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História Global: Brasil e geral

São Paulo, 2005

Por: Gilberto Coutrim

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As civilizações Ameríndias

As denominações dadas aos habitantes do continente americano começaram após a


chegada dos navegadores europeus. Entre várias tentativas de nomear os povos da América estão
nativo americano, indígena e índio. Porém, até hoje ainda não se sabe como estes povos
chegaram ao continente. As teorias são diversas, mas, a de maior aceitação indica que eles
chegaram pelo Estreito de Bering, localizado ao Norte da Ásia. Esta faixa de terra faz uma
divisão entre os E.U.A. e a Rússia. Na época da movimentação dos povos até a América, o mar
estava em um nível mais baixo graças à glaciação. Desta forma, uma passagem de gelo natural
foi formada entre a América e a Ásia, pela qual esta população chegou à América.

Outra hipótese indica que os povos ameríndios tenham chegado atravessando o oceano Pacífico.
Assim, teriam vindo de partes da Ásia e da Oceania. De acordo com alguns historiadores, os
primeiros povos da América teriam feito a migração há aproximadamente 70 mil anos e, devido à
grande quantidade de pessoas, não poderiam ter utilizado apenas um caminho.

A nomenclatura que ficou mais conhecida para designar estes povos foi “índio”. Isso ocorreu
devido a uma confusão feita por Cristóvão Colombo, líder da frota que alcançou o continente
americano. Na verdade, Colombo achava que tinha descoberto as Índias, por isso nomeou desta
forma os povos que encontrou no local. É por isso que atualmente as ilhas do Caribe ainda são
chamadas de Índias Ocidentais.

No que se refere à América do Norte, os nomes dados a estes povos são: indígenas da América,
nativos do Alasca, primeiras nações, índios americanos e povos aborígines. Um grupo que não se
encontra nestas denominações são os esquimós (aleutas, yupik e inuit) e os métis encontrados na
região do Canadá. Isso ocorre, pois tais populações apresentam características genéticas
diferentes em relação aos outros índios.

Primeiros povos no Brasil

Apesar de não existirem fontes seguras, tudo indica que os primeiros povos que chegaram ao
Brasil localizavam-se no Piauí. Eram grupos de coletores e caçadores que já dominavam o fogo e
sabiam fabricar instrumentos de pedra. Segundo pesquisas arqueológicas realizadas na região de
São Raimundo Nonato, localizado no interior do Estado, existem indícios da presença de seres
humanos na região datados em 48 mil anos. Outra região em que foi encontrado um cemitério de
ossos é Lapa Vermelha, em Minas Gerais, com registros de 12 mil anos de existência.

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Foram povos que dominaram boa parte das Américas antes da chegada dos europeus ao
continente, no século 16. A civilização maia foi a primeira a se consolidar como um império,
atingindo o auge no final do século 9 – época em que o território maia se estendia do sul do
México à Guatemala. Arqueólogos especulam que guerras ou o esgotamento das terras
cultiváveis levou a civilização a um rápido declínio a partir do ano 900. No início do século 16,
quando os espanhóis desbravaram a América, os maias encontrados eram simples agricultores
que apenas praticavam rituais religiosos de seus ancestrais. Já os astecas estavam no auge nesse
período. A civilização deles surgiu mais ao norte do México. Enquanto seus “vizinhos” maias
entravam em decadência, os astecas começaram a crescer por volta do século 12. Formando
alianças com estados vizinhos, montaram um grande império que ainda estava se expandindo
quando ocorreu o contato com os espanhóis, em 1519. Em apenas dois anos os invasores do
Velho Mundo dominaram o mais importante centro asteca: Tenochtitlán, a atual Cidade do
México. Era outro império pré-colombiano que chegava ao fim. Na América do Sul, os incas
viveriam uma história semelhante. Até o século 14, eram só mais uma tribo indígena espalhada
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pela cordilheira dos Andes. Mas a partir do século 15 se expandiram, atacando vilas vizinhas.
Quando os espanhóis chegaram, os incas já dominavam uma grande área do norte do Equador à
região central do Chile. Epidemias e lutas pela sucessão imperial deixaram a civilização
enfraquecida para enfrentar os conquistadores europeus. Resultado: assim como fizeram com os
astecas, os espanhóis derrotaram rapidamente o império inca. Levou só três anos, de 1532 a 1535.

