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ÍNDICE
4. ADAPTAR O S IS
T E M A M ÚSC UL O- E SQUE L É TI CO ............................................................................ 7
5. N O TAS B Á S IC AS
SOB R E AS TÉ C N I C AS M I N I M AL I S TAS D E CO R R E R DE S C A LÇO ..................... 10
6. PL A N O DE TR
AN SI Ç ÃO PAR A COR R E R D
E SC ALÇO-M I N I M ALIS TA ............................................ 18
7. ER ROS COMU NS
N A TR AN SI Ç ÃO PAR A A COR R I DA M I N I M A LIS TA ......................................... 41
O inicio foi há mais de um ano e olhando para trás podemos ver que ao longo do caminho têm vindo
a publicar artigos interessantes e reflexões, e mais importante, a família de corredores descalços mini-
malistas tem vindo a crescer gradualmente. Tanto assim é que, se por algum motivo, estiver alguns dias
sem visitar o fórum www.correrdescalzos.es, quando voltar não irá reconhecer os novos membros e os
problemas abordados passaram já para segundo plano.
Porque esse é o objetivo deste guia, os artigos que nos guiaram para aprender esta nova técnica estão
consolidados num único texto para todos, tanto para quem já tem experiência como para quem está a
começar. Além disso, pretende-se que este guia seja um produto vivo, que cresce e se renova à medida
que surge mais informação e conhecimento, para desenvolver todos os tópicos da técnica de corrida.
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2. PORQUÊ CORRER DESCALÇO?
Falanges
Metatarso
Cuboides Pie delantero
A planta do pé é uma das partes do corpo com mais terminações nervosas, o que lhe confere grande
sensibilidade. Essa sensibilidade é usada para literalmente, sabermos onde calcamos. O piso produz al-
guns estímulos táteis e o nosso corpo reage a esses estímulos, muitas vezes reflexiva e instintivamente.
Por exemplo, se alguma vez pisou uma pedra ao andar descalço, notou como instintivamente mudou
a carga sobre o pé para minimizar os danos - se pisa com o peso da carga do ante pé sobre o calcanhar
e se pisar com o calcanhar carrega o ante-pé. Tudo isso em milissegundos e, sem pensar. É um exemplo
de como a agir em reflexos instintivos.
A planta do pé também desencadeia uma outra reflexão que é muito útil na hora de correr. Graças ao
seu aparelho sensorial é capaz de «sentir» a dureza do solo na perfeição e a força da pegada. Assim,
através de outro reflexo, ajustamos a rigidez dos músculos da perna para alcançar a combinação per-
feita de amortecimento e estabilidade, como o terreno em que pisamos, a velocidade que levamos, etc.
As pernas tornam-se a almofada perfeita: inteligente e adaptável, tudo num processo inconsciente, em
que não temos que pensar.
Ainda uma outra característica desta sensibilidade é que somos capazes de perceber qualquer alteração
na forma de calcar. A nossa forma de fazer e manter contato com o solo é fortemente influenciada pela
forma como nós nos movemos com o resto do ciclo da corrida. Por exemplo, se pisamos com o pé para a
frente percebemos facilmente como batemos no solo com força, fazendo um «ras» muito desagradável
e que pode ser doloroso. Ou se impulsionarmos demasiado percebemos que o pé fica para trás e aplica-
mos força excessiva. Ou, se a nossa cadência é baixa notaremos forças de impacto demasiado grandes.
Estas são as razões pelas quais é desejável correr descalço: porque andar descalço é a melhor forma de
gerimos e também obtermos informações sobre os pontos em que temos falhas.
Umas sapatilhas, por mínimas que sejam, distorcem todas as informações que nós fornecemos às solas
dos pés, quanto menos mínimas forem as sapatilhas, mais distorcida é a informação. Depois disto, é pre-
ciso desenvolver todo esse aparato sensorial para ser capaz de sentir a suavidade do tecido das nossas
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Nike. Uma sapatilha com bastante amortecimento faz com que o nosso corpo se confunda e pense que
está a pisar num terreno macio e estável, estragando o poder de reação dos amortecedores adaptativos
e confundindo todo o nosso sistema de reflexo.
Daí o nome deste site. Correr descalço é a principal ferramenta que temos para aprender e melhorar
técnica de corrida, porque nos mostra quais devem ser os gestos, movimentos e intensidades de uma
melhor técnica, que devemos ter, naturalmente, mas perdemos por tantos anos de vida sedentária e
utilização de calçado inadequado.
Deve ser claro que correr descalço não é o objetivo, o fim é melhorar a forma de correr. Correr descalço é
simplesmente uma forma que nos leva a esse fim, e ao conseguirmos, estaremos na disposição de escol-
her se queremos usar sapatilhas e qual o tipo de sapatilha que é melhor para nós. A nossa intenção final
é que corra descalço sempre que possível (a verdade é que é um pouco viciante), mas também deve
ficar claro que nem sempre é possível. Há terrenos, tempos e lugares onde não é apropriado e, devemos
por isso, procurar alternativas. E, claro, a alternativa é algum tipo de calçado. Além disso, como já apren-
deu a usar os pés de uma forma livre e natural, o calçado que será mais confortável é o menos restritivo,
que menos interfere com a mobilidade e sensibilidade dos nossos pés: as sapatilhas minimalistas.
Este tipo de sapatilhas minimalistas são as que menos prejudicam os benefícios de correr descalço
enquanto nos proporcionam a proteção e conforto que precisamos para enfrentar qualquer terreno.
Alguns preferem ter o pé mais protegido, outros vão querer sentir o chão, outros podem gostar de usar
outros tipos de calçado. O importante é que quando chegarmos a este ponto, e graças ao que apren-
demos sobre correr descalço, teremos argumentos suficientes para saber o que é que os nossos pés
precisam de acordo com nossas habilidades e preferências.
Agora, o que não acontecerá será que, uma vez feita a transição, alguém volte para as sapatilhas antigas.
Temos observado que, embora alguns afirmem estar totalmente convencidos de querer correr des-
calços, nas suas cabeças pairam sempre algumas dúvidas. Não é ceticismo, mas sim a desconfiança
causada pelo marketing massivo e agressivo de grandes empresas que fabricam sapatilhas com amor-
tecedores e recomendam pousar o calcanhar.
Será verdade tudo que dizem sobre correr descalço ou sapatilhas minimalistas? É a pergunta típica que
soa nas cabeças. Só o tempo irá responder e confirmar que devem definitivamente correr descalços ou
usar a mesma técnica com sapatilhas sem amortecedores.
No nosso caso, quando alguém nos pede para ensinar a técnica para correr descalço fazemos sempre
a mesma pergunta: começamos com a teoria ou a prática? Para a solução ser justa escolhemos uma
posição intermediária. Não muita teoria, nem diretamente muita prática.
