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Brasil

Editor: Carlos Alexandre de Souza


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6 • Correio Braziliense • Brasília, quinta-feira, 7 de julho de 2022

INSEGURANÇA ALIMENTAR

País está de volta ao


Mapa da Fome da ONU
FAO aponta que mais de 60 milhões de brasileiros enfrentam dificuldade para conseguir comida. Problema avança pelo mundo

» LUANA PATRIOLINO
Três perguntas para

D
esafio para muitas nações,
o acesso à alimentação e a Rafael Zavala, representante
uma nutrição equilibrada da FAO no Brasil
pioraram no último ano
no Brasil, na América Latina e no Os números são
mundo. Por aqui, a quantidade preocupantes?
de brasileiros que enfrentaram Sim, porque a tendência
algum tipo de insegurança ali- é que sejam ainda piores
mentar ultrapassou a marca de no futuro. Existem quatro
60 milhões de pessoas — atinge causas principais da fome:
um em cada três brasileiros. Os conflitos armados, choques
dados constam de um relatório climáticos, choques
da Organização das Nações Uni- econômicos e choques
das para a Alimentação e a Agri- sanitários. Atualmente
cultura (FAO), divulgado ontem. estamos vivendo o que a
A instituição alertou que o FAO chama de “tempestade
mundo “se afastou” do objetivo perfeita” para a segurança
de erradicar a fome até 2030. O alimentar, pois estes
documento mostra que o núme- quatro fatores estão
ro de pessoas que lidaram com acontecendo ao mesmo
algum tipo de insegurança ali- tempo em alguns lugares
mentar foi de 61,3 milhões, nú- do mundo.
mero alarmante considerando
que a população brasileira é es- As políticas públicas
timada em 213,3 milhões. avançaram no Brasil?
No resto do mundo, a situação Estamos vivendo um
também é grave, principalmente momento ímpar da história,
nos países mais pobres. Segun- onde todas as fragilidades
do a FAO, cerca de 828 milhões dos nossos sistemas
de pessoas foram afetadas pela alimentares estão expostas,
fome em 2021. O número cres- o que pode inclusive ser
ceu cerca de 150 milhões desde o consumidor decorrente dos im-
Não confunda Impacto da guerra uma oportunidade de
início da pandemia de covid-19: pactos econômicos da pandemia enxergar as lacunas e traçar
mais 103 milhões entre 2019 e de covid-19 e das medidas adota- Em relação aos impactos da novas rotas para a
2020, e 46 milhões em 2021. das para contê-la. Insegurança alimentar Insegurança alimentar severa guerra na Ucrânia, as simulações erradicação da fome em
A pesquisa também leva em Voltando ao Brasil, os últimos moderada contidas no relatório da FAO su- todo o mundo.
consideração o recorte de gênero. números da FAO revelam uma O nível de gravidade da gerem que, no cenário de cho-
Em 2021, 31,9% das mulheres no piora sensível da insegurança ali- Nível de gravidade da insegurança alimentar em que as que moderado, o número global Como fazer para a
mundo tinham insegurança ali- mentar. Entre 2014 e 2016, atin- insegurança alimentar em que pessoas, provavelmente, ficaram de pessoas subalimentadas em segurança alimentar
mentar moderada ou grave, em giu 37,5 milhões de pessoas — as pessoas enfrentam incertezas sem comida, passaram fome e, no 2022 aumentará em 7,6 milhões, voltar a ser prioridade?
comparação com 27,6% dos ho- 3,9 milhões em condição grave. sobre a capacidade de obter caso mais extremo, ficaram dias enquanto esse crescimento pode Se os governos
mens. A desigualdade crescente é Para a organização, a insegu- alimentos e são forçadas a sem comer, colocando a saúde e chegar a 13,1 milhões de pessoas, redirecionarem os recursos
mais evidente na América Latina e rança moderada é medida quan- reduzir, em algum momento, o bem-estar em grave risco, com acima das estimativas de base, para priorizar os
no Caribe, onde a diferença entre do a população não tem certeza a qualidade ou quantidade dos base na Escala de Experiência de sob a configuração mais severa consumidores de alimentos
homens e mulheres ficou em 11,3 sobre a capacidade de conseguir alimentos por falta de dinheiro. Insegurança Alimentar. de choque. e incentivarem a produção,
pontos percentuais. Em 2020, esse comida e, em algum momento Para a América Latina e o Ca- o fornecimento e o
índice era 9,4 pontos percentuais. do ano, teve de reduzir a quali- ribe, até 2022, isso significaria consumo sustentáveis de
Quase 3,1 bilhões de pessoas dade e quantidade de alimentos. um aumento de 0,62% no núme- comida nutritiva, ajudarão
não puderam pagar por uma ali- A insegurança grave é entendida região sugere que o problema e dezenas de milhares de famí- ro de subalimentados na região a tornar alimentações
mentação saudável em 2020. Isso quando as pessoas ficam sem ali- não se limita mais aos grupos lias que não a vivenciavam an- — 350 mil pessoas — no cenário saudáveis menos
representa 112 milhões a mais do mentos por um dia ou mais. sociais que vivem na pobreza tes”, disse o representante Re- de choque moderado, e 1,13% — dispendiosas e mais
que em 2019, refletindo a infla- “O número de pessoas em há muito tempo; a insegurança gional da FAO América Latina 640 mil pessoas — na configura- acessíveis para todos.
ção nos preços dos alimentos ao insegurança alimentar na alimentar já atingiu as cidades e Caribe, Julio Berdegué. ção de choque mais grave.

