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Curitiba - 2024

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 Edifícios fotovoltaicos
Energia na gênese arquitetônica
Sofia Hinckel Dias, Aloísio Leoni Schmid,
arquiteta e urbanista engenheiro mecânico
pela Católica de Santa pela Universidade Fe-
Catarina (2017), Brasil, e deral do Paraná (UFPR),
Universidad de Zaragoza Brasil. Mestre em En-
(2014), Espanha. Mestre genharia pela Univer-
em Design pela Universi- sidade de Utsunomiya
dade Federal do Paraná (1993), Japão, e doutor
(2020), Brasil. Atualmen- pela Universidade de
te é estudante de Ciência Karlsruhe (1996), hoje
da Computação na esco- KIT, Alemanha. Professor
la 42 Lisboa, Portugal. da UFPR desde 1997.
 Agradecemos a Stephania Padovani e Acima de tudo, agradecemos a nossas
Marina Oba pelo aporte à dissertação de famílias.
mestrado que originou este livro, além das
pesquisadoras Flávia Silveira e Thallita de Esta pesquisa foi viabilizada por meio de
Souza que participaram neste projeto com financiamento do programa de pesquisa e
parte das fotografias e desenhos. Também desenvolvimento tecnológico Companhia
agradecemos a todos os profissionais que Paranaense de Energia - COPEL, projeto PD
gentilmente abriram seus escritórios para 2866-0470/2017, regulamentado pela ANEEL,
compartilhar informações de valor inestimável: coordenado por Gustavo Henrique da Costa
Lucimara Stolz Roman, José Mario Moraes Oliveira e André Pedretti. Este livro não tem fins
e Silva, Heiko Weissbach, Kilian Kada, Nicole
comerciais.
Richter, Udo Carmann, Martin Rösler, Tobias
Wagner, Stefan Holst, Florian Edler von Hayek,
Norbert Pfanner, Helen Rose Wilson, Gunter
Grandjean, Alexander Koller, Linus Walker, René
Schmid, Fabio Padula, Daniel Ladner, Georgina
Schneller, Sascha Bader, Francesco Frontini,
Pierluigi Bonomo, Erika Saretta, Paolo Corti e
Marco Corda. Mais ainda, em uma sala de aula
virtual, fomos recebidos pelo professor Tonio
Revisão: Sofia H. Dias, Aloísio L. Schmid;
Buonassisi com conteúdo disponibilizado pelo
Projeto gráfico: Sofia H. Dias;
MIT OpenCourseWare, experiência crucial para
a estruturação do trabalho. Uma vez que esses Fotografias: Sofia H. Dias, Flávia A. Silveira;

colaboradores aparecem identificados no texto, Tratamento de imagem: Sofia H. Dias;

seria redundante relacioná-los; ainda assim Produção Gráfica: Sofia H. Dias, Thallita C. de Souza;
queremos manifestar nossa gratidão formal. Fonte: Montserrat (Open Font License)
Prefácio........................................................................................................................................................................................................................................ 8
Energia é arquitetura.......................................................................................................................................................................................................... 18

1. Fundamentação............................................................................................................................................................................................................... 30
Tecnologia fotovoltaica: sob a perspectiva de um material construtivo multiescalar........................................................... 31
Em termos esféricos (rotação)...................................................................................................................................................................................... 40
Em termos espaciais (m²)................................................................................................................................................................................................ 50
Em termos angulares (º)................................................................................................................................................................................................... 60
Em termos de refletância (%)......................................................................................................................................................................................... 64
Em termos atômicos (fótons e elétrons)................................................................................................................................................................ 77
Barreira social........................................................................................................................................................................................................................... 86
Contexto brasileiro................................................................................................................................................................................................................ 106

2. Estudos de caso............................................................................................................................................................................................................... 124

Estudo de caso zero: Adaptive Solar Façade (ASF)......................................................................................................................................... 130
Estudo de caso 01: Copenhagen International School.................................................................................................................................... 166
Estudo de caso 02: New-Blauhaus............................................................................................................................................................................. 219
Estudo de caso 03: Multi-family house in Brütten.......................................................................................................................................... 261
Estudo de caso 04: House Schneller Bader......................................................................................................................................................... 304
Estudo de caso 05: New Monte Rosa Hut............................................................................................................................................................. 349
Estudo de caso 06: Silo Bleu........................................................................................................................................................................................... 394

3. Conclusão............................................................................................................................................................................................................................. 428
Compartilhamento dos resultados: cartas método....................................................................................................................................... 429
Tabela cartas método......................................................................................................................................................................................................... 454
 Prefácio Uma obra estruturada didaticamente, em texto
de fácil leitura e intensa provocação à reflexão. Que
consegue apontar caminhos para a realização
de uma tarefa aparentemente contraditória:
integrar a geração de energia fotovoltaica a
um projeto arquitetônico funcional, de plástica
contextualizada e economicamente viável.
Em uma abordagem polivalente, é oferecido
ao leigo uma diversidade de descrições
conceituais sem tecnicismo demasiado, é
descrita aos profissionais de engenharia (meu
caso) a modelagem de um problema clássico de
otimização multiobjetivo (sendo a energia elétrica
gerada uma das variáreis) e aos profissionais de
arquitetura fica delineado um possível método
para a sistematização do uso de módulos solares
fotovoltaicos como elemento construtivo.
Minha relação com os autores, Sofia e Aloísio,
se iniciou durante a realização de um projeto de
pesquisa. Projeto do qual essa obra é um dos
frutos e durante o qual surgiu minha expectativa
de um trabalho de elevada qualidade, dado o
prof issionalismo e objetividade de ambos.
Expectativa que foi consideravelmente superada,
pois os autores extrapolam a usual abordagem

8 9
 da climatização de ambientes com uma elegante
aclimatação de edificações fotovoltaicas.
O conteúdo apresentado sedimenta terreno
para questões relevantes no contexto da já citada
aparente contradição. Aproxima os diversos
profissionais envolvidos em todo o ciclo de vida de
uma edificação, ao conectar suas especialidades
e clarear-lhes uma diversidade de variáveis
interdependentes. Por meio do detalhamento
de exemplos reais, que aos desavisados passariam
despercebidos como edificações convencionais,
dada a beleza estética e sua perfeita integração
ao entorno. Inclusive, trazendo fatos que apontam
o potencial desta abordagem holística para a
geração de desenvolvimento econômico regional.
A abordagem empregada na obra me causou
extrema satisfação ao me suscitar lembranças
da adolescência. Das quais se destaca uma
ocasião em que uma visita perguntou se havia
ar-condicionado na sala, visto o frescor vivenciado
num dia abafado de verão. A residência em que
morava com meus pais, no interior de MG e
localizada em lat/long - 21.7304805 S e - 43.352905
O, promovia tal percepção sensorial “alterada” por
forte influência da simples alteração do “tamanho”
10
(espessura) do tijolo utilizado nas paredes externas.
Aspecto de custo quase insignificante no custo
total da obra, mas que demonstra a importância
de se avaliar objetivamente todos os detalhes em
cada projeto.
À sua forma, a obra mantém elevada aderência
às abordagens normativas mais atuais de
gerenciamento de recursos, como por exemplo
a ABNT NBR ISO 50.000:2014 – Gestão de Ativos,
onde se questiona: que ativos possuir e por que
razões; que valor agregar, frente a que se destinam
e que consequências de longo prazo se espera;
quais são o contexto de aplicação e seus riscos
correlatos; quais as diferentes alternativas de fluxo
de caixa; que sinergismos internos e externos são
potencializados; e que valores institucionais estão
sendo propulsores das escolhas.
Sendo mais tecnicista, lembro que a otimização
de sistemas convive, por definição, com o desafio
paradoxal, para problemas abordados de forma
não analítica, da identif icação da natureza
local ou global de determinada solução. Desta
questão decorre que condições de contorno e/ou
objetivos contraditórios devam ser explicitados e
razoavelmente descritos, mesmo que somente
11
 parcialmente. Esta lucidez (ou precisão) possibilita
empregar esforço (recursos) em quantidade
apropriada (proporcional) no processo interativo
e recursivo de análise e síntese das opções
aplicáveis ao projeto. Ou seja, definir os valores
que atribuídos às variáveis levam ao melhor
resultado possível para a função objetiva.
Em momento mais que apropriado, ao
avaliar o potencial impacto social da obra,
faz-se uma obrigação destacar o conturbado
cenário energético europeu, intensif icado e
complexificado ao longo do ano de 2022. Para o
qual a obra entrega formas de consolidação do
papel das edificações no contexto energético.
Por meio de Estudos de Caso, os autores
entregam ao leitor a oportunidade de desenvolver
sua capacidade de análise, explicitando fatores
que influenciam: a geração de energia elétrica;
a conservação de energia; o consumo de
energia com aquecimento ou resfriamento de
ambientes; custos de manutenção e operativos
das instalações; custos de implantação do projeto;
e tanto requisitos funcionais quanto aspectos de
conforto relativos ao uso final da instalação.
Tendo sido muito bem-sucedidos na tarefa de
12
encontrar exemplos representativos nos mais
diversos tipos de instalações e explorando o
referencial conceitual por eles apresentado no
início da obra. Enumerando-os, sinteticamente:
um protótipo de interface adaptativa entre
ambientes interno e externo; edifício comercial
multifuncional ocupado por sedes administrativas,
biblioteca e ambiente de fomento a startups;
edifício residencial multifamiliar; residência rural;
edificação comercial de elevada rotatividade de
público; e edifício residencial de grande porte,
com habitações funcionais estudantis.
Por fim, aproveitando o ambiente reflexivo em
que me percebi durante toda a leitura, desejo aos
leitores o prazer intenso que pude experimentar.
Eu me encontrava em férias, viajando com a família,
mas motivado a retirar o livro da mala sempre que
o deslocamento fosse mais demorado ou que
houvesse a necessidade de descanso físico.
André Pedretii
Engenheiro Eletricista
Gerente dos programas de P&D e EE
da Copel Distribuição junto à Aneel.
13
 Nota dos Autores
Antes de mais nada, explicamos algumas
expressões usadas com f requência. Building
Integrated Photovoltaics (BIPV) designa edifícios
nos quais módulos fotovoltaicos desempenham
funções que vão além da produção energética.
Portanto, atuam como peças constituintes da
pele do edifício, na forma de telhados, fachadas,
janelas, contrastando com a simples sobreposição
de módulos (Building Applied Photovoltaics,
BAPV). Nesse sentido, sugerimos a expressão
edifícios fotovoltaicos como possível tradução
para o português.
Também, method cards, referência à
ferramenta criada pela empresa IDEO para
auxiliar o processo de projeto e promover insights
por meio de um baralho de cartas. Sugerimos a
expressão em português cartas método.
Com isso estabelecido, organizamos este livro
em três partes com o intuito de aproximar o
problema de pesquisa: “na concepção de edifícios
fotovoltaicos, quais fundamentos suportam uma
integração abrangente - holística - à arquitetura?”.
Na primeira parte, apresentamos uma visão geral
14
da tecnologia fotovoltaica, suas implicações
sociais e contexto brasileiro. Em sequência,
apresentamos estudos de caso realizados na
Alemanha e Suíça. Finalmente, concluímos com
a análise dos dados e compartilhamento dos
resultados - no formato de cartas método - para
auxiliar projetos e direcionada a arquitetos e
estudantes de arquitetura.
É importante também introduzir nossa relação
com o tema energia fotovoltaica. Aconteceu
primeiro porque este livro é resultado do projeto
PD 2866-0470/2017: Desenvolvimento de
Minirredes com fontes de Energias Renováveis não
Convencionais. Este projeto envolve vários grupos
de pesquisa da Universidade Federal do Paraná
(UFPR) - desde aqueles na Engenharia Elétrica,
na Física… até na Arquitetura, com abordagens
variadas em relação às energias renováveis. A
responsabilidade do nosso grupo de pesquisa foi
trabalhar a união entre arquitetura e produção
energética. Mais ainda, a fonte do conteúdo é a
dissertação de Sofia Hinckel Dias, orientada por
Aloísio Leoni Schmid.
Como consequência, hoje questionamos o
papel do arquiteto “em uma era marcada por uma
15
 população mundial em expansão e escassez de você busque informações complementares na
recursos” (SOBEK, 2019). É também resposta a um internet, principalmente no que diz respeito às
contexto em que, mesmo com dados promissores imagens. Isso porque, evitando a redundância
e alguns incentivos recentes, a tecnologia óbvia, adicionamos aqui material autoral, sem
fotovoltaica tem pouca disseminação - apenas a repetição de conteúdo já existente em outras
1,7% 1 da energia discriminada na matriz elétrica fontes.
brasileira advém de fonte solar, em um país com
todas as vantagens e condições favoráveis para Referências
sua aplicação (EPE, 2021).
Tudo considerado, façamos dois últimos EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Balanço
Energético Nacional 2021: Relatório Síntese/Ano Base 2020.
comentários. Primeiro, por entendermos
Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia, 2021.
a arquitetura como um campo de forças IDEO. Method cards. IDEO, nov. 2003. Disponível em:
ambivalentes, não há aqui um pensamento https://www.ideo.com/post/method-cards. Acesso em
monolítico entre “certo” e “errado”. Com os 14 ago 2020.
SOBEK, W.; HEINLEIN, F. Recyclable. Stuttgart: Avedition,
resultados propostos, esboçamos mais uma
2019.
tentativa de incentivar a prática e o debate do
que estabelecer modelos rígidos. Um trabalho
aberto a mudanças, aprofundamento e cocriação
em futuros desdobramentos. Segundo, nós
assumimos que você está familiarizado com o
meio digital, portanto é apto para fazer pesquisas
online. Assim, os edif ícios mencionados a
seguir podem ser encontrados em sites como o
Archdaily, por exemplo, ou nos sites oficiais das
empresas que os desenvolveram. Sugerimos que

1 Ressaltamos que esta porcentagem aumentou 70% em relação

ao relatório do ano anterior: apenas 1% da matriz elétrica dedicava-
se à produção solar no Brasil em 2019.

16 17
 Energia é arquitetura
Em 2050, aproximadamente 70% da população
viverá em cidades, um incremento anual de
0,5% desde o marco histórico de 2008 em que
o meio urbano alcançou a marca de abrigar
50% da população (HOVESTADT, HIRSCHBERG
e FRITZ, 2020). Portanto, é evidente o avanço
rumo à urbanização, acelerada pelo processo
de digitalização e mudanças dos métodos
de trabalho, inteligência artif icial, geração e
distribuição de energia, sistemas de transporte
e, claro, arquitetura. Aumenta-se a pressão
sobre a disponibilidade de espaço e recursos. Na
atualidade, é fato já notado em algumas regiões
da Ásia, como na cidade-estado insular Singapura
(SCHLUETER et al., 2016) - pressão que converge
em uma crescente demanda por edif ícios
energeticamente ef icientes. Justif icamos
assim a transformação dos critérios e do papel
que profissionais de arquitetura representam
diante do cenário, como personagens desse
complexo mecanismo, na f rente de batalha
(BIENNALE CHANNEL, 2016; COLLETTI et al.,
2018, HOVESTADT, HIRSCHBERG e FRITZ, 2020).
18
Também supomos que edifícios fotovoltaicos
podem ser interpretados como possível síntese
de tais forças, na qual a arquitetura é interface
entre o ser humano e a produção energética,
além de ferramenta para a economia de espaço
- defendida no conceito 3for2 com o lema “less
energy, more space”, em português, menos
energia, mais espaço (SCHLUETER et al., 2016).
Ou seja, dois andares de um edifício com sistemas
tradicionais (ar-condicionado centralizado,
tubulações, comunicação e tudo o que está
escondido na área técnica) transformam-se
em três andares a partir da adoção de sistemas
operacionais descentralizados em diferentes
elementos multifuncionais - incluindo a produção
de energia elétrica integrada à fachada. Logo,
além do almejado desempenho, a geração
fotovoltaica também é uma questão espacial.
Neste contexto, em Meeting Nature Halfway
(COLLETTI et al., 2018) é dado como evidente
que energia é o centro de qualquer estratégia
inteligente na arquitetura: desde o design,
produção, consumo, até a manutenção. Não
há dúvida de que a natureza desempenha um
importante papel em elevar a arquitetura se sol,
19
 luz, vento, sombra, evaporação, umidade, etc, são
tomados em consideração (COLLETTI et al., 2018).
Porém, ainda que a relação binária arquitetura
versus natureza seja vista como obsoleta pelos
autores, hoje a educação é uma das barreiras
para a implantação de edifícios energeticamente
eficientes no mundo (TABAKOVIC et al., 2017,
WALKER et al., 2019), acompanhada de barreiras
culturais ou que vinculam a tecnologia fotovoltaica
à depreciação da arquitetura (SCHLUETER, 2009;
CERÓN, CAAMAÑO-MARTÍN e NEILA, 2013;
SCOGNAMIGLIO, 2016). Em entrevista com Zaera-
Polo (2016), o arquiteto Rem Koolhaas também
questiona a concretização de tais valores. Afirma
que equipamentos, instalações e máquinas
representam um terço da seção de um edifício
e podem custar 50% de seu orçamento, mas não
são suscetíveis ao pensamento arquitetônico. Ou
seja, o conhecimento é um tanto inacessível e
raramente é incorporado ao processo inicial de
projeto. Essas se tornam adições posteriores, quase
para milagrosamente resolver problemas que a
arquitetura não controla mais. Assim, a produção
de energia, água encanada, comunicação e tudo
o que está escondido acima do teto tornam-se
20
um ‘mundo desconhecido’ - expressão usada pelo
escritório OMA de Koolhaas na Bienal de Veneza
“Fundamentals”, 2014 (figura 1) - “durante reparos
em um cano que vaza na sala de impressão do
escritório OMA, o trabalhador faz uma pausa para
almoçar, deixando o mundo desconhecido da
cavidade do teto aberto para investigação…” (OMA,
2014, tradução nossa). Essa discrepância entre
exterior e interior é definida por Koolhaas como
a lobotomia com a qual “cortam-se as conexões
nervosas da fachada com o funcionamento
interno” (KOOLHAAS, 2008), por muito tempo
entendida como sinônimo de liberdade projetual
para arquitetos. Mais ainda, o espaço artificial
gerado, com atividade interior potencialmente
infinita, é envolvido por uma superfície externa
cada vez menor, seguindo o objetivo primário
de “multiplicar todas as vezes que a tecnologia
o permita o valor do solo” em um tamanho
desmensurado.
Como reação ao paradoxo, Koolhaas lançou
um olhar introspectivo sobre as def iciências
da profissão na curadoria de “Fundamentals”,
enquanto Alejandro Aravena, dois anos depois,
as explorou de maneira diferente. Na Bienal de
21
 Veneza de 2016, “Reporting from the front” - uma
alusão à batalha contra forças que resistem à
inovação - ele define arquitetura como aquilo
que dá forma aos lugares onde as pessoas
vivem. O conceito vai muito além da beleza, mas
como resposta ao espectro de “problemas da
sociedade” (econômicos, políticos, ambientais,
legais, sociais etc.), a exemplo do documentário
Legislating Architecture dirigido por Arno
Brandlhuber e Christopher Roth (2016) para a
Bienal. Portanto, mais do que as deficiências,
Aravena mostra aspecto em que a arquitetura
poderia fazer diferença. Retornamos ao exemplo
anterior: o f ilme questiona como superar as
limitações impostas por textos da legislação no
produto arquitetônico. Logo, a legislação pode
ser uma ferramenta ao invés de um obstáculo?
Legislar pode ser, também, um trabalho de
arquitetura? A Bienal está organizada nesse tipo
de posicionamento, que aparece já nas salas
introdutórias da exposição: foi construída com
100 toneladas de resíduos - 10.000 m² de placas
de gesso + 14 km de metal - oriundos da mostra
de 2014. Para Aravena, o projeto expressa o poder
que a arquitetura tem de transformar o que antes
22
era apenas matéria e que, com o conhecimento e
habilidades corretas, pode eventualmente tornar-
se algo valioso (BIENNALE CHANNEL, 2016). É
também reflexo de seu pensamento a avaliação
dada em entrevista para a revista Volume, anos
antes: a arquitetura ainda está “muito mais
preocupada com estilo ou a resposta em si, e
não com as perguntas” (MADRAZO, RIVERO e
ZOLKWER, 2010, tradução nossa).
Independente da abordagem de Koolhaas ou
Aravena, a importância se dá na objeção ao clichê
de que “a arquitetura apenas responde à indústria
da construção (fabricação padrão, aceitação
de normas e assim por diante)” (COLLETTI et
al., 2018, tradução nossa) e ambos ressaltam a
necessidade de um discurso interdisciplinar como
parte do processo de gênese - diferente da visão
de apetrecho plugado ao edifício a posteriori.
Esmiuçar as diferenças entre os autores não é o
nosso objetivo, mas construir o raciocínio de que,
mesmo com mudanças climáticas globais em
que se sabe sobre a finitude do mundo, ainda
é um desafio para a arquitetura incorporar tais
forças a seu modo de criar formas que abrigam
a vida - já que esse paradigma está diretamente
23
 relacionado às questões de performance de
edif ícios, percebidas por arquitetos como
“obstáculos que limitam a criatividade no processo
de design” (SCHLUETER, 2009, tradução nossa)
ou a simulações restritas ao meio acadêmico,
de baixa disseminação comercial (HOVESTADT,
HIRSCHBERG e FRITZ, 2020).
Como resposta, objetivamos atacar a seguinte
questão neste livro: “na concepção de edifícios
fotovoltaicos, quais fundamentos suportam uma
integração abrangente - holística - à arquitetura?”,
em outras palavras, afastar as prescrições
expressas por “mitos modernos para libertar
o homem das condições climáticas” (SCHMID,
2005), mas aproveitarmos a oportunidade para
explorar a interface multifacetada entre energia
e o ser humano. Para Colletti et al. (2018), essa
interface é representada pela arquitetura:
portanto, nossos estudos tangenciam a complexa
relação por meio da análise de edifícios. Para
tal, o conceito ‘energia’ é aqui entendido como
“variável capaz de relacionar-se com a forma de
nossos edifícios (ou aglomerados de edifícios ou
mesmo cidades e paisagens), em vez de um tipo
de variável abstrata com a qual o projeto não pode
24
lidar” (SCOGNAMIGLIO e RØSTVIK, 2012, tradução
nossa). Ou seja, arquitetura ciente de seu contexto,
passiva e ativamente, em contraste com cenário
abordado por Koolhaas e Aravena em que edifícios
fotovoltaicos representam aproximadamente
1% do mercado solar global (OSSEWEIJER et
al., 2018), ainda liderado por variáveis de design
que objetivam menores custos para a maior
produção de energia, em sistemas rígidos que
impactam o contexto local (SCOGNAMIGLIO,
2016) e totalmente desvinculados do espaço
criado. Estamos de acordo com Schlueter (2009),
Hovestadt, Hirschberg e Fritz (2020), assim como
com o gráfico desenvolvido por Boyd Paulson
(1976)2: arquitetos precisam saber mais sobre a
produção de energia para a melhor performance
de edifícios, desde as primeiras fases do projeto.
Referências
BIENNALE CHANNEL. Biennale Architettura
2016 - Alejandro Aravena Explains ‘Reporting From
the Front’. Disponível em: https://www.youtube.
c o m /w a t c h? v = a H p S 8 u F T 1 e E & l i s t = P L 2 J 3 c 5 A t Y 5 K _
IySr924xDz7SWm5kmj7K_&index=1. Acesso em 18 jan 2022.
2 Cost influence curve: o gráfico demonstra o declínio no nível de
controle dos custos segundo o tempo de desenvolvimento do
projeto arquitetônico. É uma relação inversa: quanto mais tarde as
decisões são tomadas no projeto, menor o controle sobre os custos
financeiros e o resultado final.
25
 CERÓN, I.; CAAMAÑO-MARTÍN, E.; NEILA, F. ‘State-Of-
The-Art’ of Building Integrated Photovoltaic Products.
Renewable Energy, 58, p. 127-133, 2013. https://doi.
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KOOLHAAS, R. Nova York Delirante. Barcelona: Gustavo
Gili (GG), 2008.
LEGISLATING Architecture. Direção de Arno Brandlhuber
e Christopher Roth. Berlim: 15a Bienal de Arquitetura em
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Physics: Conference Series, 1343, 2019. DOI:10.1088/1742-
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ZAERA-POLO, A. Arquitetura em Diálogo. São Paulo:
Ubu, 2016.
Figura 01 - O “mundo desconhecido”. Exposição introdutória
da Bienal de Veneza Fundamentals 2014, com curadoria de
Rem Koolhaas (DIAS, S. (Fotógrafa), 2014).
27
28 29
 1. Fundamentação Tecnologia fotovoltaica: sob a perspectiva
de um material construtivo multiescalar

Já que a história da arquitetura também é a

história da inovação dos materiais construtivos,
sua montagem e fabricação - assim como muitas
outras histórias paralelas (COLLETTI et al., 2018)
- o módulo fotovoltaico é também variável a
ser entendida como parte da disciplina. Logo,
no que concerne a edif ícios fotovoltaicos, as
propriedades do módulo fotovoltaico enquanto
material e, também, a maneira em que os
módulos são montados e integrados na pele de
edifícios, constituem um repertório importante.
Assim, buscamos aqui interpretar esse material
e no que refere à montagem - possibilidades de
coberturas, fachadas e acessórios de integração
variada - sinalizamos grupos de pesquisa
que trabalharam especif icamente em sua
categorização: em português, Desenvolvimento
de ferramenta de apoio à decisão em projetos
de integração solar fotovoltaica à arquitetura
(SANTOS, 2013), em inglês, Building Integrated
Photovoltaics: Product overview for solar building
skins Status Report 2017 (SUPSI e SEAC, 2017),

30 31
 Building Integrated Photovoltaics: A practical
handbook for solar buildings’ stakeholders Status
Report 2020 (SUPSI e BECQUEREL INSTITUTE,
2020), e o website https://solarchitecture.ch/
(SUPSI e parceiros). Todos são de acesso livre e,
consequentemente, optamos por não prolongar
o que já foi desenvolvido em detalhe. Parece-nos
que vale mais interpretar o material construtivo,
inspirados por trabalhos como o Adaptive
Solar Façade (ASF) liderado pelo Prof. Dr. Arno
Schlueter na universidade Eidgenössische
Technische Hochschule Zürich (ETHZ), do que
neste momento categorizá-lo a partir da escolha
de montantes - inevitavelmente, tais categorias
também serão apresentadas no decorrer do livro
na forma de projetos arquitetônicos detalhados.
Sem mais, usamos a oportunidade para,
partindo da abordagem de Powers of Ten (figura
2), breve documentário escrito e dirigido por
Charles e Ray Eames, “um filme que lida com o
tamanho relativo das coisas no universo, e o efeito
de adicionar outro zero” (EAMES OFFICE, 1977,
tradução nossa), beber da fonte e, desde a escala
solar até o nível atômico, transpor a dificuldade
do pensamento multiescalar necessário para
32
integração da tecnologia fotovoltaica à arquitetura.
Em Powers of Ten (1977), as imagens começam
em um homem deitado na grama, fazendo
um piquenique próximo a um lago na cidade
de Chicago, EUA, visto a partir de uma câmera
localizada a um metro do modelo. “Então, a uma
taxa de 10 metros por segundo, a câmera afasta-
se do homem e nos leva para a Terra, voltando
ao ponto inicial, a mão do homem adormecido
e, eventualmente, até o nível de um átomo de
carbono” (EAMES OFFICE, 1977, tradução nossa).
Esta é a relação multiescalar interpretada em
Powers of Ten, a partir de um mesmo ponto de
partida. Transpondo tal pensamento à produção
de energia fotovoltaica, as aulas ministradas pelo
professor Tonio Buonassisi no Massachusetts
Institute of Technology (MIT), disponibilizadas
pelo MIT OpenCourseWare (2014), apresentam
raciocínio similar - em cada escala, da solar à
atômica, inferir significado ao pensamento de
projeto de sistemas fotovoltaicos.
Seguindo as referências, construímos na figura
3 base para burilar, lapidar, conceitos conectados a
diferentes camadas de complexidade do material
construtivo. A partir de um conjunto de módulos
33
 fotovoltaicos monocristalinos localizados na Civil) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis,
p. 278, 2013.
planta solar Núñez de Balboa, em Badajoz,
SOLAR ARCHITECTURE. [Site institucional]. Disponível
Extremadura, Espanha, a câmera afasta-se até em: https://solarchitecture.ch/. Acesso em 28 dez 2021.
a escala solar e retorna ao ponto de partida, em SUPSI - Swiss BIPV Competence Centre e SEAC - Solar
um nível de aproximação que alcança a célula de Energy Application Centre. Bipv- Product Overview For
silício e sua composição atômica. Solar Building Skins: relatório técnico. Lugano, 2017.
SUPSI - Swiss BIPV Competence Centre e Becquerel
Institute. Building Integrated Photovoltaics: A Practical
Referências
Handbook For Solar Buildings’ Stakeholders: relatório
técnico. Lugano, 2020.
ARCHITECTURE AND BUILDING SYSTEMS. ASF –
Adaptive Solar Facade. Disponível em: https://systems.arch.
ethz.ch/research/adaptive-solar-facade. Acesso em 28 dez
2021.
COLLETI, M.; MASSIN, P. Meeting Nature Halfway:
Architecture Interfaced Between Technology and
Environment. Trentino: Innsbruck University Press, 2018.
EAMES OFFICE. Powers of Ten™ (1977). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=0fKBhvD juy0&t=69s.
Acesso em 18 jan 2022.
MIT OPENCOURSEWARE. Fundamentals of
Photovoltaics. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=LOVZE9WalRE&list=PL-3GtLSvWx247jMnrp9XWN
3dImpXPqO5P. Acesso em 18 jan 2022.
NASA EARTH OBSERVATORY. Incoming Sunlight.
Disponível em: https://earthobservatory.nasa.gov/features/
EnergyBalance/page2.php. Acesso em 10 jan 2020.
SANTOS, Ísis Portolan. Desenvolvimento de Ferramenta
de Apoio à Decisão em Projetos de Integração Solar
Fotovoltaica à Arquitetura. Tese (Doutorado em Engenharia

34 35
 Figura 02 - Abordagem multiescalar do filme Powers of
Ten (Compilação dos autores, 2022). Montagem a partir de
imagens coletadas no filme Powers of ten, EAMES OFFICE,
1977.

36 37
 Figura 03 - Abordagem multiescalar da tecnologia
fotovoltaica (Compilação dos autores, 2022). Montagem
a partir de imagens coletadas no filme Powers of ten,
site da IBERDROLA, NASA EARTH OBSERVATORY e
PVEDUCATION.
38 39
 Em termos esféricos (rotação)
A ideia de energia, um conceito complexo de
definição, foi refinada ao longo do tempo. Se
existe luz, som, vibração, ou átomo, existe energia.
Entretanto, quando falamos especificamente da
conversão direta de luz (foto) em eletricidade
(-voltaica), o protagonista é o sol. Portanto, nessa
estrutura (figura 3) para, pouco a pouco, adicionar
camadas de complexidade, começamos pela
escala solar, o corpo negro que emite grandes
quantidades de radiação todos os dias e sua
relação com a Terra. Por ora, essa luz será tida
como energia em forma de onda e posteriormente
trataremos de sua natureza dual também
enquanto partícula. Ademais, é preciso raciocinar
em termos de uma esfera para imaginar a relação
de rotação e translação da Terra em relação ao
sol, com possível auxílio de ferramentas como a
disponibilizada pela Universidade de Nebraska
para nível introdutório em astronomia: The
Nebraska Astronomy Applet Project. Ou em
experimentos, como o representado na pintura
A Philosopher Lecturing on the Orrery (Joseph
Wright of Derby, 1766) (figura 4).
40
Com um eixo de rotação inclinado de 23˚25’
em relação à direção normal ao plano de
translação, o movimento do planeta a orbitar
o Sol, que cria exposição variável da superfície
daquele à radiação deste faz com que num
hemisfério seja noite e no outro dia, além de
diferentes estações climáticas estabelecidas
por sua trajetória elíptica. O resultado desse
mecanismo é que localidades do globo terrestre
dispõem de variadas quantidades de energia.
Neste sentido, a região perpendicular aos raios
de Sol recebe radiação solar com intensidade
máxima e, em latitudes diferentes desta, os
raios solares vão gradativamente tornando-se
oblíquos e encontram a Terra em ângulos cada
vez menores, enquanto uma mesma parcela de
radiação espalha-se por áreas cada vez maiores.
Portanto, a dose de energia depende de várias
condições, mas principalmente da latitude, ou
localização norte-sul de um ponto na Terra, que,
de acordo com a estação do ano, influirá nos
ângulos do sol e nas horas de luz no dia (NASA
EARTH OBSERVATORY, s.d.).
São esses parâmetros que fundamentam
os conceitos de solstícios (21 de junho e 22 de
41
 dezembro, o dia mais longo ou o dia mais curto do
ano, em que cada hemisfério atinge a máxima ou
mínima insolação) e equinócios (22 de março e 23
de setembro, igual divisão entre dia e noite por toda
a Terra, os raios solares incidindo igualmente sobre
ambos hemisférios). Por exemplo, em Curitiba,
Brasil, latitude 25°25’49.0”S, esquematicamente,
no solstício de verão em 22 de dezembro o ângulo
de elevação do Sol em relação ao chão - pense
em uma linha imaginária a partir do topo de
sua cabeça - é 88,5°, quase a pino no céu. Já no
solstício de inverno é 42,5° aproximadamente.
O resultado provém da adição ou subtração da
latitude de Curitiba ao ângulo de declinação da
Terra de 23,5° (MIT OPENCOURSEWARE, 2014).
Sigamos nesse exemplo: no solstício de verão
o dia terá duração das 06:25 às 20:06 horas, ou
seja, será dia durante 13,41 horas, enquanto que
no solstício de inverno das 07:03 às 17:34 horas,
será dia durante 10,31 horas. Esses parâmetros
são relevantes para a quantificação e previsão de
energia disponível.
Também os efeitos atmosféricos, variações
locais na atmosfera, como vapor d’água, nuvens
e poluição, influenciam a quantidade de energia
42
recebida em um determinado ponto do globo. Por
exemplo, algumas localidades na linha do equador:
com grande concentração de florestas tropicais, a
quantidade de nuvens e chuva afeta a energia solar
recebida, com irradiação menor se comparada aos
trópicos (MIT OPENCOURSEWARE, 2014). Existem
exceções quando se pensa na micro-escala e a
nebulosidade é comumente um fator imprevisível
ou negligenciado, sendo lacuna de pesquisa para
alcançar dados mais confiáveis e precisos sobre a
produção energética - sem o risco de, por conta de
semanas com chuva e nuvens, o sistema colapsar
por falta de energia produzida. Outra lacuna
importante que envolve tal imprevisibilidade é
que as especificações dos módulos fotovoltaicos
estão relacionadas à potência de pico, sem
considerar fatores específ icos de perda ou
ganho. De forma generalizada, dividindo esta
pelo valor de irradiação padrão de 1000 W/m²
e também por um coeficiente de perda total
calculado como 1 + fração de perda, obtêm-se
uma eficiência prática. Esta, multiplicada pelo
valor da irradiação anual local no plano horizontal,
fornece o rendimento de energia elétrica de
um único módulo. O ponto sensível é a real
43
 estimativa do coeficiente de perda que se dá
por sujeira, incompatibilidade eletrônica, reflexo,
superaquecimento e envelhecimento. Por outro
lado, há ganhos também subdimensionados: a
partir de um ângulo de inclinação do módulo
mais próximo da latitude local e, no caso de
montagem não horizontal, albedo diferente de
zero. Este último fator, referente à reflectância
espectral média da radiação solar, varia de
acordo com o tipo de superf ície no entorno.
Por exemplo, a neve branca e o gelo marinho
têm um alto albedo, de 75% a 95% (STULL, 2015).
Módulos fotovoltaicos montados verticalmente
em regiões com neve quase dobram a produção
de energia se comparados a um albedo nulo, o
que afeta diretamente a energia disponível em
um determinado ponto. A neve velha tem um
albedo que varia entre 35% a 70%, argila seca 23%,
estrada de asfalto 5% a 20%, grama 15%, um solo
claro e seco 16 a 18% e um solo escuro e úmido
tem um albedo de apenas 6 a 8%.
A Terra também emite radiação, caso contrário
seguiria aquecendo inf initamente. Com isso
estabelecido, a quantidade de radiação solar
recebida em determinado ponto do globo será
44
Irradiada novamente para o espaço. Assim,
seus átomos e moléculas não absorvem apenas
energia, mas também emitem radiação, na faixa
infravermelha (calor), de volta ao espaço. O balanço
líquido entre energia recebida e energia emitida
é extremamente importante para o equilíbrio do
sistema - regulando correntes marítimas, ventos,
etc. Um excedente ou déficit nessa conta resulta
em fenômenos como o greenhouse effect, efeito
estufa, com temperaturas aumentando, enquanto
um déf icit implicaria em um esf riamento
global. Portanto o manejo dos 340 W por metro
quadrado3, em média, de energia solar que chega
ao topo da atmosfera é muito importante nesse
complexo sistema de perdas e ganhos.
Um último comentário. A densidade energética
solar é baixa se comparada a outras fontes de
energia primária, a nuclear por exemplo. A França
produz 70% de sua energia a partir de plantas
nucleares (IEA, 2021), o que em comparação, é
uma fonte mais confiável4 em termos produtivos:
24 horas ininterruptas, sem nenhuma oscilação
em função de nuvens, chuvas, ou tempo instável.
Urânio, o combustível de usinas nucleares, é
muito denso energeticamente, portanto não
3 Resultado obtido da constante solar de 1414 W/m² dividida por
dois, já que apenas um hemisfério estará iluminado, além de
calculada a inclinação média.
45
 requer tanto espaço: nos Estados Unidos (EUA),
a usina nuclear Diablo Canyon Plant produz a
mesma quantidade de energia do que 18 plantas
solares Ivanpah Solar Power Facility produziriam.
Essa é uma comparação importante porque
traz à tona um recurso muito consumido pela
produção solar, espaço, e se pensarmos em um
mundo abastecido energeticamente apenas
por plantas solares, cenas distópicas emergem
(e.g. a abertura do filme Blade Runner 2049,
mostrando a Califórnia do futuro com várias
Ivanpah lado a lado). Diante desse dilema,
ressaltamos a capacidade fotovoltaica de integrar-
se à arquitetura e, também, de produzir energia
em moderação com outras fontes da matriz
energética. Este é o parágrafo introdutório da
próxima camada de complexidade: em termos
espaciais (m2).
4 Não é o nosso objetivo tratar de conceitos relacionados à
confiabilidade na produção nuclear (e.g. possíveis vazamentos),
estamos comparando apenas a variável densidade energética
versus o consumo de espaço necessário para produzir tal energia,
além de sua característica produção ininterrupta.
46
Referências
Astronomy Education At The University Of Nebraska-
Lincoln. The Nebraska Astronomy Applet Project. Disponível
em: https://astro.unl.edu/nativeapps/. Acesso em 28 dez
2021.
BLADE Runner. Direção de Denis Villeneuve. Los
Angeles: Warner Bros. Pictures, 2017. 1 DVD (163 min).
INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA. France. Disponível
em: https://www.iea.org/countries/france. Acesso em 18 jan
2022.
MIT OPENCOURSEWARE. Fundamentals of
Photovoltaics. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=LOVZE9WalRE&list=PL-3GtLSvWx247jMnrp9XWN
3dImpXPqO5P. Acesso em 18 jan 2022.
NASA EARTH OBSERVATORY. Incoming Sunlight.
Disponível em: https://earthobservatory.nasa.gov/features/
EnergyBalance/page2.php. Acesso em 10 jan 2020.
STULL, Roland B. Meteorology for Scientists and
Engineers. 2nd. edition, Brooks/Cole, 2000.
WIKIMEDIA COMMONS. File: Wright of Derby, The
Orrery.jpg. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/
wiki/File:Wright_of_Derby,_The_Orrery.jpg. Acesso em 28
dez 2021.
47
 Figura 04 - A Philosopher Lecturing on the Orrery, Joseph
Wright of Derby, 1766 (WIKIMEDIA COMMONS, 2016).

48 49
 Em termos espaciais (m²)
Agora avançamos em mais um nível de
complexidade: saímos do sol como fonte de
energia para uma vista aérea mais aproximada.
Começamos a discutir a relação entre sol e matéria,
entre absorção solar e conversão elétrica, além de
seus desdobramentos. Na escala de aproximação
(figura 3) inspirada por Powers of Ten (EAMES
OFFICE, 1977), estamos sobrevoando a planta
solar Núñez de Balboa, em Badajoz 38°52’47.0”N
6°58’17.9”W, Extremadura, España, construída
pela empresa Iberdrola em 2020. Ressaltando a
mudança de raciocínio de uma esfera para um
diferente conceito matemático, pensaremos
agora em quantidade de espaço bidimensional,
ou seja, de superfície.
Adotamos esse exemplo por ser a solução de
design mais comum para sistemas fotovoltaicos
hoje, entendida por autores como escolha
recorrente para substituir usinas de eletricidade
baseadas em combustível fóssil e nuclear
(SCOGNAMIGLIO, 2016). Ainda que a energia
nuclear seja considerada limpa e, junto com
hidrelétricas, sustente três quartos da geração de
50
energia elétrica de baixo carbono no mundo, existe
uma conotação política negativa, principalmente
em termos de segurança, em manter essa fonte
na matriz (IEA, 2019). Mais ainda, a escala da planta
solar Núñez de Balboa chama atenção para seus
impactos em termos de uso e transformação da
paisagem, possíveis danos à biosfera, além de seu
poder em adicionar valor ao uso da terra quando
integrada à arquitetura - “Energy-design vision”
(SCOGNAMIGLIO, 2016), já que, com capacidade
instalada de 500 MW, para atender a demanda
de 250 mil pessoas por ano, mais de 1,4 milhões
de módulos fotovoltaicos foram instalados,
consumindo área de 10 km², 1000 hectares, área
equivalente a 1.200 quadras de futebol ocupadas
por módulos fotovoltaicos (IBERDROLA, 2020).
Note que nossa intenção com o exemplo Núñez
de Balboa não é entender o seu contexto de
implantação mas, em termos numéricos, mostrar
que espaço é um recurso usado pela tecnologia
- as imagens que contribuíram para a análise
foram retiradas de fotografias disponibilizadas
pela NASA EARTH OBSERVATORY (2020), ou seja,
a área é relevante para imagem de satélite. São
necessários estudos urbanos e paisagísticos para
51
 entender o impacto de instalações de grande
porte no entorno e no consumo de áreas livres,
também denominadas como Photovoltaic
landscape ou on-ground PV (SCOGNAMIGLIO,
2016), e essa tarefa não está no escopo deste livro.
No entanto, evidenciamos a importância de refletir
em termos espaciais - como o fez a Itália, que
adicionou em suas normativas a especificação
de distanciamento mínimo de sítios históricos.
A influência de sistemas fotovoltaicos na fauna
local (e.g. pássaros), na produção agrícola, no
ofuscamento de rodovias com carros em trânsito,
entre outros, faz-nos questionar a possibilidade de
geração energética descentralizada em edifícios
já consolidados, ou quando em sistemas de
grande porte, em soluções Agro-voltaicas (APV)5.
Com isso queremos mostrar que a maneira de
desenvolver a relação entre porosidade versus
densidade, além da coesão ao contexto social, é
trabalho também da arquitetura. Scognamiglio
define porosidade como uma medida oposta ao
grau de densidade que os sistemas fotovoltaicos
podem adotar, ou seja, o número de módulos
por área.
5 Integrar soluções de design à produção de energia, deixando
o nível do solo livre para a produção agrícola abaixo e/ou nos
intervalos entre módulos em composições mais porosas
(SCOGNAMIGLIO, 2016).
52
Plantas solares são comumente regidas por
um design autorreferenciado, sem considerar o
seu contexto de implantação, com grande efeito
de artificialidade quando sobrepostas à paisagem
natural ou agrária, organizadas em linhas com
distâncias mínimas para evitar sombreamento e
permitir manutenção, além de visar custos baixos
para gerar a maior densidade de potência possível
(kWp/m²). Idealmente, em composições mais
porosas, menos densas, admite-se uma perda
em termos de densidade de potência do sistema
para incorporar variáveis que dizem respeito às
condições espaciais - e não apesar delas. Portanto
energia elétrica passível de uso sincrônico à
produção de alimentos, estrutura de contenção
para deslizamentos de terra, armazenagem
de água da chuva para irrigação, entre outros.
Contudo, ao diminuir a densidade de potência de
um sistema com densidade energética baixa, em
outras palavras, pouco eficiente na relação entre
quantidade de energia e o volume ou massa, faz-
se necessária também a implantação de sistemas
suplementares de produção elétrica.
Quando as def inições são sobrepostas às
desenvolvidas em Porocity: Opening up Solidity
53
 (MAAS, 2019), novas camadas de complexidade
emergem no meio urbano. Maas defende que
para projetar e construir a porosidade urbana,
tais interstícios são socialmente, ambientalmente
e economicamente valiosos. O livro mostra
experimentos em torres como resposta ao
processo de densificação das cidades a partir da
unidade de medida “voxel” definida por Maas
como uma unidade de espaço tridimensional
(pixel) que liberta a cidade de sua introversão
sintetizada em “torres e blocos enclausurados,
distantes e artificialmente climatizados” (MAAS,
2019, tradução nossa). Esses edif ícios sólidos,
essencialmente, são caixas compostas de piso,
telhado e quatro fachadas, que para Maas são
def inidas por sua orientação: uma fachada
tipicamente recebe luz solar, enquanto a face
oposta não. O topo dos edifícios recebe mais
energia do que a base e, dependendo da
profundidade, a radiação solar não alcança os
ambientes que estão distantes das aberturas.
Portanto, porosidade é também definida por
trazer mais luz natural para os ambientes, usando
os raios solares como “força motriz para esculpir
edifícios e penetrar sua solidez. Como seria um
54
edif ício se cada unidade habitável recebesse
pelo menos duas horas de luz solar direta por
dia?” (MAAS, 2019, tradução nossa). Eis que a
porosidade vai além da capacidade em adicionar
valor ao uso da terra, mas também serve para
melhorar o desempenho energético de um
edifício (naturalmente aquecendo, resfriando,
sombreando e iluminando).
Portanto, a porosidade nas composições
em nível de paisagem também se estende e
influencia os invólucros de edifícios e estratégias
passivas e ativas, a partir da subtração de “pixels”
que modif icam parâmetros de quantidade
disponível de fachada, média de horas de sol por
dia em terraços, média de horas de sol por dia em
fachadas, quantidade de terraços com acesso a
mais de 4 horas de sol/dia, fachadas com mais
de 90 graus de vistas desobstruídas, custos, etc.
Esse tema é exposto na figura 5 adaptada da obra
de Maas. Estes valores, de ordem arquitetônica,
estão intrinsecamente conectados às demandas
energéticas e ao módulo fotovoltaico como
peça construtiva e produtora de energia. Assim,
podemos dizer que porosidade é a maneira de
coexistirem produção de energia e arquitetura
55
 já que, arbitrariamente, reduz-se a capacidade
energética instalada para inserir a gama de
variáveis que dizem respeito a economizar área
livre, favorecer a agricultura, preservar a paisagem,
dar acesso à luz natural, ventilar, permitir terraços,
janelas, aberturas na pele do edifício, diversidade
de usos, listando apenas alguns. Exemplos de
projetos arquitetônicos que trabalham com essa
sincronia são o The Farmhouse, desenvolvido pelo
Precht Architecture, e o Pig City do MVRDV, ambos
MAAS, Winy; RAVON, Adrien. Porocity: Opening up
Solidity. Delft: Nai010 Publishers, 2019.
NASA EARTH OBSERVATORY. The Largest Solar
Power Plant in Europe (For Now). Disponível em: https://
earthobservatory.nasa.gov/images/146374/the-largest-
solar-power-plant-in-europe-for-now. Acesso em 18 jan
2022.
SCOGNAMIGLIO, A. ‘Photovoltaic Landscapes’:
Design And Assessment. A Critical Review For A
New Transdisciplinary Design Vision. Renewable and
Sustainable Energy Reviews, v. 55, p. 629–661, 2016. https://
doi.org/10.1016/j.rser.2015.10.072

tratando a produção de alimentos paralelamente

à construção de edifícios e cidades.

Referências

EAMES OFFICE. Powers of Ten™ (1977). Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=0fKBhvD juy0&t=69s.
Acesso em 18 jan 2022.
IBERDROLA. Núñez de Balboa, Nosso Primeiro
Macroprojeto Fotovoltaico na Espanha. Disponível
em: https://www.iberdrola.com/quem-somos/
l i n h a s - n e g o c i o /p r o j e t o s - e m b l e m a t i c o s /u s i n a -
fotovoltaica-nunez-de-balboa. Acesso em 18 jan 2022.
INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA. Nuclear Power in
a Clean Energy System. Disponível em: https://www.iea.org/
reports/nuclear-power-in-a-clean-energy-system. Acesso
em 18 jan 2022.

Figura 05 - Porosidade em termos de fachada. Desenho

adaptado da obra de MAAS, 2019
(Autores, 2022).