A primeira coisa que fazemos é mostrar que o calcanhar não é feito para amortecimento. Calçado com
as suas mega sapatilhas (com mais tecnologia do que um astronauta) fazemo-los saltar e cair nos seus
calcanhares. O impacto foi rápido e o seu corpo treme como um chocalho nas mãos de um bebé. Para
surpresa, chega o momento mágico quando as dúvidas caem neste primeiro contato. Podemos repetir
o mesmo exercício, mas desta vez não cair com o calcanhar, mas com a parte da frente do pé, a parte
dianteira do pé. Dada a suavidade do gesto, o sorriso ilumina-se no rosto. Viram-se a flutuar por um
momento, sentindo-se autênticos felinos da natureza.
CASO 1 CASO 2
Quando começam a correr olham com incredulidade e descrença e fazem mil perguntas. Irá vê -los fe-
lizes, mais felizes; nunca lhes passou pela cabeça correr descalço, deixando quase meio quilo de tecno-
logia «marketerizada» e começando a correr como se fossem crianças. Apenas um comentário: corram
lentamente, mas têm de faze-lo como se o solo queimasse.
E, comportam-se assim nessa primeira vez. Voltam à sua infância distante e são rápidos e leves. Che-
gados a este ponto não importa mais teoria, embora eles a peçam. Basta desfrutar das sensações e
esquecer todas as dúvidas.
Depois de alguns minutos, introduzimos uma nova nota, mostrar o ruído produzido ao correr. Aqui
calçam as sapatilhas novamente, de modo a que o ruído seja mais audível. Devemos evitar arrastar os
pés no chão; não devem empurrar com os dedos. Para isso, geralmente ajuda um pavimento áspero.
A sensação que transmite este piso é mais fácil de ler pelos órgãos sensitivos das plantas dos pés dor-
mentes. Além disso, a sua pele delicada não consegue suportar a má técnica e logo se queixa de dores
nos pés. Alguns conseguem evitar o ruído, movendo-se suave e silenciosamente como um ninja.
Esta é a primeira forma de contato, agora resta-lhe experimentar uma e outra vez, até que seus pés
despertem plenamente do adormecimento. Haverá tempo para refinar a técnica e apurar o movimento
até que o deslocamento no espaço seja harmonioso e belo.
A primeira coisa a fazer antes de começar a correr é conhecer os nossos pés. Esses grandes e desconhe-
cidos e às vezes até mesmo rejeitados do nosso corpo aos quais só prestamos atenção apenas quando
o pedem na forma de dor. Portanto, não é incomum encontrar pessoas que falam dos seus pés como se
de seres alienígenas se tratassem.
Além disso, é comum a acreditar que os nossos pés têm um «defeito», dizemos que temos muito: pés
chatos, que são arqueados, outros têm muito peito do pé, pés muito largos, que têm dedos pequenos,
ou o dedo grego ou egípcio e uma longa lista que nos faz pensar neles como uma parte deformada do
nosso corpo, quando na verdade eles são a obra mais perfeita de engenharia alguma vez construída
(assim afirmou o génio incomparável Leonardo da Vinci). Mas a verdade é que todos nós temos um pé
composto por 52 ossos, 66 articulações, 40 músculos e centenas de tendões, ligamentos e recetores
sensoriais que o tornam único na sua forma, mas comum no seu fundo.
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Talvez o facto de os termos sempre fechados ou tapados nos afastem deles, como amigos de quem se
gosta, mas só vê raramente, e prestamos-lhes pouca atenção. Então, a primeira coisa que devemos fazer,
antes de nos lançarmos a conquistar o mundo a passos largos, é reconquistar essa zona do nosso corpo
que temos esquecida. Desde massagens, a cócegas (à media que envelhecemos perdemos as cócegas,
porquê?), rotações e até mesmo movimentos com a ajuda das mãos vão ajudar a reconetar-se com eles,
e começar a recuperar os anos perdidos de isolamento e falta de comunicação; porque se os sapatos
protegem os nossos pés, também os enfraquecem e atrofiam.
Voltando ao facto da perda de sensibilidade experimentada pelo pé ao longo dos anos. É lógico pensar
que se fechamos os pés em calçado inadequado por um longo período de tempo, isso pode causar uma
perda de sensibilidade nos mesmos. As crianças geralmente têm muitas cócegas nos pés, mas quem
pode dizer o mesmo na vida adulta, com 30 anos.
Isto faz nos pensar que o uso excessivo de sapatos, sapatilhas, meias e outros equipamentos utilizados
para cobrir e proteger os pés, está a causar uma perda gradual da sensibilidade; isto porque os pés
foram feitos para sentir o chão, para que é necessário o grande aparato sensorial se vai sempre sentir o
mesmo? Um calçado confortável confunde os órgãos sensoriais dos pés e levá-os a um estado neutro
de sensibilidade.
1. 2.
3. 4.
Isto, em conjunto com os movimentos de rotação, flexão-extensão dos dedos, e tudo o que pode ver
nas imagens na página anterior, ajuda a despertar o pé do adormecimento infinito em que parecia estar
submetido.
Existem pontos básicos que devemos prestar atenção se quisermos manter uma boa técnica:
1. Relaxamento.
O mantra de Barefoot Ken Bob. É a base para que tudo o resto funcione.
3. Joelhos fletidos
Nunca manter os joelhos bloqueados, eles devem ser uma articulação elástica, como uma mola.
4. Postura.
O corpo deve estar recto, sem dobrar a cintura. Em linha recta mas sem tensão, como sabe a pri-
meira regra é o relaxamento.
5. Não impulsionar.
Impulsionar com o pé contra o chão é contraproducente na maioria dos casos.
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1. Relaxamiento
A partir de agora correr deve ser algo que faz relaxado, não
deve haver nenhuma tensão em qualquer lugar. Esqueça os
que dizem para forçar para tirar a força da fraqueza. Quanto
mais tensão tiver, mais resistência terá ao movimento e às for-
ças de impacto, causando um desperdício desnecessário de
energia e aumentando as probabilidades de ocorrer lesões.
Deve tentar que os movimentos sejam rápidos, mas fluidos,
sem resistência, adaptados aos avanços e impacto. Be water
my friend.
Ao aumentar a velocidade a passada aumentará por si, abrindo para trás, que é o que acontece quando
vemos atletas de elite dar esses avanços tremendos. Pode fixar-se em que para abrir a passada a perna
que se lança à frente está com o joelho fletido e aterra com o ante pé abaixo dos quadris. Porque é a
A outra fase, o contacto verá mais à frente que também é importante mantê-la o mais reduzida quanto
possível.
