acontecia a comemoração que era chamada
de Natalis Invictis Solis (Nascimento do Sol Vitorioso). Na noite essa,
a mais comprida do ano no hemisfério norte, ocorria o solstício de
inverno, onde eram oferecidos sacrifícios propiciatórios em razão da
volta da luz e do calor do sol. Em decorrência disso, o cristianismo apro-
veitou o ritual e transformou-o simbolicamente. O dia 25 de dezembro
passou a ser a data do nascimento de Jesus, identificado assim com a
luz do mundo, o sol. (Castellani, pág. 74, 2004)
A adoção, de maneira oficial, da fé cristã por Roma e o início da
consequente expansão do cristianismo envolveu a ocupação de espa-
ços que antes eram ocupados pelo mitraísmo, até então a religião domi-
nante no império romano.
O mitraísmo fora trazido pelos soldados romanos e acabara se alas-
trando. O culto vigorou por muito tempo em toda a extensão do impé-
rio, gozando ainda da proteção de vários imperadores. Com os novos
tempos, e os bons ventos soprando para o cristianismo, acabou sendo
extinto. Algumas das suas práticas, no entanto, receberam uma roupa-
gem nova dentro da nova religião, como já foi aventado anteriormente.
Aí residirá a origem então, essa que é supostamente a mais aceita
teoria, a de uma transformação que vai abarcar a religião que recém
nascia, o cristianismo, a religião que saía de cena, o mitraísmo, mas,
com a permanência de algumas práticas e um simbolismo forte que
remete ao culto solar e aos deus bifronte metamorfoseado em santos,
tudo com reflexos futuros no simbolismo maçônico?
COMENTÁRIOS:
Repensando: o que aconteceu é que a Maçonaria acabou recebendo
essas influências do mitraísmo, mas, sob a capa do Cristianismo. Não
esqueçamos que a Maçonaria cresceu e se desenvolveu em seus prime-
iros tempos à sombra da Igreja, e isso por si só, contribuiu em muito
para que levemos em consideração as influências que ela possa ter
recebido a partir de uma relação muito próxima que se estabeleceu e
que durou bastante tempo. A adoção de santos padroeiros, se podemos
definir assim, foi um dos frutos dessa relação, afinal, dado ao tipo de
construções que eram erigidas dentro naquele cenário medieval, elas
eram em sua maioria construções voltadas para os religiosos e para a
religião, fica quase impossível descartar uma contaminação do ponto
de vista dos costumes e das práticas religiosas, no bom sentido, é claro.
Voltando à questão as origens das “Lojas de São João”, e ainda com
base no clássico de Jules Boucher, “A Simbólica Maçônica”, ali ele cita
Oswald Wirth pelo fato do mesmo ter dito não haver nenhuma dúvida
que a expressão “Loja de São João” é derivada do título usado pelas
corporações de construtores medievais: “Confrarias de São João”.
Como vimos logo acima, foram elencados vários nomes de santos,
patronos dos Maçons e dos Canteiros, porém, faltando os Joões.
>>>>
06 Março 2021
No entanto, São João Batista e São João Evangelista são dois santos
importantíssimos para a Maçonaria, tanto que esta última celebra em
assembleias especiais suas festas que são respectivamente 24 de junho
e 27 de dezembro, a primeira no solstício de inverno e a segunda no
solstício de verão.
Será que perdemos alguma informação no caminho? O Irmão Sér-
gio Koury Jerez em seu ótimo trabalho intitulado “A conexão Januá-
ria” diz à certa altura:
“No século XVIII, quando a nossa Ordem tinha muitas referências
cristãs, São João Evangelista e São João Batista eram tido como san-
tos patronos da Maçonaria inglesa.”


Por outro lado, é do estudioso Hervé Masson, autor do “Manual-
diccionario de Esoterismo”, e ainda em referência ao verbete “Jano”,
que colhemos mais informações sobre os dois santos de nome João:
“JANO: Dios de la antigua Roma, Jano era el patrono de todas las
empresas, especialmente de las asociaciones de oficios. Los romanos
lo consideraban como el Dios de 'las puertas' (janua: puerta); abría e
cerraba las puertas del ciclo anual, las de los solstícios, la 'puerta de
los dioses' solstício de invierno) y la 'puerta de los hombres' (solstício
de verano). Estas dos puertas son Janua coeli y Janua inferni. (...)
Muchas veces se ha comparado a Jano con los dos santos Juan del cris-
tianismo primitivo. Se festeja en junio a Juan el Bautista, con el solstí-
cio de verano, y a Juan Evangelista en diciembre, con el solstício de
invierno. (...) Por último, teniendo en cuenta la similitude de los nom-
bres, Jano era el patrono de las asociaciones de oficios romanos,
como San Juan lo es de los masones, cuyo origen operativo es bien
conocido. En la masonería simbólica tradicional, las logias se llaman
de 'San Juan' y los solstícios dan lugar a unos banquetes rituales.”
(Masson, págs. 466-467, 1975)
COMENTÁRIOS:
Como o autor dá a entender, Janus foi comparado muitas vezes com
os dois santos João do cristianismo primitivo, a até aí por conta da simi-
litude dos nomes. Jano era o patrono das associações de ofícios roma-
nas e o São João dos Maçons.
O que faz supor que nos recortes de partes do culto mitraico, os
quais ganharam roupagem cristã e assim foram aproveitados, entre
outras coisas, o grande achado foi a figura do deus Janus com as suas
faces e o que elas representavam, substituindo-as então pelos dois
Joões.
Além do mais, Jules Boucher diz que a Maçonaria foi bem inspirada
ao dar esse nome às suas Lojas (Loja de São João), justificando assim
os múltiplos sentidos que lhe podem ser atribuídos.
Ainda para enfatizar o que foi exposto até aqui, duas passagens per-
tencentes a dois belos trabalhos reforçam isso tudo, em poucas linhas.
O primeiro é do Irmão Aurivan de Castro em seu artigo publicado na
revista “A Trolha”, que diz assim:
“... os cristãos que ora eram perseguidos, se converteram em per-
seguidores dos 'pagãos'. Substituíram o culto ao Sol por Jesus Cristo,
como sendo a luz que se espargirá por toda a humanidade, e o deus
mitraico Janus que era representado em esculturas, contendo duas
frontes que simbolizam os solstícios, foi substituído pelos dois Joões,
ou seja, o Batista e o Evangelista, que para alguns teriam o mesmo
significado que Janus.”
Do outro trabalho, disponível na Internet, que é o da autoria do
Irmão Sérgio Khoury Jérez, cujo título foi citado há pouco, destaco
esta outra passagem, que também está relacionada à descrição de
Janus:
“Talvez o fato de um dia ter simbolizado o Sol é que lhe tenha valido
o comando dos solstícios, inaugurando o inverno e o verão romano.”
Além de tudo, não poderíamos deixar de fora a , o sábio Irmão Pedro
Juk quando em seu artigo intitulado “São João e os Solstícios” publi-
cado em seu blog, responde às dúvidas de um Irmão e consegue ser
como sempre bastante didático visando facilitar o entendimento
daquelas questões que geram confusões comumente. Em determinado
momento ele escreveu:
“Com o advento da adoção do cristianismo para o Império Roma-
no, por obra do Imperador Constantino, essa relação solsticial com a
divindade bicéfala pagã seria alterada, quando então foi substituído o
deus Janus pelos santos cristãos, João, o Baptista e João, o Evangelis-
ta, o que inclusive adequaria e acomodaria essa relação religiosa
O Malhete
São João Batista e são João Evangelista
para o cristianismo. Nesse pormenor a identidade do solstício em Cân-
cer (verão no hemisfério norte e inverno no hemisfério sul) por
influência da Igreja Católica, ficaria relativo a São João Baptista
(Esperança - daquele que previu a Luz), enquanto que o solstício em
Capricórnio (inverno no hemisfério norte e verão no hemisfério sul)

