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MÁQUINA DO TEMPO:

O Brasil de volta ao Mapa da Fome

Boletim Nº 14
Fevereiro de 2022
1. Introdução contornos distintos e paradoxais,

Os desafios do combate à tendo em vista o fato de que a

fome aumentaram no atual fome assola milhares de

panorama de pandemia da brasileiros, mesmo diante de um

Covid-19, deflagrado no Brasil a panorama de produção intensa e

partir de 2020. Revelou um crescente de alimentos (CONAB,

quadro de insegurança alimentar 2021). A fome, como afirma

próximo ao do ano de 2004, Abramovay (1991, p.11), ainda que

quando os programas sociais de tenha caráter biológico, é uma

segurança alimentar e nutricional doença social que surge “apesar

tomaram fôlego. Entretanto esta da generosidade da natureza”

situação não se deve somente à pelo resultado de uma

crise sanitária, que explicitou “organização social mesquinha

ainda mais as desigualdades com a maioria dos homens”.

sociais, mas também, é resultado No Brasil, o texto


do descrédito com as políticas constitucional de 1988
sociais de segurança alimentar e estabeleceu o arranjo federativo
nutricional que ocorrem no Brasil como uma forma de organização
desde 2015. do estado e garantiu aos entes

Comer é uma das federados (União, estados, distrito

necessidades mais básicas da federal e municípios) o status de

humanidade e a preocupação membro pactuante, com

com este ato está no centro das autonomia político-administrativa

atividades cotidianas (BRASIL, 1988). Essa moldura

permanentes de mulheres e institucional exige da União a

homens (CASCUDO, 1967). A construção dos meios políticos,

escassez de alimentos tem como institucionais e fiscais para

efeito deletério mais lógico, a provisão de políticas públicas de

fome. Essa consequência alcance nacional (ABRÚCIO, 2005;

“natural”, na atualidade ganha SOUZA, 2005). Neste sentido, a


política de Segurança Alimentar e longo prazo. Mesmo porque, as
Nutricional (SAN) assim como as políticas públicas com maior
demais políticas, necessita, entre coordenação do Governo Federal
outras coisas, de coordenação dependem, no mínimo, de um
federativa para atingir a extensão arranjo de capacidades políticas,
territorial do país. Em específico, institucionais e fiscais. Sem as
dado o seu perfil transversal quais, torna-se difícil lograr algum
(BRONZO, 2007; FALÇONI, 2020), êxito, considerando-se a
tendo em vista que se trata de autonomia dos governos
uma política pública que se subnacionais e a necessidade de
conjuga com elementos da indução para que venham a aderir
educação, saúde, assistência e implementar os programas
social, agricultura, dentre outras. definidos em outra esfera.

A partir de uma noção de


um continuum temporal, até a 2. Trajetória das políticas
primeira década do século XXI, a públicas de Segurança Alimentar
trajetória dessa política foi e Nutricional
marcada pela fragmentação e
Após a Primeira Grande
descontinuidade. Este desenho da
Guerra, com a criação da Liga das
política passou por mudanças de
Nações, o enfrentamento da fome
rumo em 2003, através do
se tornou uma questão discutida
Programa Fome Zero (PFZ) que
mundialmente, ainda que com
estabeleceu, ainda que
poucas ações concretas por parte
precariamente, alguma
dos países membros. Estratégias
coordenação levada à frente pelo
mais contundentes foram
Governo Federal, guiada pelo
pensadas décadas depois, com o
Ministério do Desenvolvimento
fim da Segunda Guerra e a criação
Social e Combate à Fome (MDS),e
da Organização das Nações
do Programa Bolsa Família (PBF)
Unidas (ONU), no ano de 1945, e
no ano de 2004 (SILVA, 2014), mas
suas agências especiais, dentre as
sem uma garantia institucional de
quais a FAO (Food and Agriculture
Organization – Organização das modernização da agricultura
Nações Unidas para a (SILVA, 2014).
Alimentação e a Agricultura), que A partir da década de 1950,
se tornou a principal estratégia de as ações governamentais na área
organização no combate a fome a alimentar passaram a ser
nível mundial (SILVA, 2014). executadas com base em
No Brasil, estudos realizados programas direcionados a grupos
desde a década de 1930 por Josué sociais específicos, passando a
de Castro1 contribuíram de forma envolver instituições e esferas do
decisiva para a identificação da governo (TARTAGLIA; BARROS,
associação entre a fome e a 2003). Os programas econômicos
pobreza, para além da escassez de desenvolvidos no Brasil “eram
alimentos2. Ainda que fortemente influenciados por
identificadas, as estratégias de organismos internacionais, com
combate à fome foram interesses bem articulados para
insuficientes já que essas constituírem mercados para seus
discussões esbarravam em um produtos industrializados” (SILVA,
conflito de interesses de governos, 2014, p.18). Em um contexto de
de mercado e dos organismos influência de organismos
internacionais em prol do internacionais que apoiavam a
desenvolvimento econômico e constituição de mercados para
produtos industrializados,
1
Josué de Castro nasceu em 1908 e gestou-se um desenho de
morreu em 1973. Médico, geógrafo e
cientista social foi um dos ícones do programas que veio a favorecer o
combate à fome no Brasil. Suas
pesquisas, de caráter higienista – fruto de consumo de alimentos
seu tempo – mostraram a evidência das
causas sociais da fome e como ela se industrializados e agravar a
distribuía geograficamente de forma
situação daquelas pessoas com
desigual no território brasileiro
(MAGALHÃES, 1997). maiores dificuldades de acesso,
2
A presença de Josué de Castro nas
Nações Unidas fomentou uma crescente sobretudo pelo custo elevado.
discussão ao nível internacional, sobre o
entendimento das estratégias Segundo o autor, “esse cenário
multidimensionais que deveriam ser
adotadas para garantir um nível favorecia o argumento da
adequado de segurança alimentar para
as populações (MACHADO, 2006).
necessidade de modernização do econômico, e não à produção. Isto
setor agrícola, principalmente em porque foi possível perceber o
países em desenvolvimento, paradoxo vinculado a uma
capitaneada pelas inovações da elevação da produção de
indústria química, processo que alimentos aliada ao aumento da
passou a ser conhecido como fome no mundo. Outro
Revolução Verde” (2014, p.10). acontecimento importante foi a

Sem soluções efetivas e com Conferência Internacional de

o problema da fome mundial Nutrição, organizada pela FAO em

ainda pungente, foi realizada em 1992, que incorporou o conceito de

1974, a I Conferência Mundial de segurança alimentar e nutricional

Alimentação das Nações Unidas, ao debate em voga sobre o

em Roma, na Itália, promovida em problema da fome (MALUF;

um cenário mundial de escassez MENEZES, 2000).

de alimentos. As discussões dessa Autores como Barros e


conferência reafirmaram o debate Tartaglia (2003, p.120) consideram
sobre o problema da fome em que “(...) no final da década de 80,
uma perspectiva mais entretanto, os programas
sociopolítica e não somente existentes foram sendo, aos
técnica. Ou seja, entender o poucos, técnica e financeiramente
problema da fome mundial como esvaziados”. Adicionalmente, a
um processo multidimensional conjuntura mundial de
influenciado pela pobreza e pela crescimento das políticas
ingestão inadequada e neoliberais, no início da década de
insuficiente de alimentos (SILVA, 1990, foi marcada pelo
2014). afastamento do Estado das

