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Rio de Janeiro
2007
FERNANDA MOUSSE PINTO
Aprovado em:
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CDD: 711.4098153
AGRADECIMENTOS
À Fania Fridman pelo incentivo e pela orientação tão cautelosa e dedicada. Pelos
momentos de aprendizado e trocas de idéias relativas à temática do trabalho.
À Alline Torres e Marília Borges pela força e amizade, e pelas sugestões para o
enriquecimento dessa dissertação.
Aos meus colegas da turma 2005 do mestrado do IPPUR, solidários e amigos desde o
início.
À minha irmã Simone pelas revisões atentas de todos os meus textos, e pelo incentivo
à realização do mestrado.
Aos meus queridos pais João e Lena pelo apoio constante e pela força nos momentos
difíceis deste percurso. Pela pronta contribuição na minha pesquisa de campo e pela paciência
durante as leituras dos meus textos. Pelo eterno amor e carinho a que sempre dedicaram a
mim.
The Cidade Nova of Rio de Janeiro invention: agents,characters and plans represents
a thought concerning the origin and the processes that had contributed to consolidation of a
new urban structure based on an expansion movement to the west of the carioca capital,
during part of 19th century. The research includes the transition of the colonial period to the
brazilian imperial government, spreading through Second-Reign up to 1875. The objective is
to demonstrate, theoretic and empirically, through the analysis of the agrarian structures, in
which context Cidade Nova was idealized and delineated and which are the relations between
the modeller agents of its space and the characters envolved in the construction process of
marks and power symbols and of its own identity.
It’s important to say that during the first years 19th century, the implementation of an
urban politic directed by the portuguese government in Brazil was decisive to the creation of
Cidade Nova, in contraposition to the colonial center known as old city. It had begun the
search of the transformation of the habits, customs and urban standards of Rio de Janeiro to
european ways. Combined to this politic, the French Artistic Mission conceptions appeared as
a new urban order, an Imperial Urbanism accomplished by dom Pedro I, of 20th decade,
standing out the Campo de Santana centralism and interlocution functions with the new
expansion areas.
From 1850, the political, social and economic changes of the capital reflected on its
urban space and had significantly transformed the agrarian situation of Cidade Nova. The
Imperial Urbanism gave place to the public health concerns, sanitary and infrastructural
problems, as well as the habitational question. At that time, the displacement of the
aristocracy to zones endowed with better infrastructure had impulse and the area had being
occupied by less supplied strata of society. Appeared a new agrarian dynamics marked by the
growth of popular and unhealthy housings, that had become the target of the governmental
actions from the last decades of 19th century.
Therefore, the work wants to contribute to the understanding of the elements that had
directed the Cidade Nova`s construction as an aristocratic space and as the expression of the
imperial power, at the beginning of 19th century, and of those who acted directly and
indirectly to the transformation of its urban tissue, contributing for a fast decadence and
depreciation process inside the dynamic of Rio de Janeiro development from the 50th decade.
Key-words: agrarian structures / urban expansion / occupancy
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Lista de mapas
Mapa 03 – Ordens religiosas, irmandades e confrarias entre os séculos XVII e XVIII ...................... 48
Mapa 04 – Ordens religiosas, irmandades e confrarias entre os séculos XVIII e XIX ....................... 49
Mapa 07 – Os espaços públicos do Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX ..................... 76
Mapa 09 – Grandes propriedades no entorno do Campo de Santana durante o séc. XVIII ............... 88
Mapa 14 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 10 – séc. XIX ............. 122
Mapa 15 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 20 – séc. XIX ............. 125
Mapa 16 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 30 – séc. XIX ............ 128
Mapa 17 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 40 – séc. XIX ............ 133
Mapa 18 – As propriedades do antigo rossio no mangue da Cidade Nova – início do séc. XIX ..... 134
Mapa 19 – Propostas do Relatório de Beaurepaire Rohan para o Rio de Janeiro – 1843 ................. 142
Mapa 20 – Malha viária da Cidade Nova na década de 60 – século XIX ........................................ 152
Mapa 21 – Malha viária da Cidade Nova na década de 70 – século XIX ........................................ 153
Mapa 22 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 50 – séc. XIX ............ 167
Mapa 23 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 60 – séc. XIX ............ 173
Mapa 24 – Conjectura da estrutura fundiária da Cidade Nova na década de 70 – séc. XIX ............ 179
Mapa 25 – Tipos habitacionais da Cidade Nova na década de 70 – séc. XIX .................................. 185
Mapa 26 – Diferentes usos na Cidade Nova na década de 70 – séc. XIX ......................................... 186
Mapa 27 – Esquema da Comissão de Melhoramentos para a Cidade Nova e áreas adjacentes ........ 197
Mapa 28 – Propostas da Comissão de Melhoramentos para o Rio de Janeiro – 1875 ...................... 197
Lista de esquemas
Esquema 01 – Edificações representativas no entorno do Campo de Santana – século XIX .......... 112
Esquema 03 – Localização da Chácara da Lagoa da Sentinela no início do século XIX ................. 119
Lista de gráficos
Gráfico 05 – População distribuída pelas freguesias urbanas – Arrolamento de 1838 .................... 155
Gráfico 06 – População distribuída pelas freguesias urbanas – Arrolamento de 1849 .................... 156
Gráfico 07 – População distribuída pelas freguesias urbanas – Arrolamento de 1856 .................... 156
Gráfico 08 – Quantidade de cortiços nas freguesias urbanas – década de 70 do século XIX .......... 161
Figura 03 – Solar do barão de Cotegipe, no Flamengo – Rio de Janeiro. Final do século XIX ........ 71
Figura 08 – Arena no Campo de Santana: comemoração do casamento de dom Pedro – 1818 ....... 110
Figura 09 – Aclamação de dom Pedro I: Campo de Santana – 1822 ................................................ 110
Figura 10 – Quartel no Campo de Santana. Segunda metade do século XIX .................................. 111
Figura 12 – O Campo de Santana e o desenvolvimento da Cidade Nova a sua esquerda – 1840 ... 136
Figura 13 – Carro parisiense da segunda metade do séc. XIX. Modelo idêntico foi usado no RJ ... 148
Figura 14 – Inauguração da Estrada de Ferro Dom Pedro II com a presença do imperador–1858 .. 150
Figura 16 – Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II – meados do século XIX .............. 180
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14
3.1.2.1 As disputas pelas terras públicas e a imposição do patrimônio dos jesuítas ........ 83
INTRODUÇÃO
Nesse contexto, a Cidade Nova, a partir de uma nova lógica de ocupação do espaço,
representou parte de um laboratório das experiências urbanísticas francesas refletidas na
capital dos trópicos, cujo ápice do poder político-administrativo era o Campo de Santana,
marco da expansão para o oeste da cidade. Naquele período, durante a década de 20, o Rio de
16
Vale frisar que, em 1843, após a difusão dos ideais trazidos pelos artistas da Missão
Francesa e a influência do Urbanismo Imperial, teve relevância a divulgação do relatório
elaborado pelo diretor de obras municipais, Henrique de Beaurepaire Rohan, considerado por
alguns estudiosos, como um singular exemplo de planificação de obras urbanas. Destinado a
orientar um conjunto de intervenções urbanísticas no Rio de Janeiro, cujos principais
objetivos eram a salubridade pública e o aformoseamento da cidade, essa proposta resgatava à
problemática dos alagadiços da Cidade Nova e impactava na estruturação da própria área.
A partir de meados do século XIX, a capital imperial passou por profundas mudanças - a
abolição do tráfico negreiro, em 1850; a implementação da Lei de Terras, em 1854; a
consolidação política do império; a expansão demográfica; o desenvolvimento dos transportes
e a sua inserção no sistema capitalista mundial - que tiveram ressonância nos seus espaços
urbanos e transformaram definitivamente a situação fundiária da Cidade Nova. Os problemas
sanitários e de infra-estrutura, bem como a questão habitacional, trouxeram à luz uma nova
maneira de organização e planejamento, baseada na Polícia Médica – orientada pela Medicina
Social. A proposta do Urbanismo Imperial dava lugar à engenharia sanitária, ou melhor, a um
urbano voltado para a saúde pública. A Cidade Nova deixava de ser o lugar da nobreza
imperial e abria espaço para as camadas mais pobres da sociedade carioca – escravos libertos,
escravos de ganho, pequenos comerciantes, assalariados e imigrantes.
pertinente à consolidação da malha urbana desse espaço localizado nos arredores do Rio de
Janeiro. Propõe-se um retorno às bases do sistema de distribuição de terras no Brasil para a
compreensão da constituição do cenário urbano, especialmente o Rio de Janeiro. As principais
referências teóricas construíram-se em torno dos autores Costa Porto, Murillo Marx e Fania
Fridman. O primeiro dedica-se aos estudos acerca do sistema sesmarial, a base fundiária no
Brasil, diretamente transplantada de Portugal e estruturada na tradição das Ordenações do
Reino. Suas análises constituem o ponto de partida para as questões trazidas por Murillo
Marx, relativas à formação do patrimônio religioso, considerado a origem dos núcleos de
povoamento e ocupação do território nacional; e do patrimônio público, com as discussões
sobre a transmissão e o domínio de terras nas cidades. O trabalho de Fania Fridman permite a
compreensão da dinâmica do sistema de terras no espaço do Rio de Janeiro e como os
proprietários determinaram a forma e o uso do solo em questão.
O segundo capítulo, cuja importância reside na origem do significado das terras de
mangue da Cidade Nova - como lugar de uso comum, destinado à expansão da capital -,
constitui-se num desdobramento do primeiro, no que tange aos espaços públicos e suas
relações com o espaço privado das cidades. Nesse ponto, para o entendimento do processo de
privatização das terras públicas para além do Campo de Santana torna-se fundamental
perceber como se dava a relação entre o público e o privado no Rio de Janeiro. A partir da
formação dos núcleos de povoamento e da demarcação dos patrimônios públicos, propõe-se
um destaque das formas de organização daquilo que é considerado de uso comum, de todos,
dentro e fora dos limites urbanos. Como as áreas consideradas vazios urbanos e de expansão
das cidades, como os rossios, os terreiros, os adros, os largos, as praças e as ruas, foram ao
longo dos anos recebendo novas funções. Dentro desta perspectiva, são estudados os períodos
correspondentes aos séculos XVIII e XIX, no sentido de explorar as relações entre o público e
o privado sob a ótica das transformações políticas, econômicas e sociais. Como referenciais
teóricos são apropriados os conceitos de Gilberto Freyre, Nestor Goulart Reis Filho e Marco
Morel, bem como as contribuições portuguesas trazidas por Walter Rossa e Manuel Teixeira.
Estes dois estudiosos, ao analisarem a estruturação dos espaços urbanos em Portugal desde o
século XIII até o século XVI, trazem à tona toda a sua influência no território brasileiro, a
partir dos seiscentos. Freyre introduz a questão dos hábitos na cidade, da relação entre o
espaço público e o privado, representado pelas casas e pelos sobrados. As tipologias
habitacionais e os padrões urbanos - traçados das vias e de delimitação dos terrenos - estão
presentes na análise de Reis Filho. Morel apresenta um estudo sobre os espaços públicos na
cidade do Rio de Janeiro sob a ótica das transformações político-sociais, ou seja, como locais
18
Finalmente, antes da virada para a segunda metade dos oitocentos, período estudado no quarto
capítulo, tornou-se fundamental a abordagem acerca das propostas que deram origem a um
dos primeiros projetos urbanísticos para a cidade do Rio de Janeiro, o relatório do engenheiro
Beaurepaire Rohan, em que parecia explícita a preocupação com o crescimento da urbe e a
estruturação da Cidade Nova, em parte ainda considerada insalubre.
Para a elaboração desse capítulo, além da pesquisa dos dados empíricos, constituíram
referenciais teóricos Jaime Larry Bechimol, Maurício de Almeida Abreu, Afonso Carlos
Marques dos Santos e Rachel Sisson. Os dois primeiros apontam significativas questões
relacionadas ao panorama urbano e social da capital durante o século XIX. Afonso dos Santos
introduz uma abordagem histórica, identificando as influências européias que marcaram uma
nova ordem dos costumes, da arquitetura e do urbano na cidade do Rio, no momento de
transição do período colonial para o regime monárquico. Rachel Sisson reflete acerca da
temática que envolve a centralidade da cidade e a sua transferência do Largo do Carmo para a
o Campo de Santana.
O quarto capítulo aborda a Cidade Nova, a partir de 1850, num cenário marcado pela
emergência de novos elementos e de forças de renovação no âmbito do Rio de Janeiro
escravista. Naquela época, a área passava por profundas transformações, quer sejam por conta
da substituição dos ideais de um Urbanismo Imperial pelo olhar da saúde pública, em virtude
dos problemas sanitários ligados ao abastecimento de água e ao sistema de esgotamento da
cidade, quer sejam pelas influências da difusão do capitalismo mundial, com o crescimento
das manufaturas e o declínio da produção escravagista e da ampliação do sistema de
transportes e de infra-estrutura urbana. Estes últimos demonstrando uma clara diferenciação
sócio-espacial, contribuindo para a transformação da estrutura fundiária da Cidade Nova, que
se tornaria mais do que nunca reveladora do processo de consolidação da sua identidade no
final daquele século. Os novos arruamentos surgiram de forma a ratificar um modelo de
ocupação que cada vez mais privilegiava o parcelamento e o desmembramento de antigas
chácaras e sobrados, tornando a malha viária da Cidade Nova regular e mais complexa. Para a
compreensão daqueles que seriam os principais fatores de transformação da estrutura
fundiária e do perfil habitacional na área procurou-se refletir acerca da problemática ligada à
insalubridade urbana e das ações da Junta de Higiene, bem como das diversas propostas de
saúde pública lançadas na época. Ou seja, as condições higiênicas do centro e de seus
arredores e a demanda por novas moradias, em virtude do crescimento populacional das
últimas décadas dos oitocentos, funcionavam como elementos possíveis para a desvalorização
da estrutura fundiária da Cidade Nova e para o deslocamento das classes abastadas para a
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zona sul da cidade, pelo eixo que seguia pelo Catete, Glória e Botafogo; e pela zona norte, nas
imediações do Alto da Boa Vista. Restava à Cidade Nova um intenso movimento de
parcelamento dos terrenos e de subdivisão dos antigos sobrados para dar origem aos cortiços e
estalagens, locais de moradia de população de baixa renda que crescia de forma não
proporcional à oferta de moradias na cidade, gerando problemas como a coabitação nas
proximidades do antigo centro. Em 1875, novas propostas, ainda influenciadas pela questão
da salubridade, mas acima de tudo pela engenharia sanitária, foram lançadas pela Comissão
de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro com o intuito de embelezar e melhorar a
imagem da capital carioca e incluíram a região da Cidade Nova, naquela época considerada
um entrave para a modernização da urbe.
Além da pesquisa de dados empíricos, para a elaboração desse capítulo apresentam-se
como referências teóricas os textos de Eulália Maria Lahmeyer Lobo, Jaime Larry Bechimol,
Maurício de Almeida Abreu e Verena Andreatta. A análise, de Eulália Lobo, da evolução
econômica e social da cidade do Rio de Janeiro, por meio de dados de variadas e pouco
exploradas fontes, constituiu importante referencial para o entendimento acerca da conjuntura
dos oitocentos. Jaime Benchimol e Mauricio de Abreu destacam as questões ligadas à
implantação dos serviços urbanos e ao desenvolvimento dos meios de transporte como forma
de diferenciação sócio-espacial no período de transição do escravismo para a era capitalista,
dita moderna. O trabalho de Verena Andreatta introduz uma análise dos planos desenvolvidos
para o Rio de Janeiro durante o século XIX, inclusive do relatório de Beaurepaire Rohan, até
então pouco explorado, dispondo de mapas e esquemas inéditos.
A metodologia utilizada nesta dissertação tem como bases as análises de documentos
primários, manuscritos do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e processos da Corte de
Apellação presentes no Arquivo Nacional, bem como a leitura de fontes secundárias, de
bibliografia especializada e de desenhos, projetos e planos para a cidade; leis e decretos;
arrolamentos e estatísticas da época. Estas últimas, em relação à composição populacional, da
sua distribuição pelas freguesias urbanas - principalmente a de Santana, onde se encontrava a
Cidade Nova -, bem como as informações relativas às profissões, aos estabelecimentos
comerciais ou industriais, e até mesmo o número e os tipos de moradia, constituíram
significativas fontes de trabalho. Além disso, o criterioso levantamento dos aforamentos
realizados para algumas ruas da área e dos processos referentes às posses das antigas chácaras
foram essenciais para o mapeamento da situação fundiária da Cidade Nova e para o
entendimento da consolidação e construção das suas identidades urbana e social.
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CAPÍTULO 1
A QUESTÃO FUNDIÁRIA
A partir dessa análise, será possível compreender em que termos se deram a criação e
a expansão da Cidade Nova, inicialmente tida como rossio, além dos limites da capital
carioca. Indaga-se como esse lugar destinado ao uso comum e coletivo, a partir da cessão e
distribuição de terrenos a particulares, foi ao longo dos anos abrigando diferentes perfis
ocupacionais, até o fim do século XIX.
A base do sistema fundiário no Brasil era a sesmaria, ou seja, gleba ou grande parcela
de terra rural que daria origem aos latifúndios e aos engenhos. Para a compreensão da base
sesmarial e do seu funcionamento em território brasileiro, principalmente na cidade do Rio de
Janeiro no início do século XIX, torna-se necessária a leitura da legislação portuguesa
referente à distribuição de terras.
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comprimento das testadas, das suas frentes. Normalmente, o fundo da gleba não era
determinado, estipulando-se uma forma quadrangular constando de uma légua de frente e uma
de fundo, a légua em quadra.
3
Curiosa era a situação de cobrança do dízimo aos indígenas. “O dízimo destinava-se à propagação da fé, à sustentação do
culto, encarado como dever do fiel, a quem cabia trabalhar pelo alargamento do reino de Cristo na terra. Pagão, o selvagem
evidentemente não devia contribuir com o dízimo; mas que dizer do indígena convertido, batizado, integrado no rebanho da
Igreja? Claro que, na qualidade de cristão e produtor lhe restava aceitar a norma geral, submetendo-se, como os demais
cristãos, ao princípio uniforme” (Costa Porto, 1965, p.97).
25
A Ordem de Cristo recebia o dízimo referente à utilização das terras coloniais doadas
pelo monarca português, porém não poderia tomar para si mesma nenhuma gleba a partir do
sistema de sesmarias. Havia uma jurisdição espiritual, o padroado, muito bem lembrado por
Costa Porto (op.cit.). Considerado um dos aspectos mais peculiares das relações entre o
Estado lusitano e a igreja, o padroado era um privilégio oneroso concedido à nação
portuguesa em gratidão pelo que fizera a favor da religião e da fé. O autor afirma que uma das
provas do não pertencimento das terras brasileiras à Ordem, sendo apenas relevante sua
jurisdição espiritual, foi a maneira com que se realizou a distribuição das mesmas.
4
Em 17 de julho de 1822, pela Resolução nº 17, o príncipe regente dom Pedro, ao decidir um apelo que lhe foi dirigido por
Manoel José dos Reis, morador do Rio de Janeiro, que lhe rogava ser conservado na posse das terras em que vivia há mais de
20 anos com sua numerosa família de filhos e netos, não sendo ditas terras compreendidas na medição de alguma sesmaria,
mesmo contra o parecer do Procurador da Coroa e Fazenda, de que o meio competente era o interessado requerer as
mencionadas terras por sesmarias, determinou que o suplicante ficasse na posse das terras que tinha cultivado e, no mesmo
ato, suspendeu todas as sesmarias futuras do Brasil até a convocação da Assembléia Geral Constituinte (CUNHA JÚNIOR.
Disponível em: <http://www.jfse.gov.br/obras%20mag/artigoterrasdevdirley.html>. Acesso em: 06 jun. 2006).
28
5
O Código Civil Brasileiro (1917) conceitua o instituto do aforamento em seu artigo 678 da seguinte forma: Dá-se a
enfiteuse, aforamento ou emprazamento quando por ato entre vivos, ou de última vontade, o proprietário atribui a outrem o
domínio útil do imóvel, pagando a pessoa, e assim constitui-se enfiteuta do senhorio uma pensão ou foro anual, certo e
invariável. O foreiro compromete-se a edificar, tornar a terra produtiva e a responder por todos os encargos que recaiam sobre
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passível de substituição. Segundo Gonçalves (2004), o aforamento era o instituto jurídico pelo
qual o proprietário de terra passava a posse do imóvel para outra pessoa, então chamada de
foreiro, em troca do pagamento anual de uma taxa chamada foro. O proprietário atribuía a
outra pessoa o domínio útil do imóvel, em troca de uma renda ou pensão anual, certa e
invariável e de uma percentagem, o laudêmio6.
Nesse ponto, admite-se que o embrião para toda uma dinâmica do comércio das terras
brasileiras estivera presente desde o período colonial, mesmo que num sistema incipiente de
trocas de domínio útil. A partir do século XIX, influenciada pelas práticas capitalistas, as
terras passariam a ser incorporadas ao jogo econômico por meio das modificações nas
relações de propriedade.
a mesma. Pode usufruí-la do modo mais amplo e até transformá-la, desde que não deteriore a sua substância. Pode alugar,
arrendar, aforar e até vender, bastando informar ao senhorio.
6
O laudêmio era uma porcentagem traduzida sob a forma de imposto que o foreiro pagava ao senhorio direto quando havia
alienação do respectivo prédio por parte do enfiteuta.
7
Segundo Moraes Silva (1823), “arrabalde, s.m. Bairro que fica fora dos muros da cidade ou vila”. É uma área afastada do
núcleo consolidado, às margens do centro urbano.
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As câmaras tinham que lidar com uma série de problemas e conflitos de base fundiária
que refletiam uma acirrada disputa acerca dos limites de terrenos e dos domínios de porções
de terra nas cidades. O autor cita que, em virtude desses problemas e de uma série de
necessidades públicas, como exemplo, o vereador paulistano José Manoel da Luz propôs a
utilização de todos os terrenos contíguos ao centro para novas construções públicas e para
arruamentos, deixando-se o restante, dividido em menores parcelas, para os habitantes que ali
desejassem obter a posse de terrenos. Ratificava-se o parcelamento de terras anteriormente
livres, possivelmente oriundas dos antigos rossios, para a expansão urbana das grandes
cidades. Acredita-se que esse processo também ocorrera no Rio de Janeiro, quando foi
elaborada uma política de criação e urbanização da Cidade Nova, a partir de 1808, em direção
ao oeste, para a cessão e ocupação de parte dos terrenos por particulares e para o arruamento,
bem como para a formação de praças.
Segundo Morales de Los Rios Filho (1946), as posturas formuladas a partir de 1828,
durante todo o império, deveriam referir-se às questões relacionadas à urbanização
(alinhamento, limpeza, higiene, iluminação e descongestionamento dos logradouros públicos);
à construção de edifícios particulares; à construção de muralhas, estradas, pontes, aquedutos,
chafarizes e calçadas; aos aterros; às demolições de edifícios; ao esgotamento de pântanos e à
canalização de rios; às feiras; aos pesos e às medidas; ao silêncio; aos animais soltos nas vias
públicas e aos loucos e embriagados. Nesse sentido, pode-se perceber, pelo exemplo da
capital da Corte, que as cidades passaram a ser reguladas por condutas e normas relativas às
atividades e às relações que teciam o convívio social. Essas posturas não eram
necessariamente cumpridas, pois muitas eram burladas e acabavam exprimindo um jogo de
interesses e conflitos entre os habitantes da cidade e a própria municipalidade.
Em meados dos oitocentos, teve início uma mudança no sistema de terras que abalaria
decisivamente o cenário urbano e rural do país. Os conflitos entre as câmaras e as ordens
religiosas e o jogo de forças da sociedade quanto à utilização dos espaços urbanos induziram
mudanças no significado da terra em virtude do adensamento e da concentração humana nas
cidades. Segundo Murillo Marx (op.cit.), a estrutura fundiária começou a adquirir importância
e exigia mecanismos de controle e administração. Um novo ordenar geral do convívio entre a
população brasileira preparou o período para as mudanças em foco.
aplicadas a algum uso público e que não estavam sob os cuidados do poder público em todas
as suas instâncias (nacional, provincial ou municipal), apesar de serem integrantes do domínio
do Estado. Além disso, correspondiam àquelas que não pertenciam aos particulares, sejam
concedidas por sesmarias ou ocupadas por posse.
Durante o período colonial, o termo terra devoluta era empregado para designar aquela
cujo concessionário não cumpria as condições impostas para a sua utilização, provocando a
sua devolução para o Estado. Numa definição mais clara, devoluta é o particípio passado do
verbo devolver. Etimologicamente, significa a terra que, cedida na forma de sesmaria, e pelo
fato do sesmeiro não preencher as condições ou exigências legais, retornara ou fora devolvida
à Coroa. Vale frisar que, o significado desse termo ao longo dos anos foi adquirindo formas
diferentes de uso.
Outra questão relaciona-se à expressão uso público, que representa algo distinto
daquela referente a bens públicos. A primeira é utilizada na Lei de Terras, enquanto a segunda
é destacada no Código Civil (1916/1917), mais precisamente no artigo 66. Na Lei de Terras,
uso público corresponde àquilo que é de uso comum ou especial do povo e não se emprega o
termo bem público. No Código, os bens públicos são mais abrangentes e podem ser os de uso
comum do povo (praças, ruas, mares e rios), os de uso especial (edifícios e terrenos para
estabelecimentos federais, estaduais ou municipais) ou os chamados dominicais (constituintes
do patrimônio nacional como objeto de direito pessoal ou real de cada instância de poder).
O sentido presente na Lei de Terras indica que as terras devolutas poderiam ser
classificadas como aquelas não destinadas ao uso público. Analisando pela ótica do Código
Civil, elas fariam parte dos bens públicos e seriam classificadas como bens dominicais. Os
bens de uso comum do povo e de uso especial que constam no Código não englobariam o solo
devoluto.
Vale lembrar que, no momento da promulgação da Lei 601, segundo Costa Porto
(op.cit.), o solo brasileiro ou o território brasileiro estaria secionado em: aquele destinado ao
uso público, aquele em poder de particulares ou privados e aquele desocupado ou devoluto. O
primeiro era formado pelos chamados espaços públicos, livres ou comuns, de uso coletivo. O
segundo representava as terras concedidas a particulares que se tornavam sesmeiros legítimos
sob condições legais do regime de sesmarias; as terras não legitimadas em função do não
cumprimento das exigências legais para a formalização do sistema sesmarial; ou as terras
ocupadas por posse que não configuravam situação de legitimidade. O terceiro dizia respeito
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às terras não doadas e nem ocupadas ou cultivadas, consideradas terras devolutas, que
pertenciam diretamente ao Estado.
Um dos principais problemas do regime sesmarial que vigorou por todo o período
colonial até a sua extinção em 1822, foi o conflito de terras. O viajante francês Saint-Hilaire8
expõe em um de seus relatos a dinâmica fundiária durante o período em questão:
Os pobres, que não podem ter títulos, se estabelecem nos térreos que sabem não
terem dono. Plantam, constroem pequenas casas, criam galinhas, e quando menos
esperam, aparece-lhes um homem rico, com o título que recebeu na véspera,
expulsa-os e aproveita o fruto de seu trabalho (SAINT-HILAIRE, apud Costa Porto,
1965, p.176).
Nesse ponto, a Lei 601 procurou solucionar essa questão a partir da regularização de
todas as terras cultivadas ou com algum princípio de cultura que constituísse, de alguma
maneira, a morada habitual do posseiro. Seria necessária a demarcação e a medição dessas
terras, em função de um prazo previamente estabelecido. Caso o posseiro não cumprisse essas
determinações, não haveria legitimação da posse. O intuito era impedir a proliferação dos
conflitos fundiários ocasionados pela ocupação de terras a partir do sistema de posse ou de
irregularidades do sistema sesmarial. Para este último, a lei previa a revalidação das sesmarias
irregulares que não cumprissem as exigências do sistema. Portanto, instituía-se uma
revalidação das mesmas e uma legitimação de terras anteriormente ocupadas por posse. No
anexo, encontra-se o original da Lei de Terras.
8
“O francês Auguste Saint-Hilaire (1779-1853) foi um dos primeiros cientistas vindos da Europa a poderem percorrer
livremente territórios do Brasil Colônia. Isso foi possível graças à mudança da disposição da Corte portuguesa, instalada no
Rio de Janeiro desde 1808, e que resolveu abrir-se às nações amigas” (Disponível em:
<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2003/08/06/001.htm>. Acesso em: 08 out. 2006).
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Além das questões relacionadas às zonas rurais do país, o mercado de compra e venda
de terras, já na segunda metade do século XIX, forçou instantaneamente a elaboração e a
correção do traçado urbano por meio da definição do dimensionamento e do alinhamento dos
lotes. O curso das ruas e o contorno dos largos foram aos poucos se delineando sob a nova
lógica mercantilista urbana. A idéia de propriedade privada, até então inexistente, passou a
determinar a fisionomia e as características das aglomerações urbanas e das formas de
loteamento. Surgia a figura do particular, que negociava seu próprio lote em vistas da maneira
mais rentável possível, e não mais o poder público como fornecedor único de terras urbanas e
rurais.
Após uma avaliação geral das bases, dos agentes e dos instrumentos que influenciaram
o sistema de terras do Brasil, torna-se claro que as Ordenações do Reino, mesmo que
genéricas, acabaram por definir a situação fundiária, os patrimônios territoriais religiosos e
aqueles de domínio municipais ou públicos. As terras urbanas constituíam os lugares de
fixação dos povoamentos e aqueles destinados à expansão da cidade, afastados do centro
consolidado.
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9
Vale lembrar que, a partir da descoberta do Rio, em janeiro de 1531, foi desmembrado da capitania o termo ou terminus da
cidade, que seria de seis léguas para cada parte, cessando o poder e a jurisdição do donatário nesta área.
36
As terras que estiverem dentro do termo e limites da cidade de São Sebastião, que
são seis léguas para cada parte, que não forem dadas a pessoas que as aproveitem;
ou posto que o fossem dadas as não aproveitassem no tempo que são obrigados e por
esta via ou outra qualquer estiverem vagas, vós as podereis dar de sesmaria a quem
vo-las pedir...as quaes terras assim dareis livremente sem outro algum fôro ou
tributo, somente o dizimo à Ordem do Mestrado de N.S.J.C, com as condições e
37
obrigações do Foral dado às ditas terras e da minha Ord. do L.4 das Sesmarias...e
isto se entenderá não sendo as ditas terras dadas a outras pessoas, etc (IN
CARVALHO, 1893, p.12).
Apenas a partir da Ordem ou Carta Régia de 23 de fevereiro de 1713, cujo intuito era a
proibição da distribuição de sesmarias por governadores, dentro da cidade, por pertencerem
estas à Câmara, é que a Coroa manifestou sua insatisfação quanto à situação de desordem do
sistema fundiário no Rio de Janeiro. Dizia a Ordem:
Francisco de Tavora. Eu El-Rey vos envio muito saudar. Neste Reino se soube, que
a data de sesmaria que deu vosso antecessor Francisco de Castro Moraes, em tempo
de seu Governo, de uns chãos ao sargento-mor d’Engenheiros Manoel de Mello e
Castro, a que se não deferio por se não estender a sua jurisdicção a dar nessa Cidade
os ditos chãos, senão somente as terras devolutas nos sertões, e serem propriamente
as outras datas, situadas dentre dessa Cidade da Câmara, precedendo Provisão
Minha. E assim vos ordeno vos abstenhais de dar semelhantes datas: e para que
conste a todo o tempo d’esta Ordem a mandareis registrar em as partes onde tocar.
Escripta em Lisboa aos 23 de Fevereiro de 1713. Rey. Para o Governador Geral e
Capitão General do Rio de Janeiro. Ordem Régia de 23 de Fevereiro de 1713,
prohibindo aos Governadores o darem sesmarias dentro da Cidade, por ser da
Câmara todo o terreno em que ella está assente (IN HADDOCK LOBO, 1860, p.81).
38
Aos governadores restaria a cessão de terras somente nas áreas de sertão, afastadas do
centro urbano. Porém, conforme ressalta Carvalho (op.cit.), o governador Francisco Xavier da
Tavora (1713-1717) concedeu sesmarias de terras para a igreja de Santa Cruz dos Militares,
em 1716, comprovando-se o não cumprimento da ordem em questão. O autor ainda lembra
que essa Carta Régia apenas reconhecia na Câmara o poder de dar de sesmaria aquelas terras
compreendidas no termo da cidade, excluindo-se as que constituiriam o patrimônio público.
Nesse sentido, para a municipalidade restava a função de sesmeira ou de cessionária de terras
livres de tributos, somente sujeitas ao dízimo da Ordem de Cristo. Portanto, a Câmara deu
início a um intenso processo de arrendamento e aforamento de diferentes parcelas de chãos a
quaisquer particulares em troca de pensões consideradas pouco significativas para a sua
receita.
