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UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR

VICTÓRIA NAVARRO MIRANDA

A IMPORTÂNCIA DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE


RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NA ATIVIDADE JURÍDICA
PÓS PANDEMIA DO COVID-19

PARANAVAÍ
2021
VICTÓRIA NAVARRO MIRANDA
A IMPORTÂNCIA DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NA ATIVIDADE JURÍDICA
PÓS PANDEMIA DO COVID-19

Artigo apresentado ao Curso de Direito


da Universidade Paranaense – UNIPAR,
como requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Direito.

Orientação: Prof. Camila Cristina de


Oliveira Dumas

PARANAVAÍ
2021
Autora:

Nome: Victória Navarro Miranda


Curso: Direito RA: 00196124
CPF: 063.835.399-81 RG: 12.873.530-5
End. Res.: Rua Antônio Vieira dos Santos, 603, Jardim Santos Dumont, Paranavaí- PR
Fone: (44) 9 9920-0070 E-mail: victori.m@edu.unipar.br

Professor Orientador:

Nome: Camila Cristina de Oliveira Dumas


Titulação: Mestre em Direitos de Personalidade pelo Unicesumar
End. Res.: - Rua Pará, nº 1700, Centro, Paranavaí-PR, CEP: 87701-100
Fone: (44) 9 8405-4540 E-mail: - camiladumas@prof.unipar.br
A IMPORTÂNCIA DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS NA ATIVIDADE JURÍDICA PÓS PANDEMIA DO COVID-19

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar a importância da aplicação


dos meios alternativos na solução de conflitos e as dificuldades da ampliação desse
sistema multiportas no Direito de família, voltado a situação atual do País na
circunstância da pandemia do COVID-19. As modificações na sociedade, implicam
transformações no cenário jurídico, em especial, no Direito de Família, o qual vai
gradativamente transformando o conteúdo de seus conceitos elementares, os quais se
adaptam ao surgimento de novas realidades, que com ela trazem novos conflitos, além
daqueles já conhecidos. Recente o mundo experimenta um fenômeno complexo,
causado pela pandemia de COVID 19, o qual gerou sérias consequências econômicas,
sociais, jurídicas e emocionais. Será que as formas tradicionais de resolução de
conflitos pelo Judiciário são suficientes e satisfatórias para atender essa nova realidade
experimentada na perspectiva familiar?
Palavras-chave: covid-19, solução de conflitos, métodos auto compositivos, gestão
de conflito, pandemia.

The main objective of this paper is to analyze the importance of applying alternative
means in solving conflicts and the difficulties of expanding this multi-port system in
family law, facing the current situation in the country in the circumstances of the
COVID-19 pandemic. Changes in society imply transformations in the legal scenario,
especially in Family Law, which gradually transforms the content of its elementary
concepts, which adapt to the emergence of new realities, which with it bring new
conflicts, in addition to those already known. Recently, the world is experiencing a
complex phenomenon, caused by the COVID 19 pandemic, which has generated
serious economic, social, legal and emotional consequences. Are the traditional forms
of conflict resolution by the Judiciary sufficient and satisfactory to meet this new
reality experienced in the family perspective?
Keywords: covid-19, conflict resolution, self-composition methods, conflict
management, pandemic.
SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO 05
2. O DIREITO DE FAMÍLIA 06
2.1. O conceito de direito de família 06
2.2. Novos arranjos familiares e seus conflitos 08
3. O PODER JUDICIÁRIO NA RESOLUÇÃO DE CONFLITO 11
3.1. Entre a Judicialização e a pacificação 12
3.2. A crise no poder judiciário 14
3.3. Um sistema multiportas para a solução de Conflitos 15
3.4. Métodos auto compositivos 17
4. IMPORTÂNCIA DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS NA ATIVIDADE JURÍDICA PÓS PANDEMIA DO COVID-19 18
4.1. As vantagens da ampliação do uso dos meios alternativos de resolução de 19
conflitos
4.2. Desafios a ampliação do uso dos meios alternativos de resolução de conflitos
20
4.3. A pandemia do COVID-19 e a influência sobre a resolução de conflitos
21
4.4. Aumento de conflitos familiares durante a pandemia e como resolve-los 22
4.5. A importância da consideração da “gestão do conflito” pelos profissionais do
Direito 23
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 26
6. REFERÊNCIAS 28
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1. INTRODUÇÃO
A pandemia da covid-19 instalada em escala global impactou diretamente na
vida e cotidiano das pessoas. O impacto atingiu as diferentes formas em que o
comportamento humano se estabelece de forma individual ou coletiva. De igual forma,
as relações familiares acabaram sendo afetadas, sobretudo em razão do alto risco de
contágio e pelas recomendações de isolamento ou distanciamento social.
O presente estudo tem como objetivos: apresentar as soluções buscadas para
resolver a questão; como foram implementadas em diferentes países; quais as
perspectivas de soluções dos conflitos, principalmente com foco na mediação; e qual o
papel do advogado dentro nesse novo paradigma. Relatando de forma mais específica
a questão da guarda compartilhada e a possível suspensão do regime de convivência,
em razão das imposições circunstanciais impostas em tempos de anormalidade, como
a vivenciada pela pandemia da Covid19.
Pois as pessoas, a sociedade em geral, espera que sejam resolvidos de forma
satisfatória e rápido. Surgiu novos modelos de família, incluindo as famílias
pluriparentais e família eudemonista, não se olivando das polemicas, quando se trata
de família homoafetiva e poliafetivas. Os avanços tecnológicos proporcionaram
melhorias na comunicação e na disseminação do conhecimento, agilidade está em
foco, em contrapartida, o Sistema Judiciário se arrasta.
Considerando a dicotomia, existente entre o que a sociedade busca e o que o
Direito oferece pode ser compreendida através de uma perspectiva, aonde a lei e o
Direito se concretizam através de leis e códigos. Relembrando que ordenamento
jurídico brasileiro passou por uma profunda transformação no ano de 2015. Foi
sancionada a lei 13.105/2015, o novo Código de Processo Civil. Dentre muitas
novidades, o novo Código trouxe um sentimento, um princípio de valorização da
Justiça, em seu sentido mais amplo.
Atualmente não se pode imaginar somente o Poder Judiciário como único ente
dotado de capacidade de solucionar os conflitos sociais. A crise na prestação
jurisdicional pelo Judiciário e o anseio por acesso à Justiça evidenciam a necessidade
da busca por novas formas de resolução de conflitos, por meio de mecanismos mais
céleres e menos onerosos que atendem às exigências do Estado, de modo a permitir
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que o cidadão obtenha a solução do seu conflito sem passar, obrigatoriamente, pelo
Judiciário.