seria alusivo a São João Evangelista (Reconhecimento - daquele que
pregou a Luz). (...) Ainda no que concerne à relação entre o simbolis-
mo solsticial, o cristão e a própria Maçonaria que também adota os
mesmos padroeiros, muito embora a Maçonaria não seja uma reli-
gião, essa alegoria relativa aos dois solstícios, em última análise sali-
enta a evidente relação com o deus bicéfalo romano Janus (que tem
duas cabeças) às duas transições solsticiais do verão e do inverno na
banda setentrional da Terra.” (Juk, 2017)
COMENTÁRIOS FINAIS:
O tema desenvolvido até aqui, ainda que tenha sido ilustrado com as
mais diversas e brilhantes opiniões, emitidas por grandes estudiosos
da Maçonaria, não poderia neste espaço contemplar a totalidade de
aspectos e detalhes que o compõem, ainda mais, envolvendo a mitolo-
gia, a história e o simbolismo maçônico, todos rios bastante caudalo-
sos, e com muitos afluentes.
Não foi intuito em momento algum, problematizar ou polemizar,
mas de posse das informações auferidas nas pesquisas realizadas, jun-
tá-las, e proporcionar com isso um panorama aos Irmãos, trazendo um
pouco de luz sobre o assunto, o qual está longe de esgotar. Quem sabe,
poder entusiasmar aqueles Irmãos que apreciam estudar e pesquisar
sobre a Maçonaria, o melhor caminho para entendê-la, ou condensan-
do isso tudo que foi dito continuar defendendo o pensamento de que a
busca do conhecimento para o Maçom deve ser constante.
CONSULTAS BIBLIOGRÁFICAS:
Internet:
“A Conexão Januária” – Artigo de autoria do Irmão Sérgio Koury
Jerez – Disponível em: bibliot3ca.com
“São João e os Solstícios da Maçonaria”
Blog do Pedro Juk
/24/06/2017 – Disponível em: pedro-juk.blogspot.com
Revistas:
A Trolha nº 338, dezembro/2014: “O Culto Solar e sua Influência na
Maçonaria” – Artigo de autoria do Irmão Aurivan de Castro
Livros:
BOUCHER, Jules. “A Simbólica Maçônica” – Editora Pensamen-
to-Cultrix Ltda. – 2009
BULLEN, Matthew... {et al.} “GUIA VISUAL DA MITOLOGIA
NO MUNDO – NATIONAL GEOGRAPHIC “- Editora Abril – 2010
CASTELANI, José. “As Origens Históricas da Mística Maçônica”
– Editora Landmark - 2003
CHAMPLIN, R.N. “Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia” -
Volume 3 – Editora Hagnos – 9ª Edição – 2008
MARTINS, Oliveira. “Mitos da Religião” – Madras Editora Ltda.
2004
MASSON, Hervé. “Manual-diccionario de Esoterismo” – Edicio-
nes Roca, S. A. – México, D.F. - 1975
O Malhete
ACRÓSTICO DOS 3 GRAUS DA MAÇONARIA
“APRENDIZADO INESQUECÍVEL NA VIDA DOS MAÇONS”
Ao entrar-me pela primeira vez na loja maçônica, foi no dia da minha iniciação,
Posicionado de pé, de olhos vendados e ansioso,
Radiante de felicidade estava o meu coração.
Enquanto ouvia atentamente as orientações, eu não imaginava de onde vinham,
Nenhum momento eu fiquei com receio ou medo de fracassar,
Detive os meus anseios, pois na Ordem eu queria entrar.
Irmão que me conduzia, com ele várias viagens eu dei,
Zeloso comigo e seguro em sua companhia, no final, à luz eu herdei.
CONTEXTO DO GRAU DE APRENDIZ
No Grau do Aprendiz e seus Mistérios é a revelação possível do conteúdo e das
informações adequadas ao Aprendiz de Maçom. É o primeiro estágio na trilha
da nossa “fraternidade de homens livres” que procuram conservar seus
mistérios e transmiti-los gradativamente aos irmãos que a integram.
Como companheiro maçom, consegui dar os primeiros passos sozinho,
Orientado sempre pelo Irmão primeiro vigilante,
Muito atento eu estava com todas as instruções, pois
Para mim eram muito importantes.
Ainda no segundo grau, que simboliza a vida e a fase madura,
N ovas informações eram concebidas, pois eu desejava chegar na fase futura.
Habilidades eu tinha que ter para manusear as novas ferramentas,
Enquanto tarefas fazia e novas instruções e com muitas leituras atentas.
Inquirido pelos irmãos cheguei ao telhamento,
Respondi todas as perguntas com muita segurança,
Obstinado, fui aprovado com alegria, pois havia muita esperança e firmamento.
CONTEXTO DO GRAU DE COMPANHEIRO
O Grau de Companheiro obedece a um período superior, que é o da humanidade
desprendida das opiniões supersticiosas, porém, consagrada à veracidade
científica, sem detrimento da reflexão do absoluto e do transcendente. É o segundo
grau Maçônico diante do simbolismo e representa além disso, um degrau na
Março 2021 09
Escada de Jacó. Simbolicamente, ao Companheiro é encarregado de polir a Pedra
Bruta, aplainada por ele no Grau de Aprendiz, e levá-lo à perfeição.
Muito feliz e motivado, cheguei ao Terceiro Grau e Mestre me tornei,
Exaltado com muita honra e satisfação,
Sentia a adrenalina correr pelo corpo inteiro,
Temente ao GADU, com respeito e muita emoção.
Recebi a Medalha da Plenitude Maçônica, e ao final
Exaltei também aos meus Irmãos, do fundo do Meu Coração.
CONTEXTO DO GRAU DE MESTRE
O importante na vida maçônica não é quando se ingressa na Maçonaria ou quando
se alcança o grau de Mestre. Não são momentos melhores ou superiores a todos os
marços maçônicos. Cada grau tem sua importância dentro do preceito de cada
grau. O que considero importante, é que nós maçons devemos nos instruir ao
máximo em cada grau em que passamos e vivemos a vida pelas normas maçônicos.
Jamais devemos esquecer cada grau vivido dentro da nossa Ordem, pois é um
aprendizado inesquecível em nossas vidas. Se não fosse assim, não haveria o
menor sentido por tudo que fizemos e passamos, desde o Grau de Aprendiz. O que
eu julgo importante em particular, não é o ponto de partida como Aprendiz, nem a
chegada como Mestre, mas é a nossa Caminhada dentro da Ordem. Um TFA a
todos os meus IIr:.com muita S FU
Por: Charleston Sperandio de Souza - CIM nº 304.753
MM. Loja Fraternidade Guanduense de Baixo Guandu/ES.
*Ao utilizar o texto, favor citar a fonte.
10 Março 2021
OS 7 PECADOS CAPITAIS
Autor: Andres Alvarez
N o século XIV uma língua românica
ganhou força na Itália sobre outros
dialetos da região, desenvolvida na
Idade Média, foi imposta graças ao prestígio
de escritores importantes como: Francesco
Petraca, Giovanni Boccaccio e Dante Alighie-
ri.
Mais de um século depois, com a ascensão
de Maquiavel, ratifica a dignidade do toscano
como uma "língua iterária" da Itália, a passa-
gem da história à modernidade, dilui o toscano
com o passar do tempo, deixando o italiano
moderno como língua oficial.
No centro desta revolução cultural estava A
Divina Comédia, obra escrita por Dante Alig-
hieri, este poema foi durante séculos o único
meio de unidade intelectual e moral em uma
Itália que se dividiu em vários estados e diale-
tos. Dante com seu trabalho, alcançou a unida-
de entre os italianos, todos deveriam de algu-
ma forma entender a Toscana para entender
em primeira mão o que Dante queria nos dizer
com este poema.
Quero trazer essa reflexão a este ponto, para
compreender plenamente os pecados capitais,
não podemos fazê-lo de uma perspectiva pura-
mente conceitual, teríamos a forma, mas não a
essência do significado; devemos fazê-lo
desde o campo filosófico e teológico para
alcançar a profundidade que desejamos. A
obra que por excelência aborda os pecados
capitais nesses sentidos é precisamente a Divi-
na Comédia, sendo mais específico, o capítulo
dedicado ao Purgatório.
“Agora o pequeno barco da minha enge-
nhosidade, que deixa para trás um mar tão
cruel, desdobrará suas velas para navegar
melhores águas; e cantarei aquele segundo
reino, onde o espírito humano é purificado e
digno de subir ao céu. " É parte do primeiro
parágrafo que Dante conta, quando finalmente
sai do inferno pelas mãos de seu mestre Virgí-
lio e chega ao Purgatório.
Com esta simples frase, Dante nos diz o que
é verdadeiramente um pecado capital. Em sín-
tese, qualquer vício ou desejo que vai contra a
moral cristã é definido como um pecado capi-
tal, e é chamado de “capital” porque é o início
ou a porta para outros pecados mais graves.
No entanto, se pudermos nos livrar deles,
podemos chegar ao paraíso.
Virgílio diz a Dante que para superar o Pur-
gatório, ele deve purificar sua alma, passando
pelas 7 etapas, cada etapa representa um peca-
do capital. Virgílio também lhe explica que só
chegam ao purgatório as almas que conse-
guem retificar o seu caminho, só então têm a
opção de ir para o céu. Abaixo, listo as 7 cama-
das, com as punições adequadas para purificar
a alma:
1ª Camada - Orgulho: O castigo para os
orgulhosos será carregar pedras pesadas, para
que tenham sempre a cabeça baixa, só assim
serão humildes.
2º Grau - Inveja: Os invejosos terão os
olhos costurados com fios de ferro, para que
nunca mais percebam o que veem e aprendam
a ouvir com respeito. É a mensagem para a
humanidade, para que fortaleça sua empatia
com os outros.
O Malhete
3º Grau - Raiva: As pessoas raivosas
devem caminhar sobre aberturas acre, é um
símbolo do efeito que a raiva pode ter sobre as
outras pessoas. A melhor maneira de combater
esse pecado é forjando nossa paciência com
todos os nossos semelhantes.
4ª Camada - Preguiça: A punição para os
preguiçosos será o trabalho constante, eles
nunca irão descansar; A mensagem é óbvia,
em nossa vida deve haver proatividade cons-
tante para evitar cair neste pecado.
5º Grau - Avareza: Os avarentos e amantes
do material, ficarão no chão, sem possibilida-
de de desfalque, para valorizar-se mais, sem
ter que ter qualquer objeto material em suas
mãos. A ganância é combatida com generosi-
dade, dando e compreendendo aos outros.
6ª Série - Gula: Todos aqueles que não se
contentam em comer, beber ou deixar de
comer, vivem dos excessos; eles devem mor-
rer de fome diante de árvores cheias de frutas
que nunca estarão ao seu alcance. É uma cha-
mada direta à temperança e moderação que
devemos ter como seres racionais.
7ª Série - Luxúria: Almas cujo desejo sexu-
al está mal orientado, devem cruzar chamas
incessantes se quiserem passar para o outro
lado. Aqui tenho que fazer um parêntese, quan-
do Dante decide purificar sua alma desse peca-
do, o medo o invadiu, ao cruzar as chamas, ele
conheceu Beatriz, que o esperava no paraíso, e
que era a mulher que ele sempre amou. Beatriz
na vida real foi aquela que Dante sempre reve-
renciou, ela era seu amor platônico, mas ela se
casou com outro, sem dar tempo a Dante para
declarar seu amor.
>>>>
O Malhete Março 2021 11
Beatriz morre jovem, estima-se que foi
antes de escrever a divina comédia, e é a ela
que se dedica o capítulo do paraíso, para
Dante ela era uma alma pura. Com este cru-
zamento de metáforas, o autor tenta nos ilu-
minar, a luxúria nunca será o caminho para
encontrar o amor; Devemos superá-lo e dar
nossa sexualidade apenas àqueles que ama-
mos, assim encontraremos o amor verdadei-
ro.
No século V o padre João Cassiano e seu
mestre Evagrio em Nitria, postularam 8 peca-
dos capitais, mais tarde Papa Gregório I, base-
ia-se nestes 8 pecados, para elaborar os 7
pecados capitais que conhecemos hoje, des-
taca-se que Gregório I desenha da lista de
tristeza, descartou-o como um pecado capi-
tal.
Na minha opinião pessoal essa estimativa
é mal feita, todos nós em algum momento da
vida podemos nos sentir tristes, mas quando
esse sentimento permanece presente, é uma
indicação clara de que somos muito gratos
Dante Alighieri e Beatriz Portinari
com a vida e com Deus, portanto, deveria con- O inferno, por outro lado, é dividido em 9 que a pessoa virtuosa ficará comprometida.
tinuam a ser considerados um pecado capital. círculos, o nono sendo aquele no centro da Por outro lado, quebrar nossa palavra é algo
Por fim, quero destacar o momento em que terra, onde estão aquelas almas que comete- que o ser humano não pode permitir, não só
Virgílio explica a Dante a distribuição dos ram o pecado mais grave de todos, a traição. falta alguém, mas também a si mesmo.
degraus do purgatório, que vão desde o peca- Aqui está a grande diferença entre um pecado Termino com uma frase cujo autor não con-
do mais grave (orgulho) até o pecado menos capital e um pecado grave. segui encontrar, mas engloba o significado
grave (luxúria). O orgulho é sério, porque Na nossa vida sempre cometeremos erros, destas palavras:
anulamos automaticamente o nosso seme- equívocos ou pecados, o pecado torna-se gra- "Não há pecado mais vergonhoso do que
lhante, nesse sentido também podemos intuir ve, quando é recorrente, é bom sentir raiva ou enganar aqueles que acreditam em você"
que o ateu é alguém soberbo, pois não conhe- às vezes ser preguiçoso, mas devemos sem-
ce a existência de que no universo pode haver pre cuidar da frequência desses atos, pois é aí Fonte: Maçonaria Global
alguém superior a nós.
12 Março 2021
CRESCIMENTO ATRAVÉS DO CIRCULO DA VIDA
D e que maneira a irrupção do cristianis-
mo no mundo antigo afeta a filosofia?
Há uma tentação antiga e perigosa de
se pensar que a “filosofia cristã” seja só oriunda
dos céus sem a interferência do meio ambiente.
A filosofia, como tudo, não parte do zero. Já
se falou bastante de seu começo pré-socrático.
Isso deixa evidente que parte dos saberes, às
vezes inumeráveis saberes, de supostos prévi-
os nos quais se está, e é justamente sobre eles
que surge e se apresenta o problema da filosofia
– se constrói uma filosofia – ou várias – em
uma situação determinada.
Isto parece contradizer a idéia, tão arraiga-
da, de que a filosofia é uma ciência que não
tem supostos, como se expressava em ale-
mão, na palavra quilométrica: vorausset-
zungslosigkeit, ou ausência de supostos.
Teríamos que dizer que uma filosofia não
parte do zero.
As tradições de todos os tempos – várias
facetas de uma mesma e única Grande Tradi-
ção são unânimes ao apontar a idéia de um
paraíso primordial.
Lamentando-se, os antigos lembravam-se
do paraíso perdido e, confraternizavam-se na
certeza da sua existência, que para ele voltari-
am algum dia. Afirmavam a existência de uma
Tradição de conhecimentos comunicada por
Deus a Adão, transmitida por este a seus des-
cendentes, e trazida a nós através das escolas
iniciáticas. Acreditavam no ser humano como
“príncipe”, feito em ouro, que se convertera
em barro, mas que, cedo ou tarde, voltaria à sua
grandeza original.
Nos desertos da Antiga Pérsia, as caravanas
de mercadores acampavam à noite para des-
cansar. Acendiam uma fogueira, naquela terra,
respirando o ar, bebiam a água, para repor suas
energias e diante do fogo, adoravam a Deus.
Naquele tempo, na natureza virgem, pedras
preciosas espalhavam-se no solo dos rios. Bri-
lhavam com os raios solares, e os primitivos
nelas viam as primícias do mundo. A idéia de
beleza que as pedras lhe despertavam remeteu-
os à noção de harmonia, conhecimento e paz.
O crescimento é uma soma dos conhecimen-
tos adquiridos, vejamos um “hino a Deus”:
Tu que transcendes tudo, que o outro epíteto
poderia dar-Te?
O Malhete
Com que canto posso louvar-Te, se Te
ergues acima de tudo?
Que palavras poderia exaltar-Te se não Sois
explicável com palavras?
Oh, Tu, Ser Inefável, que geraste tudo o que
fala.
Como pode a mente abraçar-Te se não Sois
pela mente alcançável?
Tu, incogmiscível que engendrou tudo o que
pensa.
Mudos ou sem palavras, todos os seres pro-
clamam Tua glória.
Dotados ou não de palavras, todos os seres
Te exaltam.
Percebendo Tuas pegadas, em silêncio
todos os seres Te cantam um hino.
Tudo há brotado de Ti; só Tu não procedes
de nada.
Tudo em Ti permanece; tudo para Ti se diri-
ge, Sois o fim de tudo; Sois o Uno; Sois o Todo,
ainda que Tu não sejas uno nem tudo.
Oh Ser de mil nomes, como poderei chamar-
Te se careces de nome?
Que ente, ainda que celeste, poderá pene-
trar em teu véu sublime?
Sê-me propício.
Tu que transcendes tudo, que outro epíteto
poderia dar-Te?
PROCLO (412-485 d.C)
>>>>
O Malhete
Quando a Madame Blavatsky, figura místi-
ca, que participou de lutas revolucionárias;
dizem que conspirou com os maçons; foi quali-
ficada de espiã; pregou contra o materialismo;
foi perseguida por conservadores das religiões
tradicionais, quando confrontou alguns de seus
dogmas. Esta senhora que denunciou que as
religiões tradicionais haviam perdido sua
essência pelo excesso de formalismo. Prenun-
ciava o abandono do mundo material, encami-
nhando o povo a ser uma máquina sem alma.
Como entender seu extremismo, se é que o
foi? Nasceu em família aristocrática na Rússia,
uma vida dedicada a desvendar mistérios, no
século XIX, em meio à influência de movimen-
tos de libertação. Naquela época o quadro polí-
tico em que o império inglês, através da revolu-
ção industrial, impunha uma ideologia conser-
vadora, positivista, materialista, conflitando
com os ideais libertadores sociais.
Quando estudamos os fenômenos gerais
inerentes aos reinos da natureza, devemos con-
siderar, além da reprodução, hereditariedade e
nutrição, outros tão importantes como, os de
irritabilidade, as relações dos seres vivos uns
com os outros, bem como a teoria da evolução.
Apresentam os biologistas como caracteres
fundamentais dos seres vivos: a origem, a com-
posição química, a estrutura, o poder de nutri-
ção, a reprodução, o crescimento, a forma, o
poder de reagir aos excitantes do meio exterior,
o movimento, a evolução limitada pela morte.
Até recentemente acreditava-se ser impossí-
vel obter em laboratório nenhum ser dotado de
vida, por mais simples que fosse.
No tempo de Redi (1626-1697) era aceito,
pelos sábios em geral, que os “bichos” da carne
tinham origem na própria carne em putrefação.
Pasteur (1860) conseguiu, finalmente, des-
truir este dogma científico que, no seu tempo,
em França, ainda era defendido com ardor por
Pouchet.
Devemos lembrar as variáveis:
Composição química: todos os seres vivos
apresentam uma composição química comple-
xa. Estrutura: a matéria viva apresenta sempre
uma estrutura heterogênea, bem como os seres
vivos, em geral, uma estrutura celular.
O Poder de Nutrição: os seres vivos possu-
em diástases ou fenômenos e, por isso, têm o
poder de formar matéria viva específica, com
alimentos não específicos retirados do meio
exterior, renovando, de forma constante, o seu
organismo.
Reprodução: todo ser vivo tem o poder de
manter a conservação da espécie.
O Crescimento: o do ser vivo é conseqüên-
cia da nutrição e da multiplicação celular.
Começa, em geral, por uma célula e sua divisão
provoca o crescimento do organismo de dentro
para fora, ao contrário dos seres brutos, cujo
crescimento é de fora para dentro, por agrega-
ção de partículas minerais (crescimento por
justaposição).
Exemplo de imitação de crescimento, em
seres vivos, foram feitos por Traube (1864) e
Leduc (1905) que apresentaram o crescimento
osmóticos. Numa solução diluída de sulfato de
cobre, colocaram um cristal de ferrocianeto de
potássio. Forma-se em torno do cristal uma
membrana de ferrocianeto de cobre que, sendo
semipermeável, deixa entrar água e assim cres-
ce o referido cristal. Este crescimento cessa no
momento que a pressão interior vence a resis-
tência da membrana, provocando seu rompi-
mento.
Forma: em geral os seres vivos dominam as
linhas curvas; os seres brutos são amorfos ou
apresentam formas perfeitamente geométri-
cas.
Movimento: Todos os seres vivos, vegetais
ou animais, reagem aos excitantes do meio
exterior. A reposta mais comum é o movimen-
to.
O movimento não é, porém, exclusivo dos
seres vivos. Tanto a matéria viva como a bruta
acha-se num movimento constante e irregular,
que tem como causa a constante agitação mole-
cular. Este movimento é chamado browniano,
por ter sido observado pela primeira vez por
Roberto Brown, em 1827.
Evolução: (crescimento, através do circu-
lo da vida) finalmente podemos apontar ainda
como característica do ser vivo – o crescimen-
to (evolução) limitado pela morte. Todos os
seres vivos nascem, crescem, sentem, envelhe-
cem e morrem.
Todas essas características são inerentes do
ser vivo, como as de assimilar experimentos e
ensinamentos. Essa última depende de seu
poder de sentir, absorver e compreender.
Devemos lembrar-nos que todos somos
Março 2021 13
imperfeitos. Acreditando nisso iremos tentar
corrigi- los, na prática da paciência e da tole-
rância, tornando-se então mais sensíveis e eli-
minando aquele crescimento por justaposição.
Devemos também observar e sentir sempre
a “informação”, pois da mesma fonte pode vir
coisas divergentes. O Mestre dos Mestres nos
ensinou que até Pedro, escolhido para ser a
Pedra que edificaria a sua igreja, poderia trans-
mitir maus conselhos. Vejamos duas passagens
da Bíblia, em Mateus:
Capítulo 16, versículo 13-17: Chegando à
região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a
Seguinte pergunta aos Seus discípulos: “Quem
dizem os homens que é o Filho do Homem?”
Responderam: “Uns, que é João Baptista,
outros, que é Elias, e outros que é Jeremias, ou
alguns dos profetas” E vós, quem dizeis que Eu
sou?” Tomando a palavra, Simão Pedro res-
pondeu: “Tu és Cristo, Filho de Deus vivo”.
Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão,
filho de Jonas, porque não foram a carne nem o
sangue quem to revelou, mas Teu Pai que está
nos céus.
Capítulo 16, versículo 21-24: A partir desse
dia, Jesus começou a fazer ver aos Seus discí-
pulos que tinha que ir a Jerusalém e sofrer
muito da parte dos anciãos, e dos príncipes dos
sacerdotes e dos escribas, ser morto e, ao terce-
iro dia, ressuscitar. Tomando-O “Deus Te livre
de tal, Senhor. Isso não há de acontecer!”. Ele
porém, voltando-Se, disse a Pedro: “Afasta-te,
Satanás! Tu és para Mim um estorvo, porque os
teus pensamentos não são os de Deus, mas os
dos homens!”
A maioria das pessoas estão satisfeitas com
suas vidas, nunca se empenhando para chegar
ao alto (crescimento) o mais puro possível.
Doando-se é a forma mais fácil de deixarmos
em terra o material e levando ao Todo as expe-
riências que só nós temos. Desta forma levan-
do ao Todo, aquilo que será somado.
Bibliografia:
A Sabedoria das Pedras – Francisco Bos-
tröm (1994)
Compêndio de Botânica Geral e Sistemática
– L A de Alencar – Barros (1944)
Digesto Econômico – Artigo Filosofia e
Cristianismo - Julian Marias (1982)
Bíblia Sagrada
14 Março 2021 O Malhete