3. Joelhos fletidos
Corpo reto. Bem, em vez de em linha reta, a palavra é «alinhado». Imagine que se levanta, os pés sepa-
rados aproximadamente à largura dos ombros. As pernas retas mas sem bloquear os joelhos , que estão
relaxados. Costas e cabeça reta. Tudo em linha reta, mas relaxado, sem tensão ou articulações bloquea-
das. Nesta posição, deve haver uma linha reta que une as orelhas , ombros, quadris e tornozelos. Este
é o alinhamento, é a posição que devemos ter ao correr: o tronco reto, mas relaxado . Nunca devemos
dobrar os quadris para frente e arquear as costas para trás.
Porquê? Primeiro porque é a posição em que mais confortáveis e relaxados vamos estar. Por exemplo,
arqueando as costas no final teremos uma dor lombar. E em segundo lugar, porque a parte superior do
corpo corresponde a uma parte importante da nossa massa corporal , e qualquer variação da posição
dessa massa sobre os nossos pés irá causar uma mudança no centro de gravidade e da maneira como
os nossos pés têm que pisar para alcançar e manter o equilíbrio.
Em resposta a estas proporções de massa corporal, deve ter em conta que o peso da cabeça é consi-
derável. Em alguns pesa mais do que em outros, mas o facto é que o seu peso pode afetar o equilíbrio
geral. Preste atenção ao estar em pé. Especialmente se andar descalço, nas primeiras vezes a tendência
é olhar para o chão constantemente para ver onde estamos. Acostume-se a olhar para a frente, à estrada
que tem à frente . Com a prática, num ápice conseguirá localizar os pontos onde tem que pisar, e pode
dedicar atenção a outras coisas. É como quando tira a carta de condução. Os primeiros dias tem que
ir olhando constantemente para os sinais de trânsito, mas quando tem mais prática, um único olhar
permite que saiba tudo que precisa.
Aqueles que leram sobre Chi Running ou o Método Pose viram a importância de correr inclinando-se
para aproveitar a vantagem da gravidade (quem não sabe do que se trata, pode avançar este parágrafo).
Embora a utilização da gravidade seja muito discutível, essa leve inclinação à frente pode ajudar em
noutras questões e facilitar o fluxo de movimentos. Mas para obter melhores resultados deve saber
como fazê-lo corretamente. Tenha em conta que é uma inclinação desde «os tornozelos» , ou seja, sem
dobrar na cintura. Deve ser como na postura alinhada acima explicada, deixar-se cair para a frente
dobrando-se apenas com os tornozelos, mantendo o resto do corpo no mesmo alinhamento. Preste
muita atenção a isso, e se ao principio não se sentir confortável, é melhor é passar a inclinação e correr
com o corpo alinhado independentemente desta «queda». Quando melhorar o domínio da técnica,
pode introduzir a inclinação.
5. Não impulsionar.
Quando tradicionalmente se descreve a corrida, esta divide-se em três fases: apoio , impulso e recu-
peração. Em muitos casos sugere-se que, durante a fase de impulso deve-se empurrar contra o solo,
estendendo o pé com os sóleos e os gémeos . Este impulso deve ser evitado a todo o custo, pelo menos
na corrida a uma velocidade constante. Em acelerações e mudanças bruscas na direção pode ajudar,
mas para velocidade constante pode trazer problemas. Os músculos da parte baixa da perna são rela-
tivamente pequenos, e esse movimento pode levar a uma sobrecarga , lesões e forma de correr menos
eficiente.
Como? Não impulsionar? Então como avançamos? Realmente a força necessária para avançar horizon-
talmente é muito pequena. Se tivermos em conta as leis de Newton, em especial a sua primeira lei ou lei
da inércia, diz nos que qualquer corpo em movimento continua em movimento indefinidamente a não
ser que apliquemos uma força sobre ele. Isto quer dizer que se estamos a avançar a uma certa velocida-
de continuaremos a avançar a não ser que algo nos impeça.
Neste ponto, podemos pensar que se aprende a travar pouco e além disso impulsiona, então poderá
correr mais rápido. É certo mas não é fácil de conseguir. Se impulsionamos mais do que travamos, a
teoria diz que ganhamos velocidade. Mas para manter a velocidade alta influenciam outros fatores que
não são fáceis de controlar nem desenvolver, porque acabaram por travar para acomodar a velocidade
às possibilidades reais, e o resultado será que primeiro se gasta energia (e risco de lesões) na fase de
impulso para ganhar velocidade e depois se volta a gastar energia (e risco de lesões) na fase de contato
para perder a velocidade ganhada e adequa-la às nossas possibilidades reais. Geralmente isto traduz-se
em que simplesmente aumentamos a longitude da corrida e diminuímos a cadência, ficando a mesma
velocidade de travessia, mas sendo menos eficazes uma vez que aumentamos o risco de lesões.
Tempo de contacto significa o tempo que está com o pé no chão para apoio. Ao correr com sapatil-
has calcando com o calcanhar, temos tendência a alargar esse tempo para aproveitar o impulso que
podemos dar. Isso faz com que aumente a duração da corrida e a consequente queda na cadência. Já
explicamos que não é bom impulsionar, para que possamos reduzir este tempo de contacto ao mínimo
necessário para recuperar a altura e entrar na fase de voo novamente.
Reduzir o tempo de contato, além de nos tornar conscientes da necessidade de não impulsionar, tem
duas vantagens. Primeiro, não permite que o pé no solo fique muito para trás do corpo, logo a energia
necessária para reposicionar o pé na posição seguinte é menor. Em outras palavras: o pé tem que fazer
uma menor viagem sob o corpo para ir para o próximo ponto de contato. E segundo, consegue aprovei-
tar melhor a capacidade elástica nos músculos e tendões. Sempre que calcamos produz-se um ressalto
(princípio de ação-reação) e este ressalto é melhor aproveitado quanto menor é o tempo de contacto.
Basicamente como se as nossas pernas fossem uma mola, têm capacidade de armazenar parte da ener-
gia cinética e devolve-la na impulsão.
Isto não é devido a deixar o pé um longo período de tempo no solo, de facto os seus tempos de con-
tacto são bastante curtos, e mais curtos quanto maior for a velocidade. O que acontece é que, devido à
velocidade com que se move, o corpo movimenta-se muito rapidamente enquanto o pé está preso ao
solo, ficando este bastante atrasado.
O pisar perfeito ocorre apenas abaixo do centro de gravidade, que está mais ou menos verticalmente
abaixo dos quadris. O contato do pé com o solo ocorre com o antepé e imediatamente o calcanhar baixa
até tocar suavemente no solo.
