Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

VIVIAN SILVA DE ANDRADE

As junções do tipo Tight (ou oclusivas)

UFRJ
2023
1.1. INTRUDUÇÃO
Os organismos pluricelulares são aglomerados de células coladas umas às outras. Neles, as
células se organizam em tecidos. As células do tecido epitelial mantem coladas em que se
encontram justapostas e quase não há espaço entre elas; essas células permanecem unidas
graças a junções existentes entre elas ou entre uma célula e a lâmina basal. No outro extremo
está o tecido conjuntivo, no qual as células estão esparsamente distribuídas, havendo entre elas
uma matriz rica em polímeros fibrosos que sustenta o tecido, a matriz extracelular.
1.2. JUNÇOES CELULARES

A função dos epitélios é separar diferentes compartimentos de um mesmo organismo e regular


a passagem de diferentes substâncias entre si, através de mecanismos de transporte transcelular
assimétricos, que se dão graças à presença de bombas, canais de membrana e por transporte
paracelular em que se regula a difusão de íons e pequenas moléculas através dos espaços
intercelulares. Esta função requer que as células adjacentes sejam seladas por junções
bloqueadoras (MULLIN 2004; ALBERTS et al. 2004). As células epiteliais apresentam uma
intensa adesão mútua e para separá-las, são necessárias forças mecânicas relativamente
grandes. Essa coesão varia com o tipo epitelial, mas é especialmente desenvolvida nos epitélios
sujeitos a fortes trações e pressões, como no caso da pele. Portanto, os vários tipos de junções
celulares servem não só como locais de adesão, mas eventualmente também como vedantes
prevenindo o fluxo de materiais pelo espaço intercelular e ainda podem oferecer canais para a
comunicação entre células adjacentes (JUNQUEIRA e CARNEIRO 2008).

As junções celulares são classificadas em três grupo. Figura (5.1)

• Junções aderentes e desmossomos: são os responsáveis pela adesão mecânica das células
formam o que é conhecido como “cinturão de adesão contínuo” que serve para manter as
células vizinhas unidas através de uma família de moléculas de adesão dependente de cálcio,
as caderinas, que se unem a filamentos de actina e miosina (DENKER e NIGAM 1998).

• Junções comunicantes medeiam à comunicação entre as células permitindo a passagem de


íons e pequenas moléculas de até 1000 kDA permitindo o acoplamento metabólico e elétrico
entre as células (QU e DAHL 2002).

• Junções ocludentes funcionam como uma barreira que separa os domínios apicais e
basolaterais e possuem um papel importante na manutenção da homeostase e da polaridade dos
tecidos (DENKER e NIGAM 1998).
Figura 5.1 – Imagem esquemática ilustrando os diferentes tipos de junções celulares. A) junção
comunicante; B) junção de ancoragem; C) junção de oclusão.

1.3. JUNÇÃO OCLUVISA

Junções ocludentes, também chamadas Tight (apertadas, significado em inglês) foi descoberta
em 1960 com a sua visualização por meio da microscopia eletrônica que indicou que a junção
Tight fornece uma barreira a difusão de solutos através de transporte paracelular (TURKSEN
e TROY 2004). Quando determinadas substâncias eletrondensas (que barram a passagem do
feixe de elétrons do microscópio eletrônico) eram injetadas na superfície basal de um epitélio,
observava-se que o corante penetrava por entre as células até determinado ponto. Nessa região,
a distância entre as membranas das duas células era menor, o que poderia explicar a barreira à
passagem do corante (Figura 5.2). Quando o corante era injetado na superfície apical do
epitélio, ele descia até o mesmo ponto e também ficava retido, ou seja, as junções Tight
formavam em torno das células um cinturão que impedia o vazamento de fluidos e solutos entre
elas. É muito importante que a passagem de substâncias por entre as células seja barrada, pois
isso, a princípio, obriga praticamente todas as substâncias presentes no tubo digestivo a passar
pelo processo seletivo de permeabilidade da bicamada lipídica, ou pelas proteínas
transportadoras. Essa passagem de substâncias através das células é chamada transporte
transcelular, enquanto a passagem por entre as células tem o nome de transporte paracelular.
Figura 5.2: (a) As junções ocludentes formam um cinturão que impede a passagem de
substâncias por entre as células. Em (b) vemos duas micrografias eletrônicas mostrando que
não importa se a substância é injetada na parte apical ou na basal do epitélio, a junção ocludente
forma um cinturão que impede o seu extravasamento para o outro lado do epitélio. (Fotos:
Daniel Friend)

Quando as células puderam ser observadas pela técnica da criofratura (processo que consiste
no congelamento de células em nitrogênio líquido e na sua fratura para fins de estudo.),
observou como as junções Tight se organizavam e funcionavam. Na região onde as membranas
de duas células vizinhas se aproximavam, existem proteínas transmembrana que formam
verdadeiros labirintos em ambas, entrecruzando-se e formando uma espécie de costura entre as
duas membranas, o que impede a passagem de substâncias nesses pontos (Figura 5.)

Figura 5.2: Em (a), uma imagem da membrana de uma célula epitelial onde se veem as microvilosidades da
porção apical e as linhas formadas pelas partículas intramembranosas que selam o espaço entre duas células,
conforme esquematizado em (b)
As junções Tight formam uma barreira na membrana plasmática. As porções de membrana
(apical e basolateral) que ficam separadas por essa barreira constituem diferentes domínios da
membrana (Figura 5.3). o transporte de glicose na porção basolateral do epitélio intestinal era
feito por uniporte e na porção apical por simporte com o sódio.