SIR ARTHUR CONAN DOYLE

E SHERLOCK HOLMES

S
herlock Holmes, de nacionalidade bri-
tânica, nasceu em 6 de janeiro de 1854 e
morreu em 1957
Ele é um detetive fictício do final do século
19 e início do século 20 e apareceu pela prime-
ira vez em uma publicação de 1887. Foi inven-
tado pelo médico escocês e autor maçom Sir
Arthur Conan Doyle.
Holmes é famoso por sua habilidade em
usar lógica e observação astuta para resolver
casos. Ele é talvez o detetive de ficção mais
famoso e um dos personagens literários mais
conhecidos e universalmente aceitos.
Conan Doyle escreveu quatro romances e
56 contos nos quais este assunto aparece. A
maioria das histórias é contada por seu amigo e
biógrafo John Watson, com exceção de duas
delas narradas por ele mesmo e outras duas
escritas na terceira pessoa.
As histórias apareceram pela primeira vez
em uma série publicada em uma revista, The
Strand Magazine, e continuou a ser publicada
por quase quarenta anos, abrangendo um
período de 1878 a 1903 com uma história "fi-
nal" em 1914.
Muitos atores interpretaram Sherlock Hol-
mes mais do que qualquer outro personagem e,
em 1964, de acordo com o The Times, as ven-
das mundiais de suas histórias perdiam apenas
para a Bíblia.

