Você está na página 1de 11

Resumo – Citoesqueleto I e II (03/04/2019)

Maria Gabriela Franco de Lima


CITOESQUELETO

O citoesqueleto consiste em um sistema de filamentos proteicos, que formam


uma complexa rede no citoplasma das células. Através da sua estrutura e
funcionamento, as células possuem a capacidade de adotarem diversas formas, se
deslocarem, reorganizarem seus componentes em decorrência do seu crescimento e
divisão, enfim, interagirem com o ambiente e adaptarem-se as mudanças do mesmo. O
citoesqueleto é uma estrutura bastante dinâmica, que ajuda a sustentar o volumoso
citoplasma e está continuamente se reorganizando conforme as células necessitam
realizar seus processos.
Existem três famílias de proteínas de filamento que compõem o citoesqueleto:
filamentos de actina, microtúbulos e filamentos intermediários. Cada uma está
relacionada com as diferentes funções desempenhadas pelo citoesqueleto, porém elas
podem atuar coletivamente para dar à célula resistência, forma e capacidade de se
locomover. Os filamentos de actina por exemplo, determinam a forma da superfície da
célula, revestindo a bicamada lipídica. Eles são capazes de manter o posicionamento, o
comprimento e o diâmetro constantes ao longo de todo o tempo de vida da célula. Eles
também formam diferentes projeções dinâmicas no citoplasma permitindo a locomoção
da célula, como os lamelipódios e os filopódios. Estruturas mais estáveis permitem a
adesão da célula à substratos e a contração de células musculares. Os filamentos de
actina também podem formar estereocílios na superfície das células do ouvido interno,
que vibram em resposta ao som. Já em plantas, esses filamentos promovem a corrente
de citoplasma no interior das células.
Já os microtúbulos participam do posicionamento das organelas celulares, do
transporte intracelular e da formação do fuso mitótico, segregando os cromossomos no
momento da divisão celular. Eles também formam os cílios, que têm a função de
impulsão ou sensorial. Em células vegetais, os microtúbulos controlam o padrão de
síntese da parede celular. Por fim, os filamentos intermediários são responsáveis pela
resistência mecânica. Eles podem revestir a parte interna da carioteca, conferindo
proteção para o DNA. Já no citosol, os filamentos são responsáveis pela união das
camadas de células epiteliais e pela extensão dos longos axônios das células dos
neurônios. São os filamentos intermediários que participam da formação de apêndices
como pelos e unhas.
Os filamentos do citoesqueleto não são estruturas únicas e sim, pequenas
moléculas, ou subunidades, que se unem para formar polímeros. Dessa forma, a célula
consegue promover uma reorganização rápida dos filamentos, simplesmente pela
dissociação e reassociação dos mesmos e diferentes regiões conforme sua necessidade.
Por exemplo, os filamentos de actina e os microtúbulos são formados por subunidades
denominadas respectivamente de subunidades de actina e subunidades de tubulina. As
subunidades desses filamentos são unidas por um sistema cabeça-e-cauda de forma que
a o filamento possui comportamento e polaridade diferentes ao longo do seu
comprimento. No caso dos microtúbulos, sua estrutura consiste em 13 protofilamentos
(subunidades) que se associam lateralmente, formando um cilindro oco, já os filamentos
de actina são mais finos e estão agrupados em feixes. Além disso, esses filamentos são
capazes de hidrolisar ATP (actina) e GTP (tubulina), sendo que a energia dessa reação é
utilizada para promover sua remodelação e consequente migração ou segregação dos
cromossomos durante a divisão celular. Já os filamentos intermediários são formados
por subunidades menores deles próprios. Eles se unem formando fortes contatos lateais
entre α-hélices, que se estendem ao longo do comprimento da subunidade. Ao contrário
dos demais, eles não realizam a hidrólise de nucleotídeos, porém podem se dissociar de
forma rápida quando necessário.
O citoesqueleto também conta com a ajuda de proteínas acessórias, que se ligam
aos filamentos, determinando a distribuição espacial e a dinâmica dos filamentos através
da conversão das informações recebidas através de vias de sinalização em ações do
citoesqueleto. Através desse mecanismo e pela regulação das ligações que ocorrem
entre os filamentos e entre estes e outros componentes, a célula consegue regular o
comprimento, a estabilidade dos filamentos, a quantidade e a geometria deles. O
exemplo mais comum dessas proteínas, são as proteínas motoras. Elas se ligam a um
filamento e utilizam a energia do ATP para de deslocarem ao longo do mesmo. As
proteínas motoras podem transportar organelas como, mitocôndrias, Golgi e vesículas
secretoras. Outras proteínas podem promover a tensão ou o deslizamento dos
filamentos, gerando força necessária para processos como divisão celular, contração
muscular e batimento de cílios.

