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O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO DE PRIVAÇÃO E RESTRIÇÃO DE LIBERDADE

DO ESTADO DO PARANÁ

Flávia Palmieri de Oliveira Ziliotto,


Mestre, Assessora Técnica do Departamento de Atendimento Socioeducativo

1 INTRODUÇÃO

Busca-se neste breve texto apresentar o que são medidas socioeducativas,


os princípios que as regem, as unidades socioeducativas do Estado do Paraná,
como se dá o processo socioeducativo do adolescente em cumprimento de medida
socioeducativa de privação e restrição de liberdade, bem como a importância do
trabalho em rede.

2 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas socioeducativas são aquelas aplicadas aos adolescentes como


consequência da prática de atos infracionais. As medidas socioeducativas estão
previstas no art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), quais sejam:

I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional.

De acordo com o SINASE (2012), as medidas socioeducativas têm por


objetivos:

I - a responsabilização do adolescente quanto às


consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível
incentivando a sua reparação;
II - a integração social do adolescente e a garantia de seus
direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu
plano individual de atendimento; e
III - a desaprovação da conduta infracional, efetivando as
disposições da sentença como parâmetro máximo de privação

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de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites
previstos em lei.

E, ainda, conforme previsto no SINASE (2012), são direitos do adolescente


submetido ao cumprimento de medida socioeducativa, sem prejuízo de outros
previstos em lei:

I - ser acompanhado por seus pais ou responsável e por seu


defensor, em qualquer fase do procedimento administrativo ou
judicial;
II - ser incluído em programa de meio aberto quando inexistir
vaga para o cumprimento de medida de privação da liberdade,
exceto nos casos de ato infracional cometido mediante grave
ameaça ou violência à pessoa, quando o adolescente deverá
ser internado em Unidade mais próxima de seu local de
residência;
III - ser respeitado em sua personalidade, intimidade, liberdade
de pensamento e religião e em todos os direitos não
expressamente limitados na sentença;
IV - peticionar, por escrito ou verbalmente, diretamente a
qualquer autoridade ou órgão publico, devendo,
obrigatoriamente, ser respondido em até 15 (quinze) dias;
V - ser informado, inclusive por escrito, das normas de
organização e funcionamento do programa de atendimento e
também das previsões de natureza disciplinar;
VI - receber, sempre que solicitar, informações sobre a
evolução de seu plano individual, participando,
obrigatoriamente, de sua elaboração e, se for o caso,
reavaliação;
VII - receber assistência integral à sua saúde, conforme o
disposto no art. 60 desta Lei; e
VIII - ter atendimento garantido em creche e pré-escola aos
filhos de 0 (zero) a 5 (cinco) anos.

2.1 INTERNAÇÃO PROVISÓRIA

A internação provisória tem como principal característica sua natureza


cautelar, destinada ao adolescente em período de apuração de processo de ato
infracional, não se constituindo especificamente uma medida socioeducativa,
embora possua de igual modo caráter pedagógico. Seu prazo máximo é de quarenta
e cinco dias e o tempo de permanência do adolescente depende de decisão judicial,
ou seja, o adolescente pode ser liberado a qualquer momento deste período, ao ser
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absolvido judicialmente ou receber medida socioeducativa em meio aberto,
semiliberdade ou internação. A decisão para a sua aplicabilidade deve ser
fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade,
demonstrada a necessidade imperiosa da medida. Por se constituir uma medida
privativa de liberdade, está sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e
respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

2.2 SEMILIBERDADE

A medida de semiliberdade pode ser aplicada tanto como primeira medida


como por progressão de outra medida socioeducativa, sendo obrigatória a
escolarização e a profissionalização, podendo realizar atividade preferencialmente
junto a comunidade sem autorização judicial. As atividades externas são intrínsecas
à medida socioeducativa de semiliberdade, visando que o jovem preserve os
vínculos familiares e comunitários, fortalecendo os aspectos positivos e modificando
os negativos.

