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FERNANDA MOUSSE PINTO

A INVENÇÃO DA CIDADE NOVA DO RIO DE JANEIRO:

agentes, personagens e planos.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-


Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e
Regional.

Orientadora: Prof. Dra. Fania Fridman


Doutora em Economia Política

Rio de Janeiro
2007
FERNANDA MOUSSE PINTO

A INVENÇÃO DA CIDADE NOVA DO RIO DE JANEIRO:


agentes, personagens e planos.

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e


Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional.

Aprovado em:

______________________________________________

Prof. Dra. Fania Fridman – Orientadora


Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ

______________________________________________

Prof. Dra. Lilian Fessler Vaz


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UFRJ

______________________________________________

Prof. Dra. Vera Lucia Ferreira Motta Rezende


Escola de Arquitetura e Urbanismo - UFF
FICHA CATALOGRÁFICA

P659i Pinto, Fernanda Mousse.


A invenção da Cidade Nova do Rio de Janeiro : agentes,
personagens e planos / Fernanda Mousse Pinto. – 2007.
296 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientador: Fania Fridman.


Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional, 2007.
Bibliografia: f. 205-216.

1. Cidades e vilas – História – Rio de Janeiro (RJ). 2.


Planejamento urbano – Rio de Janeiro (RJ) – Séc. XIX.
3. Rio de Janeiro (RJ) – História. 4. Cidade Nova (Rio de
Janeiro, RJ) – História. I. Fridman, Fania. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional. III. Título.

CDD: 711.4098153
AGRADECIMENTOS

À Fania Fridman pelo incentivo e pela orientação tão cautelosa e dedicada. Pelos
momentos de aprendizado e trocas de idéias relativas à temática do trabalho.

À Alline Torres e Marília Borges pela força e amizade, e pelas sugestões para o
enriquecimento dessa dissertação.

Aos meus colegas da turma 2005 do mestrado do IPPUR, solidários e amigos desde o
início.

À Biblioteca do IPPUR pela competência e pela ajuda nos momentos de pesquisa.

À equipe da seção de documentação escrita (manuscritos) do Arquivo Geral da Cidade


do Rio de Janeiro pelo atendimento às solicitações.

À minha irmã Simone pelas revisões atentas de todos os meus textos, e pelo incentivo
à realização do mestrado.

Aos meus queridos pais João e Lena pelo apoio constante e pela força nos momentos
difíceis deste percurso. Pela pronta contribuição na minha pesquisa de campo e pela paciência
durante as leituras dos meus textos. Pelo eterno amor e carinho a que sempre dedicaram a
mim.

À minha madrinha Lula pelo carinho e apoio permanente.

Ao Junior pela compreensão durante os meus momentos de cansaço e desânimo. Pelas


palavras amigas e carinhosas que me impulsionavam ao trabalho. Por seu amor.
RESUMO

A invenção da Cidade Nova do Rio de Janeiro: agentes, personagens e planos


representa uma reflexão acerca da origem e dos processos que contribuíram para a
consolidação de uma nova estrutura urbana baseada no movimento de expansão em direção ao
oeste da capital carioca, durante parte do século XIX. A pesquisa engloba a transição do
período colonial para o governo imperial brasileiro, estendendo-se pelo Segundo-Reinado até
1875. O objetivo é demonstrar, teórica e empiricamente, por meio da análise da estrutura
fundiária, em que contexto a Cidade Nova foi idealizada e delineada e quais as relações entre
os agentes modeladores do seu espaço e as personagens envolvidas no processo de construção
de marcos e símbolos de poder e da sua própria identidade.
Ressalte-se que durante os primeiros anos do século XIX, a implementação de uma
política urbanizadora orientada pelo governo português no Brasil foi fator decisivo para a
criação da Cidade Nova, em contraposição ao centro colonial, a cidade velha. Tinha início a
busca pela europeização dos hábitos, costumes e padrões urbanos do Rio de Janeiro, naquele
momento, considerado a capital portuguesa na América. Aliadas a essa política, as concepções
da Missão Artística Francesa despontaram como uma nova ordem urbana, um Urbanismo
Imperial levado a cabo por dom Pedro I, a partir dos anos 20, destacando as funções de
centralidade e interlocução do Campo de Santana com as novas áreas de expansão.
A partir de 1850, as mudanças políticas, sociais e econômicas da capital acabaram
refletindo no seu espaço urbano e transformaram sensivelmente a situação fundiária da Cidade
Nova. O Urbanismo Imperial deu lugar às preocupações ligadas à saúde pública, aos
problemas sanitários e de infra-estrutura, bem como à questão habitacional. Naquela época,
teve impulso o deslocamento da aristocracia para zonas dotadas de melhor infra-estrutura e a
área passou a ser ocupada por camadas menos abastadas da sociedade. Surgiu uma nova
dinâmica fundiária marcada pelo crescimento de moradias populares e insalubres, que se
tornaram o alvo das ações do governo a partir das últimas décadas do século XIX.
Portanto, o trabalho busca contribuir para o entendimento dos elementos que
direcionaram a construção da Cidade Nova como o espaço aristocrático e de expressão do
poder imperial, no início do século XIX, e daqueles que agiram direta ou indiretamente para a
transformação do seu tecido urbano, contribuindo para um rápido processo de decadência e
desvalorização dentro da dinâmica de desenvolvimento do Rio de Janeiro a partir dos anos 50.
Palavras-chave: estrutura fundiária / expansão urbana / ocupação
ABSTRACT

The Cidade Nova of Rio de Janeiro invention: agents,characters and plans represents
a thought concerning the origin and the processes that had contributed to consolidation of a
new urban structure based on an expansion movement to the west of the carioca capital,
during part of 19th century. The research includes the transition of the colonial period to the
brazilian imperial government, spreading through Second-Reign up to 1875. The objective is
to demonstrate, theoretic and empirically, through the analysis of the agrarian structures, in
which context Cidade Nova was idealized and delineated and which are the relations between
the modeller agents of its space and the characters envolved in the construction process of
marks and power symbols and of its own identity.
It’s important to say that during the first years 19th century, the implementation of an
urban politic directed by the portuguese government in Brazil was decisive to the creation of
Cidade Nova, in contraposition to the colonial center known as old city. It had begun the
search of the transformation of the habits, customs and urban standards of Rio de Janeiro to
european ways. Combined to this politic, the French Artistic Mission conceptions appeared as
a new urban order, an Imperial Urbanism accomplished by dom Pedro I, of 20th decade,
standing out the Campo de Santana centralism and interlocution functions with the new
expansion areas.
From 1850, the political, social and economic changes of the capital reflected on its
urban space and had significantly transformed the agrarian situation of Cidade Nova. The
Imperial Urbanism gave place to the public health concerns, sanitary and infrastructural
problems, as well as the habitational question. At that time, the displacement of the
aristocracy to zones endowed with better infrastructure had impulse and the area had being
occupied by less supplied strata of society. Appeared a new agrarian dynamics marked by the
growth of popular and unhealthy housings, that had become the target of the governmental
actions from the last decades of 19th century.
Therefore, the work wants to contribute to the understanding of the elements that had
directed the Cidade Nova`s construction as an aristocratic space and as the expression of the
imperial power, at the beginning of 19th century, and of those who acted directly and
indirectly to the transformation of its urban tissue, contributing for a fast decadence and
depreciation process inside the dynamic of Rio de Janeiro development from the 50th decade.
Key-words: agrarian structures / urban expansion / occupancy
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Lista de mapas

Mapa 01 – Distribuição de sesmarias no Rio de Janeiro ..................................................................... 41

Mapa 02 – O Rio de Janeiro e as propriedades religiosas: 1651-1750 ................................................ 45

Mapa 03 – Ordens religiosas, irmandades e confrarias entre os séculos XVII e XVIII ...................... 48

Mapa 04 – Ordens religiosas, irmandades e confrarias entre os séculos XVIII e XIX ....................... 49

Mapa 05 – O Rio de Janeiro e o projeto da muralha em 1769 ............................................................ 62

Mapa 06 – Os espaços públicos do Rio de Janeiro em meados do século XVIII ............................... 63

Mapa 07 – Os espaços públicos do Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX ..................... 76

Mapa 08 – Os primeiros logradouros abertos no mangue – início do século XIX ............................. 82

Mapa 09 – Grandes propriedades no entorno do Campo de Santana durante o séc. XVIII ............... 88

Mapa 10 – Caminho de Mata-porcos no final do século XVIII ......................................................... 97

Mapa 11 – Logradouros na segunda década do século XIX .............................................................. 99

Mapa 12 – Logradouros na década de 30 do século XIX .................................................................. 100

Mapa 13 – Logradouros na década de 50 do século XIX .................................................................. 102

Mapa 14 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 10 – séc. XIX ............. 122

Mapa 15 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 20 – séc. XIX ............. 125

Mapa 16 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 30 – séc. XIX ............ 128
Mapa 17 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 40 – séc. XIX ............ 133

Mapa 18 – As propriedades do antigo rossio no mangue da Cidade Nova – início do séc. XIX ..... 134

Mapa 19 – Propostas do Relatório de Beaurepaire Rohan para o Rio de Janeiro – 1843 ................. 142

Mapa 20 – Malha viária da Cidade Nova na década de 60 – século XIX ........................................ 152

Mapa 21 – Malha viária da Cidade Nova na década de 70 – século XIX ........................................ 153

Mapa 22 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 50 – séc. XIX ............ 167

Mapa 23 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 60 – séc. XIX ............ 173

Mapa 24 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 70 – séc. XIX ............ 179

Mapa 25 – Tipos habitacionais da Cidade Nova na década de 70 – séc. XIX .................................. 185

Mapa 26 – Diferentes usos na Cidade Nova na década de 70 – séc. XIX ......................................... 186

Mapa 27 – Esquema da Comissão de Melhoramentos para a Cidade Nova e áreas adjacentes ........ 197

Mapa 28 – Propostas da Comissão de Melhoramentos para o Rio de Janeiro – 1875 ...................... 197

Lista de esquemas

Esquema 01 – Edificações representativas no entorno do Campo de Santana – século XIX .......... 112

Esquema 02 – Centralidade do Campo de Santana .......................................................................... 113

Esquema 03 – Localização da Chácara da Lagoa da Sentinela no início do século XIX ................. 119
Lista de gráficos

Gráfico 01 – População livre no Município da Corte ....................................................................... 145

Gráfico 02 – População escrava no Município da Corte .................................................................. 145

Gráfico 03 – População total no Município da Corte ....................................................................... 145

Gráfico 04 – População no Município da Corte por nacionalidade ................................................. 145

Gráfico 05 – População distribuída pelas freguesias urbanas – Arrolamento de 1838 .................... 155

Gráfico 06 – População distribuída pelas freguesias urbanas – Arrolamento de 1849 .................... 156

Gráfico 07 – População distribuída pelas freguesias urbanas – Arrolamento de 1856 .................... 156

Gráfico 08 – Quantidade de cortiços nas freguesias urbanas – década de 70 do século XIX .......... 161

Gráfico 09 – Porcentagem de operários nas freguesias urbanas em 1872 ........................................ 189

Lista de figuras – fotografias e desenhos

Figura 01 – Sobrado patriarcal semi-urbano – 2º metade do século XIX .......................................... 71

Figura 02 – Sobrado patriarcal semi-urbano – 2º metade do século XIX .......................................... 71

Figura 03 – Solar do barão de Cotegipe, no Flamengo – Rio de Janeiro. Final do século XIX ........ 71

Figura 04 – Palácio Itamaraty e sobrados vizinhos – Rio de Janeiro, 1894 ...................................... 71

Figura 05 – Ponte dos Marinheiros em 1818 ..................................................................................... 81

Figura 06 – Igreja no Campo de Santana. Início do século XIX ...................................................... 109

Figura 07 – Quartel no Campo de Santana. Início do século XIX .................................................... 109

Figura 08 – Arena no Campo de Santana: comemoração do casamento de dom Pedro – 1818 ....... 110
Figura 09 – Aclamação de dom Pedro I: Campo de Santana – 1822 ................................................ 110

Figura 10 – Quartel no Campo de Santana. Segunda metade do século XIX .................................. 111

Figura 11 – Edifício do Senado do Império. Primeira metade do século XIX.................................. 111

Figura 12 – O Campo de Santana e o desenvolvimento da Cidade Nova a sua esquerda – 1840 ... 136

Figura 13 – Carro parisiense da segunda metade do séc. XIX. Modelo idêntico foi usado no RJ ... 148

Figura 14 – Inauguração da Estrada de Ferro Dom Pedro II com a presença do imperador–1858 .. 150

Figura 15 – Companhia de Iluminação a Gás do barão de Mauá – 1854 ......................................... 163

Figura 16 – Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II – meados do século XIX .............. 180

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Fábricas na freguesia de Santana - 1852 ....................................................................... 188

Tabela 02 – Pontos de comércio na freguesia de Santana – 1852 .................................................... 188

Tabela 03 – Cortiços, quartos e habitantes no Rio de Janeiro – 1868 .............................................. 191

Tabela 04 – Profissões em Santana – 1870 ....................................................................................... 191


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14

1. CAPÍTULO 1: A QUESTÃO FUNDIÁRIA .................................................... 22

1.1. O PROBLEMA FUNDIÁRIO ............................................................................. 22

1.2. O SISTEMA DE SESMARIAS ........................................................................... 22

1.3. O PATRIMÔNIO RELIGIOSO ........................................................................... 26

1.4. O PATRIMÔNIO PÚBLICO ............................................................................... 28

1.5. O SÉCULO XIX E A RELAÇÃO DO PODER PÚBLICO


COM O URBANO .............................................................................................. 29

1.5.1. A Lei de Terras .................................................................................................. 31

1.6. A CIDADE DO RIO DE JANEIRO ..................................................................... 34

1.6.1. Antecedentes da situação fundiária carioca .................................................... 35

1.6.2. Os principais senhores do domínio útil do território carioca ........................ 44

2. CAPÍTULO 2: O PÚBLICO E O PRIVADO .................................................. 50

2.1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 50

2.2. AS PROPRIEDADES URBANAS: AS ORIGENS DO PÚBLICO


NA CIDADE ........................................................................................................ 51

2.2.1 As cidades medievais portuguesas .................................................................... 52

2.2.2 Os logradouros públicos .................................................................................... 55

2.3. UM RESGATE DO PERÍODO COLONIAL A PARTIR


DOS SETECENTOS ............................................................................................ 57

2.3.1 Conjuntura econômica, política e social .......................................................... 57

2.3.2 O público e o privado na capital da colônia .................................................... 59

2.3.2.1 Usos e funções dos espaços públicos ................................................................. 61


2.4. O SÉCULO XIX A PARTIR DO APORTE DA CORTE
NO RIO DE JANEIRO .......................................................................................... 65

2.4.1 Conjuntura econômica, política e social ........................................................... 65

2.4.2 O público e o privado na Corte ......................................................................... 69

2.4.2.1 A politização dos espaços públicos .................................................................... 72

3. CAPÍTULO 3: A GÊNESE DA CIDADE NOVA ............................................ 78

3.1 UM BREVE RELATO DOS MOVIMENTOS DE EXPANSÃO


URBANA DO RIO DE JANEIRO ATÉ O INÍCIO DO
SÉCULO XIX: TRAÇADO URBANO E QUESTÃO DA TERRA .................... 78

3.1.1 Traçado urbano .................................................................................................. 78

3.1.1.1 O traçado da cidade: da Vila Velha ao espraiamento pelos manguezais ............. 78

3.1.2 Questão da terra ................................................................................................. 83

3.1.2.1 As disputas pelas terras públicas e a imposição do patrimônio dos jesuítas ........ 83

3.1.2.2 As terras no rossio da cidade ................................................................................ 86

3.2 A CRIAÇÃO DE UMA CIDADE NOVA NO RIO DE JANEIRO ..................... 89

3.2.1 A política urbanizadora do governo português na capital da Corte ............. 89

3.2.2 O arruamento da Cidade Nova ......................................................................... 93

3.2.3 O projeto civilizatório da Missão Francesa e o Urbanismo Imperial:


da Cidade Velha à Cidade Nova ....................................................................... 103

3.2.4 O Campo de Santana como o novo centro de poder ....................................... 108

3.3 OS PRIMEIROS 50 ANOS DA CIDADE NOVA SOB


A ÓTICA DA ESTRUTURAÇÃO FUNDIÁRIA ................................................ 114

3.3.1 Uma análise do mercado de terras na Cidade Nova ........................................ 118

3.4 A CONCEPÇÃO DE UM PROJETO URBANÍSTICO PARA


O RIO DE JANEIRO: O RELATÓRIO DE BEAUREPAIRE ROHAN
E SEUS IMPACTOS NA CIDADE NOVA ......................................................... 136
4. CAPÍTULO 4: RUPTURA E DECLÍNIO DA CIDADE NOVA .................. 143

4.1 APRESENTAÇÃO .............................................................................................. 143

4.2 PÓS ANOS 50: OS NOVOS ELEMENTOS, AS FORÇAS DE


RENOVAÇÃO DA CAPITAL ESCRAVISTA E O HIGIENISMO ................. 143

4.2.1 Os investimentos em infra-estrutura ............................................................... 146

4.2.2 A modernização do sistema de transportes coletivos:


ônibus, bondes e trens – percursos da Cidade Nova ...................................... 148

4.2.3 Os novos arruamentos ...................................................................................... 150

4.2.4 O mangue como o foco de infecções e alvo do saneamento:


por um novo urbanismo da saúde pública ...................................................... 154

4.2.5 O Rio e a Cidade Nova à luz da Medicina Social:


as ações da Junta de Higiene ............................................................................ 157

4.3 TRANSFORMAÇÕES E DECLÍNIO DA CIDADE NOVA ............................ 161

4.3.1 A nova dinâmica fundiária: os sucessivos parcelamentos


de meados dos oitocentos ................................................................................. 161

4.3.2 Habitação como a questão urbana: o adensamento populacional


e o novo perfil dos habitantes da Cidade Nova .............................................. 186

4.3.3 1875 – as propostas do 1º relatório da Comissão de Melhoramentos


da Cidade do Rio de Janeiro: o mangue da Cidade Nova novamente
em questão .......................................................................................................... 192

CONCLUSÃO ..................................................................................................... 198

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 205

ANEXO A ............................................................................................................. 217

ANEXO B .............................................................................................................. 224

ANEXO C .............................................................................................................. 229

ANEXO D .............................................................................................................. 273

ANEXO E ............................................................................................................... 294


14

INTRODUÇÃO

A história do Rio de Janeiro tem sido objeto de inúmeros estudos e de teses e


dissertações que contribuíram para o entendimento da sua formação e do seu desenvolvimento
até os dias de hoje. Capital da colônia desde 1763, sede da Monarquia portuguesa de 1808 a
1821, Corte Imperial de 1822 a 1889 e capital da República até a transferência para Brasília, a
cidade representou o principal cenário de exercício do poder e tornou-se laboratório de
experiências de cunho civilizatório.

O trabalho proposto segue a linha da história urbana, a partir da busca do conhecimento


do processo de criação e constituição de uma estrutura urbana no contexto de crescimento e
expansão da própria cidade, durante o século XIX. A intenção é promover uma recuperação
do processo histórico desse novo espaço do Rio de Janeiro, teórica e empiricamente.

O recorte geográfico escolhido é a Cidade Nova, região compreendida entre o Campo de


Santana e o atual bairro de São Cristóvão. O interesse por esta região, ainda pouco explorada
pela literatura, localizada próxima ao centro da cidade do Rio, é fruto de reflexões que
surgiram desde os trabalhos de pesquisa na graduação em arquitetura e urbanismo, em 1999.
Naquela época, o fato de freqüentar as imediações da área, por conta de atividades
desenvolvidas na Prefeitura Municipal, despertou uma série de dúvidas quanto à consolidação
daquela localidade que me parecia tão peculiar e aparentemente desconexa do antigo núcleo
carioca. Essas questões suscitaram a elaboração de uma pesquisa, que seria apresentada como
monografia final de curso, acerca das intervenções sofridas pela Cidade Nova durante o
século XX, por conta dos sucessivos planos desenvolvidos pelo poder público. O desejo de
compreender o processo de formação daquela estrutura urbana, que se transformara num
laboratório de experimentação durante os novecentos, trouxe à luz a idéia de realizar este
trabalho, calcado numa abordagem histórica da área, visando ao resgate das suas origens.
O recorte temporal adotado é restrito ao século XIX, mais precisamente de 1808 a 1875.
Engloba uma pequena parte do período colonial e a sua transição, através do movimento
liberal luso-brasileiro, para a criação do governo imperial, caminhando para as proximidades
da proclamação da República. Aquele período foi marcado pela chegada da família real ao
Rio de Janeiro (1808), dando início a um processo de expansão baseado na instalação da
Corte e do significativo contingente populacional que com ela imigrava; e pela elaboração do
primeiro plano urbanístico para a cidade, conhecido como Plano dos Engenheiros, datado de
15

1875. Elaborado pela Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro (nomeada


pelo imperador em 1874) visava à remodelação, ao embelezamento e às melhorias das
condições de saneamento de determinadas localidades. Em seu primeiro relatório, a comissão
apresentou as propostas referentes aos bairros da Cidade Nova, do Engenho Velho, do
Andaraí e de São Cristóvão, consideradas áreas de expansão urbana.

Dessa maneira, justifica-se a escolha do período adotado, no sentido da concreta


avaliação das ações dos agentes – entre eles os engenheiros, os arquitetos, os proprietários de
terras e o poder público - nesse novo espaço da cidade, o campo de relações entre as
personagens e a consolidação, ali, de marcos e símbolos de poder. Naquele cenário de
invenção e ocupação da Cidade Nova, vale observar as mudanças na estrutura fundiária como
pano de fundo para as disputas de poder e status dos diferentes habitantes e usuários do lugar,
que acabaram definindo a identidade da área. Também são analisadas as interações dessa
estrutura urbana com os processos econômicos, sociais e políticos que impulsionaram a
cidade e o próprio Brasil naquele mesmo intervalo de tempo.

Ressalte-se que a pesquisa visa ao esclarecimento, ou melhor, ao resgate dos


importantes elementos que definiram a expansão urbana em direção ao oeste da cidade a
partir de uma política urbanizadora que deu origem à Cidade Nova, em contraposição à cidade
velha. Ou seja, durante uma época cujo interesse era imprimir uma feição europeizada,
eliminando-se os resquícios da organização e do traçado coloniais, de que forma a introdução
do chamado Urbanismo Imperial - trazido pela Missão Artística Francesa em 1816,
principalmente pelo arquiteto Grandjean de Montigny - contribuiu para a elaboração de
parâmetros na formação dessa nova área nos arredores do chamado centro antigo. Esse
urbanismo significava uma outra ordem, não apenas urbana, identificada nos desenhos e nos
planos, mas também no sistema fundiário do Rio de Janeiro e precisamente no parcelamento
da terra na Cidade Nova. Novos hábitos e estilos emergiram das concepções da Europa
neoclássica da razão burguesa - contemporânea da Revolução Industrial e do trabalho
assalariado - sendo introduzidos no âmbito de uma sociedade escravista, cujos defensores do
liberalismo, diferentemente do ocorrido no Velho Continente, eram os grandes proprietários
de terras, e não a burguesia comercial.

Nesse contexto, a Cidade Nova, a partir de uma nova lógica de ocupação do espaço,
representou parte de um laboratório das experiências urbanísticas francesas refletidas na
capital dos trópicos, cujo ápice do poder político-administrativo era o Campo de Santana,
marco da expansão para o oeste da cidade. Naquele período, durante a década de 20, o Rio de
16

Janeiro tornava-se protagonista no processo de construção e consolidação do Estado Imperial


e representava o lugar das decisões e idealizações de uma nação que surgia, cujo território do
poder cívico consolidava-se nas imediações desse campo – na Cidade Nova.

Vale frisar que, em 1843, após a difusão dos ideais trazidos pelos artistas da Missão
Francesa e a influência do Urbanismo Imperial, teve relevância a divulgação do relatório
elaborado pelo diretor de obras municipais, Henrique de Beaurepaire Rohan, considerado por
alguns estudiosos, como um singular exemplo de planificação de obras urbanas. Destinado a
orientar um conjunto de intervenções urbanísticas no Rio de Janeiro, cujos principais
objetivos eram a salubridade pública e o aformoseamento da cidade, essa proposta resgatava à
problemática dos alagadiços da Cidade Nova e impactava na estruturação da própria área.

A partir de meados do século XIX, a capital imperial passou por profundas mudanças - a
abolição do tráfico negreiro, em 1850; a implementação da Lei de Terras, em 1854; a
consolidação política do império; a expansão demográfica; o desenvolvimento dos transportes
e a sua inserção no sistema capitalista mundial - que tiveram ressonância nos seus espaços
urbanos e transformaram definitivamente a situação fundiária da Cidade Nova. Os problemas
sanitários e de infra-estrutura, bem como a questão habitacional, trouxeram à luz uma nova
maneira de organização e planejamento, baseada na Polícia Médica – orientada pela Medicina
Social. A proposta do Urbanismo Imperial dava lugar à engenharia sanitária, ou melhor, a um
urbano voltado para a saúde pública. A Cidade Nova deixava de ser o lugar da nobreza
imperial e abria espaço para as camadas mais pobres da sociedade carioca – escravos libertos,
escravos de ganho, pequenos comerciantes, assalariados e imigrantes.

Nesse sentido, introduz-se a questão: como, em um período em torno de 40 anos (1808-


1850), a Cidade Nova consolidou-se como o lugar da nobreza imperial e do poder político e
cívico - nos moldes da modernização européia - e, em apenas 25 anos (1850-1875) sofreu um
intenso e radical processo de transformação dos usos e de apropriação do seu espaço,
passando a representar o local de moradia das classes menos abastadas, aglomeradas em
cortiços derivados dos antigos sobrados aristocráticos, caminhando para um rápido processo
de decadência e desvalorização dentro da dinâmica de desenvolvimento da capital do
império? Quais as reais intenções na sua criação e as causas que levaram ao seu declínio nas
últimas décadas dos oitocentos?

Para a abordagem dessa temática, a dissertação está organizada em quatro capítulos e


uma conclusão. O primeiro versa sobre a questão fundiária, a posse e a ocupação da terra,
assumindo um papel fundamental – estruturante - para o entendimento da problemática
17

pertinente à consolidação da malha urbana desse espaço localizado nos arredores do Rio de
Janeiro. Propõe-se um retorno às bases do sistema de distribuição de terras no Brasil para a
compreensão da constituição do cenário urbano, especialmente o Rio de Janeiro. As principais
referências teóricas construíram-se em torno dos autores Costa Porto, Murillo Marx e Fania
Fridman. O primeiro dedica-se aos estudos acerca do sistema sesmarial, a base fundiária no
Brasil, diretamente transplantada de Portugal e estruturada na tradição das Ordenações do
Reino. Suas análises constituem o ponto de partida para as questões trazidas por Murillo
Marx, relativas à formação do patrimônio religioso, considerado a origem dos núcleos de
povoamento e ocupação do território nacional; e do patrimônio público, com as discussões
sobre a transmissão e o domínio de terras nas cidades. O trabalho de Fania Fridman permite a
compreensão da dinâmica do sistema de terras no espaço do Rio de Janeiro e como os
proprietários determinaram a forma e o uso do solo em questão.
O segundo capítulo, cuja importância reside na origem do significado das terras de
mangue da Cidade Nova - como lugar de uso comum, destinado à expansão da capital -,
constitui-se num desdobramento do primeiro, no que tange aos espaços públicos e suas
relações com o espaço privado das cidades. Nesse ponto, para o entendimento do processo de
privatização das terras públicas para além do Campo de Santana torna-se fundamental
perceber como se dava a relação entre o público e o privado no Rio de Janeiro. A partir da
formação dos núcleos de povoamento e da demarcação dos patrimônios públicos, propõe-se
um destaque das formas de organização daquilo que é considerado de uso comum, de todos,
dentro e fora dos limites urbanos. Como as áreas consideradas vazios urbanos e de expansão
das cidades, como os rossios, os terreiros, os adros, os largos, as praças e as ruas, foram ao
longo dos anos recebendo novas funções. Dentro desta perspectiva, são estudados os períodos
correspondentes aos séculos XVIII e XIX, no sentido de explorar as relações entre o público e
o privado sob a ótica das transformações políticas, econômicas e sociais. Como referenciais
teóricos são apropriados os conceitos de Gilberto Freyre, Nestor Goulart Reis Filho e Marco
Morel, bem como as contribuições portuguesas trazidas por Walter Rossa e Manuel Teixeira.
Estes dois estudiosos, ao analisarem a estruturação dos espaços urbanos em Portugal desde o
século XIII até o século XVI, trazem à tona toda a sua influência no território brasileiro, a
partir dos seiscentos. Freyre introduz a questão dos hábitos na cidade, da relação entre o
espaço público e o privado, representado pelas casas e pelos sobrados. As tipologias
habitacionais e os padrões urbanos - traçados das vias e de delimitação dos terrenos - estão
presentes na análise de Reis Filho. Morel apresenta um estudo sobre os espaços públicos na
cidade do Rio de Janeiro sob a ótica das transformações político-sociais, ou seja, como locais
18

de manifestações e ações da sociabilidade urbana no período de transição do sistema colonial


para a consolidação de uma nova nação.
Para uma abordagem mais específica sobre a Cidade Nova optou-se pela elaboração e o
desenvolvimento de dois capítulos que englobassem, respectivamente, os primeiros 50 anos
de criação e construção do seu tecido urbano, e o período pós-anos 50, marcado pelo
movimento de ruptura e declínio da sua estrutura.
Nesse sentido, o terceiro capítulo introduz uma leitura dos elementos que marcaram a
sua idealização e criação no início do século XIX. Inicialmente, propõe-se uma reflexão
acerca da expansão da urbe, a partir do desenvolvimento do seu traçado e das questões
relacionadas às posses e disputas de terras, cujo foco era o antigo rossio do Campo da Cidade.
Em seguida discute-se a aplicação de uma política urbanizadora implementada pelo governo
português, cujo objetivo era implantar os modelos culturais e morais típicos das sociedades
européias, em que uma das principais medidas seria o incentivo à ocupação da área do
Mangue de São Diogo como opção para ao surgimento de uma nova cidade, bem diferente
daquela colonial existente. São apresentadas a dinâmica para a execução dos arruamentos, as
primeiras vias e a importância dos caminhos que permitiam a ligação entre os arrabaldes de
São Cristóvão – local de residência da família real – e o Paço Real, no Largo do Carmo.
Naquele contexto, procurou-se analisar a influência das concepções urbanas trazidas ao Rio
pela Missão Artística Francesa, em 1816, como forma de um projeto civilizatório que acabaria
impondo um Urbanismo Imperial, cujo intuito era instalar a chamada modernidade européia e
transformar a cidade na capital portuguesa dos trópicos. Dentro daquela concepção, tomava
importância o Campo de Santana que, a partir da Independência, ganharia forma como o novo
centro de poder político-administrativo do Império, o limite entre o antigo colonial e às
modernizações propostas pela escola francesa refletidas para uma nova cidade, símbolo de
poder da América portuguesa. Ou seja, em contraposição ao que os antigos chamavam de
cidade velha, a Cidade Nova, por meio de sua lógica de ocupação e de uma malha formada
por chácaras, grandes terrenos e espaços públicos – o Campo de Santana e o Largo do Rocio
Pequeno -, foi alvo de uma série de medidas de ordem política-administrativa e sanitária. O
objetivo era transformar o antigo rossio no lugar privilegiado da classe aristocrática,
intermediário entre o Paço Imperial e o novo centro de poder cívico e ponto de partida para o
desenvolvimento da área. Para compreender o processo de povoamento dessa região optou-se
pela pesquisa e pelo estudo do seu mercado de terras, a partir do levantamento dos
aforamentos realizados desde 1810 até os anos 40, de forma a elucidar as práticas de
parcelamento dos terrenos e perceber quem eram os verdadeiros donos daqueles chãos.
19

Finalmente, antes da virada para a segunda metade dos oitocentos, período estudado no quarto
capítulo, tornou-se fundamental a abordagem acerca das propostas que deram origem a um
dos primeiros projetos urbanísticos para a cidade do Rio de Janeiro, o relatório do engenheiro
Beaurepaire Rohan, em que parecia explícita a preocupação com o crescimento da urbe e a
estruturação da Cidade Nova, em parte ainda considerada insalubre.
Para a elaboração desse capítulo, além da pesquisa dos dados empíricos, constituíram
referenciais teóricos Jaime Larry Bechimol, Maurício de Almeida Abreu, Afonso Carlos
Marques dos Santos e Rachel Sisson. Os dois primeiros apontam significativas questões
relacionadas ao panorama urbano e social da capital durante o século XIX. Afonso dos Santos
introduz uma abordagem histórica, identificando as influências européias que marcaram uma
nova ordem dos costumes, da arquitetura e do urbano na cidade do Rio, no momento de
transição do período colonial para o regime monárquico. Rachel Sisson reflete acerca da
temática que envolve a centralidade da cidade e a sua transferência do Largo do Carmo para a
o Campo de Santana.
O quarto capítulo aborda a Cidade Nova, a partir de 1850, num cenário marcado pela
emergência de novos elementos e de forças de renovação no âmbito do Rio de Janeiro
escravista. Naquela época, a área passava por profundas transformações, quer sejam por conta
da substituição dos ideais de um Urbanismo Imperial pelo olhar da saúde pública, em virtude
dos problemas sanitários ligados ao abastecimento de água e ao sistema de esgotamento da
cidade, quer sejam pelas influências da difusão do capitalismo mundial, com o crescimento
das manufaturas e o declínio da produção escravagista e da ampliação do sistema de
transportes e de infra-estrutura urbana. Estes últimos demonstrando uma clara diferenciação
sócio-espacial, contribuindo para a transformação da estrutura fundiária da Cidade Nova, que
se tornaria mais do que nunca reveladora do processo de consolidação da sua identidade no
final daquele século. Os novos arruamentos surgiram de forma a ratificar um modelo de
ocupação que cada vez mais privilegiava o parcelamento e o desmembramento de antigas
chácaras e sobrados, tornando a malha viária da Cidade Nova regular e mais complexa. Para a
compreensão daqueles que seriam os principais fatores de transformação da estrutura
fundiária e do perfil habitacional na área procurou-se refletir acerca da problemática ligada à
insalubridade urbana e das ações da Junta de Higiene, bem como das diversas propostas de
saúde pública lançadas na época. Ou seja, as condições higiênicas do centro e de seus
arredores e a demanda por novas moradias, em virtude do crescimento populacional das
últimas décadas dos oitocentos, funcionavam como elementos possíveis para a desvalorização
da estrutura fundiária da Cidade Nova e para o deslocamento das classes abastadas para a
20

zona sul da cidade, pelo eixo que seguia pelo Catete, Glória e Botafogo; e pela zona norte, nas
imediações do Alto da Boa Vista. Restava à Cidade Nova um intenso movimento de
parcelamento dos terrenos e de subdivisão dos antigos sobrados para dar origem aos cortiços e
estalagens, locais de moradia de população de baixa renda que crescia de forma não
proporcional à oferta de moradias na cidade, gerando problemas como a coabitação nas
proximidades do antigo centro. Em 1875, novas propostas, ainda influenciadas pela questão
da salubridade, mas acima de tudo pela engenharia sanitária, foram lançadas pela Comissão
de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro com o intuito de embelezar e melhorar a
imagem da capital carioca e incluíram a região da Cidade Nova, naquela época considerada
um entrave para a modernização da urbe.
Além da pesquisa de dados empíricos, para a elaboração desse capítulo apresentam-se
como referências teóricas os textos de Eulália Maria Lahmeyer Lobo, Jaime Larry Bechimol,
Maurício de Almeida Abreu e Verena Andreatta. A análise, de Eulália Lobo, da evolução
econômica e social da cidade do Rio de Janeiro, por meio de dados de variadas e pouco
exploradas fontes, constituiu importante referencial para o entendimento acerca da conjuntura
dos oitocentos. Jaime Benchimol e Mauricio de Abreu destacam as questões ligadas à
implantação dos serviços urbanos e ao desenvolvimento dos meios de transporte como forma
de diferenciação sócio-espacial no período de transição do escravismo para a era capitalista,
dita moderna. O trabalho de Verena Andreatta introduz uma análise dos planos desenvolvidos
para o Rio de Janeiro durante o século XIX, inclusive do relatório de Beaurepaire Rohan, até
então pouco explorado, dispondo de mapas e esquemas inéditos.
A metodologia utilizada nesta dissertação tem como bases as análises de documentos
primários, manuscritos do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e processos da Corte de
Apellação presentes no Arquivo Nacional, bem como a leitura de fontes secundárias, de
bibliografia especializada e de desenhos, projetos e planos para a cidade; leis e decretos;
arrolamentos e estatísticas da época. Estas últimas, em relação à composição populacional, da
sua distribuição pelas freguesias urbanas - principalmente a de Santana, onde se encontrava a
Cidade Nova -, bem como as informações relativas às profissões, aos estabelecimentos
comerciais ou industriais, e até mesmo o número e os tipos de moradia, constituíram
significativas fontes de trabalho. Além disso, o criterioso levantamento dos aforamentos
realizados para algumas ruas da área e dos processos referentes às posses das antigas chácaras
foram essenciais para o mapeamento da situação fundiária da Cidade Nova e para o
entendimento da consolidação e construção das suas identidades urbana e social.
21

A pesquisa, que comporta o material disponível do século XIX, que constitui a


referência bibliográfica deste trabalho foi realizada junto às bibliotecas Nacional, do Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional / UFRJ, da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo / UFRJ, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais / UFRJ, da Escola de Belas
Artes / UFRJ; ao Arquivo Nacional e Geral da Cidade do Rio de Janeiro, bem como ao Real
Gabinete Português de Leitura.
Nas bibliotecas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, citadas acima, foram
consultadas as fontes secundárias que compõem grande parte do referencial teórico desta
dissertação. No Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e no Arquivo Nacional foram
analisados manuscritos, documentos relativos à isenção da Décima Urbana, aforamentos,
processos de propriedade de terras, cartografia, imagens e fotografias, planos de
melhoramentos e arrolamentos. No Real Gabinete Português de Leitura foram consultados,
nos dicionários, os termos e significados da época. Na Biblioteca Nacional foram
selecionados mapas e plantas, bem como jornais e publicações que abordavam a situação
política e econômica do período em questão.
22

CAPÍTULO 1

A QUESTÃO FUNDIÁRIA

1.1 O PROBLEMA FUNDIÁRIO

A análise da criação e formação da Cidade Nova do Rio de Janeiro requer o estudo


não apenas das temáticas econômica, política e social, mas também de um aspecto de extrema
relevância presente no contexto histórico da área: o problema fundiário. A questão da posse e
da ocupação da terra tem papel fundamental para a elucidação da problemática pertinente à
consolidação da malha urbana de um novo espaço nos arredores da chamada cidade velha do
Rio de Janeiro. Ressalte-se que esta última refere-se a toda a área compreendida entre a Baía
de Guanabara e a rua da Vala (atual Uruguaiana), no limite do Campo de Santana.

Propõe-se um retorno às bases do sistema fundiário no Brasil e uma avaliação do seu


processo de desenvolvimento ao longo dos períodos que acabaram definindo o panorama
urbano das cidades. O objetivo deste capítulo é discutir o processo de formação de um
patrimônio privado, precisamente nas áreas rurais, no campo, por meio do regime de
sesmarias, trazido diretamente da metrópole portuguesa; e a consolidação e conformação do
patrimônio público nas cidades coloniais, em especial no Rio de Janeiro.

A partir dessa análise, será possível compreender em que termos se deram a criação e
a expansão da Cidade Nova, inicialmente tida como rossio, além dos limites da capital
carioca. Indaga-se como esse lugar destinado ao uso comum e coletivo, a partir da cessão e
distribuição de terrenos a particulares, foi ao longo dos anos abrigando diferentes perfis
ocupacionais, até o fim do século XIX.

1.2 O SISTEMA DE SESMARIAS

A base do sistema fundiário no Brasil era a sesmaria, ou seja, gleba ou grande parcela
de terra rural que daria origem aos latifúndios e aos engenhos. Para a compreensão da base
sesmarial e do seu funcionamento em território brasileiro, principalmente na cidade do Rio de
Janeiro no início do século XIX, torna-se necessária a leitura da legislação portuguesa
referente à distribuição de terras.
23

Segundo Daisy Abreu (1983), a estrutura da legislação portuguesa sempre demonstrou


nitidamente a importância da vida agrária, em que as terras representavam o único patrimônio
da realeza. A partir da Reconquista1, tiveram origem o povoamento e a colonização de grande
parte dos territórios retomados dos mouros, aliados a um aumento da valorização fundiária.
Porém, a conjuntura da época em toda a Europa, com a disseminação da Peste Negra e de
diversas epidemias, abalou a relação rural-urbano em Portugal. Houve um deslocamento de
significativa parcela da população do campo para as cidades em busca do suprimento da mão-
de-obra afetada pela peste. Data daquele período, século XIV, a elaboração da chamada Lei
das Sesmarias.

Essa lei previa a distribuição de terras incultas e obrigava os proprietários a explorá-las


em certo tempo, mediante o seu confisco caso não fossem cultivadas. Vale frisar que havia a
opção do proprietário aforar essas terras, caso não quisesse trabalhar diretamente nas mesmas.
Essa era a formação do sistema fundiário em território português e que viria a se espelhar no
brasileiro a partir do regime de capitanias hereditárias.

Esse regime centrava-se na distribuição de pedaços de terra aos chamados donatários,


como expressão de um poder político e de jurisdição, conforme salienta Costa Porto (1965).
Traduzia-se na administração do território concedido pela Coroa portuguesa como província,
e não como propriedade privada, sendo o particular o próprio agente institucional. Os
donatários recebiam do rei as faixas de terras e o direito de estabelecer povoações. Esses
núcleos ocupados poderiam posteriormente receber o título de vilas ou até mesmo de cidades
de fundação real ou papal, como Salvador e São Sebastião do Rio de Janeiro. Portanto, o
sistema donatarial e a doação de sesmarias foram os alicerces do sistema fundiário no Brasil
durante o período colonial.

A base sesmarial foi transplantada para o Brasil, representando o fracionamento e a


cessão de glebas, baseadas na tradição e nas obrigações presentes nas Ordenações do Reino2,
ratificadas pelas chamadas cartas de doações e pelos forais. Em relação ao dimensionamento,
essas sesmarias apresentavam um tamanho máximo, e suas especificações baseavam-se no
1
Em 711, a Península Ibérica foi invadida pelos muçulmanos, que a dominaram por mais de cinco séculos. Durante esse
período, nas Astúrias, a única região que resistiu à invasão árabe, desenvolvia-se um movimento de Reconquista da
Península, culminando no fim do poder político islâmico com a tomada de Granada pelos Reis Católicos (1492). Naquela
altura, o reino de Portugal estava formado, soberano e completo e, talvez por isso, o país explorasse o além-mar, em parte sob
o pretexto do espírito das Cruzadas, para difundir o Cristianismo.
2
As Ordenações do Reino provinham da Alta Idade Média e agiam dentro de um quadro de normas gerais. Significavam uma
compilação de forma clara e metódica de leis e atos emanados do poder Real, através dos quais, em Portugal e na Espanha,
eram promulgadas as leis, normas, decisões e outras medidas destinadas a regulamentar os mais diferentes assuntos. Eram os
códigos oficiais do direito português e espanhol. Segundo Murillo Marx (1991), tinham um caráter evasivo no que tange à
disposição espacial das cidades.
24

comprimento das testadas, das suas frentes. Normalmente, o fundo da gleba não era
determinado, estipulando-se uma forma quadrangular constando de uma légua de frente e uma
de fundo, a légua em quadra.

Inicialmente, as condições para a implantação desse regime poderiam ser semelhantes


àquelas presentes no Reino português: a existência de terras não aproveitadas, incultas e
inexploradas. Porém, na metrópole as terras foram distribuídas de maneira heterogênea, dando
origem às pequenas, médias e grandes propriedades. No Brasil, a vastidão territorial e a
escassez de população favoreciam o aparecimento de poucos e grandes proprietários de
latifúndios, que foram a principal forma de ocupação do solo durante o período colonial.
Segundo Maurício de Abreu (1997), algumas glebas chegaram a possuir 20 léguas em quadra.
Vale ressaltar, ainda, que este regime, nas terras da colônia, foi implementado a partir das
mesmas concepções presentes no modelo português, não se analisando ou respeitando as
peculiaridades e realidades locais.

De forma desigual ao que ocorreria na sua colônia brasileira, em Portugal


desenvolveram-se maneiras distintas de exploração agrária, não havendo uniformidade. Daisy
Abreu (op.cit.) destaca que, no Noroeste do país, havia um aproveitamento intenso do solo e
uma alta densidade populacional, gerando o processo de retalhamento das terras; no Nordeste,
devido ao clima desfavorável e à pobreza do solo, foram aforados e explorados de forma
comunitária os chamados campos abertos; e, ao Sul, com a exploração agro-pastoril do solo
improdutivo, desenvolveu-se o sistema de latifúndios.

No Brasil, os poucos que recebiam as terras gratuitamente comprometiam-se a cultivá-


las e a defendê-las, sob a obrigatoriedade do pagamento do dízimo durante determinado
período de tempo, podendo as mesmas, em caso contrário, voltar ao domínio do Estado para
nova distribuição. Portanto, as glebas seriam livres de qualquer ônus, à exceção do dízimo,
formalmente destinado à Ordem de Cristo (corporação detentora das terras e sua concedente).
Pode-se afirmar que este dízimo não garantia o direito sobre a terra, era apenas o ônus sobre a
produção que ali se desenvolveria. Era pago mesmo por quem não tinha a terra, ou seja, como
bom cristão, o produtor deveria contribuir para o projeto de propagação da fé3.

3
Curiosa era a situação de cobrança do dízimo aos indígenas. “O dízimo destinava-se à propagação da fé, à sustentação do
culto, encarado como dever do fiel, a quem cabia trabalhar pelo alargamento do reino de Cristo na terra. Pagão, o selvagem
evidentemente não devia contribuir com o dízimo; mas que dizer do indígena convertido, batizado, integrado no rebanho da
Igreja? Claro que, na qualidade de cristão e produtor lhe restava aceitar a norma geral, submetendo-se, como os demais
cristãos, ao princípio uniforme” (Costa Porto, 1965, p.97).
25

Mandando repartir o solo inculto entre os lavradores do reino, o legislador, enquanto


procurava resolver o problema do abastecimento, também visava a castigar o
senhorio indolente e mandrião, que não trabalhava nem deixava que outros
trabalhassem, cominando-lhe a pena, sumária e drástica, do confisco: não cultivando
o solo por incúria, descaso, indolência, o proprietário perdia o direito sobre a terra
que, confiscada, se distribuía, de graça, com quem a quisesse explorar (COSTA
PORTO, 1965, p.50).

A Ordem de Cristo recebia o dízimo referente à utilização das terras coloniais doadas
pelo monarca português, porém não poderia tomar para si mesma nenhuma gleba a partir do
sistema de sesmarias. Havia uma jurisdição espiritual, o padroado, muito bem lembrado por
Costa Porto (op.cit.). Considerado um dos aspectos mais peculiares das relações entre o
Estado lusitano e a igreja, o padroado era um privilégio oneroso concedido à nação
portuguesa em gratidão pelo que fizera a favor da religião e da fé. O autor afirma que uma das
provas do não pertencimento das terras brasileiras à Ordem, sendo apenas relevante sua
jurisdição espiritual, foi a maneira com que se realizou a distribuição das mesmas.

De que forma, então, seria possível desenvolverem-se aglomerados ou núcleos de


povoamento na colônia se a posse fundiária era extremamente restrita? Poucos eram os
proprietários de grandes parcelas de terras rurais, e a grande maioria da população da colônia
era composta por escravos e índios, que não recebiam essas glebas para lavoura. Murillo
Marx (1991) aponta como principal fator tanto para o surgimento desses núcleos e arraiais,
quanto para a ocupação do território colonial as brechas no sistema de sesmarias. Elas
representavam a cessão de parcelas de terras dos grandes proprietários rurais para a
construção de capelas em troca da garantia de amparo religioso e espiritual. Ao redor dessas
capelas, concentravam-se algumas moradas de casas, que abrigavam aqueles interessados no
manejo e na manutenção de lavouras como meio de subsistência à pequena localidade, dando
margem à formação dos arraiais. Nesse sentido, surgiram as capelas-curadas ou visitadas por
padres que, em seguida, dariam origem às paróquias ou freguesias, configurando-se os
aglomerados das vilas e cidades.

O patrimônio religioso decidiu o nascimento dum sem-número de povoações no


litoral e nos vastos sertões. O seu aproveitamento, a divisão das terras que o
compunham, desenhou de forma paulatina e característica esses arraiais (M.Marx,
1991, p.14).

Portanto, é significativo o estudo da constituição desses patrimônios religiosos para a


compreensão da formação e do desenvolvimento de grande parte dos aglomerados urbanos
nesse período.
26

1.3 O PATRIMÔNIO RELIGIOSO

O patrimônio religioso formava-se a partir da cessão de terras dos grandes


proprietários rurais, em devoção a santos padroeiros, a entidades religiosas autorizadas pela
Igreja e obedientes aos preceitos das Ordenações do Reino. Nessas porções do território eram
construídos templos e capelas em troca da atenção religiosa especial dedicada aos
cessionários. Formavam-se espaços dotados de um terreiro, um pátio e um átrio ou adro, área
que antecede a igreja e, como esta, era sacralizada. Ao redor da área sagrada também eram
cedidas parcelas de terras para os menos providos e interessados em habitar junto às capelas.
Dessa maneira, conciliava-se a ereção do núcleo religioso e a manutenção do mesmo por meio
do cultivo e da subsistência de terceiros, que seriam amparados pela assistência espiritual em
troca do pagamento de um foro ou de doações.

Ora, tal processo de ocupação de um ponto do território, de concentração de gente e


de moradas, de partição da terra, deve ter gerado a conformação inicial de muitos
arraiais, com a definição primeira, ainda que tímida e insegura, de muitos percursos
e partilhas, de muitos tecidos urbanos incipientes (M.Marx, 1991, p.41).

Portanto, a formação do patrimônio religioso representou a consolidação dos primeiros


núcleos de povoamento e de ocupação do território nacional, restritos ao controle do Estado
português, intimamente ligado à Igreja.

Na ausência de normas civis específicas, as normas eclesiásticas, defendidas pelo


Concílio de Trento (1545-1563), definiram a posição e a orientação tanto das edificações
erigidas próximas às capelas, bem como a própria localização estratégica desses marcos
religiosos de poder. Nesse sentido, as vilas e cidades cresciam ao redor das referências sacras,
representativas da imbricação do Estado com a Igreja durante todo o período colonial, e
símbolos do traçado das principais áreas urbanas em território nacional.

Nas proximidades dos marcos religiosos erguiam-se os institucionais e de poder civil,


como as casas de câmara, a cadeia e o pelourinho; e delimitavam-se as áreas de uso comum,
os chamados rossios, destinados à coleta de madeiras e lenha, ao pasto de animais, ao plantio
e à reserva de terras para a expansão da vila ou cidade. Expansão a partir da cessão de terras
novas ou da abertura de estradas, caminhos, ruas e praças.

A concessão de terrenos pertencentes ao rossio ocorria de forma distinta daquela


presente nas terras rurais, com as sesmarias. Ressalta-se que, no Brasil, boa parte das
27

sesmarias e datas de terras doadas não correspondia a uma distribuição homogênea ou a


alguma norma específica que regulasse a sua localização. O vasto território e a topografia
irregular, que determinavam uma significativa imprecisão na delimitação das terras, davam
margem a uma espécie de ausência de padronização e de organização no sistema fundiário
brasileiro. Não havia obrigatoriedade de pagamento de dízimos e a cessão era gratuita, o
patrimônio era gerido por uma entidade coletiva do Estado, na própria esfera da
municipalidade. Essas terras cedidas receberam o nome de dadas ou datas, e eram o resultado
do processo de parcelamento do rossio, orientado pela câmara, em virtude da solicitação de
novos moradores urbanos ou até mesmo de proprietários rurais que desejavam obter terrenos
próximos aos núcleos centrais. Era muito comum o grande proprietário rural tornar-se
concessionário de terrenos urbanos destinados à segunda moradia da sua família e de seus
agregados e escravos, com o intuito de participar dos acontecimentos religiosos e das
oportunidades de negócios nas sedes municipais. Dessa maneira, processavam-se os
sucessivos fracionamentos de terras, isto é, a ocupação territorial que traria significativas
conseqüências às concentrações humanas e ao desenho urbano das cidades a partir dos
primórdios do século XIX.

Com o crescimento populacional associado à valorização da terra, houve um aumento


da diferenciação quanto à espacialização das instituições e da própria ocupação dos terrenos.
As melhorias em geral, como a construção de pontes, de chafarizes e a abertura de ruas,
constituíam-se em peças-chave para a distribuição e fixação da população no território
urbano. Essas eram as condições para o recebimento das sesmarias e datas de terras. Formava-
se um jogo de trocas, em que o Estado as cedia em função da obrigatoriedade dos
concessionários para a realização de benfeitorias. Segundo Fridman (1999.), apenas a partir da
instituição da Resolução de 17 de julho de 18224, quando foram suspensas todas as
concessões futuras, é que esse processo cessou e o Estado assumiu a função de produtor direto
dos serviços públicos.

4
Em 17 de julho de 1822, pela Resolução nº 17, o príncipe regente dom Pedro, ao decidir um apelo que lhe foi dirigido por
Manoel José dos Reis, morador do Rio de Janeiro, que lhe rogava ser conservado na posse das terras em que vivia há mais de
20 anos com sua numerosa família de filhos e netos, não sendo ditas terras compreendidas na medição de alguma sesmaria,
mesmo contra o parecer do Procurador da Coroa e Fazenda, de que o meio competente era o interessado requerer as
mencionadas terras por sesmarias, determinou que o suplicante ficasse na posse das terras que tinha cultivado e, no mesmo
ato, suspendeu todas as sesmarias futuras do Brasil até a convocação da Assembléia Geral Constituinte (CUNHA JÚNIOR.
Disponível em: <http://www.jfse.gov.br/obras%20mag/artigoterrasdevdirley.html>. Acesso em: 06 jun. 2006).
28

1.4 O PATRIMÔNIO PÚBLICO

O patrimônio público, de forma semelhante ao religioso, também era regido pelas


Ordenações do Reino que agiam dentro de um quadro de normas gerais - não respeitando as
peculiaridades de cada localidade -, sendo transplantadas diretamente da metrópole
portuguesa para as colônias americanas. A partir delas foi reafirmada, no território colonial,
uma série de preceitos básicos relativos à organização municipal, à distribuição, à transmissão
e ao domínio de terras, definindo-se a forma e o desenho dos aglomerados urbanos, baseados
no exemplo das cidades portuguesas. Ao longo de todo esse período e durante o governo
imperial, as cidades brasileiras continuariam sob a influência dessas normas, que apenas
seriam diluídas a partir das proximidades da instituição da república, no final do século XIX,
principalmente com a implementação do Código Civil (1916/1917).

Portanto, desde o Brasil-colônia e parte do império, pode-se afirmar que a propriedade


pública pertencia à monarquia portuguesa, no primeiro momento, e à monarquia brasileira, no
segundo. Essa situação apenas seria alterada com a implementação da Lei de Terras, em 1854.

O regime fundiário baseado na negociação do chamado domínio útil da terra ou


aforamento foi um dos sistemas mais comuns empregados no período colonial e em parte do
imperial. Na realidade, essa situação caracterizaria não de forma clara, explícita, uma certa
comercialização das terras brasileiras, tanto rurais quanto urbanas. A princípio, poderia ser
dito que a terra seria dotada de um valor de uso, determinante de um status social. A
valorização dos terrenos dava-se em função da sua localização estratégica, próxima às
principais entidades e instituições e, por vezes, em locais dotados de benfeitorias e melhorias
nos centros urbanos. Porém, há indícios de que, desde o período colonial, houvesse um
comércio, mesmo que não formalizado, de trocas de domínio útil. Não formalizado porque é
sabido que esse domínio não caracterizava a situação de propriedade da terra, de posse direta
da mesma. O Estado detinha o controle e era o dono legítimo das propriedades. Portanto,
havia uma negociação dos domínios úteis, ou seja, os terrenos podiam ser aforados a pessoas
diferentes, em períodos diferentes. Ressalte-se que o aforamento era uma forma distinta do
arrendamento. Este último representava a posse temporária de um chão urbano ou rural,
enquanto o aforamento5 ou enfiteuse poderia ser por tempo indeterminado, perpétuo ou

5
O Código Civil Brasileiro (1917) conceitua o instituto do aforamento em seu artigo 678 da seguinte forma: Dá-se a
enfiteuse, aforamento ou emprazamento quando por ato entre vivos, ou de última vontade, o proprietário atribui a outrem o
domínio útil do imóvel, pagando a pessoa, e assim constitui-se enfiteuta do senhorio uma pensão ou foro anual, certo e
invariável. O foreiro compromete-se a edificar, tornar a terra produtiva e a responder por todos os encargos que recaiam sobre
29

passível de substituição. Segundo Gonçalves (2004), o aforamento era o instituto jurídico pelo
qual o proprietário de terra passava a posse do imóvel para outra pessoa, então chamada de
foreiro, em troca do pagamento anual de uma taxa chamada foro. O proprietário atribuía a
outra pessoa o domínio útil do imóvel, em troca de uma renda ou pensão anual, certa e
invariável e de uma percentagem, o laudêmio6.

Nesse ponto, admite-se que o embrião para toda uma dinâmica do comércio das terras
brasileiras estivera presente desde o período colonial, mesmo que num sistema incipiente de
trocas de domínio útil. A partir do século XIX, influenciada pelas práticas capitalistas, as
terras passariam a ser incorporadas ao jogo econômico por meio das modificações nas
relações de propriedade.

1.5 O SECÚLO XIX E A RELAÇÃO DO PODER PÚBLICO COM O URBANO

Na primeira metade do século XIX, o cenário urbano das grandes cidades,


enfatizando-se a capital carioca, já sofria sensíveis modificações. Inúmeras ruas no centro,
bem como nos seus arrabaldes7, começaram a ser calçadas. Apareceram os primeiros passeios
juntos às casas e implementou-se o uso de jardins, nos moldes europeus, destinados às
parcelas da sociedade com maior poder aquisitivo.

A preocupação e o cuidado com o alinhamento e com o nivelamento faziam parte das


responsabilidades das câmaras, das ações da municipalidade. Eram essas entidades que
geriam e regulavam a configuração do espaço urbano, o traçado viário, os espaços públicos;
bem como a disciplina dos concessionários das datas de terrenos. Murillo Marx (1991)
acredita que a Lei de 1º de Outubro de 1828 constituía-se numa verdadeira Lei Orgânica dos
municípios brasileiros, já que determinava e ratificava a responsabilidade das câmaras para
com seus patrimônios.

a mesma. Pode usufruí-la do modo mais amplo e até transformá-la, desde que não deteriore a sua substância. Pode alugar,
arrendar, aforar e até vender, bastando informar ao senhorio.
6
O laudêmio era uma porcentagem traduzida sob a forma de imposto que o foreiro pagava ao senhorio direto quando havia
alienação do respectivo prédio por parte do enfiteuta.
7
Segundo Moraes Silva (1823), “arrabalde, s.m. Bairro que fica fora dos muros da cidade ou vila”. É uma área afastada do
núcleo consolidado, às margens do centro urbano.
30

Os vereadores tratarão nas vereações dos bens, e obras do Coselho do Governo


econômico, e policial da terra; e do que neste ramo for a prol dos seus habitantes
(LEI DE 1º DE OUTUBRO DE 1828, TITULO II, das funções municipaes, Art. 40).

As Camaras deliberarão em geral sobre os meios de promover e manter a


tranqüilidade, segurança, saude, e commodidade dos habitantes; o asseio, segurança,
elegancia, e regularidade externa dos edifícios, e ruas das povoações, e sobre estes
objectos formarão as suas posturas, que serão publicadas por editaes, antes, e depois
de confirmadas (LEI DE 1º DE OUTUBRO DE 1828, TITULO III, das posturas
policiaes, Art. 71).

As câmaras tinham que lidar com uma série de problemas e conflitos de base fundiária
que refletiam uma acirrada disputa acerca dos limites de terrenos e dos domínios de porções
de terra nas cidades. O autor cita que, em virtude desses problemas e de uma série de
necessidades públicas, como exemplo, o vereador paulistano José Manoel da Luz propôs a
utilização de todos os terrenos contíguos ao centro para novas construções públicas e para
arruamentos, deixando-se o restante, dividido em menores parcelas, para os habitantes que ali
desejassem obter a posse de terrenos. Ratificava-se o parcelamento de terras anteriormente
livres, possivelmente oriundas dos antigos rossios, para a expansão urbana das grandes
cidades. Acredita-se que esse processo também ocorrera no Rio de Janeiro, quando foi
elaborada uma política de criação e urbanização da Cidade Nova, a partir de 1808, em direção
ao oeste, para a cessão e ocupação de parte dos terrenos por particulares e para o arruamento,
bem como para a formação de praças.

Portanto, uma das obrigatoriedades da lei de 1828 foi a criação de um quadro de


funcionários destinados ao apoio administrativo e de fiscalização, constituindo-se numa forma
de apoio técnico no que dizia respeito à edilidade e ao arranjo dos terrenos urbanos. Nesse
sentido, um exemplo de significativa medida foi a organização do tombo do patrimônio
municipal do Rio de Janeiro, coordenado e executado por Haddock Lobo, em fins do ano de
1854. A intenção desse trabalho era o conhecimento dos limites do que se poderia chamar de
propriedade da Câmara e de seus títulos legítimos de aforamento. Em função desse tipo de
levantamento, as câmaras poderiam proceder na organização de um conjunto de regras de
edilidade que acabaria originando as posturas municipais e a lei da edilidade.

Vale lembrar que, a partir da implementação da Constituição do Império do Brazil, em


1824, logo após a independência, foram suprimidas as funções judiciárias das câmaras.
Estabeleceu-se que elas seriam unicamente corporações incumbidas pelo governo econômico
e municipal das cidades, meramente administrativas e não exercendo jurisdição alguma. Essa
decisão apenas foi ratificada pela Carta de Lei de 1º de Outubro de 1828, conforme visto.
31

Segundo Morales de Los Rios Filho (1946), as posturas formuladas a partir de 1828,
durante todo o império, deveriam referir-se às questões relacionadas à urbanização
(alinhamento, limpeza, higiene, iluminação e descongestionamento dos logradouros públicos);
à construção de edifícios particulares; à construção de muralhas, estradas, pontes, aquedutos,
chafarizes e calçadas; aos aterros; às demolições de edifícios; ao esgotamento de pântanos e à
canalização de rios; às feiras; aos pesos e às medidas; ao silêncio; aos animais soltos nas vias
públicas e aos loucos e embriagados. Nesse sentido, pode-se perceber, pelo exemplo da
capital da Corte, que as cidades passaram a ser reguladas por condutas e normas relativas às
atividades e às relações que teciam o convívio social. Essas posturas não eram
necessariamente cumpridas, pois muitas eram burladas e acabavam exprimindo um jogo de
interesses e conflitos entre os habitantes da cidade e a própria municipalidade.

Em meados dos oitocentos, teve início uma mudança no sistema de terras que abalaria
decisivamente o cenário urbano e rural do país. Os conflitos entre as câmaras e as ordens
religiosas e o jogo de forças da sociedade quanto à utilização dos espaços urbanos induziram
mudanças no significado da terra em virtude do adensamento e da concentração humana nas
cidades. Segundo Murillo Marx (op.cit.), a estrutura fundiária começou a adquirir importância
e exigia mecanismos de controle e administração. Um novo ordenar geral do convívio entre a
população brasileira preparou o período para as mudanças em foco.

A terra, nesse contexto, representaria uma valiosa mercadoria geradora de lucro


significativo, tanto por seu caráter específico quanto por sua capacidade de gerar outros bens.
Essa substancial mudança na relação material da terra seria impulsionada, no Brasil, pela
implementação da Lei de Terras, a partir de 1850.

1.5.1 A Lei de Terras

Os constantes conflitos de terras e o seu processo de valorização fizeram com que,


inspirada no modelo inglês e como reflexo de um projeto liberal, fosse lançada a Lei de
Terras, promulgada em 1850, sendo executada quatro anos depois a partir do Decreto 1318.
Com a criação dessa lei, a terra só poderia ser adquirida através da compra, não sendo
permitidas novas concessões de sesmarias, tampouco a ocupação por posse, com exceção
daquela localizada a dez léguas do limite do território (fronteira do império com os países
estrangeiros). Seria consentida a venda de todas as terras devolutas. Estas eram as não
32

aplicadas a algum uso público e que não estavam sob os cuidados do poder público em todas
as suas instâncias (nacional, provincial ou municipal), apesar de serem integrantes do domínio
do Estado. Além disso, correspondiam àquelas que não pertenciam aos particulares, sejam
concedidas por sesmarias ou ocupadas por posse.

Durante o período colonial, o termo terra devoluta era empregado para designar aquela
cujo concessionário não cumpria as condições impostas para a sua utilização, provocando a
sua devolução para o Estado. Numa definição mais clara, devoluta é o particípio passado do
verbo devolver. Etimologicamente, significa a terra que, cedida na forma de sesmaria, e pelo
fato do sesmeiro não preencher as condições ou exigências legais, retornara ou fora devolvida
à Coroa. Vale frisar que, o significado desse termo ao longo dos anos foi adquirindo formas
diferentes de uso.

Outra questão relaciona-se à expressão uso público, que representa algo distinto
daquela referente a bens públicos. A primeira é utilizada na Lei de Terras, enquanto a segunda
é destacada no Código Civil (1916/1917), mais precisamente no artigo 66. Na Lei de Terras,
uso público corresponde àquilo que é de uso comum ou especial do povo e não se emprega o
termo bem público. No Código, os bens públicos são mais abrangentes e podem ser os de uso
comum do povo (praças, ruas, mares e rios), os de uso especial (edifícios e terrenos para
estabelecimentos federais, estaduais ou municipais) ou os chamados dominicais (constituintes
do patrimônio nacional como objeto de direito pessoal ou real de cada instância de poder).

O sentido presente na Lei de Terras indica que as terras devolutas poderiam ser
classificadas como aquelas não destinadas ao uso público. Analisando pela ótica do Código
Civil, elas fariam parte dos bens públicos e seriam classificadas como bens dominicais. Os
bens de uso comum do povo e de uso especial que constam no Código não englobariam o solo
devoluto.

Vale lembrar que, no momento da promulgação da Lei 601, segundo Costa Porto
(op.cit.), o solo brasileiro ou o território brasileiro estaria secionado em: aquele destinado ao
uso público, aquele em poder de particulares ou privados e aquele desocupado ou devoluto. O
primeiro era formado pelos chamados espaços públicos, livres ou comuns, de uso coletivo. O
segundo representava as terras concedidas a particulares que se tornavam sesmeiros legítimos
sob condições legais do regime de sesmarias; as terras não legitimadas em função do não
cumprimento das exigências legais para a formalização do sistema sesmarial; ou as terras
ocupadas por posse que não configuravam situação de legitimidade. O terceiro dizia respeito
33

às terras não doadas e nem ocupadas ou cultivadas, consideradas terras devolutas, que
pertenciam diretamente ao Estado.

Um dos principais problemas do regime sesmarial que vigorou por todo o período
colonial até a sua extinção em 1822, foi o conflito de terras. O viajante francês Saint-Hilaire8
expõe em um de seus relatos a dinâmica fundiária durante o período em questão:

Os pobres, que não podem ter títulos, se estabelecem nos térreos que sabem não
terem dono. Plantam, constroem pequenas casas, criam galinhas, e quando menos
esperam, aparece-lhes um homem rico, com o título que recebeu na véspera,
expulsa-os e aproveita o fruto de seu trabalho (SAINT-HILAIRE, apud Costa Porto,
1965, p.176).

Após 1822, constituiu-se um sistema de franco apossamento de terras no Brasil.


Aumentou-se o número de invasões e posse de terrenos, num cenário em que as ocupações
marcaram a forma usual de aquisição de chãos. Nesse cenário pós-Independência, o poder
púbico continuou a ceder terras devolutas mesmo àqueles que não assumiram os
compromissos relativos à demarcação e a medição dos terrenos. Ou seja, ao final do sistema
de concessão de sesmarias, segundo Smith (apud Rezende, 1995), o Estado deixou de
interferir naquilo que se referia a um ordenamento legal da apropriação de terras e não mais
procedeu na distribuição das mesmas, dando margem às sucessivas formas de invasão.

Nesse ponto, a Lei 601 procurou solucionar essa questão a partir da regularização de
todas as terras cultivadas ou com algum princípio de cultura que constituísse, de alguma
maneira, a morada habitual do posseiro. Seria necessária a demarcação e a medição dessas
terras, em função de um prazo previamente estabelecido. Caso o posseiro não cumprisse essas
determinações, não haveria legitimação da posse. O intuito era impedir a proliferação dos
conflitos fundiários ocasionados pela ocupação de terras a partir do sistema de posse ou de
irregularidades do sistema sesmarial. Para este último, a lei previa a revalidação das sesmarias
irregulares que não cumprissem as exigências do sistema. Portanto, instituía-se uma
revalidação das mesmas e uma legitimação de terras anteriormente ocupadas por posse. No
anexo, encontra-se o original da Lei de Terras.

8
“O francês Auguste Saint-Hilaire (1779-1853) foi um dos primeiros cientistas vindos da Europa a poderem percorrer
livremente territórios do Brasil Colônia. Isso foi possível graças à mudança da disposição da Corte portuguesa, instalada no
Rio de Janeiro desde 1808, e que resolveu abrir-se às nações amigas” (Disponível em:
<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2003/08/06/001.htm>. Acesso em: 08 out. 2006).
34

Da Lei 601, pode-se dizer, visava a proteger o simples posseiro e o sesmeiro


irregular, elevando-lhes a situação de fato à categoria de situação jurídica, dando-
lhes meio de adquirir o domínio pleno da terra, pela legitimação da posse ou
revalidação da data (COSTA PORTO, 1965, p.183).

O Regulamento de 1854, após a promulgação da Lei 601, procurou dar conta de


inúmeras situações relacionadas à ocupação das terras. Para tanto, ordenou a criação da
Repartição Geral das Terras Públicas, órgão responsável por dirigir a medição, dividir e
descrever as terras devolutas e prover sua conservação. Também era de competência da
Repartição propor ao governo quais terras devolutas deveriam ser reservadas à colonização
indígena e fundação de povoações, e quais deveriam ser vendidas, além de fiscalizar tal
distribuição e promover a colonização nacional e estrangeira. Cabia também à mesma
Repartição realizar o registro das terras possuídas, propondo ao Governo a fórmula a ser
seguida para a legitimação dessas terras e revalidação de títulos.

Além das questões relacionadas às zonas rurais do país, o mercado de compra e venda
de terras, já na segunda metade do século XIX, forçou instantaneamente a elaboração e a
correção do traçado urbano por meio da definição do dimensionamento e do alinhamento dos
lotes. O curso das ruas e o contorno dos largos foram aos poucos se delineando sob a nova
lógica mercantilista urbana. A idéia de propriedade privada, até então inexistente, passou a
determinar a fisionomia e as características das aglomerações urbanas e das formas de
loteamento. Surgia a figura do particular, que negociava seu próprio lote em vistas da maneira
mais rentável possível, e não mais o poder público como fornecedor único de terras urbanas e
rurais.

1.6 A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Após uma avaliação geral das bases, dos agentes e dos instrumentos que influenciaram
o sistema de terras do Brasil, torna-se claro que as Ordenações do Reino, mesmo que
genéricas, acabaram por definir a situação fundiária, os patrimônios territoriais religiosos e
aqueles de domínio municipais ou públicos. As terras urbanas constituíam os lugares de
fixação dos povoamentos e aqueles destinados à expansão da cidade, afastados do centro
consolidado.
35

Dentro dessa perspectiva, propõe-se um estudo dos processos de ocupação e


valorização das terras públicas e da consolidação das propriedades na cidade do Rio de
Janeiro. Como se deu o movimento de distribuição dos primeiros chãos, a quem pertenceram
e sob quais orientações e regulamentos promoveu-se o parcelamento dos terrenos? A partir
dessas análises, será possível compreender a dinâmica de formação e ocupação de novas áreas
no entorno do núcleo que eram consideradas o rossio da cidade, destinado à expansão urbana
ou à implantação de espaços de uso comum. Nesse contexto, espera-se contribuir para
desvendar o sistema fundiário da Cidade Nova, considerada o vetor oeste de desenvolvimento
da capital, a partir do início do século XIX.

1.6.1 Antecedentes da situação fundiária carioca

A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi criada e fundada em terras da


capitania de São Vicente, cujo donatário era Martim Afonso de Souza, encarregado da busca e
conquista de novos territórios ao sul da Bahia de Todos os Santos9.

Em março de 1565, Estácio de Sá, sob o título de Primeiro Capitão-mor e Governador


do Rio de Janeiro, fundou o primeiro núcleo de povoamento da cidade, localizado entre os
morros do Pão de Açúcar e Cara de Cão, na área em que atualmente se encontra o bairro da
Urca. Foram nomeadas as primeiras autoridades para a Câmara e as Justiças Ordinárias, bem
como o Escrivão das sesmarias e o Alcaide-mor, formando-se um quadro administrativo e
representativo do poder local e real.

A necessidade de consolidar núcleos populacionais e ocupar o território, com o intuito


de frear as inúmeras invasões, incentivou a resolução dos problemas ligados à distribuição e
repartição de terras. Nesse sentido, Estácio de Sá, prontamente, cedeu diferentes parcelas de
chãos, entre as quais as mais notáveis foram as sesmarias doadas aos Jesuítas e à Câmara.

Segundo Haddock Lobo (1860), a sesmaria dos Jesuítas, criada em 1º de julho de


1565, apresentava uma área de duas léguas de frente por duas de fundo, e a sesmaria da
Câmara, formada em 16 de julho de 1565, abrangia uma área de uma légua e meia de frente
por duas de fundo. No governo seguinte, de Mem de Sá, esta segunda doação foi legalizada e
ampliada por meio da concessão de uma parcela de terras adicionais, que correspondia ao

9
Vale lembrar que, a partir da descoberta do Rio, em janeiro de 1531, foi desmembrado da capitania o termo ou terminus da
cidade, que seria de seis léguas para cada parte, cessando o poder e a jurisdição do donatário nesta área.
36

chamado termo. Conforme Fridman (op.cit.), formava-se a sesmaria da cidade do Rio de


Janeiro, que representaria o que hoje compreende a orla do Atlântico, desde a Barra da Tijuca,
passando pelo Catete, pela Carioca, pela Saúde, por Gamboa e pelo morro de São Diogo até
as proximidades do Rio Comprido. Portanto, em 1567, o Rio contava com uma sesmaria
dotada de duas léguas de frente por duas léguas de fundo e com uma área de termo
correspondente a seis léguas em quadra.

Nesse momento, teria início a formação do chamado patrimônio da municipalidade


que, conforme indica Haddock Lobo (op.cit.) em seu levantamento do tombo das terras
municipais, estava localizado dentro e fora dos limites da cidade e se organizava da seguinte
maneira: sesmaria de uma légua e meia de testada com duas de fundo, doada por Estácio de
Sá em 1565; sesmaria de seis léguas em quadra, anexas à primeira, doada por Mem de Sá em
1567; antiga marinha da cidade; sesmaria de sobejos; terrenos realengos situados na freguesia
de Irajá; sesmaria Realengo do Campo Grande; usufruto do rendimento dos foros e laudêmios
relativos aos terrenos de marinha, incluindo-se o Mangue da Cidade Nova.

Não se pode esquecer que, em paralelo a esse patrimônio, estavam as terras


correspondentes à Ordem dos Jesuítas, que compunham a parcela dos grandes proprietários do
período colonial, conforme afirma Fridman (op.cit.). Dessa forma, durante os primeiros
séculos de povoamento, desde a cessão das primitivas sesmarias, surgiram os problemas
relacionados à demarcação dos limites de terras, que demonstrariam uma quase circunscrição
dos chãos religiosos e dos públicos na mesma área, com sobreposição de terrenos próximos às
divisas.

Portanto, sabe-se que desde o governo de Estácio de Sá (1565-1567), passando por


Mem de Sá (1567-1568), até o período de Salvador de Sá (1568-1572), a Coroa concedeu
poderes para que esses governadores cedessem sesmarias a particulares, instituindo-se um
regime fundiário livre de quaisquer normas e regulações quanto à ocupação do solo urbano.
Segundo Carvalho (1893), os capitães-mor ou governadores detinham o poder necessário para
dar de sesmaria as terras vagas colonizadas pelas Coroa, como era o caso do Rio de Janeiro.
Como exemplo, esse autor cita o Foral da cidade, de 1630, que diz:

As terras que estiverem dentro do termo e limites da cidade de São Sebastião, que
são seis léguas para cada parte, que não forem dadas a pessoas que as aproveitem;
ou posto que o fossem dadas as não aproveitassem no tempo que são obrigados e por
esta via ou outra qualquer estiverem vagas, vós as podereis dar de sesmaria a quem
vo-las pedir...as quaes terras assim dareis livremente sem outro algum fôro ou
tributo, somente o dizimo à Ordem do Mestrado de N.S.J.C, com as condições e
37

obrigações do Foral dado às ditas terras e da minha Ord. do L.4 das Sesmarias...e
isto se entenderá não sendo as ditas terras dadas a outras pessoas, etc (IN
CARVALHO, 1893, p.12).

A Câmara deixava de proceder à medição e demarcação de seu território, embasando-


se, segundo Haddock Lobo (op.cit.), no princípio de não despender sem imediata
compensação. Ou seja, o baixo rendimento dos pagamentos dos arrendamentos ou
aforamentos das terras pertencentes à municipalidade não representava parcelas significativas
na receita anual da Câmara que, por conta disso, não investia nos custosos procedimentos de
medição e marcação dos terrenos. O autor ainda acrescenta que o intuito do governo era o
aumento do número de habitantes e um conseqüente desenvolvimento do comércio citadino,
permitindo-se os abusos relacionados à ocupação do território urbano, pouco importando-se
com a usurpação para com o patrimônio público das edificações e com o caráter irregular e
não uniforme da massa construída na cidade.

A promulgação da Provisão Régia de 7 de janeiro de 1643, segundo Haddock Lobo


(op.cit.), seria o impulso à ordenação da primeira medição e demarcação do tombo de todos
os bens, das terras e demais propriedades da Câmara. Porém, apenas em maio de 1667 ela
seria posta em prática, mas posteriormente embargada. Um dos possíveis motivos para a
suspensão dessa medição foi a interferência dos Jesuítas em razão da defesa de sua divisa de
sesmaria delimitada anteriormente, alegando-se a perturbação da ordem em que estavam os
padres

Apenas a partir da Ordem ou Carta Régia de 23 de fevereiro de 1713, cujo intuito era a
proibição da distribuição de sesmarias por governadores, dentro da cidade, por pertencerem
estas à Câmara, é que a Coroa manifestou sua insatisfação quanto à situação de desordem do
sistema fundiário no Rio de Janeiro. Dizia a Ordem:

Francisco de Tavora. Eu El-Rey vos envio muito saudar. Neste Reino se soube, que
a data de sesmaria que deu vosso antecessor Francisco de Castro Moraes, em tempo
de seu Governo, de uns chãos ao sargento-mor d’Engenheiros Manoel de Mello e
Castro, a que se não deferio por se não estender a sua jurisdicção a dar nessa Cidade
os ditos chãos, senão somente as terras devolutas nos sertões, e serem propriamente
as outras datas, situadas dentre dessa Cidade da Câmara, precedendo Provisão
Minha. E assim vos ordeno vos abstenhais de dar semelhantes datas: e para que
conste a todo o tempo d’esta Ordem a mandareis registrar em as partes onde tocar.
Escripta em Lisboa aos 23 de Fevereiro de 1713. Rey. Para o Governador Geral e
Capitão General do Rio de Janeiro. Ordem Régia de 23 de Fevereiro de 1713,
prohibindo aos Governadores o darem sesmarias dentro da Cidade, por ser da
Câmara todo o terreno em que ella está assente (IN HADDOCK LOBO, 1860, p.81).
38

Aos governadores restaria a cessão de terras somente nas áreas de sertão, afastadas do
centro urbano. Porém, conforme ressalta Carvalho (op.cit.), o governador Francisco Xavier da
Tavora (1713-1717) concedeu sesmarias de terras para a igreja de Santa Cruz dos Militares,
em 1716, comprovando-se o não cumprimento da ordem em questão. O autor ainda lembra
que essa Carta Régia apenas reconhecia na Câmara o poder de dar de sesmaria aquelas terras
compreendidas no termo da cidade, excluindo-se as que constituiriam o patrimônio público.
Nesse sentido, para a municipalidade restava a função de sesmeira ou de cessionária de terras
livres de tributos, somente sujeitas ao dízimo da Ordem de Cristo. Portanto, a Câmara deu
início a um intenso processo de arrendamento e aforamento de diferentes parcelas de chãos a
quaisquer particulares em troca de pensões consideradas pouco significativas para a sua
receita.