 Filamentos de actina
A actina é uma proteína muito conservada em eucariotos. A sequência de
aminoácidos de diferentes espécies possui similaridade na ordem de 90%. No caso de
vertebrados, a actina possui 3 isoformas (α, β e γ) que se diferem na sequência de alguns
aminoácidos e possuem funções distintas, devido à essa diferença, α -actinas por
exemplo estão presentes em células musculares, enquanto as outras isoformas se
encontram nas demais células.
Esses filamentos são formados quando cada subunidade se associa em um
agregado inicial, o qual será estabilizado por vários contatos entre as subunidades e em
seguida, sofrerá um crescimento rápido pela adição de novas subunidades. Esse
processo, chamado de nucleação do filamento, pode sofrer dificuldade es de se concluir
devido à instabilidade dos pequenos agregados iniciais, o que leva à um retardo na
formação de novos filamentos. No entanto, quando alguns agregados conseguem fazer a
transição para um estado mais estável ocorre o alongamento rápido do filamento e as
subunidades são adicionadas às extremidades dos filamentos nucleados. As subunidades
que formam os filamentos de actina são assimétricas e devido à sua orientação
uniforme, as extremidades de cada polímero são diferentes entre si, resultando em
diferentes taxas de crescimento em cada extremidade do filamento. Isso se torna
bastante útil, por exemplo, quando uma célula com capacidade de movimento consegue
empurrar sua membrana para uma direção orientando uma das extremidades de rápido
crescimento.
Cada subunidade de actina está ligada à uma molécula de ATP ou ADP. Logo
após a hidrólise do ATP, o fosfato é liberado da subunidade, contudo o ADP permanece
ligado na estrutura. Dessa forma, dois tipos de estruturas de filamentos podem existir,
uma sobre a forma T (ligada ao ATP) e outra sob a forma D (ligada ao ADP). Em
células vivas, a maioria das subunidades se encontra sob a forma T, uma vez que o ATP
está em maior concentração na célula que o ADP. O fenômeno do rolamento do
filamento de actina é possível devido à hidrólise da molécula de ATP: as subunidades
ligadas ao ATP sofrem polimerização em ambas as extremidades do filamento e em
seguida passam por hidrólise de nucleotídeos dentro do filamento. Conforme o
crescimento do mesmo, o alongamento é mais rápido que a hidrólise em uma das
extremidades, portanto, nesta, as subunidades estão sempre sobre forma T. No entanto,
na outra extremidade, o a hidrólise é mais rápida que o alongamento, de modo que as
subunidades terminais estão sempre sob a forma D. O filamento sofre então uma adição
de subunidades em uma extremidade, enquanto simultaneamente perde subunidades na
outra, levando-o a essa propriedade característica do filamento denominada rolamento.
Os filamentos de actina podem ter suas funções inibidas por compostos, que
podem tanto estabilizá-los, quanto desestabilizá-los. Substâncias como citocalasinas e
latrunculinas podem impedir a polimerização da actina, enquanto outras como
faloidinas podem evitar sua despolimerização. Todos esses compostos são tóxicos para
as células, uma vez que causam mudanças no funcionamento do citoesqueleto. Contudo,
a própria célula possui mecanismos próprios para a regulação do comportamento da
actina. Proteínas acessórias podem se ligar à actina, alterando a dinâmica e a
organização dos filamentos por meio do controle da polimerização, da nucleação, do
alongamento e da despolimerização.
As proteínas acessórias podem alterar a polimerização através do controle da
disponibilidade de monômeros para a montagem do filamento. A timosina, por exemplo
é uma proteína que se liga aos monômeros de actina, impossibilitando sua
polimerização. Já outra proteína, a profilina consegue se ligar ao monômero e bloquear
a lateral que se ligaria à uma extremidade, ao mesmo tempo que deixa a outra lateral
livre. Logo que o monômero se liga à uma extremidade do filamento, ele se solta da
profilina e o filamento se torna mais longo. Esse mecanismo possibilita a polimerização
localizada da actina, provocando a extensão de estruturas de locomoção em uma
direção.
O controle da nucleação pelas proteínas acessórias é também uma maneira de
influenciar na polimerização dos filamentos de actina. Isso acontece quando proteínas
ligadas a monômeros de actina medeiam os mecanismos de nucleação do filamento
através da aproximação de várias subunidades para formar um ponto de nucleação. A
nucleação pode ser controlada por dois tipos de fatores, o complexo Arp 2/3 ou pelas
forminas. O primeiro da origem a filamentos ramificados e as forminas foram o
crescimento de filamentos não ramificados.
Outro grupo de proteínas, as chamadas proteínas de ligação, também podem ter
influência na dinâmica dos filamentos de actina. Elas podem se ligar lateralmente à ao