De acordo com Melo et. al políticas intervencionistas de

(2017), a partir dos anos de 1980 o caráter social, inclusive nos

conceito de fome passou a ser programas de alimentação. Nessa

vinculado à demanda e à década, esforços de organizações

distribuição, ou seja, ao acesso internacionais, como a FAO,


associaram o Direito Humano à de Souza (o Betinho), despertando
Alimentação Adequada (DHAA) a opinião pública e incentivando a
com a garantia de segurança criação de comitês de
alimentar e nutricional,na Cúpula solidariedade pelo país (BARROS;
Mundial da Alimentação, que TARTAGLIA, 2003). Esse período foi
também foi realizada em Roma e marcado por uma grande
contou com a presença de mobilização social em relação à
representantes de 186 países fome e à miséria, reforçando a
(BELIK; SILVA; TAKAGI, 2001). necessidade de ações concretas
Assim, pactuou-se a alimentação para combater as mazelas sociais.
adequada como um direito onde No governo de Itamar
“(...) todos devem ter acesso a Franco (outubro/1992-1994), foi
alimentos de boa qualidade criado o Conselho Nacional de
nutricional e que sejam isentos de Segurança Alimentar e Nutricional
componentes químicos que (CONSEA), órgão consultivo ligado
possam prejudicar a saúde à presidência da República,
humana” (MALUF; MENEZES, integrado por Ministros de estado
2000, p.2). e representantes da sociedade
As iniciativas mais civil (BELIK et. al., 2001).Tais
progressistas, nessa linha de iniciativas se desdobram pelo
combate à fome e à miséria, do desenho federativo brasileiro,
início dessa década de 1990, estados e municípios, com a
mesmo que na contramão dos criação dos seus próprios
rumos apregoados pelas políticas conselhos participativos. No
pautadas pelo “Consenso de âmbito subnacional tais conselhos
Washington”, manifestaram-se de políticas de SAN seguem com
com a criação, em 1993 da um funcionamento independente,
chamada “Ação da Cidadania e sem uma obrigatoriedade na
Contra a Fome, a Miséria e pela sua constituição.
Vida”, emanada da sociedade civil No início do primeiro
por iniciativa do sociólogo Herbert governo Fernando Henrique
Cardoso (1995-1998), já no primeiro que a fome no Brasil era e ainda é
ano, em 1995, foi extinto o causada pela pobreza e pela
CONSEA e criado o “Programa concentração de renda e não por
Comunidade Solidária”, uma baixa produção de alimentos.
deflagrando-se, de acordo com Causas estas que não
Belik et. al, (2001, p.124), “(...) uma possibilitavam o acesso adequado
nova fragmentação das políticas das pessoas aos alimentos e por
públicas de combate à fome”.Na isso aumentava o grau de
década seguinte, em 2001, a insegurança alimentar e
proposta nacional do “Programa nutricional de grande parte da
Fome Zero”3,foi lançada, com base população. Assim, para
no diagnóstico de que a causa da compreender um pouco da
fome no país era a pobreza e a estrutura da política nacional de
concentração de renda, que SAN que ganhou força,
impedia o acesso a alimentos coordenação e recursos a partir de
nutritivos (SILVA; BELIK; TAKAGI, 2003, a análise presente foca sobre
2001). Novamente, o ideário a base legal, a estrutura
deixado por Josué de Castro foi institucional e os recursos fiscais
retomado para a construção de destinados à sua provisão.
estratégias de combate à fome e à Considerando que são muitos os
pobreza. Contudo, o Programa programas que compõem essa
Fome Zero somente ganha política, e distribuídos em diversos
formalidade em 2003, com a Ministérios (dado o perfil de
posse do presidente Luiz Inácio transversalidade dessa política
Lula da Silva (2003-2010), pública), a intenção é examinar
divulgando a sua implementação aqueles que mobilizaram maior
no seu discurso de posse. volume de recursos do Governo

O alicerce do Programa Federal. O período de referência

Fome Zero estava no ideário de considera que a política de SAN


passa a ter centralidade na
3
O programa foi criado no âmbito do agenda nacional, desde 2003,
Instituto da Cidadania, uma ONG
vinculada ao Partido dos Trabalhadores estendendo-se até 2015. Após esse
(PT).
ano ocorreu uma virada na Outra garantia é a utilização de
agenda governamental, com recursos do Fundo de Combate e
impactos na política de segurança Erradicação da Pobreza em ações
alimentar que serão abordados na suplementares de nutrição
sequência. (BRASIL, 1988). Apesar dessas
considerações no texto
constitucional, as datas das metas
3. Institucionalização da
estabelecidas de erradicação da
Política Nacional de Segurança
fome e da miséria foram
Alimentar e Nutricional: até
postergadas, pois duas décadas
onde foi possível (2003-2015)
depois, em 2010, é que a
Algumas garantias alimentação passou a ser
normativas em relação à SAN têm reconhecida como um direito
o início de sua institucionalização social no artigo 6º da Constituição
a partir da Constituição Federal de Federal, a partir da Emenda
1988. Entre esses direitos Constitucional nº 64/2010.
encontram-se o salário-mínimo
A agenda dessa política
suficiente para necessidades
pública muda com o início do
básicas, incluindo (em termos
governo Lula, com o
formais) a alimentação e os
fortalecimento da SAN, na medida
programas suplementares de
em que se definiu o combate à
alimentação nas escolas. Ademais,
fome como uma das prioridades
a União, os estados e os
do governo. Em 2006, a Lei
municípios devem “fomentar a
Orgânica de Segurança Alimentar
produção agropecuária e
e Nutricional (LOSAN), criou um
organizar o abastecimento
sistema nacional de segurança
alimentar” (BRASIL, 1988). Nessa
alimentar e nutricional (SISAN). De
mesma linha de “formalidades
adesão voluntária, ele replica, nos
institucionais”, tem-se o direito à
estados e municípios, um
alimentação de crianças,
arcabouço institucional
adolescentes e jovens, também
sustentado por quatro alicerces: (1)
previsto no texto constitucional.
uma lei municipal/estadual, que execução da política de SAN; e (4)
estabelece os princípios, objetivos um plano de Segurança Alimentar
e diretrizes da política pública de e Nutricional, que define os
SAN no seu respectivo ente objetivos e meios de alcançá-los
federativo; (2) um conselho em um espaço temporal de
participativo, que funciona como quatro anos, em concomitância
canal direto da sociedade civil nas como Plano Plurianual (PPA). A
decisões do poder público, os figura 1 seguinte sintetiza esse
quais podem ser consultivos, arcabouço institucional criado no
deliberativos, fiscalizadores e/ou contexto dessa agenda política e
normativos; (3) uma câmara que, posteriormente, perderia o
intersetorial, responsável por CONSEA nacional, extinto em
articular as diferentes pastas do 2019.
governo na elaboração e na

Figura 1 - Estrutura do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil.

Fonte: adaptado de Leão, Maluf (2012, p.32).


No centro dessa agenda de Agricultura Familiar (PRONAF). O
SAN do governo Lula, quadro 1 traz esse conjunto
destacaram-se o Programa Bolsa normativo que passa a carrear
Família (PBF), o Programa uma diversidade de ações e
Nacional de Alimentação Escolar programas de combate à fome no
(PNAE), o Programa de Aquisição país.
de Alimentos (PAA) e o Programa
Nacional de Fortalecimento da

Quadro 1 - Legislação que cria cada um dos programas da política de SAN analisados

Programa Legislação

Programa Nacional de Alimentação Decreto nº 37.106, de 31 de


Escolar Março de 1955

Programa Nacional de Fortalecimento da Decreto nº 1.946, de 28 de junho


Agricultura Familiar de 1996

Programa de Aquisição de Alimentos Lei nº 10.696 (art. 19), de 02 de


julho de 2003

Programa Bolsa Família Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de


2004
Fonte: Elaboração própria.

3.1. O Programa Fome Zero e a mobilização social e política, das


política pública de SAN décadas de 1980 e 1990 (SILVA,

A partir dos anos 2000, a 2014). Esse esforço se materializou

temática do acesso a alimentos no PFZ, lançado em 2001, como já

ganhou centralidade na agenda assinalado, a partir de uma

do governo Lula, dando volume a proposta de política de segurança

uma engenharia institucional da alimentar para o Brasil, sendo

política de SAN, em um contexto resultado da participação de

que trouxe a memória da força da quase uma centena de técnicos e


especialistas. Ressalte-se o objetivo de promover alimentação
contexto propício para uma saudável a baixo preço para
agenda com a pauta da trabalhadores que circulam nos
alimentação em nível mundial, o centros das grandes cidades
que levou a cúpula mundial de (BELIK, 2012).
alimentação, reunida em Roma O desenho institucional do
em 1996 e organizada pela FAO, a PFZ foi elaborado a partir de
definir metas de redução do consultas efetuadas junto a
número de pessoas subnutridas representantes do Governo
no planeta (BELIK, 2012). Federal, sociedade civil, governos
Em termos operacionais, estaduais e municipais,
foram previstas no PFZ ações culminando na Medida Provisória
estruturais, específicas e locais, nº 103, de janeiro de 2003, que
com destaque para o apoio à definiu a recriação do CONSEA
renda mínima, junto a programas como órgão de assessoramento
como a reforma agrária. Entre os da Presidência da República. O
mais de 40 programas definidos, CONSEA, que havia sido criado em
constavam doações de cestas 1993 e extinto em 1997, passaria a
básicas emergenciais para ser composto em 1/3 por setores
públicos específicos – como os de governo e 2/3 pela sociedade
assentados da reforma agrária, e a civil. As prioridades assumidas, o
educação alimentar, a ser apoio político da Presidência e a
introduzida no currículo do ensino inserção do tema de forma
fundamental. No campo das estratégica na agenda do governo
ações locais, destacava-se o foram pontos fortes no âmbito do
estabelecimento de novas CONSEA, em contraste com a
relações junto a varejistas e fragilidade do conselho do
distribuidores, com a instalação de Comunidade Solidária
bancos de alimentos para cidades (BURLANDY, 2009; BELIK, 2012).
médias e grandes, e de Além da recriação do
restaurantes populares, com o CONSEA, entre outras definições
institucionais, foi instituído o existentes. No entanto, o Governo
Ministério Extraordinário de Federal mudou essa estratégia em
Segurança Alimentar e Combate à outubro de 2003, com o
Fome (MESA), ligado à Presidência lançamento do Programa Bolsa
da República, que ficou Família (PBF4).O PBF previa a
incumbido da formulação e transferência de recursos
implantação de políticas de monetários a famílias em situação
segurança alimentar e nutricional, de pobreza e extrema pobreza, de
e posteriormente seria integrado forma articulada ao acesso a
ao Ministério do Desenvolvimento serviços de saúde e educação (por
Social e Combate à Fome meio de condicionalidades), e,
(MDS).Ressalte-se que em 2004 foi também, ações intersetoriais e
utilizada, pela primeira vez, a programas complementares
Escala Brasileira de Insegurança (SILVA, 2014; VASCONCELOS et al.,
Alimentar (EBIA) na pesquisa 2019). O MDS, a partir da fusão do
sobre segurança alimentar MESA, do Ministério da Ação
realizada pela Pesquisa Nacional Social (MAS) e da Secretaria
por Amostra de Domicílios Executiva do PBF, ficou
(PNAD), pelo Instituto Brasileiro de encarregado da gestão do
Geografia e Estatística (IBGE). programa. O PBF englobou os