Quando pisamos gera-se uma força de reação com dois componentes, vertical e horizontal na direção
oposta à marcha. O componente vertical é o que nos apoia e evita que caíamos ao chão. Os componen-
tes horizontais atuam diminuindo o nosso avanço. Ao pisar sob o centro de gravidade (ou muito perto,
uma vez que é impossível logo abaixo) diminuísse essa componente horizontal através da eliminação
de travagem. E ao pisar do ante pé conseguimos que entre em jogo o tornozelo, aproveitando ao máxi-
mo a capacidade de amortecedor e elástica das nossas pernas.
Muito importante: quando falamos de pisar com o ante pé não falamos de correr na ponta dos pés. Ao
pisar o ante pé é o primeiro que entra em contato com o solo, mas o pé está quase plano e imedia-
tamente tornozelo relaxa, cede, e o calcanhar entra em contato com o solo. Quem realmente recebe
o maior peso é a parte dianteira do pé, o calcanhar limita-se a dar algum apoio extra, mas também
suporta. Às vezes, quando corremos muito rápido é possível que o calcanhar não chegue a tocar o solo,
mas isso só deve suceder em ritmos muito altos. Para ritmos normais correr na ponta dos pés pode
causar problemas.
1. 2.
Outra questão que devemos prestar atenção é ter os pés alinhados. Ou seja, não abrir os nossos pés para
os lados ou mete-los para dentro. Ao pisar os pés devem apontar para as 12 horas e cair um à frente do
outro, quase como se corressemos sobre uma linha.
Neste ponto vimos partes do que é uma boa técnica, ou seja, uma técnica natural. No primeiro artigo
do guia, vimos como começar a praticar, e agora temos a teoria. Num artigo seguinte, iremos tentar
explicar como se deve sentir o tempo todo. Enquanto isso talvez seja uma boa ideia tirar as sapatilhas e
libertar o corpo das suas obrigações.
Muitos corredores têm dúvidas ao enfrentar a transição para a técnica de corrida natural. Eles conside-
ram difícil e acreditam que só alguns conseguem chegar a correr com a técnica perfeita. Aqui caem na
armadilha que nos querem fazer crer ao longo dos últimos 40 anos. Repetiram nos de forma direta e
subliminarmente que o nosso sistema músculo-esquelético não está pronto para correr de forma bípe-
de, que temos corpos imperfeitos do ponto de vista biomecânico e que apenas atletas de elite podem
correr com a técnica correta. A realidade é diferente. O nosso corpo tem evoluído na corrida ao longo
de milhões de anos para a perfeição, mas não foi capaz de se adaptar ao calçado impróprio e à crença
errada de necessitar de amortecimento para correr.
Isto levou que a desilusão, na forma de lesões recorrentes, se apoderasse de muitos atletas em todo o
mundo, mas também que a busca da verdade tenha dado frutos e hoje, muitos desses atletas, como os
autores deste guia, podem correr sem qualquer dor ou ligaduras, e parafraseando Caballo Branco «fácil,
leve e suave». Isto é o Barefoot Running, a corrente que está a mudar a forma de entender o atletismo
moderno.
Existem outros atletas que têm ouvido rumores sobre o correr descalço ou minimalista, até mesmo
alguns que tentaram, ainda que timidamente, nada sério. Uma corrida um dia para ver o que é essa
«moda». Para esses corredores será difícil de dar o passo e adaptar-se, uma vez que a mudança não é
milagrosa, não ocorre da noite para o dia, mas tem que fazer uma transição. O que é imediato são os
benefícios, desde o primeiro momento que percebe que algo mudou para melhor.
Ambos os grupos querem correr bem, mas não sabem como fazer e requerem uma formação prévia
para que a dificuldade se transforme em ilusão e evitar que apareçam lesões por dar os passos antes
do tempo, antes do nosso corpo nos dar o sinal que o semáforo está verde e podemos atravessar para
o próximo nível.
Para adquirir a formação pode escolher diferentes rotas. Os autores usaram a auto experimentação du-
rante 3 anos e a leitura recorrente de todos os tipos de documentos relacionados com a corrida
descalço e corrida biomecânica. Hoje, podemos optar por seguir um plano personalizado ou por usar
um plano abrangente com dados específicos.
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Este último é confortável do ponto de vista que quem
o segue não tem que pensar, tem tudo feito. Dão lhe os
dados do tempo de corrida e ritmo em forma de tabe-
la, estabelecendo um planeamento geral. Mas somos
todos são diferentes, é impossível que os números váli-
dos para um sejam para todos. Há muitas variáveis que
influenciam e que devem ser tidas em conta, desde a
idade, forma física, constituição, etc. até a técnica que
estávamos a utilizar para correr. Por isso um plano espe-
cífico só faz sentido se se analisarem todas as variáveis
e deve fugir dos planos tabelados que considerem to-
dos os corredores ao mesmo nível.
1. Descoberta
2. Adaptação
3. Transição
4. Assimilação
Conheça o seu corpo e como ele se move. Enquanto a teoria é estudada para saber o que queremos
alcançar. Temos ouvido, e até lendo um pouco, sobre uma técnica de corrida que nos devolve a alegria
de correr.
Cansados de desconforto, de dores sem fim que, por vezes, lesa a nossa moral e trazem lesões que se
repetem ao longo do tempo, decidimos dar o passo, embora tenhamos algumas dúvidas, a assombrar
as nossas cabeças e convicção de que a mudança não será plena.
É difícil, mesmo se é algo que sempre esteve aqui. O novo traz dúvidas e embora tenhamos repetido
uma e outra vez que estamos convencidos de que queremos mudar a nossa técnica de corrida, uma
pequena dúvida continua a atormentar-nos. É tempo de reflexão, para aplicar a lógica e o bom senso, e
se deixar levar pelo que o nosso coração nos diz.
Muitos veem a luz ao verem os seus filhos correrem. Organismos puros fazem tudo com simplicidade e
inocência. Não há mentiras, nem enganos. A mudança é imediata.
Nesta fase, há que ler sobre a técnica de correr e como o nosso corpo se move. Nós aconselhamo-lo a
ler ou reler, se já tiver lido, os capítulos 2 e 4 deste guia. Outra fonte de informação muito importante
são próprios os corretores que já adotaram esta técnica, assim as dúvidas e curiosidades que possam
surgir podem-se resolver, perguntando-lhes, através do nosso fórum http://www.correrdescalzos.es/fo-
rum/, por exemplo.
Mova-se descalço e /ou com sapatos/sapatilhas minimalistas para fazer uma primeira adaptação do
sistema neuromuscular e da pele dos pés.
Devemos despertar os pés da letargia das sapatilhas «aprisionadoras». Nascemos sem sapatilhas nos
pés, como nascemos sem luvas nas mãos, mas desde o primeiro momento os nossos pés são diferentes
do resto do corpo. É difícil encontrar pés descalços, se não usar sapatilhas estão cobertos com meias.