Quanto aos Jesuítas, desde o início procuraram reconhecer sua sesmaria primitiva
perante a Coroa, a partir da medição e demarcação de suas terras, que se estenderam para o
interior, para os lados da área em que hoje se localiza Campo Grande. Quanto ao limite entre
a sua sesmaria e a da Câmara, delimitaram as terras menos alagadiças fronteiriças ao mangue
de São Diogo, já que a municipalidade não havia ainda demarcado e legitimado seus limites.

A testada da sesmaria dos Jesuítas começou a medir-se no valle de Catumby junto


ao rio dos Coqueiros (antigo rio Iguassu), que lhe ficou servindo de divisa natural
desde a sua nascente até desaguar no mangue da Cidade Nova. Daqui seguio pelo
litoral atravessando a Bica dos Marinheiros, S. Christóvão e Bemfica até a Tapera de
Inhaúma – abrangendo em seu fundo ou sertão os férteis e saudáveis terrenos do
Engenho-Velho, Andarahy, Engenho-Novo, etc (HADDOCK LOBO, 1860, p.12).

Ressalte-se que a área da Cidade Nova, criada no século XIX, fazia parte tanto da
sesmaria da Câmara como, em menor escala, da sesmaria dos jesuítas. Vale lembrar que
foram feitas duas tentativas de medição da sesmaria primitiva da Câmara, não obtendo
sucesso a primeira, encontrando resistência dos padres da Companhia de Jesus, a quem
interessava o estado de desordem das cessões de terras, bem como a manutenção das regalias
oferecidas pela Coroa. Entre elas: a dispensa do dízimo sobre a utilização de suas terras e o
aproveitamento dos chãos doados por um período de dez anos (enquanto o permitido era de
apenas três anos) sem o risco de perdê-los.

A segunda medição das terras da Câmara teria início apenas em outubro de 1735,
sendo concluída em setembro de 1754. Nesse período, ela sofreria resistência não apenas da
Ordem dos Jesuítas, mas também dos chamados poderosos da terra, que obtiveram regalias
39

quanto à obtenção de chãos cedidos pelos governadores do Rio, dentro da área que pertencia à
municipalidade. Portanto, ao final de todo esse processo de delimitação das divisas entre o
patrimônio dos Jesuítas e aquele destinado à Câmara, o resultado foi o não-preenchimento de
todo o fundo da sesmaria primitiva limítrofe àquela dos religiosos. Estes últimos definiram e
ocuparam terras que inicialmente estavam presentes na sesmaria doada em 1565 para a
Câmara. Além disso, quanto à segunda doação, de 1567, considerada um acréscimo à primeira
parcela cedida, também a municipalidade encontrou dificuldades para a sua demarcação.

Em 1759, teve início o processo de expulsão dos Jesuítas de todas as colônias


portuguesas, sob a orientação do Marquês de Pombal, que declarava o rompimento das
relações com a Santa Sé. Determinou-se que todos os bens temporais dos Jesuítas no Brasil e
no Rio de Janeiro, tanto as terras quanto os bens possuídos, provenientes das doações de 1565
feita por Estácio de Sá e de 1630 feita por Martim de Sá, fossem declarados vacantes e
incorporados ao fisco. Parte foi arrematada e outra inscrita como Próprios Nacionais,
constituindo o domínio patrimonial ou privado do Estado.

Retornando ao patrimônio municipal, este, além da sesmaria primitiva e de seu


acréscimo, contava com a chamada marinha da cidade, considerada a praia localizada entre os
morros do Castelo e de São Bento. Essa área constituía-se numa faixa de terreno não alagado
que, em 1644, seria em parte transformada no leito das duas principais vias da época: a rua
Direita (atual Primeiro de Março) e a rua da Misericórdia (continuação da anterior). Era
vedada a construção ou edificação, com exceção do açougue público e do Forte de Santa
Cruz, a fim de permitir a conservação dos terrenos como locais de trocas comerciais e de
defesa da cidade.

Até 1635, a Câmara, com o título de senhorio direto das terras de marinha, não havia
aforado nenhum destes terrenos, embora tenha surgido um grande número de pretendentes,
conforme afirmação de Haddock Lobo (op.cit). Naquela data, foi concedido o aforamento por
18 anos ao então alcaide-mor da cidade, Salvador de Sá, que passaria a ter o domínio útil de
grande parte dessa faixa de terra. Esta decisão da Câmara suscitou embates quanto ao
privilégio do alcaide em relação às inúmeras propostas até então solicitadas. A solução para
esses conflitos foi a decisão de se construir a Fortaleza da Lage com recursos vindos
diretamente da venda desses chãos de marinha, já que o Estado não arcaria com as despesas
desta obra grandiosa. Portanto, em 1644, a Câmara em sessão solene resolveu realizar a venda
do domínio útil da marinha, por meio de hasta pública. Data da decisão a gênese do
aforamento dessa área da cidade, à exceção do trecho correspondente ao Convento do Carmo,
40

reservado para o rossio10. Dessa maneira, os inúmeros aforamentos que se sucederam


originaram uma massa construída não uniforme, que não respeitava alinhamentos nem
arruações e que demonstrava a maneira livre e desordenada com que se consolidava a área de
marinha da cidade.

Se o patrimônio da Câmara contava com as sesmarias doadas em 1565 e em 1567,


além da área de marinha da cidade, vale ressaltar que, deste processo de demarcação dos bens
municipais, restavam ainda, dentro dos limites do Rio, aqueles chãos que não fizeram parte
dos procedimentos de medição já assinalados: sesmaria de sobejos; e os destinados ao
usufruto de foros e localizados próximos ao Mangue da Cidade Nova. Além destes dois, havia
os terrenos realengos da freguesia de Irajá e a sesmaria de Realengo do Campo Grande. Estes
últimos não serão analisados neste trabalho, já que se posicionam afastados do núcleo
consolidado e de suas áreas mais próximas, objeto atual de investigação.

A sesmaria de sobejos foi concedida pelo governador Pedro Mascarenhas, em 26 de


maio de 1667, à Câmara, que obteve a sua confirmação apenas em janeiro de 1794. Suas
terras compreendiam aquelas que ficaram fora da primeira medição da sesmaria primitiva, e
que confinavam entre a praia do Flamengo e o morro da Conceição. Desses terrenos, já estava
de posse a municipalidade por diversos aforamentos que havia feito anteriormente à medição,
ou por serem terras devolutas. Terras estas que nunca foram demarcadas em função da sua já
consolidada distribuição por títulos de enfiteuse.

O mapa 01 mostra a distribuição das sesmarias, incluindo a de Sobejos.

10
Ressalte-se que, estranhamente, Haddock Lobo (1860) lembra que, ao pesquisar em livros do Arquivo da Cidade, veio ao
seu conhecimento que esse era o único rossio da cidade e que correu o risco de desaparecer no ano de 1683, por conta da sua
repartição e do aforamento aos parentes dos oficiais da Câmara. Tal parcelamento foi impedido via Provisão Régia de 6 de
dezembro de 1686, suscitada pelos religiosos do Carmo, que declaravam tal realização como um afronte ao serviço público.
41

Mapa 01 – Distribuição de sesmarias no Rio de Janeiro


s/escala

Base cartográfica: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 1868. In: FRIDMAN (1999).

Pode-se concluir que, após a expulsão dos Jesuítas, em 1759, e a transferência da


capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, o patrimônio da Câmara em
grande parte já estava demarcado e reconhecido sob a forma de domínio direto. As sesmarias
doadas na segunda metade no século XVII, e a concessão daquela denominada de sobejos,
bem como a delimitação da área de marinha da cidade, representavam a área urbana da
municipalidade.

Se até 1790 a Câmara, ou o Senado da Câmara, como passou a ser conhecido a partir
da Provisão Régia de 11 de março de 1757, detinha o controle do território carioca, a partir do
seu reconhecimento como senhorio pelos arrendatários e foreiros, um incidente abalaria estas
relações. O sobrado situado no Largo do Paço, em que funcionava o Senado da Câmara,
sofreu um incêndio de causas duvidosas, queimando-se parte da documentação relativa às
terras da cidade que se encontravam arquivadas. Segundo Haddock Lobo (op.cit.), opiniões da
época sugeriram que este episódio fora causado por foreiros da municipalidade que desejavam
42

libertar suas terras do domínio direto da Câmara. De qualquer forma, um dos principais
documentos relativos ao sistema fundiário foi salvo: o livro do traslado da medição e tombo
das terras do Senado da Câmara.

Após o incidente, foram tomadas medidas com o intuito de controlar a arrecadação dos
foros e o patrimônio municipal, estipulando-se que os enfiteutas fossem até o Senado para a
apresentação dos seus títulos de aforamento para serem registrados novamente. Além disso,
algumas vereações foram lançadas no sentido de regular procedimentos quanto à posse das
terras. Como exemplo, tem-se a vereação de 14 de julho de 1792, que criou um livro de
contas correntes com todos os foreiros do Senado e a de 4 de junho de 1794, que solicitava o
arrolamento de todos os prédios, chácaras e terrenos por distrito. Haddock Lobo (op.cit.)
ainda afirma que, de 1790 até 1807, as vereações foram as grandes reguladoras do sistema de
aforamento de vários terrenos baldios ou devolutos.

A partir de 1808, com a chegada da família real, que permaneceria na cidade do Rio de
Janeiro até 1821, a atuação do Senado nas questões ligadas à terra seria reduzida para dar
margem, em termos de distribuição de recursos, a outras atividades. Dentre as poucas medidas
significativas da época, importante é lembrar o Alvará de 11 de abril de 1815, referente aos
bens próprios municipais, que somente autorizava o aforamento dos baldios quando estes se
mostravam desnecessários para a implementação de logradouros na cidade, sob a assistência
da Câmara. Nesse sentido, pela conveniência de mantê-los, não os podendo ceder sob a forma
de sesmaria, ratificava-se a função da Câmara de administração e conservação dos mesmos
em prol do uso de todos.

Ressalta-se também, já no final do período de estada da Corte no Rio, a promulgação


do Alvará de 10 de abril de 1821, que imprimiu condições quanto ao permissivo existente
processo de distribuição de terras na cidade. Vale lembrar que, neste processo, os enfiteutas
obtinham diretamente do Senado a posse de terras por títulos de aforamento e acabavam por
fracioná-las em menores parcelas com o intuito de arrendá-las em troca do recebimento de
aluguéis. Também ocorria o subarrendamento dessas parcelas fracionadas, quando o período
estipulado de posse do arrendatário fosse extenso. Portanto, aquele terreno, que no senhorio
direto pertencia ao Senado, pertencia a um ou mais indivíduos no senhorio útil ou no
aforamento sucessivamente. Como no arrendamento não havia alienação ou transmissão de
propriedade, não havia licença e nem pagamento de laudêmio pela terra. Nesse sentido, sem a
condição do pagamento do laudêmio, também não haveria proteção legal desses arrendatários
perante às exigências dos seus enfiteutas. Além disso, quando terminava o período estipulado
43

em contrato para o arrendamento das terras, o enfiteuta exigia a entrega do terreno mediante o
seu pagamento pelas benfeitorias nele aplicadas. Porém, não havia parâmetros para a medição
do real valor dessas benfeitorias, ocorrendo na maioria dos casos uma sub-valorização do
investimento aplicado pelo arrendatário. Os conflitos fundiários geralmente terminavam com
o ganho de causa dos foreiros, mediante a indenização do arrendatário com a quarta ou sexta
parte do que lhe era devido. Haddock Lobo (op.cit., p.61) afirma que desse processo surgiam
as “execuções intermináveis, os embargos, as apellações, e todo o cortejo de recursos do foro
que a nossa legislação facilita aos chicaneiros”. Nesse sentido, a prática usual nos terrenos da
municipalidade revelava-se um tanto perversa para aqueles que não detinham o título de
aforamento das terras, mas apenas o direito de arrendamento das mesmas.

Desse modo, segundo Carvalho (op.cit.), por este alvará ordenou-se que aqueles que
detivessem terrenos continuassem na sua posse e que se regulassem pensões no sentido da
manutenção, do rendimento e da utilidade que esses bens tivessem desde o início da posse. As
suas principais recomendações foram: a legitimação e validação de todos os aforamentos
feitos pelos oficiais da Câmara de terrenos desmembrados de suas primitivas sesmarias sob o
pagamento de foro e laudêmio; a legitimação e validação das subenfiteuses e arrendamentos,
ficando estes contratos reduzidos a aforamentos perpétuos; a possibilidade de os enfiteutas ou
arrendatários devolverem o domínio do terreno para a Câmara, caso não o quisessem mais,
sob a forma de aforamento perpétuo por conta do pagamento excessivo de pensões; a
possibilidade de os terrenos devolutos poderem ser, dali em diante, aforados por oficiais da
Câmara. Essas provisões buscaram amenizar os constantes conflitos de terras entre o Senado e
o povo, por conta do grande número de mandados judiciais com ordens de despejo nas quais
os foreiros do Senado obtinham contra os seus arrendatários.

Ainda nesta segunda década do século XIX, vale lembrar os terrenos de marinha
vizinhos ao Mangue da Cidade Nova, em que a Resolução de 13 de setembro de 1820,
publicada por edital em dezembro do mesmo ano, orientou as concessões gratuitas daqueles
terrenos com o intuito de incentivar a construção de armazéns e trapiches nas praias da
Gamboa e do Saco do Alferes. Modificava-se assim o Decreto de 21 de janeiro de 1809 (que
o lançado em julho de 1820 já havia suspendido), permitindo-se a ocupação dos terrenos
alagadiços. É preciso enfatizar que esses terrenos de marinha ficaram também sujeitos ao
Alvará de 10 de abril de 1821 por meio da execução das instruções de 14 de novembro de
1832.
44

A Ordem de 28 de junho de 1834 declarou que os terrenos para serem ou não


considerados de marinha deveriam ser tomados no estado em que se achassem. Ou seja,
aqueles que estivessem fora dos limites marcados por conta de algum tipo de acréscimo,
natural ou não, fazendo-se recuar o mar, não seriam classificados como marinha.

A partir da Lei de 3 de outubro de 1834, foi conferido o direito da municipalidade de


cobrar os foros relativos aos terrenos de marinha, que neste momento passariam ao controle
da Câmara e não mais da Coroa; e a autorização para o aforamento de edificações,
determinando assim a modalidade do usufruto. Dessa forma, os foros cobrados até então pelo
governo imperial passariam a constituir fonte de renda do governo da cidade do Rio de
Janeiro. A cobrança dos laudêmios pela municipalidade foi instituída apenas após a Lei de 20
de outubro de 1838.

Sobre os terrenos de marinha artificial, aqueles em que eram acrescidas 15 braças


craveiras, o Tesouro, por meio da Provisão de 24 de agosto de 1842, estipulou que essas terras
não poderiam ser rentáveis para a Câmara, que não teriam pensão arbitrada e,
conseqüentemente, não estariam sujeitas a laudêmio. Segundo Haddock Lobo (op.cit.), a
dificuldade de demarcação das marinhas da lei para o lado da terra e as artificiais para o lado
do mar fizeram com que o Tribunal do Tesouro fosse designado como mediador das decisões
a respeito desses territórios. O resultado foi a ausência de medição e demarcação de grande
parte deles, facilitando e permitindo o não pagamento dos foros e laudêmios nos processos de
enfiteuse das marinhas.

Conclui-se que, a partir da análise dos inúmeros elementos que acabaram contribuindo
para a formação do patrimônio territorial da municipalidade, tornam-se claras as dificuldades
com que a Câmara ou, posteriormente, o Senado, teve para determinar se esse ou aquele
terreno situado nas terras de suas cessões e aquisições faziam parte de seu domínio, ou não
resguardava o caráter de alodial, livre de encargo ou de direitos senhoriais, em que estava
mantido.

1.6.2 Os principais senhores do domínio útil do território carioca

Conforme visto, a distribuição de chãos e a conformação do território carioca, durante


o período colonial, demonstraram uma intensa disputa de ordem política, ideológica e social.
Nesse sentido, a própria estrutura fundiária revelava a dinâmica de acumulação e de
45

parcelamento do patrimônio territorial, que passou a se expressar nas formas e no desenho da


cidade do Rio de Janeiro. De fato, além das querelas ligadas à posse e ao domínio útil dos
terrenos urbanos pelos indivíduos chamados de particulares, a influência da presença das
instituições eclesiásticas na paisagem colonial e a imbricação entre Estado e Igreja acabaram
definindo uma certa espacialização de atividades e de caminhos em prol da expansão
territorial em direção aos arrabaldes.

Portanto, vale dizer que, dentre os principais detentores do domínio útil da cidade, já
em meados do século XVII, apareciam os religiosos, representados pelas ordens e confrarias,
que se localizavam próximas às paróquias, constituindo um núcleo de casas, sobrados e
pequenos prédios que muitas vezes geravam a renda disponível para essas entidades por meio
dos aluguéis. O mapa 02 indica a localização das propriedades religiosas no Rio de Janeiro,
entre os séculos XVII e o XVIII.

Mapa 02 – O Rio de Janeiro e as propriedades religiosas: 1651 – 1750


s/escala

Fonte: FRIDMAN, Fania.


Donos do Rio em nome do
Rei. Uma história fundiária da
cidade do Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar
Editor/Garamond, 1999.
46

A partir do século XVIII, segundo Fridman (op.cit., p.13), “o uso do solo carioca
mostrou um jogo de forças que teve expressão jurídica e política”. Era o clero que impunha as
normas para a estruturação urbana, para a locação dos edifícios e das propriedades religiosas.
Além da interferência na distribuição espacial e social dos agentes e das construções, ele agia
incisivamente sobre a vida cotidiana dos habitantes. A autora afirma que havia um domínio
por parte dos religiosos sobre os referenciais diários dos cariocas.

Na habitação, com a construção e o aluguel de moradias; na saúde, com hospitais,


com boticas (farmácias), com médicos e com enfermeiras; com a produção de
alimentos nas suas fazendas e nos seus engenhos; na educação, com escolas; na
cultura, através do teatro, das artes plásticas, da música e do lazer; nos
melhoramentos urbanos, com a construção de pontes, de chafarizes, da abertura de
ruas e do saneamento; com o fornecimento de água; através de suas normas
urbanísticas garantiam parte da segurança; nos empréstimos e na guarda de dinheiro
e bens; com a hospedagem dos romeiros; com a proteção aos fugitivos e aos
meninos de rua e com os enterros (FRIDMAN, 1999, p.14).

O poder religioso era amparado pelas ordens religiosas e pelas confrarias que eram
representadas pelas irmandades (antigas corporações de ofício oriundas da Idade Média) e
pelas ordens terceiras. As ordens e confrarias controlavam e dominavam o território da
cidade. Havia uma distribuição dessas instituições deflagrando uma hierarquização de espaços
e funções. “[...] do ponto de vista simbólico, o lugar de fixação destas confrarias representava
poderio e, neste sentido, a valorização de uma área no período colonial dependia da existência
destes marcos ideológicos” (FRIDMAN, 1999, p.26).

As irmandades organizavam-se de acordo com a etnia (africanos e pardos), a profissão


(carpinteiros e militares) e a posição social (mais nobres ou menos nobres); representando
distintos segmentos da sociedade colonial pela diferenciação racial e econômica.
Constituíram-se em fontes de caridade coletiva e de ajuda mútua, prestando serviços à
população. Pereira (1991) enfatiza que elas dominavam as cenas sociais como: os
nascimentos, as mortes, os casamentos, as tarefas assistenciais e o cuidado dos doentes. Tal
situação apenas iria modificar-se a partir da primeira metade do século XIX, quando teve
início o processo de laicização, e a igreja foi perdendo gradativamente o seu papel de
provedor dos serviços urbanos, cedendo lugar ao poder público.

As principais ordens religiosas eram as dos jesuítas (no morro do Castelo), dos
carmelitas (no terreiro que deu origem ao Largo do Carmo), dos beneditinos (no morro de São
Bento) e dos franciscanos (no morro de Santo Antônio). Maurício de Abreu (op.cit.) afirma
que as maiores sesmarias doadas no Rio de Janeiro, ou por particulares ou pela própria Coroa,
47

pertenciam às três primeiras. A localização das instituições e irmandades ligadas a essas


ordens dava-se em função da situação financeira dessas últimas e do maior número de
benfeitorias disponibilizadas no território da cidade. Aquelas consideradas mais abastadas
ocupavam os territórios correspondentes à área central e eram servidas por benfeitorias, tais
como: hospitais, colégios, mercados, chafarizes etc.

Aos pobres e negros restavam as irmandades mais longínquas, nos arredores


destituídos de melhorias urbanas ou de equipamentos coletivos. As irmandades de Nossa
Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a mais popular e numerosa; de Nossa Senhora da
Imaculada Conceição; de Nossa Senhora da Lampadosa, que abrigava negros libertos e
portugueses; de São Elesbão e Santa Efigênia, composta por negros libertos e escravos vindos
de Cabo Verde, na África; instituíram-se nessas áreas não consolidadas, distantes do núcleo
central.

No século XVIII, nessas localidades, nas proximidades do Campo da Cidade, já


surgiam quilombos organizados por negros fugidos das fazendas e, os ciganos passaram a
ocupar parte dessas terras alagadiças, mais precisamente no Campo de São Domingos, e não
arrendadas por conta das péssimas condições do sítio, mantendo-se isolados em função de um
distanciamento sócio-espacial da sociedade carioca da época. Fridman (op.cit.) afirma que em
muitos casos, parte desses ciganos tornou-se intermediária no mercado de escravos do Rio de
Janeiro.

Paralelamente a essas atividades de contrabando de escravos, surgiam àquelas ligadas


à fabricação de telhas e tijolos, e que estavam situadas nas fazendas dessa área e nas
propriedades urbanas dos beneditinos, dos jesuítas e dos franciscanos. Um exemplo era a
olaria localizada nas proximidades do Catumbi Grande, pertencente aos carmelitas. Portanto,
em direção ao rossio ou ao Campo da Cidade, investia-se na produção de matérias-primas
para a construção civil, que se tornara lucrativa ao final do século XVII.

Portanto, a partir da região em que hoje se encontra o Campo de Santana, em direção


ao oeste da cidade, apresentava-se uma zona pantanosa, local de diferentes atividades, tanto
destinadas ao abastecimento do núcleo central, como à produção de materiais de construção, à
coleta de lenha, à criação de animais, bem como associadas ao comércio de escravos. E mais
do que isso se concretizava o lugar dos excluídos, dos pobres e dos negros, que deveriam
ocupar o território destinado ao rossio da cidade, longe do núcleo colonial.
48

Para essa área de difícil acesso, em função das constantes inundações e do solo
alagadiço, por onde penetravam as águas do saco de São Diogo e onde se localizavam a lagoa
da Sentinela e o mangal de São Diogo, apenas tinha-se acesso por meio de pequenas
embarcações que aportavam em atracadouros localizados estrategicamente para o escoamento
da produção dos arrabaldes. Essa região passou a ser conhecida como Cidade Nova a partir da
chegada da Corte portuguesa e de dom João VI, em 1808, que a ela atribuiu um projeto de
ocupação, por meio do aterramento dos pântanos, do saneamento e do arruamento.

Essa parte da cidade, definida como um rossio desde os tempos coloniais, que
abrigava irmandades de negros, escravos e pobres, passaria a representar, a partir da
implantação de infra-estrutura direcionada pelo Estado português no Brasil, um novo e
significativo espaço urbano dentro dos limites do Rio de Janeiro. De rossio pantanoso essa
zona seria incorporada à cidade de forma privada, constituindo-se numa das principais
localidades representativas do governo português e, posteriormente, do império do Brasil.

Os mapas 03 e 04 mostram a distribuição das principais irmandades e atividades


desenvolvidas no Rio de Janeiro durante dois períodos: entre os séculos XVII e XVIII e os
séculos XVIII e XIX.

Mapa 03 – Ordens religiosas, irmandades e confrarias entre os séculos XVII e XVIII


s/escala

Fonte: FRIDMAN, Fania. Donos do Rio em nome do Rei. Uma história fundiária da cidade do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Garamond, 1999.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por
Ordem de Sua Alteza Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. IN: CUNHA (1971).
49

Mapa 04 – Ordens religiosas, irmandades e confrarias entre os séculos XVIII e XIX


s/escala

Fonte: FRIDMAN, Fania. Donos do Rio em nome do Rei. Uma história fundiária da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor/Garamond, 1999.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real
o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. IN: CUNHA (1971).
50

CAPÍTULO 2

O PÚBLICO E O PRIVADO

2.1 APRESENTAÇÃO

No capítulo 1, foi analisada a influência das concepções portuguesas no processo de


formação da estrutura fundiária no Brasil. Em que termos deu-se a distribuição de terras e
datas e como esse sistema desenvolveu-se ao longo dos anos, desde o período colonial até a
transição para o imperial. Foram destacadas a forma de acumulação e a configuração dos
patrimônios públicos, privados e religiosos e como o domínio dessas terras refletiu-se na
construção da cidade do Rio de Janeiro, capital do governo português na América.

A princípio, é sabido que o patrimônio da Coroa portuguesa no nosso território


distribuía-se sob a forma de sesmarias nas áreas rurais, dando origem aos latifúndios e aos
grandes proprietários de terras; e de datas de terra nas cidades. Essas datas ou dadas eram
aforadas a particulares, que obtinham por esse sistema o domínio útil daquele terreno urbano.

As dimensões dessas datas estavam condicionadas às regras e deliberações das


câmaras e geralmente não eram padronizadas. Segundo Murillo Marx (1991, p.77) “As cartas
régias e os alvarás que criavam as vilas e os subseqüentes forais, que lhe conferiam
prerrogativas, não estipulavam o tamanho dos chãos a serem concedidos para moradas e
quintais”. Em raras vezes, delimitavam-se as dimensões daquelas mais afastadas destinadas às
chácaras ou aos sítios.

O domínio direto da Coroa também incluía, nas áreas urbanas, os espaços públicos que
englobavam os chamados logradouros. Naquele momento, conforme os preceitos das
Ordenações do Reino, havia um processo de descentralização do poder do Estado português.
Esse território urbano já era regulado pelas câmaras municipais, que definiriam seus usos e
quem deveria ocupá-lo. Portanto, as câmaras detinham a jurisdição das cidades, que eram
formadas pelos seus termos e pelos rossios, em que os primeiros deveriam ter seis léguas até o
limite de outra cidade e poderiam ser divididos em datas aforadas a particulares e em espaços
públicos destinados aos logradouros. Os rossios faziam parte dos espaços públicos, porém
estavam situados nos arredores da área urbana, nos limites dos centros ocupados.
51

Dessa maneira, está proposto aqui um estudo do patrimônio público na cidade, sob a
ótica dos processos de configuração urbana a partir dos espaços privados e daqueles de uso
comum, os públicos, sejam os logradouros do termo ou dos arredores da cidade. Esta análise é
fundamental para o entendimento da questão fundiária e da ocupação da Cidade Nova,
correspondente ao vetor oeste de expansão urbana do Rio de Janeiro. Criada a partir da cessão
de datas (apropriação privada) e da implantação de infra-estrutura, essa área, considerada um
rossio, teve o seu desenvolvimento condicionado pela transferência do centro da cidade para o
Campo de Santana – tido como o limite entre o urbano e o rural até o princípio dos oitocentos.
Portanto, são abordadas, inicialmente, as questões relativas à origem e ao desenvolvimento
dos espaços públicos e suas funções, tomando-se como referencial para a conformação urbana
brasileira as cidades portuguesas. Em seguida, o corpo deste capítulo divide-se em duas
etapas: a primeira aborda, a partir do século XVIII, as características do privado e do público;
e a segunda, a partir do século XIX e do início do período imperial, as concepções desses
espaços na conjuntura de uma nação que surgia. O objetivo é compreender a dinâmica das
relações entre esse público e o privado, no momento de transição do período colonial para o
contexto de transformação das funções sociais, políticas e econômicas, a partir da chegada da
Corte portuguesa à capital da colônia, em 1808.

Neste trabalho, os espaços privados estão representados pelas habitações urbanas e os


públicos, pelos logradouros (ruas, praças e largos). Ressalte-se que, para o estudo das
tipologias habitacionais, o ponto de partida é a apropriação de conceitos de Nestor Goulart
Reis Filho, presentes nas obras Evolução urbana do Brasil (1968) e Quadro da arquitetura no
Brasil (1978); e de Gilberto Freyre, em Sobrados e Mucambos (2003), além de Murillo Marx,
já citado. A abordagem dos espaços públicos tem como fundamento a discussão de autores,
como Mauricio de Abreu, Marco Morel, Lilian Vaz, entre outros.

2.2 AS PROPRIEDADES URBANAS: AS ORIGENS DO PÚBLICO NA CIDADE

As propriedades públicas distribuíam-se por enfiteuse ou pelo sistema de aforamento a


particulares, além de poderem permanecer sob a forma de espaços livres destinados ao uso
comum. Considera-se o primeiro processo como a configuração dos espaços privados da
cidade e o segundo, como a formação dos espaços públicos.
52

De início, propõe-se uma discussão acerca dos significados e das funções dos espaços
de uso comum no interior da cidade e nos seus arredores. Dessa forma, para o entendimento
de sua estruturação, vale resgatar as suas origens nas cidades portuguesas que influenciaram a
concepção do urbano em território brasileiro. Isto é, grande parte dos espaços urbanos no
período colonial brasileiro tem sua gênese no urbanismo português. “O Brasil constituiu, no
entanto, o território onde se verificaram alguns dos mais interessantes desenvolvimentos do
urbanismo português entre os séculos XVI e XVIII” (TEIXEIRA, 2001, p.10).

2.2.1 As cidades medievais portuguesas

O movimento de Reconquista, a partir da retomada dos territórios da Península e da


expulsão dos mouros, proporcionou um forte e decisivo impacto sobre as cidades medievais
portuguesas no século XIII.

Até aquele período, a morfologia dos núcleos portugueses apresentava características


típicas daqueles de cultura muçulmana. As ruas eram tortuosas, respeitando a organicidade do
traçado, e não havia a presença de espaços livres estruturados, contrapondo-se à lógica da
regularidade predominante nas demais cidades ocidentais européias.

Posteriormente, os cenários urbanos em Portugal demonstraram preocupação com a


defesa e religião que, associadas às condições climáticas, pautavam a conformação da urbe e
limitavam a existência de espaços de uso comum. Com o intuito de suportar o aumento
populacional nos centros urbanos e o desenvolvimento do comércio, surgiram as chamadas
cidades novas portuguesas, enquanto as já existentes procuraram reestruturar seus perímetros.

Naquela época, em relação ao tecido urbano, as ruas, estreitas e sinuosas, terminando


muitas vezes em becos, não assumiam a função social de locus da vida pública,
caracterizando-se apenas como espaços restritos ao fluxo, à passagem e à circulação. Segundo
Madeira (2001), a vida pública acontecia apenas nas mesquitas, que eram resquícios da
presença moura e os locais destinados à reunião e ao convívio dos habitantes, unindo a
sociabilidade à religiosidade, representando os elementos urbanos da unificação. “[...] a
mesquita servia de templo de oração, de clube social, de casa da câmara, de parlamento e de
escola” (MARQUES, 1988, p.21).
53

Contrapondo-se a essa concepção, Rossa (2006) afirma que a forma orgânica da malha
urbana não representava necessariamente uma influência direta do islamismo na matriz
urbana portuguesa. O autor ressalta que esses núcleos espelhavam-se na herança medieval do
norte da Espanha e nas cidades romanas. Um exemplo era a formação da chamada platea,
vocábulo latino que é a origem etimológica da palavra praça, e considerada um pátio ou
alargamento das ruas para a formação de pontos de encontro e convívio social no período
romano, que se mostraram presentes nos espaços medievais portugueses.

De qualquer maneira, acredita-se que a influência oriental nas cidades medievais


portuguesas é significativa no sentido não apenas de compreender a morfologia desses antigos
núcleos, mas também no fato de desvendar as origens e as funções das áreas livres situadas no
entorno dos seus muros. As cidades muçulmanas, que não apresentavam espaços livres
estruturados no seu interior, dispunham de áreas comuns, próprias à coletividade, localizadas
fora dos seus limites. Elas eram localizadas extramuros e poderiam apresentar duas
finalidades distintas: a musalla, que era o espaço livre destinado ao culto; e as musaras, locais
de exercício eqüestre e de lazer. Portanto, vem dessa cultura a gênese dos rossios como
espaços não construídos e livres que, posteriormente à ocupação cristã (séculos XI e XII),
fariam parte da estruturação das cidades. Essas áreas, localizadas fora das portas da cidade
portuguesa fortificada, muitas vezes eram aquelas abandonadas e herdadas da antiga ocupação
muçulmana ou, então, compreendiam faixas não ocupadas, externas ao muro e destinadas à
defesa. Elas foram ao longo do tempo recebendo novas funções e dando origem aos
logradouros públicos, destinados às praças, aos largos, aos adros, aos terreiros e às ruas, ou
seja, aos locais de uso comum ou coletivo.

No interior dos muros da cidade medieval, os espaços públicos eram basicamente


representados por alargamentos das ruas destinados às trocas comerciais. Não havia praças
estruturadas e nem largos. Havia um aproveitamento dos espaços frontais aos principais
edifícios institucionais e religiosos, dando origem aos terreiros e adros (ou átrios),
respectivamente, que, aos poucos, passaram a representar pontos de referência para a
população.

Essas características urbanas dos núcleos portugueses contrapunham-se àquelas


presentes nas cidades de outras regiões da Europa, como a França e a Itália. Nas principais
cidades francesas, o traçado urbano mostrava-se regular, e nos locais de cruzamento dos eixos
viários mais significativos formava-se uma praça, também regular, que agregava distintas
funções (de mercado, centro religioso, centro político e administrativo). Tais praças
54

transformavam-se em marcos referenciais para os habitantes, que imprimiam a estes espaços


públicos o papel de centro urbano, circundado pelos mais importantes edifícios institucionais
da cidade.

Teixeira (2001) observa para Portugal que, já nos finais do século XIII, as grandes
cidades apresentavam uma malha menos orgânica, com a formação de quarteirões
retangulares e alongados, buscando uma ortogonalidade. Os lotes eram estreitos e paralelos
uns aos outros, frontais às vias principais e com fundos para outras menos significativas,
ocupando toda a largura do quarteirão. Morfologicamente, surgia um traçado que se
aproximava da regularidade e uniformidade que, conforme o autor, denunciava uma espécie
de planejamento ou um conjunto de procedimentos práticos estabelecidos para futuras
cidades.

Vale lembrar que, ao falar de cidade medieval portuguesa, deve-se fazer referência às
chamadas bastides ou póvoas (em Portugal), cidades de colonização interna típicas do período
entre os séculos XIII e XIV, na Europa. Madeira (op.cit.) ressalta que, embora em Portugal
elas não tivessem obtido tanta expressão como na França, Alemanha ou Itália, no momento de
definição das fronteiras com Castela houve necessidade de povoamento e criação de cidades
novas, seguindo um processo semelhante ao verificado nas bastides.

A partir do século XVI, iniciou-se uma nova etapa no desenvolvimento dos traçados
urbanos portugueses e na estruturação dos seus espaços públicos. Já podia ser percebida a
influência do ideal renascentista que predominava por todas as partes da Europa ocidental,
dando início a um processo de modernização em resposta à antigüidade medieval. Surgiram
três linhas para a estruturação e intervenção na urbe: adoção de traçados retilíneos;
conformação da malha ortogonal e desenho de grandes praças fechadas e regulares. Os
espaços públicos começaram a assumir novas funções sociais associadas ao desenvolvimento
urbano e à modernização do Estado, passando a representar os lugares do poder institucional,
administrativo e civil.

[...] os rossios, terreiros ou largos junto às portas das cidades, por regra sempre
exteriores, [...], foram gradualmente reformados em praças onde freqüentemente se
construiu de novo a casa da Câmara, o quase inseparável açougue e se ergueu o
pelourinho. São espaços, equipamentos ou instituições velhos com novo significado,
atribuições e poder, símbolos de um Estado já bem enraizado (ROSSA, apud
MADEIRA, 2001, p.52).
55

Essa modernização, por meio das intervenções urbanísticas quinhentistas, tinha o


intuito de tornar as cidades mais funcionais e organizadas segundo um padrão estético que
privilegiava novos espaços e novas funções. Era a preparação das antigas cidades medievais
para um outro momento, em que predominava o crescimento populacional e as novas
necessidades urbanas associadas à ordem e ao sanitarismo.

As preocupações com a salubridade e a segurança da cidade, o entendimento dos


espaços urbanos como palco de manifestações culturais, a procura de valorização
estética dos espaços da cidade, a reafirmação da noção de interesse público a que os
interesses privados se deviam sujeitar, são expressões de uma nova atitude para com
a cidade (TEIXEIRA, 2001, p.71).

2.2.2 Os logradouros públicos

O logradouro público, como o próprio nome indica, representa parte dos espaços livres
destinados ao uso comum. O sentido desse termo foi sendo modificado ao longo do tempo, de
forma a se adaptar às novas realidades urbanas que surgiam. Segundo Moraes Silva (1813 e
1858), o termo logradouro referia-se ao pascigo público de alguma vila ou lugar ou às terras
que se aplicavam às culturas secundárias nos engenhos, como roças, hortas, lenhas, pomares
etc. Ressalte-se que a palavra pascigo designava o local de pasto ou pastagem (FERREIRA,
1957), ou seja, áreas desprovidas de atividades urbanas e destinadas às rurais. Murillo Marx
(1999) o considera como o espaço que se lograva, que se fruía. Acredita que, nos seus
primórdios, designava a terra comunal, o rossio, o patrimônio público ou municipal; e, no
decorrer da história, com o crescimento dos núcleos urbanos e com a intensificação do
processo de urbanização, passou a representar as praças.

Conforme visto, o termo rossio deve-se enquadrar numa determinada situação espaço-
temporal em que, originalmente, surgiu nas cidades tipicamente muçulmanas e ao longo dos
anos, assumiu funções sociais e evoluiu para o que hoje são as praças e os largos. As praças
têm sua origem no vocábulo latino platea e, segundo Moraes Silva (1813), são o “lugar
público, descoberto, espaçoso, nas villas ou cidades, onde se fazem feiras, mercados, leilões,
onde se tratão coisas de commercio...” Interessante é notar que o termo platea significa rua
larga, pátio ou praça pública, podendo ser feita uma associação direta com o vocábulo platéia,
que se refere ao conjunto de pessoas que se reúnem num mesmo espaço público de um teatro,
cinema ou auditório. Nesse sentido, tem-se o emprego constante do termo público, como
56

adjetivo, como algo de todos, do povo. As plateas eram os lugares da platéia, do público, do
uso comum que, posteriormente, evoluíram para o que hoje se chama de praça. O significado
de largo como pequena praça pública apenas aparece na obra de 1858 de Moraes Silva. Os
rossios, em muitos casos, desenvolveram-se para espaços públicos urbanos (logradouros) e,
paralelamente, para um processo gradual de ocupação privada de suas terras. Em relação aos
outros logradouros ou espaços livres, destacavam-se pela localização nas imediações da
cidade. Segundo Carvalho (apud MADEIRA, 2001, p.44), “os rossios seriam amplos espaços
urbanos públicos que, vez ou outra, seriam confundidos com as praças ou com os terreiros”.
Na realidade, eram um baldio ou uma terra inculta próxima aos limites da cidade que, ao
longo dos anos, sofreram ocupações diversas que ocasionaram na sua incorporação à malha
urbana11.

Em geral, o termo logradouro, nas concepções mais recentes, é associado a um espaço


que está intimamente relacionado ao entorno construído da cidade e dependente dele. Vaz
(2001) o conceitua como o espaço livre, não construído em meio ao ambiente edificado da
cidade, sendo aquele cujas principais funções destacam-se pela circulação, pela comunicação,
pelas trocas e pelos intercâmbios. Madeira (op.cit.), utilizando uma definição mais genérica,
aproxima-se dessa concepção ao destacar a praça como o lugar público cercado de edifícios e
o terreiro como o espaço público cercado de edificações, mais amplo e menos estruturado, na
sua envolvente, do que a praça. Os largos seriam definidos pelos elementos construídos no
seu entorno, mas diferentes das praças em função da sua menor dimensão; os adros12
representariam os espaços públicos semelhantes às praças ou aos largos, porém,
obrigatoriamente, situados em frente ou próximos às igrejas.

Neste trabalho, o significado de logradouro refere-se às praças, às ruas e aos passeios


públicos, conforme apresenta Ferreira (1985). Ou seja, representa todos os espaços comuns,
de uso do povo, estendendo-se a outros elementos como os terreiros, os adros e os largos que
fizeram ou fazem parte da estruturação urbana. A partir das reflexões de Choay (1988), pode-
se dizer que a importância desses logradouros e suas funções variam conforme as épocas, as
culturas e a intensidade da vida pública; assim como o seu espaço é relacionado

11
“Rocio, Recio ou Ressio; posto que hoje dizemos o rocio, ou a praça, e por excellencia huma praça de Lisboa” (MORES
SILVA, 1813). “Ressio, s.m. V. Recio. Leão, ortogr. Cast. L. Ord. Afons. As terras de lavoiras som deitadas em ressios.
Ficão em baldios, e maninhos” (MORAES SILVA, 1831).
12
“Adro, s.m. Lugar aberto e talvez com taboleiro diante dos templos; n’alguns há cemeterios, e daqui vem dizer-se famil”
(MORAES SILVA, 1813).
57

principalmente às atividades de caráter político, social e econômico, conforme será visto mais
à frente.

2.3 UM RESGATE DO PERÍODO COLONIAL A PARTIR DOS SETECENTOS

Propõe-se aqui a análise do cenário econômico, político e social do século XVIII para
o estudo das concepções e influências que determinaram a conformação e a utilização dos
espaços da cidade, sejam eles públicos ou privados. Dessa maneira, será possível
compreender em que sentido ocorreram as transformações desses espaços no Rio de Janeiro, a
partir do aporte da Corte no início do século XIX.

2.3.1 Conjuntura econômica, política e social

A virada do século XVII para o século XVIII, marcada pela construção de vilas
planificadas no interior do Brasil, em termos físicos, representava um compromisso da
metrópole portuguesa com os preceitos do Absolutismo, num período de difusão dos ideais
iluministas por toda a Europa. Vale frisar que, o Iluminismo13 foi um movimento intelectual e
cultural que enfatizava a razão e a ciência, consideradas as fontes explicativas do universo,
contrapondo-se ao domínio e controle da igreja católica sobre as sociedades da época. Esse
desenvolvimento intelectual, que vinha ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a idéias
de liberdade política e econômica, defendidas pela burguesia européia, principalmente
francesa e inglesa. Pode-se dizer que o Iluminismo trouxe consigo grandes avanços que,
juntamente com a Revolução Industrial, abriram espaço para a mudança política determinada
pela Revolução Francesa, que se tornara uma espécie de paradigma do nascimento da
chamada modernidade política (MOREL, 2005). Nesse sentido, abriram-se as portas para o
crivo racionalista sobre a religião e para a valorização do poder civil e leigo, imbuídos de um
ideal liberal, que se disseminara por toda a Europa, inclusive em Portugal.

13
O nome se explica porque os filósofos da época acreditavam estar iluminando as mentes das pessoas. É, de certo modo, um
pensamento herdeiro da tradição do Renascimento e do Humanismo por defender a valorização do Homem e da Razão. Os
iluministas acreditavam que a Razão seria a explicação para todas as coisas no universo, e se contrapunham à fé. No Reino
Unido, figuras como John Locke, David Hume, Edward Gibbon ou Adam Smith dispunham da liberdade de expressão que
lhes permitiu desenvolver o seu pensamento sem o controle que a igreja católica exercia nas sociedades espanhola e
portuguesa dessa época.
58

A influência das Luzes na cultura portuguesa e na política de urbanização das colônias


revelou-se de forma clara nas intenções do Marquês de Pombal14, cujo modelo adotado
assumia de forma conservadora as propostas do Iluminismo progressista e reformista. A
cidade pensada moldava-se nos princípios da Renascença, reaproximando-se da idealização
da civitas. Nesse ponto, a política pombalina transparecia, contraditoriamente, ora ideais
iluministas, ora a força do Antigo Regime Absolutista.

Dessa maneira, a insistência da concretização da malha urbana em xadrez, regular,


traduzia a imagem civilizada e europeizada no interior da colônia portuguesa na América e
demonstrava todo o caráter experimental do processo de urbanização das cidades da conquista
portuguesa. Essa nova fase, representada pelo projeto pombalino, tinha como objetivo o
controle do poder dos territórios conquistados contra as ordens religiosas, marcando a entrada
efetiva do Estado português absolutista no Brasil. Segundo Malcher de Araújo (1998), havia
uma tendência para a sobrevalorização do Estado, com o (re) aparelhamento do mesmo e com
reformas na estrutura fundiária. As cidades pombalinas do final do século XVIII traziam a
imagem da valorização dos espaços-praça e espaços-rua. A praça era o coração do mundo, de
onde partiam as ruas e configurava-se o núcleo urbano. Ao redor da mesma, eram instalados o
pelourinho, como símbolo de poder e repressão, e os edifícios principais e administrativos. “A
cidade pombalina é, pois, conceitualmente um projeto urbano do Iluminismo e, portanto um
discurso do espaço submetido à lógica racional e à concepção da cidade enquanto espaço de
cultura” (MALCHER DE ARAÚJO, 1998, p.65).

Após a segunda metade dos setecentos, teve início o deslocamento do eixo


demográfico, social e econômico para a região centro-sul do país em função da descoberta do
ouro nas minas. Naquele contexto, a cidade do Rio de Janeiro assumiu grande importância
pelo papel de centro comercial e político da colônia, privilegiada ainda por medidas fiscais
que obrigavam todos os navios a fundearem no seu porto para o escoamento da produção
mineradora. Constituíra-se como capital brasileira em 1763, em detrimento da então sede
colonial de Salvador.

14
Em Portugal, uma figura marcante do Iluminismo foi o Marquês de Pombal. Tendo sido embaixador em Londres durante
sete anos (1738-1745), o futuro primeiro-ministro de Portugal ali recolheu as referências que marcaram a sua orientação
como primeiro responsável político em Portugal.
59

2.3.2 O público e o privado na capital da colônia

As grandes cidades, baseadas nas tradições urbanísticas portuguesas transplantadas


para o Brasil, apresentavam, segundo Reis Filho (1978), um traçado orgânico em que as ruas
possuíam aspecto sinuoso uniforme. As residências eram construídas sobre o alinhamento das
vias públicas, com as paredes laterais sobre os próprios limites dos terrenos, e os quintais
localizavam-se na parte do terreno oposta às ruas. Estas eram estritamente funcionais,
tortuosas e quase nunca providas de calçamento; além disso, relacionavam pontos de
interesse: a praça, a igreja, as lojas, os largos.

No Rio de Janeiro, quando a cidade começou a expandir-se em direção à várzea, no


início do século XVII, em busca do acesso mais fácil e mais rápido ao litoral como forma de
comunicação com o exterior, procurou-se implantar uma malha viária com aspectos mais
regulares e menos orgânicos. As ruas foram abertas no sentido da formação de um traçado
mais retilíneo, cujos principais eixos seriam a rua Direita (atual Primeiro de Março) e a rua da
Misericórdia, seu prolongamento.

Pode-se considerar que, naquele momento, as vias ainda possuíam características


bastante semelhantes às das cidades medievais, como a estreiteza, a ausência de calçamento e
o alinhamento das construções. Eram insalubres e basicamente freqüentadas pelos escravos
(maioria da população), pelos negros de ganho, pelos moleques e pelas mulheres públicas
(FREYRE, 2003). Assumiam a função única de local de passagem e fluxo de escravos e da
população masculina, representando um território perigoso e não policiado. As famílias,
mulheres e crianças resguardavam-se no interior de suas casas, não desfrutando dos espaços
públicos da cidade, restritos aos homens.

Até o início do século XIX, o interior das casas da cidade ainda seria protegido contra
os excessos de luminosidade e de insolação direta, em função dos preconceitos morais e
sanitários da época e por conta da imposição do regime social dominante. O objetivo era a
reclusão da família para a garantia da defesa contra os males dos centros urbanos: os ladrões,
os raptores, entre outros. Da mesma maneira que as casas-grandes rurais15, tidas como
exemplo de castidade, a intenção era resguardar a moral e a saúde das mulheres e dos meninos
contra as correntes de ar, a chuva, os odores da rua, o barulho dos cães, os arruaceiros e os

15
Segundo Freyre (2003), a casa-grande traduzia-se numa construção doméstica, marcada por uma única estrutura social e
econômica: a do senhor e escravo; para a época, um modelo de habitação ideal para a guarda e o respeito dos valores de
família, para a proteção da mulher e dos filhos.
60

ciganos. A casa urbana representava o privado que procurava proteger-se dos males da rua,
que ainda não representava o lugar da vida pública e da sociabilidade na cidade. Era uma casa
térrea ou um sobrado que ocupava quase que integralmente a largura dos estreitos e profundos
terrenos. Essa tipologia habitacional assumia outra forma de segregação do privado entre as
diferentes camadas da sociedade: os escravos, os trabalhadores livres e as elites
administrativa, militar e religiosa. Ressalte-se a diferença entre essas duas tipologias em
função da existência ou não de piso: assoalhado no sobrado e de chão batido na casa térrea.
Segundo Reis Filho (op.cit.), habitar o primeiro significava riqueza, enquanto habitar o
segundo caracterizava pobreza. Portanto, nos sobrados, os andares térreos abrigavam os
escravos ou os animais, deixando-se os proprietários nos andares superiores.

Além dessas duas tipologias, havia as chácaras, marcando uma transição do tipo rural
de habitação nobre para o urbano. No seu interior, havia as melhores casas da cidade, arejadas
e cercadas por jardins. Situavam-se nos arredores do núcleo urbano e conseguiam reunir a
essa vantagem, as facilidades de abastecimento e dos serviços das residências rurais. As casas
urbanas sofriam com o problema de fornecimento de insumos e não dispunham de espaço
suficiente para o auto-abastecimento, com raros casos em que apareciam pomares e criações
de pequenos animais. Nesse ponto, as chácaras eram a solução preferida dos mais abastados,
já que se constituíam em unidades quase autônomas de produção, próximas às sedes
municipais. Já era notável a presença de comerciantes e senhores rurais, acostumados ao
convívio social estreito e permanente, procurando adquirir chácaras mais afastadas dos
centros consolidados, para constituí-las em residências permanentes. Essas propriedades
conciliariam a proximidade das oportunidades de negócios e das funções urbanas, com o
conforto e a qualificação social de se morar mais afastado do centro consolidado, em sítios
que muito se assemelhavam às condições de vida rurais.

Em contraposição ao espaço privado das casas urbanas e das chácaras, a imagem da


rua, como local insalubre e destinado ao escoamento das águas servidas das residências,
apenas começaria a modificar-se no início dos oitocentos. Segundo Freyre (op.cit.), data dessa
época a implementação de posturas municipais com o intuito de protegê-la e torná-la mais
higiênica para o uso comum e público. Proibiram-se o despejo e o depósito de cadáveres de
animais e negros, de restos de comida, de águas servidas e de excrementos recolhidos nas
construções da cidade. O autor conclui que essas normas formaram um corpo de limitação aos
abusos dos particulares residentes nas casas urbanas, preservando a dignidade e os direitos da
rua, deturpados ao longo de quase todo o período colonial.
61

Os construtores e os proprietários dos prédios urbanos também foram sendo


obrigados a respeitar a rua. Obrigados a levantar seus sobrados com as testadas em
alinhamento regular e não a esmo ou à toa como antigamente. Obrigados a entulhar
os buracos e as poças de lama defronte das casas com caliça, areia, osso queimado.
Obrigados a conservar o mesmo alinhamento nos passeios e calçadas, acabando-se
com os constantes degraus e batentes de uma calçada para outra (FREYRE, 2003,
p.35).

2.3.2.1 Usos e funções dos espaços públicos

No século XVIII, os sucessivos aterros nas áreas de marinha, ao longo da linha de


praias do Rio de Janeiro, deram origem a novos logradouros e a novas funções sociais para os
já existentes. Ressalte-se que estes espaços não foram considerados, até aquela época, como
largos ou praças, mas sim alargamentos nas ruas, que exerciam a função de mercado.
Portanto, é possível notar um traço das formações urbanas medievais portuguesas, anteriores
ao século XV, no processo de estruturação dos espaços públicos cariocas.

Vaz (op.cit., p.145) lembra que, no início dos setecentos, “a cidade alcançava a rua da
Vala (atual Uruguaiana), junto a qual seria construída a muralha projetada por João Massé em
1713”. A partir desse limite iniciava-se o vasto Campo da Cidade, considerado,
anteriormente, como um rossio. Com o passar dos anos, essa área foi drenada, aterrada e
fracionada, dando origem aos campos de Nossa Senhora do Rosário, de São Domingos, da
Lampadosa e de Santana. Nesse local formaram-se, posteriormente, várias praças por meio de
um longo processo de parcelamento e ocupação das terras. Anos depois, foram aterradas as
lagoas de Santo Antônio, dando lugar ao Largo da Carioca; a lagoa do Boqueirão, dando lugar
ao Passeio Público; e as lagoas da Lampadosa e da Sentinela. Ressalte-se que algumas das
praças mais importantes do século XIX, como a da Constituição (antigo Largo do Rocio) e o
próprio Campo de Santana, devem a sua formação à existência dos campos e rossios como os
espaços livres para a coletividade e como locais destinados à expansão urbana.

O mapa 05 mostra a cidade do Rio e seu limite, em 1769.


62

Mapa 05 – O Rio de Janeiro e o projeto da muralha em 1769


s/escala

Fonte: representação sobre Roscio, Francisco João, Planta da Cidade do Rio de Janeiro Capital dos Estado do Brazil e projeto com que
pode ser fortificada, 1769. Disponível em: <http://www.brazilbrazil.com/riomaps>. Acesso em: 24 jul. 2006.

Nos setecentos, as ruas e os outros logradouros do centro da cidade, com maior


densidade populacional, como os largos e a única praça, de São Sebastião, começaram a ser
freqüentados pelos diferentes grupos sociais. O Largo do Carmo, que detinha importância
desde o século XVII em função das suas características administrativas, militares e civis e
pela própria dimensão, intensificou-se como o local de tramitação, de mercado de trabalho
para os ambulantes, de encontros e lazer. Era o lugar onde aportavam os navios de ultramar e
os produtos vindos do interior e de todo o litoral carioca, constituindo-se num significativo elo
de comunicação da colônia com a metrópole e da cidade com o campo.

O mapa 06 apresenta a distribuição dos espaços públicos da cidade em meados do


século XVIII.
63

Mapa 06 – Os espaços públicos do Rio de Janeiro em meados do século XVIII


s/escala

Fonte: VAZ, Lilian Fessler. Notas sobre as praças do Rio de Janeiro no período colonial. In: COLÓQUIO
PORTUGAL-BRASIL, 2001, Lisboa. A praça na cidade portuguesa. Coordenação de Manuel C. Teixeira. Livros
Horizonte. 252 p. p. 139-156.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem
de Sua Alteza Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. IN: CUNHA (1971).

Segundo Maurício de Abreu (1997), naquele período não havia uma clara
hierarquização social na maioria dos espaços urbanos e a elite diferenciava-se pela aparência
de suas residências, pelas vestimentas e por suas normas de conduta. Pode-se arriscar que
havia um usufruto comum de espaços públicos, conforme salienta Pereira (1991), mas é
preciso considerar que não havia democracia na utilização dos mesmos. De certa forma, esse
processo seria mais visível, em meados do século XIX, apesar de já ser sentido, no período
colonial, esse distanciamento espacial entre as diferentes classes que compunham o cenário da
capital.

Um dos mais fortes indícios era a existência dos átrios ou adros, que se prolongavam
num espaço ao ar livre frontal às igrejas. O adro era o lugar de atração dos mais curiosos para
o interior da igreja e também o local de congregação das pessoas para as cerimônias, festas e
procissões religiosas. Porém, deve-se ressaltar a sua máxima função segregacionista, já que
64

representava uma barreira à entrada dos escravos, que eram proibidos de assistir às funções
litúrgicas. No Rio de Janeiro colonial, conforme visto, começaram a se espalhar pelos
arredores da cidade algumas capelas destinadas aos negros, mulatos, pobres e escravos, que
poderiam usufruir os adros como espaços públicos livres, e não como limites entre o profano
(pobre e sujo) e o religioso. As capelas de São Domingos, a de Nossa Senhora de Santana e a
de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Benedito foram aquelas que se
localizaram fora dos limites urbanos, no Campo da Cidade. Essas capelas e seus respectivos
adros eram vistos como os espaços destinados às camadas inferiores da população carioca,
afastadas do núcleo urbano central.

Além dos adros, o Passeio Público – criado no final dos setecentos - como espaço
livre, civilizado e polido também surgia como uma forma clara de segregação do patrimônio
público da cidade. Esse espaço, desde o início, assumiu a postura de recanto bucólico restrito
às classes mais abastadas. Era o local de participação na vida pública citadina e da
sociabilidade masculina numa época em que as mulheres e as crianças não ousariam romper
com os padrões de moralidade e sair do interior das moradias urbanas. Silva (2001) indica
esse lugar como o elemento fundamental da cidade policiada e de uma nova vida urbana
civilizada que surgiria no século XIX. Nesse ponto, há que se retornar ao questionamento da
função desse espaço público. Uma área cercada e restrita às elites polidas, proibindo-se o uso
dos outros habitantes da capital, não poderia enquadrar-se no conceito de espaço livre e de
uso comum. Que conceito de público seria esse?

Não só aos negros de pé no chão – grandes pés, chatos e esparramados, alguns de


dedos torados pelo ainhum, outros roídos de aristim ou inchados de bicho – como
aos próprios caixeiros de chinelo de tapete e cabelo cortado á escovinha e até aos
portugueses gordos de tamanco e cara rapada estavam fechados aqueles jardins e
passeios chamados públicos, aquelas calçadas de ruas nobres, por onde os homens
de posição, senhores de barba fechada ou de suíças, de botinas de bico fino, de
cartola, de gravata, ostentavam todas essas insígnias de raça superior, de classe
dominadora, de sexo privilegiado... (FREYRE, 2003, p.32).

Ao mesmo tempo em que os diferentes grupos sociais poderiam, sem policiamento -


sem proibição legal -, usufruir os espaços urbanos comuns da cidade do Rio de Janeiro,
inclusive as ruas, que já assumiam funções mais privilegiadas16, havia locais restritos a uma
elite que procurava desvencilhar-se da vida privada do interior dos sobrados.

16
As ruas eram os espaços de procissão, de festas religiosas e, paralelamente, de festas profanas como o entrudo que,
posteriormente, daria origem ao carnaval.
65

2.4 O SÉCULO XIX A PARTIR DO APORTE DA CORTE NO RIO DE JANEIRO

O período a ser analisado em seguida representa o recorte espacial desta dissertação.


Portanto, torna-se fundamental uma criteriosa contextualização econômica, política e social, a
partir do aporte da família real no Rio de Janeiro, em 1808, e das significativas mudanças de
função que a cidade passara a assumir. Essas mudanças tiveram reflexo diretamente nos usos
e na configuração dos espaços públicos e privados da capital.

2.4.1 Conjuntura econômica, política e social

No início do século XIX, com a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, o Rio de


Janeiro começou a experimentar uma série de mudanças de caráter político, econômico, social
e espacial. Capital da colônia desde 1763, o Rio era a sede de uma monarquia européia e o
expoente político, administrativo e financeiro que assumira o posto de principal exportador de
produtos primários e de centro de distribuição de uma economia há tempos agrária e
dependente.

Dom João, ao decretar a Abertura dos Portos Brasileiros às Nações Amigas, deu início
à prática do livre-cambismo, incorporando o Brasil ao contexto da Revolução Industrial e ao
próprio sistema capitalista mundial. Segundo Lobo (1978), era o fim do pacto colonial que
assegurava o monopólio comercial e a política mercantilista portuguesa em território
brasileiro. Houve a expansão das trocas comerciais e a invasão de produtos estrangeiros,
principalmente ingleses, no mercado interno, gerando concorrência entre os numerosos
comerciantes estrangeiros que aqui chegavam e os reinóis já estabelecidos.

Em função do descontentamento dos comerciantes fixados em território brasileiro e de


seus correspondentes na metrópole, a solução imediata do governo foi a redução para 16%
dos impostos pagos pelas mercadorias transportadas pelos portugueses, enquanto que os
demais comerciantes continuariam a pagar os 24% estabelecidos pelo Ato de 1808. Dessa
maneira, segundo Falcon e Mattos (1972), surgia um primeiro sinal de ambigüidade, já que
foram tomadas medidas de cunho liberal em pleno sistema colonial, ao mesmo tempo em que
o príncipe regente lançava aparatos de proteção e preservação dos interesses daqueles que até
então eram beneficiados. Os autores chamam atenção para contradições inevitáveis da política
66

econômica adotada pela Corte no Brasil, já que se queria implantar os princípios do


liberalismo econômico em voga na Europa, em pleno território colonial.

A economia brasileira continuava dependente do mercado internacional, mesmo com


as práticas liberais do governo português no Brasil, e o Rio de Janeiro assumia o caráter de
capital comercial e centro econômico da colônia, ampliando suas funções portuária e
centralizadora. Esta polarização econômica e financeira e a influência da presença da Corte
propiciavam a atração de grande número de pessoas para a cidade, que segundo Santos
(1943), atingira cerca de 60 mil habitantes, em 1808. A sociedade carioca modificava-se com
a inserção da nobreza portuguesa e do estamento burocrático a ela vinculado. Essas classes
passariam a conviver com os já estabelecidos comerciantes reinóis; com a camada de
pequenos arrendatários; com a massa de escravos e libertos dedicados à lavoura, aos serviços
domésticos e ao artesanato; e com a aristocracia dos grandes proprietários de terras. Estes
últimos se viram seduzidos pela vida na Corte e deixaram o isolamento do campo, em virtude
das oportunidades de negócios com o tesouro, de empregos públicos e de títulos de nobreza.
Falcon e Mattos (op.cit) acentuam que o proprietário rural perdia as suas visões localistas,
municipais ou regionais, passando a participar da idéia de Império, característica da
burocracia portuguesa. Não um Império brasileiro, mas sim a vivência num ambiente com
hábitos típicos da realeza, mesmo que num Império português. Configurava-se, então, uma
sociedade dividida em praticamente três classes que, segundo Oliveira Vianna:

[...] se defrontam, inconfundíveis e hostis, nas intimidades da Corte, junto do Rei.


Os nobres da terra, opulentos de engenhos e fazendas, com o seu histórico desdém
pelos peões e mercadores. Os mercadores, conscientes da sua riqueza e da sua força,
suscetibilizados por esse desdém ofensivo. Os lusos transmigrados, com a prosápia
das suas linhagens fidalgas e o entorno impertinente de civilizados passando em
terra de bárbaros (VIANNA, apud FAORO, 1958, p.125).

Freyre (op.cit.) lembra que até a chegada da Corte, o Brasil era influenciado pelo
primado de cultura trazido diretamente da Península Ibérica, com algumas exceções como as
investidas francesas no Rio e no Maranhão, as holandesas no Nordeste a as inglesas na região
Amazônica. Esse primado não era exclusivamente europeu, apresentava resquícios dos
mouros, árabes, israelitas e maometanos. A partir de 1808, com o intuito de modernizar e
erradicar os traços coloniais da cidade, os padrões de civilidade foram importados diretamente
da França e da Inglaterra. Foi o momento da re-europeização do Rio de Janeiro, que assumiria
o papel de capital portuguesa na América. A cidade e seus espaços abraçaram novos valores,
pautados numa possível ressonância do ideário europeu – da razão burguesa e contemporâneo
67

da Revolução Industrial -, trazido em 1816 pela Missão Artística Francesa. Sob a influência
desses europeus, foram introduzidas iniciativas de modernização promovidas pelo governo
português, a partir da idealização de amplos espaços saudáveis, belos e perfeitos, com
imponentes estruturas em estilo neoclássico representando a inserção das inscrições de poder
na trama da cidade.

A década de 20 foi marcada pela diminuição das atividades de exportação, em virtude


da crise e da depressão econômica no âmbito internacional. Era o momento em que
estouravam as revoluções liberais pela Europa, que proporcionavam impactos significativos
no sistema capitalista e no mercado mundial. Em Portugal, a quebra do monopólio comercial
com o Brasil representou um golpe de morte para o mercado interno, agravando uma profunda
crise econômica no país, cujo resultado seria o movimento constitucional revolucionário do
Porto. Essa revolução surgiu pautada nos ideais do liberalismo e do nacionalismo, juntamente
à convocação das Cortes Gerais, uma das principais medidas implementadas naquele período,
cujas conseqüências seriam intensamente sentidas no Rio de Janeiro. O princípio liberal
assumiu um papel essencialmente antiabsolutista, e o nacionalista significou uma série de
reações antibritânicas. Parte da classe nobre, favorável ao primeiro, procurava defender seus
interesses contra o sistema monárquico absolutista. Porém, o que se percebia, principalmente
com a convocação das Cortes, era um forte paradoxo entre o que se pretendia para Portugal e
o que se propunha para a sua colônia brasileira.

Enquanto a nobreza lusa defendia as práticas liberais e anti-mercantilistas associadas


ao nacionalismo em Portugal, propunha a continuação do aparato mercantilista e de uma
política recolonizadora no Brasil. Falcon e Mattos (op.cit) acreditam que a bandeira dessa
revolução, associada às demais que varriam a Europa nos anos 20, poderia ser constitutiva de
uma das etapas do processo geral da chamada revolução burguesa, que atingiria um nível
político e ideológico e uma conotação nacional-liberalista, claramente antiabsolutista e, por
vezes, democrática.

Esse conflito de interesses repercutiria de forma decisiva na relação entre a colônia e a


metrópole no contexto revolucionário da época. Os acontecimentos do Porto explicitaram
uma série de antagonismos sociais e raciais da sociedade colonial, anteriormente camuflada
pela agitação da chegada da Corte no Rio de Janeiro. Começavam a ser definidas certas
posições e correntes políticas e ideológicas tendo sempre como referência o sentido de
revolução, suscitado pela experiência do Porto. Porém, qual seria esse sentido numa sociedade
colonial e escravista? Certamente não seria o mesmo das sociedades européias ligadas aos
68

ideais de nacionalismo e liberalismo. Nesse ponto, vale uma breve reflexão sobre essa
revolução que deflagrou movimentos de massa que colocaram em ebulição a organização
política do Brasil e as contradições presentes no seio da sociedade colonial. O resultado seria
a implementação da Constituição elaborada pelas Cortes convocadas em Lisboa, com o intuito
de conter as agitações políticas que corriam o vasto território brasileiro. Forças reacionárias
manifestaram-se no sentido da recolonização do país e do retorno ao monopólio comercial
português, enquanto que algumas camadas mais abastadas da sociedade vislumbravam
maiores vantagens e liberdades que viriam a reboque com a revolução. As camadas populares,
inicialmente, demonstraram seu apoio à Constituição, esperançosas quanto às possibilidades
de libertação econômica e social.

O retorno de grande parte do estamento burocrático e de dom João VI para Portugal,


em 1821, provocou uma maior definição do posicionamento político dos grupos que aqui
ficaram. Data dessa época o surgimento dos partidos brasileiro e português como forças
antagônicas na disputa política do território nacional. O primeiro era composto pelos
elementos que defendiam a permanência da Corte no Rio de Janeiro, independentemente de
sua nacionalidade. O segundo contava com o apoio das tropas militares portuguesas e com
parte da burguesia mercantil.

O partido brasileiro reunia os interesses burocráticos, mercantis, financeiros e gerais


de grupos diferentes da sociedade colonial que defendiam a permanência do Monarca, numa
possível ação de resistência à proposta recolonizadora portuguesa. Era o partido com maior
número de adeptos, incluindo os pequenos artesãos, os profissionais liberais, os negros, os
índios civilizados, os brancos pobres e a camada de proprietários rurais. Estes últimos
posicionavam-se de forma extremamente contraditória, já que engrossavam o movimento de
reação à ratificação da condição de colônia, ao mesmo tempo em que não transpunham a
barreira do escravismo típico do sistema colonial vigente no país. Eram os antagonismos
emergindo dentro do sistema escravista colonial que tentava enquadrar-se nos moldes de um
falso liberalismo.

Falcon e Mattos (op.cit.) ressaltam que o principal sentido do movimento


revolucionário do Porto foi lançar as bases para a emancipação política do Brasil, já que
incentivou a formação e a definição de grupos sociais presentes no embate político da época.
Paradoxalmente, foi a própria metrópole portuguesa que indicou o caminho para a autonomia
política brasileira. Essa é a grande diferença do processo de independência do Brasil e de
outros países, como os Estados Unidos. Enquanto os últimos organizaram-se em grupos
69

definidos e autônomos e utilizaram violência e força para tomar e assegurar o poder político,
no Brasil não houve mobilização de classes, dentro do sistema colonial escravagista, no
sentido de provocar revoluções que depusessem o monarca luso e transformassem o país
numa nação independente. Os conflitos sociais internos e as inúmeras contradições não foram
capazes de organizar grupos autônomos e dotados de consciência nacional que pudessem
derrubar o governo e constituir uma nação própria.

A Proclamação da Independência representou um rompimento do príncipe dom Pedro


com as Cortes e a conseqüente vitória dos grupos interessados em impedir o processo de
recolonização do Brasil. A repercussão na cidade do Rio de Janeiro foi logo sentida a partir
das manifestações da imprensa, principalmente de jornais como o Revérbero Constitucional
Fluminense, o Correio do Rio de Janeiro e A Malagueta, no sentido de garantir e defender os
ideais de liberdade e independência. Insuflava-se a construção de um novo Estado, de uma
nova nação, deflagrando conflitos de interesses quanto ao futuro do Império. Os aristocratas
objetivavam apenas garantir as posições conquistadas durante a permanência da Corte no Rio
de Janeiro e, para eles, o ato do Ipiranga encerrava a luta revolucionária contra as outras
existentes. Para os democratas, aquele ato era apenas o início de mudanças mais amplas e
profundas.

Explodira o nativismo, o provincialismo e também o nacionalismo17. É importante


lembrar que esse movimento nacionalista, durante os anos próximos à independência,
representou um retorno aos hábitos brasileiros, num período antes marcado pelas práticas
estrangeiras, ou melhor, pela obsessão dos olhos estrangeiros (FREYRE, op.cit.), conforme
visto.

2.4.2 O público e o privado na Corte

O período de transição entre o sistema colonial e o governo imperial no Brasil foi


marcado por inúmeros embates políticos e sociais que se espelharam no território do Rio de
Janeiro, eixo econômico e administrativo do novo Estado. A cidade, agora capital
centralizadora da Corte, passaria por profundas transformações sociais e políticas que seriam
nitidamente refletidas nos espaços das ruas, das praças e em geral, nos ambientes públicos. A

17
Muitos habitantes da cidade começaram a abandonar seus nomes de origem portuguesa ou até mesmo africana e adotaram
os de origem indígena; os sobrenomes como Maranhão, Porto Alegre e Brasileiro afloravam como formas de exaltação a uma
nova nação livre que despontava.
70

própria forma de ocupação urbana começava a se alterar, desvencilhando-se de raízes


coloniais e penetrando em um novo universo com sinais de estratificação social mais
acentuada e de classificação de locais segundo seus usos e suas funções.

Quanto aos espaços privados, durante quase toda a primeira metade do século XIX, de
forma semelhante ao ocorrido nos setecentos, procurou-se proteger as casas da cidade contra
os excessos dos ventos e do sol, devido às condutas morais e aos problemas sanitários da
época. Elas eram o refúgio e o abrigo das famílias contra os perigos do ar insalubre e dos
ladrões e malfeitores. Enquanto essas casas e as chácaras representavam o privado, o
particular, alheio à movimentação da cidade, as ruas e praças tornavam-se pontos de ebulição,
encontros políticos e intensa circulação dos habitantes da capital. Os espaços públicos
assumiriam funções distintas àquelas do século anterior. Uma delas surgiu a partir da
influência francesa no cenário urbano e principalmente nas áreas de uso comum, com a
elaboração de espaços públicos destinados às festas e aos desfiles exibidos pela Corte. Para
tal, foram criados obeliscos e arcos do triunfo, caracterizando um rol de arquiteturas efêmeras
que ocupavam as praças principais e as ruas da cidade. Esse tipo de arquitetura-espetáculo
tinha o intuito de a Corte se fazer mostrar e afirmar sua superioridade e sua presença junto às
camadas mais populares da capital.

Sob a ótica das tipologias habitacionais, teve início o emprego de construções


refinadas, derivadas do neoclássico, em contraposição ao estilo colonial. Surgiu a casa de
porão alto, uma transição entre os sobrados e as casas térreas do início do século XIX, uma
forma de europeização das residências urbanas. Essas construções eram marcadas pelo uso do
vidro nas janelas e nas bandeiras das portas, no lugar das antigas portas e janelas com rótulas.
O privado começava a interagir com a vida pública na cidade, eliminando-se aos poucos os
padrões morais de clausura e confinamento no interior das residências urbanas. Deve-se
ressaltar que, mesmo a partir da europeização das casas térreas e dos sobrados, com
caracterização tipicamente francesa, ainda era considerado um privilégio residir nas chácaras,
nos arredores próximos aos centros, como um reflexo dos ideais higienistas vindos
principalmente da capital inglesa. Nas palavras de Debret sobre o início do século XIX no Rio
de Janeiro:

O sistema de construção encontra-se, sem nenhuma alteração, nas grandes ruas


comerciais, nas praças públicas e nos arrabaldes da cidade; a diferença está em que,
nos bairros elegantes do Rio de Janeiro, o alto funcionário e o negociante reservam o
andar térreo inteiro às cocheiras e estrebarias, ao passo que na cidade o comerciante
nele instala os seus espaçosos armazéns... (DEBRET, 1949, p.262).
71

Figura 01 - Sobrado patriarcal semi- Figura 02 - Sobrado patriarcal semi-urbano – 2º


urbano – 2º metade do século XIX. metade do século XIX.

Fonte: FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadência do


patriarcado e desenvolvimento do urbano.14. ed. São Paulo: Global, 2003.
981p.

Fonte: FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos:


decadência do patriarcado e desenvolvimento do
urbano. 14 ed. São Paulo: Global, 2003. 981p.

Figura 03 - Solar do barão de Cotegipe, no Figura 04 - Palácio Itamaraty e sobrados


Flamengo – Rio de Janeiro. Final do século vizinhos - Rio de Janeiro, 1894.
XIX.

Fonte: <http://fotolog.terra.com.br/luizd>. Acesso Fonte: <http://fotolog.terra.com.br/luizd>. Acesso


em: 08 jan. 2007. em: 08 jan. 2007.

Os ideais de valorização da natureza e da vida no campo em oposição à cidade, como


forma de status social, despontavam como meio de permanecer distante socialmente das
camadas mais populares e da agitação do centro colonial. “[...] ter propriedade no campo ou
morar em arrabaldes semi-rurais representa privilégio exclusivo das classes abonadas, que
72

podem arcar com o ônus das grandes dificuldades de mobilidade da época” (PEREIRA, 1991,
p.197).

As influências culturais européias e a difusão do pensamento higienista suscitaram


profundas alterações na implantação das construções e na configuração dos terrenos. Reis
Filho (op.cit.) exalta o aparecimento dos afastamentos laterais, a implantação dos jardins no
interior dos terrenos e a posição centralizada das residências, demonstrando um certo
isolamento dos vizinhos. As chácaras, ainda existentes nos arredores do centro, sofreram
sensível redução das suas dimensões, a partir de um contínuo processo de parcelamento das
terras. Vale lembrar que, a cidade passava a ser regulada por um conjunto de posturas que
davam providências quanto ao alinhamento das ruas e edificações, às condições das
construções, às regras de convivência entre vizinhos, à conduta nos ambientes públicos e à
salubridade urbana.

Cabe destacar as definições claras dos limites dos lotes que se tornaram necessárias a
partir da Lei de Terras, em 1850, demonstrando uma preocupação do proprietário com o seu
vizinho, principalmente se este representava o domínio público, os espaços comuns, os
logradouros públicos. Naquele período, teve ênfase o conflito entre o chão público e o
privado, até onde iriam os limites daquilo que se considerava bem comum da população da
cidade ou de propriedade particular. A terra virara uma mercadoria e instituíram-se os títulos
de propriedade, provocando-se a valorização e uma intensa disputa pelos terrenos da cidade.

2.4.2.1 A politização dos espaços públicos

Nos anos próximos à independência do Brasil, durante o momento da busca de uma


nova identidade nacional, Morel (op.cit.) afirma que uma outra forma de movimentação na
cidade surgira alheia aos próprios gabinetes e palácios – que estavam longe do contato dos
homens comuns: em lugares de uso público e de aglomeração. O autor acredita que as
atividades públicas que existiam nas ruas e praças da capital, na primeira metade do século
XIX, poderiam ser didaticamente classificadas como: manifestações características do Antigo
Regime e aquelas de caráter mais popular. A primeira correspondia aos espetáculos de
visibilidade do poder monárquico e de festas religiosas, que congregavam multidões com
interesse ou motivo em comum. A segunda apresentava-se sob a forma de gritos, vozes e
gestos, violências e anarquias oriundos de diferentes camadas populares por toda a cidade, nas
73

praças, nos quarteirões e nas ruas de modo geral. Eram manifestações dotadas de conotação
política e ideológica que ultrapassavam a formalidade e a chamada ordem urbana. As ruas do
Rio de Janeiro eram lugar do conflito entre estas duas formas de manifestações ou de
sociabilidades.

Os espaços públicos, apropriados como o bem comum, transformavam-se em arenas


políticas, locais de permanência de grupos socialmente distintos, lutando por seus interesses
no cenário de afirmação de um novo Estado-nação. Essa política que se fazia nas ruas
representava uma ameaça ao poder monárquico, à ordem que se buscava pautada nos ideais
liberais modernos de liberdade individual (privada), de propriedade e de segurança. Estava
ligada tanto à questão da nacionalidade, com um intenso nativismo que denunciava a oposição
aos portugueses antibrasileiros, quanto à permanência de camadas pobres que circulavam
constantemente pelos espaços públicos cariocas. Morel (op.cit.) afirma que cidade, cidadania
e nacionalidade imbricavam-se no sentido dessas manifestações, tendo início a chamada
modernidade política, em que as reuniões ocorriam em nome da soberania popular nacional.

As ruas da cidade Corte eram cena de poder, ponto essencial para a organização da
nacionalidade que se elaborava. Ruas ocupadas numa mesma época de diferentes
maneiras, revelando assim a pluralidade de tempos num mesmo tempo histórico e
apontando para transformações dos espaços públicos em suas dimensões políticas,
isto é, de relações e poder, como fatores importantes para a elaboração da história
das cidades que, afinal, são elementos-base na construção de uma nação (MOREL,
2005, p.166).

As relações entre os habitantes, o poder e a cidadania expressavam-se na conformação


das ruas e das praças. O ambiente público aparecia como o local onde melhor podia-se
exercer o urbanismo, a cultura urbana e a cidadania; tornava-se um espaço físico, simbólico e
político. Contrapondo-se aos ambientes privados, o público abria-se para a dinâmica e as
relações entre as diferentes classes ou agentes da sociedade carioca.