filamento ou às extremidades do mesmo: a tropomiosina, por exemplo pode se ligar à
lateral do filamento, enrijecendo-o e impedindo o filamento de interagir com outras
proteínas. Já a tropomodulina, pode se ligar à extremidade do filamento, regulando seu
comprimento e estabilidade.
Um mecanismo que também pode atuar na regulação da despolimerização dos
filamentos, são aqueles promovidos pelas proteínas de clivagem, como por exemplo
proteínas da superfamília gelsolina e a cofilina. Elas são capazes de clivar um filamento
de actina em outros menores, criando uma grande quantidade de novas extremidades de
filamento. A clivagem pode gerar fragmentos que podem sofrer nucleação ou pode
também resultar na despolimerização do filamento.
Os diferentes arranjos dos filamentos de actina (redes dendríticas, feixes e teias)
dependem das proteínas acessórias e podem influenciar a forma como as células
executam suas funções mecânicas, por exemplo: feixes contráteis, que formam as fibras
de tração, exercem tensão. Já as chamadas redes dendríticas, que formam o córtex de
actina, permitem a protrusão da membrana e as projeções finas ou filopódios, formam
um feixe compacto, permitindo a célula, explorar seu ambiente.
O esqueleto de actina tem como característica fundamental sua associação com a
proteína motora miosina. Além de outras funções, esses arranjos de actina e miosina
desempenham papel importante na contração muscular. A miosina é composta com duas
cadeias pesadas (cada uma com um domínio globular, ou cabeça em sua extremidade N-
terminal que contém a maquinaria geradora de força) e duas cadeias leves (ligam-se ao
próximo domínio globular N-terminal). A cauda supertorcida formará feixes através da
ligação às caudas de outras moléculas de miosina. As interações são cauda-cauda. Cada
cabeça de miosina se liga a ATP e é capaz de hidrolisá-lo, usando a energia para se
deslocar pelo filamento de actina, contraindo o músculo. O mecanismo de contração
muscular se dá por um ciclo mecanoquímico no qual alterações conformacionais da
miosina se combinam com alterações na sua afinidade pela actina, permitindo que a
cabeça de miosina seja liberada do ponto de adesão à actina e a seguir, novamente
ligada em outro ponto. O ciclo completo envolve: ligação do nucleotídeo, hidrólise e
liberação do fosfato (provocando o movimento de um único passo).
Em células da musculatura, seu citoplasma é constituído por miofibrilas
(elementos contráteis), que consistem em uma longa cadeia de unidades contráteis
pequenas e repetitivas, chamadas de sarcômeros. Cada sarcômero é composto por um
arranjo em paralelo de filamentos delgados (actina e proteínas associadas) e filamentos
espessos (isoformas de miosina). O encurtamento do sarcômero é provocado pelo
deslizamento de miosina sobre os filamentos delgados de actina. Além do mecanismo
entre as duas proteínas, a contração muscular depende e, ocorre somente quando um
sinal é recebido pelo músculo proveniente do nervo que o estimula. O sinal do nervo
desencadeia um potencial de ação na membrana da célula muscular, que chega ao
retículo sarcoplasmático fazendo com que este libere Ca 2+ no citosol, dando início à
contração de cada miofibrila ao mesmo tempo. O Ca2+ é rapidamente bombeado de
volta ao retículo por uma bomba de Ca2+ dependente de ATP, permitindo o relaxamento
das miofibrilas. Além disso, proteínas acessórias cromo a troponina e a tropomiosina
podem ter controle sobre a contração muscular impedindo que os filamentos de actina e
miosina deslizem.
O mecanismo de contração descrito acima acontece em células da musculatura
esquelética. Para a musculatura lisa, os mecanismos podem se diferir em alguns
aspectos. Na musculatura lisa a contração também é provocada pelo influxo de íons
Ca2+, mas a regulação é feita pela calmodulina. Ela é capaz de se ligar ao Ca2+ ativando
a cinase da cadeia leve da miosina, induzindo a fosforilação de uma das duas cadeias
leves da mesma. Quando ela é fosforilada, a sua cabeça pode interagir com os
filamentos de actina provocando a contração.
Apesar de sua fundamental importância na contração muscular, a actina e a
miosina também desempenham funções em outros tipos de células. Essas células
possuem feixes de actina contráteis são regulados pela fosforilação da miosina e não
pela troponina. Esses feixes podem ter função de suporte mecânico para a conexão de
células à matriz extracelular e de células adjacentes. Também podem participar da
citocinese ao final da divisão celular e do movimento de migração das células. As
células não musculares também podem expressar outros tipos de miosina, que podem
atuar na organização intracelular, endocitose e como microvilosidades, também podem
participar dos processos de transporte de organelas ao longo dos filamentos de actina e
na formação de brotamentos.