Com relação à principal programas anteriores de

ação do governo no combate à transferência de renda e se

fome e à pobreza, o Programa consolidou como a principal ação

Bolsa Família, de início foi do governo para o combate à

regulamentado o Programa fome e à miséria, e, de forma

Nacional de Acesso à Alimentação, articulada, se disseminou o uso do

conhecido como “Cartão CadÚnico (SILVA, 2014).

Alimentação”, criado pela Medida O Programa de Aquisição de


Provisória no 108, de fevereiro de Alimentos (PAA), criado em 2003,
2003, que se juntou a outras
transferências de renda já 4
O Programa Bolsa Família foi extinto
pela MP 1.061/2021, que cria em seu lugar
o “Programa Auxílio Brasil”.
foi implantado a partir de uma responsabilidade do MEC, o PNAE
parceria entre o MDS, o Ministério teve seus recursos ampliados a
do Desenvolvimento Agrário partir de uma parceria firmada
(MDA) e a Companhia Nacional de entre esse ministério e o MESA
Abastecimento (CONAB). O PAA (SILVA, 2014). Com uma mudança
integra a política agrícola e a no seu arcabouço jurídico, que
política de segurança alimentar e abriu espaço para algumas
permite a compra pública de orientações em que se destacam
produtos de agricultores o incentivo à alimentação
familiares, sem licitação, e sua saudável no ambiente escolar e a
doação a entidades sociais, como compra preferencial de produtos
a Merenda Escolar e outras locais da agricultura familiar (em
instituições públicas da rede pelo menos 30%), de exigência
assistencial, criando um mercado formal (VASCONCELOS, et al.,
institucional para a agricultura 2019), o PNAE foi vinculado por
familiar, com desdobramentos no princípio normativo (via Leinº
fomento à economia local (SILVA, 11.947, de 2009) à agricultura
2014). familiar e à segurança alimentar

Daqueles já existentes, entre (CASTRO; FREITAS, 2021).

os anos de 2003 e 2015, o De modo semelhante, o


Programa Nacional de Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) Fortalecimento da Agricultura
apresentou significativos avanços, Familiar (PRONAF), criado em
como a promoção da alimentação 1996, por meio do Decreto nº 1.946,
saudável nas escolas públicas e para fornecer apoio técnico e
privadas5 (BRASIL, 2006) e financeiro à agricultura familiar, foi
introduziu a aquisição de remodelado a partir de 2003, com
alimentos da Agricultura Familiar aumento do volume de recursos e
(BRASIL, 2009). De do número de famílias envolvidas,
além de uma diversificação de seu
5
Portaria Interministerial nº 1.010, de 8 de
maio de 2006 que estendeu o programa público-alvo (SILVA, 2014). Sob
a todos os alunos da rede pública de
educação básica.
responsabilidade do MDA, em seu Programa Bolsa Família com
início o PRONAF beneficiou outras 51,2%, Programa Nacional de
regiões, em detrimento da região Alimentação Escolar com 12,1%, o
Nordeste, região do país com o Programa de Aquisição de
maior número de Alimentos com 4,1% e o Programa
estabelecimentos agropecuários Nacional de Agricultura Familiar
familiares, mas essa relação com 3,6% (CUSTÓDIO; YUBA;
começa a mudar a partir dos anos CYRILLO, 2013), responsáveis pelo
2000 (CASTRO; FREITAS, 2021). No maior volume de aporte de
período de 1999 a 2019, a região do recursos do Governo Federal. Esse
Nordeste mais do que dobrou sua período coincide com os últimos
participação em número de anos da agenda implantada no
contratos, e ampliou sua país, em que as políticas sociais
participação no acesso aos eram tratadas como
recursos do PRONAF (BACCARIN; investimentos e buscavam reduzir
OLIVEIRA, 2021). Já o Programa as desigualdades
Brasil Sem Miséria, lançado em socioeconômicas, impulsionando
2011, destacou iniciativas de o desenvolvimento econômico no
inclusão produtiva e de educação país.
alimentar, bem como reajustes
nos valores do PBF e demais
3.2. A atual (des)importância
programas de SAN (SILVA, 2014).
das políticas de SAN e da
Em termos de dotação participação social
orçamentária, alocada ao longo do
A política pública de
período de bonança das políticas
alimentação e nutrição no Brasil,
de segurança alimentar,
durante 11 anos, mais
sabidamente entre os anos de
especificamente entre 2003 e
2003 e 2015, os programas da
2014, durante os governos de Lula
política de SAN principais
e o primeiro mandato de Dilma,
destinatários na distribuição dos
teve como centralidade o discurso
recursos financeiros foram:
do combate à fome e à miséria. A
partir do segundo mandato de congelando-o por 20 anos. Nesse
Dilma Rousseff (2015-2016), rol de limites encontram-se os
começou a fragilização das gastos com os Ministérios, o
políticas de SAN, sendo esse Judiciário, o Congresso, salários de
período marcado pela recessão e servidores (como professores,
o aumento das taxas de profissionais da saúde, entre
desemprego devido à crise outros), benefícios sociais,
econômica global, acentuada pela aposentadorias, abono salarial,
crise política que culminou no seguro desemprego,
impeachment da presidente, em investimentos (infraestrutura, por
agosto de 2016. Interinamente, exemplo), além de corte de 11%
Michel Temer assumiu em maio do Programa Bolsa Família,
de 2016. No seu governo, os redução de 99,8% dos recursos
processos de rupturas do Programa de Aquisição de
institucionais e programáticas são Alimentos (PAA) para Compra
acentuados, com cortes com Doação Simultânea,
orçamentários e retrocessos de paralisação da reforma agrária, a
direitos que fragilizaram as flexibilização dos direitos
políticas sociais de redução da territoriais dos povos indígenas,
fome e promoção da segurança comunidades quilombolas e
alimentar e nutricional outros povos, das normas
(VASCONCELOS,2019). ambientais, liberação de

Dentre suas ações estão a agrotóxicos e transgênicos, a

extinção do Ministério do redução dos recursos para os

Desenvolvimento Agrário (MDA6), programas de convivência com o

aprovação do novo regime fiscal semiárido em período de

instituído pela Emenda seca(NASCIMENTO, 2019). Ao

Constitucional nº 95, que define o fragilizar essas políticas, são

piso de gastos do governo, afetadas as ações em SAN, tendo


em vista o perfil transversal que
6
A MP nº 726, de 12 de maio de 2016, possui. Em anexo, a figura 6 e o
expedida pelo Presidente em exercício
Michel Temer extinguiu o Ministério do quadro 2 trazem a linha do tempo
Desenvolvimento Agrário.
com a evolução das ações de Plano Nacional de Segurança
abastecimento e segurança Alimentar e Nutricional através
alimentar por governo (1940 -2021) dos dados orçamentários dos anos
e um apanhado das principais de 2014 e 2018 dos programas e
mudanças institucionais que metas do Plano.
fragilizaram a política de SAN.

Na sequência, a tabela 1
apresenta o enfraquecimento do

Tabela 1 - Percentual de redução orçamentária de programas e metas do Plano


Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasil, 2014-2018.