Sobre a base urbana tradicional, e numa sociedade escravista, diferentes atores


políticos e sociais começavam a atuar e conceber sua atuação dentro das
perspectivas da modernidade política, dos liberalismos, da livre expressão
individual, do constitucionalismo, das noções de soberania popular e nacional e de
suas formas de representatividade, enfim, na inserção como cidadãos. Dessa
maneira, a cidade condicionava o enredo político e cultural e, ao mesmo tempo, ia
sendo transformada pelas interferências dos diferentes atores sociais e políticos. Ou
seja, as concepções políticas e culturais transformavam a cena pública e não eram
apenas transformadas por esta. E estes primeiros esboços de modernidade, no plano
cultural e político, precedem as transformações urbanas que ocorreriam décadas
mais tarde (MOREL, 2005, p.165).
74

Dentro desse contexto, vale ressaltar que a cidade do Rio de Janeiro, durante o século
XIX, apresentava uma base urbana tradicionalmente ocupada por três camadas distintas: a
nobreza, o clero e o povo. As duas primeiras detinham o domínio das praças e dos largos,
expressando-se por meio de manifestações que permaneciam desde o Antigo Regime,
enquanto que o povo procurava apropriar-se de parte desses (em sua maioria nas praças) e de
outros bens públicos, como os quarteirões de comércio e as próprias ruas, dando origem a um
hibridismo de locais públicos, bastante significativo para o período, na capital do novo
Estado.

Os encontros eram realizados em quarteirões de comércio, que reuniam camadas


populares e elites letradas da época, em largos e praças da cidade. Eram considerados pontos
nevrálgicos do período pós-independência, em função do ainda existente monopólio dos
comerciantes portugueses, o que insuflava o nativismo nos brasileiros. Os largos retinham
uma forte conotação religiosa por sua representação através da localização de igrejas,
portanto, não apresentavam-se como pontos de intensas manifestações políticas. As praças, à
exceção do Passeio Público, eram espaços abertos e passíveis de apropriação pela
coletividade, o que os imprimia uma identidade própria.

Quais seriam as dimensões políticas das diferentes ocupações desses espaços urbanos?
Morel (op.cit.) relaciona três praças de grande relevância para o período em estudo, com
distintos significados de ocupação. Nesse ponto, é possível perceber uma influência da
tradição urbana portuguesa, a multiplicidade de áreas públicas dentro de um mesmo núcleo.
Segundo Teixeira (op.cit.), era comum encontrarem-se praças com distintas funções nas
cidades lusas. Em espaços que geralmente tinham sua origem em terreiros, localizavam-se as
de mercado; nas áreas ou campos de atividades militares havia as praças de armas; as de
função política-administrativa formavam-se em virtude da concentração de edifícios
institucionais que abrigavam o poder municipal e as religiosas surgiam a partir da ocupação
dos adros das igrejas.

No Rio de Janeiro, a Praça do Carmo, hoje Praça XV, equivalia a uma grande área,
assemelhando-se à Praça Real nos padrões europeus. Sua forma quadrangular, voltada para o
mar, agregando prédios significativos da administração colonial (do exercício do poder),
igrejas e irmandades, além da atividade portuária, imprimiu a este lugar basicamente um
caráter de encontro entre o monarca e seus súditos, sem quaisquer outros tipos de
manifestações públicas ligadas, posteriormente, ao governo imperial brasileiro. Pode-se
afirmar que até o começo do século XIX este local desempenhava a função de núcleo central
75

da capital e lugar de encontros e de um intenso comércio de ambulantes. Além disso, assumia


a máxima representação dos poderes civil oficial, não oficial e religioso. O Largo do Paço,
hoje Paço Imperial, deteve, ao longo do tempo, o poder do governo português no Rio de
Janeiro e no Brasil, perdendo espaço nos anos próximos à Independência, para o Campo de
Santana.

A Praça do Rocio, depois Praça da Constituição, apresentava-se como o espaço de


lazer da cidade imperial e como um lugar de convívio de camadas populares, sendo
considerada uma espécie de Praça do Povo. Nela situava-se o principal teatro do Rio de
Janeiro, o de São Pedro de Alcântara.
O Campo de Santana era o espaço público que agregava as mais significativas
unidades militares da capital imperial (Quartéis da Infantaria e da Cavalaria entre outros),
equivalendo a uma Praça d’Armas com predomínio do poder militar e do poder civil local,
representado pelo Conselho Municipal. Além disso, em certos momentos, de maneira
semelhante ao ocorrido na Praça do Carmo, tornou-se palco de manifestações características
do Antigo Regime, como a coroação de dom João VI e a aclamação de dom Pedro I18. Ficara
verdadeiramente conhecido por ser o cenário de manifestações políticas do povo e da
presença das tropas. Um exemplo foi a manifestação pública que resultou na abdicação de
dom Pedro I, em 1831, marcada pela agitação popular dotada de um ideal político e
ideológico. Configurava-se o novo centro geográfico e político-administrativo, desde os anos
da Independência, contando com um aparato de construções representativas do poder imperial
que precisava afirmar-se no Brasil. Nesse sentido, acredita-se que a emergência do campo
como o mais significativo marco de poder da nação que surgia foi determinante para a efetiva
ocupação da sua face oeste, adentrando pelos terrenos ainda alagadiços de São Diogo e
estimulando o desenvolvimento da malha urbana da Cidade Nova.

O mapa 07 localiza os espaços públicos no Rio de Janeiro, durante a primeira metade


do século XIX.

18
Por conta da aclamação de dom Pedro I no Campo de Santana, este passou a se chamar Campo da Aclamação.
76

Mapa 07 – Os espaços públicos do Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX


s/escala

Fonte: VAZ, Lilian Fessler. Notas sobre as praças do Rio de Janeiro no período colonial. In: COLÓQUIO PORTUGAL-BRASIL, 2001,
Lisboa. A praça na cidade portuguesa. Coordenação de Manuel C. Teixeira. Livros Horizonte. 252 p. p. 139-156.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. IN: CUNHA (1971).

Em resumo, pode-se dizer que esses espaços públicos, ao longo dos anos,
apresentaram distintas funções e formas de apropriação e de usos. Porém, vale ressaltar que
quase todos eles, independentemente dos embates ou manifestações políticas, caracterizavam-
se pela concentração, agitação e atividade das camadas menos privilegiadas da sociedade.
Nessa cidade escravista, os logradouros sempre representaram o limite entre o privado das
casas urbanas e o público - as ruas, os largos e as praças - destinados a essas parcelas
inferiorizadas da população. Passando pelo Antigo Regime e pela modernidade política,
conforme os enquadra Morel, sempre foram o lugar de permanência dos negros e escravos,
77

que se expunham pelos castigos públicos no pelourinho e pelas atividades de comércio,


constituindo-se em verdadeiros territórios de excluídos.

Ressalte-se que essa constante presença dos pobres e negros nos ambientes públicos da
cidade representou, ao longo desse período estudado, uma mistura de interesses políticos,
sociais e ideológicos. Ou seja, desde o início dos setecentos até as primeiras décadas do
século XIX, as praças e as ruas eram vistas como os locais de circulação, trabalho e punição
dessas parcelas não privilegiadas na sociedade. Ao final do século XIX, a imagem do público
como um espaço denegrido e próprio para as atividades sujas da cidade começou a ser
desmontada para dar lugar a aparência desejada por uma elite burguesa que crescera
paralelamente à introdução do capitalismo no cenário brasileiro. Naquele momento, a
arquitetura da cidade, bem como as praças e ruas sofreriam os impactos das propostas e
concepções de melhoramentos e embelezamentos, que teriam seu ponto máximo na reforma
urbana proposta por Pereira Passos na virada para o século XX, cujo intuito era transformar a
capital da república e inserí-la no contexto da nova dinâmica política-econômica mundial.
78

CAPÍTULO 3

A GÊNESE DA CIDADE NOVA

3.1 UM BREVE RELATO DOS MOVIMENTOS DE EXPANSÃO URBANA DO


RIO DE JANEIRO ATÉ O INÍCIO DO SÉCULO XIX: TRAÇADO URBANO E
QUESTÃO DA TERRA

A partir das análises teóricas empreendidas nos capítulos anteriores, foi possível
construir uma linha estruturadora, baseada na questão fundiária, para o desenvolvimento da
temática que aborda a gênese e a consolidação da área correspondente à Cidade Nova do Rio
de Janeiro. O objetivo era discutir o processo de formação dos patrimônios privado e público
no Rio de Janeiro, com a finalidade de compreender a dinâmica de privatização das terras do
rossio - Campo da Cidade - localizado às margens do núcleo urbano consolidado.

Nesse sentido, propõe-se aqui uma reflexão acerca dos movimentos de construção e
expansão do Rio de Janeiro, principalmente em direção ao Mangue da Cidade Nova, pautada
nas discussões ligadas à formação e ao crescimento do traçado urbano carioca e à
problemática da terra.

3.1.1 Traçado urbano

3.1.1.1 O traçado da cidade: da Vila Velha ao espraiamento pelos manguezais

O primeiro núcleo de povoamento do Rio de Janeiro surgiu em 1565, aos pés dos
morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Naquele lugar, de ”choças com feitio misto, aborígene e
oriental, choças de toscas ramas e palmas secas algum tanto selvagens” (GERSON, 1954,
p.8), Estácio de Sá e um grupo de colonizadores portugueses permaneceram com o intuito de
proteger o território conquistado das investidas francesas e da resistência dos índios tamoios19.

Passados dois anos, o assentamento no Cara de Cão, ou a chamada Vila Velha, foi
deixado pra trás, quando do deslocamento do núcleo da cidade para o morro do Castelo,
antigo São Januário, escolhido por Mem de Sá para abrigar os 120 portugueses que haviam

19
Nireu Cavalcanti (2004) afirma que a escolha do sítio para a implantação do primeiro núcleo de povoamento do Rio de
Janeiro deu-se em função das estratégias militares e de controle dos inimigos situados nas proximidades. Ou seja, a área nas
cercanias do morro Cara de Cão era próxima à entrada da Baía de Guanabara, apresentava boa visibilidade e as condições
favoráveis para a entrada e saída de embarcações.
79

participado da expulsão dos franceses calvinistas comandados por Villegaignon20. O morro


era considerado o ponto mais salubre e de melhor observação para a defesa da recém-fundada
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

[...] escolhi um sítio que parecia mais conveniente para edificar nele a cidade de São
Sebastião o qual o sítio era de um grande mato espesso cheio de muitas árvores e
grossas em que se levou assaz de trabalho em as cortar e a limpar o dito sítio o
edificar uma cidade grande cercada de trasto de 20 palmos de largo por outros tantos
de altura toda cercada de muro por cima com muitos baluartes e fortes cheios de
artilharia. E fiz a igreja dos padres de Jesus onde agora residem telhada e bem
concertada, e a sé de três naves também telhada e bem concertada, fiz a casa da
câmara sobradada e telhada e grande, a cadeia, as casas dos armazéns e para a
fazenda de sua alteza sobradadas e telhadas e com varandas, dei ordem e favor ajuda
com que fizessem outras muitas casas telhadas e sobradadas, tendo isto feito por se
rebelarem uns principais que estavam em uma fortalezas de muitas cercas dei sobre
eles e os desbaratei, e se mataram muitos o que foi causa de tornarem novamente a
pedir pazes, mandei vir muitos moradores muito gado para povoar a dita cidade o
qual se dá muito bem de que há já grande criação (Mem de Sá, in: Anais da
Biblioteca Nacional, vol. XXVII, p.136).

Segundo Barros (2002), em 1567, com a ocupação definitiva no morro do Castelo, o


Rio contava com um total de 600 habitantes distribuídos entre frades, monges, índios,
soldados e burocratas. Cercada por muros e baluartes, dotada de uma praça forte, rodeada pela
Câmara, pela cadeia, pela igreja, pelo colégio dos padres, pelos armazéns reais, pela Casa do
Governador e pelas residências dos mais abastados, a cidade transformava-se numa fortaleza
cuja malha urbana era caracteristicamente centrada, orgânica e informal, assemelhando-se às
típicas formações portuguesas medievais. A estratégia de defesa militar, a partir da sua
localização no sítio elevado do Castelo, dividia a preocupação com os problemas que
limitariam o crescimento e o desenvolvimento da malha urbana, como a escassez de fontes de
água, a irregularidade da topografia - com pouca disposição de áreas planas ou com pouca
declividade para a implantação das construções - e as ameaças de deslizamento das encostas.
Nesse sentido, a população viu-se obrigada a ocupar as laterais do morro e, aos poucos,
caminhou em direção à várzea, a partir dos aterros e da abertura de caminhos para a
circulação nessas terras mais baixas e alagadiças, próximas ao litoral e ao porto. Dessa
maneira, no final do século XVI21, a cidade cresceu e não tardou a estender-se pelo alagadiço
de Nossa Senhora do Ó, demarcado, ao sul pelos morros do Castelo e de Santo Antônio, e ao
norte pelos de São Bento e da Conceição. Esse movimento de expansão teve início na ladeira
20
Os calvinistas fundaram a França Antártida, hoje Ilha de Villegaignon, onde está localizada a Escola Naval.
21
Segundo Ferrez, a descida do morro do Castelo em direção à várzea ocorreu a partir de 1596. Este movimento de expansão
apenas pôde efetuar-se após a derrota dos índios tamoios e “a certeza de que os espanhóis não invadiriam o Rio de Janeiro, já
que em 1580 se uniram à Coroa Portuguesa através da União Ibérica” (FRIDMAN, 1999, p.18).
80

da Misericórdia em direção à planície pantanosa, às custas de sucessivos aterros, da


construção de casas e da criação de largos e ruas. Cavalcanti (2004) atenta para um processo
de desvalorização e decadência do antigo núcleo do Castelo à medida que os habitantes iam
conquistando a restinga e a várzea, dando origem à consolidação do novo sítio da cidade.

Gerson (op.cit.) enfatiza que as primeiras ruas da cidade, da Misericórdia e da Ajuda,


não foram planejadas de ponta a ponta, ou seja, edificava-se de acordo com as necessidades e
apenas posteriormente abriam-se lentamente as ruas, sem calçamento e nem sempre em linha
reta. A abertura da rua Direita (atual Primeiro de Março) - prolongamento da Misericórdia,
ligando o morro do Castelo ao de São Bento - deu início à criação de uma malha urbana
menos orgânica e irregular, apresentando tendências ao cordeamento, à demarcação e à
implantação de ruas direitas, refletindo uma certa regularidade apropriada dos ideais da
Renascença, em contraposição à formação inicial no morro do Castelo. Esse eixo viário
tornou-se o ponto de partida para a expansão e consolidação das áreas adjacentes ao litoral,
nas proximidades do trapiche da cidade e do futuro Largo do Carmo. O Rio crescia a partir de
ruas dispostas paralelamente e perpendicularmente às praias da baía, caminhando em direção
à rua da Vala delimitada pelos morros de Santo Antônio e de São Bento, nas imediações dos
alagadiços de Pedro Dias. Nessa perspectiva, Gerson (op.cit.) ressalta o aparecimento do que
hoje se poderia chamar de primeiros bairros da cidade, num conjunto de ruas, becos e largos
ligados uns aos outros, desde a Santa Casa da Misericórdia até a ermida de Nossa Senhora do
Ó, no entorno do atual Paço Imperial, e a partir da abertura de novos caminhos em direção aos
campos mais distantes.

O século XVIII foi marcado pela continuidade do movimento de expansão da cidade -


ainda confinada entre os morros de São Bento, da Conceição, do Castelo e de Santo Antônio -
na direção oeste, de encontro aos limites do manguezal localizado no Campo da Cidade.
Constituiu-se um tecido mais regular, ainda que não ortogonal, que aparentemente retratava
uma ordem antes não vista. No final dos setecentos, o Rio de Janeiro, já como a capital da
colônia, contava com um traçado urbano marcado por largos e praças - espaços públicos que
até o princípio daquele século eram inexistentes22, à exceção da Praça do Carmo23.

22
Paulo Santos (1981) afirma que dentre esses espaços públicos da cidade do Rio de Janeiro encontravam-se: o passeio
Público, o Largo da Carioca, o Largo do Capim, o Largo de São Domingos, o Largo de São Francisco de Paula e a Praça da
Lampadosa (atual Praça Tiradentes), bem como o Campo de Santana.
23
Vale lembrar que o traçado urbano do Rio de Janeiro, naquela época, chegava até os limites da rua da Vala (atual
Uruguaiana) e do Campo de Santana.
81

No início do século XIX, a malha urbana avançaria em direção à várzea e aos pântanos
próximos à lagoa da Sentinela24, rompendo os limites da rua da Vala e do Campo de Santana,
constituindo o chamado vetor oeste de expansão. Nesse espaço, entrecortado por rios e lagoas,
desembocava o Saco de São Diogo, que se comunicava com o litoral pela Bica dos
Marinheiros e que hoje corresponderia à área compreendida pelas margens do Canal do
Mangue – Estação da Leopoldina, Rodoviária Novo Rio, Companhia Docas e Gasômetro -,
pelo Trevo das Forças Armadas e pela Avenida Presidente Vargas até a Praça Onze.

Figura 05 – Ponte dos Marinheiros em 1818

Fonte: ENDER, Thomas. Antiga Ponte dos Marinheiros, apud ANDREATTA (2006).

Para possibilitar a ocupação dessa localidade, cujas dimensões praticamente


equivaliam àquela do núcleo central consolidado, foram realizadas, entre 1769 e 1779, obras
de saneamento e aterro dos terrenos alagados de Pedro Dias. Era preciso adentrar pelo
mangue, em direção às terras pertencentes à antiga sesmaria dos jesuítas. Portanto, a criação
da Cidade Nova nasceu do desejo e da necessidade de conquistar novos espaços,
intermediários entre a sesmaria jesuítica e o núcleo colonial, que já se encostava no mangue e
cujo limite era o Campo de Santana. Nesse sentido, Cavalcanti (op.cit., p.30) afirma que “a
Corte portuguesa, ao se instalar no Rio de Janeiro em 1808, encontrou o manguezal
parcialmente drenado e já consolidada a estrada em cima do antigo desenho da trilha”. Isto é,
a antiga trilha citada pelo autor constituía o elo de comunicação entre o núcleo adensado, a
partir do Campo de Santana, e as áreas de São Cristóvão, e traduzia uma alternativa para o
comprido e tortuoso caminho de Mata-porcos, até então tido como o único meio de ligação
24
Segundo Morales de Los Rios Filho (1946), a lagoa da Sentinela estava situada no extremo ocidental das terras que
circundavam a Cidade Nova, ou seja, entre a rua do Conde da Cunha e a do Senado. Naquele local, permanecera, durante o
período colonial, uma sentinela de prevenção contra possíveis ataques indígenas.
82

entre essas duas localidades. O autor ainda afirma que desde o final do século XVIII várias
ruas já tinham sido abertas em São Diogo, sendo possível identificar algumas construções
próximas ao campo.

O mapa 08 apresenta os primeiros focos de expansão para além do centro consolidado.

Mapa 08 – Os primeiros logradouros abertos no mangue – início do século XIX


s/escala

Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).
83

3.1.2 Questão da terra

3.1.2.1 As disputas pelas terras públicas e a imposição do patrimônio dos jesuítas

Sobre a questão do patrimônio territorial, pode-se dizer que os movimentos de


expansão urbana do Rio de Janeiro ocorreram à luz dos processos de uma acumulação
primitiva (FRIDMAN, 1999), calcada na apropriação de forma privada das terras públicas,
conforme visto no capítulo 01. Nesse contexto, Fridman (op.cit.) destaca que a dinâmica do
mercado fundiário esteve marcada por elementos que acabaram definindo a paisagem e a
conformação urbana da cidade, como uma visível estratégia de especulação do solo pelos
religiosos e por funcionários ligados à Câmara, bem como uma institucionalização de tributos
fundiários urbanos como fontes de recursos.

Vale refletir acerca das discussões relativas a este mercado de terras e dos novos
agentes que despontaram no Rio de Janeiro, com vistas a apropriarem-se de forma
desorganizada das parcelas de chãos, principalmente aquelas na direção dos arredores do
núcleo central, acelerando a dinâmica de usurpação e espoliação do patrimônio territorial
público no período em questão.

Numa primeira etapa, pôde-se perceber que, dentre as mais significativas porções de
terras doadas por Estácio de Sá para o povoamento da cidade do Rio de Janeiro, estavam a
sesmaria da Câmara, formada pelo rossio e o termo da cidade, e a dos jesuítas. Portanto,
“limítrofes e contíguas desde o início, essas duas sesmarias iriam esbarrar-se ao longo da
história, em função da própria condição de vizinhas lindeiras” (CAVALCANTI, op.cit., p.56).
Ou seja, a distribuição de sesmarias e datas nem sempre esteve ligada a regras e ordenações
propostas pela Metrópole, instituindo-se um processo arbitrário de doação de chãos quanto às
suas localizações. Dessa maneira, abriam-se brechas para inúmeras querelas relativas à
demarcação e aos limites das terras, tanto no termo da cidade, bem como no seu rossio,
principalmente nas áreas alagadiças, com limites pouco precisos e por vezes mutáveis. “Como
as terras eram abundantes, havia falta de rigor na sua divisão que, além de desordenada, não
levava em conta as imprecisões do terreno, o que ocasionava a sobreposição de umas às
outras” (FRIDMAN, 1999, p.255).
84

No caso do patrimônio da municipalidade, vale ressaltar que no traslado da sesmaria


da Câmara não havia citação de vizinhos lindeiros, item essencial de acordo com as
imposições das Ordenações do Reino para a organização dos territórios. Ou seja, os limites e
os terrenos vizinhos, informações sempre presentes nas chamadas Cartas de Sesmarias, não
estavam especificados. Dessa maneira, ao longo de muitos anos não se teve conhecimento de
quais terras pertenciam efetivamente à esfera pública no Rio de Janeiro. Atendendo a pedidos
dos camaristas (CAVALCANTI, op.cit.), de 1643, com a promulgação da provisão em que o
rei dom João IV25 ordenou que se fizessem a demarcação, a medição e o tombo de todos os
bens e todas as propriedades pertencentes à Câmara, até 1754, quando foi efetivada a segunda
medição (ver capítulo 01), inúmeras discussões surgiram a respeito do patrimônio municipal.
Além disso, a própria forma como se procedeu a cessão de datas de terras nas sesmarias da
Câmara gerou uma série de conflitos. Os laços de parentesco ou a influência e o prestígio de
pessoas ligadas aos funcionários públicos eram o veículo para o recebimento de avantajadas
sesmarias, que geravam pouca arrecadação para a municipalidade. Cavalcanti (op.cit.)
acredita que se esses vereadores, ou administradores da coisa pública, tivessem providenciado
o parcelamento das terras em pequenos lotes, e não em grandes sesmarias, haveria acúmulo de
renda para os cofres da Câmara e, paralelamente, estaria solucionado o problema corrente da
maior oferta de terrenos. O tráfico de influência e a cessão indiscriminada de grandes parcelas
de chãos abriram margem para que aqueles que detinham a posse desses terrenos passassem a
especulá-los através do arrendamento ou do subaforamento em pequenas porções a preços
elevados. Um exemplo era o caso de Manoel Casado Vianna, proprietário da vultosa Chácara
do Casado, situada no Campo de São Domingos, que arrendava para onze pessoas diferentes
parcelas de suas terras.

Nesse contexto, o tratamento dispensado para as terras públicas do Rio de Janeiro


deixa claro que, desde o início do seu processo de distribuição, houve interferência de
diferentes agentes que acabaram definindo o desenho e o formato da área urbana que se
configurava, bem como o perfil ocupacional daqueles que se tornariam proprietários. As
ordens religiosas, os nobres e os vereadores, por conta da desorganização e das dificuldades
de demarcação das terras, utilizaram-se de todos os meios para falsificarem escrituras e
documentos relativos à posse de bens territoriais, dando margem à difusão de um intenso
processo de grilagem do patrimônio público na cidade.

25
Foram exigidas as descrições e confrontações dos terrenos para que se instituíssem marcos e se eliminassem as dúvidas
quanto aos seus limites. Era o primeiro passo para que se procedessem a um levantamento e à organização dos bens públicos
na cidade.
85

Quanto ao patrimônio dos jesuítas no Rio de Janeiro, vale dizer que a sobreposição de
sua sesmaria àquela destinada à municipalidade ocorreu, como citado acima, por conta da
ausência de fiscalização da Câmara e do poder exercido pelas ordens religiosas, intimamente
imbricadas com o Estado português. Conforme salienta Fridman (op.cit.), os loyolistas
definiam, demarcavam e mediam seus terrenos, sempre em função das melhores condições de
sítio e facilidades de acesso. A ordem jesuítica defendia a preservação dos mangues de São
Diogo, que representavam uma verdadeira barreira natural na área de confluência com as
terras da Câmara, com o intuito de resguardar sua sesmaria contra invasões. Ressalte-se que o
interesse dos loyolistas estava em manter essa faixa de terra - que tinha início nas
proximidades da Bica dos Marinheiros (atual Praça da Bandeira) e se estendia em direção ao
oeste, para o interior do Rio de Janeiro - como o marco divisório entre o que se chamava de
patrimônio municipal e de patrimônio religioso. Cavalcanti (op.cit.) cita que esses religiosos
foram os primeiros a lutar em favor dos manguezais, sob o discurso de protegê-los para
garantir a manutenção das condições de reprodução de diversas espécies de crustáceos e
peixes. Tinham a preferência e o respaldo da Fazenda Real em virtude de seu rendoso negócio
de aluguel de casas na cidade, que proporcionava crescimento das arrecadações urbanas.
Apenas a partir da segunda metade do século XVIII, sob o comando do Marquês de Pombal e
de sua política anticlerical e de base centralizadora, o poder e a influência dos jesuítas foram
minando. Esses religiosos se viram obrigados a declarar seus bens territoriais e proibidos de
realizar transições imobiliárias sem autorização Real e, em 1759, com a sua expulsão de todos
os domínios lusos, parte de seus terrenos agrícolas e urbanos foram integrados ao patrimônio
do Estado e o restante foi vendido em leilão. Vale lembrar que, aqueles que arrendavam seus
terrenos ou alugavam seus prédios no núcleo urbano tornaram-se os detentores da posse
desses imóveis e, com a incorporação da sesmaria jesuítica às terras da Coroa, eliminavam-se
as barreiras à expansão da cidade para o interior, isto é, para além dos pântanos de São Diogo.
Portanto, a partir de meados do século XVIII, o Rio pôde dar início ao movimento de
espraiamento e ocupação dos terrenos no Campo da Cidade.

Cabe destacar que os conflitos gerados pelas disputas de terra que acabaram
instituindo um complexo esclarecimento das propriedades no Rio de Janeiro teriam
continuidade pelo século XIX, sendo alimentados pela promulgação da lei de 1834 e pela Lei
de Terras de 1850, já discutida no capítulo 01.

A Lei nº 38 de 3 de outubro de 1834 transferiu à municipalidade a propriedade dos


manguezais, cabendo à Câmara a arrecadação dos foros e laudêmios dos terrenos de marinha,
86

entre eles aqueles situados no Mangue da Cidade Nova. O Município passaria a contar com
uma nova fonte de recursos obtida com a cobrança sobre propriedades privadas, bem como
lhe caberia a responsabilidade sobre os terrenos públicos, facilitando a dinâmica das disputas
territoriais na cidade e nos arredores. Nesse contexto, é importante apontar, conforme salienta
Andreatta (2006), que a Câmara pouco se envolveu nesses processos relativos ao Mangue de
São Diogo, diferentemente do que ocorrera com o restante da cidade, indicando uma
intencionalidade na aceleração do povoamento e da ocupação daquelas terras. Instituiu-se um
verdadeiro laissez-faire na privatização do solo, que há tempos permanecera sob o domínio da
Coroa e, posteriormente, da municipalidade, considerado até o início dos oitocentos o rossio e
parte dos bens públicos da capital.

Na necessidade, tanto do município quanto dos particulares, de um grande volume


de terra para consolidar o espaço sobre brejos e lagoas se fundamenta a importância
que adquiriu a idéia da derrubada de morros, revestida de exigência higiênica
(ANDREATTA, 2006, p.170).

3.1.2.2 As terras no rossio da cidade

Em 1565, Salvador Corrêa de Sá, então Governador, concedeu à Dona Maria do Ó


uma sesmaria nos limites do que posteriormente seria chamado de Mangue de São Diogo, em
uma zona de planície alagadiça em direção ao interior do Rio de Janeiro. Ainda no século
XVI, parte dessa sesmaria, com trinta braças ao longo do mar e meia légua no rio de nome
Guapiguari (extensão do Saco de São Diogo), passou a Aleixo Manoel, morador da cidade,
que a cedeu a seu filho, o padre Pedro Homem Albernaz. Portanto, parte da área que
corresponderia à Cidade Nova teve sua origem na doação desses chãos, incluindo-se a
chamada olaria de Bastião Fernandes onde existia uma lagoa26.

Em 1656, uma parte dessas terras, que confrontava com a Chácara de São Diogo,
pertencente a Diogo Dias e a Antônio Pereira Sarmento, em direção à Praia de São Cristóvão,
foi comprada pelo capitão Francisco Munhós Corrêa. Em 1661, Albernaz vendeu o
equivalente a uma chácara, situada atrás do Outeiro de Nossa Senhora da Conceição, para o
sapateiro Sebastião da Silva. No ano seguinte, foi comprada por Diogo Mendes da Cunha
outra parcela de terras (Chácara da Rocinha) para as bandas de São Cristóvão e para o mar.

26
Essas informações foram obtidas em REVISTA RENASCENÇA. S. Diogo. Rio de Janeiro: n.39, ano IV, 1907.
87

A Chácara de São Diogo, que pertencera a Manoel Corrêa de Sá e a Maria da


Purificação Corrêa de Sá, foi vendida em 1805 a Antônio Fernandes Pereira e sua mulher,
Luiza Roza Avondano Pereira. Nos anos 30, Antonio Fernandes Pereira Vianna comprou
metade das terras, após o falecimento de seu tio Antônio Fernandes Pereira, permanecendo a
outra parcela sob os cuidados da viúva, Luiza Roza. Apenas na década de 40 é que a antiga
chácara foi vendida a Jose Joaquim Ferreira de Lima e Silva, que deu início ao seu processo
de parcelamento. Vale dizer que essa chácara pertenceu às terras de Antônio da Rocha
Machado, Homem Bom da cidade e com certa influência durante o governo de Gomes Freire
de Andrade. Rocha Machado conseguira a carta de aforamento dos terrenos de Paulo Pinto de
Faria e de seu cunhado brigadeiro Manoel Almeida, em 1742. A Chácara estendia-se desde o
arraial de Mata-porcos (atual Largo do Estácio) até o Campo de Santana e a lagoa da
Sentinela, cobrindo grande parte da área em que se consolidaria a Cidade Nova. Segundo a
documentação do Arquivo Nacional27, o senhorio da Municipalidade sobre esses terrenos
nunca foi colocado em dúvida, durante a posse de Rocha Machado28.

Havia ainda uma chácara localizada na área que posteriormente daria fundos para a
Igreja de Santana, delimitada pela rua do Saco do Alferes e pela de São Diogo. O seu terreno
era o mesmo que fora concedido pelo governador Salvador de Sá, por sesmaria, a Aleixo
Manoel em 1565, e que depois foi transmitido a Paulo Lourenço. Em 1796, a viúva de
Lourenço, Felicia Thereza, e seus filhos Anna Thereza, Joaquina e o padre Valentim José da
Cruz o venderam para Leandro dos Reis Carril e Francisco Xavier Telles29. No início do
século XIX, Antonio José de Siqueira comprou o terreno, que estivera incluído nos limites
daquela chácara, anteriormente, pertencente ao Patrimônio Régio30.

Portanto, a sesmaria inicial, durante um século aproximadamente, foi parcelada e deu


origem às chácaras que seguiam até as proximidades do litoral, em São Cristóvão. Até o braço
de mar que adentrava pela planície, formando o Saco de São Diogo, o patrimônio era
particular, fruto da doação do capitão-mor Corrêa de Sá; além desse limite encontrava-se o
vasto território dos jesuítas em direção ao interior do Rio de Janeiro.

27
Essas informações sobre a Chácara de São Diogo foram obtidas no Arquivo Nacional, Corte de Apelação, Notação 87 -
Caixa 531 - Galeria C e Notação 2007 - Caixa 125 - Galeria C.
28
Antônio da Rocha Machado deixou seis filhos: Luiz da Rocha Machado, Joaquim da Rocha Machado, Polucena Luiza de
Britto, Anna dos Prazeres Britto, Francisca de Paula Britto e Caetana Benedicta de Britto.
29
Leandro dos Reis Carril e Francisco Xavier Telles moravam em Portugal e foram representados no Brasil pelo procurador
capitão-mor José da Motta Pereira. A respectiva escritura foi lavrada em 1796 pelo tabelião Faustino Soares de Araújo.
30
Informações obtidas no Arquivo Nacional, Corte de Apelação, Notação 1417 - Caixa 80 - Galeria C.
88

Caminhando para o século XVIII, no entorno do Campo de Santana já se configurava


uma demarcação de chácaras que ocupavam os sopés dos morros e a planície pantanosa, bem
como as imediações da lagoa da Sentinela.

O mapa 09 apresenta esquematicamente a localização dessas grandes propriedades,


nos arredores do núcleo urbano consolidado, arrendadas pela Câmara de homens bons.

Mapa 09 – Grandes propriedades no entorno do Campo de Santana durante o século XVIII


s/escala

Fonte: CAVALCANTI, Nireu. O Rio de Janeiro setecentista. A vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da corte.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).

No início do século XIX, segundo Cavalcanti (op.cit.), os mapas representativos da


cidade do Rio de Janeiro apresentavam grandes vazios, ou seja, terrenos livres de construção
no entorno imediato da urbe. O autor cita como exemplo aqueles presentes nos primeiros
89

logradouros abertos na área da Cidade Nova – como a rua do Conde da Cunha -, na chácara
do sargento-mor Pedro Dias Paes Leme.

Até aquele período, o Rio contava com cerca de 115 chácaras em seu perímetro
urbano, e a cidade caracterizava-se pela horizontalidade. Ainda de acordo com Cavalcanti
(op.cit.), durante a primeira década do século XIX mais da metade dos terrenos apresentava
construções com apenas um pavimento, como casas térreas, chácaras e cocheiras. Estas
últimas imprimiam um ar de ruralidade à capital e, juntamente com as chácaras que cresciam
em direção ao interior, marcavam a transição do centro para um subúrbio ou arrabalde31.

Com a chegada da família real e do contingente populacional que com ela migrava,
ocorreu uma crescente demanda por habitação, agravando o problema de disponibilidade de
terrenos com dimensões apropriadas para a construção de prédios. Data daquela época o
incentivo ao parcelamento das glebas e chácaras ainda existentes na área central e a cessão de
grandes terrenos nas suas proximidades, no entorno do Campo de Santana.

3.2 A CRIAÇÃO DE UMA CIDADE NOVA NO RIO DE JANEIRO

O Campo de Santana é considerado o marco espacial de expansão do Rio de Janeiro,


no início do século XIX, em direção ao oeste, para as áreas próximas a São Cristóvão. A
partir dele convergia o caminho ou o eixo que permitia a ligação entre o Paço Real (leste) e o
Paço da Quinta da Boa Vista (oeste). Deve-se lembrar que, até então, o núcleo urbano
resumia-se às terras compreendidas entre o mar e a atual rua Uruguaiana.

Desse modo, procura-se aqui entender os aspectos que induziram esse espraiamento da
urbe para os pântanos localizados no antigo rossio, culminando na criação de uma Cidade
Nova no Rio de Janeiro.

3.2.1 A política urbanizadora do governo português na capital da Corte

A transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro e a elevação do Brasil, em


1815, à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, influenciaram de modo decisivo na
formação do Estado Nacional Brasileiro e na própria cultura urbana de suas cidades. Com a

31
Vale dizer que nos dicionários da língua portuguesa de Moraes Silva, publicados em edições de 1813, 1823, 1831 e 1858, o
termo arrabalde sugeria um bairro ou uma localidade que ficava fora dos muros da cidade.
90

abertura dos portos, houve um incremento acelerado das atividades comerciais no Rio de
Janeiro, ocasionando o deslocamento de grande número de proprietários rurais para o centro
urbano, atraídos pelo brilho da Corte e pelos hábitos e títulos ostentados pela fidalguia
portuguesa. O incremento populacional provocado pelas migrações e pela presença maciça da
nobreza32 trouxe à luz o problema habitacional e de infra-estrutura da cidade.

Entre 1808 e 1818, cerca de seiscentas casas foram construídas na cidade e


aproximadamente cento e cinqüenta nos arredores. No total, o número de habitantes
dobrou no primeiro quartel do século e, em 1840, atingiu cento e trinta e cinco mil
habitantes. Os núcleos habitacionais, pouco densos e com poucas interligações, se
multiplicaram (COUSTET, 1979, p.66).

A qualidade da baía para a articulação das atividades comerciais e a presença de um


núcleo já consolidado, nos limites da atual Praça XV, não se apresentavam como facilidades
para a adaptação dos novos habitantes. Segundo Sisson (1986), o príncipe regente, a família
real e a comitiva que com ela chegava procuraram abrigo no Paço Real e nos seus edifícios
vizinhos, como a cadeia e a casa de ópera, bem como no convento carmelita, no mosteiro de
São Bento, no consistório da igreja do Rosário e naquelas moradias que, aos poucos, foram
desocupadas por conta da implementação da lei das aposentadorias33.

Os processos que agiam no âmbito do núcleo urbano - adensamento populacional,


intensificação da circulação de mercadorias e proliferação dos ofícios – explicitaram a
necessidade da ocupação de novos espaços e foram determinantes para a implementação de
uma política urbanizadora que levaria à criação da Cidade Nova do Rio de Janeiro. Cidade
Nova em contraposição à cidade velha - de estreitos e insalubres espaços, limitada aos
padrões coloniais – e que emergia como uma solução para a organização e a transformação
para uma nova urbe, calcada nos moldes de uma modernização européia.

Ressalte-se que as mudanças no cenário urbano carioca, no início do século XIX,


representavam a introdução dos costumes e hábitos trazidos diretamente da Europa, seja com
a chegada da comitiva real, seja, posteriormente, em 1816, com o aporte da Missão Artística
Francesa. A capital da Corte cada vez mais assumia o caráter de capital comercial e de centro

32
“Os membros da Corte que acompanhavam o Príncipe Regente faziam parte de uma nobreza decadente e estavam, aqui,
movidos por interesses pessoais. Procuravam o proveito da situação irregular em que se encontrava a Coroa, esperando, da
gratidão do Príncipe, benefícios e empregos. Acabaram por se atrelar à burocracia administrativa, acumulando cargos e
soldos, aos quais não faziam jus” (ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 200 anos da chegada da
família real ao Brasil. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/arquivo/familia_real >. Acesso em: 05 ago. 2006).
33
Essa lei, abolida apenas em 1818, instituía o despejo ou a desapropriação de residências para a acomodação da Corte
portuguesa que aqui chegava.
91

econômico da colônia, ampliando a sua função portuária e centralizadora, dando origem a um


processo de modernização material e de atualização cultural. Era preciso substituir a aparência
colonial pelos padrões europeus modernos, dotados de urbanidade, aqui entendida como de
gente civilizada e polida (MORAES SILVA, 1823).

Uma das primeiras formas de atuação na estrutura carioca, no sentido da substituição


dos antigos padrões, surgiu com uma política urbanizadora34 aplicada por dom João, com o
intuito de transformar o Rio de Janeiro na capital portuguesa dos trópicos, segundo os moldes
culturais e morais típicos das sociedades européias. Esta política concentrava-se em três
pontos principais: aumento do número de habitações urbanas, em função do crescimento
populacional a partir de 1808; incentivos aos aterros das áreas de pântanos e mangues, focos
de insalubridade; e estímulo à edificação de casas assobradadas em detrimento das casas
térreas, a partir da isenção da décima urbana.

Foram propostas melhorias no ambiente público correspondente à área da Cidade


Nova, demonstrando-se uma ação intensa e particular do governo no sentido de criar um novo
e aristocrático espaço intermediário entre a residência oficial do Regente e o centro colonial
da capital. As ações foram chefiadas pelo Intendente Geral de Polícia Paulo Fernandes Viana,
e executadas pelo mestre de obras públicas, arruador da Câmara e arquiteto da cidade José
Joaquim de Santana. Foram intensificadas as obras de saneamento da região e promulgados
decretos que facilitaram a construção de residências naquele local. A intenção era a ampliação
do espaço urbano e o estabelecimento da ligação entre o Paço Real e o Paço da Quinta, por
meio do aterro dos pântanos de São Diogo, que receberia posteriormente o nome de Aterrado
da Cidade Nova.

Com a chegada do governo português, as valas são cobertas, os rios começam a ser
retificados, os riachos têm o leito e os barrancos muito melhorados. A água das ruas
corre melhor em direção a tais canais. A limpeza pública é facilitada (MORALES
DE LOS RIOS FILHO, 1946, p.74).

O caminho do Engenho dos Padres, conhecido inicialmente como o de Capueruçu, que


cortava o mangue em direção à Ponte dos Marinheiros35, foi aberto, possibilitando a ligação

34
Urbanizadora no sentido de fazer urbano e civilizar (MORAES SILVA, 1813).
35
“Ponte dos Marinheiros: construída em 1790, no tempo do Marquês de Lavradio, a ponte tinha esse nome porque nela os
marinheiros se abasteciam de água, desde que o porto começou a se deslocar da Praia de dom Manuel para o litoral da Saúde,
Gamboa e Valongo. Das proximidades da ponte (localizada onde hoje se encontra a Praça da Bandeira) partia um canal.
Aberto nos charcos, até a altura da Praça Onze de Junho. Pelo qual transitavam as canoas e faluas que traziam gêneros
alimentícios para a cidade” (BENCHIMOL, 1990, p.25).
92

do Campo de Santana até a Praia de São Cristóvão, por meio do prolongamento da rua de São
Pedro, dissecando-se parte do pântano que, segundo Santos (1943, p.183), tornara-se “extenso
foco de infecção, de mosquitos e exalações desagradáveis”. Foram aterrados também os
terrenos no caminho em direção à rua do Conde, na lagoa da Sentinela, até a Praia Formosa36
e o Saco do Alferes37. Ampliou-se o número de pontes, muitas em alvenaria e outras em
pedra, entre elas: as três localizadas na estrada de Mata-porcos (atual Largo do Estácio), a
ponte da Segunda-Feira, a do Bastos e os Pontilhões do mangue da Cidade Nova e do
Catumbi.

Essas obras foram seguidas de medidas que incentivassem a edificação de sobrados e a


ocupação do novo espaço. Entre elas ressalta-se o Alvará Régio de 26 de abril de 1811,
concedendo a isenção da décima urbana nos prédios assobradados que fossem levantados nas
ruas abertas, instituindo um marco para o povoamento da região.

Quando se começou a criar a Cidade Nova, depois do aterro parcial do mangue de


São Diogo, abundaram ali os prédios de dois andares e corredor e começaram a
instalar-se alguns sobrados com portas e soleira de cantaria [...] (ANDREATTA,
2006, p. 94).

Mais tarde, em 1824, a Portaria de 10 de janeiro, do ministro João Severiano Maciel


da Costa, ampliou as regalias para as construções contíguas às estradas de Mata-porcos e do
Aterrado.

Como se deixasse em abandono já no meio da área urbana, uma vasta extensão de


terreno insalubre e paludoso, cortado por um braço de mangue, aonde chegava a
maré, cobrindo-o nas enchentes – quando a grandes distâncias do centro se
edificavam chácaras e residências notáveis – tratou o governo de extinguir aquele
foco de infecção atmosférica, aproveitando-o ao mesmo tempo para dilatar e
aformosear a cidade. Lembrou-se o governo de ceder o terreno a particulares, que se
comprometessem a secá-lo e a utilizá-lo para a construção de prédios, de acordo
com uma planta, demarcando as ruas e praças da referida área. A fim de animar os
capitalistas, isentou-os o governo do imposto da décima por cinco, dez, vinte
anos...Do Campo de Santana e da Lagoa da Sentinela, dirigiu-se então a área da
cidade, pelo aterrado, ou rua das Lanternas (hoje rua Senador Eusébio), através de
ruas e praças – formando a Cidade Nova – para o arrabalde de São Cristóvão,
ocupando o terreno que fora por todos até essa data desprezado... (KITZINGER,
apud DELGADO DE CARVALHO,1988, p.66).

36
“A Praia Formosa começava no fim da praia do Saco do Alferes, no lugar conhecido como Ponta do Boticário, e terminava
na Ponte dos Marinheiros, no mangue da Cidade Nova, na freguesia de Santana” (MORALES DE LOS RIOS FILHO, 1946,
p.201).
37
“Os antigos manguezais próximos ao centro urbano, isto é, na Cidade Nova, começavam na antiga rua de Santa Rosa,
sendo limitados ao norte pelos morros da Providência e de São Diogo e ao sul pelas ruas do Conde e do Bom Jardim. Daí os
limites estavam assinalados pelas ruas do Aterro, Nova de São Leopoldo e do Sabão da Cidade Nova” (MORALES DE LOS
RIOS FILHO, 1946, p.31).
93

Ressalte-se que, antes mesmo da criação da Cidade Nova, a área próxima ao Campo
de Santana, em direção ao mangue, já apresentava uma incipiente malha viária, como a rua do
Conde da Cunha, das Flores, do Areal, Formosa e a estrada de Mata-porcos. Ao iniciar-se o
processo de construção e a intensificação da ocupação da Cidade Nova, outras foram abertas e
promoveu-se o saneamento das já existentes.

A cidade morria, praticamente, no Campo de Santana ao iniciar-se o ano de 1808,


tão decisivo para a História do Brasil. Diante dele pouco existia, a não ser uns
caminhos que ainda tardariam a converter-se em ruas autênticas nas terras mais
altas, ao pé das quais se estendiam os mangais de S. Diogo do lado do mar e de
Santa Teresa e Catumbi (GERSON, 1954, p.170).

Sob o ponto de vista urbanístico, Morales de Los Rios Filho (1946, p.20) afirma que
“a cidade ia sendo gradativamente saneada e melhorada”. Em 1812, a Chácara dos Coqueiros,
no atual bairro do Catumbi, foi retalhada, dando origem às ruas da região. Em 1815, por
ordem do príncipe regente e do vice-rei conde de Rezende, foi construído o passeio no Campo
de Santana, com o intuito de valorizar o aspecto do “maior descampado que existia em toda a
cidade” (MORALES DE LOS RIOS FILHO, op.cit., p.92)38. Foram aterradas as bordas
alagadas e fixaram-se os alinhamentos das edificações em seu entorno. Entre 1810 e 1820
abriram-se no mangue cerca de 22 valas para despejos. A partir de 1820, implementaram-se
os serviços de drenagem, de calçamento das ruas do centro e dos arredores, foram
remodeladas as estradas de Mata-porcos e do Engenho Velho e colocados tapumes nos
terrenos baldios na área da lagoa da Sentinela. Estes serviços foram implantados pelos
engenheiros militares dos departamentos oficiais civis, inclusive pelo arquiteto português
Francisco José Soares de Andréia.

3.2.2 O arruamento da Cidade Nova

O Rio de Janeiro iniciou o século XIX com um total de 12 paróquias, classificadas


como freguesias urbanas ou rurais. As paróquias da Sé-Catedral, da Candelária, de São José e
de Santa Rita eram as únicas consideradas partes da área urbana. Ressalte-se que desde o
início da colonização a administração pública, de cunho civil, confundia-se claramente com a
38
Segundo Morales de Los Rios Filho (1946), o idealizador do passeio como recreio público foi o ministro Tomás Antonio
de Vilanova Portugal. A área considerada uma lavanderia, um esterquilíneo, coradouro público, quartel general de
malandros sempre dispostos a promover arruações e depredações, com 100 braças de comprimento, desde a rua do Conde
até a do Areal e até a do hospício, seria restaurada e ornamentada.
94

das igrejas e com a atuação dos párocos. Nesse sentido, era comum que a administração
religiosa fosse tomada como unidade básica da própria esfera pública, daí resultando as
divisões das cidades, sendo denominadas paróquias ou freguesias39, que posteriormente
originariam distritos no interior dos municípios.

A freguesia da Sé-Catedral estendia-se por uma área predominantemente de planície,


marcada por terrenos alagados e pantanosos, indo em direção à sesmaria da Ordem dos
Jesuítas, no limite entre o interior da cidade e os arredores do núcleo central. A partir do
século XVIII, tiveram início as obras de aterro e drenagem na região do Campo da Cidade –
conforme visto no capítulo 02 – considerado o apêndice da faixa ocupada e urbanizada
próxima ao litoral, correspondente às freguesias da Candelária, São José e Santa Rita. Parte
dessas obras permitiu que se fizessem arruamentos no terreno da chácara que pertencera ao
sargento-mor Pedro Dias Paes Leme, no entorno do morro do Senado. No entanto, vale dizer
que nem sempre a abertura de ruas, retalhando-se parte de terras geralmente ocupadas, ocorria
de forma pacífica. No caso citado, alguns moradores, fossem eles arrendatários ou foreiros,
sentiram-se prejudicados pela ação empreendida pela Câmara e apresentaram queixas e
pedidos de embargo das obras. Porém, como o processo de arruamento ocorria por iniciativa
da municipalidade ou do governo da capitania ou em casos isolados, por interesse de
particulares, a Câmara alegou o direito de agir com o propósito da realização de benfeitorias
em prol do bem comum da população. Finalizada essa querela, no início dos oitocentos, teve
impulso a ocupação e a urbanização da área no entorno imediato do Campo de Santana,
considerada o embrião para o crescimento da Cidade Nova do Rio de Janeiro.

A rua do Conde da Cunha foi uma das primeiras a serem abertas no terreno da chácara
de Paes Leme. Inicialmente, recebeu o nome de rua da Sentinela, em função da sua execução,
em 1774, sobre os aterros da lagoa de mesmo nome. Segundo Berger (1974), sua origem deu-
se a partir da resolução do primeiro vice-rei, conde da Cunha, de mandar estender a antiga rua
do Piolho (atual rua da Carioca) pelos terrenos da chácara de Paes Leme situada na face sul do
Campo de Santana. A rua foi prolongada em 1765 até encontrar o caminho de Mata-cavalos
(atual Riachuelo). Em 1766, recebeu a denominação de rua Nova do Conde quando foi
estendida até o Barro Vermelho, comunicando-se com a estrada de Mata-porcos, inaugurada
em 1794. Em 1866, recebeu o nome de rua Conde D’Eu, em homenagem ao marido da
princesa Isabel. Atualmente, atende pelo nome de Frei Caneca.

39
Freguesia, s.f. Povoação sob o ponto de vista eclesiástico; conjunto dos paroquianos (FERREIRA, 1957, p.578).
95

Nas terras pertencentes à antiga chácara de Pedro Caetano Portela, na face oeste do
Campo de Santana, foram abertas três vias que estabeleceram o contato com os terrenos
situados no Mangal de São Diogo: a rua das Flores, a rua Formosa e a rua do Areal. Estes
caminhos e a rua do Conde da Cunha eram os únicos que permitiam a ligação do núcleo da
cidade com as terras que seguiam até a paróquia do Engenho Velho – que teria importância
estratégica para o processo de expansão da cidade para o oeste, na direção da atual Tijuca.
Além deles, a comunicação era feita por meio de pequenas embarcações que trafegavam pelos
estreitos canais do Saco de São Diogo.

A rua das Flores foi aberta em 1805, a partir da rua do Conde da Cunha, em direção
àquela chamada de El-Rey (primeiro nome dado à de São Diogo), entre as antigas chácaras de
Pedro Caetano Portela e Feliciano da Silva Coutinho. Em março de 1879, por meio da
proposta do vereador Francisco Basílio da Mota, passou a se chamar rua de Santana. Ressalte-
se que havia uma rua no lado direito do Quartel do campo conhecida também como de
Santana, em virtude de ali ter sido construída a igreja matriz desta freguesia. Hoje, atende
pelo nome de Doutor João Ricardo.

A rua de El-Rey e a continuação da antiga rua de São Diogo, em 1849, foram


unificadas e receberam o nome de rua de São Diogo, sendo esta, posteriormente, conhecida
como General Pedra.

A antiga e primitiva rua de São Diogo principiava quase do Largo da Providência,


pelo terreno em que está hoje edificado o sobrado dos herdeiros do falecido
Teixeira, seguindo pela frente das casas concentradas de José de Oliveira Fernandes,
onde ele mora, cortando pelos fundos das do fiscal Borges, continuando pelas
frentes das de José Joaquim de Lima, herdeiros do finado mestre Thomé, portão de
João José de Souza Guimarães, frentes das casas de Joaquim Ferreira Gomes, José
Ricardo Vieira, Joaquim José Garcez, cortando um pedaço alagadiço da chácara de
dona Josefa, passando pela frente das casas da viúva Tavares, Antonio José
Monteiro Dias, Sebastião de Paula Pinto e dali seguia pela encosta do morro em que
hoje está a chácara de Antonio Fernandes Pereira Viana, a tomar a travessa de São
Diogo que desemboca na Praia Formosa. A antiga rua era a divisa conhecida entre as
sesmarias concedidas por Salvador Correia de Sá e o Mangue (Documento
direcionado à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, AGCRJ, códice 3-1-48).

A rua Formosa teve o seu primeiro trecho aberto entre a antiga São Diogo e a rua do
Areal, em terrenos das chácaras de Antonio da Rocha Machado – grande proprietário de terras
- e do conde dos Arcos. Posteriormente, a partir do desmembramento da chácara de Manoel
Antonio Claro – outro expressivo proprietário da época -, foi executado o segmento em
direção à rua do Conde da Cunha. Desde 1873 é conhecida como rua General Caldwell.
96

A rua do Areal recebeu este nome em dezembro de 1822, sendo anteriormente


conhecida como a estrada do Areal ou, segundo Morales de Los Rios Filho (op.cit., p.210),
vulgarmente chamada de “rua das Boas Pernas, querendo assim o povo aludir a quem somente
possuía pernas fortes para atravessar tal zona arenosa”. Representava o canal de comunicação
entre o Campo de Santana e a rua do Conde da Cunha. No final do século XIX, passou a se
chamar rua Moncorvo Filho.

Na chácara pertencente a José da Costa Barros, que se estendia até a face norte do
campo – próxima à Igreja de Nossa Senhora de Santana -, localizada no final da antiga rua de
São Joaquim (atual Marechal Floriano), foi solicitada a demarcação de arruamentos. O
próprio capitão Barros deu entrada com o pedido na Câmara, em 1808, sendo liberada a
abertura das ruas do Príncipe, da Princesa e de outras perpendiculares a estas em 1809.

É importante destacar que o primeiro caminho, cruzando a área da Cidade Nova, que
permitiu a comunicação do núcleo colonial com o rossio do Campo da Cidade, até a freguesia
do Engenho Velho, foi o de Mata-porcos. Eixo de ligação entre o leste e o oeste da cidade,
margeando a lagoa da Sentinela e desembocando próximo à Bica dos Marinheiros, era assim
conhecido por ter sido escolhido como o local para a instalação de um matadouro de porcos
para o abastecimento da área central.

Verdadeiro matagal, era nele que se refugiavam os porcos das vizinhanças, das
criações dos matadouros próximos, e por ele passava um córrego, sobre o qual três
pequenas pontes existiam, todas as três com pitorescos nomes. A primeira se
chamava Aperta a Goela, a segunda Cala a Boca e a última, por fim, Não te
importes, porque assim faziam ou diziam os ladrões malfeitores que as
freqüentavam, ao assaltarem as lavadeiras ou os escravos, carregados de roupas ou
alimentos, que por elas passavam na calada da noite (GERSON, 1954, p.319).

O mapa 10 mostra o percurso do caminho de Mata-porcos em direção ao interior, à


estrada do Engenho Velho, ainda no século XVIII, em 1769.
97

Mapa 10 – Caminho de Mata-porcos no final do século XVIII


s/escala

Em direção à
antiga sesmaria
dos jesuítas

Mata-porcos

Fonte: representação sobre Roscio, Francisco João, Planta da Cidade do Rio de Janeiro Capital dos Estado do Brazil e projeto com que
pode ser fortificada, 1769. Disponível em: <http://www.brazilbrazil.com/riomaps>. Acesso em: 24 jul. 2006.

Em 1808, com a chegada do príncipe regente, o poder público ordenou que se


fizessem os aterros do Mangal de São Diogo para a abertura do caminho do Aterrado –
inicialmente conhecido como Capueruçu -, que constituiria a segunda e mais importante via
de comunicação entre o centro e o oeste da cidade, ou melhor, entre o Paço Real (no Largo do
Carmo) e o Paço da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. Ressalte-se que, segundo
registros do Padre Perereca (Luiz Gonçalves dos Santos), a obra de construção dessa estrada
teve origem no projeto apresentado pela Câmara em 1805, sendo colocado em prática apenas
com a vinda de dom João VI. Conforme o padre, fazia parte da proposta, além do Aterrado,
uma ponte de madeira que atravessaria o braço de mar que entrava pela planície alagadiça e
um canal disposto paralelamente à estrada para drenar os terrenos.

O Senado da Câmara desta cidade, dois anos antes da memorável e feliz vinda do
príncipe regente Nosso Senhor, empreendeu, sendo inspetor e procurador do mesmo
Senado, o capitão-mor Leandro Marques Franco de Carvalho, fazer uma extensa
98

estrada sobre o mesmo mangue, a qual se concluiu desde o lugar, onde se projeta
abrir a caldeira, até o braço do mar, que entra por São Diogo, atravessa o mangue,
até chegar à referida estrada grande. Apesar deste espaçoso terreno não estar
aterrado na sua maior parte, o que só no fim de muitos anos se conseguirá, contudo
temos visto em pouco tempo vir surgindo uma nova cidade com grandes, belos
edifícios, ruas largas e tiradas a cordel, que se cortam com outras em ângulos retos.
O mencionado procurador da Câmara fez abrir uma vala, que se prolonga em linha
paralela com a grande estrada (SANTOS, 1943, p.355).

O caminho desembocava na Ponte dos Marinheiros, que se estendia até a rua de São
Cristóvão (atual Joaquim Palhares), “uma das mais extensas e tortuosas da cidade”
(MORALES DE LOS RIOS FILHO, op.cit., p.213), pois começava no Largo de Mata-porcos
e terminava no Barro Vermelho. Importante é lembrar que às margens do caminho ou da rua
de São Cristóvão ficaram as terras que haviam sido arrematadas em conseqüência do
seqüestro dos bens dos padres jesuítas, em 1769. Portanto, este é o limite da área que
compreende a Cidade Nova na presente pesquisa.

A estrada da Cidade Nova a São Cristóvão está geralmente coberta de caravanas de


tropeiros, tangidas por condutores de aspecto vário, vestidos de camisa de algodão e
calças da mesma fazenda, usando chapéu desabado, cujas cores combinam com as
dos cavalos e mulas e trazem também pessoas de maior distinção, vindas do interior
do país, formando um total de, pelo menos, dois mil vindantes por dia
(HENDERSEN, apud SANTOS, 1943, p.182).

Também conhecido como caminho das Lanternas - em virtude da implantação, pela


Intendência Geral de Polícia, de lanternas pregadas em colunas de pedras, alimentadas por
azeite de peixe para a iluminação da passagem das carruagens da Corte – a estrada do
Aterrado deu início à intensificação do tecido urbano a partir da face oeste do Campo de
Santana. Como complementos a essa via, foram criadas, para além do campo, as ruas de São
Pedro da Cidade Nova (continuação da rua de São Pedro no núcleo colonial) e do Sabão da
Cidade Nova (continuação da rua do Sabão, também núcleo colonial).

Intensificava-se o arruamento que, a partir da segunda década dos oitocentos, já


contava com nove vias, sendo elas: a das Flores, Formosa, Areal, Nova do Conde, Mata-
porcos, Aterrado, Sabão da Cidade Nova, São Pedro da Cidade Nova (continuação da rua do
Aterrado) e São Diogo. É importante destacar que, a partir de 1814, o tecido urbano que
correspondia à Cidade Nova passou a fazer parte da recém-criada freguesia de Santana que,
juntamente com as paróquias da Candelária, de São José, do Sacramento e de Santa Rita,
constituíam-se nas divisões administrativas da área urbana do Rio de Janeiro.
99

Os mapas 11 e 12 apresentam a evolução da malha viária no mangue, já conhecido


como a Cidade Nova do Rio de Janeiro, respectivamente na segunda década e no início dos
anos 30 dos oitocentos.

Mapa 11 – Logradouros na segunda década do século XIX


s/escala

Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).
100

Mapa 12 – Logradouros na década de 30 do século XIX


s/escala

Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).

Um aspecto relevante na análise da ocupação e constituição da estrutura urbana da


paróquia de Santana é o fato de já haver, durante as primeiras décadas do século XIX,
conforme afirma Maurício de Abreu (1997), uma tênue diferenciação social entre as cinco
freguesias da cidade. Ou seja, São José e Candelária destacavam-se por serem os locais
preferidos para a residência das classes mais abastadas, em função da concentração das
repartições mais importantes do Reino e da significância do Paço Real. Outra parcela dessa
população dirigia-se para os atuais bairros do Catete e da Glória, para as chácaras retalhadas
101

na área sul da cidade em direção a Botafogo; e para as proximidades de São Cristóvão, devido
à localização do Paço da Quinta da Boa Vista, residência da família real. Os demais
habitantes, com reduzido poder de mobilidade e impossibilitados de ocupar as terras situadas
ao oeste devido à existência de mangues e pântanos, cujos custos de aterro e construção eram
elevados, permaneciam na freguesia de Santa Rita e nos atuais bairros do Santo Cristo e da
Gamboa.

O caso do deslocamento populacional em direção ao velho arraial (M.ABREU, op.cit)


de São Cristóvão é considerado atípico no processo de distribuição sócio-espacial do Rio de
Janeiro. Foi implementada uma política de melhoramentos urbanos em grande parte das terras
que intermediavam o núcleo consolidado e o Paço da Quinta. Ou seja, enquanto São
Cristóvão foi favorecido pelo privilégio de abrigar a residência da família real, surgia um
novo espaço que passou a ser ocupado pelos que tinham poder de mobilidade e intentavam
manter-se próximos à realeza – a Cidade Nova. Portanto, resolvido o problema da
acessibilidade40, tanto São Cristóvão como a Cidade Nova sofreram um processo de
multiplicação de moradias ricas.

Nesse contexto, apesar das dificuldades impostas à edificação na área, pouco


recomendável à saúde por conta dos focos de infecção e de mosquitos, mas estrategicamente
localizada junto à família real, a partir de 1835, teve impulso a formação de logradouros
públicos e ativou-se o retalhamento de terrenos e a estruturação dos espaços públicos, como o
Largo do Rocio Pequeno. Em 1840, iniciou-se a abertura da rua do Bom Jardim (atual
Visconde de Sapucaí), com o intuito de permitir a ligação entre o mangue e o Catumbi.
Caminhando para a metade do século XIX, já era possível perceber um tecido longilíneo e
regular formado por cerca de 18 ruas, sendo elas: as nove já existentes, a rua do Saco do
Alferes, Nova de São Diogo, Bom Jardim, Porto, Alcântara, São Leopoldo, Princesa, Príncipe
e Santana.

É preciso dizer que a ocupação da Cidade Nova apenas consolidou-se em meados do


segundo reinado, quando foram completadas as obras de aterro, facilitando-se a expansão
urbana para o oeste. Os charcos localizados no sopé do morro de São Carlos desapareceram e
deram lugar aos atuais bairros do Rio Comprido, Catumbi e Estácio. Ressalte-se que a
construção do Canal do Mangue foi decisiva para o prolongamento da malha urbana da área,

40
“Local de residência imperial, foi em direção a São Cristóvão que se dirigiram as primeiras diligências de que se tem
notícia na cidade. E quando, em 1838, circularam os primeiros ônibus de tração animal, as chamadas gôndolas, uma das
linhas também demandava esse bairro” (M.ABREU, 1997, p. 37).
102

bem como para o saneamento e para a consolidação do eixo de ligação entre o leste e o oeste
da cidade.

O mapa 13 dispõe da configuração das ruas na Cidade Nova, em 1850.

Mapa 13 – Logradouros na década de 50 do século XIX


s/escala

Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de


São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de
Sua Alteza Real o Príncipe Regente no ano de 1808.
Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).
103

3.2.3 O projeto civilizatório da Missão Artística Francesa e o Urbanismo Imperial: da


Cidade Velha à Cidade Nova

“As cidades também são a forma da sua política, os signos de uma vontade” (Rossi,
1995, p. 252).

A Missão Artística Francesa aportou no Rio de Janeiro em 1816, trazendo uma nova
ideologia de arquitetura, artes e espaço urbano, que correspondia à Europa, contemporânea da
Revolução Industrial. Contratada pelo governo português para atualizar o gosto e a técnica do
império em território brasileiro, seus maiores expoentes foram Joaquim Lebreton, ex-
secretário da Classe de Belas Artes do Instituto de França, os pintores Jean-Baptiste Debret e
Nicolas Antoine Taunay, o escultor Auguste, o gravador Charles Pradier e o arquiteto
Grandjean de Montigny. “O governo português considerava necessário adaptar a cidade do
Rio de Janeiro, de feições coloniais, para suas novas funções – sede política e administrativa
do Reino” (TELLES, 2000, p. 62).

Sob a orientação de Lebreton, a Missão Francesa chegara com o intuito de organizar o


ensino técnico no Brasil, por meio da fundação do Liceu de Artes e Ofícios. Esse grupo de
artistas e artesãos teria o monopólio da contratação das principais obras e, segundo Cardoso
(1993, p.34), “a oportunidade de construir uma nova cultura numa terra onde as oportunidades
estariam abertas”.

Afonso Santos (2000) introduz uma outra abordagem sobre o papel da Missão Artística
no Brasil, acrescentando que, aliado à idéia de um projeto político de império luso-brasileiro,
existia um outro, de caráter civilizatório. Ou seja, a fisionomia da cidade do Rio de Janeiro
seria transformada em um autêntico laboratório da civilização e não apenas em um mero
cenário para os eventos de afirmação do poder monárquico.

Nesse sentido, Peixoto (2000) propõe uma discussão acerca do conceito de civilização
e como ele ressonou no território brasileiro, a partir da transferência da Corte para o Rio de
Janeiro. Segundo o autor, este conceito abarca diversas esferas da existência e da atividade do
homem, permitindo-se falar sobre civilização quanto ao nível da tecnologia, ciência, filosofia,
religião ou, até mesmo, em relação às atitudes do governo e ao controle da ordem social.
Dialogando com Norbert Elias, segundo o qual o conceito de civilização é uma espécie de
sentimento ou consciência nacional em que o ocidente aparece mais avançado em
contraposição às sociedades primitivas, é possível acreditar que, ao aportar no Brasil, a Corte
deparou-se com uma etapa, no processo de civilização, bastante desatualizada em relação
104

àquela européia. Ou seja, a comitiva real viu-se diante de um tempo civilizatório anterior
àquele descrito por Elias. Portanto, o intuito de levar a modernização nos moldes europeus à
capital da Corte representava um impulso para uma nova etapa na escala evolutiva da
civilidade.

Como uma das primeiras tarefas, os artistas franceses elaboraram e construíram


espaços públicos destinados às festas e aos desfiles exibidos pela Corte. Para tal, foram
criados obeliscos, arcos do triunfo e templos do amor, caracterizando um rol de arquitetura
efêmera que ocupava as praças principais e as ruas da cidade41. Esse tipo de arquitetura-
espetáculo tinha o intuito de afirmar a superioridade da Corte e sua presença junto às camadas
mais populares da capital, mas também imprimiria marcas profundas e inéditas no novo
mundo42. Os cenários criados demonstravam o desejo de vincular a cidade ao passado da
cultura ocidental e expressavam o projeto de civilização que o governo português visava
implementar nos trópicos. Segundo Telles (2000, p.63), essa arquitetura decorativa e festiva
tinha o intuito de “transmitir a ilusão de se estar numa capital européia”. “A construção de um
império na América implicava uma intensa produção de imagens simbólicas que
acompanharam os momentos de definição e institucionalização do poder monárquico no novo
mundo” (A.SANTOS, 2000, p. 12).

Essa produção efêmera indicava, por meio de monumentos, uma reafirmação do


neoclássico, considerado o estilo do império. Ressalte-se que o Brasil estava vivendo uma
nova fase deste estilo, mais erudita e alinhada à modelagem acadêmica européia, como
continuidade daquela presente na administração pombalina do século XVIII. Este estilo de
arte representava um sentido de ordem no mundo e que aqui exprimia as idéias, os anseios e
as convicções da Corte portuguesa.

Interessante é notar que o neoclassicismo e a busca da razão e ordem refletidas na


arquitetura da cidade também apresentaram suas dimensões no urbano. Surgiu uma nova
forma de urbanismo, o imperial, que deveria ser capaz de expressar no território o projeto
civilizador, inicialmente, encabeçado por dom João VI e levado a cabo por dom Pedro I, não
mais para uma colônia portuguesa, mas para uma nação que surgia.

41
Vale dizer que essa arquitetura efêmera e festiva não foi uma invenção brasileira, apesar das improvisações realizadas para
transformar o Rio na capital da Corte civilizada, mas sim um determinado modelo importado da França, conforme afirma
Peixoto (2000).
42
“Na França, durante o período revolucionário construiu-se uma quantidade de arquitetura efêmera para ambientar as festas
cívicas e celebrações patrióticas. [...] Já para a multidão de brasileiros e africanos que nunca tinham presenciado semelhante
solenidade, certamente as festividades impressionavam. Especialmente se considerarmos que as festas a que a cultura
nacional estava acostumada eram toscas cavalhadas, procissões e quermesses da igreja” (PEIXOTO, 2000, p. 133).
105

Segundo Benchimol (1990), a primeira reflexão acerca do urbano no Rio de Janeiro


partiu de um dos principais representantes da Missão Francesa, o arquiteto Grandjean de
Montigny, discípulo de Percier e Fontaine – responsáveis pela remodelação da Paris de
Napoleão. Suas propostas urbanísticas pautavam-se em um sentimento novo de espaço e eram
influenciadas pelas concepções urbanas francesas do período napoleônico – grandes praças,
longas e largas avenidas margeadas por edifícios neoclássicos. Nesse sentido, Montigny
intentava construir para o Rio a imagem de cidade ideal, tendo como ponto de referência a
capital francesa.

Paris, na época da Revolução e do Império, era um verdadeiro laboratório de


experimentação urbanística. Já antes da queda da monarquia, a administração real
baixara cartas régias para regulamentar a largura das ruas, a altura das casas, os
materiais de construção. Depois [...] o governo revolucionário multiplicou as
grandes festas públicas destinadas a celebrar o novo regime político; estas
cerimônias deram lugar a construções efêmeras [...] para exaltar os sentimentos
patrióticos e revolucionários [...]. Sob Napoleão, os projetos se tornaram, ao menos
em parte, realidade. Acima de tudo eficiente, o imperador francês deu prioridade às
realizações práticas: o abastecimento de água, os mercados, o sistema viário.
Incentivou a abertura de grandes ruas, o realce dos edifícios públicos, uma estética
do espaço que justificou a demolição de bairros antigos e monumentos históricos
[...] (COUSTET, 1979, p. 67).

Buscava-se a criação de amplos espaços saudáveis e belos, perfeitos e idealizados,


com imponentes estruturas em estilo neoclássico representando a inserção das inscrições de
poder na trama da capital. Os franceses traziam a intenção de construir uma nova cidade, ou
seja, um Rio de Janeiro imperial dotado de eixos visuais atravessando o casario colonial,
edifícios monumentais e uma ordenação urbana clássica européia, privilegiando a
regularidade e a simetria.

Montigny, por volta de 1826, elaborou um projeto para a construção de um palácio


imperial, na atual Praça XV, incorporando o Paço Real à nova estrutura arquitetônica. Para a
sua execução seria necessária a remodelação de parte da cidade velha, para a abertura de uma
extensa avenida que permitiria a ligação entre o palácio, o Largo do Rocio e o Campo de
Santana. Ao longo desse boulevard estaria presente uma área destinada a afamar o poder
imperial, cujo extremo seria o campo, circundado por edificações de cunho político e
administrativo.

A cidade se estruturaria em torno daquele, para lhe servir de moldura e seria


remodelada em função dele. Os quarteirões imediatos são reservados para os
servidores do palácio. Em frente ao pátio de honra, a cidade é rasgada pondo em
106

evidência duas praças programadas e uma perspectiva triunfal. A primeira praça dita
Imperial [...] desta, cortando os velhos quarteirões, projetava-se uma rua Imperial,
conduzindo à segunda praça, onde a disposição recupera o traçado em semicírculo
da precedente para acompanhar a estátua da imperatriz. [...] o traçado das vias, a
disposição das praças, o programa decorativo, tudo nesse projeto submete o povo a
um urbanismo monárquico (COUSTET, 1979, p. 68-70).

Segundo Telles (op.cit.), essa avenida projetada indicaria o sentido da expansão, do


crescimento da cidade. Portanto, a partir do Campo de Santana, na Cidade Nova, os espaços
apresentar-se-iam como a perspectiva de uma outra forma de ocupação e de apropriação, já
pautada nas concepções de modernização e civilidade européias. Ressalte-se que um segundo
projeto, desenvolvido em 1827, para o campo, previa a preparação para uma nova
organização da malha urbana no mangue, dotada de regularidade e maior simetria43. A
proposta visava à remodelação da área conforme uma praça à francesa, cujo nome de Campo
da Aclamação seria uma referência à posse de dom Pedro I como imperador do Brasil.
Montigny previu a construção de pórticos no interior do campo, cuja semelhança com o
projeto para a rua de Rivoli em Paris, no mesmo período, revelava a intenção de criar, nos
padrões franceses, um centro completamente diferente daquele do núcleo colonial, em cujas
proximidades se organizaria a Cidade Nova.

O conjunto de Santana é qualificado como fórum, termo que lembra o projeto de


fórum para os homens livres e imaginado para o desenrolar das festas cívicas e das
manifestações patrióticas, próprio para a realização das cerimônias políticas, das
procissões religiosas, das paradas militares, concebido para o passeio e o descanso
do povo, com chafarizes, bancos e lojas sob galerias. O fórum do Rio de Janeiro é
idealizado como centro da vida política que gravita em torno da imagem do monarca
(COUSTET, 1979, p.68).

O novo centro do Rio de Janeiro seria modelarmente concebido e, a partir dele, seria
possível a reorganização de toda a urbe, com perfis modernos e revolucionários para as
características até então coloniais brasileiras. Porém, os acontecimentos políticos de abril de
183144 e dos anos que se seguiram impediram a execução desse e de outros projetos de
reordenamento do espaço urbano do arquiteto, como a arborização de ruas e praças, o recuo
progressivo dos prédios para o alargamento de vias, como a Estreita de São Joaquim e a

43
Vale lembrar que, antes mesmo da concepção da malha urbana regular da Cidade Nova, Arnaud Julien Pallière, em 1820,
elaborou um plano para a cidade de Niterói, fixando um traçado de ruas em xadrez, com praças regulares e ruas largas e
retilíneas.
44
O dia 13 de março de 1831 ficou conhecido como o dia da “Noite das garrafadas”, marcado por agitações na capital do
Império, cujo foco eram os confrontos entre as diferentes facções políticas de oposição ao imperador, inflamadas pela adesão
dos portugueses residentes no Brasil aos partidários de dom Pedro I. No mês seguinte, mais precisamente dia 7, dom Pedro I
abdicou do trono em favor de seu filho Pedro.
107

abertura de um boulevard permitindo a ligação entre a Quinta da Boa Vista e o aterrado do


mangue. A imagem de uma nova cidade moderna europeizada não pôde ser colocada em
prática, permanecendo apenas como um sonho de uma Paris tropical, que continuaria
perpassando por muitos anos no imaginário das elites cariocas.

De qualquer maneira, vale reforçar que a Missão Francesa inaugurou as primeiras


iniciativas modernizadoras que seriam promovidas pelo governo português e sua Corte no Rio
de Janeiro, mas a não execução dos planos urbanos de Montigny – baseados na regularidade
francesa - acabou expressando um distanciamento entre o projeto de civilização e as próprias
condições sociais e econômicas existentes.

A realidade que estes artistas encontraram no Brasil de dom João fez com que suas
obras e seus projetos ficassem como eventos contrastantes com a paisagem
aparentemente desordenada do espaço colonial. A paisagem que aparece como
desordenada e confusa para estes europeus, na realidade correspondia a uma
ordenação que tinha a sua lógica num sistema em crise (A.SANTOS, 2000, p. 31).

Apesar das propostas monumentais desenvolvidas por Montigny, que destacavam o


Campo de Santana como um marco territorial e um símbolo de poder para a expansão de uma
nova cidade não terem sido executadas, esse ideário urbanístico influenciaria a organização do
tecido viário e a própria estrutura fundiária da região do mangue, daquele momento em
diante. As ruas mais largas, paralelas e perpendiculares, passariam a aparentar maior
regularidade a partir da consolidação de uma estrutura sob a forma de grandes quarteirões.
Nesse contexto, as intenções e as próprias escalas pontuais de intervenção no urbano
significaram os anseios para a introdução de uma infra-estrutura peculiar do novo tipo de
cidade que se almejava a partir da Revolução Industrial na Europa.

A necessidade de levar a urbanidade para as áreas pouco adensadas e de transferir o


poder do antigo e insalubre Largo do Paço, aliada à estratégia francesa de reordenamento do
espaço urbano, fez com que o campo fosse visto como a nova opção de centro político e
administrativo do império brasileiro. Tinha início o deslocamento da centralidade do Paço
Real para o Campo de Santana.
108

3.2.4 O Campo de Santana como o novo centro de poder

Antes de discutir a questão da transferência de centralidade da região em que hoje se


localiza a Praça XV para o Campo de Santana, é importante retornar no tempo e entender o
significado destes dois espaços da cidade.

A construção da capela de Santana, em 1735, nos terrenos cedidos pelo cônego


Antônio Pereira da Cunha, proprietário de uma chácara no campo arenoso, que representava
um dos limites entre o que se chamava de centro e de arredores, foi o marco para a criação de
uma nova freguesia urbana com o mesmo nome da capela. Até então, a irmandade de Santana,
formada na maioria por crioulos, velava a imagem de sua padroeira num dos altares da igreja
de São Domingos, localizada na freguesia de Santa Rita (ver capítulo 02). Segundo Coaracy
(1965), houve desavenças entre os negros e os párocos de São Domingos e os crioulos de
Santana. Este cenário propiciou a doação de parte das terras do cônego, localizada ao norte do
Campo da Cidade, considerado até então como uma área de rossio, que passaria a ser
denominada de Campo de Santana.

Antes mesmo de receber o nome da paróquia em que estaria inserido, o campo,


recortado pelas chácaras estabelecidas no entorno como consolidação das sesmarias, era o
local de reunião do gado para o caminho do matadouro e de escravos e traficantes. No início
do século XVIII, era uma área arenosa e tomada por ervas rasteiras e cajueiros, considerada
local de escoamento de detritos e dejetos dos habitantes do núcleo da cidade.

Depositadas em barris adequados, as matérias fecais eram, à noite, transportadas por


negros que iam despejar no mar, à beira do cais, ou em fossas a esse fim destinadas.
Aos pretos, que nas horas mortas, corriam apressados pelas ruas levando à cabeça
esses peculiares barris, dava o povo o nome que depois se estendeu às mesma
vasilhas, de tigres. No Campo de Santana, por ser lugar desabitado e distante,
mandava a Câmara abrir grandes fossos ou valas onde os tigres despejassem os
barris (COARACY, 1965, p. 161).

As obras de aterro e delineação do campo, delimitado por antigas chácaras foreiras ao


Senado da Câmara, tiveram início durante o governo do conde de Rezende (1790-1801), às
custas do trabalho escravo. Segundo monsenhor Pizarro e Araújo, a sua área correspondia a
285 braças de comprimento e 125 de largura.