56 57
iluminação do dia

luz solar

terraços

vistas

59
estrutura
 Em termos angulares (º)
Novamente adicionamos mais uma camada
de complexidade. Agora estamos sobrevoando
os módulos fotovoltaicos, provavelmente de silício
monocristalino de primeira geração, estruturados
por montantes fixos na planta solar Núñez de
Balboa. Esta escala diz respeito a estratégias para
maximizar a quantidade de energia absorvida
para conversão elétrica (MIT OPENCOURSEWARE,
2014). Portanto, o pensamento continua em
termos de superfície e sua relação com os raios
solares, mas agora trata-se de uma relação
angular. Ou seja, qual a posição angular para
a máxima absorção de energia dos módulos
fotovoltaicos?
No exemplo adotado, não há uso de
concentradores solares - espelhos, lentes ou
superfícies côncavas que concentram os raios
solares em um ponto, ou uso de tracking, motor
que permite que os módulos acompanhem o
movimento do sol. Ambas as técnicas permitem
produção de energia com menor uso de material,
mas provocam aumento do custo e complexidade
para manutenção do sistema. Assim, presumimos
60
que a inclinação fixa dos montantes se aproxime
ao ângulo de latitude em Badajoz 38°52’47.0”N
Extremadura, España. Consideramos aqui que é
prática comum a adoção de “ângulos de inclinação
correspondentes à latitude e orientação em
direção ao hemisfério oposto ao da localização
do sistema, para maximizar a geração de energia”
(ZOMER et al., 2013, tradução nossa).
Essa imposição é uma estratégia para garantir
a máxima absorção dos raios solares em uma
abordagem orientada por produção energética e
custos, porém muitas vezes, prejudica a integração
ao projeto arquitetônico. Ademais, em termos
econômicos, para manter os custos os mais baixos
possíveis, a composição é mantida simples, com
soluções standard, construídas em estruturas de
suporte baratas, presas ao solo por fundações
e em ângulos de inclinação pré-estabelecidos
(SCOGNAMIGLIO, 2016). Uma estratégia diferente
é, mesmo em inclinações tidas como não-ótimas,
utilizar a radiação difusa do céu, e também o
albedo como oportunidade para capturar os raios
solares refletidos, aumentando o nível de reflexão
do entorno (SCOGNAMIGLIO, 2016), ou admitir nas
composições uma capacidade instalada menos
61
 densa e com variáveis de projeto mais complexas - SCOGNAMIGLIO, A. ‘Photovoltaic Landscapes’:
com resultados diversos ao determinado somente Design and Assessment. A Critical Review For A New
Transdisciplinary Design Vision. Renewable and
por (kWp/m²). Neste sentido, “Limitations In Solar
Sustainable Energy Reviews, v. 55, p. 629–661, 2016. https://
Module Azimuth And Tilt Angles In Building doi.org/10.1016/j.rser.2015.10.072
Integrated Photovoltaics At Low Latitude Tropical ZOMER, C.; NOBRE, A.; CASSATELLA, P.; REINDL,
Sites In Brazil” (SANTOS e RÜTHER, 2014) aborda T.; RÜTHER, R. The Balance Between Aesthetics And
o tema das angulações com maior flexibilidade Performance In Building-Integrated Photovoltaics In The
Tropics. In: European Photovoltaic Solar Energy Conference
e possibilidades de integração para auxiliar no
and Exhibition - 28th EU PVSEC, 28, 2013, Paris. https://doi.
projeto arquitetônico e “otimizar desempenho org/10.1002/pip.2430
e estética, mostrando que a tolerância na
orientação e inclinação do plano dos módulos
fotovoltaicos é consideravelmente grande”. Não
há, por certo, dúvida de que a maneira de integrar
os módulos às formas de edifícios e paisagem
implica diretamente em sua adoção.

Referências

MIT OPENCOURSEWARE. Fundamentals of

Photovoltaics. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=LOVZE9WalRE&list=PL-3GtLSvWx247jMnrp9XWN
3dImpXPqO5P. Acesso em 18 jan 2022.
PORTOLAN DOS SANTOS, I.; RÜTHER, R. Limitations
In Solar Module Azimuth And Tilt Angles In Building
Integrated Photovoltaics At Low Latitude Tropical Sites In
Brazil. Renewable Energy, Elsevier, vol. 63(C), pages 116-124,
2014. DOI:10.1016/j.renene.2013.09.008

62 63
 Em termos de refletância (%)
Na escala de aproximação, agora vemos a
célula fotovoltaica de silício: a interação entre
luz e matéria, material semicondutor e camada
ativa produtora de energia, dentro do módulo
fotovoltaico está prestes a acontecer. Os raios
solares tocam a superf ície do módulo pela
primeira vez. Portanto, é necessário o manejo
das perdas ópticas para diminuir a luz refletida
ou não absorvida e melhorar a eficiência na
conversão elétrica, fundamentos que regem
esta escala. Pensar em termos de perda por
reflexão total - uma consequência da refração - é
importante já que exige a passagem da luz entre
dois meios diferentes: do ar para um sólido (MIT
OPENCOURSEWARE, 2014). Eis que esta escala
diz respeito a métodos para melhorar a absorção
óptica por meio da refletância dos substratos, por
exemplo, utilizar revestimento reflexivo na face dos
fundos do módulo, aumentando assim a chance
de a luz ser absorvida antes de sair do sistema,
texturizar a superfície do substrato de silício para
os raios não absorvidos refletirem-se novamente
com uma segunda chance de absorção (textura
64
presente na escala de aproximação da figura 3,
texturizar os conectores metálicos, aumentar o
comprimento de onda por meio da escolha de
substratos etc. A espessura da camada de silício
é determinada a partir desses parâmetros e é
cerca de quatro vezes a espessura de um fio de
cabelo, com estrutura similar à do vidro. Mais
ainda, o fato da cor dos módulos fotovoltaicos ser
azul para melhor absorver o pico do espectro da
luz solar, que é amarelo (sua cor complementar),
também é uma estratégia de melhor absorção
óptica (MIT OPENCOURSEWARE, 2014). Existem
softwares para calcular o caminho da luz em um
meio, como o RaySim, e o “design ótico de células
e módulos solares de silício está se tornando cada
vez mais importante à medida que os fabricantes
aumentam os limites de eficiência” (COTTER,
2005, tradução nossa).
É nesta escala de escolha dos substratos e
espessura dos materiais, unida à análise anterior
referente à estrutura de sustentação dos módulos
por montantes, que f ica claro outro recurso
consumido pela tecnologia: a energia e o material
necessários para sua produção - grey energy. No
caso de módulos orgânicos de terceira geração,
65
 sensibilizados por corantes ou materiais orgânicos
(OPV), a espessura de camada ativa para produção
de energia é de 100 nanômetros, algo muito mais
fino do que a lâmina de silício usada nas células
cristalinas. Adicionado substrato, a espessura vai
para 500 micrômetros (meio milímetro), sendo
que o encapsulamento é feito com o mesmo
material da garrafa PET, totalmente reciclável,
sem necessidade de montantes ou fundações
e apenas colado às superfícies. Como resultado,
a célula fotovoltaica de terceira geração produz,
durante sua vida útil, mais energia do que
consome para ser fabricada, mas sua eficiência
ainda é baixa e os custos altos (ROMAN, 2019).
Voltando ao exemplo da figura 3, os módulos de
silício de primeira geração demandam instalação
de montantes para fixação e fundações, como
em Núñez de Balboa que se construiu 288.000
fundações, com um peso total de 12.100 toneladas
(IBERDROLA, 2020). Além disso, para obtenção
do silício de grau fotovoltaico, o material precisa
ser aquecido a 2000˚C, com maior gasto de
energia no processo de produção (ROMAN, 2019).
Portanto, somando a energia dispendida nestes
diferentes itens da fabricação, o resultado final
66
é que o produto tem maior energia embutida.
Uma possibilidade de economia neste sentido
são edif ícios fotovoltaicos, em que as 12.100
toneladas de material poderiam ser poupadas
quando integrados no envelope de edifícios, por
exemplo.
Por conseguinte, f ica clara a necessidade
de reciclagem de módulos fotovoltaicos e
baterias em desuso para equilibrar a conta, já
que os módulos têm vida útil de, em média,
25-30 anos, mas as células ficam intactas por
não terem contato com umidade e oxigênio
(PFANNER, 2019), a exemplo da empresa PV
cycle que trabalha com os resíduos do mercado
solar para o reaproveitamento dos materiais,
processo similar à reciclagem de outros tipos de
eletrônicos. Nesse sentido, o lixo eletrônico é um
dos resíduos que mais cresce no mundo e, no que
refere aos metais pesados de sua composição,
“há uma necessidade urgente de desenvolver
técnicas de reciclagem para a recuperação desses
materiais valiosos” (TUNALI, TUNALI e YENIGUN,
2021, tradução nossa) incluindo: cádmio (Cd), cério
(Ce), alumínio (Al), cromo (Cr), prata (Ag), cobre (Cu),
entre outros. Em paralelo, se compararmos o
67
 lixo eletrônico descrito pelos autores a módulos
fotovoltaicos, nestes, 74% da taxa de reciclagem
é vidro, 10% alumínio, 6,55% EVA (Ethylene Vinyl
Acetate, em português, acetato-vinilo de etileno),
3,48% células solares (silício, cádmio, Cobre-
Índio-Gálio-Selênio, etc), 0,08% prata e 0,57%
cobre (PRADO, 2018). Pelas similaridades na
composição questionamos se com o aumento
do volume de instalações solares haverá também
similaridades sobre o seu descarte - considerando
a energia embutida no processo de reciclagem,
com alto custo energético e emissão de poluentes
(PRADO, 2018), o reaproveitamento dos materiais
é um desafio. Assim, questionamos se módulos
fotovoltaicos teriam o mesmo destino de celulares,
computadores, entre outros, exportados para
localizações de descarte e revenda. A exemplo
da Irlanda, que transporta em navios cargueiros
equipamentos elétricos e eletrônicos usados para
despejo na Nigéria, África Ocidental (MCMAHON
et al., 2021).
Também somamos a essa conta o
reaproveitamento dos montantes metálicos e
estruturas de concreto, que têm vida útil superior e
podem ser reaproveitados - os códigos estruturais
68
definem níveis de segurança associados a uma
vida útil estrutural de 50 anos, referência na
construção civil latinoamericana (BRANCO, PAULO
e GARRIDO, 2013). Logo, a substituição de peças é
premissa da tecnologia e faz-se necessário que os
materiais empregados possam ser desmontados
e separados fora de suas partes constituintes
para substituição ou reaproveitamento. Neste
sentido, quando transferimos o raciocínio para
um projeto arquitetônico, sem intenção de
exaurir o assunto, mas fornecer amálgama entre
energia e a disciplina, referenciamos o projeto
Nest-Unit UMAR - Urban Mining and Recycling
Experimental Unit. Desenvolvido por Werner
Sobek, Dirk E. Hebel e Félix Heisel e descrito no
livro Recyclable (SOBEK e HEINLEIN, 2019), é um
laboratório para desenvolver soluções inovadoras
para a indústria da construção, com foco no ciclo
de vida dos materiais.
Os autores evidenciam a importante influência
dos trabalhos de Fritz Leonhardt e Frei Otto na
busca por edifícios com gasto nulo de energia
- especial ênfase no artigo “Leichtbau - eine
Forderung unserer Zeit”, “Estruturas leves - um
requerimento dos nossos tempos” (Leonhardt,
69
 1940, tradução nossa). Também enfatizamos as
conexões entre os atores: Werner Sobek recebeu
o Prêmio Fritz Leonhardt em 2015, destinado a
engenheiros, e Sobek hoje dirige o Instituto de
Estruturas Leves na Universidade de Stuttgart,
como Frei Otto um dia o fez. Quando liderado por
Otto, o instituto teve grande contribuição junto a
Günther Behnisch, Heinz Isler, Leonhardt, Andrä
und Partner, Jörg Schlaich, Rudolf Bergermann, no
detalhamento e construção do Estádio Olímpico
de Munique, inspirado pelo Pavilhão Alemão da
Expo 67 em Montreal. As inovações da grande
cobertura de membrana suspensa e tensionada
por mastros, incluindo a experimentação de
materiais, são marcos históricos da arquitetura
leve (HOLGATE, 1997).
Assim, o Nest-Unit UMAR projetado para o EMPA
(Swiss Federal Laboratories for Materials Science
and Technology) e construído em Dübendorf,
Suíça, é a trama criada por essas costuras. Para
Werner Sobek, no que se refere ao consumo de
energia e materiais, os edifícios precisam ser
projetados de forma que, mesmo com uso 100%
de fontes renováveis, os materiais empregados
também possam ser desmontados e separados
70
fora de suas partes constituintes, se necessário.
Isto significa “edifícios que são também bancos
de materiais, depósitos de materiais, para usos
futuros” (SOBEK e HEINLEIN, 2019, tradução nossa).
Segundo o autor, idealmente, as fontes para novas
construções não serão mais matéria bruta, mas
a própria cidade e a combinação de materiais e
ciclos de vida variados - Life Cycle Thinking (LCT)
- embora isto seja raramente considerado nas
primeiras fases de planejamento. Como resposta,
o Nest-Unit UMAR, um projeto modular, leve, pré-
fabricado, muito distante do arquétipo de edifício
“verde”, é feito de materiais que podem ser
reutilizados, reciclados ou compostados, além de
módulos agregados ou desassociados do edifício
segundo necessidade. O livro Recyclable e o
edifício construído são catálogos - bidimensional
e tridimensional - para expor tais características
e dissipar o conhecimento dos materiais
construtivos elegidos. Mais recentemente, alguns
pesquisadores resolveram batizar esse tipo de
abordagem como “economia circular”.
Também em Curitiba, Brasil, três pesquisadores
(FREITAS, 2017; BARRETO, 2017; and FISCHER,
2017) desenvolveram disser tações de
71
 mestrado envolvendo esse tema de pesquisa.
Especif icamente, edif icações projetadas
para um ciclo de vida mais curto, entre 20 e
30 anos. Cada pesquisador considerou um
estudo de caso: uma escola para adultos, um
laboratório de universidade e uma residência
unifamiliar, para revelar ineficiências existentes.
Em cada caso, reconheceu-se que a demanda
atual provavelmente mudará dentro de 20
anos. A necessidade de educar adultos talvez
desaparecerá, um laboratório pode mudar de
diferentes maneiras (equipamentos, instalações,
até mesmo o problema de pesquisa e o campo
acadêmico podem se tornar obsoletos), e todas
as famílias mudam com o tempo, o casal tem
filhos, que crescem, se tornam jovens adultos,
saem de casa e os pais envelhecem. Em tais
circunstâncias, edif ícios leves ou mesmo
temporários são preferidos às construções de aço
reforçado e alvenaria mais comuns, que duram
mais de 100 anos. Essa discrepância significa
que os edifícios serão reformados ou demolidos
antes de atingirem a sua vida útil final, ou se
permanecerem conforme o primeiro projeto,
tornar-se-ão inadequados, pois os espaços, as
72
instalações e até mesmo o isolamento térmico
já não atendem às necessidades originais.
Paradoxalmente, a solução menos duradoura se
mostra a mais sustentável!
A discussão é sobre qual a melhor opção.
Uma construção baseada em recursos minerais
como concreto, aço e vidro, quer assemelhar-
se à terra em seu processo de longa duração.
Uma construção de madeira lembra o mundo
vegetal, com ciclos de brotação, crescimento,
florescimento e declínio. Um edifício baseado em
plugins e componentes de plugout assemelha-
se à sociedade, o que é ainda mais dinâmico,
possivelmente a metáfora mais adequada a se
escolher. Portanto, mesmo que diferente do que
está enraizado na história da humanidade, a
verdade impele-nos a aprender que construções
leves fazem todo o sentido.
Indo ao encontro da base de análise - a planta
solar Nuñez de Balboa - o que fazer com todo o
material empregado para o sistema fotovoltaico
depois que a vida útil do módulo chegar ao fim?
Quando esse pensamento transfere-se a edifícios
fotovoltaicos, como projetar fachadas, telhados,
janelas, com vida útil da peça construtiva menor
73
 do que o restante do edifício? É pensamento
similar ao projeto Nest-Unit UMAR, em que as
peças precisam ser trocadas ou reutilizadas com
facilidade. Portanto, a racionalização de materiais
e produção energética, como porosidade, é
também maneira de arquitetura e energia
coexistirem.
Referências
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Módulo Educacional Temporário para Instituições Públicas
do Brasil Dedicadas à Educação de Jovens e Adultos sob
a Ótica da Minimização do Gasto Energético. Dissertação
(Mestrado em Construção Civil) - Universidade Federal do
Paraná. Curitiba, 2017. Orientador: Aloísio Leoni Schmid.
BRANCO, F.; PAULO, P.; GARRIDO, M. Vida Útil na
Construção Civil. Mérida: ALCONPAT Brasil - Associação
Brasileira de Patologia das Construções. Vida útil na
construção civil, 2013.
COTTER, J. E. RaySim 6.0 - A Free Geometrical Ray
Tracing Program For Silicon Solar Cells. In: Proceedings of
the Conference Record of the IEEE Photovoltaic Specialists
Conference; p. 1165-1168, 2005.
FISHER, R. S. Estratégias de Adaptabilidade na Habitação
Social: Implicações no Ciclo de Vida Energético do Edifício.
Dissertação (Mestrado em Construção Civil) - Universidade
Federal do Paraná. Curitiba, 2017. Orientador: Aloisio Leoni
Schmid.
74
FREITAS, L. S. Vida Útil Ótima de Projeto de Edificações
Considerando Consumo Energético de Construção e
Operação, sob a Ótica do Ecodesign. Dissertação (Mestrado
em Design) - Universidade Federal do Paraná. Curitiba,
2017. Orientador: Aloísio Leoni Schmid.
HOLGATE, Alan. The Art of Structural Engineering: The
Work of Jörg Schlaich and His Team. Stuttgart: Axel Menges,
1997.
IBERDROLA. Núñez de Balboa, Nosso Primeiro
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MCMAHON, K.; UCHENDU, C.; FITZPATRICK, C.
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Photovoltaics. Disponível em: https://www.youtube.
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PFANNER, Norbert. Pesquisas sobre Integração
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Freiburg, 21 nov 2019. Informação verbal.
PRADO, Pedro. Reciclagem de Painéis Fotovoltaicos
e Recuperação de Metais. Dissertação (Mestrado em
Ciências) – Universidade de São Paulo USP. São Paulo, p.
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75
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pvcycle.org/. Acesso em 25 jan 2022.
ROMAN, Lucimara S. Matriz CSD, Certezas, Suposições
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SOBEK, W.; HEINLEIN, F. Recyclable. Stuttgart: Avedition,
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TUNALI, M.; TUNALI, M. M.; YENIGUN, O. Characterization
Of Different Types Of Electronic Waste: Heavy Metal,
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Cycles and Waste Management 23, p. 149–157, 2021. https://
doi.org/10.1007/s10163-020-01108-0
76
Em termos atômicos (fótons e elétrons)
Adicionamos a última camada de análise.
O que acontece depois da absorção da luz
pela célula de silício? E é neste momento que
retomamos sua natureza dual já que, nesta escala,
faz-se necessário pensar em luz como partícula -
“pacotes de energia”, foco dos estudos de físicos
há mais de 100 anos como em “On A Heuristic
Point Of View Concerning The Production And
Transformation Of Light” (EINSTEIN, 1905).
Determina que quando um raio de luz espalha-se
a partir de uma fonte, a energia não é distribuída
continuamente por espaços cada vez maiores,
mas consiste em “um número finito de energia
quanta, que estão localizados em pontos no
espaço, se movem sem se dividir e podem ser
absorvidos ou gerados apenas como um todo”
(EINSTEIN, 1905). Quanta é a ideia precursora do
conceito de fóton, que surgiu posteriormente
em 1920 (MIT OPENCOURSEWARE, 2017), é base
à teoria do efeito elétrico e, também, ao efeito
fotovoltaico. Para abordar esta escala, além
de luz entendida como partícula, é também
necessário que o zoom de análise seja na ordem
77
 de grandeza atômica, o átomo de Bohr: imagine
um núcleo (prótons e nêutrons) orbitado por
uma enorme eletrosfera - grande vazio por
onde os elétrons muito pequenos e leves estão
sempre em movimento. É nesse contexto que a
energia elétrica será gerada.
Com isto estabelecido, se você excitar com a
luz de uma lâmpada um pedaço de silício puro,
por exemplo, e monitorar a corrente gerada
com um amperímetro, como no experimento
realizado pelo professor Tonio Buonassisi na aula
“Charge Excitation” (MIT OPENCOURSEWARE,
2014) no tempo de vídeo 1:05h, o resultado será
zero. Eis que o campo elétrico dentro da célula
fotovoltaica precisa ser projetado no dispositivo
e não é propriedade inata do silício. Por ser
um material semicondutor, tem habilidade
de facilmente modificar sua condutividade,
e a característica é importante para “dopar”,
alterar propriedades do material, além de
projetar um campo elétrico a partir da inserção
da junção p-n (PVEDUCATION.org, s.d.). O que
isso significa, em suma? A inserção de átomos
carregados positivamente (p), como o átomo
de boro (3 elétrons na camada de valência), e
78
átomos carregados negativamente (n), como
o fósforo (5 elétrons na camada de valência): a
partir desta junção há a formação de um campo
elétrico que impede que os elétrons em excesso
do lado negativo atravessem e cheguem até a
outra metade com “falta de elétrons”. Nesse
contexto, os “pacotes de energia” que incidem
com energia suficiente no material libertarão
os elétrons das camadas externas dos átomos,
diminuindo a força de atração de seus núcleos
positivos, separando as cargas, que resulta
na diferença de potencial e fluxo ordenado
de elétrons (corrente elétrica). Os sistemas
fotovoltaicos só são autônomos por serem
projetados com um campo elétrico interno ao
dispositivo. Resumidamente: a energia solar
excita os átomos que estão dentro do material;
as cargas são separadas em um campo elétrico,
para induzir tensão; e a carga é coletada para
uso.
Ademais, caso o fóton tenha energia maior do
que o necessário para liberar o elétron e gerar
corrente ordenada, o excedente é transformado
em calor: termalização. Este é o “resíduo” da
interação entre fóton e matéria e precisa ser
79
 considerado para a integração de módulos
fotovoltaicos nos envelopes de edifícios, já que 5
precisam de ventilação e dissipação do calor para
manter a eficiência. O gráfico desenvolvido por
Henry (1980), no artigo “Limiting Efficiencies Of
Ideal Single And Multiple Energy Gap Terrestrial
4
Solar Cells”, permite análise da eficiência de uma
célula solar ideal e é referência importante para
entender a relação entre fótons absorvidos e
W
energia gerada figura 66. “A área sombreada é a
Eg

Nph(1017cm-2sec-1)
energia por unidade de área entregue” (HENRY,
3
1980), o que não está sombreado são as perdas
do sistema (termalização e não absorção). Então,
a energia solar disponível nas circunstâncias da
gap band
célula ideal é 31%. As áreas precisam estar em
Eg=1,35eV
equilíbrio: se uma variável for muito otimizada 2
e eu aumentar no eixo x a eficiência, o valor do
eixo y cairá abruptamente e a área de energia
disponível será menor do que 31%. Isso acontece
porque quanto menor o band gap da célula
fotovoltaica - “mínima quantidade de energia 1 31%
100%
requerida para libertar o elétron da ligação
existente” (PVEDUCATION.org, s.d., tradução
nossa) - maior as perdas por termalização. Ou
termalização
seja, se eu arbitrariamente aumento a absorção
0 1 2 3
Energia (eV)
6 Figura 06 - Análise da eficiência de uma célula solar ideal.
O fluxo de fótons (Nph) absorvido por um material
semicondutor está em função da energia (eV). A curva externa Gráfico adaptado do artigo “Limiting Efficiencies Of Ideal
Eg, quantidade de fótons absorvidos, é sobreposta à curva W, Single And Multiple Energy Gap Terrestrial Solar Cells”
ou seja, trabalho realizado por fótons absorvidos. As perdas
(Autores, 2022).
por termalização e gap band determinam W (0,9 eV).
80 81
 de fótons e liberação de elétrons livres para gerar
corrente elétrica, a termalização será maior. E
vice-versa.
Também, por ser a carga é coletada para uso
por meio de conectores metálicos em série,
fica evidente outro possível fator de perda:
o sombreamento. Comumente, módulos
fotovoltaicos são compostos por 36 células
conectadas em série, produzindo tensão
suficiente para carregar uma bateria de 12 V
(PVEDUCATION.org, s.d.). Uma única célula solar
de silício tem tensão por volta de 0,5 V, na condição
de 25 °C. Portanto, a corrente elétrica total é a
corrente individual de cada célula multiplicada
pelo número de células em paralelo: I (total) =
I (célula) x M (número de células em paralelo).
Não há dúvida de que mesmo o sombreamento
parcial de algumas células afetará a energia
disponível para conversão elétrica de todo o
sistema por estarem interligadas em série,
devido à irradiação não uniforme e mismatch,
incompatibilidade das células dentro do
módulo e dos módulos dentro do sistema
fotovoltaico (HOFER, NAGY e SCHLUETER, 2016).
Destacamos dois importantes artigos sobre
82
o tema, com vínculo à arquitetura: Electrical
Design And Layout Optimization Of Flexible
Thin-Film Photovoltaic Modules (HOFER, NAGY
e SCHLUETER, 2016) e Methods For Modelling
And Analysis Of Bendable Photovoltaic
(GROENEWOLT1 et al., 2016). Ambos encadeiam
pensamentos sobre formas arquitetônicas e
o design das conexões elétricas de sistemas
fotovoltaicos para maior eficiência, tratando do
sombreamento parcial em formas complexas de
dupla curvatura, por exemplo.
O desafio está em, cada vez mais, aproveitar o
espectro solar em sua totalidade e compreender
esse material construtivo multiescalar. Em suma,
todas as camadas de complexidade exigem
variáveis de projeto para alcançar a eficiência
esperada da tecnologia e desmembrá-las é
importante para inferir significado ao material
construtivo. Isso exige trabalho interdisciplinar
e comunicação entre diversos stakeholders,
além de pensamento em termos: esféricos
(rotação), espaciais (m²), angulares (º), de
reflectância (%) e atômicos (fótons e elétrons),
que resultam em diferentes desdobramentos.
Ou seja, a disponibilidade de energia solar no
83
 local de implantação, área consumida pelo
sistema fotovoltaico para atender determinada
demanda energética, angulação entre raios
solares e módulos, otimização óptica do
material para maior absorção de energia e efeito
fotovoltaico que resulta em conversão elétrica.
Em sequência, adicionamos a última capa de
gordura ao esquema: os aspectos culturais, que
também são de extrema importância e serão
fundamentados a seguir. Tal escala abraça todas
as variáveis aqui listadas, e diz respeito à interação
entre produção fotovoltaica e ser humano.
Referências
EINSTEIN, A. Heuristic Point Of View Concerning The
Production And Transformation Of Light. Physik, 17, p.
132-148, 1905. Disponível em: https://einsteinpapers.press.
princeton.edu/vol2-trans/100. Acesso em 25 jan 2022.
GROENEWOLT, A.; BAKKER, J.; HOFER, J.; NAGY, Z.;
SCHLUTER, A. Methods For Modelling And Analysis Of
Bendable Photovoltaic. International Journal of Energy and
Environmental Engineering, 7, p. 261-271, 2016. https://doi.
org/10.1007/s40095-016-0215-3
84
HENRY, C.H. Limiting Efficiencies Of Ideal Single And
Multiple Energy Gap Terrestrial Solar Cells. Journal of
Applied Physics, 51, p. 4494–4500, 1980.
HOFER, J.; NAGY, Z.; SCHLUETER, A. Electrical Design
And Layout Optimization Of Flexible Thin-Film Photovoltaic
Modules. In: Proceedings of the 32nd European Photovoltaic
Solar Energy Conference and Exhibition; p. 2481-2485, 2016.
DOI:10.4229/EUPVSEC20162016-6DO.7.4
MIT OPENCOURSEWARE. Fundamentals of
Photovoltaics. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=LOVZE9WalRE&list=PL-3GtLSvWx247jMnrp9XWN
3dImpXPqO5P. Acesso em 18 jan 2022.
PVEDUCATION. [Site Institucional]. Disponível em:
https://www.pveducation.org/. Acesso em 25 jan 2022.
85
 Barreira social
Começamos pelo axioma: “vivemos em uma
era marcada por uma população mundial em
expansão e um suprimento cada vez menor
de recursos” (SOBEK, 2019, tradução nossa).
Essa afirmação, quando está fora do contexto
epistêmico, mostra dualidade. De um lado, com
um grande número de publicações multimídia,
a ideia é conhecida pelo público, um jargão
(SCHMID, 2005) - como energia renovável,
agricultura orgânica ou sustentabilidade. Por
outro, resulta em uma forte barreira cultural
para a sociedade incorporar novos hábitos no
dia a dia (CERÓN, CAAMAÑO-MARTÍN e NEILA,
2013). Então, se a energia permite a satisfação
dos desejos humanos, por que não exercemos
uma posição de responsabilidade para com
sua produção e consumo? A pergunta faz o
papel mais de conduzir aqui o pensamento do
que um item a ser respondido, e servirá como
fundamentação para a complexa barreira
cultural que atinge sistemas fotovoltaicos.
Observa-se que “a desaprovação social
pode funcionar como um fator restritivo
86
na concretização dos ambiciosos objetivos
governamentais” referentes à produção de
energia renovável (SCOGNAMIGLIO, 2016,
tradução nossa). Diretivas como a European
Building Performance Directive – EBPD
(com meta de todos os novos edifícios terem
consumo quase nulo de energia até o final de
2020 na União Europeia) são providências que
impulsionam o mercado solar, mas sofrem com
barreiras culturais. Outro caso semelhante são as
medidas estipuladas pelo estado de Nova York,
EUA, sob incumbência do governador Andrew M.
Cuomo, com o objetivo de transferir 70% de sua
eletricidade para fontes de energia renováveis
até 2030. A velocidade dessa impulsão, muitas
vezes uma transição abrupta e unilateral
entre os modelos tradicionais de produção
energética e fontes renováveis, e enfatizamos
a energia solar, causa um efeito deletério pela
falta de mediador - a arquitetura, por exemplo.
Diferente dos combustíveis fósseis, os sistemas
fotovoltaicos tornam-se visíveis e transformam a
paisagem porque os módulos estão próximos de
onde as pessoas vivem (SCOGNAMIGLIO, 2016),
ou seja, introjetam valores que afetam aqueles
87
 que convivem com a tecnologia, com alto grau
de autonomia e possibilidade de instalação
nas mais variadas localidades. Essa nova
relação demanda acordos tácitos diferentes
do que historicamente estamos habituados e
negligenciar a característica social da tecnologia
é de certa forma deturpar seu prolífico campo
de atuação e possibilidades de alcance (SANTOS,
2013).
Para fundamentar essa nova relação, sob a
ótica cultural, buscamos uma referência histórica
para entender seu processo de amadurecimento.
No século XVIII, por exemplo, navios baleeiros
passavam anos nos mares caçando baleias e
estocando óleo a bordo. Após uma longa jornada,
retornavam aos portos de origem para suprir
a vida urbana com óleo de baleia, a principal
fonte para iluminação pública e matéria-prima
de velas. A caça às baleias foi uma atividade
econômica lucrativa até o século XIX e é retratada
no livro Moby Dick (MELVILLE, 1851), no qual
Ishmael, um marinheiro, conta sobre a viagem
infeliz de um navio baleeiro liderado pelo capitão
Ahab com o objetivo de matar Moby Dick - uma
baleia branca, o antagonista (figura 7). Além da

Figura 07 - Moby Dick, Melville, 1851. Adaptado para filme

em 1956 (WIKIMEDIA COMMONS, 2018).

88 89
 busca por vingança e do desenrolar do romance,
Melville descreve detalhadamente o trabalho,
quase como uma narrativa documental. Foi
reinterpretado, com ênfase, no filme dirigido
por John Huston (1956) e ilustrações de Bill
Sienkiewicz (1990) e Christophe Chabouté (2017).
Esse clássico literário foi escrito em um contexto
em que as baleias estavam quase extintas e em
que a busca por uma fonte de energia dava-se
muito distante do horizonte da arquitetura: nos
oceanos. Se formos mais além, a descoberta
do petróleo que salvou as baleias da extinção
impediu o desmatamento para obtenção de
lenha, viabilizou a revolução agrícola e tornou
o motor de combustão possível no século XIX,
hoje aterroriza por sua natureza finita, produção
de gases, conflitos sociais e derramamentos
oceânicos em larga escala, como na costa
nordeste do Brasil em novembro de 2019. Nesse
ciclo contínuo de avanços técnico-científicos, o
processo também é apartado da arquitetura, já
que a extração dá-se no subterrâneo. Portanto,
hoje o interesse em raios solares como fonte
de energia, incidentes na superfície da Terra,
onde a vida humana desenrola, demanda novos
90
acordos que são cruciais para a aceitação social
e que antes eram invisíveis à população, assim,
distantes das possibilidades arquitetônicas.
Esse processo foi lento. De acordo com as
previsões de Nemet (2006) e Raugei e Frankl
(2009), com ênfase no artigo Beyond The Learning
Curve: Factors Influencing Cost Reductions In
Photovoltaics (2006), fica claro que a passo dos
avanços tecnológicos referentes à eficiência e ao
funcionamento da célula e módulo fotovoltaico,
com os anos sua curva de custo alcançou o preço
de venda da energia oriunda de gás e carvão.
Ou seja, algo diferente do contexto dos anos 70
em que, mesmo que impulsionada pela crise
do petróleo era vista como uma “great promise,
lot of problems” “grande promessa, mas ainda
com muitos problemas”, com custos elevados
que chegaram a 10 dólares/Watt, ou seja, seria
necessário gastar cerca de 12.000 dólares
para manter uma torradeira funcionando
(SCHUYTEN, 1979), referência mencionada pelo
professor Tonio Buonassisi em sala de aula (MIT
OPENCOURSEWARE, 2017). Na atualidade, essa
impressão, unida à queda dos preços, é distinta.
Antes a conversão fotovoltaica era destinada
91
 apenas aos locais remotos, sem opção de outra
fonte de energia. Mas hoje, a “assimilação,
conversão, armazenamento e transporte
de energia renovável” é “um dos usos mais
importantes no século XXI” (SCOGNAMIGLIO,
2016, tradução nossa). Energias renováveis são
a forma de energia que mais cresce no que
compete à geração, como eólica, solar, bioenergia
e energia hidrelétrica, que mostram participação
crescente nas matrizes (PIETROSEMOLI e
RODRÍGUEZ-MONROY, 2019).
No entanto, os resultados de tal autonomia
muitas vezes são casos como o descrito na
reportagem do New York Times “He Set Up a
Big Solar Farm. His Neighbors Hated It” - Ele
montou uma grande fazenda solar. Seus vizinhos
odiaram (NIR, 2020, tradução nossa). Depois de
Timothy Masters arrendar suas terras na zona
rural de Lewiston, EUA, para uma companhia
de energia solar instalar módulos fotovoltaicos,
tornou-se alvo de uma reação crescente contra
a expansão de fazendas solares nas áreas rurais
(NIR, 2020). Segundo Masters, um dentre os
proprietários de terras que tentam lucrar com
o impulso do estado de Nova York em direção
92
a energias renováveis, hoje a empresa solar
paga 20 vezes mais do que o produtor de soja
que alugava suas terras anteriormente. Logo,
há também oposição econômica de pequenos
agricultores que arrendam lotes de terras de
proprietários maiores e “temem que sejam
espremidos por empresas de energia dispostas
a pagar mais pelo uso de terras agrícolas para
suas células solares” (NIR, 2020, tradução nossa).
Há outras razões para oposição: o impacto nas
vistas pastoris, o perigo de ofuscamento para
os motoristas que trafegam, a preocupação
com corujas ameaçadas pela dificuldade em
encontrar ratos de campo para comer entre os
módulos fotovoltaicos, além da desvalorização
das casas em terrenos vizinhos às plantas solares:
“This house, what I want to leave for my son, is
going to be worth nothing” - Esta casa, que eu
quero deixar para o meu filho, não valerá nada
(NIR, 2020, tradução nossa).
A resposta não é exclusiva de Nova York; na
Virgínia, o cancelamento de uma fazenda solar
com capacidade de 80 MW, por pressão de
protestos da comunidade perto de Culpeper,
EUA, em 2019 inspirou a criação de uma
93
 organização sem fins lucrativos. Com a missão
de educar o público sobre o impacto negativo
da construção de plantas solares em grande
escala para fazendas, bosques e comunidades,
o Citizens For Responsible Solar, https://
citizensforresponsiblesolar.org/, é um grupo que
protesta contra a “destruição da paisagem rural
da Virgínia”. Também promove o uso responsável
da energia solar, que para eles significa
“projetos urbanos, industriais, rurais de menor
escala, instalações no telhado e instalações
que não resultem na perda de fazendas,
bosques e habitats selvagens” (CITIZENS FOR
RESPONSIBLE SOLAR, s.d., tradução nossa).
Em contraposição, como resposta à crescente
reação popular anti-solar, criou-se o Solar Energy
Industries Association nos Estados Unidos.
Abigail Ross Hopper, presidente e chefe executiva
da associação, afirma que muitos agricultores
precisam da renda advinda do mercado solar
para complementar seus negócios tradicionais,
de maneiras que vão além do arrendamento
de terras para sistemas fotovoltaicos. Por
exemplo, alguns alugam ovelhas para comer
e controlar a grama dos terrenos que abrigam
94
os módulos. É o único animal que se comporta
bem em tal condição, já que as vacas são muito
altas e as cabras podem escalar e danificá-
los. Também, o The Washington Post retrata a
questão na reportagem “The next money crop
for farmers: Solar panels” - A próxima safra de
dinheiro para os agricultores: painéis solares”
(BOOKWALTER, 2019, tradução nossa), como
estratégia de maximizar os ganhos na área
rural já que “seriam cerca de três vezes o que
uma colheita média produziria”. E porque as
terras agrícolas são planas, com baixos custos
de instalação, construção e manutenção, bem
expostas à incidência solar, além de estarem
próximas à rede pública de energia, tornam-se
alvo de empresas do ramo para arrendar espaço.
Nesse caso impulsionadas por decisões políticas
como a medida incentivada por lei estadual
que exige que os recursos renováveis em
Illinois, EUA, forneçam 25% da energia até 2025
(BOOKWALTER, 2019). Porém, essa transição
também é preocupante no que diz respeito ao
desuso de solo fértil e produção de alimentos
como consequência da baixa dos preços das
commodities - milho com valor 7% mais baixo e
95
 soja 15% mais baixo nos EUA em 2019 - além da
falta de apoio na vida do campo (BOOKWALTER,
2019).
Neste sentido, Scognamiglio (2016) listou
possíveis aspectos crescentes e decrescentes
do bem-estar proporcionado às comunidades
pela instalação de sistemas fotovoltaicos. Entre
os aspectos positivos estão: desenvolvimento
econômico, segurança no suprimento de
energia, benefícios ecológicos, compensação
comunitária, compensação pessoal, distinção
de local e justiça processual. E os negativos:
diminuição das vistas, preocupações com
segurança, ruído, poluição, destruição da
paisagem, mudança ecológica, diminuição dos
valores de propriedade e injustiça processual.
Para aquela autora, a barreira social só será
vencida quando o “conjunto de resultados deixe
os locais pelo menos tão bem quanto antes do
projeto fotovoltaico”. Uma aliada essencial para
tal transição e aceitação será a arquitetura,
mas a prática corrente ainda é tratar energia
e arquitetura como domínios separados
(SCOGNAMIGLIO, 2016). Nesse sentido, um
exemplo de integração bem sucedida está no
96
projeto Agrinergies desenvolvido pela empresa
Akuo em Saint-Pierre, La Réunion, França: a
união entre produção de energia, produção de
erva-cidreira abaixo dos módulos, estufas para
proteção das plantas com cobertura fotovoltaica
integrada e módulos monocristalinos dispostos
em ângulo de 10°, mas que variam angulação
como ondas no percurso e criam topografia
convidativa. A abordagem garantiu que o
empreendimento fosse aprovado, já que na ilha
francesa não é permitida a construção de sistemas
fotovoltaicos devido às leis de preservação da
terra e paisagem (SCOGNAMIGLIO, 2016). Para
alcançar tal resultado, faz-se necessária uma
maior conscientização dos arquitetos para o
cenário (SANTOS, 2013).
A integração e a diversificação energética, se
bem sucedidas, trazem segurança e resiliência
no suprimento de energia elétrica. Temos de
considerar que a falta percebida em casos
extremos como blackouts pode ser também
vinculada a questões da economia, política,
transporte, segurança, sistema de saúde,
escassez de medicamentos, distribuição de
água, comunicação, alimentação, hábitos,
97
 equidade e vulnerabilidade social. A energia
sustenta esse sistema heterogêneo. Quando
posicionamos a lupa de análise sobre a América
Latina, a verdade nos impele a aprender que
mesmo tratando-se de um continente rico em
recursos que impulsionam o desenvolvimento
da energia renovável, novamente “a
desaprovação social pode funcionar como um
fator restritivo na concretização dos ambiciosos
objetivos governamentais” (SCOGNAMIGLIO,
2016, tradução nossa), e aqui estendemos
“desaprovação social” como um conceito mais
abrangente, que abraça também a política e
gestão nacional. Temos por um lado o exemplo
da Costa Rica, Nicarágua e Uruguai, que em
dez anos alcançaram a meta de suprir 95% de
suas necessidades energéticas a partir de fontes
renováveis sem subsídios e sem aumentar os
custos para a sociedade, com parcerias público-
privadas para desenvolver um framework
regulatório adequado a suas metas. Do outro,
a Venezuela que deixou de ser líder mundial
em energia e um dos principais produtores
e exportadores de petróleo e derivados, bem
como um dos principais produtores mundiais de
98
energia hidrelétrica, para tornar-se “importador
de petróleo, combustível e eletricidade, sofrendo
com escassez severa de energia e frequente
racionamento de eletricidade” (PIETROSEMOLI
e RODRÍGUEZ-MONROY, 2019, tradução nossa).
O país tem uma das maiores reservas de
hidrocarbonetos no mundo e é um dos maiores
produtores de energia hidrelétrica. Junto a
Itaipu no Brasil, com condições geográficas e
hidrológicas excepcionais, a planta de produção
hidrelétrica Guri “permitiu o suprimento de
70% das necessidades de energia elétrica
venezuelana” (PIETROSEMOLI e RODRÍGUEZ-
MONROY, 2019, tradução nossa). Um marco na
história nacional que alcançou o excelente nível
de eletrificação de 90%, com rede espraiada
por todo o país. Porém, houve a transição da
parceria público-privada do final dos anos 1990
para um monopólio estatal que em “2007, a
empresa estatal Corpoelec assumiu o controle
total do setor de energia elétrica” (BAUTISTA,
2012, tradução nossa). Ali foi identificada a
inadequação de manutenção e investimentos,
assim como uma gama de fatores: framework
regulatório estagnado, a compra de maquinários
99
 antigos e de baixa eficiência, projetos de
construção e reforma inacabados após décadas
de trabalho, a indiscriminada e populista
extensão de políticas de subsídios, os milhões
de dólares investidos no sistema elétrico, mas
inexplicavelmente não revertidos, a falha em
reduzir as perdas elétricas de transmissão e
distribuição do sistema, e o interesse escasso em
promover projetos renováveis para diversificar a
matriz energética, mesmo em ótimas condições
de recursos naturais. Tudo isso converge em um
imbróglio de variáveis para o déficit energético
(PIETROSEMOLI e RODRÍGUEZ-MONROY, 2019).
Mais recentemente, o mundo testemunhou
os últimos blackouts na Venezuela, um dos
eventos mais longos da história. A causa tem
sido fonte de especulação mas, segundo
especialistas em energia, “foi o resultado de
anos de subinvestimento, corrupção e evasão de
cientistas” (LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL,
2019; THE NEW YORK TIMES, 2019). A falta de
energia aprofundou o contexto venezuelano,
já em crise, quando trinta milhões de pessoas
ficaram sem energia por quase uma semana,
tornando a situação política e econômica
100
conturbada do país ainda pior. A recorrência e
escala dos apagões, que implicou diretamente
no fornecimento de comida e água, culminou em
saques e violência. O sistema de saúde também
foi afetado. Considerando o contexto, houve
tiroteios entre saqueadores e os proprietários,
enquanto as pessoas tentavam invadir as lojas.
“Eles estavam indo para hospitais, naquele
momento, que não tinham eletricidade. Então,
como você vai cuidar de pessoas com ferimentos
à bala quando não há eletricidade?” (CASEY,
2019, tradução nossa).
Neste sentido, a possibilidade de novas crises
não parece fazer parte do senso comum, mesmo
que a crise do petróleo no início dos anos 70
pudesse ter sido um alerta diante do pressuposto
de uma indefinida mobilidade motorizada.
No Brasil, desencadeou a implementação do
abastecimento a álcool. Em outros países, a
indústria fotovoltaica. Essas reações, disruptivas
ou não, ainda não são possibilidades que
justifiquem a precaução de forma generalizada.
Uma omissão um tanto curiosa se considerada
a história humana, fundada em crises e
instabilidades.
101
 Façamos uma breve digressão. Não faz duas
décadas a proibição generalizada do fumo em
locais públicos fechados. Essa proibição veio de
forma súbita e mais ou menos sincronizada na
maioria dos países. Constituiu uma importante
mudança cultural num mundo em que fumar
dentro da cabine pressurizada do avião era um
hábito arraigado e entendido como direito. Já
a pandemia do COVID 19, a partir de março de
2020, em todo o mundo transformou algo que
era tão simples como o encontro e a proximidade
entre pessoas numa ameaça à saúde pública.
O propalado direito de ir e vir já não valia mais.
Em alguns países, passou a haver, mesmo, o
rígido controle mediante uso de dados celulares.
Subitamente, fez-se realidade uma visão contida
nas tantas distopias publicadas no século 20
(como o 1984 de Orwell) e, em parte, no Apocalipse
de João. Se foi constatada a vulnerabilidade
em hábitos antes certos como a liberdade de
fumar tabaco, ou a liberdade de ir e vir, assim
cabe para o suprimento de combustíveis para
os automóveis, ou o abastecimento de energia
elétrica pela rede. A autonomização energética
das edificações é uma questão de segurança.
102
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104 105
 Contexto brasileiro

Agora a nossa lupa de análise pousa sobre

o território nacional. O maior país da América
Latina, com aproximadamente 214 milhões de
habitantes (IBGE, 2022), densidade populacional
de 23,8 hab. /km², muito inferior à Alemanha
(230 hab. /km²) e à Suíça (186 hab. /km², ou seja, é
um país de escala continental que faz fronteiras
com Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana
Francesa, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname,
Uruguai e Venezuela. Abundante em recursos,
o Brasil tem um grande potencial solar (figura
8), porém a geração fotovoltaica é incipiente.
Segundo o balanço anual da Empresa de
Pesquisa Energética (EPE) para o Ministério de
Minas e Energia (MME) (2021), no transporte, os
derivados de petróleo são a principal commodity,
representando 72,2% da matriz brasileira de
combustíveis, predominantemente como óleo
diesel (44,4%), seguido por gasolina (25,4%) e
querosene de aviação (2,4%). Os 27,8% restantes
provêm do etanol (19,3%), biodiesel (5,2%),e
gás natural (2,1%, parcialmente importado da
Bolívia), neste sentido ressaltamos o crescimento

Figura 08 - Potencial para a geração fotovoltaica no Brasil

(GLOBAL SOLAR ATLAS, 2019).

106 107
 Figura 10 - Gráfico referente à cidade de Curitiba. O eixo
horizontal indica o dia do ano e o eixo vertical indica a
hora do dia. A cor é a temperatura média para aquele
horário naquele dia e as áreas sombreadas representam o
crepúsculo e anoitecer (WEATHER SPARK, 2022).