Quanto aos Jesuítas, desde o início procuraram reconhecer sua sesmaria primitiva
perante a Coroa, a partir da medição e demarcação de suas terras, que se estenderam para o
interior, para os lados da área em que hoje se localiza Campo Grande. Quanto ao limite entre
a sua sesmaria e a da Câmara, delimitaram as terras menos alagadiças fronteiriças ao mangue
de São Diogo, já que a municipalidade não havia ainda demarcado e legitimado seus limites.
Ressalte-se que a área da Cidade Nova, criada no século XIX, fazia parte tanto da
sesmaria da Câmara como, em menor escala, da sesmaria dos jesuítas. Vale lembrar que
foram feitas duas tentativas de medição da sesmaria primitiva da Câmara, não obtendo
sucesso a primeira, encontrando resistência dos padres da Companhia de Jesus, a quem
interessava o estado de desordem das cessões de terras, bem como a manutenção das regalias
oferecidas pela Coroa. Entre elas: a dispensa do dízimo sobre a utilização de suas terras e o
aproveitamento dos chãos doados por um período de dez anos (enquanto o permitido era de
apenas três anos) sem o risco de perdê-los.
A segunda medição das terras da Câmara teria início apenas em outubro de 1735,
sendo concluída em setembro de 1754. Nesse período, ela sofreria resistência não apenas da
Ordem dos Jesuítas, mas também dos chamados poderosos da terra, que obtiveram regalias
39
quanto à obtenção de chãos cedidos pelos governadores do Rio, dentro da área que pertencia à
municipalidade. Portanto, ao final de todo esse processo de delimitação das divisas entre o
patrimônio dos Jesuítas e aquele destinado à Câmara, o resultado foi o não-preenchimento de
todo o fundo da sesmaria primitiva limítrofe àquela dos religiosos. Estes últimos definiram e
ocuparam terras que inicialmente estavam presentes na sesmaria doada em 1565 para a
Câmara. Além disso, quanto à segunda doação, de 1567, considerada um acréscimo à primeira
parcela cedida, também a municipalidade encontrou dificuldades para a sua demarcação.
Até 1635, a Câmara, com o título de senhorio direto das terras de marinha, não havia
aforado nenhum destes terrenos, embora tenha surgido um grande número de pretendentes,
conforme afirmação de Haddock Lobo (op.cit). Naquela data, foi concedido o aforamento por
18 anos ao então alcaide-mor da cidade, Salvador de Sá, que passaria a ter o domínio útil de
grande parte dessa faixa de terra. Esta decisão da Câmara suscitou embates quanto ao
privilégio do alcaide em relação às inúmeras propostas até então solicitadas. A solução para
esses conflitos foi a decisão de se construir a Fortaleza da Lage com recursos vindos
diretamente da venda desses chãos de marinha, já que o Estado não arcaria com as despesas
desta obra grandiosa. Portanto, em 1644, a Câmara em sessão solene resolveu realizar a venda
do domínio útil da marinha, por meio de hasta pública. Data da decisão a gênese do
aforamento dessa área da cidade, à exceção do trecho correspondente ao Convento do Carmo,
40
10
Ressalte-se que, estranhamente, Haddock Lobo (1860) lembra que, ao pesquisar em livros do Arquivo da Cidade, veio ao
seu conhecimento que esse era o único rossio da cidade e que correu o risco de desaparecer no ano de 1683, por conta da sua
repartição e do aforamento aos parentes dos oficiais da Câmara. Tal parcelamento foi impedido via Provisão Régia de 6 de
dezembro de 1686, suscitada pelos religiosos do Carmo, que declaravam tal realização como um afronte ao serviço público.
41
Base cartográfica: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 1868. In: FRIDMAN (1999).
Se até 1790 a Câmara, ou o Senado da Câmara, como passou a ser conhecido a partir
da Provisão Régia de 11 de março de 1757, detinha o controle do território carioca, a partir do
seu reconhecimento como senhorio pelos arrendatários e foreiros, um incidente abalaria estas
relações. O sobrado situado no Largo do Paço, em que funcionava o Senado da Câmara,
sofreu um incêndio de causas duvidosas, queimando-se parte da documentação relativa às
terras da cidade que se encontravam arquivadas. Segundo Haddock Lobo (op.cit.), opiniões da
época sugeriram que este episódio fora causado por foreiros da municipalidade que desejavam
42
libertar suas terras do domínio direto da Câmara. De qualquer forma, um dos principais
documentos relativos ao sistema fundiário foi salvo: o livro do traslado da medição e tombo
das terras do Senado da Câmara.
Após o incidente, foram tomadas medidas com o intuito de controlar a arrecadação dos
foros e o patrimônio municipal, estipulando-se que os enfiteutas fossem até o Senado para a
apresentação dos seus títulos de aforamento para serem registrados novamente. Além disso,
algumas vereações foram lançadas no sentido de regular procedimentos quanto à posse das
terras. Como exemplo, tem-se a vereação de 14 de julho de 1792, que criou um livro de
contas correntes com todos os foreiros do Senado e a de 4 de junho de 1794, que solicitava o
arrolamento de todos os prédios, chácaras e terrenos por distrito. Haddock Lobo (op.cit.)
ainda afirma que, de 1790 até 1807, as vereações foram as grandes reguladoras do sistema de
aforamento de vários terrenos baldios ou devolutos.
A partir de 1808, com a chegada da família real, que permaneceria na cidade do Rio de
Janeiro até 1821, a atuação do Senado nas questões ligadas à terra seria reduzida para dar
margem, em termos de distribuição de recursos, a outras atividades. Dentre as poucas medidas
significativas da época, importante é lembrar o Alvará de 11 de abril de 1815, referente aos
bens próprios municipais, que somente autorizava o aforamento dos baldios quando estes se
mostravam desnecessários para a implementação de logradouros na cidade, sob a assistência
da Câmara. Nesse sentido, pela conveniência de mantê-los, não os podendo ceder sob a forma
de sesmaria, ratificava-se a função da Câmara de administração e conservação dos mesmos
em prol do uso de todos.
em contrato para o arrendamento das terras, o enfiteuta exigia a entrega do terreno mediante o
seu pagamento pelas benfeitorias nele aplicadas. Porém, não havia parâmetros para a medição
do real valor dessas benfeitorias, ocorrendo na maioria dos casos uma sub-valorização do
investimento aplicado pelo arrendatário. Os conflitos fundiários geralmente terminavam com
o ganho de causa dos foreiros, mediante a indenização do arrendatário com a quarta ou sexta
parte do que lhe era devido. Haddock Lobo (op.cit., p.61) afirma que desse processo surgiam
as “execuções intermináveis, os embargos, as apellações, e todo o cortejo de recursos do foro
que a nossa legislação facilita aos chicaneiros”. Nesse sentido, a prática usual nos terrenos da
municipalidade revelava-se um tanto perversa para aqueles que não detinham o título de
aforamento das terras, mas apenas o direito de arrendamento das mesmas.
Desse modo, segundo Carvalho (op.cit.), por este alvará ordenou-se que aqueles que
detivessem terrenos continuassem na sua posse e que se regulassem pensões no sentido da
manutenção, do rendimento e da utilidade que esses bens tivessem desde o início da posse. As
suas principais recomendações foram: a legitimação e validação de todos os aforamentos
feitos pelos oficiais da Câmara de terrenos desmembrados de suas primitivas sesmarias sob o
pagamento de foro e laudêmio; a legitimação e validação das subenfiteuses e arrendamentos,
ficando estes contratos reduzidos a aforamentos perpétuos; a possibilidade de os enfiteutas ou
arrendatários devolverem o domínio do terreno para a Câmara, caso não o quisessem mais,
sob a forma de aforamento perpétuo por conta do pagamento excessivo de pensões; a
possibilidade de os terrenos devolutos poderem ser, dali em diante, aforados por oficiais da
Câmara. Essas provisões buscaram amenizar os constantes conflitos de terras entre o Senado e
o povo, por conta do grande número de mandados judiciais com ordens de despejo nas quais
os foreiros do Senado obtinham contra os seus arrendatários.
Ainda nesta segunda década do século XIX, vale lembrar os terrenos de marinha
vizinhos ao Mangue da Cidade Nova, em que a Resolução de 13 de setembro de 1820,
publicada por edital em dezembro do mesmo ano, orientou as concessões gratuitas daqueles
terrenos com o intuito de incentivar a construção de armazéns e trapiches nas praias da
Gamboa e do Saco do Alferes. Modificava-se assim o Decreto de 21 de janeiro de 1809 (que
o lançado em julho de 1820 já havia suspendido), permitindo-se a ocupação dos terrenos
alagadiços. É preciso enfatizar que esses terrenos de marinha ficaram também sujeitos ao
Alvará de 10 de abril de 1821 por meio da execução das instruções de 14 de novembro de
1832.
44
Conclui-se que, a partir da análise dos inúmeros elementos que acabaram contribuindo
para a formação do patrimônio territorial da municipalidade, tornam-se claras as dificuldades
com que a Câmara ou, posteriormente, o Senado, teve para determinar se esse ou aquele
terreno situado nas terras de suas cessões e aquisições faziam parte de seu domínio, ou não
resguardava o caráter de alodial, livre de encargo ou de direitos senhoriais, em que estava
mantido.
Portanto, vale dizer que, dentre os principais detentores do domínio útil da cidade, já
em meados do século XVII, apareciam os religiosos, representados pelas ordens e confrarias,
que se localizavam próximas às paróquias, constituindo um núcleo de casas, sobrados e
pequenos prédios que muitas vezes geravam a renda disponível para essas entidades por meio
dos aluguéis. O mapa 02 indica a localização das propriedades religiosas no Rio de Janeiro,
entre os séculos XVII e o XVIII.
A partir do século XVIII, segundo Fridman (op.cit., p.13), “o uso do solo carioca
mostrou um jogo de forças que teve expressão jurídica e política”. Era o clero que impunha as
normas para a estruturação urbana, para a locação dos edifícios e das propriedades religiosas.
Além da interferência na distribuição espacial e social dos agentes e das construções, ele agia
incisivamente sobre a vida cotidiana dos habitantes. A autora afirma que havia um domínio
por parte dos religiosos sobre os referenciais diários dos cariocas.
O poder religioso era amparado pelas ordens religiosas e pelas confrarias que eram
representadas pelas irmandades (antigas corporações de ofício oriundas da Idade Média) e
pelas ordens terceiras. As ordens e confrarias controlavam e dominavam o território da
cidade. Havia uma distribuição dessas instituições deflagrando uma hierarquização de espaços
e funções. “[...] do ponto de vista simbólico, o lugar de fixação destas confrarias representava
poderio e, neste sentido, a valorização de uma área no período colonial dependia da existência
destes marcos ideológicos” (FRIDMAN, 1999, p.26).
As principais ordens religiosas eram as dos jesuítas (no morro do Castelo), dos
carmelitas (no terreiro que deu origem ao Largo do Carmo), dos beneditinos (no morro de São
Bento) e dos franciscanos (no morro de Santo Antônio). Maurício de Abreu (op.cit.) afirma
que as maiores sesmarias doadas no Rio de Janeiro, ou por particulares ou pela própria Coroa,
47
Para essa área de difícil acesso, em função das constantes inundações e do solo
alagadiço, por onde penetravam as águas do saco de São Diogo e onde se localizavam a lagoa
da Sentinela e o mangal de São Diogo, apenas tinha-se acesso por meio de pequenas
embarcações que aportavam em atracadouros localizados estrategicamente para o escoamento
da produção dos arrabaldes. Essa região passou a ser conhecida como Cidade Nova a partir da
chegada da Corte portuguesa e de dom João VI, em 1808, que a ela atribuiu um projeto de
ocupação, por meio do aterramento dos pântanos, do saneamento e do arruamento.
Essa parte da cidade, definida como um rossio desde os tempos coloniais, que
abrigava irmandades de negros, escravos e pobres, passaria a representar, a partir da
implantação de infra-estrutura direcionada pelo Estado português no Brasil, um novo e
significativo espaço urbano dentro dos limites do Rio de Janeiro. De rossio pantanoso essa
zona seria incorporada à cidade de forma privada, constituindo-se numa das principais
localidades representativas do governo português e, posteriormente, do império do Brasil.
Fonte: FRIDMAN, Fania. Donos do Rio em nome do Rei. Uma história fundiária da cidade do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Garamond, 1999.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por
Ordem de Sua Alteza Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. IN: CUNHA (1971).
49
Fonte: FRIDMAN, Fania. Donos do Rio em nome do Rei. Uma história fundiária da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor/Garamond, 1999.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real
o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. IN: CUNHA (1971).
50
CAPÍTULO 2
O PÚBLICO E O PRIVADO
2.1 APRESENTAÇÃO
O domínio direto da Coroa também incluía, nas áreas urbanas, os espaços públicos que
englobavam os chamados logradouros. Naquele momento, conforme os preceitos das
Ordenações do Reino, havia um processo de descentralização do poder do Estado português.
Esse território urbano já era regulado pelas câmaras municipais, que definiriam seus usos e
quem deveria ocupá-lo. Portanto, as câmaras detinham a jurisdição das cidades, que eram
formadas pelos seus termos e pelos rossios, em que os primeiros deveriam ter seis léguas até o
limite de outra cidade e poderiam ser divididos em datas aforadas a particulares e em espaços
públicos destinados aos logradouros. Os rossios faziam parte dos espaços públicos, porém
estavam situados nos arredores da área urbana, nos limites dos centros ocupados.
51
Dessa maneira, está proposto aqui um estudo do patrimônio público na cidade, sob a
ótica dos processos de configuração urbana a partir dos espaços privados e daqueles de uso
comum, os públicos, sejam os logradouros do termo ou dos arredores da cidade. Esta análise é
fundamental para o entendimento da questão fundiária e da ocupação da Cidade Nova,
correspondente ao vetor oeste de expansão urbana do Rio de Janeiro. Criada a partir da cessão
de datas (apropriação privada) e da implantação de infra-estrutura, essa área, considerada um
rossio, teve o seu desenvolvimento condicionado pela transferência do centro da cidade para o
Campo de Santana – tido como o limite entre o urbano e o rural até o princípio dos oitocentos.
Portanto, são abordadas, inicialmente, as questões relativas à origem e ao desenvolvimento
dos espaços públicos e suas funções, tomando-se como referencial para a conformação urbana
brasileira as cidades portuguesas. Em seguida, o corpo deste capítulo divide-se em duas
etapas: a primeira aborda, a partir do século XVIII, as características do privado e do público;
e a segunda, a partir do século XIX e do início do período imperial, as concepções desses
espaços na conjuntura de uma nação que surgia. O objetivo é compreender a dinâmica das
relações entre esse público e o privado, no momento de transição do período colonial para o
contexto de transformação das funções sociais, políticas e econômicas, a partir da chegada da
Corte portuguesa à capital da colônia, em 1808.
De início, propõe-se uma discussão acerca dos significados e das funções dos espaços
de uso comum no interior da cidade e nos seus arredores. Dessa forma, para o entendimento
de sua estruturação, vale resgatar as suas origens nas cidades portuguesas que influenciaram a
concepção do urbano em território brasileiro. Isto é, grande parte dos espaços urbanos no
período colonial brasileiro tem sua gênese no urbanismo português. “O Brasil constituiu, no
entanto, o território onde se verificaram alguns dos mais interessantes desenvolvimentos do
urbanismo português entre os séculos XVI e XVIII” (TEIXEIRA, 2001, p.10).
Contrapondo-se a essa concepção, Rossa (2006) afirma que a forma orgânica da malha
urbana não representava necessariamente uma influência direta do islamismo na matriz
urbana portuguesa. O autor ressalta que esses núcleos espelhavam-se na herança medieval do
norte da Espanha e nas cidades romanas. Um exemplo era a formação da chamada platea,
vocábulo latino que é a origem etimológica da palavra praça, e considerada um pátio ou
alargamento das ruas para a formação de pontos de encontro e convívio social no período
romano, que se mostraram presentes nos espaços medievais portugueses.
Teixeira (2001) observa para Portugal que, já nos finais do século XIII, as grandes
cidades apresentavam uma malha menos orgânica, com a formação de quarteirões
retangulares e alongados, buscando uma ortogonalidade. Os lotes eram estreitos e paralelos
uns aos outros, frontais às vias principais e com fundos para outras menos significativas,
ocupando toda a largura do quarteirão. Morfologicamente, surgia um traçado que se
aproximava da regularidade e uniformidade que, conforme o autor, denunciava uma espécie
de planejamento ou um conjunto de procedimentos práticos estabelecidos para futuras
cidades.
Vale lembrar que, ao falar de cidade medieval portuguesa, deve-se fazer referência às
chamadas bastides ou póvoas (em Portugal), cidades de colonização interna típicas do período
entre os séculos XIII e XIV, na Europa. Madeira (op.cit.) ressalta que, embora em Portugal
elas não tivessem obtido tanta expressão como na França, Alemanha ou Itália, no momento de
definição das fronteiras com Castela houve necessidade de povoamento e criação de cidades
novas, seguindo um processo semelhante ao verificado nas bastides.
A partir do século XVI, iniciou-se uma nova etapa no desenvolvimento dos traçados
urbanos portugueses e na estruturação dos seus espaços públicos. Já podia ser percebida a
influência do ideal renascentista que predominava por todas as partes da Europa ocidental,
dando início a um processo de modernização em resposta à antigüidade medieval. Surgiram
três linhas para a estruturação e intervenção na urbe: adoção de traçados retilíneos;
conformação da malha ortogonal e desenho de grandes praças fechadas e regulares. Os
espaços públicos começaram a assumir novas funções sociais associadas ao desenvolvimento
urbano e à modernização do Estado, passando a representar os lugares do poder institucional,
administrativo e civil.
[...] os rossios, terreiros ou largos junto às portas das cidades, por regra sempre
exteriores, [...], foram gradualmente reformados em praças onde freqüentemente se
construiu de novo a casa da Câmara, o quase inseparável açougue e se ergueu o
pelourinho. São espaços, equipamentos ou instituições velhos com novo significado,
atribuições e poder, símbolos de um Estado já bem enraizado (ROSSA, apud
MADEIRA, 2001, p.52).
55
O logradouro público, como o próprio nome indica, representa parte dos espaços livres
destinados ao uso comum. O sentido desse termo foi sendo modificado ao longo do tempo, de
forma a se adaptar às novas realidades urbanas que surgiam. Segundo Moraes Silva (1813 e
1858), o termo logradouro referia-se ao pascigo público de alguma vila ou lugar ou às terras
que se aplicavam às culturas secundárias nos engenhos, como roças, hortas, lenhas, pomares
etc. Ressalte-se que a palavra pascigo designava o local de pasto ou pastagem (FERREIRA,
1957), ou seja, áreas desprovidas de atividades urbanas e destinadas às rurais. Murillo Marx
(1999) o considera como o espaço que se lograva, que se fruía. Acredita que, nos seus
primórdios, designava a terra comunal, o rossio, o patrimônio público ou municipal; e, no
decorrer da história, com o crescimento dos núcleos urbanos e com a intensificação do
processo de urbanização, passou a representar as praças.
Conforme visto, o termo rossio deve-se enquadrar numa determinada situação espaço-
temporal em que, originalmente, surgiu nas cidades tipicamente muçulmanas e ao longo dos
anos, assumiu funções sociais e evoluiu para o que hoje são as praças e os largos. As praças
têm sua origem no vocábulo latino platea e, segundo Moraes Silva (1813), são o “lugar
público, descoberto, espaçoso, nas villas ou cidades, onde se fazem feiras, mercados, leilões,
onde se tratão coisas de commercio...” Interessante é notar que o termo platea significa rua
larga, pátio ou praça pública, podendo ser feita uma associação direta com o vocábulo platéia,
que se refere ao conjunto de pessoas que se reúnem num mesmo espaço público de um teatro,
cinema ou auditório. Nesse sentido, tem-se o emprego constante do termo público, como
56
adjetivo, como algo de todos, do povo. As plateas eram os lugares da platéia, do público, do
uso comum que, posteriormente, evoluíram para o que hoje se chama de praça. O significado
de largo como pequena praça pública apenas aparece na obra de 1858 de Moraes Silva. Os
rossios, em muitos casos, desenvolveram-se para espaços públicos urbanos (logradouros) e,
paralelamente, para um processo gradual de ocupação privada de suas terras. Em relação aos
outros logradouros ou espaços livres, destacavam-se pela localização nas imediações da
cidade. Segundo Carvalho (apud MADEIRA, 2001, p.44), “os rossios seriam amplos espaços
urbanos públicos que, vez ou outra, seriam confundidos com as praças ou com os terreiros”.
Na realidade, eram um baldio ou uma terra inculta próxima aos limites da cidade que, ao
longo dos anos, sofreram ocupações diversas que ocasionaram na sua incorporação à malha
urbana11.
11
“Rocio, Recio ou Ressio; posto que hoje dizemos o rocio, ou a praça, e por excellencia huma praça de Lisboa” (MORES
SILVA, 1813). “Ressio, s.m. V. Recio. Leão, ortogr. Cast. L. Ord. Afons. As terras de lavoiras som deitadas em ressios.
Ficão em baldios, e maninhos” (MORAES SILVA, 1831).
12
“Adro, s.m. Lugar aberto e talvez com taboleiro diante dos templos; n’alguns há cemeterios, e daqui vem dizer-se famil”
(MORAES SILVA, 1813).
57
principalmente às atividades de caráter político, social e econômico, conforme será visto mais
à frente.
Propõe-se aqui a análise do cenário econômico, político e social do século XVIII para
o estudo das concepções e influências que determinaram a conformação e a utilização dos
espaços da cidade, sejam eles públicos ou privados. Dessa maneira, será possível
compreender em que sentido ocorreram as transformações desses espaços no Rio de Janeiro, a
partir do aporte da Corte no início do século XIX.
A virada do século XVII para o século XVIII, marcada pela construção de vilas
planificadas no interior do Brasil, em termos físicos, representava um compromisso da
metrópole portuguesa com os preceitos do Absolutismo, num período de difusão dos ideais
iluministas por toda a Europa. Vale frisar que, o Iluminismo13 foi um movimento intelectual e
cultural que enfatizava a razão e a ciência, consideradas as fontes explicativas do universo,
contrapondo-se ao domínio e controle da igreja católica sobre as sociedades da época. Esse
desenvolvimento intelectual, que vinha ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a idéias
de liberdade política e econômica, defendidas pela burguesia européia, principalmente
francesa e inglesa. Pode-se dizer que o Iluminismo trouxe consigo grandes avanços que,
juntamente com a Revolução Industrial, abriram espaço para a mudança política determinada
pela Revolução Francesa, que se tornara uma espécie de paradigma do nascimento da
chamada modernidade política (MOREL, 2005). Nesse sentido, abriram-se as portas para o
crivo racionalista sobre a religião e para a valorização do poder civil e leigo, imbuídos de um
ideal liberal, que se disseminara por toda a Europa, inclusive em Portugal.
13
O nome se explica porque os filósofos da época acreditavam estar iluminando as mentes das pessoas. É, de certo modo, um
pensamento herdeiro da tradição do Renascimento e do Humanismo por defender a valorização do Homem e da Razão. Os
iluministas acreditavam que a Razão seria a explicação para todas as coisas no universo, e se contrapunham à fé. No Reino
Unido, figuras como John Locke, David Hume, Edward Gibbon ou Adam Smith dispunham da liberdade de expressão que
lhes permitiu desenvolver o seu pensamento sem o controle que a igreja católica exercia nas sociedades espanhola e
portuguesa dessa época.
58
14
Em Portugal, uma figura marcante do Iluminismo foi o Marquês de Pombal. Tendo sido embaixador em Londres durante
sete anos (1738-1745), o futuro primeiro-ministro de Portugal ali recolheu as referências que marcaram a sua orientação
como primeiro responsável político em Portugal.
59
Até o início do século XIX, o interior das casas da cidade ainda seria protegido contra
os excessos de luminosidade e de insolação direta, em função dos preconceitos morais e
sanitários da época e por conta da imposição do regime social dominante. O objetivo era a
reclusão da família para a garantia da defesa contra os males dos centros urbanos: os ladrões,
os raptores, entre outros. Da mesma maneira que as casas-grandes rurais15, tidas como
exemplo de castidade, a intenção era resguardar a moral e a saúde das mulheres e dos meninos
contra as correntes de ar, a chuva, os odores da rua, o barulho dos cães, os arruaceiros e os
15
Segundo Freyre (2003), a casa-grande traduzia-se numa construção doméstica, marcada por uma única estrutura social e
econômica: a do senhor e escravo; para a época, um modelo de habitação ideal para a guarda e o respeito dos valores de
família, para a proteção da mulher e dos filhos.
60
ciganos. A casa urbana representava o privado que procurava proteger-se dos males da rua,
que ainda não representava o lugar da vida pública e da sociabilidade na cidade. Era uma casa
térrea ou um sobrado que ocupava quase que integralmente a largura dos estreitos e profundos
terrenos. Essa tipologia habitacional assumia outra forma de segregação do privado entre as
diferentes camadas da sociedade: os escravos, os trabalhadores livres e as elites
administrativa, militar e religiosa. Ressalte-se a diferença entre essas duas tipologias em
função da existência ou não de piso: assoalhado no sobrado e de chão batido na casa térrea.
Segundo Reis Filho (op.cit.), habitar o primeiro significava riqueza, enquanto habitar o
segundo caracterizava pobreza. Portanto, nos sobrados, os andares térreos abrigavam os
escravos ou os animais, deixando-se os proprietários nos andares superiores.
Além dessas duas tipologias, havia as chácaras, marcando uma transição do tipo rural
de habitação nobre para o urbano. No seu interior, havia as melhores casas da cidade, arejadas
e cercadas por jardins. Situavam-se nos arredores do núcleo urbano e conseguiam reunir a
essa vantagem, as facilidades de abastecimento e dos serviços das residências rurais. As casas
urbanas sofriam com o problema de fornecimento de insumos e não dispunham de espaço
suficiente para o auto-abastecimento, com raros casos em que apareciam pomares e criações
de pequenos animais. Nesse ponto, as chácaras eram a solução preferida dos mais abastados,
já que se constituíam em unidades quase autônomas de produção, próximas às sedes
municipais. Já era notável a presença de comerciantes e senhores rurais, acostumados ao
convívio social estreito e permanente, procurando adquirir chácaras mais afastadas dos
centros consolidados, para constituí-las em residências permanentes. Essas propriedades
conciliariam a proximidade das oportunidades de negócios e das funções urbanas, com o
conforto e a qualificação social de se morar mais afastado do centro consolidado, em sítios
que muito se assemelhavam às condições de vida rurais.
Vaz (op.cit., p.145) lembra que, no início dos setecentos, “a cidade alcançava a rua da
Vala (atual Uruguaiana), junto a qual seria construída a muralha projetada por João Massé em
1713”. A partir desse limite iniciava-se o vasto Campo da Cidade, considerado,
anteriormente, como um rossio. Com o passar dos anos, essa área foi drenada, aterrada e
fracionada, dando origem aos campos de Nossa Senhora do Rosário, de São Domingos, da
Lampadosa e de Santana. Nesse local formaram-se, posteriormente, várias praças por meio de
um longo processo de parcelamento e ocupação das terras. Anos depois, foram aterradas as
lagoas de Santo Antônio, dando lugar ao Largo da Carioca; a lagoa do Boqueirão, dando lugar
ao Passeio Público; e as lagoas da Lampadosa e da Sentinela. Ressalte-se que algumas das
praças mais importantes do século XIX, como a da Constituição (antigo Largo do Rocio) e o
próprio Campo de Santana, devem a sua formação à existência dos campos e rossios como os
espaços livres para a coletividade e como locais destinados à expansão urbana.
Fonte: representação sobre Roscio, Francisco João, Planta da Cidade do Rio de Janeiro Capital dos Estado do Brazil e projeto com que
pode ser fortificada, 1769. Disponível em: <http://www.brazilbrazil.com/riomaps>. Acesso em: 24 jul. 2006.
Fonte: VAZ, Lilian Fessler. Notas sobre as praças do Rio de Janeiro no período colonial. In: COLÓQUIO
PORTUGAL-BRASIL, 2001, Lisboa. A praça na cidade portuguesa. Coordenação de Manuel C. Teixeira. Livros
Horizonte. 252 p. p. 139-156.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem
de Sua Alteza Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. IN: CUNHA (1971).
Segundo Maurício de Abreu (1997), naquele período não havia uma clara
hierarquização social na maioria dos espaços urbanos e a elite diferenciava-se pela aparência
de suas residências, pelas vestimentas e por suas normas de conduta. Pode-se arriscar que
havia um usufruto comum de espaços públicos, conforme salienta Pereira (1991), mas é
preciso considerar que não havia democracia na utilização dos mesmos. De certa forma, esse
processo seria mais visível, em meados do século XIX, apesar de já ser sentido, no período
colonial, esse distanciamento espacial entre as diferentes classes que compunham o cenário da
capital.
Um dos mais fortes indícios era a existência dos átrios ou adros, que se prolongavam
num espaço ao ar livre frontal às igrejas. O adro era o lugar de atração dos mais curiosos para
o interior da igreja e também o local de congregação das pessoas para as cerimônias, festas e
procissões religiosas. Porém, deve-se ressaltar a sua máxima função segregacionista, já que
64
representava uma barreira à entrada dos escravos, que eram proibidos de assistir às funções
litúrgicas. No Rio de Janeiro colonial, conforme visto, começaram a se espalhar pelos
arredores da cidade algumas capelas destinadas aos negros, mulatos, pobres e escravos, que
poderiam usufruir os adros como espaços públicos livres, e não como limites entre o profano
(pobre e sujo) e o religioso. As capelas de São Domingos, a de Nossa Senhora de Santana e a
de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Benedito foram aquelas que se
localizaram fora dos limites urbanos, no Campo da Cidade. Essas capelas e seus respectivos
adros eram vistos como os espaços destinados às camadas inferiores da população carioca,
afastadas do núcleo urbano central.
Além dos adros, o Passeio Público – criado no final dos setecentos - como espaço
livre, civilizado e polido também surgia como uma forma clara de segregação do patrimônio
público da cidade. Esse espaço, desde o início, assumiu a postura de recanto bucólico restrito
às classes mais abastadas. Era o local de participação na vida pública citadina e da
sociabilidade masculina numa época em que as mulheres e as crianças não ousariam romper
com os padrões de moralidade e sair do interior das moradias urbanas. Silva (2001) indica
esse lugar como o elemento fundamental da cidade policiada e de uma nova vida urbana
civilizada que surgiria no século XIX. Nesse ponto, há que se retornar ao questionamento da
função desse espaço público. Uma área cercada e restrita às elites polidas, proibindo-se o uso
dos outros habitantes da capital, não poderia enquadrar-se no conceito de espaço livre e de
uso comum. Que conceito de público seria esse?
16
As ruas eram os espaços de procissão, de festas religiosas e, paralelamente, de festas profanas como o entrudo que,
posteriormente, daria origem ao carnaval.
65
Dom João, ao decretar a Abertura dos Portos Brasileiros às Nações Amigas, deu início
à prática do livre-cambismo, incorporando o Brasil ao contexto da Revolução Industrial e ao
próprio sistema capitalista mundial. Segundo Lobo (1978), era o fim do pacto colonial que
assegurava o monopólio comercial e a política mercantilista portuguesa em território
brasileiro. Houve a expansão das trocas comerciais e a invasão de produtos estrangeiros,
principalmente ingleses, no mercado interno, gerando concorrência entre os numerosos
comerciantes estrangeiros que aqui chegavam e os reinóis já estabelecidos.
Freyre (op.cit.) lembra que até a chegada da Corte, o Brasil era influenciado pelo
primado de cultura trazido diretamente da Península Ibérica, com algumas exceções como as
investidas francesas no Rio e no Maranhão, as holandesas no Nordeste a as inglesas na região
Amazônica. Esse primado não era exclusivamente europeu, apresentava resquícios dos
mouros, árabes, israelitas e maometanos. A partir de 1808, com o intuito de modernizar e
erradicar os traços coloniais da cidade, os padrões de civilidade foram importados diretamente
da França e da Inglaterra. Foi o momento da re-europeização do Rio de Janeiro, que assumiria
o papel de capital portuguesa na América. A cidade e seus espaços abraçaram novos valores,
pautados numa possível ressonância do ideário europeu – da razão burguesa e contemporâneo
67
da Revolução Industrial -, trazido em 1816 pela Missão Artística Francesa. Sob a influência
desses europeus, foram introduzidas iniciativas de modernização promovidas pelo governo
português, a partir da idealização de amplos espaços saudáveis, belos e perfeitos, com
imponentes estruturas em estilo neoclássico representando a inserção das inscrições de poder
na trama da cidade.
ideais de nacionalismo e liberalismo. Nesse ponto, vale uma breve reflexão sobre essa
revolução que deflagrou movimentos de massa que colocaram em ebulição a organização
política do Brasil e as contradições presentes no seio da sociedade colonial. O resultado seria
a implementação da Constituição elaborada pelas Cortes convocadas em Lisboa, com o intuito
de conter as agitações políticas que corriam o vasto território brasileiro. Forças reacionárias
manifestaram-se no sentido da recolonização do país e do retorno ao monopólio comercial
português, enquanto que algumas camadas mais abastadas da sociedade vislumbravam
maiores vantagens e liberdades que viriam a reboque com a revolução. As camadas populares,
inicialmente, demonstraram seu apoio à Constituição, esperançosas quanto às possibilidades
de libertação econômica e social.
definidos e autônomos e utilizaram violência e força para tomar e assegurar o poder político,
no Brasil não houve mobilização de classes, dentro do sistema colonial escravagista, no
sentido de provocar revoluções que depusessem o monarca luso e transformassem o país
numa nação independente. Os conflitos sociais internos e as inúmeras contradições não foram
capazes de organizar grupos autônomos e dotados de consciência nacional que pudessem
derrubar o governo e constituir uma nação própria.