SIR ARTHUR CONAN DOYLE

Falar sobre Arthur Conan Doyle não é difí-
cil. Poucas pessoas irão ignorar que ele é o
autor dos famosos romances nos quais as
investigações de Sherlock Holmes são conta-
das. Mas o que nem todos sabem é que ele foi
um espiritualista apaixonado e, acima de tudo,
que foi maçom.
Sir Arthur Ignatius Conan Doyle nasceu em
22 de maio de 1859 em Pickardy Place, Edim-
burgo e foi educado de acordo com os princípi-
os da religião católica à qual toda a família per-
tencia. Durante seus estudos na faculdade de
medicina, que terminaram em 1881, ele pas-
sou por uma crise religiosa que posteriormente
levou a graves conflitos familiares. Na univer-
sidade, de fato, ele começou a admirar Thomas
Henry Huxley, o chamado "Cão de Darwin" e
optou pelo agnosticismo. Segundo outras fon-
tes, ele foi um defensor do Espiritismo Cristão
e encorajou a União Nacional dos Espíritas a
aceitar como oitavo preceito o de seguir os ensi-
namentos de Jesus de Nazaré. Em qualquer
caso, as tensões espirituais o empurraram para
as teorias espiritualistas que absorveram os
últimos anos de sua vida.
Após a universidade, exerceu medicina
entre 1882 e 1890 em Portsmouth e começou a
escrever criando o famoso personagem Sher-
lock Holmes e seu assistente, Dr. Watson, ini-
ciando assim uma série de empregos que dura-
riam até o fim de sua vida. Mas a literatura não
o fez abandonar a profissão de médico e como
tal participou na campanha do Sudão (1898) e
na Guerra dos Bôeres (1899-1902) no exército
britânico. Precisamente pela defesa da política
britânica na África do Sul, recebeu o título de
Sir. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundi-
al, ele se alistou como particular.
A partir da guerra iniciou sua relação com o
espiritismo, ao qual dedicou tempo e energia,
publicando em 1926 "The History of Spiritua-
lism", defendendo-o até sua morte em 7 de
julho de 1930 em Crowborough (Sussex).
Por trás da atitude tranquila estava um
homem de fortes convicções, algumas das
quais consideradas excêntricas pela maioria,
como o espiritismo, mas todas profundamente
sentidas. Toda a vida de Conan Doyle é marca-
da por uma longa série de duras cruzadas, das
quais o espiritismo foi apenas a última. Em
1890, ele alertou o mundo inteiro contra a tão
alardeada cura para a tuberculose. Em 1902,
ele defendeu o governo britânico contra alega-
ções de má conduta durante a Segunda Guerra
dos Bôeres. Em 1903 ele foi agraciado com o
título de Bacharel de Cavaleiro. Em 1906, ele
apoiou a reforma do divórcio. Em 1909, ele
interveio contra as atrocidades no Congo. Em
1910, ele defendeu publicamente Oscar Slater,
falsamente acusado de assassinato. Em 1914,
ele alertou a todos contra os efeitos devastado-
res do bloqueio submarino. Em todo caso, suas
lutas, na imprensa, foram travadas com desen-
voltura e habilidade, independentemente das
vantagens que pudesse obter. Algumas bata-
lhas eram impopulares, mas seu senso de
honra pessoal era mais importante para ele do
que a opinião pública.
>>>>
O Malhete Março 2021 15
Como ele mesmo disse em uma entrevista,
ele sabia o que significava ser pobre e o que
significava ser influente o suficiente. Ele
enfrentou todos os tipos de experiências huma-
nas. Ele conheceu as pessoas mais influentes e
importantes de seu século; ele teve uma longa
carreira como escritor, após uma passagem
como médico que lhe rendeu o título de Doutor
em Edimburgo. Praticava diversos esportes
(boxe, críquete, bilhar, motociclismo, futebol
e esqui), e foi o primeiro a introduzir o hábito
de férias prolongadas na Suíça, principalmente
para tratamentos em spa.

Seu mundo espírita

Como notado acima, nem todos estão fami-
liarizados com as incursões esotéricas de
Conan Doyle no espiritismo e pode-se dizer
que Conan Doyle foi um espiritualista com
tanta dedicação que se tornou presidente hono-
rário da Federação Internacional de Espiritis-
mo. Ele escreveu um livro seminal sobre o estu-
do da doutrina espiritualista que foi traduzido
para quase todas as línguas e reimpresso inú-
meras vezes. Entre os méritos deste trabalho
está sua amenidade. Não é à toa que seu autor
foi um romancista magnífico e, sem descuidar
do rigor histórico, consegue fazer com que o
leitor compartilhe acontecimentos fundamen-
tais como os de Hydesville.
Oitenta anos de história do espiritualismo se
seguiram passo a passo, e lemos sobre médi-
uns como Jackson Davis, Daniel Douglas
Home, Eusapia Palladino, Irving, os irmãos
Davenport ou H. Foster; pesquisadores como
Sir William Crookes, Barret ou a London Dia-
lectical Society.
Seu caminho maçônico
Conan Doyle foi iniciado na Maçonaria em
26 de janeiro de 1887 na Loja Phoenix em
South Sea em Hampshire aos 27 anos de idade.
Em 23 de fevereiro de 1887 foi elevado a Com-
pagno e em 23 de março do mesmo ano foi exal-
tado a Mestre Maçom.
Por vários anos ele foi o Venerável da Loja e
costumava ler suas histórias para os Irmãos da
Loja antes de sua publicação final. Como
outros maçons vitorianos, incluindo Arthur
Edward Waite, Doyle ao longo de sua vida
compartilhou um grande interesse no espiritis-
mo, particularmente na busca de contato com a
vida após a morte. Esse interesse foi motivado
por sua experiência pessoal após a morte de
sua esposa e outros parentes. Com outros
maçons, ele apoiou o espiritualista escocês
Daniel Dunglas Home. Antes de sua morte, ele
teve tempo de publicar seu último trabalho,
The Edge of Unknown, no qual explica suas
experiências parapsicológicas, que agora se
tornaram sua única fonte de interesse.
Em 1889 ele adormeceu e acordou em 1902
novamente em sua Loja Mãe, onde recebeu
várias homenagens até seu próximo sono em
1911, embora na verdade ele continuasse a fre-
qüentá-la como um Irmão não afiliado.
Em 1981, Alphonse Cerza publicou na The
Royal Arch Mason Magazine (13, nº 12, 379-
380) um artigo intitulado: "Sir Arthur Conan
Doyle: Maçom". O autor apontou que Doyle se
tornou um maçom em 1893 na Loja Phoenix
de Portsmouth e que a influência maçônica era
evidente em muitos de seus contos.
Considerando as várias publicações que se
seguiram sobre Conan Doyle, surgiu a questão
de saber se ele havia sido iniciado em 1887 ou
1893, dúvida que foi definitivamente silencia-
da após a afixação de uma placa em julho de
1994 na sede do Phoenix Lodge em Port-
smouth., Em homenagem ao seu membro mais
famoso.
Na placa, descoberta pela Sra. Georgina
Doyle, podia-se ler a seguinte inscrição:
"Sir Arthur Conan Doyle, membro da Loja
de 1887 a 1889 e de 1902 a 1911".
Fonte: Athanor
16 Março 2021 O Malhete

Quem foi Aracy Guimarães Rosa, brasileira conhecida como 'Anjo de Hamburgo' (Foto: Reprodução)

QUEM FOI ARACY GUIMARÃES ROSA

brasileira conhecida como 'Anjo de Hamburgo'
era governado por Getúlio Vargas, que fler-
tava com a Alemanha, relação que só foi
rompida em 1942, quando o Brasil se uniu
aos Aliados, inimigos dos alemães durante a
Guerra. Mesmo sabendo da restrição, Aracy
burlou as regras do governo e seguiu emi-
Janeiro, já que naquela época o Brasil ainda
não reconhecia o divórcio.
Os dois ficaram juntos por 20 anos, até 1967,
quando Guimarães Rosa faleceu. O escritor
dedicou à Aracy sua maior obra, Grande
Sertão: Veredas (1956).