Figura 09 - Diagrama do caminho do sol em Curitiba Figura 11 - Gráfico referente à cidade de Tamins. O eixo
(GAISMA, 2022). horizontal indica o dia do ano e o eixo vertical indica a
hora do dia. A cor é a temperatura média para aquele
horário naquele dia e as áreas sombreadas representam o
crepúsculo e anoitecer (WEATHER SPARK, 2022).
108 109
 da participação do etanol em relação aos anos
anteriores. Na geração de energia elétrica, as
hidrelétricas são a principal fonte, computando
65,2% da matriz (EPE, 2021), com marco histórico
na inauguração da Itaipu em 1984 (14.000 MW
de potência instalada, abastecendo 11,3% da
energia consumida no Brasil). Assim, ainda que
a energia oriunda de hidrelétricas seja limpa e
renovável, sua aplicação é restrita pela necessária
inundação de grandes áreas, emissão de metano
(CH4) resultante da degradação anaeróbica de
material orgânico submerso, a dependência
hidrológica da região a ser implementada, que
sofre em períodos de seca (como, por exemplo,
os níveis baixos dos reservatórios na região sul
brasileira em 2020), a necessidade de rede
de transmissão para escoamento da energia
produzida, além da alta energia embutida para
a construção e manutenção de uma usina
hidrelétrica (FERREIRA et al., 2018). É sabido
da importância da diversificação energética,
porém a contribuição fotovoltaica na matriz é de
apenas 1,7% - aqui, ressaltamos que o cômputo
aumentou consideravelmente em relação aos 1%
de 2019. Enquanto isso, outras fontes renováveis,
110
como a eólica e a biomassa, constituem 8,8%
e 9,1% respectivamente, com destaque para a
empresa brasileira fabricante de pás eólicas,
Aeris. Gás natural (8,3%), carvão e derivados
(2,7%), derivados de petróleo (2,1%), e energia
nuclear (2,2%), compõem o restante da matriz
elétrica (EPE, 2021).
Sobre os recursos e a disponibilidade solar
no Brasil, pausamos a escrita para uma breve
digressão. Se compararmos as condições das
cidades que serão apresentadas nos estudos
de caso em sequência (na segunda parte deste
livro), todas localizadas no hemisfério oposto,
à cidade de Curitiba, o diagrama do caminho
do sol em Curitiba (figura 9) apresenta maior
elevação solar e superior quantidade de horas
com sol disponíveis no ano. No que refere à
precipitação, a média em Curitiba é similar aos
exemplos que serão descritos – 1.390 mm/ano.
Também as figuras 10 e 11 fornecem comparativo
entre Curitiba, Brasil, e Tamins, Suíça: enquanto
a primeira transita entre temperaturas
majoritariamente agradáveis e amenas (entre
18 °C e 24 °C), a segunda varia principalmente
entre fresco, muito frio e gélido (entre -9°C a
111
 13°C). Tais fatores ressaltam o potencial brasileiro
para desenvolver edifícios produtores de
energia e com melhor desempenho energético,
ainda considerando que Curitiba, comparada
ao território brasileiro, é uma das cidades com
menor irradiação solar disponível – na figura 8,
veja Brasília, por exemplo.
O paradoxo da baixa aplicação de sistemas
fotovoltaicos converge em diversas variáveis.
De um lado, é tema recorrente de pesquisa
em universidades. Porque o Brasil tem
características favoráveis à tecnologia, como alto
nível de irradiação solar e reservas de quartzo
de qualidade, que podem gerar importante
vantagem competitiva na produção de silício
de grau fotovoltaico, durante os anos 1970s
algumas universidades e institutos de pesquisa
alemães iniciaram colaborações científicas. Foi o
caso do Instituto Militar de Engenharia (IME), Rio
de Janeiro, Brasil, e o Institut für Physikalische
Elektronik (IPE), Universität Stuttgart, Stuttgart,
Alemanha. O grupo de pesquisadores estudou e
desenvolveu células solares de película fina, thin
film, primeira geração de Cu2S/ CdS (FERREIRA
et al., 2018). Assim, as pesquisas no Brasil
112
aconteceram em laboratórios bem equipados,
espalhados nos cursos de pós-graduação nos
anos 1958-72, resultando em intensa pesquisa
sobre coletores solares térmicos, refrigeração,
fornos, fogões, secadoras e destilação. A
fabricação fotovoltaica de módulos de silício
durante os anos 1973-83 e novamente após 1994,
com maior ênfase na implantação em campo
durante os anos 2000 (DHERE, 2005), também
impulsionou o mercado solar brasileiro.
Assim, a partir de meados dos anos 1980s,
teve início a fabricação industrial de módulos
fotovoltaicos, empregando células importadas.
Tal experiência incentivou a produção de células
de silício brasileiras pela empresa Heliodinâmica
(FERREIRA et al., 2018) liderada pelo físico Bruno
Topel que consumou cerca de 25.000 projetos,
grande parte em áreas remotas (TV CULTURA,
2011). Os equipamentos foram comprados no
exterior para fabricar desde as células até a
montagem dos módulos, entregando sistemas
fotovoltaicos brasileiros em completude. A
empresa, primeira e única a produzir o módulo
de silício integralmente em território nacional
(OSCAR, 2014), fechou em 2010 e hoje as células
113
 são importadas da Ásia. Outra empresa de
destaque no cenário brasileiro é a Sunew,
localizada em Belo Horizonte, Minas Gerais. Em
2010, os fundadores (BNDES, FIR Capital, CSEM
Brasil, TRADENER comercialização de energia e
CMU comercialização de energia) financiaram
pesquisas de desenvolvimento de filmes
fotovoltaicos orgânicos (OPV), contando com
cientistas especialistas de 18 nacionalidades.
Em 2014 “o equipamento de impressão rolo-
a-rolo desenvolvido pela equipe do CSEM
Brasil, fabricado na Alemanha, é trazido para
Belo Horizonte para instalação e primeiros
testes” (SUNEW, s.d.). A empresa fornece filmes
orgânicos apenas para projetos de grandes
dimensões e fomenta parcerias científicas P&D.
No que diz respeito a plantas fotovoltaicas de
geração centralizada, a primeira foi inaugurada
em 2011 de iniciativa privada com capacidade
de 1 MWp, no município de Tauá, Ceará, Brasil.
Já em instalações conectadas à rede pública,
alguns projetos piloto foram realizados nos
anos 1990, principalmente em universidades
e centros de pesquisa (FERREIRA et al., 2018).
Porém, somente em 2012 essa modalidade
114
de geração foi regulamentada pela Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), por meio
da Resolução nº 482/2012 que “estabelece as
condições gerais para o acesso de microgeração
e minigeração distribuída aos sistemas de
distribuição de energia elétrica, o sistema de
compensação de energia elétrica, e dá outras
providências” (BRASIL, 2012). Ou seja, a produção
de energia renovável, sistema fotovoltaico, por
exemplo, com potência estipulada até 75 kW
(microgeração) ou acima de 75 kW e menor ou
igual a 5 MW (minigeração)7, conectada à rede
por meio de unidades consumidoras, gerará
créditos para abater no faturamento. Nesse caso,
o consumo a ser faturado “é a diferença entre a
energia consumida e a injetada” (BRASIL, 2012),
dispensada a necessidade de contratos de uso e
conexão. A quantidade de energia ativa injetada
que não tenha sido compensada na própria
unidade consumidora poderá abater o consumo
de outras atendidas pela mesma distribuidora
“cujo titular seja o mesmo da unidade com
sistema de compensação de energia elétrica, ou
cujas unidades consumidoras forem reunidas
por comunhão de interesses de fato ou de direito”
7 Os valores foram adaptados segundo a Resolução
Normativa nº 687/2015 (REN 687).
115
 (BRASIL, 2012). Os créditos gerados têm validade
de 60 meses após a data do faturamento, prazo
estabelecido na Resolução Normativa (REN)
687, revisando a REN 482/2012. A REN 687 traz
inovações como a possibilidade de instalação
de geração distribuída em condomínios
(empreendimentos de múltiplas unidades
consumidoras), além de geração compartilhada
em consórcios ou cooperativas (BRASIL, 2015).
Eis porque a partir de 2012 houve maior número
de instalações fotovoltaicas, com ênfase no
ano de 2015 (LUNA et al., 2019). Também, a
Companhia Paranaense de Energia (COPEL)
lançou a chamada pública DIS GD 001/2020,
referente à contratação de energia proveniente
de geração distribuída. Este projeto piloto, em
outras palavras, oportuniza a compra de energia
proveniente de geradores conectados ao sistema
de distribuição, de produtores independentes de
energia de pequeno e médio porte com potência
instalada entre 1 a 30 MW. Isso sem restrição da
fonte geradora: biomassa, biogás, eólica, solar ou
hidráulica, “com possibilidade de ser o pontapé
inicial para uma resolução específica sobre o
tema” (COPEL, s.d.).
116
Do outro lado da moeda no que se refere
ao incipiente uso da conversão fotovoltaica, é
percebido que, mesmo com avanços, faltam
incentivos para a difusão da tecnologia.
Para Luna et al. (2019), a REN 482 deveria ser
aprimorada para reduzir ou isentar impostos
sobre os equipamentos fotovoltaicos, bem como
fornecer incentivos governamentais; permitir
que o excedente de energia seja vendido
ao distribuidor ou ao mercado livre; isentar
impostos para instituições sem fins lucrativos e
exigir em projetos de programas habitacionais
medidas de eficiência energética. Também é
crucial a exigência de melhor desempenho de
novas edificações, em um país que, no setor
da construção civil, empresas familiares ainda
dominam o mercado e operam de maneira não
industrial com pouco investimento de capital e
trabalho não qualificado. O setor está amarrado
a projetos com uso intensivo de concreto como
material estrutural e alvenaria como solução
de vedação, pautado por decisões baseadas
em retornos imediatos e distantes da eficiência
energética. Nesse sentido, a arquitetura poderia
ser um catalisador poderoso para construções
de melhor desempenho.
117
 Tampouco, potenciais investidores
produtores do setor de energia “dispõem
de informações e conhecimento científico
antecedente sobre fontes de energia renováveis
e evitam riscos econômico-financeiros” (MELO
et al., 2013, tradução nossa). Em 2013, no primeiro
leilão de energia que a produção fotovoltaica
foi habilitada a participar, nenhum projeto foi
contratado devido a sua falta de competitividade
quando comparada a outras fontes (FERREIRA
et al., 2018). E como os projetos instalados por
iniciativas governamentais usam sistemas
autônomos e estão implementados em regiões
remotas, não há aumento da informação, difusão
e educação social. A exemplo de iniciativas como
o Programa de Desenvolvimento Energético
dos Estados e Municípios (PRODEEM) de 1994,
posteriormente incorporado ao Programa Luz
para Todos (LpT), subsidiado pelo governo federal
e gerenciado pelo Ministério de Minas e Energia
(MME). “Desde a sua criação, foram destinados
US$ 37,25 milhões para 8.956 projetos e 5.112 kWp
(quilowatt-pico) de potência” (ANEEL, 2009).
Concentrando suas realizações em escolas rurais,
comunidades vulneráveis, pequenos produtores,
118
e núcleos de colonização e populações isoladas
não servidas por rede elétrica, o programa se
fragiliza diante da tarefa de manutenção e
reparação, sem estrutura adequada. Portanto,
a difusão de projetos solares ocorreu em
grande número nas comunidades afastadas e
laboratórios de universidades, sem educação e
aceitação social nos centros urbanos. Ademais,
como ressaltam Cardoso, Oliveira e Silva (2013),
os projetos em localizações remotas carecem
de manutenção da tecnologia a longo prazo -
substituição de baterias, substituição de módulos
fotovoltaicos, conservação dos sistemas elétricos
- portanto, mesmo que o ganho pelo aumento
da eletrificação seja incontestável, no decorrer
do tempo as medidas não se sustentam.
Outra possível explicação para o fenômeno
ainda é o histórico de custo se comparado às
fontes de energia tradicionais. Em 2013, por
exemplo, um sistema fotovoltaico instalado
na Alemanha custava 1.684 euros por kW de
capacidade instalada (kWp). No Brasil, durante
o mesmo período, o custo variou de 7.000 a
10.000 reais por kWp, o que equivale à média
de 3.000 euros por kWp, no mesmo recorte
119
 temporal (FERREIRA et al., 2018). Entretanto,
os custos caíram expressivamente a partir de
2013, registrando uma favorável competitividade
nesse sentido.
A fundamentação aqui desenvolvida não é
motivada por um desejo em exaurir o tema, mas
como repertório inicial para o entendimento
da complexa engrenagem entre fatores sociais
e o sucesso de sistemas fotovoltaicos. Além
das demais camadas de complexidade citadas
anteriormente: a tecnologia fotovoltaica sob
a perspectiva de um material construtivo
multiescalar, em termos esféricos, espaciais,
angulares, de refletância e atômicos. Servem
de base para o próximo capítulo e ênfase para
a necessária interdisciplinaridade da arquitetura
ao abordar energia também como seu
repertório. Afinal, para serem bem-sucedidas,
as mudanças requerem estratégias holísticas,
cientes da existência de restrições humanas
(PIETROSEMOLI e RODRÍGUEZ-MONROY, 2019).
120
Referências
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Solar: relatório técnico. Brasília, 2009.
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482-de-17-de-abril-de-2012.pdf. Acesso em 26 jan 2022.
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novembro de 2015. Disponível em: http://www2.aneel.gov.
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121
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2022.
MELO, E.G. Geração Solar Fotovoltaica: Estimativa
do Fator de Sombreamento e Irradiação em Modelos
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Ciências) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
São Paulo, 2013. Orientador: José Aquiles Baesso Grimoni.
OSCAR, Naiana. O sol torrou todo o meu patrimônio.
O Estado de S. Paulo, São Paulo, 29 set 2014. Disponível
em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-sol-
torrou-todo-o-meu-patrimonio-imp-,1567778. Acesso em
26 jan 2022.

122 123
 2. Estudos de caso “Na concepção de edifícios fotovoltaicos,
quais fundamentos suportam uma integração
abrangente - holística - à arquitetura?”. Supomos,
pois, que tal resposta é encontrada mais na
prática do que na teoria, portanto decidimos
observar casos da realidade concreta - projetos
arquitetônicos de valor agregado ao considerar
energia uma variável de projeto. Esta decisão foi
também comprovada pela revisão de literatura.
Assim, o nosso objetivo final é condensar pistas,
em inglês insights, para projetos de edifícios
fotovoltaicos desde o início da concepção
arquitetônica.
Usamos a definição de Aravena para
estabelecer quais tipos de projeto são o nosso
foco de estudo (BIENNALE CHANNEL, 2016):
valor agregado mostra-se na capacidade de, a
partir do que antes era só matéria (ou, neste caso,
conversão direta de luz, foto, em eletricidade,
voltaica), eventualmente resultar em arquitetura
estimulante e de caráter transformador.
Unimos esta à definição de Scognamiglio (2016)
que considera valor agregado para sistemas
fotovoltaicos “um conjunto de resultados e
aspectos que deixam os locais pelo menos tão

124 125
 bem quanto antes do projeto”, principalmente
no que concerne à barreira social. Assim,
buscamos sintetizar esse conhecimento tácito
na análise de múltiplos estudos de caso para
promover a “conversão de um conhecimento
individual ou coletivo, expresso de forma tangível
ou intangível, em conhecimento codificado e
tangível, que pode ser comunicado e utilizado
por outras pessoas” (SANTOS, 2018).
Temos no total sete estudos de caso,
materializados em edifícios fotovoltaicos. Todos
são descritos em sequência. Mais ainda, os
dados coletados foram analisados a partir das
qualidades encontradas na fundamentação
sobre questões táteis da materialidade - o módulo
fotovoltaico como material construtivo e suas
escalas de complexidade (em termos esféricos,
espaciais, angulares, de refletância, atômicos
e sociais). A partir da fundamentação, primeira
parte do livro, colocamos véus teóricos sobre
as massas construídas - analisados, também,
por meio de representação gráfica de síntese,
neste caso, desenho técnico arquitetônico. Tais
desenhos têm sua lógica construída a partir da
obra The Function of ornament (MOUSSAVI e
126
KUBO, 2006), ancorada em material gráfico que
defende elementos construtivos como parte da
expressão arquitetônica, em outras palavras, “dois
campos que estão interconectados” (MOUSSAVI
e KUBO, 2006, tradução nossa). Portanto, na
segunda parte deste livro, o fluxo de informações
será: estudo de caso seguido por representação
gráfica de síntese, novamente estudo de caso
seguido por representação gráfica de síntese, e
assim por diante.
Maiores detalhes sobre o protocolo de escolha
dos estudos de caso, o processo de coleta de
dados por meio de entrevistas na Alemanha e
Suíça, assim como tais entrevistas na íntegra,
podem ser consultados na dissertação de
mestrado: Energia é variável do projeto
arquitetônico: análise de edifícios fotovoltaicos
por meio de estudos de caso (DIAS, 2020).
Também é importante destacar que estudar
esses edifícios é uma tentativa de desbravar
a zona cinzenta existente entre produção de
energia e arquitetura. É tentador ver o edifício
como produto de uma análise procedente
apenas de parâmetros técnicos - engenharia
estrutural, fabricação, sustentabilidade - quando
127
 na verdade o espectro de variáveis é bastante
complexo, sujeito a uma diversidade de forças.
Portanto, decisões pautadas em dados que
visam eficiência energética transitarão em
camadas interdisciplinares.
Um último comentário. Como mencionado
no prefácio, novamente sugerimos que você
busque informações complementares na
internet, principalmente no que diz respeito às
imagens. Isso porque, evitando a redundância,
adicionamos aqui material autoral, produzido por
nossa equipe de pesquisadores, sem a repetição
de conteúdo já existente em outras fontes.
Portanto, sugerimos bancos de dados de projetos
arquitetônicos como o Archdaily, também os
sites oficiais das empresas autoras dos edifícios
mencionados, em que a qualidade fotográfica
e de informações é garantida. A seguir, seguem
os estudos de caso e representação gráfica de
síntese.
128
Referências
BIENNALE CHANNEL. Biennale Architettura 2016 -
Alejandro Aravena explains ‘Reporting From the Front’.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aH-
pS8uFT1eE&list=PL2J3c5AtY5K _IySr924xDz7SWm5km-
j7K_&index=1. Acesso em 18 jan 2022.
DIAS, S. H. Energia é Variável do Projeto Arquitetônico:
Análise de Edifícios Fotovoltaicos por Meio de Estudos de
Caso. Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade
Federal do Paraná. Curitiba, 2020. Orientador: Aloísio Leoni
Schmid.
MOUSSAVI, Farshid; KUBO, Michael. The Function of Or-
nament. ACTAR, Harvard Graduate School of Design, 2008.
SANTOS, A. Seleção do método de pesquisa: guia para
pós-graduandos em design e áreas afins. Curitiba: Insight,
2018.
SCOGNAMIGLIO, A. ‘Photovoltaic Landscapes’: Design
and Assessment. A Critical Review for a New Transdisci-
plinary Design Vision. Renewable and Sustainable Ener-
gy Reviews, v. 55, p. 629–661, 2016. https://doi.org/10.1016/j.
rser.2015.10.072
129
 Estudo de caso zero: Adaptive Solar Façade
(ASF)
O protótipo Adaptive Solar Façade (ASF),
estudo de caso zero, foi projetado pelo grupo
de pesquisadores A. Schlueter, M. Begle, S.
Caranovic, J. Hofer, P. Jayathissa, G. Lydon, Z. Nagy,
D. Rossi e B. Svetozarevic, no setor de pesquisa
Architecture & Building Systems na universidade
Eidgenössische Technische Hochschule Zürich
(ETHZ). Em desenvolvimento desde 2011, será
descrito a seguir a partir de pesquisa documental
e entrevista. Os dados utilizados para o caso
zero foram disponibilizados pelo pesquisador
e estudante de doutorado Linus Walker, em
entrevista com a autora Sofia Dias no dia 25 de
novembro de 2019, em Zurique, Suíça, na ETHZ.
Graças às informações compartilhadas por
Walker, e enfatizamos a tese da pesquisadora
Prageeth Jayathissa: Design and assessment of
adaptive photovoltaic envelopes (2017), além de
visita ao campus da ETHZ e aos protótipos do
trabalho, esta análise foi possível (figuras 12 e 13).
O material construtivo estudado é parte de
um grande projeto desenvolvido na ETHZ com
130
grupo interdisciplinar: o HiLo, apartamento que
abriga dois dormitórios, sala de estar, espaço de
trabalho, em construção leve e que gera mais
energia do que consome - net positive energy
building (NPEB) (LYDON, 2017). Após o estudo de
materiais inovadores e protótipos desenvolvidos
na universidade, será acoplado à cobertura
do edifício Nest-Unit UMAR, desenvolvido por
Werner Sobek, Dirk E. Hebel e Félix Heisel e
construído em Dübendorf, Suíça, para o EMPA
(Swiss Federal Laboratories for Materials Science
and Technology) - referenciado na primeira
parte deste livro. Para tal, a ETHZ desenvolveu
três frentes de trabalho: a concepção de
cobertura sinuosa de concreto ultra fino
(NEST HiLo Roof), laje funicular (Functionally
integrated funicular floor) e fachada fotovoltaica
(Adaptive Solar Facade, ASF). Podem ser
acoplados ou desmaterializados com agilidade,
e estão associados a um baixo uso de materiais
e energia. Ademais, a casca de concreto que
conforma a unidade de apartamento, similar
ao projeto desenvolvido na universidade em
parceria com o escritório de arquitetura Zaha
Hadid Architects (ZHA)8 para a releitura do
8 Zaha Hadid foi uma matemática e arquiteta, professora
da Architectural Association School of Architecture. Fundou
o Zaha Hadid Architects (ZHA) em 1979, com projetos
construídos em seis continentes, e conquistou o Prêmio
Pritzker em 2004.
131

Figura 12 - Vista frontal do protótipo Solar Adaptive Façade
(ASF) (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
Figura 13 - Vista posterior do protótipo Adaptive Solar
Façade (ASF) (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
132
trabalho de Félix Candela9 denominado “Knit
Candela”, cria formas sinuosas e com baixo
consumo de material a partir de andaimes,
vigas perimetrais de madeira, rede de cabos
metálicos, cofragem de tecido e camada muito
fina de concreto (BLOCK RESEARCH GROUP,
2017). O processo de construção do protótipo
NEST HiLo Roof, Knit Candela, assim como
o projeto citado anteriormente Functionally
integrated funicular floor, estão disponíveis no
Vimeo (BLOCK RESEARCH GROUP, 2017; BLOCK
RESEARCH GROUP, 2019). O uso sincrônico
das inovações desenvolvidas pelos grupos de
pesquisa é descrito no artigo “Coupling energy
systems with lightweight structures for a net plus
energy building” (LYDON et al., 2016), exemplo de
abordagem simultânea entre energia e gênese
arquitetônica. Mais ainda, o pesquisador Linus
Walker faz parte do projeto nas simulações e
otimização das conexões elétricas dos módulos
flexíveis localizados acima da cobertura NEST
HiLo Roof. Eis que os projetos de pesquisa estão
interconectados.
Assim, o Adaptive Solar Facade (ASF) é o
estudo de caso zero por sua relação intrínseca:
9 O arquiteto espanhol desenvolveu muitos experimentos
em concreto e argamassa armada, conchas estruturais e
formas hiperbólicas.
133
 desde as primeiras decisões de design foi
concebido como componente pré-fabricado,
material construtivo, com dimensões 2,50 m x
4,02 m, a ser acoplado com distanciamento de
80 cm do envelope construído dos edifícios - por
razões estruturais e portabilidade do sistema.
Portanto, é um invólucro modular, com módulos
fotovoltaicos leves de 40 cm x 40 cm, CIGS10 de
segunda geração, dinâmicos, com amplitude de
movimento em uma escala de 90° e que só faz
sentido se conectado à arquitetura: no caso do
apartamento HiLo, por exemplo, será aplicado
nas faces envidraçadas de ambos os dormitórios.
Também, a autora Jayathissa (2017) alude a
projetos como o Al-bahr towers em Abu Dhabi
projetado pelo escritório de arquitetura Aedas
em 2012, o Institut du Monde Arabe (IMA) em Paris
projetado pelo Ateliers Jean Nouvel em 1987, e o
Thyssenkrupp quarter em Essen projetado pelos
escritórios JSWD Architekten e Chaix & Morel
et Associés em 2014, como exemplos icônicos e
referenciais. Tal qual os exemplos arquitetônicos
citados, eis que o sistema ASF também é kinetic
architecture - arquitetura cinética - na qual partes
integrantes do edifício movem-se de acordo
10 Selenieto de cobre, índio e germânio.
134
com a incidência solar para libertar superfície
envidraçada na baixa incidência e máxima
entrada de luz natural, ou sombrear quando
há necessidade de proteção do calor excessivo.
Mas a diferença está, neste caso, em superfícies
móveis que também produzem energia elétrica.
Neste sentido, Jayathissa (2017) defende
que por passarmos 87% de nossas vidas
em ambientes internos e esse consumo de
energia resultar em alto impacto ambiental,
faz-se necessário produzir edifícios de
modo consciente de seu contexto, passiva e
ativamente - edifícios produtores de energia. O
projeto ASF é resposta a esse posicionamento,
de maneira a prototipar condições ideias no
invólucro: a variação entre o estado hermético
e o estado aberto, que responde os múltiplos
requerimentos da arquitetura - aquecer, resfriar,
liberar vistas, produzir energia. Assim, a variação
da orientação dos módulos permite que certas
partes da fachada respondam “à luz natural ideal,
enquanto outros são otimizados para redução
da demanda de aquecimento /refrigeração
e aprimoramento de vistas para o exterior”
(JAYATHISSA, 2017, tradução nossa). Quando
135
 escolhidos módulos solares para a composição
da estrutura, é possível também “colher energia
no local e usá-la para atender às demandas do
espaço interior” (JAYATHISSA, 2017, tradução
nossa). Estes são os princípios de funcionamento
do ASF e o desafio está nas múltiplas funções que
o material construtivo desempenha. Precisamos
lembrar que o sistema tem “milhares de
posições possíveis e precisa encontrar o balanço
ótimo entre redução da demanda de energia,
conforto dos usuários e produção de energia
elétrica fotovoltaica” (JAYATHISSA, 2017, tradução
nossa). Consequentemente, cunha-se o termo
adaptive - adaptativo: o material construtivo
responde às demandas e consumo do usuário,
temperatura interna, temperatura externa e
níveis de radiação. Analisando isto em curto
prazo, se o sol se esconde atrás de uma nuvem,
ou se a ocupação de usuários no ambiente
aumenta drasticamente, o invólucro será capaz
de adaptar-se para ir ao encontro das novas
necessidades. Também, a longo prazo, é capaz
de responder a mudanças como o aquecimento
global (JAYATHISSA, 2017).
Podemos agora perguntar: como controlar
136
tais variações, em um projeto desenvolvido
por apenas quatro designers, com aspectos
interdisciplinares que dependiam de uma
gama de stakeholders e inúmeras decisões?
Consideremos que o projeto combina os domínios
da arquitetura, da engenharia estrutural, da
avaliação energética de edifícios, do design
fotovoltaico, do seu controle e manufatura,
portanto, para enfrentar o problema de pesquisa
em tempo hábil, adotaram-se ferramentas
paramétricas de desenho. Esse ambiente
permitiu a colaboração de todos stakeholders
durante o processo de design e com resultados
de visualização imediata. Segundo a autora, o que
levaria meses, foi condensado em poucas horas.
Ademais, diferente do sistema BIM (acrônimo
de Building Information Modelling) que produz
resultados standard e que torna complicado
o desenho de componentes customizados
e inovadores, optou-se por ferramentas que
permitam performative design - supera as
limitações dos sistemas BIM, produzindo
simulações para a descoberta de novas formas, e
não apenas para reproduzir aquilo que é sabido
(JAYATHISSA, 2017).
137
 Para clarificar o termo, atrelamos ao
pensamento outro exemplo de performative
design: o protótipo Hygroscope – externo, tema do projeto para a exposição. Para
Meteorosensitive Morphology, desenvolvido
por Achim Menges, professor da University of
Stuttgart, em cooperação com Steffen Reichert,
Institute for Computational Design da University
of Stuttgart e a empresa Transsolar Climate
Engineering, para exposição no Museu Centre
Pompidou, Paris, 2012. O projeto é a combinação
das propriedades inerentes da madeira e
morfogênese computacional, sintetizado
em um protótipo feito do material e coberto
por uma redoma de vidro. Suas aberturas
abrem e fecham como resposta às mudanças
climáticas daquele ambiente controlado, sem
necessidade de equipamento técnico ou uso
de energia. “Meras flutuações na umidade
relativa desencadeiam mudanças silenciosas
no movimento inato da madeira. A estrutura do
material em si é a máquina que o movimenta”
(ACHIMMENGES, 2012, tradução nossa), e tais
flutuações de umidade correspondem aos dados
da cidade de Paris. Portanto está em contraste
ao museu Pompidou - uma das zonas climáticas
138
mais estáveis e controladas do mundo - servindo
como conexão virtual entre ambiente interno e
tal, baseia-se em características higroscópicas
(capacidade de absorver água) e anisotrópicas
(certa propriedade física que varia com a direção,
sentido das fibras da madeira, por exemplo), por
muito tempo vistas como barreiras a se enfrentar
no uso da madeira, ao invés de oportunidades
para alcançar formas com curvaturas uni e
bidirecionais (WOOD et al., 2018). E, para desenhar
a complexidade de variáveis que afetam a forma
e funcionamento do projeto, convém o uso de
performative design, com parâmetros como:
direcionalidade da fibra da madeira, a relação
comprimento-largura-espessura, geometria
do elemento e, especialmente, o controle da
umidade e possíveis movimentos decorrentes.
Mais de 4000 elementos únicos foram gerados
e digitalmente fabricados, além da previsão
das variadas composições de acordo com o
nível de umidade e movimentação das peças
(ACHIMMENGES, 2012).
Ao transferir o pensamento para o Adaptive
Solar Facade (ASF), para projetar um material
139
 construtivo destinado a fachadas que controlam
tanto o consumo quanto a produção de energia
elétrica, simulando o desempenho durante
365 dias, ou seja 8.760 horas, exige-se uma
ferramenta que facilite a solução sincrônica
de funções e rápida visualização. Assim, a
partir do software Rhinoceros 3D com plugin
paramétrico Grasshopper, unido à linguagem
de programação Python e ao plugin Ladybug,
as principais variáveis (inputs) consideradas
foram dimensão do quadro de armação e perfil
da peça construtiva, dimensão dos módulos
fotovoltaicos, espaçamento entre módulos,
layout e o alcance da movimentação dos
painéis. A partir dos inputs, as principais análises
(outputs) foram o desempenho estrutural, o
desempenho energético, os desenhos técnicos
para a manufatura e os renders (JAYATHISSA,
2017). As análises de desempenho energético
abrangeram dados sobre radiação solar
disponível nos módulos fotovoltaicos e na
janela atrás do ASF. Neste sentido, Jayathissa
comenta que uma composição menos porosa,
com maior número de módulos fotovoltaicos
por área, resultaria em maior sombreamento e
140
menor entrada de calor e iluminação natural nos
ambientes (portanto, maior consumo de energia
elétrica). Outro output é a produção de energia
elétrica, levando em consideração o efeito da
termalização, a demanda de aquecimento
e resfriamento do edifício de acordo com a
quantidade de calor e luz natural recebida, a luz
natural incidente no ambiente, simulando todos
os horários do dia durante um ano. A partir destas
variáveis, o desempenho energético anual do
Adaptive Solar Façade pôde ser avaliado.
Também, as junções a que os módulos
dinâmicos estão conectados são tubos metálicos
que abrigam todo o cabeamento e estruturam as
peças, como uma rede em que o sistema elétrico
está embutido. Todos os tubos têm dimensões
diferentes, calculadas automaticamente
nas ferramentas paramétricas. Mais ainda, a
porosidade da composição também afeta os
resultados estruturais: quanto mais porosa essa
for, e mais espaçados os módulos estiverem,
maior a instabilidade mecânica (JAYATHISSA,
2017). Neste sentido, a moldura metálica
externa é essencial, já que arremata a peça,
adiciona rigidez ao sistema de rede metálica
141
 e garante sua portabilidade como peça pré-
fabricada, passível de fixação em qualquer
edifício. Essa rigidez adicional faz com que os
tubos sejam mais esbeltos, o que aumenta
a transparência do material. Portanto, neste
exemplo fica explícito que o equilíbrio entre
as variáveis interdisciplinares, produção de
energia e estabilidade mecânica da estrutura, é
importante para alcançar resultados satisfatórios
de forma holística. A esbeltez da estrutura
permite luz natural em abundância e economia
de energia, mas neste sentido fica fragilizada em
termos mecânicos. Enquanto uma composição
de módulos fotovoltaicos mais densa garantiria
maior estabilidade estrutural e produção elétrica,
também sofreria com o sombreamento entre
peças e estratégias passivas insatisfatórias. Em
suma, se com o intuito de produzir energia em
edifícios, o pensamento girar em torno apenas
de densidade de potência, isto será pior para o
projeto.
Mais ainda, sobre tal sincronia de variáveis,
podemos adicionar que o alcance dos resultados
está diretamente relacionado ao tipo de uso
do edifício, com melhores respostas quando
142
o sistema ASF está inserido em construções
em que haja demanda tanto por aquecimento
quanto resfriamento (edifícios de escritório,
academias de ginástica, lojas, mercados e
escolas, por exemplo), com economia entre
20 e 80% se comparado a modelos estáticos.
Se a demanda fosse unicamente para resfriar
ambientes, um sistema estático, mais barato,
resolveria bem o problema. Portanto, a autora
recomenda vincular sua utilização a superfícies
envidraçadas, em que o imbróglio de variáveis
está presente: vistas para o exterior, entrada
de luz natural, aquecimento e resfriamento do
ambiente, além de produção energética.
No que refere à movimentação das peças,
a ação dos módulos fotovoltaicos é ativada
a partir de um atuador pneumático, feito de
borracha neoprene, com três câmaras de ar.
Ao pressurizar uma das câmaras com ar, o
acionador se deformará, movimentando a peça
– com um alcance de 90° e margem de erro em
até 2°. Neste sentido, os grandes desafios estão,
principalmente, na necessária manutenção. Os
sistemas elétricos e mecânicos têm garantia
de até 20 anos, enquanto os edifícios durarão
143
 pelo menos 50 anos. Isto poderia ser melhor
compatibilizado com ações frequentes de
manutenção, mas implicaria em maiores custos
financeiros envolvidos no processo. Negligenciar
a manutenção do sistema “acabará por levar à
falha, o que resulta em imensa insatisfação
dos usuários” (JAYATHISSA, 2017, tradução
nossa). Se os módulos dinâmicos pararem de se
movimentar, na posição “fechada”, o ambiente
ficará totalmente no escuro, por exemplo. Outro
desafio está na capacitação dos profissionais
envolvidos, que demanda o conhecimento
interdisciplinar e domínio de vários softwares.
Em entrevista (figura 14), Linus Walker
respondeu sobre o contexto de implantação
do projeto Adaptive Solar Façade (ASF) e quais
outras estratégias de design estão conectadas
a tal aplicação. Também, realizou visita guiada
para observarmos o protótipo construído -
respondendo aos objetivos traçados para a
prospecção de dados. Walker descreveu que
a linha de pesquisa Architecture and Building
Systems está dividida em três grandes grupos.
“A primeira parte tem foco, principalmente,
144
em análise energética na escala urbana. Eles
desenvolveram um software em que você pode
projetar as demandas energéticas de todo um
bairro, por exemplo”. Os resultados não são
apurados, ou seja, não fornecem desenhos
na unidade do módulo ou célula fotovoltaica,
mas traça áreas de demanda para a produção
energética na cidade. Assim, tal ferramenta
favorece a rápida simulação e tomada de
decisões, com tempo otimizado para o posterior
detalhamento e simulações mais complexas.
Além da escala urbana, também fica clara a
relação entre edifícios e as possibilidades de
produção energética compartilhada. “Por que
cada edifício deveria pensar apenas em sua
produção energética isoladamente? Faz mais
sentido, quando possível, pensar em áreas
disponíveis que sejam complementares entre
construções”.
A segunda parte do grupo de pesquisa
desenvolve estratégias de retrofit orientadas por
dados previamente levantados para encontrar
soluções visando menores custos e melhor
performance energética. “Considerando que
nós temos muitos edifícios antigos na Suíça
145

Figura 14 - Entrevista com o engenheiro e pesquisador
Linus Walker na ETHZ (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
Figura 15 - Expositor simula a fixação de módulos
fotovoltaicos em fachadas. Na lateral do móvel, um
desenho técnico em escala 1/1 explica a fixação e
funcionamento das peças (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
146
e que a taxa de retrofit no país é apenas 1%,
se continuarmos neste ritmo nunca iremos
alcançar a meta estipulada no acordo de Paris e
políticas nacionais”. As pesquisas neste sentido
estão em um momento inicial, mas consistem,
basicamente, em colocar sensores e medir
o comportamento do edifício por dias, ou
semanas. Segundo Walker o tempo ainda não
foi determinado ao certo, levantando dados para
posterior análise. A partir de machine learning
tool - aprendizado guiado por ferramentas
computacionais - é possível triangular as variáveis
e receber um prognóstico como: você primeiro
precisa trocar o seu telhado, depois atualizar o
sistema de aquecimento, em suma, dirá quais
estratégias e como deverão ser realizadas para
alcançar resultados satisfatórios.
A terceira e última frente de trabalho, da
qual Linus faz parte, é a pesquisa direcionada a
soluções para a produção de energia fotovoltaica,
aperfeiçoamento de sistemas operacionais,
estratégias passivas, mas também a análise
de otimização do ciclo de vida de edifícios.
“Esta é uma abordagem um tanto recente e é
sintetizada, de certa forma, no edifício HiLo.
147
 Ou seja, se você desde o princípio produz um
edifício com enorme emissão de carbono, não há
produção energética ou eficiência operacional
que anule essa conta”. Inclusive faz sentido
em alguns momentos uma menor eficiência
operacional, uma menor produção energética,
mas construções com menor gasto de energia
embutido em sua materialização. Voltando ao
exemplo do edifício HiLo, que será construído no
próximo ano, a meta principal era produzir uma
forma com o mínimo de concreto possível e, com
isto alcançado, diminuir ainda mais o impacto da
construção também com a produção energética
fotovoltaica nas janelas (Adaptive Solar Façade)
e módulos na cobertura.
Relacionado a barreiras sociais para
incorporação, “as pessoas estão acostumadas
a pensar que a tecnologia fotovoltaica não é
eficiente, é cara, não funciona bem, além de
ser feia”. São os mesmos pensamentos de
20 anos atrás. No passado, isso pode ter sido
verdade, mas hoje não é mais. “E eu acredito
que isto não pode ser subestimado no design,
os arquitetos deveriam ser mais abertos para a
adoção de diferentes tecnologias”. Idealmente,
148
tal pensamento poderia perpetuar-se em todas
as etapas do design e não apenas como algo
posterior ao edifício finalizado. Porém, segundo
Walker, ainda não é muito difundido.
Para o pesquisador, a Suíça tem um grande
potencial a ser explorado. Há dois anos, as
pessoas votaram e decidiram que desejam novas
estratégias energéticas para o país, acabando
com a energia nuclear, portanto há um impulso
para trabalhar com fontes renováveis. “Nós
tivemos grandes incentivos, em que o governo
pagava uma tarifa muito alta para aqueles que
produziam energia solar, as pessoas ganharam
bastante dinheiro. Mas a política não se sustentou
financeiramente. Então hoje a política mudou: se
você constrói um sistema fotovoltaico, receberá
em torno de 20% do dinheiro investido de volta,
o que é ainda um bom incentivo”. Duas semanas
antes da entrevista, que aconteceu no dia 25 de
novembro de 2019, houve novamente eleições
e todos os partidos estavam a favor de energias
renováveis segundo Walker. Isto comprova que
a causa estará em ainda mais evidência nos
próximos anos, em um país com matriz oriunda
65% de hidrelétricas e 35% de energia nuclear.
149
 Neste sentido, em 2019 foi feito um acréscimo
à biblioteca de arquitetura da ETHZ, que é
composta por livros e por amostras de materiais,
com produtos e informações sobre edifícios
fotovoltaicos em que o módulo é também peça
construtiva. “Percebemos que os cursos de
arquitetura e design ainda são de velha guarda
e a integração de sistemas ao envelope de
edifícios não é mencionada durante a graduação.
Acreditamos que os módulos fotovoltaicos não
são pensados como uma opção de design”
(figuras 15, 16, 17 e 18).
Determinado o contexto do projeto, inclusive
sob o ponto de vista social, partimos para
as perguntas sobre as variáveis de design
sincrônicas à produção de energia elétrica, além
de dados sobre o desenvolvimento do protótipo
em questão. Segundo Walker, no Adaptive Solar
Façade (ASF), a geometria do edifício foi dada
antecipadamente, a partir dos estudos do grupo
de pesquisa Block Research Group (BRG). É uma
forma complexa de dupla curvatura, inovadora
para a incorporação de sistemas fotovoltaicos.
A prioridade era usar a menor quantidade de
concreto possível e, depois disso, estudar a
150
melhor orientação e angulação dos módulos
solares. O protótipo ASF foi criado dentro de tais
diretivas de implantação, mesmo que concebido
com portabilidade passível de aplicação em
qualquer edifício.
No caso do ASF, a ideia também é ir além
da produção de energia. Portanto, melhorar
o aquecimento natural a partir da entrada de
radiação solar, ou o resfriamento ao proteger
o ambiente do calor excessivo. “E, se nenhum
usuário estiver no ambiente que está atrás da
fachada, a ideia é que a partir da automação da
peça construtiva ela reconheça: “ninguém está
aqui” e otimize a orientação dos módulos solares
para seguir o movimento do sol, capturando a
maior quantidade de energia possível para
produção energética”. Se houver usuários no
ambiente, existem preocupações adicionais
como a liberação das vistas da janela, por
exemplo, ou entrada de luz natural. Para Walker,
do ponto de vista da estética, é questionável se
o resultado final do protótipo é o que deveria
ser. Mas, acrescenta, é muito positivo, com
aparência técnica em que nada está oculto.
Sob a ótica financeira, as decisões tomadas
Figura 16 - Biblioteca de materiais fotovoltaicos da ETHZ.
As amostras podem ser consultadas lado a lado aos livros
do acervo, catalogadas por tipo, empresa fabricante,
detalhes técnicos e exemplos de edifícios construídos
(SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
151
152 153
17A 18A

17B 18B

Figuras 17 - Exemplos de módulos fotovoltaicos leves Figuras 18 - Alunos podem testar o efeito visual de
e flexíveis, além de diferentes tecnologias e opções de diferentes substratos (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).
acabamento do substrato de vidro (SILVEIRA, F. (fotógrafa),
2019).

154 155
 visam otimização econômica. Por exemplo, a
movimentação das peças acontece por meio
das três câmaras de ar, muito mais baratas se
comparadas a soluções elétricas.
Sobre o que está acontecendo hoje em relação
ao ASF, os pesquisadores que a desenvolveram
não estão mais na ETHZ. “Agora precisamos
introduzir novos estudantes na pesquisa”. Todo
o processo de concepção, dados, simulações e
construção estão muito bem documentados,
como na tese de Jayathissa, e por isso é possível sua
continuidade. Mais ainda, “os módulos precisam
de maior estabilidade porque são muito leves e
o principal problema em fachadas são as cargas
impostas pela ação do vento. Da maneira que
estão, eventualmente, eles vão quebrar. Então,
a peça final terá rigidez adicional”. Também,
uma segunda frente de trabalho em Singapura
está estudando a automação do sistema, como
acontecerá o controle por parte do usuário. Para
resumir a visão: apertar um botão ou pedir para
a fachada abrir e ela, em resposta, abrirá.
Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo
de pesquisa são feitos pela combinação de
ferramentas que permitem o desenvolvimento
156
de projetos baseados em dados. No que diz
respeito a edifícios fotovoltaicos, um exemplo é
a ferramenta descrita no artigo “A novel design
framework for solar thermal/electrical activation
of building envelopes”, desenvolvido pela
pesquisadora Alice Chevrier, que hoje trabalha
na empresa Transsolar. Segundo Walker,
“este também foi um projeto desenvolvido no
Grasshopper, em que você pode escolher o
volume do edifício arquitetônico a ser aplicado,
eleger o módulo fotovoltaico, a tecnologia de
cobertura dos módulos (se serão transparentes,
semi-transparentes ou opacos), você também
escolhe a cor e o padrão de aplicação. Com isto
definido, você também precisa descrever os
sistemas operacionais do edifício (radiadores,
sistema de refrigeração, etc)”. Assim, o output
da ferramenta é uma estimativa aproximada
de como o edifício ficará com a aplicação da
tecnologia, considerando o aspecto visual e
também o desempenho energético. Claro, esta
ferramenta é destinada às primeiras fases de
projeto e decisão. Portanto, os dados precisarão
de maior detalhamento nas próximas fases
de aprofundamento, mas é um importante
157
 caminho para a tomada de decisão. Também fica
claro que este raciocínio é comparativo, já que os
números não são exatos e finais, mas simulação
simplificada em que você pode rodar e obter
resultados rápidos milhões de vezes se quiser,
com economia de tempo, gerando inúmeras
alternativas para comparar e decidir. Walker
exemplificou esse pensamento relacionado aos
custos da tecnologia fotovoltaica: “as pessoas
sempre me perguntam “quanto dinheiro eu vou
economizar?”, e eu sempre acho muito difícil
responder este número exato. Mas é bom ser
capaz de responder “comparado a este cenário,
você economizará 10%”, por exemplo”, pautado
em dados.
Referências
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Building Envelope. Disponível em: https://vimeo.
com/315951104. Acesso em 27 jan 2022.
ACHIMMENGES. HygroScope: Meteorosensitive
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net/?p=5083. Acesso em 27 jan 2022.
158
BLOCK RESEARCH GROUP. NEST HiLo Roof Prototype
Zurich. Disponível em: https://vimeo.com/234883130.
Acesso em 26 jan 2022.
BLOCK RESEARCH GROUP. KnitCandela: A Flexibly
Formed, Thin Concrete Shell at MUAC, Mexico City.
Disponível em: https://vimeo.com/297258002. Acesso em 27
jan 2022.
JAYATHISSA, P. Design and Assessment of Adaptive
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Ciências) – Setor de Arquitetura e Sistemas em Edifícios,
Eidgenössische Technische Hochschule Zürich, Zurique,
Suíça, 2017. https://doi.org/10.3929/ethz-b-000212017
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org/10.1016/j.conbuildmat.2017.12.134
159
máx mín
pv

luz do dia

vista

resfriamento
 01 - módulos fotovoltaicos leves, segunda
geração CIGS, dimensões 40cm x 40cm.
02 - acionador pneumático com três
câmaras de ar, movimento das peças deslocamento de
variam de 0 a 90° a partir da pressão do ar . profundidade
03 - tubos metálicos para passagem de
cabeamento e estruturação dos módulos
fotovoltaicos.
04 - escora plástica para fixação dos
módulos aos tubos metálicos estruturais.
05 - elemento de junção dos componentes, rotação distância
responsável por conexão à parte eletrônica vertical mínima
e válvulas do sistema.

01
03
02
deslocamento
de altura

rotação
horizontal 04

05

* a peça é fixada ao envelope de edifícios por

esquadria metálica, com distanciamento de 80cm
e dimensões 2,50 m x 4,02 m. Todo o cabeamento
é também integrado a estrutura da esquadria.

162 163
 Estudo de caso 01: Copenhagen International
School
A Copenhagen International School (figuras
19 e 20), estudo de caso 01, projetada pelo
escritório de arquitetura CF Møller Architects
e construída em Copenhagen, Dinamarca,
será descrita a seguir a partir de pesquisa
documental e entrevista. Encontramos os dados
no website Archdaily e também no website do
CF Møller Architects, ambos disponíveis online.
Enfatizamos que as informações narradas a
seguir, assim como os detalhes técnicos sobre
o sistema fotovoltaico, são possíveis graças ao
contato com o arquiteto Heiko Weissbach que
disponibilizou documentos após entrevista com
a autora Sofia Dias no dia 11 de novembro de
2019. Assim, ancoramos a pesquisa em dados
fornecidos pelo CF Møller Architects.
O projeto, com início em 2012 e construção
finalizada em 2017, cumpre o propósito de criar
um novo espaço para acomodar o número
crescente de alunos da escola. É exemplo
pioneiro na educação dinamarquesa desde os
anos 1960 e a mudança para Nordhavn, bairro de
166
Copenhagen, Dinamarca (55°41’32”N 12°33’53”E),
é também reflexo desse pioneirismo na
implantação da arquitetura (FILMPLUSDK, 2018).
A antiga área portuária industrial hoje abriga
edifícios como o Portland Towers projetado
pelo escritório de arquitetura Design Group
Architects (2013), Konditaget Lüders projetado
pelo JaJa architects (2016), UN City projetado pelo
3xNielsen (2013), The Silo projetado pelo Cobe
architects (2017), Nordhavn metro line extension
- Nordhavn Station e Orientkaj Station, também
desenvolvido pelo Cobe architects (2020), para
mencionar alguns exemplos que são símbolos
da expansão urbana e reestruturação da zona
portuária.
Voltando à escola, chamamos a atenção para
o fato de seguir convicções consistentes dos
pontos de vista social e energético. No âmbito
social, como torná-la símbolo para a comunidade,
mas também, como auxiliar o desenvolvimento
individual dos alunos em diferentes fases de
crescimento e particularidades. Neste sentido,
outro fator de grande importância é o acesso à luz
natural, estratégia para incentivar o aprendizado
principalmente nos períodos de inverno e
167
 temperaturas rígidas. Para Anders Smith
(FILMPLUSDK, 2018), membro do conselho da
escola, a luz influencia como você desempenha
certas tarefas e o projeto arquitetônico cria
suporte para melhorar o ambiente de ensino.
Assim, as salas de aula são arbitrariamente
localizadas nas esquinas dos volumes, para
receber luz natural de duas fachadas e aumentar
a incidência solar. No âmbito energético, 12.000
módulos fotovoltaicos foram integrados ao
envelope do edifício. Para Smith, aplicados por
questões estéticas e energéticas. Neste contexto,
destacamos que as temperaturas médias
em Copenhagen variam entre -2 °C a 21 °C e
raramente são inferiores a -8 °C ou superiores a
26 °C, o céu é parcialmente encoberto, o inverno é
longo, e sentido como muito frio sob ventos fortes
(WEATHER SPARK, s.d.). Como indica a figura
21, no solstício de inverno em dezembro, o dia
começará às 08h37min e terminará às 15h39min,
além de o sol encontrar-se em elevação igual a
10°, o que evidencia a baixa incidência solar desta
estação com maior demanda por aquecimento.
Mais ainda, a localização do edifício em zona
portuária potencializa os fortes ventos. Portanto,
168
a descrição de Anders Smith vai ao encontro
de como aproveitar, da maneira mais eficiente
possível, um recurso valioso, o sol, e assim luz
é uma das principais forças organizadoras da
arquitetura.
Com 26.000m² de área construída, é a maior
escola da cidade e abriga 1.200 estudantes e
280 funcionários. A área é distribuída em quatro
volumes, organizados por uma mesma base
de dois andares. Os volumes variam entre 5 a
7 andares, “cada um especialmente adaptado
para atender às necessidades das crianças em
diferentes estágios de desenvolvimento” (C.F.
MØLLER, 2017, tradução nossa). Tal organização
confere identidade e legibilidade ao espaço,
enquanto o embasamento articulador (térreo e
segundo pavimento) abriga atividades comuns
a todos os alunos: foyer, instalações esportivas,
refeitório, biblioteca, anfiteatro e salas de ensaio.
Assim, as salas de aula, localizadas nas torres,
podem ser fechadas nos contraturnos, enquanto
o embasamento serve de apoio à comunidade.
O pátio externo também foi projetado com tal
intuito: a topografia criada é parte do processo
de revitalização do bairro Nordhavn para
169
 Figura 19 - Copenhagen International School, revestida
com 12.000 módulos (WIKIMEDIA COMMONS, 2017).

Figura 20 - Salas de aula localizadas nas esquinas dos Figura 21 - Diagrama do caminho do sol em Copenhagen
volumes das torres, para maior incidência solar e estímulo (GAISMA, 2022).
à realização de tarefas (WIKIMEDIA COMMONS, 2019).

