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ALBERT CAMUS [An

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1) Marthe espera-o, impaciente [os seus ciúmes]
2) Marthe e a sua personalidade (palavra esboçada) as suas
infidelidades; ciúme; o primeiro amante Zagreus
3) Zagreus e conversa.
Este plano foi eliminado com dois grandes traços e substituído pelo
seguinte:
a) Entrada de Mersault em casa. Detalhe. Domingo.
b) A casa. Açougue de carne de cavalo. O vizinho tanoeiro e a irmã.
(Hoje morreu a mãe de M. História da... [palavra ilegível].)
No restaurante: Lopez que come à sua mesa (várias palavras
ilegíveis)
c) Marthe
d) Zagreus.

Constata-se que, se o lugar do capítulo é bem definido — é


sempre o primeiro — tanto a sua matéria quanto a composição são
incertas: por exemplo, a cena do restaurante, prevista, inicialmente,
como seqüência da descrição da residência e do domingo de
Mersault, será antecipada na versão final. A história do tanoeiro é
isolada e remetida ao capítulo V.
Não existe um manuscrito do conjunto deste capítulo, composto
de fragmentos diversos, alguns dos quais extraídos das Vozes do
Bairro Pobre, núcleo central de O Avesso e o Direito (Plêiade, vol. II, p.
1175). Foram examinados separadamente:
A. O porto, o ferido, a corrida de caminhão com Emmanuel:

Trata-se de um texto tardio de introdução ao capítulo, que, no


manuscrito, termina assim: “chegando a Belcourt, Mersault desceu.
Emmanuel continuava...”
Encontram-se esboços deste texto nos Carnets, 1, pp. 36-37.

1. Ms.: Várias frases preliminares riscadas:


[Ao sair do escritório, Patrice Mersault caminhou com grandes
passadas... O verão começava. Isso se sentia. Ele o sentia. As cinco
da tarde...]
[As onze e meia, P. Mersault saiu do escritório e viu-se no cais com
Emmanuel, “o rapaz das entregas.”]
2. Ms.: [sol e cheiros de alcatrão].
B. No resto do capítulo, após a chegada a Belcourt, uma série
de folhas manuscritas formam uma ordem.
a) até o restaurante: O modo de andar de Mersault é objeto de
um fragmento à
parte, que foi inserido na datilografia. Emmanuel, nessas folhas,
chama-se Marcel.
3. Ms.: debaixo do paletó anônimo.
4. Ms.: descoberta

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5. Ms.: do corpo. E se esse conhecimento lhe dava um certo ar de
“bonitão”, ao mesmo tempo o seu corpo inspirava uma confiança
reveladora.
b) O caso de Céleste:
Ficou em branco nos manuscritos, que assinalam, apenas, a
título de transição, o seguinte episódio:
— Bem feito — disse Mersault, para dizer alguma coisa.
— Oh! A gente não deve ser sujo na vida. Apesar de tudo...
O episódio existe em três exemplares manuscritos, um deles
inserido nas “conversas de hospital”. Portanto, não foi num bar que
se recolheu a história:

6. O manuscrito mais antigo começa assim:


Os velhos são... uns cinqüenta. O homem que falava coçava a
barriga, levantando a camisa comprida e flutuante, a cada ida e vinda
das mãos peludas. O rosto grande era iluminado por uns bigodes
(palavra ilegível) e olhava para Louis. Algo naquele homem revelava
uma inteligência e uma franqueza inseparáveis de um coração
simples.
— Eu conheci...

7. Ms.: teve razão. Louis brincava com as borlas de uma almofada de


chamalote. E o que lhe digo. se tivesse novecentos mil francos, como
ele, teria comprado...
Observe-se o nome “Louis”, muito anterior ao de Mersault e que
designa Camus neste fragmento sobre o hospital.
8. Ms.: de onde sopra o vento.
O seu sorriso era cheio de indulgência para si mesmo. Mas, no
momento em que Louis se levantou para sair, subitamente, dirigiu-se
a ele: — A vida, é preciso vê-la sempre pelo lado melhor, e andar
para a frente.
Louis já se encontra na. rua. Caminha muito depressa, desvia-
se de um engraxate, empurra outro, detém-se de repente e estende
o pé a um terceiro.

c) O caso de Emmanuel:
Aparece esboçado nas folhas manuscritas. Evidentemente,
trata-se, ainda, de uma história recolhida do vivo, mas não está in
extenso no manuscrito. Será ainda uma recordação do hospital? Em
todo caso, o “rapaz das entregas” não podia de maneira alguma ter
participado da batalha do Mame.

d) O proprietário e o filho.
e) O caso de Jean Pérez, deixado em branco nas folhas
manuscritas. E reproduzido do texto do “hospital do bairro pobre”. (V.
Plêiade, vol. II.)

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f) O Reflexões de Mersault, seu regresso a casa (até o trecho:
“tinha ficado com o melhor quarto”).
9. Ms.: comia a sua banana
10. Ms.: nas costas. Os braços faziam o resto.
g) A morte da mãe; o enterro:
Em branco nas folhas manuscritas. Este texto, cujo
desenvolvimento constitui o primeiro capítulo de O Estrangeiro,
revela uma das obsessões de Camus. Morte da mãe, da esposa, ou
até mesmo da amante:
Camus não se cansa de escrever sobre este tema.
No texto aparentemente mais antigo, o personagem de luto não
é Mersault (Camus), e sim um empresário de transportes — “o
habitante do bairro pobre” — que perde a mulher. Eis o texto in
extenso:

Um homem jovem precisa de muita imaginação para acreditar


que vá envelhecer. E se não fosse a morte, pouca gente conseguiria
acreditar que envelheceu. Foi assim que a existência deste homem
fora surpreendida pela velhice. A vida de sua família transcorrera
sempre naquele bairro e evoluíra segundo a opinião dos vizinhos e a
piedade de todos.
Por ser bonita, a mulher pensa que pode ser coquete, brilhar e
viver. A mulher desse homem fora bela. Então, achou que podia ser
coquete, brilhava e viveu muito. Ele era empresário de transportes e,
naquela época, trabalhava. Tiveram duas filhas, que se casaram. E
um filho coxo que trabalhava com couros, e vivia com eles.
Por volta dos quarenta, uma doença terrível se apossara
daquela mulher. Ela tinha, etc., enriquecido com sua vida
despreocupada. Durante dez anos, manteve uma vida insuportável.
Aquele martírio tinha durado tanto tempo que os que a rodeavam...
que ela pudesse morrer.
Tinha um sobrinho tubertuloso que, de vez em quando, vinha
visitá-la. Ela gostava daquelas visitas, porque se sentia em pé de
igualdade com ele. Mas era jovem demais, e a sua covardia natural o
fazia recuar diante (palavra ilegível) que lhe roubavam qualquer
resistência.
Um dia, ela acabou morrendo. Tinha 56 anos. Casara muito
nova. E o marido deu-se conta, então, da sua velhice. Antes,
trabalhava demais para tê-la sentido. No bairro, havia muita
expectativa em relação ao enterro. Todos recordavam o carinho do
marido pela morta. Suplicaram às filhas que não chorassem, a fim de
não aumentarem a dor do pai. Rogavam-lhes que o protegessem e a
ele se dedicassem. Ele, no entanto, vestiu o melhor terno. E, de
chapéu na mão, contemplava todos os preparativos, etc. — nada
mais.
Mas vendeu logo o caminhão; apesar do pouco dinheiro que
possuía, pagou as dívidas e viu-se, então, velho e sem dinheiro. Vivia

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