É necessário protege-los a todas as horas? ou em muitos casos é simplesmente uma convenção social?
Claramente, que há terrenos que é mais confortável ir com calçado, existem até mesmo lugares que
nunca pisaríamos de pé descalço. Mas também existem muitos lugares que visitamos diariamente onde
andar descalço não é apenas possível, mas também é um prazer. Por exemplo, porque usamos calçado
quando estamos em nossa casa?
Está na hora de andar descalço, correr descalço, de nos surpreendermos com a facilidade de movimento
e voltar a ensinar o nosso corpo a recuperar as sensações perdidas. Os nossos pés são os professores,
que leem o caminho por onde pisamos e que nos avisam do terreno áspero ou da suavidade do mesmo.
Se não estão despertos, dificilmente conseguiremos alcançar o nosso objetivo. Cairemos abruptamen-
te, pisamos uma pedra que não vimos e não seremos capazes de equilibrar os pesos para não causar
danos.
Seria aconselhável fazer a seguinte rotina por algumas semanas, até que esteja pronto para o próximo
passo. Normalmente fazer em 3 a 4 semanas.
Após a chegada a casa, tirar as sapatilhas, ficar Para ir para o trabalho, fazer compras ou um
totalmente de pés descalços. Disfrute do chão passeio utilizamos os sapatos ou sapatilhas mais
frio e deixe que os pés transmitam as sensações. minimalistas que temos. Os aspetos a serem
Se não consegue suportar o frio, utilize uma avaliados são: a flexibilidade do sapato em to-
meia fina que deixe que os dedos se movam dos os ângulos, espaço suficiente para os dedos,
livremente. «zero drop» ou a diferença mínima entre o cal-
canhar e o ante pé, baixo peso e que não tenha
Realizamos os exercícios de rotação-flexão mos- apoio de arco nem reforços laterais.
trado no capítulo 4. Cada exercício pode ser rea-
lizado durante 30 segundos aproximadamente. Ao caminhar com este tipo de sapato sem salto
Todos os movimentos que fazemos devem ser é aconselhável usar de forma muito pronuncia-
feitos sem calçado, experimentando com os pés da o calcanhar. Temos de tentar chegar o mais
e adaptando-nos à mudança. plano possível, mas a primeira preocupação é
o calcanhar. Uma indicação de que está a fazer
mal é doer-lhe o calcanhar, se isso acontecer
deve rever a forma de andar, e tentar pousar
de forma mais plana, isto é, usando o pé intei-
ro. Devemos pensar que com os pés descalços,
não podemos andar por muito tempo. A melhor
prática é andar com os pés descalços e aplicar
o aprendido quando estiver calçado. O truque é
manter um joelho um pouco fletido, dar passos
curtos e aumentar a cadência.
Exercícios muito úteis que devemos ter na nossa rotina inicial é subir escadas e / ou saltar. Com estes
exercícios evitam-se em grande parte correr na ponta dos pés e a rigidez excessiva, contraturas e ou-
tras dores nos músculos dos gêmeos e sóleo, do que se queixam a maioria dos iniciados no barefoot
running. Para começar a correr de forma minimalista utilizando a técnica natural, o calcanhar não deve
apoiar ou não se sabe quando terá que fazê-lo. Se tentar correr usando todo o conhecimento técnico
adquirido certamente a tensão de querer fazer bem irá impedi-lo de desenvolver uma técnica correta.
Nesta situação o que mais sofre é estrutura músculo-esquelética da parte inferior da perna, por isso, um
exercício altamente recomendado é subir escadas.
Este exercício é baseado na simplicidade de subir escadas, mas deve fazer de modo que a primeira parte
a tocar seja o ante pé e o calcanhar a útima. Devemos tentar pousar o pé o mais suave possível e evitar
os salteados. Em nenhum caso deverá impedir que o calcanhar toque as escadas, mas, pelo contrário,
para fazer bem, o calcanhar deve tocar a escada. Se conseguirmos subir uma escada de cerca de 20
passos sem problemas, sem notar tensão nos músculos dos gêmeos, podemos certamente correr sem
a adequada tensão que provoca o início de correr descalço.
1. 2. 3.
4. 5.
1. 2.
2. 3.
4. 5.
Outro exercício útil é realizar vários tipos movimentos numa plataforma instável do tipo Pielaster. Mel-
hora o equilíbrio, a perceção e fortalece os tornozelos e a musculatura da parte inferior da perna. Deve-
ria fazer-se diariamente, fazendo cada movimento durante 60 segundos aproximadamente. De seguida
mostramos uma série de exercícios.
Movimento 5. Realizar todos os exercícios acima, com os olhos fechados. Recomendamos avançar
desde os exercícios mais simples aos mais complicados.
Começamos a correr descalços e de sapatilhas minimalistas como parte de nossa rotina de exercícios.
Os nossos pés já estão a acordar. Agora, temos de acordar o resto do corpo. Para conseguir correr com
a técnica natural temos de mudar certos padrões de movimentos do ciclo de caminhada. Vamos passar
de uma forma de correr baseada principalmente na força muscular a uma forma de correr em que a
elasticidade e a coordenação são os principais motores.
Em todo o momento os nossos guias neste processo serão os pés, mas vamos-lhe ajudar com alguma
teoria e alguns exercícios. Para esta fase, é essencial para conhecer e compreender o capítulo 5 deste
guia, e que faça o seguinte treino de rotina.
Logo vamos perceber que o exercício é mais difícil do que parece, e é muito exigente fisicamente. Assim,
nas primeiras vezes teremos uma versão simplificada. Esta versão «fácil» consiste em fazer o mesmo
movimento, mas esperando ter um pé no solo antes de levantar o seguinte. Ao ocorrer há um tempo
de «voo», durante o qual estamos no ar. Pois nesta versão simplificada guardamos este «voo» para nos
focarmos no equilíbrio e coordenação. Para alcançar resultados, a correção é mais importante do que a
velocidade. Esta versão simplificada chama-se «100up menor».
Conforme vamos ganhando prática, seremos capaz de fazê-lo corretamente a uma velocidade cada vez
mais alta, até alcançar uma velocidade semelhante ao nosso passo de corrida, com os seus tempos de
voo. Esta versão completa chama-se «100up maior».
Apesar de já estarmos em condições de fazer o «100up maior», é conveniente para cada sessão realizar
primeiro o «100up menor» para aquecer e refrescar a nossa memória muscular e, em seguida, realizar
a versão completa. No seguinte link http://www.correrdescalzos.es/correr-lo-minimo-eiercicio-100-up/
pode saber donde vem o termo «100up» e ver um vídeo de como o exercício é feito.
Nunca devemos esquecer que o objetivo é fazer bem, e não fazer rápido.