170 171
 desfrute da população. Continua também nos
terraços elevados e cobertura do edifício, mas
nesta oportunidade com caráter privado para
uso e segurança dos alunos.
Os módulos fotovoltaicos na Copenhagen
International School ocupam 6048m² de
superfície das fachadas e fornecem cerca de
metade do consumo anual energético da
escola (40-50%), com produção estimada em
300 MWh/ano (C.F. MØLLER, 2017). É o maior
exemplar de construção BIPV, em português
edifício fotovoltaico, na Dinamarca e, segundo
o Building Integrated Photovoltaics: Product
overview for solar building skins Status Report
2017 (SUPSI-SEAC, 2017), pode ser classificado
como uma integração rain-screen façade (cold
façade) - fachada “fria”: os módulos fotovoltaicos
funcionam como revestimento da fachada da
edificação, com passagem de ar entre substratos
para dissipação do calor gerado pela termalização
e incidência solar, motivo da denominação
“fria”. A termalização, citada na primeira parte
deste livro, é o “resíduo” da interação entre
fóton e matéria, ou seja, calor. Assim, o material
construtivo é integrado de forma similar a
172
outros revestimentos, normalmente por meio
de trilhos metálicos e detalhes técnicos que se
assemelham às fachadas ventiladas.
Ao dissolver o que seria apenas uma torre em
quatro, o acesso a horas diárias de luz natural
é garantido nos ambientes criados a partir do
nível do embasamento, diferente do que seria
um paralelepípedo de grandes dimensões,
profundo e hermético. As quatro torres têm seus
interstícios, a assimetria entre volumes, além dos
rasgos abertos no envelope do edifício, também
esculpidos pela incidência solar, somada à gama
de variáveis: maior perímetro disponível para
aberturas e ventilação, estratégias bioclimáticas,
idade dos alunos, fases de aprendizagem,
identidade e legibilidade e terraços para
brincar. Pois bem, similarmente às simulações
disponíveis em Porocity (MAAS, 2019), descritas
na primeira parte do livro, a porosidade é
consequência dessa miscelânea que vai além da
produção energética e resulta na quantidade de
superfície disponível para a inserção de módulos
fotovoltaicos, ou seja, área de fachada. Aqui a
geração de energia não acontece numa peça
portátil como no estudo de caso zero, mas fruto
173
 das decisões arquitetônicas, portanto o sucesso
está no balanço das questões a se responder em
termos volumétricos de maior escala - todo um
edifício e não um espaço em particular.
Também difere da prática comum mencionada
por Zomer et al. (2013) e Scognamiglio (2016):
restringir sistemas à latitude do local e
orientação norte-sul, dependendo do hemisfério.
No entanto, no estudo de caso, os módulos
fotovoltaicos assumem a materialização do
desenho da escola, com pequenas variações
angulares de 4° em relação à verticalidade dos
demais substratos - diferente dos 55°41’32”N
de Copenhagen. As peças estão posicionadas
em todos os sentidos de inclinação que, para o
C.F. MØLLER (2017), cria um “sequin-like effect”
- efeito texturizado de lantejoulas, “sequin” em
inglês. Todos os módulos têm a mesma cor azul,
mas a variação nos sentidos de inclinação confere
diferentes tonalidades à composição. Além disso,
estão instalados a partir do embasamento do
edifício, nas quatro torres, desenvolvidas com 7,2
m entre colunas (C.F. MØLLER, 2017). A fachada
ativa produtora de energia está integrada
inclusive à face norte, o que também difere da
174
prática ordinária mencionada por Zomer et al.
(2013) e Scognamiglio (2016).
O acabamento opaco e a orientação dos
módulos afastam-se do arquétipo de peças
ofuscantes, com células e ligações metálicas
aparentes, além do azul característico. Porém,
são basicamente “preparados da mesma
maneira que outro módulo monocristalino,
apenas as dimensões, tipo de vidro frontal
e sistema de armação, moldura metálica,
foram desenvolvidos especialmente para o
projeto” (C.F. MØLLER, 2017). As soluções foram
aprimoradas pela empresa Swissinso e Solvis,
para a produção dos módulos denominados
Kromatix, enquanto o C.F. MØLLER junto à
Solar Lab trabalharam no detalhamento do
sistema de integração à fachada (SWISSINSO,
s.d.). O material construtivo, módulo fotovoltaico,
consiste em várias camadas unidas no processo
de laminação: vidro, filme de EVA (Ethylene Vinyl
Acetate) para encapsulamento e proteção contra
a água e sujeira, célula solar monocristalina, filme
de EVA para encapsulamento, fundo protetor
(normalmente polímero ou composição de
polímeros) e moldura metálica de alumínio. Em
175
 montantes é fixada a caixa metálica de alumínio
com a leve inclinação mencionada em relação
ao substrato da fachada que está verticalmente
posicionado e que permite a variação aleatória
dos tons de azul. Também, a estrutura contém
trilhos metálicos para a fixação do módulo
fotovoltaico.
Na sua maioria, os módulos contêm 16 células,
de dimensões 72 cm x 74 cm, conectadas com fio
de cobre estanhado, e os de menores dimensões
contêm apenas 12 ou 8 células. Os módulos estão
interligados eletricamente em séries de oito e
cada string - como chamamos um “x” número
de módulos solares conectados em série - é
acoplado a um inversor de frequência para a
conversão de corrente elétrica contínua para
corrente alternada de 230 Volts. Essas máquinas
estão armazenadas acima do forro de teto dos
ambientes no edifício (C.F. MØLLER, 2017). Além
disso, os fios elétricos que unem a primeira à
última célula, saindo pela face posterior e central
de cada módulo, são conectados aos junction
box - caixa de passagem, transportando a
eletricidade gerada por cada peça à ligação
em série entre módulos, além de proteger os
176
fios da água e corrosão. Tais agrupamentos
em séries de oito estão munidos de diodo de
bypass, servindo como um caminho alternativo
para a corrente quando um módulo estiver
parcialmente sombreado, por exemplo, o que
limita a dissipação de calor e perda de eficiência.
Também evidenciamos que o contexto de
implantação é banhado pelas águas do estreito
de Øresund, que separa os países Dinamarca e
Suécia. Essa característica garante que a escola
não sofra com o efeito do sombreamento
por outros edifícios - o risco está apenas no
sombreamento entre torres da escola.
O acabamento opaco e azul, tipo Kromatix™
blue-green solar glass, é conferido ao substrato
de vidro por meio de tratamentos de superfície
de “nanotecnologia otimizados para energia
solar (fotovoltaica e térmica). Isso significa que o
produto não tem tinta ou matiz, mas deposição
atômica transformando o vidro translúcido
em cor” (SWISSINSO, s.d., tradução nossa). O
resultado é obtido por meio de alterações da
superfície: na superfície interna do vidro por
meio de plasma de baixa pressão e, na externa, a
partir de tratamento para potencializar a reflexão
177
 difusa da luz. Portanto, evita o ofuscamento
e brilho, além de ocultar as células e ligações
elétricas dentro do módulo (SWISSINSO, s.d.).
No entanto, aplicar camada acima da célula
solar é uma escolha que exige balanço quanto
à reflectância dos substratos. Já que, quanto
mais alta a reflectância, menor a transmitância
e absorção dos raios solares que alcançam a
célula, consequentemente, produzindo menor
quantidade de energia. Dependendo da cor, o
fator de transmitância do substrato Kromatix
varia entre 85-90%. No caso do azul, é igual a
88% (SWISSINSO, s.d.). Portanto, fica claro que
o esforço para esconder a célula fotovoltaica
induzirá perdas adicionais de eficiência que
variam entre 8-30%, dependendo da cor e padrão
(WALKER, s.d.).
Haveria uma outra materialização caso o
projeto fosse guiado apenas pela produção
energética e maiores resultados em densidade
de potência (kWp/m²), prática comum
em sistemas fotovoltaicos que, segundo
Scognamiglio (2016), levam a soluções standard.
Provavelmente resultaria em terraços cobertos
por módulos, sem espaço livre para brincar,
178
ou na maior área de fachada possível para
a inserção da tecnologia na face sul, com
o mínimo de subtrações (janelas). Opostas
a esse raciocínio, as decisões projetuais no
Copenhagen International School concatenam
produção de energia à gênese arquitetônica,
sinal de abandono da característica de design
auto-referenciado e sustentado apenas pela
produção energética. Ainda sim, o cômputo é de
300 MWh/ano, equivalente ao consumo anual de
aproximadamente 70 casas com média de três
habitantes por unidade habitacional, gerando
cerca de 40-50% do consumo energético da
escola (C.F. MØLLER, 2017). A fachada sul do
edifício produz 68 kWh/ano a cada 1.000m² de
superfície, enquanto a norte 25 kWh/ano a cada
1.000m².
Segundo o relatório disponibilizado por
Weissbach, de abril a maio de 2017, primeiros
meses de funcionamento, o total de energia
consumido pela escola foi igual a 167.000 kWh,
dos quais 57.000 kWh foram produzidos pelos
módulos fotovoltaicos. Os elementos estruturais
da fachada para inserção da tecnologia foram
construídos entre junho e novembro de 2015,
179
 6 meses até a conclusão. A inserção de todas 22A

as peças fotovoltaicas aconteceu entre maio

e outubro de 2016, também 6 meses até a
conclusão. A conexão dos módulos solares
aos inversores foi feita no último mês antes da
abertura oficial da escola: 8 de janeiro de 2017.
Todos os dados sobre a produção de energia
do edifício, similar à biblioteca da ETHZ, estão
disponíveis aos alunos da escola para análise
durante as aulas de física e matemática (C.F.
MØLLER, 2017).

A entrevista (figura 22) com Heiko Weissbach

aconteceu no dia 11 de novembro, das 9 às
22B
11h30min, em Berlim, Alemanha, no escritório
do C.F. Møller Architects, dois dias após o
aniversário de 30 anos da queda do muro de
Berlim. O escritório localiza-se próximo ao
Jüdisches Museum Berlin projetado pelo Studio
Libeskind, no bairro Kreuzberg. Weissbach é
arquiteto formado na Royal Academy of Fine
Arts in Copenhagen e, também, na Aarhus
School of Architecture. Hoje é responsável
por supervisionar uma equipe de arquitetos e
designers no estúdio dinamarquês CF Møller

Figuras 22 - Entrevista com o arquiteto Heiko Weissbach

no escritório de arquitetura CF Møller Architects Berlin
(DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

180 181
 Architects Berlin, que está em processo de
formação na cidade. Ele atua como o principal
ponto de contato entre clientes, parceiros
de planejamento local e outros escritórios
internacionais da empresa. Fundada em 1924,
hoje o C.F. Møller Architects tem 310 funcionários,
com sede em Aarhus, Dinamarca, e filiais em
Copenhagen, Aalborg, Oslo, Stockholm, Malmö,
Berlim e Londres. Weissbach respondeu sobre o
contexto de implantação da escola Copenhagen
International School e quais outras estratégias
de design estão conectadas à integração
fotovoltaica.
O projeto está construído em uma área de
revitalização urbana. “As estações de metrô
nesta região foram abertas há algumas
semanas, portanto não é mais um bairro isolado.
Tais estações estão a apenas alguns passos da
escola”. Toda a área do Nordhavn foi e será ainda
mais revitalizada, processo em andamento a
partir de um concurso lançado há 10 anos. O
plano diretor da área foi desenhado nesta época
e aos poucos os edifícios e remodelações foram
surgindo. Porém, segundo Weissbach, o processo
foi mais lento do que o esperado por conta da
182
crise financeira, além da complexidade de se
construir uma linha de metrô em Copenhagen.
Ultrapassadas as dificuldades, com a construção
da escola, além de apartamentos residenciais e
edifícios de escritórios, muito bem localizados já
que a apenas algumas estações de metrô você já
estará no centro da cidade, segundo Weissbach,
os investidores “já estão falando sobre uma
extensão da escola, porque é muito popular”.
Mais ainda, Copenhagen é uma cidade muito
internacional, portanto, espera-se criar mais
espaço para crianças de famílias estrangeiras
ou dinamarquesas que desejam que seus
filhos frequentem uma escola internacional.
Weissbach afirma que parte dessa imagem
positiva da escola advém, claro, do currículo e
da maneira com que os professores tratam as
crianças, mas também da materialização da
arquitetura, completamente penetrada pela luz
natural e relacionada com a produção de energia.
A luz natural e sua relação com a aprendizagem
é um tópico muito importante na Dinamarca e,
em comparação com a Alemanha, Weissbach
diz que está dez ou quinze anos à frente. “Na
Alemanha ainda temos um professor que fica
183
 na frente dos alunos e diz o que devem fazer,
enquanto na Dinamarca, explicando de maneira
simplificada, coloca-se um problema na mesa e
incentiva-se os alunos a discutirem e refletirem
sobre o problema”. E o fazem sentados em cima
da mesa, ou no sofá, ou nas estufas da cobertura.
A exemplo da escola desenvolvida por Henning
Larsen, importante arquiteto dinamarquês,
em que entre 15 a 20% do tempo das crianças
na escola, estão sentadas em grupo escutando
talvez o professor ou outro colega para aprender
ou desenvolver representações em desenhos.
Logo, as questões pedagógicas também são
parte das soluções arquitetônicas.
Para Weissbach, esse é um efeito muito
positivo, não apenas porque cria-se espaços
valorosos, com ambientes adaptados ao contexto
e necessidade, mas também é suporte para
crianças em diferentes etapas de aprendizagem
e com bagagens históricas totalmente diferentes.
“Acredito que este seja o ponto mais interessante
sobre a Copenhagen International School: abriga,
por exemplo, a segunda geração de imigrantes e
refugiados vivendo na Dinamarca, mas também
a segunda geração de famílias americanas que
184
vieram trabalhar na cidade, diplomatas, ou o que
for, então você não tem apenas diferenças de
renda, mas principalmente grandes diferenças
culturais. E todos compartilham desse bonito
edifício”.
Outro efeito positivo, causado pela integração
dos módulos fotovoltaicos, é que o edifício
provoca curiosidade e estímulo. Muitas pessoas
desejam tocar no material, já que é algo
desconhecido e não acreditam ser um módulo
fotovoltaico. “Talvez seja o motivo de as peças
não estarem integradas ao nível térreo, já que
tanto crianças quanto adultos querem sentir sua
materialidade!”.
Determinado o contexto do projeto, inclusive
sob o ponto de vista social, partimos para
as perguntas sobre as variáveis de design
sincrônicas à produção de energia elétrica, além
de dados sobre o desenvolvimento do projeto.
Seguindo no tema da materialidade da fachada,
agora em termos de design, para Weissbach
este foi um dos grandes desafios do projeto.
O efeito, digamos, aleatório na inclinação e
posicionamento das peças na superfície é difícil
de projetar, já que temos a tendência de repetir
185
 soluções “racionalizadas”. Ou seja, contar um, dois,
três, quatro, e repetir a mesma peça no próximo
buraco vazio. “Então, no C.F. Møller Architects,
alguém muito talentoso em programação
desenhou um programa paramétrico para
organizar e otimizar o posicionamento dos
módulos fotovoltaicos na fachada”. A maioria dos
escritórios de arquitetura dinamarqueses usam
softwares BIM para a concepção de projetos, mas
a solução paramétrica é a maneira de alcançar
a aleatoriedade precisa. Também, a maneira de
interpretar a fachada, como em toda a Europa, é
entendê-la composta por três layers: face interna,
isolamento e revestimento exterior, falando de
maneira grosseira. Mas, para Weissbach este
pensamento pode ser extrapolado para toda
a organização do edifício: funções públicas no
nível térreo, usos didáticos nas torres acima do
embasamento e estufas de vidro localizadas na
cobertura do edifício, em terraços privados e
destinados aos alunos. A sobreposição de ambos
os conceitos determina onde estará o sistema
fotovoltaico.
Com isso considerado, conversamos
sobre outros edifícios fotovoltaicos em
186
desenvolvimento pelo CF Møller Architects.
Weissbach argumentou que as duas primeiras
gerações de edifícios chamados sustentáveis
tinham muitas tecnologias integradas de
difícil entendimento para as pessoas que
neles moravam ou trabalhavam, fato já
esperado na evolução humana em relação
ao amadurecimento de novas tecnologias.
“Por exemplo, uma vez visitei uma das torres
projetadas por Renzo Piano11 na Potsdamer
Platz e dentro do prédio, ao lado dos escritórios,
você tem um grande painel com muitos
botões para apertar, termômetros para medir
a temperatura, etc, e todos recebem um livro
para saber como usar seu escritório, como não
abrir a janela, como ajustar a temperatura. E
basicamente todo mundo que usa o edifício
está fazendo errado. Quero dizer, a tecnologia
é difícil de entender e não tiramos tempo para
aprendê-la”. Como contraposição, o CF Møller
Architects posiciona-se de maneira diferente.
Levando estes conceitos já para as fases de
briefing e primeiras concepções da forma,
facilita-se o uso do edifício pelos usuários.
11 Arquiteto italiano laureado com o prêmio Pritzker em 1998.
Junto com Richard Rogers, fundou em 1971 o escritório Piano
& Rogers, responsável pelo projeto do Centre Pompidou em
Paris. Nos anos 90, já no Renzo Piano Building Workshop,
desenvolveu o plano urbanístico e edifícios de Potsdamer
Platz, Berlim. 187
 Neste sentido, o escritório de arquitetura
venceu recentemente um concurso em Zurique,
o edifício Bellerivestrasse 36, retrofit de uma
construção de 1974, com estrutura de concreto
e com muitos muros e reentrâncias perimetrais.
Está localizado em área bastante privilegiada,
a 2 km da estação central e o proprietário
desejava reformar o prédio para alugar. Por
isso, convidaram cinco escritórios de Zurique
e o CF Møller Architects de Copenhagen para
desenvolver propostas para um concurso. “Nossa
estratégia foi tirar a balaustrada existente e
colocar superfície de vidro do chão ao teto, além
de usar a altura da laje para introduzir módulos
fotovoltaicos com o ângulo perfeito para a
incidência de radiação solar na Suíça. Ao fazer
isso em todo o perímetro do edifício e em todos
os andares, podemos produzir toda a eletricidade
necessária para sua demanda energética”. O
projeto consiste, basicamente, em reorganizar o
espaço e preenchê-lo com escritórios, banheiros
e serviços para alugar. Ademais, aproveitar
a altura da laje para criar uma estrutura de
aproximadamente 1,20 m para fixar módulos
fotovoltaicos no topo. “Também, escolhemos
188
módulos fotovoltaicos com o substrato de
vidro pintado em branco... Então, durante a
apresentação do projeto em Zurique, o cliente
perguntou: Com licença, talvez esta pergunta
seja um pouco antiquada, mas os módulos
fotovoltaicos não são azul-escuro? E eles não
precisam estar no telhado? Nossa resposta foi:
Sim, isso foi há 10 anos. Agora também podemos
usar módulos fotovoltaicos nas fachadas, com
uma estética totalmente diferente”.
Neste sentido, na Alemanha e no norte da
Europa, a estratégia nas últimas décadas foi,
principalmente, evitar o consumo de energia.
“Apenas nos últimos anos consideramos a
possibilidade de arquitetura produzir também
energia elétrica, resultando em edifícios com
consumo de “energia zero”, autossuficientes.
Portanto, no meu ponto de vista, produzir
energia a partir de sistemas fotovoltaicos é um
complemento às estratégias de comportamento
dos usuários, escolha de materiais e estratégias
passivas, para evitar o consumo de energia
antes e produzi-la depois, já com uma demanda
de consumo mais baixa”. Para Weissbach,
isso deveria estar presente desde o primeiro
189
 pensamento arquitetônico. Ele fez uma analogia
com o ato de rolar uma pedra sobre a colina: se
você não mantém as ideias desde o princípio,
fica muito difícil voltar atrás depois que certas
decisões são tomadas. É como parar de empurrar
a pedra sem antes chegar ao topo da colina. De
forma que torna-se impossível abandonar as
decisões no meio do caminho, porque a partir
deste momento as ideias arquitetônicas tornam-
se inválidas.
Mais ainda, para Weissbach, outra importante
estratégia para ser desenvolvida paralelamente
à produção de energia elétrica é o conceito de
grey energy. O que isto significa: considerar
no processo de projeto a energia embutida
em todos os tipos de materiais . “Tentamos,
pelo menos na Dinamarca, propor projetos
com concreto reciclado, por exemplo. Pegar o
concreto de demolições, esmagá-lo, separar
o ferro desta mistura e você poderá reciclar
o material em aproximadamente 50%. Tijolo,
claro, também é outro material muito bom para
reciclar”. Henning Larsen fez uma escola com
concreto reciclado. Outro importante escritório
de arquitetura dinamarquês é o 3xn, e eles
190
também desenvolvem projetos tidos como
sustentáveis neste sentido.
Claro, depois do tema grey energy, é
importante também pensar sobre regeneração
dos materiais, e o material número um é a
madeira. O C.F. Møller Architects desenvolveu a
maior estrutura de madeira na Suécia: o edifício
de apartamentos residenciais Kajstaden de oito
andares. Construído 100% de madeira, até o
elevador é feito de madeira laminada cruzada.
“Este projeto foi desenvolvido por nossos colegas
suecos na sede de Estocolmo, e Ola Jonsson,
arquiteto responsável, está dando várias
palestras sobre”. Neste sentido, um escritório
relevante para a discussão de uma arquitetura
em que produção de energia, ou redução do
consumo, estratégias passivas e ciclo de vida
de materiais contribuem para a gênese, é o
Transsolar liderado por Thomas Auer e Stefan
Holst. Weissbach afirma que esse escritório
colabora com arquitetos em todo o mundo e são,
digamos, a vanguarda da arquitetura sustentável.
“Nós do C.F. Møller Architects trabalhamos com
o Transsolar em um projeto para um concurso…
e trabalhamos porque em sua consultoria, já no
191
 briefing, lançaram possibilidades de consumo
zero de energia atrelado às oportunidades
para desenvolvimento da arquitetura”. A partir
da parceria, elegeram conceitos low-tech
e propuseram um edifício de oito andares
feito em estrutura de madeira para o prédio
administrativo do The German Ministry for the
Environment - BMU (Ministério Alemão do Meio
Ambiente), objeto do concurso. Logo, eletricidade,
aquecimento, resfriamento, vaporizar água no
verão para esfriar a temperatura em torno de 3°C,
fato agora provado cientificamente por Thomas
Auer, são informações muito importantes para
gerar boa arquitetura segundo Weissbach. Auer
dirige seu próprio departamento de pesquisa
na Universidade de Munique, em paralelo à
aplicação no mundo real por parte da Transsolar.
Após a entrevista, em troca de emails no
dia 16 de janeiro de 2020, Heiko Weissbach
escreveu: “vencemos o maior concurso público
de arquitetura para a extensão do Ministério
Alemão do Meio Ambiente em Berlim na semana
passada, projeto comentado na entrevista. Se
tudo der certo, planejaremos uma estrutura
de madeira de oito andares e usaremos os
192
mesmos módulos fotovoltaicos da Copenhagen
International School nas fachadas de um dos
edifícios do novo projeto!” Sobre o mercado solar
na Alemanha, paralelamente ao contexto suíço
citado anteriormente e aos avanços de edifícios
fotovoltaicos como no concurso mencionado por
Weissbach, é importante chamarmos atenção
para a retração dos últimos anos. E aqui vale uma
breve digressão. Na entrevista da autora Sofia
Dias com Alexander Koller e Gunter Grandjean,
responsáveis pela empresa alemã Click Con que
desenvolve soluções de montantes metálicos e
integração fotovoltaica em estruturas, Koller e
Grandjean afirmaram que o mercado se retraiu
em 75%. Em 2012, comportava 120.000 empregos,
dos quais em 2019 apenas 30.000 restaram. O
jornal brasileiro O Estado de S. Paulo, comentou
o ocorrido na reportagem “Alemanha: o país
em que a energia solar vingou até demais”,
em 29 de setembro de 2014. Segundo Costa,
o país tornara-se o quarto maior mercado do
mundo na tecnologia, mas precisou reformular
as políticas de subsídios já que, desde 2000, “o
cidadão que instalasse painéis solares em casa
tinha a garantia de vender a energia gerada ao
193
 sistema por um preço mais alto que a média do
mercado” (COSTA, 2014) e, junto ao barateamento
dos módulos, resultou em uma explosão no
mercado solar entre 2010 e 2012. Contudo, o
sistema se sobrecarregou, já que os preços altos
subsidiados eram rateados pelos consumidores
de energia elétrica, o que se tornou muito caro,
provocando um desequilíbrio financeiro. Neste
sentido, imagine menos pessoas com um peso
maior para carregar - usuários sem sistemas
fotovoltaicos, comprando energia elétrica por
preços mais caros.
Com uma política agressiva de incentivo às
energias renováveis, a meta alemã é alcançar
80% da matriz até 2050, diante dos 40% de hoje.
Desde o início de seus esforços, a contribuição
de fontes renováveis aumentou muitíssimo no
abastecimento energético do país, mas ainda tem
deficiências no que diz respeito à demanda de
aquecimento e transporte. É incontestável que,
a exemplo do acidente nuclear em Fukushima,
a Alemanha impulsionou medidas para o
abandono de fontes nucleares que foram bem
sucedidas, no entanto os meios para chegar lá
são discutíveis e passam por revisão - a exemplo
194
de projetos como a planta solar em Lieberose,
nos arredores de Berlim, operada pelo Juwi
Group com 70,8 megawatt (MW) de potência,
930.000 módulos fotovoltaicos instalados em
2011 (JUWI, s.d.), além da necessária reforma
da legislação (Erneuerbare-Energien-Gesetz -
EEG)12 em 2016. Portanto, em termos espaciais,
a planta solar tem grande impacto ambiental e,
em termos financeiros, a reformulação do EEG
provocou impacto no mercado solar - que sofre
para manter competitividade.
Uma das possíveis soluções: edifícios
fotovoltaicos, a exemplo do Ministério Alemão
do Meio Ambiente mencionado por Weissbach,
por exemplo. Para se manterem no mercado,
segundo Koller e Grandjean, em entrevista, a
empresa Click Con também aposta em edifícios
fotovoltaicos e integração de sistemas em
estacionamentos ou rodovias. Como o túnel de
4 km que será desenvolvido para uma rodovia
de Lyon, França, produzindo energia elétrica
em área ociosa, além de proteger o concreto da
estrada contra a neve, calor excessivo e chuva
(CLICKCON, s.d.). A cobertura do café Joris
(figura 23) em Freiburg, Alemanha, também
12 Mudanças no que diz respeito aos valores de venda da
energia elétrica. As empresas deverão competir em concurso
público e a oferta mais barata leva o contrato. Se você produz
mais de 10KWp no ano a partir de módulos fotovoltaicos,
precisará pagar impostos (3,2€ centavos por kW/h).
195
 foi desenvolvida pela empresa, além de pontos
de carregamento de carros elétricos para os
clientes. Neste sentido, a solução da Click Con
se dá a partir do encaixe de peças metálicas,
sem uso de borrachas (por isto o termo “click”,
analogia ao sistema de encaixe), uma maneira
de reduzir custos por meio de peças standard e
manter-se competitivo (figura 24). Assim, no caso
de um telhado fotovoltaico, por exemplo, trilhos
metálicos são parafusados às terças de madeira e
os encaixes são feitos a partir dessa subestrutura:
vigas principais metálicas perpendiculares às
terças de madeira, vigas secundárias metálicas
paralelas às terças de madeira, encaixe dos
módulos de moldura metálica entre as vigas
secundárias, fixação da calha metálica e
travamento contra os fortes ventos. Todas as
peças são encontradas no mercado tradicional:
perfil metálico segue medidas padrão, módulos
fotovoltaicos também, além de as peças de
fixação da calha e travamento serem soluções
simples e peças de design já conhecido: a
primeira é comumente utilizada para fechar
potes de geléia (figura 25) e a segunda para
fixar lonas em caminhões. Assim, os preços são
mantidos baixos, em soluções modulares.
196
Entretanto, em composições volumétricas
complexas, de materialidade que difere da
estética vítrea de contumaz azul reflexivo
e acabamento metálico, produtos como o
utilizado no Copenhagen International School
entram em cena. Neste sentido, empresas como
a suíça Megasol fornecem soluções específicas
para a integração em edifícios fotovoltaicos,
revelando maior ênfase do mercado suíço para
a disponibilidade de produtos com diferentes
cores e acabamentos. Assim, a Megasol produz
para os clientes uma cartela de cores que varia no
grau de intensidade da pigmentação (figura 26).
Em entrevista e visita técnica com a autora Sofia
Dias, o representante da empresa Fabio Padula
afirma que quanto mais intensa e opaca a cor
for, a perda de conversão elétrica dos módulos
será entre 15 e 20%, enquanto pigmentações
menos intensas, variam no percentual de 5%
de perda. Na fábrica, localizada em Deitingen,
Suíça, as células solares importadas de países
asiáticos - segundo Padula, sendo desses países
as cinco grandes empresas dominantes de todo
o mercado - são montadas em módulos das mais
variadas cores e aspectos. O processo consiste em
197
 23A 23B

23C

Figuras 23 - Cobertura fotovoltaica do café Joris em

Freiburg, Alemanha (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

198 199
24A 24C

24B 24D

Figuras 24 - Solução da empresa Click Con por meio do

encaixe de peças metálicas, sem uso de borrachas (DIAS,
S. (fotógrafa), 2019).

200 201
25A braços robóticos pneumáticos que levam uma
folha de vidro até a esteira, o transporte deste
até a próxima etapa sem nenhuma interação
humana, nivelação e posicionamento do vidro
para a próxima etapa, adição da primeira camada
do módulo: filme de EVA (Ethylene Vinyl Acetate)
para encapsulamento transparente, branco ou
preto, posicionamento dos conectores, primeira
checagem de funcionamento das células de
silício que serão inseridas (laser), posicionamento
das células de silício, posicionamento dos
conectores transversais, inserção da segunda
camada de filme de EVA, inserção da segunda
25B camada de vidro, encaminhamento para o
processo de laminagem em que as películas de
encapsulante serão derretidas e todas as bolhas
de ar retiradas (será a cola do conjunto), conexão
das junction box - caixa de passagem - com
silicone (nesta fase haverá interação humana),
segunda checagem de funcionamento (potência
elétrica), e enfim acabamento (limpeza,
além da inspeção global, feita inteiramente
por humanos). Os tamanhos dos módulos
podem alcançar até 2 m x 4 m, com vidros de

Figuras 25 - Peça metálica utilizada para fechar potes de

geléia e também para fixar a calha metálica de telhados
fotovoltaicos no sistema Click Con (DIAS, S. (fotógrafa),
2019).

202 203
26A 26B

Figuras 26 - Cartela de cores que varia no grau de Figura 27 - Solução produzida pela empresa Megasol:
intensidade da pigmentação do módulo fotovoltaico células fotovoltaicas localizadas na zona neutra, evitando
(DIAS, S. (fotógrafa), 2019). microfissuras (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

204 205
 espessura entre 6 mm e 24 mm. Esmiuçando
o processo, é importante ressaltarmos que,
diferente da Alemanha, na Suíça a legislação
obriga os fabricantes a produzirem módulos
feitos de dupla camada de vidro, evitando
assim microfissuras nas células de silício devido
à deformação da peça, e conferindo maior
estabilidade mecânica, melhor encapsulamento
e impermeabilidade contra vapor, menor
degradação, com ciclo de vida que perpassa 50
anos. Segundo a Megasol, “entre os substratos de
vidro está a “zona neutra”, em que as células são
armazenadas com cuidado (sem compressão
ou alongamento), o que reduz a formação das
chamadas microfissuras” (figura 27). Contudo,
nas fábricas da Megasol que estão fora da Suíça,
os módulos com backsheet (material plástico
branco que vai na parte de trás do módulo
fotovoltaico) são produzidos, reduzindo assim
os custos. A empresa forneceu seus produtos
para projetos como o Centro Cultural Fundação
Stavros Niarchos, projetado pelo Renzo Piano
Building Workshop e construído em 2016, edifício
fotovoltaico conformado por cobertura feita
em módulos com inclinação de 3°. O lema da
206
Megasol, assim como os tijolos de barro cozido, é
“we cook panels!” - nós cozinhamos painéis!
Assim, é possível intuir que no mercado solar
alemão comumente encontramos materialidade
vítrea e de acabamento brilhante, tornando a
viabilidade econômica possível, enquanto na
Suíça a variedade de cores, acabamento opaco
e texturas estão mais disseminados - fato que
se mostra, também, nos estudos de caso. No
mercado suíço, a legislação determina que
os módulos devam ser vendidos com dupla
camada de vidro, o que facilita a integração
arquitetônica. Em contrapartida, no mercado
alemão, tais características não estão tão
presentes - ainda que centros de pesquisa como
o Instituto Fraunhofer apresentem pesquisas
neste sentido, com exemplares de módulos de
diferentes colorações e acabamentos. Portanto,
o concurso mencionado por Weissbach indica
uma mudança de paradigma e também
revela ineficiências existentes. Como no
edifício Bellerivestrasse 36 e na Copenhagen
International School, o Ministério Alemão do
Meio Ambiente usará produtos suíços.
207
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209
 319.501
solcelle

319.502
solcelle

319.503
solcelle

319.504
solcelle

319.505
solcelle

319.506
solcelle

319.507
solcelle

319.508
solcelle 0 1 2 4 8m
208 208 209 209
 210 211
0 1 2 4 8m
210 211
0 1 2 3m
11 01 - módulo fotovoltaico
monocristalino, dimensões 72cm x
10 74cm, acabamento opaco.
02 - montante metálico parafusado,
09 para fixação da estrutura em alumínio
que sustenta o módulo fotovolaico.
07
03 - painel termo isolante autoportante
06 eps (poliestireno expandido).
04 - placa de gesso.
05 - cortina tipo rolô, com tela solar
blackout.
06 - esquadria de alumínio.
01
07 - janela com sistema de vidro triplo
02 de baixa emissividade (low-e).
08 - forro com isolamento
03 termo acústico.
09 - piso maciço de carvalho 15mm.
10 - contrapiso com camada de
isolamento termo acústico.
04 11 - laje em concreto.

05

02

06

07

08

0 10 20 40cm
 WEATHER SPARK. Condições Meteorológicas Médias
em Copenhagen. Disponível em: https://pt.weatherspark.
c o m / y / 74 0 0 1 / C l i m a - c a r a c t e r % C 3 % A D s t i c o - e m -
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Aesthetics and Performance in Building-Integrated Photo-
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Conference and Exhibition - 28th EU PVSEC, 28, 2013, Paris.
218
Estudo de caso 02: New-Blauhaus
O edifício New-Blauhaus (figura 28), estudo
de caso 02, foi projetado pelo escritório de
arquitetura Kadawittfeldarchitektur e construído
em 2015 na cidade Mönchengladbach
(51°10’43”N 6°26’31”E), Alemanha. Encontramos
os dados nas descrições redigidas pelo
Kadawittfeldarchitektur, no relatório técnico
do escritório de engenharia Ingenieurbüro P.
Jung e nos dados compartilhados por Kilian
Kada, sócio do Kadawittfeldarchitektur, após
entrevista com a autora Sofia Dias no dia 12 de
novembro de 2019, das 11 às 13 horas, em Aachen,
Alemanha. Mais ainda, também referenciamos
Udo Carmann e Martin Rösler, que no dia 13 de
novembro de 2019, das 12 às 15 horas, guiaram
a visita técnica ao edifício New-Blauhaus (figura
29). O arquiteto e o engenheiro fazem parte da
empresa NEW-Energie.
A cidade com 264.335 habitantes e densidade
de 1.552 hab. /km² localiza-se quase na fronteira
com a Holanda. A média de temperatura
varia de 3 °C em janeiro a 19 °C em julho, com
precipitação igual a 800 milímetros/ano,
219
 Figura 28 - Entrada do edifício New-Blauhaus e acesso ao
campus (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).

Figura 29 - Visita técnica ao edifício New-Blauhaus (DIAS, Figura 30 - Diagrama do caminho do sol em
S. (fotógrafa), 2019). Mönchengladbach (GAISMA, 2022).

220 221
31A

31B

Figuras 31 - Relação entre topografia existente e fachada
fotovoltaica (face oeste). A partir do solo, as duas primeiras
fileiras são feitas de peças cegas não produtoras de energia.
A partir deste ponto, todas as outras peças são módulos
fotovoltaicos (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
222
Figura 32 - Subsolo abriga área técnica com
equipamentos, sistemas complementares à produção
fotovoltaica (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
223
 presente em todas as estações (WEATHER
SPARK, s.d.). No inverno, período mais crítico e
com alta demanda energética em edifícios do
hemisfério norte, no solstício de dezembro o
sol está elevado a aproximadamente 15°, quase
no horizonte. O sol nascerá às 08h56min e o dia
terminará às 16h29min (figura 30). Considerando
que, quando atingida por massas de ar frio
vindas da Rússia, a temperatura da cidade
pode chegar a -15 °C, as poucas horas de sol
são valiosas para aquecer o edifício e gerar
energia. Neste sentido, a neve é frequente, mas
não em quantidades abundantes, podendo
acumular acima do solo durante alguns dias –
o que afeta os valores de reflexão da superfície
(albedo). Portanto, no entorno imediato do New-
Blauhaus, o concreto do estacionamento tem
albedo igual a 55%, enquanto a grama verde
25% (MCEVOY, MARKVART, CASTAŁŻER, 2003).
No inverno, quando há uma camada de neve
depositada sobre o solo, esse valor pode subir
para aproximadamente 95%.
Segundo Carmann e Rösler, o sistema
fotovoltaico instalado no telhado tem solução
que é contumaz na Alemanha: inclinados a leste e
oeste, quase como um sistema de tracking “fixo”
224
que está posicionado para capturar o movimento
do sol durante o dia. Voltando às informações
da figura 30, porque os raios solares incidentes
têm elevação bastante baixa, a geração de
energia a partir de planos verticais ou sistemas
fotovoltaicos que considerem, durante o solstício
de junho, por exemplo, o amplo movimento
solar (nasce às 05h18min e se põe às 21h54min),
as orientações leste e oeste fazem sentido. Mas,
neste caso específico, os módulos da cobertura
estão apenas apoiados na laje de concreto, o
que não configura um exemplar de integração
fotovoltaica à estrutura e está fora do escopo
deste livro. A fachada, por sua vez, segundo
o Building Integrated Photovoltaics: Product
overview for solar building skins Status Report
2017 (SUPSI-SEAC, 2017), pode ser classificada
como uma integração Rain-screen façade (cold
façade) - fachada “fria”, como no Copenhagen
International School. Também é compatível com
a categoria pré-fabricada, solução inteiramente
integrada ao envelope do edifício, como peça
construtiva preparada em fábrica, içada no
esqueleto estrutural de concreto para então
produzir energia elétrica.
225
 Sobre o seu contexto de aplicação,
Mönchengladbach abriga um dos campi da
Hochschule Niederrhein University of Applied
Sciences e está a apenas 30 km de Düsseldorf, o
segundo maior centro financeiro na Alemanha.
Portanto, comporta diversas empresas e tem
um centro urbano desenvolvido, onde a NEW-
Energie é a responsável pelo fornecimento de
energia elétrica, gás, aquecimento, medidores,
soluções residenciais e empresariais para os
serviços de abastecimento de energia e água
(NEW-ENERGIE, s.d.). Assim, o New-Blauhaus está
implantado dentro do campus da Hochschule
Niederrhein University of Applied Sciences e
é ponto de apoio tanto aos estudantes quanto
às funções administrativas da empresa NEW-
Energie.
O edifício foi moldado como um volume
solitário e compacto, voltado ao espaço público
em todas as direções. Segundo o relatório
do Kadawittfeldarchitektur, tal escolha é
pragmática: a fachada com acesso principal
foi definida pela nova praça projetada pelo
escritório, com o intuito de ser também porta
de entrada ao campus universitário, enquanto
226
todas as outras faces são determinadas pelos
limites e afastamentos a partir dos edifícios
existentes no entorno. As variáveis resultam em
um pentágono que oportuniza vantagens como
a produção de energia fotovoltaica na cobertura e
fachadas, mas também permitem que o edifício
seja parcialmente devolvido ao uso público, pois
um trecho do telhado é acessível como terraço já
que há um átrio que viabiliza o aproveitamento
da luz zenital; ainda, optou-se na fachada por
intercalar módulos fotovoltaicos e janelas.
A entrada, totalmente envidraçada e marcada
pela protrusão do platô, dá forma ao foyer no
primeiro pavimento com vistas para a paisagem
do campus. Tal espaço é destinado às atividades
da empresa NEW-Energie e da universidade,
ambas para funções administrativas. Além dos
usos citados, nos quatro pavimentos abriga-
se um centro de fomento para startups, uma
biblioteca aberta aos alunos, incluindo o terraço
no último andar, todos organizados pelo átrio
que perfura o volume de fora a fora e espalha luz
natural. Assim, fica claro que além do desejado
desempenho energético, a função didática
está fundada no programa arquitetônico
227
 estabelecido, e ainda de totens implantados
no foyer para apoio às visitas técnicas, diversas
atividades educacionais e programas de
incentivo à pesquisa. Hoje, o New-Blauhaus
recebe acadêmicos financiados pela empresa
NEW-Energie (KADAWITTFELDARCHITEKTUR,
s.d.). Também, em parceria com escolas da
região, o edifício é espaço para crianças de 12
anos montarem seu primeiro módulo solar.
Para o Kadawittfeldarchitektur, a fachada é
o “principal meio de expressão do projeto”. Os
módulos de acabamento brilhante e cor azul,
juntamente ao sistema fotovoltaico instalado
no telhado, foram projetados para cobrir toda a
demanda energética do edifício. O grid criado na
fachada, a partir da alternância entre módulos
e janelas inclinadas, segue eixos organizadores
de 1,35 metros. A inclinação das peças foi
determinada para a melhor relação angular
entre superfície e incidência solar, resultando
em maior conversão elétrica. Tais decisões
envolveram, diferentemente do Copenhagen
International School, substituir os módulos
fotovoltaicos por peças “cegas” na fachada norte,
não produtoras de energia, com acabamento
228
de vidro e similar coloração azul. Também, já
que o edifício emerge na paisagem do campus
com muitas árvores e topografia em elevações
variadas, outros módulos que sofreriam com o
sombreamento da vegetação são cegos (figura
31). Portanto, o ato de esculpir o edifício e implantá-
lo em uma paisagem existente em alguns
momentos coloca a energia secundariamente
a outras decisões projetuais. São os interstícios
socialmente e economicamente importantes,
defendidos por Maas em Porocity. De forma
que o inverso também é verdadeiro: a espessa
camada de isolamento térmico nas paredes
externas, soluções híbridas para eficiência
energética no que diz respeito ao aquecimento e
ao resfriamento do edifício, além de subtrações
na fachada que permitem à incidência solar
e entrada de luz natural, são variáveis que
contribuem para a diminuição da demanda por
produção elétrica - de forma que a subtração de
alguns módulos na fachada não prejudique sua
autonomia. Desta maneira, as árvores do campus
puderam continuar onde sempre estiveram, o
que mostra-se uma atitude de moderação.
229
 A energia elétrica gerada atualmente pelo
sistema fotovoltaico é de 81.529 kWh/ano. Além
disso, no subsolo (figura 32), a NEW-Energie
instalou um sistema complementar à produção
fotovoltaica: uma bomba de calor reversível
para o aquecimento e resfriamento do edifício
a partir de um tanque de armazenamento de
gelo e um chiller - máquina que remove o calor
de um líquido via refrigeração por compressão a
vapor e resfriamento por absorção. Esse líquido
pode então circular por meio de um trocador de
calor para resfriar o equipamento ou outro fluxo
de processo (como ar ou água). A refrigeração
cria calor residual que deve ser descartado ou
recuperado para fins de aquecimento.
Carmann e Rösler resumiram este sistema
como uma máquina que suga o ar externo,
separa o ar quente para aquecer ambientes
internos durante o inverno (ou descarta esta
parcela durante o verão) e armazena o frio na
forma de gelo. No maquinário, o gelo não é
visível, totalmente translúcido por não estar
em contato direto com o oxigênio. O frio
armazenado servirá para resfriar o edifício
no verão, mantendo a temperatura interna
230
média igual a 26ºC. Segundo o Ingenieurbüro
P. Jung, todo o fornecimento de calor para o
New-Blauhaus acontece por meio da bomba
de calor altamente eficiente em conjunto com
os resíduos do sistema de armazenamento de
gelo. Outros fornecedores de calor (BHKW, Block
heating power plant) estão planejados, os quais
podem ser usados alternativamente para fins de
demonstração. Ressaltamos que a estratégia de
reaproveitar os resíduos de calor para aquecer
ambientes foi abordada também em outras
entrevistas: mencionada por Florian Edler von
Hayek, por exemplo, arquiteto do Behnisch
Architekten, em 15 de novembro de 2019 na
sede do escritório de arquitetura em Munique,
Alemanha. Contou que aproveitaram o calor
residual gerado por uma grande lavanderia que
atende uma rede hoteleira para abastecer com
calor os ambientes da Prefeitura de Bad Aibling,
Alemanha. Ao passo que o impacto do calor
liberado em ambientes onde se é necessário
resfriar também é um ponto a ressaltar. No New-
Blauhaus estes valores foram previstos no que
diz respeito aos computadores, já que liberam
bastante calor.
231
 De volta ao New-Blauhaus, é composto
por peças pré-fabricadas, as caixas metálicas
inclinadas, em que módulos fotovoltaicos e
janelas estão integrados. As 400 peças modulares
dão forma ao edifício, em um processo de
construção que durou 15 meses - 20 peças içadas
por dia e fixadas no esqueleto estrutural de
concreto. Segundo relatório do Ingenieurbüro
P. Jung, as placas de vidro defletoras, que fazem
parte da peça pré-fabricada translúcida referente
às janelas em fachada dupla, são ventiladas a
partir de aberturas nas extremidades e têm
proteção solar. Pelo menos uma janela pode
ser aberta por cômodo, o controle da abertura
e fechamento da proteção solar é automático,
mas a intervenção do usuário é possível. Ainda
referente às peças pré-fabricadas, a exceção está
na fachada sul que confronta o estacionamento.
Nela, as peças não são inclinadas como nas
outras faces do polígono: o substrato totalmente
vertical implica em menores custos financeiros
se comparado às demais.
Aqui é possível fazermos uma analogia à
caixa metálica desenvolvida como solução para
integração do módulo fotovoltaico à fachada
232
da Copenhagen International School, estudo
de caso 01, lá com a função mais de fixar a
peça de revestimento e estabilizá-la quando
atuam os fortes ventos em um sistema plug
and play. Já no New-Blauhaus essa função se
extrapola de modo a solucionar janelas inteiras
e paredes produtoras de energia, causando
maior dificuldade em substituir os módulos
fotovoltaicos quando necessário - digamos que
quando o seu ciclo de vida chegou ao fim, você
precisará substituir a peça pré-fabricada inteira.
Por outro lado, o processo de construção do
New-Blauhaus foi muito mais rápido do que o da
escola. Seguindo na analogia, no que diz respeito
ao acabamento do sistema, na Copenhagen
International School optou-se por módulos
fotovoltaicos opacos, de tonalidade azul em
que as células de silício e conexões metálicas
são imperceptíveis, tecnologia utilizada com
maior frequência em edifícios fotovoltaicos
no mercado suíço, enquanto o New-Blauhaus
tem acabamento brilhante e vítreo, de maneira
inventiva associado à disposição e acabamento
das janelas. Na primeira, há perda na conversão
elétrica ao manipular a textura do substrato
233
 de vidro, mas inovação no que diz respeito à
materialidade do edifício. Na segunda, ainda que
o encapsulamento em filme de EVA (Ethylene
Vinyl Acetate) na cor preta seja menos eficiente
do que em branco, os módulos fotovoltaicos,
que ocupam área compacta e bastante reduzida
se comparado ao Copenhagen International
School, seguem com eficiência contumaz.
Kilian Kada estudou arquitetura na University
of Applied Arts Vienna, Vienna, Áustria e
na Columbia University, New York, EUA. No
escritório Kadawittfeldarchitektur, cofundado
por seu pai em 1999, tornou-se sócio em 2011
e hoje a empresa contabiliza 150 funcionários
para trabalhar em áreas diversas: arquitetura,
interiores, projetos de escala urbana, localizados
em sua maioria na Alemanha. O escritório ocupa
três andares de um edifício no centro de Aachen
e tem muitas obras construídas na região. A
cidade milenar, próxima à fronteira da Bélgica
e dos Países Baixos, é um importante centro
industrial, comercial e turístico. Localiza-se
no meio da região mineira de carvão, além de
várias indústrias têxteis, metalúrgicas, químicas
e eletrotécnicas (motores). Está a cerca de
234
67 km do centro de Mönchengladbach, onde foi
construído o New-Blauhaus. A autora Sofia Dias
visitou o edifício após viagem de trem que durou
uma hora e meia a partir de Aachen.
Em entrevista (figuras 33 e 34), Kilian Kada
e Nicole Richter, responsável por relações
públicas da empresa, responderam sobre o
contexto de implantação do projeto, processo de
concepção e quais outras estratégias de design
estão conectadas à integração fotovoltaica.
Segundo Kada e Richter, referente ao contexto
de desenvolvimento do projeto New-Blauhaus, a
oportunidade deu-se por meio de um concurso,
com uma base de dados estabelecida pelo
cliente - investimento disponível, usuários,
contexto de implantação, diretrizes como a
autonomia em energia por exemplo. Entretanto,
“no Kadawittfeldarchitektur, fazemos o melhor
para informar e debater esses parâmetros:
incentivar o diálogo proporciona melhores
resultados e possibilidades! Até no contexto de
concurso, que é o caso do edifício em questão,
mesmo obedecendo aos requerimentos e
resultados esperados pelo edital, somos também
235
 Figura 33 - Entrevista com Kilian Kada, com suporte de Figura 35 - Maquete física na escala 1/50
Nicole Richter (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019). (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).

Figura 34 - Entrevista com Kilian Kada, moodboard e Figura 36 - Estudos iniciais em maquetes físicas na
referências para o projeto New-Blauhaus (SILVEIRA, F. escala 1/2000 (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
(fotógrafa), 2019).

236 237
37A

37B

Figuras 37 - Estudos para detalhes técnicos por meio de Figura 38 - O Kadawittfeldarchitektur desenvolveu um
maquetes na 1/20: comportamento da fachada e coloração jornal interno para compartilhar a evolução dos projetos
dos vidros (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019). com todos os colaboradores do escritório (SILVEIRA, F.
(fotógrafa), 2019).