2.3 INTERNAÇÃO

A medida socioeducativa de internação constitui medida privativa de liberdade


imposta ao adolescente autor de ato infracional caracterizado por grave ameaça à
vida ou violência contra pessoa, adolescente reincidente em atos infracionais graves
e/ou em descumprimento reiterado de medidas socioeducativas menos gravosas
anteriormente impostas. A medida deve seguir os preceitos da brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,
conforme elencado nas legislações pertinentes.

Os Centros de Socioeducação recebem tais adolescentes que, após o devido


processo legal, foram considerados pela Justiça da Infância e da Juventude
responsáveis pelo cometimento do ato infracional, cuja natureza e gravidade, aliados
ao histórico do adolescente, resultaram na aplicação de medida socioeducativa de
internação.

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A Medida Socioeducativa de Internação deve ter por objetivo principal
desenvolver um processo socioeducativo de formação e emancipação humana,
capaz de suscitar um novo projeto de vida para os adolescentes, baseado em
valores éticos e na participação social cidadã. A execução da medida é organizada
por Fases do Processo Socioeducativo, sempre observando o Projeto Político
Pedagógico, Código de Normas e Procedimentos das Unidades de Atendimento
Socioeducativo, Manual de Procedimentos, Regimento Interno e o Plano Individual
de Atendimento do Adolescente.

Durante o cumprimento da Internação, o adolescente deve ter garantido todos


seus direitos básicos, tais como Alimentação, Saúde, Educação, Profissionalização,
Esporte, Cultura e Lazer, Religiosidade e Convívio Familiar.

3 PRINCÍPIOS

Os principais marcos normativos acerca do atendimento socioeducativo são a


Constituição Federal (1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e a Lei
do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (2012), os quais consistem em
importantes consolidações legislativas que consolidam a adoção do princípio
protetivo aplicado às crianças e adolescentes, enquanto sujeitos de direitos em
condição peculiar de desenvolvimento, a partir da lógica da doutrina da proteção
integral, reconhecendo-se a necessidade de propiciar condições de pleno
desenvolvimento em redes articuladas de proteção à criança e ao adolescente,
sendo dever de todos prevenir a ameaça e combater a ocorrência de violação de
direitos.

As referidas redes articuladas de proteção permitem a compreensão de três


dos princípios expressos ainda no inicio da definição de legal das medidas
socioeducativas do ECA, mais especificamente sobre a internação, cujas garantias
são extensíveis às demais modalidades de medidas socioeducativas previstas, ao
afirmar que “a internação constitui medida privativa de liberdade sujeita aos

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princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento”.

Do mesmo modo, a rede articulada de serviços, voltada tanto ao adolescente


que cumpre medida socioeducativa, quanto para as crianças e adolescentes que
necessitem de politicas públicas, deve ser vista em todas as dimensões de
desenvolvimento que congregam os direitos à saúde, à educação, ao esporte, à
cultura, ao lazer, à participação social e politica, à convivência familiar, entre outros.
Deste conjunto articulado de ações extrai-se o principio da incompletude
institucional.

Enquanto politica de prioridade absoluta do Poder Público, importante


enfatizar o princípio do melhor interesse do adolescente, o que não quer dizer
que seus desejos pessoais sempre prevaleçam, sobretudo quando se trata de
envolvimento em atos infracionais, mas sim, que a política de atendimento
socioeducativo esteja integrada entre as urgências e prioridades de fortalecimento
de atuação, permitindo-se condições de trabalho eficientes aos adolescentes dentro
do Sistema de Garantia de Direitos e sendo considerado com primazia na
formulação de políticas públicas que atendam aos objetivos das medidas
socioeducativas, como assim preconiza a lei.

Por fim, importante destacar outros princípios elencados pelo SINASE (2012),
quando da execução das medidas socieoducativas:

I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento


mais gravoso do que o conferido ao adulto;
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de
medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de
conflitos;
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e,
sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas;
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida;
V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em
especial o respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei no 8.069, de
13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente);
VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e
circunstâncias pessoais do adolescente;

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VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a
realização dos objetivos da medida;
VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em
razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação
religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a
qualquer minoria ou status; e
IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no
processo socioeducativo.