Percentual de redução orçamentária de programas e


metas do Plano Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional. Brasil, 2014-2018
LOA LOA Reduç
Programa / Metas
(2014) (2018) ão (%)
R$
Distribuição de alimentos a grupos R$ 82
27.4
populacionais tradicionais e milhõ 67
milhõ
específicos (cesta básica) es
es
R$
106.2
Programa de concessão ecológica - 100
milhõ
es
Apoio ao desenvolvimento
sustentável das comunidades R$ 6
quilombolas, milhõ - 100
povos indígenas e povos e es
comunidades tradicionais
R$ R$
Assistência Técnica e Extensão 630 185.4
71
Rural (ATER) milhõ milhõ
es es
R$ R$
Assistência Técnica e Extensão
357 19.7
Rural para famílias assentadas e 94
milhõ milhõ
extrativistas (ATES)
es es
R$
R$ 3.6
32.5
Inclusão produtiva de mulheres milhõ 89
milhõ
es
es
R$ 1.3 R$ 431
Programa de Aquisição de
bilhõe milhõ 67
Alimentos (PAA)
s es
R$ R$
Programa “Água para Todos” 248.8 40.8
94
(Cisternas) milhõ milhõ
es es
R$
R$ 6.3
Cooperação Humanitária 38.4
milhõ 84
Internacional milhõ
es
es
Fonte: Vasconcelos (2019, p.9)

Por ser uma política de fevereiro de 2019, vetou o Plano


transversal, a SAN se fragiliza Plurianual (PPA) 2020-2023 com o
frente às retrações orçamentárias compromisso orçamentário com
nos programas e ações os Objetivos de Desenvolvimento
identificados na tabela 1. Com a Sustentável (ODS) e pelo Decreto
perda de espaço na agenda de nº 9759/2019 dissolveu a comissão
governo, mesmo antes da eleição nacional responsável pela
de Jair Bolsonaro, em 2018, isso se implementação da Agenda 2030
agrava já no primeiro ano do novo no Brasil. Administrativamente, as
governo, com início em 2019. Um instâncias de SAN foram sendo
primeiro ato do governo nesse desmontadas e realocadas para
sentido foi a publicação outras políticas sociais. A figura 2 a
da Medida Provisória nº 870 que seguir mostra o arcabouço
extinguiu o CONSEA, exonerou os institucional da SAN sem o
funcionários da Secretaria CONSEA nacional.
Nacional de SAN (SESAN) em 06
Figura 2 - Estrutura do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil
sem o CONSEA nacional

Fonte: adaptado de Leão, Maluf (2012, p.32).

As medidas tomadas já no monitoramento, promoção ao


como “cartão de visita” do direito a uma alimentação e
governo tiveram efeito imediato, colaborando diretamente com o
atingindo diversos eixos de Sistema Nacional de Segurança
atuação vinculados à participação Alimentar e Nutricional (SISAN).
popular dentro do Executivo Em termos mais objetivos, o
Federal e para o controle e posicionamento negligente frente
fiscalização de políticas públicas. a uma das mazelas mais gritantes,
Como é o caso do CONSEA, órgão que é a fome, por parte do
cujo vínculo era direto com a Governo Federal, dá sinais de que
Presidência da República, atuando essa agenda tem um espaço
menor na condução da gestão foram satirizadas na charge
pública, o que impacta abaixo.
diretamente o DHAA. Esse fato
pode ser ilustrado, a partir da
proposta apresentada pela
Fecomercio-SP para aumento das
validades dos produtos no
mercado, fazendo com que a
população consuma itens fora do
prazo de validade7. Uma pauta
similar foi aventada pela ministra
da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, ao defender a
flexibilização do prazo de validade
de alimentos, de modo que
possam ter uma redução nos
preços. A fala foi no 1º Fórum da
Cadeia Nacional de
Abastecimento, em junho de 2021,
no mesmo dia em que o Ministro
da Economia defendeu que os
alimentos não utilizados ao longo
do dia nos restaurantes fossem
destinados a alimentar mendigos
e pessoas desamparadas; “é
melhor do que deixar estragar”8.
As falas dos ministros estatais

7
Ver em:
https://www.fecomercio.com.br/noticia/cartaz-sobre
-prazo-de-validade-fecomerciosp-pede-veto-a-proje
to-com-nova-obrigatoriedade-para-comercio.
8
Ver
em:https://www.cnnbrasil.com.br/business/governo
-pode-flexibilizar-prazo-de-validade-de-alimentos/.
Figura 3 – Charge Fome e miséria: o dia de “doação” alimentar.

Fonte: elaboração própria.

A imagem é uma caricatura Neste contexto, chama


de um cenário real e caótico da atenção o desmonte do Conselho
conjuntura do país, agravado pela Nacional de Segurança Alimentar
ausência de uma orientação e Nutricional, em um tempo em
nacional que resulta na que suas ações e coordenações
desmobilização. Restam ações fazem muita falta. E por não
voluntárias e isoladas da atuarem de forma coordenada, os
sociedade civil sem comunicação espaços de participação da
e sem uma organização em sociedade civil (via conselhos) nas
comum, tornando-as mais frágeis esferas subnacionais acabam
frente às investidas em favor da perdendo a orientação nacional, o
retração dos espaços de que causa a desmobilização
participação social. deixando-os enfraquecidos. Com
efeito, tem-se uma “onda de
desmobilização”, que tende a
afetar a retomada da participação sociais e o cenário de instabilidade
da sociedade civil nesses espaços, socioeconômica que o Brasil se
visto que o receio de construir um encontra, com o agravante da
conselho que pode ser destituído demora do Governo Federal em
a qualquer momento se torna propor medidas e/ou diretrizes
presente, tendo em vista a para enfrentamento da Covid-19 e
instabilidade institucional que a insegurança alimentar, que se
pode reforçar o desinteresse tornou ainda mais evidente com
quanto à participação social. O ela. Com a privação ao acesso
retorno da CAISAN Nacional9 regular aos alimentos, associado a
somente com a representação do uma renda insuficiente, tem se
poder público, sem contemplar a dilatado o quadro de insegurança
inserção da sociedade civil, alimentar no país. (GALINDO, et al,
demonstra que a participação não 2021; SOUZA, et al, 2021)
é um elemento estrutural A garantia da segurança
fomentado pelo atual governo. alimentar é preocupante,
Tais questões tornam cada vez principalmente quando se leva
mais difíceis a manutenção de em conta a perda do espaço
avanços e direitos conquistados político das políticas de segurança
pela sociedade, e o Governo alimentar e nutricional. Um marco
Federal segue uma agenda importante para o início dessa
neoliberal. A chegada da perda de espaço ocorre
pandemia da Covid-19 só fez exatamente com a assunção do
realçar esse fato de governo interino de Temer.
distanciamento do Direito Intensificou-se no governo atual.
Humano à Alimentação
O retrocesso quanto às
Adequada para uma grande
medidas de combate à fome
parcela da população.
tornou-se ainda mais acentuado
A pandemia tornou ainda nos últimos dois anos. De 2013 a
mais intensas as desigualdades 2018, de acordo com a PNAD e a

9
POF, a insegurança alimentar
Retorno da CAISAN pelo decreto federal
nº 10.713 de 7 de junho de 2021.
havia crescido 8,0% ao ano. No básicos, atingindo principalmente
governo Bolsonaro a aceleração as famílias mais pobres e
foi ainda mais intensa, de acordo vulneráveis. O desmonte das
com a VigiSAN, de 2018 a 2020 o políticas públicas que visam a
aumento da fome no Brasil foi de garantia da SAN impactam nas
27,6%. Em dois anos, o condições de vida, na produção e
quantitativo de pessoas em no acesso aos alimentos,
situação de insegurança alimentar encaminham uma parcela da
grave - passando fome- pulou de população à extrema
10,3 milhões para 19,1 milhões. São vulnerabilidade e aumenta a
quase 9 milhões de brasileiros a insegurança alimentar no país.
mais que passaram a experienciar
a fome em seu dia a dia. A
4. Retrocesso social e a
disparada no preço dos alimentos
agudização da fome
durante a pandemia guarda
vínculo também, com o As crises explicitam, cada