No início do século XIX, conforme salienta Gerson (op.cit.), três lados do campo já
apresentavam casas afastadas umas das outras por quintais e muros, sendo um deles escolhido
109

para abrigar o quartel da capital. O espaço era visto como o lugar ideal para a prática de
exercícios militares, principalmente por sua localização estratégica: no limite entre os
arrabaldes e o núcleo da cidade.

Figura 06 – Igreja no Campo de Santana Figura 07 – Quartel no Campo de Santana


Início do século XIX Início do século XIX

Fonte: BURDEN, Christopher. Cego furor homicida. Fonte: BURDEN, Christopher. Cego furor homicida.
Revista Nossa História, Rio de Janeiro, n. 18, p. 62-66, abr. Revista Nossa História, Rio de Janeiro, n. 18, p. 62-66, abr.
2005. 2005.

Até esse período, o marco central da cidade era representado pelo Largo do Carmo,
que teve a sua origem no terreiro da ermida de Nossa Senhora do Ó, construída em finais do
século XVI, junto à rua Direita. Sisson (op.cit.) atribui a formalização da centralidade do
largo devido à convergência de importantes vias, inclusive o principal eixo formado pela rua
Direita, e à concentração de símbolos do poder político e administrativo da cidade. Ou seja,
em 1743, a construção da casa dos Governadores, no lugar antes ocupado pelos armazéns do
Rei e pela Casa da Moeda, imprimiu um caráter de centro político-administrativo local, até
então inexistente no Rio de Janeiro. Segundo Teixeira (2001), tinha início a estruturação
formal do espaço que, por muitos anos, passaria a ser denominado Largo do Paço, em função
das adaptações que sofreu a casa dos Governadores para abrigar o Paço dos vice-reis, a partir
da transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. O autor
acredita também que essa estruturação ocorreu gradualmente, sempre justificada pela
elevação de edifícios institucionais no seu entorno. Nesse sentido, o Largo do Carmo, quer
morfologicamente, quer institucionalmente, consolidou-se como o centro da cidade, com a
formação de uma praça regular – posteriormente chamada de Praça XV de Novembro -,
monumental e aberta para o mar. Ao final dos setecentos, dispunha de vários marcos
significativos dos diferentes poderes: Paço dos vice-reis como o poder civil oficial; a casa dos
110

Teles Menezes como poder civil não oficial; e a igreja e o convento do Carmo como poder
religioso.

Com a transferência da família real, em 1809, para a Quinta da Boa Vista45, nos
arredores da cidade, teve impulso a ocupação em direção a São Cristóvão, para além do
Campo de Santana, aterrando-se parte das terras pantanosas de São Diogo, área intermediária
entre o Paço Real e o Paço da Quinta – a Cidade Nova. A região do entorno do campo, até
então limite da zona urbanizada do Rio de Janeiro, era favorável por apresentar um amplo e
descampado espaço para abrigar as novas edificações que não poderiam ser construídas no
velho núcleo, já que para tal seriam necessárias significativas demolições e desapropriações.

Desse modo, iniciou-se o deslocamento de edificações administrativas e ligadas ao


poder imperial para as proximidades do campo, e o Paço Real perdeu a força como o local da
união entre os poderes político-administrativo e civil e de residência oficial do Rei.

Em 1817, para as celebrações do casamento de dom Pedro, foi construída no interior


do campo uma praça de touros para cavalhadas, jogos e danças, conforme o projeto de
Grandjean de Montigny. Um ano depois, ergueu-se um palacete para a coroação de dom João
VI, que serviria posteriormente para a aclamação de dom Pedro I como imperador do Brasil,
em 1822. Ressalte-se que essas obras fizeram parte do conjunto de arquitetura efêmera
proposto pela Missão Francesa, conforme visto.

Figura 08 – Arena no Campo de Santana: Figura 09 – Aclamação de dom Pedro I:


para comemoração do casamento de dom Pedro -1818 Campo de Santana -1822

Fonte: gravura aquarelada de Franz Josef Frühbeck. Fonte: DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e
Disponível em: histórica do Brasil. São Paulo: Martins, 1949.
<http://sitededicas.uol.com.br/clip_rj.htm>. Acesso em: 27
abr. 2006.

45
A Quinta da Boa Vista ficou conhecida como o Paço de São Cristóvão por conta da distância reservada entre o sítio e o
núcleo antigo consolidado, num dois mais saudáveis e arejados locais de moradia. A chácara, com a casa que fora construída
em 1808 por um rico comerciante, foi doada em 1809 para dom João VI.
111

Vale lembrar que, além de palco para as manifestações do regime monárquico, no


Campo de Santana iniciou-se, em 1811 a construção de um quartel na sua face norte,
adequada para manobras militares, que posteriormente daria origem ao Ministério da Guerra.
Em 1825, a antiga chácara do conde dos Arcos foi adquirida pela Fazenda Nacional e cedida
para abrigar o prédio sede do Senado, contribuindo para a valorização política e
administrativa do local46.

Figura 10 – Quartel no Campo de Santana Figura 11 – Edifício do Senado do Império


Segunda metade do século XIX Primeira metade do século XIX

Fonte: <http://200.181.6.49/06OMs/RM/base/ba1rm/indice.htm> Fonte: BRASIL. Senado. Senado brasileiro do Império da


Acesso em: 20 fev. 2007 República: as sedes do Senado Federal. Disponível em: <
http://www.senado.gov.br/comunica/historia/pal_arcos.htm>.
Acesso em: 20 jan. 2007.

Em 1830, foram transferidos para o entorno do campo a Câmara Municipal, o Tribunal


do Júri da Corte e o Supremo Tribunal de Justiça. Todas essas instituições foram deslocadas
para outros imóveis, a partir da década de 70, para a instalação do novo Paço Municipal no
campo.

Nesse cenário, foram várias as edificações representativas de diferentes instâncias do


poder imperial que se agruparam ao redor ou no próprio Campo de Santana. Deslocava-se
para ele e às margens das estradas em direção ao oeste uma série de novos marcos e símbolos
de poder - alguns deles, conforme visto, foram implantados antes mesmo de 1822 - que
permitiram a instauração de um novo centro para o Rio de Janeiro, movendo-se
temporariamente o centro gravitacional institucional da cidade velha em direção à Cidade
Nova. Em função da concentração das edificações representativas do governo, o Campo de

46
Em 1818, o comércio da Bahia resolveu oferecer ao conde dos Arcos - designado para o Ministério da Marinha - um
palacete no Rio de Janeiro. Para isso, foi adquirida uma grande chácara, fronteira à Praça da Aclamação, na qual foi erguido
um prédio. O conde residiu ali até 1821, quando retirou-se para Portugal com dom João VI. Dois anos depois, o Governo
desapropriou o imóvel. Depois de várias obras, no dia 29 de abril de 1826, aconteceu ali a primeira sessão preparatória do
Senado do Império.
112

Santana, incluindo suas imediações, se impôs como o principal centro administrativo da


capital durante os oitocentos.

Portanto, o campo deixava de servir como limite do antigo núcleo colonial e passava a
exercer a função de articulador entre a cidade velha e a Cidade Nova. A primeira, urbanizada
até princípios do século XIX e polarizada pelo antigo Largo do Paço; e a segunda, como zona
intermediária de acesso ao paço de São Cristóvão e vetor de crescimento urbano do Rio de
Janeiro. Nesse contexto, Sisson (op.cit.) acredita que da mesma maneira do ocorrido com o
Largo do Paço, no final do século XVII, confluíram para o Campo de Santana dois caminhos:
o local e o externo.

Esquema 01 – Edificações representativas no entorno do Campo de Santana – século XIX


s/escala

Fonte: representação sobre SISSON, Rachel. Marcos históricos e configurações espaciais, um estudo de caso: os centros do Rio de
Janeiro. Arquitetura Revista, Rio de Janeiro, p. 56-81, 2. semestre 1986.

O caminho local representava a ligação entre o leste e o oeste da cidade, a partir da rua
do Aterrado, criada após os aterros da área do mangal de São Diogo. O seu prolongamento era
a rua de São Pedro da Cidade Nova, que se estendia até o campo.
113

Por esta estrada sobre o mangue, que está bem sólida, larga e aprazível, se
levantaram de 100 em 100 metros umas colunas de pedra e cal, das quais se
suspendem grandes lampiões por varões de ferro, que estão fixos nelas; além disto
tem por um e outro lado, em toda a sua extensão, guardas de madeira pintadas de
vermelho, para resguardar os coches de caírem no mangue por algum incidente não
previsto. Por esta estrada ordinariamente transita Sua Majestade, e a Real família, e
também a Corte, do Paço para a Quinta, ou da Quinta para o Paço. Perto da ponte há
um corpo de guarda da polícia, e já se construíram algumas casas (SANTOS, Apud
GERSON, 1954, p.170).

Segundo Sisson (op. cit.), o projeto antes citado de abertura de um extenso e largo
boulevard, desenvolvido por Montigny dentro da concepção de um novo urbano baseado nos
princípios da modernidade européia, caso fosse implementado, constituiria a materialização e
a formalização do eixo viário em direção ao oeste da cidade.

Esquema 02 – Centralidade do Campo de Santana


s/escala

OESTE LESTE

mar
Quinta da Boa Vista Caminho das Lanternas

Boulevard proposto por Montigny

Campo de Santana

Largo do Paço

Fonte: representação sobre SISSON, Rachel. Marcos históricos e configurações espaciais, um estudo de caso: os centros do Rio de
Janeiro. Arquitetura Revista, Rio de Janeiro, p. 56-81, 2. semestre 1986.

Quanto ao caminho externo, ele concretizou-se a partir da criação da Estrada de Ferro


Dom Pedro II, em 1854, e da implantação da estação central numa das faces do Campo de
Santana. A estação representou o marco inicial da abertura da cidade para as áreas
interioranas do Vale do Paraíba. Permitiu-se a comunicação direta entre o centro comercial e
portuário para a zona produtora de café e considerada o “principal esteio econômico do Brasil
imperial” (SISSON, op.cit., p.7).

A convergência desses caminhos e a implantação dos marcos institucionais e


administrativos do poder local e real ratificaram a centralidade do Campo de Santana. A área
tornou-se o ponto de partida para o crescimento urbano em direção ao oeste, o pólo de
comunicação entre a zona produtora do estado e a zona de escoamento, de exportação e o
centro de atratividade populacional na segunda metade do século XIX.
114

Nesse processo de deslocamento do antigo centro no Largo do Paço para o Campo de


Santana, é possível fazer uma analogia a um exemplo ocorrido na cidade portuguesa de Viana
do Castelo. Segundo Teixeira (op.cit.), este caso ilustra bem a progressiva estruturação de
duas praças urbanas e a mudança de centralidade. Viana do Castelo, desde a sua fundação no
século XIII, apresentava uma malha urbana formada por um conjunto de quadras retangulares
e alongadas, circunscritas numa muralha ovalar. O autor acrescenta que entre o núcleo
construído e a muralha havia terrenos vazios, destinados à futura expansão urbana, e
logradouros para o exercício de outras funções secundárias. A partir do século XV, foram
transferidas para estes logradouros importantes edificações, como a igreja matriz e o hospital
da cidade. Ao redor desse marco religioso estruturou-se uma praça urbana que,
posteriormente, passou a ser conhecida como Praça Velha e, ao longo dos anos, foi
gradualmente sendo transformada no centro cívico de Viana. Durante o século XVI, quando
se espalhavam por toda a Europa os ideais renascentistas, carregados da nova concepção de
urbano, a cidade expandiu-se para além dos seus antigos limites. Neste mesmo movimento, o
centro sofreu um deslocamento para o chamado Campo do Forno, antigo rossio localizado no
exterior da cidade. Seguindo os preceitos da regularidade, do sanitarismo e da funcionalidade
urbana, esta nova praça tornou-se o centro cívico de Viana. Transferiu-se a centralidade da
Praça Velha, no interior dos limites murados da cidade, para a nova praça do Campo do
Forno, no antigo rossio.

No Rio de Janeiro, o movimento de transição da Praça do Carmo para o Campo de


Santana ocorreu de maneira semelhante ao exemplo português. O antigo centro estava
localizado no núcleo urbano, em parte murado e fortificado, e desenvolveu-se a partir da
implantação de edifícios institucionais e de um significativo marco religioso, a igreja do
Carmo. Durante os séculos XVII e XVIII, atuou como o centro político-administrativo e
comercial do Rio de Janeiro, perdendo sua posição no início dos oitocentos, com a
estruturação do Campo de Santana. Deslocou-se o centro da Praça do Carmo, no interior do
antigo núcleo colonial, para o Campo de Santana, localizado no rossio da cidade.

3.3 OS PRIMEIROS 50 ANOS DA CIDADE NOVA SOB A ÓTICA DA


ESTRUTURAÇÃO FUNDIÁRIA

Conforme dito, este trabalho tem como base a análise da estrutura fundiária de uma
nova cidade que se intensionava construir nos arredores do já consolidado e antiquado núcleo,
115

segundo os padrões do início do século XIX. Por conta desta análise, será possível perceber o
processo de ocupação e apropriação daquele solo, antes destinado às atividades
complementares à vida urbana que acontecia no centro colonial. Essa zona pantanosa de
difícil acesso era basicamente freqüentada por parcelas menos privilegiadas da população,
entre elas os ciganos, os negros fugidos dos engenhos e os pequenos comerciantes – que
transportavam mercadorias entre as freguesias centrais e a do Engenho Velho, por meio de
embarcações ou do caminho de Mata-porcos. Nesta região, localizavam-se as irmandades de
pretos e os cemitérios, ou seja, as atividades e funções consideradas sujas e que não poderiam
ocupar os escassos e valorizados terrenos centrais.

A idéia de que era preciso expandir a cidade para além dos seus limites naturais, a
oeste do Campo da Santana, e desvendar os tortuosos caminhos e as dificuldades impostas
pelo sítio alagadiço, até então esparsamente ocupado, emergiu tanto como uma necessidade
ao problema de ausência de moradias na própria urbe, como à busca de um status em se
residir nas proximidades da realeza que se deslocara para os subúrbios47 de São Cristóvão. A
abordagem anterior mostra que, com esse objetivo e desejo de se consolidar a Cidade Nova do
Rio de Janeiro, foram lançadas políticas, propostas e estudos com o intuito de implantar parte
da cultura e das concepções urbanas que despontavam na Europa daquele período.

Durante as primeiras décadas dos oitocentos, a Cidade Nova experimentou uma série
de obras ligadas à infra-estrutura urbana e à construção de uma malha viária que facilitasse a
fixação e a permanência de uma parte da aristocracia que aqui chegava. O próprio Campo de
Santana tornou-se o foco para a idealização de um novo e modernizado centro para a recém-
criada capital imperial do Brasil, atraindo para o seu entorno uma significativa quantidade de
edifícios públicos administrativos e sobrados patriarcais com refinados padrões construtivos,
bem diferentes da volumetria horizontal que se desenvolvera para além do Largo do Paço, em
direção à rua da Vala.

Portanto, vale dizer que as grandes chácaras localizadas no entorno imediato do


Campo de Santana, remanescentes do processo de doação de sesmarias, por onde penetravam
os mangais de São Diogo, que por tempos serviram como local de passagem e comércio
clandestino de mercadorias e escravos – da gente excluída do convívio na capital -,
começaram a sofrer um processo de parcelamento e suas terras foram arrendadas em pequenas
porções e aforadas ou subaforadas a particulares. Particulares estes que engrossavam a

47
“Subúrbio, s.m., os arrabaldes de alguma cidade” (MORAES SILVA, 1823).
116

camada de nobres vindos de Portugal e de ricos comerciantes que buscavam uma localização
intermediária entre o Paço Real e o Paço da Quinta da Boa Vista. Aos grandes proprietários
daqueles terrenos interessava o comércio, ou o mercado de terras, que longe dos olhos da
Câmara gerava renda sobre uma mercadoria que detinha pouco valor. Vale lembrar que os
terrenos distantes do núcleo da cidade e com dificuldades de acesso tinham preços baixos. O
mesmo ocorria com os imóveis em aluguel, ou seja, tornava-se mais lucrativo aquele que se
aproximava da zona central, marcada pela agitação dos negócios, dos eventos político-sociais
e da vida cultural, tipicamente urbana.

O valor do aluguel de um fogo era, portanto, conseqüência da proximidade que


gozava do comércio, dos órgãos da administração pública, do poder político e
religioso, dos logradouros importantes dotados de pavimentação, iluminação pública
e outros benefícios (CAVALCANTI, op.cit., p.278).

É nesse sentido que se torna importante um estudo do mercado de terras e da formação


não apenas morfológica, mas como dos tipos habitacionais e do perfil habitacional que ali se
desenvolveram ao longo daquele século. Na realidade, este capítulo pretende mostrar quem
eram os verdadeiros donos daqueles chãos, sejam eles particulares ou não, que ainda durante a
primeira metade dos oitocentos passaram a dominar e direcionar o crescimento e o
adensamento daquela região.

Nessa perspectiva, foi realizado no Arquivo Nacional – Fundo / Coleção, código 20 F-


08, Terras, Estados / Estados, terras (fazendas, sesmarias) / Estados, chácaras – um
levantamento de documentos relativos a processos de terras durante o século XIX; e no
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ), uma pesquisa de dados com
informações sobre os aforamentos de terrenos em determinadas ruas da Cidade Nova. Deve-se
lembrar que, por aforamento, entende-se o instituto jurídico pelo qual o proprietário de terra
passava a posse do imóvel para outra pessoa, então chamada de foreiro, em troca do
pagamento anual de uma taxa chamada foro. O proprietário atribuía a outra pessoa o domínio
útil do imóvel em troca de um foro ou uma pensão anual, certo e invariável.

O critério para a escolha das ruas privilegiou aquelas abertas durante a primeira
década dos oitocentos ou, ainda, no final do século XVIII, e que serviram como elos de
ligação entre o centro e São Cristóvão. Nesse sentido, foram selecionadas as ruas do Aterrado
(ou de São Pedro da Cidade Nova), Nova do Conde (antiga estrada de Mata-porcos e
continuação da rua Conde da Cunha), Formosa, do Areal e a de São Diogo.
117

Para a organização da documentação pesquisada, foi utilizado um sistema de divisão


em décadas de interesse de forma a apresentar as informações de 1808 a 1875 para cada rua
analisada - metodologia que consta nos organogramas em anexo da dissertação. Ressalte-se
que os documentos disponíveis não contavam com uma padronização de dados e, em algumas
das ruas, não havia informação para os períodos selecionados. Outro problema enfrentado
nesse levantamento refere-se à omissão da numeração ou das dimensões dos terrenos e
imóveis.

Vale notar que, na maioria dos documentos listados as unidades de medida dos
terrenos são as braças, os palmos ou as polegadas48. As medidas em metro apenas aparecem
nas escrituras posteriores à década de 60, em virtude da aplicação da lei Imperial 1157, de
1862, que exigia a adoção do sistema métrico decimal. Por conta desta lei, foi fixado um
prazo de dez anos para a substituição das unidades em curso, de forma a se estabelecer um
padrão para facilitar as trocas, a produção e a venda dos mais diferentes bens.

Além dessa pesquisa documental, procurou-se cruzar esses dados primários às


informações obtidas na Nova numeração dos prédios da cidade do Rio de Janeiro, de J.C.
Cavalcanti, desenvolvido na década de 70 do século XIX. Nesse trabalho, o autor expõe as
antigas e novas numerações das ruas do Rio, bem como os respectivos proprietários e o tipo
habitacional em questão – informações significativas para a análise dos anos 60 e 70 dos
oitocentos.

Portanto, como fonte de análise da estrutura de terras na região da Cidade Nova, além
dos organogramas em anexo e das informações de Cavalcanti, são apresentadas tabelas com a
cronologia dos imóveis e aqueles que detinham seus aforamentos. A partir da organização
dessa documentação foram elaborados mapas conjecturais com a distribuição dos terrenos,
para a visualização do processo de parcelamento e ocupação da área – durante a primeira e
segunda metades do século XIX -, já que a imprecisão dos dados, relatada anteriormente,
apenas permite traçar de forma hipotética os limites desses terrenos, bem como as suas
localizações ao longo das ruas selecionadas neste trabalho. Esse material foi confeccionado a
partir da publicação original de Lygia Cunha (1971), no seu Álbum Cartográfico do Rio de
Janeiro - séculos XVIII e XIX e dos mapas temáticos do trabalho desenvolvido pelo
CECULT- Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP), intitulado

48
Braça – do latim brachia, plural de brachin (braço). Era uma unidade de medida equivalente a dez palmos ou 2,20 metros.
Um palmo equivale a 8 polegadas ou a 22 centímetros. Uma polegada equivale a 2,54 centímetros.
118

Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de


Janeiro entre 1870 e 1930, cujo relatório final foi encaminhado em 2005. Ressalte-se que o
grupo utilizou a base publicada originalmente por Edward Gotto (1866) em Plan of the city of
Rio de Janeiro, que consta na Biblioteca Nacional.

3.3.1 Uma análise do mercado de terras na Cidade Nova

Os aforamentos na década de 10

O estudo inicia-se pela rua do Aterrado que, segundo Gerson (op.cit., p.170), era o
prolongamento da São Pedro da Cidade Nova e iria até a Ponte dos Marinheiros (local onde
hoje existe a Praça da Bandeira). Para a abertura dessa rua, foi necessário o retalhamento das
terras da Chácara de Antônio da Rocha Machado, grande propriedade confinada entre a lagoa
da Sentinela e os mangais de São Diogo, de onde fora desmembrada a Chácara de São Diogo.
Esta última pertenceu, no início dos oitocentos, a Antonio Fernandes Pereira e sua mulher,
Luiza Roza Avondano Pereira, que se tornara grande proprietária de terras na Cidade Nova
até o final da década de 30. A partir daquela data, alguns terrenos da chácara, que ainda
restaram do processo de retalhamento para o arruamento da região, foram comprados por José
Joaquim Ferreira.

A documentação existente entre 1808 e 1820 para a rua do Aterrado mostra a presença
de 11 foreiros, incluindo-se os herdeiros de Antônio da Rocha Machado e Antonio Fernandes
Pereira. Além da Chácara de São Diogo, havia o registro de dez terrenos, entre os quais
somente quatro estavam numerados. Quando os terrenos apresentavam dimensões, elas se
limitavam às testadas frontais à rua, que variavam entre três e 19 braças, e nem sempre em
suas escrituras havia indicação das confrontações. Segundo Reis Filho (1978), era muito
comum a documentação apresentar referência apenas da medida da frente do imóvel, devido à
impossibilidade de demarcação dos seus limites, em função das dificuldades naturais ou de
confrontações entre os vizinhos.

Ainda naquele período, vale destacar as terras pertencentes a Polucena Luiza de Britto,
resquícios da antiga propriedade de Rocha Machado que, em parte, tinham sua frente voltada
para o Aterrado e os fundos, para a rua de São Diogo. Elas acabariam originando grande
quantidade de pequenos e estreitos terrenos nas décadas seguintes, principalmente a partir dos
119

anos 40 e na segunda metade do século XIX. Seus únicos imóveis numerados nesta rua
passariam a Manoel Pedroso e Mattos e a José da Costa Souza Lima na década de 30 e
constituiriam parte do patrimônio do visconde de Jequitinhonha (Francisco Gomes Brandão) a
partir dos anos 60.

A rua Nova do Conde, da Lagoa da Sentinela até o chamado Barro Vermelho,


constituiu-se numa importante via de ligação do centro consolidado com os arredores do
Engenho Velho, conforme visto. Aberta entre as chácaras de Pedro Caetano Portela, Pedro
Dias Paes Leme e Manoel Caetano Muniz, ainda no século XVIII, a rua dispunha de uma
documentação de imóveis que, até 1830, praticamente não continha numeração.

Os documentos coletados indicam que, entre 1808 e 1820, havia terrenos da antiga
Chácara da Lagoa da Sentinela que, até o final do século XVIII, fazia parte da grande
propriedade de Pedro Dias Paes Leme e sua mulher Francisca Joaquina da Horta Forjas
Pereira. Em 1796, foi realizada a partilha das terras – com 100 braças de frente e fundos para
o morro do Senado -, herdadas por Fernando Paes Leme, Beralda Victoria da Horta Forjas
Pereira e Maria Arcângela de Macedo. Portanto, durante as duas primeiras décadas dos
oitocentos, parte dos terrenos dessa chácara pertencia aos três herdeiros de Paes Leme.

Esquema 03 – Localização da Chácara da Lagoa da Sentinela no início do século XIX


s/escala

Fonte: representação a partir de Arquivo Nacional – Fundo /


Coleção - Código 20 / F-08 – terras, estados / estados, terras –
fazendas, sesmarias / estados, chácaras. Corte de Apelação: Notação
2860 - Caixa 171 - Galeria C.

Além da chácara pertencente a Francisco Machado, com 21 braças e dois palmos de


frente, havia sete terrenos, dentre os quais apenas quatro estavam dimensionados,
apresentando medidas entre quatro e sete braças de frente.
120

Ressaltem-se as terras de José Antonio dos Santos Anna, que exibiam 25 braças de
comprimento até os fundos em contraposição às sete braças de largura voltadas para a rua
Nova do Conde, já demonstrando um formato alongado de alguns terrenos naquela região, o
que seria mais visível nos anos seguintes.

A rua Formosa, que permitia a ligação entre as ruas de São Diogo e Nova do Conde,
de maneira semelhante ao ocorrido com a rua do Aterrado foi aberta a partir do retalhamento
de parte da antiga Chácara de São Diogo, na época em que pertencia a Antônio da Rocha
Machado. Posteriormente, seguindo pelo terreno de Manoel Antônio Claro, foi estendida até a
rua Nova do Conde, conforme antes citado.

A documentação existente no AGCRJ apresenta informações apenas a partir da década


de 30. A única notícia anterior a esta data é a do desmembramento da Chácara no Campo de
Santana, em 1824, pertencente ao conde dos Arcos (Marcos de Noronha e Brito).

A rua do Areal, aberta no extenso terreno arenoso situado na chácara de Pedro


Caetano Portela, proporcionava a comunicação entre o Campo de Santana e a rua Nova do
Conde. Parte dela foi executada nos terrenos de Manoel Antônio Claro, inclusive o encontro
com a rua Formosa.

No AGCRJ não foi encontrada documentação referente à situação fundiária ao longo


da rua do Areal no período entre 1808 e 1820. Apenas se têm indícios da existência da
Chácara do Areal, pertencente a Manoel Antonio Claro, que seguia da face oeste do Campo
de Santana até a rua das Flores.

Vale ressaltar também a propriedade pertencente ao capitão-mor Anacleto Elias da


Fonseca que, por sua morte, passou a seu sobrinho, o cônego José da Costa Fonseca. Por
escritura de 18 de abril de 1809, a chácara foi vendida ao 8º conde dos Arcos, Marcos de
Noronha e Brito que, ao se afastar do cargo de vice-rei, teve que deixar o palácio do governo
para a realeza portuguesa, em 1808. Essa chácara situava-se na face oeste do Campo de
Santana e se estendia até a rua Formosa, confrontando-se com a antiga propriedade do
Cônego José da Costa Fonseca.

A rua de São Diogo, que partia do Campo de Santana em direção à Bica dos
Marinheiros e à paróquia do Engenho Velho, em seu trecho inicial, próximo ao campo, era
chamada de El-Rey e se localizava entre as chácaras de Pedro Caetano Portela e Feliciano da
Silva Coutinho. Importante é notar que, em parte, a rua de São Diogo dispunha de terrenos
que se alongavam quase até a rua do Aterrado, como aqueles cuja posse inicial era de
121

Polucena Luiza de Britto e que permaneceriam sob a administração de José de Oliveira


Fernandes, que durante muitos anos foi erroneamente considerado o senhor dessas terras.

Entre 1808 e 1820, havia dez foreiros nas terras situadas ao longo da rua de São
Diogo, incluindo-se Polucena Luiza de Britto. Os terrenos remanescentes na antiga Chácara
de São Diogo, que também confrontavam com o Aterrado, estavam sob a posse de Antônio
Fernandes Pereira e sua mulher. Havia duas chácaras com 22 moradas de casas que tinham
como foreiros, simultaneamente, Manoel José R. de Oliveira, o vigário Manoel José da Costa
e o conselheiro Luis Joaquim Duque Estrada Furtado de Mendonça. Os únicos imóveis que
apresentavam alguma informação sobre medidas eram o terreno de Antonio Pinto da Costa,
com duas casas térreas e oito braças de frente, e o de Luiz da Rocha Machado, herdeiro de
Rocha Machado, com iguais oito braças de testada. Além desses havia aquele com casas,
pertencente a Manoel de Jesus, situado atrás da Igreja de Santana, com 267 palmos de frente e
118 palmos de fundos. Esse terreno fazia parte da antiga chácara pertencente a Leandro dos
Reis Carril e Francisco Xavier Telles, citada anteriormente, e que foi vendida a Antonio José
de Siqueira e sua mulher, Maria Rosa da Encarnação, em 1801. A propriedade confrontava
com as terras do Dr. Francisco Carneiro Pinto de Almeida, com as do Dr. Francisco Nunes,
além daquelas pertencentes à Fazenda de Santa Thereza e ao mangue.

Havia antigamente pelo mangue um caminho aterrado que tendia para São Diogo, o
qual servia de limite e divisa a esta chácara. Depois, que pelos arquitetos da cidade,
que pela ordem da Polícia, se fez a demarcação para as novas ruas da Cidade Nova,
se demarcou e alinhou naquele lugar uma nova rua denominada de São Diogo, a
qual seguindo a direção reta se apartou algumas braças da antiga rua ou caminho que
servia de divisa desta chácara (Arquivo Nacional – Fundo / Coleção, código 20 F-
08, Estados / terras (fazendas, sesmarias), Nº1417, caixa 80, galeria C).

Ainda na década de 10, Antonio José de Siqueira aforou parte da chácara, 12 braças
com testada para a rua de São Diogo, a Francisco Antonio de Oliveira, e oito braças de frente
para a mesma rua a Sebastião Leonardo Correia.

O mapa 14 mostra de forma esquemática a estrutura das terras da Cidade Nova durante
a década de 10 do século XIX.
122

Mapa 14 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 10 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.

Os aforamentos na década de 20

A rua do Aterrado, no período entre 1820 e 1830, dispõe de informações sobre 12


terrenos e 11 foreiros. A Chácara de São Diogo foi herdada pela viúva de Antonio Fernandes
Pereira, Luiza Rosa Avondano Pereira, e os terrenos nº 44 e 48 ainda continuaram sob o
domínio útil de Polucena Luiza de Britto. Os imóveis nº 50 e 56, que anteriormente estavam
aforados a Francisco Lopes de Araújo e a José Antonio dos Santos, respectivamente, foram
transferidos a Domingos Francisco da Silva e a João José Ferreira. Na realidade, o cenário da
ocupação desta rua permanecera praticamente o mesmo durante esta década, à exceção do
imóvel nº 40A, que passara à posse de Manoel Pedroso e Mattos. Ressalte-se que Mattos, na
década seguinte, conseguiria o aforamento dos terrenos de Luiza de Britto.
123

A rua Nova do Conde, durante a década de 20, apresentava um registro de nove


foreiros, dentre os quais Joaquim da Rocha Machado – irmão de Polucena Luiza de Britto -, e
Manoel Antonio Claro, além dos remanescentes dos anos anteriores.

Naquela época, Beralda Victoria da Horta Forjas pediu a medição, a demarcação e o


tombo do terreno oriundo da partilha das terras da Chácara da Lagoa da Sentinela, que
também pertencia a sua irmã, já falecida. Há registros de que a falecida Maria Arcângela de
Macedo tinha deixado suas terras para a sua sobrinha Maria Joanna, que as repassara,
posteriormente, à sua irmã Maria Luiza – ambas filhas de Fernando Paes Leme.

Joaquim da Rocha Machado, segundo a documentação, tinha o domínio útil de um


terreno com três chácaras, situado ao lado do Catumby, para os lados da lagoa da Sentinela.
Portanto, pode-se dizer que os herdeiros de Antonio da Rocha Machado ficaram com parte
das terras, fruto do processo de desmembramento da antiga chácara, que ocupava a maior
parte do mangue. Manoel Antonio Claro obteve o aforamento do terreno nº 36, até este
período o único que apresentava em sua documentação o registro da numeração. Da mesma
maneira que a rua do Aterrado, o período entre 1820 e 1830 não marcou grandes
modificações na estrutura fundiária ao logo da rua Nova do Conde.

A rua Formosa, entre 1820 e 1830, ainda não dispunha de informações sobre
aforamentos.

A rua do Areal, nos anos 20, já continha documentação referente aos processos de
aforamento, declarando-se Manoel Antonio Claro como o proprietário da Chácara do Areal
que, conforme o mapa 02, tinha seus limites imprecisos. Naquela época, esta chácara
começara a sofrer parcelamento, dando origem a terrenos menores, por vezes estendendo-se
até a rua Nova do Conde. Um exemplo era o que continha morada de casas, pertencente ao
Alferes Antonio Domingues Lopes e a Manoel Parente da Costa, com dez braças de frente e
fundos para a rua Nova do Conde.

Ressalte-se que ainda não havia informação sobre a numeração dos imóveis, e os
poucos que tinham registro de suas dimensões variavam entre três e 40 braças, sendo este
último um sobrado fruto da compra feita por Joaquim José Cardoso Guimarães do conde dos
Arcos, na face oeste com o Campo de Santana.

Naquela época, o intendente geral de polícia Paulo Fernandes Vianna e Luis José da
Cunha Bastos tinham uma parcela de terras com chácara, cujas nove braças de testada
aproximavam-se do campo. Vale lembrar que, segundo Garcia (1938), o intendente obteve do
124

príncipe regente, em 1815, uma área quadrangular, que recebeu o nome de passeio do campo,
com cerca de 100 braças, que ia desde o Areal, no lado oeste do campo, até a rua do Hospício,
no lado leste, para a plantação de árvores e a criação do bicho da seda. Em 1821, esse terreno
foi retomado por dom Pedro I para o resguardo de um dos caminhos que iam para São
Cristóvão.

Bastou que dom João VI fizesse suas malas para voltar a Portugal, para dom Pedro I
entender que era demasiada ousadia estarem o Sr. Paulo Fernandes e amigos a se
aproveitares de uma coisa que evidentemente pertencia à nação. Toda uma série de
picuinhas estimulou dom Pedro I a mandar destruir o ajardinado passeio que havia
no campo, a título de necessidade pública, pois que por ali era o caminho obrigatório
para São Cristóvão (GARCIA, apud Revista Sul Americana, abril/1938. p.17).

Outros dois imóveis foram aforados a Manoel Parente da Costa e ao Alferes Gabriel
José Ferreira com Manoel Francisco de Oliveira.

A rua de São Diogo, no período entre 1820 e 1830, contava com nove foreiros, dentre
eles José de Oliveira Fernandes, que assumira a administração do patrimônio de Polucena
Luiza de Britto, conforme visto, e detivera a posse de duas casas térreas provenientes de
Antonio Pinto da Costa. Foram aforadas a Manoel Joaquim de Oliveira e a Manoel Joaquim
da Lapa, em conjunto, duas casas térreas com oito braças de frente. Os demais imóveis
continuaram sob o domínio útil dos antigos concessionários.

As terras situadas no início da rua, junto à igreja do campo, continuaram sob o


domínio de Antonio José de Siqueira, que arrendava porções a diversas pessoas, inclusive a
João Francisco da Silveira, que solicitou certidão de aforamento do terreno, alegando que a
chácara de Siqueira localizava-se no mangue. Por isso não poderia ser cedida a particulares.
Ou seja, exigia a condição de foreiro e não de arrendatário, baseando-se no decreto de 10 de
abril de 1821 (ver capítulo 01) e não pagando os foros ao alegar que os terrenos da cidade
achavam-se no espaçoso Patrimônio da Coroa e que não podiam ser propriedade de
particulares. Ressalte-se que os documentos daquela época pesquisados no Arquivo Nacional
chamavam a atenção para uma espécie de mania que se apoderou de um grande número de
foreiros de se sublevarem contra os proprietários, utilizando-se como respaldo o decreto de
1821.

O mapa 15 mostra de forma esquemática a estrutura das terras da Cidade Nova durante
os anos 20 do século XIX.
125

Mapa 15 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 20 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.

Os aforamentos na década de 30

A rua do Aterrado, após os anos 30, já apresentava em um de seus lados a


delimitação do chamado Rocio Pequeno, que daria origem à Praça Onze de Junho no final da
década de 40, e o Campo de Aclamação passara a ser conhecido como Campo de Honra.
Conforme a documentação do AGCRJ, os imóveis aforados a Joaquim José de Queiroz, a
Izidora Maria da Piedade, a José Mendes da Costa e a Bernarda Maria de Jesus não
apresentavam registros a partir de 1830, podendo-se intuir que foram desapropriados e
demolidos para a demarcação da área do Rocio Pequeno. Os outros terrenos, cujas posses
eram de Domingos Antonio de Azevedo Cirne e do sargento-mor Francisco de Paula Borges,
desde 1808, permaneceriam dispostos nesta rua.

Naquela época, os imóveis de nº 44 e 48 já haviam passado de Polucena Luiza de


Britto para Manoel Pedroso e Mattos que, por sua vez, os repassou, ainda naquela década,
126

para José da Costa Souza Lima. O terreno nº 40A, cuja posse também era de Mattos, foi
transferido para Antonio da Costa Barbosa. Antonio Joaquim Tavares obteve o domínio útil
do nº 38. Parte das antigas terras de Polucena - sob a guarda de José de Oliveira Fernandes -
como o terreno com cinco casas térreas que se estendia até a rua de São Diogo, foi registrado
com o nº 58. Portanto, a rua do Aterrado, nos anos 30, dispunha de documentação com
numeração somente dos imóveis pares, sob os números 38, 40A, 44, 48, 50, 56, 58.

A rua Nova do Conde, durante a década de 30, dispunha de documentação referente a


31 terrenos, grande parte numerada, mas nem todos com informações sobre suas dimensões.
Os imóveis existentes no período anterior permaneceram sob o aforamento dos mesmos
concessionários. Os registros dos novos parcelamentos já constavam com a numeração
regular da rua. No total de numerados, existiam 17 terrenos pares e seis ímpares. Sabendo-se
que o lado par da rua encontrava-se voltado para o Aterrado e o ímpar, para os lados do
Catumby – segundo as informações da planta de Gotto (1866) -, a parcela mais significativa
dos chãos avançava sobre o mangue, ainda não totalmente saneado.

Francisco José Alves Quintão destacava-se como foreiro dos imóveis contíguos
ímpares nº 19, a 27, situados no quarteirão entre o Campo de Honra e a rua Formosa,
enquanto o conde de Paraty (Miguel Rafael Antônio de Noronha) detinha o domínio útil dos
terrenos pares nº 104 a 128, situados ao longo do antigo caminho de Mata-porcos nas
proximidades da lagoa da Sentinela. Ressalte-se que, ainda na década de 30, o conde de
Paraty repassou quase a metade de suas terras, permanecendo apenas com oito imóveis.

Em 1830, destacava-se ainda o Cel. Felippe Nery de Carvalho pela posse de uma
chácara com solar que, no mesmo período seria aforada a Luiz de Queiroz Monteiro Regadro
até 1875.

Em 1838, o terreno pertencente à Maria Luiza, com três braças e meia de frente e dez
de extensão, fruto da antiga Chácara da Lagoa da Sentinela, conforme visto, foi vendido para
Albino dos Santos Pereira.

A rua Formosa dispõe de informações sobre os processos de aforamentos referentes


ao período entre os anos 30 e 40. Naquela época, todos os terrenos estavam numerados, mas
não necessariamente tinham registradas as suas dimensões. Outro aspecto interessante é que
parte deles foi aforada mais de uma vez a diferentes pessoas durante aquela década,
demonstrando uma rotatividade de enfiteutas e uma possível não fixação dos habitantes na
área. Como exemplos havia os nº 6, 8 e 10, que pertenciam a Antonio José Costa Leal e em
127

seguida passaram a Domingos Alves Meira e a João Antonio Claro, respectivamente. Há


ainda o caso do nº16 que, num intervalo de dez anos, foi aforado a quatro pessoas de famílias
diferentes, estipulando-se uma média de dois anos e meio para a permanência de cada foreiro.

Vale notar também que alguns enfiteutas dispunham de dois ou mais terrenos, o que
possivelmente indica a ocorrência de um mercado de arrendamento ou subaforamento na área.
João Gomes de Almeida detinha o domínio útil dos terrenos nº 16, 16A e 16B que, durante os
anos 30, passaram a quatro diferentes pessoas, atentando-se para o fato desta numeração
supostamente relatar um parcelamento do terreno original de nº16.

A família Gonçalves Bandeira tinha a posse de três terrenos, sendo dois deles
contíguos. Francisco José Pereira era foreiro dos imóveis contíguos nº 163 e 165; Dr.
Francisco Leocádio de Figueiredo, dos nº 171 e 173; e José da Rocha Garcia, dos nº 124 e
126, permanecendo os dois primeiros foreiros durante a segunda metade do século XIX.

A maior parte dos terrenos na rua Formosa não excedia dez braças de frente, à exceção
do nº 159, com 13,2 braças de testada, cujo foreiro até o final da década de 50 foi José
Teixeira Bastos. O menor imóvel, o nº 37, continha apenas uma braça de frente e pertencia a
Joaquim Gonçalves Bandeira.

A rua do Areal, nas informações obtidas no AGCRJ, apresentava para a década de 30


outros foreiros que não aqueles existentes nos anos anteriores, à exceção de Manoel Francisco
de Oliveira, que obtivera o domínio útil do terreno com morada de casas do Alferes Gabriel
José Ferreira ainda nos anos 20. Além disso, há o registro de apenas um novo terreno, o de nº
17, sob a posse de Joaquim Franco das Chagas. Este imóvel, pela documentação pesquisada,
foi o primeiro a apresentar a numeração. Ressalte-se a antiga propriedade do conde dos Arcos,
que iniciara as obras para a sua adaptação ao Senado.

A rua de São Diogo, pela documentação referente ao período entre 1830 e 1840,
contava com cerca de 15 imóveis, incluindo o registro da ainda existente Chácara de São
Diogo, dividida entre a viúva Luiza Roza Avondano Pereira e o seu sobrinho Antonio
Fernandes Pereira Vianna – que herdara de seu tio falecido, em 1835, parte dos terrenos, com
um total de 60 braças. Vale lembrar que, naquela época, foi realizado um novo arruamento
para a retificação da rua até o ponto de encontro com a rua do Bom Jardim.

O terreno pertencente a Luiz da Rocha Machado, com oito braças de frente, passou ao
aforamento de José Ferreira Serpa; aquele cuja posse era de Antonio José de Siqueira,
localizado atrás da Igreja de Santana, foi herdado por Felippe Furtado da Silva, e Manoel
128

Joaquim de Oliveira e Manoel Joaquim da Lapa continuariam foreiros das duas casas térreas
de oito braças de testada até o final dos anos 40.

Há o registro de dois terrenos, um com cinco moradas de casas, aforado a Manoel José
de Andrade, e outro com duas, nº 14 e 16, sob a posse de Thomé Lino – que após 1840
passariam a ser os nº 64 e 66. Ressalte-se que este último, ainda na década de 30, foi
transferido a Francisco Joaquim da Fonseca. Duas casas térreas, de Maria Francisca da Silva,
surgiram no início da rua, recebendo a numeração de nº 1 e 2 que, somadas as frentes,
chegava-se a 29 braças. O maior imóvel era a chácara com dois prédios, aforada a Joaquim
José de Siqueira Brandão, que continha testada aproximada de 65,5 braças.

O mapa 16 apresenta a provável estrutura da Cidade Nova nos anos 30 dos oitocentos.

Mapa 16 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 30 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
129

Os aforamentos na década de 40

A rua do Aterrado, segundo as informações obtidas no AGCRJ para a década de 40,


apresentou um crescimento na ordem de 193% no número de terrenos, ou seja, dos 11
existentes desde os anos 30, surgiram mais 21 registros. Novos 24 foreiros passaram a contar
com imóveis na área e, de acordo com as informações obtidas na pesquisa, os quarteirões
entre a rua de São Pedro da Cidade Nova e a do Sabão da Cidade Nova já apresentavam
indícios de ocupação.

Domingos Antonio de Azevedo Cirne e seu terreno com quatro braças de frente; José
Carneiro Dias Guimarães e sua parcela de oito braças de testada; Manoel José de Andrade e o
sargento-mor Francisco de Paula Borges, que aforava cerca de 12 braças de terras,
permaneceram como os mais antigos foreiros, desde a década de 10. Além desses, cujos
registros não indicavam a numeração dos imóveis, continuaram na rua José da Costa Souza
Lima, com os domínios dos nº 44 e 48; Domingos Francisco da Silva, com o nº 50; e José de
Oliveira Fernandes, com o terreno nº 58 que ia até a rua de São Diogo.

Entre os novos foreiros, destacaram-se o senador José Carlos Mayrinck, com um


terreno de 20 braças de frente que, nesta mesma década, fora em parte aforado a Joaquim
Ferreira, apontando os traços do já citado mercado imobiliário na área; e Manoel Machado
Coelho, cujo terreno atingia cerca de 158 braças. Vale citar também José da Costa Souza
Lima, que já adquirira a posse dos nº 44 e 48 na década anterior e que, nos anos 40, aforou um
terreno de marinha, com 12 braças de testada, contíguo aos seus já existentes.

Ressalte-se que a maior parte dos imóveis ainda não apresentava numeração, mas já
era possível perceber a morfologia de alguns terrenos por conta da descrição do comprimento
de suas frentes e de suas extensões. Ou seja, os imóveis de Deolinda Jacintha, Antônio
Paulino Limpo D’Abreo - que nesta mesma década o passara a José Joaquim Ferreira -,
Carolina de Souza Costa, João Bonifácio Alves da Silva - que nesta mesma década também o
passara ao desembargador Antônio José da Veiga -, Carolina Augusta de Miranda Teixeira e
coronel José da Costa e Oliveira apresentavam uma média de oito braças de frente por 57 de
profundidade. Os terrenos já aparentavam um formato estreito e alongado em direção ao
interior dos quarteirões.

A rua Nova do Conde, segundo os registros analisados para a década de 40,


apresentava um total de 44 foreiros, entre os quais nove eram remanescentes dos anos
130

anteriores. Além disso, se entre 1830 e 1840 havia cerca de 25 foreiros, houve um acréscimo
da ordem de 76% até 1850, menos expressivo se comparado ao da rua do Aterrado, conforme
visto. Outro aspecto foi o incremento do número de imóveis na área. Enquanto havia cerca de
31 nos anos 30, entre 1840 e 1850 a rua dispunha de 55, marcando um crescimento de 77,4%.

Nos anos 40, foi dado impulso à construção da Casa de Correção, que havia sido
aprovada em 1834 por ordem do então ministro de Negócios da Justiça Aureliano de Souza e
Oliveira Coutinho (visconde de Sepetiba) na compra da chácara de Manoel dos Passos
Corrêa, no valor de 80 contos de Réis, no lado ímpar da rua, em direção ao antigo Barro
Vermelho. A planta foi desenvolvida pelo coronel de engenheiros Manoel José de Oliveira, e
a obra foi administrada por Félix José da Costa. O documento pesquisado no Arquivo
Nacional mostra os processos relativos às terras da Casa de Correção:

1833: Escritura de venda de chácara de Manoel de Passos Correa e sua mulher à


Fazenda Nacional. Chácara com grande casa na rua Nova do Conde em que está a
Casa de Detenção e Penitenciária. Divide-se pela frente com a rua do Conde e
ladeira do Barro Vermelho desde a casa de João Lopes Ferraz até o alto do mesmo
Barro, pelo lado da cidade e pelos fundos com a chácara de Maximo Antonio
Barbosa, e pelo lado de Mata-porcos, pelo caminho que vai para a chácara do
mesmo Barbosa. Foi incorporada nos Próprios Nacionais em virtude da sentença do
Juízo Cível de abril de 1834 (Arquivo Nacional – Fundo / Coleção, código 20 F-08,
Estados / terras - fazendas, sesmarias, Nº2523, caixa 419, galeria A).

É importante dizer que, a partir de 1840, não foi encontrada documentação referente
aos terrenos aforados a José Antonio dos Santa Anna, Antonio Pereira da Fonseca, ao Capitão
Mor José Teixeira de Mello, Francisco Antonio Malheiro, José Bento Alves, Damiana Teresa
C. Ribeiro e Joaquim da Rocha Machado. Ou seja, enquanto não havia registro sobre a
permanência de determinados imóveis na área, surgiram outros, cujo histórico era
desconhecido, não sendo possível descobrir sua procedência.

A maior parte dos documentos apresentava a numeração dos terrenos, mas não
indicava suas dimensões, diferentemente do ocorrido na rua do Aterrado.

Significativas eram as terras do vereador Francisco de Paula Mattos que, no total,


mediam aproximadamente 200 braças de extensão; as remanescentes do conde Paraty, que
somavam oito terrenos; as da viúva de Bernardo Manoel da Silva, que seguiam pelo lado
ímpar da rua, desde o nº 39 ao 49 e as de Joaquina do Bonsucesso Pinto, cujos cinco imóveis
foram aforados a Matheus José Nunes ainda nos anos 40.
131

Ressalte-se também Francisco José Alves Quintão, que continuava foreiro dos nº 19,
21 e 31 e passara a posse dos terrenos nº 23, 25 e 27 para Mariana Benedita Quintão. Cerca de
20 imóveis foram aforados a mais de uma pessoa de diferentes famílias durante um curto
período de dez anos, enquanto outros sofreram parcelamentos e foram subaforados. Foi o caso
do nº 38, com sete braças de frente e 20 de fundos, que outrora pertencera a Rosa Monteiro
Claro e fora passado a Francisco da Silva Guimarães, que aforou a quarta parte para Joaquim
José Moreira Maia.

Interessante é notar parte de um antigo terreno, localizado após a rua das Flores,
pertencente ao conde de Paraty e, posteriormente, aforado por José Martins Viana ao senador
Bernardo de Vasconcellos – que assumira o cargo em 1838 -, que o manteve até os anos 70.

Em 1841, Albino dos Santos Pereira, cujo terreno era remanescente da Chácara da
Lagoa da Sentinela, recorreu à Apelação Cível contra Manoel Luiz Soares, antigo arrendatário
de parte dessas terras - que continham uma casa edificada por José Antonio Alves de
Carvalho -, que atrasara o pagamento desde 1827. O suplicante exigia o pagamento dos
arredamentos vencidos sob a pena de pedir a avaliação das benfeitorias, executar o pagamento
e despejar o inquilino, procedimento válido e muito comum naquela época (ver capítulo 01).

A rua Formosa, pelas informações obtidas no AGCRJ entre 1840 e 1850, apenas tem
o registro de mais três imóveis aforados, além dos 29 existentes desde 1830. Ou seja,
diferentemente do ocorrido nas ruas anteriores, ela não apresentou um crescimento
significativo na quantidade de terras parceladas. Em relação ao número de foreiros, a década
de 30 foi marcada pela presença de 25, enquanto os anos 40 registraram um total de 29
foreiros, dentre os quais 17 eram remanescentes. Portanto, houve um acréscimo da ordem de
16%, considerado pouco expressivo para a área.

A documentação pesquisada contém toda a numeração dos imóveis mas, em parte, não
dispõe das suas dimensões. Os poucos em que são indicadas as medidas apresentam uma
variação de uma a 13 braças de testada. Nesse sentido, terrenos estreitos e profundos
continuavam surgindo desde os anos 30 e 40 em diante, sem a presença de um significativo
foreiro que detivesse grandes parcelas de terra. Além disso, as informações pesquisadas
indicaram uma concentração mais efetiva nas proximidades da rua do Areal.

A rua do Areal apresentava para a década de 40, segundo os dados analisados, sete
foreiros, ou seja, um a mais do que o período anterior. Uma peculiaridade era a ausência de
remanescentes.
132

Entre 1840 e 1850, todos os imóveis apresentavam numeração e grande parte continha
as dimensões nos seus documentos. Dos seis terrenos com registro, apenas um, o de nº 17
aforado a Maria Joaquina de Jesus e, posteriormente, a Manoel Fernandes de Mattos,
informava a existência de um foreiro anterior, cujo nome era Joaquim Franco das Chagas.
Além disso, as medidas variavam entre duas e 13 braças de testada, e nem sempre constava a
extensão dos terrenos.

A rua de São Diogo, de acordo com os documentos do AGCRJ, entre os anos 40 e 50


apresentou um acréscimo de 373% do número de foreiros, um total de 52, em relação à
década anterior, com apenas 11. Sobre a quantidade de imóveis distribuídos na área, de forma
similar à rua do Aterrado, houve uma sensível elevação de cerca de 160% em relação ao
período de 30. Estas informações apontam para uma maior dinâmica de crescimento e
ocupação dessas duas ruas e da rua Nova do Conde no contexto geral da Cidade Nova durante
a primeira metade do século XIX. Ou seja, houve desmembramento de terrenos que deram
origem a menores parcelas de chãos, ocupadas progressivamente.

Destaque para o comendador José Justino P. de Faria, que obteve o aforamento da


chácara com prédios de nº 64 e 66, com um total de 65,5 braças de frente e, para o futuro
visconde de Abaeté49 (Antonio Paulino Limpo D’Abreo), que comprou um terreno com oito
braças de frente. Vale lembrar que, nos anos 40, José de O. Fernandes ainda administrava os
imóveis de Polucena L. de Britto, aforando-os apenas no início da década de 50.

Em 1845, há um registro da disputa de parte das terras de Antonio Fernandes Pereira


Vianna, pertencentes à antiga Chácara de São Diogo, pelo foreiro Eugenio Aprígio da Veiga,
que discutia a legitimidade do domínio e da posse das mesmas por estarem situadas em área
de marinha. O foreiro, utilizando-se das antigas recomendações de dom João VI, alegava que
sobre terrenos públicos não havia posses que constituíssem direito e que aquele terreno fazia
parte das 48 braças que ficaram reservadas para a Coroa e passaram para a Câmara pela lei de
3 de outubro de 183450. Defendia que aquelas terras nunca foram da Chácara de São Diogo
porque eram de marinha, banhadas por água salgada, e que o marco da divisa estava ao pé de
uma lagoa, excluindo-se a idéia de terreno enxuto e cultivado compreendido na chácara.

49
Antonio Paulino Limpo D’Abreo, natural de Lisboa, em Portugal, foi agraciado visconde de Abaeté em 1854, após ser
condecorado como Oficial da Ordem do Cruzeiro e com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
50
Os terrenos de marinha sempre pertenceram à Coroa, apenas a partir da Lei de 3 de Outubro de 1834 é que passaram para o
domínio da Câmara Municipal. Esta esteve por muitos anos com a posse de terreno de marinha próximo ao morro de São
Diogo, que servia para o enterro de animais mortos.
133

Uma outra fração da antiga chácara, pertencente à Luiza Roza Avondano Pereira, foi
vendida a José Joaquim Ferreira de Lima e Silva, em 1844, conforme indica a documentação
existente no Arquivo Nacional (Fundo / Coleção, código 20 F-08, Estados / terras - fazendas,
sesmarias, Nº87, caixa 531, galeria C). Parte desse terreno com uma pedreira era arrendado a
João Pereira de Almeida que, ao falecer, deixara dívidas por conta do não pagamento dos
aluguéis. Obtendo a sentença favorável ao despejo da família do arrendatário, Lima e Silva
questionou o valor e as reais necessidades das benfeitorias realizadas.

O mapa 17 apresenta a suposta estrutura da Cidade Nova nos anos 40 dos oitocentos.

Mapa 17 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 40 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
134

Conclusões do mapeamento dos aforamentos na primeira metade dos oitocentos

O mapeamento das informações obtidas no Arquivo Geral da Cidade do Rio de


Janeiro indicou um crescimento moderado da Cidade Nova durante as duas décadas seguintes
ao aporte da família real na capital. Até então, a área de mangue permanecera dividida em
chácaras que se distribuíam no entorno do Campo de Santana e que atendiam pelos nomes de
Chácara da Lagoa da Sentinela, Chácara do Campo de Santana, Chácara do Areal e Chácara
de São Diogo - sendo a última detentora da maior parcela de terras situada na zona
compreendida entre o antigo morro de Paulo Caieiro, passando pela rua de São Diogo e
seguindo até o Aterrado.

O mapa 18 apresenta esquematicamente essas terras no início dos oitocentos.

Mapa 18 – As propriedades do antigo rossio no mangue da Cidade Nova – início do século XIX
s/escala

Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São


Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza
Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812.
IN: CUNHA (1971).
135

A partir dos anos 30, quando iniciou-se a demarcação do Rocio Pequeno, conforme
visto, já era possível notar um adensamento nas quadras mais próximas ao campo, chamado
na época de Campo de Honra. Na rua Nova do Conde, Miguel Rafael Antônio de Noronha,
conhecido como o conde de Paraty, surgia como um significativo proprietário de 13 terrenos
dispostos de forma contígua e voltados para o mangue. Além do conde, outras figuras
destacadas dispunham de imóveis nesta região, como o coronel Felippe Nery de Carvalho e o
sargento-mor Francisco de Paula Borges. Vale lembrar que, na face norte do campo já havia
sido construído, desde 1815, o Quartel que abrigaria o 2º Regimento de Infantaria, o que
possivelmente incentivou o deslocamento de militares para os sobrados ao redor do campo,
principalmente após a Independência.

Deve-se frisar também a presença do solar, dentro de uma chácara que, construído em
1819 para residência do conde dos Arcos, décimo-quinto e último Vice-Rei do Brasil e ex-
governador da Bahia, foi adquirido pela Coroa por Carta Imperial, em outubro de 1824, para
reforma do prédio e instalação do Senado do Império51. Ressalte-se que antes mesmo de
vendê-la, por escritura, em março de 1825, o conde já havia desmembrado suas terras e
negociado alguns terrenos com José Cardoso Guimarães.

Paralelamente à presença de imóveis pertencentes a abastados e influentes


proprietários, já era possível perceber o surgimento de estalagens nos arredores das ruas de
São Pedro da Cidade Nova e do Areal, conforme indica o códice 43-1-25 da cessão de
manuscritos do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Em 1834, Manoel Gonçalves
Ramos, morador na rua do Areal, alugou uma estalagem contígua à sua casa, chamada de
estalagem do Basílio. Em 1835, Antônio José Pereira Guimarães era dono de duas estalagens
na rua de São Pedro da Cidade Nova. Interessante é notar que foram expedidos requerimentos
e outros papéis relativos à existência e à fiscalização sanitária e de costumes dessas
habitações, que já naquela época eram consideradas insalubres e que começariam a se
multiplicar a partir da segunda metade do século XIX.

51
“O prédio sofreu diversos reparos e reformas, acabando totalmente desfigurado em relação ao prédio que abrigou a
primeira sessão no início de 1826. Em 1829 e em 1831, o desabamento parcial do teto do salão de sessões e de parte do
telhado, respectivamente, obrigaram a transferência de solenidades para a Câmara dos Deputados. O descontentamento de
muitos senadores refletiu-se em vários projetos tratando da mudança do Senado, tendo a Regência autorizado medidas para
solucionar os problemas; como a solução preferida pelos senadores foi a reforma total do Solar, em agosto de 1831 as sessões
passaram interinamente a ser realizadas na sala do Supremo Tribunal de Justiça (na Casa da Relação, rua do Lavradio),
voltando a Câmara vitalícia ao Palácio do Conde dos Arcos somente em 1835, quando da eleição para a Regência Una
definitiva” (http://www.senado.gov.br/comunica/historia/pal_arcos.htm, acesso em 20/01/2007).
136

Na década de 40, houve um sensível crescimento no povoamento da área, que


começava a apresentar uma maior consolidação e regularização da sua malha viária. A
configuração em grandes quarteirões e um sistema de vias mais largas e retilíneas
demonstraram a inserção de novas concepções urbanas para o crescimento e a ocupação
daquela localidade. Ressalte-se que, em 1838, foi lançado o Código de Posturas da Câmara
Municipal, que se dividia em duas seções: aquela relativa à saúde pública e outra sobre as
questões de polícia. Na segunda seção, o Título Primeiro dispunha sobre o alinhamento de
ruas e edificações, informando no primeiro parágrafo que seria obrigação da Câmara levantar
os planos para a formação das ruas, praças e edifícios na cidade e no seu termo e, no terceiro
parágrafo, exigia que todas as ruas, travessas ou estradas que se abrissem na cidade e em seu
termo deveriam ter no mínimo 60 palmos de largura.

No final dos anos 40, ilustres proprietários ainda apareciam pela região, como o
visconde de Abaeté, o senador José Carlos Mayrinck e o desembargador Antônio José da
Veiga na rua do Aterrado, e o vereador Francisco de Paula Mattos e o senador Bernardo de
Vasconcellos na rua Nova do Conde.

Figura 12 – O Campo de Santana e o desenvolvimento da Cidade Nova a sua esquerda - 1840

Fonte: EDWARD, Nicolle Jr. Desenho da cidade velha, o Campo de Santana e o mangue de São Diogo. In: ANDREATTA (2006).

3.4 A CONCEPÇÃO DE UM PROJETO URBANÍSTICO PARA O RIO DE


JANEIRO: O RELATÓRIO DE BEAUREPAIRE ROHAN E SEUS IMPACTOS
NA CIDADE NOVA

Ainda na primeira metade dos oitocentos, à medida que a urbe expandia-se em direção
à várzea, ao interior do estado, e após as investidas da Missão Artística Francesa e das
propostas de reordenamento dos espaços da cidade, em vias de introduzir a chamada
137

modernidade para a capital do império, foi apresentado à Câmara Municipal do Rio de


Janeiro, em setembro de 1843, um documento destinado a orientar um conjunto de
intervenções urbanísticas. Esse trabalho, conhecido na época como o Relatório Beaurepaire,
foi elaborado a partir do estudo desenvolvido pelo diretor de Obras Municipais, o barão
Henrique de Beaurepaire Rohan52, tendo como principais objetivos a salubridade pública e o
aformoseamento do município, bem como o cômodo de seus habitantes. Constituía-se num
verdadeiro plano que privilegiava tanto a cidade construída como as suas áreas de expansão,
com o intuito de introduzir um traçado geométrico que atendesse aos ideais modernos da
época e que facilitasse a implantação de infra-estrutura em prol da saúde pública, calcada no
pensamento higienista que corria pelo mundo.

Vale lembrar que, no início dos anos 40, a capital sofria com o crescimento
demográfico, acelerado pela migração do campo para a área central53, deflagrando um
processo de concentração urbana seguido dos problemas de salubridade, que exigiam a
implantação de novas infra-estruturas. As habitações coletivas destinadas às classes mais
pobres da sociedade, como as estalagens e as casas de cômodos, multiplicavam-se na área da
cidade velha e começavam a penetrar pelas ruas do contorno imediato do Campo de Santana,
em direção à Cidade Nova, conforme a análise dos dados anteriores.

Nesse contexto, Beaurepaire Rohan procurou lançar subsídios para a elaboração de um


documento global que regulasse a organização formal da cidade que, de acordo com os olhos
da época, crescia de forma desordenada à luz dos problemas de ordem sanitária.

O primeiro passo foi a solicitação de uma planta cadastral contendo a descrição


daqueles terrenos que pertenciam aos próprios municipais com a finalidade de realizar um
diagnóstico da situação fundiária. Em seguida, sugeriu-se a criação de um aparato para a
fiscalização e a manutenção das vias de ligação entre o núcleo urbano e o interior do
município, para facilitar as transações comerciais e a arrecadação de renda nos cofres

52
Henrique de Beaurepaire Rohan nasceu no dia 12 de maio de 1812, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Ingressou no
Corpo de Engenheiros em 1837 e, em São Paulo, construiu a Casa de Correção e dirigiu a Estrada de Ferro São Paulo-Santos.
Promovido a tenente-coronel, foi mandado ao Paraná, onde exerceu as funções de vice-presidente da província. Foi, então,
nomeado presidente da Província do Pará e, posteriormente, da Província da Paraíba. Foi Ministro da Guerra, presidente do
Rio Grande do Sul, comandante das Armas de Pernambuco, marechal, Ministro do Supremo Tribunal Militar. Faleceu no dia
10 de julho de 1894, na cidade do Rio de Janeiro.
53
Segundo Andreatta (2006, p.85), “a sociedade carioca seguia sendo uma sociedade escravista, mas a partir do tratado de
1815 entre Portugal e Inglaterra, que proibia o tráfico de escravos ao norte do Equador, iniciou-se um lento e inexorável
processo de emancipação que aumentaria também a população urbana, agravando os problemas de salubridade da cidade;
vale recordar como exemplo que em 1850 dos 270 mil habitantes da cidade, 111 mil eram escravos”.
138

públicos. Também se cogitou um aumento dos impostos recolhidos para a consecução das
obras necessárias.

Os problemas relativos à salubridade pública54 – à drenagem de águas pluviais, ao


esgotamento sanitário, ao destino final dos resíduos sólidos e ao abastecimento de água –
eram vistos como os grandes impasses para as melhorias nas condições de vida dos habitantes
e para a imagem da capital imperial. Para dar conta das soluções infra-estruturais, o plano
privilegiava a adoção da regularidade e formalidade na malha viária, de forma a reordenar a
estrutura urbana que receberia a implantação e a extensão dos novos serviços urbanos.

Foram lançadas recomendações quanto ao escoamento das águas dos telhados, a partir
da utilização de calhas impedindo a sua queda diretamente nos passeios; à inclinação e
declividade das calçadas – em que deveriam ser implantadas sarjetas forradas de cantaria para
esgotar as águas pluviais -; aos despejos sólidos no mar; à drenagem no Campo de Santana,
por meio da criação de um divisor de águas; à implantação de rede para abastecimento de
água e à canalização do mangue da Cidade Nova.

A intenção de melhorar a qualidade do ar da cidade e eliminar os chamados miasmas55


exigia a ação direta sobre o mangal, considerado o foco de insalubridade da capital e ainda um
obstáculo à ocupação e edificação da área. Para isso, o relatório propunha que as arruações
naquela localidade reservassem espaços disponíveis para uma futura implantação do projeto
de canalização do mangue. Vale dizer que existiam relatos, naquela época, de propostas
anteriores ao relatório, com o intuito de implantar um canal de navegação do Saco de São
Diogo até a praia dos Mineiros, nas proximidades da atual rua Primeiro de Março. Parte
dessas idéias apenas seria executada a partir das obras iniciadas, em 1854, pelo barão de
Mauá, quando foram intensificados os trabalhos de aterro e canalização do mangue, da Bica
dos Marinheiros até o antigo Rocio Pequeno (Praça Onze). Esse projeto foi considerado a
forma mais barata e inteligente de sanear aqueles chãos, bem como de estabelecer no mesmo
canal um sistema de hidrovias ligando os arredores ao centro consolidado.

Beuarepaire ressaltou também a necessidade de alargamento e pavimentação das vias,


apresentando uma listagem daquelas que deveriam ser remodeladas e prolongadas para
facilitar a comunicação entre as diferentes áreas da cidade. Em suas propostas, era possível

54
Vale lembrar que, naquela época, as condições de higiene do Rio de Janeiro eram bastante precárias e a infra-estrutura
urbana existente dependia do emprego e da força da mão-de-obra escrava.
55
Ressalte-se a descrição do que seria o miasma, naquela época, segundo Moraes Silva (1823): Miasma, s.m.t. de med.
Partículas, ou átomos, que saem dos corpos podres ou venenosos, e entrando no corpo animal causam doença.
139

perceber os resquícios da influência modernizadora trazida da Europa pela Missão Francesa,


ou seja, esse ideário ainda ressonava no território carioca e na própria formação do quadro de
profissionais ligados às obras urbanas56. Porém, o relatório apresentava uma crítica aos
antecessores, alegando que grande parcela dos problemas da cidade derivava da ausência de
um plano urbanístico, sugerindo regular não apenas àquelas intervenções de cunho pontual e
destinadas à cidade existente, mas também uma previsão das futuras ações para o
desenvolvimento urbano.

O Rio de Janeiro participa de muitos dos defeitos, que são ordinários nas cidades
edificadas sem plano. É um deles a estreiteza das ruas, algumas das quais têm
apenas 30 palmos de largura, que muito dificulta o trânsito, em ocasiões de
concorrência (ROHAN, apud ANDREATTA, 2006, anexo documental, p.4).

Sobre a cidade velha, as propostas visavam à regularização da malha viária por meio
da inserção de eixos ortogonais que seriam a continuidade daqueles existentes, representando
o prolongamento em direção às novas áreas de expansão e a abertura de 18 ruas,
proporcionando a melhor circulação do ar, de mercadorias e pessoas. Nesse sentido, seriam
previstas a organização e a disposição de quadras mais regulares com novas fachadas que
contribuiriam para a renovação da imagem edificada no centro do Rio. Intentava-se
reconstruir parte da capital, do Campo de Santana para baixo, considerada a mais
desorganizada e defeituosa região. Naquela época, a estrutura da cidade velha apresentava-se
como uma retícula irregular e densa, formada por paralelogramos que variavam entre 40 e 60
metros de largura e 50 e 100 metros de comprimento. Os terrenos eram estreitos e profundos,
cujas testadas variavam entre três e seis metros e a profundidade, entre dez e 20 metros, com a
presença de casas geminadas e compactas que, geralmente, ocupavam ambos os lados da rua.

Andreatta (op.cit.) ressalta que as idéias propostas pelo relatório marcariam uma
continuidade e uma regularidade na malha urbana colonial, entre os morros do Castelo e da
Conceição, e que o Campo de Santana atuaria como uma rótula entre a cidade velha e a
Cidade Nova que se consolidava, apresentando-se como elemento central de conexão entre os
morros do Senado e da Providência, resgatando em parte a anterior proposta de Montigny
para a criação de um Fórum na localidade. Nesse ponto, acredita-se que o relatório ratificava

56
“Não se pode categorizar Beaurepaire como um técnico plenamente integrado nessa renovação de idéias, o que resultaria
surpreendente num Brasil ainda fechado culturalmente ao exterior. Mas ele age com as mesmas preocupações dos técnicos da
ilustração pelas estradas que dariam unidade ao país, pelos descobrimentos geográficos e pela cartografia. É também evidente
a influência de seus professores franceses nas novas preocupações a respeito da drenagem e da pavimentação, com técnicas
ensaiadas na construção de bulevares depois da derrubada das muralhas de Paris” (ANDREATTA, 2006, p.54).
140

o papel do campo como a praça principal que reunia edifícios públicos e administrativos e que
representaria o elo de ligação entre a antiga e a nova cidade do Rio de Janeiro.

O aformoseamento e a hierarquização do tecido urbano seriam destacados por meio da


ampliação, regularização e implantação de praças e espaços livres nas esquinas, que em
alguns casos assumiriam a função de mercado, com o intuito de facilitar a desobstrução das
antigas e insalubres ruas de comércio do centro. Beaurepaire chamou a atenção para o Campo
de Santana ou da Aclamação - considerado um dos mais notáveis espaços públicos da época,
conforme descrito acima, e que ainda dispunha de certa irregularidade no traçado -, propondo
a edificação, do lado da Cidade Nova, de uma linha de sobrados, paralela à frente do museu,
com fundos voltados para o ocidente guarnecidos de quintais fechados por gradis. Sugeriu
também a implantação de um espaço público entre as ruas Formosa, do Conde e do Areal –
praça de mercado - e, outro, na extensão da rua do Príncipe dos Cajueiros até a de São Diogo.

Sobre a área de expansão da capital, pode-se afirmar que as ações indicadas no


relatório baseavam-se na construção de uma nova estrutura urbana regular e na reforma e
valorização do Campo de Santana, como impulsionador ao crescimento e desenvolvimento da
Cidade Nova. Essa malha viária seria acrescida de dois eixos exteriores, a rua Nova do Conde
prolongada até o Engenho Velho e a de São Pedro - por conta da retificação da rua do
Aterrado -, que delimitariam o campo e apontariam a organização urbana da Cidade Nova.
Nessa época, planejara-se, então, a organização desse espaço, cujo aterro seria completado
pelas terras da derrubada do morro do Senado. As ruas Formosa e do Bom Jardim assumiram
grande importância como eixos perpendiculares à Praia Formosa e ao Catumbi que, segundo
Andreatta (op. cit.), funcionaram como espaços-canais de suporte para o crescimento urbano
em direção ao interior, por conta do direcionamento dos serviços urbanos para a periferia.
Além disso, sugeria o prolongamento das ruas do Príncipe e Princesa dos Cajueiros até o
mangue; da rua de Santa Rosa até a do Conde; da rua das Flores até a do Senado e da rua do
Alcântara e de São Leopoldo até o Campo de Santana. A Praça do Rocio Pequeno, a rua do
Príncipe dos Cajueiros, de Santana (atrás do Quartel), de São Lourenço, Formosa, das Flores,
do Bom Jardim, de São Diogo, de Santa Rosa, de São Leopoldo e do Alcântara deveriam ser
calçadas e previstos sistemas de drenagem e esgotamento.

Recomendações com o intuito de planejar a configuração das edificações da nova


estrutura da cidade foram lançadas também no Relatório de Beaurepaire. Nos quarteirões
criados com 30 braças de extensão, delimitados por ruas esquinadas que apresentavam oito
braças de largura, deveriam distribuir-se sobrados – e não casas térreas - com no mínimo seis
141

braças de testada, dotados de sótãos e quintais para plantação e separados da rua por um beco
destinado à circulação de escravos e carroças. Portanto, as quadras seriam regulares e teriam
66 x 140 metros, sendo fracionadas por ruas secundárias, ou becos de serviço, conforme
acima descrito, e os terrenos continuariam estreitos e alongados, com medidas iguais a 6 x 30
braças.

É importante lembrar que, no período de lançamento do relatório de Beaurepaire, a


cidade do Rio de Janeiro estava regulada pelo Código de Posturas da Câmara Municipal de
183857, que já dispunha de uma série de providências quanto às questões sanitárias e de ordem
urbana. As posturas relativas à saúde pública versavam sobre o esgotamento de pântanos,
águas infectas e terrenos abertos; o asseio dos currais e matadouros e o estabelecimento de
fábricas e manufaturas que pudessem corromper a salubridade do ar. Aquelas que se referiam
aos assuntos de polícia tratavam do alinhamento das ruas e edificações; da limpeza e
desempachamento das ruas e praças e, das questões relativas à moral pública. Ou seja, mesmo
antes da apresentação das idéias de Rohan, já existia uma vontade de se organizar e ordenar a
urbe, mas nada que constituísse um plano geral para a cidade e que se traduzisse em propostas
detalhadas para a melhoria da sua infra-estrutura.

Nesse ponto, pode-se dizer que o plano ou relatório de Beaurepaire, considerado na


época como modelar e pioneiro, imbuído das concepções urbanas européias, procurou dar
providências para uma organização espacial da cidade velha e da nova. Seus principais traços
eram a urbe saudável – arejada - com ruas largas e prolongadas58, visando a facilitar a
circulação intra e inter municipal, bem como a formação de quarteirões regulares, a partir de
uma retificação da malha viária carioca.

Para ele, ordenar a cidade significa, por um lado, aplicar regras geométricas à planta
da cidade, à estrutura das suas ruas; e por outro, implantar de maneira correta os
elementos que formam a trama urbana, como mostram suas indicações sobre normas
de edificação e parcelamento, e as medidas propostas para a organização das ruas,
quadras e casas (ANDREATTA, 2006, p. 97).

Acredita-se que esse relatório de Remodelação do Rio de Janeiro, sob a forma de um


plano urbanístico, cuja intenção era transformar o desenho da cidade a partir de um tecido
articulado, da implantação de infra-estrutura e de novos padrões construtivos, já representava
57
O Código de 1838 baseou-se nas Posturas da Camara Municipal do Rio de Janeiro, divulgadas em 1830, logo após a
transferência de Senado para Illustrissima Câmara Municipal, por conta da lei de 1º de outubro de 1828.
58
Beaurepaire definiu a largura das ruas com 17,60 metros, a criação de um largo em cada esquina, a extensão dos
quarteirões com 66 metros e a testada dos terrenos com 13,20 metros.
142

uma nova etapa modernizadora na trajetória da capital durante o século XIX. Ou seja, o plano,
mesmo não sendo executado completamente por conta das dificuldades tecnológicas e
financeiras, abriria as portas para as propostas da Comissão de Melhoramentos da Cidade do
Rio de Janeiro, analisadas no próximo capítulo, e para o que seria mais tarde a Reforma
Urbana de Pereira Passos, na virada para o século XX. As idéias que não foram postas em
prática indicaram um novo caminho para a organização da estrutura da Cidade Nova, que
acabou refletindo na sua própria dinâmica fundiária, quer sejam nos quarteirões regulares, nos
lotes estreitos e alinhados, dispostos frontalmente às vias alargadas e mais retilíneas, ou na
centralidade do Campo de Santana.

O mapa 19 apresenta as propostas de Beaurepaire para a cidade, ainda na primeira


metade dos oitocentos.

Mapa 19 – Propostas do Relatório de Beaurepaire Rohan para o Rio de Janeiro - 1843


s/escala

Fonte: ANDREATTA (2006).


Desenvolvido sobre base urbana de 2000.
143

CAPÍTULO 4

RUPTURA E DECLÍNIO DA CIDADE NOVA

4.1 APRESENTAÇÃO

No capítulo anterior foram analisados os elementos e os agentes que fizeram parte do


movimento de expansão do Rio de Janeiro em direção à várzea de São Diogo e que acabaram
definindo a criação e a ocupação da Cidade Nova.

Na etapa seguinte serão abordados os fatores e as forças que impulsionaram a


mudança na estrutura fundiária e no perfil habitacional na localidade, sob a influência das
novas relações capitalistas de produção e da difusão das concepções de um urbano ligado à
saúde pública e ao embelezamento em prol da modernização da capital.

4.2 PÓS ANOS 50: OS NOVOS ELEMENTOS, AS FORÇAS DE RENOVAÇÃO DA


CAPITAL ESCRAVISTA E O HIGIENISMO

No momento em que fora lançado o Relatório de Beaurepaire, o Rio de Janeiro já


começava a sentir os efeitos de transformações sociais e econômicas que teriam seu ponto
máximo durante o segundo reinado do Império. Desde 1828, com a promulgação da lei de 1º
de outubro, ganhava influência uma elite burguesa da cidade que, juntamente com a antiga
aristocracia rural e os comerciantes da época, viu-se beneficiada pelo surgimento de
companhias que detinham o domínio dos serviços urbanos, tais como a abertura de canais e
ruas e a execução de pontes e aquedutos. Nos anos 40, segundo Andreatta (2006), tinha início
uma modernização do país, cujos objetivos eram a ampliação da base produtiva, a formação
de um mercado de trabalho – cuja mão-de-obra deixaria de ser escrava para dar lugar aos
imigrantes – e a permissão da entrada de investimentos estrangeiros que, de acordo com Prado
Júnior (1971), permitiriam ao governo, de certa forma, equilibrar o déficit da sua balança
comercial.

O Estado imperial brasileiro passou a estimular a entrada desse capital, principalmente


o inglês que, segundo Salgado (2001), obteve a concessão para a realização de grandes
empreendimentos, tais como a construção de ferrovias, a reforma de portos e a implantação de
infra-estrutura urbana – esgoto, água, iluminação e gás. Um exemplo foram os investimentos
144

do barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza) que, ao retornar de uma estadia em Londres e
obter o respaldo do capital inglês, organizou o Banco Commercial (1851), a Companhia
Imperial de Navegação a Vapor (1852), a Estrada de Ferro Rio-Petrópolis (1852), a Sociedade
Mauá, Mac Gregor e Companhia (1854), a Sociedade de Gás (1854), a construção do Canal
do Mangue (1854), a compra da Sociedade da Estrada de Ferro Rio-São Paulo (1855), a
Companhia dos Bondes do Jardim Botânico (1862) e a Companhia do Telégrafo (1871).

O Estado exercia a função de avalista dos empréstimos obtidos no exterior e obtinha a


própria colaboração da iniciativa privada. Vale reforçar que essa parceria estava
comprometida com a continuidade do projeto de modernização da capital do império que,
naquele momento, já estaria calcado nas novas relações capitalistas de produção. Passaram a
coexistir duas lógicas distintas e contraditórias, a cidade capitalista e, ao mesmo tempo, ainda
baseada nas relações escravistas, mesmo que enfraquecidas. “Baseada em relações de
produção arcaicas, de base escravista, a formação social brasileira ainda conviveria algum
tempo com esses novos elementos, essencialmente capitalistas, que aqui se introduziram”
(M.ABREU, 1997, p. 36).

