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FRANK WATANABEi
Antes de deixar a DI, devido a uma transferência de rotina, eu me esforcei para definir
alguns axiomas que tentei vivenciar em minha carreira. A priori, este exercício começou
com a ideia de dar conselhos pragmáticos aos analistas novatos que chegavam a minha
fração, passado certo tempo, decidi que esses axiomas poderiam ser interessantes para
oficiais de toda a DI. Embora eu não os tenha aderido de forma rígida, os mesmos me
serviram tanto como um guia geral de conduta profissional quanto, especificamente, como
analista da DI. Para analistas experientes, muitos dos princípios soarão como truísmos e, se
for assim, melhor ainda. Eu apenas tentei codificar regras gerais que norteiam o que nós
fazemos em nosso dia a dia na DI, e tampouco pretendi inventar um novo método. Mas o
analista novato da DI, além das já conhecidas ajudas dos colegas, seria bem auxiliado se
lembrasse destes 15 princípios em sua conduta diária – muitos desses que jamais serão
adotados oficialmente.
Uma das mais desagradáveis coisas que pode ocorrer nesta atividade é admitir que o seu
raciocínio original estava equivocado. Mas enganar-se faz parte do trabalho. Todavia, por
incrível que pareça, muita gente boa simplesmente se recusa a admitir que estava errada
sobre determinado assunto e, mesmo à luz de novos fatos, reluta em mudar suas conclusões.
Em face da ocorrência de novos dados fidedignos, é sempre melhor admitir seu equívoco e
alterar sua avaliação inicial do que se manter inflexível e, mais tarde, ser atropelado pela
evidência e irrefutabilidade dos fatos.
A expressão “imagem refletida” significa projetar sobre a pessoa ou grupo que você
esteja estudando os seus próprios valores e formas de pensar. O ser humano é, por natureza,
diferente de seus semelhantes. Diferenças culturais, étnicas, religiosas e políticas contribuem
para essa diferença. Só porque determinada conclusão ou raciocínio lhe parece lógico, não
significa, necessariamente, que o “alvo” enxergará o cenário da mesma forma que você,
particularmente quando processos de pensamentos e valores diversos estão em jogo.
Não interessa o quanto você sabe sobre determinado assunto se esse conhecimento não
é disseminado, eficaz e oportunamente, ao seu(s) cliente(s). A missão dos órgãos de
inteligência é produzir conhecimentos para instruir o processo decisório. O analista não
estará cumprindo sua missão se não informar, e a tempo! Por exemplo: em 1941, a Marinha
dos EUA dispunha de múltiplas evidências sobre os planos japoneses para bombardear Perl
Harbor; contudo, não processou e difundiu o conhecimento a tempo de prevenir o desastre.
Não são poucos os analistas que se esforçam para mostrar o quão profundo e sofisticado
é o conhecimento de que dispõem. Buscam acentuar essa “qualidade” sobrecarregando seus
trabalhos com mil e um fatos e detalhes. Ledo engano! O cliente raramente está preocupado
ou importa-se com a “sabedoria” do analista de inteligência. Ele que apenas que você seja
“curto e grosso”. Dessa forma, limite-se a dizer-lhe o que realmente é importante que ele
saiba e, com base em suas conclusões, possa decidir. Detalhes supérfluos servem apenas pra
ofuscar os fatos importantes.
Na Divisão de Inteligência da Cia, perde-se muito tempo com a forma pela qual um
conhecimento é disseminado. A verdade é que o cliente – quando – se trata de um que usa o
Sistema – quer unicamente saber o que o documento de inteligência diz, porém no momento
oportuno. A esmagadora maioria dos clientes não liga a mínima para a aparência do trabalho
ou se o formato está de acordo com o regulamento. Já perdi a conta dos clientes que têm me
afirmado que jamais verificam, ou se preocupam, se o selo de autenticação foi impresso no
alto ou no pé da folha, ou mesmo se o documento ostenta o tal selo. Eles apenas querem o
documento em suas mãos o mais rápido possível, a tempo de assessorar uma decisão. É
óbvio que isso não é desculpa para a difusão de um trabalho de segunda categoria, isto é,
que não tenha sido submetido, ao menos, a uma atenta revisão. Contudo, jamais deixe que
preocupações concernentes com a forma prejudiquem o conteúdo de seu trabalho e, mais
importante, afetem a oportunidade de sua difusão.
10. BUSQUE, ATIVAMENTE, A INFORMAÇÃO QUE VOCÊ PRECISA
Se a revisão a que o seu trabalho foi submetido não modifica o significado daquilo que
você está tentando dizer, aceite-a. Contudo, quando ela altera o sentido de sua análise e
transfigura suas conclusões, não tenha receio de protestar e contestar as modificações.
Sua Agência (Divisão ou Seção) não tem o monopólio da verdade. Portanto, conheça as
pessoas que desempenham funções semelhantes à sua em outras agências co-irmãs ou
mesmo dentro de sua própria instituição. Fale com eles frequentemente. Pergunte-lhes o que
estão fazendo e diga-lhe quais as suas próprias preocupações do momento. “Frequentemete”
significa algumas vezes ao mês, e não apenas quando você precisa de algo. Se você não
consegue reconhecer suas vozes ao telefone, provavelmente o contato não tem sido
freqüente. Um relacionamento estreito, geralmente, resulta em melhor coleta, melhores
produtos, menos duplicação e melhor coordenação.
O destino do mundo não repousa sobre os seus ombros. Além disso, sempre haverá
mais trabalho a fazer do que tempo disponível para fazê-lo. Enxergue as coisas em
perspectiva. Não se torne um trabalhador compulsivo. Lembre-se de cuidar de você mesmo
e de sua família. Você está conduzindo um trabalho, não uma cruzada!
i
Foi chefe da Divisão de Inteligência (Intelligence Derectorate) da CIA.