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GRUPO DE PRODUTORES DE LEITE

UNIDOS DO PONTÃO

ELÓI VOGT
JANETE KETZER
CATIANE NYARI

ESCRITÓRIO MUNICIPAL DA EMATER/RS – ASCAR


MATO QUEIMADO

ESREG/SANTA ROSA
2004
RESUMO

Os trabalhos em grupos na comunidade do Pontão do Ijuí têm seu marco inicial


em 1995, com a realização de uma excursão ao município de Tenente Portela
para conhecer a experiência dos produtores daquele município na atividade de
suinocultura (APSATs). A partir disso surgiram diversos grupos informais como o
de inseminação artificial e máquinas e equipamentos. A necessidade de tornarem-
se mais competitivos e aumentar a renda na atividade leiteira levou três famílias a
iniciarem a venda coletiva do leite no ano de 1998. Em 2002, a equipe da
Emater/RS – ASCAR de Mato Queimado, junto com o Conselho Municipal de
Desenvolvimento Rural, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Prefeitura
Municipal, realizou o diagnóstico participativo na comunidade, sendo apontada
como prioridade a ampliação do associativismo, que resultou na criação do Grupo
de Produtores de Leite Unidos do Pontão, com 21 associados que passaram a
comercializar toda a produção leiteira da comunidade de forma coletiva. Esse
trabalho associativo teve como resultados: aumento da renda dos produtores,
aumento da auto-estima das famílias, geração de um emprego na comunidade,
aumento da produção e principalmente aumento do poder de reivindicação junto à
empresa.

PALAVRAS-CHAVE

Leite, Associativismo, APSAT,

CONTEXTO

O Município de Mato Queimado localiza-se na Região das Missões, distante 500


km de Porto Alegre, e tem uma área de 113,95 km² e uma população de 2.022
habitantes. Possui no setor agropecuário sua principal fonte de renda, onde
destacam-se a soja, milho, bovinocultura leiteira e a suinocultura. A bovinocultura
leiteira tem um papel de destaque na pequena propriedade, pois mais de 80% dos
estabelecimentos rurais do município possuem área inferior a 20 hectares.

A experiência desenvolve-se na comunidade do Pontão do Ijui, localizada a 16 km


da sede de Mato Queimado, e envolve 21 famílias desta localidade. As
propriedades caracterizam-se pela pequena propriedade, em média menor que 10
hectares e que utilizam mão-de-obra exclusivamente familiar.

Como em todas as pequenas propriedades da região, a atividade leiteira tem


garantido a manutenção das famílias no meio rural nos últimos anos. Contudo, o
baixo preço recebido pelo litro de leite devido ao baixo volume produzido e
comercializado individualmente tem desestimulado muitos agricultores.
Este contexto é o que despertou a discussão e a busca de alternativas para a
viabilização e manutenção das unidades agrícolas familiares.

Nesse cenário, a alternativa encontrada para aumentar o preço recebido pelo litro
de leite, diminuir custos com investimentos, aumentar o poder de reivindicação é o
que levou todos os produtores de leite da comunidade a se unirem visando à
comercialização coletiva do produto.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

A cada dia que passa, aumenta a necessidade de se produzir mais e com


qualidade. Esse contexto não é diferente na atividade leiteira, onde as empresas
pagam mais pelo produto de qualidade e em maior quantidade. Além disso, para
aumentar o retorno econômico do setor, é de fundamental importância a redução
dos custos de produção. Com esses objetivos é que se organizou o Grupo de
Produtores de Leite Unidos do Pontão no ano de 2002.

O trabalho em grupo na comunidade tem o marco inicial no ano de 1995, quando


um grupo de produtores visitou as APSATs (Associações de Prestação de
Serviços e Assistência Técnica) no município de Tenente Portela. A partir dessa
excursão surgiram diversos grupos na comunidade, principalmente de máquinas e
equipamentos.