17
Muitos habitantes da cidade começaram a abandonar seus nomes de origem portuguesa ou até mesmo africana e adotaram
os de origem indígena; os sobrenomes como Maranhão, Porto Alegre e Brasileiro afloravam como formas de exaltação a uma
nova nação livre que despontava.
70
Quanto aos espaços privados, durante quase toda a primeira metade do século XIX, de
forma semelhante ao ocorrido nos setecentos, procurou-se proteger as casas da cidade contra
os excessos dos ventos e do sol, devido às condutas morais e aos problemas sanitários da
época. Elas eram o refúgio e o abrigo das famílias contra os perigos do ar insalubre e dos
ladrões e malfeitores. Enquanto essas casas e as chácaras representavam o privado, o
particular, alheio à movimentação da cidade, as ruas e praças tornavam-se pontos de ebulição,
encontros políticos e intensa circulação dos habitantes da capital. Os espaços públicos
assumiriam funções distintas àquelas do século anterior. Uma delas surgiu a partir da
influência francesa no cenário urbano e principalmente nas áreas de uso comum, com a
elaboração de espaços públicos destinados às festas e aos desfiles exibidos pela Corte. Para
tal, foram criados obeliscos e arcos do triunfo, caracterizando um rol de arquiteturas efêmeras
que ocupavam as praças principais e as ruas da cidade. Esse tipo de arquitetura-espetáculo
tinha o intuito de a Corte se fazer mostrar e afirmar sua superioridade e sua presença junto às
camadas mais populares da capital.
podem arcar com o ônus das grandes dificuldades de mobilidade da época” (PEREIRA, 1991,
p.197).
Cabe destacar as definições claras dos limites dos lotes que se tornaram necessárias a
partir da Lei de Terras, em 1850, demonstrando uma preocupação do proprietário com o seu
vizinho, principalmente se este representava o domínio público, os espaços comuns, os
logradouros públicos. Naquele período, teve ênfase o conflito entre o chão público e o
privado, até onde iriam os limites daquilo que se considerava bem comum da população da
cidade ou de propriedade particular. A terra virara uma mercadoria e instituíram-se os títulos
de propriedade, provocando-se a valorização e uma intensa disputa pelos terrenos da cidade.
praças, nos quarteirões e nas ruas de modo geral. Eram manifestações dotadas de conotação
política e ideológica que ultrapassavam a formalidade e a chamada ordem urbana. As ruas do
Rio de Janeiro eram lugar do conflito entre estas duas formas de manifestações ou de
sociabilidades.
As ruas da cidade Corte eram cena de poder, ponto essencial para a organização da
nacionalidade que se elaborava. Ruas ocupadas numa mesma época de diferentes
maneiras, revelando assim a pluralidade de tempos num mesmo tempo histórico e
apontando para transformações dos espaços públicos em suas dimensões políticas,
isto é, de relações e poder, como fatores importantes para a elaboração da história
das cidades que, afinal, são elementos-base na construção de uma nação (MOREL,
2005, p.166).
Dentro desse contexto, vale ressaltar que a cidade do Rio de Janeiro, durante o século
XIX, apresentava uma base urbana tradicionalmente ocupada por três camadas distintas: a
nobreza, o clero e o povo. As duas primeiras detinham o domínio das praças e dos largos,
expressando-se por meio de manifestações que permaneciam desde o Antigo Regime,
enquanto que o povo procurava apropriar-se de parte desses (em sua maioria nas praças) e de
outros bens públicos, como os quarteirões de comércio e as próprias ruas, dando origem a um
hibridismo de locais públicos, bastante significativo para o período, na capital do novo
Estado.
Quais seriam as dimensões políticas das diferentes ocupações desses espaços urbanos?
Morel (op.cit.) relaciona três praças de grande relevância para o período em estudo, com
distintos significados de ocupação. Nesse ponto, é possível perceber uma influência da
tradição urbana portuguesa, a multiplicidade de áreas públicas dentro de um mesmo núcleo.
Segundo Teixeira (op.cit.), era comum encontrarem-se praças com distintas funções nas
cidades lusas. Em espaços que geralmente tinham sua origem em terreiros, localizavam-se as
de mercado; nas áreas ou campos de atividades militares havia as praças de armas; as de
função política-administrativa formavam-se em virtude da concentração de edifícios
institucionais que abrigavam o poder municipal e as religiosas surgiam a partir da ocupação
dos adros das igrejas.
No Rio de Janeiro, a Praça do Carmo, hoje Praça XV, equivalia a uma grande área,
assemelhando-se à Praça Real nos padrões europeus. Sua forma quadrangular, voltada para o
mar, agregando prédios significativos da administração colonial (do exercício do poder),
igrejas e irmandades, além da atividade portuária, imprimiu a este lugar basicamente um
caráter de encontro entre o monarca e seus súditos, sem quaisquer outros tipos de
manifestações públicas ligadas, posteriormente, ao governo imperial brasileiro. Pode-se
afirmar que até o começo do século XIX este local desempenhava a função de núcleo central
75
18
Por conta da aclamação de dom Pedro I no Campo de Santana, este passou a se chamar Campo da Aclamação.
76
Fonte: VAZ, Lilian Fessler. Notas sobre as praças do Rio de Janeiro no período colonial. In: COLÓQUIO PORTUGAL-BRASIL, 2001,
Lisboa. A praça na cidade portuguesa. Coordenação de Manuel C. Teixeira. Livros Horizonte. 252 p. p. 139-156.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. IN: CUNHA (1971).
Em resumo, pode-se dizer que esses espaços públicos, ao longo dos anos,
apresentaram distintas funções e formas de apropriação e de usos. Porém, vale ressaltar que
quase todos eles, independentemente dos embates ou manifestações políticas, caracterizavam-
se pela concentração, agitação e atividade das camadas menos privilegiadas da sociedade.
Nessa cidade escravista, os logradouros sempre representaram o limite entre o privado das
casas urbanas e o público - as ruas, os largos e as praças - destinados a essas parcelas
inferiorizadas da população. Passando pelo Antigo Regime e pela modernidade política,
conforme os enquadra Morel, sempre foram o lugar de permanência dos negros e escravos,
77
Ressalte-se que essa constante presença dos pobres e negros nos ambientes públicos da
cidade representou, ao longo desse período estudado, uma mistura de interesses políticos,
sociais e ideológicos. Ou seja, desde o início dos setecentos até as primeiras décadas do
século XIX, as praças e as ruas eram vistas como os locais de circulação, trabalho e punição
dessas parcelas não privilegiadas na sociedade. Ao final do século XIX, a imagem do público
como um espaço denegrido e próprio para as atividades sujas da cidade começou a ser
desmontada para dar lugar a aparência desejada por uma elite burguesa que crescera
paralelamente à introdução do capitalismo no cenário brasileiro. Naquele momento, a
arquitetura da cidade, bem como as praças e ruas sofreriam os impactos das propostas e
concepções de melhoramentos e embelezamentos, que teriam seu ponto máximo na reforma
urbana proposta por Pereira Passos na virada para o século XX, cujo intuito era transformar a
capital da república e inserí-la no contexto da nova dinâmica política-econômica mundial.
78
CAPÍTULO 3
A partir das análises teóricas empreendidas nos capítulos anteriores, foi possível
construir uma linha estruturadora, baseada na questão fundiária, para o desenvolvimento da
temática que aborda a gênese e a consolidação da área correspondente à Cidade Nova do Rio
de Janeiro. O objetivo era discutir o processo de formação dos patrimônios privado e público
no Rio de Janeiro, com a finalidade de compreender a dinâmica de privatização das terras do
rossio - Campo da Cidade - localizado às margens do núcleo urbano consolidado.
Nesse sentido, propõe-se aqui uma reflexão acerca dos movimentos de construção e
expansão do Rio de Janeiro, principalmente em direção ao Mangue da Cidade Nova, pautada
nas discussões ligadas à formação e ao crescimento do traçado urbano carioca e à
problemática da terra.
O primeiro núcleo de povoamento do Rio de Janeiro surgiu em 1565, aos pés dos
morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Naquele lugar, de ”choças com feitio misto, aborígene e
oriental, choças de toscas ramas e palmas secas algum tanto selvagens” (GERSON, 1954,
p.8), Estácio de Sá e um grupo de colonizadores portugueses permaneceram com o intuito de
proteger o território conquistado das investidas francesas e da resistência dos índios tamoios19.
Passados dois anos, o assentamento no Cara de Cão, ou a chamada Vila Velha, foi
deixado pra trás, quando do deslocamento do núcleo da cidade para o morro do Castelo,
antigo São Januário, escolhido por Mem de Sá para abrigar os 120 portugueses que haviam
19
Nireu Cavalcanti (2004) afirma que a escolha do sítio para a implantação do primeiro núcleo de povoamento do Rio de
Janeiro deu-se em função das estratégias militares e de controle dos inimigos situados nas proximidades. Ou seja, a área nas
cercanias do morro Cara de Cão era próxima à entrada da Baía de Guanabara, apresentava boa visibilidade e as condições
favoráveis para a entrada e saída de embarcações.
79
[...] escolhi um sítio que parecia mais conveniente para edificar nele a cidade de São
Sebastião o qual o sítio era de um grande mato espesso cheio de muitas árvores e
grossas em que se levou assaz de trabalho em as cortar e a limpar o dito sítio o
edificar uma cidade grande cercada de trasto de 20 palmos de largo por outros tantos
de altura toda cercada de muro por cima com muitos baluartes e fortes cheios de
artilharia. E fiz a igreja dos padres de Jesus onde agora residem telhada e bem
concertada, e a sé de três naves também telhada e bem concertada, fiz a casa da
câmara sobradada e telhada e grande, a cadeia, as casas dos armazéns e para a
fazenda de sua alteza sobradadas e telhadas e com varandas, dei ordem e favor ajuda
com que fizessem outras muitas casas telhadas e sobradadas, tendo isto feito por se
rebelarem uns principais que estavam em uma fortalezas de muitas cercas dei sobre
eles e os desbaratei, e se mataram muitos o que foi causa de tornarem novamente a
pedir pazes, mandei vir muitos moradores muito gado para povoar a dita cidade o
qual se dá muito bem de que há já grande criação (Mem de Sá, in: Anais da
Biblioteca Nacional, vol. XXVII, p.136).
22
Paulo Santos (1981) afirma que dentre esses espaços públicos da cidade do Rio de Janeiro encontravam-se: o passeio
Público, o Largo da Carioca, o Largo do Capim, o Largo de São Domingos, o Largo de São Francisco de Paula e a Praça da
Lampadosa (atual Praça Tiradentes), bem como o Campo de Santana.
23
Vale lembrar que o traçado urbano do Rio de Janeiro, naquela época, chegava até os limites da rua da Vala (atual
Uruguaiana) e do Campo de Santana.
81
No início do século XIX, a malha urbana avançaria em direção à várzea e aos pântanos
próximos à lagoa da Sentinela24, rompendo os limites da rua da Vala e do Campo de Santana,
constituindo o chamado vetor oeste de expansão. Nesse espaço, entrecortado por rios e lagoas,
desembocava o Saco de São Diogo, que se comunicava com o litoral pela Bica dos
Marinheiros e que hoje corresponderia à área compreendida pelas margens do Canal do
Mangue – Estação da Leopoldina, Rodoviária Novo Rio, Companhia Docas e Gasômetro -,
pelo Trevo das Forças Armadas e pela Avenida Presidente Vargas até a Praça Onze.
Fonte: ENDER, Thomas. Antiga Ponte dos Marinheiros, apud ANDREATTA (2006).
entre essas duas localidades. O autor ainda afirma que desde o final do século XVIII várias
ruas já tinham sido abertas em São Diogo, sendo possível identificar algumas construções
próximas ao campo.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).
83
Vale refletir acerca das discussões relativas a este mercado de terras e dos novos
agentes que despontaram no Rio de Janeiro, com vistas a apropriarem-se de forma
desorganizada das parcelas de chãos, principalmente aquelas na direção dos arredores do
núcleo central, acelerando a dinâmica de usurpação e espoliação do patrimônio territorial
público no período em questão.
Numa primeira etapa, pôde-se perceber que, dentre as mais significativas porções de
terras doadas por Estácio de Sá para o povoamento da cidade do Rio de Janeiro, estavam a
sesmaria da Câmara, formada pelo rossio e o termo da cidade, e a dos jesuítas. Portanto,
“limítrofes e contíguas desde o início, essas duas sesmarias iriam esbarrar-se ao longo da
história, em função da própria condição de vizinhas lindeiras” (CAVALCANTI, op.cit., p.56).
Ou seja, a distribuição de sesmarias e datas nem sempre esteve ligada a regras e ordenações
propostas pela Metrópole, instituindo-se um processo arbitrário de doação de chãos quanto às
suas localizações. Dessa maneira, abriam-se brechas para inúmeras querelas relativas à
demarcação e aos limites das terras, tanto no termo da cidade, bem como no seu rossio,
principalmente nas áreas alagadiças, com limites pouco precisos e por vezes mutáveis. “Como
as terras eram abundantes, havia falta de rigor na sua divisão que, além de desordenada, não
levava em conta as imprecisões do terreno, o que ocasionava a sobreposição de umas às
outras” (FRIDMAN, 1999, p.255).
84
25
Foram exigidas as descrições e confrontações dos terrenos para que se instituíssem marcos e se eliminassem as dúvidas
quanto aos seus limites. Era o primeiro passo para que se procedessem a um levantamento e à organização dos bens públicos
na cidade.
85
Quanto ao patrimônio dos jesuítas no Rio de Janeiro, vale dizer que a sobreposição de
sua sesmaria àquela destinada à municipalidade ocorreu, como citado acima, por conta da
ausência de fiscalização da Câmara e do poder exercido pelas ordens religiosas, intimamente
imbricadas com o Estado português. Conforme salienta Fridman (op.cit.), os loyolistas
definiam, demarcavam e mediam seus terrenos, sempre em função das melhores condições de
sítio e facilidades de acesso. A ordem jesuítica defendia a preservação dos mangues de São
Diogo, que representavam uma verdadeira barreira natural na área de confluência com as
terras da Câmara, com o intuito de resguardar sua sesmaria contra invasões. Ressalte-se que o
interesse dos loyolistas estava em manter essa faixa de terra - que tinha início nas
proximidades da Bica dos Marinheiros (atual Praça da Bandeira) e se estendia em direção ao
oeste, para o interior do Rio de Janeiro - como o marco divisório entre o que se chamava de
patrimônio municipal e de patrimônio religioso. Cavalcanti (op.cit.) cita que esses religiosos
foram os primeiros a lutar em favor dos manguezais, sob o discurso de protegê-los para
garantir a manutenção das condições de reprodução de diversas espécies de crustáceos e
peixes. Tinham a preferência e o respaldo da Fazenda Real em virtude de seu rendoso negócio
de aluguel de casas na cidade, que proporcionava crescimento das arrecadações urbanas.
Apenas a partir da segunda metade do século XVIII, sob o comando do Marquês de Pombal e
de sua política anticlerical e de base centralizadora, o poder e a influência dos jesuítas foram
minando. Esses religiosos se viram obrigados a declarar seus bens territoriais e proibidos de
realizar transições imobiliárias sem autorização Real e, em 1759, com a sua expulsão de todos
os domínios lusos, parte de seus terrenos agrícolas e urbanos foram integrados ao patrimônio
do Estado e o restante foi vendido em leilão. Vale lembrar que, aqueles que arrendavam seus
terrenos ou alugavam seus prédios no núcleo urbano tornaram-se os detentores da posse
desses imóveis e, com a incorporação da sesmaria jesuítica às terras da Coroa, eliminavam-se
as barreiras à expansão da cidade para o interior, isto é, para além dos pântanos de São Diogo.
Portanto, a partir de meados do século XVIII, o Rio pôde dar início ao movimento de
espraiamento e ocupação dos terrenos no Campo da Cidade.
Cabe destacar que os conflitos gerados pelas disputas de terra que acabaram
instituindo um complexo esclarecimento das propriedades no Rio de Janeiro teriam
continuidade pelo século XIX, sendo alimentados pela promulgação da lei de 1834 e pela Lei
de Terras de 1850, já discutida no capítulo 01.
entre eles aqueles situados no Mangue da Cidade Nova. O Município passaria a contar com
uma nova fonte de recursos obtida com a cobrança sobre propriedades privadas, bem como
lhe caberia a responsabilidade sobre os terrenos públicos, facilitando a dinâmica das disputas
territoriais na cidade e nos arredores. Nesse contexto, é importante apontar, conforme salienta
Andreatta (2006), que a Câmara pouco se envolveu nesses processos relativos ao Mangue de
São Diogo, diferentemente do que ocorrera com o restante da cidade, indicando uma
intencionalidade na aceleração do povoamento e da ocupação daquelas terras. Instituiu-se um
verdadeiro laissez-faire na privatização do solo, que há tempos permanecera sob o domínio da
Coroa e, posteriormente, da municipalidade, considerado até o início dos oitocentos o rossio e
parte dos bens públicos da capital.
Em 1656, uma parte dessas terras, que confrontava com a Chácara de São Diogo,
pertencente a Diogo Dias e a Antônio Pereira Sarmento, em direção à Praia de São Cristóvão,
foi comprada pelo capitão Francisco Munhós Corrêa. Em 1661, Albernaz vendeu o
equivalente a uma chácara, situada atrás do Outeiro de Nossa Senhora da Conceição, para o
sapateiro Sebastião da Silva. No ano seguinte, foi comprada por Diogo Mendes da Cunha
outra parcela de terras (Chácara da Rocinha) para as bandas de São Cristóvão e para o mar.
26
Essas informações foram obtidas em REVISTA RENASCENÇA. S. Diogo. Rio de Janeiro: n.39, ano IV, 1907.
87
Havia ainda uma chácara localizada na área que posteriormente daria fundos para a
Igreja de Santana, delimitada pela rua do Saco do Alferes e pela de São Diogo. O seu terreno
era o mesmo que fora concedido pelo governador Salvador de Sá, por sesmaria, a Aleixo
Manoel em 1565, e que depois foi transmitido a Paulo Lourenço. Em 1796, a viúva de
Lourenço, Felicia Thereza, e seus filhos Anna Thereza, Joaquina e o padre Valentim José da
Cruz o venderam para Leandro dos Reis Carril e Francisco Xavier Telles29. No início do
século XIX, Antonio José de Siqueira comprou o terreno, que estivera incluído nos limites
daquela chácara, anteriormente, pertencente ao Patrimônio Régio30.
27
Essas informações sobre a Chácara de São Diogo foram obtidas no Arquivo Nacional, Corte de Apelação, Notação 87 -
Caixa 531 - Galeria C e Notação 2007 - Caixa 125 - Galeria C.
28
Antônio da Rocha Machado deixou seis filhos: Luiz da Rocha Machado, Joaquim da Rocha Machado, Polucena Luiza de
Britto, Anna dos Prazeres Britto, Francisca de Paula Britto e Caetana Benedicta de Britto.
29
Leandro dos Reis Carril e Francisco Xavier Telles moravam em Portugal e foram representados no Brasil pelo procurador
capitão-mor José da Motta Pereira. A respectiva escritura foi lavrada em 1796 pelo tabelião Faustino Soares de Araújo.
30
Informações obtidas no Arquivo Nacional, Corte de Apelação, Notação 1417 - Caixa 80 - Galeria C.
88
Fonte: CAVALCANTI, Nireu. O Rio de Janeiro setecentista. A vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da corte.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).
logradouros abertos na área da Cidade Nova – como a rua do Conde da Cunha -, na chácara
do sargento-mor Pedro Dias Paes Leme.
Até aquele período, o Rio contava com cerca de 115 chácaras em seu perímetro
urbano, e a cidade caracterizava-se pela horizontalidade. Ainda de acordo com Cavalcanti
(op.cit.), durante a primeira década do século XIX mais da metade dos terrenos apresentava
construções com apenas um pavimento, como casas térreas, chácaras e cocheiras. Estas
últimas imprimiam um ar de ruralidade à capital e, juntamente com as chácaras que cresciam
em direção ao interior, marcavam a transição do centro para um subúrbio ou arrabalde31.
Com a chegada da família real e do contingente populacional que com ela migrava,
ocorreu uma crescente demanda por habitação, agravando o problema de disponibilidade de
terrenos com dimensões apropriadas para a construção de prédios. Data daquela época o
incentivo ao parcelamento das glebas e chácaras ainda existentes na área central e a cessão de
grandes terrenos nas suas proximidades, no entorno do Campo de Santana.
Desse modo, procura-se aqui entender os aspectos que induziram esse espraiamento da
urbe para os pântanos localizados no antigo rossio, culminando na criação de uma Cidade
Nova no Rio de Janeiro.
31
Vale dizer que nos dicionários da língua portuguesa de Moraes Silva, publicados em edições de 1813, 1823, 1831 e 1858, o
termo arrabalde sugeria um bairro ou uma localidade que ficava fora dos muros da cidade.
90
abertura dos portos, houve um incremento acelerado das atividades comerciais no Rio de
Janeiro, ocasionando o deslocamento de grande número de proprietários rurais para o centro
urbano, atraídos pelo brilho da Corte e pelos hábitos e títulos ostentados pela fidalguia
portuguesa. O incremento populacional provocado pelas migrações e pela presença maciça da
nobreza32 trouxe à luz o problema habitacional e de infra-estrutura da cidade.
32
“Os membros da Corte que acompanhavam o Príncipe Regente faziam parte de uma nobreza decadente e estavam, aqui,
movidos por interesses pessoais. Procuravam o proveito da situação irregular em que se encontrava a Coroa, esperando, da
gratidão do Príncipe, benefícios e empregos. Acabaram por se atrelar à burocracia administrativa, acumulando cargos e
soldos, aos quais não faziam jus” (ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 200 anos da chegada da
família real ao Brasil. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/arquivo/familia_real >. Acesso em: 05 ago. 2006).
33
Essa lei, abolida apenas em 1818, instituía o despejo ou a desapropriação de residências para a acomodação da Corte
portuguesa que aqui chegava.
91
Com a chegada do governo português, as valas são cobertas, os rios começam a ser
retificados, os riachos têm o leito e os barrancos muito melhorados. A água das ruas
corre melhor em direção a tais canais. A limpeza pública é facilitada (MORALES
DE LOS RIOS FILHO, 1946, p.74).
34
Urbanizadora no sentido de fazer urbano e civilizar (MORAES SILVA, 1813).
35
“Ponte dos Marinheiros: construída em 1790, no tempo do Marquês de Lavradio, a ponte tinha esse nome porque nela os
marinheiros se abasteciam de água, desde que o porto começou a se deslocar da Praia de dom Manuel para o litoral da Saúde,
Gamboa e Valongo. Das proximidades da ponte (localizada onde hoje se encontra a Praça da Bandeira) partia um canal.
Aberto nos charcos, até a altura da Praça Onze de Junho. Pelo qual transitavam as canoas e faluas que traziam gêneros
alimentícios para a cidade” (BENCHIMOL, 1990, p.25).
92
do Campo de Santana até a Praia de São Cristóvão, por meio do prolongamento da rua de São
Pedro, dissecando-se parte do pântano que, segundo Santos (1943, p.183), tornara-se “extenso
foco de infecção, de mosquitos e exalações desagradáveis”. Foram aterrados também os
terrenos no caminho em direção à rua do Conde, na lagoa da Sentinela, até a Praia Formosa36
e o Saco do Alferes37. Ampliou-se o número de pontes, muitas em alvenaria e outras em
pedra, entre elas: as três localizadas na estrada de Mata-porcos (atual Largo do Estácio), a
ponte da Segunda-Feira, a do Bastos e os Pontilhões do mangue da Cidade Nova e do
Catumbi.
36
“A Praia Formosa começava no fim da praia do Saco do Alferes, no lugar conhecido como Ponta do Boticário, e terminava
na Ponte dos Marinheiros, no mangue da Cidade Nova, na freguesia de Santana” (MORALES DE LOS RIOS FILHO, 1946,
p.201).
37
“Os antigos manguezais próximos ao centro urbano, isto é, na Cidade Nova, começavam na antiga rua de Santa Rosa,
sendo limitados ao norte pelos morros da Providência e de São Diogo e ao sul pelas ruas do Conde e do Bom Jardim. Daí os
limites estavam assinalados pelas ruas do Aterro, Nova de São Leopoldo e do Sabão da Cidade Nova” (MORALES DE LOS
RIOS FILHO, 1946, p.31).
93
Ressalte-se que, antes mesmo da criação da Cidade Nova, a área próxima ao Campo
de Santana, em direção ao mangue, já apresentava uma incipiente malha viária, como a rua do
Conde da Cunha, das Flores, do Areal, Formosa e a estrada de Mata-porcos. Ao iniciar-se o
processo de construção e a intensificação da ocupação da Cidade Nova, outras foram abertas e
promoveu-se o saneamento das já existentes.
Sob o ponto de vista urbanístico, Morales de Los Rios Filho (1946, p.20) afirma que
“a cidade ia sendo gradativamente saneada e melhorada”. Em 1812, a Chácara dos Coqueiros,
no atual bairro do Catumbi, foi retalhada, dando origem às ruas da região. Em 1815, por
ordem do príncipe regente e do vice-rei conde de Rezende, foi construído o passeio no Campo
de Santana, com o intuito de valorizar o aspecto do “maior descampado que existia em toda a
cidade” (MORALES DE LOS RIOS FILHO, op.cit., p.92)38. Foram aterradas as bordas
alagadas e fixaram-se os alinhamentos das edificações em seu entorno. Entre 1810 e 1820
abriram-se no mangue cerca de 22 valas para despejos. A partir de 1820, implementaram-se
os serviços de drenagem, de calçamento das ruas do centro e dos arredores, foram
remodeladas as estradas de Mata-porcos e do Engenho Velho e colocados tapumes nos
terrenos baldios na área da lagoa da Sentinela. Estes serviços foram implantados pelos
engenheiros militares dos departamentos oficiais civis, inclusive pelo arquiteto português
Francisco José Soares de Andréia.
das igrejas e com a atuação dos párocos. Nesse sentido, era comum que a administração
religiosa fosse tomada como unidade básica da própria esfera pública, daí resultando as
divisões das cidades, sendo denominadas paróquias ou freguesias39, que posteriormente
originariam distritos no interior dos municípios.
A rua do Conde da Cunha foi uma das primeiras a serem abertas no terreno da chácara
de Paes Leme. Inicialmente, recebeu o nome de rua da Sentinela, em função da sua execução,
em 1774, sobre os aterros da lagoa de mesmo nome. Segundo Berger (1974), sua origem deu-
se a partir da resolução do primeiro vice-rei, conde da Cunha, de mandar estender a antiga rua
do Piolho (atual rua da Carioca) pelos terrenos da chácara de Paes Leme situada na face sul do
Campo de Santana. A rua foi prolongada em 1765 até encontrar o caminho de Mata-cavalos
(atual Riachuelo). Em 1766, recebeu a denominação de rua Nova do Conde quando foi
estendida até o Barro Vermelho, comunicando-se com a estrada de Mata-porcos, inaugurada
em 1794. Em 1866, recebeu o nome de rua Conde D’Eu, em homenagem ao marido da
princesa Isabel. Atualmente, atende pelo nome de Frei Caneca.
39
Freguesia, s.f. Povoação sob o ponto de vista eclesiástico; conjunto dos paroquianos (FERREIRA, 1957, p.578).
95
Nas terras pertencentes à antiga chácara de Pedro Caetano Portela, na face oeste do
Campo de Santana, foram abertas três vias que estabeleceram o contato com os terrenos
situados no Mangal de São Diogo: a rua das Flores, a rua Formosa e a rua do Areal. Estes
caminhos e a rua do Conde da Cunha eram os únicos que permitiam a ligação do núcleo da
cidade com as terras que seguiam até a paróquia do Engenho Velho – que teria importância
estratégica para o processo de expansão da cidade para o oeste, na direção da atual Tijuca.
Além deles, a comunicação era feita por meio de pequenas embarcações que trafegavam pelos
estreitos canais do Saco de São Diogo.
A rua das Flores foi aberta em 1805, a partir da rua do Conde da Cunha, em direção
àquela chamada de El-Rey (primeiro nome dado à de São Diogo), entre as antigas chácaras de
Pedro Caetano Portela e Feliciano da Silva Coutinho. Em março de 1879, por meio da
proposta do vereador Francisco Basílio da Mota, passou a se chamar rua de Santana. Ressalte-
se que havia uma rua no lado direito do Quartel do campo conhecida também como de
Santana, em virtude de ali ter sido construída a igreja matriz desta freguesia. Hoje, atende
pelo nome de Doutor João Ricardo.
A rua Formosa teve o seu primeiro trecho aberto entre a antiga São Diogo e a rua do
Areal, em terrenos das chácaras de Antonio da Rocha Machado – grande proprietário de terras
- e do conde dos Arcos. Posteriormente, a partir do desmembramento da chácara de Manoel
Antonio Claro – outro expressivo proprietário da época -, foi executado o segmento em
direção à rua do Conde da Cunha. Desde 1873 é conhecida como rua General Caldwell.
96
Na chácara pertencente a José da Costa Barros, que se estendia até a face norte do
campo – próxima à Igreja de Nossa Senhora de Santana -, localizada no final da antiga rua de
São Joaquim (atual Marechal Floriano), foi solicitada a demarcação de arruamentos. O
próprio capitão Barros deu entrada com o pedido na Câmara, em 1808, sendo liberada a
abertura das ruas do Príncipe, da Princesa e de outras perpendiculares a estas em 1809.
É importante destacar que o primeiro caminho, cruzando a área da Cidade Nova, que
permitiu a comunicação do núcleo colonial com o rossio do Campo da Cidade, até a freguesia
do Engenho Velho, foi o de Mata-porcos. Eixo de ligação entre o leste e o oeste da cidade,
margeando a lagoa da Sentinela e desembocando próximo à Bica dos Marinheiros, era assim
conhecido por ter sido escolhido como o local para a instalação de um matadouro de porcos
para o abastecimento da área central.
Verdadeiro matagal, era nele que se refugiavam os porcos das vizinhanças, das
criações dos matadouros próximos, e por ele passava um córrego, sobre o qual três
pequenas pontes existiam, todas as três com pitorescos nomes. A primeira se
chamava Aperta a Goela, a segunda Cala a Boca e a última, por fim, Não te
importes, porque assim faziam ou diziam os ladrões malfeitores que as
freqüentavam, ao assaltarem as lavadeiras ou os escravos, carregados de roupas ou
alimentos, que por elas passavam na calada da noite (GERSON, 1954, p.319).
Em direção à
antiga sesmaria
dos jesuítas
Mata-porcos
Fonte: representação sobre Roscio, Francisco João, Planta da Cidade do Rio de Janeiro Capital dos Estado do Brazil e projeto com que
pode ser fortificada, 1769. Disponível em: <http://www.brazilbrazil.com/riomaps>. Acesso em: 24 jul. 2006.
O Senado da Câmara desta cidade, dois anos antes da memorável e feliz vinda do
príncipe regente Nosso Senhor, empreendeu, sendo inspetor e procurador do mesmo
Senado, o capitão-mor Leandro Marques Franco de Carvalho, fazer uma extensa
98
estrada sobre o mesmo mangue, a qual se concluiu desde o lugar, onde se projeta
abrir a caldeira, até o braço do mar, que entra por São Diogo, atravessa o mangue,
até chegar à referida estrada grande. Apesar deste espaçoso terreno não estar
aterrado na sua maior parte, o que só no fim de muitos anos se conseguirá, contudo
temos visto em pouco tempo vir surgindo uma nova cidade com grandes, belos
edifícios, ruas largas e tiradas a cordel, que se cortam com outras em ângulos retos.
O mencionado procurador da Câmara fez abrir uma vala, que se prolonga em linha
paralela com a grande estrada (SANTOS, 1943, p.355).