 Microtúbulos

A estrutura dos microtúbulos é mais complexa do que a dos filamentos de actina.


Eles são formados da proteína tubulina, que por sua vez é composta por duas proteínas
globulares (α e β-tubulina) que possuem, cada uma, um sítio para ligação de GTP. A α-
tubulina não hidrolisa o GTP ao contrário da β-tubulina. Estruturalmente, o microtúbulo
é um cilindro oco, construído por 13 protofilamentos paralelos, cada um composto por
heterodímeros de αβ-tubulina empilhados cabeça à cauda, enovelados em forma de
tubo.
O funcionamento dos microtúbulos, é influenciado diretamente pela ligação e
hidrólise do GTP na β-tubulina. Após a hidrólise e liberação do fosfato, o GDP fica
ligado à β-tubulina, de forma que podem existir duas formas dessa molécula a β-
tubulina “T” e a β-tubulina “D”, dependendo do nucleotídeo ligado a elas. A energia da
hidrólise causa uma deformação elástica no polímero.
Assim como os filamentos de actina, os microtúbulos também podem ter sua
ação influenciada por compostos químicos, prejudicando a sua polimerização ou
despolimerização. Substâncias como a colchicina e o nocodazol podem levar à
despolimerização dos microtúbulos, enquanto paclitaxel se liga aos mesmos,
estabilizando-os e aumentando a polimerização. Esse efeito sobre a organização dos
microtúbulos podem matar a célula em divisão, visto que eles possuem uma importância
fundamental no processo de divisão celular, onde participam da formação do fuso
mitótico. Eles podem inclusive ser utilizados para a destruição de células tumorais,
contudo apresentam uma certa toxicidade.
A função mais conhecida dos microtúbulos é a relacionada à sua participação na
divisão celular. Em células animais, por exemplo, os microtúbulos são nucleados a
partir de um centro organizador dos microtúbulos chamado de centrossomo, localizado
próximo ao núcleo. Imersos no centrossomo, encontram-se dois centríolos, que formam
um par de estruturas cilíndricas dispostas em ângulos retos, em forma de L. O centríolo
é um arranjo cilíndrico de microtúbulos dispostos em forma de barril que juntamente
com proteínas acessórias organizam a nucleação dos microtúbulos. Antes da mitose, os
centrossomos se duplicam e no início da mitose se movem para os lados opostos do
núcleo, originando os dois polos do fuso mitótico.
A dinâmica dos microtúbulos é regulada por uma grande quantidade de
proteínas, que podem se ligar tanto aos dímeros de tubulina quanto aos microtúbulos.
As proteínas que se ligam diretamente aos microtúbulos (MAPs: microtubule-associated
proteins) podem estabilizá-los, evitando sua dissociação ou também mediar a sua
interação com outros componentes celulares. Essas proteínas também podem
influenciar a velocidade e/ou a taxa na qual um microtúbulo muda de estado de
crescimento para um estado de encurtamento. Podemos citar como exemplos, as
proteínas da família da cinesina que conseguem forçar uma separação dos
protofilamentos e impedir que um microtúbulo adquira o formato curvado
característico; as proteínas XMAP215, que promovem a polimerização dos
microtúbulos e combatem a atividade das cinesinas. A atividade da XMAP2015 é
