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o]
agora em casa de uma das filhas e passava longos dias na varanda.
Deixou o bairro. Na casa que fora sua, pode-se ver um cartaz: “Aluga-
se”, cujo significado é objeto de constante reflexão.
Um outro manuscrito, com uma caligrafia mais firme, quase
sem emendas, evidentemente posterior, apresenta quase o mesmo
texto, mas começa pela frase seguinte, que Camus parece ter
apreciado por ela mesma (acrescentado ao manuscrito precedente.):
“Por ser bonita, uma mulher julga poder ser coquete, viver bem e
brilhar.” E a seguir: “O marido desta mulher era empresário”, etc.
Note-se também uma modificação da frase final: “... o cartaz ‘Aluga-
se’, que tem sempre um significado maior do que parece.”
h) Apego de Mersault ao quarto:
As folhas manuscritas, após o espaço em branco destinado à
inserção da morte e do enterro, prosseguem:
Mas ele vira-se forçado a abandonar os estudos e as ambições
para começar a trabalhar. Tinha de lutar, ele que desejara viver para
si próprio, trabalhar, escrever, viver a própria vida. Passado algum
tempo, abandonara tudo e esforçara-se para apagar a própria vida.
Acordou, etc. (Mersault no escritório.)
A passagem “Agora, vivia naquele quarto. Podia ter-se instalado
mais confortavelmente, mas.. a sua janela para a vida” existe num
manuscrito à parte.
E, finalmente, o trecho: “Quando se encontravam.., a sua
piedade voltava-se”, que faz lembrar o texto “Entre sim e não”, de O
Avesso e o Direito, só figura no exemplar datilografado.
i) Mersault no escritório:
Este texto aparece na íntegra nas folhas manuscritas.
j) Em casa, à noite:
Idem.
11. Ms.: O Senhor Langlois [que era gordo e viscoso]. O Senhor
Langlois tinha lido Courteline. Das três datilógrafas...
12. Ms.: ou de um personagem de posição destacada.
13. Ms.: se pavoneava e lançava calúnias.
14. Ms.: vegetais. As datilógrafas riam abertamente. A velha
debruçada (duas palavras ilegíveis) levantando os olhos e
continuando a escrever, articulou por fim: “se me permite, Sr.
Langlois, reservar a minha opinião...”
— Um a zero — disse P., calmamente. E ouvia os milhares de
ruídos vindos do porto, através das paredes (três palavras ilegíveis),
com um gosto de sangue e de sal, ao mesmo tempo tão próximos e
tão distantes dele.
Começa, então, um parágrafo: “Voltou a casa às seis da tarde.
Era sábado.”
15. Ms.: que colou minuciosamente num caderno dividido para esse
fim. Feito isto...
16. Ms.: a tarde estava pesada.
17. Ms.: marrom e chapéu mole.
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ALBERT CAMUS [An
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18. Ms.: as pessoas sérias formavam grupos nas calçadas ou
entravam nos bares. A rua estava...
19. Ms.: os lampiões iluminavam a calçada.
20. D.: o capítulo termina deste modo:
“... com pão. Coçou a cabeça e encaminhou-se para o espelho,
ao encontro de si mesmo. Bocejou e virou-se na direção da cama.
Tirou os sapatos. E disse: “Mais um domingo.”
21. Ms.: as vidraças. Deitou-se e dormiu até o dia seguinte, quando
saiu para o escritório.
Havia vários anos que vivia assim, a não ser em certas tardes
em que recebia a visita de Marthe ou saía com ela, e certos
domingos, mais raros, que compartilhava com Zagreus e com as
amigas de Marthe.
Aqui terminam as folhas manuscritas.
CAPÍTULO III
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ALBERT CAMUS [An
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ciúme. E um monstro de olhos verdes...”, para, em seguida, chorar
por Desdêmona, leva-nos a acreditar nessa possibilidade. Mas Camus
vai sentir que lago, Desdêmona e o Mouro de Veneza nada têm a
fazer em Argel, onde Mersault passeia de braço dado com Marthe. Por
outro lado Camus reduzirá a importância desta ligação, eliminando-a
da viagem à Europa Central. Como único vestígio desta antiga
construção, restará, apenas, no fim da Parte 1, a referência, em duas
palavras, a uma carta de, ruptura.
Existem dois manuscritos deste capítulo III: um para as
primeiras páginas (até “toda a vergonha e toda a humilhação
nascidas do coração mau de Mersault”) e o último parágrafo (até
“voltou [sozinho] à casa de Zagreus”, com o restante formando
primitivamente o início do capítulo consagrado à conversa de Zagreus
e Mersault); e o outro manuscrito para todo o resto (desde “Nesse
dia, Mersault começou...” até “Sentiu o desejo de conhecê-lo, e
naquela mesma noite começaram as suas relações com Zagreus. Via-
o freqüentemente, ia à casa dele quase todas as manhãs de
domingo.”)