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“O ícone é pintado sobre a luz”, escreve Florenskijy com inspiração.

Daqui
emerge toda a ontologia da pintura de ícones. A luz, como diz a melhor tradição
do ícone, é pintada de ouro, ou seja, manifesta precisamente como luz, luz
pura, não como cor. Mais precisamente, cada representação emerge num mar
de felicidade dourada, banhado pelas ondas da luz divina. Em seu seio "vivemos,
nos movemos e existimos" (Atos 17, 28), este é o espaço da realidade autêntica.
E por isso se entende que a luz dourada é normativa para o ícone: qualquer cor
puxaria o ícone para o chão e obscureceria a visão que manifesta". Ouspensky
faz uma observação que não deixa de ter interesse. O ouro, certamente irradia
luz, mas ao mesmo tempo é opaco. Essas características correspondem aos
atributos da Divindade, que o ouro é chamado para simbolizar. Já dissemos que
a “escuridão”, na linguagem mística, expressa a transcendência de Deus, aquela
profundidade sem fundo que a criatura é incapaz de penetrar, pois sempre
excede as possibilidades do conhecimento humano. “A escuridão divina”,
escreve Dionísio, “é aquela "luz inacessível" (1Tm 6, 16) onde Deus habita",
portanto, uma "luz inacessível" que é, ao mesmo tempo, “luz mais luminosa que
a luz”, luz
deslumbrante e, portanto, impenetrável. Pois bem, o ouro, que reúne
de tal forma que a luminosidade se combina com a opacidade, nada mais é do
que a tradução simbólica da teologia apofática, expressando o paradoxal
mistério da luz divina - trevas impenetráveis, isto é, algo essencialmente

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