desestímulo às políticas ligadas à vez mais, que a insegurança

agricultura familiar. Um dos alimentar está intimamente

efeitos dessas escolhas políticas foi ligada à economia, especialmente

o fim dos estoques reguladores de quando os preços sobem

preços do governo, e esse aceleradamente e o número de

desmonte se torna claro com o pessoas desempregadas na

fechamento e venda dos população cresce depressa, como

armazéns da companhia nacional vem ocorrendo no atual cenário

de abastecimento (CONAB). Sem de crise política e socioeconômica

uma política agrícola de regulação que assolam o país. Em 2020, a

de preço em 2021, o real Rede de Pesquisa em Soberania e

desvalorizando por diversos Segurança Alimentar e Nutricional

fatores acaba sendo um estímulo (REDE PENSSAN) realizou

para a exportação, e o inquérito populacional com o

consequente desabastecimento objetivo de verificar a situação de

do mercado interno de alimentos insegurança alimentar no


Brasil.Visto o impacto da pelo Instituto Brasileiro de
pandemia da Covid-19 na Geografia e Estatística (IBGE)
sociedade brasileira, as condições desde 2004. Complementaram-na
de vida e trabalho, já precárias, perguntas que buscaram mediar
foram agravadas por debilidades variáveis sociodemográficas e
existentes no sistema de proteção econômicas como renda, sexo, cor,
social do país. Como resultado, a condição no mercado de trabalho
pandemia realçou as e região de moradia da população,
desigualdades sociais e com o intuito de detectar
econômicas, levando a uma possíveis vínculos causais entre
situação de fome e pobreza da elas e a insegurança alimentar.
população (REDE PENSSAN, 2021; Essa metodologia foi
DE PAULA, ZIMMERMANN, 2021). inicialmente desenvolvida na
Para averiguar esse cenário, década de 1980 na Universidade
os pesquisadores da Rede de Cornell (conhecida como
PENSSAN aplicaram um “Indicador Cornell”), que utilizou
questionário fechado a uma métodos qualitativos para analisar
amostra representativa da a insegurança alimentar entre
população brasileira, composta mulheres consideradas pobres
por 2.180 domicílios nas zonas (CAMPBELL, 1991; RADIMER, et. al,
rurais e urbanas de todas as 1992). O estudo, de base
regiões do país, no qual qualitativa, permitiu a elaboração
mapearam a situação dos lares de uma escala quantitativa a
nos três meses anteriores à partir de 10 perguntas, que
realização das entrevistas, que abordavam desde problemas
ocorreram em dezembro de 2020. relativos à quantidade de calorias
Para medir a (in)segurança disponíveis quanto a preocupação
alimentar, utilizaram a Escala com a insuficiência futura de
Brasileira de Insegurança alimento (CAMPBELL, 1991;
Alimentar (EBIA), já consagrada na LORENZANA; SANJUR, 1999). A
literatura acadêmica e utilizada escala avalia, não apenas a
ocorrência de privações de antes do estabelecimento de
quantidade de alimentos, de situações de desnutrição. Deste
variedade, do comprometimento modo, pessoas que não tenham
de outros gastos familiares recursos para adquirir alimentos
essenciais para aquisição de em quantidade suficiente para as
alimentos, mas também a suas famílias, a partir desse
identificação do temor de método, podem se considerar em
privações futuras imediatas, situação de insegurança
caracterizando a INSAN de forma alimentar, mesmo que
gradativa (FRONGILLO, JR., 1996; clinicamente não apresentem
BALLARD; KEPPLE; CAFIERO, indícios de desnutrição (RADIMER;
2013). et al, 1992; MACHADO, 2010;

Essa escala foi BALLARD; KEPPLE; CAFIERO,

redimensionada na década de 2013).

1990, por pesquisadores do Essa metodologia foi


Departamento de Agricultura dos adaptada para o caso brasileiro e
Estados Unidos (USDA), a partir de resultou no desenvolvimento da
um inquérito baseado em 15 Escala Brasileira de Insegurança
perguntas (RADIMER, et. al, 1992). Alimentar (EBIA), em condições
Refere-se à soma de uma para que se possa averiguar o
pontuação atribuída a perguntas modo como as pessoas percebem
que avaliam a percepção de a insegurança alimentar, seja
problemas quanto à diversidade própria ou da sua família. Permite
e/ou a quantidade de alimentos assim, captar não apenas aquelas
disponíveis, resultando na fome, dimensões físicas que
até a preocupação dos indivíduos transparecem sinais de
pela possibilidade de não dispor desnutrição ou subnutrição, mas
de alimentos com regularidade, também, consegue extrair as
onde seria possível perceber a dimensões psicológicas da
chamada insegurança alimentar, insegurança alimentar
que pode se expressar muito
(FRONGILLO, JR., 1996; PNAD, uma medida que vai da segurança
2013). alimentar até a insegurança grave.

A primeira avaliação dessa O quadro 3, conjugado com o

escala foi realizada pelo Instituto quadro 4, traz as questões

Brasileiro de Estatística e utilizadas nos inquéritos junto às

Geografia (IBGE) em 2004, como famílias, e os parâmetros de

Pesquisa Suplementar da avaliação, sempre considerando

Pesquisa Nacional de Amostra dois grupos: maiores e menores

Domiciliar (PNAD) de 2004 sobre de 18 anos de idade residentes no

Segurança Alimentar. domicílio. Vale ressaltar que a


unidade de medida é a família e
O quantitativo de respostas
não o indivíduo.
“sim” entra como um preditor de

Quadro 3: Questionário da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar

Nos últimos três meses, os Nos últimos três meses, algum


moradores deste domicílio morador de 18 anos ou mais de
tiveram preocupação de que os idade, alguma vez, fez apenas uma
1 8
alimentos acabassem antes de refeição ao dia ou ficou um dia
poderem comprar ou receber inteiro sem comer porque não havia
mais comida? dinheiro para comprar comida?
Nos últimos três meses, algum
Nos últimos três meses, os
morador com menos de 18 anos de
alimentos acabaram antes que os
idade, alguma vez, deixou de ter
2 moradores deste domicílio 9
uma alimentação saudável e
tivessem dinheiro para comprar
variada porque não havia dinheiro
mais comida?
para comprar comida?
Nos últimos três meses, algum
Nos últimos três meses, os
morador com menos de 18 anos de
moradores deste domicílio
idade, alguma vez, não comeu
3 ficaram sem dinheiro para ter 10
quantidade suficiente de comida
uma alimentação saudável e
porque não havia dinheiro para
variada?
comprar comida?
Nos últimos três meses, alguma vez,
Nos últimos três meses, os
foi diminuída a quantidade de
moradores deste domicílio
alimentos das refeições de algum
4 comeram apenas alguns 11
morador com menos de 18 anos de
alimentos que ainda tinham
idade, porque não havia dinheiro
porque o dinheiro acabou?
para comprar comida?
Nos últimos três meses, algum Nos últimos três meses, alguma vez,
morador de 18 anos ou mais de algum morador com menos de 18
5 idade deixou de fazer uma 12 anos de idade deixou de fazer
refeição porque não havia alguma refeição, porque não havia
dinheiro para comprar comida? dinheiro para comprar comida?
Nos últimos três meses, algum Nos últimos três meses, alguma vez,
morador de 18 anos ou mais de algum morador com menos de 18
6 idade, alguma vez comeu menos 13 anos de idade, sentiu fome, mas não
do que devia porque não havia comeu porque não havia dinheiro
dinheiro para comprar comida? para comprar comida?
Nos últimos três meses, algum Nos últimos três meses, alguma vez,
morador de 18 anos ou mais de algum morador com menos de 18
idade, alguma vez sentiu fome, anos de idade, fez apenas uma
7 14
mas não comeu, porque não refeição ao dia ou ficou sem comer
havia dinheiro para comprar por um dia inteiro porque não havia
comida? dinheiro para comprar comida?
Fonte: Núcleo de Estudos em Pesquisa em Alimentação/MDS, 2010.

Respostas Sim (1) e Não (0)

Escore para classificação= somatória de respostas positivas (de 0 a 14)

Quadro 4: Pontos de corte para classificação dos domicílios

EBIA
Domicílios com Domicílios sem
Classificação
menores de 18 menores de 18
anos anos
Segurança
0 0
Alimentar
Insegurança Leve 1-5 1-3
Insegurança
6-9 4-5
Moderada
Insegurança
10-14 6-8
Grave
Fonte: Núcleo de Estudos em Pesquisa em Alimentação/MDS, 2010.

Das 14 perguntas do de idade. A cada pergunta da


questionário da EBIA, oito são escala, referente ao período de 90
relativas aos adultos moradores no dias que antecedem o dia da
domicílio e seis referente aos entrevista, são dadas as
moradores com menos de 18 anos alternativas de respostas “sim” e
“não”. O primeiro avalia a presença em 2020, o nível de insegurança
de respostas “sim” às questões da alimentar grave, na qual a fome
pesquisa, em que se mensuram as passa a ser uma experiência
condições de baixa ou nenhuma cotidiana, alcançou 9% da
nutrição entre a população população: uma proporção maior
investigada. Já o segundo consiste que os 6,9% de 2004. Hoje a
na leitura das respostas dadas às situação é pior do que há 17 anos
14 perguntas. Se a resposta é atrás em todas as regiões, tanto
afirmativa, pergunta-se a no meio rural como no meio
frequência de ocorrência do urbano (figura 3). Neste quadro
evento nesse período, desolador, cabe destacar a região
oferecendo-se as seguintes Norte, na qual a insegurança
alternativas de respostas: “em alimentar grave chega aos 18%, o
quase todos os dias”, “em alguns que significa que quase uma em
dias” e “em apenas um ou dois cinco famílias do Norte passam
dias”, de acordo com as respostas. fome no dia a dia.

Os resultados recentes da
aplicação da EBIA mostram que,
Figura 3: Evolução da insegurança alimentar grave no Brasil e Grandes Regiões
(A) e por situação urbana x rural do domicílio (B). Proporções relativas ao total de
domicílios.