2. DIREITO DE FAMILIA
Direito de Família é a área do direito que estabelece e regula as normas da
convivência familiar, tratando as relações familiares e dos direitos e obrigações que
surgem com a mesma. Entretanto antes de mais nada, é preciso contendo normas que
abrangem organização, estrutura e proteção da família. Também cabe ao Direito de
Família tratar das relações familiares e dos direitos e obrigações que surgem com as
mesmas. Como adverte Maria Clara Bomtempo Beraldo , o Direito de Família não se
encontrava suficientemente preparado para lidar com questões excepcionais tal como a
apresentada pela pandemia da Covid-19.
Considerando que desde do surgimento do homem, observa-se a constituição
de grupos vivendo em sociedade, conclui-se: Muito antes de existir a sociedade,
muito antes de existir o Direito, as famílias já existiam. O ser humano é um ser
gregário por natureza. Isto porque, como no reino animal, bem como, nos humanos
sempre houve o acasalamento, em decorrência do intuito de perpetuação de espécie,
ou seja, aversão que a maioria das pessoas tem a solidão. Tanto é que se considera
natural a ideia de que a felicidade só poderá ser encontrada a dois, acreditando que o
sujeito sozinho não terá acesso a felicidade. Através dessa percepção de felicidade,
surgiu a busca cessante por família ou vida em sociedade, baseada de diversas formas
a composição familiar, as quais muitas pessoas dedicam suas vidas para proporcionar
o bem-estar do que estão a sua volta, baseados em relação de afeto e companheirismo.
Neste sentido, nos deparamos com o posicionamento de Maria Berenice Dias,
a qual esclarece que:
A própria organização da sociedade dá-se em torno da estrutura familiar, e não em
torno de grupos outros ou de indivíduos em si mesmos. A sociedade, em determinado
momento histórico, institui o casamento como regra de conduta. Essa foi a forma
encontrada para impor limites ao homem, ser desejante que, na busca do prazer, tende
a fazer do outro um objeto”. (2009,p. 27)
A propósito, a Constituição Federal de 1988, reconhece a família como base da
sociedade e considera como entidade familiar não somente aquela formada pelo
casamento, como também a resultante de união estável entre homem e mulher (art
226,§3º) e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Sendo
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que a união estável se trata de uma relação monoparental, resultante da comunidade


formada por qualquer dos pais e seus filhos.
Assim ao tratarmos do casamento civil, é o ato solene pelo qual um homem e
uma mulher se unem, de conformidade com a lei, a fim de legitimarem suas relações
sexuais, prestarem mútuo auxílio espiritual e material, procriarem e educarem a prole
comum. Gera a família legítima ou matrimonial.
Segundo o Código Civil
"o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e
deveres dos cônjuges", sendo "defeso a qualquer pessoa, de direito público ou
privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família". (Código civil, art
1.5112.1)
Apesar da Constituição estipular o casamento civil, só pode acontecer entre
duas pessoas de sexo diferente, mas através de uma decisão do Supremo Tribunal
Federal e pela Resolução nº 175/2013, foi assegurado o casamento por pessoas do
mesmo sexo, obrigando os cartórios a realizar a cerimonia. Desta forma o direito a
família, possui como principal objetivo, regular as regras e obrigações do direito ao
convívio familiar.
2.1. Conceito de direito de família
Como regra geral o Direito, considera família apenas as pessoas unidas por
relação conjugal ou de parentesco. Sendo que a palavra família, teve origem no
vocábulo romano “famulus”, a qual possui um significado inusitado, significa
“escravo”. Ao qual considera-se escravo, alguém subordinado a um senhorio, como na
antiguidade costumava de referira coletividade de servos. Como se sabe, o Direito de
Família infelizmente não está isento do estabelecimento de conflito de interesses,
razão pela qual a tarefa tem sido realizada pela academia e pela jurisprudência.
Porem quando nós direcionamos ao Direito Civil, teremos o entendimento que
família, trata-se de um grupo de pessoas que possuem grau de parentesco ou laços
afetivos e vivem na mesma casa formando um lar. Pois uma família tradicional é
normalmente formada pelo pai e mãe, unidos por matrimônio, e por um ou mais
filhos.
Essa noção é fundamental, termos um discernimento sobre o termo “família”, a
fim de compreendermos a relação angular de subordinação e hierarquia. Nessa mesma
linha, encontraremos as lições de Eduardo Oliveira Leite;
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“(...) a noção é fundamental porque revela que, na origem, a noção de família

decorre, de um lado, da idéia de subordinação (dos escravos e parentes) e de outro,

da idéia de poder e mando. É esta proposta assimétrica que vai caracterizar

inexoravelmente a noção de família, desde a Antiguidade até a Modernidade. ”

(2005, p. 23)

Com o desenvolvimento da civilização, juntamente como avanço o termo


“família” sofreu várias alterações, desde a diminuição de seus membros, até muitas
vezes a inversão dos papeis com o ingresso da mulher no mercado de trabalho. Diante
disso, muitas famílias brasileiras a mulher passou a ser provedora de bens do lar,
enquanto o homem passou a exercer funções domesticas. Frente a este
desenvolvimento, bem como, as transformações sociais ocorridas no século XX,
trouxe a necessidade da criação de normas que acompanham a evolução social,
alterando gradativamente o Direito de Família, culminando no advento da
Constituição Brasileira de 1988, aonde houve uma ampliação do conceito de família,
admitindo a família monoparenteral, conhecida pela união estável de um homem e
uma mulher, reconhecendo a igualdade a solidariedade e respeito à dignidade humana,
entre homem e mulher, na sociedade conjugal.
Tratando-se de Constituição Federal de 1988, no seu artigo 226§5º, nos
deparamos coma seguinte leitura, frente ao núcleo familiar;
“A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 5º - Os
direitos e deveres, referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente
pelo homem e pela mulher”.
O Direito de família, incorporou diversos princípios constitucionais que
conhecemos até hoje, o próprio Código Civil de 2002, acompanhou o texto
constitucional ao mencionar a igualdade entre os cônjuges, extinguindo o poder
patriarcal, possibilitando a dissolução do vínculo, através de separação ou divórcio, e
regulamentar a união estável entre homem e mulher, passando a complementar
diversos os modelos de família, através de afeto, não somente a celebração de
casamento.
2.2. Novos arranjos familiares e seus conflitos
Cresce no Brasil o número de lares chefiados por mulheres, muitas dessas
mulheres mantem o sustento da família. Juntamente com essa mudança trouxe um
respeito maior para mulher, muita tem respeito da paternidade por vivencias pessoas
ou experiências marcadas pela trajetória de família. São concepções que remetem a
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valorização de uma perspectiva do pai participativo, presente, e não apenas como


provedor, mas sim fundamentalmente como educador.
Junto com essas transformações do conceito de família, alguns juristas
adotaram uma “visão pluralista”, aos quais comtemplam todos os modelos de família
existente, deste que possua um elemento comum e formador de tantos modelos é o
afeto. Outrossim, o sentimento de afeto, passou a ter relevância inclusive para fins
jurídicos, considerando como base formadora da família.
Conforme a jurista Maria Berenice Dias, essa visão pluralista, abriga os vários
arranjos. Vejamos:
“É necessário ter uma visão pluralista da família que abrigue os mais diversos
arranjos familiares, devendo-se buscar o elemento que permite enlaçar no
conceito de entidade familiar todos os relacionamentos que têm origem em u
m elo de afetividade, independentemente de sua conformação. Esse
referencial só pode ser identificado no vínculo que une seus integrantes. É o
envolvimento emocional que leva a subtrair um relacionamento do âmbito do
direito obrigacional - cujo núcleo é à vontade - para inseri-lo no direito das
famílias, que tem como elemento estruturante o sentimento do amor que
funde as almas e confunde patrimônios, gera responsabilidades e
comprometimentos mútuos. Esse é o divisor entre o direito obrigacional e o
familiar: os negócios têm por substrato exclusivamente à vontade, enquanto o
traço diferenciador do direito da família é o afeto. A família é u m grupo
social fundado essencialmente nos laços de afetividade após o
desaparecimento da família patriarcal, que desempenhava funções
procriativas, econômicas, religiosas e políticas. ” (2015 p. 133)
Considerando o afeto um elemento de grande relevância para fins jurídicos,
afim de formar uma família, surge uma nova terminologia, afim de identificar a
família pelo seu envolvimento afetivo. A família “eudemonista”, a qual busca a
felicidade do individual.
Seguindo na mesma visão de pensamento, a jurista Maria Berenice Dias, refere
ao eudemonista, como:
“O eudemonismo é a doutrina que enfatiza o sentido de busca pelo sujeito de
sua felicidade. A absorção do princípio eudemonista pelo ordenamento altera
o sentido da proteção jurídica da família, deslocando-o da instituição para o
sujeito, como se interfere da primeira parte do § 8º do artigo 226 da CF: o
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Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos


componentes que a integram”. (2007, p. 38)
De modo que a Constituição Federal de 1988, em seus artigos 226§3º e artigo
5º,I, reconhecendo a existência de igualdade entre homem e mulher, especialmente no
tocante, quando se trata da estrutura interna da sociedade conjugal ou convivencial. Da
mesma forma a redação do artigo 1º do Código Civil de 2002, acompanha a
Constituição Federal, fazendo uso da expressão “ pessoa”, não mais permite a
distinção decorrente do sexo, ao contrário da redação equivalente ao artigo 20 do
Código Civil anterior. Esse artigo é reforçado pelo artigo 1511 do mesmo Código,
cuja redação dispõe que o “ casamento estabelece comunhão plena de vida, com base
na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. (2013 p. 48)
Alguns juristas, tratam desse entendimento que os genitores devem participar e
colaborar das decisões familiares, através do princípio de igualdade, tendo por escopo
a abolição da autocracia do chefe de família e do poder marital. Esse entendimento é o
que traz a jurista Maria Helena Diniz;
“(...) com esse princípio desaparece o poder marital, e a autocracia do
chefe de família é substituída por um sistema em que as decisões
devem ser tomadas de comum acordo entre marido e mulher ou
conviventes, pois os tempos atuais requerem que a mulher seja a
colaboradora do homem e não sua subordinada e que haja paridade de
direitos e deveres entre cônjuges e companheiros." (2007, p. 26)
Considerando que o afeto, tornou-se um elemento essencial às relações
familiares e deve ser entendido como um princípio que se irradia por todo o Direito de
Família.
Mas vale ressaltar que mesmo o afeto, tendo se tornado um elemento essencial
nas relações familiares, persiste dentro as relações familiares, a questão de violência
doméstica e familiar contra as mulheres é um fenômeno muito presente na sociedade
brasileira, vitimando, a cada ano, milhares de mulheres de todas as origens, regiões e
inserções sociais. Esse tipo de violência foi legitimada ao longo do tempo pelos
dispositivos do regime patriarcal e por fatores como preceitos políticos e/ou religiosos,
sendo o seu enfrentamento um grande desafio para a sociedade brasileira. As
diferentes expressões da violência contra as mulheres evidenciam a estrutura injusta
das relações sociais na qual estão inseridas. No que se refere especificamente à esfera
familiar, é preciso ter em mente que durante muito tempo predominou na sociedade
11

brasileira a percepção de que a violência ocorrida em ambiente doméstico era


acontecimento pertencente ao âmbito privado.
No entanto, as relações familiares vêm sendo problematizadas a partir de
diferentes ângulos, tendo ganhado cada vez mais destaque as injustiças presentes no
cotidiano da vida doméstica.
Neste contexto, as mulheres, um dos segmentos mais vulneráveis nos
agrupamentos familiares, são atingidas pela violência na vida doméstica tanto por
razões socioeconômicas quanto pela construção simbólica do feminino como
subordinado ao masculino (Ibidem). Atente-se para o fato de, em 2016, 86,1% dos
relatos de agressões registrados por meio da Central de Atendimento à Mulher – Ligue
180 referiam-se a violência doméstica a familiar, o que representa um aumento de
93,9% em relação ao ano anterior (SPM, 2016 ). Desta forma a título de informação,
conforme dados levantados pelo Sistema de Proteção a Mulher (SPM), foram
registrados em 2016, cerca de 1,2 milhão de atendimentos realizados em 2016 (ano da
atualização mais recente), 12,38% (140,4 mil) relataram casos de violência. Desses,
50,70% envolviam violência física; 31,80%, violência psicológica; 6,01%, violência
moral; 1,86%, violência patrimonial; 5,05%, violência sexual; 4,35%, cárcere privado;
e 0,23%, tráfico de pessoas. Das denunciantes, 65,9% acusaram homens com os quais
têm ou tiveram algum envolvimento sentimental.

3. O PODER JUDICIÁRIO NA RESOLUÇÃO DE CONFLITO


O Poder Judiciário caminha, atualmente, ao encontro de formas alternativas
de resolução das demandas. Surgindo novos paradigmas, aos chamados de métodos
alternativos de resolução de conflito (conciliação, mediação e arbitragem). Ambos os
métodos alternativos, possuem características próprias, as quais são diferenciadas na
abordagem do conflito.
Seus papeis desempenhado dento do sistema processual tradicional, sempre foi
tímido, possivelmente pela grande influência de cultura do litigio.
Tratando-se de conciliação, as partes têm uma posição mais proeminente,
devido a participarem da solução do conflito. Trata-se de um método não adversarial,
na medida em que as partes atuam juntas e de forma cooperativa. A conciliação é um
procedimento mais rápido. Na maioria dos casos se limita a uma reunião entre as
partes e o conciliador. É muito eficaz nos conflitos onde, não há, necessariamente,
relacionamento significativo entre as partes no passado ou contínuo entre as mesmas
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no futuro, que preferem buscar um acordo de maneira imediata para terminar a


controvérsia ou por fim ao processo judicial.
A mediação diverge da conciliação em vários aspectos, ela trata de meses ou
anos de relacionamento. As pessoas passam, de forma emancipada e criativa, a
resolver um conflito pelo diálogo cooperativo, na construção da solução. Tratando de
mediação, conforme Weingärtner, "demanda um conhecimento mais aprofundado do
terceiro com referência a inter-relação existente entre as partes." (2009, p. 12-15) Pois
ela não possui um objetivo primordial o acordo, e sim a satisfação dos interesses e dos
valores e necessidades das pessoas envolvidas na controvérsia.
Reiterando que um dos principais objetivos dos meios alternativos de solução
de conflitos é promover a solução do conflito sem a necessidade da atuação do
Judiciário. Para tanto é necessário a atuação de um “intermediador”, que tem a função
de facilitar e estimular a comunicação entre os envolvidos.
Nesse cenário de âmbito entra a figura do conciliador e do mediador, que
deverão atuar de forma imparcial proporcionando a boa comunicação entre as partes
para que estas possam, por meio de um diálogo amigável, encontrar a solução para o
seu problema. Pois é dever do intermediador atuar de forma passiva em alguns casos
(mediação) e de modo mais ativo em outros (conciliação), para que as partes possam
ter maiores condições de resolverem o conflito. (Carmona, 1998, p 43)
A percepção que estamos passando por uma revolução na forma de fazer
Justiça, caminhando, com a reengenharia do processo, para uma modificação
estrutural e funcional do Judiciário. Nesse pensamento sobre a modificação estrutural
do judiciário, assevera Luiz Flávio Gomes, “Não existem recursos materiais, humanos
e financeiros disponíveis, em parte nenhuma do mundo, que suportem os gastos do
modelo clássico de Judiciário."(Gomes, 1997 p 15-118).
Nesse trilhar, acreditamos que os meios alternativos de solução de conflitos - a
conciliação, a mediação e a arbitragem - são instrumentos de pacificação social e
afirmação da cidadania, consubstanciando-se, dessa forma, como poderosos
instrumentos a serviço da população e para desburocratizar o Judiciário num efetivo
pluralismo jurídico, no universo de uma nova gestão democrática do Poder Judiciário,
no sentido da plena concretização dos Direitos de cidadania e do fortalecimento da
cultura de Direitos humanos.
3.1. Entre a Judicialização e a pacificação
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A judicialização de conflitos e o acesso à Justiça têm sido tema recorrente dos