4 UNIDADES SOCIOEDUCATIVAS DO ESTADO DO PARANÁ

A Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho (SEJUF) constitui-se


em órgão de primeiro nível hierárquico da administração estadual, tendo por
finalidade, dentre outras, a organização, promoção, desenvolvimento e
coordenação do Sistema de Atendimento Socioeducativo, por meio do
Departamento de Atendimento Socioeducativo. Dentro da estrutura da SEJUF, o
Departamento de Atendimento Socioeducativo é o responsável pela gestão das
medidas socioeducativas de privação e restrição de liberdade do Estado do Paraná.
Para tanto, tem como atribuições a articulação da intersetorialidade de ações dentro
da política de atendimento ao adolescente, o estabelecimento de convênios e a
supervisão e coordenação da execução do Plano Estadual de Atendimento
Socioeducativo.

As ações do DEASE baseiam-se nos princípios de atenção integral e


prioritária do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa, a partir da
articulação de ações de prevenção de fatores de risco e promoção de fatores de
proteção. O objetivo-fim do atendimento socioeducativo, de acordo com o Plano
Nacional, é fomentar o caráter educativo do processo de responsabilização do
adolescente, de modo que as medidas socioeducativas (re)instituam direitos,
interrompam a trajetória infracional e permitam aos adolescentes a inclusão social,
educacional, cultural e profissional, criando oportunidades de construção de projetos
de autonomia e emancipação cidadã.

Atualmente, o Estado do Paraná possui 19 Centros de Socioeducação e 08


Casas de Semiliberdade, distribuídas em três regiões: Região 1 compreendendo os

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municípios de Curitiba, Região Metropolitana e Ponta Grossa; Região 2
compreendendo os municípios da região norte e centro ocidental; e Região 3
compreendendo os municípios da região oeste, sudoeste e centro sul. Essas
Unidades atendem a medida cautelar de internação provisória e as medidas
socioeducativas de internação e de semiliberdade, totalizando 1129 vagas, conforme
a seguinte disposição:

ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA, TRABALHO E DIREITOS
HUMANOS

ANEXO II

Capacidade I nstalada

Região Município Unidade Sexo IP I SL TOTAL

M F M F M F TOTAL
Ponta Grossa Cense de Ponta Grossa M F 22 8 58 0 0 0 88
Ponta Grossa Semi Masculina de Ponta Grossa M 0 0 0 0 18 0 18
Curitiba Cense Curitiba M F 92 8 0 0 0 0 100
Região 1 Curitiba Cense Joana Miguel Richa F 0 0 0 30 0 0 30
Curitiba Semi Feminina de Curitiba F 0 0 0 0 0 7 7
434 vagas Curitiba Semi Masculina de Curitiba M 0 0 0 0 18 0 18
Fazenda Rio Grande Cense Fazenda Rio Grande M 0 0 30 0 0 0 30
Piraquara Cense São Francisco M 0 0 60 0 0 0 60
São José dos Pinhais Cense São José dos Pinhais M 28 0 50 0 0 0 78
Paranavaí Cense de Paranavaí M 8 0 20 0 0 0 28
Paranavaí Semi Masculina de Paranavaí M 0 0 0 0 18 0 18
Umuarama Cense de Umuarama M 4 0 13 0 0 0 17
Região 2 Umuarama Semi Masculina de Umuarama M 0 0 0 0 18 0 18
Londrina Cense 1 de Londrina M F 56 4 0 0 0 0 60
Londrina Cense 2 de Londrina M 0 0 60 0 0 0 60
367 vagas Londrina Semi Masculina de Londrina M 0 0 0 0 18 0 18
Maringá Cense de Maringá M 20 0 66 0 0 0 86
Santo Antônio da Platina Cense de Santo Antônio da Platina M 10 0 10 0 0 0 20
Campo Mourão Cense Campo Mourão M 5 0 15 0 0 0 20
Cascavel Cense 1 de Cascavel M 20 0 0 0 0 0 20
Cascavel Cense 2 de Cascavel M 0 0 78 0 0 0 78
Região 3 Cascavel Semi Masculina de Cascavel M 0 0 0 0 18 0 18
Foz do Iguaçu Cense Foz do Iguaçu M F 40 3 54 0 0 0 97
Foz do Iguaçu Semi Masculina de Foz do Iguaçu M 0 0 0 0 18 0 18
362 vagas Toledo Cense de Toledo M 10 0 15 0 0 0 25
Pato Branco Cense de Pato Branco M 5 0 13 0 0 0 18
Laranjeiras do Sul Cense Laranjeiras do Sul M 10 0 78 0 0 0 88
TOTAL DA CAPACIDADE INSTALADA 330 23 620 30 126 7 1136