Os dados dos arrolamentos da época mostram que a cidade passou a atrair cada vez
mais um grande número de trabalhadores livres, nacionais e estrangeiros, muito por conta dos
incentivos do governo imperial às atividades fabris, a partir da década de 40. Segundo Lobo
(1978), a estatística de 184959 relatava a presença de 266.466 habitantes no município60, entre
os quais, cerca de 58,5% eram livres e os restantes 41,5%, escravos. O recenseamento de
1872, considerado pela autora o mais seguro por conta da sua elaboração sistematizada e pela
perfeita compatibilidade de informações, indicou um aumento de 8.806 habitantes para o Rio
de Janeiro. Desse total, a porcentagem de escravos representava 17,80%, enquanto aquela de
livres correspondia a 82,20%. Nesse sentido, foi possível perceber um decréscimo da
população escrava a partir de meados dos oitocentos em função da proibição do tráfico
negreiro e dos investimentos no setor fabril. Os gráficos 01, 02 e 03 indicam a dinâmica
populacional equivalente aos dois arrolamentos citados.

59
O arrolamento de 1849 foi realizado sob a orientação do Ministro da Justiça e organizado por Haddock Lobo.
60
As estatísticas consideravam o município da Corte abrangendo as freguesias rurais e urbanas.
145

Gráfico 01 – População livre no Gráfico 02 – População escrava no


Município da Corte Município da Corte

250000 150000
150000
200000
100000
100000
150000
100000 50000
50000
50000
0 0
0
1849 1872 1849 1872
1849 1872

Fonte: representação a partir de LOBO (1978). Fonte: representação a partir de LOBO (1978).

Gráfico 03 – População total no


Município da Corte

280000
275000
270000
265000
260000
1849 1872

Fonte: representação a partir de LOBO (1978).

O censo de 1872 ainda trouxe a informação equivalente à quantidade de estrangeiros


residentes no município, cerca de 73.730 livres e 10.973 escravos, representando um total de
84.703 imigrantes. Era o momento de inserção do Rio de Janeiro no capitalismo mundial,
cujas bases eram o trabalho assalariado e a industrialização, que passou a abarcar parte dos
imigrantes livres para as pequenas fábricas localizadas nos arredores do antigo núcleo
colonial da cidade. O gráfico 04 mostra a porcentagem da população no município pela
nacionalidade, de acordo com o censo de 1872.

Gráfico 04 – População no Município da Corte por nacionalidade

4% Escrava
14% Escrava
estrangeira
brasileira

Fonte: representação a partir de IBGE.


Recenseamento da população do
27% Livre Município Neutro de 1872. Disponível
estrangeira
55% Livre brasileira
em: <http://biblioteca.ibge.gov.br>.
Acesso em: 18 dez. 2006.
146

A estrutura material da capital, em virtude dessas novas relações de produção, a partir


de 1850, passaria a experimentar uma importante fase de expansão territorial, com o aumento
da densidade populacional nas áreas já ocupadas e a incorporação de sítios ao perímetro
urbano. Ressalte-se que, para a incorporação desses novos espaços, foi essencial a decisão da
Câmara de intensificar os aterros do Saco de São Diogo61, possibilitando a ocupação da parte
das terras situadas na antiga estrada de Mata-porcos, criando-se a freguesia de Santo Antônio
em 185462, desmembrada das de São José, Sacramento e Santana. No anexo encontra-se o
mapa das freguesias do Rio na segunda metade dos oitocentos.

Em 25 / 01 / 1812 foi comprada por Francisco Xavier Pires a Joaquim Viegas a bela
chácara dos Coqueiros, em Catumbi, por 8:000$000. Anos depois foram retalhados
os terrenos dessa chácara para a abertura de ruas. Autorizada pelo Governo, abriu a
Câmara, em 1850, uma estrada de comunicação com o Rio Comprido e... em 1852,
começou a Câmara a mandar aterrar o mangue da Cidade Nova, entre o lugar
denominado aterrado e a Casa de Correção (rua Frei Caneca)... (NORONHA
SANTOS, 1965, p. 49).

4.2.1 Os investimentos em infra-estrutura

O incremento no número de habitantes e as dificuldades ainda permanentes da forma


urbana com traços coloniais reacenderam os antigos problemas de infra-estrutura, tais como a
dificuldade para a obtenção de água, a precariedade da iluminação pública e do esgotamento
sanitário e os constantes despejos de resíduos sólidos nas valas, ruas e nos mangues da cidade.
Era preciso sanear e melhorar o Rio para torná-lo digno de uma capital imperial, ou seja,
ressurgia a preocupação com a ordem sanitária e o ideal higienista das primeiras décadas do
século XIX. Em 1850, por conta da primeira grande epidemia de febre amarela na cidade,
houve um declínio da população e automaticamente da mão-de-obra disponível, fazendo-se
necessária a melhoria no sistema de esgotamento sanitário que se tornava o alvo da campanha
movida pelos médicos e sanitaristas da época.

Não é de estranhar, portanto, que a cidade enfrente no período em questão uma


situação crítica em termos de saúde pública. Os sucessivos surtos epidêmicos que

61
Para que fossem realizadas as obras de aterro, em 1851 foi levantada a planta de todo o mangue.
62
Segundo Abreu (1997, p. 39), a freguesia de Santo Antônio, criada em 1854, “tinha jurisdição sobre parte da Lapa e sobre
os atuais bairros de Catumbi, Estácio e Santa Teresa, que só a partir da conclusão das obras de drenagem puderam ser
efetivamente ocupados, embora já fossem habitados desde o início do século, estando inclusive localizada aí a nova Casa de
Detenção, inaugurada em 1840 e no mesmo local até hoje”.
147

eclodem na cidade a partir de 1850 inauguram a chamada Era das Epidemias


(Gomes, apud ABREU, 2005, p.56).

Até o início daquela década, eram os escravos de ganho, ou domésticos, os


responsáveis pela coleta de água, nos poços públicos, chafarizes ou bicas, para o
abastecimento residencial na cidade. Com o crescimento populacional, esse sistema tornou-se
cada vez mais defasado, insatisfatório, principalmente pelo fato de alimentar somente àqueles
que residiam na cidade velha, bem como em parte da Glória, de São Cristóvão, Catumbi,
Botafogo e Cosme Velho. Apenas a partir dos anos 60 teve início um processo de
modernização do método de distribuição de água, que passou à concessão da companhia
inglesa The Rio de Janeiro City Improvements. Foi instalada uma rede domiciliar com tubos
de ferro e aparelhos hidráulicos importados, que atendia a uma parte da cidade, privilegiada e
beneficiada pelo novo sistema que passava a adquirir um valor de troca antes inexistente.

Quanto ao esgotamento sanitário, durante muitos anos caracterizou-se pelo despejo de


águas servidas diretamente nas vias públicas e pelos transportes dos tigres63 até as áreas de
mangue, valas e para o mar. Ou seja, as ruas e valas recolhiam a maior parte dos resíduos
sólidos produzidos na cidade, transformando-se em focos de perene infecção e propagação de
doenças. Na década de 60, o sistema de esgotamento passou a ser controlado e organizado
pela mesma The Rio de Janeiro City Improvements, que inicialmente, atuou apenas na área
compreendida entre os morros do Castelo, de São Bento, Santo Antônio e da Conceição. A
localização das casas de máquinas, cuja função era a desinfecção e um pré-tratamento do
esgoto antes do seu lançamento na baía, induziu à formação de distritos que acabaram
obedecendo à lógica capitalista de melhor fornecimento do serviço a quem o pagasse melhor.
Desse modo, o domínio da infra-estrutura do território carioca pelo capital inglês, segundo
Benchimol (1990), acabou contribuindo para acentuar as desigualdades e as diferenças de
localização das camadas populacionais no espaço urbano do Rio de Janeiro. As áreas mais
distantes do núcleo colonial da cidade velha não contaram logo de início com a implantação
da rede de esgotamento sanitário, que apenas chegara até os limites do Campo de Santana.

63
“Os escravos e as tinas que carregavam as matérias fecais e o lixo produzido pela população eram chamados à época de
tigres porque, algumas vezes, os barris transportados em suas cabeças rompiam-se e sujavam suas roupas, deixando-as com
manchas que a população julgava assemelharem-se às pintas da pele dos tigres” (M.AIZEN e PECHMAN, 1985, p. 38).
148

4.2.2 A modernização do sistema de transportes coletivos: ônibus, bondes e trens –


percursos da Cidade Nova

Aliados a essa nova fase de expansão da cidade e da implantação de infra-estrutura,


foram realizados investimentos no setor de transportes com o intuito de melhorar e
modernizar a circulação na capital imperial. Deve-se dizer que os avanços no sistema de
transportes coletivos no Rio de Janeiro contribuíram para a sua própria urbanização e para
uma nova estruturação social do espaço carioca.

Vale lembrar que, em 1827, instalou-se a Companhia de Ônibus, sob a presidência do


desembargador Aureliano de Souza Oliveira e Coutinho, dando início à subscrição de ações
para instalação do serviço regular de coches à tração animal. Em 1838, começaram a circular
as chamadas gôndolas, da Companhia de Gôndolas Fluminense, com uma das linhas situada
na Cidade Nova, cujo ponto final localizava-se no Rocio Pequeno - Praça Onze de Junho -,
dirigindo-se para as imediações de São Cristóvão.

Figura 13 - Carro parisiense da segunda


metade do século XIX.
Modelo idêntico foi usado no
Rio de Janeiro (gôndola).

Fonte: <http://br.geocities.com/spacio7/rio-bus-01.htm>
Acesso em: 19 dez. 2006.

A partir de meados dos oitocentos, surgiram dois elementos decisivos para o processo
de circulação e expansão da cidade em direção a áreas esparsamente ocupadas, os trens e
bondes, controlados em grande parte pelo capital estrangeiro. Maurício de Abreu (1997)
ressalta que os bondes passaram a atender àquela parcela da população que procurava manter-
se próxima aos limites do núcleo urbano, enquanto os trens permitiram o acesso às regiões
mais longínquas, onde o custo de moradia era relativamente inferior àquele verificado nas
redondezas do centro. O autor ainda lembra que a implantação de linhas de bonde atraiu tanto
149

o capital internacional como o nacional, proveniente de parte dos lucros da produção cafeeira,
que passou a ser investido no mercado de imóveis naquelas áreas servidas por transporte.

O capital estrangeiro, por sua vez, teve condições de se multiplicar, pois controlava
as decisões sobre as áreas que seriam servidas por bondes, além de ser responsável
pela provisão de infra-estrutura urbana. Os dois, entretanto, nem sempre atuavam
separadamente, aliando seus esforços em muitas instâncias, quando esta associação
era desejada, ou mesmo inevitável, como no caso da criação de novos bairros
(M.ABREU, 1997, p.44).

Nos anos 50, surgiram os primeiros bondes à tração animal, mas somente em 1868 foi
liberada a concessão para o controle desse serviço a empresa norte-americana Botanical
Garden Railroad Company, que mais tarde seria chamada de Companhia Ferro Carril do
Jardim Botânico. Sua primeira linha serviu à freguesia da Glória, ocupada por classes
endinheiradas e posteriormente, estendeu-se até o Jardim Botânico, passando por Botafogo.
Essa companhia detinha o monopólio de atuação nas regiões mais aristocráticas da cidade,
enquanto outras empresas similares foram criadas com o intuito de atender as localidades
mais distantes – Gamboa, Santo Cristo, Caju, Saúde, Rio Comprido, Catumbi, o atual bairro
da Tijuca e São Cristóvão -, em direção ao oeste da cidade.

Importante papel na consolidação da malha urbana da Cidade Nova teve a Companhia


Ferro-Carril de Vila Isabel que, para a inauguração de sua primeira linha, partindo do centro à
Vila Isabel, impulsionou os trabalhos de aterro e construção de uma ponte na região do
mangue, próxima ao rio Comprido. Aos poucos a Cidade Nova assumiu o papel de ponto
intermediário entre o centro e os atuais bairros da zona norte do Rio.

Quanto ao sistema de trens, em 1852 foi reiniciada uma antiga negociação para a
abertura do primeiro trecho de execução de uma estrada de ferro ligando a capital ao Vale do
Paraíba. Inaugurada em 1858, correspondia ao percurso entre a Corte e Queimados, cuja
estação central erguera-se no terreno da antiga capela de Santana. Batizada de Estrada de
Ferro Dom Pedro II – Central do Brasil, somente em 1861 foram inaugurados os serviços
regulares de transporte de passageiros ao longo do trajeto da ferrovia. Rocha (1986) afirma
que o objetivo da estrada de ferro era servir ao hinterland do Rio de Janeiro, ou seja, permitir
o escoamento da produção do Vale do Paraíba para o porto da capital, para a exportação e
importação. Em 1865, foi dissolvida a Companhia da Estrada de Ferro Dom Pedro II, a
ferrovia ficou sob a direção do governo e Christiano Benedicto Ottoni, ex-presidente da
extinta empresa, assumiu o cargo de diretor.
150

Figura 14 – Inauguração da Estrada de Ferro Dom Pedro II com a presença


do imperador, em 29 de março de 1858.

Fonte: DAVID, Eduardo Gonçalves. A Ferrovia e Sua História: Estrada de Ferro Central do Brasil. Rio
de Janeiro: Coleção Aenfer, 1998.

Naquela época, havia um total de cinco estações distribuídas ao longo das freguesias
de Santana, Engenho Velho, São Cristóvão, Inhaúma e Irajá. Nesse contexto, grande
importância teve a estação central, localizada numa das faces do Campo de Santana que,
como o próprio nome diz, funcionava como pólo distribuidor para a o núcleo da Corte, para o
centro da capital. Ressalte-se que, nas últimas décadas do século XIX, essa estação assumiu o
papel de receptora de significativa parcela da população que saíra das áreas do interior do
Estado, em virtude da queda da produção cafeeira e da liberação de mão-de-obra. Tornou-se a
porta de entrada da massa de trabalhadores que procurava estabelecer-se próxima às
oportunidades do centro da cidade e que acabou instalando-se nas insalubres moradias da
Cidade Nova.

4.2.3 Os novos arruamentos

Em meados do século XIX, a Cidade Nova já apresentava uma malha viária mais
retilínea e definida, cuja estrutura refletia-se na configuração de quarteirões menores e
regulares dispostos entre ruas que pareciam formar um tecido em quadrícula. As mudanças
verificadas na passagem da década de 40 para a de 50 espelharam a possível ressonância
naquele espaço, das concepções difundidas pelo Relatório de Beaurepaire. Há de se
151

considerar que grande parte das propostas daquela época não foi implementada, mas algumas
acabaram apontando as tendências para um novo olhar urbano na capital imperial.

Foram abertas as ruas de São Leopoldo e da Alcântara entre as já existentes ruas das
Flores e do Bom Jardim, que se prolongara até a Nova do Conde. Paralela às antigas travessas
da Saudade, dos Ferreiras e do Gás, foi executada a rua do Porto, que partia do Aterrado e
cortava a rua de São Diogo e o seu antigo trecho, próximo à Estrada de Ferro. O Rocio
Pequeno, que desde o final da guerra do Paraguai passou a ser conhecido como a Praça Onze
de Junho64, em homenagem ao dia da Batalha do Riachuelo, passou a ser delimitado pela
recém criada rua de Santa Rosa e pelas já existentes ruas das Flores, de São Pedro da Cidade
Nova e do Sabão da Cidade Nova.

Com a conclusão dos trabalhos de aterro do mangue desde 1852 e a construção do


Canal, em 1854, já era possível notar um processo de expansão da malha viária em direção à
antiga área alagada, entre a rua do Bom Jardim e a Ponte dos Marinheiros.

Em abril de 1854, uma nova postura foi lançada pela Câmara com o intuito de regular
o arruamento nas freguesias de Santana, Engenho Velho, Glória e Lagoa.

A Illustrissima Camara Municipal desta muito leal e heróica cidade do Rio de


Janeiro faz saber [...].
§2º. Os proprietarios que, para alinharem as frentes de suas propriedades, tiverem de
ganhar terreno a custa rua ou estrada, indenizarão por isso a Camara Municipal com
uma quantia que será arbitrada pelo engenheiro do districto [...].
§3º. As ruas ou estradas que tiverem 60 palmos, ainda que conservem angulos ou
tortuosidades, não poderão ser estreitadas por qualquer alinhamento que se queira
dar com o fim de desfazer esses angulos ou tortuosidades, a menos que o
proprietario fronteiro, em cujo terreno se der o referido angulo ou tortuosidade,
queira ceder o terreno necessario para que fiquem sempre salvos os 60 palmos, quer
o faça por contrato particular, quer por ajuste com a Camara. Em todo o caso,
porém, o alargamento será feito em primeiro lugar (Código de Posturas da
Illustrissima Câmara Municipal, 1854).

Interessante é notar que, em 1857, a Câmara designou uma comissão para efetuar um
estudo de arruamento para a Cidade Nova. Foi elaborado um edital para a concorrência que
englobava os brasileiros Ignácio da Cunha Galvão e Manoel da Silva Machado e estrangeiros,
entre eles os ingleses Ikncat e Guity, o francês René Leroyer e o espanhol Garcia de La Vega.
O presidente da comissão, engenheiro Manoel da Cunha Galvão, que também exercia o cargo
de diretor das obras municipais, apresentou em julho de 1858 um relatório acompanhado dos
64
Em 1846 a praça sofreu melhorias em prol do seu embelezamento, com a colocação de um chafariz desenhado por
Montigny e a plantação de casuarinas.
152

desenhos que constavam dos novos planos para a área. O projeto vencedor, de Ignácio da
Cunha Galvão, por motivos de ordem econômica, nunca foi implementado65.

Nos anos 60, continuaram os melhoramentos e as ruas da Alcântara e de São Leopoldo


iniciaram seus prolongamentos, que apenas se completariam no final do século XIX.

O mapa 20 mostra a configuração das ruas da Cidade Nova durante os anos 60.

Mapa 20 – Malha viária da Cidade Nova na década de 60 – século XIX


s/escala

Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São


Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza
Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia,
1812. In: CUNHA (1971).

65
Informações obtidas em GONÇALVES, Aureliano R. Extractos de manuscriptos sobre aforamentos 1925, 1926 – 1929.
Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. (Coleção Memória do Rio 2).
153

A década de 70 não apresentou mudanças significativas na estrutura das ruas da


Cidade Nova. A diferença para o período anterior foi o prolongamento das ruas citadas e,
ainda, a rua Formosa que passou a ser conhecida como General Caldwell e a do Bom Jardim,
como Visconde de Sapucahy, em homenagem aos serviços prestados ao Estado pelo
conselheiro Cândido José de Araújo Vianna (visconde de Sapucahy), conforme indica o mapa
21. No anexo encontra-se a seqüência dos mapas de arruamentos.

Mapa 21 – Malha viária da Cidade Nova na década de 70 – século XIX


s/escala

Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São


Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza
Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia,
1812. In: CUNHA (1971).
154

4.2.4 O mangue como o foco de infecções e alvo do saneamento – por um novo


urbanismo da saúde pública

As análises anteriores indicam que nas tentativas de civilização e modernização da


cidade, desde a instituição da política urbanizadora de dom João VI, passando pela concepção
francesa de reordenamento do espaço urbano até a elaboração do Relatório de Beaurepaire, a
preocupação com a temática higienista sempre esteve presente, tornando-se o alvo principal
dos engenheiros, arquitetos e médicos a partir da primeira epidemia de febre amarela nos anos
50. Nesse sentido, é possível dizer que a questão urbana em meados dos oitocentos era a
saúde da urbe, a prioridade em se tratar seus males, as suas doenças, buscando afirmar-se
como a capital de um novo império brasileiro. O Urbanismo Imperial, trazido pela Missão
Artística, que predominou por quase 30 anos, daria passagem a um outro olhar, ao da saúde
pública, que já prevalecera ao longo das propostas de Beaurepaire nos anos 40 e direcionaria
uma série de medidas e determinaria uma nova organização do espaço urbano carioca a partir
de 1850.

Foram implementadas medidas com o objetivo de deixar o traçado dos logradouros


mais retilíneos, para a melhoria do tráfego e ventilação da cidade, bem como foram lançadas
novas posturas com o intuito de promover a higiene pública e a estética urbana. Como uma
das primeiras ações, rasgou-se o Canal do Mangue, cuja meta era o escoamento das águas em
direção ao mar, e promoveu-se o dessecamento das terras pantanosas entre o Aterrado e a
antiga estrada de Mata-porcos. Ou seja, surgiram os primeiros efeitos, reflexos, das idéias
lançadas no Relatório de Beaurepaire, que continuariam ressonando no território carioca e na
região de São Diogo ainda por muitos anos.

O embelezamento da área de entorno do Canal do Mangue tornou-se um dos focos


para a expansão e consolidação da Cidade Nova, que já começava a sofrer, nas proximidades
do Campo de Santana, com a concentração de um contingente populacional multiforme e
flutuante de livres e libertos que trabalhavam e residiam nos limites do antigo centro.

Se a primeira metade do século XIX foi marcada pela criação e formação da Cidade
Nova, com a aristocracia distribuída pelas grandes chácaras e terrenos parcialmente aterrados,
indicando uma baixa concentração populacional, em contraposição à já crescente densidade
no centro colonial, a virada para os anos 50 indicou uma transformação na forma de
apropriação daquele solo ainda pouco urbanizado. Ou seja, se as áreas pantanosas a oeste do
Campo de Santana, desde o início do século, representaram um obstáculo a ser vencido para a
155

permanência de uma elite que precisava manter-se afastada do centro da cidade, a partir de
1850 tornaram-se os limites mais próximos do mercado que crescia e não conseguia absorver
toda a mão-de-obra disponível na capital imperial.

Fazendo parte da freguesia de Santana, o mangue da Cidade Nova passou a abrigar o


excedente populacional que se deslocava cada vez mais para o Rio em busca de trabalho e
melhores condições de vida, impulsionado pelas novas relações capitalistas de produção,
associados à camada de pequenos comerciantes e a uma incipiente classe média de burocratas
e despachantes. Dessa maneira, à medida que a cidade experimentava uma inédita dinâmica
de crescimento, as localidades adjacentes ao consolidado núcleo urbano passaram a sofrer um
processo de adaptação para atender às demandas sócio-espaciais da época.

Em 1856, a freguesia de Santana, onde estava presente a Cidade Nova e a região do


mangue, já representava cerca de 17% dos habitantes da cidade, sendo considerada a segunda
freguesia urbana mais populosa, apenas perdendo para Santa Rita, com 18%. Ressalte-se que
essa estatística apresentou falhas por conta da ausência de dados relativos à paróquia urbana
de Sacramento – bastante populosa – e às rurais de Jacarepaguá e Ilha de Paquetá, bem como
alguns quarteirões de Santana, Santa Rita, Candelária, Santo Antônio e Engenho Velho. De
qualquer maneira, vale lembrar que a população de Santana já se apresentava bastante
expressiva desde o arrolamento de 1838, empreendido pelo Ministro do Império Bernardo de
Vasconcellos, quando teve impulso a abertura de inúmeras vias na região, enquanto o traçado
das existentes tornou-se mais retilíneo. Os gráficos 05, 06 e 07 indicam a porcentagem da
população distribuída pelas freguesias urbanas, nos arrolamentos de 1838, 1849 e 1856.

Gráfico 05 – População distribuída pelas freguesias urbanas


Arrolamento de 1838

3% Lagoa
8% Engenho
Velho 26% Sacramento

16% Santana

Fonte: representação a partir de


10% Candelária IBGE. Recenseamento da
7% Glória
população do Município Neutro
de 1872. Disponível em:
15% Santa Rita 15% São José <http://biblioteca.ibge.gov.br>.
Acesso em: 18 dez. 2006.
156

Gráfico 06 – População distribuída pelas freguesias urbanas


Arrolamento de 1849

5% Lagoa
10% Engenho 21% Sacramento
Velho

19% Santana 9% Candelária


Fonte: representação a partir de
IBGE. Recenseamento da
população do Município Neutro
13% São José de 1872. Disponível em:
8% Glória
<http://biblioteca.ibge.gov.br>.
15% Santa Rita Acesso em: 18 dez. 2006.

Gráfico 07 – População distribuída pelas freguesias urbanas


Arrolamento de 1856

7% Lagoa 9% Candelária
15% Engenho
Velho 13% São José

11% Santo
Antônio
18% Santa Rita Fonte: representação a partir de
IBGE. Recenseamento da
população do Município Neutro
17% Santana de 1872. Disponível em:
10% Glória
<http://biblioteca.ibge.gov.br>.
Acesso em: 18 dez. 2006.

O antigo território da Cidade Nova, valorizado pela proximidade da família real,


passou a ser visto como o lugar da permanência e acomodação de uma classe que crescia a
largos passos, vítima das condições ainda insalubres das terras alagadiças no entorno do Canal
do Mangue e da aglomeração nos antigos sobrados adaptados em estalagens e casas de
cômodos. Maurício de Abreu (op.cit.) lembra que a rapidez da ocupação da Cidade Nova,
naquela época, foi intensa de tal modo que, em 1865, foi-se necessária a criação da freguesia
do Espírito Santo – desmembrada de Santo Antônio, Engenho Velho, São Cristóvão e Santana
- que tinha jurisdição sobre os atuais bairros do Estácio, Rio Comprido, Catumbi e parte de
Santa Teresa.
157

Nesse contexto de crescimento da massa de habitantes no Rio, as epidemias que


assolaram a capital imperial a partir de meados dos oitocentos tiveram impacto direto nas
regiões mais densamente ocupadas, incluindo-se o Mangue e os sobrados e as casas térreas
que ao longo dele se distribuíam. As medidas ou propostas elaboradas em prol do higienismo
e da necessidade de uma nova ordem sanitária tiveram como principal alvo as habitações de
baixa renda que cresciam vertiginosamente no centro e nos seus arredores.

4.2.5 O Rio e a Cidade Nova à luz da Medicina Social: as ações da Junta de Higiene

“[...] a higiene pública é o termômetro do progresso e da civilização de um povo”


(REGO, 1872, p. 20).

O crescimento populacional e a densificação dos quarteirões centrais rompiam cada


vez mais os limites do antigo núcleo em direção aos seus arredores, para além do campo de
Santana. As ruas estreitas e insalubres passaram a abrigar os escritórios de grandes
companhias e bancos, bem como os edifícios públicos e as moradias particulares, em cujo
entorno já se verificava o aparecimento de estabelecimentos varejistas, armazéns, fabriquetas,
hospedarias, estalagens e cortiços, que alojavam parte dos trabalhadores urbanos e imigrantes.
Nesse ponto, a Cidade Nova tornava-se a opção mais próxima do mercado de trabalho,
conforme visto, apresentando também um crescente número de pequenos estabelecimentos
fabris e um ativo comércio, naquela época em que os transportes urbanos buscavam
modernizar-se. Vale lembrar que ainda predominava na cidade, desde a década de 40, a
circulação do ônibus com dois andares, movido à tração animal e com capacidade para 20
pessoas, permitindo a ligação entre o centro e a Cidade Nova.

Sede agora de modernidades urbanísticas, o centro, contraditoriamente, mantinha


também a sua condição de local de residência das populações mais miseráveis da
cidade. Estas, sem nenhum poder de mobilidade, dependiam de uma localização
central, ou periférica ao centro (grifo nosso), para sobreviver. Com efeito, para
muitos, livres ou escravos, a procura de trabalho era diária, e este era apenas
encontrado na área central (M.ABREU, 1997, p. 42).

Portanto, a segunda metade do século XIX representou para a Cidade Nova um


momento de construção e consolidação de uma estrutura fundiária e de perfis ocupacionais
distintos daqueles verificados desde a sua criação, a partir da chegada da Corte ao Rio de
Janeiro. Ou seja, as chácaras e os sobrados patriarcais das primeiras décadas dos oitocentos
158

sofreram um processo de desvalorização e, em parte, foram substituídos por casas de cômodos


e cortiços, por meio do parcelamento e subaforamento dos terrenos ocupados. A demanda por
novos espaços para abrigar a expressiva parcela de trabalhadores livres e ex-escravos induziu
uma nova forma de apropriação do urbano na freguesia de Santana, que já não agradava mais
a antiga aristocracia residente na área.

A rua e a aglomeração tornavam-se fatores complicadores para a vida dos habitantes


do centro e arredores, já que, à medida que as epidemias foram se sucedendo a partir de 1850,
a discussão sobre as causas e as possíveis curas para as doenças ganhou fôlego e acabou
extrapolando a esfera da Academia, atingindo a opinião pública. Segundo Furtado (2004),
desde 1832 a Sociedade de Medicina deteve o monopólio das questões de saúde, transferindo-
o, posteriormente, para a Academia Imperial de Medicina que atuou como um órgão
repressivo, cabendo a seus membros divulgarem o parecer sobre o aparecimento da febre
amarela em 1849.

Em 1850, por conta da ineficiência da Academia, a Assembléia Geral, com o intuito


de organizar, em caráter permanente, a questão sanitária da capital imperial, aprovou a criação
da Comissão de Saúde Pública, formada pelos médicos Xavier Sigaud e barão de Lavradio, e
da Comissão de Engenheiros, chefiada pelo Inspetor Geral das Obras Públicas do Império,
Jerônimo de Morais Jardim, cuja responsabilidade era a promoção de melhorias urbanas em
prol do saneamento. Nesse sentido, a discussão do problema sanitário da cidade ultrapassava a
esfera dos médicos e higienistas, atingindo os próprios engenheiros. Foi elaborada uma série
de propostas, posturas e regulamentos visando normatizar as moradias e os hábitos da
população, sobretudo na área central da capital e nos seus limites mais próximos.

A Comissão de Saúde Pública deu lugar à chamada Junta de Higiene, encarregada de


elaborar projetos e executar as ações necessárias à defesa da saúde pública no Rio de Janeiro.
Regulamentada em 1851, passou a ser conhecida como Junta Central de Higiene Pública.
Segundo Benchimol (1990, p. 115), “a criação da Junta e as medidas postas em prática no
contexto da terrível epidemia de 1850 demarcam a institucionalização de um novo tipo de
medicina que se vinha constituindo desde os anos 30 e 40 no Brasil”. Era a chamada Medicina
Social como uma nova forma de medicina preventiva. Esse ramo incorporava a geografia,
geologia, história e economia, reunindo estatísticas que lhe permitia organizar um quadro
sobre o movimento da população, analisando o espaço em busca da preventiva localização do
perigo à saúde dos habitantes. Tornando-se uma espécie de braço a serviço da prosperidade e
segurança do Estado Imperial, acabou transformando a questão sanitária numa luta política, a
159

favor da ordem nacional, reivindicando a atuação de uma polícia médica, vigilante e


controladora da vida social na Corte.

Para a Medicina Social, o meio urbano era o local da materialização do perigo,


tornando-se hostil em função da concentração populacional e da sua aparência um tanto
irracional e desordenada. As áreas pantanosas da Cidade Nova representavam os focos de
exalação de miasmas, gases pestilentos que difundiam a doença pelos ares da cidade, e as
habitações pobres da região central e periférica tornaram-se o foco das intervenções da polícia
médica.

Em 1855, o fiscal da freguesia de Santa Rita, por conta da recente epidemia de cólera-
morbo na cidade e da proliferação dos cortiços, apresentou à Câmara um projeto de postura
com normas destinadas a preservar a salubridade, a moralidade pública e a faculdade de
existência dos pobres. De acordo com Benchimol (op.cit.), exigiu-se que os proprietários dos
cortiços cumprissem as determinações da Junta de Higiene, como a proibição da coabitação
com animais e carroças e a limpeza constante das moradias, cloacas e depósitos, para o
recolhimento do lixo e escoamento das águas servidas66. Interessante é notar que além dessas
medidas emergenciais, as posturas exprimiam o desejo de manter uma ordem pública,
exigindo a instalação de portões de ferro para regular a entrada e saída dos moradores, bem
como a emissão de licença da Câmara e da Junta para a construção de novos cortiços.

Em 1860, o Ministério do Império e a Secretaria da Polícia elaboraram um ofício


sobre as medidas a adotar com referência aos cortiços na capital:

Os aluguéis de casas nesta cidade são de tal modo exagerados, que a classe do povo
menos favorecida de fortuna não pode suportá-los, sendo por isso obrigada a tomar
aposento nessas casas, que por aqui existem e a que se dão muito apropriadamente a
denominação de cortiços. Essas casas porém são construídas extravagantemente,
sem observância dos preceitos higiênicos, tendo-se apenas em vista o maior número
possível de aposentos, a fim de produzirem maior renda ao proprietário. Os sérios e
gravíssimos inconvenientes que dali resultam à saúde pública são infelizmente por
demais conhecidos, observando-se dar-se nesses cortiços excessiva mortalidade,
sempre por febres e tísica, o que é devido à umidade, que neles reina, e à falta de ar
puro para se respirar. Enquanto o Governo Imperial a quem incumbe providenciar
sobre o bem-estar do povo, não delibera acerca da incorporação de companhias, que
a se tornem, mediante adiantamento pecuniário por prazo razoável, e concessão de
isenção de impostos por tempo certo, a edificação de habitações cômodas para o
povo, com aluguel fixo, parece-me a propósito ponderar à Vossa Excelência a
conveniência de ser autorizada a Ilma Câmara Municipal a fazer, por sua conta tais
habitações, que seriam alugadas aos artistas e pessoas pobres por garantia módica.
Deste modo, além de estabelecer à Ilma Câmara Municipal uma renda segura,

66
Uma das sugestões do fiscal foi o fornecimento, pela Câmara, de vasilhames específicos para o recolhimento das águas
servidas e dos resíduos sólidos, bem como a sua remoção para os locais apropriados.
160

contribuiria, e é esse o fim principal, para melhorar a sorte do povo, que já não pode
pagar o aluguel das espeluncas em que vegetam, dos imundos cortiços, e concorreria
eficazmente para garantir a salubridade pública, que de dia a dia vai piorando
(Documento da Secretaria de Polícia da Corte, 1860, in AGCRJ, seção de
manuscritos, códice 41-3-36).

Em 1866, o médico vereador José Pereira Rego apresentou um outro projeto de


postura à Câmara Municipal, também com o intuito de impedir a difusão dos cortiços no
perímetro da cidade velha e em suas adjacências, estabelecendo um rigoroso controle e a
padronização do conjunto arquitetônico. Vale notar que essa proposta privilegiava dois
aspectos primordiais, a salubridade - a higiene pública - e o embelezamento da cidade, por
conta da influência ou ressonância das concepções urbanas Haussmanianas de remodelação da
capital francesa. Os artigos instituíam normas, dentre as quais estavam a proibição para a
construção de casas térreas ou assobradadas nas ruas Nova de São Pedro, do Aterrado e
Miguel de Frias, na Cidade Nova; as medidas das casas, que deveriam ser dadas em palmos e
as regras para o dimensionamento dos cortiços, incluindo-se a sua altura mínima de dois
andares. O projeto também proibia a reconstrução de cortiços nas ruas e praças da área
estipulada, incluindo-se a Praça Onze de Junho e o Largo do Machado, que, naquela época,
assinalavam os pontos já alcançados pela malha urbana carioca.

Os anos 70 marcaram o retorno da onda de epidemias no Rio de Janeiro. A cólera e a


febre-amarela deixaram um saldo de 10.214 mortos67, obrigando a Junta Central de Higiene
Pública a elaborar um ofício, em 1873, indicando uma série de medidas emergenciais visando
à salubridade da capital. Dentre elas estavam a regularidade na limpeza pública, a remoção de
lixo e, sobretudo, agir com maior eficácia e fiscalização no estado de manutenção e
preservação dos cortiços. Também foram lançadas recomendações quanto à não aglomeração
de pessoas em uma única residência, com a finalidade de impedir a insalubridade do ar e a
proliferação de doenças.

Dentro daquela situação caótica, assumiu o cargo de Ministro dos Negócios do


Império João Alfredo Correia de Oliveira, trazendo uma série de boas impressões a respeito
de obras de melhoramentos testemunhadas por ele no Pará, onde fora Presidente de Província,
e em sua cidade natal, Recife. Em 1872 apresentou um plano de ajardinamento do Campo da

67
Dados obtidos em: BRASIL. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império do ano
de 1872. Ministro (João Alfredo Correia de Oliveira). Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1873. p. 14-15.
161

Aclamação, cujo objetivo principal era conferir àquela área da cidade um ar mais salubre e
proporcionar um clima mais cálido.

Naquela época, a freguesia de Santana, cuja soma de habitantes correspondia a 17,3%


das paróquias urbanas, concentrava a maior parte das atividades manufatureiras e artesanais
do Rio de Janeiro, possuindo um ativo comércio varejista. Local de população de baixa renda
e em sua maioria de profissão desconhecida, a Cidade Nova caminhava para se consolidar
como o lugar com maior número de cortiços na capital, cerca de 154. O gráfico 08 representa
a quantidade de cortiços em Santana, em relação às demais freguesias urbanas, na década de
70.

Gráfico 08 – Quantidade de cortiços nas freguesias urbanas – década de 70 do século XIX

5% São Cristóvão 5% Sacramento


10% Espírito Santo 7% São José

8% Santa Rita

11% Santo Antônio

7% Lagoa
23% Santana

7% Engenho Velho

17% Glória

Fonte: Adaptação de - Brasil. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império,
apresentados à Assemblea Geral da 1º Sessão da 14º Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império.
Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1869. Apud LOBO (1978).

4.3 TRANSFORMAÇÕES E DECLÍNIO DA CIDADE NOVA

4.3.1 A nova dinâmica fundiária: os sucessivos parcelamentos de meados dos


oitocentos

A partir de meados dos oitocentos, a Cidade Nova experimentou um processo


acelerado de ocupação das suas terras, quando grandes terrenos foram parcelados e outras
áreas aterradas para permitir a expansão da malha viária. Os aforamentos que se seguem
162

apontam a dinâmica em que surgiram novos proprietários e foram aumentando o número de


imóveis registrados, bem como se deu uma mudança do perfil e tipo habitacionais naquela
localidade.

É importante dizer que, para a realização desse estudo, foram utilizadas as


informações disponíveis na seção de manuscritos e nos extratos da biblioteca do AGCRJ, bem
como aquelas divulgadas no trabalho de Cavalcanti (1878), sobre a nova numeração dos
prédios do Rio de Janeiro, que serviram de base apenas para as décadas de 60 e 70. Os dados
primários obtidos nos manuscritos do Arquivo para estas duas últimas décadas não trazem a
totalidade dos imóveis que estão presentes nos escritos de Cavalcanti. Dessa maneira, as
comparações entre as décadas de 50 e 60 devem contar com uma margem de erro, em função
da escassez de manuscritos em relação às fontes secundárias, o que pode gerar uma diferença
na proporção dos imóveis para esses dois períodos.

Os aforamentos na década de 50

A rua do Aterrado, segundo as informações obtidas no AGCRJ para os anos 50,


apresentou um crescimento de 18,75% do número de imóveis em relação à década anterior e
um incremento de 27 novos foreiros na área. Destaque para o engenheiro Eduardo Price –
responsável pelas obras iniciais da Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II - que
obteve o aforamento de um terreno de 12 braças de frente e que, ainda nos anos 50, o passara
a Guilherme Gelbert Genty, para a construção da dita estação.

Ressalte-se que, em maio de 1850, a Câmara Municipal aprovou o parecer da portaria


da Secretaria de Estado dos Negócios do Império, que permitia o estabelecimento de
chiqueiros no lado esquerdo do Aterrado, da mesma maneira que aqueles autorizados
anteriormente para o seu lado direito. Essa medida demonstra de certa maneira, a imagem
ainda desvalorizada dos terrenos pantanosos situados entre a rua do Aterrado, Nova do Conde
e do Bom Jardim, que não tinham sido completamente aterrados. A ausência de ocupação
nesse trecho contrastava com o aumento gradativo da densidade entre os quarteirões da Praça
Onze de Junho e do Campo de Aclamação, que se tornaria mais nítida em meados dos anos
60.
163

Entre 1852 e 1853, foram cedidos ao industrial68 Irineu Evangelista de Souza (barão
de Mauá), os aforamentos de terrenos anteriormente de José de Oliveira Fernandes, nº 58,
com cinco casas térreas e 58 braças que se estendiam até a rua de São Diogo e, de Francisco
José de Assis, nº 60, com seis braças de frente. Obtida a concessão, em 1851, para executar os
serviços de iluminação pública da cidade do Rio de Janeiro, Mauá, em 1854, criou a
Companhia de Iluminação a Gás naqueles terrenos, entre a rua do Aterrado, de São Diogo, a
travessa do Gás e a rua do Porto. O contrato determinava a construção da fábrica de gás
próxima ao centro e a instalação de canalizações em perímetros determinados, o que mudaria
radicalmente os hábitos e costumes da população da época. Três anos mais tarde, a
Companhia já iluminava a cidade através de 3.027 lampiões públicos, 3.200 residências e três
teatros.

Figura 15 – Companhia de Iluminação a Gás do barão de Mauá - 1854

Fonte: <http://flog.digizap.com.br/rioantigo>. Acesso em: 27 abr. 2006.

Em 1855, Barros & Irmão obtiveram o aforamento do terreno nº 38, de três braças de
frente e 16 de fundos, cujo foreiro na década de 40 era José Antunes Baptista. Nesse mesmo
ano, foi solicitado o Termo de medição e avaliação de um terreno de marinha, com quatro
braças e oito palmos de frente e 18 de fundos, ocupado por um prédio pertencente a Francisco
Gonçalves de Moura. Esse terreno confrontava com as terras de Francisco José da Costa e
Silva, Manoel Teixeira da Motta e com o Aterrado.

68
Irineu Evangelista de Souza iniciou seus negócios em 1846, com a montagem de uma fábrica em Niterói. Empregava mais
de mil operários que produziam navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, armas e
tubos para encanamentos de água.
164

Em 1856, Bernardo Gomes Braga conseguiu o aforamento de um terreno com o


sobrado nº 40A, pertencente a Francisco José da Costa e Silva. Carolina Augusta de Miranda
Teixeira, única herdeira de Agostinho Pinto de Miranda, solicitou o Termo de medição e
avaliação de seu terreno de mangue com 12 braças de frente e 59 de fundos, que confrontava
com a rua de São Diogo, do Aterrado e da Correção. Castro & Pinto também requisitaram o
Termo de medição e avaliação das suas terras de marinha com quatro braças de frente e 18 de
fundos, cujos limites eram os terrenos de Eleutério José Zamith, de Manoel José Fernandes de
Macedo, de Barros & Irmão e a rua do Aterrado.

A rua Nova do Conde, segundo os registros apontados para a década de 50, obteve
um aumento da ordem de 39,3% do número de terrenos se comparado aos anos 40. Surgiram
39 novos foreiros e já era possível verificar a presença de imóveis isolados e próximos a Casa
de Correção, no sentido do antigo Barro Vermelho. Um exemplo era o terreno nº 196, com
cerca de 34 braças de frente e 25 de fundos, que estava sob a posse do industrial e deputado
Theophilo Benedicto Ottoni. Havia também os imóveis do conde de Paraty e do senador
Bernardo de Vasconcellos que, desde a década de 30, estendiam-se do número 114 ao 122,
pelo lado par da rua Nova do Conde e com fundos para as terras ainda alagadiças alimentadas
pelos filetes de água vindos do antigo Saco de São Diogo.

No lado ímpar da rua, destacavam-se os terrenos de Matheus José Nunes, que seguiam
do número 97 ao 103, no quarteirão entre a rua Formosa e a das Flores e com fundos para o
morro do Senado. Havia ainda a ilustre presença do vereador Francisco de Paula Mattos69
com os terrenos nº 111 ao 121, que seriam aforados na mesma década a Antônia Maria da
Encarnação, Maria Luiza da Conceição e Isaias José Cavalcante.

Vale destacar também, João Manoel Barbosa de Barros, com a posse de quatro
imóveis localizados no trecho compreendido entre as ruas Formosa e do Areal e o barão de
Bagé (brigadeiro Paulo José da Silva) que aforava um terreno próximo ao Campo de
Aclamação.

Ressalte-se que, em 1850, Thomaz Antonio de Araújo Lobo solicitou a carta de


aforamento de um terreno situado entre a rua Nova do Conde e a do Senado que nos anos
seguintes seria motivo de disputa judicial, afirmando que o havia adquirido pela partilha
amigável à sua mulher Thereza Amélia de Oliveira, neta de Antonio Manoel de Freitas. Essas

69
Em homenagem ao vereador foi aberta a rua de Paula Mattos, que seguia da Nova do Conde em direção ao Catumbi.
165

terras eram fruto da herança de Maria Arcângela de Macedo e pertenciam à antiga Chácara da
Lagoa da Sentinela, conforme visto.

A rua Formosa, como apontam os dados levantados para a década de 50, registrou
um aumento de 18,75% na sua quantidade de imóveis, ou seja, dos 32 terrenos distribuídos
nos anos 40 surgiram apenas seis a partir de 1850. A maior concentração localizava-se nos
trechos próximos à rua do Areal e a Nova do Conde.

Cerca de 19 novos nomes de enfiteutas foram identificados na documentação


existente, destacando-se entre eles o médico Pedro Fortes Marcondes Jobim70, que aforara o
imóvel nº 87, pertencente a Francisco de Borja Galvão. Ressalte-se também o Dr. Francisco
Leocádio de Figueiredo que continuaria foreiro de vários terrenos, subaforando-os até os anos
70.

A rua do Areal apresentava para a década de 50 apenas três novos enfiteutas e,


apenas consta o registro de um único novo imóvel na área, o de nº 21, sob o domínio de José
Luis dos Santos Teixeira.

Em 1851, foi expedido um ofício do secretário da Câmara sobre o aforamento do


terreno da chácara em que se localizava o Paço do Senado, incluindo-se um requerimento para
o pagamento dos foros atrasados que o governo do Império devia à Câmara desde 1825. O
ofício ressaltava que em todas as transações que envolveram aquelas terras, foi reconhecido o
domínio direto da municipalidade.

Em 1858, Antonio Xavier da Rocha apresentou um requerimento para o pagamento do


laudêmio pela arrematação do prédio nº 11 que fora de Carlos Corrêa Taveira. O mesmo fez
Amélia Gomes Ferreira pela arrematação dos terrenos nº 25 e 25A, na execução contra
Antonio Alves Meira. Ainda no mesmo ano, João Chrispim Francisco comprou o nº 4B de
Manoel Joaquim Ferreira da Silva e vendeu a Manoel Ferreira dos Santos o nº 18.

A rua de São Diogo dispunha de cerca de 87 terrenos durante a década de 50, ou seja,
houve um crescimento significativo na quantidade de imóveis, que atingiu a marca de 124%,
em relação aos anos 40. Ressalte-se também o aparecimento de novos foreiros, cerca de 113,
número bastante superior àquele verificado anteriormente.

Em 1853, foi demolida a antiga igreja de Santana, situada atrás do campo, para a
formação do largo frontal ao edifício que estava sendo construído para abrigar a Estação

70
Pedro Fortes Marcondes Jobim foi um dos fundadores da Conferência de São José - primeira unidade vicentina fundada em
território brasileiro, no Rio de Janeiro, em 04 de agosto de 1872 - que daria início à Sociedade de São Vicente de Paulo.
166

Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II. A chácara com casa nº 66K, com 140 braças,
pertencente a Antonio Fernandes Pereira Vianna, remanescente da antiga Chácara de São
Diogo, foi vendida a Eduardo Price, que na mesma década a vendeu à Companhia da Estrada
de Ferro. Vale lembrar que outros terrenos da Estrada de Ferro, na área compreendida pelas
ruas de Santana, São Diogo e do Príncipe, eram fruto do desmembramento de duas chácaras
que tinham pertencido a Manoel José da Costa, no início dos oitocentos.

Em 1855, foi aforada parte do terreno com benfeitorias e prédios nº 60 e 64,


pertencentes à Felicidade Perpétua de Jesus, herdeira do comendador José Justino Pereira de
Faria e, foram executadas obras para o fechamento do terreno de propriedade de Antonia
Luiza de Macedo e seu filho Antonio Fernandes Pereira Vianna.

Em 1857, o engenheiro e futuro deputado Christiano Benedicto Ottoni solicitou o


aforamento do terreno em que estava edificada uma casa, de sua propriedade, por compra
feita a Joaquim Braz Pereira da Silva e de um terreno devoluto vizinho a ela. Este último tinha
sido destinado ao prolongamento da rua Velha de São Diogo, que não fora executado por
conta da passagem das linhas de trem da Estrada de Ferro Central do Brasil. Naquela data, o
Dr. José Militão da Rocha e o conselheiro Jobim reclamaram contra o pedido de Ottoni,
afirmando serem os enfiteutas da propriedade. O engenheiro Haddock Lobo expediu um
parecer alegando que a municipalidade mandou aforar apenas o terreno com a casa a Ottoni,
enquanto o devoluto seria restituído aos outros dois foreiros.

Durante os anos 50, José de Oliveira Fernandes, antigo administrador das terras de
Polucena Luiza de Britto, continuava destacando-se como o grande proprietário da Cidade
Nova, com um total de 11 imóveis aforados a diversos nessa mesma década. Os documentos
ainda apontavam para a existência de figuras conhecidas da época, como o conselheiro José
Martins da Cruz Jobim, que detinha a posse de três terrenos, sendo um deles o nº 120, com
moradas de casas; o capitão Hilário Mariano da Silva, com uma propriedade de 12 braças de
frente e 19 de fundos; o Dr. Pedro Fortes Marcondes Jobim, com terreno de quatro braças de
frente e 30 de fundo; Christiano Benedicto Ottoni, com o domínio útil da citada casa com três
braças; Antonio de Oliveira Fernandes, com um total de sete terrenos com várias casinhas; e o
próprio barão de Mauá, com suas terras que se voltavam para a rua de São Diogo e para a do
Aterrado, conforme visto.

O mapa 22 mostra de forma esquemática a estrutura das terras da Cidade Nova durante
a década de 50 do século XIX e a localização do ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil,
que partia do início da rua de São Diogo e seguia em direção a São Cristóvão. Ressalte-se que
167

os prédios e casas existentes, durante os anos 40, no quarteirão da Estação Central foram
demolidos e seus terrenos incorporados aos bens da Companhia.

Mapa 22 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 50 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.

Os aforamentos na década de 60

A rua do Aterrado, conforme os dados primários obtidos no AGCRJ para a década


de 60, dispunha de um total de 115 terrenos, equivalendo a um crescimento na margem de
204% em relação ao período anterior. Em função da ausência de padronização e da
precariedade de alguns documentos encontrados no Arquivo, serão empregadas nesta análise
as informações mais completas de Cavalcanti (1878), que revelam a existência de 211
imóveis para a rua nos anos 60.
168

Entre os principais foreiros destacavam-se o Dr. Pedro Fortes Marcondes Jobim, com
os terrenos nº 79 e 81; José Joaquim Ferreira da Lima e Silva, com dois terrenos de 22 braças,
comprados de José Carlos Mayrinck e da Companhia de Iluminação a Gás; Francisco Gê
Acaiaba de Montezuma (visconde de Jequitinhonha)71, com os nº 36, 38, 40, 46 e 50 e os
terrenos nº 44 e 48 que pertenceram a Polucena Luiza de Britto; André Cordeiro de Araújo
Lima, com quatro terrenos com casas térreas edificadas; Augusto Monteiro Vieira, com três
casas térreas contíguas; Pedro Bonifácio Gomes Ferreira, também com três casas térreas
contíguas; Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos, com três sobrados e uma casa térrea contígua;
João Machado da Costa, com a posse de três casas térreas e um sobrado; Pio Antônio de
Souza, com duas casas térreas e um sobrado.

A Santa Casa de Misericórdia também aparecia como uma das grandes proprietárias
naquela localidade, com a posse de 14 terrenos ímpares contíguos, que se estendiam do nº 1
ao 27, entre os quais cinco possuíam casas térreas e o restante, sobrados. A Companhia do
Gás tinha o domínio dos terrenos pares compreendidos no quarteirão ao lado da rua do Porto,
do nº 64 ao 78, nos quais estavam edificados sobrados. Antônio de Oliveira Fernandes
destacava-se como o maior detentor de terras na rua do Aterrado, com 21 terrenos pares
contíguos, localizados nas proximidades da Ponte dos Marinheiros, entre os quais apenas um
abrigava sobrado.

O terreno com casa térrea nº 31, que pertencera a Campos e Oliveira, foi subaforado a
Francisco Domingues dos Santos - a quarta parte com quatro quartos - e, ainda nesta década, a
Agostinho Ribeiro Pinheiro, diante das mesmas condições. Um dos terrenos de Antônio de
Oliveira Fernandes também foi subaforado, a Manoel Francisco Pimentel, a Antonio José
Teixeira Bessa e a Gregório Vidal. Constituía-se naquele período, uma dinâmica de
parcelamento e subaforamento que impulsionava a formação de habitações reduzidas e típicas
das classes menos abastadas da sociedade carioca da época. Vale lembrar que, desde 1855, a
Câmara Municipal instituíra uma postura que estabelecia a proibição para a construção de
novos cortiços sem licença, para que fossem resguardadas as condições higiênicas das
moradias, conforme as normas da Junta de Higiene Pública. De qualquer maneira a
construção e a adaptação para esse tipo habitacional não cessava de crescer na Cidade Nova,
nas suas principais ruas.

71
Francisco Gomes Brandão nasceu na Bahia em 1794 e faleceu no Rio de Janeiro em 1870. Na época da Independência
adotou o nome de Francisco Gê Acaiaba de Montezuma, recebendo em 1834 o título de visconde de Jequitinhonha.
169

A rua do Conde D’Eu – antes Nova do Conde -, de acordo com as informações do


AGCRJ, dispunha, nos anos 60, de um total de 93 terrenos que, se comparado ao da década
anterior, representaria um crescimento de 19% na ocupação da área. Ressalte-se que os dados
de Cavalcanti (op.cit.) apontam para a presença de 333 imóveis distribuídos ao longo da rua,
número que se aproxima mais do mapeamento realizado pelo CECULT/IFCH/UNICAMP,
que para a década de 60, já indicava uma densa ocupação em ambos os lados da rua.

Em 1860, foi feita uma escritura pública de cessão de traspasse de direito do terreno,
com 43 braças de frente, situado entre as ruas do Senado e Nova do Conde, pertencente a
Thomaz Antonio de Araújo Lobo, que obtivera a carta de aforamento do mesmo na década
anterior, para a Imperial Companhia Chimica. A carta de aforamento do imóvel apenas
passaria à Companhia na década de 80.

Um dos antigos terrenos do conde de Paraty, o nº 108 – com 14 braças de frente -,


passou ao domínio útil do tipógrafo Eduardo Laemmert72 e, nos anos 60 era formado por dois
telheiros e 14 quartos, enquanto aquele de nº 122 continuava sob a posse do senador Bernardo
Pereira de Vasconcellos.

Entre os principais proprietários dos anos 60, destacavam-se Luiz Alves de Lima e
Silva (duque de Caxias)73 com a posse de quatro imóveis térreos no lado ímpar da rua, voltado
para o morro do Senado; a família Soares de Miranda, com sete casas térreas contíguas,
também no lado ímpar, no quarteirão próximo ao campo; João Bernardes e seus quatro
imóveis contíguos, sendo um deles, o de nº 85A, estalagem com 17 quartos; Maria do Carmo
Rodrigues Fortes, com quatro sobrados contíguos; Antônio e Francisco Bento Gonçalves, que
juntos eram foreiros de quatro casas térreas; José Bernardino Teixeira, com a posse de seis
casas térreas e um sobrado contíguos; Carlos Fleiuss e suas oito casas térreas, no lado ímpar
próximas à rua do Bom Jardim; Fernando de Castiço, com quatro casas térreas; o conselheiro
Zacarias de Góes e Vasconcellos e seus três sobrados, vizinhos à Casa de Correção; José
Antonio Lopes de Couto e suas cinco casas térreas; Manoel Pereira de Souza Barros, com seis
terrenos, sendo três deles edificados com casas térreas; Joaquim Pinto Leite e seus sete
terrenos pares contíguos e com sobrados edificados; José Bernardo de Macedo Alves, com
quatro casas térreas; João José dos Reis e seus dois sobrados e três casas térreas; e José
72
Eduardo Laemmert chegou ao Rio de Janeiro em 1828, vindo de Paris. Fundou na capital da Corte a Livraria Universal e
cinco anos mais tarde, em sociedade com seu irmão Henrique formou a firma E.& H. Laemmert, com sede na rua da
Quitanda, n° 77. Em 1833 lançou o primeiro Almanak Laemmert, que se tornou instrumento de consulta para o conhecimento
do passado comercial, financeiro e social brasileiro do século XIX e início do XX.
73
Em 1862, Luiz Alves de Lima e Silva foi graduado Marechal-do-Exército. Em 1863 assumiu a função de senador e em
1869, teve seu título nobiliárquico elevado a Duque, mercê de seus relevantes serviços prestados na guerra contra o Paraguai.
170

Leandro de Souza, com quatro casas térreas e apenas um sobrado; Francisca Eliza de Azevedo
e a posse de quatro casas contíguas;

Vale lembrar também a Santa Casa de Misericórdia que, além dos imóveis na rua do
Aterrado, possuía os de nº 71 e 73 na Nova do Conde; Mauá Mac Gregor & Cia, que possuía
o imóvel nº 83, no qual funcionava uma fábrica de cerveja; Antonio Pereira de Souza Barros
(futuro barão do Engenho Novo)74, que possuía 20 terrenos, entre os quais, 17 tinham
edificadas casas térreas e apenas três, sobrados; a família Freitas Paiva e seus cinco sobrados
e 13 casas térreas próximas à rua do Bom Jardim; a família Almeida Brito e suas seis casas
térreas; e o visconde de Piracinunga, com três casas térreas para os lados da Casa de
Correção.

Os imóveis nº 236A e 229 eram Próprios Nacionais, sendo o primeiro uma das caixas
d’água da cidade e suas dependências e, o segundo a Casa de Correção.

Em 1867, a Fazenda Nacional, por seu procurador, solicitou a demarcação da linha


divisória entre a chácara em que fora construída a Casa de Correção e, seus terrenos
confrontantes, ao lado do antigo largo de Mata-porcos. Foi expedido um aviso do Ministério
da Justiça e um ofício do diretor da Casa de Correção solicitando providências para evitar a
invasão constante dos terrenos da penitenciária pelos moradores vizinhos.

A rua Formosa, pelos escassos e não padronizados dados disponíveis no AGCRJ,


indicava um total de 41 terrenos para a década de 60, com um crescimento apenas de 8% do
número de imóveis em relação aos anos anteriores, o que provavelmente não traduzia a
realidade daquela época, quando houve um sensível povoamento da rua, principalmente no
trecho entre as ruas do Aterrado e Nova do Conde. Portanto, as informações aqui analisadas
continuam sendo as disponibilizadas nos trabalhos de Cavalcanti (op.cit.) e do
CECULT/IFCH/UNICAMP, que apontam para um total de 226 imóveis na rua.

Diferentemente do que ocorrera para as ruas do Aterrado e Nova do Conde, na rua


Formosa da década de 60 não havia um número significativo de proprietários com mais de um
imóvel e de figuras ilustres do Segundo Reinado, que tinham a posse de terrenos nos
principais eixos longitudinais da Cidade Nova. De qualquer maneira, deve-se apontar como
principais foreiros Fileta Rabello de Mendonça, com três casas térreas ímpares e contíguas,
situadas no quarteirão entre as ruas Nova do Conde e do Areal; Gregório José de Abreu,
também com três casas térreas ímpares e contíguas; Emília Julieta de Araújo Teixeira e suas

74
Antonio Pereira de Souza Barros foi agraciado com título de barão por decreto de 04.10.1876.
171

três casas térreas não contíguas; Francisco Antonio Ferreira e seus três terrenos com casas;
Manoel José Pinto Guimarães, também com três casas térreas; Domingos de Siqueira Vianna,
com quatro terrenos além da rua de São Diogo; Domingos José Dias Braga e suas três casas
térreas nesse mesmo quarteirão; Dr. Francisco Leocádio de Figueiredo, foreiro desde a década
de 30 e com um total de nove terrenos, dentre os quais apenas dois possuem sobrados; João
Lopes Ferreira Cabral e João Bernardes, cada um com 13 casas contíguas; Joaquim Nogueira
Guedes e seus quatro terrenos edificados e contíguos, no quarteirão entre as ruas do Areal e
do Sabão da Cidade Nova; Rita de Carvalho Moraes, com quatro imóveis, dentre eles apenas
um sobrado, com quartos para alugar; Anna Michaela de Vasconcellos Tavares e suas dez
casas térreas contíguas; e a família Pinto Filgueiras, com a posse de oito imóveis térreos.

Entre os ilustres proprietários, marcavam presença o barão de Gurupy – membro da


família maranhense Belfort, agraciado com o título nobiliárquico em 11.12.1855 -, com
quatro imóveis, entre os quais três eram sobrados; o visconde Jequitinhonha, antigo foreiro e
em cujos dois terrenos estavam edificados dois sobrados em cada um; e Irineu Evangelista de
Souza – antigo barão e naquela época já com o título de visconde de Mauá – que detinha a
posse de um único sobrado.

A rua do Areal dispunha de escassa documentação no AGCRJ, conforme dito


anteriormente, portanto o número de apenas cinco imóveis, para a década de 60, não traduzia
a dinâmica existente na área. Vale considerar a título de análise as mesmas fontes secundárias
utilizadas para a rua Formosa, que indicam um total de 74 imóveis ao longo da rua.

Nos anos 60, pode-se dizer que grande parte dos terrenos, cerca de 27 casas térreas,
estava sob a posse da importante família Souza Barros, de origem portuguesa e cujo principal
membro foi o barão do Engenho Novo, encontrando-se no quarteirão entre a as ruas Formosa
e Nova do Conde. Havia ainda as cinco casas térreas contíguas de Emília Julieta de Araújo –
foreira também de imóveis na rua Formosa -, nesse mesmo quarteirão; os três imóveis de José
Antonio Fernandes de Lima, entre eles dois sobrados e, os 11 terrenos de Manoel Ferreira dos
Santos Porto, cuja maioria eram os fundos de prédios da rua Formosa.

A rua de São Diogo, para os anos 60, tinha o registro de apenas 62 imóveis no
AGCRJ, contrastando com as informações de Cavalcanti (op.cit.), que indicavam um total de
254 e traduziam com maior fidelidade a dinâmica fundiária local.

De forma semelhante ao ocorrido nas ruas do Aterrado e Nova do Conde, era possível
destacar uma grande quantidade de proprietários de dois ou mais imóveis, dentre eles José
172

Joaquim Machado, com três casas térreas e um sobrado; José Romão Paes e seus três
sobrados contíguos; Francisco José Gonçalves da Silva,com a posse de quatro casas; Carlos
Wallega, com cinco casas térreas; Thereza Maria de Oliveira Duarte e suas edificações
térreas, sendo uma delas formada por dois telheiros e cinco quartos nas proximidades da
Estação Central da Companhia Ferro Carril Fluminense; Maria Thereza e Augusto Daveau e
seus quatro imóveis térreos; a família Pinto Filgueiras – também proprietária de terrenos na
rua Formosa -, com a posse de seis imóveis térreos; José Carneiro Dias Guimarães e suas sete
casas térreas contíguas e situadas no lado ímpar da rua nas proximidades da Companhia de
Gás; Manoel Borges Monteiro de Miranda e suas três casas térreas, tendo uma delas 32
quartos; o antigo foreiro Antônio de Oliveira Fernandes, que ainda detinha o domínio de dez
terrenos com casas térreas edificadas; o conselheiro e português Leonardo Caetano de Araújo,
com dez casas térreas contíguas, para os lados da Ponte dos Marinheiros; Antônio Ribeiro da
Cunha e suas duas casas e um sobrado; Felicidade Perpétua de Jesus, antiga foreira, com seus
seis terrenos que nos anos seguintes passariam a ser numerados pela travessa de Dona
Felicidade; José P. de Siqueira e suas quatro casas contíguas; José de Oliveira Fernandes, que
ainda tinha a posse de três casas e um sobrado, vizinhos aos terrenos de Antonio de Oliveira
Fernandes; Felipe Francisco de Lima, com três casas – uma delas com 14 quartos nos fundos -
e um sobrado; Dr. José Martins da Cruz Jobim, com três casas – 18 quartos no fundo do
terreno - e um sobrado; Manoel Rodrigues Ventura, também com três casas e um sobrado;
Antônio Gonçalves da Silva e suas quatro casas térreas contíguas; Manoel Braz da Cunha,
com a posse de três imóveis térreos; Antonio José da Costa e Silva e suas quatro casas e um
sobrado; Antonio Manoel de Menezes e suas sete casas térreas; e Belarmino de Sá Carvalho e
João Baptista Coelho, cada um com três imóveis térreos.

É interessante notar que a antiga Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia


de Santana ainda era foreira de uma casa térrea com cinco quartos, próxima à Estação Central
da Estrada de Ferro Dom Pedro II. Naquela época já era possível identificar vários exemplos
de casas que dispunham de uma grande quantidade de quartos para aluguel, transformando-se
em habitações mais populares, algumas delas consideradas cortiços e de propriedades
fracionadas para abrigar uma ou mais famílias diferentes. Um exemplo era o terreno de 12
braças de frente e 40 de fundos que fora parcelado e aforado simultaneamente a Manoel
Francisco Pimentel, Antonio José Teixeira Bessa e Gregório Vidal, bem como o imóvel com a
casa térrea de nº 31, fracionada em quatro parcelas, cada uma com quatro quartos disponíveis.
173

O mapa 23 apresenta de forma esquemática a estrutura fundiária da Cidade Nova


durante a década de 60 do século XIX.

Mapa 23 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 60 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em
História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP). Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de
Janeiro entre 1870 e 1930. Relatório final encaminhado em 2005. In: http://www.unicamp.br/cecult/mapastematicos/index.html. Acesso
em 01 fev. 2007.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.

Os aforamentos na década de 70 – até 1875

A rua do Aterrado, desde 1869, foi denominada Senador Eusébio, cujo nome
estendera-se, em junho de 1874, ao seu prolongamento, a rua de São Pedro da Cidade Nova.
Portanto, o eixo que seguia do Campo de Santana até a Ponte dos Marinheiros passou a ser
conhecido como rua Senador Eusébio e seus imóveis receberam nova numeração.

Considerando-se as informações de Cavalcanti (op.cit.) para a década de 70, a rua


dispunha de 224 imóveis, o que representava um aumento de 6% em relação aos anos 60.
174

Pode-se dizer que ela teve seu ponto máximo de crescimento durante a década de 60, e que os
anos seguintes apenas ratificaram a consolidação de uma nova forma de apropriação daquele
território. A partir de 1870, toda a sua extensão já se apresentava densamente ocupada75.

Na década de 70, era muito comum a solicitação de requerimento para a comprovação


de antigos aforamentos, por conta da disputa do domínio útil dos terrenos por pessoas
diferentes. Como exemplos podia-se citar o pedido do Dr. Antonio Alves Rego, que alegava a
doação de um terreno - que fazia parte da área destinada em 1815 para os Armazéns da
Fazenda Real -, feita por dom João VI, a seu avô Antonio Pedro Teixeira e; Maria Rita de
Sampaio França Leite e irmão que exigiam a comprovação do aforamento de um terreno,
doado em 1814 por Carta Régia, herdado de seu pai, o coronel Antonio Manoel da Silveira
Sampaio.

Como grande proprietária ainda se destacavam a Santa Casa de Misericórdia, com um


total de 11 imóveis localizados junto ao Campo de Santana, dentre os quais seis eram
assobradados; João Machado da Costa, que além dos seus quatro imóveis anteriores passou a
contar com outros três sobrados contíguos; e Antonio de Oliveira Fernandes que contava com
cerca de 20 terrenos situados entre a rua de São João e a travessa dos Ferreiras, a sua maioria
contendo casas térreas. Ressalte-se também a foreira Anna Eufrásia Duarte, que na década de
60 dispunha de um único terreno que nos anos 70 foi parcelado e deu origem a outros quatro
imóveis situados nas proximidades do campo, sendo todos formados por casas térreas, à
exceção do nº 2, um sobrado com entrada para 29 quartos; e o português Manoel Gonçalves
Pereira, o barão de Maracanã, com a posse de seis imóveis, dentre os quais apenas dois eram
assobradados e o restante casas térreas – duas com quatro quartos e uma com 16.

Além de parcelamento de terrenos, conforme ditos anteriormente, era possível


identificar nos anos 70 alguns remembramentos, como eram os casos dos números 34 e 36 de
Castro & Pinto que deram origem ao nº188, onde foi edificado um sobrado; os dois terrenos
de Leocádia Rosaura da Silva Vianna em que foi edificada uma casa térrea; e alguns terrenos
da Santa Casa de Misericórdia. Outro fato importante foi o crescimento das habitações que
dispunham de grande número de quartos, provavelmente para aluguel, incrementando a
dinâmica de consolidação de habitações destinadas às parcelas menos abastadas da sociedade
da época, como a casa térrea de Pedro José Fernandes, com 24 quartos; as de Atílio Bosseli e

75
A rua do Aterrado não dispunha de numeração ímpar por conta da construção do Canal do Mangue em um de seus lados,
até os limites da Praça Onze de Junho. Apenas a rua de São Pedro da Cidade Nova apresentava ambos os lados ocupados e
numerados em par e ímpar.
175

Antônio José Gonçalves, cada uma com 23 quartos; e as de José Joaquim de Almeida e João
Francisco da Silva Guetim, cada uma com 14 quartos.

A rua do Conde D’Eu, de acordo com a relação da nova numeração dos prédios da
cidade para a década de 70, apresentava 329 imóveis. Ressalte-se que surgiram 13 novos
imóveis e a ocupação dos terrenos livres já atingira seu ápice, e o que se percebia era o
fracionamento daqueles existentes, impulsionando cada vez mais o processo de arrendamento
e subaforamento de cômodos e partes de imóveis, que acabavam transformando-se em
habitações coletivas. Era o caso da estalagem nº 136, de Francisca Rita Malta Costa, em que
eram alugados quartos a diferentes famílias. Outro exemplo foi o traslado de escritura de
venda de parte das casas e chácara, sob o nº 212, efetuada por Henrique José de Araújo e
outros ao barão de Piracinunga, em 1873. Pode-se dizer que essa dinâmica, naquele período,
repetira-se para a Cidade Nova como um todo, em cujo território já se registrava uma grande
densidade populacional.

Vale dizer que, de acordo com os documentos pesquisados no Arquivo Nacional, para
os anos 70 havia vários registros de processos relativos às disputas territoriais em função dos
antigos problemas de demarcação dos limites de propriedades na Cidade Nova. Como
exemplo, em 1875, a Imperial Companhia Chimica, cessionária e procuradora em causa
própria de Thomaz Antonio de Araújo Lobo e seus filhos, desde 1860, entrou com um pedido
de embargo de obras que estavam sendo realizadas por José Manoel Cabral de Menezes em
seu terreno de 43 braças. Menezes argumentava que essas obras estavam sendo realizadas na
porção relativa à herança de Beralda Victoria Horta Forjas Pereira - relativa à antiga Chácara
da lagoa da Sentinela -, que a ele foi aforada, mas a companhia alegou que esses chãos
pertenceram à outra parcela da chácara, pertencente à Maria Arcângela de Macedo.

Dentre os maiores proprietários havia o duque de Caxias e suas quatro casas térreas
situadas próximas ao campo, aforadas desde os anos anteriores; a família Soares de Miranda,
que durante a década de 60 possuía sete imóveis, dos quais dois foram demolidos; José
Bernardino Teixeira e suas oito propriedades, sendo uma delas sobrado; Carlos Fleiuss com a
posse de oito imóveis térreos; José Antonio Lopes do Couto e suas cinco casas térreas; o
barão do Engenho Novo e seus 20 imóveis, sendo 17 térreos, um com 12 quartos; Joaquim
Pinto leite e seus cinco sobrados, um deles com 26 quartos em duas cocheiras; Martinho de
Freitas Paiva, com a posse de 12 térreos, um deles uma venda e uma marcenaria; João José
dos Reis, com seus dois sobrados e três térreos; e José Leandro de Souza e seus cinco térreos,
um deles com 18 quartos, outro com 13 e um com venda, além de um sobrado.
176

A antiga foreira família Almeida Brito teve seis imóveis demolidos, restando apenas
um, o de nº 324, onde funcionava um chalet térreo. Outras propriedades foram demolidas,
como as casas de Antonio Pereira Passos e Antonio José da Cruz e as de nº 49 e 51. Havia
ainda aqueles imóveis que passaram a receber a numeração de outras ruas limites, como os
números 87 e 89, numerados pela rua General Caldwell; o nº 107 pela rua do Riachuelo; o nº
92 pela rua das Flores; e o nº 172 pela rua de Visconde de Sapucahy (antiga do Bom Jardim).

Da mesma maneira que a rua do Aterrado, conforme dito anteriormente, crescia o


número de casas térreas com grande quantidade de quartos, como eram os casos dos imóveis
nº 79 de Antônio Lourenço Leitão, com 34 quartos, próximo à rua Formosa; nº 85 de João
Bernardes, com 17 quartos; nº 105 de João da Costa Barros Mascarenhas, com 37 quartos;
nº147 de Joaquim Martins Ferreira e Cia e seus dez quartos; de José de Carvalho Moreira,
com 12 quartos; de Albino Ferreira de Oliveira, com 14 quartos; de Ignácio José de Souza Paz
e seus 12 quartos; de Antonio Pereira de Sá Peixoto, com 23 quartos; do Dr. Antonio Gomes
Guerra de Aguiar, com 13 quartos; o nº 130, antigo 108, de Eduardo Laemmert, com dois
teljeiros e 14 quartos; do Dr. Manoel Alves de Souza Pinto, com dez quartos; do Dr. Henrique
José Pires, com 17 quartos; de Feliciano Guilherme Pires, com 14 quartos; o nº 198 do Dr.
Luiz Delphino dos Santos, com 56 quartos; de Manoel Joaquim Teixeira Pinto da Costa, com
30 quartos; de José Antonio Pereira, com 23 quartos; de Lima Borges e Cia, com 17 quartos; e
do próprio visconde de Piracinunga, que tinha três casas térreas, uma com 33 quartos. Havia
ainda sobrados com grande quantidade de cômodos, como o nº 154 de Francisca Rita Mattos
Costa, com 48; os de Joaquim Pinto Leite, que remembrados deram origem a um com 26
quartos; o de Sebastião P. Netto dos Reis, com 20; o de Antonio José Gomes Braga, com 25;
e o de Geraldo José Soares Veigas, com 26. Destaque para Antonia Ubelhard Rodrigues, que
detinha a posse de um sobrado dentro de uma chácara e ao lado da mesma, 63 quartos
pertencentes a diversos e com caráter de benfeitorias.

Interessante é notar o aparecimento de imóveis destinados às atividades de comércio,


chamado de vendas, entre eles o de nº 107, pertencente a Machado & Rodrigues; o de nº 285,
de Francisco José dos Santos Rodrigues e outros; o nº 200 de Martinho de Freitas Paiva; o nº
224 de Francisco Pereira da Silva Vidal; o nº 228 de José Bernardo de Macedo Alves, em que
funcionava um açougue; o nº 234 de Antonio Antunes Pereira, onde havia uma botica; e o nº
254 de José Leandro de Souza.
177

A rua General Caldwell – antiga Formosa - pela nova numeração dos prédios do
Rio, dispunha, nos anos 70, de um total de 230 imóveis, representando um crescimento de
apenas 1,7%, em relação à década anterior.

Os antigos e principais foreiros, desde a década de 60, continuavam com a posse de


seus imóveis, que passaram a dispor de nova numeração. Destaque para o Dr, Francisco
Leocadio de Figueiredo, que detinha o domínio de sete imóveis, entre os quais, seis davam
acesso a uma estalagem e 21 quartos; João Lopes Ferreira Cabral e suas 13 casas térreas; João
Bernardes, também com 13 térreos, tendo um deles 23 quartos; o barão de Gurupy, com três
imóveis, sendo um deles fruto do remembramento de dois sobrados, uma casa térreas com 16
quartos e outro sobrado; e Anna Michaela de Vasconcellos Tavares, com nove propriedades
térreas, uma delas formada pelo remembramento de dois terrenos, em que havia 116 quartos e
funcionava uma venda.

Havia, ainda, alguns proprietários de imóveis térreos fracionados em grande


quantidade de cômodos, o que possivelmente indicava a formação de áreas típicas de
habitações coletivas. Como exemplos, podia-se destacar o nº 178 de Francisco José de Araújo
Gomes, com 12 quartos; os nº 112 e 114 de José Machado Ferreira, cada um com 25 quartos;
o nº 74 de Antonio José Leite Guimarães, com 23 quartos; e o nº 113 de Josephina Emilia dos
Santos, com 15 quartos; além dos já citados João Bernardes e Anna Michaela de Vasconcellos
Tavares.

A rua do Areal dispunha de um total de 67 imóveis, de acordo com as informações de


Cavalcanti (op.cit.) para a década de 70. Um fato bastante curioso é que, nos anos 60, a rua
apresentava 74 propriedades registradas, indicando que, de forma contrária ao ocorrido nas
outras ruas da área, a do Areal teve um decréscimo do número de imóveis. No quarteirão
formado pelas ruas do Areal, Formosa e do CondeD’Eu, a numeração dos imóveis apenas se
dava pelas duas últimas citadas. Portanto, a rua do Areal somente dispunha da numeração
ímpar até o 27, na esquina com a Formosa. Ressalte-se que não houve desapropriações ou
remembramentos que justificassem a redução no total de propriedades ao longo do Areal.

Entre os principais donos de terreno figuravam ainda a família Souza Barros, com suas
27 casas térreas edificadas, e Emilia Julieta de Araújo, com seus cinco térreos. Os imóveis
com apenas um pavimento e subdivididos em cômodos para diferentes famílias estavam
representados pelo nº 21 de Joaquim Antonio Gonçalves Bastos, com 33 quartos e os nº 20,
22 2 24 com um total de 46 quartos, cujo proprietário era desconhecido. Havia ainda duas
178

fábricas de vinho, a de nº 16 sob a posse de Antonio Joaquim Machado e a de nº 27,


pertencente a Domingos Alves Meira e outros.

A rua de São Diogo, em sessão de janeiro de 1870, recebeu o nome de General Pedra,
em homenagem à atuação do dito general na guerra contra o Paraguai. De acordo com a nova
numeração dos prédios da cidade, apresentava para os anos 70 cerca de 220 imóveis. Da
mesma maneira que a rua do Areal, a General Pedra apontava para um decréscimo de 12%
dos terrenos registrados em relação à década de 60. Porém, vale dizer que nove terrenos
sofreram remembramentos e houve a demolição de 27 imóveis, do nº 2 ao 56, por conta da
apropriação de toda a quadra próxima ao campo para a construção da Estação Central da
Estrada de Ferro Dom Pedro II, que sofrera intensa reforma em 1870. Portanto, pode-se
arriscar que a defasagem de imóveis dos anos 70 deu-se por conta desses acontecimentos.

Surgiram novos registros de propriedades, como as de Manoel Braz da Cunha, todas


casas térreas localizadas para além da Fábrica de Gás; a casa com entrada para 12 quartos de
Antonio Alves de Sá; o portão com uma casinha de João Machado da Costa; uma casa térrea
de José Maria de Carvalho; um imóvel térreo com 12 quartos de Francisco da Costa Faria; um
térreo de Antônio Pereira de Sá Peixoto; uma casa com 13 quartos de Francisco Rabello; uma
casa térrea de Albino José de Siqueira, outrora numerada pelo largo da Providência; uma casa
com entrada para oito quartos, de Carlota Maria dos Reis Moreira; um imóvel térreo com 34
quartos do Dr. José Martins da Cruz Jobim; um terreno desmembrado de outro situado na rua
Visconde de Sapucahy, pertencente a José Joaquim da Silva Guimarães; um térreo de Antônio
Pereira Villar; e quatro casas térreas, cujos proprietários não foram identificados.