Não são apenas os transportadores de glicose que tornam diferentes os dois domínios de
membrana do epitélio intestinal, outras proteínas também se distribuem de maneira diferente,
apenas a superfície apical possui microvilosidades. O fenômeno de uma célula como a epitelial
apresentar diferenças entre uma região e outra é chamado polarização tecidual, e essas células
são ditas polarizadas.

Figura 5.3: As junções de oclusão impedem o livre movimento de proteínas entre a porção apical e a basolateral
da membrana plasmática. Com isso, os transportadores de Na+-glicose ficam restritos à porção apical e o uniporte
de glicose à porção basolateral, criando dois domínios distintos na membrana desse tipo celular

1.4. PROTEÍNAS DA JUNÇÕES OCLUSIVAS

As proteínas que formam as junções de oclusão, por estarem ligadas umas às outras, formando
fileiras, e a proteínas correspondentes na membrana da célula adjacente (Figura 5.4), não
apenas se movem livremente no plano da bicamada lipídica em que se inserem como também
não permitem que proteínas inseridas na porção apical da membrana plasmática passem para a
porção basolateral da célula, e vice-versa.
Figura 5.4: As proteínas que formam a junção de oclusão formam cadeias que se ligam a cadeias semelhantes na
membrana adjacente. Isso limita a mobilidade dessas proteínas no plano da membrana e também impede que
outras proteínas ultrapassem essa barreira.

Em FURUSE et al. (1993), descobriram a primeira proteína constituinte da junção Tight, a


ocludina, após as claudinas, e as moléculas de adesão juncional – JAM. Pouco se conhece sobre
as funções das moléculas JAM

1.4.1. CLAUDINAS

As claudinas são suficientes e altamente necessárias para a formação das junções Tight e
constituem uma família de mais de 20 proteínas. A claudina-5, por exemplo, é
predominantemente expressa em junções Tight de células endoteliais. Contudo, a maioria dos
órgãos e tecidos possuem junções Tight apresentando mais de um tipo de claudinas que podem
interagir com claudinas da célula vizinha de forma homofílica (interação entre claudinas do
mesmo tipo) e algumas claudinas podem realizar adesões heterofílicas (interação entre
claudinas de tipos diferentes). Essa heterogeneidade de claudinas expressas em diferentes
tecidos é responsável pela diferença de permeabilidade e seletividade paracelular dos diferentes
órgãos e tecidos (Figura 5.6)

1.4.2. OCLUDINAS
Já as ocludinas não possuem um papel tão fundamental para a formação das junções Tight
como as claudinas. Estudos realizados até o momento classificam as ocludinas como
componentes facultativos das junções Tight, uma vez que a sua deleção ou ausência em
algumas junções Tight não interferiram nem com a formação, nem com a função da barreira.
As ocludinas são capazes de realizar somente a interação homofílica com ocludinas da célula
vizinha (Figura 5.5).
Figura 5.5: As claudinas e as ocludinas são as principais proteínas formadoras de junções de oclusão. Enquanto
duas claudinas de tipos diferentes podem se reconhecer e se ligar, apenas duas ocludinas idênticas se reconhecem

1.5. ROMPIMENTO DA BARREIRA DA JUNÇÃO OCLUSIVA


As junções Tight têm como principal papel fazer com que as células epiteliais constituam um
revestimento contínuo que limite dois ambientes. Se observar conteúdo do intestino e da bexiga
e quais as consequências para o resto do organismo se houver vazamento (transporte
paracelular) por entre as células para o interior do organismo. Entretanto, as células do epitélio
intestinal são capazes de abrir transitoriamente as suas junções oclusivas. Isso permite a rápida
absorção (via transporte paracelular) de uma grande quantidade de aminoácidos e
monossacarídeos recém-digeridos. Nesse momento, o gradiente de concentração favorece a
entrada dessas substâncias (Figura 5.6). Isso demonstra que:

1. Essa barreira é variável e fisiologicamente regulada;

2. É importante que existam proteínas de oclusão diferentes em diferentes tipos de epitélio,


pois no tecido como o epitélio da bexiga a passagem paracelular de conteúdo seria um enorme
empecilho.

Figura 5.6: Esquema das vias de transporte transcelular e paracelular. Este último, quando acontece, sempre
obedece ao gradiente de concentração das moléculas envolvidas

1.6. REFERÊNCIA
CECIERJ, F. Biologia Celular I - Vol.2 - Canal CECIERJ. Disponível em:
<https://canal.cecierj.edu.br/recurso/6593>. Acesso em: 6 jan. 2023.

SILVIA, D.; LOURENÇO, V.; PAULO, S. ESTUDO DAS PROTEÍNAS


COMPONENTES DA JUNÇÃO COMPACTA NA EVOLUÇÃO DO CARCINOMA
EPIDERMÓIDE DO LÁBIO ANDRÉA DE MORAES CARVALHO Dissertação
apresentada à Fundação Antônio Prudente para obtenção do Título de Mestre em
Ciências Área de concentração: Oncologia. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://accamargo.phlnet.com.br/MESTRADO/2012/AndreaCarvalho/AndreaCarvalho.pdf>
. Acesso em: 6 jan. 2023.

Você também pode gostar