ANTES DE COLOMBO
Semelhanças e diferenças entre as três civilizações mais importantes da América
INCAS
Idioma – A língua era o quéchua, falado por todo o território em vários dialetos. Outros povos
conquistados pelos incas podiam manter seu idioma original, desde que falassem o quéchua como
língua principal.
Hoje, quase a metade da população do Peru ainda usa o idioma
Escrita – Não desenvolveram a escrita. Mas criaram um complexo sistema para números na
forma de nós distribuídos em uma corda. Apenas pessoas especialmente treinadas entendiam essa
contagem, cujo significado não foi totalmente decifrado até hoje
População – Foi o maior dos três impérios em número de súditos: 12 milhões de pessoas. As
conquistas territoriais pela cordilheira dos Andes e ao longo da costa do Pacífico começaram no
início do século 15. Cem anos depois, a população sob domínio inca atingiria seu auge
Cidades – Na época da chegada dos espanhóis, em 1532, calcula-se que Cuzco, a capital do
império, tinha cerca de 40 mil habitantes. Outra cidade inca bastante famosa, Machu Picchu, era
bem menor, abrigando em torno de mil pessoas
Sociedade – Era uma civilização muito estratificada, em que era quase impossível mudar de
classe social.
O poder supremo pertencia ao imperador, que era auxiliado por uma aristocracia hereditária. Esta
exercia a autoridade com rigor e medidas muitas vezes sangrentas
Poderio militar – Seus exércitos, de camponeses recrutados para campanhas militares, eram
muito numerosos. Tinham como armas principais lanças de madeira com várias pontas de pedra e
atiradeiras (feitas com lã de lhama) para arremessar pedras
Ciência e tecnologia – Possuíam conhecimentos astronômicos avançados e eram capazes de
aplicar conceitos de matemática e geometria nas suas construções. Apesar disso, a tecnologia de
construção dos incas era relativamente simples, fazendo uso em especial de artefatos de pedra
Grandes realizações – Construíram um incrível complexo de estradas ligando todo o império. O
sistema tinha duas vias principais no sentido norte-sul: uma, com cerca
de 3.600 km, corria ao longo da costa do Pacífico e a outra, com quase a mesma extensão, seguia
pelos Andes.

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Onde Nossa Senhora de Guadalupe aparece nesta história

MAIAS
Idioma – Não havia um único idioma principal. Os atuais descendentes de
maias, por exemplo, podem ser divididos em seis grupos principais, que
falam dialetos às vezes muito semelhantes, mas em outros casos com
grandes variações
Escrita – As paredes de seus templos e palácios são cobertas de inscrições em hieróglifos. Os
textos, em boa parte já decifrados, registravam principalmente as histórias das dinastias maias,
suas guerras contra cidades rivais e o sacrifício de inimigos para agradar aos deuses
População – Os números da época da conquista espanhola não são confiáveis.
Mas, apesar de a civilização ter sido quase dizimada, ainda hoje existem cerca de 4 milhões de
descendentes dos maias na América Central ? o que dá uma idéia da grandiosidade da sua
população
Cidades – As cidades maias ? algumas com até 50 mil habitantes ? eram muitas vezes
independentes, mas podiam liderar federações que abrangiam grandes territórios. Palácios e
templos eram de pedras, enquanto a população comum vivia em cabanas de madeira
Sociedade – Até meados do século 20, arqueólogos achavam que a sociedade maia tinha no topo
uma classe de pacíficos sacerdotes observadores de estrelas, mantidos por camponeses devotos.
Hoje já se sabe que essa sociedade era agitada com freqüência por guerras entre cidades
Poderio militar – Sua força militar residia no tamanho dos exércitos que podiam ser recrutados.
Os armamentos, porém, eram mais limitados: arcos e flechas de concepção primitiva, lanças e
escudos de madeira e até mesmo pedras que podiam ser atiradas com as mãos
Ciência e tecnologia – Faziam avançados cálculos matemáticos e observações astronômicas.
Tinham um calendário de 260 dias (determinado por complexos movimentos de astros) e já
entendiam o conceito do número zero ? que só posteriormente seria bem compreendido pelos
europeus
Grandes realizações – Produziram obras arquitetônicas tão grandiosas quanto egípcios, gregos e
romanos. A cidade de Teotihuacán, por exemplo, possuía um complexo monumental de 600
pirâmides.
Em Tikal, havia um templo com 70 metros de altura, o maior edifício erguido na América antiga

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ASTECAS

Geografia, Clima e Arqueologia:


Idioma – Falavam o nahuatl, que faz parte de um grande grupo de idiomas indígenas ? incluindo
o de tribos do Velho Oeste americano. Os astecas podiam ser chamados de Mexica, algo como
“lago da Lua” ? nome mítico de um lago da região
Escrita – Usavam sinais conhecidos como pictógrafos ou pictogramas, com figuras de serpentes,
seres humanos e outros elementos da natureza, formando uma variedade de escrita. Alguns dos
pictógrafos simbolizavam idéias; outros representavam sons de sílabas
População – Em 1519, a população estimada do império asteca era de 5 a 6 milhões de pessoas,
espalhadas por centenas de pequenos estados/cidades.
A expansão dos astecas se deu do norte para o sul da América Central, conquistando outras
civilizações, como os toltecas
Cidades – Em seu auge, Tenochtitlán (hoje a Cidade do México) tinha mais de 140 mil
habitantes! Ela foi a maior cidade das antigas civilizações da América. Os templos eram de pedra
e alinhados aos astros. Já o povo morava em cabanas feitas de madeira com lama seca
Sociedade – O poder pertencia ao setor militar da sociedade. Sacerdotes e burocratas
administravam o império, enquanto as classes mais baixas eram formadas por servos, serviçais e
escravos. Demonstrar bravura nas guerras era a principal forma de ascensão social na cultura
asteca
Poderio militar – Camponeses podiam ser convocados a qualquer momento para integrar os
exércitos astecas, que preferiam ferir a matar seus inimigos ? obtendo prisioneiros para usar em
sacrifícios. Lanças, porretes e escudos redondos de madeira eram os principais equipamentos
Ciência e tecnologia – Tinham um calendário com cálculo preciso do ano solar (com 365 dias) e
usavam um diferente sistema de contagem tendo como base o número 20. Médicos astecas
podiam consolidar ossos quebrados e fazer obturações em dentes
Grandes realizações – Desenvolveram um planejamento urbano impecável. Suas obras públicas
incluíam quilômetros de estradas e aquedutos. A capital Tenochtitlán foi erguida em área
pantanosa, cuidadosamente drenada e aterrada para comportar cerca de 100 pirâmides e torres
.