AMAZÔNIA Anvisa mantém veto a cigarro eletrônico

Univaja vê omissão no caso Bruno e Dom


Reprodução Internet

Pedro França/Agencia Senado


» ISABEL DOURADO* ao jornalista britânico Dominic
Phillips. Leia um trecho:
Um mês após o brutal assassi- “Grandão, o acampamento es-
nato do indigenista Bruno Araú- tá pronto, feito com palhas de co-
jo e do jornalista britânico Dom cão. Ouço o barulho das grandes
Phillips, a União das Organiza- árvores vindo do leste. Os macacos
ções Indígenas do Vale do Java- zoguezogue anunciam o amanhe-
ri (Univaja) insiste que a pressão cer. A terra enlameada do acam-
nacional e internacional não po- pamento logo estará vazia, pois
de parar. A entidade cobra a apu- as equipes de expedição seguirão
ração do assassinato e a identifi- viagem rio acima. Os igarapés nas
cação de possíveis mandantes do margens dos rios Curuçá e Itaquaí
crime. Segundo o procurador ju- estão secos, onde um bando de
rídico da Univaja Eliesio Marubo, queixadas passou ontem. A anta
a omissão do Poder Público deixa assobia solitária pelo rio Jaquira-
os indígenas temerosos pela se- na. A jacutinga canta triste pelas
gurança das comunidades. cabeceiras do Jutaí lá pelas ban-
“Trinta dias depois do assas- das do rio Ituí. Os isolados estão
sinato de Dom e Bruno na região tocando suas flautas, feitas de os-
do Vale do Javari continuamos na sos de macaco preto. Os Korubos
mesma sensação de insegurança estão querendo retornar as suas
de antes, conforme a Univaja já ti- terras no rio Coari. Os Matis vol-
nha previsto. As autoridades na- taram às pazes com os Korubos e, Eliésio Marubo para “Grandão”: “Sabemos que você morreu por nós”
da fizeram para fortalecer a segu- agora, planejam tomar cipó tatxik
rança na região. A Polícia Federal nas cabeceiras do rio Branco (...). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve a proibição
ainda investiga o caso e autorida- Agora, o mundo inteiro sa- atual presidente deste país tentou Teremos de seguir, tristes, sem de venda dos chamados cigarros eletrônicos no país. A diretoria
des policiais têm feito conclusões be que, no Vale do Javari, reina a de todas as formas desconstruir a a sua companhia. Fique bem, colegiada da agência aprovou, ontem, por unanimidade, o relatório de
pessoais sobre o desfecho do cri- omissão, a inação e a política ne- sua história, mas ela se manterá prossiga a sua expedição pelas impacto regulatório sobre os dispositivos. Cristine Jourdan, diretora
me”, disse o procurador. gacionista, a ausência total de Es- por gerações, pois nós, povos do matas da minha terra. Vamos nos responsável pelo setor da Anvisa que regula a indústria do tabaco,
Ontem, Beto Marubo enviou tado em nossa terra, mesmo após Vale do Javari, sabemos que você falando pelos sonhos da ayahuas- considerou “inviável e potencialmente lesiva à saúde” a proposta de
ao Correio uma carta em ho- um mês do seu assassinato. Sa- morreu por nós, pela nossa terra. ca. Oshatso, Grandão!” liberar o consumo de dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), como
menagem ao indigenista Bruno bem até que a Fundação Nacio- Nunca vamos nos esquecer dis- os cigarros eletrônicos são tecnicamente chamados. A comercialização,
Pereira — um amigo pessoal a nal do Índio (Funai) perseguia so. A sua luta continuará através *Estagiária sob a supervisão de importação e propaganda dos DEFs são proibidas no Brasil desde 2009.
quem chamava de “grandão” — e e continua perseguindo você. O de nós e de nossas gerações (...). Vinicius Doria

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