As informações pesquisadas indicam, para aquele período, a presença de


aproximadamente 22 imóveis térreos com grande quantidade de quartos, o que possivelmente
representaria uma nova apropriação daquela área, sob a forma de habitações coletivas
originadas do processo de fracionamento dos terrenos. Nesse sentido, valem citar as três
propriedades de Francisco José Gonçalves da Silva, com um total de 37 quartos; a de Carlos
Wallega, com 21 quartos; de José Pereira Eufrazio da Silva, com 30 quartos; de Antonio
Ferreira de Mattos e seus 18 quartos; de Agostinho Pinto de Miranda, com 16 quartos; de
Manoel Borges Monteiro de Miranda, com 32 quartos; de Manoel Coelho Moreira e seus 20
quartos; de José de Mello Pimentel, co 15 quartos; de Felippe Francisco de Lima, com 14
quartos nos fundos; do Dr. José Martins da Cruz Jobim e seus 18 quartos nos fundos; de João
Machado da Silveira, com 13 quartos; de Joaquim de Sampaio Guimarães e seus 12 quartos;
as de João Baptista Coelho, cada uma com 12 e 34 quartos; entre outras. Segundo os dados do
179

AGCRJ, no terreno nº 104, com duas moradas de casa, de José Teixeira da Motta funcionava
uma estalagem e nos prédios ímpares nº 9 ao 17 funcionavam conhecidos cortiços da área, sob
a posse de João Antonio Candoza e Felippe Soares.

De forma semelhante ao ocorrido na rua do Conde D’Eu, nessa localidade surgiram


atividades ligadas ao comércio, como era o caso da padaria de João Machado da Costa,
localizada entre as ruas de Visconde Sapucahy e do Porto e, as vendas de Domingos Marques
de Oliveira e Joaquim de Sampaio Guimarães, nos fundos da Fábrica de Gás. Ressalte-se
também a presença da fábrica de sabão situada no terreno nº 78 de Antonio Pereira Villar.

O mapa 24 apresenta um esquema das terras da Cidade Nova de 1870 a 1875. No


anexo encontra-se a seqüência dos mapas conjecturais da estrutura fundiária da área.

Mapa 24 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 70 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em
História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP). Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de
Janeiro entre 1870 e 1930. Relatório final encaminhado em 2005.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
180

Conclusões do mapeamento dos aforamentos na segunda metade dos oitocentos

Os dados analisados e o seu mapeamento indicaram que, a partir dos anos 50, foram
realizadas melhorias na área e procurou-se sanear e aterrar os ainda restantes terrenos livres,
para facilitar a ocupação de toda a extensão das principais vias da Cidade Nova. Os
quarteirões no entorno do Campo de Santana já mostravam sinais de alta densidade
populacional, atingindo seu ponto máximo a partir dos anos 60, enquanto nas áreas mais
distantes e esparsamente ocupadas além da Praça Onze ainda eram permitidas atividades
menos nobres, conforme apontava a seguinte postura aprovada pela Câmara:

É somente permittido na freguezia de Sant’Anna o fabrico, deposito e venda de


fogos artificiaes de um e outro lado da rua do Bom Jardim [...], no espaço que fica
entre as ruas do Sabão e de São Leopoldo (Postura de 26 de novembro de 1850 IN:
Código de Posturas da Illustrissima Câmara Municipal, 1854).

Na década de 50, as obras para a instalação da rede ferroviária e para a construção da


Estação Central da Estrada de Ferro Central do Brasil foram responsáveis por intensas
transformações na rua de São Diogo, bem como na sua própria estrutura fundiária. Antigas
edificações foram demolidas e o tecido urbano procurou adaptar-se às margens da ferrovia.
Vale lembrar que, nas proximidades da Praça Onze, foi concluída, também voltada para a rua
de São Diogo, a estação inicial da Companhia Ferro Carril Fluminense. Na rua do Sabão, em
1854, o governo imperial abriu o primeiro grande asilo de mendigos da cidade, no edifício
ocupado mais tarde pelo Hospital Escola São Francisco de Assis.

Figura 16 – Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II – meados do século XIX

Fonte:
<http://www.bricabrac.com.br/fset_rioantigo.htm>.
Acesso em: 27 abr. 2006.
181

O presente estudo indica que, naquele período, os grandes proprietários eram o próprio
barão de Mauá, o conde de Paraty, Francisco de Paula Mattos, o Dr. Francisco Leocádio de
Figueiredo, os irmãos José e Antonio de Oliveira Fernandes e a Companhia da Estrada de
Ferro Central do Brasil.

Para os anos 60, o mapa apresenta uma ocupação intensa nas principais ruas da área e
a presença de poucos terrenos livres, apenas na rua de São Diogo e em parte do Aterrado.
Vale dizer que os espaços vazios que aparecem na rua Formosa pertenciam aos imóveis cujas
frentes e numerações pertenciam à rua do Sabão.

As publicações de 1862 e 1867 do Almanak Laemmert indicavam, além da fábrica de


Mauá Mac Gregor & Cia, a presença de mais duas fábricas de cerveja na Cidade Nova, sendo
elas a de Jacob Nauerth, na rua do Conde D’Eu – tendo como responsável Carlos Berenson –
e a Luzo-Brasileira de Carvalho & Tavares, situada no Campo da Aclamação. A Cidade Nova
era a localidade que ainda dispunha de terrenos com dimensões suficientes para o
funcionamento de atividades fabris, com a facilidade de estar próxima ao centro de negócios
do Rio. No final dos anos 80, na rua Visconde de Sapucahy (antiga do Bom Jardim), a
Brahma abriria a sua primeira fábrica de cerveja – a Manufatura de Cerveja Brahma, Villiger
e Cia.

Entre os mais notáveis donos de imóveis havia o visconde de Jequitinhonha, a Santa


Casa de Misericórdia, ainda a Companhia de Gás76, Antonio de Oliveira Fernandes, o duque
de Caxias, as famílias Soares de Miranda, Souza Barros e Freitas Paiva, o barão do Engenho
Novo e o conselheiro Leonardo Caetano de Araújo. Naquela época, era possível perceber um
crescimento das instalações térreas com grande número de quartos, lembrando-se que já havia
sido lançado o regulamento dos estalajadeiros e de suas respectivas casas, em setembro de
1853, pela Secretaria de Polícia da Corte, conforme visto no documento manuscrito sob o
códice 43-1-25 do AGCRJ. Nos anos seguintes, a multiplicação dessas moradias populares e
coletivas indicaria o não cumprimento da norma e a liberdade com que seriam realizadas as
adaptações de antigas residências unifamiliares nessas tipologias habitacionais.

A partir da análise dos dados e de seu mapeamento, pode-se dizer que a Cidade Nova,
entre 1870 e 1875, já se consolidava como o espaço destinado às classes mais populares, com

76
Em virtude das suas dificuldades financeiras, Mauá cedeu os seus direitos de exploração da Companhia de Iluminação a
Gás a uma empresa de capital britânico. A companhia passou a se chamar Rio de Janeiro Gás Company Limited. Segundo o
códice 9-1-9 da seção de manuscritos do AGCRJ, em 1871, a Câmara expediu uma licença para o gerente William Henrique
Holman relativo ao aproveitamento das águas do Canal do Mangue para a fábrica de gás, por meio do fechamento da represa
existente aquém da última ponte que comunicava o Aterrado com a rua Miguel de Frias.
182

a formação de um pequeno comércio interno e a instalação cada vez mais comum de


atividades fabris.

Além dos proprietários da década anterior, como a Santa Casa de Misericórdia,


Antonio de Oliveira Fernandes e a família Souza Barros, entre outros, que continuavam com a
posse de imóveis aforados e subaforados a terceiros, surgiram novas figuras ilustres como o
barão de Maracanã e o visconde de Piracinunga, com suas casas térreas que dispunham de
grande número de quartos para aluguel.

A antiga rua do Aterrado, a Senador Eusébio, contava com um total de 67 terrenos


com apenas um sobrado edificado, oito com dois edificados e o número de 149 casas térreas.
Nos quarteirões entre o campo e a General Caldwell, em ambos os lados da rua, havia 50% a
mais de casas térreas em relação aos sobrados, ou seja, 42 casas e somente 21 sobrados. Nas
duas quadras seguintes, que iam até a rua das Flores, havia cerca de 47 casas térreas e 17
sobrados. Em frente à Praça Onze de Junho havia um equilíbrio, entre seis térreos e seis
sobrados. Entre as ruas de Santa Rosa e Visconde de Sapucahy, o número de sobrados, cerca
de 19, era superior ao de casas térreas, com 15. A quadra, que chegava até a rua do Porto,
dispunha de cinco casas, em contraposição aos quatro sobrados existentes, e o seguinte era
ocupado pela Companhia do Gás. Os outros três quarteirões, em direção à ponte dos
Marinheiros, continham 68% dos imóveis térreos e o restante formado por sobrados. Destaca-
se, além disso, a existência de aproximadamente 11 habitações coletivas, do tipo estalagem e
cortiço; três pontos de comércio e a Companhia de Gás.

A rua do Conde D’Eu dispunha de 82 terrenos com apenas um sobrado edificado e


seis, com dois construídos. O número de casas térreas chegava a 73% em relação ao de
sobrados, representando um total de 241. Nos dois quarteirões mais próximos do Campo de
Santana havia 54 casas térreas e 23 sobrados, naquele entre as ruas General Caldwell e do
Areal havia sete térreos e somente dois sobrados. No seguinte, que ia até a rua das Flores, o
número de térreos era três vezes maior que o de sobrados e, na quadra frontal a esta, havia
cerca de 15 edificações assobradadas em contraposição às nove, com apenas um pavimento.
Nas três quadras, entre a rua das Flores e a Visconde de Sapucahy, a quantidade de sobrados,
cerca de 74, quase que dobrava em relação ao de térreos. No trecho final da rua do Conde
D’Eu, já era possível perceber uma porcentagem muito superior de casas térreas, em relação
aos sobrados existentes, aproximadamente 87,5%.

Em quase todas as quadras, principalmente no lado par da rua, existiam habitações


coletivas, constituindo um total de 20 edificações e, dos sete pontos de comércio, cinco
183

concentravam-se nas proximidades da Casa de Correção. A única fábrica existente,


pertencente a Mauá Mac Gregor & Cia., localizava-se no final do seu primeiro quarteirão,
próximo ao campo.

Ao longo da rua General Caldwell existiam 230 imóveis, dentre os quais 33 eram
terrenos contendo apenas um sobrado em cada e seis continham dois sobrados edificados. As
outras 191 propriedades, que correspondiam a 83%, eram térreas. Nos dois primeiros
quarteirões, delimitados pela rua do Conde D’Eu e o antigo morro do Senado, havia 19 térreos
e seis edifícios assobradados. No trecho entre as ruas do Areal e do Conde D’Eu existiam 22
casas de um pavimento e apenas um sobrado. Nas duas quadras seguintes, a parcela mais
longa da rua, era possível verificar 78 casas térreas, o que representava aproximadamente
78% dos seus imóveis, em contraposição aos 21 assobradados. Interessante é notar que
somente o lado ímpar da rua General Caldwell, entre as do Sabão e Senador Eusébio,
dispunha de numeração e continha três térreos e um sobrado. Naquele que seria o lado par, os
imóveis estavam numerados de acordo com essas duas últimas ruas citadas. Entre as ruas
Senador Eusébio e General Pedra havia 21 casas térreas e 11 sobrados. O restante da rua, que
seguia para além da ferrovia, dispunha de 48 construções com apenas um pavimento e cinco
restantes assobradadas. Ressalte-se que na General Caldwell morou num palacete uma das
grandes figuras do império, o jurista e senador Vieira da Silva, que recebera o título
nobiliárquico de visconde em 5/01/1889.

Diferentemente das ruas Senador Eusébio e do Conde D’Eu, a General Caldwell não
dispunha de atividades fabris e apresentava apenas duas edificações caracteristicamente
comerciais. Além disso, havia a presença de aproximadamente dez habitações coletivas.

A rua do Areal apresentava um total de 67 imóveis distribuídos entre dez terrenos com
apenas um sobrado edificado em cada, três constando de dois sobrados em cada e 54 casas
térreas. Uma quantidade bastante inferior àquelas verificadas nas outras ruas analisadas. Era
no Areal que se concentravam os terrenos com maiores dimensões, como aqueles localizados
nas proximidades do Campo de Santana. Nesses dois quarteirões havia 19 casas térreas e 16
sobrados, um número bastante equilibrado se comparado com as quadras das outras ruas
estudadas. Ou seja, pode-se dizer que era nessa rua a maior concentração de edifícios
assobradados no entorno imediato do campo. No outro trecho, compreendido entre as ruas
General Caldwell e do Conde D’Eu, era possível notar a presença de 35 imóveis, todos
térreos, sendo que na menor quadra – triangular – havia apenas três. O restante estava voltado
para a rua General Caldwell.
184

Note-se que não havia a presença de tipos comerciais e as duas únicas fábricas
estavam situadas próximas às esquinas com a rua General Caldwell, da mesma maneira que as
quatro habitações coletivas existentes.

Dos 220 imóveis da rua General Pedra, havia 85% de casas térreas, correspondendo a
187 unidades, em contraposição aos 23 sobrados existentes. Na primeira quadra, próxima ao
Campo de Santana, estavam edificados 22 térreos e somente sete sobrados. Vale lembrar que
o lado par iniciava-se pelo nº 60, em virtude da demolição dos antigos imóveis situados no
quarteirão em que foi construída a Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II. O
trecho compreendido entre as ruas das Flores e General Caldwell possuía cerca de 14
edificações com um pavimento, sendo uma delas a estação central da Companhia Ferro Carril
Fluminense, e apenas um sobrado. O quarteirão seguinte, que ia até a rua de Santa Rosa,
dispunha de oito casas térreas e duas assobradadas. As outras duas quadras que se estendiam
até a Visconde de Sapucahy contavam com um total de 52 térreos e sete sobrados, e aquelas
delimitadas pela rua do Porto apresentavam 23 térreos e apenas um sobrado. O quarteirão
situado em frente à Companhia de Gás e o seguinte, que chegava até a rua de São João, juntos
continham 77 imóveis térreos e seis assobradados.

Vale dizer que na rua General Pedra estavam presentes cerca de 31 habitações
populares e coletivas, ratificando a afirmação de Gerson (op.cit.) sobre aquela ser uma típica
rua de cortiços. Aproximadamente cinco pontos de venda ali se localizavam, próximos à
Companhia de Gás e à estação central da Companhia Ferro Carril Fluminense, e uma fábrica
de sabão funcionava junto à rua Visconde de Sapucahy.

O mapa 25 indica a proporção de casas térreas e de sobrados ao longo das ruas


analisadas da Cidade Nova, durante o período de 1870 a 1875.
185

Mapa 25 – Tipos habitacionais da Cidade Nova na década de 70 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em
História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP). Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de
Janeiro entre 1870 e 1930. Relatório final encaminhado em 2005.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.

O mapa 26 aponta a presença de habitações coletivas, pontos de comércio e atividades


fabris, no mesmo intervalo de tempo.
186

Mapa 26 – Diferentes usos na Cidade Nova na década de 70 – século XIX


s/escala

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em
História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP). Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de
Janeiro entre 1870 e 1930. Relatório final encaminhado em 2005.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.

4.3.2 Habitação como a questão urbana: o adensamento populacional e o novo perfil


dos habitantes da Cidade Nova

“A questão da moradia é primordialmente a de sua crise. Falta de conforto e de


equipamentos, superpovoamento, velhice, insalubridade [...]” (CASTELLS, 1983,
p.183).

A partir da segunda metade do século XIX, conforme visto, o Rio de Janeiro passou a
receber cada vez mais um número significativo de trabalhadores livres, sejam brasileiros ou
estrangeiros, incentivados pela atividade fabril que começava a tomar impulso na cidade. As
áreas periféricas ao centro, como a Cidade Nova, quando da abertura de vias e das obras de
aterro representaram novas perspectivas de moradia para as classes abastadas, tornaram-se a
solução para o recebimento do contingente populacional que aqui chegava. Naquele
187

momento, teria ênfase a expansão da cidade rumo às áreas ao sul, facilitada pelo
desenvolvimento dos meios de transporte, nos locais que serviam para abrigar as chácaras de
fim de semana, que se transformariam em zonas de residência permanente da sociedade
endinheirada.

Algumas correntes migratórias chegavam ao Rio e se estabeleciam na freguesia de


Santana e no entorno do antigo Largo do Rocio Pequeno, já conhecido como a Praça Onze de
Junho. Também por ali se localizaram os ciganos - vindos para a cidade ainda nos tempos
coloniais, viviam marginalizados e habitavam as proximidades da atual rua da Constituição –
que permaneceram na rua do Aterrado e nas redondezas da face norte do Campo de Santana.

O estabelecimento de fábricas (12% do total do Rio de Janeiro) e de atividades ligadas


ao comércio (9,7% do total do Rio de Janeiro), em parte indicadas nos mapas anteriores, e
pela divulgação dos dados do Relatório apresentado à Câmara Municipal da Corte, em 1853,
possivelmente induziram a fixação dos trabalhadores livres imigrantes e da mão-de-obra local
disponível nas principais ruas da Cidade Nova. Um exemplo era a Companhia de Iluminação
a Gás que, em 1857, empregava um total de 376 funcionários, dentre os quais 73 eram
brasileiros, 70 escravos e 233 estrangeiros77. Ressalte-se também o grande número de
tavernas, botequins e casas de pasto, bem como de quitandas e confeitarias que juntos
representavam cerca de 75% do comércio da localidade e apontavam para a difusão de um
mercado próprio no interior da mesma. Nesse sentido, os novos usos funcionavam como um
pólo de atratividade para esse contingente populacional que precisava estabelecer-se junto ao
lugar de trabalho, gerando outras formas de apropriação do espaço. É provável que o
aparecimento de cortiços e estalagens, principalmente nas ruas General Pedra e General
Caldwell, tenha sido impulsionado por uma crescente demanda por moradias de baixo custo
na área.

As tabelas 01 e 02 informam, respectivamente, o número de fábricas e de pontos


comerciais distribuídos pela freguesia de Santana, em 1852.

77
Dados obtidos em: WANDERLEY, João Maurício. Proposta e relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretaria d’Estado dos Negócios da Fazenda. Tabella nº 68. Rio de Janeiro, 1857, p. s/n.
188

Tabela 01 - Fábricas na freguesia de Santana - 1852


Padarias 11
Fumo 11
Madeireira 8
Velas e sabão 8
Tecidos 5
Meios de transporte – seges 7
Asfalto 1
Total na freguesia de Santana 51
Total no Rio de Janeiro 419

Fonte: RIO DE JANEIRO. Câmara Municipal da Corte. Relatório apresentado à Ilma. Câmara Municipal da Corte pelo presidente da mesma
Cândido Borges Monteiro, 7 de janeiro de 1853. Rio de Janeiro, Typ. do Correio Mercantil de Rodrigues, 1855. Apud: LOBO (1978).

Tabela 02 – Pontos de comércio na freguesia de Santana - 1852


Alimentos e bebidas 37
Quitandas e confeitarias 85
Armarinhos 24
Armazéns de madeira 2
Lojas de ferragens 2
Lojas de vidros 1
Boticas 11
Lojas de louças do país 3
Cocheiras 9
Serviços de alimentação – tavernas, botequins e casas de pasto 201
Serviços de hotelaria – estalagens e hospedarias 4
Casa de saúde 1
Total na freguesia de Santana 380
Total no Rio de Janeiro 3882

Fonte: RIO DE JANEIRO. Câmara Municipal da Corte. Relatório apresentado à Ilma. Câmara Municipal da Corte pelo presidente da mesma
Cândido Borges Monteiro, 7 de janeiro de 1853. Rio de Janeiro, Typ. do Correio Mercantil de Rodrigues, 1855. Apud: LOBO (1978).

Em 1872, Santana era a freguesia urbana que apresentava o maior número de


operários, registrando um total de 4.019, dentre os quais, 1.735 eram brasileiros, 369 escravos
e 2.215 estrangeiros78. O gráfico 09 ilustra a proporção de operários nas freguesias urbanas do
Rio de Janeiro no início da década de 70.

78
Dados obtidos em: IBGE. Recenseamento da população do Município Neutro de 1872. Disponível em:
<http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em: 18 dez. 2006.
189

Gráfico 09 – Porcentagem de operários nas freguesias urbanas em 1872

São Cristóvão
3%
Engenho Velho
Lagoa
2%
Candelária 2%
Glória
3% 8%
Santana
25%
Santo Antônio
4%

Espírito Santo
4%

São José Santa Rita


10% 20%

Sacramento
19%

Fonte: representação a partir de IBGE. Recenseamento da população do Município Neutro de 1872. Disponível
em: <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em: 18 dez. 2006.

As habitações coletivas - casas de cômodos, avenidas, estalagens e cortiços – aos


poucos cresciam na Cidade Nova, por conta do processo de parcelamento de antigos imóveis
e, por vezes, da adaptação dos sobrados remanescentes da sua fase aristocrática.
Representavam a permanência de diferentes famílias, que se constituíam em unidades sociais
independentes, dentro do mesmo lote ou construção79. As edificações eram estreitas, muitas
vezes iluminadas por pátios internos ou clarabóias e caracterizadas por uma alta densidade de
ocupação. Segundo o regulamento municipal e os relatórios oficiais daquele período, por
cortiço entendia-se:

[...] habitação coletiva, geralmente constituída por pequenos quartos de madeira ou


construção ligeira, algumas vezes instalados nos fundos de prédios e outras vezes
uns sobre os outros; com varandas e escadas de difícil acesso; sem cozinha,
existindo ou não pequeno pátio, área ou corredor, com aparelho sanitário e
lavanderia comum (Regulamento municipal da cidade do Rio de Janeiro, apud
CARVALHO, 1986, p.145).

Naquela época, as moradias populares coletivas tornaram-se o objeto de atenção e


preocupação das autoridades públicas - dos médicos higienistas, da polícia, dos vereadores e
79
Ressalte-se que em alguns documentos da época, inclusive nos manuscritos pesquisados no AGCRJ, o termo cortiço servia
para designar as outras modalidades de habitação, ou seja, para habitações coletivas, genericamente utilizava-se a palavra
cortiço.
190

fiscais da municipalidade – muito por conta das constantes epidemias de febre amarela,
varíola e cólera-morbos que assolaram a cidade no final dos oitocentos. Para essas
autoridades, a aglomeração de pessoas de baixa renda em habitações insalubres era uma
ameaça ao quadro da saúde pública na Corte. Portanto, combater os cortiços era um meio de
combater as epidemias e, sobretudo, controlar os seus habitantes através da diminuição das
aglomerações.

No período compreendido entre 1850 e 1870, a crise habitacional, entendida como


escassez e carestia das habitações para gente pobre, emergiu como um dos traços
mais característicos e recorrentes da vida urbana do RJ, avolumando-se ou
arrefecendo em quase perfeita sincronia com o perfil de incidência das epidemias
(BENCHIMOL, 1990, p. 124).

Ressalte-se que, além do problema da higiene, os habitantes dos cortiços eram vistos
como uma classe perigosa que, mergulhada num contexto de pobreza, sucumbia à
criminalidade que deveria ser punida pela polícia. No anexo, seguem dois processos criminais
sobre acontecimentos em cortiços na rua General Caldwell, divulgados no trabalho do grupo
de pesquisa do CECULT/IFCH/UNICAMP.

Surgiram propostas e posturas, conforme visto, visando ao ordenamento e ao


regulamento dos cortiços, de forma a impedir a proliferação da insalubridade e a coabitação
que, segundo os especialistas da época, eram as responsáveis pelos altos índices de
mortalidade. Lobo (op.cit.) atenta para o fato de a mortalidade ser proporcionalmente maior,
naquele período, nas freguesias em que a população, mesmo espalhada por extenso território,
vivia aglomerada em cortiços sem as mínimas condições de higiene. De acordo com a autora,
os dados pesquisados apontaram em primeiro lugar Santana, sendo seguida por Santa Rita,
Santo Antônio, Glória, São José e Espírito Santo.

E, assim reunida, aglomerada, essa gente – trabalhadores, carroceiros, homens ao


ganho, catraeiros, caixeiros de bodegas, lavadeiras, costureiras de baixa freguesia,
mulheres de vida reles, entopem as casas de cômodos, velhos casarões de muitos
andares, divididos e subdivididos por um sem número de tapumes de madeira, até
nos vãos de telhados entre a cobertura carcomida e o forro carunchoso (Revista
Renascença, apud ROCHA, 1986, p. 90).

Portanto, o alvo da crise de moradias era a área central e seus núcleos mais próximos,
que já reproduziam uma ocupação cada vez mais desordenada, marcada pela coabitação
numerosa e cujos reflexos marcariam definitivamente suas estruturas urbanas. No início dos
191

anos 70, Santana era a freguesia urbana com o maior número de cortiços, dispondo de 154
unidades que continham 2.661 quartos e um total de 6.458 habitantes80. A população residente
dividia-se entre militares, comerciantes e aqueles empregados em serviços domésticos,
manufaturas e ofícios, e de profissão desconhecida, entre outros. A tabela 03 apresenta um
comparativo entre a quantidade de cortiços nas paróquias urbanas, a partir de 1868. A tabela
04 dispõe do perfil ocupacional dos habitantes de Santana, em 1870.

Tabela 03 – Cortiços, quartos e habitantes no Rio de Janeiro - 1868


Freguesias Cortiços Quartos Habitantes
Sacramento 31 491 693
Candelária - - -
São José 44 929 2022
Santa Rita 50 1043 2763
Santana 154 2661 6458
Glória 107 1133 2376
Engenho Velho 42 458 769
Lagoa 45 268 733
Santo Antônio 69 1587 3558
Espírito Santo 65 758 1918
São Cristóvão 35 343 639

Fonte: Brasil. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império, apresentado à Assembléia Geral da 1º
Sessão da 14º Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1869. Apud:
LOBO (1978).

Tabela 04 – Profissões em Santana - 1870

Condição
Profissões Livres Escravos Total
Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total geral

Eclesiásticos 22 - 22 - - - 22
Militares 1284 - 1284 - - - 1284
Empregados públicos 684 - 684 - - - 684
Profissão literária 332 29 361 - - - 361
Comerciantes 1948 196 2144 - - - 2144
Capitalistas 11 11 22 - - - 22
Proprietários 100 90 190 - - - 190

80
Dados obtidos em: Brasil. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império,
apresentado à Assembléia Geral da 1º Sessão da 14º Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do
Império. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1869. Apud: LOBO (1978).
192

Lavradores 21 3 24 1 3 4 28
Pescadores 86 - 86 12 - 12 98
Marítimos 87 - 87 - - - 87
81
Manufaturas e ofícios 5488 675 6163 398 50 448 6611
Agências 211 13 224 - - - 224
Serviço doméstico 230 3898 4128 861 1615 2476 6604
Profissão desconhecida 5297 7239 12536 969 822 1791 14327

Fonte: Brasil. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império, apresentado à Assembléia Geral da 2º
e 3º Sessão da 14º Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1870/71.
Apud: LOBO (1978).

4.3.3 1875 - as propostas do 1º relatório da Comissão de Melhoramentos da Cidade do


Rio de Janeiro: o mangue da Cidade Nova novamente em questão

A partir de 1870, a idéia de que a causa do ar insalubre e epidêmico era a aglomeração,


a coabitação numerosa entre as classes menos privilegiadas, que ofereceria risco de contágio a
toda cidade, infiltrou-se no senso comum da elite. Naquela época, o crescimento da cidade
acontecia pautado na modernização do sistema de transportes e na extensão de novos serviços
urbanos, por conta da injeção de investimentos estrangeiros e de concessões que o governo
imperial fazia em prol da chamada modernização da urbe. Nesse sentido, os esforços em
direção à civilização almejada e ao desenvolvimento do Rio de Janeiro esbarravam na
problemática habitacional, que se tornaria protagonista das políticas urbanas propostas e do
discurso pela reforma urbana na capital, no final do século XIX.

Como representante daquela elite e como ministro do Império, o conselheiro João


Alfredo Corrêa de Oliveira propôs a dom Pedro II a formação e a nomeação de uma comissão,
com o objetivo de formular uma espécie de plano geral82 de intervenção na cidade. Criada em
1874, a Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro, com a presença dos
engenheiros Jerônimo Rodrigues de Moraes Jardim, Marcelino Ramos da Silva e Francisco
Pereira Passos83, duraria até 1876, ano em que Corrêa de Oliveira sairia do Ministério.

81
Vale ressaltar que o total de profissionais ligados às manufaturas e ofícios não corresponde ao total de operários
contabilizados pelo Recenseamento da população do Município Neutro de 1872. As fontes diferentes apresentam também
números distintos, mesmo pertencendo ao mesmo período de divulgação.
82
O relatório da Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro, em 1875, também se tornara conhecido como o
Plano dos Engenheiros, por conta da sua equipe formada pelos jovens engenheiros Jerônimo Rodrigues de Moraes Jardim,
Marcelino Ramos da Silva e Francisco Pereira Passos. Hoje, é considerado por muitos, como o primeiro Plano Urbanístico da
Cidade do Rio de Janeiro.
83
Segundo Andreatta (2006, p. 151), “O primeiro era Inspetor-Geral das Obras Públicas desde 1873 e havia realizado
importantes obras de abastecimento de água na cidade; o segundo formava parte dessa mesma inspetoria e teria depois um
papel muito destacado nas obras de saneamento da Baixada Fluminense, e o terceiro era experiente em obras ferroviárias”.
193

O primeiro de seus dois relatórios foi produzido em 1875 e tratava dos arrabaldes da
cidade, correspondendo às áreas do Andaraí, Engenho Velho, São Cristóvão e Cidade Nova,
ou seja, a planície que se estendia do Campo de Santana até a raiz da serra do Andaraí, um
dos principais vetores de expansão da cidade desde o início dos oitocentos. As propostas
visavam ao alargamento e à retificação da malha viária e à abertura de grandes avenidas, os
chamados boulevards, que permitiriam uma comunicação direta entre o campo e o Andaraí,
tendo como foco as obras no Canal do Mangue.

Tão logo foi apresentado, o relatório sofreu duras críticas, inclusive de outros
engenheiros, por não ter priorizado a parte central da cidade, em que os problemas pareciam
mais graves, por conta das longas investigações que deveriam ser feitas sobre os custos de
desapropriação das antigas residências. Em função dessa polêmica, Pereira Passos, num artigo
publicado no Jornal do Comércio, defendeu a escolha daquelas localidades argumentando:

Os bairros a que nos referimos, sendo os que melhores condições oferecem para o
desenvolvimento da cidade, são também os que atualmente mais importantes
melhoramentos reclamam e onde tais obras podem ser realizadas com menos
dispêndios e dificuldades, por serem aqueles em que a propriedade tem
relativamente menos valor e as construções não se acham tão unidas umas às outras,
como acontece na parte mais antiga da cidade. Sua grande extensão em planície,
apenas interrompida por poucos e insignificantes acidentes de terreno, permite dar às
ruas que ali se abrirem toda a expansão necessária, e proporcionar à população da
cidade amplo espaço para edificação de casas rodeadas de jardins, que tanto convém
à salubridade das habitações em nosso país (Francisco Pereira Passos, apud
ANDREATTA, 2006, anexo documental, p.10).

O intuito da comissão era definir uma estrutura urbana para a expansão organizada da
cidade por meio de técnicas de alinhamento e retificação do tecido; a fixação de normas para
edificações que se achassem em harmonia com os procedimentos urbanísticos previstos; a
formação de um esquema para o escoamento das águas provenientes das bacias do Canal do
Mangue e a elaboração de um programa de obras para a formação da frente marítima
setentrional da capital. Dentre os chamados melhoramentos indicados no relatório, figuravam
em primeiro lugar a desobstrução do Canal do Mangue e o seu prolongamento até o Andaraí.
Em seguida, a construção de um tronco comum, ligando os dois ramais do canal com o mar e
a construção de um cais; o aterro dos terrenos nas proximidades desse cais; a construção de
um ramal da Estrada de Ferro Dom Pedro II sobre a margem esquerda do canal e a abertura de
largas avenidas em ambos os seus lados; a abertura de outra grande avenida a partir do Campo
de Santana e uma no prolongamento do Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel; a criação
de largas vias transversais até a rua do Conde D’Eu; a implantação de um Jardim Zoológico e
194

de um Horto Botânico entre as atuais Tijuca e Vila Isabel; a abertura de diferentes ruas e
praças e a retificação e o alargamento de outras; o aterro e dessecamento dos pântanos
remanescentes da Cidade Nova; a construção de uma capela e praça de mercado junto ao
canal.

Todas as propostas visavam às melhorias e ao embelezamento do Rio de Janeiro e


procuravam descongestionar e aliviar a região central, tão densamente ocupada, e o local em
que segundo Andreatta (op.cit.), se concentrava a geração de valor urbano. “[...] era mais
peremptório o estabelecimento de um marco que conciliasse o interesse público com o da
promoção imobiliária” (ANDREATTA, 2006, p. 152).

A autora vai mais além ao afirmar que, por trás da implantação de uma malha regular,
por conta da simplicidade e facilidade de se levar novos serviços urbanos a outras áreas
desprovidas, os engenheiros vislumbravam uma estrutura de suporte para a realização da
mais-valia urbana, num momento em que era bastante complexo fixar-se a proporção com que
os benefícios da atividade imobiliária contribuiriam para um financiamento da rua e dos
serviços urbanos.

De qualquer maneira, retornando ao objeto desse estudo, a Cidade Nova, cabe


enfatizar que as propostas da comissão tinham como principal alvo o Canal do Mangue - que
apenas estava canalizado até a antiga Bica dos Marinheiros e se achava parcialmente
obstruído - e suas imediações, que ainda geravam insatisfação quanto à insalubridade e se
concretizavam como entraves à expansão e ao embelezamento da capital. Vale dizer que as
preocupações com as condições higiênicas e a estética urbana, de certo modo, lembravam as
concepções de Beaurepaire dos anos 40. Porém, o Plano dos Engenheiros dispunha de uma
riqueza maior de detalhes, era tecnicamente bem justificado e tinha um alcance territorial
superior em relação ao anterior.

No relatório da comissão, os profissionais destacavam as intervenções no canal como


o ponto de partida para melhorar as condições de salubridade na região da Cidade Nova.
Expunham duas soluções para saneá-lo e desobstruí-lo. A primeira era o seu aterro completo e
a instalação de uma grande galeria coberta para o recebimento e escoamento das águas
pluviais, a segunda consistia na sua desobstrução e no seu prolongamento até o Andaraí e a
conclusão até o mar, paralelamente à construção de esgotos laterais. Escolhida a segunda
opção, o projeto abarcaria a extensão e a desobstrução do canal que reuniria as águas
provenientes das montanhas circunvizinhas, formando-se uma bacia ou lago, com comportas
195

que regulariam a entrada e saída das águas do mar. Junto ao canal, seriam executadas duas
galerias cobertas para a drenagem das superfícies das ruas e dos terrenos.

A utilidade desta obra é principalmente para o descaimento dos pântanos e terrenos


alagadiços daqueles bairros, concentrando em um leito regular, e não sujeito aos
despejos das propriedades vizinhas, nem às águas pluviais das ruas, os rios que
atualmente se ramificam ali em diferentes direções e transbordam nas ocasiões de
cheias (Primeiro Relatório da Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de
Janeiro, apud ANDREATTA, 2006, anexo documental, p.10).

A partir dessas obras, seriam abertas duas largas e arborizadas84 avenidas, delimitando
o Canal do Mangue, no prolongamento das ruas Senador Eusébio e do Sabão da Cidade Nova.
Além disso, a comissão projetou outra grande avenida85, partindo do Campo de Santana, no
lugar em que começava a rua do Areal, nas proximidades do Paço do Senado, e seguindo em
linha reta sobre os terrenos baldios que ficavam entre as ruas do Conde D’Eu e o antigo
Aterrado. Esse boulevard terminaria em um parque destinado ao Jardim Zoológico e Horto
Botânico, integrando-se à região de Vila Isabel por meio de outra avenida perpendicular a ela,
estendendo-se até o local em que hoje funciona a Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Vale dizer que a intenção inicial era alargar e retificar as ruas do Conde D’Eu e do Engenho
Velho que, naquela época, eram vistas como as principais artérias de comunicação entre o
centro e os arrabaldes da cidade. Porém, os estudos mostraram que tais modificações seriam
por demais dispendiosas, às custas de inúmeras desapropriações, inclusive de propriedades de
alto valor.

Na zona compreendida entre esses dois boulevards, entre o canal e a rua do Conde
D’Eu, a comissão propunha a execução de diversas ruas, com 20 ou 25 metros de largura, que
na maioria das vezes atravessariam os restantes terrenos alagadiços, próximos à Casa de
Correção. A implantação dessa pequena malha viária reticulada e auxiliar seria um estímulo
ao dessecamento dos pântanos remanescentes da Cidade Nova, possibilitando a construção de
novas edificações na área.

Ressalte-se que os autores do relatório demonstravam uma preocupação com os


mecanismos de execução e financiamento das obras propostas e, percebendo as dificuldades
em se conseguir investimentos diretos do governo para aquela localidade, sugeriram a

84
O relatório destacava a necessidade de arborizar a cidade, ressaltando que as árvores serviam como abrigo contra a ação do
sol, purificando o ar e combatendo a insalubridade produzida pelas matérias orgânicas e a grande unidade do solo.
85
A avenida teria 40 metros de largura, dentre os quais, 18 metros para a caixa de rolamento e 11 metros de cada lado para os
passeios, ornados de duas filas de árvores.
196

concessão para a aplicação de capitais de uma empresa privada. Esta empresa seria
responsável pela desapropriação dos imóveis, execução das obras e comercialização dos
terrenos disponíveis e pela exploração das instalações públicas na região.

Portanto, o Plano dos Engenheiros, diferentemente das propostas anteriores,


vislumbrava uma integração entre os arrabaldes e o antigo núcleo central por meio de grandes
intervenções na Cidade Nova, a partir da execução de uma malha viária reticulada e
hierarquizada, com artérias interligadas que permitiriam o acesso aos grandes espaços
públicos projetados e ao futuro porto do Rio de Janeiro.

A nova estrutura retificada e geometrizada da zona de mangue, às custas de


desapropriações, proposta pelos engenheiros da comissão, indicaria a inserção numa nova
dinâmica de apropriação e uso daquele território, até então visto como o entrave ao
desenvolvimento urbano da capital às vésperas da República. Mesmo que nem todas as idéias
contidas no relatório tenham sido colocadas em prática, demonstraram a visão que se tinha na
época para uma nova cidade pautada nas concepções modernas, cujo tecido urbano seria o
reflexo da própria racionalidade capitalista que ecoava pelo mundo.

A quadrícula foi no mundo ocidental o instrumento urbanístico identificado com a


racionalidade capitalista mais crua, porque possibilitava um crescimento quase
ilimitado e permitia a edificação sobre ela sem mais limites que o tecnológico e a
capacidade de investimento de capital [...] (ANDREATTA, 2006, p.169).

A quadrícula propiciava duas operações urbanas simultâneas: uma de divisão do


solo e outra de multiplicação da edificação (MANIERI-ELIA, apud, ANDREATTA,
2006, p.169).

Os mapas 27 e 28 ilustram as propostas do 1º Relatório da Comissão de


Melhoramentos para a expansão do Rio de Janeiro, que em parte compreendia a Cidade Nova.
197

Mapa 27 – Esquema da Comissão de Melhoramentos para a Cidade Nova e áreas adjacentes


s/escala

Fonte: ANDREATTA (2006).

Mapa 28 – Propostas da Comissão de Melhoramentos para o Rio de Janeiro - 1875


s/escala

Fonte: ANDREATTA (2006).


Desenvolvido sobre base urbana de 2000.
198

CONCLUSÃO

Esta pesquisa e este trabalho objetivaram analisar o surgimento da Cidade Nova do


Rio de Janeiro, no início do século XIX, e como se deu o processo de formação e
consolidação de sua estrutura urbana, até o lançamento do Primeiro Plano Urbanístico da
Cidade do Rio de Janeiro, em 1875.

Os dois primeiros capítulos contribuíram para o entendimento da dinâmica fundiária


do território brasileiro, principalmente no Rio de Janeiro desde o período colonial, e daqueles
que seriam considerados os espaços públicos e privados da cidade nos momentos em que
ocorreram os movimentos de expansão da urbe em direção às áreas ainda esparsamente
ocupadas.

Em seguida, foi realizado um estudo pretendendo recuperar as etapas de construção do


tecido urbano na área de mangue, confinada entre o Campo de Santana e a antiga sesmaria
dos jesuítas, que até o final dos setecentos era praticamente intransponível. Para tal, foi
utilizada como linha mestra a análise da dinâmica fundiária, bem como o arruamento, como
um elemento que refletia os interesses dos diferentes agentes que despontavam na região. O
intuito era demonstrar que a imagem da Cidade Nova ao final do século XIX, como um local
de passagem e de fixação de uma população de rendas média e baixa e de atividades
econômicas complementares ao centro antigo, é fruto de um curto período na evolução
histórica da área. Ou seja, desde os tempos de rossio da cidade, quando por ali circulavam as
classes menos abastadas e excluídas do convívio social da capital da colônia e cujas terras
concentravam-se nas mãos de poucos e expressivos proprietários, até o final da primeira
metade dos oitocentos, cuja ocupação era caracteristicamente aristocrática, a constituição da
sua estrutura urbana não se deu de forma espontânea e se apresentou bastante lenta em relação
ao ocorrido pós-anos 50.

Dessa maneira, propõe-se aqui relacionar os principais itens discutidos ao longo do


trabalho e elaborar um resumo com as conclusões acerca da problemática que envolve o
objeto de estudo desta dissertação.
199

A criação da Cidade Nova – primeira metade do século XIX

Considerado o rossio da cidade do Rio de Janeiro, a área do mangal de São Diogo


começou a ser parcelada a partir da cessão de sesmarias que fizeram parte do patrimônio
público da Coroa portuguesa. Visto até então como o território perigoso, freqüentado pelos
negros e pobres, como o lugar de cemitérios, matadouros e despejo dos resíduos gerados na
cidade, aqueles arrabaldes mostravam-se desvalorizados em relação ao núcleo colonial que
crescia e já atingia as bordas do Campo de Santana.

A chegada da família real e da Corte portuguesa determinou o espraiamento do tecido


urbano em direção às terras do mangue, apesar das condições nada apropriadas para a
ocupação daquele sítio. A decisão de habitá-lo partiu da idealização de dom João de construir
uma nova cidade, moderna segundo os padrões difundidos na Europa, que ocupasse uma
posição estratégica, ou seja, intermediária entre o centro administrativo da capital e o local de
moradia da realeza. Portanto, pode-se afirmar que, daquele momento em diante, o poder local
na cidade, representado pela figura do monarca português, agiu como o principal agente de
fomento da construção e ocupação da Cidade Nova. As suas ações naquele território refletiam
o desejo de se implantarem os hábitos civilizados e fazer jus ao papel de capital portuguesa na
América. As várias ações empreendidas pelo governo, como os decretos que estimularam a
edificação de sobrados para além do Campo de Santana e a liberação de obras de saneamento
na região, ratificaram uma política urbanizadora arrojada para a sociedade escravista e
colonial que aqui figurava. Vale dizer que o próprio nome Cidade Nova, em contraposição à
cidade velha consolidada, representava uma nova imagem que se intentava imprimir.

Desse modo, os anos que se seguiram marcaram a concepção de um Urbanismo


Imperial, rascunhado pelos artistas franceses da Missão de 1816 e pelas propostas que
vislumbravam explicitar a condição de uma nação que surgia sob o comendo de dom Pedro I.
O urbano aparecia como o território das expressões de um poder, não mais apenas local, mas
daquele ponto em diante, nacional. O Rio de Janeiro tornara-se a capital imperial, cujo
principal espaço público, o centro político e administrativo, deslocara-se para o Campo de
Santana, batizado como o de Aclamação. Conciliava-se a ereção do centro do Império do
Brasil às necessidades de expansão da urbe, por conta do crescimento populacional e da
ausência de espaços livres no núcleo antigo. Naquela época, a partir dos anos 20, o entorno do
campo já indicava sinais de um adensamento que ocorria nas principais ruas do mangue, a do
Aterrado, de São Diogo e Nova do Conde, nos refinados sobrados que abrigavam nobres,
200

comerciantes portugueses e militares. Ressalte-se, que persistiam os resquícios das antigas


chácaras do início dos oitocentos e os terrenos alagadiços ainda não tinham sido
completamente aterrados.

A partir dos anos 30, o Rio de Janeiro já podia contar com a implantação de posturas
reguladas pela Câmara, que davam providências quanto à salubridade e aos hábitos na cidade.
Ganhava força o discurso higienista que chamava atenção para os problemas de ordem
sanitária, principalmente na Cidade Nova, por conta da ocupação gradativa das terras ao longo
dos braços do Saco de São Diogo que ainda penetravam no tecido urbano que já atingira as
proximidades do Rocio Pequeno e se intensificava pelo antigo caminho de Mata-porcos. É
importante lembrar, conforme visto, que data daquela época o surgimento das primeiras
habitações coletivas, como as estalagens, nos quarteirões próximos ao Campo de Santana,
indicando que a concentração urbana já transpunha os antigos limites do centro colonial, em
direção à Cidade Nova. As obras de aterro e drenagem não cobriam toda a área e o problema
do sítio pantanoso persistia como uma barreira à valorização dos imóveis e à permanência da
antiga classe abastada, que se via ameaçada pela fixação de parcelas de renda baixa na
localidade.

Na década de 40, ainda sob os efeitos do ideário de reordenamento dos espaços da


cidade, foi lançado o Relatório de Beaurepaire Rohan com o intuito de promover a sua
organização formal. Efeitos no sentido das concepções que ainda contemplavam uma
regularidade da malha viária e a adoção de grandes eixos visuais que revelassem uma
arquitetura imponente e requintada. Porém, a diferença crucial entre o documento de Rohan e
aquele Urbanismo Imperial era a sua verdadeira intenção na regularização da estrutura
urbana: a salubridade por meio da aplicação de infra-estrutura calcada em técnicas de
engenharia avançadas para a época, que indicassem o caminho para um futuro
desenvolvimento da urbe. Em suas propostas, o Campo de Santana assumiria a
responsabilidade pela comunicação entre a cidade velha e uma nova forma ou desenho de
cidade que se desenvolveria sobre o mangue, com a abertura de ruas e espaços públicos bem
definidos. Ou seja, as sugestões para a conformação da malha urbana da Cidade Nova que
despontaram na primeira metade do século XIX espelhavam a idealização de um território de
experiências que pudessem contribuir para amenizar a aparência colonial indesejada da capital
da Corte. Porém, o que se viu ao final daquele período foi uma expansão da malha viária,
retificada e abrangendo uma estrutura fundiária que destoava daquela pretendida por Rohan,
com lotes estreitos e profundos, dispostos frontalmente às principais ruas e sem ordenamento
201

na implantação das edificações no interior dos terrenos – em nada favorecendo o arejamento e


a salubridade da região.

A lenta evolução do tecido urbano da Cidade Nova e do próprio movimento de


ocupação das terras, em que até meados dos anos 40 ainda dispunha do registro de chácaras,
relatavam as dificuldades impostas pela característica física da área. Além disso, ao poder
público interessavam as melhorias ao longo dos principais eixos viários que permitiam o
contato com os arrabaldes de São Cristóvão e no entorno do Campo de Santana. Os demais
trechos da área ficavam a mercê do requerimento dos proprietários para o alinhamento e
arruamento, num momento marcado pelos constantes conflitos fundiários entre foreiros.

O declínio da Cidade Nova – segunda metade do século XIX

A virada para a segunda metade dos oitocentos marcou a inserção de novos elementos
que permitiram a ocupação gradativa das áreas mais distantes do núcleo central colonial e,
paralelamente, a separação dos usos e classes sociais no espaço carioca. O crescimento de um
mercado de trabalho até então praticamente inexistente, cuja mão-de-obra deixava de ser
escrava para dar lugar ao trabalho assalariado, associada à injeção do capital externo,
estimulava a entrada e fixação de estrangeiros e homens livres provenientes de outras regiões
do país. O Rio de Janeiro crescia e lançava as bases para a sua adaptação às novas relações de
produção capitalistas, cujo principal agente modelador do espaço traduzia-se nos
empreendimentos concedidos aos investimentos estrangeiros.

Naquele período, o poder imperial e ao mesmo tempo local tornava-se o responsável


direto pelo desenvolvimento da capital, por conta dos incentivos às atividades fabris e à
concessão para a aplicação de novos serviços urbanos em determinadas áreas da cidade.
Nesse sentido, os primeiros meios de transportes – as gôndolas -, bem como as
concessionárias de abastecimento de água, esgoto e iluminação determinaram o crescimento
físico do Rio, apontando diferenças qualitativas entre as diversas localidades. Ou seja, as
classes mais abastadas, com maior mobilidade no território, migraram para a zona sul –
servida de infra-estrutura urbana e melhorias -, enquanto os menos privilegiados permaneciam
no congestionado e denso núcleo urbano, bem como nos seus arredores. Mais tarde, as
companhias de bondes e trens apenas reforçariam essa tendência de distanciamento sócio-
202

espacial, com os pobres no centro e nas periferias e os abastados próximos ao litoral e à


Floresta da Tijuca.

Interessante é notar que o Estado, associado à iniciativa privada, acabou definindo as


perspectivas de desenvolvimento e a própria imagem da Cidade Nova do Rio de Janeiro,
naquele momento, motivado não apenas por fatores políticos como na primeira metade dos
oitocentos, mas por fatores econômicos. Ou seja, o poder público incentivara a aplicação de
capital na produção fabril e paralelamente estipulava, por meio de decretos e posturas,
conforme visto, as áreas em ela poderia funcionar, nos limites do denso e desorganizado
centro urbano. Desse modo, a antiga zona do mangue passou a abrigar pequenas fábricas e
indústrias que contribuíram para a atração de grande contingente populacional para sua
estrutura urbana e determinaram a mudança do seu perfil habitacional e da própria dinâmica
fundiária na região. Local de passagem e pólo de entrada e saída daqueles que se utilizavam
dos meios de transportes coletivos, como os trens e bondes, a Cidade Nova, como opção mais
próxima ao centro do Rio, também agregaria um variado e significativo mercado de trabalho,
com a difusão de novos usos e formas de apropriação do seu espaço.

Ressalte-se que contribuíram para esse processo a implantação da fábrica de gás do


barão de Mauá, ocupando um quarteirão inteiro junto à Praça Onze de Junho, e abrigando
uma grande parcela de trabalhadores livres e de escravos remanescentes e aquelas destinadas
à produção de velas, sabão, tecidos, fumo e bebidas, que junto com a canalização e retificação
do Canal do Mangue tiveram facilitada a circulação de suas mercadorias em direção ao
interior e ao litoral da baía.

Os dados e seu mapeamento indicaram que nas últimas décadas do século XIX, a
Cidade Nova já apresentava variados pontos de comércio – confeitarias, armarinhos, boticas,
tavernas e botequins -, que paralelamente à implantação das fábricas, deu início à criação de
um mercado interno que atendia ao novo perfil de moradores da área, entre eles os
trabalhadores domésticos, de manufaturas e ofícios, os pequenos comerciantes e militares.

A demanda por habitações que refletia a crise na área central da cidade estimulou o
mercado imobiliário na Cidade Nova, dando impulso à proliferação de tipologias populares e
coletivas que abrigavam sob o mesmo espaço famílias diferentes. A antiga rua de São Diogo
passou a contar com uma significativa proporção de estalagens e cortiços, assim como a
General Caldwell, que já demonstrava características bastante distintas daquelas presentes no
início do século XIX, quando por ali e nas proximidades do Campo de Santana figuravam os
sobrados refinados pelo neoclássico difundido pelos franceses.
203

As antigas residências aristocráticas sofreram parcelamentos e foram adaptadas para


disponibilizar a maior quantidade possível de cômodos que abrigassem a demanda por
moradias naquela localidade. No início dos anos 70, a freguesia de Santana alojava o maior
número de habitantes do Rio e apresentava cerca de 24% de cortiços, do total existente na
área urbana, enquanto a segunda colocada, a freguesia da Glória, alcançava 16%. As ações e
providências da Junta Central de Higiene procuravam combater os maiores problemas da
época, a aglomeração e a coabitação que se tornaram caso de polícia e alvos das posturas e
dos projetos em prol da salubridade. Em 1875, ainda sob os efeitos da crise habitacional e do
retorno das epidemias, foi lançado o Relatório dos engenheiros da Comissão de
Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro para solucionar e eliminar a aparência
desordenada e acanhada da capital. Sob o discurso do embelezamento e dos melhoramentos
por conta da aplicação de novas técnicas modernas e detalhadas de infra-estrutura, resgatou-se
e difundiu-se a concepção das grandes avenidas ou boulevards que integrariam os principais
pontos da cidade, a partir de um ideal de eixos visuais e amplos espaços públicos. A tendência
à regularização e ortogonalidade da malha viária e a redução das quadras acabariam
instituindo um modelo racional capitalista que, às custas de inúmeras desapropriações, se
espelharia no próprio território da Cidade Nova na virada do século XIX para o XX.

Considerações finais

O estudo e as análises deixaram claro que a estrutura fundiária e a própria


conformação urbana da Cidade Nova fizeram parte da expressão do poder público, seja ele a
monarquia portuguesa ou o Império brasileiro – sob a forma de atuação da Câmara Municipal.
Nesse sentido, o Estado acabou desenvolvendo um importante papel que refletia os anseios,
inicialmente, dos grandes proprietários de terras e em seguida das classes dominantes e do
capital estrangeiro. As obras de drenagem e aterro dos pântanos, de arruamento e calçamento,
bem como as ações indiretas ligadas à implantação de uma política urbanizadora e à criação
de posturas acabaram definindo os padrões de crescimento e delineando o perfil de seus
habitantes e da organização fundiária daquela localidade.

A partir de 1852, quando já havia sido concluído o aterro do mangue, mas não sanado
o problema de alagamento e drenagem dos terrenos próximos ao canal, foi estimulada a
entrada de capitais estrangeiros na área para a criação de fábricas e pequenas atividades
204

industriais, mas não houve investimentos nos setores ligados à infra-estrutura urbana, como o
abastecimento de água e o esgotamento sanitário. As empresas concessionárias estrangeiras
promoveram uma diferenciação espacial da cidade do Rio de Janeiro e contribuíram para o
deslocamento de parcelas endinheiradas em direção à zona sul e ao Alto da Boa Vista.

Nesse contexto, verificou-se que o crescimento das moradias populares coletivas na


Cidade Nova teve seu ponto máximo no final dos anos 50, ao mesmo tempo em que a capital
passou a contar com o investimento de capitais externos e de novas infra-estruturas urbanas.
Dentro dessa perspectiva, nota-se que as transformações fundiárias, das tipologias
habitacionais e do perfil ocupacional aconteceram em um curto intervalo de 20 anos,
enquanto que a própria criação e as primeiras ocupações fizeram parte de um processo de
aproximadamente 40 anos. Ou seja, entre 1808 e 1875, o governo idealizou e incentivou a
formação de uma nova e moderna estrutura urbana para o Rio de Janeiro e atuou de forma
direta e indireta, aliado à privatização de suas terras, para a transformação dos seus usos e
funções, permitindo a fragmentação do seu tecido e a consolidação de uma imagem denegrida
que se perpetuaria ao longo do século XX.
205

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Brasileira de História, [s.i.], n. 16, p. 107-142, 1988.

TEIXEIRA, Manuel C. As praças urbanas portuguesas quinhentistas. In: COLÓQUIO


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TELLES, Angela Maria Cunha da Motta. Da arquitetura revolucionária à civilização dos


trópicos: Grandjean de Montigny e a missão do arquiteto. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. v.3.
97 p.

VAZ, Lilian Fessler. Notas sobre as praças do Rio de Janeiro no período colonial. In:
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WANDERLEY, João Maurício. Proposta e relatório apresentado à Assembléia Geral


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212

Internet

ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 200 anos da chegada da família


real ao Brasil. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/arquivo/familia_real >. Acesso em:
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<http://www.jfse.gov.br/obras%20mag/artigoterrasdevdirley.html>. Acesso em: 06 jun. 2006.

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<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2003/08/06/001.htm>. Acesso em: 08 out. 2006.

IBGE. Recenseamento da população do Município Neutro de 1872. Disponível em:


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IMAGENS: solar do barão de Cotegipe e Palácio Itamaraty. Disponível em:


<http://fotolog.terra.com.br/luizd>. Acesso em: 08 jan. 2007.

IMAGEM: quartel no Campo de Santana. Disponível em:


<http://200.181.6.49/06OMs/RM/base/ba1rm/indice.htm>. Acesso em: 20 fev. 2007

IMAGEM: carro parisiense da segunda metade do século XIX. Disponível em:


<http://br.geocities.com/spacio7/rio-bus-01.htm>. Acesso em: 19 dez. 2006.

IMAGEM: Companhia de Iluminação a Gás do barão de Mauá – 1854. Disponível em:


<http://flog.digizap.com.br/rioantigo>. Acesso em: 27 abr. 2006.

IMAGEM: Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II. Disponível em:
<http://www.bricabrac.com.br/fset_rioantigo.htm>. Acesso em: 27 abr. 2006.

IMAGEM: gravura aquarelada de Franz Josef Frühbeck. Disponível em:


<http://sitededicas.uol.com.br/clip_rj.htm>. Acesso em: 27 abr. 2006.
213

MAPAS temáticos. Disponível em:


<http://www.unicamp.br/cecult/mapastematicos/index.html>. Acesso em: 01 fev. 2007.

MAPA da Cidade do Rio de Janeiro, em 1769, reproduzido. Disponível em:


<http://www.brazilbrazil.com/riomaps>. Acesso em: 24 jul. 2006.

Outras fontes consultadas

Arquivo Nacional – Fundo / Coleção - Código 20 / F-08 – terras, estados / estados, terras
– fazendas, sesmarias / estados, chácaras:

Corte de Apelação: Notação: 1417 - Caixa: 80 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 2222 - Caixa: 917 - Galeria: A

Corte de Apelação: Notação: 2860 - Caixa: 171 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 87 - Caixa: 531 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 2007 - Caixa: 125 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 100 - Caixa: 532 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 112 - Caixa: 2324 - Galeria: A

Corte de Apelação: Notação: 198 - Caixa: 2324 - Galeria: A

Corte de Apelação: Notação: 956 - Caixa: 577 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 185 - Caixa: 2947 - Galeria: A

Corte de Apelação: Notação: 1853 - Caixa: 1693 - Galeria: A

Corte de Apelação: Notação: 1967 - Caixa: 123 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 2564 - Caixa: 156 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 553 - Caixa: 556 - Galeria: C

Corte de Apelação: Notação: 1984 - Caixa: 1702 - Galeria: A

Corte de Apelação: Notação: 2523 - Caixa: 419 - Galeria: A

Corte de Apelação: Notação: 1726 - Caixa: 1686 - Galeria: A


214

Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro – Manuscritos:

Códice 41-1-5: ano 1776 - Certidões de vendas de terras

Códices 31-4-58 (ano 1813) / 32-1-8 (ano 1832) - Desapropriações de prédios e terrenos

Códice 43-1-25 - Estalagens com casa de comércio e cortiços

Códices 32-1-39 / 32-1-40 / 32-1-43 / 32-2-5 / 32-2-6 / 32-2-8 / 32-2-11 / 32-2-13 / 32-2-15 /
32-2-16 / 32-2-17 / 32-2-19 - Arruações e termos

Códices 51-3-26 / 51-3-28 / 52-3-25 - Calçamentos e construção de logradouros públicos

Códices 41-3-81 / 41-3-75 - Décima Urbana

Códices 68-3-2 / 68-3-16 / 68-3-19 / 68-3-28 / 68-3-32 - Limites de vilas, distritos, freguesias
e municípios

Códice 1-4-37 - Medição e avaliação de terrenos de marinha da Cidade Nova

Códice 44-2-7: ano 1866 - Habitações coletivas

Códices 50-4-13 / 50-4-14 / 50-4-16 - Venda de casas e de terrenos foreiros

Códice 50-3-72: ano 1840 – 1895 - Valas na freguesia de Santana

Códice 31-4-34B - Logradouros públicos da cidade do Rio de Janeiro

Códice 9-1-9 - RJ Gas Company: aproveitamento das águas do canal do mangue

Códice 3-1-96 - Aterrado, Rua do. 1843 – 1853

Códice 3-1-94 - Aterrado, Rua do. 1844 – 1855

Códice 3-1-93 - Aterrado, Rua do. 1846

Códice 3-1-48 - Cidade Nova, Mangue da. S/D

Códice 4-2-18 - Cidade Nova, Mangue da. 1813 - 1870

Códice 4-1-39 - Cidade Nova, Mangue da. 1815 - 1892

Códice 5-2-69 - Cidade Nova, Mangue da. 1821

Códice 5-1-17 - Cidade Nova, Mangue da. 1829 - 1845

Códice 1-4-32 - Cidade Nova, Mangue da. 1833

Códice 1-4-33 - Cidade Nova, Mangue da. 1833 - 1849


215

Códice 3-2-65 - Cidade Nova, Mangue da. 1835

Códice 2-4-20 - Cidade Nova, Mangue da. 1835

Códice 1-4-35 - Cidade Nova, Mangue da. 1840 - 1846

Códice 3-1-68 - Cidade Nova, Mangue da. 1844

Códice 1-2-69 - Eusébio, Senador, Rua. (antiga Rua do Aterrado da Cidade Nova). 1820 –
1891

Códice 2-1-10 - Eusébio, Senador, Rua. 1840 – 1887

Códice 3-1-11 - Formosa, Rua. 1832 – 1853

Códice 5-1-23 - Formosa, Rua. 1835 – 1894

Códice 5-1-22 - Formosa, Rua. 1848 – 1880

Códice 3-2-74 - Mata-porcos, Caminho de. 1801 – 1839

Códice 3-1-69 - Mata-porcos, Terras de. S/D

Códice 3-1-48 - Nova de São Diogo, Rua. S/D

Códice 4-1-30 - Nova do Conde, Rua. 1788 – 1856

Códice 4-2-36 - Nova do Conde, Rua. 1805 – 1840

Códice 4-2-34 - Nova do Conde, Rua. 1816 – 1881

Códice 4-2-35 - Nova do Conde, Rua. 1836 – 1892

Códice 4-2-37 - Nova do Conde, Rua. 1840 – 1891

Códice 4-2-38 - Nova do Conde, Rua. 1845 – 1857

Códice 4-1-30 - Nova do Conde, Rua. 1788 – 1891

Códice 3-1-48 - São Diogo, Mangue de. S/D

Códice 4-1-35 - São Diogo, Mangue de. 1810 - 1866

Códice 3-1-95 - São Diogo, Mangue de. 1814 - 1857

Códice 4-2-18 - São Diogo, Mangue de. 1814 - 1870

Códice 4-1-37 - São Diogo, Mangue de. 1814 - 1894

Códice 3-1-100 - São Diogo, Mangue de. 1817 - 1855


216

Códice 1-4-31 - São Diogo, Mangue de. 1817 - 1848

Códice 3-2-65 - São Diogo, Mangue de. 1835

Códice 2-1-7 - São Diogo, Mangue de. 1840 - 1875

Códice 2-1-4 - São Diogo, Mangue de. 1841 - 1849

Códice 3-1-96 São Diogo, Mangue de. 1843 - 1853

Códice 4-1-36 São Diogo, Mangue de. 1894 - 1879

Códice 4-1-28 São Diogo, Mangue de. 1846 – 1850 e 1858

Códice 1-2-49 São Diogo, Mangue de. 1844

Códice 3-1-90 São Diogo do Aterrado, Rua de. 1833 - 1857

Códice 3-1-90 São Pedro do Aterrado, Rua de. 1833 – 1857

Códice 3-1-90 São Pedro do Aterrado, Rua de. 1842 – 1856

Códice 3-1-92 São Pedro do Aterrado, Rua de. 1842 – 1856

Códice 3-1-46 Velha de São Diogo, Rua. 1819 – 1855

Códice 1-2-34 - Caldwell, General, Rua. 1854 – 1862

Códice 1-4-36 - Cidade Nova, Mangue da. 1851 - 1885

Códice1-4-37 - Cidade Nova, Mangue da. 1856 – 1873

Códice 3-1-51 - Eusébio, Senador, Rua. 1870 – 1876

Códice 2-1-11 - Eusébio, Senador, Rua. 1873 – 1874

Códice 3-2-20 - Rocio Pequeno, Largo do. 1855 – 1866

Códice 4-1-36 São Diogo, Mangue de. 1894 - 1879

Códice 3-1-29 São Diogo, Mangue de. 1855

Códice 2-2-61 São Diogo, Mangue de. 1855


217

ANEXO A - LEI Nº 601 (LEI DE TERRAS) DE 18 DE SETEMBRO DE 1850

D. Pedro II, por Graça de Deus e Unânime Acclamação dos Povos, Imperador
Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil: Fazemos saber a todos os Nossos Súbditos, que
a Assembléia Geral Decretou, e Nós Queremos a Lei seguinte:

Art. 1.º Ficam prohibidas as acquisições de terras devolutas por outro titulo que não
seja o de compra.

Exceptuam-se as terras situadas nos limites do Império com paizes estrangeiros em


uma zona de 10 léguas, as quaes poderão ser concedidas gratuitamente.

Art. 2.º Os que apossarem de terras devolutas ou alheias, e nellas derribarem matos,
ou lhes puzerem fogo, serão obrigados a despejo, com perda de bemfeitorias, e demais
soffrerão a pena de dous a seis mezes de prisão e multa de 100$000, além da satisfação do
damno causado. Esta pena, porém, não terá logar nos actos possessórios entre heréos
confiantes.

Paragrapho único. Os Juizes de Direito nas correições que fizerem na fôrma das leis
e regulamentos, investigarão si as autoridades a quem compete o conhecimento destes delictos
põem todo o cuidado em proceessal-os e punil-os, e farão effectiva a sua responsabilidade,
impondo no caso ded simples negligencia a multa de 50$000 a 200$000.

Art. 3.º São terras devolutas:

§ 1.º As que não acharem applicadas a algum uso publico nacional, provincial ou
municipal.

§ 2.º As que não se acharem no domínio particular por qualquer titulo legitimo, nem
forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não
incursas em commisso por falta do cumprimento das condições de medição, confirmação e
cultura.

§ 3.º As que não se acharem occupadas por posses que, apezar de não se fundarem em
titulo legal, forem legitimidas por esta Lei.
218

§ 4.º As que não se acharem occupadas por posses, que apezar de não se fundarem em
titulo legal, forem legitimidas por esta Lei.

Art. 4.º Serão revalidadas as sesmarias, ou outras concessões do Governo Geral ou


Provincial, que se acharem cultivadas, ou com princípios de cultura, e morada habitual do
respectivo Sesmeiro ou concessionário, ou de quem represente, embora não tenha sido
cumprida qualquer das outras condições, com que foram concedidas.

Art. 5.º Serão legitimadas as posses mansas e pacificas, adquiridas por occupação
primaria, ou havida do primeiro occupante, que se acharem cultivadas, ou com principio de
cultura e morada habitual do respectivo posseiro ou de quem represente, guardadas as regras
seguintes:

§ 1.º Cada posse em terras de cultura, ou em campos de criação, comprehenderá, além


do terreno aproveitado ou do necessário para pastagem dos animais que tiver o posseiro, outro
tanto mais de terreno devoluto que houver contíguo, contanto que em nenhum caso a extensão
total da posse exceda a de uma sesmaria para cultura ou criação, igual ás ultimas concedidas
na mesma comarca ou na mais vizinha.

§ 2.º As posses em circumstancia de serem legitimadas, que não em se acharem em


sesmarias ou outras concessões do Governo, não incursas em commisso ou revalidadas por
esta Lei, só darão direito á indemnização pelas bemfeitorias.

Excecptua-se desta regra o caso de verificar-se a favor da posse qualquer das seguintes
hypotheses: 1ª, o ter sido declarada boa sentença passada em julgado entre os sesmeiros ou
concessionários e os posseiros; 2ª, ter sido estabelecida antes da medição da sesmaria ou
concessão, e não pertubada por cinco annos; 3ª, ter sido estabelecida depois da medição e não
perturbada por 10 annos.

§ 3.º Dada a excepção do paragrapho antecedente, os posseiros gozarão do favor que


lhes assegura o § 1º, competindo ao respectivo sesmeiro ou concessionario ficar com o terreno
que sobrar da divisão feita entre os ditos posseiros, ou considerar-se também posseiro para
entrar em rateio igual com elles.

§ 4.º Os campos de uso commum dos moradores de uma ou mais freguezias,


municípios ou comarcas serão conservados em toda a extensão de sua divisas, e continuarão a
prestar o mesmo uso, conforme a pratica actual, enquanto por lei não dispuzer o contrario.
219

Art. 6.º Não se haverá por principio de cultura para revalidação das sesmarias ou
outras concessões do Governo, nem para a legitimação de qualquer posse, os simples roçado,
derribadas ou queimas de matos de campos, levantamentos de ranchos e outros actos de
semelhante natureza, não sendo acompanhados da cultura effectiva e morada habitual
exigidas no artigo antecedente.

Art. 7.º O Governo marcará prazo dentro dos quaes deverão ser medidas as terras
adquiridas por posse ou por sesmarias, ou outras concessões, que estejam por medir, assim
como designará e instruirá as pessoas que devem fazer a medição, attendendo ás
circumstancia prorogar os prazos marcados, quando julgar conveniente., por medida gera que
comprehenda todos os possuidores da mesma Província, comarca ou município, onded a
prorogação convier.

Art. 8.º Os possuidores que deixarem de proceder á medição nos prazos marcados
pelo governo serão reputados cahidos em commisso, e perderão por isso o direito que tenham
a serem preenchidos das terras concedidas por seus titulos, ou por favor da presente lei,
conservando-o somente para serem mantidos na posse do terreno que ocupparem com
effectiva cultura, havendo-se por devolutos o que se achar inculto.

Art. 9.º Não obstante os prazos que forem marcados, o Governo mandará proceder á
medição das terras devolutas, respeitando-se no acto da medição os limites das concessões e
posses que se acharem nas circumstancia dos arts. 4º e 5.º

Qualquer opposição que haja da parte dos possuidores não impedirá a medição; mas,
ultimada esta, continuará vista aos oppoente para deduzirem seus embargos em termo breve.

As questões judiciárias entre os mesmo possuidores não impedirão tão pouco as


diligencias tendentes á execução da presente Lei.

Art. 10. O Governo proverá o modo pratico de extremar o domínio publico do


particular, segundo as regras acima estabelecidas, incumbido a sua execução ás autoridades
que julgar mais convenientes, ou a comissários especiais, as quaes procederão
administrativamente, fazendo decidir por árbitros as questões e duvida de facto, e dando de
suas próprias decisões recurso para o Presidente da Província, do qual o haverá também para
o Governo.
220

Art. 11. Os posseiros serão obrigados a tirar títulos dos terrenos que lhes ficarem
pertencendo por effeito desta Lei, e sem elles não poderão hypotecar os mesmos terrenos,
nem alienal-os por qualquer modo.

Estes títulos serão passados pelas Repartições provinciais que o Governo Designar,
pagando-se 5$000 de direitos da Chancellaria pelo terreno que não exceder de um quadrado
de 500 braças por lado, e outrotanto por cada igual quadrado que mais contiver a posse; e
além disso 4$000 de feito, sem mais emolumentos ou sello.

Art. 12. O Governo reservará das terras devolutas as que julgarem necessarias: 1º,
para a colonisação dos indígenas; 2º, para a fundação de povoações, aberturas de estradas, e
quaesquer outras servidões, e assento de estabelecimento públicos; 3º, para a construção
naval.

Art. 13. O mesmo Governo fará organizar por freguezias o registro das terras
possuídas, sobre as declarações feitas pelos respectivos possuidores, impondo multas e penas
áquelles que deixarem de fazer nos prazos marcados as ditas declarações, ou se fizerem
inexactas.

Art. 14. Fica o Governo autorizado a vender as terras devolutas em hasta publica, ou
fóra della, como e quando julgar mais conveniente, fazendo previamente medir, dividir,
demarcar e descrever a porção das mesmas terras que houver ser exposta á venda, guadadas as
regras seguintes:

§ 1.º A medição e a divisão serão feitas, quando o permitirem as circumstancias


locaes, por linhas que corram de norte ao sul,conforme o verdadeiro meridiano, e por outras
que as cortem em angulos rectos, de maneira que formem lotes ou quadrados de 500 braças
por lados marcado convenientemente.

§ 2.º Assim esses lotes, como as sobras de terras,em que se puder verificar a divisão
acima indicada, serão vendidos separademente sobre o preço minimo, fixado antecipadamente
e pago á vista, de meio real, um real, real e meio, e dous réis,por braça quadrada, segundo for
a qualidade e situação dos mesmos lotes e sobras.

§ 3.º A venda fora da hasta publica será feita pelo preço que se ajustar, nunca abaixo
do mínimo fixado, segundo a qualidade e situação dos respectivos lotes e sobras, ante o
Tribunal do Thesouro Publico, com assistencia do Chefe da Repartição Geral das Terras, na
221

Provincia do Rio de Janeiro, e ante as Thesourarias, com assistencia de um delegado do dito


Chefe, e com approvação do respectivo Presidente, nas oputras Provincias do Imperio.

Art. 15. Os possuidores de terra de cultura e criação, qualquer que seja o tinio de sua
acquisição, terão preferencia na compra de terras devolutas que lhes foram contíguas, com
tanto que mostrem pelo estado da sua lavoura ou criação, que têm os meios necessarios para
aproveital-as.

Art. 16. As terras devolutas que se venderem ficarão sempre sujeitas aos onus
seguintes:

§ 1.º Ceder o terreno preciso para estradas publicas de uma povoação a outra, ou
algum porto de embarque, salvo o direito de indemnização das bemfeitorias e do terreno
occupado.

§ 2.º Dar servidão gratuita aos vizinhos quando lhes for indispensavel para sahirem a
uma estrada publica, povoação ou porto de embarque, e com indemnização quando lhes for
proveitosa por encurtamento de um cuaro ou mais de caminho.

§ 3.º Consentir a tirada de aguas desaproveitadas e a passagem dellas, precedendo a


indemnização das bemfeitorias e terreno occupado.

§ 4.º Sujeitar ás disposições das leis respectivas quaesquer minas que se descobrirem
nas mesmas terras.

Art. 17. Os estrangeiros que comprarem terras, e nellas se estabelecerem, ou vieremá


sua custa exercer qualquer industria no paiz, serão naturalizados, querendo, depois de dous
annos de residencia pela fórma por que o foram os da colonia de S. Leopoldo, e ficarão
isentos do serviço militar,menos do da Guarda Nacional dentro do municipio.

Art. 18. O Governo fica autorizado a mandar vir annualmente á custa do Thesouro
certo numero de colonos livres para serem empregados, pelo tempo que for marcado, em
estabelecimentos agricolas ou nos trabalhos dirigidos pela Administração publica, ou na
formação de colônias nos ologares em que estas mais convierem; tomando antecipadamente
as medidas necessarias para que taes colonos achem emprego logo que desembarcarem.

Aos colonos assim importados são applicaveis as disposições do artigo antecedente.


222

Art. 19. O producto dos direitos de Chancellaria e da venda das terras, de que tratam
os arts. 11 e 14, será exclusivamente applicado: 1º, á ulterior medição das terras devolutas, e
2º, á importação de colonos livres, conforme o artigo precedente.

Art. 20 Emquanto o referido producto não fôr sufficiente para as depezas a que é
destinado, o Governo exigirá annualmente os créditos nececssários para as mesmas despezas,
ás quaes applicará desde já as sobras anteriores dados a favor da colonisação, e mais a somma
de 200:000$000.

Art. 21 Fica o Governo autorizado a estabelecer, com o necessário Regulamento, uma


Repartição especial que se dednominará – Repartição Geral das Terras Públicas – e será
encarregada de dirigir a medição, divisão e descripção das terras devolutas e sua conservação,
de fiscalisar a venda e distribuição dellas, e de promover a colonisação nacional e estrangeira.

Art. 22 O Governo fica autorizado igualmente a impor, nos regulamentos que fizer
para execução da presente Lei, penas de prisão até tres mezes, e de multa até 200$000.

Art. 23 Ficam derogadas todas as disposições em contrario.

Mandamos, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da


referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente, como
nella se contém.

O Secretario de Estado dos Negocios do Império a faça imprimir, publicar e correr.


Dada no Palacio do Rio de Janeiro aos 18 dias do mez de Setembro de 1850, 29º da
Independencia e do Imperio.

Imperador com rubrica e guarda.

Visconde de Mont’alegre.

Carta de lei, pela qual Vossa Magestade Imperial Manda executar o Decreto da
Assembléa Geral, que Houve por bem Sanccionar, sobre terras devolutas, sesmarias, posse e
colonização.
223

Para Vossa Magestade Imperial Ver.

João Gonçalves de Araujo a fez.

Euzébio de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.

Sellada na Chancellaria do Império em 20 de Setembro de 1850.

– Josino do Nascimento Silva.

Brasil. Leis e decretos. Lei 601 de 18 de setembro de 1850: Dispõe sobre as terras devolutas
no Império, e acerca das que são possuídas por título de sesmaria sem preenchimento das
condições legaes, bem como por simples titulo de posse mansa e pacifica: a determina que,
medidas e demarcadas as primeiras, sejam ellas cedidas a titulo oneroso, assim para emprezas
a particulares, como para o estabelecimento de colônias de nacionaes e de estrangeiros,
autorizado o Governo a promover a colonisação estrangeira na forma que se declara. Lex-
Coletânea de Legislação, pp. 233-237, 1850.
224

ANEXO B - RELATÓRIOS DE POLÍCIA

Rua General Caldwell (antiga rua Formosa), nº 4:

Doc. 1 - Ofício do Chefe de Polícia ao Pres. da Câmara Municipal e vereadores:

“[...] representa o Subdelegado do 2º distrito da Freguesia de Santa Anna sobre os


inconvenientes que podem provir do fato de se achar estabelecida dentro da estalagem nº 4 da
rua do General Caldwell uma taberna que se conserva aberta toda a noite. Achando justa a
as
representação feita por aquela autoridade, roga à V.V.S.S. se dignem tomar o objeto em
consideração, cassando a licença concedida por essa Illma Câmara”.

Doc. 2 - Oficio da Subdelegacia de Polícia do 2° Distrito de Santana em 21/02/1876, dirigido


ao Chefe de Polícia Miguel Calmon da Pin Almeida:

“Existe na rua do General Caldwell, uma grande estalagem, ou cortiço, onde residem
grande número de indivíduos, a maior parte de péssimas condições e de moralidade duvidosa.
Com surpresa minha verifiquei que dentro da dita estalagem, existe uma taverna que se
ma
conserva aberta dia e noite, a qual obteve licença da Ill Camara Municipal para estabelecer-
se no número 4 da referida rua. Cumpre notar que esta estalagem ocupa uma grande área na
dita rua com diferentes entradas e números. A inconveniência da existência dessa taverna no
ma
centro da estalagem, é óbvio e não escapará de certo ao critério de V. Exª. Que a Ill Camara
Municipal foi iludida quando deu tal licença não resta a menor dúvida, pois ela foi concedida
para o número 4, e portanto está subentendido para estabelecer-se na frente da rua. Em vista
ma
do exposto e a bem da ordem pública solicito de V. Exª, se digne requisitar da Ill Camara
Municipal, seja cassada a referida licença, pelas conseqüências que da continuação da
existência da aludida taverna em tal lugar, sem dúvida alguma há de resultar”.