238 239
 mediadores entre o que é requerido e as chances
às vezes nem imaginadas. Mediadores para
organizar o processo e o diálogo entre clientes,
política, legislação, um espectro amplo de
variáveis!”. Por tratar-se de clientes interessados
em inovação, neste caso uma universidade e
empresa de energia, nossa ideia desde o início
foi: “como podemos representar no edifício o
que acontece em seu interior?”. Essa foi a grande
pergunta, a primeira pergunta de todas… A partir
dela, a próxima foi: “como será materializada
a pele deste edifício? Já que é linguagem e
expressão do que abriga…”.
Sobre a escolha de construir o novo edifício
dentro do campus universitário, Kada afirma que
“Mönchengladbach é uma cidade relativamente
grande, mas comparada a outras cidades na
Alemanha não é tão grande assim… Mas é
muito conhecida pela produção científica na
universidade: grandes avanços na produção
têxtil, portanto tradicional nesta área de
conhecimento. Então, decidimos construir este
edifício em um campus existente, que também
tem vários estudos acontecendo em outras áreas”.
Assim, o primeiro experimento dos arquitetos foi
240
uma estrutura em bloco que fechava o espaço
vazio existente entre os edifícios do campus.
“Depois de ver o resultado, pensamos não ser
uma boa ideia já que tínhamos o desejo de abrir
o campus com os seus caminhos e paisagens,
não confinar o espaço já que a vegetação é
muito bonita”. Também a rua Richard-Wagner-
Straße pela qual acontece o acesso principal até
o edifício, é muito arborizada, quase como uma
“orla”. Ficou claro que o edifício teria uma frente,
fachada orientada à rua de acesso, e também
uma fachada voltada ao campus. Nas fotos,
parece um edifício grande, mas na verdade
é bastante pequeno e compacto (quatro
pavimentos e subsolo em uma área de 5.800m²).
Então pensaram: “ok, queremos encarar este
edifício como um “solitário” e implantá-lo
como os outros edifícios existentes, um modelo
clássico de campus universitário materializado
em volumes isolados uns dos outros”.
Esses afastamentos e integração com
o entorno foram cruciais para determinar
também a autonomia em energia. Já que, se
você tem um edifício solitário, é necessário
pensar nas distâncias a partir das construções
241
 existentes. Por um lado, esses contornos do
edifício foram determinados pela legislação, ou
seja, qual o recuo necessário. “Tentamos pensar
quais áreas eram mais relevantes e qual seria a
entrada principal. Estas variáveis levaram a um
compacto pentágono, que permite diversas
conexões. Você pode caminhar em volta do
edifício, todas as fachadas são representativas,
não existe um “fundo”. Isso levou à ideia de que,
para continuarmos com essa proposta, não seria
suficiente cobrir apenas o telhado com módulos
fotovoltaicos para o edifício ser capaz de produzir
sua própria energia, de maneira autossuficiente.
Logo pensamos: “ok, seria muito legal trazer
os módulos também para a fachada… assim
teremos energia suficiente!”.
A forma de pentágono foi organizada de
acordo com o sol, assim os módulos de cada
fachada têm ângulos de montagem distintos
para aperfeiçoar a incidência de radiação solar e
sua e conversão em energia elétrica. Na fachada
norte não foram aplicados módulos fotovoltaicos,
porque os valores de conversão energética eram
mínimos. Mas, além disso, devido a essas escolhas
“o edifício representa uma nova entrada para o
242
campus universitário, mas também materializa
a empresa que o está usando, já que o programa
é parte tanto da universidade quanto da NEW-
Energie. Assim, além da forma em pentágono,
também desejamos, a partir da subtração de
parte da cobertura, criar um terraço. Deste ponto
você tem uma ótima vista do centro da cidade,
consegue enxergar o parque e todo o campus”.
Sobre o processo de projeto e ferramentas
utilizadas para concepção da ideia, Kada e Richter
afirmaram que fizeram várias maquetes físicas
(figura 35) para discussão e amadurecimento
das etapas. Inclusive, há uma maquetaria dentro
do Kadawittfeldarchitektur. “Com as maquetes
é possível descobrir e decidir o balanço entre
edifícios existentes, acesso principal e novo
volume. Pensamos de uma maneira que você
possa explorar o campus… Porém, tivemos que
abrir espaço para criar um estacionamento,
que não é coberto, mas está de certa forma
escondido pela topografia. E, como você pode
ver nesta caixa, começamos o processo testando
possibilidades em maquetes com escala 1/2000
(figura 36). Começamos com inúmeros estudos
de volumes… até encontrar uma solução que se
243
 encaixe perfeitamente à pergunta. A partir daí,
desenvolvemos o edifício mais detalhadamente
também a partir de maquetes físicas. Claro que
o processo também é baseado em ferramentas
contemporâneas como a modelagem 3D… É
sempre um fluxo de ida e volta: modelagem
digital, maquete física, modelagem digital,
maquete física, e assim por diante”. Mais ainda,
foram construídas maquetes detalhadas da
fachada, nas escalas 1/50 e 1/20. A cor dos vidros
para os módulos cegos, presentes principalmente
na fachada norte e oeste, também foi estudada
a partir de protótipos (figura 37). Já que todos os
módulos monocristalinos têm uma coloração
próxima ao preto, encapsulados com material
desta cor, foi importante descobrir qual vidro
encaixa-se neste cenário para a composição e
expressão da fachada.
Sobre o tamanho do sistema fotovoltaico,
Kada afirmou que é composto por 77 módulos
fotovoltaicos instalados na fachada e 313
módulos na cobertura. Além disso, o subsolo
foi destinado ao depósito dos maquinários que
também auxiliam na otimização energética. Há
uma janela em que os visitantes podem espiar as
244
instalações tecnológicas do subsolo… ou agendar
uma visita guiada. A base do pensamento está
em como resfriar o edifício durante o verão
e aquecê-lo durante o inverno sem gastar
grandes quantidades de energia, diminuindo
a demanda de consumo. E, para desenvolver
tais soluções, foi necessário trabalhar com uma
equipe interdisciplinar. “Temos especialistas de
diferentes áreas aqui no escritório, é sempre um
processo bem interdisciplinar. No caso deste
projeto específico, para a fachada trabalhamos
também em parceria com um escritório de
engenharia… o Rache Engineering GmbH,
também com sede em Aachen. Se você está
interessada em sistemas e soluções técnicas
de fachadas, eles são um dos pioneiros na
Alemanha, dando suporte a muitos escritórios
de arquitetura com propostas progressivas. Eles
sabem como construir fachadas como estas”.
O edifício está aberto para uso dos alunos
a qualquer momento. Inclusive, durante a
visita guiada ao New-Blauhaus, Carmann e
Rösler deixaram claro que os equipamentos
técnicos do subsolo são uma das forças que
atraem inúmeros visitantes para conhecer
245
 as soluções experimentais. Mais ainda, tais
soluções juntamente ao sistema fotovoltaico
deveriam garantir o consumo zero de energia,
mas o edifício atrai tantos estudantes que o
número extra de usuários aumentou também
seu consumo e hoje precisa ser parcialmente
abastecido por fonte externa. Ainda sobre os
usuários, Kada afirmou que nesse contexto é fácil
dizer “ok, vamos colocar módulos fotovoltaicos na
fachada!”, em um campo em que existe fomento
à inovação. “Você precisa também pensar nas
pessoas que viverão ali, já que se eu cobrir toda
a superfície com módulos fotovoltaicos, como
elas olharão para fora? Como a luz natural
entrará? Por isso, nós tivemos que desenvolver
um sistema que pudesse ser adaptado ao uso de
escritório, programa arquitetônico que é similar
ao proposto. Para essa tipologia de construção,
você precisa considerar o grid, ou melhor, as
linhas verticais criadas pelo posicionamento das
janelas… Isso porque usualmente na Alemanha
a estrutura geométrica estabelecida é obedecer
o distanciamento de 1,35 metros entre linhas
verticais. Isso determinará o posicionamento
das janelas e também das divisórias internas. É
246
a maneira mais eficiente de projetar escritórios!
Por exemplo, em um escritório para uma
pessoa, você pode usar duas medidas de 1,35
metros, resultando em um ambiente de 2,70 m
de profundidade. Para três pessoas, você pode
usar três medidas, ou seja, aproximadamente
4 metros de profundidade. E assim por diante…
Assim você tem um standard organizado a partir
das aberturas da fachada, em que você pode
reorganizar as divisórias internas segundo a
necessidade e garantir a entrada de luz natural
nos ambientes. Talvez em 20 anos outra empresa
ocupe o edifício e esta flexibilidade é necessária!”.
Mas neste caso, na retícula criada são alternados
módulo fotovoltaico (opaco) e janela comum
(entrada de luz para a desejável salubridade).
Para materializar esta retícula, foi desenvolvida
uma estrutura de fixação de alumínio. “Funcionam
como “caixas” metálicas que desempenham
o papel de esquadrias inclinadas. Os módulos
fotovoltaicos estão inclinados na direção do
sol, enquanto as janelas de vidro assumem a
inclinação contrária. Claro que para esta solução
você precisa de algum tipo de proteção solar nas
grandes superfícies envidraçadas… o correto é
247
 posicionar esta proteção fora das fachadas, por
isso optamos em instalá-las entre a janela e a
segunda camada da fachada dupla (superfície
defletora, inclinada na direção oposta ao módulo
fotovoltaico), também de vidro. De maneira
pragmática, poderíamos excluir essa segunda
camada de vidro, em termos de fachada, mas
ela auxilia também na proteção acústica para
afastar os ruídos da rua. Além disso, ajuda a
resfriar a fachada: tem aberturas que permitem
a passagem e convecção do ar quente”. Na
fachada fotovoltaica, “na porção interna
colocamos uma chapa de gesso (portanto é uma
superfície opaca), além de todo o isolamento
e estrutura. Isso ajuda a criar uma boa relação
entre superfícies opacas e translúcidas… já que
se a fachada fosse totalmente envidraçada, a
quantidade de calor dentro do edifício seria
muito alta! O balanço entre aberto e fechado é
muito importante para manter o clima dentro do
edifício o melhor possível, isso de forma natural
e sem uso de máquinas”. Essa fala sincera tem
poder de desmistificar a criação de um edifício
de alta tecnologia: envolve intenso detalhamento
248
arquitetônico - tanto quanto a boa arquitetura
que não é caracterizada como tecnológica.
Mas as decisões relacionadas à energia vão
além da fachada. O edifício tem baixo impacto
energético, é compacto, resultando também em
custos financeiros reduzidos. E, claro, manter o
parque existente no terreno antes da construção
também foi muito importante. “Ademais, mesmo
que compacto, conseguimos convencer o nosso
cliente de que iríamos desenvolver um pátio
interno… Então a luz natural também alcança
os ambientes a partir desse átrio articulador. Na
realidade, cada pavimento tem características
próprias e cores distintas. No nosso escritório,
temos um departamento destinado apenas para
design de interiores. E foi muito legal trabalhar
com eles de forma conjunta neste projeto… em
termos de poder entender o que eles interpretam
como “energia” sendo parte do design. A ideia
foi que todos os grupos envolvidos no projeto
de alguma forma fossem inspirados pelo sol.
Então, as cores dos pavimentos refletem este
pensamento: cores que variam do nascer ao pôr
do sol. A cor da manhã até a cor do entardecer…
Claro, algumas ideias que propusemos não
249
 foram incorporadas pelo cliente, mas de
alguma forma todas estão representadas por
certas partes do projeto”. Neste sentido, o átrio,
localizado próximo ao centro da planta baixa,
tem grande importância principalmente no que
diz respeito à legibilidade espacial. Por exemplo,
a partir do terraço, é possível enxergar todos os
andares do edifício. Tal transparência é também
devida ao deslocamento de elevadores, escada
e banheiros em relação ao átrio e à fachada,
liberando todo o perímetro dos pavimentos para
as demais atividades. “Pensamos em todos os
andares terem um espaço compartilhado, para
criar uma “vizinhança” que possibilite o encontro.
Nessas vizinhanças, em todos os andares estão
alocados o pátio, criado pelo átrio, uma cafeteria
e um espaço de reuniões central, que em cada
pavimento, com usos distintos, tem uma cor
específica”.
Sobre a aceitação social, durante um período
relativamente longo, muitos estudantes de
outras universidades vieram conhecer o edifício,
o que não é uma reação comum. “Também,
devido a toda a parte mecânica e equipamentos
do subsolo, levou cerca de um ano para
250
aprendermos a controlar todas as máquinas…
Já que a cada novo edifício construído, em um
diferente contexto técnico, os engenheiros
precisam descobrir como controlar a temperatura
correta, como resfriar, aquecer, e assim por
diante. Muitas vezes, este período de adaptação
leva até mais tempo do que no caso do New-
Blauhaus”. Ressaltamos que este tema está em
voga, presente em pesquisas desenvolvidas pela
Technische Universität München (TUM), com
apoio da empresa Transsolar. A dissertação de
mestrado “Combating User-Behaviour Variations
with Robustness in Building Design” (GOPAL,
2019) trata da influência do comportamento do
usuário no desempenho energético do edifício
em sistemas complexos com alto índice de
erro no manejo das máquinas por parte dos
habitantes. Neste sentido, para Kada, o ideal é
evitar o excesso da técnica, o excesso de máquinas
e equipamentos para controlar certo padrão.
“Neste caso específico, há uma forte correlação
entre as técnicas desenvolvidas pela empresa
NEW-Energie e também o espírito universitário de
experimentação. Portanto, tal postura diz muito
sobre o que o edifício viria a ser, o que ao final
251
 faz todo o sentido… Mas quando pensamos no
ser humano e sua subjetividade, cada indivíduo
sentirá o ambiente de maneiras diferentes e
também agirá de maneiras diferentes. Será que
todas as pessoas estarão satisfeitas com 22ºC?
Talvez alguém preferirá 26ºC… Será que está
muito escuro? Ou muito claro?”. Isso implica
que, mesmo que o arquiteto ou engenheiro diga
o contrário, as pessoas continuarão abrindo as
janelas ou optando por escolhas que não foram
previstas no princípio - resultando em números
diferentes. Para Richter, “às vezes esquecemos
que as pessoas querem ter a liberdade de agir
sozinhas… Elas querem ter o poder de abrir uma
janela, por exemplo. Em situações em que, para
alcançar determinado clima dentro do edifício,
são necessárias inúmeras máquinas, de alta
complexidade e condições rígidas para o seu
funcionamento, este poder de certa forma é
“castrado”. Entretanto, hoje há uma mudança
ocorrendo neste sentido e maior consciência
sobre tal paradoxo”.
Segundo Kada e Richter, todo o processo
de projeto durou dois anos, um tempo
relativamente curto, que normalmente leva
252
mais tempo. Foi o primeiro edifício com
fachada fotovoltaica do escritório, portanto um
processo de experimentação e aprendizagem.
Para compartilhar o conhecimento adquirido
entre todos no escritório de arquitetura, o
Kadawittfeldarchitektur desenvolveu um jornal
interno (figura 38). “Considerando que hoje
somos um grande grupo de 150 funcionários,
isso é muito importante. Também, criamos
um app que disponibiliza as últimas notícias
do escritório, o Kwa News. Com informações
sobre os projetos arquitetônicos e a localização
de todos em um mapa. São maneiras de,
mesmo que nossos funcionários trabalhem
em áreas diferentes: desenvolvimento de
projeto, modelagem 3D, maquetaria, design de
interiores, materiais, detalhamento e processo
de obra, etc, mantermos o diálogo”.
Referências
GAISMA. Mönchengladbach, Germany - Sunrise, Sunset,
Dawn and Dusk Times, Table. Disponível em: https://www.
gaisma.com/en/location/monchengladbach.html. Acesso
em 25 fev 2022.
253
0 1 2 4 8m
0 1 2 3m
 01 - módulo fotovoltaico
02 monocristalino com
encapsulamento na cor preta,
03 dimensões 1,50x2,50 m
02 - persiana móvel para proteção
04 da incidência solar
03 - placa defletora em vidro,
inclinação 6°
04 - janela de abrir em vidro triplo
de baixa emissividade (low-e) e
esquadria de alumínio, pintura
05 eletrostática
05 - piso elevado com superfície
em carpet
06 06 - fenda de 12cm para ventilação
da fachada e convecção térmica
07 - fachada com acabamento em
placa de alumínio na cor preta
08 - camadas de isolamento
termo acústico
09 - laje em concreto armado
01

07

08

09

0 10 20 40cm
 GOPAL, L. V. Combating User-Behaviour Caused
Variations with Robustness in Building Design: Robustness
analysis of Two Existing German Office Buildings.
Dissertação (Mestrado em Clima Design) - Technical
University of Munich (TUM). Munich, 2019.
KADAWITTFELDARCHITEKTUR. Solar Flex Plus - What
You Ge is What You See! Disponível em: https://www.
kadawittfeldarchitektur.de/projekt/new-blauhaus/. Acesso
em 28 jan 2022.
MAAS, Winy; RAVON, Adrien. Porocity: Opening up
Solidity. Delft: Nai010 Publishers, 2019.
MCEVOY, Augustin; MARKVART, Tom; CASTAŁŻER, Luis.
Practical Handbook of Photovoltaics: Fundamentals and
Applications. Academic Press, 2011.
NEW-ENERGIE. Serviços. Disponível em: https://www.
new-energie.de/. Acesso em 28 jan 2022.
RACHE ENGINEERING GMBH. [Site institucional].
Disponível em: https://www.rache-engineering.com/en/.
Acesso em 28 jan 2022.
SUPSI - SWISS BIPV COMPETENCE CENTRE e SEAC
- SOLAR ENERGY APPLICATION CENTRE. BIPV- Product
overview for solar building skins: relatório técnico. Lugano,
2017.
WEATHER SPARK. Condições meteorológicas médias em
Mönchengladbach. Disponível em: https://pt.weatherspark.
c o m /y/ 5 47 2 0/C l i m a - c a r a c t e r % C 3 % A D s t i c o - e m -
M%C3%B6nchengladbach-Alemanha-durante-o-ano.
Acesso em 28 jan 2022.
260
Estudo de caso 03: Multi-family house in
Brütten
A Multi-family house in Brütten, estudo de caso
03, foi projetada pelo escritório de arquitetura
René Schmid Architekten e construída em
2016. Está na comuna de Brütten (47°28′N
8°40′E), no cantão Zurique. Encontramos os
dados nas descrições redigidas pelo René
Schmid Architekten, pesquisa documental e
dados compartilhados por René Schmid após
entrevista com a autora Sofia Dias no dia 25 de
novembro de 2019, das 15 às 16 horas, em Zurique,
Suíça. Mais ainda, também referenciamos a visita
técnica realizada pela autora ao edifício Umwelt
Arena em Spreitenbach, Suíça.
A comuna Brütten, com 1.888 habitantes e
densidade igual a 283 hab/km², está a cerca de 20
km do centro de Zurique, a cidade mais populosa
da Suíça, com história milenar e desenvolvimento
a partir do lago Zürichsee. Na comuna, 58,9%
da área são usados para fins agrícolas e 30,1%
destinados às áreas arborizadas (SWISS FEDERAL
STATISTICAL OFFICE, 2020). Portanto, apenas
11% dizem respeito aos assentamentos urbanos.
261
 40A

40B

Figura 39 - Diagrama do caminho do sol em Zurich Figuras 40 - Centro de exposições Umwelt Arena
(GAISMA, 2022). (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

262 263
 43A

Figura 41 - Contexto urbano de média densidade: avenida

larga e mercado (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

43B

Figura 42 - Contexto urbano de média densidade: Figuras 43 - Maquete física do edifício Multi-family
estacionamento do shopping (DIAS, S. (fotógrafa), 2019). house in Brütten (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

264 265
 As médias das temperaturas em Brütten
variam entre 0,5ºC e 19ºC (WEATHER SPARK,
s.d.). A quantidade anual de precipitação é 1.135
milímetros/ano, com prevalência nos meses
durante o verão. Em média, 85 cm de neve caem
anualmente, e esta permanece na superfície por
alguns dias. Também, durante o inverno o céu
é bastante cinzento, às vezes com uma ou duas
horas de exposição solar. Segundo a figura 39,
durante o solstício de dezembro, a elevação do
sol será igual a 20º, o dia começará às 08h10min
com duração até às 16h38min. Em oposição, no
solstício de junho, o dia começará às 05h29min
e terminará por volta das 21 horas. Assim, como
mencionado anteriormente, no hemisfério norte
e com elevações solares mais baixas durante o
inverno, a produção de energia fotovoltaica
em fachadas é favorecida, além de telhados
fotovoltaicos que variam em direções que vão
além da face sul – considerando os dias longos
de verão. Este é o contexto de implantação do
edifício habitacional denominado autárquico:
ou seja, independente e autossuficiente
energeticamente, além de exemplar Building
Integrated Photovoltaics (BIPV), em portugês,
edifício fotovoltaico.
266
A casa multifamiliar foi um desdobramento
tecnológico de outro edifício e vamos aqui
fazer parênteses para relacioná-lo à reflexão. É o
Umwelt Arena figura 40, espaço de exposições
situado na comuna Spreitenbach, também no
cantão de Zurique, Suíça. Com 10.032 habitantes,
está a cerca de 17 km do centro da capital Zurique,
em um contexto urbano de média densidade
figura 41. No entorno, figuram um grande
shopping, estacionamento, mercado e uma
rodovia de fluxo rápido e relativamente intenso
figura 42. Abriga eventos e diversas exposições
para incentivar escolhas mais sustentáveis na
população: desde a alimentação, consumo,
gestão financeira, até os resíduos gerados
pelas famílias, carros elétricos e produção de
energia em edifícios - informações expostas
em um exemplar arquitetônico de integração
fotovoltaica, projetado pelo René Schmid
Architekten e construído em 2011.
Segundo o website https://solarchitecture.
ch/ (SUPSI e parceiros), a cobertura icônica
foi construída com elementos sanduíche pré-
fabricados de madeira, isolamento térmico e
módulos monocristalinos de primeira geração,
267
 produzindo uma quantidade relevante de
energia, duas vezes a demanda de consumo
do edifício. O telhado, com forma octogonal foi
materializado em “33 superfícies, diferentemente
orientadas (sul, leste, oeste, norte e direções
intermediárias), com inclinações que variam
entre 6° e 62°” (SOLAR ARCHITECTURE, s.d.). Se
analisarmos a forma octogonal da cobertura,
esta resposta não é nada instintiva, parece
mais complexo de resolver do que realmente
é. Completamente coberto por módulos
fotovoltaicos, o telhado gera 540.000 kWh/ano
em área de 5333 m². Ainda, segundo o Building
Integrated Photovoltaics: Product overview for
solar building skins Status Report 2017 (SUPSI-
SEAC, 2017), a integração pode ser categorizada
como Full Roof solution (totally integrated)
– solução totalmente integrada à estrutura
do telhado, portanto não é inserção em uma
forma pré-definida, mas parte da concepção da
estrutura desde as primeiras decisões. Também
é caracterizado como opaco e telhado “frio”, ou
seja, possui cavidade de ventilação. A empresa
produtora da solução de integração na cobertura
é a 3S Solar Plus AG, como na Multi-family house
268
in Brütten e casa Schneller Bader, apresentada
em sequência no estudo de caso 04.
Voltemos à casa multifamiliar em Brütten.
O edifício é um desdobramento tecnológico
do Umwelt Arena por servir de showroom às
propostas progressistas expostas no centro,
portanto é ferramenta para a adoção de
medidas por parte da comunidade - como
construir um edifício autárquico, ou seja, off-
grid? Isso no sentido promocional das medidas
inovadoras de economia e geração de energia
elétrica, fornecedores dos produtos e soluções,
além das possibilidades de armazenamento
para manter as residências durante o inverno
rigoroso. Comparando os edifícios de forma
pragmática, há soluções similares de integração
fotovoltaica, como o adotado em ambos os
telhados por exemplo, mas em contextos e
objetivos bastante distintos. Primeiro, o tamanho
da Multi-family house in Brütten é menor, com
módulos fotovoltaicos ocupando área igual
a 527 m² no telhado e 470 m² nas fachadas, o
contexto imediato é basicamente composto
por casas unifamiliares e área rural, sem riscos
de sombreamento. Segundo, sobre o albedo,
269
 diferentemente do centro de exposições, aqui
há possibilidade de deposição de neve sobre o
solo e aumento da refletividade da superfície
(o albedo) nos períodos de inverno, o que afeta
diretamente na produção elétrica das fachadas
Já no Umwelt Arena, por produzir energia
exclusivamente na cobertura e estar circundado
por rodovias e estabelecimentos comerciais
como o shopping, por exemplo, não haverá
alteração da refletividade do entorno. Relativo
ao programa arquitetônico, os edifícios têm
diferentes padrões de consumo: um como casa,
o outro como museu.
Em Brütten, o telhado, tecnologia de
integração fabricada pela empresa suíça 3S
Solar Plus AG, é feito de módulos fotovoltaicos
monocristalinos de primeira geração,
diferentemente orientados (sul, leste, oeste, e
norte), produzindo cerca de 65000 kWh/ano em
14 superfícies com inclinação de 29,5° (SOLAR
ARCHITECTURE, s.d.). Logo, os módulos, que
estão levemente sobrepostos, são encaixados
em suportes metálicos podendo ser facilmente
removidos em um sistema plug and play: se
alguma peça apresentar defeito, pode ser
270
substituída por outra nova no lugar. Também,
abaixo do sistema, coloca-se uma membrana
impermeável para os dias de chuva com
incidência de vento, proteção que está também
presente nos telhados “comuns” em que a água
pode penetrar e escorrer na face interna das
telhas. Portanto, aqui o módulo fotovoltaico,
que é a prova d’água, desempenha também
o papel de cobertura do edifício, solução
promissora quando analisado o mercado e
contexto brasileiros - com suas maiores cidades
principalmente em regiões de alta pluviosidade.
A fachada do Multi-family house in Brütten,
outro exemplar de integração Rain-screen façade
(cold façade) - fachada “fria” (SUPSI-SEAC, 2017),
produz 27000 kWh/ano (SOLAR ARCHITECTURE,
s.d.). O acabamento translúcido (porém,
aparentando ser opaco) das peças produtoras
de energia é uma das inovações do projeto: são
módulos de filme fino de segunda geração,
com substrato de vidro em acabamento fosco.
Este resultado é obtido graças ao jateamento de
areia na superfície do vidro. Dois perfis metálicos
de fixação foram colados (com fita adesiva 3M)
na face posterior do módulo e encaixados a
271
 um trilho metálico (perfil comercial) preso no
substrato do edifício, resultado semelhante a
uma fachada ventilada – mas que, neste caso,
dissipa o calor proveniente da termalização. O
trilho de fixação e elementos adesivos fazem
com que as subestruturas de montagem
tornem-se invisíveis na fachada, com destaque
apenas nos módulos fotovoltaicos opacos e sem
nenhum grampo ou peça de fixação visível.
Ressaltamos também que, a partir de um
diferente processo de manipulação do substrato
de vidro, aqui se alcança materialidade similar
àquela na Copenhagen International School, um
efeito reservado para aplicação nas fachadas já
que representa perda de conversão elétrica e
não faria sentido na cobertura.
Ainda sobre os montantes de fixação na
fachada, há na Suíça registrada uma outra
experiência comparável. Foi no projeto de
renovação do edifício Palazzo Positivo. Segundo
Frontini et al. (2014) no artigo “Palazzo Positivo:
renovation of a residential building in switzerland
with BIPV facades”, os testes desenvolvidos,
referentes à estabilidade mecânica dos sistemas
de fixação dos módulos fotovoltaicos aos
272
substratos da fachada, levaram a conclusões
semelhantes às das soluções adotadas em
Brütten. Para garantir a estabilidade mecânica
e resistência sob as condições de operação do
edifício, testes de estresse mecânico foram
realizados nos laboratórios SUPSI na fachada
BIPV do Palazzo Positivo. Nesse caso, os módulos
fixados a montantes metálicos com grampos
de segurança quebraram devido à deflexão da
peça em relação ao substrato. Ao colar perfis
metálicos à face posterior do módulo, houve
aumento de rigidez e as peças passaram no teste
de resistência mecânica (FRONTINI et al., 2014).
Logo, sob as condições de teste, a solução
confere rigidez ao sistema, que está sujeito aos
rigores envolvidos na produção energética (como
o aquecimento da peça, até 60 °C em condições
de operação durante o verão), como também
às demandas construtivas, já que servirá como
barreira externa às adversidades climáticas
(vento, sol, chuva, variações de temperatura,
umidade). Neste contexto, a solução em Brütten
é híbrida: nas peças irregulares que vão ao
encontro do telhado, de formato triangular,
adotaram-se peças “cegas” não produtoras de
273
 energia para diminuição dos custos. Tais peças
passam pelo mesmo tratamento do substrato
de vidro e são imperceptíveis, uma vez que as
células de silício e conectores metálicos não
são aparentes, escondidos no processo de
jateamento e coloração do vidro. Essa medida, de
acabamento e resolução da fachada fotovoltaica
numa forma distinta da convencional, deixa
todos satisfeitos: o edifício não perde em forma,
e não há necessidade de recorrer a módulos
fotovoltaicos fora do padrão dimensional - caros
e menos previsíveis.
O aluguel dos apartamentos da Multi-
family house in Brütten, que segue programa
arquitetônico de um edifício de apartamentos
tradicional, é igual a 2.500 francos suíços (CHF)
ao mês (equivalentes a cerca de R$ 15 mil, o
câmbio a 5,94 R$ por franco). Este valor, para
uma família de quatro pessoas, inclui no preço
os custos de aquecimento e energia elétrica,
abrigando no total nove famílias no edifício.
Ressaltamos que os modelos da casa
autárquica estão expostos no centro Umwelt
Arena, para conhecimento da comunidade. Na
maquete, todo o sistema de armazenamento de
274
energia e inovação nos materiais empregados
foi destacado, além das empresas fornecedoras
(figura 43). Consistem em fachada e telhado
fotovoltaico, mas principalmente, na soma de
equipamentos que conferem o caráter autônomo
do edifício. São eles: eletrolisador, tanque de
hidrogênio, sucção e reaproveitamento do calor
do ar externo, bomba de calor, armazenamento
térmico de longo prazo, troca de calor
geotérmica, estação de aumento de pressão para
água fria, estação para água quente, controle
da ventilação das residências (distribuição nos
apartamentos), célula de combustível, sistema
de aquecimento integrado à laje, chuveiros
com reaproveitamento do calor, elevador com
reaproveitamento de energia e display de
consumo de energia (UMWELT ARENA, 2019). O
eletrolisador gera hidrogênio a partir do processo
de eletrólise da água, utilizando energia solar
fotovoltaica. O hidrogênio, uma substância
com grande capacidade de armazenar energia
em baixo peso molecular, contém a maior
quantidade de energia por unidade de massa
que qualquer outro combustível conhecido13
e, quando no estado líquido, ocupa um espaço
13 O poder calorífico do hidrogênio, por exemplo, é de mais
de 33 mil kcal/kg, enquanto os combustíveis à base de
petróleo têm a terça parte disso. Mas aqui não se trata de
queimá-lo, senão reconvertê-lo em água, liberando energia
elétrica.
275
 equivalente a 1/700 de seu estado gasoso. Em
Brütten, dois tanques de 120.000 litros foram
destinados ao armazenamento de hidrogênio.
Em dias nublados de inverno, flui dos tanques
para as células de combustível, que o converte
novamente em água, liberando energia elétrica.
Os resíduos desta transformação são água e
calor, reaproveitados para o aquecimento do
edifício (sai em uma temperatura de 60°C). Na
figura 43, observe o grande tanque azul logo na
entrada. Por tratar-se de um corte longitudinal,
imagine que na realidade os dois tanques de
hidrogênio estão lado a lado.
Mais ainda, energia geotérmica também faz
parte da matriz energética. Um poço profundo
garante trocas de calor em condições mais
estáveis, resultando em água com temperatura
quase constante de 11 °C, usada tanto para
aquecimento ou resfriamento. Todas as soluções
inserem energia na rede própria do edifício, de
forma automatizada e sem gestão por parte do
usuário.
O escritório de arquitetura René Schmid está
localizado em frente à praça pública Oerliker
Park, em um bairro comercial e movimentado
276
de Zurique, no meio do comércio local. A praça
tem tráfego contínuo de pessoas e o escritório
está aberto, como uma vitrine (figura 44), com
imagens e maquetes expostas (figura 45) para
o conhecimento da comunidade. Seu trabalho
abrange a geração de energia elétrica em
edifícios, inclusive obtendo prêmios pela bem
sucedida integração fotovoltaica à arquitetura:
Innovationsaward für Bauwerkintegrierte
Photovoltaik 2020. Portanto, o tema é visto
também pela ótica cultural e de certa forma
didática, como no edifício Umwelt Arena
mencionado anteriormente. Além disso, trata-
se de um escritório com vasta experiência em
entender o módulo fotovoltaico como material
construtivo e desenvolvê-lo como tal - com
inovações importantes no que diz respeito à
criação de sistemas de fixação, por exemplo.
Em entrevista (figura 46), René Schmid
respondeu sobre o contexto de implantação
do projeto e quais outras estratégias de design
estão vinculadas à integração fotovoltaica.
Para o arquiteto, os avanços ocorridos no que
se refere à geração de energia em edifícios
277
 Figura 44 - Praça pública Oerliker Park, Zurique (DIAS, S.
(fotógrafa), 2019).

Figura 45 - Maquetes e imagens disponíveis para o Figura 46 - Entrevista com René Schmid no seu escritório
conhecimento da comunidade sobre projetos em em Zurique, Suíça (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
andamento e finalizados (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

278 279
47A

Figura 48 - Maquete física do edifício Mehrfamilienhaus

Mit Energiezukunft (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).
47B

Figuras 47 - Exemplos de módulos fotovoltaicos texturizados: Figura 49 - Soluções para aperfeiçoar o uso de energia,
substrato de vidro colorido, com acabamento opaco ou integradas ao edifício. Os valores produzidos por cada
brilhante e texturizado, que protege módulos monocristalinos unidade são mostrados em tempo real (DIAS, S. (fotógrafa),
de primeira geração (DIAS, S. (fotógrafa), 2019). 2019).

280 281
 são substanciais. Entretanto, ainda há um
longo caminho para que tais avanços sejam
amplamente difundidos e de responsabilidade
também da arquitetura. Neste sentido, o René
Schmid Architekten desenvolveu o primeiro
módulo com acabamento opaco (figura 47),
ou seja, que não tem aparência de um vidro
brilhante, liso e que ofusca. Essa é uma forma de
criar repertório arquitetônico para a disciplina.
Segundo Schmid, “foi um processo longo, de
muita pesquisa e investimento para alcançar
um material construtivo com este resultado.
Então, o próximo passo foi adicionar cor ao
material… E o próximo, trabalhar a superfície,
ou seja, não ter apenas materiais de textura lisa.
Agora, é possível conseguir texturas em linhas
ou até desenhos orgânicos. O quarto passo,
em que estamos trabalhando no momento, é
aperfeiçoar os custos da fixação à fachada”. Estes
avanços podem ser percebidos nos projetos do
escritório, como o edifício Mehrfamilienhaus
Mit Energiezukunft (figura 48), construído em
2017. É síntese dos avanços rumo aos custos
de fixação de módulos fotovoltaicos à fachada,
já que os módulos são sustentados por peças
282
metálicas produzidas de forma econômica,
além de fixadas ao edifício de maneira mais
eficiente. “Mais ainda, pensando no canteiro de
obras, como as peças são sobrepostas umas às
outras você não precisa medir todos os detalhes
e correr o risco de alguma imprecisão. Você
pode sobrepor mais ou menos uma peça em
relação à outra, dependendo das condições in
loco… O que, considerando a complexidade de
forças e variáveis que atuam sobre a construção
de edifícios, evita um número enorme de erros
e perda de material - sem precisar medir tudo
de novo, e de novo, e de novo. No passado,
você precisava medir todo o edifício depois
de construído, refazer todos os desenhos
técnicos, para depois disso produzir os módulos
fotovoltaicos. Isto faz com que o custo financeiro
aumente! Além de resultar em problemas como
a falta de tempo… Então, com essa solução,
você pode economizar tempo, produzir os
módulos em simultâneo e já instalá-los durante
a construção do edifício”.
Sugerimos que você sobreponha este projeto
a edifícios como o Museu de artes de Bregenz,
Áustria, projetado por Peter Zumthor em 1997,
283
 além do armazém projetado por Herzog & de
Meuron em Laufen, Suíça, criado para a marca
suíça de pastilhas para tosse e balas Ricola, em
1987. O primeiro, de forma prismática, “com faces
de materialidade contínua que se interrompem
nas arestas: placas de vidro laminado translúcido
de mesmo tamanho, simplesmente apoiadas
em quatro pontos por componentes metálicos
iguais” (TAVARES, 2019), repetidos ao longo de
todas as quatro fachadas. O segundo, “revestido
com painéis cimentícios empilhados cujo peso
diminui de cima para baixo” (MOUSSAVI e KUBO,
2006, tradução nossa), ou seja, uma fachada
rítmica envolta em painéis cinza de alturas em
evolução, manipulação óptica que faz alusão às
proporções das ordens clássicas. Ambos projetos
têm soluções construtivas similares ao edifício
Mehrfamilienhaus Mit Energiezukunft, contudo,
aqui arquitetura e produção de energia elétrica
coexistem.
Este processo de pesquisa e desenvolvimento
de novos produtos é também materializado nos
projetos Umwelt Arena e Multi-family house in
Brütten. O centro de exposições não foi resultado
de um concurso, como muitos dos projetos deste
284
tipo. O arquiteto conta que o seu pai, Walter
Schmid, responsável por projetos de energia
alternativa na Suíça, como a produção de biogás
a partir de resíduos, decidiu construir esse centro
de exposições. Ele entendeu que a tecnologia
está pronta para usar, mas as pessoas não têm o
conhecimento do que é possível e muitas vezes
optam por escolhas um tanto ilógicas. Assim, no
Umwelt Arena você pode caminhar até o tópico
de interesse, alimentação por exemplo, e extrair
informações sobre: onde comprar os produtos,
empresas que fornecem os serviços, quais
hábitos inserir no dia a dia, comprar alimentos
que consomem menos energia para sua
produção, e assim por diante. “Talvez o principal
objetivo do Umwelt Arena não seja apenas
fornecer informação, mas emocionalmente
motivar o espectador que entende que estes
novos hábitos são economicamente viáveis,
muitas vezes incentivados pelo governo e mais
baratos se pensarmos em um ciclo de longo
prazo. É mais barato ter uma fachada fotovoltaica
do que construí-la de concreto ou madeira.
Mas você precisa ter acesso aos cálculos e ao
conhecimento prévio… Caso contrário, ninguém
285
 irá construir desta maneira. Hoje, nós podemos
construir edifícios que não consomem energia,
mas produzem energia!”.
Neste sentido, o edifício em Brütten foi
promovido pelo Umwelt Arena para provar
que é possível viver a partir da energia solar
no que se refere a mobilidade, aquecimento,
renovação de ar, serviços da casa como cozinhar,
lavar roupa, tomar banho, e assim por diante.
Schmid explica como alcançaram o seu caráter
autárquico: “a produção de energia a partir
do sol acontece com maior intensidade no
verão, com valores muito mais altos do que no
inverno. Mas quando analisamos o consumo
dos usuários, este pensamento está ao revés,
já que usamos mais energia durante o inverno
se comparado ao verão - isto no contexto Suíço.
Se imaginarmos estas variáveis em um gráfico,
as curvas serão opostas (produção de energia
versus uso). Quando as duas áreas do gráfico
são iguais, você está falando sobre edifícios de
energia zero. Porém, neste exemplo, no inverno
em que a demanda por energia é maior que sua
produção, você congelará… Sem o suficiente para
obter energia elétrica, ainda mais se não houver
286
empresa fornecedora de rede de abastecimento
como no caso de Brütten. Logo, é necessário
trazer o excedente produzido no verão para o
inverno. Fizemos este trabalho aumentando
a curva para maximizar a produção elétrica e
minimizar a necessidade de energia armazenada
(quanto maior a energia armazenada, maiores
os custos). Produzindo mais energia, ou seja,
com um sistema fotovoltaico superestimado,
conseguimos reduzir o déficit energético
durante o inverno para 11% e desenvolvemos
diferentes estratégias para armazenar a energia
do verão. Este jogo é um avanço enorme!“
Para alcançar esse resultado, todas as
fachadas e telhados são fotovoltaicos. Também
é necessário armazenar calor e energia por
um longo período de tempo. O que, para o
arquiteto, não é tão complicado. O complexo
está em armazenar energia elétrica. É possível
fazê-lo em baterias, carregá-las durante o verão,
mas quando chegar o inverno não haverá mais
energia armazenada no sistema, considerando
que baterias, depois de alguns meses, perdem
a sua capacidade de conservar a carga. Logo,
é necessário encontrar outras maneiras de
287
 reutilizar essa energia depois de um longo
período de tempo. “Para este fim, gás é uma boa
solução, assim como hidrogênio. Neste contexto,
em Brütten um carro também é abastecido
com o excedente de energia das fachadas e
telhado, com capacidade de rodar 10.000 km/
ano. Também, coletamos o lixo orgânico das
residências para produzir biogás... Sistema que
abastece outro carro com igual capacidade de
rodar 10.000 km/ano”.
Ainda, outras decisões para otimização
energética foram adotadas. Por exemplo, o
sistema de chuveiros, já que um banho quente
é a maior demanda de aquecimento em uma
casa. O sistema desenvolvido pela empresa
Joulia reaproveita o calor da água para minimizar
os gastos energéticos. Assim, a água utilizada
durante o banho, antes de chegar à tubulação
de saída, passa por uma “calha inteligente”
com água limpa e fria, que é preaquecida
pela água já utilizada que passará pela calha.
“Durante o banho você diminui em cerca de
30% a necessidade de aquecimento por causa
das trocas de calor que ocorrem dentro da
calha. Este é apenas um dos exemplos de todas
288
as escolhas feitas para o projeto em Brütten”.
Ademais, a solução usada no produto Joulia
Inline não utiliza componentes eletrônicos ou
mecânicos, portanto é uma solução barata e
totalmente integrada à estrutura existente.
No ano, a economia de energia do sistema
é equivalente à produção elétrica anual de
módulos fotovoltaicos monocristalinos em uma
área equivalente a 8 m² (JOULIA, 2016).
Outra decisão importante foi aperfeiçoar os
sistemas de troca de ar, medindo a concentração
de dióxido de carbono nos ambientes. “Quando
o valor é nulo, o edifício entende que não há
ninguém em casa e não haverá tantas trocas
de ar. O gasto de energia elétrica nessa função
também diminui bastante. Além disso, é mais
saudável já que, durante o inverno, a constante
troca de ar seca o ambiente e tira sua umidade.
Logo, quando você deixa as trocas de ar mais
eficientes, economiza energia no uso de
ventiladores, perde menos ar aquecido e menos
umidade. Todas as variáveis fazem com que os
resultados sejam muito bons também em um
sistema comum de aquecimento”. Esta escolha
é mais eficiente se comparada a sensores que
289
 reconhecem se há pessoas no ambiente ou não.
Esses sensores usam 1 W durante todo o dia
(24Wh/dia). Ou seja, gastará energia durante 24
horas, o que não caracteriza uma boa resposta
ao problema. Para Schmid, “às vezes faz mais
sentido usar soluções mais simples e que não
gastem energia quando não estão em uso. Por
exemplo: interruptores com timer, que desligam
as lâmpadas depois de certo tempo. Mas,
quando as lâmpadas estão desligadas, o sistema
pára de usar energia e fica adormecido. Esta foi
a escolha em Brütten”.
Em relação ao sistema de aquecimento, é
integrado à laje de concreto por meio de uma
grande quantidade de tubos e, diferente de
um sistema centralizado em poucos tubos,
têm menor necessidade de aquecimento da
água (entre 18 e 28 °C). A grande vantagem é
que, além da economia de espaço, o sistema é
dinâmico: se o ambiente estiver abaixo de 25°C,
o piso aumentará a temperatura, mas se estiver
a 27°C, por exemplo, o piso resfriará o ambiente.
Isso porque a laje, neste caso, estará mais fria.
Também, a partir da movimentação da água
nos tubos, é possível usar estratégias passivas
290
para aquecê-la: aproveitar a incidência solar na
face sul e transportar a água aquecida para a
porção norte do edifício. Referente à economia
espacial, a malha de tubos com água corrente
incorporados à laje de concreto transporta a
mesma energia térmica do que o ar, usando
menos de 0,03% do seu volume. A empresa
finlandesa UPONOR produz esse sistema, já
bastante difundido em novas construções na
Europa, com temperaturas muito inferiores aos
65 °C necessários nos antigos radiadores de
aquecimento central. Estes sistemas integrados
são denominados Thermally Active Building
(TAB) e apresentamos mais informações em
sequência, no estudo de caso 04.
No Multi-family house in Brütten, também
foram esgotadas as possibilidades geotérmicas.
Durante o verão, a água circula abaixo do solo,
onde acontecem trocas de calor (o solo tem
uma temperatura mais baixa e estável), e resfria
os ambientes internos do edifício. Isso com
pouquíssimo uso de energia elétrica. “Para este
projeto, nós também calculamos as dimensões
dos tubos, que são um pouco maiores, para usar
menos energia para bombear a água e diminuir
291
 perdas devido ao atrito com a superfície do tubo.
O mesmo ocorre para os fios elétricos, também
são um pouco maiores, o que garante menores
perdas. São inúmeros detalhes (figura 49)!”.
Em paralelo às soluções de otimização
energética está a educação dos usuários. Os
moradores do edifício recebem informações
sobre o seu consumo de energia, e este
conhecimento fez com que o consumo
baixasse de 10 a 15% porque agora os usuários
têm controle e entendem o impacto de suas
ações. “Ah, eu uso essa quantidade de energia
para tomar banho e gasto essa quantidade de
água!”. Os dados do comportamento do usuário
geram gráficos que mostram o excesso ou a
economia: para aqueles que excederam o uso
de energia elétrica, no final do ano pagarão mais
por isso, e aqueles que economizaram, serão
beneficiados financeiramente. Para o arquiteto,
“ao final, é quase como uma competição entre
os moradores: todos querem usar o mínimo
possível de energia, usar menos energia do que
calculamos como o consumo padrão/ mês. Cada
morador tem o poder de controlar se usa mais
ou menos energia do que o determinado... E isso
292
já causa uma tremenda economia”. Estes dados
são disponibilizados em um app acessado de
um tablet ou smartphone. Também é possível
programar o apartamento para determinado
uso, por exemplo, enquanto se assiste um filme
apagar todas as luzes, tudo para economizar
energia e fornecer também ferramentas para a
contribuição dos usuários nesta conta. Para sair
de casa, é só apertar no botão “goodbye” e tudo
desliga automaticamente. Assim, as escolhas
holísticas fazem com que o edifício não utilize
energia de fora, mas apenas a própria produção.
Tudo está exposto à comunidade no Umwelt
Arena, que também organiza visitas guiadas em
um dos apartamentos, destinado especialmente
para este uso (são 10 unidades habitacionais ao
total, apenas 9 ocupadas por famílias). Segundo
René Schmid, o resultado é muito positivo, já que
em nenhum momento se perde em conforto e
beleza, o que surpreende.
O próximo passo a partir das conquistas do
projeto em Brütten está em construir sistemas
colaborativos. Neste sentido, um exemplo é o
projeto Mehrfamilienhaus Mit Energiezukunft.
“Lá nós produzimos eletricidade durante o verão,
293
 o excedente é colocado na rede (on-grid). Na área
periférica, há uma grande planta de produção de
gás e o inserimos na rede de gás comum, para
armazenar a energia para o inverno. Durante
esta estação, usamos este gás em uma Hybrid
Box14, que é um gerador combinado com uma
bomba de calor, e assim é possível estabilizar o
sistema elétrico de maneira que gere energia
durante o inverno a partir do gás, além de
também aquecer o edifício. Logo, este projeto é
um sistema descentralizado em outras plantas
de geração que são capazes de produzir energia
durante o inverno”. É possível definir as soluções
e atacar o problema tanto no âmbito do edifício,
quanto da comunidade - neste caso, por ser uma
visão mais ampla, em uma escala maior, é muito
mais barato e as decisões são mais aprimoradas.
“Por exemplo, se você fizer o armazenamento de
energia apenas para você em um único edifício,
precisará de uma quantidade pelo menos 10%
maior por motivos de segurança. Quando você
conecta o seu edifício a uma rede maior de
geração de energia, esse número cai para 7%, já
que em alguns momentos você usará um pouco
mais de energia e seu vizinho um pouco menos,
14 Máquina que atende às demandas de calor para
aquecimento e água quente, assim como para resfriar
o edifício e aproveitar o calor residual, em um único
equipamento conectado à rede. Pode ser instalado em
qualquer tipo de edifício (HYBRIDBOX, s.d.).
294
em outro momento isto será o contrário, e assim
por diante. Quando o sistema é “colaborativo” a
medida de segurança pode ser menor, é muito
mais fácil otimizar o fluxo de energia, além de
o sistema tornar-se mais estável às possíveis
inconstâncias climáticas - pouco sol, períodos
de chuva prolongada, etc. Então o sistema
fotovoltaico é construído para que no inverno
exista esse extra de energia, além de minimizar
o delta15, minimizar a perda de energia. Quanto
menos energia precisarmos armazenar, melhor!”
Referências
FRONTINI, F., FRIESEN, T., VON BALLMOOS, C., DI
GREGORIO, S. Palazzo Positivo: renovation of a residential
building in Switzerland with BIPV facades. In: 29th European
PVSEC, Amsterdam, 2014.
GAISMA. ​​Zurich, Switzerland - Sunrise, Sunset, Dawn
and Dusk Times, Table. Disponível em: https://www.gaisma.
com/en/location/zurich.html. Acesso em: 25 fev 2022.
HYBRID BOX. Vom Wärmeerzeuger zu innovativen
Energiezentrale. Disponível em: https://www.hybridbox.
com/. Acesso em 02 fev 2022.
JOULIA. Joulia-Inline - EN. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=8K3hvYLQVT0. Acesso em 02 fev
2022.
15 Nas matemáticas e ciências aplicadas, delta é utilizado
como uma variável para indicar uma diferença no valor dessa
variável.
295
 MOUSSAVI, Farshid; KUBO, Michael. The Function of UMWELT ARENA. Multi-family House in Brütten.
Ornament. ACTAR, Harvard Graduate School of Design, Spreitenbach: Umwelt Arena, 2019.
2008. WEATHER SPARK. Condições meteorológicas médias
SOLAR ARCHITECTURE. [Site institucional]. Disponível em Zurique. Disponível em: https://pt.weatherspark.
em: https://solarchitecture.ch/. Acesso em 28 dez 2021. com/y/60160/Clima-caracter%C3%ADstico-em-Zurique-
SOLAR ARCHITECTURE. Umwelt Arena. Disponível em: Su%C3%AD%C3%A7a-durante-o-ano. Acesso em 02 fev
https://solarchitecture.ch/umwelt-arena-ag/. Acesso em 02 2022.
fev 2022. 3S SOLAR PLUS AG. MegaSlate CREA. Disponível em:
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family-house-in-brutten/. Acesso em 02 fev 2022.
SUPSI - SWISS BIPV COMPETENCE CENTRE e SEAC
- SOLAR ENERGY APPLICATION CENTRE. BIPV- Product
Overview for Solar Building Skins: relatório técnico. Lugano,
2017.
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Portraits and Key Figures: Portraits of the Communes.
Disponível em: https://www.bfs.admin.ch/bfs/en/home/
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SWI SWISSINFO.CH - ENGLISH. The house that provides
its own energy. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=BXVMTycVDM0. Acesso em 02 fev 2022.
TAVARES, Luís. Peter Zumthor: Poiesis. 2019. 344 f.
Dissertação (Mestrado em projeto de Arquitetura: Teoria e
Métodos) - Setor de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de São Paulo, São Paulo (SP), 2019. Disponível em: https://
teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-17102019-151205/
publico/MELUISFERNANDOZANGARITAVARES_rev.pdf.
Acesso em 02 fev 2022.