O caminho desembocava na Ponte dos Marinheiros, que se estendia até a rua de São
Cristóvão (atual Joaquim Palhares), “uma das mais extensas e tortuosas da cidade”
(MORALES DE LOS RIOS FILHO, op.cit., p.213), pois começava no Largo de Mata-porcos
e terminava no Barro Vermelho. Importante é lembrar que às margens do caminho ou da rua
de São Cristóvão ficaram as terras que haviam sido arrematadas em conseqüência do
seqüestro dos bens dos padres jesuítas, em 1769. Portanto, este é o limite da área que
compreende a Cidade Nova na presente pesquisa.
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).
100
Base cartográfica: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o
Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In: CUNHA (1971).
na área sul da cidade em direção a Botafogo; e para as proximidades de São Cristóvão, devido
à localização do Paço da Quinta da Boa Vista, residência da família real. Os demais
habitantes, com reduzido poder de mobilidade e impossibilitados de ocupar as terras situadas
ao oeste devido à existência de mangues e pântanos, cujos custos de aterro e construção eram
elevados, permaneciam na freguesia de Santa Rita e nos atuais bairros do Santo Cristo e da
Gamboa.
40
“Local de residência imperial, foi em direção a São Cristóvão que se dirigiram as primeiras diligências de que se tem
notícia na cidade. E quando, em 1838, circularam os primeiros ônibus de tração animal, as chamadas gôndolas, uma das
linhas também demandava esse bairro” (M.ABREU, 1997, p. 37).
102
bem como para o saneamento e para a consolidação do eixo de ligação entre o leste e o oeste
da cidade.
“As cidades também são a forma da sua política, os signos de uma vontade” (Rossi,
1995, p. 252).
A Missão Artística Francesa aportou no Rio de Janeiro em 1816, trazendo uma nova
ideologia de arquitetura, artes e espaço urbano, que correspondia à Europa, contemporânea da
Revolução Industrial. Contratada pelo governo português para atualizar o gosto e a técnica do
império em território brasileiro, seus maiores expoentes foram Joaquim Lebreton, ex-
secretário da Classe de Belas Artes do Instituto de França, os pintores Jean-Baptiste Debret e
Nicolas Antoine Taunay, o escultor Auguste, o gravador Charles Pradier e o arquiteto
Grandjean de Montigny. “O governo português considerava necessário adaptar a cidade do
Rio de Janeiro, de feições coloniais, para suas novas funções – sede política e administrativa
do Reino” (TELLES, 2000, p. 62).
Afonso Santos (2000) introduz uma outra abordagem sobre o papel da Missão Artística
no Brasil, acrescentando que, aliado à idéia de um projeto político de império luso-brasileiro,
existia um outro, de caráter civilizatório. Ou seja, a fisionomia da cidade do Rio de Janeiro
seria transformada em um autêntico laboratório da civilização e não apenas em um mero
cenário para os eventos de afirmação do poder monárquico.
Nesse sentido, Peixoto (2000) propõe uma discussão acerca do conceito de civilização
e como ele ressonou no território brasileiro, a partir da transferência da Corte para o Rio de
Janeiro. Segundo o autor, este conceito abarca diversas esferas da existência e da atividade do
homem, permitindo-se falar sobre civilização quanto ao nível da tecnologia, ciência, filosofia,
religião ou, até mesmo, em relação às atitudes do governo e ao controle da ordem social.
Dialogando com Norbert Elias, segundo o qual o conceito de civilização é uma espécie de
sentimento ou consciência nacional em que o ocidente aparece mais avançado em
contraposição às sociedades primitivas, é possível acreditar que, ao aportar no Brasil, a Corte
deparou-se com uma etapa, no processo de civilização, bastante desatualizada em relação
104
àquela européia. Ou seja, a comitiva real viu-se diante de um tempo civilizatório anterior
àquele descrito por Elias. Portanto, o intuito de levar a modernização nos moldes europeus à
capital da Corte representava um impulso para uma nova etapa na escala evolutiva da
civilidade.
41
Vale dizer que essa arquitetura efêmera e festiva não foi uma invenção brasileira, apesar das improvisações realizadas para
transformar o Rio na capital da Corte civilizada, mas sim um determinado modelo importado da França, conforme afirma
Peixoto (2000).
42
“Na França, durante o período revolucionário construiu-se uma quantidade de arquitetura efêmera para ambientar as festas
cívicas e celebrações patrióticas. [...] Já para a multidão de brasileiros e africanos que nunca tinham presenciado semelhante
solenidade, certamente as festividades impressionavam. Especialmente se considerarmos que as festas a que a cultura
nacional estava acostumada eram toscas cavalhadas, procissões e quermesses da igreja” (PEIXOTO, 2000, p. 133).
105
evidência duas praças programadas e uma perspectiva triunfal. A primeira praça dita
Imperial [...] desta, cortando os velhos quarteirões, projetava-se uma rua Imperial,
conduzindo à segunda praça, onde a disposição recupera o traçado em semicírculo
da precedente para acompanhar a estátua da imperatriz. [...] o traçado das vias, a
disposição das praças, o programa decorativo, tudo nesse projeto submete o povo a
um urbanismo monárquico (COUSTET, 1979, p. 68-70).
O novo centro do Rio de Janeiro seria modelarmente concebido e, a partir dele, seria
possível a reorganização de toda a urbe, com perfis modernos e revolucionários para as
características até então coloniais brasileiras. Porém, os acontecimentos políticos de abril de
183144 e dos anos que se seguiram impediram a execução desse e de outros projetos de
reordenamento do espaço urbano do arquiteto, como a arborização de ruas e praças, o recuo
progressivo dos prédios para o alargamento de vias, como a Estreita de São Joaquim e a
43
Vale lembrar que, antes mesmo da concepção da malha urbana regular da Cidade Nova, Arnaud Julien Pallière, em 1820,
elaborou um plano para a cidade de Niterói, fixando um traçado de ruas em xadrez, com praças regulares e ruas largas e
retilíneas.
44
O dia 13 de março de 1831 ficou conhecido como o dia da “Noite das garrafadas”, marcado por agitações na capital do
Império, cujo foco eram os confrontos entre as diferentes facções políticas de oposição ao imperador, inflamadas pela adesão
dos portugueses residentes no Brasil aos partidários de dom Pedro I. No mês seguinte, mais precisamente dia 7, dom Pedro I
abdicou do trono em favor de seu filho Pedro.
107
A realidade que estes artistas encontraram no Brasil de dom João fez com que suas
obras e seus projetos ficassem como eventos contrastantes com a paisagem
aparentemente desordenada do espaço colonial. A paisagem que aparece como
desordenada e confusa para estes europeus, na realidade correspondia a uma
ordenação que tinha a sua lógica num sistema em crise (A.SANTOS, 2000, p. 31).
No início do século XIX, conforme salienta Gerson (op.cit.), três lados do campo já
apresentavam casas afastadas umas das outras por quintais e muros, sendo um deles escolhido
109
para abrigar o quartel da capital. O espaço era visto como o lugar ideal para a prática de
exercícios militares, principalmente por sua localização estratégica: no limite entre os
arrabaldes e o núcleo da cidade.
Fonte: BURDEN, Christopher. Cego furor homicida. Fonte: BURDEN, Christopher. Cego furor homicida.
Revista Nossa História, Rio de Janeiro, n. 18, p. 62-66, abr. Revista Nossa História, Rio de Janeiro, n. 18, p. 62-66, abr.
2005. 2005.
Até esse período, o marco central da cidade era representado pelo Largo do Carmo,
que teve a sua origem no terreiro da ermida de Nossa Senhora do Ó, construída em finais do
século XVI, junto à rua Direita. Sisson (op.cit.) atribui a formalização da centralidade do
largo devido à convergência de importantes vias, inclusive o principal eixo formado pela rua
Direita, e à concentração de símbolos do poder político e administrativo da cidade. Ou seja,
em 1743, a construção da casa dos Governadores, no lugar antes ocupado pelos armazéns do
Rei e pela Casa da Moeda, imprimiu um caráter de centro político-administrativo local, até
então inexistente no Rio de Janeiro. Segundo Teixeira (2001), tinha início a estruturação
formal do espaço que, por muitos anos, passaria a ser denominado Largo do Paço, em função
das adaptações que sofreu a casa dos Governadores para abrigar o Paço dos vice-reis, a partir
da transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. O autor
acredita também que essa estruturação ocorreu gradualmente, sempre justificada pela
elevação de edifícios institucionais no seu entorno. Nesse sentido, o Largo do Carmo, quer
morfologicamente, quer institucionalmente, consolidou-se como o centro da cidade, com a
formação de uma praça regular – posteriormente chamada de Praça XV de Novembro -,
monumental e aberta para o mar. Ao final dos setecentos, dispunha de vários marcos
significativos dos diferentes poderes: Paço dos vice-reis como o poder civil oficial; a casa dos
110
Teles Menezes como poder civil não oficial; e a igreja e o convento do Carmo como poder
religioso.
Com a transferência da família real, em 1809, para a Quinta da Boa Vista45, nos
arredores da cidade, teve impulso a ocupação em direção a São Cristóvão, para além do
Campo de Santana, aterrando-se parte das terras pantanosas de São Diogo, área intermediária
entre o Paço Real e o Paço da Quinta – a Cidade Nova. A região do entorno do campo, até
então limite da zona urbanizada do Rio de Janeiro, era favorável por apresentar um amplo e
descampado espaço para abrigar as novas edificações que não poderiam ser construídas no
velho núcleo, já que para tal seriam necessárias significativas demolições e desapropriações.
Fonte: gravura aquarelada de Franz Josef Frühbeck. Fonte: DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e
Disponível em: histórica do Brasil. São Paulo: Martins, 1949.
<http://sitededicas.uol.com.br/clip_rj.htm>. Acesso em: 27
abr. 2006.
45
A Quinta da Boa Vista ficou conhecida como o Paço de São Cristóvão por conta da distância reservada entre o sítio e o
núcleo antigo consolidado, num dois mais saudáveis e arejados locais de moradia. A chácara, com a casa que fora construída
em 1808 por um rico comerciante, foi doada em 1809 para dom João VI.
111
46
Em 1818, o comércio da Bahia resolveu oferecer ao conde dos Arcos - designado para o Ministério da Marinha - um
palacete no Rio de Janeiro. Para isso, foi adquirida uma grande chácara, fronteira à Praça da Aclamação, na qual foi erguido
um prédio. O conde residiu ali até 1821, quando retirou-se para Portugal com dom João VI. Dois anos depois, o Governo
desapropriou o imóvel. Depois de várias obras, no dia 29 de abril de 1826, aconteceu ali a primeira sessão preparatória do
Senado do Império.
112
Portanto, o campo deixava de servir como limite do antigo núcleo colonial e passava a
exercer a função de articulador entre a cidade velha e a Cidade Nova. A primeira, urbanizada
até princípios do século XIX e polarizada pelo antigo Largo do Paço; e a segunda, como zona
intermediária de acesso ao paço de São Cristóvão e vetor de crescimento urbano do Rio de
Janeiro. Nesse contexto, Sisson (op.cit.) acredita que da mesma maneira do ocorrido com o
Largo do Paço, no final do século XVII, confluíram para o Campo de Santana dois caminhos:
o local e o externo.
Fonte: representação sobre SISSON, Rachel. Marcos históricos e configurações espaciais, um estudo de caso: os centros do Rio de
Janeiro. Arquitetura Revista, Rio de Janeiro, p. 56-81, 2. semestre 1986.
O caminho local representava a ligação entre o leste e o oeste da cidade, a partir da rua
do Aterrado, criada após os aterros da área do mangal de São Diogo. O seu prolongamento era
a rua de São Pedro da Cidade Nova, que se estendia até o campo.
113
Por esta estrada sobre o mangue, que está bem sólida, larga e aprazível, se
levantaram de 100 em 100 metros umas colunas de pedra e cal, das quais se
suspendem grandes lampiões por varões de ferro, que estão fixos nelas; além disto
tem por um e outro lado, em toda a sua extensão, guardas de madeira pintadas de
vermelho, para resguardar os coches de caírem no mangue por algum incidente não
previsto. Por esta estrada ordinariamente transita Sua Majestade, e a Real família, e
também a Corte, do Paço para a Quinta, ou da Quinta para o Paço. Perto da ponte há
um corpo de guarda da polícia, e já se construíram algumas casas (SANTOS, Apud
GERSON, 1954, p.170).
Segundo Sisson (op. cit.), o projeto antes citado de abertura de um extenso e largo
boulevard, desenvolvido por Montigny dentro da concepção de um novo urbano baseado nos
princípios da modernidade européia, caso fosse implementado, constituiria a materialização e
a formalização do eixo viário em direção ao oeste da cidade.
OESTE LESTE
mar
Quinta da Boa Vista Caminho das Lanternas
Campo de Santana
Largo do Paço
Fonte: representação sobre SISSON, Rachel. Marcos históricos e configurações espaciais, um estudo de caso: os centros do Rio de
Janeiro. Arquitetura Revista, Rio de Janeiro, p. 56-81, 2. semestre 1986.
Conforme dito, este trabalho tem como base a análise da estrutura fundiária de uma
nova cidade que se intensionava construir nos arredores do já consolidado e antiquado núcleo,
115
segundo os padrões do início do século XIX. Por conta desta análise, será possível perceber o
processo de ocupação e apropriação daquele solo, antes destinado às atividades
complementares à vida urbana que acontecia no centro colonial. Essa zona pantanosa de
difícil acesso era basicamente freqüentada por parcelas menos privilegiadas da população,
entre elas os ciganos, os negros fugidos dos engenhos e os pequenos comerciantes – que
transportavam mercadorias entre as freguesias centrais e a do Engenho Velho, por meio de
embarcações ou do caminho de Mata-porcos. Nesta região, localizavam-se as irmandades de
pretos e os cemitérios, ou seja, as atividades e funções consideradas sujas e que não poderiam
ocupar os escassos e valorizados terrenos centrais.
A idéia de que era preciso expandir a cidade para além dos seus limites naturais, a
oeste do Campo da Santana, e desvendar os tortuosos caminhos e as dificuldades impostas
pelo sítio alagadiço, até então esparsamente ocupado, emergiu tanto como uma necessidade
ao problema de ausência de moradias na própria urbe, como à busca de um status em se
residir nas proximidades da realeza que se deslocara para os subúrbios47 de São Cristóvão. A
abordagem anterior mostra que, com esse objetivo e desejo de se consolidar a Cidade Nova do
Rio de Janeiro, foram lançadas políticas, propostas e estudos com o intuito de implantar parte
da cultura e das concepções urbanas que despontavam na Europa daquele período.
Durante as primeiras décadas dos oitocentos, a Cidade Nova experimentou uma série
de obras ligadas à infra-estrutura urbana e à construção de uma malha viária que facilitasse a
fixação e a permanência de uma parte da aristocracia que aqui chegava. O próprio Campo de
Santana tornou-se o foco para a idealização de um novo e modernizado centro para a recém-
criada capital imperial do Brasil, atraindo para o seu entorno uma significativa quantidade de
edifícios públicos administrativos e sobrados patriarcais com refinados padrões construtivos,
bem diferentes da volumetria horizontal que se desenvolvera para além do Largo do Paço, em
direção à rua da Vala.
47
“Subúrbio, s.m., os arrabaldes de alguma cidade” (MORAES SILVA, 1823).
116
camada de nobres vindos de Portugal e de ricos comerciantes que buscavam uma localização
intermediária entre o Paço Real e o Paço da Quinta da Boa Vista. Aos grandes proprietários
daqueles terrenos interessava o comércio, ou o mercado de terras, que longe dos olhos da
Câmara gerava renda sobre uma mercadoria que detinha pouco valor. Vale lembrar que os
terrenos distantes do núcleo da cidade e com dificuldades de acesso tinham preços baixos. O
mesmo ocorria com os imóveis em aluguel, ou seja, tornava-se mais lucrativo aquele que se
aproximava da zona central, marcada pela agitação dos negócios, dos eventos político-sociais
e da vida cultural, tipicamente urbana.
O critério para a escolha das ruas privilegiou aquelas abertas durante a primeira
década dos oitocentos ou, ainda, no final do século XVIII, e que serviram como elos de
ligação entre o centro e São Cristóvão. Nesse sentido, foram selecionadas as ruas do Aterrado
(ou de São Pedro da Cidade Nova), Nova do Conde (antiga estrada de Mata-porcos e
continuação da rua Conde da Cunha), Formosa, do Areal e a de São Diogo.
117
Vale notar que, na maioria dos documentos listados as unidades de medida dos
terrenos são as braças, os palmos ou as polegadas48. As medidas em metro apenas aparecem
nas escrituras posteriores à década de 60, em virtude da aplicação da lei Imperial 1157, de
1862, que exigia a adoção do sistema métrico decimal. Por conta desta lei, foi fixado um
prazo de dez anos para a substituição das unidades em curso, de forma a se estabelecer um
padrão para facilitar as trocas, a produção e a venda dos mais diferentes bens.
Portanto, como fonte de análise da estrutura de terras na região da Cidade Nova, além
dos organogramas em anexo e das informações de Cavalcanti, são apresentadas tabelas com a
cronologia dos imóveis e aqueles que detinham seus aforamentos. A partir da organização
dessa documentação foram elaborados mapas conjecturais com a distribuição dos terrenos,
para a visualização do processo de parcelamento e ocupação da área – durante a primeira e
segunda metades do século XIX -, já que a imprecisão dos dados, relatada anteriormente,
apenas permite traçar de forma hipotética os limites desses terrenos, bem como as suas
localizações ao longo das ruas selecionadas neste trabalho. Esse material foi confeccionado a
partir da publicação original de Lygia Cunha (1971), no seu Álbum Cartográfico do Rio de
Janeiro - séculos XVIII e XIX e dos mapas temáticos do trabalho desenvolvido pelo
CECULT- Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP), intitulado
48
Braça – do latim brachia, plural de brachin (braço). Era uma unidade de medida equivalente a dez palmos ou 2,20 metros.
Um palmo equivale a 8 polegadas ou a 22 centímetros. Uma polegada equivale a 2,54 centímetros.
118
Os aforamentos na década de 10
O estudo inicia-se pela rua do Aterrado que, segundo Gerson (op.cit., p.170), era o
prolongamento da São Pedro da Cidade Nova e iria até a Ponte dos Marinheiros (local onde
hoje existe a Praça da Bandeira). Para a abertura dessa rua, foi necessário o retalhamento das
terras da Chácara de Antônio da Rocha Machado, grande propriedade confinada entre a lagoa
da Sentinela e os mangais de São Diogo, de onde fora desmembrada a Chácara de São Diogo.
Esta última pertenceu, no início dos oitocentos, a Antonio Fernandes Pereira e sua mulher,
Luiza Roza Avondano Pereira, que se tornara grande proprietária de terras na Cidade Nova
até o final da década de 30. A partir daquela data, alguns terrenos da chácara, que ainda
restaram do processo de retalhamento para o arruamento da região, foram comprados por José
Joaquim Ferreira.
A documentação existente entre 1808 e 1820 para a rua do Aterrado mostra a presença
de 11 foreiros, incluindo-se os herdeiros de Antônio da Rocha Machado e Antonio Fernandes
Pereira. Além da Chácara de São Diogo, havia o registro de dez terrenos, entre os quais
somente quatro estavam numerados. Quando os terrenos apresentavam dimensões, elas se
limitavam às testadas frontais à rua, que variavam entre três e 19 braças, e nem sempre em
suas escrituras havia indicação das confrontações. Segundo Reis Filho (1978), era muito
comum a documentação apresentar referência apenas da medida da frente do imóvel, devido à
impossibilidade de demarcação dos seus limites, em função das dificuldades naturais ou de
confrontações entre os vizinhos.
Ainda naquele período, vale destacar as terras pertencentes a Polucena Luiza de Britto,
resquícios da antiga propriedade de Rocha Machado que, em parte, tinham sua frente voltada
para o Aterrado e os fundos, para a rua de São Diogo. Elas acabariam originando grande
quantidade de pequenos e estreitos terrenos nas décadas seguintes, principalmente a partir dos
119
anos 40 e na segunda metade do século XIX. Seus únicos imóveis numerados nesta rua
passariam a Manoel Pedroso e Mattos e a José da Costa Souza Lima na década de 30 e
constituiriam parte do patrimônio do visconde de Jequitinhonha (Francisco Gomes Brandão) a
partir dos anos 60.
Os documentos coletados indicam que, entre 1808 e 1820, havia terrenos da antiga
Chácara da Lagoa da Sentinela que, até o final do século XVIII, fazia parte da grande
propriedade de Pedro Dias Paes Leme e sua mulher Francisca Joaquina da Horta Forjas
Pereira. Em 1796, foi realizada a partilha das terras – com 100 braças de frente e fundos para
o morro do Senado -, herdadas por Fernando Paes Leme, Beralda Victoria da Horta Forjas
Pereira e Maria Arcângela de Macedo. Portanto, durante as duas primeiras décadas dos
oitocentos, parte dos terrenos dessa chácara pertencia aos três herdeiros de Paes Leme.
Ressaltem-se as terras de José Antonio dos Santos Anna, que exibiam 25 braças de
comprimento até os fundos em contraposição às sete braças de largura voltadas para a rua
Nova do Conde, já demonstrando um formato alongado de alguns terrenos naquela região, o
que seria mais visível nos anos seguintes.
A rua Formosa, que permitia a ligação entre as ruas de São Diogo e Nova do Conde,
de maneira semelhante ao ocorrido com a rua do Aterrado foi aberta a partir do retalhamento
de parte da antiga Chácara de São Diogo, na época em que pertencia a Antônio da Rocha
Machado. Posteriormente, seguindo pelo terreno de Manoel Antônio Claro, foi estendida até a
rua Nova do Conde, conforme antes citado.
A rua de São Diogo, que partia do Campo de Santana em direção à Bica dos
Marinheiros e à paróquia do Engenho Velho, em seu trecho inicial, próximo ao campo, era
chamada de El-Rey e se localizava entre as chácaras de Pedro Caetano Portela e Feliciano da
Silva Coutinho. Importante é notar que, em parte, a rua de São Diogo dispunha de terrenos
que se alongavam quase até a rua do Aterrado, como aqueles cuja posse inicial era de
121
Entre 1808 e 1820, havia dez foreiros nas terras situadas ao longo da rua de São
Diogo, incluindo-se Polucena Luiza de Britto. Os terrenos remanescentes na antiga Chácara
de São Diogo, que também confrontavam com o Aterrado, estavam sob a posse de Antônio
Fernandes Pereira e sua mulher. Havia duas chácaras com 22 moradas de casas que tinham
como foreiros, simultaneamente, Manoel José R. de Oliveira, o vigário Manoel José da Costa
e o conselheiro Luis Joaquim Duque Estrada Furtado de Mendonça. Os únicos imóveis que
apresentavam alguma informação sobre medidas eram o terreno de Antonio Pinto da Costa,
com duas casas térreas e oito braças de frente, e o de Luiz da Rocha Machado, herdeiro de
Rocha Machado, com iguais oito braças de testada. Além desses havia aquele com casas,
pertencente a Manoel de Jesus, situado atrás da Igreja de Santana, com 267 palmos de frente e
118 palmos de fundos. Esse terreno fazia parte da antiga chácara pertencente a Leandro dos
Reis Carril e Francisco Xavier Telles, citada anteriormente, e que foi vendida a Antonio José
de Siqueira e sua mulher, Maria Rosa da Encarnação, em 1801. A propriedade confrontava
com as terras do Dr. Francisco Carneiro Pinto de Almeida, com as do Dr. Francisco Nunes,
além daquelas pertencentes à Fazenda de Santa Thereza e ao mangue.
Havia antigamente pelo mangue um caminho aterrado que tendia para São Diogo, o
qual servia de limite e divisa a esta chácara. Depois, que pelos arquitetos da cidade,
que pela ordem da Polícia, se fez a demarcação para as novas ruas da Cidade Nova,
se demarcou e alinhou naquele lugar uma nova rua denominada de São Diogo, a
qual seguindo a direção reta se apartou algumas braças da antiga rua ou caminho que
servia de divisa desta chácara (Arquivo Nacional – Fundo / Coleção, código 20 F-
08, Estados / terras (fazendas, sesmarias), Nº1417, caixa 80, galeria C).
Ainda na década de 10, Antonio José de Siqueira aforou parte da chácara, 12 braças
com testada para a rua de São Diogo, a Francisco Antonio de Oliveira, e oito braças de frente
para a mesma rua a Sebastião Leonardo Correia.
O mapa 14 mostra de forma esquemática a estrutura das terras da Cidade Nova durante
a década de 10 do século XIX.
122
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
Os aforamentos na década de 20
A rua Formosa, entre 1820 e 1830, ainda não dispunha de informações sobre
aforamentos.
A rua do Areal, nos anos 20, já continha documentação referente aos processos de
aforamento, declarando-se Manoel Antonio Claro como o proprietário da Chácara do Areal
que, conforme o mapa 02, tinha seus limites imprecisos. Naquela época, esta chácara
começara a sofrer parcelamento, dando origem a terrenos menores, por vezes estendendo-se
até a rua Nova do Conde. Um exemplo era o que continha morada de casas, pertencente ao
Alferes Antonio Domingues Lopes e a Manoel Parente da Costa, com dez braças de frente e
fundos para a rua Nova do Conde.
Ressalte-se que ainda não havia informação sobre a numeração dos imóveis, e os
poucos que tinham registro de suas dimensões variavam entre três e 40 braças, sendo este
último um sobrado fruto da compra feita por Joaquim José Cardoso Guimarães do conde dos
Arcos, na face oeste com o Campo de Santana.
Naquela época, o intendente geral de polícia Paulo Fernandes Vianna e Luis José da
Cunha Bastos tinham uma parcela de terras com chácara, cujas nove braças de testada
aproximavam-se do campo. Vale lembrar que, segundo Garcia (1938), o intendente obteve do
124
príncipe regente, em 1815, uma área quadrangular, que recebeu o nome de passeio do campo,
com cerca de 100 braças, que ia desde o Areal, no lado oeste do campo, até a rua do Hospício,
no lado leste, para a plantação de árvores e a criação do bicho da seda. Em 1821, esse terreno
foi retomado por dom Pedro I para o resguardo de um dos caminhos que iam para São
Cristóvão.
Bastou que dom João VI fizesse suas malas para voltar a Portugal, para dom Pedro I
entender que era demasiada ousadia estarem o Sr. Paulo Fernandes e amigos a se
aproveitares de uma coisa que evidentemente pertencia à nação. Toda uma série de
picuinhas estimulou dom Pedro I a mandar destruir o ajardinado passeio que havia
no campo, a título de necessidade pública, pois que por ali era o caminho obrigatório
para São Cristóvão (GARCIA, apud Revista Sul Americana, abril/1938. p.17).
Outros dois imóveis foram aforados a Manoel Parente da Costa e ao Alferes Gabriel
José Ferreira com Manoel Francisco de Oliveira.
A rua de São Diogo, no período entre 1820 e 1830, contava com nove foreiros, dentre
eles José de Oliveira Fernandes, que assumira a administração do patrimônio de Polucena
Luiza de Britto, conforme visto, e detivera a posse de duas casas térreas provenientes de
Antonio Pinto da Costa. Foram aforadas a Manoel Joaquim de Oliveira e a Manoel Joaquim
da Lapa, em conjunto, duas casas térreas com oito braças de frente. Os demais imóveis
continuaram sob o domínio útil dos antigos concessionários.
O mapa 15 mostra de forma esquemática a estrutura das terras da Cidade Nova durante
os anos 20 do século XIX.
125
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
Os aforamentos na década de 30
para José da Costa Souza Lima. O terreno nº 40A, cuja posse também era de Mattos, foi
transferido para Antonio da Costa Barbosa. Antonio Joaquim Tavares obteve o domínio útil
do nº 38. Parte das antigas terras de Polucena - sob a guarda de José de Oliveira Fernandes -
como o terreno com cinco casas térreas que se estendia até a rua de São Diogo, foi registrado
com o nº 58. Portanto, a rua do Aterrado, nos anos 30, dispunha de documentação com
numeração somente dos imóveis pares, sob os números 38, 40A, 44, 48, 50, 56, 58.
Francisco José Alves Quintão destacava-se como foreiro dos imóveis contíguos
ímpares nº 19, a 27, situados no quarteirão entre o Campo de Honra e a rua Formosa,
enquanto o conde de Paraty (Miguel Rafael Antônio de Noronha) detinha o domínio útil dos
terrenos pares nº 104 a 128, situados ao longo do antigo caminho de Mata-porcos nas
proximidades da lagoa da Sentinela. Ressalte-se que, ainda na década de 30, o conde de
Paraty repassou quase a metade de suas terras, permanecendo apenas com oito imóveis.
Em 1830, destacava-se ainda o Cel. Felippe Nery de Carvalho pela posse de uma
chácara com solar que, no mesmo período seria aforada a Luiz de Queiroz Monteiro Regadro
até 1875.
Em 1838, o terreno pertencente à Maria Luiza, com três braças e meia de frente e dez
de extensão, fruto da antiga Chácara da Lagoa da Sentinela, conforme visto, foi vendido para
Albino dos Santos Pereira.
Vale notar também que alguns enfiteutas dispunham de dois ou mais terrenos, o que
possivelmente indica a ocorrência de um mercado de arrendamento ou subaforamento na área.
João Gomes de Almeida detinha o domínio útil dos terrenos nº 16, 16A e 16B que, durante os
anos 30, passaram a quatro diferentes pessoas, atentando-se para o fato desta numeração
supostamente relatar um parcelamento do terreno original de nº16.
A família Gonçalves Bandeira tinha a posse de três terrenos, sendo dois deles
contíguos. Francisco José Pereira era foreiro dos imóveis contíguos nº 163 e 165; Dr.
Francisco Leocádio de Figueiredo, dos nº 171 e 173; e José da Rocha Garcia, dos nº 124 e
126, permanecendo os dois primeiros foreiros durante a segunda metade do século XIX.
A maior parte dos terrenos na rua Formosa não excedia dez braças de frente, à exceção
do nº 159, com 13,2 braças de testada, cujo foreiro até o final da década de 50 foi José
Teixeira Bastos. O menor imóvel, o nº 37, continha apenas uma braça de frente e pertencia a
Joaquim Gonçalves Bandeira.
A rua de São Diogo, pela documentação referente ao período entre 1830 e 1840,
contava com cerca de 15 imóveis, incluindo o registro da ainda existente Chácara de São
Diogo, dividida entre a viúva Luiza Roza Avondano Pereira e o seu sobrinho Antonio
Fernandes Pereira Vianna – que herdara de seu tio falecido, em 1835, parte dos terrenos, com
um total de 60 braças. Vale lembrar que, naquela época, foi realizado um novo arruamento
para a retificação da rua até o ponto de encontro com a rua do Bom Jardim.
O terreno pertencente a Luiz da Rocha Machado, com oito braças de frente, passou ao
aforamento de José Ferreira Serpa; aquele cuja posse era de Antonio José de Siqueira,
localizado atrás da Igreja de Santana, foi herdado por Felippe Furtado da Silva, e Manoel
128
Joaquim de Oliveira e Manoel Joaquim da Lapa continuariam foreiros das duas casas térreas
de oito braças de testada até o final dos anos 40.
Há o registro de dois terrenos, um com cinco moradas de casas, aforado a Manoel José
de Andrade, e outro com duas, nº 14 e 16, sob a posse de Thomé Lino – que após 1840
passariam a ser os nº 64 e 66. Ressalte-se que este último, ainda na década de 30, foi
transferido a Francisco Joaquim da Fonseca. Duas casas térreas, de Maria Francisca da Silva,
surgiram no início da rua, recebendo a numeração de nº 1 e 2 que, somadas as frentes,
chegava-se a 29 braças. O maior imóvel era a chácara com dois prédios, aforada a Joaquim
José de Siqueira Brandão, que continha testada aproximada de 65,5 braças.
O mapa 16 apresenta a provável estrutura da Cidade Nova nos anos 30 dos oitocentos.
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
129
Os aforamentos na década de 40
Domingos Antonio de Azevedo Cirne e seu terreno com quatro braças de frente; José
Carneiro Dias Guimarães e sua parcela de oito braças de testada; Manoel José de Andrade e o
sargento-mor Francisco de Paula Borges, que aforava cerca de 12 braças de terras,
permaneceram como os mais antigos foreiros, desde a década de 10. Além desses, cujos
registros não indicavam a numeração dos imóveis, continuaram na rua José da Costa Souza
Lima, com os domínios dos nº 44 e 48; Domingos Francisco da Silva, com o nº 50; e José de
Oliveira Fernandes, com o terreno nº 58 que ia até a rua de São Diogo.