Com a realização do Diagnóstico Rural Participativo em 2002 pela equipe


municipal da Emater/RS e parcerias, foram discutidas as prioridades da
comunidade do Pontão do Ijuí, bem como as cadeias produtivas do setor
agropecuário, dentre estas a do setor leiteiro. Com esse estudo, a comunidade
concluiu que deveria priorizar a organização das famílias na atividade leiteira.

Posteriormente, realizaram-se diversas reuniões na comunidade para a


constituição da diretoria e construção do regimento interno do grupo, com a
participação de todas as famílias. Também se realizou uma excursão ao município
de São Paulo das Missões, onde na época já havia diversas comunidades de
agricultores familiares organizadas de forma associativa.

Em agosto de 2002, fundou-se o grupo de produtores Unidos do Pontão,


constituído por 21 famílias que passaram a realizar a venda do leite de forma
coletiva, tendo-se uma produção de 900 litros/dia. Com isso, o preço recebido por
litro de leite passou de R$ 0,24 para R$ 0,32, o que representa um acréscimo de
R$ 0,08 por litro de leite comercializado, representando um ganho de 25%. Se
analisarmos mais, veremos que o grupo obteve um ganho de R$ 72,00 ao dia e no
mês de R$ 2.600.
Mais tarde, visando criar um fundo, cada associado passou a descontar R$ 0,01
por litro produzido para custear futuros investimentos. Esse fundo é administrado
pelo grupo, onde a assembléia define onde será investido.

Através de tomada de menor preço, realizou-se a escolha do freteiro interno que


passou a coletar o leite de cada propriedade até o resfriador do grupo, que
inicialmente era de imersão e posteriormente passou a ser de expansão direta.
Para prestar o serviço de coleta do leite na comunidade, o freteiro 1 recebe R$
0,025 (dois centavos e meio) por litro. Com isso, o frete 2, ou seja, do resfriador do
grupo até o posto de resfriamento da empresa Elegê Alimentos em Cerro Largo, a
18 km da comunidade, diminuiu de 12% para 6%. E criou-se um emprego direto
na comunidade, com renda mensal de R$ 675,00. Cabe salientar que a função do
freteiro interno é recolher o leite de cada propriedade até o posto de resfriamento
da associação, objetivando a diminuição do frete 2 e a comercialização de um
maior volume, aumentando o poder de barganha.

O grupo foi constituído inicialmente apenas utilizando os recursos financeiros de


cada associado, visando instalar um medidor de energia elétrica no local onde
ficava o resfriador. Com a liberação dos recursos do RS RURAL, em dezembro de
2003, foram realizados investimentos no grupo tais como: aquisição de dezessete
matrizes leiteiras, implantação de pastagens perenes, uma roçadeira para manejo
das pastagens, tanque inox para transporte interno do leite e a construção da
sede. Além disso, foram investidos mais R$ 4.500,00 como contrapartida, oriundos
do fundo criado pelo grupo, citado anteriormente, para custear a mão-de-obra na
construção da sede.

No dia 21 de maio de 2004 realizou-se uma tarde de campo na propriedade do Sr.


Valdi Schnorremberger, atual presidente do grupo, onde os produtores do
município, bem como de outros, tiveram a oportunidade de conhecer o
funcionamento da associação e ver o manejo de pastagens de tífton, alfafa e
trevo. A referida propriedade tornou-se referencial na produção de leite a pasto,
tendo uma produtividade de 20,5 l/vaca/dia.

A organização da comunidade na atividade leiteira estimulou o aumento da


produção leiteira, pois em pouco mais de dois anos, ou seja, de agosto de 2002 a
setembro de 2004, a produção passou de 27.000 litros mensais para 56.860 litros
mensais. Além de resultar em um aumento da renda das famílias na atividade
leiteira, o trabalho coletivo possibilitou ampliar as discussões e a busca de
soluções para o setor como, por exemplo, planejamento das pastagens,
instalações do piqueteamento rotativo, e principalmente a capacitação dos
agricultores, sendo que no ano de 2003 foram realizados quatro cursos de
capacitação em atividade leiteira na comunidade, promovidos pela Emater/RS –
Ascar com recursos do RS Rural e pelo SENAR.
RESULTADOS

