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O que acontece quando objetos como máscaras, panelas, dentr outros artefatos, se

encontram em locais não-indígenas de exposição pública? Problemas como este remetem


mais uma vez, ao nosso modo de conceber o que s eja arte: estética, distinção entre
arte e artefato, inovação; todas características da arte ocidental que entram no
jogo
da interculturalidade.

Segundo a própria autora, na introdução de Arte primitiva em centros civilizados


(2000) de Sally Price, já nos é claro como às peças “primitivas” são imputados
valores ocidentais, sem que os verdadeiros produtores sejam consultados sobre sua
estética ou sua percepção (p.11). Els Lagrou quer mostrar ao leitor que, para que
possamos incorporar objetos provenientes de outros contextos de produção,
apropriação
e avaliação no campo da apreciação estética metropolitana, é necessário,
primeiramente,
compreender as cosmologias às quais esses objetos pertencem e, segundo, mudar a
perspectiva conceitual sobre a arte. Assim, não é possível buscar inovação e
ruptura
em objetos concebidos por sociedades que valorizam uma história da conservação e da
continuidade bem como não podemos esperar que a construção da pessoa do artista
seja
a mesma em contextos díspares. Mesmo perante a tais diferenças, Lagrou argumenta em
favor de uma definição mais ampla de “arte”:

2. Definições sobre "Arte" e "Artefato".

Arte: Objeto produzido para ser contemplado.


Artefato: Objeto produzido para serem usados.

Na maior parte das sociedades indígenas brasileiras o papel de artesão/artista não


constitui uma especialização.

O fator considerado responsável pelo êxito de um artefato depende do tipo de arte


em
questão: pintura corporal, tecelagem,trançado, cerâmica, escultura, produção de
máscaras ou arte plumária. Quando predomina a dificuldade técnica, serão prezadas a
concentração, habilidade, perfeição formal e disciplina do mestre. Mas quando
predomina a expressividade da forma, a fonte de inspiração é quase sempre atribuída
a
seres não humanos ou divindades que aparecem em sonhos e/ou visões. Dificilmente se
responsabilizará a 'criatividade' do artista pela produção de novas formas de
expressão. O artista é antes aquele que capta e transmite ao modo de um rádio
transistor do que um criador. Preza-se mais sua capacidade de diálogo, percepção e
interação com seres não humanos, cuja presença se faz sentir na maior parte das
obras
de aspecto figurativo, do que a capacidade de criação ex nihilo, criação do nada.
Esta ideia de ser mais receptor, tradutor e transmissor que criador vale para a
música,
a performance e a fabricação de imagens visuais e palpáveis.

Resumo: Na criação de um artefato, quando o fator de dificuldade técnica predominar


serão prezados habilidades, concentração e disciplina. Entretanto, quanto a
expressividade da forma, a fonte de inspiração é quase sempre atribuida a seres não
humanos e divindidades em sonhos e visões. Ou seja, o criador é apenas um vetor da
informação como um rádio.

No caso Pirahã, somente Igagai, o deus criador, saberia criar todas as coisas,
enquanto os humanos não fariam outra coisa que tentar imitá-Io através do
experimento.
É o experimento que produz o evento e assim o mundo é feito de semelhanças que
produzem diferenças.

EM RELAÇÃO À CÓPIA, A PARTIR DO MODELO:

É, muitas vezes, considerada como sendo da mesma natureza que o modelo, e tende a
ser
produzida através das mesmas técnicas que o original.

Na tradição pictórica ocidental temos que a copia tende a ser de outra natureza que
o
modelo. A pintura na tela é feita de outros materiais que o modelo e, na sua
confecção,
são utilizadas técnicas próprias à pintura, fazendo com que as técnicas de produção
de um
quadro diiram das técnicas de produção de, por exemplo, o corpo humano ou o vaso
com flores
representadas no quadro. Uma escultura de um torso humano também não visa
reproduzir o corpo,
sua estrutura, ou seu modo de funcionar, somente visa invocá-lo, representá-lo. No
universo
artefatual ameríndio, no entanto, a cópia é muitas vezes considerada como sendo da
mesma natureza
que o modelo, e tende a ser produzida através das mesmas técnicas que o original.
Por essa razão podemos airmar que entre os ameríndios artefatos são como corpos e
corpos são como
artefatos.

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