A paranaense ajudou judeus a entrarem

no Brasil no fim da década de 1930 e
foi casada com o escritor João Gui-
marães Rosa
Em 1934, em uma Alemanha já tomada pelo
tindo vistos para judeus entrarem no Brasil.
Até hoje ninguém sabe ao certo como a bra-
sileira fazia isso. Alguns especulam que ela
omitia o "J" vermelho que marcava os docu-
Justa entre as Nações
A história de Aracy só se tornou conhecida a
partir dos anos 1980, quando uma alemã
mentos dos judeus, outros acreditam que judia polonesa que fugiu para o Brasil
nazismo e na iminência da Segunda Guerra
Aracy dava um jeito de misturar os passa- tomou para si a missão de divulgar os feitos
Mundial, uma brasileira ajudou a salvar
portes dessas pessoas em meio à papelada, da brasileira. Sua história foi oficialmente
judeus que eram perseguidos pelo governo
confundindo seus superiores. reconhecida em 1982 e ela foi agraciada
nazista: Aracy Moebius de Carvalho Gui-
com o título de Justa entre as Nações, home-
marães Rosa. A paranaense nascida em
Encontro com o cônsul-adjunto nagem a não judeus que arriscaram a vida
1908, filha de mãe alemã, mudou-se para a
Foi mais ou menos nesta época que o escritor para salvar o povo durante o Holocausto.
Alemanha após o divórcio, onde se estabe-
João Guimarães Rosa, então cônsul- Além dela, o único brasileiro a receber tal
leceu em Hamburgo e chefiou a Seção de
adjunto, foi transferido para Hamburgo. Em título foi o diplomata Luiz Martins de Souza
Passaportes do consulado brasileiro.
vez de se posicionar como antissemita ou Dantas, que atuou na França e também con-
denunciar Aracy, há indícios de que o autor cedeu vistos a judeus.
A mudança
ajudou a futura esposa na ousada missão.
Com um filho de cinco anos de idade, Aracy
O casal permaneceu na Alemanha até 1942, Homenagens
se mudou para a Alemanha na tentativa de
quando o Brasil rompeu as relações com o Aracy morreu aos 102 anos, em fevereiro de
fugir do preconceito da época sobre mulhe-
país. Cinco anos depois, em 1947, a dupla se 2011, e foi enterrada no Mausoléu da Aca-
res separadas. Foi viver com uma tia em
casou na embaixada do México do Rio de demia Brasileira de Letras, ao lado de Gui-
Hamburgo e, fluente em português, alemão,
marães Rosa. Já no fim da vida, foi ques-
inglês e francês, não teve muita dificuldade
tionada sobre os motivos que a fizeram
para se adaptar à vida local, ainda que já hou-
arriscar a vida para salvar a de outras pes-
vessem indícios de que uma catástrofe esta-
soas, ao que respondeu: “porque era jus-
va para acontecer. Com Hitler no poder
to”. Sua história foi retratada no docu-
desde 1933, 17 mil judeus já haviam aban-
mentário Esse Viver Ninguém Me Tira
donado a Alemanha — número que só
(2014) e, desde dezembro de 2019, os
aumentou nos anos seguintes.
Correios colocaram em circulação 54 mil
selos especiais com a imagem de Aracy
A audácia
para homenageá-la.
Em 1937, entrou em vigor no Brasil a Circu-
Por Marilia Marasciulo
lar Secreta 1127, documento que restringia
Fonte: Revista Galileu
a entrada de judeus no país. Na época, o país Selo comemorativo em homenagem à Aracy
18 Março 2021
A EGRÉGORA NA MAÇONARIA
T odo Maçom sabe o que é a Egrégora, é
fato. Mas, sempre existe a necessidade
de tentar descrever ou verbalizar, este
corpo etéreo intocável, invisível, que todos
conhecemos, mas temos uma percepção dife-
renciada sobre ela. Para termos uma ideia da
força que ela exerce sobre todos os seres,
basta que nos lembremos das palavras de
Jesus: Pois onde quer que dois ou três se
acharem reunidos em meu nome, ali estou
no meio deles (Mt 18:20). Na realidade o
Divino Mestre falava exatamente da Egré-
gora que se forma a partir da reunião. A Egré-
gora Maçônica ela é sentida em muitos
momentos da nossa convivência, pois quem
já não esteve em um determinado ambiente
onde ali se encontravam muitas pessoas e
você sentiu a presença de Irmãos Maçons,
isto sem que ninguém houvesse lhe falado. E
de repente, ocorrem as identificações natu-
rais. A isso podemos dizer que é fruto da ener-
gia emanada entre dois ou mais irmãos pre-
sentes. Por exemplo, por melhor que seja o
conteúdo de um trabalho apresentado para
estudo, quando a alma de uma comunidade
fraterna está em desarmonia e enfraquecida,
a exposição se torna fria e superficial e os
ouvintes, quase sem atenção, pouco ou nada
desfrutam do seu significado. É o que cha-
mamos a esse momento de ambiente frio.
Mas quando está presente a egrégora for-
talecida e em plena luz, nota-se um ambiente
de harmonia, de carinho e franca amizade.
Então, se um trabalho é apresentado, todos
vão além no entendimento que ali foi expos-
to: Sentimos que quando o ambiente está em
equilíbrio, ou o que significa dizer, que a
egrégora está forte e pura, surgem como que
canais de entendimentos superiores que se
ligam às nossas mentes e nos inspiram sor-
ver maravilhosos conhecimentos de uma
fonte incomensurável de sabedoria. É como
se as antenas de nossas mentes sintonizas-
sem as ondas de uma nova estação de rádio
cósmica. Algo maravilhoso se faz naquele
momento é como se nos enchêssemos de um
novo saber somente apreendidos sob estas
condições. Quem em uma sessão em Loja
não já pode observar fatos como esse? Apre-
sentação de trabalhos em que os próprios
aprendizes estão literalmente desconcentra-
dos e desconectados da mensagem. Quem já
não percebeu que em momentos da inicia-
ção, quando o Venerável Mestre faz pergun-
tas ao profano, ele sequer entende o que foi
perguntado? Isso significa que a Egregóra
maçônica não está devidamente sintonizada.
Quem já não observou que por ocasião de
uma reunião, Irmãos com cargos importan-
tes em Loja, sequer acompanha a leitura dos
rituais? Isso significa uma egrégora fraca e
sem energia positiva. Também não devemos
O Malhete
nos esquecer que a egrégora de nossa Ordem
inclui todos os maçons vivos e também aque-
les que passaram pela transição e hoje vivem
no Oriente Eterno. A egrégora é, portanto o
resultado da nossa energia criativa nos pla-
nos exotérico e esotérico do pensamento.
Egrégora da entrada do templo com a von-
tade pura e a retidão de propósitos deverá
está o irmão maçom devidamente paramen-
tado ao ingressar junto à soleira do templo
para início de mais uma jornada de trabalho.
Esotericamente o fará sempre com o lado
esquerdo ligeiramente avançado para que os
caminhos do magnetismo destrocêntricos
possam se manifestar com maior amplitude
já logo de sua chegada para o convívio com
seus irmãos que os aguardam.
Na hora da formação da marcha para
entrada no templo, quando esotericamente
com um único golpe do bastão o augusto
irmão Mestre de Cerimônias ordena que
levamos o nosso pensamento ao Grande
Arquiteto do Universo, pois os trabalhos
logo se iniciarão. Esotericamente com esse
golpe mântrico o som atinge o cérebro, já
intimamente ligado ao significado egregori-
al que, já disciplina e ordena a mente: a
augusta sessão irá começar, o sinal foi dado.
A Egrégora é muito mais do que a sinergia
obtida em um grupo no qual os componentes
têm todos os mesmo objetivos. Enquanto
que a sinergia pode ser o resultado da união
de mentes para o bem ou para o mal, a Egré-
gora só pode ser o resultado da união do pen-
samento positivo para conseguir algo de
bom em favor da Humanidade.
O Malhete Março 2021 19