A organização das famílias da comunidade do Pontão do Ijuí promoveu um maior


empoderamento do processo de produção e comercialização. As famílias, que
antes somente produziam, agora sentam juntas para discutir como atingir metas
de produção e, acima de tudo, negociam junto à empresa o preço do produto.
Além disso, outros resultados dessa organização podem ser destacados, tais
como:
- A participação de todas as famílias da comunidade;
- A busca constante de capacitação através de cursos e palestras;
- Aumento do poder de barganha junto às empresas pelo fato de ter um
bom volume de produção;
- A não-distinção entre pequenos e grandes produtores. Através da
organização, todos os sócios recebem o mesmo valor por litro de leite
comercializado;
- Receptividade e comprometimento dos produtores. Nas reuniões
mensais há uma participação de 100% dos sócios;
- Aumento da produção leiteira. O resultado mais visível do processo,
pois em dois anos o grupo mais que dobrou a produção.
Na tabela abaixo, temos a produção mensal do grupo desde a sua
fundação.

Mês e ano Produção total/ Litros


Agosto 2002 27.000
Setembro 2002 26.353
Outubro 2002 25.672
Novembro 2002 29.368
Dezembro 2002 30.000
Janeiro 2003 29.692
Fevereiro 2003 25.325
Março 2003 22.909
Abril 2003 21.289
Maio 2003 21.300
Junho 2003 28.732
Julho 2003 30.130
Agosto 2003 30.055
Setembro 2003 32.760
Outubro 2003 31.330
Novembro 2003 25.850
Dezembro 2003 22.370
Janeiro 2004 21.747
Fevereiro 2004 20.375
Março 2004 22.949
Abril 2004 20.374
Maio 2004 30.369
Junho 2004 37.771
Julho 2004 48.836
Agosto 2004 51.350
Setembro 2004 56.830

Conforme a tabela, a produção mais que dobrou nos dois anos de funcionamento
do grupo. Tudo isso é resultado da implantação de novas áreas de pastagens,
melhoramento genético e, acima de tudo, do planejamento pela satisfação de
cada associado, o que elevou sua auto-estima pela maior garantia de preço.
Atualmente, o preço recebido por litro de leite é de R$ 0,46. Com todas essas
vantagens visíveis, está havendo a adesão de novas famílias que estão iniciando
o trabalho na atividade leiteira.

O grupo de produtores é organizado de forma informal, através de uma diretoria, e


segue um regimento interno que estabelece regras claras quanto aos direitos e
deveres de cada associado. Um exemplo do que prevê o regimento interno são
as punições sobre faltas ou atrasos não justificados nas reuniões mensais. O
regimento estabelece multa de 30 litros de leite por falta e 10 litros de leite por
atraso do associado no dia da reunião. Segundo o Presidente, Sr. Valdi
Schnorremberger, “... o bom trabalho desenvolvido na associação durante o
período é resultado do cumprimento das regras do regimento interno, sendo que
ocorreram multas por faltas não justificadas”.

A boa participação dos associados, inclusive das mulheres nas reuniões mensais,
tem proporcionado ao grupo procurar soluções na atividade leiteira, pois, segundo
o Sr. Ricardo Sausen, sócio e tesoureiro da associação, “... em muitos casos a
mulher apenas tinha participação no serviço e não era ouvida quando se tratava
de produção e planejamento das propriedades e muitos menos quando envolvia
dinheiro. Agora as mulheres têm voz ativa, inclusive com participação na diretoria”.

IMPACTOS

Com todas as vantagens visíveis apresentadas pelo Grupo de Produtores de Leite


Unidos do Pontão, está havendo a adesão de mais duas famílias que estão
iniciando o trabalho na atividade leiteira.

A organização dos produtores da comunidade do Pontão do Ijuí vem mostrando


que através da união de pequenos agricultores tem-se a oportunidade de competir
no mercado, o que vem estimulando cada vez mais pessoas a continuarem
produzindo o que é a especialidade da agricultura familiar.