296 297
0 1 2 4 8m
301

0 1 2 3m
01 - módulo fotovoltaico 01
thin-film, acabamento opaco,
6mm, inclinação 29,5° 02
02 - sarrafo 30 mm
03 - caibro 60 mm 03
04 - rufo com pingadeira
05 - manta termo acústica 04
06 - placas de madeira intertravadas,
05
tipo “ISOLAIR 45” - 35 mm
07 - camada dupla de isolante de lã
mineral 06
08 - estrutura em madeira
09 - forro de madeira 07
10 - módulo fotovoltaico thin-film,
acabamento opaco, 6mm, 08
inclinação 90°
11 - camada de ventilação estruturada 10
por sarrafos - 100 mm
11

02

09

0 10 20 40cm
 Estudo de caso 04: House Schneller Bader
A casa Schneller Bader (figura 50), estudo
de caso 04, foi projetada pelo escritório de
arquitetura Bearth-Deplazes Architekten e
construída em 2016. Os serviços do escritório
foram contratados pelo casal Georgina Schneller
e Sascha Bader, para o projeto de uma casa
destinada à família com dois filhos. Encontramos
os dados nas descrições redigidas pelo Bearth-
Deplazes Architekten, pesquisa documental e
dados compartilhados por Daniel Ladner após
entrevista com a autora Sofia Dias no dia 27 de
novembro de 2019, das 9 ao meio dia, em Tamins,
Suíça, simultânea à visita ao edifício.
A casa está na cidade de Tamins (46°49’45”N,
9°24’16”E), comuna da Suíça pertencente ao
cantão de Grisões, localizada 128 km a sudeste
de Zurique. Com 1.217 habitantes e densidade de
29,9 habitantes por km², 1,4% da área da cidade
é destinada aos assentamentos urbanos, 16,4%
à agricultura, 50,9% é área arborizada e 31,3%
são ocupados por atividades não produtivas,
principalmente montanhas e rios - que fazem
parte da região tectônica de Sardona, patrimônio
304
da humanidade que abrange os cantões de
Grisões, São Galo e Glarona (SWISS FEDERAL
STATISTICAL OFFICE, 2020). Uma das sedes
do escritório de arquitetura Bearth-Deplazes
Architekten localiza-se na cidade vizinha Chur, a
10,6 km de Tamins, também nos Alpes suíços.
A temperatura média varia entre -6°C a
23°C e raramente é inferior a -11°C (WEATHER
SPARK, s.d.). Durante o ano, o céu é parcialmente
nublado e a época mais encoberta começa por
volta de 13 de setembro e dura cerca de 9 meses,
com 1.115 milímetros de chuva por ano. O período
de neve acontece entre os meses de setembro e
abril, com deposição sobre o solo durante alguns
dias. Segundo a figura 51, durante o solstício
de dezembro, o dia começará às 08h04min e
terminará às 16h36min, oposição aos longos dias
de verão que no solstício de junho começará às 6
horas e terminará às 21 horas. O inverno, além de
ter menor quantidade de irradiação disponível,
é o período de céu mais encoberto e, também,
com maiores demandas por aquecimento em
residências do hemisfério norte.
O peso histórico da cidade milenar incita
o desafio para a integração fotovoltaica à
305
50A

50B

Figura 51 - Diagrama do caminho do sol em Tamins

(GAISMA, 2022).
Figuras 50 - Casa Schneller Bader: telhado fotovoltaico
na face sul (50A) e telhado de fibrocimento na face norte Figura 52 - Visão romântica e idílica da arquitetura alpina
(50B) (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019). (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

306 307
308 309
 arquitetura, muito enraizada na cultura alpina
das montanhas e em elementos tradicionais.
Mesmo após os grandes incêndios de 1464
(Chur), 1799 (Tamins) e 1905, em que um quarto
de Tamins foi destruída (SCHELBERT, 2007), as
características mantêm-se presentes: cabanas,
chalés, estábulos, lojas de caça, abrigos para
pastores (ETHZ, 2010). Neste sentido, segundo
Adolph Stiller, no texto intitulado “Between
autonomy and integration, artefact and nature”
(ETHZ, 2010), a arquitetura alpina ainda é vista
como a destilação dos ideais dos habitantes das
cidades, visão romântica e idílica da natureza
domesticada, mostrada ao público internacional
em grandes exposições como a de Paris em 1900,
por meio de fotografias intituladas “Swiss village”
(figura 52.) Um movimento que cresceu dedicado
a preservar os estilos regionais e vestígios de uma
cultura desaparecida para a posteridade. “De
repente, os museus ao ar livre foram criados em
todos os lugares, apresentando [...] os utensílios
necessários para a vida nas montanhas” (ETHZ,
2010, tradução nossa). Um destes museus é o
Ballenberg, inaugurado em 1978, onde 100 casas
rurais estão expostas. Foram desmontadas e
310
transportadas até os 66 hectares de terras do
museu, trazidas de diferentes regiões do país
para “fornecer testemunhos arquitetônicos e
sócio-históricos da vida cotidiana e da cultura
rural do passado” (BALLENBERG, s.d.). Em 2007,
o museu, junto ao Departamento de Preservação
de Monumentos e o arquiteto Patrick Thurston,
modernizaram a construção de uma casa do
século XVI para o estilo de vida contemporâneo,
abastecida de mobiliário como a Eames Lounge
Chair e móveis de Jean Prouvé, fruto da parceria
com a empresa Vitra. A oposição entre interior e
exterior é evidente.
Eis que, na segunda metade do século
XIX e início do século XX, impulsionados por
exposições internacionais, embora de um ponto
de vista bastante diferente, alguns arquitetos
começaram a prestar atenção ao legado da
construção nas montanhas, entendido como o
substrato de séculos de adaptação (ETHZ, 2010).
Com o objetivo de documentá-lo e debatê-
lo, a tendência se intensificou e subsiste até
hoje. Arquitetos como Bruno Taut (“Alpine
Architektur”, 1917), Adolf Loos (“Rules for Those
Building in the Mountains”, 1913) e Le Corbusier
311
 (“Voyage d’Orient”, 1911) abordaram o tema para
incitar o desenvolvimento de novas propostas.
Para Taut, na forma de templos erigidos em
vidro e metal; para Loos, como crítica ao
pitoresco; e Le Corbusier, descrevendo os chalés
como alternativa generalizada e econômica da
casa burguesa, muito difundida na passagem
para o século XX nos centros urbanos europeus,
além de opção à ortodoxia dos classicismos
acadêmicos. Esses autores defendem a posição
de que esse “vislumbre do mundo sagrado”
(ETHZ, 2010) lançou as “bases para encenação”,
quando na verdade há argumentos mais sólidos
para que as edificações sejam levantadas a partir
de paredes, das montanhas e do sol.
É nesse contexto de debate arquitetônico,
ainda vigente, que a casa Schneller Bader foi
construída. A concepção de um edifício novo não
foi defendida como simples atitude de contrariar
o passado, mas oportunidade de explorar
os matizes, desenvolver as possibilidades,
incorporar tecnologias e coexistir a partir de
uma perspectiva crítica e de respeito ao passado.
Esta postura foi defendida por Andrea Deplazes,
um dos sócios do Bearth-Deplazes Architekten,
312
em entrevista apresentada em sequência no
estudo de caso 05. Mais ainda, sua implantação
também demonstra tal postura: está localizada
aos fundos da antiga casa da família Schneller,
em que a mãe de Georgina Schneller hoje reside
(figura 53). Logo, atrás da edificação de dois
andares, com estrutura de madeira, telhado,
venezianas e janelas tradicionais, está a nova
construção autônoma em energia, que abastece
um carro elétrico e sustenta linhas modernas -
em equilíbrio ao contexto local e à história da
família. A figura 54 mostra a relação entre as
duas construções.
Os arquitetos do Bearth-Deplazes Architekten
descrevem o projeto como “uma casa, longa
e estreita, posicionada entre um pátio e um
campo aberto, delimitando a paisagem como
um muro de contenção” (BEARTH-DEPLAZES,
s.d., tradução nossa), neste caso, um muro
de 20 metros de comprimento e 5 metros de
profundidade, dois pavimentos e um pequeno
porão. Ademais, ese “muro de contenção”
delimita também a transição entre níveis, para
um platô elevado que permite acesso direto ao
segundo andar da casa e à paisagem (figuras
313
 Figura 53 - Casa da família Schneller, construída há 100 Figura 55 - Casa como “muro de contenção” entre pátio e
anos. Onde a mãe de Georgina reside (DIAS, S. (fotógrafa), campo, face norte (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).
2019).

Figura 54 - Relação entre as duas construções: à frente a Figura 56 - Casa como “muro de contenção” entre pátio e
casa da mãe de Georgina e aos fundos a nova construção campo aberto, face sul (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).
(DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

314 315
57A 58A

57B 58B

Figuras 57 - Painéis deslizantes de madeira: face sul (57A) Figuras 58 - Sustentação dos módulos fotovoltaicos em
e face norte (57B) (DIAS, S. (fotógrafa), 2019). caibros e ripas de madeira, solução similar ao costume
tradicional (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

316 317
 55 e 56). Uma grande sala foi esculpida no andar
térreo, localizada defronte ao pátio articulador.
Dois quartos destinados aos filhos do casal
também estão no térreo, além do acesso ao
porão. No segundo pavimento, a sala de estar,
exposta à paisagem, é ladeada pelo dormitório
do casal, banheiro e escada de acesso. Os rasgos
em vidro na estrutura de concreto, que iluminam
e permitem a vista tanto da paisagem quanto do
pátio central criado no terreno, são protegidos
por painéis deslizantes que filtram a luz através
de ripas de madeira (figura 57).
Segundo o website https://solarchitecture.ch/
(SUPSI e parceiros), na face sul do telhado de
duas águas, a telha de fibrocimento é substituída
por módulos fotovoltaicos monocristalinos
de primeira geração, encapsulamento preto,
sem moldura de alumínio aparente e aqui o
backsheet do módulo é substituído por vidro.
Ocupam a área de 108 m², com potência de pico
de 17 kWp, produção energética de 22800 kWh/
ano, que perfazem 100% do consumo energético
da casa, além de gerar um surplus, excedente,
de 44%. Os módulos, com dimensões 1300 mm
x 875 mm x 6,5 mm e espessura de 5 mm, são
318
produzidos pela empresa suíça 3S Solar Plus
AG. O produto MegaSlate® II tem garantia de 10
anos, com desempenho garantido em 90% do
benefício mínimo e 25 anos com desempenho
garantido em 80% do benefício mínimo. Ainda,
tem garantia de resistência às intempéries igual
a 40 anos. A taxa de reciclagem é antecipada,
adicionada à compra do material (3S SOLAR PLUS
AG, s.d.). É solução destinada usualmente para
a remodelação de coberturas, com instalação e
detalhes técnicos muito semelhantes à inserção
de telhas tradicionais, levemente sobrepostas
e, neste caso, sobre uma estrutura de caibros e
ripas de madeira (figura 58).
Em uma cidade pouco densa e, também,
por estar implantada em área com a face sul do
edifício fotovoltaico voltada ao campo aberto, o
sistema não tem implicação de sombreamento
ou dificuldades encontradas em centros urbanos
densos. Mais ainda, mesmo que Tamins seja um
vilarejo chuvoso, com média de 122 dias de chuva
por ano, a casa ainda assim produz mais energia
do que a família precisa para viver. Segundo
o Building Integrated Photovoltaics: Product
overview for solar building skins Status Report
319
 2017 (SUPSI-SEAC, 2017), é possível classificar a
integração como solar tiles - telhas fotovoltaicas,
desenhadas para integrar-se à superfície
do telhado de maneira certas vezes quase
imperceptível. Resulta em mistura óptica, em
que o edifício novo não causa grande contraste
com as estruturas tradicionais de seu contexto.
Daniel Ladner é um arquiteto graduado na
Abend Technikum HTL Chur que, desde 1995,
junto a Valentin Bearth e An­drea De­plazes, é sócio
do escritório de arquitetura Bearth-Deplazes
Architekten, fundado em 1988. A empresa suíça
tem base em Chur e Zurich, com experiência em
diversos segmentos da arquitetura: instalações
culturais, edifícios governamentais, sedes
empresariais e residências privadas. A autora
Sofia Dias foi até o ponto de encontro para a
entrevista de carro, desde Zurique. A paisagem,
paulatinamente, mudou muito no trajeto e
quanto mais alto, menores as temperaturas
e maiores as mudanças na arquitetura. Em
entrevista (figura 59), Daniel Ladner respondeu
sobre o contexto de implantação do projeto
e quais outras estratégias de design estão
320
vinculadas à integração fotovoltaica. Também,
Georgina Schneller e Sascha Bader, moradores e
proprietários da casa, contribuíram na entrevista.
Segundo o arquiteto, sobre o edifício
fotovoltaico, “não foi algo pensado de início
pelos clientes, ou mesmo por nós. A geração
de energia surgiu como solução natural em
paralelo ao desenvolvimento do projeto, mas
não como um desejo idealizado a priori”.
Portanto, a produção de energia elétrica na
verdade é resposta às condições do terreno de
implantação, área rural, além de estar no limite
permitido para a construção de edifícios na
cidade. Ou seja, a orientação sul está totalmente
livre para produzir energia sem o risco de futuras
obstruções já que nada que ultrapasse esta linha
imaginária determinada pela legislação será
construído.
Assim, o terreno torna-se força motriz de
desenvolvimento do projeto, também no que
diz respeito à coexistência entre os edifícios
existentes e a nova edificação. “O terreno
pertence à família Schneller. A casa dos pais
de Georgina tem mais de 80 anos e a família
ainda trabalha com agricultura. A casa da
Figura 59 - Entrevista com o arquiteto Daniel Ladner
durante a visita técnica da casa Schneller Bader
(SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
321
322 323
 Figura 60 - Acesso principal e praça central do terreno, Figura 62 - Face sul e platô elevado, é o limite construtivo
onde as três casas convergem (DIAS, S. (fotógrafa), 2019). determinado pela legislação da cidade (SILVEIRA, F.
(fotógrafa), 2019).

Figura 61 - Casa da irmã de Georgina Schneller, construída Figura 63 - A relação entre diferentes usos e o platô
há 10 anos (DIAS, S. (fotógrafa), 2019). elevado: atividades rurais e criação de animais
(DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

324 325
 irmã, localizada na parte leste do terreno, foi
construída há mais ou menos 10 anos. As três
construções juntas formam uma praça central de
convergência e coexistência entre as diferentes
fases de crescimento da família: os pais, os filhos
e agora também os netos” (figuras 60 e 61). Para
Ladner, a escolha dos materiais está em função
também deste raciocínio: “madeira, concreto,
aqui entendido como “pedra líquida”, em um
design muito direto e simples, além de ciente
do contexto. A textura do concreto é similar à
do ripado de madeira que protege as aberturas
envidraçadas e revela a importância da forte
conexão entre a casa e o pátio central criado no
lote. Para manter a família unida. A cobertura
de duas águas também é parte desta resposta,
com uma das superfícies orientada para o sul.
Daqui onde estamos, na praça, você consegue
ver apenas a face do telhado em fibrocimento,
orientada para o norte. Agora, podemos subir o
platô elevado e ver o outro lado da casa” (figura
62).
Do platô (figura 63), é possível ver os animais
criados pela família, como os marrecos, por
exemplo. Também, desse ponto de observação,
326
fica fácil entender os limites da cidade. A partir
de tais variáveis, os arquitetos perguntaram-
se “poderíamos construir um telhado com
módulos fotovoltaicos?”, o que para Ladner
significa, basicamente, um telhado de vidro,
“uma solução realmente simples!”. A partir desta
solução de cobertura, deram muita atenção à
face interior da superfície do telhado para deixá-
la livre, permitindo que os módulos fotovoltaicos
fiquem expostos como nas soluções tradicionais.
“Assim, você pode enxergar a face interna dos
módulos nos trechos de beiral, como nas casas
antigas. No corpo da casa, há uma densa camada
de isolamento térmico, creio que na parte da
cobertura cerca de 20 cm de espessura somada
aos outros substratos. Logo, as peças em que é
possível enxergar-se as duas faces do módulo
fotovoltaico nuas, só estão nos beirais - onde não
há necessidade de isolamento. Dentro da casa,
a estrutura do telhado está escondida por estes
substratos de proteção”.
Como resultado, a casa produz cerca de 22.000
kW/h/ano, contudo consome apenas 15.000 kWh/
ano. O excedente, segundo Ladner, “incentivou a
família a comprar um carro elétrico, o que os torna
327
 autossuficientes também no uso do veículo… já
que agora eles têm energia sobrando” (figura
64). Mais ainda, a fim de aumentar a temperatura
dentro da casa, instalou-se uma bomba de calor
que, a partir da diferença de temperatura do ar,
move energia térmica na direção oposta ao fluxo
espontâneo de calor: neste caso, o ambiente
interno. Também produz água quente para o
aquecimento integrado à laje de concreto de 20
cm de espessura, a partir de tubos integrados
que, no inverno, transportam a água quente
para aquecer a casa. No verão, a água fria passa
pelos tubos e ajuda no resfriamento. Assim você
substitui o aquecimento central de radiadores
por um sistema mais eficiente ao aproveitar a
massa térmica do concreto para potencializar o
aquecimento ou resfriamento, solução também
utilizada nos estudos de caso anteriores e os que
virão a seguir. Nesta altura, presumimos que tal
solução seja comumente incorporada a novos
edifícios construídos na Alemanha e Suíça o
que implica em, para aquecer a casa, uma água
aquecida de 18 a 28 °C, temperatura muito inferior
aos 65 °C necessários nos antigos radiadores de
aquecimento central. Esses sistemas integrados
328
são denominados Thermally Active Building
(TAB) e encontramos informações disponíveis
no manual técnico da empresa finlandesa
UPONOR, além de um training webinar
intitulado: D8 Designing Thermally activated
building systems (TABS), datado de 29 de maio
de 2019, de mesma autoria. A empresa, localizada
predominantemente na Europa, mas também
presente na América do Norte e Ásia, produz
soluções de aquecimento e resfriamento por
meio de tubulações integradas às lajes, paredes,
em superfícies de teto, além de subprodutos
de tais soluções. Quando reduzimos o recorte
apenas para as lajes, o sistema de resfriamento
e aquecimento está totalmente integrado
à estrutura do edifício, portanto “os tubos
estão incorporados dentro do concreto da laje,
então toda a estrutura do edifício é aquecida
ou resfriada pelo sistema” (HYBRIDGEOTABS,
2020). Ideia que historicamente origina-se do
Norte da Ásia, especificamente China e Coreia,
sistema de aquecimento chamado Kang bed-
stove (figura 65) - volume elevado e aquecido
que ocupa metade ou um terço da área do
ambiente, utilizado para dormir à noite, além de
329
 Densidade output resfriamento (W/m)
40.0
70.0

Temperatura ambiente (˚C)

35.0
60.0
30.0
50.0
25.0
40.0
20.0
15.0 30.0

10.0 20.0

5.0 10.0
0.0 0.0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Tempo (horas)
temperatura temperatura temperatura
ambiente ambiente externa
nenhum sistema TAB

Figura 64 - Carregador veicular que abastece o carro Figura 66 - O sistema Thermally Active Building (TAB)
elétrico da família (DIAS, S. (fotógrafa), 2019). aumenta a massa térmica de edifícios. Em climas
extremos, muito frios ou muito quentes, precisará de
aquecimento ou resfriamento suplementar. Adaptado de
HYBRIDGEOTABS, 2019 (Autores, 2022).

Figura 65 - Sistema de aquecimento Kang bed-stove
compartilhado pelos hóspedes de uma pousada,
localizado abaixo do tablado em que estão as camas
elevadas (WIKIMEDIA COMMONS, 2012).
330
Figura 67 - Variação de temperatura de um ambiente sem
resfriamento (nenhum), com ar-condicionado e com TAB. No
último, os valores não são constantes, mas com variações em
que se mantém o conforto. Adaptado de HYBRIDGEOTABS,
2019 (Autores, 2022).
331
 outras atividades durante o dia. A ideia também
origina do Hipocausto, sistema de aquecimento
central em edifícios no Império Romano em que
o ar quente circula abaixo do piso do ambiente,
possivelmente aquecendo também as paredes
e o andar superior por meio de tubulação. A
interpretação moderna dessas soluções se deu
primeiro por meio da arquitetura para “utilizar os
espaços de maneira mais eficiente”, a exemplo
do sistema desenvolvido por Frank Lloyd Wright
para aplicar na série de casas Usonian houses em
1930. A grande diferença hoje está no uso de água
como fluido para aquecer ou resfriar, resultado
tecnológico de pesquisas mais recentes,
em que o objetivo primário não é substituir
condicionadores de ar ou sistemas de ventilação,
mas proporcionar resfriamento sensível e
aquecimento parcial, ou seja, um sistema
suplementar a outras medidas, principalmente
em contextos em que se atingem temperaturas
predominantemente gélidas ou muito quentes.
Neste sentido, expressamos o princípio de
funcionamento de um Thermally Active Building
(TAB) também graficamente (figura 66): a linha
tracejada demonstra a temperatura externa
332
em um contexto muito quente, enquanto na
linha amarela vemos a variação de temperatura
interna em um ambiente sem sistema de
resfriamento. A linha vermelha demonstra a
temperatura ao se inserir um sistema TAB, isto é,
água corrente em tubos integrados à estrutura
do edifício, aumentando assim a massa térmica
e o efeito de armazenamento de calor. Assim
como, na figura 67, também expressamos o
comportamento e variação de temperatura
entre um ambiente sem resfriamento, com
ar-condicionado e com o sistema TAB,
permitindo que a temperatura flutue entre
números mais desejáveis. Neste sentido, ao
voltarmos para o estudo de caso 04, fica claro que
a adoção de sistemas multifuncionais perpassa
tanto a produção de energia elétrica quanto os
sistemas de aquecimento e resfriamento - aqui
representado pelo sistema TAB, além de uma
bomba de calor. Também, soluções passivas: os
painéis deslizantes de madeira têm importância
no que diz respeito à economia de energia,
servindo como proteção solar, além de elemento
que garante a privacidade da família. “Em Tamins,
durante o inverno a temperatura chega a - 20 °C.
333
 Mas, no verão, alcança valores muito altos, quase
como o verão espanhol! A temperatura pode
chegar a 35 ou 37 °C. Durante o ano passado
o calor atípico se manteve durante 7 meses…
Algo muito incomum para a Europa Central”.
Portanto, o vínculo entre espaço e energia está
selado em diversas camadas de complexidade
neste projeto.
Para Sascha Bader, sobre a esfera social, sua
casa “é uma integração apropriada para este
contexto. Existem várias situações em que as
pessoas tentam construir ‘novas casas com cara
de antigas’... Mas eu pessoalmente acredito que
isto não é bom. Por que fazer isso? Eu não sou
um arquiteto, mas não acho ser uma boa ideia.
Especialmente neste cantão (Grisões), onde
estamos, acredito haver sensibilidade neste
sentido, interesse em arquitetura… Talvez o
maior interesse, se considerada a área alpina, nas
montanhas. Além da influência de arquitetos
como Peter Zumthor”16. Bader acredita que isso
se dá devido à posição geográfica da cidade,
próxima à Itália, é possível atravessar o vilarejo
e chegar em diferentes localidades - em outras
áreas alpinas você só pode entrar na cidade, mas
16 Arquiteto laureado com o Prêmio Pritzker em 2009, teve
grande influência de sua formação no ambiente artesão
e experiência profissional voltada ao patrimônio histórico,
em especial o contexto suíço-alemão da década de 80.
Destacamos os projetos: Capela San Benedetto, Termas de
334 Vals e Museu de Artes de Bregenz.
não pode atravessá-la, portanto estão totalmente
isoladas e, de certa forma, autorreferenciadas.
Também menciona o fato da pluralidade
cultural e diversidade de línguas faladas na
Suíça. “Nós falamos suíço-alemão e nosso filho
aprende com a mãe de Georgina o romanche
antigo.... que é uma rica porta de entrada para
falar francês e italiano em sequência. Poucas
pessoas falam romanche, talvez cerca de 40.000
pessoas, especialmente do cantão de Grisões.
O que confere muita facilidade para aprender
outras línguas! Georgina, por exemplo, fala
quatro línguas”. Para Georgina Schneller, em um
país tão pequeno, coexistirem quatro línguas
diferentes é uma diversidade incrível.
Sobre a escolha de construir um edifício
fotovoltaico, Bader conta que “sendo honesto,
não tínhamos a intenção de construir uma casa
“tecnológica”. Também, no início, para mim
era uma questão financeira: isto é factível?
É mais barato do que outras soluções mais
tradicionais? Vimos que não é caro como
imaginávamos, menos ainda com o incentivo do
governo, que 30% do investimento realizado no
sistema fotovoltaico é devolvido ao consumidor.
335
 Acredito que a face sul do telhado custou 40.000
francos suíços e tivemos um retorno de 15.000
francos devido ao incentivo governamental.
Meu segundo questionamento foi: se ninguém
está fazendo isso, por que deveríamos fazê-
lo? Acredito que é uma mensagem muito
importante para as próximas gerações e também
uma autonomia para nossa família. Mas, para
isto, deveríamos integrá-los devidamente e não
apenas posicionar módulos em cima do telhado.
Claro, sabíamos que com isso havia um risco: um
investimento inicial maior e desenvolver a casa
além do que imaginávamos no início”. Ao final, o
resultado foi muito positivo. “Hoje eu gosto mais
deste lado da casa (face sul), do que do outro lado.
É elegante. Antes, esta questão foi um problema:
parecerá “artificial”? Mais “frio”? Mas hoje eu
gosto muito dessa materialidade! Acredito ser
uma ótima solução”. Para Daniel Ladner, a casa
é muito rápida de construir e é uma solução que
usa o mínimo de material possível. “Diria que não
é algo muito complexo, isso também no âmbito
conceitual. Pensamos e colocamos muito esforço
em deixar o projeto realmente simples e direto…
o que é completamente diferente de banal ou
336
ordinário, já que são soluções, se analisadas em
um espectro mais amplo, pouco difundidas e
que alcançam resultados muito satisfatórios”
(figura 68).
Referências
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Testimony. Disponível em: https://www.ballenberg.ch/en/
themes/house-styles. Acesso em 02 fev 2022.
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Disponível em: https://bearth-deplazes.ch/en/projects/
house-schneller-bader-tamins/. Acesso em 02 fev 2022.
ETHZ. NEW Monte Rosa HUT SAC: Self-Sufficient
Building in the High Alps. Zurique: ETH Zurich (ed.), 2010.
GAISMA. Chur, Switzerland - Sunrise, Sunset, Dawn and
Dusk Times, Table. Disponível em: https://www.gaisma.
com/en/location/chur.html. Acesso em 25 fev 2022.
HYBRIDGEOTABS. Training Webinar - D8 Designing
Thermally Activated Building Systems (TABS) 29
May 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=v6Db78xKQwQ. Acesso em 02 fev 2022.
LE CORBUSIER. A Viagem do Oriente, 1910-1911. São
Paulo: Cosac & Naify, 2007.
LOOS, Adolf. Regeln für den, der in den Bergen baut.
In Opel A (ed.), Adolf Loos: Über Architektur. Ausgewählte
Schriften. Die Originaltexte. Georg Prachner Verlag, p. 121–
122, 1995.
SCHELBERT, Leo. Historical Dictionary of Switzerland.
Toronto: The Scarecrow Press, 2007.
Figura 68 - Entrevista com Geor­gina Schneller, Sascha Bader
e Daniel Ladner (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).
337
338 339
0 1 2 4 8m
0 1 2 3m
 01 - painel fotovoltaico
02 - sarrafo 60x80 mm
03 - caibro 180 mm
07 04 - chapa ondulada de fribrocimento
05 - bloco de madeira
02
06 - proteção contra insetos em cobre
03 07 - cumeeira em cobre com pingadeira
08 - feltro
04 09 - placa de fibra com baixa densidade (LDF)
10 - isolamento térmico Isofloc 280mm
05 11 - barreira de vapor
12 - compensado de painéis de madeira
06
maciça (three-ply)
04

02

01

08

03

09

10

02
0 10 20 40cm
01 - painel fotovoltaico
02 - contra-sarrafo 30 mm 01
03 - compensado de painéis de madeira
maciça (three-ply) - 40 mm 02
04 - barreira de vapor
05 - estrutura em madeira 04
06 - isolamento térmico
07 - calha metálica com pingadeira 05
08 - folha de vedação
06
09 - paineis de fibrocimento
10 - lâminas de alumínio
11 - painel sanduíche termo isolante
07

08

09

03

10

0 10 20 40cm
 SOLAR ARCHITECTURE. [Site institucional]. Disponível
em: https://solarchitecture.ch/. Acesso em 28 dez 2021.
SUPSI - SWISS BIPV COMPETENCE CENTRE e SEAC
- SOLAR ENERGY APPLICATION CENTRE. BIPV- Product
Overview for Solar Building Skins: relatório técnico. Lugano,
2017.
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Portraits and Key Figures: Portraits of the Communes.
Disponível em: https://www.bfs.admin.ch/bfs/en/home/
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TAUT, Bruno. Alpine Architecture (junto com Paul
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WEATHER SPARK. Condições meteorológicas médias
em Tamins. Disponível em: https://pt.weatherspark.
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WIKIMEDIA COMMONS. File: Long White Mountain - p235
- Interior of an inn.png. Disponível em: https://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Long_White_Mountain_-_p235_-_
Interior_of_an_inn.png. Acesso em 02 fev 2022.
3S SOLAR PLUS AG. MegaSlate CREA. Disponível em:
https://3s-solarplus.ch/produkte/megaslate-crea/. Acesso
em 02 fev 2022.
348
Estudo de caso 05: New Monte Rosa Hut
O New Monte Rosa Hut (figura 69), estudo de
caso 05, também foi projetado pelo escritório
de arquitetura Bearth-Deplazes Architekten
em parceria com a universidade ETHZ. Foi
construído em 2009 no maciço Monte Rosa,
próximo a Zermatt (46°01’16”N 7°44’44”E), Suíça.
Encontramos os dados por meio de pesquisa
documental realizada principalmente a partir
do material compartilhado por Daniel Ladner
após entrevista com a autora Sofia Dias, o livro:
New Monte Rosa HUT, Self-sufficient building
in the high Alps, publicado pela ETH Zurich
(2010). Também, a aula online disponível pela
École Polytechnique Fédérale de Lausanne
com o professor e arquiteto Andrea Deplazes
(ARCHIZOOM EPFL, 2010).
Já que Zermatt é uma das regiões de esqui
mais visitadas no mundo, é um contexto bastante
diferente dos mencionados anteriormente. A
cabana está ao pé do Monte Rosa, um maciço
montanhoso que faz parte dos Alpes ocidentais,
onde o ponto mais alto é o Pico Dufour com 4.634
349
 metros. É fronteira entre Suíça e Itália, no Vale
de Aosta na Itália e no cantão do Valais na Suíça.
Está também próximo a Matterhorn, talvez a
montanha mais conhecida dos Alpes, portanto é
destino turístico para interessados em esportes de
inverno e tracking. A experiência física é intensa
devido à alta altitude, ainda assim o montanhismo
tornou-se um esporte das massas, com uma
ampla gama de atividades, principalmente depois
da Segunda Guerra Mundial (ETHZ, 2010). Desde
1979 existe um “teleférico até o Klein Matterhorn
(3.885 metros de altitude), enquanto o número de
visitantes em Zermatt aumentou constantemente
para os atuais 1,8 milhões de pessoas por ano”
(ETHZ, 2010). Zermatt, antes com atividades
predominantemente agrícolas, hoje tem 5625
habitantes vivendo de atividades relacionadas ao
turismo das montanhas. Também, a construção
do túnel Lötschberg facilitou muito essa relação
econômica: permite que, desde Zurique, uma
visita ao New Monte Rosa Hut fique a apenas
um dia de viagem. Segundo o Swiss Info, desde a
estação de trem Rotenboden, próxima a Zermatt,
leva-se cerca de duas horas e meia de caminhada
até o edifício – hospedagem custando 24 francos
350
suíços (CHF) a pernoite (equivalentes a cerca de
R$ 142, o câmbio a 5,94 R$ por franco).
A temperatura média em Zermatt, que está
a 1620 metros de altitude, varia entre -12 °C a 12
°C e raramente é inferior a -17°C ou superior a
16°C . No ano, durante cerca de 9 meses o céu
estará encoberto. O período mais intenso com
neve tem duração de 10 meses, de 27 de agosto
a 1 de julho, com temperaturas que variam
predominantemente entre muito f rio (0°C a
7°C), gélido (0°C a -9°C) e congelante (abaixo de
-9°C) (ZERMATT, MATTERHORN, s.d.). Nos maciços
montanhosos como o Monte Rosa, a acumulação
de grandes massas de neve, que regula a oferta de
água potável na região, também aumenta o risco
de avalanches e acidentes devido ao ar rarefeito.
Mais ainda, nesses locais as temperaturas podem
cair para -30°C e as rajadas de vento atingir a
velocidade de 250 km/h (ETHZ, 2010). Logo, o New
Monte Rosa Hut é resposta a este contexto, que
exige uma pele quente e à prova de intempéries
para proteger o usuário das condições climáticas
rígidas. Em fotografias de estruturas totalmente
congeladas como a da cabana Capanna Regina
Margherita (figura 70), construída há 40 anos a
351
 4.559 metros de altitude, tal relação é evidenciada.
Para o projeto, houve um esforço colaborativo
entre a universidade ETHZ e o Swiss Alpine Club
(SAC), clube de montanhismo que tem por missão
gerir e assegurar a manutenção de mais de 153
cabanas de montanha pulverizadas no maciço
montanhoso suíço - se somadas às demais
associações alpinas, este número chega a 1300
cabanas. Para construir a nova cabana, com o
objetivo de atualizar a antiga cuja história data de
1895, foi necessário esforço financeiro de diversos
parceiros em empreitada que levou três anos para
se concretizar (ETHZ, 2010). A parceria também é
um marco de celebração dos 150 anos da ETHZ,
como símbolo de sua relevância no cenário
nacional e internacional, líder em pesquisas e
avanços tecnológicos. Assim, muitos estudantes
participaram do processo, em um estúdio de
projeto arquitetônico e laboratório de pesquisa
abastecido pelos dados de funcionamento do
edifício após construção, principalmente no que
concerne eficiência energética e fornecimento
de água, parte de um sistema experimental que
está ligado a seu entorno por fluxos de energia
e informações do que acontece no ambiente
352
externo. O estúdio de arquitetura teve início em
2003, denominado “ETH Studio Monte Rosa”,
composto por 12 alunos. Com duração de quatro
semestres, o grupo desenvolveu a proposta para
o projeto arquitetônico, disciplina guiada pelo
professor Andrea Deplazes - sócio, também,
do escritório Bearth-Deplazes Architekten. O
processo, descrito por Deplazes em aula para a
École Polytechnique Fédérale de Lausanne, em
Lausanne, Suíça, é marcado pelo refinamento
em cada fase de desenvolvimento e definição
de premissas, além de trabalho em equipe
interdisciplinar (ARCHIZOOM EPFL, 2010). Aqui
também é importante mencionarmos que,
diferente do contexto f ísico de implantação
do edifício, no que diz respeito à arquitetura é
congruente com o estudo de caso 04: enraizado
na cultura alpina das montanhas e em elementos
tradicionais, portanto um desafio a ser transposto
em propostas arquitetônicas mais arrojadas. Um
bom exemplo é a antiga cabana Monte Rosa Hut,
o edifício predecessor (figura 71). Representa uma
tradição de alpinismo fortemente influenciada
pelos interesses de um estado-nação, isto é, um
conceito condicionado pela história suíça.
353
 Segundo Deplazes (ARCHIZOOM EPFL, 2010), no
primeiro semestre, 12 propostas de edifícios foram
projetadas pelos alunos. Destes, as 6 melhores
soluções foram escolhidas como premissas a
serem refinadas no segundo semestre. Assim
os mesmos 12 alunos desenvolveram novas
propostas a partir das premissas escolhidas:
debruçaram-se sobre a perspectiva de um dos
edifícios do semestre anterior, um edifício dado
como tarefa de análise para cada 2 alunos. O
resultado do segundo semestre foi, novamente,
12 projetos. No terceiro semestre escolheram os 4
melhores resultados do semestre anterior como
premissas a serem desenvolvidas, a cada 3 alunos,
em novas propostas. Novamente a análise resultou
em novos 12 projetos. E então, para o quarto
semestre, escolheram as 2 melhores propostas
para servir como premissas de trabalho em times
de 6 alunos. Isto para chegar à decisão final que,
em algum ponto, foi trabalhada e lapidada por
todos. Ademais, todos os especialistas que um
arquiteto precisaria em um moderno escritório de
arquitetura, estiveram à disposição para consulta.
Sobre a proposta f inalista, é importante
considerarmos que construir algo em um lugar
354
que pode ser muito frio à noite, ou no inverno,
além das temperaturas extremas, estar carregado
de densas camadas de neve, sem conexão com
suporte urbano, implica solucionar questões que
permitam a vida humana em ambiente hostil. Para
tal, é necessário um volume realmente compacto,
def inido por Deplazes como “corpo mínimo
envolto por superfície mínima” (ARCHIZOOM
EPFL, 2010). Tal pensamento conduz à imaginação
de uma esfera, forma geométrica compacta,
mas com elevada dificuldade construtiva para
materialização da forma. Dito isto, ao cortar a
esfera, criando algumas áreas planas na superfície,
fica mais fácil produzir esses elementos no mundo
real. As condições propostas em tal exercício,
visualizadas com facilidade no diagrama da
laranja (figura 72), criaram aparato tátil para a
conceituação e concepção do New Monte Rosa
Hut.
Outra asserção feita após várias
experimentações no estúdio: não é possível
construir in situ, não é possível usar concreto
(principalmente por questões f inanceiras),
a solução está em desenvolver estratégias
pré-fabricadas para produzir as células
355
 Figura 70 - Capanna Margherita em condições climáticas
extremas (WIKIMEDIA COMMONS, 2021).

Figura 69 - New Monte Rosa Hut, nova cabana construída Figura 71 - A cabana antiga foi destinada para abrigar os
nos Alpes Suíços próximo à Zermatt (WIKIMEDIA trabalhadores da obra e está 90 metros abaixo do New
COMMONS, 2011). Monte Rosa Hut (WIKIMEDIA COMMONS, 2006).

356 357
 que materializam o edif ício, peças a serem
montadas no local (ETHZ, 2010). Logo, a unidade
de pensamento está baseada nestas células
(voxels, se comparadas ao pensamento de Maas
em Porocity) e intervalos vazios que resultam
em sua porosidade. A próxima questão foi sobre
como transportar tais células. Alguns alunos
questionaram a possibilidade de construir um
transporte aéreo por cabos e, a partir de um
teleférico, enviá-las de algum vilarejo próximo
até o canteiro de obra. Tal ideia é tecnicamente
possível, mas financeiramente impraticável. Logo,
a melhor solução foi o transporte por helicóptero.
Um exemplo da diligência exigida neste tipo de
projeto, já que helicópteros são caros (custo por
hora de voo) e carregam peso limitado por sua
capacidade.
Portanto, tal decisão implicou em utilizar voos
o mínimo possível, também reduzir o peso do
edifício já que a cada kg extra os preços subiriam
ainda mais. Novamente, a escolha por construção
leve e pré-fabricada foi confirmada. Das opções
disponíveis, o metal não é um material tão leve
assim, o plástico não atende a agenda de materiais
naturais, resultando na escolha da madeira como
358
solução construtiva. Aqui ressaltamos novamente
a importância do helicóptero que, mais do que o
transporte, serviria como um guindaste na obra
para posicionar as peças e levantar a construção.
Isso significa que é necessáriade alta precisão para
posicionar os elementos o mais rápido possível - já
que quanto mais tempo de voo, maior o custo e
o risco para o condutor. Deplazes narra que para
essa tarefa os estudantes propuseram que os
dormitórios da cabana fossem as células a serem
transportadas, simulando o deslocamento no
maior helicóptero disponível na Suíça: o Kaman
(K-MAX), capaz de carregar 2.722 kg por viagem. O
resultado das simulações foi que quando as peças
fossem penduradas a 200 metros do helicóptero,
as cordas se romperiam com a força descendente
dos rotores que causam fortes rajadas de vento.
Consequentemente a decisão foi simular a carga
a 100 metros do helicóptero, que desta vez não
seria destruída, contudo no canteiro de obras
o “helicóptero guindaste” sofreria para içar as
peças com o movimento de pêndulo. Portanto,
a escolha final foi, com um helicóptero menor e
células também menores (600 kg), pendurá-las a
20 metros e buscar a precisão para a montagem
359
 in loco (ARCHIZOOM EPFL, 2010). “Estendendo-
se por todos os cinco andares, o sistema espacial
e estrutural resulta em um denso pacote de
cinquenta células em forma de trapézio” (ETHZ,
2010, tradução nossa), divididas em partes
menores para o transporte e montagem. Mais
ainda, a estrutura inteiramente de madeira
precisou ser transportada e construída entre
maio e setembro, devido às condições climáticas
impostas em uma altitude de 2.883 metros.
Deplazes (ARCHIZOOM EPFL, 2010) descreve
que foi como o desafio ao homem primitivo, de
construir uma casa em área inabitada. Logo,
todas as decisões foram analisadas sob um novo
olhar: desde o transporte de peças para o canteiro
de obras, produção de energia elétrica, até o
que fazer com os restos de comida, dejetos dos
banheiros, etc. Também, decidir o local ideal para
a implantação, já que a cabana antiga (figura 71)
foi destinada para abrigar os trabalhadores da
obra – está 90 metros abaixo do New Monte Rosa
Hut. Neste sentido, os estudantes trabalharam
no projeto, em seus próprios computadores e
programas, mas com informações abastecidas
pelo edifício em construção e também pelos
360
especialistas em tempo real. Assim, segundo
Deplazes (ARCHIZOOM EPFL, 2010), a partir dos
dados compartilhados foi possível desempenhar
mais livremente nas decisões durante o processo
e alcançar resultados satisfatórios, além de
precisos.
Do ponto de vista construtivo, os painéis de
madeira pré-fabricados são uma solução banal
de montagem. É como um castelo de cartas
em peças de madeira. Foram construídos
cinco andares de madeira, fundações de pilotis
metálicos e também fundação de concreto
para estabilidade contra a torção. Assim, todo
o edifício é elevado da superfície do terreno -
porque a pedra congela – e é bem ancorado por
causa da altitude e fortes ventos. Resulta em
um peso igual a 280 toneladas, distribuído em
cinco pavimentos “estruturados em forma de
estrela, com uma construção radial” (ETHZ, 2010,
tradução nossa). Destes, o subsolo destina-se aos
equipamentos técnicos e à despensa (para botas
e equipamentos de ski). Na realidade, não está
enterrado no solo, solução comumente adotada
em subsolos, mas localiza-se no desnível sobre
qual o edifício se apoia. No nível térreo (figura
361
 73) está o restaurante e a cozinha e os próximos
três andares foram destinados aos alojamentos.
A decisão de implantar o restaurante no térreo foi
um tanto pragmática: se estivesse no terraço do
edifício, com lindas vistas, o staff para trabalhar
na cabana precisaria ser maior, o que também
implica em maior demanda energética. Hoje, a
equipe que trabalha na cozinha do New Monte
Rosa Hut resume-se a duas ou três pessoas. Para
resolver a questão das vistas, a solução estrutural
no pavimento térreo permitiu sua característica
aberta e ciente do entorno, diferentemente dos
andares seguintes.
Para Deplazes (ARCHIZOOM EPFL, 2010), um
elemento muito importante no projeto é a escada
espiral que acompanha os rasgos em vidro, ou seja,
as porções esculpidas nesse volume compacto e
com superfície reduzida. A partir desse elemento,
cria-se interessante panorama e conexão com
o exterior. É muito importante também por
questões energéticas, já que a incidência solar
justifica estratégias passivas para o aquecimento
dos ambientes a partir da radiação solar.
Naturalmente, pelo processo de convecção, o calor
sobe na forma de ar quente, para os dormitórios,
362
e aquece os habitantes nas noites rígidas e frias.
Muito simples, mas também muito eficiente,
porque a ventilação dos dormitórios puxa esse
fluxo quente para os ambientes e, considerando
o contexto de implantação do edifício, graças à
reflexão difusa da geleira e as rochas claras e altas
(albedo com valor de aproximadamente 95%)
“a insolação direta e difusa resulta em radiação
positiva mesmo na face norte do edifício” (ETHZ,
2010, tradução nossa).
Esta estratégia arquitetônica contribui muito
para o ganho de energia (ETHZ, 2010). Mais ainda,
este também foi um momento chave para a
equipe de projeto: Deplazes (ARCHIZOOM EPFL,
2010) relatou a fala de um dos integrantes de que a
decisão era louca, que o melhor seria uma escada
racional no centro da planta, com menor uso de
espaço, com maior número de quartos conectados
diretamente à fachada, discurso que é muito
similar ao balanço de variáveis comentado nos
estudos de caso anteriores, ou seja, escolhas em
detrimento de outras. Nesse caso, os estudantes
de arquitetura precisaram simular e calcular as
possibilidades, provar se a afirmação de uma
escada central e “racional” era verdadeira ou não.
363
72A

72B

72C

Figuras 72 - Diagrama da laranja: cortar a esfera, criando Figura 73 - Restaurante no nível térreo, estrutura e
algumas áreas planas na superfície para facilitar a sua acabamentos em madeira (WIKIMEDIA COMMONS, 2010).
materialização (ETHZ, 2010).

