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Memorial do convento

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De facto, a obra “Memorial do convento”, de José Saramago, é de veras marcante, não só pelo
seu estilo literário e enredo, mas também pelas fortes reflexões e críticas que ele fez sobre a
sociedade portuguesa.
Tendo em conta os três pontos que foram apresentados vou começar por aquele que penso já
repararam, que é a forma de escrever, e mais concretamente, de fazer pontuação que o autor
utiliza. Na minha opinião esta forma peculiar que o sujeito literário apresenta favorecem imenso
a forma como eu compreendi esta obra. Numa obra normal temos tantas formas de pontuar que
de vês em quando, temos de reler a frase para confirmar o que nos é transmitido. Neste livro,
senti uma leitura mais corrido e sem pontuação, mas sim com pequenas paragens. Em suma na
minha opinião, no que toca a este aspeto, a escrita de Saramago contribui para uma obra mais
apelativa. Faço um aparte para colocar o desafio de partilharem a vossa opinião sobre este
assunto.
Em relação ao enredo, ou seja, ao romance, tenho de admitir que fiquei de veras impressionado.
Fiquei impressionado porque quem olha para o título e tenta adivinhar aquilo que nos vai ser
apresentado, sem conhecer o autor pensasse que se vai falar do convento de mafra ou até das
razões pelas quais ele foi construído. Pode até abordar estes tópicos, mas estes chegam a passar
despercebidos pela imensidão de conteúdos novos que nos são apresentados, desde novas
personagens a desenhos de espaços e ações da época. Tudo isto contribuiu para uma obra muito
interessante.
Em relação ao terceiro aspeto que são as críticas que o autor faz no decorrer do livro, é
importante referir que são tantas que teria de ler o livro de novo para tentar entender todas.
Estas vão desde os problemas que absolutismo trouce a Portugal através do reinado de D. João
V, os problemas que a guerra traz ás pessoas, não só a quem participa na guerra mas também aos
seus familiares, à forma como a inquisição oprimiu o conhecimento novo e as novas ideias no
sec.18, e demonstrar que no convento de mafra está mais do que grandiosidade a dor e a
escravatura que ocorreu no processo de construção do convento. Queria relembrar que há não
muito tempo, o próprio José saramago foi censurado pelo livro que escreveu que se intitulava O
Evangelho segundo Jesus Cristo, que foi proposto para um concurso europeu e o parlamento na
altura não permitiu que este livro concorresse por ser demasiado forte nas suas críticas. Isto
demonstra por um lado o conservadorismo que ainda existe e também a capacidade que
Saramago tem para mexer na cabeça das pessoas.

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Algo que eu gosto sempre de fazer quando leio obras com esta dimensão crítica, é fazer um
paralelismo com o presente e verificar se houve algum progresso ou se os problemas
permanecem. É um exercício que eu até gosto de fazer embora a conclusão seja sempre a
mesma que é a resistência que os problemas têm.
Neste livro, não foi muito diferente. No que diz respeito aos problemas do absolutismo, embora
estejamos em um regime democrático, existem certas ações políticas que são tudo menos
democráticas. Um bom exemplo são as grandes obras que se prometem e algumas se executam,
das quais poucas ajudam de facto a vida das pessoas, mas servem sim para esbanjar poder e
demonstrar o mesmo para poder garantir a permanência no poder. Para mim isto é um pouco à
semelhança daquilo que acontece no memorial do convento, em que o rei constrói o convento
mais por capricho do que por necessidade efetiva.
Outros pontos que me marcaram têm a ver com as guerras e o exército português em concreto.
Primeiramente, uma das partes que me marcou mais está de facto relacionadas com a forma
como atiram as pessoas para a guerra e depois, quando perdem capacidade de auxílio por
incapacidade física ou mental, são atirados para a sociedade sem apoios significantes fazendo
com que muitas vezes estes exs. Combatentes caiam na desgraça.
Por outro lado, não me pude esquecer do facto de várias guerras terem entrado em cena este
ano, puramente por questões territoriais, o que mais uma vez demonstra o egoísmo do ser
humano. Fazendo assim que haja cada vez mais famílias a sofrer com estes acontecimentos.
Para finalizar, queria relembrar o episódio em que uma frota de bacalhau entrava pela nossa
costa e o nosso exército esperava um batalhão francês estando assim preparados para o combate.
Este episódio satírico, mas revelador das incapacidades portuguesas fizeram-me lembrar da
nossa realidade atual pois infelizmente as guerras não parecem estar a abrandar e aquilo que se
verifica é a decadência das nossas forças armadas. Com isto quero dizer que qualquer dia ao
invés de ser uma frota de bacalhau a entrar por lisboa adentro pode ser outro tipo de frota e nada
seremos capazes de fazer pois estamos de tal maneira mal preparados para tais acontecimentos
que o melhor era deixarmo-nos ser governados por outros.

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