estudos jurídicos. Com o advento da Lei 13.105/2015, trazidas pelo Código de
Processo Civil, através da inclusão da conciliação e da mediação, para demonstrar a
necessidade de adoção dos meios consensuais como alternativa efetiva de acesso à
Justiça, concretização de direitos e resposta possível ao conflito, em evidente incentivo
à moderna cultura da pacificação. Soluções pacíficas de conflitos são cada vez mais
necessárias diante da multiplicação de disputas judiciais envolvendo relações
interinstitucionais e interpessoais, que têm sobrecarregado o Sistema de Justiça.
Mediação e arbitragem tornam-se meios alternativos de resolução de conflitos
mediante a utilização de mecanismos e métodos, como o diálogo e o consenso.
O Poder Judiciário passa por um processo de reconhecimento da sua função
social: instrumento de concretização dos direitos fundamentais através da prestação da
tutela jurisdicional, diante da judicialização crescente das mais diferentes demandas.
Com o contexto de vários fatores que englobam o grau de judicialização. Alguns
juristas, seguem linha que o grau de (in)efetividade dos direitos fundamentais –
núcleo compromissório da Constituição. Outrossim, algumas questões que antes eram
solucionadas em outras esferas, atualmente acabam no judiciário.
O jurista Luis Antonio Barroso, cita três motivos fortes, que direcionam
questões de conflitos para o judiciário: “ através de um judiciário forte e independente,
essencial para as democracias; a crise de representatividade em decorrência da
desilusão política e, a escolha dos atores políticos (Executivo e Legislativo), em deixar
questões de difícil resolução moral, a cargo do judiciário”. (Barroso, 2014. p. 367-368)
Houve-se um tempo que os juízes ficavam afogados em processo, os quais
levavam décadas e um desperdício de dinheiro público, os quais eram chamados de
meios alternativos para solução de conflitos (conciliação, mediação, arbitragem e auto
composição), esses métodos eram impostos pelo Poder judiciário e podem ser degrade
valia. Entretanto isso não se emprega em alguns processos judiciais que tendem ser
burocrático e moroso, além de demandar altos custos, por meio de conciliação ou
mediação, os casos são tratados com praticidade e agilidade e os valores são reduzidos
Atualmente a maior crise no Poder Judiciário, são as questões de litígios, pois
todos os métodos usuais de resolução de litígios, dos arcaicos duelos, jogo de moeda e
guerras, dos métodos alternativos mediação, conciliação e arbitragem, ao judicial,
apenas esse último é reputado como mais civilizado, efetivo e legítimo. A
judicialização é realidade hodierna e, se encarada de forma adequada, representa
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importante avanço em termos de acesso à justiça e salvaguarda dos direitos


fundamentais. Através da negociação, arbitragem, conciliação e mediação, as quais
são identificadas como meios alternativos e consensuais de soluções de conflitos.
Nos dias atuais, o momento atual, sugere a intensificação da cultura, através
da pacificação social, de forma a diminuir o número de processos judiciais,
possibilitando uma melhoria da qualidade do Poder Judiciário. Buscando acabar com o
dogma que de a jurisdição, se trata de um processo, pois é monopólio do Poder
Judiciário, fortalecendo a ideia do exercício da democracia participativa e,
principalmente, o dever primário de solução de conflitos. Fazendo com que a solução
de conflitos, além de diminuir a judicialização no Brasil, pode beneficiar ambas as
partes de forma muito mais rápida e satisfatória.
Segundo Rodolfo de Camargo Mancuso (2009, p.151), impõe-se; uma política
judiciária focada na ampla divulgação sobre os modos auto e heterocompositivos de
resolução de controvérsias, como uma alternativa à cultura judiciarista, cujas
consequências se fazem sentir tanto sobre o Estado como sobre os jurisdicionado.
Acrescentando que o acesso à justiça, trata-se de uma garantia constitucional, a qual se
consagrou-se em razão das medidas criadas para garantir formas simplificadas e
facilitadas de acesso à justiça. Pode-se citar, a assistência judiciária integral e gratuita
aos necessitados, as técnicas de proteção judicial dos direitos coletivos, os juizados
especiais, dentre outros.
Nesse sentido, alguns juristas, tratam de forma especifica, considerando que:
“O aumento excessivo do número de demandas decorre, paradoxalmente, da
adoção de técnicas destinadas a facilitar o acesso à Justiça àqueles que
necessitam da tutela jurisdicional. Várias medidas foram inseridas no sistema
processual-constitucional – como a assistência judiciária gratuita (CF, art. 5º,
LXXIV). Juizados especiais (CF, arts. 24, I e 98, I; Lei 9.009/1995),
ampliação da legitimidade do Ministério Público (CF, art. 129) -, todas
visando a tornar mais acessível a tutela jurisdicional.” (Bedaque, 2006. p. 47)
Com isso, o acesso à Justiça deve ser ampliado para fora do processo, afinal,
também se acessa a Justiça sem processo pelos métodos extrajudiciais de resolução de
conflitos.
3.2. A crise no poder judiciário
A crise vivenciada pelo Judiciário é decorrente de tudo o que já foi exposto
anteriormente, sendo consectário da inação do Legislativo, ausência de fundamentação
15

adequada aos julgados, a crescente demanda que se impõe a cada dia frente ao Poder
Judiciário e entre outras ocorrências que preocupam a todos. Reiterando que nosso
sistema judiciário é considerado por muitos como um sistema moroso, ou seja, uma
estrutura que não consegue atender às demandas da justiça dentro do ritmo necessário
e um número limitado de funcionários são importantes características do cenário atual
do sistema judiciário, esses são dois fatores que explicam a situação caótica que
estamos vivendo no momento. Acrescentando que a insatisfação está presente em boa
parte dos setores sociais, do mais simples cidadão a grandes empresários, a sociedade
que se sente prejudicada pelas dificuldades do nosso processo legal.
A preocupação com a morosidade do sistema judicial não existe apenas do
Brasil. Diversos outros países no mundo enfrentam o mesmo problema e têm
procurado soluções para resolver ou ao menos atenuar a situação. Ainda assim, o
cenário no Brasil é bastante crítico.
Primeiramente, precisamos entender quais são os principais fatores
responsáveis pela morosidade da justiça brasileira. A duração de um processo
submetido ao sistema judicial depende de inúmeros fatores, os quais são o tipo de
procedimento e complexidade do caso, tempo gasto na coleta de provas, prazos para
prática de atos processuais, desempenho dos profissionais na condução do caso,
cultura institucional, entre outros.
O excesso de demandas, é gerado por ações que obrigatoriamente são de
responsabilidade do judiciário. Muitas vezes sobrecarregando um Juiz, devido a
inúmeras citações e intimações de testemunhas em um mesmo processo.
Na verdade, a sociedade não está satisfeita com o serviço prestado pelo
judiciário, pois este não supre adequadamente suas necessidades, em nenhuma das
áreas civil, penal, empresarial ou qualquer outro. Mas o problema, quando não é a
ausência de justiça ou a sua morosidade, é a ineficácia de suas decisões. Sabe-se para
resolver esse problema é um desafio que enfrenta o Poder Judiciário há anos, e a
sociedade vem passando fortes transformações. Consequentemente junto com essas
transformações, vem a grande diversidade de problemas e daí a existência de mais
conflitos. Mas isso, não se faz referência apenas à quantidade, mas também aos
diferentes tipos de problemas enfrentados.
Neste sentido, o Código de Processo Civil (Lei n° 13.105/2015), em seu art. 6°,
determinou que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”. Assim, os sujeitos do
16

