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A Arte e o Belo
Todo ato de beleza é uma revolta contra o mundo moderno.
— Caspar David Friedrich
SAN
A Arte e o Belo San
Sumário
IV - De Harmonĭa 07
Como observa Platão: “A música dá alma ao
universo, asas à mente, voo a imaginação, e
vida à tudo”!
SAN'S ANTHOLOGY
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⁴ Em toda e qualquer forma dotada de existência, seu ser é um. Todas as coisas são unidade[s] :
num grau intensista maior ou menor, mas sempre unidade[s].
⁵ Summa Theologiae, I a , q. 117, a. 1.
⁶ Cap, A luta contra o criador, ver em Mário F. dos S; A Invasão Vertical dos Bárbaros. p. 60.
⁷ 1Coríntios 13: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com
leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não
se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo
crê, tudo espera, tudo suporta”.
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razão com inteligência do divino. Por isso, se diz que a alma tende ao belo
assemelhando-se a Deus (Platão, Teeteto 176b; Politeia 613b), que é a Causa
Primária do belo e da “moira”⁸ (μοῖρα), afinal, “todas as coisas foram feitas por Ele, e
sem Ele nada se fez do que foi feito” (Jo 1,3); isto é, “a partícula do que é destinado
às coisas que vêm a ser”, como Platão diz no Timeu 35b. Portanto, a beleza
percebida no exterior — a “dama” do cavaleiro, por exemplo, ou a obra de arte sacra
— deve ser descoberta ou realizada no interior, pois nós amamos o que somos e
somos o que amamos.
⁸ Moira (μοῖρα) é a partilha do que é destinado às coisas que vêm a ser, diferente daquela das
coisas que são sempre, conforme se diz Platão, no Timeu 35b: μειγνὺς δὲμετὰ τῆς οὐσίας καὶ ἐκ
τριῶν ποιησάμενος ἕν, πάλιν ὅλον τοῦτο μοίρας ὅσας προσῆκεν διένειμεν, ἑκάστην δὲ ἔκ τε
ταὐτοῦ καὶ θατέρου καὶ τῆς οὐσίας μεμειγμένην (e tendo misturado com a essência para fazer
de três coisas uma só, dividiu novamente esse inteiro em quantas moiras convém, estando cada
uma misturada do mesmo, do outro e da essência).
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dade no quadro real da sua vida, essa atividade se tornará boa para ele. As pessoas
amam essas atividades, que à primeira vista parecem feias, porque elas conseguiram
prestar a atenção na beleza formal da coisa, elas contemplaram a “feliz visão”
(Platão, Fedro 250b) formal da coisa; e, se caso não existisse beleza nessas
atividades, seria impossível um número significativo de pessoas amarem aquilo —
afinal, a beleza pode ser indecente, inapropriada, imoral e etc¹¹.
¹¹ Obviamente, isso só é possível num contexto adequado, porque, por exemplo, caso um Judeu
comece a pintar ícones de Moisés, ele estará pecando, não irá para o seio de Abraão.
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De Harmonĭa
Desde o iluminismo, com todas as suas cosmovisões mecanicistas que “tornam o
coração insensível”, de modo que “vendo” o povo “não percebe”, por vezes,
esquecemos que a matemática per se não se reduz a seu gênero pós-iluminista:
existem outros tipos de matemáticas que remontam a era pitagórica. Os pitagóricos
associavam a ordem matemática do cosmos (cosmos significando “ordem”) à
essência do belo: a beleza nasce de uma ordo interior que, por ser ordem, contém
um sentido. E essa beleza, para eles, não era apenas de natureza visível, mas
também musical. Vemos isso no prólogo do Fausto, do qual, Goethe refere-se
diretamente a essa concepção pitagórica ao evocar o “coro das esferas fraternas”. A
ordem matemática que rege os planetas e suas trajetórias faz ressoar um som oculto
da realidade inteligível de cada uma delas, que seria a forma original da música, pois
é na harmonia musical que o semitom nos leva de uma nota maior para uma menor:
ou seja, do dinâmico “mundo do Sol” à pensativa “esfera da Lua” — só sabe o que
isso significa quem o “ouviu” no fundo de sua alma.
Aos que são “capazes de ver”, essa matemática foi de fato imensamente cultivada
pelas escolas filosóficas — particularmente a platônica — e está essencialmente
ligada às artes, especialmente à música (como citado anteriormente) e à arquitetura.
É essa mesma matemática que levou Jean Mignot a dizer: “ars sine scientia nihil”¹². O
homem como um microcosmos deveria, pois, se inspirar na música interior do
cosmos e sua ordem, produzindo um “canto fraterno” das esferas celestes, que há
também em seu ser integral. Pois como observa Platão: “A música dá alma ao
universo, asas à mente, voo a imaginação, e vida à tudo”! Como a beleza da música
decorre da correspondência com as leis rítmicas e harmônicas do universo, a música
humana será tanto mais “bela” quanto mais participe intimamente das leis musicais
do cosmos. E, portanto, quebrando a antiquada cosmovisão pós-iluminista que o
cosmos é apenas “a mera aceleração da matéria, sem fim e sem sentido”.
¹² “A arte sem a ciência é nada”. Jean Mignot foi um arquiteto da catedral de Milão: sem a
matemática pitagórica, nada haveria de florescer.