MAIAS, ASTECAS E INCAS UMA ABORDAGEM GERAL

Quando Colombo chegou à América, em 1492, encontrou o continente habitado há muito


tempo por várias civilizações e povos. Os povos pré-colombianos apresentavam diferentes
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estágios de desenvolvimento cultural e material, classificados em: sociedades de
colectores/caçadores e sociedades agrárias. Dentro deste segundo grupo, três culturas merecem
maior destaque: os maias e os astecas, no México e América Central, e os incas na Cordilheira
dos Andes, na América do Sul. Alcançaram notáveis conhecimentos de astronomia e matemática,
além de dominarem técnicas complexas de construção, metalurgia e cerâmica. Não conheciam a
roda e o cavalo, mas desenvolveram técnicas eficientes de agricultura. Enquanto o fim da cultura
maia é até hoje um mistério, sabemos que os povos astecas e incas decaíram perante a conquista
espanhola.

Civilizações pré-colombianas
Quando o primeiro grande descobridor europeu, Cristóvão Colombo, aporta ao continente
americano, encontra lá estabelecidas três grandes culturas, espalhadas por uma vastíssima região
que se estende do México ao Chile: os Astecas, os Incas e os Maias.
Os Astecas haviam-se instalado há séculos, após várias guerras de conquista, no território a que
hoje chamamos México. Aí constituíram um estado que de algum modo se pode comparar aos
estados da Antiguidade, quer aos do Médio Oriente quer aos da região índica. Os Astecas tinham
já desenvolvido um sistema de escrita, onde se misturavam sinais ortográficos de carácter
fonético e ideogramas, com os quais podiam registar as suas obras poéticas e os seus mitos.
Tratava-se de uma sociedade dividida em clãs, em que os sacerdotes e os guerreiros detinham um
grande poder sobre os restantes segmentos da sociedade; a pirâmide social descia até aos servos,
ocupados na produção agrícola, passando por uma classe de comerciantes e de artesãos. A
religião, politeísta, tinha uma tão grande influência na vida quotidiana que a chegada dos
conquistadores espanhóis foi encarada por todos, incluindo o imperador reinante, como uma
inelutável fatalidade prevista nos mitos. À religião estava associada a astronomia, que registava
assinaláveis progressos, embora baseada apenas na observação directa dos fenómenos; dessa
observação tinham sido deduzidos dois calendários, um religioso (de 260 dias, dividido em vinte
“meses”) e um solar (com 365 dias, com 18 meses), sendo os nomes dos meses relacionados com
o ciclo dos trabalhos agrícolas. A atestar a sua competência técnica (embora não seja muito
completo o conhecimento das suas técnicas de construção) estão as pirâmides, destinadas à
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prática religiosa (no seu topo localizava-se a mesa dos sacrifícios humanos) e a sua escultura
(geralmente de temas dramáticos).
Os Incas tinham estabelecido o seu império num vasto território que ia da actual Colômbia à
costa chilena. A conquista de tão vasto domínio não estava ainda perfeitamente consolidada no
momento da chegada dos conquistadores espanhóis, o que de certo modo facilitou a implantação
e dominação destes (o Império Inca seria destruído em 1532, quando Francisco Pizarro derrotou e
matou o imperador Atahualpa). A organização social inca, fortemente hierarquizada,
compreendia uma família real (cuja origem e poder se identificava com mitos ancestrais), ligada a
uma nobreza detentora de poder político, religioso e militar, à qual se subordinava uma classe de
agricultores e artesãos, terminando nos trabalhadores agrícolas, destituídos de toda a liberdade. O
imperador dispunha de um corpo de cobradores de impostos dotado de apreciável autoridade; por
outro lado, a extensão do império obrigava a uma regionalização e à consequente distribuição do
poder por um segmento nobre, que representava o poder imperial em todo o vasto país. A
economia era baseada unicamente na produção agrícola, sendo a terra propriedade do estado, que
a distribuía aos que a iriam trabalhar. É assim fácil de entender que a religião, organizada e
dirigida pelo estado, estivesse também, nos seus rituais e mitos, ligada ao ciclo da produção
agrícola. Da arte deste povo, que não possui a monumentalidade dos Astecas, conhecem-se
esculturas murais com pouca variedade de motivos e trabalhos decorativos em metais preciosos.
O maior exemplo das capacidades da sua engenharia está nas estradas andinas que permitiam
atravessar todo o império.
A cultura maia apresenta características diferentes das duas anteriores. Os Maias eram uma
federação de estados, que se criou em territórios que hoje fazem parte do México (Chiapas) e da
Guatemala. A Federação teve uma vida agitadíssima: encontrava-se constituída no século IV da
nossa era, mas foi palco de numerosas lutas internas, prolongadas e destruidoras, acabando o
povo maia por se fundir com os toltecas (século X), o que lhe deu novo fôlego. As suas cidades
começaram a renascer, recompondo-se a Federação. No entanto, nas vésperas da conquista
espanhola a crise voltara a instalar-se, e os conquistadores foram encontrar um povo em
decadência e desorganização, cuja cultura tinha já quase desaparecido inteiramente. Nos meados
do século XVI a cultura maia tinha sofrido o mesmo destino das restantes culturas pré-
colombianas: a integração no império espanhol.