processo têm o dever de cooperarem entre si, a fim de obterem, em tempo razoável,
uma decisão de mérito justa e efetiva. ” (Buarque, 2016 p.112/123).
3.3. Um sistema multiportas para a de solução de Conflitos
Ao falamos do sistema multiportas, trata-se de é um modelo alternativo para
solução de conflitos que prevê a integração de diversas formas de resolução dos
litígios, sendo judiciais ou extrajudiciais. Através dele o Estado conduz os litigantes
para a melhor opção de resolver o conflito. Estes métodos se caracterizam,
basicamente, por serem autocompositivos, ou seja, não se busca num terceiro a
solução do conflito, ao contrário, devolve-se as partes o diálogo e o poder de
negociação, através do estímulo e do auxílio dos mediadores e conciliadores,
profissionais dotados de neutralidade e capacitados para favorecer a busca do
consenso. Oposto da arbitragem, que é outro método alternativo, mas assim como a
jurisdição estatal, é heterocompositivo, onde as partes elegem um terceiro para
"julgar" o conflito, favorecendo à mesma política implantada há séculos, quando o
Estado passou a intervir nos conflitos de modo impositivo, surgindo o processo
judicial.
Existe uma outra maneira aonde os conflitos sejam pacificados, se dará através
da mediação e da conciliação, é que surge no art. 167 do novo CPC a grande novidade,
através da criação de câmaras privadas de mediação e conciliação, empresas
devidamente capacitadas e habilitadas que, juntamente com os mediadores e
conciliadores, poderão atuar na pacificação dos conflitos em caráter judicial e
extrajudicial, refere-se a demandas já instauradas perante o Poder Judiciário, bem
como em caráter preventivo, evitando a instauração de novos processos, colaborando
com o enxugamento da máquina judiciária que poderá se dedicar com mais afinco e
qualidade, em tempo mais razoável, aos conflitos que realmente precisam ser julgados,
que exigem produção de prova ou que são relativos a direitos intransigíveis.
Segundo Bobbio, estes métodos de resilir um conflito, dependem da vontade e
da atividade de uma ou de ambas as partes envolvidas no caso concreto, se faz com a
evolução da sociedade; entendido no sentido de um tipo de ordenamento normativo,
que constitui um sistema completo, coerente e uno de normas com eficácia garantida
por meio da força, a autodefesa, como se viu, deixa de ser a regra e se torna a exceção
como forma de solução de conflitos. (Bobbio, 1995 p.86)
O Brasil, desde o ano de 1988, quando foi promulgada a constituição da
República de 1988, tornou se um País Democrático de Direito, este é um conceito
17

onde o Estado que “se aplica a garantir o respeito das liberdades civis, ou seja, o
respeito pelos direitos humanos e pelas garantias fundamentais através do
estabelecimento de uma proteção jurídica”. O sistema judiciário, teve um grande
número de aumento e gastos, devido ao congestionamento dentro do judiciário. ( Di
Pietro, 1996, p. 70)
Conforme Sadek; “o total de processos que entram é bem maior do que a
quantidade que sai, mas as causas da morosidade são diversas”. O Poder Judiciário
brasileiro enfrenta problemas como a enorme quantidade de processos em tramitação,
“para cada dois habitantes há um processo”. Com o aumento do número de processos
os gastos do Governo tornam-se ainda mais alto. O congestionamento dentro do
sistema judiciário é alto e segundo Sadek “o total de processos que entram é bem
maior do que a quantidade que sai. As causas da morosidade são diversas”. (Sadek,
2010, p.20)
3.4. Métodos autocompositivos
No Brasil, especificamente no que tange aos métodos autocompositivos, é
direcionado a conciliação, a qual é amplamente difundido, proporcionando um
significativo acréscimo na resolução de conflitos, ainda que não reduza o número de
processos e o congestionamento do Poder Judiciário. Cabe ressaltar, a implementação
dos Juizados Especiais Cíveis, posteriormente, os Federais e os da Fazenda Pública, os
quais acabam buscando solução para os conflitos de forma ágil, e não inovaram
somente na questão da audiência de conciliação. Surgiram de fato para aumentar
exponencialmente o acesso à Justiça, possibilitando ao cidadão que, ordinariamente,
sequer consideraria buscar o Poder Judiciário, resolver problemas de baixa
complexidade de maneira eficaz, relativamente rápida e, na maioria das vezes, sem
custo.
Ocorre que a sociedade vem de forma crescente, cada vez mais estimulando
relações de consumo, criando desta forma os conflitos, os quais são inevitáveis. Mas a
criação dos juizados especial, não foi como intuito de resolver conflitos em massa,
mas sim questão simples de caráter individual. Mas houve um aumento exponencial de
ações, principalmente das que tratam de direito de consumo. Por conta dessa demanda,
inexplicável tem ocorrido o esvaziamento das Conciliações em prol da litigiosidade.
Nota-se que audiência de Conciliação, nos Juizados Especiais tornou-se na realidade
um obstáculo a ser superado antes da prolação da sentença, subvertendo assim o
intuito originário da legislação.
18

Conforme estudo realizado no Rio de Janeiro, por Corrêa de Souza, é dada as


audiências de conciliação um segundo plano, a fim de analisar a situação dos Juizados
Federais, in verbis:
“De acordo com estudos que realizei no conjunto de sentenças prolatadas
pelos cinco Juizados Especiais Federais especializados em matéria
previdenciária, no Rio de Janeiro/RJ, entre janeiro de 2014 e fevereiro de
2015, foram proferidas 34.297 (trinta e quatro mil, duzentas e noventa e sete)
sentenças de primeiro grau, em processos entre os cidadãos e a Administração
Pública Previdenciária (INSS). Dessas, devem ser excluídas aquelas sentenças
que se refiram à extinção do feito sem o julgamento do mérito e aquelas
prolatadas em embargos de declaração. Estas espécies de sentença foram
exatamente 5.892 (cinco mil, oitocentos e noventa e duas). Desta forma, tem-
se um universo de 28.405 (vinte e oito mil, quatrocentos e cinco) sentenças
nas quais o magistrado produziu sentença com a análise de seu mérito. Porém,
destas houve apenas 428 sentenças em que as partes se dispuseram a alguma
espécie de conciliação, em sua imensa maioria por escrito, sem a presença
física de representante do INSS ou do cidadão. Ou seja, em apenas 1,5% (um
e meio por cento) das sentenças de processos envolvendo a Administração
Pública e o cidadão houve a possibilidade de conciliação. ” (2017)
Assim, tais soluções são pontuais e não têm se mostrado eficazes para resolver
o problema do crescimento desenfreado de ações, como se comprova pelos dados do
já mencionado Relatório Justiça em Números.