O ENIGMA DO BAPHOMET

U
ma das acusações levantadas contra
os Templários foi a de adorar um
ídolo estranho. A maioria dos acusa-
dos falava do busto de um homem barbudo,
feito de madeira e metal, com olhos brilhan-
tes e às vezes duas ou três faces. Essas ima-
gens não foram ocultadas com atenção espe-
cial; no entanto, raramente foram exibidos.
Por sua vez, os dignitários questionados fala-
ram sobre ele e admitiram a sua existência,
porém fornecendo descrições surpreenden-
tes.
É surpreendente que nenhum dos Templá-
rios questionados, nem dos subordinados ou
dignitários, pensou em responder que as cabe-
ças em questão eram relicários e não ídolos.
O Templo de fato possuía um certo número
de relíquias.
O irmão Gaucerant, um sargento de Mont
Pezat, deu um nome a esse ídolo. Era a cabe-
ça de um homem barbudo parecendo Bapho-
met e ele foi informado de que somente isso
poderia salvá-lo.
O que foi e qual foi o seu significado?
Pelo que sabemos, pode ser uma deforma-
ção, na língua do Languedoc, do nome Mao-
mé. Na verdade, nesta região, as mesquitas
eram chamadas de baphomeries. Acrescente-
se ainda que na Idade Média se difundiram
algumas imagens ou cabeças encantadas que
eram consideradas animadas pelo demônio e
que as pessoas chamavam, de fato, de "cabe-
ças de Maomé". Mas geralmente não passava
de pessoas autônomas destinadas a surpreen-
der os pobres e aterrorizá-los.
Em todo caso, não há dúvida de que no
Templo, ou pelo menos nas casas provinciais,
existiram algumas cabeças misteriosas.
Se para os povos da língua de oc Baphomet
pelos cavaleiros diante dessas cabeças, o que como "tintureiro da lua". Esse termo indica
correspondia a Maomé, para os Templários e
era apenas uma meditação coletiva. em sím- alquimicamente aqueles que podem transfor-
para outros tinha um significado diferente.
bolos e significado. mar prata em ouro, ou seja, os seguidores que
No portal da igreja de Saint Méry, no bairro
A palavra Baphomet, portanto, tem um realizaram a grande obra.
dos Templários de Paris, um diabo com chi-
significado esotérico? Seria um batismo Em palavras mais simples, significaria
fres, barbudo e alado, de feições bestiais,
gnóstico de fogo e na verdade a maior soleni- “uma figura que oferece a solução para reali-
como aparece nas garras e sementes femini-
dade dos Templários caiu no dia de Pentecos- zar o grande trabalho”.
nas, mostradas pelos seios, é designado pela
tes, ou seja, o dia em que o Espírito Santo des- Isso provaria a existência dentro da Ordem
tradição como Baphomet dos Templários.
ceu sobre os apóstolos na forma de línguas de de um colégio de alquimistas.
Para todos aqueles que, sejam crentes ou
fogo. Até o aspecto repugnante do ídolo faz
céticos, estudaram ainda superficialmente os
Mas, nesse caso, o que representaria a cabe- parte das alegorias alquímicas, já que a "ma-
livros da alquimia e os símbolos desta ciên-
ça? Para John Charpentier seria uma contra- téria-prima" da grande obra, que contém a
cia, é evidente que o Baphomet de Santa
ção, caracterizada pela elisão de sete letras, beleza suprema, segundo os adeptos, é apre-
Méry é um concentrado de símbolos alquími-
de Bap (tiste-Ma) homet. Exceto que não era sentada como vulgar, feia, escamosa e até
cos. Segue-se a hipótese de que mesmo as
comum chamar João Batista simplesmente nauseante.
cabeças "em forma de Baphomet" possuídas
de Batista.
pelos Templários foram constituídas pela
O esotérico e escritor Gérard de Séde pare- (retirado de: os mistérios dos Tem-
união de vários símbolos e que alguns inter-
ce aproximar-se da verdade ao traduzir Bap- plários, de Louis Charpentier)
pretaram como atos de adoração realizados
heus meté, muito próximo de Baphomet,
O Malhete
20 2021
Março
O Malhete
A VIRTUDE DA PRUDÊNCIA
D as virtudes maçônicas, a prudência exa-
gerada é o que poderia ser inútil para si
mesmo e para os outros. Para alguns, a
própria palavra evoca imagens de abstêmios
vitorianos olhando para qualquer coisa engra-
çada; para outros, a prudência cheira a cautela
tímida e excessiva. É difícil imaginar a prudên-
cia incutindo um senso de confiança ou utilida-
de, e isso é uma pena, porque a prudência é exa-
tamente o que os maçons precisam em tempos
difíceis.
Os filósofos gregos como Platão e Aristóte-
les consideravam a prudência a virtude que guia
as outras, embora não pareça que a prudência
caracterize todas as virtudes, é antes aquela que
molda todas as outras.
A palavra em si vem do latim prudentia e sig-
nifica previsão ou sagacidade. É a qualidade de
filtrar todas as ações pela porta da sabedoria e
da experiência; é o oposto de agir precipitada-
mente ou como resultado de uma emoção des-
controlada. Uma ação prudente é aquela que
tem um resultado intencional, uma análise e
uma direção direcionada de seus instintos bási-
cos. Pode parecer abstrato, mas vamos conside-
rar por um momento como este conceito é
importante para promover a harmonia e não
apenas na Loja.
Sem prudência, os humanos se comportam
como animais, sendo guiados por emoções e
raramente obtêm bons resultados. É preciso
pouco para perceber isso, basta olhar para o que
está acontecendo nas redes sociais hoje. As pes-
soas atacam a raiva, o desprezo, o medo e o
ódio; as pessoas vivem, agem e se expõem a
partir de ações não filtradas, com reações não
temperantes. O diálogo pacífico é quase impos-
sível quando não há prudência, quando não se
regem pela experiência e pela sabedoria para
um fim útil. Quando passamos nossas ações
voluntariamente pela porta da prudência, aces-
samos nosso eu superior e as riquezas das expe-
riências de vida pelas quais passamos cuidado-
samente, moldando cuidadosamente nossas
ações; é assim que conseguimos obter o melhor
resultado possível. Na verdade, a consciência
das prováveis consequências futuras de nossas
ações é, em grande medida, a melhor parte da
prudência.
A palavra sagacidade, muitas vezes associa-
da à prudência, deriva do latim sagax, que signi-
fica aquele que se percebe como sábio. Por
sermos capazes de olhar para frente, isso nos
torna gentis e prestativos com nosso eu futuro.
Quando reagimos instintivamente a algo que
nos deixa com raiva, somos incapazes de miti-
gar o caos potencial que se seguirá. As empre-
sas que têm produtos para vender, especialmen-
te as que aparecem nas redes sociais, contam
literalmente com a nossa falta de prudência.
Eles usam o medo, a raiva, a ganância, a dúvida
e o desejo de dominar nosso eu racional e sábio
e apelar para nossa natureza inferior. A publici-
dade não pretende apelar ao nosso intelecto, é
alimentada pela psicologia perversa que preten-
de furar as nossas defesas racionais. Um
homem prudente sabe disso, o vê em todos os
lugares todos os dias e desenvolve suas contra-
medidas.
Prudência significa nunca permitir que outra
pessoa tenha poder sub-reptício sobre nosso
comportamento. A palavra grega φρόνησῐς
(phronesis) é um termo freqüentemente compa-
rado à prudência. Este termo invoca um tipo de
sabedoria prática, consciência de suas ações e
sua orientação voluntária, enquanto muitas pes-
soas passam suas vidas inteiras à deriva em um
oceano de aleatoriedade de pensamento, e cer-
tamente não é uma maneira saudável de viver. A
consciência que a prudência traz, permite-nos
desvencilharmo-nos da torrente da negativida-
de, dos pensamentos e inquietações aleatórias,
observá-los como ondas que passam, sem
nunca nos deixarmos envolver por eles. Tal com-
portamento só pode ser aprendido por meio da
experiência e do conhecimento do mundo e, por
isso, os filósofos gregos o identificaram com o
comportamento de jovens impudens, que se
comportaram precipitadamente e sem sabedo-
ria.
Ironicamente, é a partir dessas interações
fracassadas ou experiências ruins que a sabedo-
ria cresce. Não há experiência ruim se você
Março 2021 21
olhar para ela como uma experiência de apren-
dizado e usá-la para fazer escolhas mais sábias
no futuro. Quando sentirmos que falhamos em
algo, seja um relacionamento com um Membro,
uma tarefa, um trabalho ou uma busca pessoal,
vamos parar por um momento e considerar isso
como uma lição. Como reagimos? Nossa ação
foi baseada em emoção ou vontade? Qual foi a
hora da reação instintiva? Ou reservamos um
tempo para refletir sobre as implicações de
longo prazo de nossa reação? Pensando no aci-
dente e em toda a situação, desenvolve-se a pru-
dência.
Prudência não significa ser tímido, é o con-
trário. Significa levar mais tempo para aprender
e fazer escolhas deliberadas. Segundo o Papa
Bento XVI, “prudência não significa não assu-
mir responsabilidades e adiar decisões; signifi-
ca comprometer-se a tomar decisões conjuntas
depois de ter pensado com responsabilidade
sobre o caminho a seguir. "
O mesmo ocorre com o maçom prudente.
Significa força, comprometimento e coragem
no processo de tomada de decisão, reforçada
pela confiança em um caminho bem fundamen-
tado. Vamos sempre lembrar que os pensamen-
tos que temos não são o que faz a pessoa que
somos, mas como nos comportamos, como.
Não deixamos pensamentos de qualquer tipo
vagarem como animais selvagens em nossa
mente o dia todo.
Do ponto de vista simbólico, a prudência
pode ser vista na tauroctonia mitraica, na
matança do touro ou em São Jorge conquistan-
do o dragão. Aqui, o eu superior subjuga a besta
de nossa natureza vil.
À medida que um novo ano maçônico se apro-
xima do horizonte, como vamos aplicar a virtu-
de da prudência em nossa vida diária? Até que
ponto tentaremos refletir sobre as consequênci-
as de nossas ações? Como vamos colocar a
razão no assento do motorista, eliminando a
besta do mau comportamento? Trabalhos maçô-
nicos nos oferecem uma caixa de ferramentas
completa para fazer isso. Vamos ser gentis
conosco e com os outros no futuro e usar todos
eles.
Fonte: Athanor
22 Março 2021
INTEGRAÇÃO MAÇÔNICA
M uito em voga nos últimos anos, o
termo “globalização” soa como
possibilidade de encurtar distân-
cia nas áreas econômica, política e social.
O avanço das novas tecnologias, princi-
palmente na comunicação, fez o mundo pare-
cer menor, o que também limita nossos hori-
zontes de vida às telas de um computador.
Se, por um lado, houve reconhecido
ganho de acesso a longínquas e antes inaces-
síveis fontes de informação, por outro, esta-
mos expostos a informações não fidedignas
e, por vezes, maliciosamente publicadas. O
pior é que acabamos nos seduzindo pela novi-
dade em detrimento às nossas convicções.
Aí é que surge o ufanismo maçônico.
Não me refiro ao orgulho de ser Irmão,
mas ao ufanismo dos que se regozijam
excessiva e vaidosamente de serem maçons.
Nesta condição, o iniciado perde o princí-
pio, meio e fim de seu propósito maior: Tor-
nar feliz a humanidade em ações concretas.
A MAÇONARIA DISPONIBILIZA AO
P R O FA N O U M A E S T R U T U R A
ADEQUADA PARA:
INICIAR NOVA FORMA DE VER A
VIDA
ELEVAR-SE ACIMA DOS VÍCIOS DA
VIDA
SER EXALTADO COMO MODELO DE
VIRTUDE PARA A VIDA
Mas tudo isto perde o valor se não com-
preendermos que este processo nos transfor-
ma em “ferramentas” adequadas para atuar
na sociedade do mundo real.
Não somos Maçons da ou para a Maçona-
ria. Somos Obreiros da e para a sociedade!
Como homens justos e de bons costumes,
construtores sociais, artífices da Arte Real e
demais títulos, devemos promover a integra-
ção da Maçonaria com todos os segmentos
da sociedade que visem o bem comum.
Comecemos em nosso lar, aproximando a
cunhada e sobrinhos às entidades paramaçô-
nicas. Vejamos em nosso bairro se há alguma
entidade assistencial que possa ser atendida
pela hospitalaria de nossa Loja.
Procuremos nas Lojas de nossos orientes,
Irmãos que pertençam a outras Instituições
(Lions, Rotary, Escoteiros, etc...) para
potencializar ações sociais pela união de for-
ça.
Precisamos também nos aproximar de
entidades religiosas, classistas e até mesmo
políticas. Não nos cabe discussão de dog-
mas, mas o combate ao vício passa pela reli-
gação da criatura ao Criador. Na conscienti-
zação para o cumprimento de nossos deveres
ampliaremos nossa condição de luta por dire-
O Malhete
itos, seja qual classe for.
A proibição de assuntos políticos em Loja
deve ser limitada pautas de política partidá-
ria. Assunto apaixonante, mas, o que faze-
mos em Loja?
Vencemos paixões e submetemos nossa
vontade!
Mas, não há como trabalhar para o pro-
gresso da sociedade sem entrelaçar braços
fortes e pés bem direcionados em uma Cade-
ia de União, em prol da Política de Saúde,
Política de Educação e Política de Seguran-
ça.
P R E C I S A M O S N O S
CONSCIENTIZAR DE QUE O TODO,
INEVITAVELMENTE, SERÁ MAIOR DO
QUE A SOMATÓRIA DAS PARTES.
PODEMOS E DEVEMOS
POTENCIALIZAR A MAÇONARIA
PELA INTEGRAÇÃO.
Atingimos quinze anos de compartilha-
mento de instruções maçônicas. Nosso pro-
pósito fundamental é incentivar os Irmãos ao
estudo, à reflexão e tornar-se um elemento
de atuação, legítimo Construtor Social.
Sinto muito, me perdoe, sou grato, te amo.
Vamos em Frente!
Fraternalmente
Sérgio Quirino
Candidato a Grão-Mestre
GLMMG 2021/2024
O Malhete Março 2021 23

CAMINHADA COM O PÉ ESQUERDO

Uma possível explicação

Estátua de Amenhotep III e estátua no Templo em Abu Simbel

Quando os templos eram atacados, os ini-
migos costumavam destruir as pernas e o pé
esquerdo das estátuas. Desse modo, eles des-
truíram simbolicamente a vida do faraó em
questão e ele estava, portanto, destinado ao
passo de suas marchas com o pé esquerdo em
sinal de sorte para a batalha. Com o tempo, o
hábito se tornou a regra, mas perdeu seu sim-
bolismo.
Assim, as famosas “Lojas Militares”, res-