MAIAS – HISTÓRIA

O território maia dividia-se em três zonas: a Norte, que compreendia a península do


Iucatão; a do Centro, abrangendo o norte da Guatemala; a Sul, que abrangia as terras altas desta
última região e Chiapas, bem como litoral confinante do Pacífico. As primeiras comunidades
agrícolas maias remontam a cerca de 2000 a. C – 250 d. C. (período pré-clássico). As primeiras
pirâmides surgem nos últimos 500 anos desse período, tal como a cerâmica pintada ou as
abóbadas em sacada dos templos, tão características da arquitectura maia. Entre 250 e 950 da era
cristã, o período clássico, os maias atingem a sua máxima expansão territorial, principalmente no
Centro. A região do Sul, porém, começou a entrar na órbita de povos oriundos de Teotihuacán,
grande metrópole do México central.
Na parte final da época clássica, todavia, começa a decadência maia nas terras do Centro, com o
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abandono de inúmeras cidades. A causa deste declínio maia nesta região ainda está envolta em
brumas, antevendo-se hipóteses ligadas a guerras ou consequências de excesso populacional. O
período pós-clássico (950-1500) foi marcado pela chegada dos Toltecas, provenientes da região
central mexicana. Os cronistas maias atribuem-lhes o insuflar de um renascimento maia no
Iucatão, onde Chichen Itzá se tornou na nova capital. Foi, entretanto, abandonada cerca de 1200,
passando Mayapán a capital da região, que passa a liderar uma liga de cidades-estado com o seu
nome. No entanto, a rivalidade entre linhagens nobres determinou a destruição e abandono da
cidade, lançando o Iucatão na anarquia e em contínuas guerras entre as cidades-estado. O Sul,
contrariamente, era constituído por pequenos estados fortes, que reivindicavam uma origem
tolteca.
Em meados do século XVI, os Maias ocupavam um território entre o norte de Iucatão e a costa do
Pacífico da Guatemala, atingindo as Honduras e o actual estado mexicano de Tabasco. Com a
conquista espanhola em 1511, a região Centro passa a ser a zona de refúgio dos fugitivos maias;
no Iucatão e nas terras altas assistiu-se à concentração da população maia em aldeias de
evangelização. Não obstante a resistência aos espanhóis, a população maia declina e conhece a
opressão do invasor, para além das mortandades devido a epidemias dizimadoras. Subsistem
ainda hoje, no Iucatão mexicano, na Guatemala e Belize cerca de 300 000 descendentes dos
maias, com algumas das tradições e estruturas sociais antigas.
Organização social e política
A sociedade maia dividia-se em classes sociais. A nobreza, possuidora de terras e cargos
decisivos, era detentora dos mais altos títulos militares e religiosos. A maior parte da população
era composta por camponeses, que sustentavam a nobreza, o clero, os comerciantes e os artesãos.
Talvez existissem servos nas propriedades da nobreza, tal como escravos, antigos prisioneiros de
guerra. Os maias não construíram um grande império (como os Toltecas, Astecas ou Teotihuácan
no México central), antes dividiam-se em cidades-estado governadas por uma linhagem
masculina, como quando chegaram os espanhóis. No entanto, existiram grandes cidades que
dominaram territórios adjacentes de grande extensão. O clero era poderoso, detendo o monopólio
de todos os conhecimentos.
Economia
A agricultura era a principal actividade (milho, legumes, cacau, algodão, frutos).
Criavam-se cães, perus e abelhas, não se descurando a caça ou a pesca. O comércio entre cidades
vizinhas ou com regiões afastadas era bastante dinâmico e rentável. Os principais produtos eram
o cacau, as plumas de quetzal, a obsidiana, as conchas ou o jade, que chegavam a longínquas
terras por terra ou por mar.
Religião
Era uma religião politeísta. As divindades mais conhecidas e representadas eram Chac,
deus da Chuva, Kinich Ahau, do Sol (que se transforma em jaguar durante o seu trajecto nocturno
“sob” a Terra) e o deus da Morte, que tinha várias designações. Existiam deuses para cada classe
social ou profissão, como o de Kukulcán, grande herói mitológico dos maias. O clero maia tinha
também responsabilidades e supervisão sobre o plano científico, não se restringindo apenas à
esfera religiosa.