4. IMPORTÂNCIA DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO


DE CONFLITOS NA ATIVIDADE JURÍDICA PÓS PANDEMIA DO COVID-
19
A utilização de métodos consensuais de solução de conflitos (conciliação,
mediação, negociação, dentre outros) tem sido um dos temas mais explorados no meio
jurídico, no Brasil, nas duas últimas décadas. A busca pelo aperfeiçoamento dos meios
de acesso à justiça tem sido um problema a ser enfrentado pela estrutura judiciária.
Estamos vivendo um momento crucial, ao qual nota-se a obstrução do Judiciário no
Brasil, com o crescimento excessivo de ações judiciais, vem preocupando os tribunais
juntamente com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Mas se por um lado, estamos
enfrentando um sistema congestionado, por outro lado, nota-se a morosidade
19

processual, formalismo, o que causa frequente reclamação dos operadores de direito e


das partes, estes fatores que acentuam a insatisfação dos cidadãos.
Considerando que a estrutura disponível, não tem dado conta da demanda
judicial, o sistema tem buscado diferentes medidas, entre elas modificações
legislativas, afim de contornar o problema. Com advento da alteração do Código Civil
de 2015 (Lei 13.105/2015), trazendo algumas mudanças, afim de dividir o trabalho
dos órgãos judiciais, por meio de mediadores e conciliadores. Na Constituição Federal
de 1988, através do artigo 5º inciso XXXV, encontra-se o princípio da inafastabilidade
da jurisdição, o qual assegura o direito, por meio de ação como instrumento de
proteção ao direito material. Em outras palavras, o magistrado não pode dispensar
apreciação de uma demanda, bem como, não pode criar barreiras para que alguém
ajuíze determinada ação. Nota-se que o texto constitucional não se posicionou, ao lado
da via judiciaria, com intuito de resolver disputas de interesse, pois não é uma tradição
no judiciário Brasileiro. Mas com a evolução dos processos jurídicos, nos deparamos
com o raciocínio de Silva Leite (2008 p. 40), a qual defende, essa formula como
“formula tradicional de resolução de conflitos” através de uma tendencial no tocante
para resolução. Mesmo que tenha sido importante as modificações constitucionais
processuais, a EC 45/04, não se mostrou suficiente para resolver o aumento das
demandas de forma estruturada. Nota-se na atual conjuntura que o Poder Judiciário,
não está conseguindo corresponder aos anseios da população.
Neste sentido, foi um estimulo para as formas diversificados, relacionado ao
tratamento dos litígios. A partir deste estado, passou a tratar uma ideia a que o ente
estatal e o juiz, não pode ser o único responsável pela solução de conflitos. Pois nem
sempre uma sentença é capaz de extinguir definitivamente o conflito, em contrapartida
pode fomentar ainda mais a desigualdade e o litigio.
Atualmente, Ada Pellegrini (2017) cita; um minissistema brasileiro, através de
métodos consensuais de solução judicial de conflitos, criado através da Resolução nº
125/2010, através do Conselho nacional de justiça, juntamente com o Novo Código de
Processo Civil/2015 e a lei de Mediação (13.140/2015), considera-se um passo
importante no reconhecimento e inserção dos métodos consensuais de resolução de
demandas através do sistema judiciário. Tal resolução expressa uma preocupação com
que se denomina acesso à ordem jurídica, através da solução do litigio de acordo com
a peculiaridade do caso.
20

4.1. As vantagens e desafios da ampliação do uso dos meios alternativos de


solução de conflitos
Nesse contexto, os meios alternativos de solução de conflitos são uma opção
viável para desafogar o Judiciário e minorar a questão da morosidade da justiça.
Podendo destacar várias vantagens e alguns desafios que encontrará ao longo do
caminho, através dos meios alternativos, obteremos resultados rápidos, confiáveis,
econômicos; ampliação de opções ao cidadão, que teria diversas oportunidades de
tratamento do conflito. Essa temática tem sido objeto de acalorados debates entre
juristas, que defendem a criação da chamada “justiça do futuro”.
No tocante dos desafios ou desvantagens, são adotadas algumas críticas ao
mecanismo alternativo, os quais se resume: deletéria privatização da justiça (retirando
do Estado, a ponto de enfraquecê-lo, uma de suas funções essenciais e naturais, a
administração do sistema de justiça); falta de controle e confiabilidade dos
procedimentos e das decisões (em procedimentos sem transparência e lisura); exclusão
de certos cidadãos e sua relegação ao contexto de uma “justiça de segunda classe”
(FIGUEIRA JÚNIOR, 2005. p.40); frustração do jurisdicionado e enfraquecimento do
direito e das leis.
Apesar de algumas críticas, as mesmas não se sustentam, tendo em vista que a
utilização de tais mecanismos, enfraqueceria o Judiciário, oposto ao ensinamentos da
professora Lilia de Maia Moraes Sales (2003, p. 73.), a introdução dos meios
alternativos não visa a substituir ou enfraquecer o Poder Judiciário, mas, pelo contrário,
a oferecer meios mais adequados de resolução de conflitos e inserir-se no âmbito de
modernização do Poder Judiciário, facilitando a efetiva prestação jurisdicional por este
Poder.
É patente, portanto, que os métodos inovadores alternativos a serem aplicados no
novo Código de Processo Civil projetarão ao ordenamento jurídico uma evidente
celeridade na solução das controvérsias e, consequentemente, aproximará o cidadão do
Poder Judiciário, restabelecido a confiança e segurança jurídica que se espera de tal
Poder instituído.
4.2. A pandemia do COVID-19 e a influência sobre a resolução de conflitos
Em tempos de Corona Vírus e fechamento dos Tribunais a proibição de
procedimentos de solução de litígios (judiciais e extrajudiciais) face-to-face fez-se
necessária como uma medida emergencial contra um inimigo invisível em comum. O
isolamento social causado pela propagação do COVID-19 está impactando a economia
21

mundial, bem como, os conflitos. Nos primeiros 45 dias de quarentena, já prenuncia que
poderá sofrer uma das piores recessões econômicas da sua história.
Considerando que a falta de um Judiciário inteiramente virtual para pratica
hodierna de atos processuais corriqueiros (apesar da evolução com o processo eletrônico
e utilização de videoconferência para oitiva de testemunhas) a mediação online se torna
o meio mais eficaz para solução de conflitos. Nunca se viu tamanha crise,
institucionalizada em todas as esferas e camadas sociais, que sinaliza uma enxurrada de
conflitos gerada pelos desequilíbrios contratuais que surgirão daqui por diante.
Os tribunais brasileiros também começaram a atuar de forma virtual, o Supremo
Tribunal Federal aprovou emenda ao seu Regimento Interno para ampliar as hipóteses
de julgamentos a serem realizados por meio eletrônico com a possibilidade de
sustentação oral de advogado de forma virtual. Aonde os advogados começaram a
encaminhar as respectivas sustentações orais por meio eletrônico, após a publicação da
pauta e até 48 (quarenta e oito) horas antes de iniciado o julgamento em ambiente
virtual.
As vantagens da utilização da tecnologia na mediação são notórias: conveniência
para as partes; acesso a mediadores experientes que não estão disponíveis localmente; a
comunicação mais lenta permite ao mediador que aplique com mais eficácia suas
técnicas, principalmente se for assíncrona.
Após a decretação de pandemia pela Organização Mundial de Saúde, de forma a
preservar a segurança e a saúde de seus funcionários e clientes, determinou seu
funcionamento remoto, funcionários davam início ao trabalho em regime de home-
office, mas atendimento online completamente preservado.
À medida que a resolução de disputas on-line se torna mais popular e mais
mediadores obtêm habilidades especializadas em como conduzir mediações on-line, as
limitações que antes eram percebidas do uso de plataformas on-line para resolução de
disputas estão sendo desmascaradas. Muitas plataformas de resolução de disputas on-
line possuem recursos em que o mediador pode facilitar reuniões individuais em tempo
real. O mediador também pode controlar o áudio dos participantes e, se eles se tornarem
inadequados, poderão ser silenciados. O mediador também tem uma quantidade incrível
de poder na criação e manutenção de um espaço seguro. No mundo da resolução virtual
de disputas, o mediador pode encerrar imediatamente uma mediação se a situação
evolui de forma a se tornar inadequada ou insegura para continuar com o processo.
Cada participante pode manter um local anônimo usando uma resolução de disputas
22