1. 100 UP
Este exercício é, basicamente, correr no local, sem avançar, mas com determinadas orientações, uma vez
que o importante aqui é melhorar o equilíbrio e a coordenação. Para fazer isso vamos nos concentrar
que o pé caia no mesmo lugar. Pode ser conveniente fazer uma marca no solo para ter uma medida de
quanto nos estamos a desviar.
Começamos com uma boa postura, de pé, com o corpo reto, mas sem tensão, joelhos levemente fleti-
dos (apenas o suficiente para não estarem «bloqueados») e pés debaixo dos ombros, sobre as marcas
no solo. Levantamos um pé ao ponto em que levamos o joelho à altura do quadril (posição em que se
mantém o fémur paralelo ao solo). A seguir baixamos o pé e levantamos o outro. Os braços acompan-
ham o movimento. O objetivo é dar 100 passos seguindo esse padrão, 50 com cada perna, e fazer como
se estivéssemos a correr, mas sem avançar.
MENOR
1. 2. 3. 4. 5.
1. 2. 3. 4. 5.
Os nossos pés têm que se esticar e acordar de uma vez por todas, e o melhor é enfrentar o mundo real.
Numa superfície macia o que conseguirá é mascarar os defeitos de técnica, correndo mais do que devi-
do e esgotando o músculo antes do tempo, de modo que a melhor superfície será dura e áspera, para
transmitir ao aparato sensorial do pé qualquer sensação derivada de nossos movimentos, sem mascarar
nada. O asfalto é o mais adequado.
Como qualquer dorminhoco que acorda, os nossos pés não gostam de acordar subitamente, então terá
que começar com cautela e cuidado. Por exemplo, uma boa opção para os primeiros dias seria começar
com sessões de 5 a 10 minutos, alternando um minuto a andar e um minuto a correr. Isto é um guia e
não deve ser tido em conta como regra geral.
Apesar desta explicação, consideramos que o tempo razoável para o primeiro contato é 5-10 minutos
e a partir desses primeiros dias devemos observar como o nosso corpo responde e ir aumentando pro-
gressivamente esses tempos, mas com cuidado. As primeiras vezes que se corre descalço temos uma
sensação de euforia. De repente, parece fácil e sente-se leve, por isso é fácil cair na tentação de querer
fazer mais do que devido, o que irá acabar por pagar no mínimo em forma de bolhas.
Neste caso, também deve aplicar a mesma regra que na secção anterior: pouco a pouco. As sapatilhas,
mesmo que minimalistas, podem mascarar defeitos na nossa pisada e esses defeitos podem causar
lesões por repetição. O que correr descalço teria traduzido numa simples (mas irritantes) bolhas com
sapatilhas demoraria mais tempo a aparecer e quando isso acontecesse poderia ser tarde e tornar-se
numa lesão de algumas semanas.
Como guia, um bom número seria começar com 5-10 minutos e aumentar gradualmente. Assim como
ao correr descalço, nunca se deve cair na tentação de fazer mais do que aquilo que inicialmente tinha
previsto.
Com as três secções anteriores temos uma sessão de cardio decente, o suficiente para não perder dema-
siada forma enquanto fazemos a transição. Portanto, para a maioria das pessoas seria melhor cingir-se a
este plano e não se preocupar se estiver a fazer menos exercício do que antes. Esta situação durará uni-
camente algumas semanas e em seguida podemos continuar a esforçar-nos. Mas o nível de formação
exigido depende muito do corredor, algumas pessoas não querem ou não podem ter uma formação fi-
siologicamente mais exigente. Nesse caso, pode completar os exercícios usando as sapatilhas habituais
(certamente são aborrecidas depois de correr um pouco descalço) ou umas sapatilhas minimalistas
intermediárias.
O que terá que ter em mente é que instintivamente tentará aplicar o que aprendeu com minimalismo
quando correr com este tipo de sapatilhas. Isso geralmente é bom, mas também pode descoordená-lo
e ter um efeito negativo. Por isso, é muito importante prestar atenção como responde o nosso corpo
a essas mudanças na mecânica de corrida e tentar antecipar eventuais problemas que possam ocorrer
(e ao mesmo tempo desfrutar de qualquer vantagem de será encontrada). Este problema é mais grave
no caso de usar sapatilhas com amortecedores, minimizando ou anulando as sapatilhas minimalistas
intermediárias, mas mais em alguns modelos do que outros.
Outro problema que encontramos é que, com esta mudança contínua de forma de correr e sensibili-
dade do solo, o processo de adaptação será mais confuso para o nosso sistema neuromotor e podem
prolongar o processo de adaptação e torná-lo um pouco mais complicado.
O corpo não assimila as mudanças de um dia para o outro, precisa de aprender novos padrões de mo-
vimento e fortalecer os músculos que agora usamos de forma diferente. Devemos começar com os
tempos acima indicados e progressivamente aumentá-los segundo a reação do nosso corpo. Mas nunca
aumentar rapidamente. Normalmente, seguindo este plano simples, em 8 a 10 semanas já seremos
capazes de fazer o plano minimalista, tempos e distâncias que fazíamos habitualmente num treino
normal. Para os exercícios mais exigentes, tanto em distância como velocidade (por exemplo, a com-
petição), levaria mais 4 a 6 semanas para dar os 100% com sapatilhas minimalistas (embora ninguém
nos impeça de competir com as sapatilhas de sempre ou com umas de transição). E com outras tantas
semanas é seguro que pode dar 110% de rendimento, é então que todas as vantagens do minimalismo
se tornaram patentes.
Uma das maiores dúvidas iniciais que muitas vezes nos atormentam é se a técnica que estamos a usar é
a correta. Embora cada pessoa tenha as suas particularidades na forma bípede de se mover, um padrão
comum repete-se em todos os corredores e torna-se necessário a verificação visual para evitar ser enga-
nado pela nossa memória neuromuscular, que é ampla e duradoura. A maneira mais rápida e mais eficaz
é a gravação em vídeo e posterior análise. Com este sistema, podemos ver muitos parâmetros, sendo o
mais comum a postura corporal, cadência e forma de pousar o pé. Complementando o vídeo, podemos
fazer um exercício muito útil para ver se estamos a pousar o pé corretamente e se a descolagem é reali-
zada corretamente. É correr sobre areia seca.
Este exercício é muito útil para ver se pousamos primeiro com o calcanhar, ou se empurramos na des-
colagem. O pé deve-se levantar plano, ou seja horizontal ao solo. Quando corremos numa superfície
plana, sem descidas e subidas, onde as nossas pegadas ficam gravadas no solo e são perfeitamente
legíveis, temos de ver se a pegada é reta, e não tem mais profundidade na parte da frente ou de trás. Se
a pegada mostrar um padrão irregular, isso indica que estamos a empurrar para decolar, ou pior ainda,
estamos a pousar com o calcanhar.