Arquitectura, artes plásticas e artesanato


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O plano-tipo dos centros de culto dos maias consistia numa praça rectangular rodeada por
três ou quatro pirâmides e plataformas. As pirâmides eram degraus, por vezes

de grande declive. Em torno de edifícios de grandes fachadas esculpidas, situavam-se as áreas


residenciais. A arquitectura ganhou um carácter fortificado na segunda metade do período pós-
clássico (entre 1200 e 1500), devido às guerras sucessivas entre os pequenos estados.
A escultura maia conheceu as suas melhores realizações nos altares e estelas em frente aos
templos. Era quase sempre feita em baixo-relevo. As estelas representam dignitários vestidos de
forma complexa, contendo inscrições hieroglíficas (datas e inscrições dinásticas); a mais antiga,
existente em Tikal, na Guatemala, remonta a 292 d. C.. Conservaram-se mal, todavia, as pinturas
interiores dos edifícios. Os maias eram um povo de artistas de grande perfeição e requinte.
Trabalhavam o jade, as conchas, a obsidiana ou a cerâmica, quer para ornamentação quer para
utensilagem.
Ciências
A escrita hieroglífica maia era a mais elaborada da América Central pré-colombiana, utilizando
ideogramas e fonogramas. Os principais textos eram de carácter cronológico ou astronómico,
existindo também o dinástico. Possuíam um sistema numérico e de cálculo. Usavam dois tipos de
calendário, como sucedia em outros povos da América Central: um ritual, de 260 dias divididos
em 13 períodos de 20 dias cada; outro solar, com 365 dias mas com 18 meses de 20 dias cada,
sobrando 5 adicionais. Cada data era representada nos dois calendários, com cada combinação a
repetir-se apenas de 52 em 52 anos. A data da “fundação” da civilização maia corresponde a 3113
a. C..
Literatura
Devido à diversidade de línguas utilizadas, a literatura maia é difícil de compreender, facto que é
agravado pela existência de caracteres pictográficos em parte ainda por decifrar. Mesmo os
códices maias conservados até hoje (o de Dresden, o de Madrid ou o dos Três Cortesãos, por
exemplo) escondem ainda muitos segredos. Também graças aos missionários espanhóis e às suas
transcrições e estudos – e a muitos índios actuais – nos é possível conhecer esses textos e
tradições literárias. Os cronistas espanhóis mais uma vez forneceram inúmeras informações
etnográficas e históricas essenciais para a compreensão dos textos maias. A literatura maia
tornou-se mais conhecida graças à obra mitológica Popol-Vuh (origem do mundo e da
humanidade, bem como da genealogia maia) e ao drama Rabinal Achi (de inspiração religiosa e
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guerreira). O primeiro contém uma linguagem de grande intensidade poética. Dos maias do
Iucatão chegaram-nos os livros dos Chilam-Balam, cujo teor profético e mitológico não deixa de
apresentar grande interesse histórico, religioso e astronómico. Existiam também textos de género
médico e farmacêutico impregnados na mitologia, na astronomia, na história e na religião, temas
fundamentais da literatura maia.

ASTECAS – HISTÓRIA

Se se acreditar nos contos tradicionais da América Central, os Astecas, ou Mexicas, povo


de língua nahuatl, eram originários de uma região desconhecida e de localização incerta: Aztlán,
algures naquilo que é hoje o México. Ali se teriam estabelecido por volta do século II da era
cristã. Mil anos depois, irradiariam para o sul do México, estabelecendo-se durante mais de cem
anos em Tula, a capital dos Toltecas. Entretanto, por volta do século XIV, ocupam a região da
actual cidade do México, submetendo-se aos reinos que então aí existiam. Os astecas, porém,
cerca de 1325 (ou 1345) fundam a cidade de Tenochtitlán (ou México), capital do seu futuro
reino, cujo primeiro soberano foi Acamapichtili. Em 1428-29, dá-se uma aliança política entre
essa cidade e as de Texcoco e Tlacopan, que depois se unem as três na sequência da queda da
dinastia Tepaneca que dominava há muito a região da actual Cidade do México.
O soberano asteca, entretanto, assume as funções de comando dos respectivos exércitos
confederados, o que proporcionou uma gradual ascensão do seu povo e o domínio efectivo sobre
os outros dois. No entanto, a unidade não se desfizera, actuando como um bloco, principalmente
no plano militar: depois de dominar os povos vizinhos, os aliados empreendem a conquista de
terra fora da região do México. Por isso, em meados do século XVI dominavam já um vasto
território, atingindo a costa do Golfo do México e o litoral do Pacífico (na região actual de
Guerrero), atingindo, a sul, o istmo de Tehuantepec. Os soberanos de Tenochtitlán foram
decisivos neste processo de conquistas, destacando-se Moctezuma I e Axayacatl, cujo filho,
Moctezuma II, ficou célebre por ter resistido aos conquistadores espanhóis comandados por
Hernán Cortez, que tomou Tenochtitlán e acabou por matar o referido monarca. Todavia, o filho
e o sobrinho de Moctezuma II, respectivamente Cuitlahuac e Cuauhtémoc, tentaram resistir aos
espanhóis, embora fracassando. Cuauhtémoc foi o último imperador asteca, tendo sido deposto
em 1525.
Organização social e política
Originariamente igualitária, dividida em clãs (calpulli) a sociedade asteca transformou-se
gradualmente devido a diferenças e choques entre a nobreza e o povo, surgindo também novos
grupos sociais (mercadores, funcionários, artesãos) detentores de grandes privilégios. Os
comerciantes tinham mesmo uma função de espionagem nos territórios exteriores onde
comerciavam. Abaixo destes estratos, estavam as gentes comuns (macehualtin), cidadãos livres
sujeitos a tributos e corveias. Na base estavam os camponeses sem terras (mayeques), e os
escravos, que tinham alguns direitos, como a posse de terras ou o casamento com cidadãos livres.
Por oposição, no topo estava o tlaotani, chefe político, militar e talvez religioso, personagem que
durante o reinado de Moctezuma II deteve imenso poder. Abaixo deste, estava o cihuacoatl,
primeiro-ministro e juiz supremo, comandante militar e regente na ausência do tlaotani. O poder
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executivo era composto por quatro conselheiros eleitos ao mesmo tempo que o soberano.
Existiam ainda os chefes detentores de títulos, terras e cargos, a nobreza. A sociedade asteca não
era fechada, pois a guerra, elemento muito importante nesta civilização, era uma forma de se
poder obter honras e distinções.
A formação dos futuros cidadãos era feita em dois tipos de escolas: o telpochcalli, onde as
crianças aprendiam as artes da guerra; o calmecac, para o ensino da religião e das artes. O
primeiro provavelmente terá servido os cidadãos livres do povo, o segundo para a nobreza.
Economia
A principal actividade era a agricultura, desenvolvida e produtiva, baseada no cultivo de
milho e legumes, como o tomate ou os pimentos. Os astecas cultivavam “jardins flutuantes” na
laguna do México, junto a Tenochtitlán, autênticas maravilhas da técnica agrária. Criavam perus
e também cães, de que apreciavam imenso a companhia e a… carne. O comércio era muito
desenvolvido entre os astecas, trocando manufacturas da sua capital por produtos como o jade, o
cacau, o algodão, metais preciosos e plumas de aves das regiões tropicais. Para além da riqueza
amealhada no comércio, arrecadavam somas consideráveis nos tributos das trinta e oito
províncias do império.