online, o que também pode aumentar a segurança. Quem sabe a crise auxilie ainda mais
na disseminação da cultura das soluções de conflitos extrajudiciais.
4.3. Aumento de conflitos familiares durante a pandemia e como resolve-
los
Novas dificuldades interpessoais podem ter se apresentado nesse momento, mas
a verdade é que a maioria delas já existiam e foram apenas potencializadas pelo
convívio intenso. Esse período de pandemia e distanciamento social nos impõe diversas
mudanças e adaptações, além de trazer muitas incertezas e preocupações, pois de
repente nossa vida mudou: isolamento, home office, crianças sem escola, distância da
família, orçamento apertado, cuidados redobrados com a saúde física e mental. A
pandemia da Covid-19 mexeu com a rotina, exigiu novos hábitos e intensificou a
relação entre casais, filhos e irmãos.
Entenda que todo conflito começa dentro de nós. Precisamos ter consciência que
será vários indivíduos, ocupando o mesmo espaço, houve uma procura em massa por
psicólogos e terapeutas, ambos para muitas vezes solucionar conflitos internos, antes
não apresentados externamente. A psicóloga do IFPB campus João Pessoa Anna Paola
Silva, ressalta que precisamos lembrar: “ todos precisam de um momento sozinhos ou
para realizar atividades individualmente. Saber respeitar o espaço do outro, pode
contribuir para que os atritos minimizem” (Silva, 2017)
Antes de ser manifestado em palavras ríspidas, elevação do tom de voz ou
comportamentos agressivos, o conflito se inicia com um desconforto interno,
sinalizando que alguma necessidade nossa não está sendo atendida naquela situação. A
pessoa, ao sentir-se desrespeitada, pode atacar de volta e assim ter início uma briga
desnecessária. A crise atual obrigou a maioria das pessoas a desacelerar o ritmo de
vida, o que pode ser encarado como oportunidade para dedicarmos mais tempo a olhar
para dentro de nós. Autoconhecimento e autoconsciência nos ajudarão a avaliar
melhor a situação, entendermos nossa responsabilidade e frear comportamentos
prejudiciais à nossa vida e que enfraquecem/desgastam as relações.
Considerando que muitas vezes, precisamos ir além de nós mesmos, quando
existe menores envolvidos, nesse conflito. Em tempos de isolamento social, casais que
convivem com a guarda compartilhada de seus filhos enfrentam um novo desafio. O
distanciamento social decorrente das medidas de prevenção adotada na Pandemia de
COVID-19 pode vir a acarretar a prática da Alienação Parental, que pode ocorrer
disfarçada de excesso de zelo com o contágio e propagação do corona vírus. A
23

alienação parental infringe o direito fundamental da criança e do adolescente à


convivência familiar saudável, prejudicando a realização de afeto na relação entre os
genitores e a prole, descumprindo os deveres de proteção e cuidado, inerentes ao poder
familiar. Não há como negar que constitui abuso moral não somente contra os filhos,
mas também contra os genitores. Acentua-se os cuidados com a prole, e com o intuito
de proteger ao máximo os filhos, evitam-se deslocamentos necessários, optando até
mesmo por recursos tecnológicos, como vídeo chamadas para que o infante não fique
sem o convívio do outro genitor.
Entretanto, esse contato ou convivência virtual deve ser utilizado como uma
forma de amenizar a ausência do outro genitor, quando ele não pode, por questões
excepcionais estar fisicamente em convivência com o filho. Conforme o art.2º da Lei
12318/2010 considera-se ato de alienação parental como sendo a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Com base nisso, o magistrado
Elízio Luiz Perez (2013, p. 41-67), é enfático ao afirmar que “A lei pretendeu definir
juridicamente a alienação parental, não apenas para afastar a interpretação de que tal,
em abstrato, não existe, sob o aspecto jurídico, mas também para induzir exame
aprofundado em hipóteses dessa natureza e permitir maior grau de segurança aos
operadores do Direito na eventual caracterização de tal fenômeno.”
O judiciário vem concedendo liminares em favor daqueles que sofrem a
alienação parental, no entanto, não basta tão somente a tutela do Estado como
mecanismo hábil a impedir a incidência. Sobremaneira, tão pouco, a criminalização de
atos de alienação parental. Entende-se que a principal analise deve abarcar a condição
de saúde dos envolvidos, evitando o translado de crianças e adolescentes em espaços
curtos de tempo, priorizando o convívio de maior duração. O acompanhamento
psicológico no âmbito familiar para todos os envolvidos também é extremamente
necessário, por se tratar de fenômeno psíquico que pode acarretar graves distúrbios
psicológicos.
4.4. A importância da consideração da “gestão do conflito” pelos
profissionais do Direito.
O significado comum de conflito se apresenta como “ato, estado ou efeito de
divergirem ou se oporem duas ou mais coisas”, outro significado de conflito possui a
24

perspectiva de “[...] choque ou enfrentamento e ainda uma discussão acalorada ou


desavença [...]” (2011, p.187), ou poderá ser compreendido como “[...] um processo
que tem início quando uma das partes percebe que a outra parte afeta, ou pode afetar,
negativamente alguma coisa que a primeira considera importante” (2005, p. 325),
aonde muitos interpretam como fenômeno negativo que traz perda ou prejuízo para
pelo menos uma das partes.
Sendo o conflito algo natural e essencial as relações, porem a perda de
oportunidades e prejuízos sofridos, em razão do tratamento inadequado dos conflitos
se torna uma realidade de difícil mensuração: Conflitos disfuncionais são aqueles que
destroem valor, impedem colaboração e geram prejuízos significativos [...] são
prejuízos da ordem de bilhões anuais para as empresas no Brasil. Sobre esses
prejuízos, podemos confirmar que existem oportunidades extraordinárias para gerar
lucro aplicando ferramentas de gestão de conflitos [...] (2012, p. 28).
Embora os conflitos existam em todos os contextos nos quais as relações
humanas se estabeleçam, é inevitável, o advogado precisa conhecer a respeito de suas
possíveis soluções ou resoluções, sendo que muitas vezes passa por um exame de
condições que levou a provocar o conflito.
As organizações, juntamente com o sistema Judiciário, buscam cada vez mais a
resolução pacífica dos conflitos como atual modelo em substituição a uma cultura mais
beligerante de resolução de controvérsias, tal assertiva encontra fundamento em novas
práticas em organizações como o Sistema Judiciário em parceria com a Justiça
Estadual, isso demonstra a evolução para a tratativa dos conflitos em instituições que
recebem as demandas da sociedade. Não significa dizer que se exclui a busca pelo
judiciário como instrumento de resolução de conflitos, de modo diverso o que se busca
é utilizar o judiciário de forma racional considerando as vantagens e desvantagens
dessa escolha e a quebra do paradigma do sistema judiciário como panaceia para a
resolução de conflitos. Tanto que muitos advogados, acabam recorrendo a várias
Gestores como Advogados técnicas de resolução de conflitos e o conhecimento sobre
tais práticas se faz cogente para administrar conflitos, ressaltando que o trabalho do
advogado não deixa de ser de um gestor de conflitos conforme relata Maia Neto (2014,
p. 7): [...] espera-se reforçar que o papel do advogado não se esgota nas instâncias
jurisdicionais, ou seja, que a sua missão não se completa com a sentença judicial.
Quando dissemos ser o advogado materialmente indispensável à administração da
Justiça, queremos sublinhar que sua atividade profissional se estende para muito além
25

dos expedientes tipicamente judiciais. O advogado é, essencialmente, o profissional


