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"UM VIDEOTAPE QUE DENTRO DE MIM

RETRATA TODO MEU INCONSCIENTE


DE MANEIRA NATURAL"
apontamentos para pensar as relações entre canção e psicanálise
"A única vantagem que um psicanalista tem o direito de tirar de
sua posição, sendo-lhe esta reconhecida como tal, é a de se
lembrar, com Freud, que em sua matéria o artista sempre o
precede e, portanto, ele não tem que bancar o psicólogo quando
o artista lhe desbrava o caminho."
Jacques Lacan, 1965
MÚSICA E PSICANÁLISE
diferentes abordagens e suas bordas
MÚSICA E PSICANÁLISE
diferentes abordagens e suas bordas

Relações entre a música e o inconsciente: Cartas de Schoenberg a Kandinsky, publicadas em


edição espanhola em 1987, onde Schoenberg afirma que "a arte pertence ao inconsciente"
(KANDINSKY, 1987, p. 19) e que é a partir do inconsciente que a "criatividade mais pura", na
opinião do autor, pode aflorar.
"Desse modo o que se observa é que, embora sem se voltar especificamente para uma investigação
musical, Freud inferiu que movimentos constitutivos do discurso musical envolvem "marcas"
particulares do sujeito, o que significa dizer, trazem alguma coisa do inconsciente que se
presentifica no chamado estilo próprio do compositor. E só nesse sentido." p. 21

Sekeff

conceito de traço unário?


"Por outro lado, considerando que no exercício da música o inconsciente se constrói na escuta entre
compositor e receptor (obra e escuta), tem-se a possibilidade de uma hipótese interpretativa da
dimensão afetiva da música, tanto em relação ao compositor quanto em relação ao ouvinte. Em
relação ao compositor a música é passível de elucidação através de uma análise
perceptivo/musicológica, atentando-se para o modo como o compositor diz o que diz.

No caso do ouvinte a vivência musical é passível de elucidação através de uma análise psicológica,
atentando-se para as emoções, ressonâncias e efeitos que a obra ouvida suscita neste, receptor."

Sekeff
MÚSICA E PSICANÁLISE
diferentes abordagens e suas bordas

Em “Escritores criativos e devaneio” (1908), Freud afirma:

"O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de
fantasia que ele leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande
quantidade de emoção, enquanto mantém uma separação nítida entre ele e a
realidade. A linguagem preservou essa relação entre o brincar infantil e a
criação poética." (p. 150).
MÚSICA E PSICANÁLISE
diferentes abordagens e suas bordas

Vladmir Safatle no texto "Destituição subjetiva e dissolução do eu na obra


de John Cage" nos indica possibilidades metodológicas para trabalhar essas
duas áreas conjuntamente.
Quatro métodos diferentes de estudo da psicanálise com a música:

A análise psicanalítica da escuta (que tenderia a uma psicologia da audição);


as psicobiografias;
análises hermenêuticas da composição musical (que tende a ser feita sobre as narrativas das
óperas);
e, por fim, a psicanálise da forma musical, que reuniria "trabalhos que conjugam psicanálise e
música sem dissolver a especificidade da análise da forma musical"

(SAFATLE, 2006).
O autor nos lembra que a utilização desse último método foi evidenciada por Adorno ao trabalhar
sobre a obra de Schoenberg e aponta que o recurso à psicanálise terá serventia na análise das
músicas porque toda obra diz de categorias importantes como identidade, diferença, unidade, entre
outras.

Diante desse contexto, a obra de arte disponibiliza figurações para problemas gerais de
subjetivação, o que faz com que a psicanálise possa abordá-la sem descaracterizá-la e ambas as
áreas do conhecimento possam dar novos passos a partir desse encontro.
MÚSICA E PSICANÁLISE
diferentes abordagens e suas bordas

Invocações - Didier-Weil

Nota Azul - Didier-Weil


MÚSICA E PSICANÁLISE
psiquismo e a música do sujeito

Estudar a estruturação do psiquismo pela via do registro sonoro-musical, portanto, caracterizar o


inconsciente em suadimensão musical-invocante, possibilita pensar a respeito da música como
forma de expressão singular no que se refere a sua peculiar e especial capacidade de causar o
sujeito (a música como objeto a) bem como correlatos efeitos e modos de subjetivação.