Religião

Máscara Asteca
Era uma civilização politeísta e prestava grande importância a cada momento da vida
humana, o que explica o grande poder dos sacerdotes astecas, reguladores das forças naturais.
Entre os seus deuses, destacam-se Huitzilopochtili, deus da Noite e da Guerra, rival de
Quetzalcoátl, o grande deus da civilização asteca; Tlaloc, deus da Chuva; Chalchiuhtlicue, sua
companheira; e Tlazolteotl, deusa do Amor. Os astecas ofereciam sacrifícios rituais aos deuses,
às vezes humanos (e até canibalismo ritual), muitos deles cativos de guerra. Os astecas
acreditavam que o destino do homem no além dependia da forma como morria: os guerreiros,
quando mortos em combate, acompanhavam o sol até ao seu zénite. Davam imensa importância
ao futuro, que se “previa” segundo a adivinhação através de um calendário de 260 dias, sendo
uma tarefa dos sacerdotes, que a desempenhavam em dias festivos ou em grandes acontecimentos
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públicos. A astronomia asteca, apoiada no culto solar, atingiu desenvolvimentos e graus de
conhecimento extremamente avançados.
Arquitectura e artes plásticas
Pouco restando da sua arquitectura, os astecas construíram obras monumentais, destruídas
posteriormente pelos conquistadores espanhóis. Inspirava-se na arte Tolteca e de Teotihuácan,
bem como no estilo huáxteca, embora tivesse elementos originais. Os templos eram imponentes,
bem como as pirâmides, ladeadas de outras construções. A capital, Tenochtitlán, terá sido um
conjunto arquitectónico impressionante até à sua destruição pelos espanhóis. As estátuas e
baixos-relevos são também identificativas da arte asteca, com particular destaque as composições
de carácter religioso, como a estátua gigante da deusa Coatlicue, ou o célebre e enorme
calendário solar. A ourivesaria e as plumagens eram expressões artísticas de grande importância
entre os astecas, bem como as máscaras e as peças de joalharia. Os templos e palácios eram,
como no Egipto, ornados de frescos e inscrições hieroglíficas consteladas de coloridas
ilustrações. Todo este património móvel e imóvel foi pilhado e arrasado pelos espanhóis depois
de 1525.

Praça das três culturas (ruínas do Império Asteca), Cidade do México


Literatura
O grande instrumento da literatura asteca era a sua língua, o nahuátl, que tinha uma forma
de escrita que depois foi decifrada e transcrita pelos espanhóis, que ainda assim destruíram
muitos manuscritos desta civilização. Os textos que chegaram até nós foram transmitidos pelos
missionários, que recolheram e transcreveram as tradições nahuátl pré-colombianas (por
exemplo, os códices Borbonicus, Tonamatl ou Mendoza). Os principais temas eram os religiosos,
rituais, mitológicos, históricos ou genealógicos. Quanto à forma, a poesia foi o género mais
cultivado, muitas vezes associada à música ou à dança. Com o canto (de guerra, divino ou
florido) e as coreografias, cada palavra dos poemas ficou gravada na memória dos dançarinos e
do seu povo, o que fez com que esse património artístico asteca perdurasse até hoje. A prosa era
também cultivada, principalmente a retórica – de carácter moralista ou educativo – e a narrativa
histórica, as lendas e as genealogias, fontes preciosas de informação sobre a civilização asteca. A
tradição literária asteca manteve-se ao longo da dominação espanhola, mesmo na língua dos
conquistadores.