Ressalte-se que a maior parte dos imóveis ainda não apresentava numeração, mas já
era possível perceber a morfologia de alguns terrenos por conta da descrição do comprimento
de suas frentes e de suas extensões. Ou seja, os imóveis de Deolinda Jacintha, Antônio
Paulino Limpo D’Abreo - que nesta mesma década o passara a José Joaquim Ferreira -,
Carolina de Souza Costa, João Bonifácio Alves da Silva - que nesta mesma década também o
passara ao desembargador Antônio José da Veiga -, Carolina Augusta de Miranda Teixeira e
coronel José da Costa e Oliveira apresentavam uma média de oito braças de frente por 57 de
profundidade. Os terrenos já aparentavam um formato estreito e alongado em direção ao
interior dos quarteirões.
anteriores. Além disso, se entre 1830 e 1840 havia cerca de 25 foreiros, houve um acréscimo
da ordem de 76% até 1850, menos expressivo se comparado ao da rua do Aterrado, conforme
visto. Outro aspecto foi o incremento do número de imóveis na área. Enquanto havia cerca de
31 nos anos 30, entre 1840 e 1850 a rua dispunha de 55, marcando um crescimento de 77,4%.
Nos anos 40, foi dado impulso à construção da Casa de Correção, que havia sido
aprovada em 1834 por ordem do então ministro de Negócios da Justiça Aureliano de Souza e
Oliveira Coutinho (visconde de Sepetiba) na compra da chácara de Manoel dos Passos
Corrêa, no valor de 80 contos de Réis, no lado ímpar da rua, em direção ao antigo Barro
Vermelho. A planta foi desenvolvida pelo coronel de engenheiros Manoel José de Oliveira, e
a obra foi administrada por Félix José da Costa. O documento pesquisado no Arquivo
Nacional mostra os processos relativos às terras da Casa de Correção:
É importante dizer que, a partir de 1840, não foi encontrada documentação referente
aos terrenos aforados a José Antonio dos Santa Anna, Antonio Pereira da Fonseca, ao Capitão
Mor José Teixeira de Mello, Francisco Antonio Malheiro, José Bento Alves, Damiana Teresa
C. Ribeiro e Joaquim da Rocha Machado. Ou seja, enquanto não havia registro sobre a
permanência de determinados imóveis na área, surgiram outros, cujo histórico era
desconhecido, não sendo possível descobrir sua procedência.
A maior parte dos documentos apresentava a numeração dos terrenos, mas não
indicava suas dimensões, diferentemente do ocorrido na rua do Aterrado.
Ressalte-se também Francisco José Alves Quintão, que continuava foreiro dos nº 19,
21 e 31 e passara a posse dos terrenos nº 23, 25 e 27 para Mariana Benedita Quintão. Cerca de
20 imóveis foram aforados a mais de uma pessoa de diferentes famílias durante um curto
período de dez anos, enquanto outros sofreram parcelamentos e foram subaforados. Foi o caso
do nº 38, com sete braças de frente e 20 de fundos, que outrora pertencera a Rosa Monteiro
Claro e fora passado a Francisco da Silva Guimarães, que aforou a quarta parte para Joaquim
José Moreira Maia.
Interessante é notar parte de um antigo terreno, localizado após a rua das Flores,
pertencente ao conde de Paraty e, posteriormente, aforado por José Martins Viana ao senador
Bernardo de Vasconcellos – que assumira o cargo em 1838 -, que o manteve até os anos 70.
Em 1841, Albino dos Santos Pereira, cujo terreno era remanescente da Chácara da
Lagoa da Sentinela, recorreu à Apelação Cível contra Manoel Luiz Soares, antigo arrendatário
de parte dessas terras - que continham uma casa edificada por José Antonio Alves de
Carvalho -, que atrasara o pagamento desde 1827. O suplicante exigia o pagamento dos
arredamentos vencidos sob a pena de pedir a avaliação das benfeitorias, executar o pagamento
e despejar o inquilino, procedimento válido e muito comum naquela época (ver capítulo 01).
A rua Formosa, pelas informações obtidas no AGCRJ entre 1840 e 1850, apenas tem
o registro de mais três imóveis aforados, além dos 29 existentes desde 1830. Ou seja,
diferentemente do ocorrido nas ruas anteriores, ela não apresentou um crescimento
significativo na quantidade de terras parceladas. Em relação ao número de foreiros, a década
de 30 foi marcada pela presença de 25, enquanto os anos 40 registraram um total de 29
foreiros, dentre os quais 17 eram remanescentes. Portanto, houve um acréscimo da ordem de
16%, considerado pouco expressivo para a área.
A documentação pesquisada contém toda a numeração dos imóveis mas, em parte, não
dispõe das suas dimensões. Os poucos em que são indicadas as medidas apresentam uma
variação de uma a 13 braças de testada. Nesse sentido, terrenos estreitos e profundos
continuavam surgindo desde os anos 30 e 40 em diante, sem a presença de um significativo
foreiro que detivesse grandes parcelas de terra. Além disso, as informações pesquisadas
indicaram uma concentração mais efetiva nas proximidades da rua do Areal.
A rua do Areal apresentava para a década de 40, segundo os dados analisados, sete
foreiros, ou seja, um a mais do que o período anterior. Uma peculiaridade era a ausência de
remanescentes.
132
Entre 1840 e 1850, todos os imóveis apresentavam numeração e grande parte continha
as dimensões nos seus documentos. Dos seis terrenos com registro, apenas um, o de nº 17
aforado a Maria Joaquina de Jesus e, posteriormente, a Manoel Fernandes de Mattos,
informava a existência de um foreiro anterior, cujo nome era Joaquim Franco das Chagas.
Além disso, as medidas variavam entre duas e 13 braças de testada, e nem sempre constava a
extensão dos terrenos.
49
Antonio Paulino Limpo D’Abreo, natural de Lisboa, em Portugal, foi agraciado visconde de Abaeté em 1854, após ser
condecorado como Oficial da Ordem do Cruzeiro e com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
50
Os terrenos de marinha sempre pertenceram à Coroa, apenas a partir da Lei de 3 de Outubro de 1834 é que passaram para o
domínio da Câmara Municipal. Esta esteve por muitos anos com a posse de terreno de marinha próximo ao morro de São
Diogo, que servia para o enterro de animais mortos.
133
Uma outra fração da antiga chácara, pertencente à Luiza Roza Avondano Pereira, foi
vendida a José Joaquim Ferreira de Lima e Silva, em 1844, conforme indica a documentação
existente no Arquivo Nacional (Fundo / Coleção, código 20 F-08, Estados / terras - fazendas,
sesmarias, Nº87, caixa 531, galeria C). Parte desse terreno com uma pedreira era arrendado a
João Pereira de Almeida que, ao falecer, deixara dívidas por conta do não pagamento dos
aluguéis. Obtendo a sentença favorável ao despejo da família do arrendatário, Lima e Silva
questionou o valor e as reais necessidades das benfeitorias realizadas.
O mapa 17 apresenta a suposta estrutura da Cidade Nova nos anos 40 dos oitocentos.
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
134
Mapa 18 – As propriedades do antigo rossio no mangue da Cidade Nova – início do século XIX
s/escala
A partir dos anos 30, quando iniciou-se a demarcação do Rocio Pequeno, conforme
visto, já era possível notar um adensamento nas quadras mais próximas ao campo, chamado
na época de Campo de Honra. Na rua Nova do Conde, Miguel Rafael Antônio de Noronha,
conhecido como o conde de Paraty, surgia como um significativo proprietário de 13 terrenos
dispostos de forma contígua e voltados para o mangue. Além do conde, outras figuras
destacadas dispunham de imóveis nesta região, como o coronel Felippe Nery de Carvalho e o
sargento-mor Francisco de Paula Borges. Vale lembrar que, na face norte do campo já havia
sido construído, desde 1815, o Quartel que abrigaria o 2º Regimento de Infantaria, o que
possivelmente incentivou o deslocamento de militares para os sobrados ao redor do campo,
principalmente após a Independência.
Deve-se frisar também a presença do solar, dentro de uma chácara que, construído em
1819 para residência do conde dos Arcos, décimo-quinto e último Vice-Rei do Brasil e ex-
governador da Bahia, foi adquirido pela Coroa por Carta Imperial, em outubro de 1824, para
reforma do prédio e instalação do Senado do Império51. Ressalte-se que antes mesmo de
vendê-la, por escritura, em março de 1825, o conde já havia desmembrado suas terras e
negociado alguns terrenos com José Cardoso Guimarães.
51
“O prédio sofreu diversos reparos e reformas, acabando totalmente desfigurado em relação ao prédio que abrigou a
primeira sessão no início de 1826. Em 1829 e em 1831, o desabamento parcial do teto do salão de sessões e de parte do
telhado, respectivamente, obrigaram a transferência de solenidades para a Câmara dos Deputados. O descontentamento de
muitos senadores refletiu-se em vários projetos tratando da mudança do Senado, tendo a Regência autorizado medidas para
solucionar os problemas; como a solução preferida pelos senadores foi a reforma total do Solar, em agosto de 1831 as sessões
passaram interinamente a ser realizadas na sala do Supremo Tribunal de Justiça (na Casa da Relação, rua do Lavradio),
voltando a Câmara vitalícia ao Palácio do Conde dos Arcos somente em 1835, quando da eleição para a Regência Una
definitiva” (http://www.senado.gov.br/comunica/historia/pal_arcos.htm, acesso em 20/01/2007).
136
No final dos anos 40, ilustres proprietários ainda apareciam pela região, como o
visconde de Abaeté, o senador José Carlos Mayrinck e o desembargador Antônio José da
Veiga na rua do Aterrado, e o vereador Francisco de Paula Mattos e o senador Bernardo de
Vasconcellos na rua Nova do Conde.
Fonte: EDWARD, Nicolle Jr. Desenho da cidade velha, o Campo de Santana e o mangue de São Diogo. In: ANDREATTA (2006).
Ainda na primeira metade dos oitocentos, à medida que a urbe expandia-se em direção
à várzea, ao interior do estado, e após as investidas da Missão Artística Francesa e das
propostas de reordenamento dos espaços da cidade, em vias de introduzir a chamada
137
Vale lembrar que, no início dos anos 40, a capital sofria com o crescimento
demográfico, acelerado pela migração do campo para a área central53, deflagrando um
processo de concentração urbana seguido dos problemas de salubridade, que exigiam a
implantação de novas infra-estruturas. As habitações coletivas destinadas às classes mais
pobres da sociedade, como as estalagens e as casas de cômodos, multiplicavam-se na área da
cidade velha e começavam a penetrar pelas ruas do contorno imediato do Campo de Santana,
em direção à Cidade Nova, conforme a análise dos dados anteriores.
52
Henrique de Beaurepaire Rohan nasceu no dia 12 de maio de 1812, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Ingressou no
Corpo de Engenheiros em 1837 e, em São Paulo, construiu a Casa de Correção e dirigiu a Estrada de Ferro São Paulo-Santos.
Promovido a tenente-coronel, foi mandado ao Paraná, onde exerceu as funções de vice-presidente da província. Foi, então,
nomeado presidente da Província do Pará e, posteriormente, da Província da Paraíba. Foi Ministro da Guerra, presidente do
Rio Grande do Sul, comandante das Armas de Pernambuco, marechal, Ministro do Supremo Tribunal Militar. Faleceu no dia
10 de julho de 1894, na cidade do Rio de Janeiro.
53
Segundo Andreatta (2006, p.85), “a sociedade carioca seguia sendo uma sociedade escravista, mas a partir do tratado de
1815 entre Portugal e Inglaterra, que proibia o tráfico de escravos ao norte do Equador, iniciou-se um lento e inexorável
processo de emancipação que aumentaria também a população urbana, agravando os problemas de salubridade da cidade;
vale recordar como exemplo que em 1850 dos 270 mil habitantes da cidade, 111 mil eram escravos”.
138
públicos. Também se cogitou um aumento dos impostos recolhidos para a consecução das
obras necessárias.
Foram lançadas recomendações quanto ao escoamento das águas dos telhados, a partir
da utilização de calhas impedindo a sua queda diretamente nos passeios; à inclinação e
declividade das calçadas – em que deveriam ser implantadas sarjetas forradas de cantaria para
esgotar as águas pluviais -; aos despejos sólidos no mar; à drenagem no Campo de Santana,
por meio da criação de um divisor de águas; à implantação de rede para abastecimento de
água e à canalização do mangue da Cidade Nova.
54
Vale lembrar que, naquela época, as condições de higiene do Rio de Janeiro eram bastante precárias e a infra-estrutura
urbana existente dependia do emprego e da força da mão-de-obra escrava.
55
Ressalte-se a descrição do que seria o miasma, naquela época, segundo Moraes Silva (1823): Miasma, s.m.t. de med.
Partículas, ou átomos, que saem dos corpos podres ou venenosos, e entrando no corpo animal causam doença.
139
O Rio de Janeiro participa de muitos dos defeitos, que são ordinários nas cidades
edificadas sem plano. É um deles a estreiteza das ruas, algumas das quais têm
apenas 30 palmos de largura, que muito dificulta o trânsito, em ocasiões de
concorrência (ROHAN, apud ANDREATTA, 2006, anexo documental, p.4).
Sobre a cidade velha, as propostas visavam à regularização da malha viária por meio
da inserção de eixos ortogonais que seriam a continuidade daqueles existentes, representando
o prolongamento em direção às novas áreas de expansão e a abertura de 18 ruas,
proporcionando a melhor circulação do ar, de mercadorias e pessoas. Nesse sentido, seriam
previstas a organização e a disposição de quadras mais regulares com novas fachadas que
contribuiriam para a renovação da imagem edificada no centro do Rio. Intentava-se
reconstruir parte da capital, do Campo de Santana para baixo, considerada a mais
desorganizada e defeituosa região. Naquela época, a estrutura da cidade velha apresentava-se
como uma retícula irregular e densa, formada por paralelogramos que variavam entre 40 e 60
metros de largura e 50 e 100 metros de comprimento. Os terrenos eram estreitos e profundos,
cujas testadas variavam entre três e seis metros e a profundidade, entre dez e 20 metros, com a
presença de casas geminadas e compactas que, geralmente, ocupavam ambos os lados da rua.
Andreatta (op.cit.) ressalta que as idéias propostas pelo relatório marcariam uma
continuidade e uma regularidade na malha urbana colonial, entre os morros do Castelo e da
Conceição, e que o Campo de Santana atuaria como uma rótula entre a cidade velha e a
Cidade Nova que se consolidava, apresentando-se como elemento central de conexão entre os
morros do Senado e da Providência, resgatando em parte a anterior proposta de Montigny
para a criação de um Fórum na localidade. Nesse ponto, acredita-se que o relatório ratificava
56
“Não se pode categorizar Beaurepaire como um técnico plenamente integrado nessa renovação de idéias, o que resultaria
surpreendente num Brasil ainda fechado culturalmente ao exterior. Mas ele age com as mesmas preocupações dos técnicos da
ilustração pelas estradas que dariam unidade ao país, pelos descobrimentos geográficos e pela cartografia. É também evidente
a influência de seus professores franceses nas novas preocupações a respeito da drenagem e da pavimentação, com técnicas
ensaiadas na construção de bulevares depois da derrubada das muralhas de Paris” (ANDREATTA, 2006, p.54).
140
o papel do campo como a praça principal que reunia edifícios públicos e administrativos e que
representaria o elo de ligação entre a antiga e a nova cidade do Rio de Janeiro.
braças de testada, dotados de sótãos e quintais para plantação e separados da rua por um beco
destinado à circulação de escravos e carroças. Portanto, as quadras seriam regulares e teriam
66 x 140 metros, sendo fracionadas por ruas secundárias, ou becos de serviço, conforme
acima descrito, e os terrenos continuariam estreitos e alongados, com medidas iguais a 6 x 30
braças.
Para ele, ordenar a cidade significa, por um lado, aplicar regras geométricas à planta
da cidade, à estrutura das suas ruas; e por outro, implantar de maneira correta os
elementos que formam a trama urbana, como mostram suas indicações sobre normas
de edificação e parcelamento, e as medidas propostas para a organização das ruas,
quadras e casas (ANDREATTA, 2006, p. 97).
uma nova etapa modernizadora na trajetória da capital durante o século XIX. Ou seja, o plano,
mesmo não sendo executado completamente por conta das dificuldades tecnológicas e
financeiras, abriria as portas para as propostas da Comissão de Melhoramentos da Cidade do
Rio de Janeiro, analisadas no próximo capítulo, e para o que seria mais tarde a Reforma
Urbana de Pereira Passos, na virada para o século XX. As idéias que não foram postas em
prática indicaram um novo caminho para a organização da estrutura da Cidade Nova, que
acabou refletindo na sua própria dinâmica fundiária, quer sejam nos quarteirões regulares, nos
lotes estreitos e alinhados, dispostos frontalmente às vias alargadas e mais retilíneas, ou na
centralidade do Campo de Santana.
CAPÍTULO 4
4.1 APRESENTAÇÃO
do barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza) que, ao retornar de uma estadia em Londres e
obter o respaldo do capital inglês, organizou o Banco Commercial (1851), a Companhia
Imperial de Navegação a Vapor (1852), a Estrada de Ferro Rio-Petrópolis (1852), a Sociedade
Mauá, Mac Gregor e Companhia (1854), a Sociedade de Gás (1854), a construção do Canal
do Mangue (1854), a compra da Sociedade da Estrada de Ferro Rio-São Paulo (1855), a
Companhia dos Bondes do Jardim Botânico (1862) e a Companhia do Telégrafo (1871).
Os dados dos arrolamentos da época mostram que a cidade passou a atrair cada vez
mais um grande número de trabalhadores livres, nacionais e estrangeiros, muito por conta dos
incentivos do governo imperial às atividades fabris, a partir da década de 40. Segundo Lobo
(1978), a estatística de 184959 relatava a presença de 266.466 habitantes no município60, entre
os quais, cerca de 58,5% eram livres e os restantes 41,5%, escravos. O recenseamento de
1872, considerado pela autora o mais seguro por conta da sua elaboração sistematizada e pela
perfeita compatibilidade de informações, indicou um aumento de 8.806 habitantes para o Rio
de Janeiro. Desse total, a porcentagem de escravos representava 17,80%, enquanto aquela de
livres correspondia a 82,20%. Nesse sentido, foi possível perceber um decréscimo da
população escrava a partir de meados dos oitocentos em função da proibição do tráfico
negreiro e dos investimentos no setor fabril. Os gráficos 01, 02 e 03 indicam a dinâmica
populacional equivalente aos dois arrolamentos citados.
59
O arrolamento de 1849 foi realizado sob a orientação do Ministro da Justiça e organizado por Haddock Lobo.
60
As estatísticas consideravam o município da Corte abrangendo as freguesias rurais e urbanas.
145
250000 150000
150000
200000
100000
100000
150000
100000 50000
50000
50000
0 0
0
1849 1872 1849 1872
1849 1872
Fonte: representação a partir de LOBO (1978). Fonte: representação a partir de LOBO (1978).
280000
275000
270000
265000
260000
1849 1872
4% Escrava
14% Escrava
estrangeira
brasileira
Em 25 / 01 / 1812 foi comprada por Francisco Xavier Pires a Joaquim Viegas a bela
chácara dos Coqueiros, em Catumbi, por 8:000$000. Anos depois foram retalhados
os terrenos dessa chácara para a abertura de ruas. Autorizada pelo Governo, abriu a
Câmara, em 1850, uma estrada de comunicação com o Rio Comprido e... em 1852,
começou a Câmara a mandar aterrar o mangue da Cidade Nova, entre o lugar
denominado aterrado e a Casa de Correção (rua Frei Caneca)... (NORONHA
SANTOS, 1965, p. 49).
61
Para que fossem realizadas as obras de aterro, em 1851 foi levantada a planta de todo o mangue.
62
Segundo Abreu (1997, p. 39), a freguesia de Santo Antônio, criada em 1854, “tinha jurisdição sobre parte da Lapa e sobre
os atuais bairros de Catumbi, Estácio e Santa Teresa, que só a partir da conclusão das obras de drenagem puderam ser
efetivamente ocupados, embora já fossem habitados desde o início do século, estando inclusive localizada aí a nova Casa de
Detenção, inaugurada em 1840 e no mesmo local até hoje”.
147
63
“Os escravos e as tinas que carregavam as matérias fecais e o lixo produzido pela população eram chamados à época de
tigres porque, algumas vezes, os barris transportados em suas cabeças rompiam-se e sujavam suas roupas, deixando-as com
manchas que a população julgava assemelharem-se às pintas da pele dos tigres” (M.AIZEN e PECHMAN, 1985, p. 38).
148
Fonte: <http://br.geocities.com/spacio7/rio-bus-01.htm>
Acesso em: 19 dez. 2006.
A partir de meados dos oitocentos, surgiram dois elementos decisivos para o processo
de circulação e expansão da cidade em direção a áreas esparsamente ocupadas, os trens e
bondes, controlados em grande parte pelo capital estrangeiro. Maurício de Abreu (1997)
ressalta que os bondes passaram a atender àquela parcela da população que procurava manter-
se próxima aos limites do núcleo urbano, enquanto os trens permitiram o acesso às regiões
mais longínquas, onde o custo de moradia era relativamente inferior àquele verificado nas
redondezas do centro. O autor ainda lembra que a implantação de linhas de bonde atraiu tanto
149
o capital internacional como o nacional, proveniente de parte dos lucros da produção cafeeira,
que passou a ser investido no mercado de imóveis naquelas áreas servidas por transporte.
O capital estrangeiro, por sua vez, teve condições de se multiplicar, pois controlava
as decisões sobre as áreas que seriam servidas por bondes, além de ser responsável
pela provisão de infra-estrutura urbana. Os dois, entretanto, nem sempre atuavam
separadamente, aliando seus esforços em muitas instâncias, quando esta associação
era desejada, ou mesmo inevitável, como no caso da criação de novos bairros
(M.ABREU, 1997, p.44).
Nos anos 50, surgiram os primeiros bondes à tração animal, mas somente em 1868 foi
liberada a concessão para o controle desse serviço a empresa norte-americana Botanical
Garden Railroad Company, que mais tarde seria chamada de Companhia Ferro Carril do
Jardim Botânico. Sua primeira linha serviu à freguesia da Glória, ocupada por classes
endinheiradas e posteriormente, estendeu-se até o Jardim Botânico, passando por Botafogo.
Essa companhia detinha o monopólio de atuação nas regiões mais aristocráticas da cidade,
enquanto outras empresas similares foram criadas com o intuito de atender as localidades
mais distantes – Gamboa, Santo Cristo, Caju, Saúde, Rio Comprido, Catumbi, o atual bairro
da Tijuca e São Cristóvão -, em direção ao oeste da cidade.
Quanto ao sistema de trens, em 1852 foi reiniciada uma antiga negociação para a
abertura do primeiro trecho de execução de uma estrada de ferro ligando a capital ao Vale do
Paraíba. Inaugurada em 1858, correspondia ao percurso entre a Corte e Queimados, cuja
estação central erguera-se no terreno da antiga capela de Santana. Batizada de Estrada de
Ferro Dom Pedro II – Central do Brasil, somente em 1861 foram inaugurados os serviços
regulares de transporte de passageiros ao longo do trajeto da ferrovia. Rocha (1986) afirma
que o objetivo da estrada de ferro era servir ao hinterland do Rio de Janeiro, ou seja, permitir
o escoamento da produção do Vale do Paraíba para o porto da capital, para a exportação e
importação. Em 1865, foi dissolvida a Companhia da Estrada de Ferro Dom Pedro II, a
ferrovia ficou sob a direção do governo e Christiano Benedicto Ottoni, ex-presidente da
extinta empresa, assumiu o cargo de diretor.
150
Fonte: DAVID, Eduardo Gonçalves. A Ferrovia e Sua História: Estrada de Ferro Central do Brasil. Rio
de Janeiro: Coleção Aenfer, 1998.
Naquela época, havia um total de cinco estações distribuídas ao longo das freguesias
de Santana, Engenho Velho, São Cristóvão, Inhaúma e Irajá. Nesse contexto, grande
importância teve a estação central, localizada numa das faces do Campo de Santana que,
como o próprio nome diz, funcionava como pólo distribuidor para a o núcleo da Corte, para o
centro da capital. Ressalte-se que, nas últimas décadas do século XIX, essa estação assumiu o
papel de receptora de significativa parcela da população que saíra das áreas do interior do
Estado, em virtude da queda da produção cafeeira e da liberação de mão-de-obra. Tornou-se a
porta de entrada da massa de trabalhadores que procurava estabelecer-se próxima às
oportunidades do centro da cidade e que acabou instalando-se nas insalubres moradias da
Cidade Nova.
Em meados do século XIX, a Cidade Nova já apresentava uma malha viária mais
retilínea e definida, cuja estrutura refletia-se na configuração de quarteirões menores e
regulares dispostos entre ruas que pareciam formar um tecido em quadrícula. As mudanças
verificadas na passagem da década de 40 para a de 50 espelharam a possível ressonância
naquele espaço, das concepções difundidas pelo Relatório de Beaurepaire. Há de se
151
considerar que grande parte das propostas daquela época não foi implementada, mas algumas
acabaram apontando as tendências para um novo olhar urbano na capital imperial.
Foram abertas as ruas de São Leopoldo e da Alcântara entre as já existentes ruas das
Flores e do Bom Jardim, que se prolongara até a Nova do Conde. Paralela às antigas travessas
da Saudade, dos Ferreiras e do Gás, foi executada a rua do Porto, que partia do Aterrado e
cortava a rua de São Diogo e o seu antigo trecho, próximo à Estrada de Ferro. O Rocio
Pequeno, que desde o final da guerra do Paraguai passou a ser conhecido como a Praça Onze
de Junho64, em homenagem ao dia da Batalha do Riachuelo, passou a ser delimitado pela
recém criada rua de Santa Rosa e pelas já existentes ruas das Flores, de São Pedro da Cidade
Nova e do Sabão da Cidade Nova.
Em abril de 1854, uma nova postura foi lançada pela Câmara com o intuito de regular
o arruamento nas freguesias de Santana, Engenho Velho, Glória e Lagoa.
Interessante é notar que, em 1857, a Câmara designou uma comissão para efetuar um
estudo de arruamento para a Cidade Nova. Foi elaborado um edital para a concorrência que
englobava os brasileiros Ignácio da Cunha Galvão e Manoel da Silva Machado e estrangeiros,
entre eles os ingleses Ikncat e Guity, o francês René Leroyer e o espanhol Garcia de La Vega.
O presidente da comissão, engenheiro Manoel da Cunha Galvão, que também exercia o cargo
de diretor das obras municipais, apresentou em julho de 1858 um relatório acompanhado dos
64
Em 1846 a praça sofreu melhorias em prol do seu embelezamento, com a colocação de um chafariz desenhado por
Montigny e a plantação de casuarinas.
152
desenhos que constavam dos novos planos para a área. O projeto vencedor, de Ignácio da
Cunha Galvão, por motivos de ordem econômica, nunca foi implementado65.
O mapa 20 mostra a configuração das ruas da Cidade Nova durante os anos 60.
65
Informações obtidas em GONÇALVES, Aureliano R. Extractos de manuscriptos sobre aforamentos 1925, 1926 – 1929.
Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. (Coleção Memória do Rio 2).
153
Se a primeira metade do século XIX foi marcada pela criação e formação da Cidade
Nova, com a aristocracia distribuída pelas grandes chácaras e terrenos parcialmente aterrados,
indicando uma baixa concentração populacional, em contraposição à já crescente densidade
no centro colonial, a virada para os anos 50 indicou uma transformação na forma de
apropriação daquele solo ainda pouco urbanizado. Ou seja, se as áreas pantanosas a oeste do
Campo de Santana, desde o início do século, representaram um obstáculo a ser vencido para a
155
permanência de uma elite que precisava manter-se afastada do centro da cidade, a partir de
1850 tornaram-se os limites mais próximos do mercado que crescia e não conseguia absorver
toda a mão-de-obra disponível na capital imperial.
3% Lagoa
8% Engenho
Velho 26% Sacramento
16% Santana
5% Lagoa
10% Engenho 21% Sacramento
Velho
7% Lagoa 9% Candelária
15% Engenho
Velho 13% São José
11% Santo
Antônio
18% Santa Rita Fonte: representação a partir de
IBGE. Recenseamento da
população do Município Neutro
17% Santana de 1872. Disponível em:
10% Glória
<http://biblioteca.ibge.gov.br>.
Acesso em: 18 dez. 2006.
4.2.5 O Rio e a Cidade Nova à luz da Medicina Social: as ações da Junta de Higiene
Em 1855, o fiscal da freguesia de Santa Rita, por conta da recente epidemia de cólera-
morbo na cidade e da proliferação dos cortiços, apresentou à Câmara um projeto de postura
com normas destinadas a preservar a salubridade, a moralidade pública e a faculdade de
existência dos pobres. De acordo com Benchimol (op.cit.), exigiu-se que os proprietários dos
cortiços cumprissem as determinações da Junta de Higiene, como a proibição da coabitação
com animais e carroças e a limpeza constante das moradias, cloacas e depósitos, para o
recolhimento do lixo e escoamento das águas servidas66. Interessante é notar que além dessas
medidas emergenciais, as posturas exprimiam o desejo de manter uma ordem pública,
exigindo a instalação de portões de ferro para regular a entrada e saída dos moradores, bem
como a emissão de licença da Câmara e da Junta para a construção de novos cortiços.
Os aluguéis de casas nesta cidade são de tal modo exagerados, que a classe do povo
menos favorecida de fortuna não pode suportá-los, sendo por isso obrigada a tomar
aposento nessas casas, que por aqui existem e a que se dão muito apropriadamente a
denominação de cortiços. Essas casas porém são construídas extravagantemente,
sem observância dos preceitos higiênicos, tendo-se apenas em vista o maior número
possível de aposentos, a fim de produzirem maior renda ao proprietário. Os sérios e
gravíssimos inconvenientes que dali resultam à saúde pública são infelizmente por
demais conhecidos, observando-se dar-se nesses cortiços excessiva mortalidade,
sempre por febres e tísica, o que é devido à umidade, que neles reina, e à falta de ar
puro para se respirar. Enquanto o Governo Imperial a quem incumbe providenciar
sobre o bem-estar do povo, não delibera acerca da incorporação de companhias, que
a se tornem, mediante adiantamento pecuniário por prazo razoável, e concessão de
isenção de impostos por tempo certo, a edificação de habitações cômodas para o
povo, com aluguel fixo, parece-me a propósito ponderar à Vossa Excelência a
conveniência de ser autorizada a Ilma Câmara Municipal a fazer, por sua conta tais
habitações, que seriam alugadas aos artistas e pessoas pobres por garantia módica.
Deste modo, além de estabelecer à Ilma Câmara Municipal uma renda segura,
66
Uma das sugestões do fiscal foi o fornecimento, pela Câmara, de vasilhames específicos para o recolhimento das águas
servidas e dos resíduos sólidos, bem como a sua remoção para os locais apropriados.
160
contribuiria, e é esse o fim principal, para melhorar a sorte do povo, que já não pode
pagar o aluguel das espeluncas em que vegetam, dos imundos cortiços, e concorreria
eficazmente para garantir a salubridade pública, que de dia a dia vai piorando
(Documento da Secretaria de Polícia da Corte, 1860, in AGCRJ, seção de
manuscritos, códice 41-3-36).
67
Dados obtidos em: BRASIL. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império do ano
de 1872. Ministro (João Alfredo Correia de Oliveira). Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1873. p. 14-15.
161
Aclamação, cujo objetivo principal era conferir àquela área da cidade um ar mais salubre e
proporcionar um clima mais cálido.
8% Santa Rita
7% Lagoa
23% Santana
7% Engenho Velho
17% Glória
Fonte: Adaptação de - Brasil. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império,
apresentados à Assemblea Geral da 1º Sessão da 14º Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império.
Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1869. Apud LOBO (1978).
Os aforamentos na década de 50
Entre 1852 e 1853, foram cedidos ao industrial68 Irineu Evangelista de Souza (barão
de Mauá), os aforamentos de terrenos anteriormente de José de Oliveira Fernandes, nº 58,
com cinco casas térreas e 58 braças que se estendiam até a rua de São Diogo e, de Francisco
José de Assis, nº 60, com seis braças de frente. Obtida a concessão, em 1851, para executar os
serviços de iluminação pública da cidade do Rio de Janeiro, Mauá, em 1854, criou a
Companhia de Iluminação a Gás naqueles terrenos, entre a rua do Aterrado, de São Diogo, a
travessa do Gás e a rua do Porto. O contrato determinava a construção da fábrica de gás
próxima ao centro e a instalação de canalizações em perímetros determinados, o que mudaria
radicalmente os hábitos e costumes da população da época. Três anos mais tarde, a
Companhia já iluminava a cidade através de 3.027 lampiões públicos, 3.200 residências e três
teatros.
