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Literatura: aula introdutória

Prof. Richard Max


A ARTE E O ARTISTA

• Para definirmos o conceito de arte é necessário reconhecermos que algumas pessoas são dotadas de uma
capacidade criadora que as habilita a conceber objetos ou a realizar atividades que expressam emoções, estados de
espírito e acontecimentos, traduzindo um modo único de perceber a realidade e/ou de transformá-la. Aqueles que
têm esse dom são os artistas, os que produzem arte.
• A arte não tem uma finalidade utilitária, ela tem um fim em si mesma, e várias são as formas de expressão
artística –uma delas- a Literatura.
• Em 1911, o crítico de cinema italiano Ricciotto Canudo escreveu o Manifesto das Sete Artes, publicado somente
em 1923, em que definia o cinema como a sétima arte. No manifesto, ele ordenou as outras seis de acordo com
uma ordem consensual, ou seja, segundo uma maioria que concordava com essa disposição. Mais tarde,
historiadores da arte acrescentaram a esse manifesto mais quatro artes, estabelecendo uma ordenação que se
consagrou.
1ª arte: Música (arte do som);
2ª arte: Dança (arte do movimento);
3ª arte: Pintura (arte da cor);
4ª arte: Escultura (arte do volume);
5ª arte: Teatro (arte da representação);
6ª arte: Literatura (arte da palavra);
7ª arte: Cinema (arte que reúne elementos das seis anteriores);
8ª arte: Fotografia (arte da imagem);
9ª arte: História em quadrinhos (arte sequencial);
10ª arte: Jogos eletrônicos
11ª arte: Arte digital (inclui artes gráficas produzidas em computador em duas ou três dimensões)
• A atriz, diretora de teatro, bailarina e coreógrafa brasileira Clarisse Abujamra costuma dizer que há duas
espécies de artistas: os ativos e os passivos. Os ativos são aqueles que produzem obras de arte; os passivos são
aqueles que têm talento para apreciar o objeto artístico.
• Além da sensibilidade que já nasce conosco para quaisquer desses dons, é possível treinar, estudar, ampliar os
horizontes culturais para que possamos nos apropriar mais e mais das competências, ou do fazer ou da
contemplação da arte. Em outras palavras, algumas pessoas dominam ativamente a concepção do objeto
artístico, conseguindo executá-lo, criá-lo. Outras, apesar de não serem criadoras, interagem com ela por meio de
sua apreciação, com a cumplicidade do apreciador da arte. Walt Whitman, o mais expressivo poeta estadunidense
do século XIX, diz em um de seus poemas:
“Você, leitor que pulsa
de vida e amor,
assim como eu:
para você, por isso,
os cantos que aqui seguem!”
Duas considerações são fundamentais para a iniciação neste processo. Primeiramente, não importa a sinceridade
com que o artista concebeu sua obra, mas sua habilidade em fazê-lo. O papel dele é proporcionar uma emoção
estética em quem consome sua criação, independentemente de tê-la. Além disso, é preciso entender que a arte é
feita de forma e conteúdo, e que ambos são indissociáveis, como veremos adiante.
Leia um trecho do poema de Fernando Pessoa:
Isto
Dizem que finjo ou minto Por isso escrevo em meio
Tudo que escrevo. Não. Do que não está ao pé,
Eu simplesmente sinto Livre do meu enleio,
Com a imaginação. Sério do que não é.
Não uso o coração. Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa. Obra Poética. Rio de Janeiro:


Tudo o que sonho ou passo, Companhia José Aguilar, 1969. p.165.