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5 FASES DO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO

As Fases do Atendimento Socioeducativo e seus instrumentos pedagógicos


estão condensadas no Caderno de Socioeducação: Bases Teórico-Metodológicas
da Socioeducação (2018), do Departamento de Atendimento Socioeducativo. A Fase
1 do atendimento socioeducativo é a recepção, acolhida e integração, a qual dá
início ao processo socioeducativo.

No momento de ingresso no sistema socioeducativo o adolescente necessita


de acompanhamento intensivo dos diversos setores, a fim de se familiarizar com o
ambiente, suas normas e as possibilidades. Assim, o objetivo proposto à esta fase é:
acolher o adolescente, orientar quanto ao funcionamento da unidade e da medida
socioeducativa, realizar avaliação dos diversos setores, com intuito de subsidiar a
elaboração de estudo de caso que possibilitará a construção do Plano Individual de
Atendimento (PIA).

A medida socioeducativa de internação, que pode durar até 3 anos, permite


que o período de acolhimento e integração tenha uma duração de até 15 dias
(conforme Código de Normas das Unidades de Atendimento Socioeducativo do
Estado do Paraná); o programa de internação provisória, que pode ser cumprida em
até 45 dias, possibilita que sejam desenvolvidas apenas as fases iniciais, tendo,
portanto o período de recepção reduzido ao máximo de 5 dias. Durante o
acolhimento se oportuniza ao adolescente o conhecimento do ambiente e a rotina
institucional.

Ao final do período de recepção deverá ser realizado estudo de caso com a


equipe envolvida. Nesta ocasião, já deverão ter sido identificados interesses e
potenciais, que servirão de base para a elaboração do Plano Individual de
Atendimento. O estudo de caso é a fase 2 do processo socioeducativo e se
caracteriza como o instrumento norteador das intervenções durante o período de
cumprimento da medida socioeducativa, independentemente de sua modalidade
(internação, semiliberdade, liberdade assistida ou prestação de serviço à
comunidade), bem como é o mecanismo que propicia a interlocução com os serviços

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da rede de atendimento e, por vezes, um diálogo mais assertivo e próximo do
adolescente e de sua família.

Na socioeducação, o estudo de caso é um instrumento metodológico


importante, pois permite conhecer o adolescente em sua totalidade e, assim,
elaborar e desenvolver a proposta socioeducativa mais congruente, considerando a
realidade social e familiar do adolescente, seus afetos, desafetos, promovendo um
avanço no patamar educativo deste sujeito. Este é o objeto que torna o adolescente
o sujeito central das ações, por vezes esta é a única oportunidade que o
adolescente tem de ser visto de forma integral. Ouvir este adolescente durante o
processo é de suma importância, já que é a partir dele que se pode angariar dados
para a pavimentação das ações discutidas durante o estudo de caso.

Assim, o estudo de caso deverá apontar áreas e propostas de intervenção


específicas para cada adolescente. Estas áreas ou aspectos podem estar situados
no seguinte espectro: moradia, documentação, alimentação, saúde física, bucal,
mental, educação (escolarização, profissionalização), colocação profissional
(ocupação, trabalho), rendimentos financeiros (bolsas, salários), vida cultural,
esportiva, participação política (voto). Além desses aspectos gerais, pode haver
aspectos bastante específicos da vida do adolescente que podem se constituir em
metas importantes. Desta forma, entende-se que as intervenções propostas no
estudo de caso devem contemplar e ter significado real para o adolescente e não
satisfazer uma necessidade do contexto institucional ou social.