364 365
 A partir destes experimentos provou-se que a
escada espiral era efetivamente a solução racional
para este projeto, a mais eficiente, com melhores
resultados e, ainda assim, gerando um produto
espacial muito interessante: “o espaço que contém
as escadas tem altura dupla e assim se expande
sucessivamente na escada e contrai novamente
nos dormitórios” (ETHZ, 2010, tradução nossa).
Isto implica em diminuir a superfície disponível
de fachada para integração fotovoltaica, mas
resulta em maior ganho passivo de energia, vista
panorâmica, mesmo no pavimento térreo, que
acompanha também o movimento da escada.
É parte da expressão do edifício, servindo como
referencial em que “pesquisadores podem
ver a paisagem, luz e o clima de um ponto de
observação seguro e monitorá-los ao longo do
dia. À noite, atua como um brilhante sinal para
fornecer orientação aos montanhistas” (ETHZ,
2010, tradução nossa). Portanto, em uma mesma
face, “dois conceitos primários de energia - uso
ativo e passivo da energia solar - são sobrepostos
em uma emblemática composição” (ETHZ, 2010,
tradução nossa).
366
Diametralmente, as janelas esculpidas nos
dormitórios são pequenas perfurações em que,
devido às dimensões reduzidas, há acesso de
luz natural durante o dia, mas maior isolamento
térmico durante o dia e a noite, quase como uma
caverna de madeira. Cada dormitório possui
duas janelas e “este princípio sistemático leva
a uma distribuição aparentemente irregular
de janelas” (ETHZ, 2010, tradução), quando na
verdade é resultado da distribuição axial do
edifício. Neste sentido, a empresa parceira que
solucionou os diferentes elementos da fachada e
ficou responsável por sua execução foi a Wicona,
especialista em soluções deste tipo, considerando
o grau de complexidade da geometria de dupla
curvatura.
A cabana é 90% autossuficiente, abastecida
por sua própria produção de energia elétrica,
portanto independente de sistemas externos
neste sentido (ETHZ, 2010). Os 10% faltantes são
a fatia na matriz que se refere ao abastecimento
de comida, em região estéril que precisa ser
nutrida a partir de fontes externas de alimento.
Aqui incentivamos uma experiência interessante
para entendimento do contexto, tão contrastante
367
 ao brasileiro: o documentário da emissora Netflix
Chef’s Table, sexto episódio, primeira temporada,
sobre o restaurante Fäviken dirigido pelo chef
Magnus Nilsson. Vá até o minuto 23, ali ficam
claras as dificuldades em se cozinhar em um
contexto onde nada cresce durante 6 meses do
ano, como conviver com as diferentes estações e
conservar alimentos para o inverno rigoroso em
Järpen, pertencente à comuna Åre, Suécia.
A região é o centro principal do esqui alpino na
Suécia, e nela em janeiro, o mês mais frio do ano,
as temperaturas mínimas diárias são em média
-9 °C, raramente cai abaixo de -20 °C ou superior
a 1 °C. Se colocarmos lado a lado a altitude de
Järpen, 324 metros, e a altitude do New Monte
Rosa Hut, 2.883 metros, torna-se ainda mais
intuitiva a questão da escassez de suprimentos
em um terreno rochoso e congelado.
Portanto, o New Monte Rosa Hut é síntese de
inúmeros e, algumas vezes, conflitantes critérios
que resultaram no equilíbrio energético. Foram
usadas regras precisas, executadas por meio de
operações técnicas e geométricas para conceber
um volume solitário que por meio de uma “forma
compacta oferece proteção contra o frio, vento e
368
clima” (ETHZ, 2010, tradução nossa). Desenhada
a partir do ideal de uma esfera, a construção
“maximiza o espaço interior e minimiza a área
de superfície e, portanto, a perda de calor através
da pele do edifício” (ETHZ, 2010, tradução nossa).
Assim, a forma compacta e a escada espiral,
que permitem a incidência solar e com isto o
aquecimento passivo do espaço, constituem
a espinha dorsal arquitetônica para alcançar
um edifício quase autônomo. Partindo para as
soluções técnicas da fachada, é a mistura de duas
estratégias: economia de energia e captação de
energia. É feita com uma camada de 30 cm de
isolamento térmico, a fim de evitar a perda de
calor, coexistindo com a faixa de janelas que se
estende em volta da construção, dimensionada
para obter suficiente radiação solar sem prejudicar
a geração de energia elétrica. É a mistura de
soluções high tech (integração fotovoltaica) com
low tech (revestimento metálico), já que a fina
camada de alumínio (0,8 mm de espessura) não
representa solução pré-fabricada, mas resposta
tradicional de fixação de chapas metálicas para
proteção da camada de isolamento térmico
contra a água, vento e clima. “A folha de metal
369
 foi aplicada usando técnica tradicional, em tiras
individuais, ligadas em conjunto por uma “costura”
de tiras menores seladas” (ETHZ, 2010, tradução
nossa). Mais ainda, considerando a neve fina
unida aos fortes ventos e as cargas de umidade,
para passagem de ar e ventilação criou-se uma
cavidade atrás da fachada, por não ser totalmente
hermética a essas adversidades. Da mesma
forma, os módulos também são ventilados para
dissipar o efeito da termalização, portanto, como
nos estudos de caso anteriores, é um exemplar
Rain-screen façade (cold façade) - fachada “fria”. É
também importante ressaltarmos que as soluções
da cabana foram aplicadas há 13 anos, além de o
estúdio de arquitetura ter sido iniciado em 2003.
Segundo Ladner, em entrevista com a autora
Sofia Dias, “são soluções que hoje poderiam ser
outras se considerado o avanço tecnológico. Mas
que, ainda assim, desempenharam bem a tarefa,
principalmente se considerarmos a manipulação
da forma versus melhor desempenho energético”.
Com isso considerado, a fachada fotovoltaica
está na face sul e os 92 módulos monocristalinos
de primeira geração, com encapsulamento na
cor preta, ocupam área igual a 110 m². A face está
370
inclinada para a melhor conversão elétrica, neste
caso 66,2°. Os módulos têm dimensões 1440 mm
x 840 mm e “dependendo da situação da luz, a
superfície pode parecer um plano preto, como
um buraco abstrato, ou refletir as montanhas
e o céu” (ETHZ, 2010, tradução nossa). Portanto,
se pensarmos no interior do edifício, a fachada
sul será opaca e sem aberturas e os quartos dos
hóspedes terão janelas nas faces laterais ou a partir
de clarabóias. Há, também, sistema fotovoltaico
suplementar tipo on-ground, instalado no terreno
próximo ao edifício e usado apenas quando em
péssimas condições climáticas e baixa incidência
solar ou durante o pico de ocupação da cabana
(120 pessoas, podendo abrigar mais 12 em casos
de emergência), além de fornecer margem
energética de segurança. O consumo para
funcionamento do edifício é de 17.500 kWh/ano
para o aquecimento de 899 m², 3.500 kWh/ano
para aquecer 120 m3 de água e 9.900 kWh/ano
para energia elétrica, dos quais: 2.300 kWh/ano são
destinados para o tratamento de águas residuais,
2.300 kWh/ano para iluminação, 1.800 kWh/ano
para serviços de construção, 1.400 kWh/ano para
limpeza e 2.100 kWh/ano para compensar perdas
371
 da bateria e na distribuição. Tudo otimizado com
o menor consumo possível de energia e escolha
de equipamentos eficientes.
Adicionamos ao estudo de caso trechos
da entrevista disponível no livro: New Monte
Rosa HUT, Self-sufficient building in the high
Alps (ETHZ, 2010). A conversa entre Ákos
Moravánszky, arquiteto, historiador e professor
de teoria arquitetônica na ETHZ; Andrea Deplazes,
arquiteto, sócio do Bearth-Deplazes Architekten
e professor de projeto arquitetônico na ETHZ; e
David Gugerli, historiador e professor de história
da tecnologia também na ETHZ, é relevante para
o entendimento da concepção e realização do
edifício New Monte Rosa Hut. Ressaltamos que
esta entrevista não foi realizada pela autora Sofia
Dias, diferentemente das demais. Mais ainda, o
material foi compartilhado por Daniel Ladner e,
segundo o arquiteto, é a forma mais enriquecedora
de aprender detalhes deste projeto, livro sem
tradução para o português e de difícil obtenção
se considerarmos o contexto brasileiro.
Sobre a formação do ETH Studio Monte Rosa,
estúdio de arquitetura para concepção do projeto
New Monte Rosa Hut dentro da ETHZ, Ákos
372
Moravánszky inicia a conversa citando Adolf Loos.
“Em ensaio frequentemente citado, Architecture,
publicado em 1909, Adolf Loos descreve as
dificuldades de construir nas montanhas - um
lugar onde os agricultores estão seguros de sua
cultura e têm compreensão inata do que é belo
e do que é feio. Loos argumenta que arquitetos
são moradores da cidade ‘desenraizados’ e, como
tal, carecem dessa certeza. Quando olhamos
para a nova cabana Monte Rosa Hut, fica claro
que para você construir hoje nos Alpes não pode
mais aparelhar-se à concepção nostálgica de uma
arquitetura que - como a natureza - incorpore ‘paz,
serenidade e beleza’. Como você encarou a tarefa?
Como o ETH Studio Monte Rosa no Departamento
de Arquitetura foi criado?”. Andrea Deplazes
descreve o interesse pelo projeto como uma força
despertada do local de implantação, “remoto da
civilização, mais ou menos como a ilha de Robinson
Crusoé”. Também como questionamento sobre
a origem de tudo o que consumimos e usamos
todos os dias, raro pensamento no processo
de criação. “A resposta, claro, é: em um espaço
socialmente complexo, cria-se um ambiente
tecnologicamente avançado concebido para as
373
 necessidades diárias, e não uma paisagem vista
através da nostalgia ou de um romance idílico de
cabanas alpinas aparentemente abandonadas,
chalés em prados altos ou casas de campo”.
Essa posição é contrastante ao anuário
publicado pelo SAC com as cabanas que fazem
parte do clube, que para Moravánszky são parte
de um mundo intocado: “pequenas casas com
telhados de duas águas, pedra natural, fachadas
com revestimento tipo shingle, em meio a
magníf icas paisagens alpinas. Onde, então,
você teve a ideia de que a nova cabana deveria
ser um esforço, uma proeza técnica, com todos
os confortos modernos, em vez de um simples
protótipo do tipo que poderia ser construído
em situações semelhantes? Não é certo que
os visitantes que apreciam essas paisagens
extraordinárias - e na verdade, o que eu chamaria
de uma situação de vida ou morte, depois de
exposto e protegido - deveriam renunciar algumas
das armadilhas da civilização?”. Deplazes afirma
que o objetivo sempre foi manter o nível de
civilização, apesar da localização remota, premissa
da ETHZ. Portanto, serve como um estudo de caso:
a chance de acessar a eficiência de tecnologias
374
contemporâneas como chuveiros com água
quente, por exemplo, independentemente das
condições climáticas e número de visitantes.
“Dito isto, nunca imaginei que nossa tarefa fosse
simplesmente projetar um contêiner atraente
para abrigar uma máquina de alta tecnologia.
Em vez disso, o que estávamos tentando fazer era
combinar os sistemas de construção e tecnologia
de maneira a alcançar a síntese e integração.
Nosso pensamento também abrangeu questões
sobre o fornecimento de recursos ao edifício.
Estamos cientes de que o projeto não é 100% auto-
suficiente, porque ainda precisa ter fornecimento
externo - pelo menos com alimentos”. Para
Deplazes, “como arquiteto, atrevo-me a dizer
que o resultado é surpreendentemente bom
- mais bem-sucedido do que eu esperava que
fosse durante a fase de desenvolvimento. Eu até
adicionaria o pensamento de que atualmente
é a melhor cabana dos Alpes. Não por causa de
sua tecnologia ou forma, mas pelo contrário,
porque conseguimos erigir um edif ício que
não pode ser dividido em dicotomias como
construção e tecnologia, ou superfície e estrutura.
As coisas funcionam juntas. É impossível mudar
qualquer parte do edif ício sem questionar
375
 outros componentes. Ou seja, constitui um todo
equilibrado”.
Para atingir esse status, o processo foi
desafiador. Deplazes mencionou em entrevista
“eu pensei que a ideia de construir uma cabana
do SAC para marcar o aniversário da ETH Zurique
fosse uma ideia fracassada. O Instituto Federal
Suíço de Tecnologia (ETH) tem sido um elemento
chave do estado federal suíço desde 1848 e, depois
de 1855, tornou-se seu carro-chefe tecnológico.
Paralelamente ao projeto de criação de um
centro federal de pesquisa científica e ensino,
surgiu, desde a década de 1860, um projeto para
sistematicamente observar a região alpina, um
programa federal apoiado pelo SAC. Eu pensei
que, depois de 150 anos, finalmente era a hora
de algo novo, mas não vi escopo para isso dentro
do espaço confinado de uma cabana nos alpes.
Para tal situação, imaginei apenas bandeiras,
trompas, Toblerone e marmotas - as imagens que
conhecemos ao pegar o traslado para o Terminal
E no aeroporto de Zurique, maneira testada e
comprovada de fabricação “Swissness”, “espírito
suíço”. Dito isto, acredito que o projeto finalizado
funciona porque a ETH Zurich produziu algo que
376
vai ao encontro de novas respostas e é bastante
apartado de ideologias e programas políticos do
passado”. Ainda que o objetivo da equipe liderada
pelo arquiteto nunca foi o de simplesmente
contrariar o passado, segundo Deplazes “uma
abordagem cinicamente pós-moderna”, mas
desenvolver ainda mais o contexto existente,
desf rutando de suas qualidades e trazendo
uma perspectiva crítica com o suporte de novas
tecnologias.
Neste sentido, quando comparado ao
exterior, o interior do edifício expressa-se de
maneira distinta, podendo causar as sensações
de “familiar” ou “caseiro”, quando na verdade
a madeira foi escolhida por fatores bastante
pragmáticos. Esta é mais uma maneira de
adicionar camadas de complexidade ao edifício
e seu distanciamento de uma visão enraizada
na pura crítica ao passado. Deplazes conta que
“alguns dos projetos dos alunos tentaram, a
partir da tradição de edifícios em pedra, avançar
em novas propostas. Eles propuseram projetos
que, por exemplo, organizaram as salas ao longo
de linhas de contorno ou muros de contenção,
muito mais integrados à topografia. Quando
377
 analisamos a implementação, rapidamente
tornou-se evidente que tais projetos seriam
proibitivamente caros se executados por uma
construtora privada e também impossível
completar o trabalho usando apenas voluntários
ou o exército, como já aconteceu anteriormente.
Mesmo se tivéssemos expressamente desejado,
era óbvio que construir casas de pedra tornara-
se impraticável nas condições atuais. Outras
ideias dos alunos, como construir uma fábrica
de cimento no local para usar pedra natural
retirada do sítio de implantação, mostraram-se
impossíveis de implementar”. Neste sentido, a
madeira responde bem às questões financeiras e
de tempo - o projeto não pôde ser iniciado até o
final de maio e teve que ser concluído até o final
de setembro - em que a pré-fabricação era o único
caminho a percorrer. “Outra possibilidade teria
sido uma estrutura com inúmeras superfícies de
vidro, o que resultaria em economias de energia
solar passiva muito maiores. Mas o conceito de
“estação de pesquisa de vidro” era muito estéril.
Queríamos fazer um edif ício que as pessoas
sentissem-se à vontade”.
378
As soluções atípicas estendem-se para os
dormitórios. Representam o afastamento da
adoção de unidades standard em acomodações
militares, resultando em colchões de forma
trapezoidal com amplo espaço para duas
pessoas na competência de encaixar 120
camas de dormir no menor espaço possível e
aproximadamente circular em planta baixa, isto
é, uma “estrutura densamente compactada”. Para
Deplazes, essa abordagem “também ultrapassa
certas noções aceitas, como deitar em seu
próprio saco de dormir, um homem próximo
ao outro em colchões retangulares uniformes.
Um exemplo que estudamos foi a Domhütte,
cabana alpina projetada por Jakob Eschenmoser
em 1957. Também tem arranjo radial, uma das
poucas cabanas antigas que não é retangular”.
Eschenmoser também afunilou os colchões
nos dormitórios, pois os pés ocupam menos
espaço que os ombros. Há uma planta notável,
mostrando os alpinistas deitados em círculo, com
os pés ao centro. Essa composição espacial, junto
à disposição das janelas, potencializa a noção de
os dormitórios serem como “cavernas de madeira”
com beliches para dormir.
379
 Os principais critérios que determinaram
a forma do New Monte Rosa Hut, segundo o
arquiteto, “estavam relacionados à f ísica do
edifício e sua construção. De fato, o edifício é
um balão térmico hermeticamente fechado
que é bem isolado, fornece um mundo com ar-
condicionado em seu interior e é quase auto-
suficiente (...) A única maneira com que o edifício
reage à sua localização específica está em sua
orientação para o posicionamento correto do
sistema fotovoltaico. As fachadas são compactas
e muito fechadas. Também, onde menos luz é
necessária, a superfície possui apenas pequenas
aberturas. Um exemplo são os dormitórios, que
são ocupados apenas à noite e não precisam
de muita luz durante o dia. Uma janela de fita
estendendo-se em espiral sobre a superfície do
edifício e seguindo a linha da escada em cascata
garante a absorção passiva de energia por meio
da insolação solar. Ao correlacionar o público-alvo
da cabana à sua evolução tecnológica, David
Gugerli argumenta que o projeto é o primeiro a
“dar forma arquitetônica aos desenvolvimentos
no alpinismo ocorrido nas últimas duas ou três
décadas. Em vez de conquistar o tipo de turismo
380
de massa, incentivado pelas ferrovias que levam
às montanhas, a prioridade agora é receber
alpinistas atléticos e totalmente equipados para
um ambiente no qual eles possam escolher
entre uma variedade de desafios físicos. Com
suas roupas respiráveis Gore-Tex e kits de alta
tecnologia, eles são como cyborgs em trajes
espaciais, idealmente equipados para sobreviver
nesses ambientes inóspitos. Ou seja, construir
uma estação espacial que também é um tipo
de pele permeável aos fluxos de energia - um
local que concebe um coletivo temporariamente
reunido nas montanhas como uma comunidade
ciborgue numerando qualquer coisa entre dois
e 120 indivíduos”.
Sobre o excedente gerado pelo compacto
edifício, Ákos Moravánszky provoca ao questionar
se, com a sua hiper eficiência sob condições ótimas,
outras atividades poderiam ser adicionadas
ao menu - como uma piscina aquecida, por
exemplo. Deplazes responde que “esta é uma
ideia muito provocativa, porque iguala excedente
com desperdício”. Ainda que o sol seja a fonte
de energia mais importante, o que garante uma
“consciência limpa”, para o arquiteto, isso seria ir
381
 longe demais. Igualmente, a ideia de o transporte
até a cabana acontecer via helicóptero, quando o
ponto crucial é que as pessoas têm de alcançar o
edifício a pé, caso contrário seria uma subversão
do significado do projeto. Neste sentido, a equipe
de pesquisa, ao perceber que lidavam com
excedentes de energia, consideram a hipótese
de estabelecer uma economia autônoma no
local: plantando vegetais, mantendo animais.
“Infelizmente, o resultado foi uma curva que
se achata progressivamente, à medida que os
custos disparam e a eficiência aumenta apenas
marginalmente, impossibilitando a ideia”.
Em suma, o projeto vai além do edifício, mas
também um excepcional projeto de pesquisa,
combinando aspirações tecnológicas - resultado
de todas as gradações de tecnologia: no-tech,
low-tech, mid-tech e high-tech. Para Deplazes
“o resultado é que os holofotes caem sobre o
edifício apesar de seus altos padrões técnicos: o
edifício como um abrigo para as pessoas, com
qualidades próprias. A tecnologia atua como uma
função de suporte, sem realmente tomar forma
(...) Um reconhecimento de que, ao lidar com
perguntas de energia, tecnologia e economia,
382
não devemos negligenciar aspectos sociais e
qualidades culturais”.
Adicionamos um último comentário,
relacionado à pós-ocupação do edifício, aspectos
sociais e de ef iciência. O resultado f inal da
edificação fez muito sucesso entre o público-
alvo, praticantes de montanhismo e tracking, o
que levou a superlotação do edifício - “nas duas
primeiras temporadas, 11.000 pessoas se alojaram
na cabana” (SWISSINFO, 2013). A natureza do
projeto arquitetônico mudou drasticamente:
de um abrigo para as temperaturas extremas
e inóspitas para um destino turístico por si
só, o que implica na mudança das oscilações
sensíveis de ocupantes do edifício, previstas nos
cálculos iniciais, para uma constante lotação
máxima. Isso, somado ao sistema de tratamento
de resíduos, que gastou mais energia do que
esperado nas simulações, levou à necessidade
de abastecimento suplementar de energia por
meio de geradores a diesel. Concluímos que,
similarmente ao estudo de caso 02, o edifício
fotovoltaico é socialmente um sucesso, excedendo
a expectativa dos projetistas. Também, há
índice de erro no manejo das máquinas e leva-
383
 se tempo para os engenheiros e projetistas, na
prática, irem ao encontro dos cálculos iniciais.
Isso exige resiliência, moderação e adaptações,
idealmente uma mistura de tecnologia high-tech
e estratégias low-tech.
Referências
from_above_towards_Grenzgletscher.JPG. Acesso em 03
fev 2022.
WIKIMEDIA COMMONS. File:Capanna Margherita LBS
R1-951302 (cropped).jpg. Disponível em: https://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Capanna_Margherita_LBS_R1-
951302_(cropped).jpg. Acesso em 03 fev 2022.
WIKIMEDIA COMMONS. File:Monte Rosa Hut 01.jpg.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Monte_Rosa_Hut_01.jpg. Acesso em 03 fev 2022.
WIKIMEDIA COMMONS. File: Neue Monte Rosa Huette4.
JPG. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Neue_Monte_Rosa_Huette4.JPG. Acesso em 03 fev
2022.

ARCHIZOOM EPFL. Andrea Deplazes, Architecte,

Professeur ETHZ. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=PrudEMgfOq8. Acesso em 03 fev 2022.
ETHZ. NEW Monte Rosa HUT SAC: Self-Sufficient
Building in the High Alps. Zurique: ETH Zurich (ed.), 2010.
SWISSINFO. High-Tech Hut Suffers From Success.
Swissinfo, 09 jul 2013. Disponível em: https://www.
swissinfo.ch/eng/lofty-targets_high-tech-hut-suffers-from-
success/36408726. Acesso em 04 fev 2022.
ZERMATT MATTERHORN. Zermatt: Climate Information.
Disponível em: https://www.zermatt.ch/en/Media/Article/
Zermatt-Climate-Information. Acesso em 04 fev 2022.
WICONA. [Site institucional]. Disponível em: https://
www.wicona.com/en/int/. Acesso em 03 fev 2022.
WIKIMEDIA COMMONS. File:Monte Rosa Hut Seen from
Above Towards Grenzgletscher.JPG. Disponível em: https://
commons.wikimedia.org/wiki/File:Monte_Rosa_Hut_seen_

384 385
0 1 2 4 8m
0 1 2 3m
01 - painéis fotovoltaico, sistema 04
“ost-and-beam”
02 - soltura de 30 mm para ventilação da 08
fachada
03 - manta de vedação 11
04 - chapa de madeira espruce antichamas
05 - isolante térmico - lã mineral 09
06 - compensado de painéis de madeira
maciça (three-ply)
07 - estrutura em madeira de espruce
08 - chapa de metal corrugado
09 - soltura estruturada por sarrafos para
04
ventilação da fachada
10 - manta de vedação para coberturas 10
11 - cumeeira metálica com pingadeira
06

01

02

03

04

05

06

0 10 20 40cm
07
01 - painéis fotovoltaico, sistema
“ost-and-beam”
02 - soltura de 30 mm para ventilação da
fachada 01
03 - manta de vedação
02
04 - chapa de espruce antichamas
05 - isolante térmico - lã mineral 03
06 - compensado de painéis de madeira
maciça (three-ply) 04
07 - estrutura em madeira de espruce
08 - chapa de metal corrugado 05
09 - soltura estruturada por sarrafos para
ventilação da fachada 06
10 - placa de gesso com acabamento em
pintura acrílica 05
11 - pingadeira em chapa metálica
10
12- contrapiso com acabamento em carpet

11

07

05

06
12
07
06
08

09
0 10 20 40cm
 Estudo de caso 06: Silo Bleu
O edifício Silo Bleu, estudo de caso 06, foi
projetado pelo escritório de arquitetura EPURE
Architecture et Urbanisme, processo que durou
dois anos, e foi construído em 2018. De programa
híbrido, residencial e comercial, foi desenvolvido
por meio de contratação para, a partir da
demolição do antigo silo da cidade, construir-
se algo do mesmo tamanho. Encontramos os
dados nas descrições redigidas pelo EPURE
Architecture et Urbanisme, pesquisa documental,
com ênfase no website Solar Architecture, e
dados compartilhados por Marco Corda após
entrevista com a autora Sofia Dias no dia 29
de novembro de 2019, das 10 ao meio dia, em
Lugano, Suíça. Aqui ressaltamos a diversidade
da região: em Lugano, cidade de língua italiana
na região de Ticino, a pesquisadora conversou
com o arquiteto sobre o projeto construído em
cidade francófona, enquanto os demais estudos
de caso na Suíça têm o alemão como primeira
língua - reflexo da múltipla influência dos países
fronteiriços França, Alemanha, Áustria e Itália.
394
O Silo Bleu está em Renens (46°32’01.5”N,
6°35’24.7”E), comuna da Suíça que faz parte do
distrito de Lausanne - a capital do cantão de
Vaud, situada na encosta sul do planalto suíço às
margens do lago Léman e a apenas 6 minutos
de trem até o centro de Renens. Com 20.886
habitantes e densidade de 7.080 habitantes
por km², 94.2% da área da cidade é destinada
aos assentamentos urbanos, 3,4% à agricultura
e 2,4% é área arborizada (SWISS FEDERAL
STATISTICAL OFFICE, 2020), isto é, diferente
dos casos anteriores, um edifício implantado
em uma zona urbana adensada. Enquanto
Lausanne tem variações de altitude entre 375 e
900 metros, Renens está a 415 metros.
A temperatura média varia, ao longo do ano,
entre -1 °C a 26 °C e raramente é inferior a -6
°C ou superior a 31 °C (WEATHER SPARK, s.d.).
Durante o ano, o céu é parcialmente nublado,
e a época mais encoberta começa por volta de
18 de setembro e dura cerca de 9 meses, com
chuva presente em todos os meses. Segundo a
figura 74, durante o solstício de dezembro, o dia
começará às 08h15min e terminará às 16h49min,
oposição aos longos dias de verão que no solstício
395
 de junho começará às 5h41min e terminará às 21
horas. O inverno, além de ter menor quantidade
de irradiação disponível, é o período de céu mais
encoberto e, também, com maiores demandas
por aquecimento em residências do hemisfério
norte.
O edifício de 15 andares está próximo a um
vazio urbano de aproximadamente 200 metros:
a estação central com trilhos de trem, cargas
e equipamentos de transporte ocupa este
espaço consolidado. Portanto, há uma clareira
a nordeste do volume construído, enquanto
a face oposta confronta área residencial
com, predominantemente, três andares.
Considerando que as dimensões totais do
edifício foram determinadas por legislação -
altura, largura e profundidade, congruentes
ao antigo silo - o escritório de arquitetura teve
como foco principal detalhar os elementos
construtivos, para uma nova definição formal.
Segundo o EPURE Architecture et Urbanisme,
“deslocamentos nos planos da fachada e cortes
no volume permitiram dar ao edifício uma
forma esbelta, definir a composição como
um “todo” e, sobretudo, gerir a dualidade do
396
projeto” considerando o local de implantação
(SOLAR ARCHITECTURE, s.d.). Assim, as 276
unidades habitacionais, que variam entre 18 e
38 m², custando a média mensal de 800 francos
suíços (CHF) (equivalentes a cerca de R$ 4.752,
o câmbio a 5,94 R$ por franco), equipadas
com cozinha e banheiro privativo e destinadas
para estudantes, estão pulverizadas em todo o
edifício, em que a alternância entre módulos
fotovoltaicos e janelas é sua principal expressão.
No volume lateral, mais verticalizado, estão a
escada e os elevadores de acesso. O volume leva
também o nome do edifício, e contém unidades
habitacionais de maiores dimensões e áreas de
uso comum. Em termos volumétricos, o acesso
principal é demarcado pelas reentrâncias, assim
como pela verticalidade da torre do silo que,
segundo a Proxiland Real estate SA, proprietária
do empreendimento, “ligeiramente recuadas
da fachada sul, formarão um recorte vertical
entre o 4º e o 13º andar, permitindo ressaltar a
volumetria”. Também, na cobertura, uma área
comum de 41 m², além de um terraço espaçoso
de aproximadamente 276 m², liberam vistas
para o lago e para atividades ao ar livre.
397
 75A

75A

Figura 74 - Diagrama do caminho do sol em Renens Figuras 75 - Exemplos de soluções similares ao utilizado
(GAISMA, 2022). no Silo Bleu, desenvolvidas pela Megasol: montantes
metálicos colados ou parafusados à face posterior do
módulo fotovoltaico (DIAS, S. (fotógrafa), 2019).

398 399
 Similarmente ao estudo de caso 02, o edifício
New Blauhaus, as quatro fachadas do Silo Bleu
são definidas por um grid, isto é, as linhas verticais
criadas pelo posicionamento das janelas e que
também determinarão as divisões internas.
Bem como naquele programa arquitetônico,
um edifício de escritórios, aqui as unidades
habitacionais são determinadas por tal divisão:
no New Blauhaus obedecendo o distanciamento
de 1,35 metros entre eixos verticais, enquanto no
Silo Bleu esta dimensão passa para 1,40 metros,
em função de um pé direito de 2,80 metros.
Contudo, enfatizamos que neste caso a escala do
edifício se sobrepõe à outra, além da adoção dos
módulos em todas as orientações. Isso porque,
diferente do New Blauhaus, o terreno, topografia
e clareira urbana permitem que as fachadas
desfrutem da incidência solar. A alternância
entre módulo fotovoltaico monocristalino
encapsulado em película preta, produto da
empresa suíça Solarwall, e janelas de vidro triplo
e esquadria metálica, é aplicada em todas as
faces do volume, computando 926 m² e 90% da
produção total de energia. Enquanto, no terraço,
módulos integrados a uma pérgola perfazem
400
139 m² e 10% da produção energética. No total,
427 módulos estão distribuídos em 21 diferentes
dimensões, ocupando 1207 m². A produção anual
de 90.000 kWh satisfaz totalmente o consumo
do edifício .
Considerando sua representatividade em
relação ao total, destacaremos somente a
integração fotovoltaica da fachada. É um
exemplar de integração Rain-screen façade
(cold façade) - fachada “fria” (SUPSI-SEAC, 2017),
portanto com cavidade de ventilação entre os
módulos e os substratos do edifício. São fixados
com um sistema de trilhos de alumínio em
uma subestrutura metálica, suspensos na parte
superior e mantidos em posição na parte inferior,
podendo ser ajustados em termos de inclinação,
fácil substituição de peças e com fixação invisível
(SOLAR ARCHITECTURE, s.d.). Isso porque
montantes metálicos verticais de 50 mm estão
colados à face posterior do módulo fotovoltaico,
com espessura da cola de 6 mm, encaixados à
subestrutura do edifício por montantes metálicos
horizontais de 60 mm que estão integrados
ao substrato (lã mineral de isolamento da
fabricante suíça Saglan) (figura 75). A cavidade
401
 de ventilação da peça é determinada por esse
afastamento entre peças, graças aos 50 mm do
montante colado. Solução similar ao utilizado no
edifício de apartamentos em Brütten, estudo
de caso 03. Ao compararmos outros produtos
de integração fotovoltaica sem moldura
aparente presentes no mercado, chamamos
atenção para o Schweizer SOLRIF® XL e Eternit
Integral II que, diferentemente dos montantes
colados, usam grampos de sustentação (SOLAR
ARCHITECTURE, s.d.; ERNSTSCHWEIZER, s.d;
KRANNICH-SOLAR, s.d.). Evidenciamos também
que, além da cavidade de ventilação, o módulo é
seguido por três camadas de isolamento, os 60
mm comentados anteriormente, além de mais
duas camadas de 100 mm. Totaliza-se assim 260
mm de isolamento térmico como proteção ao
exterior, além de proteção ao aquecimento do
módulo fotovoltaico - que em operação pode
atingir 60°C. Em sequência aos substratos
mencionados, o acabamento interno da parede
acontece por meio de uma placa de gesso de
80 mm da fabricante suíça Alba, pioneira em
construção seca.
402
As dimensões do módulo mais comum,
dentro das 21 variações, são 1180 mm x 2310 mm,
com espessura de 14 mm. Contudo, apenas dois
terços da superfície são ocupados por células de
silício, reduzindo a potência de pico de 185 W/
m² para 125 Wp/m². Isso porque, considerando
que parte da fachada ultrapassa os módulos,
volumes metálicos constituídos por chapas de
4 mm, existiria sombreamento nas bordas da
camada ativa do módulo fotovoltaico. Mais ainda,
este mesmo volume abriga todo o cabeamento,
quase como “calhas organizadoras” da fachada.
Sob tais condições, o edifício foi classificado
com o selo Minergie-P VD-135-P, etiqueta para
edifícios novos e renovados de baixo consumo
energético, com meta ainda mais arrojada do
que o padrão MINERGIE. Isto exige (MINERGIE,
s.d.): renovação de ar por meio de sistema de
ventilação com recuperação de calor, demanda
de calor 60% ou menos do limite do padrão
SIA 380/1, produção própria de eletricidade,
pelo menos, conforme exigido pelo MoPEC
2014 (10 W/m² SRE), edifícios sem uso de
combustíveis fósseis, que obedeçam ao conceito
de estanqueidade, além de medidas estruturais
403
 simples para a adequação à mobilidade elétrica.
O custo total do edifício foi de 25.000.000
francos suíços (CHF) (equivalentes a cerca de
R$ 148.500.000, o câmbio a 5,94 R$ por franco).
Marco Corda é um arquiteto graduado na
Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne
em 1996, com experiência em escritórios
de arquitetura como o De Architekten Cie,
Amsterdam, Holanda, e ter sido chefe do setor
de projetos no Page & Associés SA architectes,
Fribourg, Suíça. Tornou-se sócio do EPURE
Architecture et Urbanisme em 2011, empresa
suíça localizada em Moudon, comuna que está
a aproximadamente 40 minutos de Lausanne.
Com experiência em diversos segmentos da
arquitetura, especialmente na união entre
variáveis do urbanismo e projeto arquitetônico,
é especialista no desenvolvimento de escolas e
edifícios de apartamentos, com vários concursos
prestados nestas áreas. A autora Sofia Dias
conduziu a entrevista (figura 76) com o arquiteto
após visita técnica às instalações da Scuola
universitaria professionale della Svizzera italiana
(SUPSI), uma das principais fontes de informação
404
sobre edifícios fotovoltaicos e pesquisas
relacionadas. Após a visita ao SUPSI, também
em Lugano, Marco Corda respondeu sobre o
contexto de implantação do Silo Bleu e quais
outras estratégias de design estão vinculadas à
integração fotovoltaica neste projeto específico.
Segundo o arquiteto, a contratação do
escritório foi feita para, no lugar do antigo
Silo da cidade, construir um edifício de iguais
dimensões que funcionasse quase como
um hotel: pequenos módulos habitacionais,
totalmente equipados e prontos para morar,
em que estudantes pudessem chegar apenas
com suas roupas e enfrentar as tarefas do dia a
dia normalmente. Primeiro, o dono do terreno
pediu um estudo de viabilidade para entender o
investimento a ser feito e o retorno financeiro: o
que, segundo Corda, “lhe pareceu interessante,
devido à possibilidade de construir inúmeras
habitações. Foi assim que nós conquistamos
o projeto”. No início, não existia a intenção de
qualquer integração fotovoltaica, uma decisão
que surgiu a partir de múltiplas variáveis no
processo: “este é um projeto que foi difícil, em
termos técnicos. Primeiro, porque o terreno
Figura 76 - Entrevista com o arquiteto Marco Corda em
Lugano, Suíça (SILVEIRA, F. (fotógrafa), 2019).
405
406 407
 é pequeno, com vizinhos muito próximos
considerando a demolição de um grande silo
e a construção do novo edifício: estão apenas
a 5 metros da fachada do Silo Bleu. Portanto,
a precisão foi crucial. Porque a demolição foi
um processo tão complicado e que nos tomou
tempo, tivemos um longo período para pensar
junto ao cliente quais as possibilidades da
fachada. E, porque a tipologia do edifício está
intimamente relacionada a um grid, ou seja,
planos compostos por inúmeras peças iguais,
pudemos explorar a materialidade destas peças:
revestimento comumente usado em fachadas
deste tipo ou, investindo um pouco mais, módulos
fotovoltaicos. Contudo, considerando sua escala,
este “investindo um pouco mais” resultaria em
um acréscimo de aproximadamente 1%, o que
de um ponto de vista econômico é praticamente
irrelevante. O mais difícil estava em integrar
os inúmeros cabos que saem dos módulos à
fachada e é por isso que você vê na composição
volumes metálicos que sobressaem à estrutura e
organizam essa teia de conexões”. Neste sentido,
devido à grande quantidade de módulos
demandados no projeto, que ocupam uma
408
área imensa, foi possível junto aos fornecedores
detalhar muito bem este material sem acarretar
em gastos significativos. “A escala é tão grande
que lhe permite fazer isso”.
Em termos de tempo e econômicos, a
legislação também cumpriu um importante
papel na decisão. Já que “hoje, a legislação
suíça pede que você cubra pelo menos 30%
do consumo de energia elétrica de novos
edifícios com produção fotovoltaica” e que “a
partir desta obrigação, somada a um telhado
disponível ridiculamente pequeno, começamos
a considerar as possibilidades. Isso porque nós
desejávamos muito preservar um terraço na
cobertura, o que culminou na produção de
energia a partir das fachadas, quase como um
acidente de processo em um momento crucial.
Se esta ideia aparecesse muito tarde, seria
também inviável materializá-la”. O escritório de
arquitetura aproveitou as exigências da lei para
ir mais adiante no projeto, enquanto o cliente
ficou satisfeito já que isso também foi uma
oportunidade de marketing para o novo edifício,
resultando em uma integração total entre
409
 produção de energia e arquitetura - o primeiro
exemplar deste tipo na região.
O Silo Bleu é autossuficiente, sendo que “de
fevereiro a abril, os piores meses no hemisfério
norte, produziu 90% do seu consumo energético”,
enquanto em meses mais favoráveis, produziu
excedente. Ao diluirmos a produção no ano, o
edifício alcança a autossuficiência a partir das
quatro fachadas - decisão que extrapola, também,
para intenções puramente arquitetônicas. Corda
afirma, “não desejávamos construir fachadas
‘falsas’ quando em orientações tidas como
subótimas. Fazer isso é muito fácil, basta não
conectar os módulos eletricamente, isto é, com
produção nula, ou substituir por outro tipo de
material nestes locais específicos. Aqui, mesmo
a fachada norte produz energia. Nenhuma peça
é falsa, com diferentes níveis de contribuição
para o cômputo total: um bom casamento
entre arquitetura e produção de energia”.
Claro, em situações específicas como áreas
sombreadas, por exemplo, exige-se outro tipo
de pensamento, como o expressado nos estudos
de caso anteriores. Porém, considerando o
custo econômico, o módulo fotovoltaico é um
410
material nobre, causando baixa tolerância para
o desperdício ou o fato de estar conectado
eletricamente, isto é, efetivamente produzindo
energia. “Se todas as fachadas deveriam produzir
a mesma quantidade de energia elétrica, esta é
outra questão. Nós interpretamos que vale mais o
cômputo total, o que aqui leva à autossuficiência,
além da expressão arquitetônica”. Isso sem
esquecer que, no momento em que o módulo
não está na fachada, mas é a fachada, “nós
não pagamos duplamente pelos materiais, o
que acarreta em economia”. Sobre o processo
de fixação das peças na fachada: “primeiro, os
pilares e vigas foram deixados expostos. Depois,
os módulos foram fixados, as conexões e os
fios foram organizados, prontos para receber o
acabamento metálico (calhas inteligentes)”.
Neste sentido, o processo de projeto aconteceu
de maneira bastante interdisciplinar, prática que
é comum no EPURE Architecture et Urbanisme.
“Nos projetos, primeiro iniciamos eu e meu sócio
com desenhos, maquetes, estudos de integração
com o contexto urbano, volumes e tipologias.
Depois, temos uma equipe de design composta
por cinco arquitetos que vão além das primeiras
411
 ideias, adaptando as dimensões e soluções
técnicas. Este fluxo, que é cíclico, continua até
culminar em plantas, fachadas e cortes, nesta
fase ainda na forma de desenhos não muito
detalhados. A partir daqui, incluímos uma gama
maior de especialistas, engenheiros, consultores,
além do supervisor de construção. Nesta fase,
também ajustamos o projeto às necessidades
construtivas com a supervisão dos engenheiros:
dimensões, espessuras, decisões estruturais. Há
um ano começamos a trabalhar com o sistema
BIM (Archicad) para compartilhar entre todos o
mesmo material para detalhamento”. Mais ainda,
para este projeto específico, Corda afirma que o
escritório trabalhou com um consultor cujo foco
era lidar apenas com os assuntos relacionados
à integração fotovoltaica: “em termos, por
exemplo, de quantos módulos serão conectados
em série? Usaremos quantos inversores? Quais
são as possibilidades e soluções de fixação
que adotaremos no edifício?”. Portanto, foram
desenhos e decisões técnicas não restritos
ao que se faz dentro do escritório, “mas
escolhemos quais soluções funcionam melhor
em nosso projeto arquitetônico. Caso contrário,
412
precisaríamos ser especialistas em muitas áreas:
algo impossível para o número de pessoas
que trabalhamos. Considerando que, a cada
projeto há algo novo, parcerias são essenciais!”
Ressaltamos que, ainda que em uma equipe
interdisciplinar, a evolução da ideia esteve
sempre pautada em maquetes, similarmente
ao processo de concepção do New-Blauhaus,
estudo de caso 02: “nossa base de trabalho
são maquetes nas mais variadas escalas, o que
também ajuda e muito na comunicação com os
clientes”. A similaridade com o New-Blauhaus
também está na solução tecnológica adotada,
que segundo Corda, “é bastante simples,
escolhemos usar o módulo monocristalino com
encapsulamento preto. Claro, existem inúmeras
opções de texturas, cores e padrões gráficos,
contudo os preços sobem proporcionalmente
às singularidades adicionadas ao acabamento.
Claro, as novas aplicações são incríveis e acredito
que no decorrer do tempo os preços cairão”.
Para o arquiteto, o cenário ideal de edifícios
com soluções somente passivas em centros
urbanos está longe da viabilidade econômica,
portanto oposta à realidade: consomem
413
 muito espaço, com paredes robustas e de
grande espessura, levando a decisões de alto
investimento, “então você precisa contar com a
ajuda da tecnologia”. Considerando o preço da
energia, que é barata, “nos Estados Unidos, por
exemplo, você alcança 10 graus no lobby de um
edifício e 31 graus imediatamente ao pisar fora
no ambiente externo. Por quê? Porque a energia
é barata”, os custos econômicos implicam no uso
massivo de condicionadores de ar neste sentido.
Embora os reflexos da flutuação do mercado
produzam mudanças no cenário, Corda afirma:
“vejo que a maior abertura para a construção de
edifícios fotovoltaicos também é reflexo da alta
dos preços de energia elétrica. Mesmo quando
o mercado está estável, os preços continuam
subindo. Não faria sentido não adotar medidas
desta natureza”. Assim, abrindo espaço para
soluções mais eficientes junto a retornos
financeiros para investidores.
No caminho para alcançar tais soluções,
também com a meta de atingir o selo Minergie-P,
além da integração fotovoltaica, outras medidas
foram tomadas em sinergia no caso do Silo
Bleu. Como o uso de Thermally Activated
414
Building (TAB), mencionado nos estudos de caso
anteriores, uma estratégia de economizar espaço
e aquecer ou resfriar de forma mais eficiente.
Escolhas que perfazem soluções complexas
e que exigem comportamentos específicos
por parte dos usuários: “para o selo Minergie-P
é pedido que todos os ambientes tenham
sistema de ventilação e reaproveitamento do
ar, contudo os usuários continuaram abrindo as
janelas - o que arruina aquilo que foi projetado.
Agora estamos desenvolvendo um manual do
usuário: algo comum em projetos complexos,
caso contrário todo o investimento feito em
tecnologias vai para o ralo. Claro, você pode abrir
as janelas por alguns minutos, circular ar fresco
e fechá-las em seguida - o que é bem diferente
de deixar as janelas abertas durante a noite
toda, por exemplo, o que também arruinará o
aquecimento por inércia que acontece através
da laje de concreto (levando um dia todo para
aquecer novamente)”. Ressaltamos que esta
afirmação elucida características adicionais e
importantes sobre a interação entre soluções,
principalmente sobre o sistema Thermally
Activated Building (TAB). Aqui, diferente do
415
 produto standard, sem isolamento térmico
entre o revestimento de piso e a laje de concreto,
como o utilizado na casa Schneller Bader,
encontramos uma variação. No Silo Bleu é
aplicado isolante sonoro de material resiliente
entre estas duas camadas, reduzindo, assim, o
efeito da transmissão sonora por via sólida no
ambiente, embora também reduzindo parte
da capacidade de resfriamento e aquecimento
(de 40 W/m² para 29 W/m² em termos de
aquecimento, por exemplo) (HYBRIDGEOTABS,
2020). Existe ainda uma terceira e quarta opção:
concreto com tubos integrados, seguido por
camada de ar em um piso elevado, também
com redução para 29 W/m² em termos de
aquecimento. E superfícies como painéis de
gesso por exemplo, contendo tubos integrados
que podem ser ligados a tomadas, uma espécie
de “tetos radiantes” - usados principalmente
como sistema suplementar ao Thermally
Activated Building (TAB).
Aqui percebemos dois paradoxos. Primeiro,
considerando a natureza de estruturas de
concreto, um vazamento de água seria devastador
- o que justifica os testes de pressão, vazamento
e a precisão demandada em um sistema deste
416
tipo. Enquanto isso, a emulação de uma estrutura
de maior massa térmica indica uma curva de
aquecimento e resfriamento muito mais lenta se
comparado a condicionadores de ar. O que leva à
pergunta: como abrir janelas e desperdiçar todo
o ar quente ou frio que se estabeleceu depois
de todo um dia? O fato de abrir e fechar janelas
está intimamente relacionado à economia
de energia, assim como a energia elétrica
produzida pela fachada e a adoção de sistemas
suplementares de aquecimento e resfriamento,
quando necessário. Aconselhamos ao leitor que
revise os conceitos expostos sobre o tema no
estudo de caso 04.
Mesmo com os desafios levantados, Corda
vê muito potencial neste cenário, “por exemplo
em programas arquitetônicos como shopping
malls, ou estacionamentos. Esperamos que com
a experiência do Silo Bleu, mais oportunidades
como estas surjam a longo prazo”. Inclusive, no
momento da entrevista, o arquiteto afirmou
que estão desenvolvendo o projeto de uma
escola totalmente desconectada do grid e
autossuficiente energeticamente (ZEB), com
previsão de construção para 2021. A cidade em
que será construída possui uma floresta e a
417
 municipalidade deseja utilizar os seus recursos
para construir a escola de madeira. “Precisamos
planejar o quanto de madeira cortar, secar, quais
serão as árvores derrubadas, fazendo com que
o lenhador seja também parte da equipe de
projeto! Normalmente a madeira utilizada para
construção na Suíça vem da Sérvia e Rússia”. Este
é outro exemplo de como a equipe do escritório
é interdisciplinar e específica a cada caso.
Sofia Dias finalizou a entrevista perguntando
quais são as forças que, para Corda, fomentam o
desenvolvimento de projetos deste tipo. Para ele,
“os números são a balança do jogo. A economia
faz com que tudo se equilibre ou desenvolva
para determinado ponto”. Uma tendência
positiva e que permite maior consciência de
técnicas construtivas eficientes, já que os custos
são viáveis. Contudo, também geram resultados
passíveis de contestação: Corda citou a planta
solar em Ouarzazate, Marrocos, como um
exemplo (figura 77). Quando finalizada, ocupará
2.500 hectares para produzir 582 MW, com
intenção de exportá-la para a Europa. Aqui fica
a questão levantada por Corda, “quem venderá
energia para quem e em detrimento de qual
território?”.

Figura 77 - Planta solar em Ouarzazate, Marrocos

(WIKIMEDIA COMMONS, 2019).

418 419
 Referências
ERNSTSCHWEIZER. SOLRIF®XL: Description of the
System. Disponível em: https://www.ernstschweizer.ch/
f ileadmin/user_upload/00_Produkte/80_Sonnenenergie-
Systeme/pdf_f/pdf_e/SOLRIF_System_Description_engl.pdf.
Acesso em 04 fev 2022.
GAISMA. Renens, Switzerland - Sunrise, Sunset, Dawn
and Dusk Times, table. Disponível em: https://www.gaisma.
com/en/location/renens.html. Acesso em 04 fev 2022.
HYBRIDGEOTABS. Training Webinar - D8 Designing
Thermally Activated Building Systems (TABS) 29
May 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=v6Db78xKQwQ. Acesso em 02 fev 2022.
KRANNICH-SOLAR. Module Integral 2. Disponível em:
https://ch.krannich-solar.com/f ileadmin/content/data_
sheets/solar_modules/Schweiz/Integral2_Datenblatt190W_
fr.pdf. Acesso em 04 fev 2022.
MINERGIE. Certificare con Minergie-P. Disponível
em: https://www.minergie.ch/it/certificare/minergie-p/?l.
Acesso em 06 abr 2022.
PROXILAND REAL ESTATE. Renens (VD), Résidence
Étudiants. Disponível em: http://www.proxiland.ch/fr/
references/residence_etudiants.php. Acesso em 04 fev
2022.
SOLAR ARCHITECTURE. Schweizer SOLRIF® XL.
Disponível em: https://solarchitecture.ch/product-solrif-xl/.
Acesso em 04 fev 2022.
SOLAR ARCHITECTURE. Silo Bleu. Disponível em: https://
solarchitecture.ch/silo-bleu/. Acesso em 04 fev 2022.
420
SOLARWALL. Photovoltaic Glass. Disponível em: https://
www.solarwall.ch/en/verre-photovoltaique/. Acesso em 04
fev 2022.
SUPSI - SWISS BIPV COMPETENCE CENTRE e SEAC
- SOLAR ENERGY APPLICATION CENTRE. BIPV- Product
Overview for Solar Building Skins: relatório técnico. Lugano,
2017.
SWISS FEDERAL STATISTICAL OFFICE. Regional
Portraits and Key Figures: Portraits of the Communes.
Disponível em: https://www.bfs.admin.ch/bfs/en/home/
statistics/regional-statistics/regional-portraits-key-figures/
communes/portraits-communes.html. Acesso em 02 fev
2022.
WEATHERSPARK. Condições Meteorológicas Médias
de Renens. Disponível em: https://pt.weatherspark.
com/y/53410/Clima-caracter%C3%ADstico-em-Renens-
Su%C3%AD%C3%A7a-durante-o-ano. Acesso em 04 fev
2022.
WIKIMEDIA COMMONS. File: OuarzazateSolar.jpeg.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:OuarzazateSolar.jpeg. Acesso em 07 fev 2022.
421
422 0 1 2 4
423 8m
0 1 2 3m
01 - módulo de painel fotovoltaico,
tipo “solarwall” 14mm, colado
sobre estrutura de fixação
02 - estrutura de fixação 09
03 - camadas de proteção térmica
(lã mineral) | 60 mm + 100 mm + 12
100 mm
04 - placa de gesso 80 mm 11
05 - fita de vedação
06 - capa de alumínio 4mm 10
07 - proteção térmica 160 mm
08 - soleira da janela em alumínio 08
09 - janela com tripla camada de vidro
10 - assoalho 07
11 - barreira de vapor
05
12 - camadas de isolamento termo
acústico
02
13 - laje em concreto
06

13

01

02

03

04
0 10 20 40cm
 3. Conclusão Compartilhamento dos resultados: cartas
método

Dividimos a conclusão, terceira parte deste

livro, em dois atos. Primeiro, as conclusões
gerais que obtivemos da pesquisa, questões
abrangentes. Segundo, a síntese dos estudos
de caso para compartilhamento dos resultados,
na forma de cartas método. Os dois atos estão
separados por um breve interlúdio, considerações
que conectam as ideias gerais às específicas.
Primeiro ato. Comparados os mercados alemão
e suíço, localização geográfica dos estudos de
caso ou empresas fabricantes, as construções
apresentam soluções distintas principalmente
no que diz respeito ao acabamento: na Alemanha
comumente encontramos materialidade vítrea
e de acabamento brilhante, enquanto na Suíça
a variedade de cores, acabamento opaco e
texturas estão mais presentes. Também, no
mercado suíço17, a legislação determina que os
módulos devem ser fabricados com backsheet
substituído por vidro - a exemplo da solução de
telhado desenvolvida pela empresa 3S Solar Plus.
Em contrapartida, no mercado alemão, admite-

17
Na dissertação de Dias (2020) esta informação está
imprecisa e usaremos desta oportunidade para corrigi-la.
A materialidade do backsheet é a diferença na legislação
mencionada, não a moldura em alumínio.