A musicalidade então é entendida aqui como um processo de subjetivação, um devir, possibilidade


de criação (processos criativos e/ou atos criativos/sublimação) a partir da falta-à-ser, o qual
independente de formação musical parece constituir o ser humano como uma exigência psíquica e
criativa: eis sua relação com o campo pulsional (o real) e, em especial, a concepção de pulsão
invocante
MÚSICA E PSICANÁLISE
brincando de explicar
Canção sem palavras - Ele evoca palavras?

MC Carol - Discurso da Histérica?


Inserir um pouquinho de texto
Arrigo Barnabé - Encruzilhadas

Negro Léo - Deslocamentos


Professora, me desculpe
Mas eu vou falar
Esse ano na escola
As coisas vão mudar

Nada contra ti
Inserir um pouquinho de texto
Não me leve a mal
Quem descobriu o Brasil
Não foi Cabral

(MC Carol de Niterói)


“A histérica não é escrava. (...) Ela faz a sua maneira uma certa greve. Ela não
entrega seu saber. Ela desmascara entretanto a função do senhor com a qual
permanece solidária” (ibid., p. 107).

Inserir um pouquinho de texto


MÚSICA E PSICANÁLISE
conceito a conceito
QUATRO CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Inconsciente
Repetição
Pulsão
Transferência
SUBLIMAÇÃO
SUBLIMAÇÃO

A palavra "sublimação" nomeia um processo físico-químico em


que uma substância vai do estado sólido para o gasoso sem
passar pelo estado líquido. Antônimo da palavra "deposição",
sublimação também se refere ao ato de tornar sublime e ao ato
de purificar.
SUBLIMAÇÃO

Na psicanálise Freudiana, vemos que no texto "A Pulsão e seus


Destinos" (1915) o autor estabeleceu quatro mecanismos por
onde o pulsional caminharia: reversão, narcisismo, recalque e
sublimação. Aí, a sublimação foi o termo escolhido por Freud
para falar da transformação do pulsional através da estética ou
do saber, direcionando essa pulsão ao outro.
SUBLIMAÇÃO

Em Lacan, diferentemente, a sublimação seria "a elevação de um


objeto à dignidade da coisa”, nas palavras do autor. Ela faria
um tratamento do gozo na direção de transformar
determinadas matérias, num saber-fazer com o vazio, indo além
do transbordamento do real.
SUBLIMAÇÃO

Em Lacan, diferentemente, a sublimação seria "a elevação de um


objeto à dignidade da coisa”, nas palavras do autor. Ela faria
um tratamento do gozo na direção de transformar
determinadas matérias, num saber-fazer com o vazio, indo além
do transbordamento do real.

O objeto sublimado expõe o vazio da Coisa ao mesmo tempo em


que demonstra que há sempre uma nova possibilidade de
interpretação na obra de arte, dada a opacidade de das Ding
que na arte é evidenciada.
SUBLIMAÇÃO

Ou seja, a sublimação, ao elevar o objeto à dignidade da coisa, é


caracterizada por esses rodeios que levam os sujeitos a se
aproximar do desejo. Em vez da metonímia, onde há uma
substituição dos objetos, a elevação do objeto na sublimação
possibilita novas construções simbólicas, não bastando
simplesmente o vaso, mas sim seu lugar singular numa estante
ATO FALHO
ATO FALHO

Lapso?

“Nossos atos falhos são atos que são bem sucedidos, nossas
palavras que tropeçam são palavras que confessam”

Dialeticamente: o falho diz do correto.