A fase 3 do processo socioeducativo é a elaboração e execução do Plano


Individual de Atendimento. A necessidade de elaboração e implementação do PIA
para os adolescentes em conflito com a lei, submetidos a medidas socioeducativas,
está previsto, direta ou indiretamente, em diferentes normativas nacionais e
internacionais dentre as quais destaca-se:

Art. 52. O cumprimento das medidas socioeducativas, em


regime de prestação de serviços à comunidade, liberdade
assistida, semiliberdade ou internação, dependerá de Plano
Individual de Atendimento (PIA), instrumento de previsão,

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registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas com o
adolescente.
Parágrafo único. O PIA deverá contemplar a participação dos
pais ou responsáveis, os quais têm o dever de contribuir com o
processo ressocializador do adolescente, sendo esses
passíveis de responsabilização administrativa, nos termos do
art. 249 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente), civil e criminal.
Art. 53. O PIA será elaborado sob a responsabilidade da
equipe técnica do respectivo programa de atendimento, com a
participação efetiva do adolescente e de sua família,
representada por seus pais ou responsável.
Art. 54. Constarão do plano individual, no mínimo:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
II - os objetivos declarados pelo adolescente;
III - a previsão de suas atividades de integração social e/ou
capacitação profissional; IV - atividades de integração e apoio à
família;
V - formas de participação da família para efetivo cumprimento
do plano individual; e VI - as medidas específicas de atenção à
sua saúde.
Art. 55. Para o cumprimento das medidas de semiliberdade ou
de internação, o plano individual conterá, ainda:
I - a designação do programa de atendimento mais adequado
para o cumprimento da medida;
II - a definição das atividades internas e externas, individuais
ou coletivas, das quais o adolescente poderá participar; e
III - a fixação das metas para o alcance de desenvolvimento de
atividades externas. (SINASE, 2012)

O PIA, portanto, é um instrumento pedagógico legalmente instituído e a


execução da medida socioeducativa está condicionada a sua elaboração de forma
intersetorial, com o adolescente, família e equipe multiprofissional da unidade
socioeducativa e rede de atendimento. Ele deverá expressar a “sistematização de
um conjunto de procedimentos que visam ao alcance de objetivos e metas traçadas
conjuntamente entre adolescente e equipe interprofissional” devendo contemplar a
participação de sua família e da rede socioassistencial de referência, objetivando
atender as suas particularidades e possibilidades “no sentido da construção e
efetivação de seu projeto de vida” (PARANÁ, 2010, p. 46).

Dessa forma, o PIA tem a função de pactuar com o adolescente e sua família,
tanto a dimensão do cumprimento da medida socioeducativa a que estiver sujeito,
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como também suas perspectivas no presente e no futuro. Possibilita o
estabelecimento de objetivos e metas possíveis de serem cumpridas, as quais serão
avaliadas no decorrer do desenvolvimento do trabalho junto com o adolescente, por
todos os profissionais que o atendem.

A fase 4 consiste na fase de preparação para o desligamento do adolescente,


seu retorno à comunidade e o acompanhamento posterior ao desligamento da
unidade socioeducativa. A preparação para o desligamento se inicia já na primeira
fase do atendimento, uma vez que já nos primeiros estudos de caso devem ser
discutidas e implementadas as condições necessárias para propiciar o retorno do
adolescente ao seio de sua família e comunidade, porém esta preparação para o
desligamento ganha consistência com o desenvolvimento do PIA.

6 TRABALHO EM REDE

Um dos princípios basilares do atendimento socioeducativo é o da


incompletude institucional. Conforme já citado, referido princípio caracteriza a
mudança do paradigma da instituição total para o da incompletude institucional; que
pauta as ações socioeducativas na perspectiva da intersetorialidade, isto é, há a
necessidade de ações articuladas entre os diversos setores/políticas públicas,
conduzindo para a necessidade de operacionalização de uma rede integrada de
atendimento visando o desenvolvimento do adolescente para a sua reintegração à
sociedade, a partir da corresponsabilidade entre o Estado, da família e da sociedade
em relação ao adolescente.