recomendado para conduzir, de forma parcial, o processo de construção de soluções
para as desavenças enfrentadas por seus clientes.
As perdas por não tratar de forma adequada os conflitos podem ser vultuosos e
de difícil mensuração, possui uma coerência com a realidade das organizações
brasileiras, tais custos são: valor de tempo perdido, custo de oportunidade, custo de
motivação reduzida, custo de má decisão, custo de sabotagem/greve/similares, custo de
perda de talentos e custo de remanejamento. Quando se trata ainda de perda de
oportunidades podemos apontar de forma o modelo do empreendedor que faz do
conflito o objeto de empreendedorismo, através de regularizações fundiárias que se
apresenta, através de mediação de conflitos humanos para a regularização fundiária.
Reiterando que existem dois tipos de conflitos, ambos de característica comum,
possuindo o mesmo caráter organizacional não retira a pessoalidade dos conflitos,
significa dizer - as organizações são formadas por pessoas e os conflitos gerados
possuem forte carga emocional, mesmo ao se apresentar revestido do discurso
corporativo é carregado de emoção, sendo assim o papel do Gestor não se trata de gerir
emoções, mas conhece-las para tomadas de decisões que possam auxiliar na gestão do
conflito.
Dizer sobre gestão de conflito não se trata apenas de resolução adequada de
conflito, dado que o mínimo de conflito é necessário para a produtividade, muitas
vezes levando o advogado a conhecer maneiras de estimular o conflito de forma
controlada e produtiva, além de conhecer as ferramentas de resolução necessita
conhecer técnicas de estimulação de conflitos. Contudo, quando se trata de
organizações governamentais mesmo que o lucro não exista como objetivo a eficiência
e eficácia devem estar presentes com a finalidade do bom uso do erário público onde o
objetivo é evitar ao máximo os prejuízos e maximizar os recursos.
Muitos defendem o princípio da eficiência, como resolução de conflitos,
conforme Meirelles (2002, p. 94), é: [...] o que se impõe a todo o agente público de
realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento profissional. É o mais
moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser
desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço
público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus
membros, [...]. A eficiência funcional é, pois, considerada em sentido amplo,
abrangendo não só a produtividade do exerceste do cargo ou da função como a
26

perfeição do trabalho e sua adequação técnica aos fins visados pela Administração,
para o que se avaliam os resultados, confrontam-se os desempenhos e se aperfeiçoa o
pessoal através de seleção e treinamento. Assim, a verificação da eficiência atinge os
aspectos quantitativo e qualitativo do serviço, para aquilatar do seu rendimento efetivo,
do seu custo operacional e da sua real utilidade para os administrados e para a
Administração. Tal controle desenvolve-se, portanto, na tríplice linha administrativa,
econômica e técnica.
Desta forma, acaba se extraindo a divisão da gestão de conflitos em técnicas de
resolução de conflitos e técnicas de estimulação de conflitos. Pois a técnica está além
da gestão de conflitos pois busca uma melhor compreensão e eventual transformação
de seus mecanismos sócio emocionais, a técnica compreende a articulação de outros
métodos e técnicas de facilitação da comunicação, da negociação e da tomada de
decisões, busca transformar pelo empoderamento, autonomia, resiliência, escuta
empática, comunicação não violenta, negociação eficiente e constelação do conflito
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em tempos de Corona Vírus e fechamento dos Tribunais a proibição de
procedimentos de solução de litígios (judiciais e extrajudiciais) face-to-face fez-se
necessária como uma medida emergencial contra um inimigo invisível em comum.
De fato. O isolamento social compulsório, acarretado pela atual pandemia, em
ordem de conduzir a humanidade aos confinamentos de quarentenas, colocou,
efetivamente, a família em um reaprendizado de suas próprias relações. O princípio
jurídico da solidariedade migra para as relações familiares, com notável presença
dentro da crise. Ainda nos dias atuais, existem muitas perguntas e poucas respostas,
tratando dos direitos da família, frente a pandemia, em 31 de dezembro de 2019. Aos
poucos os problemas do dia a dia estão batendo às portas do Judiciário que, também
numa velocidade ímpar, tem tido que se reinventar. O tempo e as demandas de outrora
não atende mais a vida pandêmica. Aumentam as aflições causadas pela insegurança e
incerteza são de proporções tão colossais quanto as consequências da crise que
atravessamos.
Assim, excepcionalmente, em casos em que o contato físico seja arriscado, o
regime de convivência presencial foi suspenso. Com isso, genitores que estejam
expostos ao vírus de forma mais frequente (profissionais de saúde que estejam na linha
de frente do combate à pandemia) podem ter, ao menos neste momento mais agudo da
crise, restrição ao seu direito de conviver com o filho.
27

Na verdade, há diferentes métodos para a solução de conflitos, valendo


esclarecer que não existe nenhum tipo de hierarquia entre eles. Sua escolha se pauta
naquele que se mostrar mais adequado ao caso em concreto. Dentre os métodos
adequados à resolução de conflitos, que podem ser usados para substituir a resolução
judicial - nos quais é investido ao juiz, terceiro supostamente neutro, o poder decisório
- pode-se citar, não exaustivamente:
A arbitragem, na qual as partes elegem um árbitro, com conhecimento técnico
específico sobre a questão, que então proferirá decisão;
A conciliação, em que o conciliador tenta buscar um acordo entre as partes,
podendo sugerir soluções; a negociação, na qual as próprias partes buscam chegar a
um acordo.
A mediação, na qual um mediador facilita a comunicação e o diálogo entre as
partes, fazendo com que elas mesmas busquem soluções para o conflito.
Não se pode, no entanto, encarar os diferentes métodos de solução de conflitos
como resposta, por assim dizer, milagrosa, para a crise do Direito e como solução
definitiva para o assoberbamento do Poder Judiciário. O sistema então vigente em que
as partes buscam resolver seus problemas através da decisão de um juiz tem se
mostrado ineficiente, seja porque extremamente burocrático e demorado, seja porque
muitas vezes o resultado não atende às necessidades de nenhuma das partes
envolvidas.
Considerando que os métodos autocompositivos, e dentre eles especificamente
a mediação, representam uma mudança de paradigma na forma de resoluções de
conflitos. No entanto deve-se fazer um alerta para que os métodos autocompositivos
não sejam vistos simplesmente como uma forma de desafogar o Poder Judiciário e nem
como soluções milagrosas, que objetivam resolver todo e qualquer conflito. Para cada
tipo de conflito há uma solução adequada, que pode ser desde um método
autocompositivo até a prolação de uma sentença em um processo judicial. E, uma vez
feita a opção pela resolução do conflito por um dos métodos autocompositivos, caberá
também ao advogado adequar sua postura, em conformidade com os objetivos do
método adotado, de forma a otimizar os resultados.
Podemos concluir esse estudo dizendo que os métodos alternativos de
resolução de conflitos, de certa forma, são uma realidade no Brasil, todavia ainda
incipientes. Pois não podemos tratar a mediação, conciliação ou arbitragem, como
métodos não judicial de resolução de conflitos, mas como remédio para tratar dessa
28

patologia crônica que é a morosidade do Poder judiciário em nosso país.


Primeiramente, para esses métodos passem a ser uma alternativa á crise do Judiciário
há de ser instaurada, as normas jurídicas nacionais devem estimular a solução de
conflitos por vias não judiciais, conscientizando o cidadão que nem sempre o
acionamento do Estado-Juiz é a melhor solução.
Finalizo dizendo que é necessário um programa nacional de conscientização no
tocante à utilização desses métodos, pois eis que chegará um dia que a máquina
judiciaria, entrará em colapso, devido à grande demanda processual, criando poucas
novas varas, sobrecarregando os magistrados e servidores. Sendo o cidadão o maior
interessado, vêem suas demandas que na maioria poderiam ser resolvidas com um
simples acordo extrajudicial, caminhar a passos lentos durante anos, muitas vezes em
solução.

6. REFERÊNCIAS
1- BERALDO, Maria Clara Bomtempo. Filiação socioafetiva e
multiparentalidade: efeitos jurídicos quanto ao direito de guarda e visitas. Dissertação
(Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá,
2020. pg. 105
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