POTENCIALIDADES E LIMITES

Potencialidades

- Compra coletiva de insumos: a venda coletiva da produção vem mostrando


uma série de resultados positivos, principalmente no que se refere ao melhor
preço. Com isso, os produtores vêm aumentando o lucro na atividade e a
associação despertou para a possibilidade de também efetuar a compra
coletiva dos insumos e com isso aumentar o poder de barganha na compra,
diminuindo assim os custos de produção.
- Diminuição ou extinção do freteiro 2: como o volume de produção é
relativamente grande e o posto de resfriamento fica a apenas 18 km da
comunidade do Pontão do Ijuí, existe a possibilidade de se negociar a
diminuição do frete 2 ou até mesmo de eliminar esse intermediário. Com isso o
grupo assumirá também o frete do resfriador comunitário até o posto de
resfriamento. Para tanto, o grupo está prevendo um investimento futuro na
aquisição de um caminhão para o transporte da produção.
Limites

- Adequar a produção e coleta segundo a Normativa 51: a referida normativa do


Ministério da Agricultura, de 18 de setembro de 2002, prevê a melhoria da
qualidade do leite no que se refere a células somáticas, bactérias, proteínas,
gordura, resfriamento, transporte.... Para atingir essa qualidade, os produtores
terão que se adequar à normativa.
- Aquisição de resfriador com maior capacidade: o resfriador utilizado
atualmente não atende o volume de produção. Há a necessidade de adquirir
um equipamento com maior capacidade.
- Jogo de preços das empresas: a empresa, no final do mês, muitas vezes não
cumpre os preços que promete e isso provoca um desgaste das lideranças,
gerando atritos na associação.
- Resistência por parte de algumas famílias na implantação de pastagens: a
região é tradicionalmente produtora de grãos e com isso muitos produtores têm
resistência em investir em outra atividade.

AUTORES E COLABORADORES

Autores
ELÓI VOGT – Técnico em Agropecuária, Licenciatura em Geografia, Chefe do
Escritório Municipal da Emater/RS Mato Queimado.

JANETE KETZER – Pedagoga, Extensionista BES Escritório Municipal da


Emater/RS Mato Queimado.

CATIANE NYARI – Assistente Administrativa Escritório Municipal da Emater/RS


Mato Queimado.

Colaboradores

VALDI SCHNORREMBERGER – Agricultor e Presidente do Grupo de Produtores


de Leite Unidos do Pontão.

PAULO THEOBALDT – Agricultor e freteiro do Grupo de Produtores de Leite


Unidos do Pontão.

RICARDO SAUSEN – Agricultor e tesoureiro do Grupo de Produtores de Leite


Unidos do Pontão.
BIBLIOGRAFIA E REDE DE CONTATOS

Rede de Contatos

GERMANO, Dário Badia – Informativo Leiteiro. Organização dos Produtores de


Leite. Escritório Regional de Santa Rosa, maio de 2002.

ESCRITÓRIO REGIONAL DA EMATER/RS-ASCAR


Rua Ectore A. Beltrame 60/ 4° andar
Cx Postal 1001
98900 000 Santa Rosa RS
Fone: 0xx 55 3512 6665
Fax: 0XX 55 3512 2090
E-mail: santarosa@emater.tche.br

ESCRITÓRIO MUNICIPAL DA EMATER/RS – ASCAR DE MATO QUEIMADO


Rua do Comércio 1040
97935 000 – Mato Queimado/ RS
Fone: 0xx 55 613 8067
Elói Vogt – Téc. Agropecuária. Chefe do Escritório Municipal
Janete Ketzer – Extensionista do Escritório Municipal
Catiane Nyari – Assistente Administrativa do Escritório Municipal.

VALDI SCHNORREMBERGER – Presidente do grupo.


Pontão do Ijuí
97935 000 – Mato Queimado RS
Fone: 0XX 55 613 8117

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