Depois de uns meses de adaptação e transição, com a técnica de corrida natural ou minimalista, chega-
mos a um ponto onde o primeiro que temos que perguntar é se existe desconforto na hora de correr (se
alguma vez houve) se houver, é fundamental saber diferenciar quando o desconforto que sentimos é
produzido por falta de adaptação muscular e quando se deve a uma má execução da técnica de corrida.
Não é normal que levemos uns meses de transição e notemos desconforto ou dores em certas partes
do corpo. Este sintoma é de que algo está a falhar e é possível que sejam erros na técnica. Às vezes
isto acontece porque não estamos conscientes de estar a realizar o movimento certo, porque é muito
subtil ou nos falta a comunicação com o nosso corpo. Por exemplo, se levamos 6 meses a correr de
forma minimalista, 3 dias da semana com umas Five Fingers Bikila e não somos capazes de correr 10km
seguidos por dores nos pés, ou um caso mais extremo onde não podemos corres descalços nem 100
metros sobre asfalto.
Estes erros acontecem por um conhecimento errado da técnica, ou por uma má execução da mesma,
também se pode dever a admitir como correto um movimento que sempre executamos da mesma
forma, assim como desequilíbrios musculares que se desenvolveram com o tempo ou produzidos por
uma lesão anterior. Por exemplo, um erro comum é correr com os pés apontando às 10 e às 2 do relógio.
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2 2
O sentido do tato nos pés, que recolhem milhares de estímulos que nos fazem mudar a nossa maneira
de andar, correr, acariciar ou pegar um objeto começa a desenvolver-se em toda a sua plenitude numa
parte do corpo onde antes havia uma luva em forma sapato. Esta frase não é uma metáfora sobre os Five
Fingers ou também chamados de 5 dedos, mas reduz a sensibilidade que os nossos pés são capazes de
capturar devido ao uso indiscriminado de sapatos super protetores.
O sexto sentido, também chamado de senso comum ou o menos comum de todos os sentidos, deixa de
ser uma conotação psíquica e aparece como que por magia, como a sensação de toque nos pés. Aqui
não estamos a dizer que é o senso comum correr ou mover de forma em que a evolução humana nos
preparou, mas o sexto sentido, que nunca falaram para citar os outros cinco (paladar, olfato, audição,
visão e tato) aparece nos pés e com a perceção, formam os mais avançados instrumentos que temos
para nos podermos mover de forma eficaz e segura.
O importante até agora tem sido a compreender os conceitos técnicos e de condições de segurança,
tanto ao caminhar como ao correr. Temos melhorado o nosso sistema músculo-esquelético, ao utilizá-lo
de forma correta, passando a utilizar de apenas 10 músculos para utilizar mais de 30 entrando em jogo o
correr descalço ou minimalismo. Por sua vez, os tecidos foram alterados, fortalecendo e estabelecendo
novos canais de comunicação entre o cérebro e o resto do nosso corpo. Mas chegou o momento de se
sentir em toda a sua plenitude e fazer pequenas mudanças que nos fazem melhorar a partir do ponto
de vista técnico e de humor.
A assimilação é a última etapa do nosso Plano Transição, mas desde o início, quando decidimos mel-
horar a nossa técnica de corrida foram assimilados conceitos e princípios, que têm estado sempre pre-
sentes. Mas é agora, ao ter uma base sólida, que podemos começar a prestar atenção aos detalhes e
começar a refinar a nossa técnica. Para fazer isso, devemo-nos dedicar a experimentar, tanto pequenas
mudanças como aprender a interpretar o feedback que recebemos.
Aqui propomos uma série de questões sobre as quais podemos ir fazendo essas pequenas experiências
que podem fazer a diferença entre o bom e o excelente.
1. Sentir: propriocepção
Quando corremos a nossa posição do corpo varia de acordo com cada passo, e a propriocepção propor-
ciona informações essenciais para mantermos um equilíbrio constante (existem correntes que denomi-
nam correr como uma queda constante e controlada). Porque o nosso corpo reconhece uma variedade
de estímulos e transforma-os em sinais que vão do cérebro às diferentes partes do corpo, podemos
Com o passar dos dias podemos ir melhorando esta capacidade, que influencia muito a perceção que
cada um tem do seu próprio corpo, e fez tornarmo-nos o mais minimalistas possível. Se anularmos ou
reduzirmos o feedback do terreno-cérebro pela utilização de calçado inapropriado, a nossa capacidade
de movermo-nos eficientemente será alterada.
Para melhorar a sensibilidade que captamos com os pés um exercício muito útil que ajuda a concentrar
a nossa atenção é correr descalço ou o mais minimalista possível, com ambos os olhos fechados ou com
um olho aberto e outro fechado, dependendo da nossa capacidade de permanecer em equilíbrio. É
que, nos poucos segundos, 3, 5 que seremos capazes de correr «no escuro» vamos nos concentrar em
recolher o maior número de estímulos e sentir como estamos a correr.
A propriocepção também nos ajuda a reduzir o deslocamento lateral do corpo na marcha. De modo que
quando menor for o deslocamento mais eficientes seremos na hora de correr. Este equilíbrio significa
que quando corremos o nosso corpo só se move para a frente, minimizando deslocamentos laterais.
Embora estes parâmetros possam ser quantificados, há uma forma de «dar-se conta» destes movimen-
tos. Temos de sentir esses movimentos e para isso nada melhor do que usar os pés como sensores. Para
ativar esses recetores ao máximo é muito útil realizar o exercício anterior, anulando alguns dos sentidos
envolvidos na manutenção do equilíbrio do corpo, falamos da audição e visão. O modo de operação é
o seguinte:
1. Colocamos tampões nos ouvidos, escolha uma linha reta e concentre-se em sentir as plantas dos pés
conforme se vai movendo. Como no caso anterior, quanto mais minimalista façamos este exercício mais
fácil será capturar os movimentos do corpo, sendo o descalço, o ideal.
1. 2.
3. Uma variante do exercício anterior é fazer o mesmo, mas forçando os deslocamentos laterais. Por
exemplo, se correr numa pista de atletismo, de olhos fechados, atravessamos para a outra faixa e ten-
tamos manter o equilíbrio. Este exercício melhora a propriocepção, mas só deve ser feito quando con-
trolamos os anteriores.
1.
2.
Talvez tenha sido a palavra mais falada, mas a que prestamos menos atenção. Acreditamos que esta-
mos relaxados, apenas pelo simples feito de estar a correr, mas a realidade é muito diferente. Temos de
aprender a correr relaxados, tanto de pernas como tronco ou cabeça.