Fonte: (IBGE, 2005, 2014, 2019; REDE PENSSAN, 2021). Elaboração própria,

Quanto às causas, os (RDPC), ela tende a atuar mais


resultados do projeto VIGISAN, como um mediador do efeito de
sumarizados no quadro outros elementos, dos quais se
5,alinham-se com pesquisas destacam a educação, gênero,
anteriores, que encontram as raça, situação ocupacional do(a)
mesmas associações (BEZERRA; chefe do lar, acesso a saneamento,
OLINDA; PEDRAZA, 2017; LIGNANI, acesso à água potável, condição
et al., 2020). De todas as variáveis habitacional da residência,
testadas nessas muitas pesquisas, número de moradores menores
a mais associada e com maiores de 18 anos, pertencimento a
efeitos na insegurança alimentar populações tradicionais
parece ser a renda. Geralmente (quilombolas, indígenas,
operacionalizada em renda ribeirinhos), se a residência é em
mensal domiciliar per capita zona rural ou urbana e, por último,
a participação ou não em baixa e uma família grande, não se
programas de transferência consegue adquirir comida com
condicionada de renda – qualidade (e frequente) para todo
notadamente o Programa Bolsa mundo. Principalmente em um
Família. Mulheres negras e pardas, país que atravessou a inversão
chefes da família, desempregadas, rural/urbana nas décadas de
moradoras da zona rural do Norte 1950/60 e onde, hoje, obtêm-se
e Nordeste, com muitas pessoas alimento principalmente através
do domicílio, tendem a ter uma da compra no mercado.
RDPC menor. Com uma renda

Quadro 5: Resultados do inquérito VIGISAN

Rural
Renda Sexo Cor Trabalho Região versus
Urbano
IA grave foi
seis vezes
Domicílios Domicí
maior quando Regiões do
com ¼ de lios em
ocorreu norte e
salário que a
desemprego e nordeste
mínimo referên
quatro vezes tiveram, 12% dos
per capita cia Pretos/p
maior em respectivam domicíl
apresenta “chefe ardos
situação de ente três e ios na
ram de são mais
trabalho duas vezes área
prevalênci família afetados
informal. A IA mais rural
a se IA ӎ pela IA
aumentou domicílios em IA
grave 2,5 mulher grave
em 19% em expostos a grave
vezes a IA é
domicílios IA grave que
superior à mais
com algum as regiões
média recorre
morador Sul/Sudeste.
nacional. nte
desempregad
o
Fonte: (REDE PENSSAN, 2021). Elaboração própria

Dada a importância da alimentar e nutricional, não é de


renda domiciliar per capita na se estranhar que a situação tenha
mensuração da insegurança piorado. De acordo com dados da
PNAD contínua, a desigualdade esse montante caiu para R$231,00.
na renda domiciliar per capita, Para piorar, a comida não tem
medida pelo índice de GINI, ficado mais barata. De acordo com
depois de cair até 2015, voltou a dados do Departamento
subir. Em 2018, antes da pandemia Intersindical de Estatística e
da Covid-19 e o último ano para o Estudos Socioeconômicos
qual os microdados estão (DIEESE), em 2015 uma cesta
disponíveis, ela já havia voltado básica, custava, em média,
aos níveis de 2012 (figura 4). R$477,00. Em outubro de 2021,
Enquanto em 2015 os 10%de esse valor já rondava os R$590,00
domicílios mais pobres tinham – um aumento de 25% que,
uma renda domiciliar per capita somado à queda dos rendimentos
de R$281,00 (todos os valores aqui domiciliares dos mais pobres, tem
foram deflacionados pelo IPCA agravado a insegurança alimentar.
para outubro de 2021) em 2019,

Figura 4: Índice de GINI da renda domiciliar per capita (2012-19)


O que todos os resultados o IBGE investigou a estrutura da
indicam é que o crescimento da política de SAN nos municípios.
insegurança alimentar (IA) não foi Nesses seis anos, aumentaram
uma novidade da pandemia. Esta aqueles com conselho
apenas intensificou um processo participativo, com lei municipal e
que começou com as políticas de com câmara intersetorial. Subiu
austeridade implementadas no até o número dos municípios em
Brasil desde 2014, características que é realizado algum tipo de
de uma agenda neoliberal capacitação. Todavia, o percentual
pautada em ajustes fiscais e dos conselhos em que há dotação
redução dos investimentos em orçamentária permaneceu quase
políticas sociais, que, dentre outras que inalterado em torno de 30%.
consequências, desincentivou Pior ainda, diminuíram os que
programas de fomento à possuem algum plano municipal.
agricultura familiar, implementou Poder-se-ia argumentar que a
o chamado “teto de gastos”10 e queda se deve ao fato de que
diminuiu recursos em áreas como muitos desses planos ainda
saúde e educação. Trata-se de estariam em elaboração, pois
uma política anti-Estado de bem somente depois de promulgada a
estar-social, portanto, da qual não lei, instituído o conselho e a
se vislumbra um fim no curto câmara intersetorial é que o plano
prazo (MARIANO, 2017). é elaborado. A LOSAN, por

Nas edições de 2012 e 2018 exemplo, data de 2006, sendo que

da pesquisa básica de o primeiro plano nacional só veio a

informações municipais (MUNIC), lume em 2011. Mas quando


olhamos mais de perto, vemos

10
que, dos 986 municípios que
O teto dos gastos públicos refere-se à
Emenda Constitucional n.º 95, que afirmaram que tinham um plano
alterou parte da Constituição Federal de
1988, instituindo um novo padrão de municipal em 2012, apenas 135
regime fiscal, que limita o crescimento
das despesas do governo brasileiro (13,7%) afirmaram o mesmo para
durante 20 anos, dentre eles, aqueles
vinculados às políticas públicas.
2018. A não renovação do plano dessa política pública no âmbito
municipal, aliado à perda de municipal.
dotação orçamentária mostra
uma provável descontinuidade

Quadro 6: Estrutura de SAN nas administrações dos municípios

Quantitativ Quantitativ
Descrição / Ano Δ%
o em 2012 o em 2018
Lei Municipal 827 1.211 46,4
Conselho Municipal 1.507 2.030 34,7
Plano Municipal 986 569 -42,3
Câmara Intersetorial 291 622 113,8
Conselhos em que é
realizado capacitação 17,3% 38,2% ---
dos conselheiros
Conselhos com
dotação orçamentária 30,5% 31,7% ---
(%)
Fonte: Elaboração própria a partir das normativas.

Depois de quase uma alimentar grave no Brasil a um


década de avanços (2004 a 2013) cenário pior do que em 2004. A
promovidos pela atuação do fome, portanto, não é resultado
estado, que tinha em sua agenda apenas da crise sanitária, mas
a urgência em combater a fome e também de opções políticas e
garantir uma melhor situação de organização de um sistema
segurança alimentar a partir da econômico que combina Estado
implementação de políticas mais enxuto e força de trabalho
públicas coordenadas, a opção informal, o que ocorre no Brasil,
política neoliberal, somada às com medidas dos seus
consequências da pandemia da governantes que optaram por um
Covid-19, levou a insegurança modelo econômico de
concentração de renda, de voltamos à rota de 2004, onde os
aumento do desemprego, da números regrediram para o
informalidade e da desativação de cenário de mais de uma década
políticas e programas de proteção atrás. Realizando uma
social. comparação com outras

O IBGE divulgou em publicações do próprio IBGE é

setembro de 2020 os resultados possível perceber o aumento da

da Pesquisa de Orçamentos insegurança alimentar em todo o

Familiares (POF), que foi realizada país, e verificar que retornamos ao

entre junho de 2017 e julho de mapa da fome. A figura 5 ilustra

2018. Os dados apontam que esses dados.

Figura 5- Publicações do IBGE (2004 a 2018) contrastando com os dados da Rede


PENSSAN (2020)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE e Rede PENSSAN.
Os dados do gráfico indicam saudáveis, agravado pela
uma acentuação da crise da pandemia daCovid-19. Entre os
insegurança alimentar em 2018, alimentos do grupo estão a carne,
antes da pandemia, e, não por com a redução de 44,0% do
coincidência, pós-aprovação da consumo, seguida pelas frutas,
PEC do teto de gastos. O que com 41,8%, queijos, 40,4% e pelas
reforça o apontamento que o hortaliças e legumes, com 36,8%.
cenário agravado pela Covid-19 O ovo foi a grande exceção, teve a
começou antes da chegada do menor redução (18%) e o maior
vírus. A pandemia descortinou, e aumento no consumo (17,8%). A
encontrou a política de SAN situação fica ainda mais agravante
desfragmentada, mais quando o assunto está
precisamente com a relacionado às pessoasem
desarticulação entre os situação de insegurança
mecanismos estruturais da alimentar, onde essa redução foi
política, que inserem a de mais de 85% do consumo de
participação social nessas alimentos saudáveis. Em
instâncias.Para além da elevação contrapartida ao consumo desses
da insegurança alimentar nesses alimentos, temos o aumento dos
domicílios, temos na atual alimentos ultra processados, ricos
conjuntura o aumento da fome em sódio, açúcar e gordura
oculta, que se reflete pela redução (GALINDO, et al, 2021).
do consumo de alimentos