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INCAS– HISTÓRIA

De acordo com os cronistas espanhóis, as populações andinas conquistadas afirmavam


pertencer ao poderoso império de Tahuantinsuyu, ao qual atribuíam uma origem lendária. Esta
contava que quatro jovens e suas esposas abandonaram um dia as suas quatro cavernas, em
Pacari-tampu. Um deles, Ayar Manco, fixou-se, com sua mulher, Mama Ocllo, na região de
Cuzco, aí começando uma civilização, a dos Incas. Ayar Manco, ou Manco Cápac, era
considerado como o primeiro soberano da dinastia Inca, tendo reinado no século XII da era cristã.
A arqueologia tem dados algumas bases verídicas a esta obra civilizadora dos habitantes de
Cuzco sobre a região circundante. No entanto, apontam-se três povos como estando na base da
civilização Inca: os aimarás, a sul de Cuzco; os quechuas, provavelmente os fundadores do
império I.; os yungas, do litoral.
Há também uma outra hipótese para a génese dos Incas: uma procedência marítima, apoiada em
similitudes antropológicas e culturais entre eles e povos do México e até da Ásia. No entanto,
Manco Cápac, é, sem dúvida, uma figura histórica concreta, tendo estado na origem do império
(ou dinastia) Inca, tendo vivido no século XIII. Mas a hegemonia inca só advém com Yáhuar
Huárac, que domina efectivamente o vale de Cuzco e submete os povos vizinhos. A ele sucedeu
Viracocha, que sofreu ameaças de povos do litoral e de outras regiões andinas, tendo seu filho
Inca Yupánqui, todavia, repelido essas ameaças exteriores, reformado o estado inca e criado
bases políticas para a sua expansão territorial. Adoptou o nome de Pachacútec, “o reformador do
mundo”. Seu filho, Tupac Yupánqui será o grande obreiro da expansão inca, a partir de 1471.
Atingiu a actual Quito, a norte, e a sul, o noroeste daquilo que é hoje a Argentina, o norte do
Chile e grande parte da Bolívia. No entanto, com a sua morte, em 1527, sobreveio a divisão entre
os Incas, graças à luta pelo poder sobre o grande império entre os seus filhos, Atahualpa e
Huáscar. Esta guerra civil enfraqueceu o país e abriu brechas que facilitaram a conquista do
território por Francisco Pizarro. Prisioneiro dos espanhóis, Atahualpa foi por eles executado em
1533, sendo substituído por Manco Inca, um soberano fantoche, que morre em 1537. Ainda que
tenha subsistido uma guerrilha contra o poder espanhol, este acabou por se consolidar e fazer
desaparecer politicamente o império dos Incas.
Organização social e política
Existia uma linhagem imperial, formada pelos descendentes da linha masculina do
imperador, tendo como função primordial preservar a memória e a múmia do seu antepassado. O
herdeiro era o filho do Inca e da Coya, a rainha (sua irmã). Existia depois uma “nobreza” inca,
parte vivendo em Cuzco e sendo da família do imperador, a restante vivendo nas terras do
Império. Depois, e em parte ainda englobado na nobreza (ou dela oriundo), surgia o clero,
seguido dos artesãos especializados (arquitectos, escultores, oleiros, entre outros, e
principalmente, os metalurgistas, protegidos do Inca). Abaixo destes grupos, que compreendiam
também os guerreiros, estavam os camponeses e, depois, os servos, ou Yana. Existia também um
grupo de mulheres que eram encerradas em comunidades do tipo “conventual”, outras
consagradas como virgens ao Sol, outras obrigadas a tecer e costurar toda a vida a lã dos
rebanhos imperiais.
Vasto e multiétnico, o império inca era fortemente centralizado na pessoa do soberano, de origem
divina e com autoridade absoluta. Era assistido por um conselho; cada província tinha um
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governador, que exercia o poder em seu nome; depois, vinham os funcionários, que faziam
respeitar a autoridade do Inca e recolhiam os impostos. Como forma de união das etnias
subjugadas pelo império Inca, o soberano impunha-lhes o uso do quechua (ou runa-sumi) e o
culto ao deus Sol, sendo estes os dois maiores instrumentos de coesão imperial. Uma rede de vias
cobrindo todo o império, secundada por “correios” rápidos e por um exército móvel e eficaz, era
também um factor de unidade nacional, para além da educação em Cuzco de muitos filhos da
nobreza provincial.

Economia
Assentava na repartição tripartida das terras. A primeira parte, atribuída ao Sol, era
cultivada para suprir as necessidades do clero; a segunda pertencia ao Inca, mas servia muitas
vezes de reserva; a terceira, era a do ayllu (grupo de famílias unidas por parentesco ou aliança e
habitando na mesma terra). As terras e os pastos eram divididos em parcelas e explorados pelas
famílias. O ayllu, enorme reserva de trabalho (não só agropastoril mas também mineira e das
grandes obras públicas), estava devidamente recenseado e controlado pelo Inca e seus
funcionários (os quipu-camayoc).