Revelação de algo singular do desejo do sujeito


VOZ
VOZ

O que resta do significante


PULSÃO INVOCANTE
PULSÃO INVOCANTE

moins scientifique mais plus récréatif


le pouvoir mortifère de le chant de las Sirènes
"le mythe, c'est... la tentative de donner forme épique à ce qui opère de la
structure" Lacan dans Télévision

séminaire Les quatre concepts: la pulsion invocante est la plus proche de


l'expérience de l'inconscient

Pulsão invocante: dois orifícios. Oris (oral) e auris (auricularidade)


LETRA
LETRA
“Por um lado, a Letra promulga a Lei em nome da qual toda a
extravagância pode ser reduzida (”Agarrem-se, peço-vos, à
letra do texto”), mas, por outro, há séculos, como mostra o
Massin, que liberta incansavelmente uma profusão de símbolos;
por um lado, “agarra” a linguagem, toda a linguagem escrita,
na golilha dos seus vinte e seis caracteres (para nós, Franceses) e
estes caracteres não são eles próprios senão a ordenação de
algumas rectas e de algumas curvas; mas, por outro lado, ela
está na origem de uma imagística vasta como uma cosmografia;
ela significa, por um lado, a censura extrema (Letra, quantos
crimes se cometem em teu nome!), e, por outro, a fruição
extrema (toda a poesia, todo o inconsciente são um regresso à
letra).”

Roland Barthes
LETRA
Assim como a imagem do sonho permite ler o inconsciente, a
letra, enquanto signo, permite ler o significante.

Cada ente tem seu traço unário, que gerará sua letra e,
consequentemente, sua escrita.

É nesse além do traço que encontramos a diferença, a


possibilidade do singular. Esse modo único do traço é
relacionado aos automatismos de repetição. Ou seja: cada um
goza à sua maneira, existe à sua maneira, repete à sua maneira
- faz-se a própria vida com a própria caligrafia.

“A letra cria o que o traço já apontava do significante”


(Guilherme Oliveira)
LETRA

A letra e a voz - David Bernard


Psicanálise como clínica do fonema

A letra é o efeito de gozo com que o significante vem marcar o sujeito


ESTILO

Le style c'est l'homme (Buffon)


Le style c'est l'Autre (Lacan)
Le stylo c'est l'ANE.
ESTILO

Então: "Le stylo c'est l'ANE." ANE abrevia ANALYSTE, ou melhor, ÂNE-À-LISTE,
trocadilho irónico com o qual Lacan põe em questão a transmissão institucional da
psicanálise3. Nesse "motto" resultante da releitura do rifão de Buffon pelo refrão de
Lacan; nesse duplo deslocamento chistoso do brocardo célebre, insinuei ainda uma
alusão: stylo remete àquela passagem de "Fonction et champ de la parole et du langage
en psychanalyse" (também conhecido como "Discours de Rome", 1953), em que Lacan
afirma:, "l'analyste participe du scribe", ou, numa citação ri1ais extensa, em versão
brasileira ("Função e campo de fala e da linguagem em psicanálise"): "Desempenhamos
um papel de registro (un rôle d'enregistrement)... Testemunha tomada da sinceridade
do sujeito, depositário do auto (procès-verbal) de seu discurso, referência de sua
exactidão, garante de sua direiteza, guarda de seu testamento, tabelião de seus
codicilos, o analista faz a parte do escriba." (EC I, 197; ESC, 177). O que não o impede,
argumenta Lacan, de permanecer ao mesmo tempo: "mestre da verdade de que :esse
discurso é o progresso".
ESTILO

estilo, formação revolucionária no plano da linguagem, é o que, no


pensamento de Lacan, toma possível um ultrapassar da literatura
em proveito da literalidade poder da letra, instância da letra no
Inconsciente, e, como indica a sequência desse título de um extracto dos
Écrits, la raison depuis Freud ('a razão desde Freud'), génese de uma
outra racionalidade." ("La stratégie du langage",Littérature, Larousse, nº
3, outubro 71).
“ A música tem o poder de mesclar a repetição e a diferença, o contínuo e o
descontínuo. Por isso, remete não apenas ao tempo histórico e linear mas
também ao ausente, espiral e não cronológico, sugerindo contraponto
entre consciente e inconsciente.”

Wisnik
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