Em 1855, Barros & Irmão obtiveram o aforamento do terreno nº 38, de três braças de
frente e 16 de fundos, cujo foreiro na década de 40 era José Antunes Baptista. Nesse mesmo
ano, foi solicitado o Termo de medição e avaliação de um terreno de marinha, com quatro
braças e oito palmos de frente e 18 de fundos, ocupado por um prédio pertencente a Francisco
Gonçalves de Moura. Esse terreno confrontava com as terras de Francisco José da Costa e
Silva, Manoel Teixeira da Motta e com o Aterrado.
68
Irineu Evangelista de Souza iniciou seus negócios em 1846, com a montagem de uma fábrica em Niterói. Empregava mais
de mil operários que produziam navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, armas e
tubos para encanamentos de água.
164
A rua Nova do Conde, segundo os registros apontados para a década de 50, obteve
um aumento da ordem de 39,3% do número de terrenos se comparado aos anos 40. Surgiram
39 novos foreiros e já era possível verificar a presença de imóveis isolados e próximos a Casa
de Correção, no sentido do antigo Barro Vermelho. Um exemplo era o terreno nº 196, com
cerca de 34 braças de frente e 25 de fundos, que estava sob a posse do industrial e deputado
Theophilo Benedicto Ottoni. Havia também os imóveis do conde de Paraty e do senador
Bernardo de Vasconcellos que, desde a década de 30, estendiam-se do número 114 ao 122,
pelo lado par da rua Nova do Conde e com fundos para as terras ainda alagadiças alimentadas
pelos filetes de água vindos do antigo Saco de São Diogo.
No lado ímpar da rua, destacavam-se os terrenos de Matheus José Nunes, que seguiam
do número 97 ao 103, no quarteirão entre a rua Formosa e a das Flores e com fundos para o
morro do Senado. Havia ainda a ilustre presença do vereador Francisco de Paula Mattos69
com os terrenos nº 111 ao 121, que seriam aforados na mesma década a Antônia Maria da
Encarnação, Maria Luiza da Conceição e Isaias José Cavalcante.
Vale destacar também, João Manoel Barbosa de Barros, com a posse de quatro
imóveis localizados no trecho compreendido entre as ruas Formosa e do Areal e o barão de
Bagé (brigadeiro Paulo José da Silva) que aforava um terreno próximo ao Campo de
Aclamação.
69
Em homenagem ao vereador foi aberta a rua de Paula Mattos, que seguia da Nova do Conde em direção ao Catumbi.
165
terras eram fruto da herança de Maria Arcângela de Macedo e pertenciam à antiga Chácara da
Lagoa da Sentinela, conforme visto.
A rua Formosa, como apontam os dados levantados para a década de 50, registrou
um aumento de 18,75% na sua quantidade de imóveis, ou seja, dos 32 terrenos distribuídos
nos anos 40 surgiram apenas seis a partir de 1850. A maior concentração localizava-se nos
trechos próximos à rua do Areal e a Nova do Conde.
A rua de São Diogo dispunha de cerca de 87 terrenos durante a década de 50, ou seja,
houve um crescimento significativo na quantidade de imóveis, que atingiu a marca de 124%,
em relação aos anos 40. Ressalte-se também o aparecimento de novos foreiros, cerca de 113,
número bastante superior àquele verificado anteriormente.
Em 1853, foi demolida a antiga igreja de Santana, situada atrás do campo, para a
formação do largo frontal ao edifício que estava sendo construído para abrigar a Estação
70
Pedro Fortes Marcondes Jobim foi um dos fundadores da Conferência de São José - primeira unidade vicentina fundada em
território brasileiro, no Rio de Janeiro, em 04 de agosto de 1872 - que daria início à Sociedade de São Vicente de Paulo.
166
Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II. A chácara com casa nº 66K, com 140 braças,
pertencente a Antonio Fernandes Pereira Vianna, remanescente da antiga Chácara de São
Diogo, foi vendida a Eduardo Price, que na mesma década a vendeu à Companhia da Estrada
de Ferro. Vale lembrar que outros terrenos da Estrada de Ferro, na área compreendida pelas
ruas de Santana, São Diogo e do Príncipe, eram fruto do desmembramento de duas chácaras
que tinham pertencido a Manoel José da Costa, no início dos oitocentos.
Durante os anos 50, José de Oliveira Fernandes, antigo administrador das terras de
Polucena Luiza de Britto, continuava destacando-se como o grande proprietário da Cidade
Nova, com um total de 11 imóveis aforados a diversos nessa mesma década. Os documentos
ainda apontavam para a existência de figuras conhecidas da época, como o conselheiro José
Martins da Cruz Jobim, que detinha a posse de três terrenos, sendo um deles o nº 120, com
moradas de casas; o capitão Hilário Mariano da Silva, com uma propriedade de 12 braças de
frente e 19 de fundos; o Dr. Pedro Fortes Marcondes Jobim, com terreno de quatro braças de
frente e 30 de fundo; Christiano Benedicto Ottoni, com o domínio útil da citada casa com três
braças; Antonio de Oliveira Fernandes, com um total de sete terrenos com várias casinhas; e o
próprio barão de Mauá, com suas terras que se voltavam para a rua de São Diogo e para a do
Aterrado, conforme visto.
O mapa 22 mostra de forma esquemática a estrutura das terras da Cidade Nova durante
a década de 50 do século XIX e a localização do ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil,
que partia do início da rua de São Diogo e seguia em direção a São Cristóvão. Ressalte-se que
167
os prédios e casas existentes, durante os anos 40, no quarteirão da Estação Central foram
demolidos e seus terrenos incorporados aos bens da Companhia.
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas).
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
Os aforamentos na década de 60
Entre os principais foreiros destacavam-se o Dr. Pedro Fortes Marcondes Jobim, com
os terrenos nº 79 e 81; José Joaquim Ferreira da Lima e Silva, com dois terrenos de 22 braças,
comprados de José Carlos Mayrinck e da Companhia de Iluminação a Gás; Francisco Gê
Acaiaba de Montezuma (visconde de Jequitinhonha)71, com os nº 36, 38, 40, 46 e 50 e os
terrenos nº 44 e 48 que pertenceram a Polucena Luiza de Britto; André Cordeiro de Araújo
Lima, com quatro terrenos com casas térreas edificadas; Augusto Monteiro Vieira, com três
casas térreas contíguas; Pedro Bonifácio Gomes Ferreira, também com três casas térreas
contíguas; Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos, com três sobrados e uma casa térrea contígua;
João Machado da Costa, com a posse de três casas térreas e um sobrado; Pio Antônio de
Souza, com duas casas térreas e um sobrado.
A Santa Casa de Misericórdia também aparecia como uma das grandes proprietárias
naquela localidade, com a posse de 14 terrenos ímpares contíguos, que se estendiam do nº 1
ao 27, entre os quais cinco possuíam casas térreas e o restante, sobrados. A Companhia do
Gás tinha o domínio dos terrenos pares compreendidos no quarteirão ao lado da rua do Porto,
do nº 64 ao 78, nos quais estavam edificados sobrados. Antônio de Oliveira Fernandes
destacava-se como o maior detentor de terras na rua do Aterrado, com 21 terrenos pares
contíguos, localizados nas proximidades da Ponte dos Marinheiros, entre os quais apenas um
abrigava sobrado.
O terreno com casa térrea nº 31, que pertencera a Campos e Oliveira, foi subaforado a
Francisco Domingues dos Santos - a quarta parte com quatro quartos - e, ainda nesta década, a
Agostinho Ribeiro Pinheiro, diante das mesmas condições. Um dos terrenos de Antônio de
Oliveira Fernandes também foi subaforado, a Manoel Francisco Pimentel, a Antonio José
Teixeira Bessa e a Gregório Vidal. Constituía-se naquele período, uma dinâmica de
parcelamento e subaforamento que impulsionava a formação de habitações reduzidas e típicas
das classes menos abastadas da sociedade carioca da época. Vale lembrar que, desde 1855, a
Câmara Municipal instituíra uma postura que estabelecia a proibição para a construção de
novos cortiços sem licença, para que fossem resguardadas as condições higiênicas das
moradias, conforme as normas da Junta de Higiene Pública. De qualquer maneira a
construção e a adaptação para esse tipo habitacional não cessava de crescer na Cidade Nova,
nas suas principais ruas.
71
Francisco Gomes Brandão nasceu na Bahia em 1794 e faleceu no Rio de Janeiro em 1870. Na época da Independência
adotou o nome de Francisco Gê Acaiaba de Montezuma, recebendo em 1834 o título de visconde de Jequitinhonha.
169
Em 1860, foi feita uma escritura pública de cessão de traspasse de direito do terreno,
com 43 braças de frente, situado entre as ruas do Senado e Nova do Conde, pertencente a
Thomaz Antonio de Araújo Lobo, que obtivera a carta de aforamento do mesmo na década
anterior, para a Imperial Companhia Chimica. A carta de aforamento do imóvel apenas
passaria à Companhia na década de 80.
Entre os principais proprietários dos anos 60, destacavam-se Luiz Alves de Lima e
Silva (duque de Caxias)73 com a posse de quatro imóveis térreos no lado ímpar da rua, voltado
para o morro do Senado; a família Soares de Miranda, com sete casas térreas contíguas,
também no lado ímpar, no quarteirão próximo ao campo; João Bernardes e seus quatro
imóveis contíguos, sendo um deles, o de nº 85A, estalagem com 17 quartos; Maria do Carmo
Rodrigues Fortes, com quatro sobrados contíguos; Antônio e Francisco Bento Gonçalves, que
juntos eram foreiros de quatro casas térreas; José Bernardino Teixeira, com a posse de seis
casas térreas e um sobrado contíguos; Carlos Fleiuss e suas oito casas térreas, no lado ímpar
próximas à rua do Bom Jardim; Fernando de Castiço, com quatro casas térreas; o conselheiro
Zacarias de Góes e Vasconcellos e seus três sobrados, vizinhos à Casa de Correção; José
Antonio Lopes de Couto e suas cinco casas térreas; Manoel Pereira de Souza Barros, com seis
terrenos, sendo três deles edificados com casas térreas; Joaquim Pinto Leite e seus sete
terrenos pares contíguos e com sobrados edificados; José Bernardo de Macedo Alves, com
quatro casas térreas; João José dos Reis e seus dois sobrados e três casas térreas; e José
72
Eduardo Laemmert chegou ao Rio de Janeiro em 1828, vindo de Paris. Fundou na capital da Corte a Livraria Universal e
cinco anos mais tarde, em sociedade com seu irmão Henrique formou a firma E.& H. Laemmert, com sede na rua da
Quitanda, n° 77. Em 1833 lançou o primeiro Almanak Laemmert, que se tornou instrumento de consulta para o conhecimento
do passado comercial, financeiro e social brasileiro do século XIX e início do XX.
73
Em 1862, Luiz Alves de Lima e Silva foi graduado Marechal-do-Exército. Em 1863 assumiu a função de senador e em
1869, teve seu título nobiliárquico elevado a Duque, mercê de seus relevantes serviços prestados na guerra contra o Paraguai.
170
Leandro de Souza, com quatro casas térreas e apenas um sobrado; Francisca Eliza de Azevedo
e a posse de quatro casas contíguas;
Vale lembrar também a Santa Casa de Misericórdia que, além dos imóveis na rua do
Aterrado, possuía os de nº 71 e 73 na Nova do Conde; Mauá Mac Gregor & Cia, que possuía
o imóvel nº 83, no qual funcionava uma fábrica de cerveja; Antonio Pereira de Souza Barros
(futuro barão do Engenho Novo)74, que possuía 20 terrenos, entre os quais, 17 tinham
edificadas casas térreas e apenas três, sobrados; a família Freitas Paiva e seus cinco sobrados
e 13 casas térreas próximas à rua do Bom Jardim; a família Almeida Brito e suas seis casas
térreas; e o visconde de Piracinunga, com três casas térreas para os lados da Casa de
Correção.
Os imóveis nº 236A e 229 eram Próprios Nacionais, sendo o primeiro uma das caixas
d’água da cidade e suas dependências e, o segundo a Casa de Correção.
74
Antonio Pereira de Souza Barros foi agraciado com título de barão por decreto de 04.10.1876.
171
três casas térreas não contíguas; Francisco Antonio Ferreira e seus três terrenos com casas;
Manoel José Pinto Guimarães, também com três casas térreas; Domingos de Siqueira Vianna,
com quatro terrenos além da rua de São Diogo; Domingos José Dias Braga e suas três casas
térreas nesse mesmo quarteirão; Dr. Francisco Leocádio de Figueiredo, foreiro desde a década
de 30 e com um total de nove terrenos, dentre os quais apenas dois possuem sobrados; João
Lopes Ferreira Cabral e João Bernardes, cada um com 13 casas contíguas; Joaquim Nogueira
Guedes e seus quatro terrenos edificados e contíguos, no quarteirão entre as ruas do Areal e
do Sabão da Cidade Nova; Rita de Carvalho Moraes, com quatro imóveis, dentre eles apenas
um sobrado, com quartos para alugar; Anna Michaela de Vasconcellos Tavares e suas dez
casas térreas contíguas; e a família Pinto Filgueiras, com a posse de oito imóveis térreos.
Nos anos 60, pode-se dizer que grande parte dos terrenos, cerca de 27 casas térreas,
estava sob a posse da importante família Souza Barros, de origem portuguesa e cujo principal
membro foi o barão do Engenho Novo, encontrando-se no quarteirão entre a as ruas Formosa
e Nova do Conde. Havia ainda as cinco casas térreas contíguas de Emília Julieta de Araújo –
foreira também de imóveis na rua Formosa -, nesse mesmo quarteirão; os três imóveis de José
Antonio Fernandes de Lima, entre eles dois sobrados e, os 11 terrenos de Manoel Ferreira dos
Santos Porto, cuja maioria eram os fundos de prédios da rua Formosa.
A rua de São Diogo, para os anos 60, tinha o registro de apenas 62 imóveis no
AGCRJ, contrastando com as informações de Cavalcanti (op.cit.), que indicavam um total de
254 e traduziam com maior fidelidade a dinâmica fundiária local.
De forma semelhante ao ocorrido nas ruas do Aterrado e Nova do Conde, era possível
destacar uma grande quantidade de proprietários de dois ou mais imóveis, dentre eles José
172
Joaquim Machado, com três casas térreas e um sobrado; José Romão Paes e seus três
sobrados contíguos; Francisco José Gonçalves da Silva,com a posse de quatro casas; Carlos
Wallega, com cinco casas térreas; Thereza Maria de Oliveira Duarte e suas edificações
térreas, sendo uma delas formada por dois telheiros e cinco quartos nas proximidades da
Estação Central da Companhia Ferro Carril Fluminense; Maria Thereza e Augusto Daveau e
seus quatro imóveis térreos; a família Pinto Filgueiras – também proprietária de terrenos na
rua Formosa -, com a posse de seis imóveis térreos; José Carneiro Dias Guimarães e suas sete
casas térreas contíguas e situadas no lado ímpar da rua nas proximidades da Companhia de
Gás; Manoel Borges Monteiro de Miranda e suas três casas térreas, tendo uma delas 32
quartos; o antigo foreiro Antônio de Oliveira Fernandes, que ainda detinha o domínio de dez
terrenos com casas térreas edificadas; o conselheiro e português Leonardo Caetano de Araújo,
com dez casas térreas contíguas, para os lados da Ponte dos Marinheiros; Antônio Ribeiro da
Cunha e suas duas casas e um sobrado; Felicidade Perpétua de Jesus, antiga foreira, com seus
seis terrenos que nos anos seguintes passariam a ser numerados pela travessa de Dona
Felicidade; José P. de Siqueira e suas quatro casas contíguas; José de Oliveira Fernandes, que
ainda tinha a posse de três casas e um sobrado, vizinhos aos terrenos de Antonio de Oliveira
Fernandes; Felipe Francisco de Lima, com três casas – uma delas com 14 quartos nos fundos -
e um sobrado; Dr. José Martins da Cruz Jobim, com três casas – 18 quartos no fundo do
terreno - e um sobrado; Manoel Rodrigues Ventura, também com três casas e um sobrado;
Antônio Gonçalves da Silva e suas quatro casas térreas contíguas; Manoel Braz da Cunha,
com a posse de três imóveis térreos; Antonio José da Costa e Silva e suas quatro casas e um
sobrado; Antonio Manoel de Menezes e suas sete casas térreas; e Belarmino de Sá Carvalho e
João Baptista Coelho, cada um com três imóveis térreos.
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em
História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP). Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de
Janeiro entre 1870 e 1930. Relatório final encaminhado em 2005. In: http://www.unicamp.br/cecult/mapastematicos/index.html. Acesso
em 01 fev. 2007.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
A rua do Aterrado, desde 1869, foi denominada Senador Eusébio, cujo nome
estendera-se, em junho de 1874, ao seu prolongamento, a rua de São Pedro da Cidade Nova.
Portanto, o eixo que seguia do Campo de Santana até a Ponte dos Marinheiros passou a ser
conhecido como rua Senador Eusébio e seus imóveis receberam nova numeração.
Pode-se dizer que ela teve seu ponto máximo de crescimento durante a década de 60, e que os
anos seguintes apenas ratificaram a consolidação de uma nova forma de apropriação daquele
território. A partir de 1870, toda a sua extensão já se apresentava densamente ocupada75.
75
A rua do Aterrado não dispunha de numeração ímpar por conta da construção do Canal do Mangue em um de seus lados,
até os limites da Praça Onze de Junho. Apenas a rua de São Pedro da Cidade Nova apresentava ambos os lados ocupados e
numerados em par e ímpar.
175
Antônio José Gonçalves, cada uma com 23 quartos; e as de José Joaquim de Almeida e João
Francisco da Silva Guetim, cada uma com 14 quartos.
A rua do Conde D’Eu, de acordo com a relação da nova numeração dos prédios da
cidade para a década de 70, apresentava 329 imóveis. Ressalte-se que surgiram 13 novos
imóveis e a ocupação dos terrenos livres já atingira seu ápice, e o que se percebia era o
fracionamento daqueles existentes, impulsionando cada vez mais o processo de arrendamento
e subaforamento de cômodos e partes de imóveis, que acabavam transformando-se em
habitações coletivas. Era o caso da estalagem nº 136, de Francisca Rita Malta Costa, em que
eram alugados quartos a diferentes famílias. Outro exemplo foi o traslado de escritura de
venda de parte das casas e chácara, sob o nº 212, efetuada por Henrique José de Araújo e
outros ao barão de Piracinunga, em 1873. Pode-se dizer que essa dinâmica, naquele período,
repetira-se para a Cidade Nova como um todo, em cujo território já se registrava uma grande
densidade populacional.
Vale dizer que, de acordo com os documentos pesquisados no Arquivo Nacional, para
os anos 70 havia vários registros de processos relativos às disputas territoriais em função dos
antigos problemas de demarcação dos limites de propriedades na Cidade Nova. Como
exemplo, em 1875, a Imperial Companhia Chimica, cessionária e procuradora em causa
própria de Thomaz Antonio de Araújo Lobo e seus filhos, desde 1860, entrou com um pedido
de embargo de obras que estavam sendo realizadas por José Manoel Cabral de Menezes em
seu terreno de 43 braças. Menezes argumentava que essas obras estavam sendo realizadas na
porção relativa à herança de Beralda Victoria Horta Forjas Pereira - relativa à antiga Chácara
da lagoa da Sentinela -, que a ele foi aforada, mas a companhia alegou que esses chãos
pertenceram à outra parcela da chácara, pertencente à Maria Arcângela de Macedo.
Dentre os maiores proprietários havia o duque de Caxias e suas quatro casas térreas
situadas próximas ao campo, aforadas desde os anos anteriores; a família Soares de Miranda,
que durante a década de 60 possuía sete imóveis, dos quais dois foram demolidos; José
Bernardino Teixeira e suas oito propriedades, sendo uma delas sobrado; Carlos Fleiuss com a
posse de oito imóveis térreos; José Antonio Lopes do Couto e suas cinco casas térreas; o
barão do Engenho Novo e seus 20 imóveis, sendo 17 térreos, um com 12 quartos; Joaquim
Pinto leite e seus cinco sobrados, um deles com 26 quartos em duas cocheiras; Martinho de
Freitas Paiva, com a posse de 12 térreos, um deles uma venda e uma marcenaria; João José
dos Reis, com seus dois sobrados e três térreos; e José Leandro de Souza e seus cinco térreos,
um deles com 18 quartos, outro com 13 e um com venda, além de um sobrado.
176
A antiga foreira família Almeida Brito teve seis imóveis demolidos, restando apenas
um, o de nº 324, onde funcionava um chalet térreo. Outras propriedades foram demolidas,
como as casas de Antonio Pereira Passos e Antonio José da Cruz e as de nº 49 e 51. Havia
ainda aqueles imóveis que passaram a receber a numeração de outras ruas limites, como os
números 87 e 89, numerados pela rua General Caldwell; o nº 107 pela rua do Riachuelo; o nº
92 pela rua das Flores; e o nº 172 pela rua de Visconde de Sapucahy (antiga do Bom Jardim).
A rua General Caldwell – antiga Formosa - pela nova numeração dos prédios do
Rio, dispunha, nos anos 70, de um total de 230 imóveis, representando um crescimento de
apenas 1,7%, em relação à década anterior.
Entre os principais donos de terreno figuravam ainda a família Souza Barros, com suas
27 casas térreas edificadas, e Emilia Julieta de Araújo, com seus cinco térreos. Os imóveis
com apenas um pavimento e subdivididos em cômodos para diferentes famílias estavam
representados pelo nº 21 de Joaquim Antonio Gonçalves Bastos, com 33 quartos e os nº 20,
22 2 24 com um total de 46 quartos, cujo proprietário era desconhecido. Havia ainda duas
178
A rua de São Diogo, em sessão de janeiro de 1870, recebeu o nome de General Pedra,
em homenagem à atuação do dito general na guerra contra o Paraguai. De acordo com a nova
numeração dos prédios da cidade, apresentava para os anos 70 cerca de 220 imóveis. Da
mesma maneira que a rua do Areal, a General Pedra apontava para um decréscimo de 12%
dos terrenos registrados em relação à década de 60. Porém, vale dizer que nove terrenos
sofreram remembramentos e houve a demolição de 27 imóveis, do nº 2 ao 56, por conta da
apropriação de toda a quadra próxima ao campo para a construção da Estação Central da
Estrada de Ferro Dom Pedro II, que sofrera intensa reforma em 1870. Portanto, pode-se
arriscar que a defasagem de imóveis dos anos 70 deu-se por conta desses acontecimentos.
AGCRJ, no terreno nº 104, com duas moradas de casa, de José Teixeira da Motta funcionava
uma estalagem e nos prédios ímpares nº 9 ao 17 funcionavam conhecidos cortiços da área, sob
a posse de João Antonio Candoza e Felippe Soares.
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em
História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP). Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de
Janeiro entre 1870 e 1930. Relatório final encaminhado em 2005.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
180
Os dados analisados e o seu mapeamento indicaram que, a partir dos anos 50, foram
realizadas melhorias na área e procurou-se sanear e aterrar os ainda restantes terrenos livres,
para facilitar a ocupação de toda a extensão das principais vias da Cidade Nova. Os
quarteirões no entorno do Campo de Santana já mostravam sinais de alta densidade
populacional, atingindo seu ponto máximo a partir dos anos 60, enquanto nas áreas mais
distantes e esparsamente ocupadas além da Praça Onze ainda eram permitidas atividades
menos nobres, conforme apontava a seguinte postura aprovada pela Câmara:
Figura 16 – Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II – meados do século XIX
Fonte:
<http://www.bricabrac.com.br/fset_rioantigo.htm>.
Acesso em: 27 abr. 2006.
181
O presente estudo indica que, naquele período, os grandes proprietários eram o próprio
barão de Mauá, o conde de Paraty, Francisco de Paula Mattos, o Dr. Francisco Leocádio de
Figueiredo, os irmãos José e Antonio de Oliveira Fernandes e a Companhia da Estrada de
Ferro Central do Brasil.
Para os anos 60, o mapa apresenta uma ocupação intensa nas principais ruas da área e
a presença de poucos terrenos livres, apenas na rua de São Diogo e em parte do Aterrado.
Vale dizer que os espaços vazios que aparecem na rua Formosa pertenciam aos imóveis cujas
frentes e numerações pertenciam à rua do Sabão.
A partir da análise dos dados e de seu mapeamento, pode-se dizer que a Cidade Nova,
entre 1870 e 1875, já se consolidava como o espaço destinado às classes mais populares, com
76
Em virtude das suas dificuldades financeiras, Mauá cedeu os seus direitos de exploração da Companhia de Iluminação a
Gás a uma empresa de capital britânico. A companhia passou a se chamar Rio de Janeiro Gás Company Limited. Segundo o
códice 9-1-9 da seção de manuscritos do AGCRJ, em 1871, a Câmara expediu uma licença para o gerente William Henrique
Holman relativo ao aproveitamento das águas do Canal do Mangue para a fábrica de gás, por meio do fechamento da represa
existente aquém da última ponte que comunicava o Aterrado com a rua Miguel de Frias.
182
Ao longo da rua General Caldwell existiam 230 imóveis, dentre os quais 33 eram
terrenos contendo apenas um sobrado em cada e seis continham dois sobrados edificados. As
outras 191 propriedades, que correspondiam a 83%, eram térreas. Nos dois primeiros
quarteirões, delimitados pela rua do Conde D’Eu e o antigo morro do Senado, havia 19 térreos
e seis edifícios assobradados. No trecho entre as ruas do Areal e do Conde D’Eu existiam 22
casas de um pavimento e apenas um sobrado. Nas duas quadras seguintes, a parcela mais
longa da rua, era possível verificar 78 casas térreas, o que representava aproximadamente
78% dos seus imóveis, em contraposição aos 21 assobradados. Interessante é notar que
somente o lado ímpar da rua General Caldwell, entre as do Sabão e Senador Eusébio,
dispunha de numeração e continha três térreos e um sobrado. Naquele que seria o lado par, os
imóveis estavam numerados de acordo com essas duas últimas ruas citadas. Entre as ruas
Senador Eusébio e General Pedra havia 21 casas térreas e 11 sobrados. O restante da rua, que
seguia para além da ferrovia, dispunha de 48 construções com apenas um pavimento e cinco
restantes assobradadas. Ressalte-se que na General Caldwell morou num palacete uma das
grandes figuras do império, o jurista e senador Vieira da Silva, que recebera o título
nobiliárquico de visconde em 5/01/1889.
Diferentemente das ruas Senador Eusébio e do Conde D’Eu, a General Caldwell não
dispunha de atividades fabris e apresentava apenas duas edificações caracteristicamente
comerciais. Além disso, havia a presença de aproximadamente dez habitações coletivas.
A rua do Areal apresentava um total de 67 imóveis distribuídos entre dez terrenos com
apenas um sobrado edificado em cada, três constando de dois sobrados em cada e 54 casas
térreas. Uma quantidade bastante inferior àquelas verificadas nas outras ruas analisadas. Era
no Areal que se concentravam os terrenos com maiores dimensões, como aqueles localizados
nas proximidades do Campo de Santana. Nesses dois quarteirões havia 19 casas térreas e 16
sobrados, um número bastante equilibrado se comparado com as quadras das outras ruas
estudadas. Ou seja, pode-se dizer que era nessa rua a maior concentração de edifícios
assobradados no entorno imediato do campo. No outro trecho, compreendido entre as ruas
General Caldwell e do Conde D’Eu, era possível notar a presença de 35 imóveis, todos
térreos, sendo que na menor quadra – triangular – havia apenas três. O restante estava voltado
para a rua General Caldwell.
184
Note-se que não havia a presença de tipos comerciais e as duas únicas fábricas
estavam situadas próximas às esquinas com a rua General Caldwell, da mesma maneira que as
quatro habitações coletivas existentes.
Dos 220 imóveis da rua General Pedra, havia 85% de casas térreas, correspondendo a
187 unidades, em contraposição aos 23 sobrados existentes. Na primeira quadra, próxima ao
Campo de Santana, estavam edificados 22 térreos e somente sete sobrados. Vale lembrar que
o lado par iniciava-se pelo nº 60, em virtude da demolição dos antigos imóveis situados no
quarteirão em que foi construída a Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II. O
trecho compreendido entre as ruas das Flores e General Caldwell possuía cerca de 14
edificações com um pavimento, sendo uma delas a estação central da Companhia Ferro Carril
Fluminense, e apenas um sobrado. O quarteirão seguinte, que ia até a rua de Santa Rosa,
dispunha de oito casas térreas e duas assobradadas. As outras duas quadras que se estendiam
até a Visconde de Sapucahy contavam com um total de 52 térreos e sete sobrados, e aquelas
delimitadas pela rua do Porto apresentavam 23 térreos e apenas um sobrado. O quarteirão
situado em frente à Companhia de Gás e o seguinte, que chegava até a rua de São João, juntos
continham 77 imóveis térreos e seis assobradados.
Vale dizer que na rua General Pedra estavam presentes cerca de 31 habitações
populares e coletivas, ratificando a afirmação de Gerson (op.cit.) sobre aquela ser uma típica
rua de cortiços. Aproximadamente cinco pontos de venda ali se localizavam, próximos à
Companhia de Gás e à estação central da Companhia Ferro Carril Fluminense, e uma fábrica
de sabão funcionava junto à rua Visconde de Sapucahy.
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em
História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP). Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de
Janeiro entre 1870 e 1930. Relatório final encaminhado em 2005.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em
História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP). Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de
Janeiro entre 1870 e 1930. Relatório final encaminhado em 2005.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1866.
A partir da segunda metade do século XIX, conforme visto, o Rio de Janeiro passou a
receber cada vez mais um número significativo de trabalhadores livres, sejam brasileiros ou
estrangeiros, incentivados pela atividade fabril que começava a tomar impulso na cidade. As
áreas periféricas ao centro, como a Cidade Nova, quando da abertura de vias e das obras de
aterro representaram novas perspectivas de moradia para as classes abastadas, tornaram-se a
solução para o recebimento do contingente populacional que aqui chegava. Naquele
187
momento, teria ênfase a expansão da cidade rumo às áreas ao sul, facilitada pelo
desenvolvimento dos meios de transporte, nos locais que serviam para abrigar as chácaras de
fim de semana, que se transformariam em zonas de residência permanente da sociedade
endinheirada.
77
Dados obtidos em: WANDERLEY, João Maurício. Proposta e relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretaria d’Estado dos Negócios da Fazenda. Tabella nº 68. Rio de Janeiro, 1857, p. s/n.
188
Fonte: RIO DE JANEIRO. Câmara Municipal da Corte. Relatório apresentado à Ilma. Câmara Municipal da Corte pelo presidente da mesma
Cândido Borges Monteiro, 7 de janeiro de 1853. Rio de Janeiro, Typ. do Correio Mercantil de Rodrigues, 1855. Apud: LOBO (1978).
Fonte: RIO DE JANEIRO. Câmara Municipal da Corte. Relatório apresentado à Ilma. Câmara Municipal da Corte pelo presidente da mesma
Cândido Borges Monteiro, 7 de janeiro de 1853. Rio de Janeiro, Typ. do Correio Mercantil de Rodrigues, 1855. Apud: LOBO (1978).
78
Dados obtidos em: IBGE. Recenseamento da população do Município Neutro de 1872. Disponível em:
<http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em: 18 dez. 2006.
189
São Cristóvão
3%
Engenho Velho
Lagoa
2%
Candelária 2%
Glória
3% 8%
Santana
25%
Santo Antônio
4%
Espírito Santo
4%
Sacramento
19%
Fonte: representação a partir de IBGE. Recenseamento da população do Município Neutro de 1872. Disponível
em: <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em: 18 dez. 2006.
fiscais da municipalidade – muito por conta das constantes epidemias de febre amarela,
varíola e cólera-morbos que assolaram a cidade no final dos oitocentos. Para essas
autoridades, a aglomeração de pessoas de baixa renda em habitações insalubres era uma
ameaça ao quadro da saúde pública na Corte. Portanto, combater os cortiços era um meio de
combater as epidemias e, sobretudo, controlar os seus habitantes através da diminuição das
aglomerações.
Ressalte-se que, além do problema da higiene, os habitantes dos cortiços eram vistos
como uma classe perigosa que, mergulhada num contexto de pobreza, sucumbia à
criminalidade que deveria ser punida pela polícia. No anexo, seguem dois processos criminais
sobre acontecimentos em cortiços na rua General Caldwell, divulgados no trabalho do grupo
de pesquisa do CECULT/IFCH/UNICAMP.
Portanto, o alvo da crise de moradias era a área central e seus núcleos mais próximos,
que já reproduziam uma ocupação cada vez mais desordenada, marcada pela coabitação
numerosa e cujos reflexos marcariam definitivamente suas estruturas urbanas. No início dos
191
anos 70, Santana era a freguesia urbana com o maior número de cortiços, dispondo de 154
unidades que continham 2.661 quartos e um total de 6.458 habitantes80. A população residente
dividia-se entre militares, comerciantes e aqueles empregados em serviços domésticos,
manufaturas e ofícios, e de profissão desconhecida, entre outros. A tabela 03 apresenta um
comparativo entre a quantidade de cortiços nas paróquias urbanas, a partir de 1868. A tabela
04 dispõe do perfil ocupacional dos habitantes de Santana, em 1870.