O nosso corpo é constituído por cadeias musculares que ligam a cabeça aos pés. Qualquer movimento
que façamos com uma destas partes é refletida na outra, por isso a importância é maior do que pode-
ríamos pensar no início.
Para alcançar o relaxamento adequado é bom fazer uma verificação mental de todo o nosso corpo.
Enquanto corremos, começamos pela cabeça e pescoço, e comprovamos que estão relaxados. Se não
estiverem, tentamos relaxar, um bom exercício é pressionar a área por alguns segundos e depois deixá-
la relaxar. Continuamos a descer mentalmente para os ombros e realizar a mesma operação. A partir
daí continuamos com o tronco, quadris, coxas, pernas e, finalmente, tornozelos e pés. Realizar esta ve-
rificação periodicamente permite-nos saber que partes do nosso corpo tendem a ficar tensas e o que
devemos fazer para evitar.
3. Pawback
Este conceito refere-se ao movimento do pé para trás pouco antes de fazer contato com o solo.
Ao pisar, no momento que é feito o contato com o solo, o pé move-se em relação ao solo para estar
alguns milésimos de segundo ligado a ele. Por conseguinte, no momento do contacto, qualquer di-
ferença de velocidade entre o solo e o pé irá produzir um golpe, maior ou menor, dependendo da
diferença de velocidade.
Uma falha comum quando se tenta praticar este movimento é deixar o pé em contacto com o solo
muito tempo. Embora o pé se lance atrás, nada mais toca o solo e devemos começar a levantá-lo e
move-lo para a frente. Lembre-se que os tempos de contacto devem ser curtos: a magnitude principal
que diferencia um corredor rápido de um lento é a capacidade do primeiro manter tempos de contato
muito curtos.
4. Inclinação
Ao correr entram em funcionamento alguns dos maiores músculos do corpo: os glúteos e quadríceps.
E suas respetivas contrapartidas, os flexores do quadril e os isquiotibiais. A função principal dos glúteos
é a extensão do quadril, ou seja, estender a coxa como quando estamos de pé. Os flexores do quadril
encargam-se do contrário, de aproximar a coxa ao tronco. Os quadríceps são responsáveis por esticar
os joelhos, ou seja, colocar a perna reta. Em contrapartida, os isquiotibiais, são responsáveis pela flexão
do joelho. Estes músculos têm mais funcionalidades e inter-relações, mas de um modo geral estes são o
que nos interessam agora. A sua utilização é contínua durante todo o ciclo de caminhada. Começamos
a descrição da sua utilização pela parte final do pé, donde começamos a tirar com os isquiotibiais para
flexionar o joelho por um momento antes de finalmente sair do solo. Isso fará com que tomemos o im-
pulso horizontal final e comecemos a dobrar o joelho. Nesse momento intervém os flexores do quadril
para, enquanto dobra o joelho, se vá elevando também a coxa para trazer ao pé a posição seguinte para
a frente. Uma vez que a coxa atingiu a sua altura máxima, os glúteos estão encarregados de começar
a levá-lo para baixo, enquanto o alongamento do quadríceps vão alongando o joelho, tudo coorde-
nado para atingir o pawback mencionado anteriormente (embora falemos em esticar o joelho, não se
esqueça que este nunca estará totalmente esticado). Uma vez que tenhamos tomado contato tanto os
glúteos como os quadríceps terminam o seu trabalho, dando o impulso vertical, necessário para voltar
ao princípio ativando os tendões novamente nesta última fase da decolagem.
É importante que tenhamos consciência da utilização desses músculos e prestemos atenção em como
funcionam durante a caminhada. Eles são tão grandes que são capazes de desenvolver uma grande
potência, pelo que devemos aproveitar ao máximo através de uma acção adequada e coordenada.
Além disso, a utilização incorreta fará com que tenhamos de fazer correções com outros músculos mais
pequenos e, portanto, menos eficazes e mais propensos a lesões e sobrecargas (principalmente os da
parte inferior da perna).
Como recomendação final e para não irmos abaixo mentalmente tentando fazer essas alterações, po-
demos utilizar um alarme a cada 2 minutos ou uma marca na distância de um ponto em que vamos ve-
rificar cada secção, concentrando-nos em cada parte isolada da técnica. Por exemplo, na recolha do pé,
estamos a realizar corretamente o pawback?, etc. Devemos sentir o movimento por alguns segundos e
passar para o próximo parâmetro.
Nunca devemos esquecer que a coisa mais importante é desfrutar. Não devemos ficar obcecados por
fazer as coisas bem e logo. Esquecer ocasionalmente as posturas, músculos, cadências e monitores de
frequência cardíaca, e simplesmente correr por correr.
Uma vez convencidos que queremos aprender a correr de forma minimalista, chegou a hora da tran-
sição há muito aguardada. Agora é colocar em prática o que ouvimos ou lemos sobre correr descalço,
correr, corrida minimalista ou corrida de metatarso.
Apesar de seguir a ordem lógica, surgem dúvidas e problemas que podem levar-nos a abandonar a
aprendizagem e ficar com lesões ao longo da vida. Sobre as nossas cabeças sobrevoam falsos mitos (o
mais comum: de metatarso só correrem os velocistas), que ao mínimo contratempo nos fazem duvidar.
Embora os atletas tenham mentes fortes, forjadas na adversidade, capazes de resistir à frustração com
coragem. Às vezes estamos tão perdidos na confusão de lesões, que ao mínimo sinal de alarme, desa-
bamos ou colocamos em quarentena os novos conhecimentos.
Com este artigo queremos apresentar uma série de erros que muitas vezes são cometidos na transição
para a corrida minimalista. Precisamos prestar atenção para não os cometer ou minimizar ao máximo
o seu aparecimento:
7. Correr a saltar.
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1. Síndrome DRDT: Correr demasiado tempo e
demasiado rápido.
7. Correr a saltar.
As informações contidas neste guia são fornecidas apenas para fins educativos. Avisamos o leitor de
que há um risco inerente ao realizar qualquer atividade física que é assumido pelo pessoa que pratica
a actividade em questão. Com isto em mente, aconselhamos um programa de acondicionamento e
consultar um médico ou especialista para descartar qualquer anomalia antes de iniciar tais atividades.
Por exemplo as pessoas que sofrem de certos tipos de diabetes devem ter especial cuidado ao realizar
qualquer atividade com os pés descalços, uma vez que sofrem de perda de sensibilidade nos pés.
Qualquer pessoa que realize estas tarefas deve entender que este tipo de iniciativas de formação po-
dem ser perigosas se não forem realizadas corretamente, e podem não ser apropriadas para todas as
pessoas.
Os autores não assumem qualquer responsabilidade por danos que possam resultar, porque este guia
é um manual educativo para orientar os leitores, mas com as exigências que os mesmos estabelecem.
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