5. Considerações Finais

Na esteira de ações que fome é apenas mais um dos seus


visem garantir a segurança resultados visíveis, como o são,
alimentar das famílias é preciso também, o desemprego, a
mudar o atual modelo de miséria, a concentração da terra e
desenvolvimento econômico que da renda.
leva à exclusão social, da qual a
Segundo Alves e problemas como concentração de
colaboradores (2008, p.77) “a renda e de terra, desemprego e
produção de grãos no Brasil entre preço dos alimentos que muitas
1991 e 2006, por exemplo, cresceu vezes não condizem com o poder
106,74%, enquanto a área, 24,5%, e aquisitivo da maioria da
a produtividade, 66,7%”, refletindo população (DEL GROSSI, 2019).
o aumento crescente da produção O aumento significativo do
agrícola do país. De acordo com a preço dos alimentos e produtos
Conab, o terceiro levantamento da nos mercados, a ampliação
safra de grãos 2021/22 exorbitante da população em
(acompanhamento da safra situação de pobreza e o retorno do
brasileira) aponta para um Brasil ao mapa da fome,
crescimento da produção frente à escancaram os problemas de
temporada de 2020/21, com um insegurança alimentar. Tem se
indicativo de volume total na visto famílias em situação de fome
ordem de 291,1 milhões de extrema, pessoas revirando lixo
toneladas, sinalizando um em busca de restos de alimento
incremento de 15,1% (CONAB, para consumir ou se alocando
2021). Em 2006 havia sido colhido próximo a restaurantes para
um volume de 117,3 milhões de solicitar as sobras de comida, e
toneladas de grãos, segundo o encontrar crianças e adultos
IBGE (O Globo Economia, desnutridos pelas ruas só
19.07.2007), o que dá uma evidencia o quanto a insegurança
dimensão da expressividade do alimentar está presente no país.
aumento da produção agrícola
Na esteira das agruras
brasileira ao longo dos últimos
ganha destaque o aumento
anos.
significativo do preço dos
Olhando para evolução dos alimentos, frente a um também
dados, pode-se afirmar crescente aumento da pobreza e
peremptoriamente, que a fome no da fome,que não deixam dúvida
Brasil tem suas raízes em sobre os problemas de
insegurança alimentar que a 2020, o aumento da fome no
afligem uma quantidade muito Brasil foi de 27,6%. Em dois anos, o
grande de famílias e jogam luz na quantitativo de pessoas em
miséria e o seu lado mais sombrio, situação de insegurança alimentar
a precariedade de acesso a grave - passando fome- pulou de
alimentos. Tais questões só se 10,3 milhões para 19,1 milhões. São
fizeram agravar com a pandemia quase 9 milhões de brasileiros a
da Covid-19. mais que passaram a experienciar

O retrocesso quanto às a fome em seu dia a dia.

medidas de combate à fome Tais dados deixam claro que


tornou-se ainda mais acentuado as políticas públicas transversais
nos últimos dois anos. De 2013 a de segurança alimentar e
2018, de acordo com a PNAD e a nutricional no país são
POF, a insegurança alimentar fundamentais, especialmente
havia crescido 8,0% ao ano. Já no quando confrontadas com o
governo Bolsonaro evidencia-se contexto brasileiro de profunda
uma aceleraçãonesse quadro, pois desigualdade social.
de acordo com a VigiSAN, de 2018
6. Referências

ABRAMOVAY, R. O que é fome? São Paulo: Brasiliense, 1991.


AMARAL, V.; BASSO, D. Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil: uma
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Anexo

Figura 6:
Evolução das Ações de Abastecimento e Segurança Alimentar por Governo
1940 - 2021 (Vargas a Bolsonaro).

Fonte: Elaboração própria baseada em


Machado, 2006 e nos decretos e medidas provisórias.
Anexo

Quadro 2 - Evolução das Ações de Abastecimento e Segurança Alimentar por Governo


1940 - 2021 (Vargas a Bolsonaro).

Restaurantes subsidiados
Serviço de Alimentação da para determinadas
1940
Previdência (SAPS) categorias de trabalhadores
assalariados.
Executar as atividades
Companhia de
relacionadas com a política
1943 Financiamento da
de garantia de preços
Produção (CFN)
mínimos.
Governo Definir uma política nacional
Comissão Nacional de
Vargas 1945 de alimentação e combate à
Alimentação (CNA)
desnutrição.
Elaborado pela CNA, criou
1º Plano Nacional de
alguns marcos para a
1952 Alimentação e Nutrição
política,
(PNAN)
poucos efetivados.
Programa Nacional de Fornecimento de
1954 Alimentação Escolar atendimento em escolas de
(PNAE) ensino fundamental
Regulação do mercado de
alimentos, por
equipamentos públicos de
Companhia Brasileira de
1965 abastecimento,
Alimentos (COBAL)
principalmente em áreas
não cobertas pela iniciativa
privada.
Agir no controle de estoque
Companhia Brasileira de
1967 de alimentos e preços
Armazéns (CIBRAZEM)
mínimos.
Centrais de comercialização
Governos e distribuição de alimentos
Centrais de
Militares 1972 nos
Abastecimentos (CEASA)
estados e em alguns locais
estratégicos nestes estados.
Instituto Nacional de
Criado em função de
1972 Alimentação e Nutrição
estímulos da FAO.
(INAN)
Programa Nacional de
Criado em função de
1972 Alimentação e Nutrição
estímulos da FAO.
(PNAN)
Estudo Nacional de Diagnosticar o perfil
1975
Despesa Familiar (ENDEF) nutricional dos brasileiros.
Distribuição de alimentos
básicos (arroz, açúcar, feijão,
fubá, farinha
Programa de Nutrição e
1975 de mandioca e leite em pó) a
Saúde (PNS)
gestantes, nutrizes e crianças
de seis meses a sete anos,
em famílias de baixa renda.
Programa de Distribuição de leite com
1976 Complementação formulados nutritivos para
Alimentar (PCA) crianças desnutridas.
Dedução de imposto de
renda a empresas que
Programa de Alimentação
1976 implantarem ações de
dos Trabalhadores (PAT)
alimentação aos
trabalhadores.
Distribuição de alimentos
básicos a pequenos
Programa de Alimentos varejistas, em áreas pobres, a
1979 Básicos em Áreas de Baixa preços deduzidos (a margem
Renda (PROAB) de lucro não podia passar
dos 20%) implantado na
região Nordeste.
Mesmos modelo do PROAB,
Programa de Alimentação
1985 implantado em outras
Popular (PAP)
regiões
Programa Nacional do Distribuição de um litro de
Leite para Crianças leite/dia para famílias (renda
Governo 1985
Carentes (PNLCC, até 2 salários mínimos) com
José
ticket-leite) crianças até 7 anos.
Sarney
I Conferência Nacional de Discutir problemas de
Nutrição (ICNAN) - nutrição no âmbito da saúde,
1985 Desdobramento da 8ª incorporando o termo
Conferência Nacional de nutricional a Segurança
Saúde Alimentar.
Fonte: Machado, 2006 e baseada nos decretos e medidas provisórias.