A o contrário do que se possa pensar,

começar a marcha com o pé esquerdo
é um costume muito antigo, que come-
çou há milênios, e nada tem a ver com azar.
As principais pinturas e esculturas de deu-
ses e faraós egípcios sempre mostram o pé
esquerdo para a frente, enquanto as ilustra-
ções de pessoas comuns em situações cotidi-
anas destacam o pé direito. Isso é uma coin-
cidência?
Não exatamente. O passo com o pé
esquerdo era considerado pelos egípcios
como um símbolo do “primeiro passo” para
uma nova vida. Foi assim, com o pé esquerdo
que o Faraó deu o primeiro passo após a
investidura. Olhando para qualquer estátua
construída durante a época de ouro do Anti-
go Egito, pode-se perceber que o pé esquer-
do está sempre para a frente. Isso ocorre por-
que a cultura egípcia considerava o lado
esquerdo como sendo o da vida, porque o
coração está nele.
esquecimento eterno.
Esta é também a razão pela qual as escadas
foram feitas com degraus ímpares, de forma
a iniciar e terminar a subida com o pé esquer-
do. Essa tradição foi posteriormente herdada
ponsáveis pelo nascimento das primeiras
Lojas Maçônicas nas “Colônias”, acostuma-
das ao primeiro passo com o pé esquerdo,
incorporaram a prática militar em suas
Lojas.
pelos gregos, como também pode ser visto Foi também assim que o maçom que tinha
em sua arte. os “passos” passou a ter as “marchas”.
Por que a esquerda e não a direita?
Os egípcios acreditavam que o lado
esquerdo representava o lado espiritual,
enquanto o lado direito representava o lado
material. Por isso, coisas consideradas
sagradas eram feitas com a mão esquerda e o
pé esquerdo.
Este simbolismo da primeira etapa, um
passo espiritual em direção a uma nova vida,
continuou a ser observado nas instituições
tradicionais, especialmente em suas cerimô-
nias de iniciação, incluindo a Maçonaria.
O costume também foi incorporado pelos
antigos exércitos que davam o primeiro
24 Março 2021 O Malhete

Clínica de Olhos Bortot

Em breve inauguraremos o Bortot Day Hospital, o

novo empreendimento médico com a qualidade
Bortot que você já conhece, em um espaço totalmen-
te novo e estruturado para para melhor atendê-los.
O Malhete
REFLEXÕES MAÇÔNICAS INTERIORANAS
Que Saudade da Maçonaria!
O
convívio Maçônico nunca foi tão
experimentado como no ano de
2020, quando por causa do Coro-
navírus (COVID-19), fomos cerceados
do convívio Maçônico em Loja. Perde-
mos o direito, por uma boa e justificadís-
sima causa, de frequentar nossas reu-
niões e principalmente de poder se abra-
çar, tocar e conversar ao pé do ouvido.
Fomos privados daqueles encontros após
a reunião, onde tínhamos a oportunidade
de sorrir, tomar uma cerveja e até mesmo
fofocar.
Para amenizar essa situação, e usando
de nossa criatividade, tecemos encontros
virtuais, que atenuou a saudade, mas não
conseguiu extinguir a vontade, de no tem-
plo entrar e a ritualística se entregar.
Março 2021 25
depois do aceno do venerável inquisidor,
Todavia, foi tempo de reflexão, onde que queria impor o termino de seu ardor.
tivemos a oportunidade de analisar o
nosso comportamento junto a Loja, e Oh! Quanta lembrança da cadeia de
com isso, em meio as nossas lembranças união, que não entendia, mas me dava
e devaneios, a melancolia povoou nossos tanta paixão. E o tronco de solidariedade,
pensamentos, restando-nos apenas que em muitos nem colaborei, e agora me
memorar saudosamente a nossa trajetória pego contando uns trocados que juntei,
Maçônica. para assim colaborar, quando a Loja vol-
tar.
E como isso, foi quase que impossível
não sentir saudade da ritualística, que con- E o terno é outra coisa, que prefiro nem
fesso não dava atenção, mas me pequei falar, há tempos não uso, e nem sei onde
na cozinha, criando um ritual para lavar está! Mas uma coisa é certa, quando tudo
os pratos, “coisa estranha”, questionou a voltar ao normal, outro terno terei que
cunhada. comprar, pois o meu velho de guerra,
nem deve mais entrar.
Lembrei-me da oratória, dos dizeres
acalorados de alguns Irmãos que entusi- Na realidade relembro com nostalgia
asmados, ocupavam este cargo como se de todos os momentos na Maçonaria, que
“alguém importante” estivesse na Loja. outrora nem dava valor, mas agora,
Pois bem! Somente agora entendi que o clamo ao Grande Arquiteto do Universo,
“alguém importante” era justamente por favor! Deixe-nos retornar ao conví-
“agente” que conduzia, mesmo em núme- vio entre Irmãos, que, todavia critiquei,
ros mínimos, a Loja. mas agora, não sei sustentar-me sem a
união fraternal.
Senti saudade até mesmo daquele
Irmão “falador”, que na palavra livre, se Por isso resta-me apenas manifestar
expressava sem nenhum pudor, mesmo “Que saudade da Maçonaria!”.

A VIOLÊNCIA, A RAZÃO E AÇÃO DO MAÇOM
A não violência é a resposta aos problemas políticos e morais cruciais de nosso tempo; a necessidade de supe-
rar a opressão e a violência sem recorrer à opressão e à violência; a recusa de vingança, agressão, retalia-
ção. A base deste método é o amor. (Martin Luther King)
Por Donatella Cotesta
Q uando se trata de violência, a imagina-
ção muda imediatamente para a vio-
lência física. Como todos sabemos, a
violência costuma usar roupas inocen-
tes e alegres, é desonesta, enganosa e, o que é
pior, dificilmente reconhecível. Muitas vezes
apresenta-se sob a forma de educação e de
boa vida civil, e é aí que se apodera das cons-
ciências, fica ali, mesmo na fronteira, pronto
a delimitar um território do qual muitas vezes
será o senhor indiscutível.
É por isso que a violência é coerção. Forçar
alguém a fazer o que não gostaria, ou a não
fazer o que gostaria, é violência; por isso digo
que as sociedades são violentas principal-
mente neste momento em que o mundo intei-
ro vive a pandemia de COVID-19 que nos
obrigou a um longo confinamento doméstico,
como medida de prevenção do contágio. E é
precisamente nos últimos tempos que se tem
voltado à violência: violência contra meno-
res, contra mulheres, violência na política,
etc. Como se os horrores das guerras do sécu-
lo passado tivessem sido esquecidos. Eu me
pergunto: a memória humana é tão fugaz? Os
preconceitos são tão fortes? Existe tanto dese-
jo de violência que se alimenta na alma huma-
na, especialmente nas gerações mais jovens?
Os eventos atuais lembram aqueles que já
O Malhete
26 2021
Março
ocorreram. Mas com uma diferença: desta
vez não há justificativa para um nazismo ou
fascismo que pressiona com propaganda mas-
siva do regime a multidões de homens agora
completamente plagiados, desta vez há uma
nação que não pressiona ninguém a se com-
portar de forma contrária às regras democrá-
ticas e, apesar disso, há grupos que operam
sem regras ou motivos, em consonância com
a lógica mais pura, livre e perversa da violên-
cia e da não violência.
Mas é sempre verdade que forçar alguém a
fazer algo que o repele é violência? E as obri-
gações que contraímos conosco e com os
outros não são restrições talvez nem muito
bem-vindas, mas certamente sacrossantas?
Não deveríamos ser obrigados a respeitar pac-
tos livremente assinados? Porque o cumpri-
mento da lei, uma compulsão para que um
dever esquecido seja cumprido, não pode ser
considerada violência.
A lei moral em primeiro lugar, porque é a
própria lei moral que dá legitimidade às ações
dos homens.
A não violência é fazer prevalecer a razão e
é nesta base que se funda a Maçonaria, que
recorda toda uma cultura ligada à liberdade e
à tolerância. Liberdade para fazer tudo ao
nosso alcance, sem prejudicar a liberdade dos
outros. Tolerância que significa compreensão
pelas opiniões dos outros. Mas certamente
não sem crítica e nem mesmo disposta a
desistir de suas próprias opiniões. A rejeição
da violência nasce deste conceito: consiste
em não impor a nossa vontade aos outros, e os
outros não devem impô-la a nós. Use a razão
e não a força, porque com a razão você cons-
trói, com a violência você destrói. Infeliz-
mente, nesta triste situação em que se encon-
tra o mundo inteiro, apenas exaltamos o mito
da brutalidade de que a TV, a internet, as redes
sociais nada mais fazem do que recorrer e a
violência agora nos é apresentada como algo
usual com o qual devemos viver, como algo
habitual da nossa existência, fazendo-a mito,
fazendo-nos compreender que a força pode
servir para impor as próprias ideias e que com
violência o mundo pode ser teu; matar o
homem de amor e misericórdia, ou seja,
matar aquele que se solidarizou com os
outros. Aqui está a planta má, o instrumento
do mal que vai e ocupa os territórios da alma,
substituindo o amor e a solidariedade, e é
assim que a planta da benevolência deixa de
criar raízes. Infelizmente, mesmo os senti-
mentos humanos para florescer e se desenvol-
ver precisam de um clima moral para ser dei-
xado para nossos jovens. E por isso exorto-
vos, meus queridos irmãos e irmãs, ao rigor
dos nossos preceitos, tornando-se aquela pare-
de de sabedoria onde os nossos queridos
jovens podem sentar-se e continuar a nossa
filosofia.
Erradicamos a planta maligna da violên-
cia. A minha não é uma imposição, mas uma
forma de lembrar aos Irmãos os méritos
daqueles que nos precederam, na esperança
de poder continuar a iluminar todos aqueles
que têm apenas idéias aproximadas da Maço-
naria.
Fonte: Athanor
O Malhete Março 2021 27

A PALAVRA MÁGICA "DESCULPE"

sentado sem reservas. Quem pede desculpas
deve ser sincero. Tem pouco valor se houver
um pedido de desculpas forçado. Essa descul-
pa não tem poderes mágicos inerentes. Da
mesma forma, um pedido de desculpas com
reservas é dado por um arrependido não genuí-
te é baseado no desejo de ser perdoado. Se rece-
bermos esse perdão, cuide disso.
Por que é tão difícil usar a palavra mágica
desculpas?
Muitas vezes, pedir desculpas a alguém
pode ser desconfortável. Você pode ter feito