Doc. 3 - Informação do Fiscal da Freguesia de Santana para a Câmara Municipal:

“Na estalagem nº 4 da rua do General Caldwell, se acha estabelecido e


competentemente licenciado para ter taberna, charutos e miudezas de armarinho José Ribeiro
225

Bastos de Freitas, a quem interroguei a respeito da conservação de sua casa de negócio aberta
(segundo diz aquele subdelegado) a toda hora da noite, o que negou-me o mesmo Bastos de
Freitas, acrescentando achar-se pronto a todo o momento, justificar o contrário, com pessoas
ma
insuspeitas. O fato de abrir-se competentemente licenciada pela Ill Camª Municipal uma
taberna dentro de estalagem, se é novo nesta Freguesia, não o é em outras onde existem
tabernas, dentro de estalagens, e outra se bem que à frente da rua com comunicação para área
das mesmas estalagens. Sobre a conveniência ou inconveniência da existência desse ramo de
negócio dentro de estalagens, não aventurarei idéia alguma pois V. Exª resolverá a respeito
com a ilustração e critério com que o costuma fazer. Deixo de alguma coisa dizer sobre a
opinião do subdelegado do 2º Distrito desta Freguesia, quando afirma que sem a menor
dúvida foi a Illmª Camara iludida ao conceder tal licença, por que mercê de Deus julgo-me
acoberto de com justiça poder ser-me lançada qualquer insinuação dessa ordem no
desempenho de minhas funções, ou mesmo como particular, e se com tal insinuação a esmo
lançada houve em vista ferir-se-me, tenho consciência não chegarão por certo a seus fins,
perante a corporação a quem sirvo sem pecha”.

Doc. 4 - No canto do Fls. 3 há um despacho, certamente de alguém da Câmara Municipal:

“Estando competentemente licenciada a taverna, a única providência a tomar, é fazê-la


vigiar, a fim de que se feche às horas, na forma das posturas, sendo multado o dono, no caso
de infração. Rio 15 de Março de 1876”.

Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ). Documentos manuscritos,


códice 43-1-24, “Estalagem com casa de comércio. Ofício da Secretaria da Polícia sobre uma
estalagem à rua General Caldwell n° 4 e do Fiscal de Sant´Anna. Thomaz Joaquim Tavares”
(1876). In: http://www.unicamp.br/cecult/mapastematicos/index.html - acesso em 01/02/2007.
226

Rua Formosa, nº 185:

Processo criminal. Réu: Bento José Rodrigues.

Local, data, hora: rua Formosa, 185, estalagem, às 2 horas da madrugada do dia 27 de março
de 1872.

Juízo de Direito do 5o. Distrito Criminal; Subdelegacia de Polícia do 2o. Distrito da Freguesia
de Santana. Flagrante (27/03/1872):

1. Bento José Rodrigues, acusado, brasileiro, natural do Rio de Janeiro, 50 anos,


viúvo, sabe ler e escrever assina o nome nos autos, trabalhador (depois “trabalhador da
estrada de ferro”), residente à rua Formosa, 185, estalagem: “Que acordando hoje, e dando
por falta de sua amásia Luiza Maria da Conceição, levantou-se, e saindo de seu quarto
verificou que esta estava no quarto de dois indivíduos que moram em um quarto vizinho ao
dele respondente, e para aí se dirigindo, de fato Luíza daí saindo correu para a rua, e
seguindo-a, ela caiu, e então ele respondente não tendo arma alguma consigo, mordia-a, no
rosto, e foi então quando compareceu o Juiz que o interroga a chamado de alguém, e ordenou
que o acompanhasse a este Juízo. E mais não disse.”

2. Manoel do Nascimento da Silva Pamplona, testemunha, natural da Ilha Terceira,


Portugal, 30 anos, solteiro, assina o nome, tipógrafo (artista), morador à rua Formosa, 185:
“Que hoje seriam uma ou duas horas quando ele respondente chegou à sua casa na estalagem
número acima referido, e no corredor encontrou a ofendida Luíza, que se queixou a ele
respondente, que Bento seu amásio tivera uma desordem com ela; ele respondente recolheu-se
ao seu quarto, em que reside com outro companheiro, deixando ficar a porta encostada como
de costume. Daí a pouco, entrou precipitadamente Luíza, e com pouco assomou Bento
gritando que pusessem aquela mulher para fora, ao que ele e seu companheiro levando-se (sic;
levantando-se?) e vendo de que se tratava, aconselharam a Luíza que fosse para casa de
Bento, que este nada lhe faria, e saindo Luíza, ouviu ele respondente um barulho como de
quem caía pela escada abaixo, e então verificou que Luíza fugindo de Bento descera a escada,
e correra para a rua, e Bento perseguindo-a caíra, porém levantando-se seguira a ofendida, e
saindo ele respondente e o seu companheiro ? para socorrerem se fosse preciso, já encontrara
João Martins de Souza que empregara a força para tirar Bento de cima da ofendida, e então,
foi ele respondente chamar a autoridade, e sendo encontrado o Juiz a quem responde foi
imediatamente ao lugar, e [...]”.
227

3. José Martins Eanes, testemunha, natural de Portugal, 30 anos, solteiro, não assina o
nome, carpinteiro, morador à estalagem no. 185 da rua Formosa: era o companheiro de quarto
de Pamplona; “seu companheiro, que também tendo acordado, procurou acomodar Bento, e
aconselhou Luíza que saísse e fosse para casa dele, porém saindo esta, tratou de correr para a
rua e sendo seguida por Bento, ele respondente acompanhado e a convite de seu companheiro,
saíram para socorrerem à Luíza caso fosse preciso, e chegando à rua, pouco distante da
estalagem em que eles residem, já encontraram o crioulo João, que à força procurava conter
Bento que maltratava à Luíza, e estava ferida no rosto...”

4. João Martins de Souza, testemunha, crioulo, natural do Rio de Janeiro (Corte), 25


anos, solteiro, não assina o nome, pedreiro (artista), residente à rua Formosa, 185: “que ontem
seriam nove horas da noite chegou Bento Rodrigues já muito embriagado como é costume, e
travou-se de razões com Luiza da Conceição com quem vive, por cuja razão esta saindo de
seu quarto foi para o dele respondente, e pediu que fosse acomodar a Bento, o que ele fez e lá
esteve até às dez horas da noite mais ou menos, e quando se retirou encontrou Luiza sentada
na escada e dizendo-lhe ele testemunha [...] que se recolhesse, e ela respondeu-lhe que o não
faria porque Bento estava ainda acordado e sem dúvida dava-lhe, sendo que ele respondente
retirou-se para seu quarto, ficando Luiza no mesmo lugar. Que pela volta das duas horas da
madrugada, vindo o seu vizinho Manoel ainda aí a encontrou, e se informando dela, do que ali
fazia, Luíza lhe contou o que se tinha passado, e sendo isto ouvido por Bento abriu a porta e
como o vizinho Manoel já se recolhido, deixando a porta aberta e encostada, saiu Bento
querendo dar em Luíza, esta então precipitou-se para o quarto do referido vizinho, invocando
sua proteção e de outro companheiro com quem mora, porém Bento reclamando em gritos que
pusessem Luiza para fora, saiu esta aconselhada pelos ditos vizinhos, e gritando por socorro,
ele respondente saiu, e então viu Luiza voltando perseguida por Bento em direção ao quarto
dele respondente, mas já cansada, caiu, e por cima dela Bento, que com mãos e dentes a
espancava, e feriu no rosto, pondo-a no estado em que se acha, então ele respondente a muito
custo tirou Bento de cima da ofendida, e o conteve até que Vossa Senhoria chegou [...]”.

Corpo de Delito: a ofendida tinha muitos ferimentos no rosto, resultando inclusive


numa deformidade devido à perda de tecidos. Dano de 100 mil réis e inabilita por 20 dias.

Inquirição das testemunhas do sumário (em 04/04/1872, pelo Juiz Substituto).

3. José Martins Eanes, confirmou, com mais detalhes: o acusado dizia que “pusesse
sua senhora para fora, e esta dizia que não queria sair, porque o réu lhe batia, então ele
testemunha conseguiu do Réu, garantir-lhe que tal não faria, pelo que a mulher saiu ficando,
228

porém no patamar da escada que dá para a rua [...]”. O réu teria arrancado da face da mulher
“um pedaço de carne com os dentes”; o réu contestou “dizendo que ele não confessou ter
arrancado carne da face de sua companheira, mas sim que lhe dera uns tapas, tendo ela por si
nessa ocasião caído.”

2. Manoel do Nascimento da Silva Pamplona, confirmou: “[...] Sendo que nesta


ocasião encontrou um indivíduo crioulo, que lutando com o réu, impediu que continuasse a
maltratar a mulher” [...]

“Observa, porém ele testemunha que o réu nessa ocasião estava embriagado, e que se
não estivesse não faria o que fez”. Contestado. O réu afirma que a porta do quarto da
testemunha estava fechada, e “às escuras”.

4. João Martins de Souza, o réu já chegou embriagado e quebrou várias coisas no


quarto. A mulher recorreu a ele porque era “o vizinho com quem mais se dá.”

Confirmou as declarações anteriores. Contestado pelo réu.

5. Manoel Fernandes de Pinho, estava no quarto com “a mulher que vive em sua
companhia”. A ofendida entrou em seu quarto, já ferida, quando ele abriu a porta para ver o
que acontecia.

Contestada.

6. Antonia Maria da Conceição, testemunha, natural do Rio de Janeiro, 43 anos,


solteira, não assina o nome, “vive de costuras”, residente à rua Formosa, 185, estalagem: era a
amásia da testemunha acima. Nada de novo.

Não foi contestada.

Interrogatório do réu: vivia na estalagem em questão há mais de quatro anos: “ele réu
se achava embriagado, pelo que dormia, mas quando acordou, dando por falta da mulher que
vivia em sua companhia, saiu para o corredor, e achando a porta do quarto do seu vizinho com
luz e aberta, para lá se dirigiu, e viu então Luíza a quem disse que saísse, que nada lhe faria”.

Pronúncia: Juiz de Direito do 5° Distrito, em 10/04/1872.

Julgamento: as testemunhas não compareceram.

Sentença: Absolvido em 22/05/1872.

Fonte: Arquivo do Primeiro Tribunal do Júri, maço nº 3, processo nº 8, crime de ferimento


grave. In: http://www.unicamp.br/cecult/mapastematicos/index.html - acesso em 01/02/2007.
229

ANEXO C - ORGANOGRAMAS – AFORAMENTOS

Rua do Aterrado

1808 - 1819 – Antonio da Rocha 1808 - 1820 – Antonio Fernandes


Machado Pereira
Chácara de São Diogo Chácara de São Diogo

1808 - 1849 – Domingos Antonio de 1820 - 1849 – Luiza Roza Avondano


Azevedo Cirne Pereira (viúva de Antonio Fernandes
FR:4 braças Pereira)
Chácara de São Diogo

1808 - 1849 – Sargento Mor Francisco 1820 - 1829 – Izidora Maria da


de Paula Borges Piedade
FR:12 braças FR:5 braças

1820 - 1829 – Joaquim José de Queiroz 1820 - 1829 – José Mendes da Costa
FR:4 braças FR:3 braças

1820 - 1829 – Bernarda Maria de Jesus 1830 - 1839 – Theodoro José Junior
Terreno FR:4 braças

1830 - 1849 – José Carneiro Dias 1830 - 1859 – Manoel José de Andrade
Guimarães Terreno comprado de Antonio Vieira
FR:8 braças Rabello

1840 - 1849 – Manoel Gonçalves da 1840 - 1849 – Deolinda Jacintha


Cruz Terreno FR:5 braças + FD:4 braças
Terreno TOT:57,5 braças

1840 - 1849 – José Carlos Mayrinck 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
Terreno FR:20 braças Parte do terreno FR:8 braças

1840 - 1849 – Antonio Paulino Limpo 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
D’Abreo (Visconde de Abaeté) Terreno FR:8 braças + FD:8 braças
Terreno FR:8 braças + FD:8 braças TOT:57,5 braças
TOT:57,5 braças

1840 - 1849 – Desembargador Antonio 1840 - 1849 – Carolina de Souza Costa


José da Veiga FR:6 braças + FD:6 braças
Terreno FR:8 braças TOT:57,5 braças
230

1840 - 1849 – João Bonifácio Alves da 1840 - 1849 – Desembargador Antonio


Silva José da Veiga
FR:10 braças +FD:10 braças FR:10 braças +FD:10 braças
TOT:57.5 braças TOT:57.5 braças

1840 - 1849 – João Bernardo de 1840 - 1849 – Capitão Narcizo de


Carvalho Almeida Carvalho
Terreno da Ponte Grande do Aterrado Terreno da Ponte Grande do Aterrado
até a Bica dos Marinheiros até a Bica dos Marinheiros
FR:28 braças + 6 palmos FR:28 braças + 6 palmos

1840 - 1859 – Carolina Augusta de 1840 - 1849 – Antonio Gonçalves


Miranda Teixeira Varella
Terreno de mangue herdado de FR:6 braças
Agostinho Pinto de Miranda
FR:18 braças + FD:59 braças + 3
palmos
1840 - 1849 – Manoel Machado
Coelho
FR:158 braças
1840 - 1849 – José da Costa Souza
Lima
FR:12 braças + FD:18 braças + 1 1840 - 1849 – Maria Luiza dos
palmo Prazeres
FR:29 braças + 6 palmos + FD:31
braças
1850 - 1859 – Francisco Gonçalves de
Moura
1850 - 1875 – Francisco Antonio da
Terreno de marinha contíguo à casa
Silva
nº44
FR:14 braças + 8 palmos Nº10
Espólio do português José da Costa
Souza Lima 1850 - 1875 – Antonio Gomes Netto
Nº23 / 53
1840 - 1849 – João José Pereira de
Oliveira
FR:26 braças + 6 palmos 1850 - 1875 – Francisca de Paula
Prestes da Fontanna
Nº32
1840 - 1849 – Coronel José da Costa e
Oliveira
FR:4 braças + FD:4 braças 1850 - 1875 – Brás Antonio Carneiro
TOT:57,5 braças Nº56B

1850 - 1875 – Manoel Baptista Ferreira 1850 - 1875 – José Gomes Ferreira
Alves Nº65
Nº29 / 99

1850 - 1875 – Pedro Bonifácio Gomes


1850 - 1875 – André Antonio Ferreira
Nº41 Nº67 / 69
231

1850 - 1859 – José Pereira Cardoso 1850 - 1859 – Firmino Moreira Lyrio
Terreno entre os prédios Nº56 e 56A Nº57
FR: 30 palmos + FD:33 palmos
TOT:30 Braças
1850 - 1859 – Castro e Pinto
Terreno de marinha
1850 - 1875 – Francisco Antonio de
FR:7 braças + 4 palmos + FD:16
Castro
braças + 2 palmos
Nº127

1850 - 1859 – Zacarias Alves de


1850 - 1859 – Eduardo Price Araújo
FR:12 braças FR:6 braças

1850 - 1859 – Guilherme Gelbert 1860 - 1869 – Duarte José da Puga


Genty Garcia
FR:12 braças FR:6 braças
Comprou de Zacarias Alves de Araújo

1850 - 1859 – José Ferreira de Paiva


Terreno 1850 - 1859 – José de Oliveira
5 casas FR:13 braças

1850 - 1875 – Maria da Conceição A.


de Aguiar 1850 - 1875 – José Pinto de Araújo
Nº83 / 90 / 92 Nº86

1860 - 1875 – Manoel José de Andrade 1850 - 1875 – Firmina Rosa dos Santos
Terreno Nº109

1860 - 1875 – Bernardo Joaquim de 1860 - 1875 – João Antonio P. de F.


Faria G. Nº24
Nº26

1860 - 1875 – Jerônimo José Teixeira


1860 - 1875 – José Albino Ferreira de Nº12 / 14 / 20
Faria
Nº16 / 18

1860 - 1875 – João M. Vianna


Nº34
1860 - 1875 – Joaquina Rosa de
Oliveira
Nº30
1860 - 1875 – José Bernardes da Silva
Nº31 / 33
232

1860 - 1875 – Antonio Luiz Moura 1860 - 1875 – José Gomes Barrozo
Guimarães Nº39
Nº35 / 37

1860 - 1875 – Herdeiros de Francisco 1860 - 1875 – Francisco José Monteiro


do Valle Guimarães Gomes
Nº43 Nº45 / 47

1860 - 1875 – João Baptista Marcelo 1860 - 1875 – Antonio Francisco dos
Nº49 Santos
Nº51

1860 - 1875 – Antonio Luis Dantas de 1860 - 1875 – Antonio Joaquim da


Barros Silva Freitas
Nº52 Nº55

1860 - 1875 – José Martins Vieira 1860 - 1875 – Patrício Ricardo Freire
Nº59 / 61 Nº62

1860 - 1875 – Augusto M. Vieira 1860 - 1875 – Francisco José Ramos


Nº63 Nº64 / 66

1860 - 1875 – José Alves Ferreira de 1860 - 1875 – Maria Isabel de Melo
Magalhães Moraes
Nº68 Nº70

1860 - 1875 – Francisco Albino José 1860 - 1875 – Herdeiros de Jacintha


Barbosa Escolástica
Nº73 / 75 Nº74

1860 - 1875 – Luis de Freitas Almeida 1860 - 1875 – Legismundo Antonio


Nº76 Pinto
Nº77

1860 - 1875 – Maria Rita Correia 1860 - 1875 – Dr. Pedro Fortes
Garcia Marcondes Jobim
Nº78 Nº79 / 81
233

1860 - 1875 – Sabino da Silva 1860 - 1875 – Anna Maria de Azevedo


Nazareth Nº82 / 84
Nº80

1860 - 1875 – José Joaquim de Barros


1860 - 1875 – Herdeiros de José Vaz Nº88
Guedes
Nº85 / 87

1860 - 1875 – Herdeiros de José


Joaquim Gaspar dos Reis
1860 - 1875 – Francisco de Almeida da
Nº91
Rocha
Nº89

1860 - 1875 – Maria Rosa de Oliveira


Nº94 / 96 / 98 / 100 / 102 / 104 / 106 /
1860 - 1875 – Antonio Ferreira Alves
108 / 110 / 112
Nº93

1860 - 1875 – Antonio L. S. Miranda,


1860 - 1875 – Joaquina Maria Delfina Joaquim L. S. Miranda e Luiz Antonio
Guimarães S. Miranda
Nº95 / 97 Nº101 / 103

1860 - 1875 – Peregrino Gomes Freire 1860 - 1875 – Herdeiros de Francisco


Nº105 Homem da Costa
Nº107

1860 - 1875 – Luiz Antonio da Silva


Soares 1860 - 1875 – Antonio José de Oliveira
Nº111 / 113 Guimarães
Nº115 / 117

1860 - 1875 – Manoel José de Oliveira


Passos 1860 - 1875 – Abel Francisco Correa
Nº119 / 121 Leal
Nº123 / 125 / 72

1860 - 1869 – Manoel José Gomes de


Oliveira 1860 - 1869 – José Joaquim Ferreira da
FR:6 braças + FD:22 braças Lima e Silva
FR:22 braças
2 terrenos comprados de José Carlos
Mayrinck e da Companhia de
1860 - 1869 – Marechal Antonio Iluminação a Gás
Manoel
FR:48 palmos

1870 - 1875 – Antonio Manoel Alves


Rego
1870 - 1875 – José Pereira de Carvalho
FR:4 braças + 8 palmos
e Joaquim F. da Silva Tereza
FR:48 palmos
234

1808 - 1829 – Polucena Luiza de Britto 1830 - 1840 – Manoel Pedroso e


Nº 44 / 48 Mattos
Nº 44 / 48 /40A

1850 - 1859 – Thereza de Jesus e Silva 1840 - 1859 – José da Costa Souza
Nº 44 Lima
Nº 44 / 48

1860 - 1875 – Visconde de 1860 - 1869 – Antonio de Souza


Jequitinhonha Gonçalves
Nº 36 / 38 / 40 / 42 / 44 / 46 / 48 / 50 Nº 44

1860 - 1875 – Henrique Mangeron


Nº 44
Arrematou em leilão

1850 - 1859 – Maria da Gloria e Silva 1860 - 1875 – Visconde de


Nº 42 Jequitinhonha
Nº 36 / 38 / 40 / 42 / 44 / 46 / 48 / 50

1860 - 1875 – José Luiz Fagundes 1860 - 1869 – Antonio de Souza


Nº 42 Gonçalves
Arrematou em leilão Nº 42

1808 - 1820 – Francisco Lopes de 1820 - 1859 – Domingos Francisco da


Araújo Silva
Nº 50 Nº 50
Terreno FR:19 braças

1860 - 1875 – Visconde de


Jequitinhonha
Nº 50
Terreno FR:19 braças

1808 - 1820 – José Antonio dos Santos 1820 - 1839 – João José Ferreira
Nº 56 Nº 56

1860 - 1875 – Leocádia Rosaura da 1840 - 1859 – Thomaz José de Aquino


Silva Nº 56
Nº 56 / 58
235

1820 - 1829 – Manoel Pedroso e 1830 - 1839 – Antonio da Costa


Mattos Barbosa
Nº 40A Nº 40A
Terreno FR:4 braças + 2 palmos +
FD:17 braças

1850 - 1875 – Bernardo Gomes Braga 1840 - 1875 – Francisco José da Costa
Nº 40A e Silva
Prédio FR:31 palmos Nº 40A
Terreno FR:4 braças + 2 palmos +
FD:17 braças

1830 - 1839 – Antonio Joaquim 1840 - 1849 – José Antonio Baptista


Tavares Nº 38
Nº 38 Terreno FR:7 braças + 4 palmos +
FD:16 braças + 2 palmos

1860 - 1875 – Visconde de 1850 - 1859 – Barros e Irmãos


Jequitinhonha Nº 38
Nº 38 Terreno FR:3 braças + FD:16 braças
A metade do terreno

1840 - 1859 – Antonio Pinto de 1850 - 1859 – Henrique Chanson


Macedo Nº 2
Nº 1 / 2 Terreno FR:5 braças + FD:25 braças

1860 - 1869 – João José Bourrel


1860 - 1875 – Santa Casa de Nº 2
Misericórdia Terreno FR:5 braças + FD:25 braças
Nº 1 / 3 / 5 / 23 / 25 / 27

1860 - 1875 – Anna Eufrásia Duarte


Nº 2 / 4

1840 - 1849 – João Luiz da Cunha 1850 - 1859 – Joana Rosa da


Nº 40 Conceição
Nº 40

1860 - 1875 – Visconde de


Jequitinhonha
Nº 40
236

1840 - 1859 – João Bráulio de 1860 - 1875 – Santa Casa de


Mesquita Misericórdia
Nº 3 Nº 3

1830 - 1849 – José de Oliveira 1850 - 1859 – Barão de Mauá


Fernandes Nº 58 / 60
Nº 58 Terreno FR:58 braças + FD:6 braças
Com 5 casas térreas
Até a rua de São Diogo

1860 - 1875 – Leocádia Rosaura da


Silva
Nº 58 / 56

1840 - 1849 – Francisco José de Assis 1850 - 1859 – Barão de Mauá


Nº 60 Nº 58 / 60
Terreno FR:58 braças + FD:6 braças
Com 5 casas térreas
Até a rua de São Diogo

1860 - 1875 – Joaquim Ludgero de 1850 - 1859 – Antonio José Benevides


Aguiar Nº 60 / 62
Nº 60

1840 - 1875 – Josefina Roza de 1860 - 1875 – Josefina Roza de


Oliveira Oliveira / Joaquina da Rocha Neves /
Nº 54 Manoel Pereira Cardoso
Nº 54
A terça parte para cada um

1860 - 1869 – Rosa 1860 - 1869 – Justino José de Souza


Nº 6 França
Nº 8

1870 - 1875 – Albino de Oliveira


Guimarães
Nº 6 / 8

1860 - 1869 – José Marques de Gouvea 1860 - 1875 – Pedro José Fernandes
Nº 28 Nº 28
Arrematado em leilão
237

Rua Nova do Conde

1808 - 1839 – Jose Antonio dos Santos 1808 - 1839 – Antonio Pereira da
Anna Fonseca
Terreno FR:7 braças + FD:25 braças Terreno

1808 - 1839 – Capitão Mor José 1808 - 1819 – José Gonçalves


Teixeira Mello Bandeira
Terreno FR:7 braças + FD:para o Terreno
Campo de Santana

1808 - 1839 – Francisco Antonio 1808 - 1839 – Damiana Teresa C.


Malheiro Ribeiro
Terreno Terreno FR:4 braças

1808 - 1839 – José Bento Alves 1808 - 1849 – Francisco Machado


Terreno FR:5 braças Terreno FR:21 braças + 2 palmos

1820 - 1839 – Joaquim da Rocha 1830 - 1839 – João Manoel de Araújo


Machado (irmão de Polucena Luiza de Lobo
Britto) Nº94
Terreno do lado de Catumby com 3
chácaras
1830 - 1875 – Tenente Antonio
Domingos Lopes
1840 - 1849 – Francisco José Alves
Nº94
Quintão
Nº31

1840 - 1849 – Miquelina Rosa das 1840 - 1849 – José Alexandre Marques
Merces Nº71
Nº7

1840 - 1849 – Vereador Francisco de 1840 - 1849 – Antonio José Alves


Paula Mattos Ferreira
Nº125 Terreno
Terreno FR:7 braças + FD:200 braças

1840 - 1849 – Bernarda Francisca dos 1850 - 1875 – Francisco Vieira da


Santos Costa
Terreno FR:7 braças Nº34
Terreno FR:21 palmos
238

1850 - 1875 – Cosmo José 1850 - 1875 – Bernardo Leite de


Nº28 /30 Rezende
Terrenos FR:23 palmos / FR:19 palmos Nº32
A 4º parte

1850 - 1875 – José Pinto Tavares 1850 - 1875 – Joaquim Felippe de


Nº67 Souza
Nº69
Terreno FR:7 braças

1850 - 1875 – Francisco Lopes da 1850 - 1875 – Teophilo Benedicto


Cunha Ottoni
Nº138 Nº196
Terreno FR:44 palmos + FD:88 braças Terreno FR:339 palmos + 3 polegadas
TOT:31 braças + FD:253 palmos + 4 polegadas
TOT:2501 palmos + 4 polegadas

1850 - 1875 – Joaquim de Salles 1850 - 1859 – Dr. Thomaz Cochrane


Soares Comprou dos herdeiros de Antonio
Nº226 Luiz T. de Menezes
Terreno FR:22 palmos + FD:46 palmos
TOT:31 palmos + 5 polegadas

1850 - 1859 – Manoel Joaquim de 1850 - 1859 – Antonio Oliveira Santos


Aguiar Terreno FR:70 palmos + 2 polegadas +
Herdou de Matheus José Nunes FD:79 palmos - TOT:292 palmos

1850 - 1859 – Francisco Peixoto M. 1850 - 1859 – Manoel José Nunes


Guimarães Herdou de Matheus Jose Nunes
Terreno FR:57 palmos + FD:20 palmos Terreno FR:7 braças + 1 palmo +
TOT:20 braças FD:28,5 braças

1850 - 1875 – Barão de Bagé 1860 - 1875 – Joaquina Carolina de


Nº50 Oliveira
Terreno FR:4 braças Nº1

1860 - 1875 – Victoria Barbosa 1860 - 1875 – Miguel Antonio Munhoz


Nº8 Nº10

1860 - 1875 – Martinho de Freitas 1860 - 1875 – Alexandrina Gernon


Paiva Nº26
Nº11
239

1860 - 1875 – Narcisa Drummond 1860 - 1875 – Dr. Ernesto F. P. de


Navarro Camargo
Nº53 Nº59

1860 - 1875 – Clemente José Ferreira 1860 - 1875 – Maria MacGregor


Braga Nº183
Nº63

1860 - 1875 – Manoel Fernandes de 1860 - 1875 – Coronel José da C.


Macedo Barros Fonseca
Nº134 Nº105
Terreno FR:28 palmos + FD:42 palmos Terreno FR:30,8m + FD:31,19m
Até a rua do Bom Jardim TOT:62,92m

1820 - 1840 – Manoel Antonio Claro 1840 - 1850 – Maria Delfina Lopes
Nº 36 Nº 36

1850 - 1875 – João Guilherme Meyer


Nº 36

1830 - 1860 – Francisco José Alves 1860 - 1870 – João Jacques Solano de
Quintão Chirol
Nº 19 / 21 / 23 / 25 / 27 Nº 19
Terreno FR:16 braças

1860 - 1875 – Maria Angélica de Jesus 1870 - 1875 – Dr. Thistonio Borges
e Silva Diniz
Nº 21 Nº 19 / 28A

1840 - 1860 – Mariana Benedita 1860 - 1875 – Joaquim Cândido


Quintão Pereira Salgado
Nº 23 / 25 / 27 Nº 25 / 27

1830 - 1839 – Coronel Felippe Nery de 1830 - 1875 – Luiz de Queiroz


Carvalho Monteiro Regadro
Nº 12 Nº 12
Chácara com solar Chácara com solar
240

1830 - 1840 – Luiza Joaquina do 1840 - 1849 – José Ferreira da Rocha


Amaral Pinheiro Nº 33 / 35 / 37
Nº 33 Terreno FR:8,5 braças

1850 - 1860 – Antonio Gomes Brandão 1840 - 1849 – Anacleto da Silva


Nº 37 Ramos
Nº 33 / 35 / 37
Terreno FR:8,5 braças
1850 - 1875 – Rachel Ferreira da
Rocha
Nº 37 / 45 / 47

1830 - 1840 – Angélica Cyvita da Silva 1840 - 1860 – Miguel D’Avillar


Alves Nº 46
Nº 46 Terreno FR:19,5 palmos + FD:169
Terreno FR:21palmos palmos

1870 - 1875 – João Luiz Rodrigues 1860 - 1870 – Antonio José Rodrigues
Nº 46 Nº 46
Terreno FR:4,62m + FD:4,62m – Terreno FR:19,5 palmos + FD:169
TOT:23,76m palmos

1840 - 1849 – João Ignácio Mendes 1840 - 1875 – Mariana Francisca da


Nº 29 Silva
Nº 29

1840 - 1849 – Anna Rosa da 1840 - 1875 – Antonio Gomes


Conceição Brandão
Nº 37 Nº 37

1840 - 1849 – Rosa Monteiro Claro 1840 - 1849 – Francisco da Silva


Nº 38 Guimarães
Terreno FR:7 braças + FD:20 braças Nº 38
Terreno FR:7 braças + FD:20 braças

1850 - 1860 – João Guilherme Meyer 1840 - 1849 – Joaquim José Moreira
Nº 38 Maia
4ª parte do terreno Nº 38
4ª parte do terreno

1860 - 1875 – Joaquim José Moreira


Lima
Nº 38
4ª parte do terreno
241

1830 - 1839 – João Manoel de Araújo 1830 - 1875 – Tenente Antonio


Lobo Domingos Lopes
Nº 94 Nº 94

1830 - 1860 – Conde de Paraty 1830 - 1875 – Manoel José Rodrigues


Nº 104 / 106 / 108 / 110 / 112 / 114 / Nº 104 / 40
116 / 118 / 120 / 122 / 124 / 126 / 128 Terreno FR:35 braças + FD:102 braças

1830 - 1860 – Antonio José do Amaral


Nº 106
Terreno FR:14 braças + 1 palmo

1830 - 1875 – Manoel José Ricardo de 1860 - 1875 – João Henrique Abbert
Araújo Nº 106
Nº 110 / 112 / 114 / 122 Terreno FR:163 palmos + FD:213
Terreno FR:19 braças (nº122) palmos – TOT:1200 palmos

1830 - 1850 – Antonio Ribeiro Forbes 1830 - 1839 – Padre Luiz de Souza Dias
Nº 108 Nº 122
Terreno FR:14 braças + 1 palmo Terreno FR:19 braças

1850 - 1860 – Jacob Naureth 1830 - 1839 – José Martins Viana


Nº 108 Nº 122
Terreno FR:14 braças + FD:122 braças Terreno FR:19 braças

1860 - 1875 – Eduardo Laemmert 1830 - 1839 – Antonio Mariano Gonçalves


Nº 108 Nº 122
Terreno FR:14 braças + FD:122 braças Terreno FR:6 braças desmembradas das 19 braças

1860 - 1875 – Damião de Oliveira 1830 - 1839 – Anna Maria Honoria


Pinto Nº 122
Nº 116 / 118 / 124 / 128 Terreno FR:8 braças desmembradas das 19 braças

1840 - 1875 – Senador Bernardo P. de


Vasconcellos
Nº 122
Terreno FR:8 braças

1860 - 1875 – José Ribeiro da Barbosa Vianna


Nº 110 / 112
Terreno FR:40 palmos + 6 polegadas + FD:120
palmos – TOT:1030 palmos
242

1840 - 1849 – Cândida Rosa de Jesus 1850 - 1859 – Luisa Virginia Domay
Nº 42 Nº 42
Terreno FR:2,5 braças Terreno FR:2,5 braças

1860 - 1875 – Francisca Rosa de Jesus 1850 - 1859 – Maria Joaquina Landim
Ferraz Nº 42
Nº 42 Terreno FR:2,5 braças + 25 palmos +
Terreno FR:2,5 braças + 25 palmos + FD:27 braças + 3 palmos
FD:27 braças + 3 palmos

1840 - 1849 – Viúva de Bernardo 1840 - 1849 – Senhorinha de Moraes


Manoel da Silva Roca
Nº 39 / 41 / 43 / 45 / 47 / 49 / 51 Nº 49
Terreno FR:17 braças + FD:20 braças Terreno FR:29 palmos + FD:85 palmos

1840 - 1849 – Manoel Luiz Soares 1840 - 1849 – Rita Maria da Conceição
Nº 39 / 41 / 43 / 45 / 47 / 49 / 51 Nº 49
Terreno FR:17 braças + FD:20 braças Terreno FR:29 palmos + FD:85 palmos

1850 - 1859 – Rachel Ferreira da 1850 - 1875 – José Antonio de Araújo


Rocha Dantas
Nº 45 / 47 Nº 49
Terreno FR:17 braças + FD:20 braças Terreno FR:22 palmos

1860 - 1869 – Alípio José Mesquita 1870 - 1875 – José Ribeiro Cerqueira
Nº 47 Nº 47 metade cortiço

1840 - 1859 – José Felipe Silva 1860 - 1875 – Francisco Xavier do


Mageira Amaral
Nº 44 Nº 44
Terreno de Rosa Monteiro Claro

1840 - 1849 – Bernardo José Landim 1850 - 1875 – Antonia Maria da


Nº 109 Conceição
Nº 109 / 107

1850 - 1859 – Geraldo Soares 1860 - 1875 – Marquesa de Valença


Nº 6A Nº 6A
243

1840 - 1849 – Domingos Alves Meira 1840 - 1859 – João Antonio Claro
Nº 52 Nº 52
Terreno FR:9 braças + 8 palmos +
FD:77 palmos + 2 polegadas
TOT:196 palmos

1860 - 1869 – José Antonio da Silva 1860 - 1869 – Francisco José Teixeira
Matos Braga Bastos
Nº 52 / 52D Nº 52 / 50A

1860 - 1875 – Anna Catharina Gehring


Nº 52 / 52C / 52D
Terreno FR:20 palmos + FD:16 palmos
TOT:83 palmos (nº 52C)

1840 - 1849 – Joaquim José de Souza


Ismanes
Nº 48

1840 - 1849 – Joaquim José Lourenço 1840 - 1849 – Domingos da Silva


Dias Teixeira
Nº 48 Nº 48

1850 - 1859 – João Antonio Costa 1860 - 1869 – Maria Joaquina Landim
Braga Nº 48
Nº 48 Terreno FR:30 palmos + FD:40 palmos
TOT:324 palmos

1860 - 1875 – Dr. Manoel Bernardino 1860 - 1869 – Joaquim Lourenço Dias
B. Pereira Nº 48
Nº 48 Terreno FR:30 palmos + FD:40 palmos
Terreno FR:30 palmos + FD:40 palmos TOT:324 palmos
TOT:324 palmos

1850 - 1875 – Delfina Rosa de Jesus 1860 - 1875 – João Guilherme Meyer
Nº 40 Nº 40A
244

1840 - 1849 – Bernardo Dias Lima 1850 - 1859 – Sebastião Antonio


Nº 54 / 56 / 58 / 62 Rodrigues Braga
Nº 54 / 56
Terreno FR:21 palmos + 7 polegadas
FD:57 palmos

1850 - 1859 – João Manoel Barbosa de


Barros
Nº 54 / 56 / 58 / 60

1860 - 1869 – Francisco de Almeida 1860 - 1869 – Nicolau Barbosa de


Cardoso Souza
Nº 58 / 60 Nº 54 / 56 / 58 / 60

1870 - 1875 – Francisco Consolo


Nº 58 / 60

1840 - 1849 – Maria Januaria L. 1840 - 1860 – Antonio de Oliveira


Gonçalves Santos
Nº 93 / 95 Nº 93 / 95

1860 - 1875 – José Antonio Gonçalves


Bouças
1860 - 1875 – Manoel Netto da Costa
Nº 93
Nº 95A
Terreno FR:27 palmos + FD:31 palmos
TOT:202 palmos

1860 - 1875 – Antonio da Silva Pereira 1860 - 1875 – Manoel de Pontes


Nº 95B Câmara
Nº 95

1850 - 1860 – José Joaquim Cândido 1860 - 1869 – Antonio Lopes Martins
Pereira Nº 14 (antigo 10)
Nº 14
Terreno FR:18 palmos + FD:119,5
palmos
1870 - 1875 – José Alves da Costa
Nº 14
Terreno FR:4,45m + FD:4,45m
TOT:36,2m
245

1840 - 1849 – Joaquina do Bonsucesso 1840 - 1859 – Matheus José Nunes


Pinto Nº 97 / 99 / 101/ 103
Nº 97 / 99 / 101/ 103 Terreno FR:6 braças + 2,5 palmos
Terreno FR:6 braças + 2,5 palmos

1850 - 1875 – Manoel da Silva Soares


1860 - 1875 – Luiz Bandeira de Nº 103
Gouvea Terreno FR:27 palmos + 7 polegadas +
Nº 99 / 101 FD:26,5 palmos TOT:282 palmos

1860 - 1869 – Antonio Silva Teixeira 1870 - 1875 – Joaquim José de


Nº 97 Oliveira Sampaio
Terreno FR:7,92m + FD:7,7m Nº 97
TOT:62,04m Terreno FR:11,8m + FD:4,85m

1850 - 1859 – Antonio Ferreira da 1860 - 1869 – José Ignácio de Farias


Rocha Nº 57
Nº 57

1869 - 1875 – Visconde de Souto


Nº 57

1850 - 1859 – Agostinha Rita da Silva 1860 - 1875 – Paulino Berrulte


Nº 75 Nº 75

1850 - 1869 – Francisco Coelho da 1870 - 1875 – José Joaquim Cabral de


Silva Menezes
Nº 77 Nº 77 a 5ª parte

1850 - 1860 – Justino Pereira de Faria 1860 - 1875 – Manoel Antonio Silva
Nº 154 / 156 / 158 / 140 / 150 / 170 Nº 154 / 156 / 158

1860 - 1869 – Antonio de Oliveira 1860 - 1875 – Manoel de Pontes


Santos Câmara
Nº 87 / 89 / 91 / 93 / 95 Nº 87 / 89 / 91 / 93 / 95
246

1850 - 1859 – Francisco de Paula 1850 - 1875 – Antonia Maria da


Mattos Encarnação
Nº 111 / 115 / 113 / 117 / 119 / 121 Nº 111 / 113 / 115 / 117 / 119 / 121
Terreno FR:21 palmos + FD:120
palmos (nº 113 / 119)
Terreno FR:22,5 palmos + FD:61
palmos (nº 117) 1850 - 1875 – Maria Luiza da
Conceição
Nº 121

1860 - 1869 – Ignácio Francisco da


Silva Abreu
Nº 117 1850 - 1875 – José Alcorer
Nº 121B
Terreno FR:7 braças + 1 palmo +
FD:12 braças
1860 - 1875 – Joaquim José de Souza
Figueiredo
Nº 117
1850 - 1859 – Isaias José Cavalcante
Nº 121

1860 - 1869 – Felizardo Teixeira de


Figueiredo
Nº 121

1860 - 1875 – Cláudio José da Silva


Nº 121

1860 - 1869 – Joaquim Lourenço Dias 1870 - 1875 – Maria Luisa dos Passos
Nº 17 Silvares
Terreno FR:2 braças + FD:30 braças Nº 17
Terreno FR:2 braças + FD:30 braças

1860 - 1869 – Antonio Lourenço 1870 - 1875 – José Cândido Pereira


Leitão Salgado
Nº 81 Nº 81
Terreno FR:48 palmos + FD:15 palmos Terreno FR:48 palmos + FD:15 palmos
TOT:570 palmos TOT:570 palmos

1860 - 1869 – João Bernardes 1870 - 1875 – José Cândido Pereira


Nº 85 / 85A Salgado
Terreno FR:59,5 palmos + FD:59,5 Nº 85 / 85A
palmos Terreno FR:59,5 palmos + FD:59,5
TOT:307 palmos palmos
TOT:307 palmos
247

Rua Formosa

1830 - 1869 – Joaquim Gomes 1840 - 1869 – Manoel Joaquim Pereira


Thouguinho Nº 21
Nº 13

1840 - 1869 – José dos Santos Ferreira


1840 - 1869 – Manoel Luiz Cardoso Nº 120
Guimarães FR:23 palmos + 3 polegadas
Nº 30
Comprado do Conde dos Arcos por
desmembramento da Chácara no
Campo de Santana em 1824 1850 - 1869 – Januário José da Silva
FR:26,5 palmos Loureiro
Nº 85

1850 - 1869 – Antonio Joaquim 1860 - 1869 – Antonio José de Oliveira


Martins Guimarães Guimarães
Nº 34 Nº 19
FR:2 braças + 7 palmos Arrematado em leilão
Arrematado em leilão

1850 - 1869 – Alexandre Ferreira de 1850 - 1869 – José da Motta Oliveira


Vasconcelos Drummond Bastos
Nº 137 FR:13 braças + 12 palmos + FD:8
FR:28,5 palmos + FD:133 palmos braças + 1 palmo – TOT:7,5 braças
Arrematado em leilão

1860 - 1869 – Joaquim da Costa 1860 - 1869 – José Maria Araújo


Oliveira Gomes
Nº 69 Nº 43
Arrematado em leilão Arrematado em leilão

1860 - 1869 – Manoel da Silva Moreira


Nº 139

1830 - 1839 – Justiniano da Costa 1830 - 1849 – José da Cruz da Costa


Galdino Aguiar Aguiar
Nº 35 Nº 35

1850 - 1869 – Manoel Ferreira dos 1850 - 1859 – Gaspara Barbosa Leão
Santos Porto Nº 35
Nº 35 Terreno FR:20 palmos + FD:68 palmos
Terreno FR:20 palmos + FD:68 palmos + 4 polegadas
248

1830 - 1839 – Antonio José Costa Leal 1830 - 1869 – Domingos Alves Meira
Nº 6 / 8 / 10 / 12 / 14 Nº 6 / 8 / 10 / 12 / 14

1840 - 1849 – Joaquim Pinto de Barros 1830 - 1849 – João Antonio Claro
Nº 6 Nº 6 / 8 / 10

1850 - 1859 – Manoel Rodrigues Alves 1840 - 1869 – José Borges de Andrade
Nº 6 Nº 10
Terreno FD:22 palmos + FD:68 palmos

1860 - 1869 – Maria das Neves 1850 - 1869 – Antonio José Ferreira da
Nº 6 Rocha
Nº 8
Terreno FD:2 braças

1830 - 1839 – João Gomes de Almeida 1830 - 1839 – Joaquim José Cardoso
Nº 16 / 16A Guimarães
Nº 16 / 18 / 20 / 26 / 28

1830 - 1849 – Gregório José de Abreu 1830 - 1869 – Ana Joaquina da Cruz
Nº 16B Guimarães
Nº 26 / 28 /32

1850 - 1869 – José de Souza Barros 1840 - 1869 – José Antonio de Baptista
Nº 16B Nº 26 arrematou em leilão
Terreno FR:3,5 braças

1840 - 1869 – Manoel Martins Viana


Nº 32

1830 - 1869 – Jerônimo P. de


Figueiredo
Nº 16 / 18 / 20 / 22 / 24

1830 - 1869 – Cândido José Pereira


Codeço
Nº 16 / 16 A
Terreno FR:9 braças + 10 palmos

1830 - 1860 – José Teixeira Bastos 1860 – 1869 – José Pinto Mourão
Nº 159 Bastos
Nº 159
Terreno FR:132 palmos + FD:132
palmos – TOT:77 palmos
249

1830 - 1839 – Theodoro Gonçalves 1840 - 1869 – Manoel José Pereira


Bandeira Nº 23 / 25 / 27
Nº 23

1830 - 1839 – Joaquim Gonçalves 1830 - 1849 – Manoel Joaquim da


Bandeira Lapa
Nº 31 / 37 Nº 31

1840 - 1849 – Caetano José Gomes 1850 - 1859 – Izidora Maria da


Nº 37 Piedade
Nº 31
Terreno FR:18 palmos + FD:52 palmos
1850 - 1859 – Mamede José da Silva
Passos
1860 - 1869 – Francisco Maximo
Nº 37
Soares de Lima
Terreno FR:1 braça + 8 palmos + FD:6
braças + 1 palmo Nº 31
Terreno FR:18 palmos + FD:52 palmos

1860 - 1869 – Antonio Pinheiro da


Fonseca Santos
Nº 37
Terreno FR:1 braça + 8 palmos + FD:6
braças + 1 palmo

1830 - 1849 – Leonarda Angélica de 1850 - 1869 – Bernardo José de Castro


Castro Nº 64
Nº 64

1830 - 1849 – Antonio Manoel da 1850 – 1869 - Marcelino de Almeida


Rocha Ribeiro
Nº 122 Nº 122
Terreno FR:26 palmos + 3 polegadas Terreno FR:26 palmos + 3 polegadas

1830 - 1849 – Francisco Tinoco 1850 – 1869 – Aniceto Antonio


Nº 4 Barbosa
Terreno FR:2 braças + 2 palmos + 3 Nº 4
polegadas + FD:10 braças + 1 palmo Terreno FR:2 braças + 2 palmos + 3
polegadas + FD:10 braças + 1 palmo
250

1830 - 1860 – Francisco José Pereira 1860 – 1869 – Luisa Guilhermina de


Nº 163 / 165 Assunção Pereira
Nº 163
Terreno FR:20 palmos + 2 polegadas +
FD: 20 palmos + 2 polegadas –
TOT:93 palmos + 6 polegadas
1860 – 1869 – Manoel José Pereira da
Fonseca
Nº 165
Terreno FR:21 palmos + 2 polegadas +
FD: 21 palmos + 2 polegadas –
TOT:92 palmos

1830 - 1859 – Francisco Leocadio de 1850 – 1869 – Luiz José Pereira


Figueiredo Nº 171
Nº 171 / 173 Terreno FR:7 braças + FD:133 palmos
Arrematado em leilão

1860 – 1869 – José Narciso da Silva 1850 – 1869 – Manoel Antonio Braga
Vieira e Domingos José Dias Braga
Nº 171 / 173 Nº 173A / 173C
Terreno FR:7 braças + FD:133 palmos
(nº 171)

1830 - 1839 – Manoel Joaquim da 1830 - 1849 – Fellipe Bender


Lapa Nº 39
Nº 39

1840 - 1859 – Fabrício Rosa da 1840 - 1849 – José Antonio dos Santos
Conceição Araújo
Nº 39 Nº 39

1860 - 1869 – José de Araújo Pereira


Villas Boas
Nº 39
Terreno FR:17 palmos + FD:20 palmos
251

1830 - 1839 – Luiz Gomes dos Santos 1830 - 1860 – Francisco de Borja
Nº 87 / 95 Galvão
Nº 87 / 95

1860 - 1869 – Manoel Joaquim de 1850 - 1860 – Bernardo José Serrão


Arruda Nº 87 / 95
Nº 95
Terreno FR: 20 palmos + 7 polegadas
+ FD:20 palmos – TOT:127 palmos
1850 - 1869 – Pedro Fortes Marcondes
Jobim
Nº 87
Terreno FR:2 braças + FD:12 braças +
3 palmos

1830 - 1839 – José da Rocha Garcia 1840 - 1860 – Antonio de Souza


Nº 124 / 126 Monteiro Pedroso
Nº 124
Terreno FR:28 palmos

1840 - 1860 – José Joaquim R. da


Fonseca
1860 - 1869 – Cândida Isabel de Pinho
Nº 126
Gonçalves
Terreno FR:7 braças
Nº 124
Terreno FR:27 palmos + FD:17 palmos
TOT:139 palmos
1860 - 1869 – Narcizo Luiz Machado
Guimarães
Nº 126
Terreno FR:15,4m + FD:15,4m
TOT:27,5m
252

Rua do Areal

1820 - 1829 – Manoel Antonio Claro 1820 - 1829 – Alferes Antonio


Chácara do Areal Domingues Lopes e Manoel Parente da
Costa
Parte de terreno desmembrado da
Chácara do Areal
1820 - 1829 – Antonio Domingos
Lopes
Terreno com morada de casas FR:10 1820 - 1830 – Luis José da Cunha
braças Bastos
Frente para a rua Nova do Conde e Chácara
fundos para a rua do Areal

1830 - 1839 – Antonio Joaquim 1820 - 1839 – Intendente Paulo


Teixeira Fernandes Vianna
Terreno com casa de meia água FR:10 Terreno FR:9 braças
braças

1820 - 1829 – Alferes Gabriel José 1820 - 1839 – Manol Francisco de


Ferreira Oliveira
Terreno com morada de casas FR:3,5 Terreno com morada de casas FR:3,5
braças + FD:41 braças braças + FD:41 braças

1820 - 1829 – Manoel Parente da Costa 1830 - 1839 – Anna Quitéria de Araújo
Casa FR:14 braças + FD:18,5 braças Parte do terreno
TOT:10 braças

1820 - 1830 – Joaquim José Cardoso 1830 - 1839 – Joaquina Roza do


Guimarães Bonsucesso
Sobrado comprado do Conde dos Sobrado FR:40 braças
Arcos
FR:40 braças

1850 - 1859 – José Luis dos Santos 1850 - 1859 – Domínio direto da
Teixeira municipalidade
Nº21 Edifício do Senado
Arrematado em leilão

1830 - 1839 – Joaquim Franco das 1840 - 1849 – Maria Joaquina de Jesus
Chagas Nº 17
Nº 17

1840 - 1849 – Manoel Fernandes de


Mattos
Nº 17
253

1840 - 1859 – Herdeiros de João 1860 - 1869 – Antonio Pereira de


Batista Ferreira Souza Barros
Nº 2 Nº 2
Terreno FR:48 palmos + FD:51 palmos Terreno FR:48 palmos + FD:51 palmos

1860 - 1869 – Carlos Frederico de


Lima
Nº 2
Terreno FR:48 palmos + FD:51 palmos

1840 - 1850 – Jacintho Evaristo da 1850 - 1859 – Fiel Jordão da Silva


Silva Nº 19
Nº 19 Terreno FR:2 braças + 1 palmo
Terreno FR:2 braças + 1 palmo

1840 - 1860 – Manoel Joaquim 1850 - 1859 – João Chrispim Francisco


Ferreira da Silva Nº 4B
Nº 4 Terreno FR:232 palmos + 13 polegadas
Terreno FR:4 braças

1860 - 1869 – Antonio Joaquim


Machado
Nº 4
Terreno FR:4 braças

1840 - 1860 – Barão da Bella Vista 1840 - 1859 – Gregório José de Abreu
Nº 27 casa Nº 27
Terreno FR:134 palmos + FD:119,5
palmos
1860 - 1869 – Viriato Bandeira Duarte
Nº 27 casa
1860 - 1869 – Anna Benigna
Felicidade Perpetua de Abreu
Nº 27
Terreno FR:134 palmos + FD:119,5
palmos
254

Rua de São Diogo

1808 - 1819 – Antonio da Rocha 1808 - 1820 – Antonio Fernandes


Machado Pereira
Chácara de São Diogo Chácara de São Diogo

1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira 1808 - 1849 – Luiza Roza Avondano
Chácara de São Diogo Pereira (viúva de Antonio Fernandes
Pereira)
Chácara de São Diogo

1808 - 1820 – Manoel de Jesus 1820 - 1830 – Antonio José de Siqueira


Terreno com casas situado atrás da Terreno com casas situado atrás da
Igreja de Santana Igreja de Santana
FR:267 palmos + FD:118 palmos FR:267 palmos + FD:118 palmos

1820 - 1829 – Manoel José Ribeiro de 1830 - 1839 – Felippe Furtado da Silva
Oliveira, vigário Manoel José da Costa Terreno com casas situado atrás da
e Conselheiro Luis Joaquim Duque Igreja de Santana
Estrada Furtado de Mendonça FR:267 palmos + FD:118 palmos
2 chácaras com 22 moradas de casas Herdou de Antonio José de Siqueira

1808 - 1818 – Polucena Luiza de Britto 1818 - 1859 – José de Oliveira


Terras com frente para a rua do Fernandes
Aterrado e fundos para a rua de São Posse administrativa dos terrenos de
Diogo Polucena Luiza de Britto
145 braças + 2 casas térreas FR:8
braças
1830 - 1839 – Manoel José de Andrade
Terreno com 5 moradas de casas FR:10
braças 1808 - 1818 – Antonio Pinto da Costa
2 casas térreas FR:8 braças

1830 - 1849 – José Carneiro Dias


Guimarães 1830 - 1849 – José Ferreira Serpa
Terreno com 5 moradas de casas FR:10 Terreno comprado de Luiz da Rocha
braças Machado FR:8 braças

1840 - 1849 – João Pereira de Almeida 1840 - 1849 – Deolinda Jacintha


Terreno FR:6 braças + 7 palmos Terreno FR:4 braças
Arrematado em leilão TOT:57,5 braças

1840 - 1849 – Maria Rosa de Santana 1840 - 1849 – Carolina de Souza Costa
Terreno FR:8 braças Terreno FR:6 braças
TOT:19 braças TOT:57,5 braças
255

1840 - 1849 – José Carlos Mayrinck 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
Terreno FR:8 braças Terreno FR:8 braças
TOT:57,5 braças TOT:57,5 braças

1850 - 1859 – Domingos Soares de 1860 - 1869 – Rita Joaquina de


Freitas Oliveira
Terreno FR:3 braças Terreno FR:3 braças

1850 - 1859 – Conselheiro José 1850 - 1859 – Antonio José Ferreira


Martins da Cruz Jobim Guimarães
Nº120 Nº120
Terreno com moradas de casas FR:5 Terreno com moradas de casas FR:5
braças braças

1850 - 1859 – Joaquim Valério e


irmãos
Terreno FR:3 braças
TOT:30 braças

1820 - 1840 – Manoel Joaquim de 1840 - 1849 – Alexandre Leite dos


Oliveira e Manoel Joaquim da Lapa Santos
2 casas térreas FR:8 braças (80 Terreno FR:30 palmos – TOT:150
palmos) palmos
Herdou da esposa de Manoel Joaquim
da Lapa
1840 - 1849 – Antonio Domingues de
Oliveira
Terreno FR:23 palmos – TOT:150 1840 - 1849 – Manoel de Azevedo
palmos Freitas
Herdou da esposa de Manoel Joaquim Nº30
da Lapa Terreno FR:30 palmos – TOT:150
palmos
Herdou da esposa de Alexandre Leite
1840 - 1849 – Manoel Joaquim dos Santos
Tavares
Terreno FR:23 palmos – TOT:150
palmos
Herdou de Antonio Domingues de
Oliveira

1840 - 1849 – Maria Francisca da Silva 1840 - 1849 – Antonio Pinto


Casa FR:29 braças – TOT:50 braças Casa FR:29 braças – TOT:50 braças
256

1830 - 1839 – Maria Francisca da Silva 1830 - 1839 – Antonio Pinto de


Nº 1 / 2 Macedo
Casas FR:2,5 braças + FD:29 braças Nº 1 / 2
TOT:50 braças Casas FR:2,5 braças + FD:29 braças
TOT:50 braças

1830 - 1839 – Thomé Lino 1830 - 1839 – Francisco Joaquim da


Nº 14 / 16 Fonseca
Morada de casas FR:4 braças Nº 14 / 16
TOT:39 braças + 1 palmo Morada de casas FR:4 braças
TOT:39 braças + 1 palmo

1840 - 1849 – José Joaquim da Silva


Nº 64 / 66 (antigas 14 / 16)
Casas FR:4 braças
TOT:53 braças

1830 - 1840 – Joaquim José de 1840 - 1850 – Comendador José


Siqueira Brandão Justino Pereira de Faria
Nº 60 / 64 Nº 60 / 64
Chácara com prédios Chácara com prédios
FR:65,5 braças FR:65,5 braças

1870 - 1875 – Josefa Joaquina Rosa 1850 - 1869 – Felicidade Perpétua de


Nº 64 Jesus
Terreno com casa Nº 60 / 64
FR:18,7m + FD:8m Prédios
ÁREA TOT:151,6m2

1870 - 1875 – Thiago José Ferreira


Guimarães
Nº 64
Terreno com casa
FR:18,7m + FD:8m
ÁREA TOT:151,6m2

1850 - 1859 – Antonio da Rocha 1850 - 1875 – Carlos Valega


Machado Nº 61A
Nº 61A Casa FR:8 braças + 1 palmo
Casa FR:8 braças + 1 palmo TOT:30 braças
TOT:30 braças
257

1840 - 1849 – José de Oliveira Ferreira 1840 - 1849 – Joaquim Moreira da


Terreno FR:3 braças - TOT:15 braças Silva
Terreno FR:3 braças - TOT:15 braças

1840 - 1849 – Domingos Vieira de 1840 - 1849 – João José de Castro e


Domingos Machado Silva
Terreno FR:22 braças Terreno FR:22 braças

1840 - 1849 – José Carlos Mayrinck 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
Terreno FR:8 braças - TOT:57,5 Terreno FR:8 braças - TOT:57,5
braças braças

1840 - 1849 – Visconde do Monte 1840 - 1849 – João dos Reis Pereira
Alegre Terreno FR:10 braças + FD:10 braças
Terreno FR:10 braças + FD:10 braças TOT:19 braças
TOT:19 braças

1840 - 1849 – Joana Maria de Jesus 1840 - 1849 – João José da Cunha
Terreno FR:20 braças Guimarães
Terreno FR:20 braças

1840 - 1849 – José de Oliveira 1840 - 1849 – Paulo Manoel de Souza


Fernandes França
Terreno FR:33 braças + FD:15 braças Terreno FR:33 braças + FD:15 braças

1840 - 1849 – Maria Joaquina do 1840 - 1849 – Domingos José de


Espírito Santo Moura
Terreno FR:33 palmos – TOT:31 Terreno FR:33 palmos – TOT:31
braças + 7 palmos braças + 7 palmos

1840 - 1849 – Francisco Pereira do 1840 - 1849 – Manoel Rodrigues


Espírito Santo Ventura
Terreno FR:9 braças + 7 palmos Terreno FR:33 palmos
Aforou parte do terreno de Domingos
José de Moura

1840 - 1849 – João Baptista da Silva 1840 - 1849 – José Martins da Cruz
Terreno FR:6 braças + 7 palmos – Jobim
TOT:37 braças + 6 palmos Terreno FR:6 braças + 7 palmos –
TOT:37 braças + 6 palmos

1840 - 1849 – Dona Maria Luiza 1840 - 1849 – Maria Joana de Jesus e
(preta, crioula) seu filho José Bento dos Santos
Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças
258

1840 - 1849 – José João da Silva 1840 - 1875 – José Teixeira da Motta
Nº 104 Nº 104
Terreno com 2 moradas de casa Terreno com 2 moradas de casa
FR:6 braças – TOT:30 braças FR:6 braças – TOT:30 braças
Em 1860 virou estalagem

1850 - 1869 – Francisco Pereira Serpa


Nº 104 1850 - 1859 – José Joaquim da Silva
Parte do terreno com casa Nº 104
FR:3 braças – TOT:15 braças Parte do terreno com casa
FR:3 braças – TOT:15 braças

1870 - 1875 – Pedro Fortes Marcondes 1870 - 1875 – Fernando Pinto da Costa
Jobim Nº 104
Nº 104 Casa térrea
Casa térrea

1840 - 1860 – Antonio de Oliveira e 1860 - 1869 – Joaquim de Oliveira e


sua mulher Maria Deolinda de Oliveira Souza
Nº100 Nº100
Morada de Casas FR:2 braças + 6 Morada de Casas FR:2 braças + 6
palmos palmos

1860 - 1875 – Antonio Moreira dos 1860 - 1869 – Polucena Roza


Santos Costa Nº100
Nº100 Morada de Casas FR:2 braças + 6
Morada de Casas FR:2 braças + 6 palmos
palmos

1840 - 1860 – Antonio Pinto de 1840 - 1849 – José Leite de Magalhães


Macedo Terreno FR:20 braças + 3 palmos
Terreno FR:20 braças + 3 palmos

1840 - 1849 – Conselheiro José


Martins da Cruz Jobim
Terreno FR:20 braças + 3 palmos

1840 - 1849 – Joaquim Manoel de 1840 - 1849 – José Francisco Dutra


Santa Rita Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças
Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças

1840 - 1849 – Thomaz José da Cunha 1840 - 1859 – Justino José Tavares
Terreno FR:10 braças – TOT:36 braças Terreno FR:10 braças – TOT:36 braças
+ 3 palmos + 3 palmos
259

1840 - 1849 – José de Oliveira 1840 - 1859 – João Antonio da Silva


Fernandes Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças
Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças

1840 - 1849 – José de Oliveira 1840 - 1859 – Antonio José Soares de


Fernandes Castro
Terreno FR:4 braças – TOT:15 braças Terreno FR:4 braças – TOT:15 braças

1840 - 1849 – José de Oliveira 1840 - 1859 – José da Costa Nogueira


Fernandes Terreno FR:25 palmos
Terreno FR:25 palmos

1850 - 1859 – Joaquim Antonio 1850 - 1859 – João Gomes


Barbosa Terreno FR:2,5 braças
Terreno FR:2,5 braças

1840 - 1849 – José de Oliveira 1840 - 1860 – Luiz José de Carvalho


Fernandes Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças
Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças Entre os nº 112 e 114

1860 - 1869 – Luiza Maria da


Conceição
Herdou do marido Luiz José de
Carvalho
Terreno FR:4,9m – TOT:33m

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1859 – Silvestre Pereira


Fernandes Terreno de marinha FR:2 braças
Terreno de marinha FR:2 braças

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1859 – Leandro Mariz de Souza


Fernandes Terreno FR:5 braças – TOT:20 braças
Terreno FR:5 braças – TOT:20 braças

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1859 – José da Costa Nogueira


Fernandes Terreno FR:20 palmos – TOT:15,5
Terreno FR:20 palmos – TOT:15,5 braças
braças

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1859 – Antonio Pinto Barbosa


Fernandes Terreno FR:4 braças – TOT:15 braças
Terreno FR:4 braças – TOT:15 braças
260

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1859 – Antonio de Oliveira


Fernandes Terreno FR:7 braças
Terreno FR:7 braças

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1859 – Bento Barros Silva


Fernandes Nº31A
Nº31A Terreno com casa FR:62 palmos –
Terreno com casa FR:62 palmos – TOT:300 palmos
TOT:300 palmos

1850 - 1859 – João Baptista Coelho


Nº31A
Terreno com casa FR:62 palmos –
TOT:300 palmos

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1869 – Antonio José da Costa e


Fernandes Silva
Terreno FR:11 braças – TOT:15 braças Terreno FR:11 braças – TOT:15 braças

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1859 – Francisco Texeira de


Fernandes Magalhães
Terreno FR:3 braças – TOT:30 braças Terreno FR:3 braças – TOT:30 braças

1850 - 1859 – José de Oliveira 1850 - 1859 – Barão de Mauá (Irineo


Fernandes Evangelista de Souza)
Terreno FR:58 braças para a rua do Terreno FR:58 braças para a rua do
Aterrado e fundos para a rua de São Aterrado e fundos para a rua de São
Diogo Diogo

1840 - 1849 – José Bento Alves 1840 - 1849 – Luiz Francisco Pacheco
Terreno FR:7,5 braças – TOT:36 Terreno FR:7,5 braças – TOT:36
braças braças

1840 - 1849 – Eugênio Aprigio da 1840 - 1849 – Francisca das Chagas


Veiga Santos
Terreno devoluto FR:10 braças – Terreno FR:10 braças – TOT:19 braças
TOT:19 braças

1840 - 1849 – Miguel José Tavares


Terreno FR:10 braças – TOT:19 braças

1840 - 1849 – Joaquim de Almeida 1840 - 1849 – José Carneiro Dias


Pereira Guimarães
Terreno FR:4 braças – TOT:30 braças Terreno FR:4 braças – TOT:30 braças
261

1840 - 1849 – José Joaquim Simões 1840 - 1849 – Bernardo Machado


Terreno FR:5 braças – TOT:15 braças Terreno FR:5 braças – TOT:15 braças

1850 - 1859 – José Joaquim de Lima 1840 - 1849 – Antonio Domingues


Mendonça Poços
Terreno FR:4 braças – TOT:29 braças Metade do terreno de Bernardo
+ 7 palmos Machado FR:2,5 braças – TOT:15
braças

1850 - 1859 – Manoel Coelho Moreira


Terreno FR:4 braças – TOT:29 braças
+ 7 palmos

1850 - 1859 – João José da Lapa e José 1850 - 1869 – Joaquim Teixeira de
de Oliveira Vasconcellos
Nº212 Nº212
Terreno FR:5 braças – TOT:15 braças Terreno FR:5 braças – TOT:15 braças
+ 7 palmos

1870 - 1875 – Antonio José da Costa e 1870 - 1875 – Antonio José da Costa e
Nunes Silva
Nº212 Nº212
Casas FR:6,6m – TOT:33,6m Casas FR:6,6m – TOT:33,6m

1850 - 1859 – Ângelo José de Morais 1850 - 1859 – Domingos Marques de


Terreno FR:1,5 braças – TOT:15 Oliveira
braças Terreno FR:1,5 braças – TOT:15
braças

1850 - 1859 – Jacintho Martins da 1850 - 1859 – Anna Maria de Jesus


Costa Nº21B
Nº21B Prédio FR:2,5 braças – TOT:15 braças
Prédio FR:2,5 braças – TOT:15 braças

1860 - 1869 – João Gonçalves Motta 1850 - 1859 – Luis Gonçalves Motta
Nº21B / 21C Nº21B / 21C
Prédios FR: 5 braças + FD:5 braças Prédios FR: 5 braças + FD:5 braças
TOT:15 braças TOT:15 braças

1860 - 1869 – Silvestre Pereira de


Souza 1860 - 1869 – Bento José Barboza
Nº 21C Nº 21C
Prédios FR: 2 braças Prédios FR: 2 braças
262

1850 - 1859 – Silvana Rosa da 1850 - 1859 – Felippe Francisco de


Encarnação e Adriana Maria de Lima
Santana Nº76K
Nº76K Casa FR:10 braças
Casa FR:10 braças
Herdeiras de Germano de Seixas

1850 - 1859 – Euzebio Antonio do 1850 - 1859 – Joaquim José de


Socorro Oliveira Barbosa
Terreno FR:20 palmos – TOT:15,5 Terreno FR:20 palmos – TOT:15,5
braças braças

1850 - 1859 – Antonio Fernandes 1850 - 1859 – Eduardo Price


Pereira Vianna Nº66
Nº66 Chácara com casa FR:140 braças
Chácara com casa FR:140 braças

1850 - 1859 – Companhia da Estrada


de Ferro D.Pedro II
Nº66
Chácara com casa FR:140 braças

1850 - 1859 – Capitão Hilário Mariano 1850 - 1859 – Oliveira Viellard


da Silva Terreno FR:12 braças – TOT:19 braças
Terreno FR:12 braças – TOT:19 braças + 8 palmos
+ 8 palmos

1850 - 1859 – Antonio José Soares de 1850 - 1859 – Dr. Pedro Fortes
Castro Marcondes Jobim
Terreno FR:4 braças – TOT:30 braças Terreno FR:4 braças – TOT:30 braças
+ 7 palmos + 7 palmos

1850 - 1859 – Antonio de Oliveira 1860 - 1869 – Joaquim Antonio Pereira


Fernandes Borges
Nº98 Nº98
2 terrenos e casa FR:12 braças – Casa FR:25 palmos + 6 polegadas –
TOT:40 braças (terrenos) e FR:80 TOT:15 braças
palmos – TOT:177 palmos (casa)

1860 - 1869 – José Martins Pereira


Nº98
Casa FR:25 palmos + 6 polegadas –
TOT:15 braças
263

1850 - 1859 – Francisco Domingues 1860 - 1869 – Pedro Bonifácio Gomes


dos Santos Ferreira
Nº118F / 120 Nº118F / 120
Terreno com casas FR:50 palmos – Terreno com casas FR:50 palmos –
TOT:152 palmos TOT:152 palmos

1860 - 1869 – Antonio José Rodrigues


Braga
Nº118F / 120
Terreno com casas FR:50 palmos –
TOT:152 palmos

1850 - 1859 – José da Costa e Oliveira 1850 - 1859 – Carolina de Souza Costa
Terreno FR:4 braças + FD:4 braças 2 terrenos FR:4 braças + FD:4 braças e
FR:6 braças + FD:4 braças / TOT:57,5
braças

1850 - 1859 – Francisco José Pinto 1860 - 1869 – José dos Santos Castro
Caminha Nº103
Nº103 Terreno com casa FR:38 palmos +
Terreno com casa FR:38 palmos + FD:32 palmos – até a rua do Aterrado
FD:32 palmos – até a rua do Aterrado

1870 - 1875 – Francisco Rabello 1870 - 1875 – José Ignácio de Souza


Nº103 Albernaz
Terreno com 4 casinhas FR:71 palmos Nº103
TOT:20 braças Terreno com 4 casinhas FR:71 palmos
TOT:20 braças

1870 - 1875 – Major Luiz Francisco


Henriques
1870 - 1875 – Antonio Pereira de Sá
Nº103
Terreno FR:7,8m - TOT: 79m Peixoto
Nº103
Terreno FR:7,8m - TOT: 79m

1840 - 1849 – Antonio Paulino Limpo 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
de Abreu Terreno FR:8 braças
Terreno FR:8 braças

1840 - 1849 – João Bonifácio Alves da 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
Silva Terreno FR:10 braças + FD:10 braças
Terreno FR:10 braças + FD:10 braças TOT:59 braças e outro com FR:8
TOT:59 braças braças + FD:8 braças
TOT:57,5 braças
264

1850 - 1859 – Joaquim Gonçalves de 1860 - 1869 – Francisco Domingues


Azevedo dos Santos
Nº118E / 31 Nº31 a 4ª parte com 4 quartos
2 terrenos com casas térreas FR:25 Casa térrea FR:5 braças – TOT:15
palmos cada uma braças

1850 - 1859 – Campos e Oliveira 1860 - 1869 – Agostinho Ribeiro


Nº118E / 31 Pinheiro
2 terrenos com casas térreas FR:25 Nº31 a 4ª parte com 4 quartos
palmos cada uma Casa térrea FR:5 braças – TOT:15
braças

1860 - 1869 – José Leite Magalhães 1860 - 1869 – Antonio Baptista


Nº118E / 118A / 118B / 118D Machado
Casas térreas FR:11 braças + FD:15 Nº118E / 118G / 118H
braças Terreno com casas térreas FR:7 braças
+ 3 palmos

1860 - 1869 – Antonio Manoel de


Menezes
1860 - 1869 – Luiz Ferreira Leite e
Nº118E / 118A / 118B / 118D
Manoel Teixeira Reimão
Casas térreas FR:11 braças + FD:15
braças Nº118G / 118H
Arrematou a massa falida de José Leite Terreno com casas térreas FR:7 braças
+ 3 palmos
Magalhães

1860 - 1869 – José Manoel Rodrigues 1860 - 1869 – Manoel Pontes Câmara
Nº118E / 118G / 118H Nº118G / 118H
Terreno com casas térreas FR:7 braças Terreno com casas térreas FR:7 braças
+ 3 palmos + 3 palmos

1850 - 1859 – José Antonio de Sá 1860 - 1869 – Bellarmino de Sá


Nº122 Carvalho
Terreno com casinhas FR:55,5 palmos Nº122
+ FD:56 palmos - TOT: 142 palmos Terreno com casinhas FR:55,5 palmos

1850 - 1859 – Joana Maria de Oliveira 1860 - 1869 – Manoel Sarmento


Alves Negreiros Nº120A
Nº120A Terreno com casa FR:44,5 palmos +
Terreno com casa FR:44,5 palmos + FD:44 palmos – até a rua de São Diogo
FD:44 palmos – até a rua de São Diogo

1870 - 1875 – Bellarmino de Sá


Carvalho
Nº120A
Terreno com casa FR:9,7m
TOT:66,3m
Arrematou em leilão
265

1850 - 1859 – Joaquim da Fonseca 1850 - 1859 – Antonio Affonso


Vieira Vellado
Terreno com casa FR:2,5 braças Terreno FR:2,5 braças

1850 - 1859 – Eugênio Aprígio da 1850 - 1859 – Justiniano José da Rocha


Veiga Terreno com prédio FR:10 braças
Terreno com prédio FR:10 braças TOT:30 braças
TOT:30 braças

1850 - 1859 – Manoel J. Garcez e Rosa 1850 - 1859 – Antonio Manoel de


C. do Rozario (pretos forros) Menezes
Nº29 Nº29
Terreno com casa FR:5 braças Terreno com casa FR:5 braças

1850 - 1859 – Manoel Francisco da 1850 - 1859 – Major José Joaquim da


Paixão Silva
Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças

1850 - 1859 – José Francisco Dutra 1850 - 1859 – Roza Maria dos Prazeres
Nº106 Serpa
Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças Nº106
Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças

1850 - 1859 – Januário José Baptista


Bastos
Nº106
Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças

1850 - 1859 – Conselheiro José 1850 - 1859 – Manoel de Pontes


Martins da Cruz Jobim Câmara
Terreno FR:15 braças + 3 palmos Terreno FR:15 braças + 3 palmos

1850 - 1859 – Conselheiro José 1850 - 1859 – Antonio José Ferreira


Martins da Cruz Jobim Guimarães
Terreno FR:2 braças + 3 palmos Terreno FR:2 braças + 3 palmos

1850 - 1859 – Joaquim Gonçalves de 1850 - 1859 – Antonio Domingues de


Azevedo Oliveira
Terreno FR:2 braças + 3 palmos Terreno FR:2 braças + 3 palmos

1850 - 1859 – Antonio José Pereira


Guimarães e Silva 1850 - 1859 – Zebedeu Jacomo Tasso
Terreno FR:11 braças - TOT:30 braças Terreno FR:11 braças - TOT:30 braças
Herança de seu pai de mesmo nome
266

1850 - 1859 – Francisco Ferreira Serpa 1850 - 1859 – Januário José Baptista
Terreno FR:3 braças Bastos
Terreno FR:3 braças

1850 - 1859 – Manoel Joaquim 1850 - 1859 – Antonio Luis de Moura


Tavares Guimarães
Nº3 Nº3
Terreno FR:23,5 palmos – TOT:39 Terreno FR:23,5 palmos – TOT:39
palmos palmos

1850 - 1859 – Francisco Pedro 1850 - 1859 – Francisco José Pinto


Henrique Terreno FR:30 palmos + FD:8 palmos
Terreno FR:30 palmos + FD:8 palmos TOT:30 braças
TOT:30 braças

1850 - 1859 – Francisco Joaquim da 1850 - 1859 – Manoel Roiz Ventura


Fonseca Nº76D / 76R
Nº76D / 76R 2 casas térreas FR:4 braças – TOT:53
2 casas térreas FR:4 braças – TOT:53 braças
braças

1850 - 1859 – Antonio Luis Martins


Ribeiro
1850 - 1859 – Herdeiros de José
Terreno FR:4,5 braças + FR:11,5
Antonio de Sá
braças já existentes
Terreno FR:4,5 braças Arrematado em leilão

1850 - 1859 – Manoel Coelho Moreira 1850 - 1859 – José Joaquim de Lima
Terreno FR:4 braças - TOT:29 braças Mendonça
+ 7 palmos Terreno FR:4 braças - TOT:29 braças
+ 7 palmos

1850 - 1859 – João dos Santos Souza 1850 - 1859 – Jacintho Martins da
Machado Costa
Terreno FR:25 palmos - TOT:150 Terreno FR:25 palmos - TOT:150
palmos palmos

1850 - 1859 – Ana Maria de Jesus


Terreno FR:25 palmos - TOT:150
palmos

1850 - 1859 – Joaquim Braz Ferreira 1850 - 1859 – Christiano Benedicto


da Silva Ottoni
Posse e domínio útil de casa FR:3 Posse e domínio útil de casa FR:3
braças braças
267

1850 - 1859 – Paulo Manoel de Souza 1850 - 1859 – Maria Rosa da


França Conceição
Terreno FR:3 braças - TOT:13 braças Terreno FR:3 braças - TOT:13 braças

1860 - 1869 – Antonio Moreira dos


Santos Costa
Terreno FR:3 braças - TOT:13 braças
Arrematado no espólio de Maria Rosa
da Conceição

1850 - 1859 – Antonio Pinto de 1850 - 1859 – José Leite Magalhães


Macedo Terreno FR:4 braças + 9 palmos
Terreno FR:4 braças + 9 palmos

1850 - 1859 – Roza Francisca da Silva 1850 - 1859 – José Januário


Terreno FR:4 braças + 2 palmos Terreno FR:4 braças + 2 palmos
TOT:15 braças + 3 palmos TOT:15 braças + 3 palmos

Até 1859 – Antonio de Oliveira 1860 - 1869 – Manoel Machado Dutra


Fernandes Terreno FR:80 palmos – TOT:177
Terreno FR:80 palmos – TOT:177 palmos
palmos

Até 1859 – Antonio de Oliveira 1860 - 1869 – Antonio José Teixeira


Fernandes Bessa
Terrenos FR:12 braças – TOT:40 Terreno FR:6 braças – TOT:20 braças
braças

1860 - 1869 – Gregório Vidal


1860 - 1869 – Manoel Francisco Terreno FR:2 braças – TOT:20 braças
Pimentel
Terreno FR:6 braças – TOT:20 braças

Até 1859 – Antonio de Oliveira 1860 - 1869 – Manoel Braz da Cunha


Fernandes Nº11
Nº11 Terreno FR:5 braças – TOT:190,5
Terreno FR:5 braças – TOT:190,5 palmos
palmos

1870 - 1875 – João Antonio Candoza e


Felippe Soares
Nº11 / 9 / 13 / 15 / 17
Casas térreas – vulgo cortiço
FR:13m – TOT:66m
268

1850 - 1859 – Capitão Hilário Mariano 1850 - 1859 – Antonio Gomes


da Silva Terreno FR:5 braças – TOT:12 braças
Terreno FR:12 braças das 12 originais

1850 - 1859 – Anacleto Teixeira de 1850 - 1869 – Manoel Coelho Martins


Queiroga Terreno FR:3 braças
Terreno FR:3 braças e FR:4 braças +
FD:30,5 palmos existente

1850 - 1859 – Diretoria da Estrada de 1850 - 1859 – João Baptista Coelho


Ferro D.Pedro II Nº126
Nº126 Casa FR:9 braças
Casa FR:9 braças

1850 - 1859 – Manoel Fernandes 1850 - 1859 – José Xavier Ferreira


Magro Terreno FR:4 braças – TOT:15 braças
Terreno FR:4 braças – TOT:15 braças

1850 - 1859 – Manoel Fernandes 1850 - 1859 – Augusto Nunes de


Magro Souza
Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças

1850 - 1859 – Manoel Fernandes 1850 - 1859 – Dr. Caludino José


Magro Viegas
Terreno FR:3 braças – TOT:30 braças Terreno FR:3 braças – TOT:30 braças

1850 - 1859 – Manoel Fernandes 1850 - 1859 – Rita Joaquina D’Olivier


Magro Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças
Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças

1850 - 1859 – Francisco Pereira do 1850 - 1859 – Joaquim Germano


Espírito Santo Seixas
Terreno FR:9 braças + 7 palmos Terreno FR:9 braças + 7 palmos

1850 - 1859 – Thomaz José de Aquino 1850 - 1859 – José de Pinho


Nº95 Nº95
Terreno FR:3 braças – TOT:30 braças Terreno FR:3 braças – TOT:30 braças