Quadro 2 – Continuação do quadro 2

Governo
Pesquisa Nacional de Diagnosticar o perfil
José 1990
Saúde e Nutrição (PNSN) nutricional dos brasileiros.
Sarney
1990 Extinção do PSA, PCA e
a 93 PNLCC
Governo
Collor
Distribuição de cestas básicas
1990 Programa Gente da Gente
a famílias de flagelados pela
seca (extinto e incorporado
ao PRODEA em 1993)
Companhia de regulação de
Companhia Nacional de estoques de alimentos criada
1990
Abastecimento (CONAB) da fusão da CFN, CIBRAZEM e
COBAL.
Sistema de monitoramento
dos dados do estado
Sistema Nacional de nutricional de indivíduos de
1990 Vigilância Alimentar e todas as fases do ciclo de vida
Nutricional (SISVAN) (criança, adolescente, adulto,
idoso e gestante). Ministério
da Saúde.
Atender com doação de
alimentos da cesta básica
Programa de Distribuição
famílias em bolsões de
1993 Emergencial de Alimentos
pobreza e atingidas por
(PRODEA)
fenômenos naturais (secas,
enchentes, por exemplo).
Dava a dimensão da social e
1993 Mapa da Fome (IPEA) geográfica da situação da
fome no Brasil
Articular uma ação entre
governo e mercado no
Plano de Combate à Fome
1993 combate a pobreza, por meio
e a Miséria (PCFM)
de descentralização e
parcerias.
Conselho de controle social
Criação do CONSEA
formado por representantes
1993 (Conselho Nacional de
do governo e sociedade civil
Segurança Alimentar)
Governo para combater a fome.
Itamar Sanção da Lei que assegurou
Lei Orgânica de Assistência
Franco 1993 os preceitos constitucionais a
Social (LOAS)
respeito da seguridade social.
I Conferência Nacional de Discutiu estratégias sobre o
1994 Segurança Alimentar tema "Fome: uma Questão
(ICNSA) Nacional".
As compras dos alimentos
formulados distribuídos eram
feitas por compra centralizada
1994 Descentralização do PNAE em Brasília, com a
descentralização essa tarefa
foi passada para os estados e
municípios.
Governo
Extinção do Plano de
Fernand Programa Comunidade
1995 Combate a Fome e do
o H. Solidária foi implantado no
CONSEA
Cardoso lugar.
Propunha ações de combate
à pobreza por meio de ações
entre os entes federados,
Programa Comunidade empresa privada (em função
1995
Solidária do esgotamento fiscal) e
ONG's, assim como
centralizou os programas de
bolsa.
Tinha como competência
políticas nacionais para o
meio rural, por exemplo: a
reforma agrária e a promoção
do desenvolvimento
Criação do Ministério da sustentável do segmento rural
Política Fundiária e do pelos agricultores familiares,
1999
Desenvolvimento regularização fundiária na
Agrário - (MDA) Amazônia e identificação,
reconhecimento, delimitação,
demarcação e titulação das
terras pelos remanescentes
das comunidades
quilombolas.
Fonte: Machado, 2006 e baseada nos decretos e medidas provisórias.

Quadro 2 – Continuação do quadro 2

Transferência de recursos
para famílias com renda
inferior a 1/2 salários mínimos
2001 Bolsa Escola
com exigência de frequência
escolar executado pelo
Ministério da Educação.
Transferência de recursos
para famílias com renda
Governo
inferior a 1/2 salários mínimos
Fernando 2001 Bolsa Alimentação
para compra de alimentos
H.
executado pelo Ministério da
Cardoso
saúde.
Transferência de recursos
para famílias com renda
inferior a 1/2 salários
2001 Vale Gás mínimos, sem
condicionalidades,
executado pelo Ministério
das Minas e Energia.
Criação do Ministério de
Ministério encarregado da
Estado Extraordinário
formulação e
2003 de Segurança Alimentar
implementação
e Combate à Fome
de políticas de SAN.
(MESA)
Tinha como competência
Retorno do Conselho
exercer o controle social e
Nacional de Segurança
2003 atuar na formulação,
Alimentar e
monitoramento e avaliação
Nutricional (CONSEA)
da Política. (PNSAN)
Tinha como competência
Programa de Aquisição promover o acesso à
2003
de Alimentos (PAA) alimentação e incentivar a
agricultura familiar.
Destinado às ações de
transferência direta de renda
Programa Bolsa Família para beneficiar famílias em
2004
(PBF) situação de pobreza e de
extrema pobreza em todo o
País.
Governo
Lula Estabelece a inclusão pelo
Lei Orgânica de Estado das obrigações de
2006 Segurança Alimentar e promoção, fiscalização e
Nutricional (LOSAN) avaliação da SAN por meio
da política pública.
Promover o desenvolvimento
sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais,
com ênfase no
Política Nacional de reconhecimento,
Desenvolvimento fortalecimento e garantia
2007 Sustentável dos Povos e dos seus direitos territoriais,
Comunidades sociais, ambientais,
Tradicionais (PNDSPCT) econômicos e culturais, com
respeito e valorização à sua
identidade, suas formas de
organização e suas
instituições.
Promulgação do Direito
Incluiu a alimentação como
2010 Humano à Alimentação
um direito social.
Adequada (DHAA)
Visava à formação
profissional e tecnológica
Programa Nacional articulada com elevação
2011
Mulheres Mil de escolaridade de mulheres
Governo em situação de
Dilma vulnerabilidade social
Para a contratação de todas
as ações relacionadas à
reforma, modernização,
Autorização do regime ampliação ou construção de
Diferenciado de unidades armazenadoras
Contratações Públicas próprias destinadas às
2013 (RDC) pela Companhia atividades de guarda e
Nacional de conservação de produtos
Abastecimento - agropecuários em ambiente
CONAB natural. (Programa Nacional
de Apoio à Captação de
Água de Chuva e Outras
Tecnologias Sociais)11
Fonte: Machado, 2006 e baseada nos decretos e medidas provisórias.

Quadro 2 – Continuação do quadro 2

2019 Extinção do CONSEA Medida Provisória 870

2019 Exoneração dos Medida Provisória 870


funcionários da
Secretaria Nacional de
Governo
SAN (SESAN)
Bolsona
2021 Substituto do Programa
ro Programa Auxílio Brasil
Bolsa Família (PBF)

2021 Substituto do Programa de


Programa Alimenta
Aquisição de Alimentos
Brasil
(PAA)

Fonte: Machado, 2006 e baseada nos decretos e medidas provisórias.

11
O Programa Cisternas existe desde 2003, mas não possuía marco legal. Os reservatórios eramconstruídos em
parceria com os estados e a sociedade civil por meio de contratos.
http://www.ufrgs.br/redesan/news/governo-federal-sanciona-programa-de-cisternas
EXPEDIENTE

O Observatório das Desigualdades, parceria entre a Fundação João


Pinheiro e o Conselho Regional de Economia – MG, é um projeto de
extensão do curso de Administração Pública, que busca contribuir com o
debate sobre as diferentes faces da desigualdade social, difundindo e
tornando mais acessível o conhecimento e as informações sobre o tema. As
opiniões expressas neste boletim não representam necessariamente o
posicionamento das instituições.

Fundação João Pinheiro


Presidente: Helger Marra Lopes
Vice-Presidente: Mônica Moreira Esteves Bernardi
Diretora da Escola de Governo: Maria Isabel Araújo Rodrigues
Corecon–MG
Presidente: Tânia Cristina Teixeira
Vice-Presidente: Gustavo Aguiar Pinto
Gerente Executivo: Marco Aurélio Loureiro
Observatório das Desigualdades

Coordenação: Bruno Lazzarotti Diniz Costa


Matheus Arcelo Fernandes Silva
Estagiários: Alexandre Henrique Martins da Fonseca
Augusta Cora Lamas Lopes
Extensionista: Anna Clara Ferreira Mattos

Este boletim é resultado de uma parceria entre o Observatório das


Desigualdades da Fundação João Pinheiro e a Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF. De ambas as partes, houve a
participação tanto de acadêmicos e pesquisadores do campo quanto de
graduandos e extensionistas dos cursos de nível superior oferecidos pelas
respectivas instituições. O projeto foi realizado de forma conjunta, com o
intuito de oferecer uma abordagem completa e multifacetada do tema em
pauta, e a lista completa de participantes do processo de pesquisa e escrita
para a consecução do boletim é a que se segue:

1- Sabrina Fernandes Santos Falçoni. Mestre em Sociologia Política.


UENF;
2- Daniete Fernandes Rocha. Doutora em Ciências Humanas: Sociologia
e Política, pela UFMG;
3- Paula Agatha Pinto Batista. Graduanda em Ciências Sociais pela
UENF;

4- Sthefany de Oliveira da Silva. Graduanda em Agronomia e


extensionista no Laboratório de Morfologia e Patologia Animal
(LMPA/UENF);
5- Amanda Durães de Jesus. Graduanda em Administração Pública e
pesquisadora em Políticas Públicas em Segurança Alimentar e
Nutricional;
6- Francine Nogueira Lamy Garcia Pinho. Nutricionista, doutora em
Políticas Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro. Membro da Linha 10 de Pesquisa do PEA
Pescarte/UENF;
7- Larissa Dias Pacheco. Mestranda em Sociologia Política. UENF;
8- David Maciel de Mello Neto. Doutor em sociologia pelo PPGSA/UFRJ.
Pós doutorando no PPGSP/UENF;
9- Luana Puppin Pratti. Doutora em sociologia política e
pós-doutoranda do PPGSP/UENF;
10-Maria Eduarda Mendes do Nascimento. Graduanda em
administração pública na UENF;
11- Júlia Carolina Soares. Graduanda em Administração Pública pela
Fundação João Pinheiro;
12- Mauro Macedo Campos. Doutor em Ciência Política pela UFMG.
Professor no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da
UENF;
13- Anna Clara Ferreira Mattos. Graduanda em Administração Pública
pela Fundação João Pinheiro. Extensionista do Observatório das
Desigualdades.
14-Ágnez de Lélis Saraiva. Mestre em Administração Pública.
Pesquisador da Fundação João Pinheiro - FJP.

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