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Fichamento

"O Barroco como gnose: a Ibéria" por Rubem Barbosa Filho

O texto destaca uma mudança radical na relação entre o sagrado e o temporal durante o
Barroco religioso ibérico. O movimento barroco é visto como uma dramatização do desejo
humano por companhia divina e pela reconstrução de uma harmonia perdida com o divino.

O autor ressalta a ênfase do Barroco na relação entre a subjetividade humana e o


transcendente, trazendo de volta a tradição mística dos franciscanos, agostinianos e
carmelitas. Destaca-se o papel do amor como impulso da alma para conduzir a humanidade
à dimensão do sagrado e à comunhão com Deus.

A experiência religiosa, para o autor, deveria ser um movimento amoroso, uma iniciativa
"erótica" que captura Deus e o mantém próximo, evitando a evanescência do sagrado.

O texto aborda a mística religiosa como uma tentativa de recuperar a comunhão com o
divino e destaca a relação entre a subjetividade e a arte na expressão dessa experiência, seja
na poesia de Santa Tereza ou nas pinturas de El Greco.

A separação entre o sagrado e o temporal leva à revitalização da crença nos poderes


intercessores de seres como a Virgem, os santos e os anjos, preenchendo o vácuo entre o
transcendente e o temporal.

O Barroco ibérico é descrito como uma expressão artística que surge de uma subjetividade
marcada por dúvidas e solidão. Ele confirma suas ideias através do pathos, da gnose e de um
mistério solidificado na arte, enquanto se apropria dos frutos da razão escolástica.

A visão pessimista do Barroco ibérico, especialmente o espanhol, é alimentada por uma


versão revigorada da queda e do pecado original, como definido pelo Concílio de Trento.

O texto aborda a aceitação torturada da imanência no Barroco, que contém uma celebração
particular e subterranea da vida, destacando que tudo é teatro e espetáculo, inclusive a dor e
o luto.

A expressão dramática do Barroco, principalmente no teatro, reflete a inquietação espiritual


e sensorial da época, sendo uma manifestação da sensibilidade barroca que transcende o
âmbito religioso.

O autor destaca o papel do teatro espanhol como uma tradução vívida da visão de mundo dos
espanhóis durante o Barroco. O teatro barroco, segundo Rubem Barbosa, é uma expressão
global e histórica que encontra na representação teatral sua forma perfeita de manifestação.

O texto também discute a representação do poder absoluto do rei, onde ele é visto como o
responsável direto pelo equilíbrio e harmonia da sociedade, preenchendo o espaço antes
ocupado pela vontade divina. No barroco ibérico, o rei acaba adquirindo a condição de ser o
único com dignidade ética e de estabilizar a sociedade, além disso, é considerado o único que
consegue ultrapassar o limite dos interesses particulares, pensando no interesse do “todo”,
da sociedade. Contudo é importante ressaltar que, diferentemente de outros modelos como
hobbesiano e o francês, o rei no mundo ibérico não é uma figura absoluta e sua imagem não
está diretamente ligada ao sagrado e ao divino, ele é responsável direto pelo equilíbrio e
harmonia da sociedade, mas ocupa esse espaço sem se confundir com a vontade divina ou
reclamar para si um atributo de divindade.

O Barroco ibérico é apresentado como uma expressão complexa e multifacetada que reflete
as transformações sociais, religiosas e culturais da época, envolvendo uma busca pelo divino,
uma celebração paradoxal da vida, uma dramatização da inquietação espiritual e uma ênfase
no papel do poder na estabilidade social.

Para autores como Maravall, o barroco ibérico deve ser entendido como a primeira
manifestação da sociedade de massas do mundo moderno, em que emergiu uma nova
opinião pública laica e inquieta.

A Coroa tinha completa consciência do ambiente crítico e pessimista, mas lidava com
diversos confrontos internos e com novas resistências nas colônias americanas. Houveram
diversas repressões as manifestações de descontentamento a respeito da situação pessimista
que a população vivia, mas a Coroa percebe que a repressão física não seria o suficiente para
preservar seu poder, então disso nasce a imaginação desse programa de incorporação
simbólica das massas, o barroco. Isso, além de exercer um forte controle sobre a economia,
produziu uma literatura destinada à sacralização do poder e a manutenção da ordem, ao
mesmo tempo que fortalece a hierarquia da igreja e seu controle sobre as consciências.

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