1850 - 1859 – Joaquim Bandeira


Nº95
Terreno FR:3 braças – TOT:30 braças
269

1850 - 1859 – Joaquim da Fonseca 1850 - 1859 – Domingos Marques de


Vieira Oliveira
Terreno FR:5 braças - TOT:30 braças Terreno FR:5 braças - TOT:30 braças

1850 - 1859 – Luiz Francisco Pacheco 1850 - 1859 – América Brazilia


Terreno FR:7,5 braças - TOT:36 braças Pacheco e José Militão da Rocha
Era de José Bento Alves Terreno FR:7,5 braças - TOT:36 braças

1850 - 1859 – Antonio Luis Martins 1860 - 1869 – Claudino Caetano


Ribeiro Magiolo
Terreno FR:11,5 braças Terreno FR:11,5 braças

Até 1859 – José Leite Magalhães 1860 - 1869 – Domingos de Castro


Nº51 Peixoto
4 moradas de casas FR:6 braças Nº51
4 moradas de casas FR:6 braças

Até 1859 – José Januário da Silva e 1860 - 1869 – Charles Gregg


Joaquim José de Oliveira Barbosa Nº122
Nº122 Terreno FR:44 palmos + 6 polegadas +
Terreno FR:44 palmos + 6 polegadas + FD:40,5 palmos – TOT:199 palmos
FD:40,5 palmos – TOT:199 palmos

1860 - 1869 – José Pereira Rodrigues


Nº122
Terreno FR:44 palmos + 6 polegadas +
FD:40,5 palmos – TOT:199 palmos

1860 - 1869 – Francisco Teixeira de 1860 - 1869 – José Ferreira Campos


Magalhães Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças
Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças Arrematado em leilão

1860 - 1869 – Francisco Teixeira de 1860 - 1869 – Thomaz Duffles


Magalhães Nº92 / 96
Nº92 / 96 Terreno com prédios FR:21,5 palmos +
Terreno com prédios FR:21,5 palmos + FD:21,5 palmos – TOT:160 palmos
FD:21,5 palmos – TOT:160 palmos

1860 - 1869 – Antonio Gomes 1860 - 1869 – José Gonçalves de


Nº105A / 107 Macedo
Casas térreas FR: 5 braças + FD:5 Nº105A / 107
braças – TOT:8 braças + 3 palmos Casas térreas FR: 5 braças + FD:5
braças – TOT:8 braças + 3 palmos
270

1860 - 1869 – José Joaquim Ferreira de 1860 - 1869 – José Carlos Mayrinck
Lima e Silva Terreno FR:20 braças + FD:20 braças
2 terrenos FR:12 braças + FD:12
braças e FR:20 braças + FD:20

1860 - 1869 – Companhia de


Iluminação a Gás
Terreno FR:12 braças + FD:12 braças

1860 - 1869 – Rita Joaquina de 1860 - 1869 – Adolfo André Deauzo


Oliveira Nº92E
Nº92E Casa
Casa

1860 - 1869 – Domingos Barboza de


Magalhães
Nº92E
Casa

1860 - 1869 – Joaquim José de 1860 - 1869 – Charles Gregg


Oliveira Nº112
Nº112 Terreno com casa FR:2 braças –
Terreno com casa FR:2 braças – TOT:15 braças
TOT:15 braças

1860 - 1869 – José Rodrigues Pereira


Nº112
Terreno com casa FR:2 braças –
TOT:15 braças

1860 - 1869 – Irmandade do 1860 - 1869 – Antonio Joaquim de


Santíssimo Sacramento da freguesia de Mattos Russo
Santana Nº23
Nº23 Arrematou em leilão o prédio da
Prédio Irmandade do Santíssimo Sacramento
da freguesia de Santana

1870 - 1875 – Raymundo Bittencourt 1870 - 1875 – Cândida Maria Barboza


de Menezes Nº23
Nº23 Terreno e prédio
Terreno e prédio

1860 - 1869 – João José Tavares 1860 - 1869 – Manoel de Almeida


Nº76C Nº76C
Prédio Arrematou em leilão a massa falida e o
prédio de João José Tavares
271

1860 - 1869 – Francisco Teixeira de 1860 - 1869 – Manoel Lopes de


Magalhães Menezes
Nº92F Nº92F
Prédio Prédio

1860 - 1869 – Ângelo José de Morais 1860 - 1869 – Jacintho Telles Barboza
Terreno Terreno herdado de Ângelo José de
Morais

1850 - 1859 – Conselheiro Luiz 1850 - 1859 – Francisco Leocadio de


Joaquim Duque Estrada Furtado de Figueiredo
Mendonça Nº 16
Nº 16 Terreno com casa FR:10 braças + 2
Terreno com casa FR:10 braças + 2 palmos
palmos

1860 - 1869 – Augusto Nunes de 1860 - 1869 – Cândido José Vieira


Souza Nº16H
Nº16H Prédio
Prédio

1860 - 1869 – José Januário 1860 - 1869 – Antonio Manoel de


Nº118 Menezes
Terreno Nº118
Terreno

1860 - 1869 – José Militão da Rocha 1860 - 1869 – João Machado da


Nº84 / 84A Silveira
Terreno FR:7,5 braças – TOT:36 Nº84 / 84A
braças Terreno FR:7,5 braças – TOT:36
braças

1860 - 1869 – Luiz Ferreira Leite 1860 - 1875 – Antonio José Ferreira
Terreno FR:8,14m – TOT:33m Guimarães
Terreno FR:8,14m – TOT:33m

1870 - 1875 – Cândido Francisco 1870 - 1875 – João Francisco Franco


Ferreira Nº103B
Nº103B Casa FR:3 braças
Casa FR:3 braças

1860 - 1869 – Manoel Machado Dutra 1860 - 1869 – Leonardo Caetano de


Peres Araújo
Terreno com 9 casas térreas FR:8 Terreno com 9 casas térreas FR:8
braças – TOT:17,5 braças braças – TOT:17,5 braças
272

1860 - 1869 – Agostinho Pinto de 1860 - 1869 – José Alves de Oliveira


Miranda Teixeira Prata
Nº81 Nº81
Terreno Terreno

1870 - 1875 – Joaquim Francisco dos 1870 - 1875 – Joaquim Teixeira


Santos Devesa Terreno FR:2 braças
2 terrenos FR:2 braças e FR:3 braças

1870 - 1875 – Antonio de Souza


Moreira
Terreno FR:3 braças

1870 - 1875 – Dr. Claudino José 1870 - 1875 – Manoel Braz da Cunha
Viegas Terreno FR:18 braças + 4,5 palmos
Terreno FR:18 braças + 4,5 palmos TOT:31 braças

1870 - 1875 – Antonio José da Costa e 1870 - 1875 – Antonio José da Costa e
Silva Nunes
Nº65 Nº65
Casas FR:6,6m – TOT:33,6m

1870 - 1875 – Fortunata Rosa de


Figueiredo
Nº65
Casa

Fontes dos Organogramas-Aforamentos : Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos


(ver referências bibliográficas).
273

ANEXO D - TABELAS – AFORAMENTOS

Rua do Aterrado
Rua do Aterrado

1808

1820

1830

1840

1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40

Imóvel Dimensões Foreiros

Antonio da Rocha Machado / Antonio Luiza Roza Avondano Pereira Luiza Roza Avondano Pereira
Chácara de São Diogo
Fernandes Pereira * (viúva de Antonio Fernandes Pereira) (viúva de Antonio Fernandes Pereira)

Terreno 4 braças Domingos Antonio de Azevedo Cirne Domingos Antonio de Azevedo Cirne Domingos Antonio de Azevedo Cirne Domingos Antonio de Azevedo Cirne

Sargento Mor Francisco de Paula Sargento Mor Francisco de Paula Sargento Mor Francisco de Paula Sargento Mor Francisco de Paula
Terreno 12 braças
Borges Borges Borges Borges
Terreno 4 braças Joaquim José de Queiroz Joaquim José de Queiroz
Terreno 5 braças Izidora Maria da Piedade Izidora Maria da Piedade
Terreno 3 braças José Mendes da Costa José Mendes da Costa
Terreno Bernarda Maria de Jesus Bernarda Maria de Jesus
Terreno 4 braças Theodoro José Junior
Terreno 8 braças José Carneiro Dias Guimarães José Carneiro Dias Guimarães
Terreno Manoel José de Andrade Manoel José de Andrade
Terreno Manoel Gonçalves da Cruz
Terreno 5 braças / 57,5 braças Deolinda Jacintha
José Carlos Mayrinck e José
Terreno 20 braças
Joaquim Ferreira (parte) *
Antonio Paulino Limpo D'Abreo /
Terreno 8 braças / 57,5 braças
José Joaquim Ferreira *
Terreno 6 braças / 57,5 braças Carolina de Souza Costa
Terreno 8 braças Desemb. Antonio José da Veiga
João Bonifácio Alves da Silva /
Terreno 10 braças / 57,5 braças
Desemb. Antonio José da Veiga *
Terreno da Ponte Grande do João Bernardo de Carvalho / Capitão
Aterrado até a Bica dos 28 braças
Marinheiros Narcizo de Almeida Carvalho *
Terreno 6 braças Antonio Gonçalves Varella
Carolina Augusta de Miranda Teixeira -
Terreno 18 braças / 59 braças
herdou de Agostinho Pinto de Miranda
Terreno 158 braças Manoel Machado Coelho
Terreno 29 braças / 31 braças Maria Luiza dos Prazeres
Terreno 4 braças / 57,5 braças Coronel José da Costa e Oliveira
Terreno 26 braças João José Pereira de Oliveira
Terreno de marinha
12 braças / 18 braças José da Costa Souza Lima
contíguo à casa nº44
Terreno Nº 10
Terrenos Nº 23 / 53
Terreno Nº 32
Terreno Nº 56B
Terreno Nº 65
Terrenos Nº 67/ 69
Terreno entre os prédios
30 palmos / 30 braças
nº56 e 56A
Terreno Nº 57
Terreno de marinha 7 braças / 16 braças
Terreno Nº 127

Terreno 12 braças

Terreno 6 braças
Terreno
Cinco casas 13 braças
Terrenos Nº 83 / 90 / 92
Terreno Nº 86
Terreno Nº 109
Terreno
Terreno Nº 24
Terreno Nº 26
274

Terrenos Nº 16 / 18
Terreno Nº 30
Terrenos Nº 12 / 14 / 20
Terreno Nº 34
Terrenos Nº 31 / 33
Terrenos Nº 35 / 37
Terreno Nº 39

Terreno Nº 43

Terrenos Nº 45 / 47
Terreno Nº 49
Terreno Nº 51
Terreno Nº 52
Terreno Nº 55
Terrenos Nº 59 / 61
Terreno Nº 62
Terreno Nº 63
Terrenos Nº 64 / 66
Terreno Nº 68
Terreno Nº 70
Terrenos Nº 73 / 75
Terreno Nº 74
Terreno Nº 76
Terreno Nº 77
Terreno Nº 78
Terrenos Nº 79 / 81
Terreno Nº 80
Terrenos Nº 82 / 84
Terrenos Nº 85 / 87
Terreno Nº 88
Terreno Nº 89

Terreno Nº 91

Terreno Nº 93
Terrenos Nº 94 / 95 / 96
/ 98 / 100 / 102 / 104 /
106 / 108 / 110 / 112
Terrenos Nº 95 / 97

Terrenos Nº 101 / 103

Terreno Nº 105

Terreno Nº 107

Terrenos Nº 111 / 113


Terrenos Nº 115 / 117
Terrenos Nº 119 / 121
Terrenos
Nº 123 / 125 / 72
Terreno 6 braças / 22 braças
Dois terrenos
comprados de José
22 braças
Carlos Mayrinck e da
Cia de Iluminação a Gás
Terreno 4 braças

Terreno 48 palmos

Manoel Pedroso e Mattos


José da Costa Souza Lima
Terrenos Nº 44 / 48 Polucena Luiza de Britto (nº44 e 48) Polucena Luiza de Britto (nº44 e 48) (nº 44 e 48) / José da Costa Souza
(nº 44 e 48)
Lima (nº 44 e 48) *
Terrenos Nº 36 / 46

Terreno Nº 42

Terreno Nº 50 19 braças Francisco Lopes de Araújo Domingos Francisco da Silva Domingos Francisco da Silva Domingos Francisco da Silva
Terreno Nº 56 José Antonio dos Santos João José Ferreira João José Ferreira Thomaz José de Aquino

Terreno Nº 40A 4 braças / 17 braças Manoel Pedroso e Mattos Antonio da Costa Barbosa Francisco José da Costa e Silva

Terreno Nº 38 7 braças / 16 braças Antonio Joaquim Tavares José Antonio Baptista

Terreno Nº 1 Antonio Pinto de Macedo

Terreno Nº 2 5 braças / 25 braças Antonio Pinto de Macedo

Terreno Nº 40 João Luiz da Cunha


Terreno Nº 3 João Braúlio de Mesquita

Terreno Nº 28

Terreno Nº 54 Josefina Roza de Oliveira

Terreno Nº 6
Terreno Nº 8
Terrenos Nº 160 / 162

Terreno Nº 60 Francisco José de Assis

Terreno com cinco


casas térreas até a rua José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes
de São Diogo Nº 58
275

Rua do Aterrado

1870

1875
1860
Década de 50 Década de 60 Década de 70

Imóvel Dimensões Foreiros

Chácara de São Diogo

Terreno 4 braças

Terreno 12 braças

Terreno 4 braças
Terreno 5 braças
Terreno 3 braças
Terreno
Terreno 4 braças
Terreno 8 braças
Terreno Manoel José de Andrade
Terreno
Terreno 5 braças / 57,5 braças

Terreno 20 braças

Terreno 8 braças / 57,5 braças

Terreno 6 braças / 57,5 braças


Terreno 8 braças

Terreno 10 braças / 57,5 braças


Terreno da Ponte Grande do
Aterrado até a Bica dos 28 braças
Marinheiros
Terreno 6 braças
Carolina Augusta de Miranda
Terreno 18 braças / 59 braças
Teixeira
Terreno 158 braças
Terreno 29 braças / 31 braças
Terreno 4 braças / 57,5 braças
Terreno 26 braças
Terreno de marinha
12 braças / 18 braças Francisco Gonçalves de Moura
contíguo à casa nº44
Terreno Nº 10 Francisco Antonio da Silva Francisco Antonio da Silva Francisco Antonio da Silva
Terrenos Nº 23 / 53 Antonio Gomes Netto Antonio Gomes Netto Antonio Gomes Netto
Terreno Nº 32 Francisca de Paula P. da Fontanna Francisca de Paula P. da Fontanna Francisca de Paula P. da Fontanna
Terreno Nº 56B Brás Antonio Carneiro Brás Antonio Carneiro Brás Antonio Carneiro
Terreno Nº 65 José Gomes Ferreira José Gomes Ferreira José Gomes Ferreira
Terrenos Nº 67/ 69 Pedro Bonifácio Gomes Ferreira Pedro Bonifácio Gomes Ferreira Pedro Bonifácio Gomes Ferreira
Terreno entre os prédios
30 palmos / 30 braças José Pereira Cardoso
nº56 e 56A
Terreno Nº 57 Firmino Moreira Lyrio
Terreno de marinha 7 braças / 16 braças Castro e Pinto
Terreno Nº 127 Francisco Antonio de Castro Francisco Antonio de Castro Francisco Antonio de Castro
Eduardo Price /
Terreno 12 braças
Guilherme Gelbert Genty *
Terreno 6 braças Zacarias Alves de Araújo Duarte José da Puga Garcia
Terreno José Ferreira de Paiva
Cinco casas 13 braças José de Oliveira
Terrenos Nº 83 / 90 / 92 Maria da Conceição A. de Aguiar Maria da Conceição A. de Aguiar Maria da Conceição A. de Aguiar
Terreno Nº 86 José Pinto de Araújo José Pinto de Araújo José Pinto de Araújo
Terreno Nº 109 Firmina Rosa dos Santos Firmina Rosa dos Santos Firmina Rosa dos Santos
Terreno Manoel José de Andrade Manoel José de Andrade
Terreno Nº 24 João Antonio P. de F. João Antonio P. de F.
Terreno Nº 26 Bernardo Joaquim de Faria G. Bernardo Joaquim de Faria G.
276

Terrenos Nº 16 / 18 José Albino Ferreira de Faria José Albino Ferreira de Faria


Terreno Nº 30 Joaquina Rosa de Oliveira Joaquina Rosa de Oliveira
Terrenos Nº 12 / 14 / 20 Jeronimo José Teixeira Jeronimo José Teixeira
Terreno Nº 34 João M. Vianna João M. Vianna
Terrenos Nº 31 / 33 José Bernardes da Silva José Bernardes da Silva
Terrenos Nº 35 / 37 Antonio Luiz Moura Antonio Luiz Moura
Terreno Nº 39 José Gomes Barrozo José Gomes Barrozo
Herdeiros de Francisco do Valle Herdeiros de Francisco do Valle
Terreno Nº 43
Guimarães Guimarães
Terrenos Nº 45 / 47 Francisco José Monteiro Gomes Francisco José Monteiro Gomes
Terreno Nº 49 João Baptista Marcelo João Baptista Marcelo
Terreno Nº 51 Antonio Francisco dos Santos Antonio Francisco dos Santos
Terreno Nº 52 Antonio Luis Dantas de Barros Antonio Luis Dantas de Barros
Terreno Nº 55 Antonio Joaquim da Silva Freitas Antonio Joaquim da Silva Freitas
Terrenos Nº 59 / 61 José Martins Vieira José Martins Vieira
Terreno Nº 62 Patrício Ricardo Freire Patrício Ricardo Freire
Terreno Nº 63 Augusto M. Vieira Augusto M. Vieira
Terrenos Nº 64 / 66 Francisco José Ramos Francisco José Ramos
Terreno Nº 68 José Alves Ferreira de Magalhães José Alves Ferreira de Magalhães
Terreno Nº 70 Maria Isabel de Melo Moraes Maria Isabel de Melo Moraes
Terrenos Nº 73 / 75 Francisco Albino José Barbosa Francisco Albino José Barbosa
Terreno Nº 74 Herdeiros de Jacintha Escolástica Herdeiros de Jacintha Escolástica
Terreno Nº 76 Luis de Freitas Almeida Luis de Freitas Almeida
Terreno Nº 77 Legismundo Antonio Pinto Legismundo Antonio Pinto
Terreno Nº 78 Maria Rita Correia Garcia Maria Rita Correia Garcia
Terrenos Nº 79 / 81 Dr. Pedro Fortes Marcondes Jobim Dr. Pedro Fortes Marcondes Jobim
Terreno Nº 80 Sabino da Silva Nazareth Sabino da Silva Nazareth
Terrenos Nº 82 / 84 Anna Maria de Azevedo Anna Maria de Azevedo
Terrenos Nº 85 / 87 Herdeiros de José Vaz Guedes Herdeiros de José Vaz Guedes
Terreno Nº 88 José Joaquim de Barros José Joaquim de Barros
Terreno Nº 89 Francisco de Almeida da Rocha Francisco de Almeida da Rocha
Herdeiros de José Joaquim Gaspar Herdeiros de José Joaquim Gaspar
Terreno Nº 91
dos Reis dos Reis
Terreno Nº 93 Antonio Ferreira Alves Antonio Ferreira Alves
Terrenos Nº 94 / 95 / 96
/ 98 / 100 / 102 / 104 / Maria Rosa de Oliveira Maria Rosa de Oliveira
106 / 108 / 110 / 112
Terrenos Nº 95 / 97 Joaquina Maria Delfina Guimarães Joaquina Maria Delfina Guimarães

Antonio L. S. Miranda, Joaquim L. S. Antonio L. S. Miranda, Joaquim L. S.


Terrenos Nº 101 / 103
Miranda e Luiz Antonio S. Miranda Miranda e Luiz Antonio S. Miranda

Terreno Nº 105 Peregrino Gomes Freire Peregrino Gomes Freire


Herdeiros de Francisco Homem da Herdeiros de Francisco Homem da
Terreno Nº 107
Costa Costa
Terrenos Nº 111 / 113 Luiz Antonio da Silva Soares Luiz Antonio da Silva Soares
Terrenos Nº 115 / 117 Antonio José de Oliveira Guimarães Antonio José de Oliveira Guimarães
Terrenos Nº 119 / 121 Manoel José de Oliveira Passos Manoel José de Oliveira Passos
Terrenos
Abel Francisco Correa Leal Abel Francisco Correa Leal
Nº 123 / 125 / 72
Terreno 6 braças / 22 braças Manoel José Gomes de Oliveira
Dois terrenos
comprados de José José Joaquim Ferreira da Lima e
22 braças
Carlos Mayrinck e da Silva
Cia de Iluminação a Gás
Terreno 4 braças Antonio Manoel Alves Rego
José Pereira de Carvalho e
Terreno 48 palmos Marechal Antonio Manoel
Joaquim F. da Silva tereza
José da Costa Souza Lima (nº 44 e Visconde de Jequitinhonha (nº 44 e 48) /
Visconde de Jequitinhonha (nº 48) /
Terrenos Nº 44 / 48 48) / Thereza de Jesus e Silva Antonio de Souza Gonçalves (nº 44) * /
Henrique Mangeron (nº 44) *
(nº 44 ) * Henrique Mangeron (nº 44) *

Terrenos Nº 36 / 46 Visconde de Jequitinhonha Visconde de Jequitinhonha

Visconde de Jequitinhonha /
Terreno Nº 42 Maria da Glória e Silva Antonio de Souza Gonçalves * / José Luiz Fagundes
José Luiz Fagundes *
Terreno Nº 50 19 braças Domingos Francisco da Silva Visconde de Jequitinhonha Visconde de Jequitinhonha
Terreno Nº 56 Thomaz José de Aquino Leocádia Rosaura da Silva Leocádia Rosaura da Silva
Francisco José da Costa e Silva e Francisco José da Costa e Silva e Francisco José da Costa e Silva e
Terreno Nº 40A 4 braças / 17 braças
Bernardo Gomes Braga (parte) Bernardo Gomes Braga (parte) Bernardo Gomes Braga (parte)
Terreno Nº 38 7 braças / 16 braças Barros e Irmãos Visconde de Jequitinhonha Visconde de Jequitinhonha
Santa Casa de Misericórdia Santa Casa de Misericórdia
Terreno Nº 1 Antonio Pinto de Macedo
(+ nº 3 / 5 / 23 / 25 / 27) (+ nº 3 / 5 / 23 / 25 / 27)
Antonio Pinto de Macedo / João José Bourrel /
Terreno Nº 2 5 braças / 25 braças Anna Eufrásia Duarte (nº2 e 4)
Henrique Chanson * Anna Eufrásia Duarte (+ nº 4) *
Terreno Nº 40 Joana Rosa da Conceição Visconde de Jequitinhonha Visconde de Jequitinhonha
Terreno Nº 3 João Braúlio de Mesquita Santa Casa de Misericórdia Santa Casa de Misericórdia
José Marques de Gouvea /
Terreno Nº 28 Pedro José Fernandes
Pedro José Fernandes *
Josefina Roza de Oliveira, Joaquina Josefina Roza de Oliveira, Joaquina
Terreno Nº 54 Josefina Roza de Oliveira da Rocha Neves e Manoel Pereira da Rocha Neves e Manoel Pereira
Cardoso (1/3 para cada um) Cardoso (1/3 para cada um)
Terreno Nº 6 Rosa Albino de Oliveira Guimarães
Terreno Nº 8 Justino José de Souza Albino de Oliveira Guimarães
Terrenos Nº 160 / 162 Albino de Oliveira Guimarães
Barão de Mauá /
Terreno Nº 60 Joaquim Ludgero de Aguiar Joaquim Ludgero de Aguiar
Antonio José Benevides (+ nº 62) *
Terreno com cinco
casas térreas até a rua Barão de Mauá Leocádia Rosaura da Silva Leocádia Rosaura da Silva
de São Diogo Nº 58
277

Rua Nova do Conde


Rua Nova do Conde

1808

1820

1830

1840

1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40

Imóvel Dimensões Foreiros

Terreno 7 braças / 25 braças José Antonio dos Santos Anna José Antonio dos Santos Anna José Antonio dos Santos Anna
Terreno Antonio Pereira da Fonseca Antonio Pereira da Fonseca Antonio Pereira da Fonseca
Terreno 7 braças até o Campo Capitão Mor José Teixeira de Mello Capitão Mor José Teixeira de Mello Capitão Mor José Teixeira de Mello
Terreno Francisco Antonio Malheiro Francisco Antonio Malheiro Francisco Antonio Malheiro
Terreno 5 braças José Bento Alves José Bento Alves José Bento Alves
Terreno 4 braças Damiana Teresa C. Ribeiro Damiana Teresa C. Ribeiro Damiana Teresa C. Ribeiro
Terreno do lado de Joaquim da Rocha Machado Joaquim da Rocha Machado
Catumby c/ três chácaras (irmão de Polucena Luiza de Britto) (irmão de Polucena Luiza de Britto)
Terreno José Gonçalves Bandeira
Terreno 21 braças Francisco Machado Francisco Machado Francisco Machado Francisco Machado
Terreno Nº 31 Francisco José Alves Quintão
Terreno Nº 7 Miquelina Rosa das Merces
Terreno Nº 71 José Alexandre Marques
Terreno Nº 125 7 braças / 200 braças Ver. Francisco de Paula Mattos
Terreno Antonio José Alves Ferreira
Terreno 7 braças Bernarda Francisca dos Santos
Terreno Nº 34 21 palmos
Terrenos Nº 28 / 30 23 palmos / 19 palmos
Terreno Nº 67
Terreno Nº 69 7 braças
Terreno Nº 32 a 4º parte
Terreno Nº 138 44 palmos / 88 braças
Terreno Nº 196 339 palmos / 2501 pal.
Terreno Nº 226 22 palmos / 46 palmos

Terreno

Terreno

Terreno 70 palmos / 292 palmos


Terreno 57 palmos / 20 braças

Terreno 7 braças / 28, 5 braças

Terreno Nº 50 4 braças
Terreno Nº 1
Terreno Nº 8
Terreno Nº 10
Terreno Nº 11
Terreno Nº 26
Terreno Nº 53
Terreno Nº 63
Terreno Nº 59
Terreno Nº 183

Terreno Nº 134 28 palmos / 42 palmos

Terreno Nº 105 30,8 m / 62,92 m


Terreno Nº 36 Manoel Antonio Claro Manoel Antonio Claro Maria Delfina Lopes
Terreno Nº 21 Francisco José Alves Quintão Francisco José Alves Quintão
Terreno Nº 19 Francisco José Alves Quintão Francisco José Alves Quintão

Terrenos Nº 23 / 25 / 27 Francisco José Alves Quintão Mariana Benedita Quintão

Terreno Nº 12 c/ Coronel Felippe Nery de Carvalho /


Luiz de Queiroz Monteiro Regadro
chácara e solar Luiz de Queiroz Monteiro Regadro *
José Ferreira da Rocha /
Terreno Nº 33 Luiza Joaquina do Amaral Pinheiro
Anacleto da Silva Ramos *
278

José Ferreira da Rocha /


Terreno Nº 35
Anacleto da Silva Ramos *
Terreno Nº 46 21 palmos Angélica Cyvita da Silva Alves Miguel D'Avillar
João Ignácio Mendes /
Terreno Nº 29
Mariana Francisca da Silva *
Anna Rosa da Conceição /
Terreno Nº 37
Antonio Gomes Brandão *
Rosa Monteiro Claro / Francisco da
Terreno Nº 38 7 braças / 20 braças Silva Guimarães * e Joaquim José
Moreira Maia (4ª parte)
João Manoel de Araújo Lobo /
Terreno Nº 94 Tenente Antonio Domingos Lopes
Tenente Antonio Domingos Lopes *
Conde de Paraty /
Terreno Nº 104 Manoel José Rodrigues (+ nº 40)
Manoel José Rodrigues (+ nº 40) *
Conde de Paraty /
Terreno Nº 106 14 braças Antonio José do Amaral
Antonio José do Amaral *
Conde de Paraty /
Terreno Nº 108 14 braças Antonio Ribeiro Forbes
Antonio Ribeiro Forbes *
Conde de Paraty /
Terrenos Nº 110 / 112 Manoel José Ricardo de Araújo
Manoel José Ricardo de Araújo *
Terrenos Nº 114 / 116 /
Conde de Paraty Conde de Paraty
120 /126
Terrenos Nº 118 / 124 / 128 Conde de Paraty Conde de Paraty

Conde de Paraty /
Manoel José Ricardo de Araújo * /
Padre Luiz de Souza Dias * / Senador Bernardo P. de Vasconcellos
Terreno Nº 122 19 braças
(parte do terreno)
José Martins Viana * e
Antonio Mariano Gonçalves (parte) e
Anna Maria Honoria (parte)

Terreno Nº 42 2,5 braças Cândida Rosa de Jesus

Terreno Nº 44 de Rosa
José Felipe Silva Mageira
Monteiro Claro
Terreno Nº 109 Bernardo José Landim
Terreno Nº 6A
Terrenos Viúva de Bernardo Manoel da Silva /
Nº 39 / 41 / 43 / 51 Manoel Luiz Soares *
Viúva de Bernardo Manoel da Silva /
Terreno Nº 45
Manoel Luiz Soares *
Viúva de Bernardo Manoel da Silva /
Terreno Nº 47
Manoel Luiz Soares *
Viúva de Bernardo Manoel da Silva /
Manoel Luiz Soares * /
Terreno Nº 49 22 palmos
Senhorinha de Moraes Roca * /
Rita Maria da Conceição *

Domingos Alves Meira /


Terreno Nº 52 9 braças / 196 palmos
João Antonio Claro *

Terreno Nº 52D

Joaquim José de Souza Ismanes /


Terreno Nº 48 30 palmos / 324 palmos Domingos da Silva Teixeira * /
Joaquim José Lourenço Dias *

Terreno Nº 40

Terreno Nº 14 18 palmos / 119,5 pal.

Terrenos Nº 54 / 56 Bernardo Dias Lima (+nº 62)

Terreno Nº 58 Bernardo Dias Lima

Terreno Nº 60
279

Maria Januária L. Gonçalves /


Terreno Nº 93 27 palmos / 2002 pal.
Antonio de Oliveira Santos *
Maria Januária L. Gonçalves /
Terreno Nº 95
Antonio de Oliveira Santos *
Terreno Nº 95A
Terreno Nº 95B
Joaquina do Bonsucesso Pinto /
Terreno Nº 97 11,8 m / 4,85 m
Matheus José Nunes *
Joaquina do Bonsucesso Pinto /
Terreno Nº 99
Matheus José Nunes *
Joaquina do Bonsucesso Pinto /
Terreno Nº 101
Matheus José Nunes *
Joaquina do Bonsucesso Pinto /
Terreno Nº 103
Matheus José Nunes *
Terreno Nº 75
Terreno Nº 57

Terreno Nº 77

Terrenos Nº 154 / 156 /


158 / 140 / 150 / 170
Terrenos Nº 87 / 89 / 91
/ 93 / 95
Terreno Nº 17 2 braças / 30 braças
Terreno Nº 81 48 palmos / 570 palmos
Terrenos Nº 85 / 85A

Terreno Nº 117 22,5 palmos / 61 palmos

Terreno Nº 121

Terreno Nº 121B 7 braças / 12 braças


Terrenos
Nº 111 / 113 / 115 / 119

Rua Nova do Conde

1870

1875
1860

Década de 50 Década de 60 Década de 70

Imóvel Dimensões Foreiros

Terreno 7 braças / 25 braças


Terreno
Terreno 7 braças até o Campo
Terreno
Terreno 5 braças
Terreno 4 braças
Terreno do lado de
Catumby c/ três chácaras
Terreno
Terreno 21 braças
Terreno Nº 31
Terreno Nº 7
Terreno Nº 71
Terreno Nº 125 7 braças / 200 braças
Terreno
Terreno 7 braças
Terreno Nº 34 21 palmos Francisco Vieira da Costa Francisco Vieira da Costa Francisco Vieira da Costa
Terrenos Nº 28 / 30 23 palmos / 19 palmos Cosmo José Cosmo José Cosmo José
Terreno Nº 67 José Pinto Tavares José Pinto Tavares José Pinto Tavares
Terreno Nº 69 7 braças Joaquim Felippe de Souza Joaquim Felippe de Souza Joaquim Felippe de Souza
Terreno Nº 32 a 4º parte Bernardo Leite de Rezende Bernardo Leite de Rezende Bernardo Leite de Rezende
Terreno Nº 138 44 palmos / 88 braças Francisco Lopes da Cunha Francisco Lopes da Cunha Francisco Lopes da Cunha
Terreno Nº 196 339 palmos / 2501 pal. Teophilo Benedicto Ottoni Teophilo Benedicto Ottoni Teophilo Benedicto Ottoni
Terreno Nº 226 22 palmos / 46 palmos Joaquim de Salles Soares Joaquim de Salles Soares Joaquim de Salles Soares
Dr. Thomaz Cochrane comprou dos
Terreno herdeiros de Antonio Luiz T. de
Menezes
Manoel Joaquim de Aguiar herdou
Terreno
de Matheus José Nunes
Terreno 70 palmos / 292 palmos Antonio Oliveira Santos
Terreno 57 palmos / 20 braças Francisco Peixoto M. Guimarães
Manoel José Nunes herdou de
Terreno 7 braças / 28, 5 braças
Matheus José Nunes
Terreno Nº 50 4 braças Barão de Bagé Barão de Bagé Barão de Bagé
Terreno Nº 1 Joaquina Carolina de Oliveira Joaquina Carolina de Oliveira
Terreno Nº 8 Victoria Barbosa Victoria Barbosa
Terreno Nº 10 Miguel Antonio Munhoz Miguel Antonio Munhoz
Terreno Nº 11 Martinho de Freitas Paiva Martinho de Freitas Paiva
Terreno Nº 26 Alexandrina Gernon Alexandrina Gernon
Terreno Nº 53 Narcisa Drummond Navarro Narcisa Drummond Navarro
Terreno Nº 63 Clemente José Ferreira Braga Clemente José Ferreira Braga
Terreno Nº 59 Dr. Ernesto F. P. de Camargo Dr. Ernesto F. P. de Camargo
Terreno Nº 183 Maria MacGregor Maria MacGregor

Terreno Nº 134 28 palmos / 42 palmos Manoel Fernandes de Macedo Manoel Fernandes de Macedo

Terreno Nº 105 30,8 m / 62,92 m Coronel José da C. Barros Fonseca Coronel José da C. Barros Fonseca
Terreno Nº 36 João Guilherme Meyer João Guilherme Meyer João Guilherme Meyer
Terreno Nº 21 Francisco José Alves Quintão Maria Angélica de Jesus e Silva Maria Angélica de Jesus e Silva
Terreno Nº 19 Francisco José Alves Quintão João Jacques Solano de Chirol Dr. Thistonio Borges Diniz (+ nº28A)
Joaquim Cândido Pereira Salgado Joaquim Cândido Pereira Salgado
Terrenos Nº 23 / 25 / 27 Mariana Benedita Quintão
(nº 25 / 27) (nº 25 / 27)
Terreno Nº 12 c/
Luiz de Queiroz Monteiro Regadro Luiz de Queiroz Monteiro Regadro Luiz de Queiroz Monteiro Regadro
chácara e solar
Antonio Gomes Brandão / Rachel
Terreno Nº 33 Ferreira da Rocha (+ nº 45 e 47) *
Rachel Ferreira da Rocha Rachel Ferreira da Rocha
280

Terreno Nº 35

Terreno Nº 46 21 palmos Miguel D'Avillar Antonio José Rodrigues João Luiz Rodrigues

Terreno Nº 29 Mariana Francisca da Silva Mariana Francisca da Silva Mariana Francisca da Silva

Terreno Nº 37 Antonio Gomes Brandão Antonio Gomes Brandão Antonio Gomes Brandão

Joaquim José Moreira Lima Joaquim José Moreira Lima


Terreno Nº 38 7 braças / 20 braças João Guilherme Meyer (4ª parte)
(4ª parte) (4ª parte)

Terreno Nº 94 Tenente Antonio Domingos Lopes Tenente Antonio Domingos Lopes Tenente Antonio Domingos Lopes

Terreno Nº 104 Manoel José Rodrigues (+ nº 40) Manoel José Rodrigues (+ nº 40) Manoel José Rodrigues (+ nº 40)

Terreno Nº 106 14 braças Antonio José do Amaral João Henrique Abbert João Henrique Abbert

Terreno Nº 108 14 braças Jacob Naureth Eduardo Laemmert Eduardo Laemmert

Terrenos Nº 110 / 112 Manoel José Ricardo de Araújo José Ribeiro da Barbosa Vianna José Ribeiro da Barbosa Vianna

Terrenos Nº 114 / 116 /


Conde de Paraty
120 /126
Terrenos Nº 118 / 124 / 128 Conde de Paraty Damião de Oliveira Pinto Damião de Oliveira Pinto

Senador Bernardo P. de Senador Bernardo P. de Senador Bernardo P. de


Terreno Nº 122 19 braças
Vasconcellos (parte do terreno) Vasconcellos (parte do terreno) Vasconcellos (parte do terreno)

Luisa Virginia Domay /


Terreno Nº 42 2,5 braças Francisca Rosa de Jesus Ferraz Francisca Rosa de Jesus Ferraz
Maria Joaquina Landim *
Terreno Nº 44 de Rosa
José Felipe Silva Mageira Francisco Xavier do Amaral Francisco Xavier do Amaral
Monteiro Claro
Terreno Nº 109 Antonia Maria da Conceição Antonia Maria da Conceição Antonia Maria da Conceição
Terreno Nº 6A Geraldo Soares Marquesa de Valença Marquesa de Valença
Terrenos
Nº 39 / 41 / 43 / 51

Terreno Nº 45 Rachel Ferreira da Rocha

José Ribeiro Cerqueira


Terreno Nº 47 Rachel Ferreira da Rocha Alípio José Mesquita
(metade cortiço)

Terreno Nº 49 22 palmos José Antonio de Araújo Dantas José Antonio de Araújo Dantas José Antonio de Araújo Dantas

Francisco José Teixeira Bastos (+nº


Terreno Nº 52 9 braças / 196 palmos João Antonio Claro 50A) / José Antonio da Silva Matos Anna Catharina Gehring
Braga * / Anna Catharina Gehring *
José Antonio da Silva Matos Braga /
Terreno Nº 52D Anna Catharina Gehring
Anna Catharina Gehring (+nº 52C) *

Maria Joaquina Landim / Joaquim


Terreno Nº 48 30 palmos / 324 palmos João Antonio Costa Braga Lourenço Dias * / Dr. Manoel Bernardino B. Pereira
Dr. Manoel Bernardino B. Pereira *

Delfina Rosa de Jesus e


Terreno Nº 40 Delfina Rosa de Jesus
João Guilherme Meyer (nº40A)
Terreno Nº 14 18 palmos / 119,5 pal. José Joaquim Cândido Pereira Antonio Lopes Martins José Alves da Costa
Sebastião Antonio Rodrigues Braga /
Terrenos Nº 54 / 56 Nicolau Barbosa de Souza
João Manoel Barbosa de Barros *
Nicolau Barbosa de Souza /
Terreno Nº 58 João Manoel Barbosa de Barros Francisco Consolo
Francisco de Almeida Cardoso *
Nicolau Barbosa de Souza /
Terreno Nº 60 João Manoel Barbosa de Barros Francisco Consolo
Francisco de Almeida Cardoso *

Terreno Nº 93 27 palmos / 2002 pal. Antonio de Oliveira Santos José Antonio Gonçalves Bouças José Antonio Gonçalves Bouças

Terreno Nº 95 Antonio de Oliveira Santos Manoel de Pontes Câmara Manoel de Pontes Câmara

Terreno Nº 95A Manoel Netto da Costa Manoel Netto da Costa


Terreno Nº 95B Antonio da Silva Pereira Antonio da Silva Pereira

Terreno Nº 97 11,8 m / 4,85 m Matheus José Nunes Antonio Silva Teixeira Joaquim José de Oliveira Sampaio

Terreno Nº 99 Matheus José Nunes Luiz Bandeira de Gouvea Luiz Bandeira de Gouvea

Terreno Nº 101 Matheus José Nunes

Matheus José Nunes /


Terreno Nº 103 Manoel da Silva Soares Manoel da Silva Soares
Manoel da Silva Soares *
Terreno Nº 75 Agostinha Rita da Silva Paulino Berrulte Paulino Berrulte
Terreno Nº 57 Antonio Ferreira da Rocha José Ignácio de Farias Visconde de Souto
José Joaquim Cabral de Menezes
Terreno Nº 77 Francisco Coelho da Silva Francisco Coelho da Silva
(a 5º parte)
Terrenos Nº 154 / 156 /
Justino Pereira de Faria Manoel Antonio Silva Manoel Antonio Silva
158 / 140 / 150 / 170
Terrenos Nº 87 / 89 / 91
Antonio de Oliveira Santos Manoel de Pontes Câmara
/ 93 / 95
Terreno Nº 17 2 braças / 30 braças Joaquim Lourenço Dias Maria Luisa dos Passos Silvares
Terreno Nº 81 48 palmos / 570 palmos Antonio Lourenço Leitão José Cândido Pereira Salgado
Terrenos Nº 85 / 85A João Bernardes José Cândido Pereira Salgado
Francisco de Paula Mattos / Antonia Ignácio Francisco da Silva Abreu /
Terreno Nº 117 22,5 palmos / 61 palmos Joaquim José de Souza Figueiredo
Maria da Encarnação * Joaquim José de Souza Figueiredo *
Francisco de Paula Mattos / Antonia
Maria da Encarnação * / Maria Luiza Felizardo Teixeira de Figueiredo /
Terreno Nº 121 Cláudio José da Silva
da Conceição * / Isaias Cláudio José da Silva *
José Cavalcante *
Terreno Nº 121B 7 braças / 12 braças José Alcorer José Alcorer José Alcorer
Terrenos Francisco de Paula Mattos / Antonia
Antonia Maria da Encarnação Antonia Maria da Encarnação
Nº 111 / 113 / 115 / 119 Maria da Encarnação *
281

Rua Formosa
Rua Formosa

1808

1820

1830

1840

1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40

Imóvel Dimensões Foreiros

Terreno Nº 13 Joaquim Gomes Thouguinho Joaquim Gomes Thouguinho


Terreno Nº 21 Manoel Joaquim Pereira
Terreno Nº 120 José dos Santos Ferreira
Terreno Nº 30 comprado
do Conde dos Arcos por
desmembramento da 26,5 palmos Manoel Luiz Cardosos Guimarães
Chácara no Campo de
Santana em 1824
Terreno Nº 85
Terreno Nº 34 2 braças

Terreno Nº 137 28 palmos / 133 palmos

Terreno 13 braças / 8 braças


Terreno Nº 19
Terreno Nº 69
Terreno Nº 43
Terreno Nº 139
Justiniano da Costa Galdino Aguiar /
Terreno Nº 35 20 palmos / 68 palmos José da Cruz da Costa Aguiar
José da Cruz da Costa Aguiar *
Antonio José Costa Leal / Domingos
Terreno Nº 6 Alves Meira * / João Joaquim Pinto de Barros
Antonio Claro *
Antonio José Costa Leal / Domingos
Terreno Nº 8 2 braças Alves Meira * / João João Antonio Claro
Antonio Claro *
Antonio José Costa Leal / Domingos
João Antonio Claro /
Terreno Nº 10 22 palmos / 68 palmos Alves Meira * / João
José Borges de Andrade *
Antonio Claro *
Terreno Nº 159 132 palmos José Teixeira Bastos José Teixeira Bastos
João Gomes de Almeida /
Joaquim José Cardoso Guimarães * Jerônimo P. de Figueiredo /
Terreno Nº 16
/ Jerônimo P. de Figueiredo * / Cândido José Pereira Codeço *
Cândido José Pereira Codeço *
João Gomes de Almeida /
Terreno Nº 16A Cândido José Pereira Codeço
Cândido José Pereira Codeço *
João Gomes de Almeida /
Terreno Nº 16B 3,5 braças Gregório José de Abreu
Gregório José de Abreu *
Joaquim José Cardoso Guimarães / Jerônimo
Terrenos Nº 18 / 20 P. de Figueiredo (+ nº 22 e 24) *
Jerônimo P. de Figueiredo

Joaquim José Cardoso Guimarães / Ana Joaquina da Cruz Guimarães /


Terrenos Nº 26 / 28
Ana Joaquina da Cruz Guimarães * José Antonio de Baptista (nº 26) *
Ana Joaquina da Cruz Guimarães /
Terreno Nº 32 Ana Joaquina da Cruz Guimarães
Manoel Martins Viana *
Terreno Nº 23 Theodoro Gonçalves Bandeira Manoel José Pereira (+ nº 25 / 27)
Joaquim Gonçalves Bandeira /
Terreno Nº 31 Manoel Joaquim da Lapa
Manoel Joaquim da Lapa *
Terreno Nº 37 1 braça / 6 braças Joaquim Gonçalves Bandeira Caetano José Gomes
Terreno Nº 64 Leonarda Angélica de Castro Leonarda Angélica de Castro
Terreno Nº 122 26 palmos Antonio Manoel da Rocha Antonio Manoel da Rocha
Terreno Nº 4 2 braças / 10 braças Francisco Tinoco Francisco Tinoco
Terreno Nº 163 20 palmos / 93 palmos Francisco José Pereira Francisco José Pereira
Terreno Nº 165 21 palmos / 92 palmos Francisco José Pereira Francisco José Pereira

Terreno Nº 171 7 braças / 133 palmos Francisco Leocádio de Figueiredo Francisco Leocádio de Figueiredo

Terreno Nº 173 7 braças / 133 palmos Francisco Leocádio de Figueiredo Francisco Leocádio de Figueiredo
Terrenos
Nº 173A / 173C

Fellipe Bender /
Manoel Joaquim da Lapa /
Terreno Nº 39 17 palmos / 20 palmos José Antonio dos Santos * / Fabrício
Fellipe Bender *
Rosa da Conceição *

Luiz Gomes dos Santos /


Terreno Nº 87 Francisco de Borja Galvão
Francisco de Borja Galvão *

Luiz Gomes dos Santos /


Terreno Nº 95 20 palmos / 127 palmos Francisco de Borja Galvão
Francisco de Borja Galvão *
Terreno Nº 124 28 palmos / 139 palmos José da Rocha Garcia Antonio de Souza Monteiro Pedroso
Terreno Nº 126 7 braças José da Rocha Garcia José Joaquim R. da Fonseca
282

Rua Formosa

1870

1875
1860
Década de 50 Década de 60 Década de 70

Imóvel Dimensões Foreiros

Terreno Nº 13 Joaquim Gomes Thouguinho Joaquim Gomes Thouguinho


Terreno Nº 21 Manoel Joaquim Pereira Manoel Joaquim Pereira
Terreno Nº 120 José dos Santos Ferreira José dos Santos Ferreira
Terreno Nº 30 comprado
do Conde dos Arcos por
desmembramento da 26,5 palmos Manoel Luiz Cardosos Guimarães Manoel Luiz Cardosos Guimarães
Chácara no Campo de
Santana em 1824
Terreno Nº 85 Januário José da Silva Loureiro Januário José da Silva Loureiro
Terreno Nº 34 2 braças Antonio Joaquim Martins Guimarães Antonio Joaquim Martins Guimarães
Alexandre Ferreira de Vasconcelos Alexandre Ferreira de Vasconcelos
Terreno Nº 137 28 palmos / 133 palmos
Drummond Drummond
Terreno 13 braças / 8 braças José da Motta Oliveira Bastos José da Motta Oliveira Bastos
Terreno Nº 19 Antonio José de Oliveira Guimarães
Terreno Nº 69 Joaquim da Costa Oliveira
Terreno Nº 43 José Maria Araújo Gomes
Terreno Nº 139 Manoel da Silva Moreira
Gaspara Barbosa Leão /
Terreno Nº 35 20 palmos / 68 palmos Manoel Ferreira dos Santos Porto
Manoel Ferreira dos Santos Porto *

Terreno Nº 6 Manoel Rodrigues Alves Maria das Neves

Terreno Nº 8 2 braças Antonio José Ferreira da Rocha Antonio José Ferreira da Rocha

Terreno Nº 10 22 palmos / 68 palmos José Borges de Andrade José Borges de Andrade

Terreno Nº 159 132 palmos José Teixeira Bastos José Pinto Mourão

Jerônimo P. de Figueiredo / Jerônimo P. de Figueiredo /


Terreno Nº 16
Cândido José Pereira Codeço * Cândido José Pereira Codeço *

Terreno Nº 16A Cândido José Pereira Codeço Cândido José Pereira Codeço

Terreno Nº 16B 3,5 braças José de Souza Barros

Terrenos Nº 18 / 20 Jerônimo P. de Figueiredo Jerônimo P. de Figueiredo

Ana Joaquina da Cruz Guimarães / Ana Joaquina da Cruz Guimarães /


Terrenos Nº 26 / 28
José Antonio de Baptista (nº 26) * José Antonio de Baptista (nº 26) *
Ana Joaquina da Cruz Guimarães / Ana Joaquina da Cruz Guimarães /
Terreno Nº 32
Manoel Martins Viana * Manoel Martins Viana *
Terreno Nº 23 Manoel José Pereira (+ nº 25 / 27) Manoel José Pereira (+ nº 25 / 27)

Terreno Nº 31 Izidora Maria da Piedade Francisco Máximo Soares de Lima

Terreno Nº 37 1 braça / 6 braças Mamede José da Silva Passos Antonio Pinheiro da F. Santos
Terreno Nº 64 Bernardo José de Castro Bernardo José de Castro
Terreno Nº 122 26 palmos Marcelino de Almeida Ribeiro Marcelino de Almeida Ribeiro
Terreno Nº 4 2 braças / 10 braças Aniceto Antonio Barbosa Aniceto Antonio Barbosa
Terreno Nº 163 20 palmos / 93 palmos Francisco José Pereira Luisa Guilhermina de A. Pereira
Terreno Nº 165 21 palmos / 92 palmos Francisco José Pereira Manoel José Pereira da Fonseca
Francisco Leocádio de Figueiredo /
Luiz José Pereira * /
Terreno Nº 171 7 braças / 133 palmos Luiz José Pereira * /
José Narciso da Silva Vieira *
José Narciso da Silva Vieira *
Terreno Nº 173 7 braças / 133 palmos Francisco Leocádio de Figueiredo José Narciso da Silva Vieira
Terrenos Manoel Antonio Braga e Manoel Antonio Braga e
Nº 173A / 173C Domingos José Dias Braga Domingos José Dias Braga

Terreno Nº 39 17 palmos / 20 palmos Fabrício Rosa da Conceição José de Araújo Pereira Villas Boas

Francisco de Borja Galvão /


Terreno Nº 87 Bernardo José Serrão * / Pedro Fortes Marcondes Jobim
Pedro Fortes Marcondes Jobim *
Francisco de Borja Galvão /
Terreno Nº 95 20 palmos / 127 palmos Manoel Joaquim de Arruda
Bernardo José Serrão *
Terreno Nº 124 28 palmos / 139 palmos Antonio de Souza Monteiro Pedroso Cândida Isabel de Pinho Gonçalves
Terreno Nº 126 7 braças José Joaquim R. da Fonseca Narcizo Luiz Machado Guimarães
283

Rua do Areal
Rua do Areal

1808

1820

1830

1840

1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40

Imóvel Dimensões Foreiros

Chácara do Areal Manoel Antonio Claro

Terras desmembradas da
Chácara do Areal c/ moradas de Alferes Antonio Domingues Lopes e
10 braças
casas.Frente p/a rua Nova do Manoel Parente da Costa
Conde e fundos p/a do Areal

Chácara e terreno com Luis José da Cunha Bastos e Intendente Paulo Antonio Joaquim Teixeira (casa) e
9 braças
casa Fernandes Vianna (terreno) Paulo Fernandes Vianna (terreno)
Terreno com morada de Alferes Gabriel José Ferreira /
3,5 braças / 41 braças Manoel Francisco de Oliveira
casas Manoel Francisco de Oliveira *
Terreno c/ casa 14 braças / 18,5 braças Manoel Parente da Costa Anna Quitéria de Araújo (parte)
Sobrado comprado do
40 braças Joaquim José Cardoso Guimarães Joaquina Roza do Bonsucesso
Conde dos Arcos
Terreno Nº 21

Edifício do Senado

Maria Joaquina de Jesus /


Terreno Nº 17 Joaquim Franco das Chagas
Manoel Fernandes de Mattos *

Terreno Nº 2 48 palmos / 51 palmos Herdeiros de João Batista Ferreira

Terreno Nº 19 2 braças Jacintho Evaristo da Silva

Terreno Nº 4 / 4B 4 braças + 232 palmos Manoel Joaquim Ferreira da Silva

Barão da Bella Vista (terreno e casa)


Terreno com casa Nº 27 134 palmos / 119,5 pal.
e Gregório José de Abreu (terreno) *

Rua do Areal
1870

1875
1860

Década de 50 Década de 60 Década de 70

Imóvel Dimensões Foreiros

Chácara do Areal

Terras desmembradas da
Chácara do Areal c/ moradas de
10 braças
casas.Frente p/a rua Nova do
Conde e fundos p/a do Areal

Chácara e terreno com


9 braças
casa
Terreno com morada de
3,5 braças / 41 braças
casas
Terreno c/ casa 14 braças / 18,5 braças
Sobrado comprado do
40 braças
Conde dos Arcos
Terreno Nº 21 José Luis dos Santos Teixeira
Domínio Direto da municipalidade -
Edifício do Senado
Edifício do Senado

Terreno Nº 17

Antonio Pereira de Souza Barros /


Terreno Nº 2 48 palmos / 51 palmos Herdeiros de João Batista Ferreira
Carlos Frederico de Lima *
Terreno Nº 19 2 braças Fiel Jordão da Silva
Manoel Joaquim Ferreira da Silva (nº4) e João
Terreno Nº 4 / 4B 4 braças + 232 palmos Chrispim Francisco (nº 4B)
Antonio Joaquim Machado

Viriato Bandeira Duarte (casa) /


Barão da Bella Vista (terreno e casa)
Terreno com casa Nº 27 134 palmos / 119,5 pal. Anna Benigna Felicidade Perpétua
e Gregório José de Abreu (terreno) *
de Abreu (terreno) *
284

Rua de São Diogo


Rua de São Diogo

1808

1820

1830

1840

1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40

Imóvel Dimensões Foreiros

Antonio da Rocha Machado / Antonio Luiza Roza Avondano Pereira (viúva Luiza Roza Avondano Pereira (viúva
Chácara de São Diogo José Joaquim Ferreira
Fernandes Pereira * de Antonio Fernandes Pereira) de Antonio Fernandes Pereira)
Terreno c/ casas atrás 267 palmos / 118 Felippe Furtado da Silva
Manoel de Jesus Antonio José de Siqueira
da Igreja de Santana palmos (herança de Antonio José de Siqueira)
Manoel José R. de Oliveira, vigário Manoel José Manoel José R. de Oliveira, vigário Manoel José
Duas chácaras com 22
da Costa e Cons. Luis Joaquim Duque Estrada da Costa e Cons. Luis Joaquim Duque Estrada
moradas de casas F. de Mendonça F. de Mendonça
Terras com frente p/ a rua do Polucena Luiza de Britto /
Aterrado e fundos para a de S. José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes
Diogo José de Oliveira Fernandes *
Duas casas térreas 8 braças Antonio Pinto da Costa José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes
Terreno c/cinco moradas
10 braças Manoel José de Andrade José Carneiro Dias
de casas
Terreno 8 braças Luiz da Rocha Machado Luiz da Rocha Machado José Ferreira Serpa José Ferreira Serpa
Terreno 6 braças João Pereira de Almeida-leilão
Terreno 4 braças / 57,5 braças Deolinda Jacintha
Terreno 8 braças/ 19 braças Maria Rosa de Santana
Terreno 6 braças / 57,5 braças Carolina de Souza Costa
José Carlos Mayrinck /
Terreno 8 braças / 57,5 braças
José Joaquim Ferreira *
Terreno 3 braças
Terreno c/ moradas de
5 braças
casas Nº 120
Terreno 3 braças / 30 braças
Parte p/ Alexandre Leite dos Santos e outra p/
Manoel Joaquim de Oliveira e Manoel Joaquim de Oliveira e Antonio Domingues de Oliveira / Parte p/ Manoel
Duas casas térreas 8 braças de Azevedo Freitas e outra p/ Manoel Joaquim
Manoel Joaquim da Lapa Manoel Joaquim da Lapa
Tavares *

Casas Nº 1 / 2 29 braças / 50 braças Maria Francisca da Silva Antonio Pinto de Macedo

Morada de casas Thomé Lino /


4 braças / 39 braças José Joaquim da Silva
Nº 14 / 16 após 1840 Nº 64 / 66 Francisco Joaquim da Fonseca *
Chácara com prédios
65,5 braças Joaquim José de Siqueira Brandão Com. José Justino Pereira de Faria
Nº 60 / 64

Casa Nº 61A 8 braças / 30 braças

José de Oliveira Ferreira /


Terreno 3 braças / 15 braças
Joaquim Moreira da Silva *
Domingos Vieira de D. Machado
Terreno 22 braças
/João José de Castro e Silva *
Visconde do Monte Alegre /
Terreno 10 braças / 19 braças
João dos Reis Pereira *
Joana Maria de Jesus /
Terreno 20 braças
João José da Cunha Guimarães *
José de Oliveira Fernandes /
Terreno 33 braças / 15 braças
Paulo Manoel de Souza França *
Francisco Pereira do Espírito Santo /
Maria Joaquina do Espírito Santo * /
Terreno 9 braças
Domingos José de Moura /
Manoel Rodrigues Ventura (parte ) *

João Baptista da Silva /


Terreno 6 braças / 37 braças
José Martins da Cruz Jobim *
Dona Maria Luiza (crioula) /
Terreno 3 braças / 15 braças
Maria Joana de Jesus e seu filho *
Terreno com duas
José João da Silva /
moradas de casas 6 braças / 30 braças
José Teixeira da Motta *
Nº 104
285

Morada de casas Antonio de Oliveira e sua mulher


2 braças
Nº 100 Maria Deolinda de Oliveira

Antonio Pinto de Macedo /


Terreno 20 braças José Leite de Magalhães * /
Cons. José Martins da Cruz Jobim *
Joaquim Manoel de Santa Rita /
Terreno 2 braças / 15 braças
José Francisco Dutra *
Thomaz José da Cunha /
Terreno 10 braças / 36 braças
Justino José Tavares *

Terreno 2 braças

Terreno 5 braças / 20 braças

Terreno 20 palmos / 15,5 braças

Terreno 4 braças / 15 braças

Terreno 7 braças

Terreno com casa


62 palmos / 300 palmos
Nº 31A

Terreno 11 braças / 15 braças

Terreno 3 braças / 30 braças


Terreno com frente p/ a rua do
Aterrado e fundos p/ a São 58 braças
Diogo
José Bento Alves /
Terreno 7,5 braças / 36 braças
Luiz Francisco Pacheco *
Eugênio Aprigio da Veiga /
Terreno 10 braças / 19 braças Francisca das Chagas Santos * /
Miguel José Tavares *
Joaquim de Almeida Pereira /
Terreno 4 braças / 30 braças
José Carneiro Dias Guimarães *
José Joaquim Simões /
Terreno 5 braças / 15 braças Bernardo Machado * /
Antonio D. Poços (metade) *

Terreno 4 braças / 29 braças

Terreno Nº 212 5 braças / 15 braças

Terreno 1,5 braças / 15 braças

Terrenos Nº 21B e 21C 5 braças / 15 braças

Terreno com casa


10 braças
Nº 76K

Terreno 20 palmos / 15,5 braças

Chácara com casa


140 braças
Nº 66K

Terreno 12 braças / 19 braças

Terreno 4 braças / 30 braças

Terreno entre os Nº 112 José de Oliveira Fernandes /


2 braças / 15 braças
e 114 Luiz José de Carvalho*
286

Dois terrenos e casa


12 braças / 40 braças
Nº 98
Terreno com casas
50 palmos / 152 palmos
Nº 118F e 120

Terreno 4 braças / 4 braças

Terreno com casa


38 palmos / 32 palmos
Nº 103

Antonio Paulino Limpo D'Abreo /


Terreno 8 braças
José Joaquim Ferreira *
João Bonifácio Alves da Silva /
Terreno 10 braças / 59 braças
José Joaquim Ferreira *
Terreno com casinhas 55,5 palmos / 142
Nº 122 palmos
Terreno c/ casa Nº 120A 44,5 palmos / 44 palmos

Terreno com casa térrea


Nº 118E

Terreno com casa térrea


Nº 31

Terreno com casas


térreas
Nº 118D

Terreno com casas térreas Nº


118A / 118B / 118D

Terreno com casas térreas Nº


118G / 118H

Terreno 2,5 braças

Terreno com prédio 10 braças / 30 braças

Terreno c/ casa Nº 29 5 braças

Terreno 3 braças / 15 braças

Terreno Nº 106 2 braças / 15 braças

Terreno 15 braças

Terreno 2 braças

Terreno 2 braças

Terreno 3 braças

Terreno Nº 3 23,5 palmos / 39 palmos


287

Terreno 30 palmos / 30 braças

Duas casas térreas


4 braças / 53 braças
Nº 76D / 76R

Terreno 4,5 braças

Terreno 4 braças / 29 braças

Terreno 25 palmos / 150 palmos

Posse e domínio últil de


3 braças
casa

Terreno 3 braças / 13 braças

Terreno 4 braças

Terreno 4 braças / 15 braças

Terreno 80 palmos / 177 palmos

Terreno 12 braças / 40 braças

Terrenos
13 m / 66 m
Nº 11 / 9 / 13 / 15 / 17

Terreno 12 braças

Terreno 3 braças / 4 braças

Casa Nº 126 9 braças

Terreno 4 braças / 15 braças

Terreno 3 braças / 15 braças

Terreno 3 braças / 30 braças

Terreno 3 braças / 15 braças

Terreno 9 braças

Terreno Nº 95 3 braças / 30 braças

Terreno 5 braças / 30 braças

Terreno 7,5 braças / 36 braças

Terreno 11,5 braças


Quatro moradas de
6 braças
casas Nº 51

Terreno Nº 122 44 palmos / 199 palmos

Terreno 2 braças / 15 braças

Terreno com prédios 21,5 palmos / 160


Nº 92 / 96 palmos
Terreno com casas
5 braças / 8 braças
térreas Nº 105A / 107
288

Terreno com casas 130 palmos / 148


Nº 126C / 128 palmos

Terreno 12 braças

Terreno Nº 35 10 braças / 30 braças

Terreno Nº 27 28 palmos / 173 palmos

Terreno 2 braças

Terreno 3 braças / 15 braças

12 braças / 20 braças
Dois terrenos
(cada um)

Cada Nº 92E

Terreno com casa Nº


2 braças / 15 braças
112

Prédio Nº 23

Prédio Nº 76C

Prédio Nº 92F

Terreno

Terreno com casa Nº 16 10 braças

Prédio Nº 16H

Terreno Nº 118

Terrenos Nº 84 / 84H 7,5 braças / 36 braças

Terreno 8,14 m / 33 m

Casa Nº 103B 3 braças

Terreno c/ nove casas


8 braças / 17,5 braças
térreas

Terreno Nº 81

Dois terrenos 2 braças / 3 braças

Terreno 18 braças / 31 braças

Casa Nº 65 6,6 m / 33,6 m


289

Rua de São Diogo

1870

1875
1860
Década de 50 Década de 60 Década de 70

Imóvel Dimensões Foreiros

Chácara de São Diogo

Terreno c/ casas atrás 267 palmos / 118


da Igreja de Santana palmos
Duas chácaras com 22
moradas de casas
Terras com frente p/ a rua do
Aterrado e fundos para a de S. José de Oliveira Fernandes
Diogo
Duas casas térreas 8 braças José de Oliveira Fernandes
Terreno c/cinco moradas
10 braças
de casas
Terreno 8 braças
Terreno 6 braças
Terreno 4 braças / 57,5 braças
Terreno 8 braças/ 19 braças
Terreno 6 braças / 57,5 braças

Terreno 8 braças / 57,5 braças

Terreno 3 braças Domingos Soares de Freitas Rita Joaquina de Oliveira


Terreno c/ moradas de Cons. José Martins da Cruz Jobim /
5 braças
casas Nº 120 Antonio José Ferreira Guimarães
Terreno 3 braças / 30 braças Joaquim Valério e irmãos

Duas casas térreas 8 braças

Casas Nº 1 / 2 29 braças / 50 braças

Morada de casas
Nº 14 / 16 após 1840 Nº 64 / 66
4 braças / 39 braças

Chácara com prédios Josefa Joaquina Rosa /


65,5 braças Felicidade Perpétua de Jesus Felicidade Perpétua de Jesus
Nº 60 / 64 Thiago José Ferreira Guimarães *
Antonio da Rocha Machado /
Casa Nº 61A 8 braças / 30 braças Carlos Valega Carlos Valega
Carlos Valega *

Terreno 3 braças / 15 braças

Terreno 22 braças

Terreno 10 braças / 19 braças

Terreno 20 braças

Terreno 33 braças / 15 braças

Terreno 9 braças

Terreno 6 braças / 37 braças

Terreno 3 braças / 15 braças

Terreno com duas José Teixeira da Motta e


José Teixeira da Motta e José Teixeira da Motta e
moradas de casas 6 braças / 30 braças Pedro Fortes M. Jobim (metade) /
José Joaquim da Silva (metade) Francisco Pereira Serpa (metade)
Nº 104 Fernando Pinto da Costa (metade) *
290

Joaquim de Oliveira e Souza /


Morada de casas Antonio de Oliveira e sua mulher
2 braças Polucena Roza * / Antonio Moreira Antonio Moreira dos Santos Costa
Nº 100 Maria Deolinda de Oliveira
dos Santos Costa *

Terreno 20 braças

Terreno 2 braças / 15 braças

Terreno 10 braças / 36 braças Justino José Tavares

José de Oliveira Fernandes /


Terreno 2 braças
Silvestre Pereira *
José de Oliveira Fernandes /
Terreno 5 braças / 20 braças
Leandro Mariz de Souza *
José de Oliveira Fernandes /
Terreno 20 palmos / 15,5 braças
José da Costa Nogueira *
José de Oliveira Fernandes /
Terreno 4 braças / 15 braças
Antonio Pinto Barbosa *
José de Oliveira Fernandes /
Terreno 7 braças
Antonio de Oliveira *
José de Oliveira Fernandes /
Terreno com casa
62 palmos / 300 palmos Bento Barros Silva * /
Nº 31A
João Baptista Coelho *
José de Oliveira Fernandes /
Terreno 11 braças / 15 braças Antonio José da Costa e Silva
Antonio José da Costa e Silva *
José de Oliveira Fernandes /
Terreno 3 braças / 30 braças
Francisco Texeira de Magalhães *
Terreno com frente p/ a rua do José de Oliveira Fernandes /
Aterrado e fundos p/ a São 58 braças
Diogo Barão de Mauá *

Terreno 7,5 braças / 36 braças

Terreno 10 braças / 19 braças

Terreno 4 braças / 30 braças

Terreno 5 braças / 15 braças

José Joaquim de Lima Mendonça /


Terreno 4 braças / 29 braças
Manoel Coelho Moreira *
João José da Lapa e José de Oliveira / Antonio José da Costa e Silva /
Terreno Nº 212 5 braças / 15 braças Joaquim Teixeira de Vasconcellos
Joaquim Teixeira de Vasconcellos * Antonio José da Costa e Nunes *
Ângelo José de Morais /
Terreno 1,5 braças / 15 braças
Domingos Marques de Oliveira *
Jacintho Martins da Costa (21B) / João Gonçalves Motta (21B e 21C) /
Terrenos Nº 21B e 21C 5 braças / 15 braças Anna Maria de Jesus (21B) * / Silvestre Pereira de Souza (21C) * /
Luis Gonçalves Motta (21B e 21C) * Bento José Barboza (21C) *
Silvana Rosa da Encarnação e
Terreno com casa
10 braças Adriana Maria de Santana /
Nº 76K
Felippe Francisco de Lima *
Euzebio Antonio do Socorro /
Terreno 20 palmos / 15,5 braças
Joaquim José de Oliveira Barbosa *
Antonio Fernandes Pereira Vianna /
Chácara com casa
140 braças Eduardo Price * / Companhia da
Nº 66K
Estrada de Ferro D.Pedro II *
Capitão Hilário Mariano da Silva /
Terreno 12 braças / 19 braças
Oliveira Viellard *
Antonio José Soares de Castro /
Terreno 4 braças / 30 braças
Dr. Pedro Fortes Marcondes Jobim *
Terreno entre os Nº 112
2 braças / 15 braças Luiz José de Carvalho Luiza Maria da Conceição
e 114
291

Dois terrenos e casa Joaquim Antonio Pereira Borges /


12 braças / 40 braças Antonio de Oliveira Fernandes
Nº 98 José Martins Pereira *
Terreno com casas Pedro Bonifácio Gomes Ferreira /
50 palmos / 152 palmos Francisco Domingues dos Santos
Nº 118F e 120 Antonio José Rodrigues Braga *
José da Costa e Oliveira /
Terreno 4 braças / 4 braças
Carolina de Souza Costa *
José Ignacio de Souza Albernaz /
Francisco Rabello * / Major Luiz
Terreno com casa
38 palmos / 32 palmos Francisco José Pinto Caminha José dos Santos Castro Francisco Henriques * / Antonio Pereira
Nº 103 de Sá Peixoto *
terreno c/4 casinhas

Terreno 8 braças

Terreno 10 braças / 59 braças

Terreno com casinhas 55,5 palmos / 142 José Antonio de Sá /


Nº 122 palmos Bellarmino de Sá Carvalho *
Terreno c/ casa Nº 120A 44,5 palmos / 44 palmos Joana Maria de Oliveira A. Negreiros Manoel Sarmento Bellarmino de Sá Carvalho

José Leite Magalhães / Antonio


Terreno com casa térrea Joaquim Gonçalves de Azevedo / Manoel de Menezes* /
Nº 118E Campos e Oliveira * Antonio Baptista Machado * /
José Manoel Rodrigues *
Francisco Domingues dos Santos
Terreno com casa térrea Joaquim Gonçalves de Azevedo / (4ª parte c/4 quartos) /
Nº 31 Campos e Oliveira * Agostinho Ribeiro Pinheiro
(4ª parte c/4 quartos) *

José Leite Magalhães / Antonio


Terreno com casas Manoel de Menezes* /
Joaquim Gonçalves de Azevedo /
térreas
Campos e Oliveira * Antonio Baptista Machado * /
Nº 118D
José Manoel Rodrigues *

Terreno com casas térreas Nº José Leite Magalhães /


118A / 118B / 118D Antonio Manoel de Menezes *
Manoel Pontes Câmara / Luiz Ferreira
Terreno com casas térreas Nº
Leite e Manoel Teixeira Reimão * /
118G / 118H
Antonio Baptista Machado *
Joaquim da Fonseca Vieira /
Terreno 2,5 braças
Antonio Affonso Vellado *
Eugênio Aprigio da Veiga /
Terreno com prédio 10 braças / 30 braças
Justiniano José da Rocha *
Manoel J.Garcez e Rosa C. do
Terreno c/ casa Nº 29 5 braças Rozario (pretos forros) /
Antonio Manoel de Menezes *
Manoel Francisco da Paixão /
Terreno 3 braças / 15 braças
Major José Joaquim da Silva *
José Francisco Dutra /
Terreno Nº 106 2 braças / 15 braças Roza Maria dos Prazeres * /
Januário José Baptista Bastos *
Cons. José Martins da Cruz Jobim /
Terreno 15 braças
Manoel de Pontes Câmara *
Cons. José Martins da Cruz Jobim /
Terreno 2 braças
Antonio José Ferreira Guimarães *
Joaquim Gonçalves de Azevedo /
Antonio Domingues de Oliveira* /
Terreno 2 braças Zebedeu Jacomo Tasso * /
Antonio José Pereira Guimarães e Silva
*
Francisco Ferreira Serpa /
Terreno 3 braças
Januário José Baptista Bastos *
Manoel Joaquim Tavares /
Terreno Nº 3 23,5 palmos / 39 palmos
Antonio Luis de Moura Guimarães *
292

Francisco Pedro Henrique /


Terreno 30 palmos / 30 braças
Francisco José Pinto *
Duas casas térreas Francisco Joaquim da Fonseca /
4 braças / 53 braças
Nº 76D / 76R Manoel Roiz Ventura *
Herdeiros de José Antonio de Sá /
Terreno 4,5 braças
Antonio Luis Martins Ribeiro *
Manoel Coelho Moreira /
Terreno 4 braças / 29 braças
José Joquim de Lima Mendonça *
João dos Santos Souza Machado /
Terreno 25 palmos / 150 palmos Jacintho Martins da Costa * /
Ana Maria de Jesus *
Posse e domínio últil de Joaquim Braz Ferreira da Silva /
3 braças
casa Christiano Benedicto Ottoni *
Paulo Manoel de Souza França /
Terreno 3 braças / 13 braças Antonio Moreira dos Santos Costa
Maria Rosa da Conceição *
Antonio Pinto de Macedo /
Terreno 4 braças
José Leite Magalhães *
Roza Francisca da Silva /
Terreno 4 braças / 15 braças
José Januário *

Terreno 80 palmos / 177 palmos Antonio de Oliveira Fernandes Manoel Machado Dutra

Manoel Francisco Pimentel (metade) e


Terreno 12 braças / 40 braças Antonio de Oliveira Fernandes Antonio José Teixeira Bessa (metade) /
Gregório Vidal (parte) *

Terrenos João Antonio Candoza e


13 m / 66 m Antonio de Oliveira Fernandes (nº11) Manoel Braz da Cunha (nº11)
Nº 11 / 9 / 13 / 15 / 17 Felippe Soares (nº11 / 9 / 13 / 15 / 17)
Capitão Hilário Mariano da Silva /
Terreno 12 braças
Antonio Gomes *
Terreno 3 braças / 4 braças Anacleto Teixeira de Queiroga Manoel Coelho Martins
Diretoria Estrada de Ferro D.Pedro II /
Casa Nº 126 9 braças
João Baptista Coelho *
Manoel Fernandes Magro /
Terreno 4 braças / 15 braças
José Xavier Ferreira *
Manoel Fernandes Magro /
Terreno 3 braças / 15 braças
Augusto Nunes de Souza *
Manoel Fernandes Magro /
Terreno 3 braças / 30 braças
Dr. Claudino José Viegas *
Manoel Fernandes Magro /
Terreno 3 braças / 15 braças
Rita Joaquina D'Olivier *
Francisco Pereira do Espírito Santo /
Terreno 9 braças
Joaquim Germano Seixas *
Thomaz José de Aquino /
Terreno Nº 95 3 braças / 30 braças José de Pinho * /
Joaquim Bandeira *
Joaquim da Fonseca /
Terreno 5 braças / 30 braças
Domingos Marques de Oliveira *
Luis Francisco Pacheco /
Terreno 7,5 braças / 36 braças América Brazilia Pacheco e José
Militão da Rocha *
Terreno 11,5 braças Antonio Luis Martins Claudino Caetano Magiolo
Quatro moradas de
6 braças José Leite Magalhães Domingos de Castro Peixoto
casas Nº 51
José Januário da Silva e Charles Gregg /
Terreno Nº 122 44 palmos / 199 palmos
Joaquim José de Oliveira Barbosa José Pereira Rodrigues *
Francisco Teixeira de Magalhães /
Terreno 2 braças / 15 braças
José Ferreira Campos *
Terreno com prédios 21,5 palmos / 160 Francisco Teixeira de Magalhães /
Nº 92 / 96 palmos Thomaz Duffles *
Terreno com casas Antonio Gomes /
5 braças / 8 braças
térreas Nº 105A / 107 José Gonçalves de Macedo *
293

Terreno com casas 130 palmos / 148 Manoel Machado Dutra /


Nº 126C / 128 palmos José Machado Ferreira *
Guilherme Gelbert Genty /
Terreno 12 braças
Cia RJ Gaz Company Limited *
Honorato Manoel de Lima /
Terreno Nº 35 10 braças / 30 braças
Manoel Machado Dutra Peres *
José Januário /
Terreno Nº 27 28 palmos / 173 palmos Ricardo José Soares Romeu * /
Narciso José de Bittencourt *
José Xavier Ferreira /
Terreno 2 braças
Francisco Teixeira de Magalhães *
Manoel Antonio Alves Mendes /
Maximiliano João José dos Santos *
Terreno 3 braças / 15 braças
/ Manoel de Oliveira e Silva * /
Luiz de Souza Macedo *
José Joaquim Ferreira de Lima e Silva /
12 braças / 20 braças
Dois terrenos Cia de Iluminação a gás (1 terreno) * /
(cada um) José Carlos Mayrinck (1 terreno) *
Rita Joaquina de Oliveira / Adolfo
Cada Nº 92E André Deauzo * /
Domingos Barboza de Magalhães *
Joaquim José de Oliveira /
Terreno com casa Nº
2 braças / 15 braças Charles Gregg * /
112
José Rodrigues Pereira *
Irmandade do Santíssimo Sacramento
Cândida Maria Barboza /
Prédio Nº 23 da freguesia de Santana / Antonio
Joaquim de Mattos Russo * Raymundo Bittencourt de Menezes *

Joaõ José Tavares /


Prédio Nº 76C
Manoel de Almeida *
Francisco Teixeira de Magalhães /
Prédio Nº 92F
Manoel Lopes de Menezes *
Ângelo José de Morais /
Terreno
Jacintho Telles Barboza *
Cons. Luiz Joaquim Duque Estrada
Terreno com casa Nº 16 10 braças F. de Mendonça /
Francisco Leocadio de Figueiredo *
Augusto Nunes de Souza /
Prédio Nº 16H
Cândido José Vieira *
José Januário /
Terreno Nº 118
Antonio Manoel de Menezes *
José Militão da Rocha /
Terrenos Nº 84 / 84H 7,5 braças / 36 braças
João Machado da Silveira *
Luiz Ferreira Leite /
Terreno 8,14 m / 33 m Antonio José Ferreira Guimarães
Antonio José Ferreira Guimarães *
Cândido Francisco Ferreira /
Casa Nº 103B 3 braças
João Francisco Franco *
Terreno c/ nove casas Manoel Machado Dutra Peres /
8 braças / 17,5 braças
térreas Leonardo Caetano de Araújo *
Agostinho Pinto de Miranda Teixeira /
Terreno Nº 81
José Alves de Oliveira Prata *

Joaquim Francisco dos Santos


Devesa / Joaquim Teixeira (1
Dois terrenos 2 braças / 3 braças terreno) e Antonio de Souza Moreira
(1 terreno) *
Dr. Claudino José Viegas /
Terreno 18 braças / 31 braças
Manoel Braz da Cunha *
Antonio José da Costa e Silva /
Casa Nº 65 6,6 m / 33,6 m Antonio José da Costa e Nunes * /
Fortunata Rosa de Figueiredo *

Fontes das Tabelas-Aforamentos : Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos


(ver referências bibliográficas).
294

ANEXO E - MAPAS
Arruamentos

Início do séc. XIX Segunda década do séc. XIX

Década de 30 do séc. XIX Década de 50 do séc. XIX

Década de 60 do séc. XIX Década de 70 do séc. XIX


295

Conjecturas da estrutura fundiária

Década de 10 do séc. XIX Década de 20 do séc. XIX

Década de 30 do séc. XIX Década de 40 do séc. XIX

Década de 50 do séc. XIX Década de 60 do séc. XIX

Década de 70 do séc. XIX


296

Freguesias do Rio de Janeiro na segunda metade dos oitocentos

Freguesia de Santana

REFERÊNCIAS - MAPAS

Base cartográfica - Mapas Arruamentos: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In:
CUNHA (1971).

Fonte - Mapas Conjecturas da estrutura fundiária: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver
referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP).
Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de Janeiro entre 1870 e
1930. Relatório final encaminhado em 2005.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Biblioteca Nacional, 1866.

Fonte - Mapa Freguesias do Rio de Janeiro na segunda metade dos oitocentos: LOBO, Eulália Maria Lahmeyer.
História Rio de Janeiro (do capital comercial ao capital industrial e financeiro). Rio de Janeiro: IBMEC, 1978.

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