Fonte: Brasil. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império, apresentado à Assembléia Geral da 1º
Sessão da 14º Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1869. Apud:
LOBO (1978).
Condição
Profissões Livres Escravos Total
Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total geral
Eclesiásticos 22 - 22 - - - 22
Militares 1284 - 1284 - - - 1284
Empregados públicos 684 - 684 - - - 684
Profissão literária 332 29 361 - - - 361
Comerciantes 1948 196 2144 - - - 2144
Capitalistas 11 11 22 - - - 22
Proprietários 100 90 190 - - - 190
80
Dados obtidos em: Brasil. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império,
apresentado à Assembléia Geral da 1º Sessão da 14º Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do
Império. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1869. Apud: LOBO (1978).
192
Lavradores 21 3 24 1 3 4 28
Pescadores 86 - 86 12 - 12 98
Marítimos 87 - 87 - - - 87
81
Manufaturas e ofícios 5488 675 6163 398 50 448 6611
Agências 211 13 224 - - - 224
Serviço doméstico 230 3898 4128 861 1615 2476 6604
Profissão desconhecida 5297 7239 12536 969 822 1791 14327
Fonte: Brasil. Ministério dos Negócios do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império, apresentado à Assembléia Geral da 2º
e 3º Sessão da 14º Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1870/71.
Apud: LOBO (1978).
81
Vale ressaltar que o total de profissionais ligados às manufaturas e ofícios não corresponde ao total de operários
contabilizados pelo Recenseamento da população do Município Neutro de 1872. As fontes diferentes apresentam também
números distintos, mesmo pertencendo ao mesmo período de divulgação.
82
O relatório da Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro, em 1875, também se tornara conhecido como o
Plano dos Engenheiros, por conta da sua equipe formada pelos jovens engenheiros Jerônimo Rodrigues de Moraes Jardim,
Marcelino Ramos da Silva e Francisco Pereira Passos. Hoje, é considerado por muitos, como o primeiro Plano Urbanístico da
Cidade do Rio de Janeiro.
83
Segundo Andreatta (2006, p. 151), “O primeiro era Inspetor-Geral das Obras Públicas desde 1873 e havia realizado
importantes obras de abastecimento de água na cidade; o segundo formava parte dessa mesma inspetoria e teria depois um
papel muito destacado nas obras de saneamento da Baixada Fluminense, e o terceiro era experiente em obras ferroviárias”.
193
O primeiro de seus dois relatórios foi produzido em 1875 e tratava dos arrabaldes da
cidade, correspondendo às áreas do Andaraí, Engenho Velho, São Cristóvão e Cidade Nova,
ou seja, a planície que se estendia do Campo de Santana até a raiz da serra do Andaraí, um
dos principais vetores de expansão da cidade desde o início dos oitocentos. As propostas
visavam ao alargamento e à retificação da malha viária e à abertura de grandes avenidas, os
chamados boulevards, que permitiriam uma comunicação direta entre o campo e o Andaraí,
tendo como foco as obras no Canal do Mangue.
Tão logo foi apresentado, o relatório sofreu duras críticas, inclusive de outros
engenheiros, por não ter priorizado a parte central da cidade, em que os problemas pareciam
mais graves, por conta das longas investigações que deveriam ser feitas sobre os custos de
desapropriação das antigas residências. Em função dessa polêmica, Pereira Passos, num artigo
publicado no Jornal do Comércio, defendeu a escolha daquelas localidades argumentando:
Os bairros a que nos referimos, sendo os que melhores condições oferecem para o
desenvolvimento da cidade, são também os que atualmente mais importantes
melhoramentos reclamam e onde tais obras podem ser realizadas com menos
dispêndios e dificuldades, por serem aqueles em que a propriedade tem
relativamente menos valor e as construções não se acham tão unidas umas às outras,
como acontece na parte mais antiga da cidade. Sua grande extensão em planície,
apenas interrompida por poucos e insignificantes acidentes de terreno, permite dar às
ruas que ali se abrirem toda a expansão necessária, e proporcionar à população da
cidade amplo espaço para edificação de casas rodeadas de jardins, que tanto convém
à salubridade das habitações em nosso país (Francisco Pereira Passos, apud
ANDREATTA, 2006, anexo documental, p.10).
O intuito da comissão era definir uma estrutura urbana para a expansão organizada da
cidade por meio de técnicas de alinhamento e retificação do tecido; a fixação de normas para
edificações que se achassem em harmonia com os procedimentos urbanísticos previstos; a
formação de um esquema para o escoamento das águas provenientes das bacias do Canal do
Mangue e a elaboração de um programa de obras para a formação da frente marítima
setentrional da capital. Dentre os chamados melhoramentos indicados no relatório, figuravam
em primeiro lugar a desobstrução do Canal do Mangue e o seu prolongamento até o Andaraí.
Em seguida, a construção de um tronco comum, ligando os dois ramais do canal com o mar e
a construção de um cais; o aterro dos terrenos nas proximidades desse cais; a construção de
um ramal da Estrada de Ferro Dom Pedro II sobre a margem esquerda do canal e a abertura de
largas avenidas em ambos os seus lados; a abertura de outra grande avenida a partir do Campo
de Santana e uma no prolongamento do Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel; a criação
de largas vias transversais até a rua do Conde D’Eu; a implantação de um Jardim Zoológico e
194
de um Horto Botânico entre as atuais Tijuca e Vila Isabel; a abertura de diferentes ruas e
praças e a retificação e o alargamento de outras; o aterro e dessecamento dos pântanos
remanescentes da Cidade Nova; a construção de uma capela e praça de mercado junto ao
canal.
A autora vai mais além ao afirmar que, por trás da implantação de uma malha regular,
por conta da simplicidade e facilidade de se levar novos serviços urbanos a outras áreas
desprovidas, os engenheiros vislumbravam uma estrutura de suporte para a realização da
mais-valia urbana, num momento em que era bastante complexo fixar-se a proporção com que
os benefícios da atividade imobiliária contribuiriam para um financiamento da rua e dos
serviços urbanos.
que regulariam a entrada e saída das águas do mar. Junto ao canal, seriam executadas duas
galerias cobertas para a drenagem das superfícies das ruas e dos terrenos.
A partir dessas obras, seriam abertas duas largas e arborizadas84 avenidas, delimitando
o Canal do Mangue, no prolongamento das ruas Senador Eusébio e do Sabão da Cidade Nova.
Além disso, a comissão projetou outra grande avenida85, partindo do Campo de Santana, no
lugar em que começava a rua do Areal, nas proximidades do Paço do Senado, e seguindo em
linha reta sobre os terrenos baldios que ficavam entre as ruas do Conde D’Eu e o antigo
Aterrado. Esse boulevard terminaria em um parque destinado ao Jardim Zoológico e Horto
Botânico, integrando-se à região de Vila Isabel por meio de outra avenida perpendicular a ela,
estendendo-se até o local em que hoje funciona a Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Vale dizer que a intenção inicial era alargar e retificar as ruas do Conde D’Eu e do Engenho
Velho que, naquela época, eram vistas como as principais artérias de comunicação entre o
centro e os arrabaldes da cidade. Porém, os estudos mostraram que tais modificações seriam
por demais dispendiosas, às custas de inúmeras desapropriações, inclusive de propriedades de
alto valor.
Na zona compreendida entre esses dois boulevards, entre o canal e a rua do Conde
D’Eu, a comissão propunha a execução de diversas ruas, com 20 ou 25 metros de largura, que
na maioria das vezes atravessariam os restantes terrenos alagadiços, próximos à Casa de
Correção. A implantação dessa pequena malha viária reticulada e auxiliar seria um estímulo
ao dessecamento dos pântanos remanescentes da Cidade Nova, possibilitando a construção de
novas edificações na área.
84
O relatório destacava a necessidade de arborizar a cidade, ressaltando que as árvores serviam como abrigo contra a ação do
sol, purificando o ar e combatendo a insalubridade produzida pelas matérias orgânicas e a grande unidade do solo.
85
A avenida teria 40 metros de largura, dentre os quais, 18 metros para a caixa de rolamento e 11 metros de cada lado para os
passeios, ornados de duas filas de árvores.
196
concessão para a aplicação de capitais de uma empresa privada. Esta empresa seria
responsável pela desapropriação dos imóveis, execução das obras e comercialização dos
terrenos disponíveis e pela exploração das instalações públicas na região.
CONCLUSÃO
A partir dos anos 30, o Rio de Janeiro já podia contar com a implantação de posturas
reguladas pela Câmara, que davam providências quanto à salubridade e aos hábitos na cidade.
Ganhava força o discurso higienista que chamava atenção para os problemas de ordem
sanitária, principalmente na Cidade Nova, por conta da ocupação gradativa das terras ao longo
dos braços do Saco de São Diogo que ainda penetravam no tecido urbano que já atingira as
proximidades do Rocio Pequeno e se intensificava pelo antigo caminho de Mata-porcos. É
importante lembrar, conforme visto, que data daquela época o surgimento das primeiras
habitações coletivas, como as estalagens, nos quarteirões próximos ao Campo de Santana,
indicando que a concentração urbana já transpunha os antigos limites do centro colonial, em
direção à Cidade Nova. As obras de aterro e drenagem não cobriam toda a área e o problema
do sítio pantanoso persistia como uma barreira à valorização dos imóveis e à permanência da
antiga classe abastada, que se via ameaçada pela fixação de parcelas de renda baixa na
localidade.
A virada para a segunda metade dos oitocentos marcou a inserção de novos elementos
que permitiram a ocupação gradativa das áreas mais distantes do núcleo central colonial e,
paralelamente, a separação dos usos e classes sociais no espaço carioca. O crescimento de um
mercado de trabalho até então praticamente inexistente, cuja mão-de-obra deixava de ser
escrava para dar lugar ao trabalho assalariado, associada à injeção do capital externo,
estimulava a entrada e fixação de estrangeiros e homens livres provenientes de outras regiões
do país. O Rio de Janeiro crescia e lançava as bases para a sua adaptação às novas relações de
produção capitalistas, cujo principal agente modelador do espaço traduzia-se nos
empreendimentos concedidos aos investimentos estrangeiros.
Os dados e seu mapeamento indicaram que nas últimas décadas do século XIX, a
Cidade Nova já apresentava variados pontos de comércio – confeitarias, armarinhos, boticas,
tavernas e botequins -, que paralelamente à implantação das fábricas, deu início à criação de
um mercado interno que atendia ao novo perfil de moradores da área, entre eles os
trabalhadores domésticos, de manufaturas e ofícios, os pequenos comerciantes e militares.
A demanda por habitações que refletia a crise na área central da cidade estimulou o
mercado imobiliário na Cidade Nova, dando impulso à proliferação de tipologias populares e
coletivas que abrigavam sob o mesmo espaço famílias diferentes. A antiga rua de São Diogo
passou a contar com uma significativa proporção de estalagens e cortiços, assim como a
General Caldwell, que já demonstrava características bastante distintas daquelas presentes no
início do século XIX, quando por ali e nas proximidades do Campo de Santana figuravam os
sobrados refinados pelo neoclássico difundido pelos franceses.
203
Considerações finais
A partir de 1852, quando já havia sido concluído o aterro do mangue, mas não sanado
o problema de alagamento e drenagem dos terrenos próximos ao canal, foi estimulada a
entrada de capitais estrangeiros na área para a criação de fábricas e pequenas atividades
204
industriais, mas não houve investimentos nos setores ligados à infra-estrutura urbana, como o
abastecimento de água e o esgotamento sanitário. As empresas concessionárias estrangeiras
promoveram uma diferenciação espacial da cidade do Rio de Janeiro e contribuíram para o
deslocamento de parcelas endinheiradas em direção à zona sul e ao Alto da Boa Vista.
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Códices 31-4-58 (ano 1813) / 32-1-8 (ano 1832) - Desapropriações de prédios e terrenos
Códices 32-1-39 / 32-1-40 / 32-1-43 / 32-2-5 / 32-2-6 / 32-2-8 / 32-2-11 / 32-2-13 / 32-2-15 /
32-2-16 / 32-2-17 / 32-2-19 - Arruações e termos
Códices 68-3-2 / 68-3-16 / 68-3-19 / 68-3-28 / 68-3-32 - Limites de vilas, distritos, freguesias
e municípios
Códice 1-2-69 - Eusébio, Senador, Rua. (antiga Rua do Aterrado da Cidade Nova). 1820 –
1891
D. Pedro II, por Graça de Deus e Unânime Acclamação dos Povos, Imperador
Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil: Fazemos saber a todos os Nossos Súbditos, que
a Assembléia Geral Decretou, e Nós Queremos a Lei seguinte:
Art. 1.º Ficam prohibidas as acquisições de terras devolutas por outro titulo que não
seja o de compra.
Art. 2.º Os que apossarem de terras devolutas ou alheias, e nellas derribarem matos,
ou lhes puzerem fogo, serão obrigados a despejo, com perda de bemfeitorias, e demais
soffrerão a pena de dous a seis mezes de prisão e multa de 100$000, além da satisfação do
damno causado. Esta pena, porém, não terá logar nos actos possessórios entre heréos
confiantes.
Paragrapho único. Os Juizes de Direito nas correições que fizerem na fôrma das leis
e regulamentos, investigarão si as autoridades a quem compete o conhecimento destes delictos
põem todo o cuidado em proceessal-os e punil-os, e farão effectiva a sua responsabilidade,
impondo no caso ded simples negligencia a multa de 50$000 a 200$000.
§ 1.º As que não acharem applicadas a algum uso publico nacional, provincial ou
municipal.
§ 2.º As que não se acharem no domínio particular por qualquer titulo legitimo, nem
forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não
incursas em commisso por falta do cumprimento das condições de medição, confirmação e
cultura.
§ 3.º As que não se acharem occupadas por posses que, apezar de não se fundarem em
titulo legal, forem legitimidas por esta Lei.
218
§ 4.º As que não se acharem occupadas por posses, que apezar de não se fundarem em
titulo legal, forem legitimidas por esta Lei.
Art. 5.º Serão legitimadas as posses mansas e pacificas, adquiridas por occupação
primaria, ou havida do primeiro occupante, que se acharem cultivadas, ou com principio de
cultura e morada habitual do respectivo posseiro ou de quem represente, guardadas as regras
seguintes:
Excecptua-se desta regra o caso de verificar-se a favor da posse qualquer das seguintes
hypotheses: 1ª, o ter sido declarada boa sentença passada em julgado entre os sesmeiros ou
concessionários e os posseiros; 2ª, ter sido estabelecida antes da medição da sesmaria ou
concessão, e não pertubada por cinco annos; 3ª, ter sido estabelecida depois da medição e não
perturbada por 10 annos.
Art. 6.º Não se haverá por principio de cultura para revalidação das sesmarias ou
outras concessões do Governo, nem para a legitimação de qualquer posse, os simples roçado,
derribadas ou queimas de matos de campos, levantamentos de ranchos e outros actos de
semelhante natureza, não sendo acompanhados da cultura effectiva e morada habitual
exigidas no artigo antecedente.
Art. 7.º O Governo marcará prazo dentro dos quaes deverão ser medidas as terras
adquiridas por posse ou por sesmarias, ou outras concessões, que estejam por medir, assim
como designará e instruirá as pessoas que devem fazer a medição, attendendo ás
circumstancia prorogar os prazos marcados, quando julgar conveniente., por medida gera que
comprehenda todos os possuidores da mesma Província, comarca ou município, onded a
prorogação convier.
Art. 8.º Os possuidores que deixarem de proceder á medição nos prazos marcados
pelo governo serão reputados cahidos em commisso, e perderão por isso o direito que tenham
a serem preenchidos das terras concedidas por seus titulos, ou por favor da presente lei,
conservando-o somente para serem mantidos na posse do terreno que ocupparem com
effectiva cultura, havendo-se por devolutos o que se achar inculto.
Art. 9.º Não obstante os prazos que forem marcados, o Governo mandará proceder á
medição das terras devolutas, respeitando-se no acto da medição os limites das concessões e
posses que se acharem nas circumstancia dos arts. 4º e 5.º
Qualquer opposição que haja da parte dos possuidores não impedirá a medição; mas,
ultimada esta, continuará vista aos oppoente para deduzirem seus embargos em termo breve.
Art. 11. Os posseiros serão obrigados a tirar títulos dos terrenos que lhes ficarem
pertencendo por effeito desta Lei, e sem elles não poderão hypotecar os mesmos terrenos,
nem alienal-os por qualquer modo.
Estes títulos serão passados pelas Repartições provinciais que o Governo Designar,
pagando-se 5$000 de direitos da Chancellaria pelo terreno que não exceder de um quadrado
de 500 braças por lado, e outrotanto por cada igual quadrado que mais contiver a posse; e
além disso 4$000 de feito, sem mais emolumentos ou sello.
Art. 12. O Governo reservará das terras devolutas as que julgarem necessarias: 1º,
para a colonisação dos indígenas; 2º, para a fundação de povoações, aberturas de estradas, e
quaesquer outras servidões, e assento de estabelecimento públicos; 3º, para a construção
naval.
Art. 13. O mesmo Governo fará organizar por freguezias o registro das terras
possuídas, sobre as declarações feitas pelos respectivos possuidores, impondo multas e penas
áquelles que deixarem de fazer nos prazos marcados as ditas declarações, ou se fizerem
inexactas.
Art. 14. Fica o Governo autorizado a vender as terras devolutas em hasta publica, ou
fóra della, como e quando julgar mais conveniente, fazendo previamente medir, dividir,
demarcar e descrever a porção das mesmas terras que houver ser exposta á venda, guadadas as
regras seguintes:
§ 2.º Assim esses lotes, como as sobras de terras,em que se puder verificar a divisão
acima indicada, serão vendidos separademente sobre o preço minimo, fixado antecipadamente
e pago á vista, de meio real, um real, real e meio, e dous réis,por braça quadrada, segundo for
a qualidade e situação dos mesmos lotes e sobras.
§ 3.º A venda fora da hasta publica será feita pelo preço que se ajustar, nunca abaixo
do mínimo fixado, segundo a qualidade e situação dos respectivos lotes e sobras, ante o
Tribunal do Thesouro Publico, com assistencia do Chefe da Repartição Geral das Terras, na
221
Art. 15. Os possuidores de terra de cultura e criação, qualquer que seja o tinio de sua
acquisição, terão preferencia na compra de terras devolutas que lhes foram contíguas, com
tanto que mostrem pelo estado da sua lavoura ou criação, que têm os meios necessarios para
aproveital-as.
Art. 16. As terras devolutas que se venderem ficarão sempre sujeitas aos onus
seguintes:
§ 1.º Ceder o terreno preciso para estradas publicas de uma povoação a outra, ou
algum porto de embarque, salvo o direito de indemnização das bemfeitorias e do terreno
occupado.
§ 2.º Dar servidão gratuita aos vizinhos quando lhes for indispensavel para sahirem a
uma estrada publica, povoação ou porto de embarque, e com indemnização quando lhes for
proveitosa por encurtamento de um cuaro ou mais de caminho.
§ 4.º Sujeitar ás disposições das leis respectivas quaesquer minas que se descobrirem
nas mesmas terras.
Art. 18. O Governo fica autorizado a mandar vir annualmente á custa do Thesouro
certo numero de colonos livres para serem empregados, pelo tempo que for marcado, em
estabelecimentos agricolas ou nos trabalhos dirigidos pela Administração publica, ou na
formação de colônias nos ologares em que estas mais convierem; tomando antecipadamente
as medidas necessarias para que taes colonos achem emprego logo que desembarcarem.
Art. 19. O producto dos direitos de Chancellaria e da venda das terras, de que tratam
os arts. 11 e 14, será exclusivamente applicado: 1º, á ulterior medição das terras devolutas, e
2º, á importação de colonos livres, conforme o artigo precedente.
Art. 20 Emquanto o referido producto não fôr sufficiente para as depezas a que é
destinado, o Governo exigirá annualmente os créditos nececssários para as mesmas despezas,
ás quaes applicará desde já as sobras anteriores dados a favor da colonisação, e mais a somma
de 200:000$000.
Art. 22 O Governo fica autorizado igualmente a impor, nos regulamentos que fizer
para execução da presente Lei, penas de prisão até tres mezes, e de multa até 200$000.
Visconde de Mont’alegre.
Carta de lei, pela qual Vossa Magestade Imperial Manda executar o Decreto da
Assembléa Geral, que Houve por bem Sanccionar, sobre terras devolutas, sesmarias, posse e
colonização.
223
Brasil. Leis e decretos. Lei 601 de 18 de setembro de 1850: Dispõe sobre as terras devolutas
no Império, e acerca das que são possuídas por título de sesmaria sem preenchimento das
condições legaes, bem como por simples titulo de posse mansa e pacifica: a determina que,
medidas e demarcadas as primeiras, sejam ellas cedidas a titulo oneroso, assim para emprezas
a particulares, como para o estabelecimento de colônias de nacionaes e de estrangeiros,
autorizado o Governo a promover a colonisação estrangeira na forma que se declara. Lex-
Coletânea de Legislação, pp. 233-237, 1850.
224
“Existe na rua do General Caldwell, uma grande estalagem, ou cortiço, onde residem
grande número de indivíduos, a maior parte de péssimas condições e de moralidade duvidosa.
Com surpresa minha verifiquei que dentro da dita estalagem, existe uma taverna que se
ma
conserva aberta dia e noite, a qual obteve licença da Ill Camara Municipal para estabelecer-
se no número 4 da referida rua. Cumpre notar que esta estalagem ocupa uma grande área na
dita rua com diferentes entradas e números. A inconveniência da existência dessa taverna no
ma
centro da estalagem, é óbvio e não escapará de certo ao critério de V. Exª. Que a Ill Camara
Municipal foi iludida quando deu tal licença não resta a menor dúvida, pois ela foi concedida
para o número 4, e portanto está subentendido para estabelecer-se na frente da rua. Em vista
ma
do exposto e a bem da ordem pública solicito de V. Exª, se digne requisitar da Ill Camara
Municipal, seja cassada a referida licença, pelas conseqüências que da continuação da
existência da aludida taverna em tal lugar, sem dúvida alguma há de resultar”.
Bastos de Freitas, a quem interroguei a respeito da conservação de sua casa de negócio aberta
(segundo diz aquele subdelegado) a toda hora da noite, o que negou-me o mesmo Bastos de
Freitas, acrescentando achar-se pronto a todo o momento, justificar o contrário, com pessoas
ma
insuspeitas. O fato de abrir-se competentemente licenciada pela Ill Camª Municipal uma
taberna dentro de estalagem, se é novo nesta Freguesia, não o é em outras onde existem
tabernas, dentro de estalagens, e outra se bem que à frente da rua com comunicação para área
das mesmas estalagens. Sobre a conveniência ou inconveniência da existência desse ramo de
negócio dentro de estalagens, não aventurarei idéia alguma pois V. Exª resolverá a respeito
com a ilustração e critério com que o costuma fazer. Deixo de alguma coisa dizer sobre a
opinião do subdelegado do 2º Distrito desta Freguesia, quando afirma que sem a menor
dúvida foi a Illmª Camara iludida ao conceder tal licença, por que mercê de Deus julgo-me
acoberto de com justiça poder ser-me lançada qualquer insinuação dessa ordem no
desempenho de minhas funções, ou mesmo como particular, e se com tal insinuação a esmo
lançada houve em vista ferir-se-me, tenho consciência não chegarão por certo a seus fins,
perante a corporação a quem sirvo sem pecha”.
Local, data, hora: rua Formosa, 185, estalagem, às 2 horas da madrugada do dia 27 de março
de 1872.
Juízo de Direito do 5o. Distrito Criminal; Subdelegacia de Polícia do 2o. Distrito da Freguesia
de Santana. Flagrante (27/03/1872):
3. José Martins Eanes, testemunha, natural de Portugal, 30 anos, solteiro, não assina o
nome, carpinteiro, morador à estalagem no. 185 da rua Formosa: era o companheiro de quarto
de Pamplona; “seu companheiro, que também tendo acordado, procurou acomodar Bento, e
aconselhou Luíza que saísse e fosse para casa dele, porém saindo esta, tratou de correr para a
rua e sendo seguida por Bento, ele respondente acompanhado e a convite de seu companheiro,
saíram para socorrerem à Luíza caso fosse preciso, e chegando à rua, pouco distante da
estalagem em que eles residem, já encontraram o crioulo João, que à força procurava conter
Bento que maltratava à Luíza, e estava ferida no rosto...”
3. José Martins Eanes, confirmou, com mais detalhes: o acusado dizia que “pusesse
sua senhora para fora, e esta dizia que não queria sair, porque o réu lhe batia, então ele
testemunha conseguiu do Réu, garantir-lhe que tal não faria, pelo que a mulher saiu ficando,
228
porém no patamar da escada que dá para a rua [...]”. O réu teria arrancado da face da mulher
“um pedaço de carne com os dentes”; o réu contestou “dizendo que ele não confessou ter
arrancado carne da face de sua companheira, mas sim que lhe dera uns tapas, tendo ela por si
nessa ocasião caído.”
“Observa, porém ele testemunha que o réu nessa ocasião estava embriagado, e que se
não estivesse não faria o que fez”. Contestado. O réu afirma que a porta do quarto da
testemunha estava fechada, e “às escuras”.
5. Manoel Fernandes de Pinho, estava no quarto com “a mulher que vive em sua
companhia”. A ofendida entrou em seu quarto, já ferida, quando ele abriu a porta para ver o
que acontecia.
Contestada.
Interrogatório do réu: vivia na estalagem em questão há mais de quatro anos: “ele réu
se achava embriagado, pelo que dormia, mas quando acordou, dando por falta da mulher que
vivia em sua companhia, saiu para o corredor, e achando a porta do quarto do seu vizinho com
luz e aberta, para lá se dirigiu, e viu então Luíza a quem disse que saísse, que nada lhe faria”.