Religião
O culto primacial e imperial era o do Sol (Inti), embora se adorasse também, por exemplo, a Lua
(Killa) e o Relâmpago (Illapa). Toleravam-se também os cultos regionais, das etnias subjugadas,
ainda que fossem secundários.
Arquitectura e artesanato
Construíram uma imponente arquitectura de pendor “megalítico”, amplamente pragmática
e severa, fosse em palácios, templos ou residências. De planta quase sempre rectangular, os
edifícios eram feitos através do ajustamento de blocos de pedra irregulares ou de tipo
“almofadado” no exterior. As aberturas eram trapezoidais, surgindo nichos abertos nas paredes.
Raramente a escultura aparece associada à arquitectura, da qual se destacam as fortalezas, vias,
templos, canais ou as cidades, como Machu Picchu ou Cuzco.
Produziam cerâmica, alguma com grandes primores artísticos, obedecendo a decorações
geométricas e policromáticas. Celebrizaram-se mais nos tecidos (principalmente em lã) e na
metalurgia e ourivesaria, na qual criaram magníficas obras de arte em ouro, prata, platina e cobre
(que ligaram ao estanho para obter bronze). Faziam não só ornamentos, mas também armas e
instrumentos utilitários.
Ciências
Devido à ausência de escrita, é impossível avaliar o avanço científico dos Incas, que deve
ter sido notável, pelo menos em relação à astronomia, à metalurgia e à “engenharia civil”. Eram
dotados de um calendário.
Literatura
Devido à insuficiência de fontes, a literatura dos incas é bem menos conhecida do que a
dos Maias ou dos Astecas. Os incas não desenvolveram um sistema de representação gráfica que
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se pudesse considerar escrita, persistindo na literatura exclusivamente oral. A repressão colonial
espanhola sobre a cultura inca foi também responsável pelo apagar de muitas tradições literárias
daquele povo. Todavia, os cronistas espanhóis, como Cieza de León e Cristóbal de Molina deram
a conhecer as expressões poéticas e seus temas, para além de hinos. Pode-se, a partir desses
testemunhos e da tradição oral que se manteve durante muito tempo, denotar um carácter oficial
da literatura inca, muito ligada ao cerimonial litúrgico e à perpetuação das tradições e lendas
desse povo. Havia pois uma função pública e ritual, que se manifesta também nas criações líricas
ou dramáticas do povo. A produção literária inca estava a cargo de dois tipos de criadores (com
estatuto oficial), o amauta, filósofo e historiador, e o arawicus, poeta e músico.
O teatro era muito apreciado e de grande importância, embora também impregnado de um
carácter institucional e patriótico, principalmente no género dramático, pois também existiam
“comédias”, com mais música instrumental e canto. Uma das peças que chegou aos nossos dias é
o Ollantay, drama de cerca de 2 000 versos sobre uma paixão contrariada pela religião e pelo
sentido de estado, elementos muito fortes no quotidiano e cultura incas. A poesia era igualmente
difundida e apreciada, fosse de carácter sacro (em hinos) ou profano, como o arawi, poema lírico
centrado no sofrimento do amor. Os contos maravilhosos e as narrativas mitológicas eram
também comuns e importantes elementos da literatura e cultura do povo inca.

Revoltas Incas
Os Incas são um povo nativo da América do Sul, da região andina, que desenvolveram um
próspero império no século XV, devastado depois pelos conquistadores espanhóis, comandados
pelo implacável aventureiro de nome Francisco Pizarro.
No ano de 1525, o Império Inca encontrava-se dividido, pois à morte de Huayna Capac o império
ficara desprovido de um herdeiro que assegurasse a continuidade do trono, cobiçado por dois dos
seus filhos, os meio-irmãos Huáscar e Atahualpa. Estes dois potenciais candidatos ao trono
envolveram-se numa luta fratricida pela posse do império, que culminou com a captura de
Huáscar, em 1532, e que positivamente veio debilitar a já fragilizada unidade do império.
Foi neste momento bastante delicado que os espanhóis chegaram a este território. Pizarro fazia-se
acompanhar por um grupo de 180 homens, que os Incas identificaram como sendo semideuses da
sua mitologia que retornavam à Terra. A estratégia de Pizarro foi simples: aprisionou Atahualpa e
desestabilizou a unidade deste povo dividido. Este temeu que o seu rival o vencesse e assim
ordenou que os conquistadores executassem o seu meio-irmão, oferecendo-lhes em troca ouro
como forma de pagar o seu resgate. Mas este não foi de todo recompensado pelos espanhóis, que
o mataram em 1533.
Um irmão de Huáscar, Manco Capac, subiu ao trono com o apoio dos espanhóis, mas veio a
rebelar-se contra os seus apoiantes, que o aniquilaram sem piedade. Tupac Amaru, seu filho, e
único representante da linhagem inca, foi decapitado, ficando assim destruída qualquer
possibilidade de reabilitação deste império.

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