inibida durante a mitose, o que aumenta a instabilidade dinâmica de microtúbulos,
essencial para a polimerização eficiente do fuso mitótico. Outras proteínas controlam o
posicionamento dos microtúbulos e ajudam a capturar e estabilizar extremidades em
crescimento do microtúbulo em alvos específicos como cinetócoros de cromossomos
mitóticos.
Os microtúbulos também podem ser desestabilizados por proteínas. Uma
molécula como a estamina liga-se a dois heterodímeros de tubulina e impede sua adição
às extremidades dos microtúbulos, diminuindo a concentração de subunidades de
tubulina disponíveis para a polimerização. A estamina consegue se ligar à tubulina
quando não está fosforilada, caso contrário sua ligação é inibida. Dessa forma, essa
proteína está relacionada tanto à proliferação, quanto à morte celular. Outra proteína que
pode desestabilizar os microtúbulos, são as cataninas. Essas proteínas conseguem
realizar a fissão dos mesmos, contribuindo para sua rápida despolimerização durante a
mitose.
Assim como os filamentos de actina, os microtúbulos também se associam à
proteínas motoras para o transporte de carga além de outras funções. Existem duas
classes principais de proteínas motoras: cinesinas e dineínas. As proteínas da família das
cinesinas são capazes de carregar organelas delimitadas por membrana (movimento
rápido de mitocôndrias, precursores de vesículas secretoras e diversos componentes
sinápticos) e participam na formação do fuso mitótico e na segregação dos
cromossomos durante a divisão celular. Já as dineínas são usadas para o transporte de
organelas e de mRNA, para o posicionamento do núcleo e do centrossomo durante a
migração celular e par a construção do fuso de microtúbulos durante a divisão celular.
Além da grande importância na divisão celular, os microtúbulos, organizados em
feixes, também compõem os cílios e flagelos, estruturas motrizes eficientes que também
apresentam dineína na sua composição. Os flagelos, podem ser encontrados em
espermatozoides e em protozoários e através de um movimento ondulatório permitem o
deslocamento da célula em meios líquidos. Já os cílios, presentes em protozoários como
o Paramecium e também no corpo humano, revestindo o trato respiratório e o oviduto,
organizam-se de forma semelhante aos flagelos, mas se movem por um movimento
semelhantes ao de um chicote. Esse movimento pode tanto propelir uma célula única
por um fluido, quanto movimentar fluidos sobre a superfície de um grupo de células de
um tecido. O movimento de ambas as estruturas é produzido pela flexão da sua porção
central, o axonema. A flexão do axonema acontece quando eles são expostos à ação da
enzima tripsina e a ligação que mantem os pares de microtúbulos que os formam são
rompidas. Nesse caso, a adição de ATP permite que a ação motora da dineína provoque
o deslizamento de um par de microtúbulos sobre o outro. Já em axonemas intactos
(como em espermatozoides) o deslizamento dos pares de microtúbulos é impedido por
ligações proteicas flexíveis e a ação motora causará um movimento de flexão, criando
ondas ou batimentos.