428 429
 se uma combinação de polímeros para esta
última camada do módulo fotovoltaico. Portanto,
concluímos que diferenças sempre existirão e que
a legislação será um fator importante no tipo de
integração disponível. Mais ainda, as condições
climáticas, materiais construtivos, além da esfera
política e social, influenciarão diretamente na
expressão arquitetônica - abolindo assim a
busca por um “estilo internacional”. Se entre
Suíça e Alemanha, países fronteiriços, existem
diferenças substanciais, não há dúvida que
o mercado brasileiro se desenvolverá à sua
maneira.
Também concluímos que o processo de
projeto descrito nos estudos de caso assemelha-
se, e muito, ao ofício da arquitetura. Um processo
marcado por protótipos, experimentação,
trabalho interdisciplinar e com exímio cuidado
com questões da materialidade. Uma grata
surpresa já que o intuito deste livro é buscar tal
coexistência entre disciplinas. Para lidar com a
gama de variáveis, a moderação é um conceito
crucial. Ou seja, ​​em projetos arquitetônicos
fotovoltaicos, o objetivo é resolver em simultâneo
vários desafios (muitas vezes conflitantes) e
430
que precisam ser satisfeitos simultaneamente:
programa e serviços do edifício, volumetria,
produção de energia, estratégias passivas,
demandas construtivas, espaço disponível,
densidade urbana e sombreamento, legislação,
aspectos sociais, econômicos, entre outros.
Contudo, esta asserção traz à tona uma
importante deficiência: ainda que o processo
de projeto de edifícios fotovoltaicos seja similar,
a comunicação entre disciplinas (produção de
energia e arquitetura) é falha.
Interlúdio. Como indicado por Schlueter
(2009) em Beyond the Visual - Towards Reality
in Digital Design, sobre o desempenho de
edifícios, “muitas ferramentas especializadas
expressam informações por meio de linhas
intermináveis ​​em tabelas difíceis de interpretar
sem conhecimento especializado”, ou seja,
um tipo de leitura incompatível quando
pensamos em arquitetura. Mais ainda, segundo
o autor, números precisos não são necessários
nas primeiras estratégias das decisões
arquitetônicas, mas entender tendências e
ideias de forma mais abrangente. No decorrer
do processo, essas ideias serão detalhadas com
431
 o devido esforço, mas não são condicionais
para escolhas a priori. Também, para lidar com
aspectos não visuais como energia, parâmetros
são necessários, idealmente integrados às
ferramentas de design. Assim, entendemos que
os fundamentos observados nos estudos de caso,
a partir da pergunta de pesquisa “na concepção
de edifícios fotovoltaicos, quais fundamentos
suportam uma integração abrangente - holística
- à arquitetura?”, precisam tomar a forma de
uma ferramenta que facilite a comunicação
desses aspectos não visuais, não familiares para
arquitetos especializados em questões da forma.
Essa ferramenta não será baseada em números
ou tabelas, mas em um sistema de categorias
para organizar fundamentos encontrados nos
estudos de caso.
Segundo ato. Por fim, concluímos com a
análise dos dados e compartilhamento dos
resultados no formato de cartas método, em
inglês method cards, para auxiliar projetos de
edifícios fotovoltaicos. É voltada ao perfil do
usuário a quem se destina o livro, arquitetos e
estudantes de arquitetura, além de fácil leitura
quando em grupos interdisciplinares já que,
432
dependendo desta delimitação, “o relatório pode
assumir diferentes formas, tais como: vídeo,
recurso para multimídia, um relatório ou mesmo
um formato narrativo” (SANTOS, 2018). Assim,
para desenhar implicações teóricas e prover
estrutura para replicação, mantemos a escolha
feita na dissertação Energia é variável do projeto
arquitetônico: análise de edifícios fotovoltaicos
por meio de estudos de caso (DIAS, 2020), da
autora Sofia Hinckel Dias, orientada pelo autor
Aloísio Schmid.
A adaptação feita por Dias (2020) está
embasada na ferramenta originalmente criada
pela IDEO: as cartas método fazem parte de um
baralho de 51 cartas para estimular o crescimento
de novas ideias, além de divulgar os métodos
utilizados na empresa para soluções centradas
no usuário. A IDEO as definiu não como um guia
de “como fazer”, mas como “uma ferramenta de
design destinada a explorar novas abordagens e
ajudá-lo a desenvolver a sua” (IDEO, 2003). São
ótimas para grupos que estão trabalhando na
solução de um determinado “Como chegamos
de um ponto a outro? How do we get from here
to there?” tipo de problema (PELKEY-LANDES,
433
 2009, tradução nossa). Também, o formato de
baralho facilita referenciar, buscar, ordenar
e compartilhar cartas. Ajuda você a planejar
projetos e relembrar as abordagens existentes
sobre determinado tema sugerindo maneiras
de agir em várias fases do processo. Você pode
usá-las para provar um argumento ou desafiar
os seus colegas a buscar insights a partir da
premissa discutida na carta.
O baralho está dividido em quatro categorias:
aprender, olhar, perguntar e tentar. Para
clarificarmos a sua estrutura de organização,
usaremos o exemplo da carta “prototipagem
em papel” (figura 78, representada em inglês,
como originalmente desenvolvida pela IDEO).
Está na quarta área (faixa superior, canto direito
da carta): tentar. Mais ainda, na carta estão
as razões para utilizar tal técnica em “como”
e “porque”, além de uma breve descrição no
rodapé sobre sua utilização pela IDEO em um
projeto real. Na variável “como” este método é
descrito: “desenho rápido, layout e avaliação da
integração dos conceitos de design para básica
usabilidade” (IDEO, 2003, tradução nossa). Na
variável “porque” o método é justificado: “esta
434
é uma maneira rápida de organizar, articular e
visualizar a interação de conceitos do design”
(IDEO, 2003, tradução nossa). No rodapé, a
experiência dentro da empresa: “desenhar em
vários quadros e testar a sequência de atividades
ajudou o time da IDEO a demonstrar a lógica
necessária para uma interação de sucesso na
base de dados do inventário de uma loja” (IDEO,
2003, tradução nossa).
Portanto, a carta está organizada em quatro
zonas. Seguindo a numeração explicitada na
figura 78, na primeira zona é indicada a categoria,
ou seja, qual a natureza do método. Na segunda
zona é indicado o seu nome. Junto às instruções
do baralho a IDEO disponibiliza tabelas com todos
os nomes das cartas, divididas por categorias.
Um material importante para organizar como o
usuário deseja aprender os métodos, dividindo o
baralho ou misturando-o de maneira a sobrepor
os casos apresentados. Na terceira zona, estão as
razões para usar o método. Na quarta, a aplicação
no mundo real. No verso das cartas, há fotografias
que ajudam na compreensão da técnica descrita,
mas que também deixam espaço para a abstração
e para que o leitor crie a sua estrutura de trabalho
435
 de forma independente. Isso porque nas cartas
não há a ilustração de um modelo a ser replicado,
mas insights.
Em comparativo, também na figura 78,
apresentamos a adaptação feita por Dias (2020)
na carta “manutenção mecânica”: na primeira
zona a categoria, isto é, a escala de aplicação do
fundamento de projeto, na segunda zona o título,
na terceira, as razões para usar o fundamento e
na quarta a aplicação no mundo real - um dos
estudos de caso sobre edifícios fotovoltaicos
apresentados na dissertação: os edifícios Adaptive
Solar Façade, Copenhagen International School,
New-Blauhaus, Multi-Family House in Brütten
e Schneller Bader House. E, também, estudos
de caso adicionais apresentados neste livro: o
edifício New Monte Rosa Hut e o Silo Bleu. Com
isso estabelecido, indicamos que na dissertação
a autora desenvolveu 30 cartas a partir dos cinco
estudos de caso e das seis escalas abordadas
na primeira parte do seu trabalho, que também
determinam as categorias das cartas método
- quantitativo que aumentará para 42 cartas
quando adicionados os dois casos (New Monte
Rosa Hut e o Silo Bleu).
436
Ressaltamos que a ferramenta sofreu um
processo de amadurecimento durante a
pesquisa, após a experimentação e prototipagem
com um grupo de alunos. Primeiro, no artigo
Building integrated photovoltaics (BIPV):
system application guidelines and albedo
aspects (DIAS, SILVEIRA e SCHMID, 2019),
esboçamos uma tentativa neste sentido. Aqui,
as variáveis foram tabuladas em três colunas:
princípios, diretrizes e implementação. Isto
é, os princípios para sistemas fotovoltaicos
foram relacionados às diretrizes de projeto
arquitetônico e variáveis de implementação. O
princípio “orçamento” está relacionado à diretriz
de projeto “determinar o plano econômico”
e às variáveis de implementação “paytime,
investimento disponível, stakeholders, políticas
estatais de incentivo”. Outro exemplo, o princípio
“demanda energética” está relacionado à
diretriz “energia como um input de design”
e às variáveis de implementação “demandas
energéticas do edifício, estratégias passivas
e ativas, edifício conectado à rede urbana
e edifício com armazenamento de energia
em baterias”. Na lista, Dias, Silveira e Schmid
437
 (2019) apresentam dez princípios vinculados
à diretrizes e variáveis de implementação,
principalmente para criar suporte e incentivar
projetos de edifícios fotovoltaicos. Contudo,
devido ao formato de leitura em um check
list, não nos satisfaz enquanto ferramenta
de compartilhamento de dados. Isso porque
quando pensamos na maneira em que energia
elétrica e arquitetura coexistem, mantém-se a
sensação instrumental de: “se você obedecer
essa lista, alcançará um edifício fotovoltaico”.
Também, da pesquisa nos restou a pergunta:
do ponto de vista da arquitetura, pensando
de forma mais abrangente, o que é afetado?
Lançamos hipóteses para atrelar exemplos a
esta pergunta: quando a energia torna-se um
input de design, o resultado será edifícios mais
compactos, em termos de área? Com padrões
de fachada, ou seja, uma específica relação
entre janelas e módulos fotovoltaicos? Qual é o
vínculo entre a produção de energia fotovoltaica
e o tipo de implantação nos terrenos? Quando
nos debruçamos nesse tipo de perguntas, o
checklist de princípios, diretrizes e variáveis
de implantação não é o formato ideal. Mais
438
ainda, a escala de aplicação dos fundamentos é
considerada de forma superficial.
A partir dessa experiência, a segunda versão
da ferramenta foi desenvolvida na dissertação
de mestrado Energia é variável do projeto
arquitetônico: análise de edifícios fotovoltaicos
por meio de estudos de caso (DIAS, 2020) e,
como mencionado, o trabalho resultou em um
baralho de 30 cartas adaptado da referência
desenvolvida pela IDEO. Sugerimos que você
busque a dissertação para a avaliação desta
versão das cartas, disponível no acervo digital
de teses e dissertações da Universidade Federal
do Paraná (UFPR)18. Após sua publicação,
desenvolvemos uma terceira rodada de análise
para o refinamento da ferramenta a partir
de uma atividade didática com discentes da
disciplina Ambiente Construído no terceiro ano
do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR.
Deu-se no formato de card sorting, método
utilizado para a classificação de informações pelo
usuário. Uma vez que os alunos estavam com um
projeto de edifício fotovoltaico em andamento
na disciplina, um edifício de coworking, esta
atividade mostrou-se como oportunidade de
18 Artigo Cartas método como ferramenta para o ensino do
projeto de edifícios fotovoltaicos: análise exploratória (DIAS,
SCHMID, 2022, no prelo).
439
 detalhamento e evolução das propostas - além
da possível comparação entre um antes e
depois. Portanto, propusemos a classificação das
cartas em: “quero usar no projeto”, “não quero
usar agora” e “não entendi”, como maneira
de vincular à atividade em andamento os
fundamentos levantados na pesquisa (figura 79).
As cartas classificadas em “quero usar no projeto”
geraram premissas específicas para cada grupo
(havia quinze grupos, total de 54 discentes), que
foram apontadas nos quadros construídos para
a coleta de dados. Mais ainda, a classificação de
cada carta método foi esclarecida pelas equipes,
detalhando os motivos da escolha por meio de
post-its (figura 80).
As conclusões foram as seguintes: supomos
que a capacidade de entender o que está escrito
nas cartas método, classificá-las e correlacionar
o fundamento abordado a um caso da realidade
foram questões exitosas seguindo o modelo
sugerido por Dias (2020). Sobre a capacidade
de manipular um fundamento de projeto e
adaptá-lo a um caso específico, houve um nível
de abstração satisfatório, aproveitando todas
as escalas de abordagem nos projetos das
440
equipes, isto é, as escalas solar, espacial, angular,
de refletância, atômica e social, descritas na
primeira parte deste livro e que serviram como
as categorias de organização do baralho.
Contudo, sobre as distribuições de frequência
dos dados brutos, supomos que a incidência
das dúvidas e insights indicam itens de possível
desenvolvimento futuro sobre o que seriam
ações prioritárias na reformulação da ferramenta
e tais ações conduziram a proposta desenvolvida
neste livro. Indicamos os itens revisados a seguir:
1- Acrescentar, brevemente, fundamentos
da física e da tecnologia fotovoltaica nas
instruções de uso do baralho, facilitando assim
a compreensão;
2- Reformular as cartas com alta incidência
de dúvidas;
3- Tirar proveito da alta frequência de insights
obtidos das categorias espacial, solar e social;
4- Incentivar um número maior de rodadas
para aglutinação das cartas e correlação entre
fundamentos;
5- Apresentar a ideia de moderação esboçada
por DIAS (2020);
441
 80A

Figura 78 - Estrutura de organização das cartas método

“prototipagem em papel” e “manutenção mecânica”
(Autores, 2022).

80B

Figura 79 - Método card sorting utilizado para a Figuras 80 - Post-its para detalhar os motivos das escolhas
classificação de informações pelo usuário nos quadros: e dúvidas (80A) e incidência das dúvidas de acordo com as
“quero usar no projeto”, “não quero usar agora” e “não categorias das cartas método (80B) (Autores, 2022).
entendi” (Autores, 2022).

442 443
 6- E acrescentar no verso das cartas figuras
que facilitem a abstração dos fundamentos.
Aqui vale uma breve digressão sobre os
dados levantados para análise. Primeiro, o maior
número de insights gerados a partir das cartas
método concentrou-se na categoria espacial,
também com baixa incidência de dúvidas. É
possível intuir que é uma categoria com melhor
apreensão se considerado o curso de Arquitetura
e Urbanismo, o que produz um nível de tensão
satisfatório entre a complexidade da tarefa
explicitada na carta e as funções disponíveis
para o usuário concluí-la. Neste sentido, o
maior número das dúvidas concentrou-se na
escala atômica, seguida pela escala angular,
justificando assim a necessidade de instruções
suplementares no baralho que facilitem a
comunicação.
Com isso considerado, no item 3, supomos
que o uso, na instrução a discentes, de projetos
arquitetônicos já difundidos na disciplina seria
proveitoso também no ensino de edifícios
fotovoltaicos. Como exemplos, o Museu de artes
de Bregenz, Áustria, projetado por Peter Zumthor
444
em 1997, assim como o armazém projetado por
Herzog & de Meuron em Laufen, Suíça, criado
para a marca suíça de pastilhas para tosse e balas
Ricola, em 1987, são potenciais para a linguagem
interdisciplinar da integração fotovoltaica em
edifícios. Isso porque ambos têm solução similar
às de fachadas fotovoltaicas, com detalhes
técnicos difundidos que incentivam insights
para sistemas de fixação, um grande potencial
por serem obras de arquitetos comumente
referenciados em outras disciplinas do curso de
arquitetura e urbanismo, portanto conhecidas
do público discente.
É importante despender comentários sobre
o item 5: “apresentar a ideia de moderação
esboçada por Dias (2020)”. Na atividade didática
com discentes, percebemos que parte das
escolhas das equipes estão pautadas pela prática
comum “ângulos de inclinação correspondentes
à latitude e orientação em direção ao hemisfério
oposto ao da localização do sistema, para
maximizar a geração de energia” (ZOMER et al.,
2013, tradução nossa). Supomos que incluir o
conceito de moderação possivelmente ampliaria
o repertório de soluções. Na moderação está a
445
 capacidade dinâmica de incorporar conteúdos
aparentemente antagônicos, promovendo um
horizonte de possibilidades. Isto não deixa de ser
um paradigma. Um exemplo desta relação é, em
programas arquitetônicos em que a luz natural
é essencial, uma área relevante da fachada será
destinada às subtrações das janelas, deixando-
as livres de módulos fotovoltaicos no caso
de integração em nível de fachada - ou seja,
em detrimento da densidade de potência.
Concluímos que nesta coexistência entre
superfície produtora de energia e janelas, por
exemplo, está a integração holística à arquitetura
e deste raciocínio surgem os fundamentos
apontados nas cartas método. Também, a
prova de sucesso está na aparente ausência de
esforço. Em outras palavras, quando o módulo
fotovoltaico é interpretado como material
construtivo, como meio de expressão do edifício,
suas causas tornam-se quase invisíveis: o fato de
produzir energia não será a justificativa de sua
existência, mas a construção como um todo.
Tal reação é demonstrada nos comentários dos
entrevistados: “o edifício provoca curiosidade
e estímulo. Muitas pessoas desejam tocar
446
no material, já que é algo desconhecido,
não acreditam ser um módulo fotovoltaico”
(WEISSBACH, 2019). Ou também: “hoje eu gosto
mais deste lado do telhado, do que do outro
lado. Tem um resultado elegante” (BADER, 2019);
“o resultado é muito positivo, já que em nenhum
momento perde-se o conforto e beleza nos
apartamentos, o que causa surpresa” (SCHMID,
2019) e “conseguimos erigir um edifício que
não pode ser dividido em dicotomias como
construção e tecnologia, ou superfície e estrutura.
As coisas funcionam juntas. É impossível mudar
qualquer parte do edifício sem questionar outros
componentes” (DEPLAZES, 2010). A curiosidade,
elegância, conforto e unidade são frutos da
manipulação arquitetônica e também um meio
de coexistência - onde sempre haverá tradeoffs.
A seguir, apresentamos uma tabela com as
cartas método desenvolvidas e revisadas neste
livro, além das instruções de uso, aviso, legendas
e conceitos importantes. Sugerimos a leitura
deste material antes do uso das cartas. Aqui,
dividimos a tabela em cinco colunas: categoria,
título, como, porque e mundo real, as zonas de
organização das cartas método mencionadas
447
 anteriormente. Também, estão ordenadas
segundo os estudos de caso apresentados
no decorrer do livro. Finalizamos a nossa
contribuição, com a esperança de que este livro
incentive soluções inovadoras!
Instruções de uso:
1 - Use o baralho para ter um novo ponto
de vista, inspirar a criatividade, comunicar entre
integrantes do seu time uma ideia, ou para
buscar soluções.
2 - Há liberdade no uso da ferramenta:
você pode colocar cartas lado a lado, isolá-las
em diferentes pilhas, fazer alterações, e até
adicionar novas cartas ao baralho. Você pode
dissecar partes do problema ou pensar de forma
abrangente.
3 - Antes de chegar a uma solução
final, experimente durante várias rodadas.
Correlacionar os fundamentos dentro da mesma
categoria, ou entre diferentes categorias, leva a
melhores resultados!
4 - Se você tiver interesse pelo projeto descrito
na carta, procure mais informações nos estudos
448
de caso dentro do livro. Lá, você poderá ler a
história na íntegra e consultar desenhos técnicos.
Aviso:
As cartas não são prescrições, já que a todo
tempo surgem novos métodos e maneiras de
lidar com o problema, mas uma maneira de
encorajar a experimentação.
Legendas:
Solar (rotação): qual é o contexto específico
do edifício? Como controlar o albedo e fatores
de refletividade da superfície?
Espacial ( m²): qual a porosidade do sistema
fotovoltaico? Quanto espaço consumirá e em
detrimento de quais fatores? Quais os usos
sincrônicos?
Angular (º): qual a relação entre absorção
solar e conversão elétrica? Ou seja, qual a posição
angular para a máxima absorção de energia dos
módulos fotovoltaicos e em detrimento do quê?
Refletância (%): quanto material consumirá
e qual o seu ciclo de vida? Como funcionará a
compatibilidade entre peças?
449
 Atômico (elétrons): como será o manejo do
calor produzido pelo módulo? Como estarão
integradas as conexões elétricas?
Social (cultural): como será a aceitação dos
usuários e o seu padrão de consumo energético?
Quais são as políticas e estratégias de incentivo?
Conceitos importantes:
Albedo: valores de reflexão da superfície
(quanto mais próxima da cor branca, como a
neve por exemplo, maiores os valores de reflexão).
A radiação difusa do céu, assim como o albedo,
são oportunidades para capturar os raios solares
refletidos, aumentando a conversão fotovoltaica
Materialização (construção): faz sentido
em alguns momentos uma menor eficiência
operacional, menor produção energética, mas
construções com menor gasto de energia
embutido em sua materialização. Ou seja, se
você desde o princípio produz um edifício
com enorme emissão de dióxido de carbono,
não há produção energética ou eficiência
operacional que anule esta conta. Mais ainda,
você como arquiteto, tem um vasto repertório
450
para desenvolver soluções de fixação de peças e
soluções sobre a materialidade de edifícios (e.g.
Museu de artes de Bregenz, Peter Zumthor).
Aproveite este repertório também para edifícios
fotovoltaicos!
Densidade de potência: é a potência gerada
por unidade de superfície (kWp/ m²). Plantas
solares são comumente regidas por um design
autorreferenciado, sem considerar o seu
contexto de implantação, com grande efeito de
artificialidade quando sobrepostas à paisagem
natural ou agrária, organizadas em linhas com
distâncias mínimas para evitar sombreamento
e permitir manutenção, além de visar custos
baixos para gerar a maior densidade de potência
possível. É um pensamento oposto aos conceitos
de porosidade e moderação.
Moderação: Em projetos arquitetônicos
fotovoltaicos, o objetivo é resolver em vários
desafios (muitas vezes conflitantes) e que
precisam ser satisfeitos simultaneamente:
programa e serviços do edifício, volumetria,
produção de energia, estratégias passivas,
demandas construtivas, espaço disponível,
densidade urbana e sombreamento, legislação,
451
 aspectos sociais, econômicos, entre outros.
Portanto, sempre haverá tradeoffs, ou seja,
escolhas a fazer, em que a moderação entre
variáveis é crucial. Esta ideia é oposta ao conceito
de densidade de potência em que o principal
e único objetivo é produzir mais energia em
espaço mínimo.
Porosidade: medida oposta ao grau de
densidade que os sistemas fotovoltaicos podem
adotar, ou seja, o número de módulos por área.
Sistemas mais porosos têm um espaçamento
maior entre módulos, interstícios com potencial
para usos sincrônicos.
Termalização: É o “resíduo” da interação
entre fóton (luz) e célula de silício, na forma de
calor. Assim, módulos fotovoltaicos precisam ser
integrados ao envelope de edifícios por meio
de trilhos metálicos e detalhes técnicos que se
assemelham às fachadas ventiladas, permitindo
a dissipação do calor. Quando os módulos estão
em funcionamento, podem chegar a 60ºC.
452
Referências
DIAS, Sofia; SILVEIRA, Flávia ; SCHMID, Aloísio. Building
Integrated Photovoltaics (BIPV): System Application
Guidelines and Albedo Aspects. LENS WORLD DISTRIBUTED
CONFERENCE, 2019, Curitiba. Anais… Milano: EDIZIONI POLI.
DESIGN, 2019. v. 1. p. 1084-1088.
DIAS, S. H. Energia é variável do projeto arquitetônico:
análise de edifícios fotovoltaicos por meio de estudos de caso.
Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Federal do
Paraná. Curitiba, 2020. Orientador: Aloísio Leoni Schmid.
HOVESTADT, L., HIRSCHBERG, U., FRITZ, O. (Eds.). Atlas of
Digital Architecture: Terminology, Concepts, Methods, Tools,
Examples, Phenomena. Basel: Birkhäuser, 2020.
IDEO. Method cards. IDEO, nov. 2003. Disponível em: https://
www.ideo.com/post/method-cards. Acesso em 14 ago 2020.
MOUSSAVI, Farshid; KUBO, Michael. The Function of
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PELKEY-LANDES, C. Learn, look, ask, try: IDEO method cards
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learn-look-ask-try-ideo-method-cards-turn-7. Acesso em 07
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SANTOS, A. Seleção do método de pesquisa: guia para pós-
graduandos em design e áreas afins. Curitiba: Insight, 2018.
SCHLUETER, A. Beyond the Visual - Towards Reality in Digital
Design. In: Second International Conference on Critical Digital:
Who Cares (?), 2, 2009, Cambridge. Proceedings, Cambridge:
Harvard University Graduate School of Design, 2009, p. 71-75.
ZOMER, Clarissa; NOBRE, André; CASSATELLA, Pablo;
REINDL, Thomas; RÜTHER, Ricardo. The Balance Between
Aesthetics and Performance in Building-Integrated
Photovoltaics in the Tropics. European Photovoltaic Solar
Energy Conference and Exhibition - 28th EU PVSEC, 28, 2013,
Paris.
453
Tabela cartas método

categoria título como porque mundo real Angular Ampli- Módulos São respon- Adaptive Solar
tude de assumem sivos, Façade: proto-
Solar Sem Módulos Os módulos Adaptive Solar 90° várias quando tipar condições
posições: ver- não houver ideias no invólu-
limitação fotovoltaicos têm am- Façade: protóti- tical, interme- usuários cro: a variação
geográ- são parte de plitude de po originalmente diárias ou seguirão o entre o estado
fica uma peça movimento, desenvolvido horizontal, movimen- hermético e
construtiva ou seja, se para Dübendorf, liberando to do sol aberto, além de
pré-fabricada adaptam às Suíça: verão as vistas e para maior estratégias passi-
(incorporada condições agradável e com incidência produção de vas e ativas. Tam-
à fachadas de imediatas. precipitação, solar. energia. bém, o controle
edifícios). inverno muito da porosidade é
frio e céu importante para
encoberto. As- evitar o som-
sim, os módulos breamento entre
movimentam-se peças.
em resposta às
variações.
Refletân- Ma- Sistemas tipo O movimen- Adaptive Solar
cia nutenção tracking, to da peça Façade: se os
Espacial Super- Módulos Tem bons re- Adaptive Solar mecânica exigem pode “travar” módulos dinâmi-
fícies en- dinâmicos sultados em Façade: uso constante em uma cos pararem de
vidraça- movimen- projetos com indicado para manutenção, posição se movimentar,
das tam-se para demandas escritórios, aca- o que não deseja- na posição
liberar ou para aquec- demias de encarece. da. Garantia “fechada”, o
proteger do er e resfriar ginástica, lojas, de 20 anos, ambiente ficará
calor (estraté- (função adap- mercados e enquanto totalmente no
gias passivas), tativa). Caso escolas, com edifícios escuro, por
além de pro- contrário, um economia entre durarão exemplo.
duzir energia sistema es- 20 e 80% se pelo menos
(estratégias tático é mais comparado a 50 anos.
ativas) e liber- eficiente. modelos estáti-
ar vistas. cos. Quanto mais
porosa a com- Atômico Módulos Módulos de Em fachadas, Adaptive Solar
posição, maior a leves segunda é crucial rigi- Façade: O
entrada de calor filme fino geração CIGS dez adicional protótipo pas-
e iluminação (e =13%). para sará por revisão
natural nos am- suportar para aumentar
bientes, contudo, o vento. a estabilidade
menor produção Também, o (ventos). Os
de energia elétri- necessário módulos têm
ca - e vice-versa. afastamen- dimensões 40
Portanto, exige to entre cm x 40cm, com
moderação. substratos afastamento de
ameniza a 80 cm da facha-
termalização. da construída.

454 455
Social Biblioteca Para Materiali- Adaptive Solar Espacial Escola Materialização Acesso à luz Copenhagen
de mate- aceitação dade, Façade: Na da arqui- natural School: as salas
rias social, é desenhos ETHZ, os cursos tetura em favorece o de aula estão
necessário técnicos e de arquitetura sincronia com ambiente de localizadas nas
exibir e referências e design são de a entrada de ensino. esquinas dos
educar sobre são essen- velha guarda luz natural e volumes, para re-
a possível ciais para a e a integração produção de ceber luz natural
materialidade implemen- fotovoltaica ao energia. de duas facha-
dos módulos tação. envelope de das. Os 12.000
integrados à edifícios não é módulos fotovol-
arquitetura mencionada. taicos foram in-
(acabamento Para preencher tegrados na área
da peça, cores esta lacuna, a restante, após as
disponíveis, biblioteca da subtrações das
soluções de universidade janelas, em todas
fixação, etc). compartilha as orientações
projetos como (inclusive norte).
a ASF com os Parte da escola
alunos. Junto aos foi dissolvida
livros, os materi- em 4 torres para
ais solares estão aumentar o
disponíveis para
perímetro e, por-
consulta.
tanto, irradiação
Solar Zona por- Localização Área não Copenhagen solar incidente.
tuária costeira em adensada, School: Nord-
zona por- sem som- havn
Angular Ângulo 4° Variação Assumir a Copenhagen
tuária indus- breamento, (55°41’32”N
angular de 4° materiali- School: Os
trial, defronte mas com 12°33’53”E).
em relação à dade módulos estão
ao canal. a ação de Elevação do sol é
verticalidade vertical do posicionados em
fortes ventos. baixa (10°), o
dos demais volume, com todos os sentidos
que favorece
substratos. pequenas de inclinação,
produção de
variações criando um
energia em
angulares. efeito texturiza-
fachadas. A
do na fachada. O
reflexão espe-
que discorda do
cular da água
senso
não contribui
comum “usar
significativa-
a latitude da
mente para o al-
cidade” (55°),
bedo, mas o est-
ainda assim,
reito de Øresund
produzindo
garante o não
bons resultados.
sombreamento
Portanto, exige
por outros
moderação.
edifícios.

456 457
Refletân- Caixas Funcionam Manter re- Copenhagen Social Dados Integrar os Melhorar Copenhagen
cia metálicas como quad- sistência School: caixa para fins dados gera- aceitação School: os
(quad- ros de fixação mecânica metálica de didáticos dos pelo siste- social e dados sobre
ros de dos módulos para o siste- alumínio com ma fotovoltai- educação a produção
fixação) na fachada. ma ser face inclinada, co às aulas. para a futura de energia do
resiliente às 4° em relação implemen- edifício estão
intempéries: ao substrato tação da disponíveis aos
fortes ventos, vertical da facha- tecnologia. 1200 alunos para
análise durante
chuva. da (causando as aulas de física
variação na cor e matemática.
dos módulos, em A pedagogia faz
diferentes tons parte da arquite-
de azul).Cada tura.
caixa sustenta
um módulo Solar Topogra- Edifício foto- Necessário New Blauhaus: o
individualmente, fia e veg- voltaico manejo das edifício emerge
encaixados por etação implantado perdas de na paisagem.
trilhos metáli- em meio ao eficiência em Os módulos
cos. O fato de bosque. decorrência sombreados pela
concentrar as de módulos vegetação são
diferentes peças parcialmente “cegos”
dos montantes sombreados. (acabamento
em apenas brilhoso e mes-
um elemento, ma coloração,
porém sem
garante precisão células
em uma obra de fotovoltaicas).
grande porte.
Espacial Edifício Material- Variáveis New Blauhaus:
Atômico Aca- As conexões Maior Copenhagen de es- ização da ar- determina- as linhas vertic-
bamento elétricas repertório School: o esforço critórios quitetura em das pela or- ais criadas pelo
opaco e não são arquitetôni- para esconder a sincronia com ganização e posicionamen-
colorido visíveis, além co (mate- célula fotovolta- a salubridade alinhamento to das janelas
da possibi- rialidade). ica induzirá per- do ambiente das janelas na fachada,
lidade de Contudo, é das na eficiência de trabalho, na fachada. obedecem o
peças com um efeito res- (12%, neste caso). flexibilização distanciamento
diferentes ervado para Ainda assim, a espacial, além de 1,35 metros
cores: verde, aplicação nas escola produz de produzir entre linhas. Isso
cinza, doura- fachadas já metade da energia. determinará a
do, azul. que repre- energia que alternância entre
senta perda consome (300 janelas (ilumi-
de conversão MWh/ano em nação natural)
elétrica e não um sistema e módulos foto-
voltaicos (opaco),
faria sentido de 6048 m²). assim como as
na cobertura. Portanto, exige divisórias inter-
moderação. nas do edifício.

458 459
Angular Janelas Inclinar em Ao inclinar e New Blauhaus: Atômico Cavidade Caso o fóton Quando New Blauhaus:
inclinadas direções proteger as módulos e de venti- tenha energia em funcio- toda fachada
opostas os janelas da janelas inclina- lação maior do que namento, está em função
módulos e as incidência dos em direções o necessário o módulo da dissipação de
superfícies solar durante opostas. Janelas para liberar aquece (até calor. Nos módu-
envidraçadas. os períodos de vidro duplo, o elétron e 60 °C em los, há cavidade
mais quentes no vidro externo, gerar corrente condições entre os substra-
(aproxima- com aberturas ordenada de operação tos. Na fachada
damente 60° nas cavidades na célula durante o dupla de janelas,
no solstício para convecção de silício, o verão). É aberturas para a
de junho), do ar. Estão excedente é necessário convecção do ar
evita-se a equipadas com transformado ventilá-lo quente.
demanda proteção solar. em calor: ter- para não per-
excessiva por malização der eficiência.
refrigeração. Este é o
Inclinando resíduo do
os módulos efeito foto-
fotovoltaicos voltaico, o que
em direção afeta
ao sol, po- diretamente
tencializa-se na eficiência.
a conversão
elétrica. Social Excesso Evitar o Em sistemas New Blauhaus:
de tecno- excesso de complexos, em todos os
Refletân- Peças Integrar O que New-Blauhaus: logia máquinas, há alto índice ambientes, há
cia pré-fabri- o módulo confere 400 peças confiando a de erro pelo menos
cadas fotovoltaico à agilidade na modulares dão performance humano no uma janela que
peça constru- construção forma ao edifício, apenas neste manejo das pode ser aberta,
tiva, desde a do edifício e em um processo fator. máquinas. conferindo liber-
produção em controle de de construção Exige-se dade ao usuário.
fábrica. qualidade que durou 15 moderação, Também,
das conex- meses - 20 peças com estraté- porque o edifício
ões elétricas. içadas por dia gias passivas é muito popular
Contudo, e fixadas no e low-tech. entre alunos,
perde-se a esqueleto estru- a capacidade
qualidade tural de concre- excedeu o esper-
plug-and- to. O módulo ado nos cálculos
play (você fotovoltaico está prévios. Levou
precisará integrado à peça um ano para
os engenheiros
trocar toda a pré-fabricada aprenderem a
peça pré-fab- que também controlar todas
ricada quan- funciona como as máquinas,
do a vida útil parede externa. além de o con-
do módulo sumo de energia
chegar ao ser maior.
fim).

460 461
Solar Contexto Cidades pou- Evita-se risco Casa em Brüt- Angular Fachada Módulos foto- Aumentar a Casa em Brütten:
rural co adensadas, de sombrea- ten: na comuna e telhado voltaicos curva de o sistema foto-
próximas mento, os Brütten integrados produção voltaico assume
a grandes edifícios (47°28’N 8°40’E), às fachadas elétrica. a posição vertical
centros estão bem 58,9% da área e telhado do Módulos 90° em todas
urbanos. expostos à são usados para edifício. assumem a as fachadas e,
incidência fins agrícolas e fachada e o também, 14
solar, além 30,1% destinados telhado, am- superfícies com
de estarem às áreas arbor- bos em todas inclinação
próximos à izadas. Apenas as orien- de 29,5° nos
rede pública 11% são assenta- tações. Exige telhados.
de energia. mentos urbanos. moderação.
Está a 20 km do
centro da capital Refletân- Mon- Montantes Solução con- Casa em Brüt-
Zurique. cia tantes de fixação fere resis- ten: dois perfis
colados colados (fita tência, metálicos foram
Espacial Edifício Materialização Para suprir Casa em Brüt- 3M) na face com bons colados na face
de apar- da arquitetura esta alta ten: junto à posterior dos resultados posterior do
tamentos em sincronia demanda fachada e telha- módulos foto- nos testes módulo, para
com o con- energética, do fotovoltaico, voltaicos. de estresse o seu encaixe
forto da vida todas as es- medidas como: mecânico em um trilho
moderna. colhas (pas- tanques de hi- (danos pela metálico preso
sivas e ativas) drogênio, sucção deflexão da ao edifício - fun-
visam o baixo e reaproveita- peça). As cionamento sim-
consumo mento do calor subestruturas ilar às fachadas
de energia, do ar externo, tornam-se ventiladas.
sem perder o bomba de calor, invisíveis na
conforto ou armazenamento fachada.
a beleza. Em térmico de longo
um sistema prazo, troca de Atômico Autossufi- Edifício Necessário Casa em Brütten:
fotovoltaico calor geotérmi- ciência off-grid, equilíbrio en- Menor produção
compacto, ca, assim como de caráter tre as curvas de energia e
contudo equipamentos autárquico. produção maior consumo
altamente inteligentes, e.g. de energia no inverno. A
fiável em ma- o chuveiro Joulia versus uso. O energia produz-
quinários e (que reaprove- que resultará ida no verão é
em um com- ita o calor da no man- armazenada
portamento água), garantem datório, ou em tanques de
ideal que é o equilíbrio no não, arma- hidrogênio - por
esperado suprimento de zenamento ser oneroso,
dos usuários energia em um de energia. aumentou-se a
sobre como edifício com produção elétri-
utilizar o todos os serviços ca para diminuir
edifício. esperados na
essa demanda
vida contem-
porânea. para 11%.

462 463
Social Centro É importante Isso para pro- Casa em Brütten: Espacial Casa uni- Elementos É um Casa Schneller
de ex- fornecer var que novos maquetes do familiar multifun- programa Bader: na face
posições informações hábitos são edifício são ex- cionais para arquitetôni- sul, a telha de
para motivar economica- postas no museu atender as co mais fibrocimento é
e educar o mente viáveis Umwelt Arena, demandas compacto substituída por
usuário. a longo pra- além de todos espaciais e se com- módulos fotovol-
zo, portanto, os fornecedores energéticas parado aos taicos monocris-
atrativos. da obra. Mais em sincronia. demais: aqui, talinos
não haverá de primeira
ainda, um dos um grande geração (108 m²)
apartamentos número de para abastecer
está aberto para maquinários, uma família de
visitação e, para ou soluções quatro pessoas.
os moradores do onerosas O sistema de
edifício, há um divididas por aquecimento
display de con- um grande da casa está
sumo de energia número de integrado à laje
(com incentivos usuários. de concreto (i.e.
financeiros para Thermally Active
aqueles que con- Building - TAB),
sumirem menos promovendo
energia do que o resfriamento
esperado). sensível e aquec-
imento parcial,
Solar Legis- A legislação O terre- Casa Schneller suplementar
lação determina no é força Bader: a orien- a outras medi-
áreas poten- motriz de tação sul está das (bomba de
ciais para a desenvolvi- totalmente livre calor).
produção mento do para produzir
Angular Latitude O sistema Potencializar Casa Schneller
fotovoltaica. projeto. Isso energia, sem o fotovoltaico a conversão Bader: em
a partir de risco de futuras assume o elétrica por Tamins
sua análise obstruções, já ângulo da meio de (46°49’45”N), a
legal: em que nada que latitude da orientação angulação do
qual zonea- ultrapasse esta cidade em e angulação telhado assume
mento está? linha imaginária que está. ótimas. A a latitude (face
O que será determinada Orientado a latitude é a sul, ângulo 45°).
edificado na pela legislação norte ou sul, média dos Potencializando
vizinhança? A será construí- dependendo ângulos dos assim a con-
partir da den- do (limites da do hemisfério. raios solares versão elétrica.
sidade urba- cidade). A partir nos meses de Contudo, esta
na, é possível desta vantagem, verão e inver- condição não é
prever o som- tomou-se a de- no - variação rígida, não está
breamento cisão de constru- de 10 a 15° sempre dis-
e potencial ir um telhado somados ou ponível em pro-
produtivo dos fotovoltaico para subtraídos da jetos arquitetôni-
módulos. a autossuficiên- latitude. cos. Exige-se
cia. moderação.

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Refletân- Plug and É importante Módulos Casa Schneller Social Cultura O peso Está en- Casa Schneller
cia play facilitar a têm garantia Bader: insta- alpina histórico raizada em Bader: A casa
remoção e de 20 anos, lação e detalhes da cultura elementos dos pais de Geor-
substituição enquanto técnicos muito alpina incita tradicionais gina Schneller
dos módulos edifícios semelhantes às desafios para (cabanas, tem cerca de 100
ao longo de durarão telhas tradicio- a integração chalés, estáb- anos e a família
sua vida útil. pelo menos nais, levemente fotovoltaica ulos, lojas de trabalha com
50 anos. Ou sobrepostas em na arquite- caça, abrigos agricultura (está
seja, é certa a uma estrutura tura. para pas- na parte frontal
manutenção de caibros e tores). do terreno). Aos
das peças. ripas de madeira. fundos, a nova
Os módulos são construção
encaixados em autônoma em
suportes metáli- energia sustenta
cos aparafusados linhas modernas
à estrutura, de em um design
fácil remoção. direto e sim-
Daniel Ladner o ples, ciente do
caracteriza como contexto local. O
“um telhado em telhado fotovol-
vidro [...] uma taico faz alusão
solução real- aos tradicionais
mente simples”. em que se pode
enxergar a face
Atômico Módulos Tecnologia Células de Casa Schneller interna das tel-
monocris- mais dis- silício pos- Bader: encapsu- has no beiral.
talinos seminada, suem eficiên- lamento preto,
comumente cia elevada sem moldura de Solar Locais Os primeiros Produzir en- New Monte Rosa
utilizada (20%) se alumínio apar- remotos sistemas ergia elétrica Hut: A cabana
em plantas comparadas ente, produção fotovoltai- em locais está ao pé do
solares. às demais. energética de cos foram inóspitos, Monte Rosa, a
Também, a 22800 kWh/ano. aplicados em ou sem rede 2.883 metros de
tecnologia é Perfaz 100% do satélites es- pública de altitude (destino
financeira- consumo, além paciais. Com abastecimen- turístico para
mente atrati- de um exceden- o amadure- to de energia. praticantes
va e madura. te de 44% (que cimento da de esportes
abastece um tecnologia, de inverno). É
carro elétrico). em termos possível acessá-
O backsheet é de eficiência la em duas
substituído por e financeiros, horas e meia de
vidro, o que re- essa possibi- caminhada a
duz a formação lidade se es- partir da cidade
das microfissur- tendeu para mais próxima,
as (células silício edifícios. Zermatt, ou de
na zona neutra). helicóptero.

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Espacial Corpo Em locais de Maximizar New Monte Refletân- Estrutu- Difícil acesso Demanda New Mon-
mínimo clima severo, o espaço Rosa Hut: As cia ras leves e condições por estru- te Rosa Hut:
envol- é importante interior, min- temperaturas climáticas tura leve cinco andares, o
to por que o edifício imizar a área alcançam -30°C extremas para pré-fabricada, sistema espa-
superfície funcione de superfície e as rajadas de a construção. de rápida cial e estrutural
mínima. como um externa e, vento 250km/h, montagem in resulta em um
balão térmico portanto, portanto exige loco (menos denso pacote
hermetica- a perda de uma pele isolan- onerosa para de cinquenta
transportar células em forma
mente fecha- calor através te. Tal pensa- e menor de trapézio,
do, que é da pele do mento conduz à risco de vida divididas em
bem isolado. edifício. imaginação de para os tra- partes menores
uma esfera, for- balhadores). para o transporte
ma geométrica de helicóptero
compacta, mas e montagem. A
com elevada difi- estrutura intei-
culdade constru- ramente de ma-
tiva. Ao cortar a deira precisou
esfera, criando ser transportada
algumas áreas e construída
planas na super- entre maio e se-
fície, fica mais tembro, devido
fácil reproduzi-la às condições
no mundo real climáticas im-
(solução para postas em uma
altitude de 2.883
este projeto). metros.
Angular Estratégia Em uma Implica em New Monte Rosa Atômico Albedo Valores de A neve New Monte Rosa
passiva e mesma face, diminuir a Hut: a fachada reflexão da branca tem Hut: A escada
ativa dois conceitos superfície de fotovoltaica está superfície um alto em espiral e
primários de fachada para na face sul e no entorno albedo (95%). envidraçada,
energia - uso integração os 92 módulos (quanto mais Módulos potencializa o
ativo e passivo fotovoltaica, monocristali- próxima da fotovoltaicos aquecimen-
da energia com maior nos de primeira cor branca, montados to passivo. A
solar - são so- ganho geração ocupam como a neve verticalmente ventilação dos
brepostos na passivo de 110m². A face por exemplo, em regiões dormitórios puxa
composição. energia está inclinada maiores os com neve este fluxo quente
(diminuindo para a melhor valores de quase para os ambien-
a necessi- conversão elétri- reflexão). dobram a tes e, graças à re-
dade por ca, neste caso produção flexão difusa das
resfriamento 66,2°. Parte dos de energia geleiras claras e
ou aquec- módulos foram se compara- altas, resulta em
imento e, subtraídos para dos a um radiação positiva
consequen- dar espaço às albedo nulo, mesmo na face
temente, de janelas. o que afeta norte.
produção de a energia
energia). disponível.

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Social Simu- Decisões Para provar New Monte Espacial Hotel Produção Maior Silo Bleu:
lação pautadas pelo um argu- Rosa Hut: um de energia número de pequenos
senso comum mento, a dos integrantes em sincro- unidades módulos
nem sempre simulação e da equipe de nia com um habitacionais habitacionais,
são as mais comparação projeto disse edifício de possível, em totalmente equi-
“racionais”. de resultados que a decisão de grande porte, um edifício pados e prontos
em diferentes construir uma constante en- no formato para morar, mui-
cenários é escada em espi- trada e saída de torre. to similar a um
essencial. ral era louca, que de habitantes, hotel. As linhas
o melhor seria equipado verticais (1,40
uma escada no com serviços metros) criadas
centro da planta, de hotelaria. pelo posicio-
com menor namento das
uso de espaço janelas também
e maior núme- determinarão as
ro de quartos divisões internas
conectados e o posiciona-
diretamente à mento dos
fachada. Pro- módulos fotovol-
vou-se que a es- taicos (alternân-
cada espiral era cia entre módulo
efetivamente a e janela).
melhor solução,
com melhores Angular Vertical, Módulo Interpreta-se Silo Bleu: No to-
resultados e orien- fotovoltai- que vale mais tal, 427 módulos
produto espacial tação co torna-se o cômputo estão distribuí-
muito interes- subótima uma peça total, do dos em todas
sante. construtiva, que todas as orientações
mesmo em as fachadas (o edifício é
Solar Clareira Assim como Edifícios e in- Silo Bleu: O orientações produzirem autossuficiente
urbana a legislação, fra estruturas edifício de 15 subótimas, a mesma energetica-
as condições consolidadas andares está a assumindo quantidade mente). Quando
urbanas no entorno nordeste de um
determinam são impor- vazio urbano o volume da de energia. o módulo não
áreas poten- tantes para de aproxi- arquitetura. está na fachada,
ciais para a entender a madamente mas é a fachada,
produção viabilidade de 200 metros: a não pagamos
fotovoltaica. um edifício estação central duplamente
fotovoltaico. com trilhos de pelos materiais,
trem ocupa este o que acarreta
espaço consoli- em economia. É
dado. Enquanto considerado um
a face oposta material nobre,
confronta área causando baixa
residencial com, tolerância para o
predominan- desperdício ou o
temente, três fato de produzir
andares. energia.

470 471
Refletân- Calhas Quando Integrar os Silo Bleu: vol- Social Retorno Comprovar Investidores Silo Bleu: Porque
cia organi- um grande inúmeros umes metálicos financeiro financeira- decidem a a tipologia do
zadoras número de cabos que sobressaem mente que implemen- edifício está
(fios) módulos saem dos à estrutura e um edifício tação de intimamente
fotovolta- módulos ao organizam esta fotovoltaico é uma ideia relacionada a
icos estão edifício, sem teia de conexões. possível. por meio de um grid, ou seja,
integrados na atrapalhar a Contudo, apenas estudos de planos compos-
arquitetura, remoção e dois terços viabilidade tos por inúmeras
como orga- substituição da superfície (investimento peças iguais,
nizar os fios das peças ao dos módulos a ser feito ver- explorou-se a
e conexões longo da vida fotovoltaicos sus retorno materialidade
elétricas? útil. são ocupados financeiro). destas peças:
por células de investindo um
silício, reduzindo pouco mais,
a potência de módulos fotovol-
pico de 185 W/ taicos. Contudo,
m² para 125 Wp/ considerando a
m². Isso porque, escala da obra,
considerando este “investindo
que as calhas um pouco mais”
organizadoras resultaria em
ultrapassam os um acréscimo
módulos, vol- de aproximada-
umes metálicos mente 1%, o que
constituídos por de um ponto de
chapas de 4 mm, vista econômico
existiria som- é praticamente
breamento nas irrelevante. O
bordas da cama- escritório de
da ativa. Exige-se arquitetura
moderação. conquistou este
projeto ao com-
Atômico Isola- Proteger o Em operação, Silo Bleu: na provar que con-
mento ambiente in- o módulo fachada, além seguiria realizar
térmico terno do calor pode atingir da cavidade de o maior número
produzido 60°C. ventilação, há de unidades
pelo módulo três camadas de habitacionais
fotovoltaico, isolante térmico dentro da torre,
assim como que totalizam assim como um
das deman- 260 mm (lã min- edifício autos-
das habituais eral da fabrican- suficiente de
por isolamen- te suíça Saglan). energia com
to. baixo acréscimo
financeiro.

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Autora: Sofia Hinckel Dias: sofiahdias@gmail.com

Orientador: Aloísio Leoni Schmid: aloisio.schmid@gmail.com

Dados internacionais de catalogação na publicação

Bibliotecário Responsável: Bruno José Leonardi – CRB-9/1617
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Dias, Sofia Hinckel

Edifícios fotovoltaicos: energia na gênese arquitetônica
[livro eletrônico] / Sofia Hinckel Dias ; orientação de Aloísio
Leoni Schmid. - Curitiba, PR : Insight, 2024.
474 p. ; 21 x 14 cm.

ISBN 978-65-88617-67-0 (E-book)

20.000 kb ; PDF

1. Energia solar - Projetos. 2. Recursos naturais - energia.

3. Sistema de energia fotovoltaica. I. Schmid, Aloísio Leoni.
II. Título.

CDD ( 22ª ed.)

333.7
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475
ISBN 978-65-88617-67-0