O que me falha ou finda,


É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa que é linda.
• As primeiras pinturas
PRIMÓRDIOS DA ARTE rupestres, encontradas em
1879, foram as da caverna
de Altamira, na Cantábria,
Espanha. O segundo grupo
de pinturas foi descoberto
em 1922, na caverna de
Pech Merle, em Lot,
França. A datação em
carbono-14 indica que
estas foram feitas há cerca
de 25 mil anos, sendo 10
mil anos a mais antigas que
a de Altamira.
ARTE LITERÁRIA: DAS ORIGENS AO PRESENTE
A literatura é uma das artes mais complexas. Seu instrumental, as palavras, gera possibilidades infinitas de expressão, já que cada
uma delas admite várias flexões e sentidos. A linguagem é o ponto mais sofisticado de um processo que custou muito tempo a se
consumar na evolução da humanidade. A aquisição da linguagem oral, sua organização e seus códigos exigiram expedientes requintados
de associações. A palavra, um sopro de ar articulado, ainda que impalpável, era tão reveladora e transformadora que o homem teve
necessidade de representá-la materialmente. Então foram desenvolvidos alfabetos para que, por meio deles, os idiomas falados
pudessem ter uma representação gráfica.
Por meio da palavra escrita o homem fez registros de ordem documental e prática, firmou acordos e contratos, enviou mensagens,
colecionou informações e dados. Porém, um dia usou graficamente a palavra como expressão de suas ideias e sentimentos mais
profundos, como a formalização de seu olhar subjetivo sobre o mundo, e a Literatura se fez.
Como se viu, os fenícios desenvolveram o primeiro alfabeto conhecido, mas não nos deixaram obras literárias. Outros povos antigos,
porém, legaram-nos textos artísticos que venceram os milênios, quer pela mensagem, em que souberam capturar o que há de essencial
na condição humana, quer pela criatividade e imaginação que os permeia. Muitos desses textos versavam sobre religiões, registrando a
necessidade humana de expressar o divino, o metafísico. Desse modo, chineses, persas, hindus, hebreus e egípcios, entre outros povos,
produziram o0bras de interesse universal que ecoam até nossos dias.
A Literatura é parte fundamental da cultura dos povos civilizados. A cultura é tudo o que deriva do convívio humano, da interação do
homem com seu universo físico, social e espiritual. Ela não faz parte da natureza –é o que o homem produz em termos de constatações,
informações, comportamentos, religiosidade, hábitos, usos e costumes e arte. Todos esses dados são transmitidos de geração para
geração.
A SENSIBILIDADE ARTÍSTICA
A herança artística tem sofrido o crivo dos tempos e das individualidades. Existe uma relação de mútuas implicações entre o
ser humano e sua conjuntura histórica. Ele a constrói, quer com decisões revolucionárias ou ideias inovadoras, quer
cumprindo seus deveres com mãos constantes e anônimas. Ao mesmo tempo, essa conjuntura lança sobre ele suas
influências. Nossas percepções sempre estão sujeitas a noções coletivas de verdades, vindas de instituições, moralidades e
conceitos, e estes, por sua vez, são constantemente renovados.
A relação interativa entre o ser humano e seu tempo tem várias consequências; uma delas é que, periodicamente, as
tendências artísticas se transformam. Isso acontece porque, como já vimos, a arte expressa ideias e estados de espírito, que
estão sujeitos a interferência externas. Chamamos as diversas tendências e estéticas que se sucederam na arte através dos
tempos de estilos de época, movimentos, ou, ainda, escolas.
Cada indivíduo, porém, recebe distintamente essas interferências. O olhar subjetivo de cada ser capta e decodifica de
maneira diferente um mesmo dado. O mundo e a realidade podem ser fenômenos objetivos, mas os olhares que recaem sobre
eles sempre são subjetivos. Isso significa que existe o que é próprio do objeto em si, mas o olhar que o percebe está
comprometido com a vivência, a sensibilidade, a emoção, o modo de ser do observador.
Essas distintas percepções relativizam as coisas. Algumas óticas aproximam-se mais do objeto que do sujeito, são mais
objetivas; outras estão mais turvadas pela perspectiva do observador, são mais subjetivas. É natural que, ao expressar a sua
percepção de mundo, o indivíduo o faça de modo particular, manifestando, portanto, um estilo individual.
CONOTAÇÃO: A DIMENSÃO SUBJETIVA DA PALAVRA
Uma das magias da Literatura é a multiplicidade de sentido que as palavras (ou os textos como um todo) podem
adquirir, saindo de seu frio “estado de dicionário”.
Compare o emprego do termo ferro nos textos seguintes:
a) O ferro é o elemento de número 26 da tabela periódica.
b) Alguns anos vivi em Itabira. / Principalmente vivi em Itabira./ Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
TEXTO LITERÁRIO E TEXTO NÃO-LITERÁRIO

Embora haja muitas diferenciações entre o que caracterizaria o texto literário em contraposição ao não-literário,
pode-se dizer que o primeiro apresenta uma função estética e ficcional, e o segundo, uma função utilitária e não
ficcional.
Assim o texto literário trabalha com a ficção, e o não-literário, em sua maior parte, com a realidade existente.
Enquanto no texto não-literário a linguagem se refere a fatos, pessoas e coisas do mundo real que existem
independentemente do texto, o mesmo não ocorre no texto literário, pois este se refere a fatos, pessoas e coisas que
existem exclusivamente no texto, mesmo que tenham sido inspirados em fatos reais.
Outras características das estruturas de texto literário e não-literário são a conotação e a denotação.

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