 Filamentos intermediários

Esses filamentos estão presentes apenas em alguns metazoários, como


vertebrados, nematódeos e moluscos, especialmente em células sujeitas a sofrerem
algum tipo de estresse mecânico, principalmente em animais que não possuem esqueleto
rígido como os de artrópodes e equinodermos.
Estruturalmente, os filamentos intermediários são proteínas alongadas com um
domínio de α-hélice central. Diferentemente da actina e da tubulina, as subunidades dos
filamentos intermediários não possuem sítio de ligação para nucleotídeo e além disso
suas extremidades são idênticas, uma vez que a subunidade é composta por dois
dímeros apontando em direções opostas, ou seja, o filamento não é polarizado como os
demais elementos dos citoesqueletos descritos anteriormente.
Os filamentos intermediários têm como função principal, conferir estabilidade
mecânica às células animais. Podemos citar como exemplo, a família mais diversificada
dessas estruturas: a das queratinas. Os filamentos de queratina conferem resistência
mecânica a tecidos epiteliais através da ancoragem dos filamentos intermediários em
regiões de contato célula-célula (desmossomos) ou célula-matriz (hemidesmossomos).
A queratina também conta com proteínas acessórias como a filagrina para agrupar em
feixes os seus filamentos em células em diferenciação da epiderme e conferir às
camadas mais externas da pela sua resistência característica. Mutações nos genes
relacionados à queratina e à filagrina podem levar a doenças de pele, como eczema e
epidermólise bulhosa.
Outra família de filamentos intermediários, conhecidos como neurofilamentos
podem ser encontrados nos axônios de vertebrados. Existem três tipos de proteínas do
neurofilamento (NF-L, NF-M e NF-H) que podem se agrupar, formando
heteropolímeros. A montagem anormal desses filamentos nos axônios pode levar a
doenças como a esclerose lateral amiotrófica (ELA), pois há uma alteração no
transporte axonal normal. Existem membros de outras famílias de filamentos
intermediários, como a desmina, que quando sofre mutações podem levar à distrofia
muscular e miopatia cardíaca em seres humanos.
Os filamentos intermediários também contam com uma proteína, a plectina que
consegue uni-los em feixes além de provocar sua ligação aos microtúbulos, filamentos
de actina, miosina e também a complexos de proteínas que conectam o citoesqueleto ao
interior do núcleo. Essa ligação serve para acoplar o núcleo ao citoesqueleto de forma
mecânica e está envolvida com diversos mecanismos celulares, como movimentos dos
cromossomos no interior do núcleo na meiose, posicionamento nuclear e do
centrossomo, migração nuclear e organização citoesquelética global. A plectina é
necessária para conferir à célula a resistência de que ela necessita para enfrentar o
estresse mecânico inerente à vida de um vertebrado.

