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JUNÇÕES CELULARES

Embora as moléculas de adesão celulares sejam responsáveis pela adesão célula‑célula, as


junções celulares são necessárias para proporcionar uma estabilidade mais forte.
Além disso, os movimentos dos solutos, dos íons e da água através de uma camada epitelial
ocorrem através e entre os componentes de células individuais:
a via transcelular é controlada por inúmeros canais e transportadores, e;
a via paracelular é regulada por um contato intercelular contínuo ou por junções celulares.

Uma deficiência nas junções celulares é responsável por doenças adquiridas e hereditárias
causadas por barreiras epiteliais ineficientes.

As junções celulares, estruturas formadas entre duas células adjacentes, podem ser
classificadas como simétricas e assimétricas (3). As simétricas incluem junções de oclusão,
desmossomos em cinta (zônula aderente), desmossomos (mácula aderente) e junções gap.
Os hemidesmossomos são um tipo de junção assimétrica (célula - matriz)*.

JUNÇÕES DE OCLUSÃO - contêm ocludina e claudina, pertencentes à família de proteínas


tetraspaninas, pois quatro segmentos de cada proteína atravessam a membrana plasmática.
Um componente adicional é o complexo proteicoafadina‑nectina.
As moléculas de adesão juncionais (JAMs), as proteínas da zônula de oclusão (ZO) ZO‑1, ZO‑2
e ZO‑3 e a actina‑F são componentes proteicos adicionais. As junções de oclusão formam
uma vedação circunferencial que controla a via paracelular das moléculas.

As junções de oclusão apresentam duas principais funções:


1. Elas determinam a polaridade da célula epitelial por separar o domínio apical do domínio
basolateral e
impedir a livre difusão dos lipídios e das proteínas entre elas.
2.Elas impedem a passagem livre de substâncias através de uma camada epitelial (barreira
da via paracelular).

As membranas celulares de duas células adjacentes se juntam em intervalos regulares para


vedar o espaço intercelular apical. Estas áreas de contato íntimo continuam em volta de toda
a superfície da célula como um cinto, formando faixas de anastomoses das proteínas
transmembranares ocludina e claudina. Estas proteínas pertencem à família das
tetraspaninas e apresentam quatro domínios transmembranares, duas alças mais exteriores
e duas caudas curtas citoplasmáticas. A ocludina interage com as quatro principais proteínas
de zônulas de oclusão (ZO): ZO‑1, ZO‑2, ZO‑3 e afadina. As claudinas (do latim, claudere,
fechar), uma família de 16 proteínas que formam fibrilas lineares nas junções de oclusão,
conferem propriedade de barreira às vias paracelulares.

Uma mutação no gene que codifica a claudina 16 é a causa da rara síndrome humana de
caquexia magnésio‑renal, caracterizada por hipomagnesemia e convulsões.

Dois membros da superfamília das Igs, nectinas e moléculas de adesão juncional (JAMs),
estão presentes nas junções de oclusão. Ambas formam homodímeros (homodímeros cis) e,
em seguida, homodímeros trans ao longo do espaço intercelular. As nectinas estão
conectadas aos filamentos de actina através da proteína afadina.

A deleção direcionada do gene da afadina em camundongos resulta em letalidade


embrionária. Uma mutação no gene nectina‑1 é responsável pela fissura labial/palatina e
pela displasia ectodérmica (CLEP D1)
de pele, cabelo, unhas e dentes em humanos. Camundongos machos deficientes para
nectina‑2 são estéreis.
Junções de ancoragem
As junções de ancoragem são encontradas abaixo das junções oclusivas, geralmente perto
da superfície apical de um epitélio. Existem três classes de junções de ancoragem:

1. JUNÇÃO ADERENTE (ZÔNULA ADERENTE ou desmossomo em cinta)


2. DESMOSSOMOS PONTUAIS (mácula aderente)
3. HEMIDESMOSSOMOS

JUNÇÃO ADERENTE (ZÔNULA ADERENTE) consiste em uma placa que contém


desmoplaquina, placoglobina e placofilina. As caderinas, principalmente os dímeros de
desmogleína e desmocolina, e o complexo afadina–nectina se estendem da placa ao espaço
extracelular. O complexo catenina liga os filamentos de actina à placa. Semelhante às
junções de oclusão, o desmossomo em cinta forma uma vedação circunferencial na região
apical das células epiteliais. A zônula aderente está associada a microfilamentos de actina.
Esta associação é mediada pela interação das caderinas (desmocolinas e desmogleínas) com
as cateninas (α, β e p120)
• DESMOSSOMOS PONTUAIS (mácula aderente) é estruturalmente comparável à zônula
aderente, exceto pelo fato de que os complexos afadina–nectina e o complexo das cateninas
estão ausentes, e os filamentos intermediários (tonofilamentos), ao invés dos filamentos de
actina, estão aderidos à placa.

A mácula aderente (também denominada desmossomo) é uma junção do tipo pontual


associada a filamentos intermediários de queratina (também conhecidos como
tonofilamentos) que se estendem de um ponto ao outro nas superfícies celulares basais e
laterais das células epiteliais. Os desmossomos pontuais fornecem força e rigidez a uma
camada de células epiteliais. Eles estão também presentes nos discos intercalares ligando
cardiomiócitos adjacentes no coração e nas meninges, revestindo as superfícies externas do
cérebro e da medula espinal.
Em contraste com as junções oclusivas, as membranas de células adjacentes ligadas pela
zônula e pela mácula aderente são separadas por um espaço intercelular relativamente
grande. Este espaço é ocupado pelas porções glicosiladas das proteínas da família das
caderinas, desmogleínas e desmocolinas, ancoradas a placas citoplasmáticas contendo
desmoplaquina, placoglobina e placofilina. As placas citoplasmáticas estão ligadas à face
citosólica da membrana plasmática. A interligação de caderinas semelhantes mantém duas
células unidas por interações homofílicas ou heterofílicas dependentes de Ca2+.
Os genes humanos das caderinas desmossomais incluem quatro desmogleínas e três
desmocolinas. Suas regiões citoplasmáticas interagem com a placoglobina e a placofilina. A
desmoplaquina interage com os filamentos intermediários de queratina na epiderme, com a
desmina nos
discos intercalares e com a vimentina nas meninges. A desmogleína 1 e a desmogleína 3
mantêm a coesão da epiderme, um epitélio estratificado pavimentoso.

Os autoanticorpos para a desmogleína 1 causam a doença bolhosa (rompimento da adesão


celular) da pele denominada pênfigo foliáceo.
• A organização das células no epitélio depende do suporte fornmecido pela matriz
extracelular, sobre a qual repousa a superfície basal de cada célula . As junções de fixação
mantêm a integridade morfológica da interface epitélio-tecido conjuntivo. As duas
principais junções de fixação são:

os hemidesmossomos consistem em uma placa na membrana interna, à qual os


tonofilamentos se aderem, e uma placa na membrana externa, ligada à lâmina basal por
integrinas α6β4 e laminina 5.

Os hemidesmossomos possuem uma organização diferente, quando comparados com a


mácula aderente ou os desmossomos.

Um hemidesmossomo consiste em:


1. Uma placa citoplasmática interna associada a filamentos intermediários (também
chamados de queratina ou tonofilamentos).
2. Uma placa de membrana externa ligando o hemidesmossomo à lâmina basal por
filamentos de ancoragem (composto por laminina 5) e integrina α6β4.
Embora os hemidesmossomos se pareçam com a metade de um desmossomo, nenhum dos
componentes bioquímicos presentes nos desmossomos é encontrado nos
hemidesmossomos. Estes aumentam a estabilidade dos tecidos epiteliais no geral pela
ligação dos filamentos intermediários do citoesqueleto com os componentes da lâmina basal.
Adesões focais – fixam os filamentos de actina do citoesqueleto na membrana basal. Dessa
forma, criam uma ligação dinâmica entre a actina do citoesqueleto e as proteínas da matriz
extracelular.
As adesões focais desempenham um papel importante na sensação e transmissão de sinais
a partir do ambiente extracelular para dentro da célula.
As junções gap não são junções de ancoragem. Em vez disso, as junções gap são junções
comunicantes que conectam células adjacentes. A unidade básica de uma junção gap é o
conéxon, formado por seis moléculas de conexinas envolvendo um canal central.

JUNÇÕES COMUNICANTES OU JUNÇÕES GAP

As junções gap são junções comunicantes simétricas formadas por proteínas de membrana
integrais denominadas conexinas. Seis monômeros de conexinas associados formam o
conéxon, uma estrutura cilíndrica oca que abre um vão na membrana plasmática. O
alinhamento de duas extremidades dos conéxons em células adjacentes oferece um canal
direto de comunicação (1,5 a 2 nm de diâmetro) entre os citoplasmas das duas células
adjacentes (Fig. 1‑20). Os conéxons possuem uma tendência de agrupamento e podem
formar estruturas de cerca de 0,3 mm de diâmetro.
Essas junções facilitam o movimento de moléculas de 1,2 nm de diâmetro (p. ex., Ca2+ e
monofosfato de adenosina cíclica [AMPc]). Os canais axiais do conéxon se fecham quando a
concentração de Ca2+ está elevada. Esta junção é responsável pelo “acoplamento” entre
duas células adjacentes. Um típico exemplo são as células musculares cardíacas conectadas
por junções gap que permitem a transmissão de sinais químicos.
Mutações nas conexinas

Diversas doenças ocorrem quando os genes codificantes de conexinas estão mutados. As


mutações no gene conexina 26 (Cx26), altamente expresso nas células da cóclea, estão
associadas à surdez.
Mutações no gene da conexina 32 (Cx32) são encontradas na neuropatia desmielinizante
Charcot‑Marie‑Tooth ligada ao cromossomo X, que resulta em uma degeneração progressiva
dos nervos periféricos.
Mutações no gene conexina 50 (Cx50) estão associadas à catarata congênita, levando à
cegueira.
As células ósseas (osteoblastos/osteócitos) são conectadas por junções gap e expressam as
proteínas conexina 43 (Cx43) e conexina 45 (Cx45). Uma deleção no gene Cx43 determina
defeitos esqueléticos e retardo na mielinização.

(*) – Outros autores (2), classificam as junções em 3 grupos: 1º. estruturas cuja função principal é unir fortemente as
células umas as outras ou à matriz extracelular (desmossomos e junções aderentes); 2º. Estrutura que promove a
vedação entre as células (zônula de oclusão) e 3º. Estrutura que estabelece comunicação entre uma célula e outra
(junção comunicante, nexo ou gap).

Observe outra classificação das junções, no Quadro abaixo ( 4 )


Referências Bibliográficas

1.Carvalho, H.F. & Recco-Pimentel, S.M. – A Célula, cap. 9, pp. 145-169, 4ª. edição, Editora
Manole, Barueri/SP, 2019.

2. Junqueira, L.C. & Carneiro, J. Biologia celular e molecular, cap. 5, pp. 81-104, 9ª. edição,
Editora Guanabara Koogan/RJ, 2012.

3.Kierszenbaum, A.L. & Tres, L.L. Histologia e Biologia Celular – uma introdução à Patologia,
cap. 1, pp. 1-58, 4ª. edição, Editora Elsevier/RJ, 2016.

4.Ross, M.H. & Pawlina, W. Histologia – texto e atlas em correlação com biologia celular e
molecular – cap.5, pp.99-132, 5ª. edição, Editora Guanabara Koogan/RJ, 2008.

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