A
palavra mágica desculpe, meus
irmãos, é uma palavra que pode ser útil no sem poder. Um exemplo disso poderia ser: algo de que se arrepende, e é assustador não
e orientada para o futuro. A palavra Peço desculpas se você me considerou irracio- saber como a outra pessoa vai reagir. Além dis-
pode, em muitos contextos, significar a nal ... Aqui você coloca muita culpa nas habili- so, o pano de fundo para o pedido de desculpas
diferença entre reconciliação e briga, entre dades de percepção da outra parte. Claro, isso pode ser mais do que revelador. Pode ser um
amor e ódio, e somos nós mesmos que decidi- não levará a nada de bom. Neste exemplo, pouco pessoal.
mos como a palavra pode fazer seus poderes pode-se também dizer: Não me enganei, mas Pedimos desculpas ou pedimos desculpas, a
mágicos funcionarem. se você absolutamente precisa de um pedido escolha é sempre nossa.
Um pré-requisito para que a palavra tenha de desculpas, posso dar-lhe, mas não é isso que A inspiração que eu queria morar na palavra
um efeito mágico é que seja dita pela pessoa quero dizer. sorry nesta coluna veio a mim em uma manhã
certa na hora certa. A palavra não é apenas Uma variante igualmente ruim de usar a onde a bela canção do CC Cowboys "A palavra
importante para a pessoa com quem se fala, palavra desculpa é usá-la em um ambiente mágica sorry" foi tocada no rádio. Eu tive que
mas também para quem a diz. Pedir desculpas onde você se calunia para fazer a outra parte parar para ouvir. O texto foi muito cativante.
significa precisamente admitir a culpa e assu- sentir pena de si mesma. O que está sendo ten- Eu escolho terminar com algumas linhas da
mir a responsabilidade e a propriedade por um tado aqui é virar a situação de cabeça para letra desta música:
incidente ou situação. Além disso, um pedido baixo e é claro que não há mágica nisso. Um Não acredito mais em
de desculpas legitima e mostra respeito pelos exemplo disso seria dizer: com licença, mas Suas palavras duras e insultando
sentimentos ofendidos da pessoa que recebe o você sabe o quão idiota, ciumento, imprudente seu poder sorrindo, seu desprezo amargo
pedido de desculpas. Para a pessoa que pede ou estressado eu posso ser, sou um péssimo para o que o resto de nós têm feito e dito Não,
desculpas, a experiência fornece discernimen- colega, namorado ou filho ... eu não estou mais com medo
to e autoconhecimento. Pedir desculpas alivia Outro aspecto é se minha desculpa é para Eu não olho sobre meus ombros mais eu
o peso de uma má consciência, restaura e remediar minha própria culpa ou se é uma ten- parei de espera, deixaram de acreditar
forma a base para ambas as partes deixarem tativa genuína de tirar a dor da outra pessoa. A Você tenha o suficiente consigo mesmo e
um incidente ou situação para trás e seguirem palavra desculpas tem pouco ou nenhum valor eu me acalmei
em frente. se não for baseada em uma admissão genuína. Se esquecermos a palavra mágica desculpe
A ausência de um pedido de desculpas é Então, devo também mostrar que compreendo E não vejo que machucamos um amigo
igualmente lamentável. A lamentável situação que o que fiz não foi certo e reconhecer o efeito Mas varra isso e pense que vai acabar
não tem fim natural. Muitos de nós pensamos negativo que isso teve. Se eu realmente Então o tempo vai demorar novamente
que o caso acabará por ser esquecido e que o machuquei ou prejudiquei alguém, um pedido Atrás de nós todos temos um incêndio
desequilíbrio entre as pessoas a quem o caso se de desculpas deve ter valor, deve significar que Onde alguns perderam algo e outros per-
aplica encontrará um novo equilíbrio após um eu mostro que sinto o quanto foi doloroso para deram tudo
certo tempo. A questão é se um equilíbrio base- o outro. Como eu teria vivenciado a situação se Eu vi isso de longe, eu vi na minha casa eu
ado na ocultação é tão bom quanto um equilí- estivesse em seu lugar? vi como o trabalho da vida pode ir para o lixo
brio baseado em um pedido de desculpas A palavra desculpa usada corretamente é Se nós esquecermos a palavra mágica des-
honesto e uma conversa aberta. O silêncio e a mágica, mas pode não afastar os sentimentos culpe E não vejo que machucamos um amigo
evasão raramente são uma boa maneira de um negativos do outro. Às vezes está errado, erra- Mas varra isso e pense que vai passar
equilíbrio bom e respeitoso. do e não pode ser desfeito. Mas uma desculpa Então o tempo será levado novamente
Para que um pedido de desculpas surta o honesta pode tornar a injustiça mais fácil de
efeito desejado, ele deve, entretanto, ser apre- suportar pela vítima. Trond Nygård
Um pedido de desculpas honesto geralmen-
28 Março 2021 O Malhete

HERMES TRISMEGISTUS : MITO COM MUITAS FACETAS

gistus - «Trismegistos», «o três vezes mai- mente o processo enobrecedor do homem
or», pelo motivo de ser também o maior dos com a ajuda dos quatro elementos fogo, água,
filósofos, o sacerdotes e os reis do estado. ar e terra. É um processo evolutivo no micro-
cosmo. Esses símbolos também encontram
Ícones do processo de refinamento sua correspondência como um macrocosmo

H á uma linha de transmissão na

literatura hermética que está
intimamente relacionada a
Hermes Trismegistus. A partir do Egi-
to, ele transmitiu impulsos importan-
humano na estrutura de nosso mundo material. Como
Ainda hoje, Hermes é uma parte indispen- acima, abaixo está a famosa declaração da
sável da literatura esotérica e oculta. Como "Tabula Smaragdina". Esta é considerada a
mencionado, sua imagem corre como um fio bíblia dos alquimistas e herméticos desde a
vermelho por quase três milênios. Ele sofreu Idade Média até os tempos modernos.
tes à Antiguidade, à Idade Média e ao muitas mudanças no decorrer desse tempo.
Renascimento. A alquimia em parti- Com os romanos, o grego Hermes tornou- Origens no Egito - e ainda antes
cular voltou para ele mais tarde. E se Mercúrio com o cajado de Esculápio e o Para ter acesso a Hermes Trismegistus,
essa figura ainda é fascinante hoje. capacete alado, o animado mensageiro dos temos que nos voltar para o antigo Egito,
deuses. Na alquimia, ele é encontrado como mais precisamente: a figura de Thoth. Desde
Hermes Trismegistus em Mercurium (mer- as primeiras dinastias, Thoth foi o deus mais
Hermes Trismegistus é uma figura lendá-
cúrio). Nos ensinamentos alquímicos, o sal, o importante ao lado da tríade divina Osíris,
ria a quem nossa cultura ocidental deve mui-
enxofre e o mercúrio são forças decisivas no Ísis e Hórus. Ele era o guardião e arauto da
to. Essencialmente, trata-se de filosofia,
processo de mutação, ou seja, na transforma- sabedoria egípcia e o guardião da iniciação
medicina e alquimia, magia, astrologia e vári-
ção de metais básicos em nobres, na transfor- nos mistérios egípcios. No templo de Thoth
os tipos de ciências secretas, disciplinas que
mação de pessoas normais em iluminados estava na 12ª Dinastia por volta de 1900 AC.
podem ser designadas ao termo genérico de
espiritualmente. O livro de mão dupla, uma primeira descri-
hermética. Desde as antigas associações de
Na Maçonaria, conhecemos o sal, o enxo- ção da vida após a morte que poderia ser des-
mistério, irmandades e comunidades de inici-
fre e o mercúrio como as três substâncias crita como a obra hermética mais antiga.
ação até os Rosacruzes, Engbünden e
dadas por Deus que representam simbolica- >>>>
Maçons, ensinamentos de Hermes Trisme-
O Malhete
Além do sacerdócio de Amon,
havia também um sacerdócio de
Thoth. Segundo seu Deus, ela era a
guardiã da tradição do mistério e das
iniciações correspondentes. Os sacer-
dotes tinham todo o conhecimento
disponível na época, desde história,
mistérios, magia cerimonial e alqui-
mia até astronomia, geometria e
magia até medicina, vida futura e filo-
sofia. Apenas eleitos estritamente
testados tinham permissão para se tor-
narem novatos e, após anos de treina-
mento, obter acesso a esses ensina-
mentos.
O templo de Thoth em Hermópolis
teve o carisma de uma escola de sabe-
doria e mistério após a 18ª dinastia
que chegou até a Grécia. O mais famo-
so dos filósofos gregos encontrou
acesso a esse conhecimento, incluin-
do Sócrates e Platão. Após a iniciação,
eles foram capazes de transferir os
conhecimentos adquiridos para o hele-
nismo. Thoth-Hermes foi aceito no
panteão helenístico. Os mistérios de
Elêusis teriam sido impensáveis sem
os contatos espirituais com o Egito.
A origem da «prisca sapientia» é
ainda mais antiga do que no Egito. É o
conhecimento que Deus revelou a Adão e
Moisés. Este conhecimento antigo foi trans-
mitido na "Cadeia Hermética" à qual Hermes
Trismegistus e Zoroastro, Pitágoras e Platão
teriam pertencido. Segundo esse mito, Her-
mes Trismegistos inventou os hieróglifos
para protegê-lo do acesso profano.
Thoth - Imhotep - Asclepios
De Haremhab, o sucessor do Faraó Akhe-
naton / Tutancâmon, recebemos um hino a
Thoth. Nisso se diz que ele é "Deus, o onisci-
ente, que conhece todos os segredos, que vê
através da natureza dos homens e dos deuses e
relata tudo o que acontece a Ra".
Além de Toth, que havia sido elevado a
deus no Egito, Imhotep, o escriba e constru-
tor, encontrou-se já em 2650 aC. AC como a
personificação dos ensinamentos da sabedo-
Março 2021 29
ria. Entrada na mitologia grega-
egípcia. Na 26ª Dinastia, Imhotep foi
elevado ao status de deus. Imhotep-
Asklepios tornou-se o deus da cura,
seu símbolo era o cajado de Asclépio.
Clemente de Alexandria conheceu no
século 5 aC Chr. Hermes, o Tebano, e
Asclépio, o Memfitas. Em ambas as
formas, ele viu pessoas com o mais
alto nível de sabedoria e conhecimen-
to, mas sem deuses.
Os tratados do “Corpus Hermeti-
cum” aparecem como a proclamação
de Hermes Trismegistus e seu filho
Asklepios. Eles são escritos, entre
outras coisas, na forma de cartas e diá-
logos e exerceram uma grande
influência na Gnose Cristã dos sécu-
los III e IV DC. Além do “Corpus Her-
meticum”, são atribuídas a Hermes as
seguintes obras: o “Kybalion”, os “17
Livros de Hermes Trismegistus” e a
“Tabula Smaragdina”. Este é o traba-
lho mais importante para alquimistas,
herméticos e ocultistas. Os textos
documentam o conhecimento místi-
co-filosófico antigo e atemporal até os
tempos modernos. Além disso, são
evidências de como uma tradição her-
mética independente da Igreja pôde
ser preservada ao longo dos séculos, cujos
fragmentos fluíram para a Maçonaria e outros
movimentos espirituais.
O fio condutor ao longo dos milênios não
se desfez. Em vez disso, ele continua a existir
e nos permite nos preparar para o futuro.
Fonte: Revista Alpina
30 Março 2021 O Malhete