 Polarização e migração celular

A migração celular resulta da aplicação coordenada dos componentes e


processos celulares descritos acima, como a associação e dissociação dos polímeros do
citoesqueleto, regulação e modificação das suas estruturas por proteínas acessórias e
ação das proteínas motoras sobre os polímeros quando ocorre o deslocamento ou
execução de tensão. O movimento celular consiste de células se arrastando sobre
superfícies sem utilizar os elementos locomotores já descritos como cílios e flagelos.
Temos como exemplos, as amebas, que se rastejam continuamente em busca de comida,
células se locomovendo durante a embriogênese para regiões-alvo específicas, células
de animais adultos como macrófagos e neutrófilos que se encaminham para regiões de
infecção englobando invasores, osteoclastos e osteoblastos e fibroblastos, executando a
remodelagem óssea e do tecido conectivo, respectivamente, etc. A migração das células
pode inclusive ser prejudicial, como em células cancerosas que podem invadir tecidos
vizinhos, penetrar nos vasos sanguíneos ou linfáticos, formando metástases.
O fenômeno da migração celular depende de três atividades distintas: a protrusão
(quando à membrana plasmática é empurrada para a frente), ligação (quando o
citoesqueleto de actina liga-se através da membrana plasmática ao substrato) e a tração
(quando o citoplasma como um todo é puxado e impulsionado para frente). Essas
atividades podem ocorrer de modo simultâneo ou independentemente umas das outras.
A primeira etapa geralmente ocorre quando a borda interior se apoia em forças
geradas pela polimerização da actina, impulsionando o citoplasma para frente. As
estruturas protrusivas podem ser filopódios, lamelipódios ou invadopódios, que podem
ser uni, bi e tridimensionais, respectivamente. Os filopódios são os mais dinâmicos, os
lamelipódios geralmente estão organizados em um plano paralelo ao substrato. Já os
invadopódios são importantes para as células atravessarem barreiras teciduais, como em
células cancerosas metastáticas. As células possuem ainda uma outra forma de protrusão
da membrana, a formação de bolhas (blebbing) que se formam quando a membrana se
destaca localmente do córtex de actina subjacente, permitindo um fluxo citoplasmático
que empurra a membrana para o exterior.
Para que a célula avance, a protrusão da membrana (borda anterior) deve ser
seguida pela adesão ao substrato a sua frente. Já para que a célula proceda é necessário
que em seguida, deve ocorrer a liberação da parte posterior da mesma. Dessa forma,
todos os processos que levam à migração devem ser coordenados, a polimerização da
actina, a adesões e a contração da miosina são empregadas nessa coordenação. As
células em migração também exercem uma força de tração que provocam um impulso
significativo sobre o substrato.
Além dos movimentos coordenados, a migração celular também requer que as
extremidades das células estejam em sincronia em termos de comunicação e
coordenação. É necessário que a extremidade anterior esteja funcional e estruturalmente
distinta da posterior. Nesse sentido, o citoesqueleto é responsável pela coordenação da
morfologia celular, sua organização e por propriedades mecânicas das células. Essa
coordenação se caracteriza pelo estabelecimento de polarização na célula, através da
construção de estruturas com componentes moleculares diferente. Dessa forma, para
que a locomoção seja iniciada ou terminada é necessária uma polarização celular inicial.
A polarização também se mostra importante nos processos de divisão celular orientada
em tecidos e na formação de estruturas multicelulares devidamente organizadas.
A migração celular pode ser influenciada por sinais externos, movimento
conhecido como quimiotaxia. O sinal pode determinar a polaridade da célula e
influenciar na organização do aparato responsável pela motilidade celular. Temos como
exemplo desse movimento, o que acontece nas células de defesa chamadas neutrófilos,
que se movem em direção à uma fonte bacteriana. As proteínas receptoras dos
neutrófilos são capazes de detectar concentrações muito baixas de compostos derivados
de proteínas bacterianas e assim os neutrófilos são guiados em direção aos alvos.

Você também pode gostar