A rede articulada de serviços congregam os direitos à saúde, à educação, ao


esporte, à cultura, ao lazer, à participação social e política, à convivência familiar,
entre outros. Na área da saúde, conta-se com toda a estrutura de atendimento
municial com acesso direto a Unidade Básica de Saúde e seus encaminhamentos a
exames laboratoriais, especialistas como psiquiatria, oftalmologia, fonoaudiologia e
odontologia; acesso direto também as Unidades de Pronto Atendimento, Centro de

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Doenças Infecto Contagiosas e Parasitárias (CEDIP) e CAPS (Centro de Atenção
Psicossocial).

Na área do trabalho, conta-se com a parceria e portas abertas com a Agência


do Trabalhador e contato com as empresas para encaminhamento para
oportunidades de emprego, além do trabalho conjunto com a assistência social para
encaminhamentos a cursos promovidos pela rede pública. Dentro da estrutura
própria das unidades também são ofertados cursos de qualificação profissional
básica, mediante convênio da SEJUF, que podem ser gradualmente reduzidos na
medida em que haja oferta externa à unidade contribuindo com o vínculo no
território. Para a garantia de renda e habitação é acessado o equipamento do
Cadastro Único para inserção nos programas sociais.

Na área da educação, conta-se com toda a estrutura da rede municipal e


estadual utilizando principalmente o sistema de Ensino de Jovens e Adultos (EJA)
devido às características de defasagem escolar da população atendida. Porém, os
adolescentes que tem condições frequentam e são atendidos pela rede regular de
ensino.

Na área de esporte, cultura e lazer, além dos ofertados e organizados pela


própria SEJUF, são acessadas ofertas pela rede local. Instituições como o Sistema
S e outras fazem com que os jovens possam ir a teatros, oficinas de danças e outras
atividades culturais, conforme disponibilidade de agendas de eventos. Também são
acessados o CREAS e a Secretaria de Assistência na área do transporte, sendo os
primeiros com ofertas de oficinas de artesanatos e esportes, eventualmente e o
segundo com transporte para passeios em locais turísticos.

Denota-se, portanto, que a articulação com a rede consiste numa via


primordial da execução do trabalho socioeducativo. Além do referenciamento na
busca das inserções para os adolescentes e jovens nos serviços das demais
políticas públicas e setores da sociedade, as equipes participam ativamente das
comissões de rede existente no município, como comissão de socioeducação,
comissão de saúde, comissão de rede e comissão de saúde mental. Tais comissões

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são fruto das próprias legislações e também visam estimular ações intersetoriais
para que todos os equipamentos atuem de maneira conjunta, formando a rede de
proteção da criança e do adolescente em prol dos objetivos coletivos.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente texto teve como objetivo sintetizar a proposta político-pedagógica


da socioeducação, bases legais para a execução das medidas socioeducativas,
diretrizes para o trabalho na socioeducação e as práticas socioeducativas. a
proposta político-pedagógica da socioeducação transcende a lógica da adaptação
social, ou seja, não se espera que o adolescente reproduza apenas o
comportamento institucional considerado satisfatório. Nesse sentido, faz-se
necessário ter clareza do que se quer, sobre qual o caminho a ser percorrido e os
instrumentos a serem adotados para cumprir com os objetivos estabelecidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. 1990.

BRASIL. Sistema Nacional de Socioeducação. 2012.

PARANÁ. Caderno de Socioeducação: Bases Teórico-Metodológicas da


Socioeducação. Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos.
2018.

PARANÁ. Caderno de Socioeducação: Semiliberdade. Secretaria de Estado da


Justiça, Trabalho e Direitos Humanos. 2018.

PARANÁ. Caderno de Semiliberdade. Secretaria de Estado da Criança e da


Juventude. 2010.

PARANÁ. Programa de Atendimento Socioeducativo do Estado do Paraná.


Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos. 2016.

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