Rua do Aterrado
1820 - 1829 – Joaquim José de Queiroz 1820 - 1829 – José Mendes da Costa
FR:4 braças FR:3 braças
1820 - 1829 – Bernarda Maria de Jesus 1830 - 1839 – Theodoro José Junior
Terreno FR:4 braças
1830 - 1849 – José Carneiro Dias 1830 - 1859 – Manoel José de Andrade
Guimarães Terreno comprado de Antonio Vieira
FR:8 braças Rabello
1840 - 1849 – José Carlos Mayrinck 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
Terreno FR:20 braças Parte do terreno FR:8 braças
1840 - 1849 – Antonio Paulino Limpo 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
D’Abreo (Visconde de Abaeté) Terreno FR:8 braças + FD:8 braças
Terreno FR:8 braças + FD:8 braças TOT:57,5 braças
TOT:57,5 braças
1850 - 1875 – Manoel Baptista Ferreira 1850 - 1875 – José Gomes Ferreira
Alves Nº65
Nº29 / 99
1850 - 1859 – José Pereira Cardoso 1850 - 1859 – Firmino Moreira Lyrio
Terreno entre os prédios Nº56 e 56A Nº57
FR: 30 palmos + FD:33 palmos
TOT:30 Braças
1850 - 1859 – Castro e Pinto
Terreno de marinha
1850 - 1875 – Francisco Antonio de
FR:7 braças + 4 palmos + FD:16
Castro
braças + 2 palmos
Nº127
1860 - 1875 – Manoel José de Andrade 1850 - 1875 – Firmina Rosa dos Santos
Terreno Nº109
1860 - 1875 – Antonio Luiz Moura 1860 - 1875 – José Gomes Barrozo
Guimarães Nº39
Nº35 / 37
1860 - 1875 – João Baptista Marcelo 1860 - 1875 – Antonio Francisco dos
Nº49 Santos
Nº51
1860 - 1875 – José Martins Vieira 1860 - 1875 – Patrício Ricardo Freire
Nº59 / 61 Nº62
1860 - 1875 – José Alves Ferreira de 1860 - 1875 – Maria Isabel de Melo
Magalhães Moraes
Nº68 Nº70
1860 - 1875 – Maria Rita Correia 1860 - 1875 – Dr. Pedro Fortes
Garcia Marcondes Jobim
Nº78 Nº79 / 81
233
1850 - 1859 – Thereza de Jesus e Silva 1840 - 1859 – José da Costa Souza
Nº 44 Lima
Nº 44 / 48
1808 - 1820 – José Antonio dos Santos 1820 - 1839 – João José Ferreira
Nº 56 Nº 56
1850 - 1875 – Bernardo Gomes Braga 1840 - 1875 – Francisco José da Costa
Nº 40A e Silva
Prédio FR:31 palmos Nº 40A
Terreno FR:4 braças + 2 palmos +
FD:17 braças
1860 - 1869 – José Marques de Gouvea 1860 - 1875 – Pedro José Fernandes
Nº 28 Nº 28
Arrematado em leilão
237
1808 - 1839 – Jose Antonio dos Santos 1808 - 1839 – Antonio Pereira da
Anna Fonseca
Terreno FR:7 braças + FD:25 braças Terreno
1840 - 1849 – Miquelina Rosa das 1840 - 1849 – José Alexandre Marques
Merces Nº71
Nº7
1820 - 1840 – Manoel Antonio Claro 1840 - 1850 – Maria Delfina Lopes
Nº 36 Nº 36
1830 - 1860 – Francisco José Alves 1860 - 1870 – João Jacques Solano de
Quintão Chirol
Nº 19 / 21 / 23 / 25 / 27 Nº 19
Terreno FR:16 braças
1860 - 1875 – Maria Angélica de Jesus 1870 - 1875 – Dr. Thistonio Borges
e Silva Diniz
Nº 21 Nº 19 / 28A
1870 - 1875 – João Luiz Rodrigues 1860 - 1870 – Antonio José Rodrigues
Nº 46 Nº 46
Terreno FR:4,62m + FD:4,62m – Terreno FR:19,5 palmos + FD:169
TOT:23,76m palmos
1850 - 1860 – João Guilherme Meyer 1840 - 1849 – Joaquim José Moreira
Nº 38 Maia
4ª parte do terreno Nº 38
4ª parte do terreno
1830 - 1875 – Manoel José Ricardo de 1860 - 1875 – João Henrique Abbert
Araújo Nº 106
Nº 110 / 112 / 114 / 122 Terreno FR:163 palmos + FD:213
Terreno FR:19 braças (nº122) palmos – TOT:1200 palmos
1830 - 1850 – Antonio Ribeiro Forbes 1830 - 1839 – Padre Luiz de Souza Dias
Nº 108 Nº 122
Terreno FR:14 braças + 1 palmo Terreno FR:19 braças
1840 - 1849 – Cândida Rosa de Jesus 1850 - 1859 – Luisa Virginia Domay
Nº 42 Nº 42
Terreno FR:2,5 braças Terreno FR:2,5 braças
1860 - 1875 – Francisca Rosa de Jesus 1850 - 1859 – Maria Joaquina Landim
Ferraz Nº 42
Nº 42 Terreno FR:2,5 braças + 25 palmos +
Terreno FR:2,5 braças + 25 palmos + FD:27 braças + 3 palmos
FD:27 braças + 3 palmos
1840 - 1849 – Manoel Luiz Soares 1840 - 1849 – Rita Maria da Conceição
Nº 39 / 41 / 43 / 45 / 47 / 49 / 51 Nº 49
Terreno FR:17 braças + FD:20 braças Terreno FR:29 palmos + FD:85 palmos
1860 - 1869 – Alípio José Mesquita 1870 - 1875 – José Ribeiro Cerqueira
Nº 47 Nº 47 metade cortiço
1840 - 1849 – Domingos Alves Meira 1840 - 1859 – João Antonio Claro
Nº 52 Nº 52
Terreno FR:9 braças + 8 palmos +
FD:77 palmos + 2 polegadas
TOT:196 palmos
1860 - 1869 – José Antonio da Silva 1860 - 1869 – Francisco José Teixeira
Matos Braga Bastos
Nº 52 / 52D Nº 52 / 50A
1850 - 1859 – João Antonio Costa 1860 - 1869 – Maria Joaquina Landim
Braga Nº 48
Nº 48 Terreno FR:30 palmos + FD:40 palmos
TOT:324 palmos
1860 - 1875 – Dr. Manoel Bernardino 1860 - 1869 – Joaquim Lourenço Dias
B. Pereira Nº 48
Nº 48 Terreno FR:30 palmos + FD:40 palmos
Terreno FR:30 palmos + FD:40 palmos TOT:324 palmos
TOT:324 palmos
1850 - 1875 – Delfina Rosa de Jesus 1860 - 1875 – João Guilherme Meyer
Nº 40 Nº 40A
244
1850 - 1860 – José Joaquim Cândido 1860 - 1869 – Antonio Lopes Martins
Pereira Nº 14 (antigo 10)
Nº 14
Terreno FR:18 palmos + FD:119,5
palmos
1870 - 1875 – José Alves da Costa
Nº 14
Terreno FR:4,45m + FD:4,45m
TOT:36,2m
245
1850 - 1860 – Justino Pereira de Faria 1860 - 1875 – Manoel Antonio Silva
Nº 154 / 156 / 158 / 140 / 150 / 170 Nº 154 / 156 / 158
1860 - 1869 – Joaquim Lourenço Dias 1870 - 1875 – Maria Luisa dos Passos
Nº 17 Silvares
Terreno FR:2 braças + FD:30 braças Nº 17
Terreno FR:2 braças + FD:30 braças
Rua Formosa
1850 - 1869 – Manoel Ferreira dos 1850 - 1859 – Gaspara Barbosa Leão
Santos Porto Nº 35
Nº 35 Terreno FR:20 palmos + FD:68 palmos
Terreno FR:20 palmos + FD:68 palmos + 4 polegadas
248
1830 - 1839 – Antonio José Costa Leal 1830 - 1869 – Domingos Alves Meira
Nº 6 / 8 / 10 / 12 / 14 Nº 6 / 8 / 10 / 12 / 14
1840 - 1849 – Joaquim Pinto de Barros 1830 - 1849 – João Antonio Claro
Nº 6 Nº 6 / 8 / 10
1850 - 1859 – Manoel Rodrigues Alves 1840 - 1869 – José Borges de Andrade
Nº 6 Nº 10
Terreno FD:22 palmos + FD:68 palmos
1860 - 1869 – Maria das Neves 1850 - 1869 – Antonio José Ferreira da
Nº 6 Rocha
Nº 8
Terreno FD:2 braças
1830 - 1839 – João Gomes de Almeida 1830 - 1839 – Joaquim José Cardoso
Nº 16 / 16A Guimarães
Nº 16 / 18 / 20 / 26 / 28
1830 - 1849 – Gregório José de Abreu 1830 - 1869 – Ana Joaquina da Cruz
Nº 16B Guimarães
Nº 26 / 28 /32
1850 - 1869 – José de Souza Barros 1840 - 1869 – José Antonio de Baptista
Nº 16B Nº 26 arrematou em leilão
Terreno FR:3,5 braças
1830 - 1860 – José Teixeira Bastos 1860 – 1869 – José Pinto Mourão
Nº 159 Bastos
Nº 159
Terreno FR:132 palmos + FD:132
palmos – TOT:77 palmos
249
1860 – 1869 – José Narciso da Silva 1850 – 1869 – Manoel Antonio Braga
Vieira e Domingos José Dias Braga
Nº 171 / 173 Nº 173A / 173C
Terreno FR:7 braças + FD:133 palmos
(nº 171)
1840 - 1859 – Fabrício Rosa da 1840 - 1849 – José Antonio dos Santos
Conceição Araújo
Nº 39 Nº 39
1830 - 1839 – Luiz Gomes dos Santos 1830 - 1860 – Francisco de Borja
Nº 87 / 95 Galvão
Nº 87 / 95
Rua do Areal
1820 - 1829 – Manoel Parente da Costa 1830 - 1839 – Anna Quitéria de Araújo
Casa FR:14 braças + FD:18,5 braças Parte do terreno
TOT:10 braças
1850 - 1859 – José Luis dos Santos 1850 - 1859 – Domínio direto da
Teixeira municipalidade
Nº21 Edifício do Senado
Arrematado em leilão
1830 - 1839 – Joaquim Franco das 1840 - 1849 – Maria Joaquina de Jesus
Chagas Nº 17
Nº 17
1840 - 1860 – Barão da Bella Vista 1840 - 1859 – Gregório José de Abreu
Nº 27 casa Nº 27
Terreno FR:134 palmos + FD:119,5
palmos
1860 - 1869 – Viriato Bandeira Duarte
Nº 27 casa
1860 - 1869 – Anna Benigna
Felicidade Perpetua de Abreu
Nº 27
Terreno FR:134 palmos + FD:119,5
palmos
254
1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira 1808 - 1849 – Luiza Roza Avondano
Chácara de São Diogo Pereira (viúva de Antonio Fernandes
Pereira)
Chácara de São Diogo
1820 - 1829 – Manoel José Ribeiro de 1830 - 1839 – Felippe Furtado da Silva
Oliveira, vigário Manoel José da Costa Terreno com casas situado atrás da
e Conselheiro Luis Joaquim Duque Igreja de Santana
Estrada Furtado de Mendonça FR:267 palmos + FD:118 palmos
2 chácaras com 22 moradas de casas Herdou de Antonio José de Siqueira
1840 - 1849 – Maria Rosa de Santana 1840 - 1849 – Carolina de Souza Costa
Terreno FR:8 braças Terreno FR:6 braças
TOT:19 braças TOT:57,5 braças
255
1840 - 1849 – José Carlos Mayrinck 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
Terreno FR:8 braças Terreno FR:8 braças
TOT:57,5 braças TOT:57,5 braças
1840 - 1849 – José Carlos Mayrinck 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
Terreno FR:8 braças - TOT:57,5 Terreno FR:8 braças - TOT:57,5
braças braças
1840 - 1849 – Visconde do Monte 1840 - 1849 – João dos Reis Pereira
Alegre Terreno FR:10 braças + FD:10 braças
Terreno FR:10 braças + FD:10 braças TOT:19 braças
TOT:19 braças
1840 - 1849 – Joana Maria de Jesus 1840 - 1849 – João José da Cunha
Terreno FR:20 braças Guimarães
Terreno FR:20 braças
1840 - 1849 – João Baptista da Silva 1840 - 1849 – José Martins da Cruz
Terreno FR:6 braças + 7 palmos – Jobim
TOT:37 braças + 6 palmos Terreno FR:6 braças + 7 palmos –
TOT:37 braças + 6 palmos
1840 - 1849 – Dona Maria Luiza 1840 - 1849 – Maria Joana de Jesus e
(preta, crioula) seu filho José Bento dos Santos
Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças Terreno FR:3 braças – TOT:15 braças
258
1840 - 1849 – José João da Silva 1840 - 1875 – José Teixeira da Motta
Nº 104 Nº 104
Terreno com 2 moradas de casa Terreno com 2 moradas de casa
FR:6 braças – TOT:30 braças FR:6 braças – TOT:30 braças
Em 1860 virou estalagem
1870 - 1875 – Pedro Fortes Marcondes 1870 - 1875 – Fernando Pinto da Costa
Jobim Nº 104
Nº 104 Casa térrea
Casa térrea
1840 - 1849 – Thomaz José da Cunha 1840 - 1859 – Justino José Tavares
Terreno FR:10 braças – TOT:36 braças Terreno FR:10 braças – TOT:36 braças
+ 3 palmos + 3 palmos
259
1840 - 1849 – José Bento Alves 1840 - 1849 – Luiz Francisco Pacheco
Terreno FR:7,5 braças – TOT:36 Terreno FR:7,5 braças – TOT:36
braças braças
1850 - 1859 – João José da Lapa e José 1850 - 1869 – Joaquim Teixeira de
de Oliveira Vasconcellos
Nº212 Nº212
Terreno FR:5 braças – TOT:15 braças Terreno FR:5 braças – TOT:15 braças
+ 7 palmos
1870 - 1875 – Antonio José da Costa e 1870 - 1875 – Antonio José da Costa e
Nunes Silva
Nº212 Nº212
Casas FR:6,6m – TOT:33,6m Casas FR:6,6m – TOT:33,6m
1860 - 1869 – João Gonçalves Motta 1850 - 1859 – Luis Gonçalves Motta
Nº21B / 21C Nº21B / 21C
Prédios FR: 5 braças + FD:5 braças Prédios FR: 5 braças + FD:5 braças
TOT:15 braças TOT:15 braças
1850 - 1859 – Antonio José Soares de 1850 - 1859 – Dr. Pedro Fortes
Castro Marcondes Jobim
Terreno FR:4 braças – TOT:30 braças Terreno FR:4 braças – TOT:30 braças
+ 7 palmos + 7 palmos
1850 - 1859 – José da Costa e Oliveira 1850 - 1859 – Carolina de Souza Costa
Terreno FR:4 braças + FD:4 braças 2 terrenos FR:4 braças + FD:4 braças e
FR:6 braças + FD:4 braças / TOT:57,5
braças
1850 - 1859 – Francisco José Pinto 1860 - 1869 – José dos Santos Castro
Caminha Nº103
Nº103 Terreno com casa FR:38 palmos +
Terreno com casa FR:38 palmos + FD:32 palmos – até a rua do Aterrado
FD:32 palmos – até a rua do Aterrado
1840 - 1849 – Antonio Paulino Limpo 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
de Abreu Terreno FR:8 braças
Terreno FR:8 braças
1840 - 1849 – João Bonifácio Alves da 1840 - 1849 – José Joaquim Ferreira
Silva Terreno FR:10 braças + FD:10 braças
Terreno FR:10 braças + FD:10 braças TOT:59 braças e outro com FR:8
TOT:59 braças braças + FD:8 braças
TOT:57,5 braças
264
1860 - 1869 – José Manoel Rodrigues 1860 - 1869 – Manoel Pontes Câmara
Nº118E / 118G / 118H Nº118G / 118H
Terreno com casas térreas FR:7 braças Terreno com casas térreas FR:7 braças
+ 3 palmos + 3 palmos
1850 - 1859 – José Francisco Dutra 1850 - 1859 – Roza Maria dos Prazeres
Nº106 Serpa
Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças Nº106
Terreno FR:2 braças – TOT:15 braças
1850 - 1859 – Francisco Ferreira Serpa 1850 - 1859 – Januário José Baptista
Terreno FR:3 braças Bastos
Terreno FR:3 braças
1850 - 1859 – Manoel Coelho Moreira 1850 - 1859 – José Joaquim de Lima
Terreno FR:4 braças - TOT:29 braças Mendonça
+ 7 palmos Terreno FR:4 braças - TOT:29 braças
+ 7 palmos
1850 - 1859 – João dos Santos Souza 1850 - 1859 – Jacintho Martins da
Machado Costa
Terreno FR:25 palmos - TOT:150 Terreno FR:25 palmos - TOT:150
palmos palmos
1860 - 1869 – José Joaquim Ferreira de 1860 - 1869 – José Carlos Mayrinck
Lima e Silva Terreno FR:20 braças + FD:20 braças
2 terrenos FR:12 braças + FD:12
braças e FR:20 braças + FD:20
1860 - 1869 – Ângelo José de Morais 1860 - 1869 – Jacintho Telles Barboza
Terreno Terreno herdado de Ângelo José de
Morais
1860 - 1869 – Luiz Ferreira Leite 1860 - 1875 – Antonio José Ferreira
Terreno FR:8,14m – TOT:33m Guimarães
Terreno FR:8,14m – TOT:33m
1870 - 1875 – Dr. Claudino José 1870 - 1875 – Manoel Braz da Cunha
Viegas Terreno FR:18 braças + 4,5 palmos
Terreno FR:18 braças + 4,5 palmos TOT:31 braças
1870 - 1875 – Antonio José da Costa e 1870 - 1875 – Antonio José da Costa e
Silva Nunes
Nº65 Nº65
Casas FR:6,6m – TOT:33,6m
Rua do Aterrado
Rua do Aterrado
1808
1820
1830
1840
1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40
Antonio da Rocha Machado / Antonio Luiza Roza Avondano Pereira Luiza Roza Avondano Pereira
Chácara de São Diogo
Fernandes Pereira * (viúva de Antonio Fernandes Pereira) (viúva de Antonio Fernandes Pereira)
Terreno 4 braças Domingos Antonio de Azevedo Cirne Domingos Antonio de Azevedo Cirne Domingos Antonio de Azevedo Cirne Domingos Antonio de Azevedo Cirne
Sargento Mor Francisco de Paula Sargento Mor Francisco de Paula Sargento Mor Francisco de Paula Sargento Mor Francisco de Paula
Terreno 12 braças
Borges Borges Borges Borges
Terreno 4 braças Joaquim José de Queiroz Joaquim José de Queiroz
Terreno 5 braças Izidora Maria da Piedade Izidora Maria da Piedade
Terreno 3 braças José Mendes da Costa José Mendes da Costa
Terreno Bernarda Maria de Jesus Bernarda Maria de Jesus
Terreno 4 braças Theodoro José Junior
Terreno 8 braças José Carneiro Dias Guimarães José Carneiro Dias Guimarães
Terreno Manoel José de Andrade Manoel José de Andrade
Terreno Manoel Gonçalves da Cruz
Terreno 5 braças / 57,5 braças Deolinda Jacintha
José Carlos Mayrinck e José
Terreno 20 braças
Joaquim Ferreira (parte) *
Antonio Paulino Limpo D'Abreo /
Terreno 8 braças / 57,5 braças
José Joaquim Ferreira *
Terreno 6 braças / 57,5 braças Carolina de Souza Costa
Terreno 8 braças Desemb. Antonio José da Veiga
João Bonifácio Alves da Silva /
Terreno 10 braças / 57,5 braças
Desemb. Antonio José da Veiga *
Terreno da Ponte Grande do João Bernardo de Carvalho / Capitão
Aterrado até a Bica dos 28 braças
Marinheiros Narcizo de Almeida Carvalho *
Terreno 6 braças Antonio Gonçalves Varella
Carolina Augusta de Miranda Teixeira -
Terreno 18 braças / 59 braças
herdou de Agostinho Pinto de Miranda
Terreno 158 braças Manoel Machado Coelho
Terreno 29 braças / 31 braças Maria Luiza dos Prazeres
Terreno 4 braças / 57,5 braças Coronel José da Costa e Oliveira
Terreno 26 braças João José Pereira de Oliveira
Terreno de marinha
12 braças / 18 braças José da Costa Souza Lima
contíguo à casa nº44
Terreno Nº 10
Terrenos Nº 23 / 53
Terreno Nº 32
Terreno Nº 56B
Terreno Nº 65
Terrenos Nº 67/ 69
Terreno entre os prédios
30 palmos / 30 braças
nº56 e 56A
Terreno Nº 57
Terreno de marinha 7 braças / 16 braças
Terreno Nº 127
Terreno 12 braças
Terreno 6 braças
Terreno
Cinco casas 13 braças
Terrenos Nº 83 / 90 / 92
Terreno Nº 86
Terreno Nº 109
Terreno
Terreno Nº 24
Terreno Nº 26
274
Terrenos Nº 16 / 18
Terreno Nº 30
Terrenos Nº 12 / 14 / 20
Terreno Nº 34
Terrenos Nº 31 / 33
Terrenos Nº 35 / 37
Terreno Nº 39
Terreno Nº 43
Terrenos Nº 45 / 47
Terreno Nº 49
Terreno Nº 51
Terreno Nº 52
Terreno Nº 55
Terrenos Nº 59 / 61
Terreno Nº 62
Terreno Nº 63
Terrenos Nº 64 / 66
Terreno Nº 68
Terreno Nº 70
Terrenos Nº 73 / 75
Terreno Nº 74
Terreno Nº 76
Terreno Nº 77
Terreno Nº 78
Terrenos Nº 79 / 81
Terreno Nº 80
Terrenos Nº 82 / 84
Terrenos Nº 85 / 87
Terreno Nº 88
Terreno Nº 89
Terreno Nº 91
Terreno Nº 93
Terrenos Nº 94 / 95 / 96
/ 98 / 100 / 102 / 104 /
106 / 108 / 110 / 112
Terrenos Nº 95 / 97
Terreno Nº 105
Terreno Nº 107
Terreno 48 palmos
Terreno Nº 42
Terreno Nº 50 19 braças Francisco Lopes de Araújo Domingos Francisco da Silva Domingos Francisco da Silva Domingos Francisco da Silva
Terreno Nº 56 José Antonio dos Santos João José Ferreira João José Ferreira Thomaz José de Aquino
Terreno Nº 40A 4 braças / 17 braças Manoel Pedroso e Mattos Antonio da Costa Barbosa Francisco José da Costa e Silva
Terreno Nº 28
Terreno Nº 6
Terreno Nº 8
Terrenos Nº 160 / 162
Rua do Aterrado
1870
1875
1860
Década de 50 Década de 60 Década de 70
Terreno 4 braças
Terreno 12 braças
Terreno 4 braças
Terreno 5 braças
Terreno 3 braças
Terreno
Terreno 4 braças
Terreno 8 braças
Terreno Manoel José de Andrade
Terreno
Terreno 5 braças / 57,5 braças
Terreno 20 braças
Visconde de Jequitinhonha /
Terreno Nº 42 Maria da Glória e Silva Antonio de Souza Gonçalves * / José Luiz Fagundes
José Luiz Fagundes *
Terreno Nº 50 19 braças Domingos Francisco da Silva Visconde de Jequitinhonha Visconde de Jequitinhonha
Terreno Nº 56 Thomaz José de Aquino Leocádia Rosaura da Silva Leocádia Rosaura da Silva
Francisco José da Costa e Silva e Francisco José da Costa e Silva e Francisco José da Costa e Silva e
Terreno Nº 40A 4 braças / 17 braças
Bernardo Gomes Braga (parte) Bernardo Gomes Braga (parte) Bernardo Gomes Braga (parte)
Terreno Nº 38 7 braças / 16 braças Barros e Irmãos Visconde de Jequitinhonha Visconde de Jequitinhonha
Santa Casa de Misericórdia Santa Casa de Misericórdia
Terreno Nº 1 Antonio Pinto de Macedo
(+ nº 3 / 5 / 23 / 25 / 27) (+ nº 3 / 5 / 23 / 25 / 27)
Antonio Pinto de Macedo / João José Bourrel /
Terreno Nº 2 5 braças / 25 braças Anna Eufrásia Duarte (nº2 e 4)
Henrique Chanson * Anna Eufrásia Duarte (+ nº 4) *
Terreno Nº 40 Joana Rosa da Conceição Visconde de Jequitinhonha Visconde de Jequitinhonha
Terreno Nº 3 João Braúlio de Mesquita Santa Casa de Misericórdia Santa Casa de Misericórdia
José Marques de Gouvea /
Terreno Nº 28 Pedro José Fernandes
Pedro José Fernandes *
Josefina Roza de Oliveira, Joaquina Josefina Roza de Oliveira, Joaquina
Terreno Nº 54 Josefina Roza de Oliveira da Rocha Neves e Manoel Pereira da Rocha Neves e Manoel Pereira
Cardoso (1/3 para cada um) Cardoso (1/3 para cada um)
Terreno Nº 6 Rosa Albino de Oliveira Guimarães
Terreno Nº 8 Justino José de Souza Albino de Oliveira Guimarães
Terrenos Nº 160 / 162 Albino de Oliveira Guimarães
Barão de Mauá /
Terreno Nº 60 Joaquim Ludgero de Aguiar Joaquim Ludgero de Aguiar
Antonio José Benevides (+ nº 62) *
Terreno com cinco
casas térreas até a rua Barão de Mauá Leocádia Rosaura da Silva Leocádia Rosaura da Silva
de São Diogo Nº 58
277
1808
1820
1830
1840
1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40
Terreno 7 braças / 25 braças José Antonio dos Santos Anna José Antonio dos Santos Anna José Antonio dos Santos Anna
Terreno Antonio Pereira da Fonseca Antonio Pereira da Fonseca Antonio Pereira da Fonseca
Terreno 7 braças até o Campo Capitão Mor José Teixeira de Mello Capitão Mor José Teixeira de Mello Capitão Mor José Teixeira de Mello
Terreno Francisco Antonio Malheiro Francisco Antonio Malheiro Francisco Antonio Malheiro
Terreno 5 braças José Bento Alves José Bento Alves José Bento Alves
Terreno 4 braças Damiana Teresa C. Ribeiro Damiana Teresa C. Ribeiro Damiana Teresa C. Ribeiro
Terreno do lado de Joaquim da Rocha Machado Joaquim da Rocha Machado
Catumby c/ três chácaras (irmão de Polucena Luiza de Britto) (irmão de Polucena Luiza de Britto)
Terreno José Gonçalves Bandeira
Terreno 21 braças Francisco Machado Francisco Machado Francisco Machado Francisco Machado
Terreno Nº 31 Francisco José Alves Quintão
Terreno Nº 7 Miquelina Rosa das Merces
Terreno Nº 71 José Alexandre Marques
Terreno Nº 125 7 braças / 200 braças Ver. Francisco de Paula Mattos
Terreno Antonio José Alves Ferreira
Terreno 7 braças Bernarda Francisca dos Santos
Terreno Nº 34 21 palmos
Terrenos Nº 28 / 30 23 palmos / 19 palmos
Terreno Nº 67
Terreno Nº 69 7 braças
Terreno Nº 32 a 4º parte
Terreno Nº 138 44 palmos / 88 braças
Terreno Nº 196 339 palmos / 2501 pal.
Terreno Nº 226 22 palmos / 46 palmos
Terreno
Terreno
Terreno Nº 50 4 braças
Terreno Nº 1
Terreno Nº 8
Terreno Nº 10
Terreno Nº 11
Terreno Nº 26
Terreno Nº 53
Terreno Nº 63
Terreno Nº 59
Terreno Nº 183
Conde de Paraty /
Manoel José Ricardo de Araújo * /
Padre Luiz de Souza Dias * / Senador Bernardo P. de Vasconcellos
Terreno Nº 122 19 braças
(parte do terreno)
José Martins Viana * e
Antonio Mariano Gonçalves (parte) e
Anna Maria Honoria (parte)
Terreno Nº 44 de Rosa
José Felipe Silva Mageira
Monteiro Claro
Terreno Nº 109 Bernardo José Landim
Terreno Nº 6A
Terrenos Viúva de Bernardo Manoel da Silva /
Nº 39 / 41 / 43 / 51 Manoel Luiz Soares *
Viúva de Bernardo Manoel da Silva /
Terreno Nº 45
Manoel Luiz Soares *
Viúva de Bernardo Manoel da Silva /
Terreno Nº 47
Manoel Luiz Soares *
Viúva de Bernardo Manoel da Silva /
Manoel Luiz Soares * /
Terreno Nº 49 22 palmos
Senhorinha de Moraes Roca * /
Rita Maria da Conceição *
Terreno Nº 52D
Terreno Nº 40
Terreno Nº 60
279
Terreno Nº 77
Terreno Nº 121
1870
1875
1860
Terreno Nº 134 28 palmos / 42 palmos Manoel Fernandes de Macedo Manoel Fernandes de Macedo
Terreno Nº 105 30,8 m / 62,92 m Coronel José da C. Barros Fonseca Coronel José da C. Barros Fonseca
Terreno Nº 36 João Guilherme Meyer João Guilherme Meyer João Guilherme Meyer
Terreno Nº 21 Francisco José Alves Quintão Maria Angélica de Jesus e Silva Maria Angélica de Jesus e Silva
Terreno Nº 19 Francisco José Alves Quintão João Jacques Solano de Chirol Dr. Thistonio Borges Diniz (+ nº28A)
Joaquim Cândido Pereira Salgado Joaquim Cândido Pereira Salgado
Terrenos Nº 23 / 25 / 27 Mariana Benedita Quintão
(nº 25 / 27) (nº 25 / 27)
Terreno Nº 12 c/
Luiz de Queiroz Monteiro Regadro Luiz de Queiroz Monteiro Regadro Luiz de Queiroz Monteiro Regadro
chácara e solar
Antonio Gomes Brandão / Rachel
Terreno Nº 33 Ferreira da Rocha (+ nº 45 e 47) *
Rachel Ferreira da Rocha Rachel Ferreira da Rocha
280
Terreno Nº 35
Terreno Nº 46 21 palmos Miguel D'Avillar Antonio José Rodrigues João Luiz Rodrigues
Terreno Nº 29 Mariana Francisca da Silva Mariana Francisca da Silva Mariana Francisca da Silva
Terreno Nº 37 Antonio Gomes Brandão Antonio Gomes Brandão Antonio Gomes Brandão
Terreno Nº 94 Tenente Antonio Domingos Lopes Tenente Antonio Domingos Lopes Tenente Antonio Domingos Lopes
Terreno Nº 104 Manoel José Rodrigues (+ nº 40) Manoel José Rodrigues (+ nº 40) Manoel José Rodrigues (+ nº 40)
Terreno Nº 106 14 braças Antonio José do Amaral João Henrique Abbert João Henrique Abbert
Terrenos Nº 110 / 112 Manoel José Ricardo de Araújo José Ribeiro da Barbosa Vianna José Ribeiro da Barbosa Vianna
Terreno Nº 49 22 palmos José Antonio de Araújo Dantas José Antonio de Araújo Dantas José Antonio de Araújo Dantas
Terreno Nº 93 27 palmos / 2002 pal. Antonio de Oliveira Santos José Antonio Gonçalves Bouças José Antonio Gonçalves Bouças
Terreno Nº 95 Antonio de Oliveira Santos Manoel de Pontes Câmara Manoel de Pontes Câmara
Terreno Nº 97 11,8 m / 4,85 m Matheus José Nunes Antonio Silva Teixeira Joaquim José de Oliveira Sampaio
Terreno Nº 99 Matheus José Nunes Luiz Bandeira de Gouvea Luiz Bandeira de Gouvea
Rua Formosa
Rua Formosa
1808
1820
1830
1840
1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40
Terreno Nº 171 7 braças / 133 palmos Francisco Leocádio de Figueiredo Francisco Leocádio de Figueiredo
Terreno Nº 173 7 braças / 133 palmos Francisco Leocádio de Figueiredo Francisco Leocádio de Figueiredo
Terrenos
Nº 173A / 173C
Fellipe Bender /
Manoel Joaquim da Lapa /
Terreno Nº 39 17 palmos / 20 palmos José Antonio dos Santos * / Fabrício
Fellipe Bender *
Rosa da Conceição *
Rua Formosa
1870
1875
1860
Década de 50 Década de 60 Década de 70
Terreno Nº 8 2 braças Antonio José Ferreira da Rocha Antonio José Ferreira da Rocha
Terreno Nº 159 132 palmos José Teixeira Bastos José Pinto Mourão
Terreno Nº 16A Cândido José Pereira Codeço Cândido José Pereira Codeço
Terreno Nº 37 1 braça / 6 braças Mamede José da Silva Passos Antonio Pinheiro da F. Santos
Terreno Nº 64 Bernardo José de Castro Bernardo José de Castro
Terreno Nº 122 26 palmos Marcelino de Almeida Ribeiro Marcelino de Almeida Ribeiro
Terreno Nº 4 2 braças / 10 braças Aniceto Antonio Barbosa Aniceto Antonio Barbosa
Terreno Nº 163 20 palmos / 93 palmos Francisco José Pereira Luisa Guilhermina de A. Pereira
Terreno Nº 165 21 palmos / 92 palmos Francisco José Pereira Manoel José Pereira da Fonseca
Francisco Leocádio de Figueiredo /
Luiz José Pereira * /
Terreno Nº 171 7 braças / 133 palmos Luiz José Pereira * /
José Narciso da Silva Vieira *
José Narciso da Silva Vieira *
Terreno Nº 173 7 braças / 133 palmos Francisco Leocádio de Figueiredo José Narciso da Silva Vieira
Terrenos Manoel Antonio Braga e Manoel Antonio Braga e
Nº 173A / 173C Domingos José Dias Braga Domingos José Dias Braga
Terreno Nº 39 17 palmos / 20 palmos Fabrício Rosa da Conceição José de Araújo Pereira Villas Boas
Rua do Areal
Rua do Areal
1808
1820
1830
1840
1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40
Terras desmembradas da
Chácara do Areal c/ moradas de Alferes Antonio Domingues Lopes e
10 braças
casas.Frente p/a rua Nova do Manoel Parente da Costa
Conde e fundos p/a do Areal
Chácara e terreno com Luis José da Cunha Bastos e Intendente Paulo Antonio Joaquim Teixeira (casa) e
9 braças
casa Fernandes Vianna (terreno) Paulo Fernandes Vianna (terreno)
Terreno com morada de Alferes Gabriel José Ferreira /
3,5 braças / 41 braças Manoel Francisco de Oliveira
casas Manoel Francisco de Oliveira *
Terreno c/ casa 14 braças / 18,5 braças Manoel Parente da Costa Anna Quitéria de Araújo (parte)
Sobrado comprado do
40 braças Joaquim José Cardoso Guimarães Joaquina Roza do Bonsucesso
Conde dos Arcos
Terreno Nº 21
Edifício do Senado
Rua do Areal
1870
1875
1860
Chácara do Areal
Terras desmembradas da
Chácara do Areal c/ moradas de
10 braças
casas.Frente p/a rua Nova do
Conde e fundos p/a do Areal
Terreno Nº 17
1808
1820
1830
1840
1850
Década de 10 Década de 20 Década de 30 Década de 40
Antonio da Rocha Machado / Antonio Luiza Roza Avondano Pereira (viúva Luiza Roza Avondano Pereira (viúva
Chácara de São Diogo José Joaquim Ferreira
Fernandes Pereira * de Antonio Fernandes Pereira) de Antonio Fernandes Pereira)
Terreno c/ casas atrás 267 palmos / 118 Felippe Furtado da Silva
Manoel de Jesus Antonio José de Siqueira
da Igreja de Santana palmos (herança de Antonio José de Siqueira)
Manoel José R. de Oliveira, vigário Manoel José Manoel José R. de Oliveira, vigário Manoel José
Duas chácaras com 22
da Costa e Cons. Luis Joaquim Duque Estrada da Costa e Cons. Luis Joaquim Duque Estrada
moradas de casas F. de Mendonça F. de Mendonça
Terras com frente p/ a rua do Polucena Luiza de Britto /
Aterrado e fundos para a de S. José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes
Diogo José de Oliveira Fernandes *
Duas casas térreas 8 braças Antonio Pinto da Costa José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes José de Oliveira Fernandes
Terreno c/cinco moradas
10 braças Manoel José de Andrade José Carneiro Dias
de casas
Terreno 8 braças Luiz da Rocha Machado Luiz da Rocha Machado José Ferreira Serpa José Ferreira Serpa
Terreno 6 braças João Pereira de Almeida-leilão
Terreno 4 braças / 57,5 braças Deolinda Jacintha
Terreno 8 braças/ 19 braças Maria Rosa de Santana
Terreno 6 braças / 57,5 braças Carolina de Souza Costa
José Carlos Mayrinck /
Terreno 8 braças / 57,5 braças
José Joaquim Ferreira *
Terreno 3 braças
Terreno c/ moradas de
5 braças
casas Nº 120
Terreno 3 braças / 30 braças
Parte p/ Alexandre Leite dos Santos e outra p/
Manoel Joaquim de Oliveira e Manoel Joaquim de Oliveira e Antonio Domingues de Oliveira / Parte p/ Manoel
Duas casas térreas 8 braças de Azevedo Freitas e outra p/ Manoel Joaquim
Manoel Joaquim da Lapa Manoel Joaquim da Lapa
Tavares *
Terreno 2 braças
Terreno 7 braças
Terreno 15 braças
Terreno 2 braças
Terreno 2 braças
Terreno 3 braças
Terreno 4 braças
Terrenos
13 m / 66 m
Nº 11 / 9 / 13 / 15 / 17
Terreno 12 braças
Terreno 9 braças
Terreno 12 braças
Terreno 2 braças
12 braças / 20 braças
Dois terrenos
(cada um)
Cada Nº 92E
Prédio Nº 23
Prédio Nº 76C
Prédio Nº 92F
Terreno
Prédio Nº 16H
Terreno Nº 118
Terreno 8,14 m / 33 m
Terreno Nº 81
1870
1875
1860
Década de 50 Década de 60 Década de 70
Morada de casas
Nº 14 / 16 após 1840 Nº 64 / 66
4 braças / 39 braças
Terreno 22 braças
Terreno 20 braças
Terreno 9 braças
Terreno 20 braças
Terreno 8 braças
Terreno 80 palmos / 177 palmos Antonio de Oliveira Fernandes Manoel Machado Dutra
ANEXO E - MAPAS
Arruamentos
Freguesia de Santana
REFERÊNCIAS - MAPAS
Base cartográfica - Mapas Arruamentos: representação sobre a Planta da cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro, levantada por Ordem de Sua Alteza Real o Príncipe Regente no ano de 1808. Impressão Régia, 1812. In:
CUNHA (1971).
Fonte - Mapas Conjecturas da estrutura fundiária: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, manuscritos (ver
referências bibliográficas) e CECULT- Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (IFCH/UNICAMP).
Santana e Bexiga - Cotidiano e cultura de trabalhadores urbanos em São Paulo e Rio de Janeiro entre 1870 e
1930. Relatório final encaminhado em 2005.
Base cartográfica: representação sobre GOTTO, Edward. Plan of the city of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Biblioteca Nacional, 1866.
Fonte - Mapa Freguesias do Rio de Janeiro na segunda metade dos oitocentos: LOBO, Eulália Maria Lahmeyer.
História Rio de Janeiro (do capital comercial ao capital industrial e financeiro). Rio de Janeiro: IBMEC, 1978.