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Fome, desnutrição e cidadania: inclusão social e

direitos humanos
Hunger, malnutrition and citizenship: social inclusion and
human rights

Flávio Luiz Schieck Valente


Médico, Mestre em Saúde Pública pela Harvard School of Public
Resumo
Health, Bosto/USA. Relator Nacional para os Direitos Humanos à O artigo faz uma análise crítica do debate atual no
Alimentação, Água e Terra Rural - Plataforma Brasileira. DHESC/
Brasil sobre os conceitos de fome e desnutrição e das
ABRANDH. Coordeenador de projetos - Ação Brasileira pela Nu-
trição e Direitos Humanos -ABRANDH. Membro do Comitê Diretivo suas implicações para o processo de elaboração de po-
do Comitê Permanente de Nutrição da ONU (2001 - 2004). Secre- líticas públicas no país. Fome e desnutrição são even-
tário Executivo Internacional da Aliança dos Povos para Ação e tos relacionados, mas de natureza distinta. Os riscos
Nutrição - APAN (2003 - 2004). Membro da Coordenação Nacio- da redução da fome às suas dimensões estritamente
nal do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional
biológicas ou econômicas, para fins de mensuração,
(desde 1998)
E-mail: flaviovalente@uol.com.br são discutidos em relação ao possível impacto sobre
a promoção e realização do Direito Humano à Alimen-
tação. Propõe-se o fortalecimento da ótica dos Direi-
tos Humanos na discussão sobre o tema no Brasil.
Esta abordagem colabora para uma conceituação mais
abrangente e integrada de fome e desnutrição. Ao
mesmo tempo, define titularidades, papéis e obriga-
ções do Estado e de diferentes atores sociais que per-
mitem a elaboração de políticas públicas cujas metas
e desempenho possam ser monitorados mais fa-
cilmente pela sociedade civil. É feita uma breve análi-
se da política de combate à fome do novo governo fe-
deral e sugestões são apresentadas para debate.
Palavras-chave: fome, desnutrição, direito humano à
alimentação, políticas públicas de alimentação e nu-
trição.

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Abstract A adoção do combate à fome como prioridade central
do novo governo federal brasileiro recolocou o tema
The paper develops analysis of the ongoing debate in em debate na esfera política, acadêmica, técnica e ope-
Brazil on the concepts of hunger and malnutrition and racional. Após alguns meses de intensas discussões,
of its implications for the elaboration of Public Poli- pode parecer para um observador mais desinformado
cies in the country. Hunger and malnutrition are rela- que ninguém sabe exatamente do que está falando, ou
ted events, but of distinct nature. The risks of redu- que as informações divulgadas se referem a diferen-
cing hunger to its strictly biological or economic tes países. A imprensa tem divulgado declarações que
dimensions, for measurement purposes, are dis- variam desde que não haveria mais fome no país até
cussed in relation to the possible impact on the pro- as que afirmam que existem mais de 50 milhões de
motion and realization of the Human Right to Food. famintos no Brasil. O novo governo adota o número
The strengthening of the Human Rights based de 40 milhões de pessoas que não teriam condições
approach to the theme in Brazil is proposed as it de se alimentar adequadamente todos os dias
allows for a more encompassing and integrated con- Que informação mais se aproxima da realidade?
cept of hunger and malnutrition. The paper also dis- Como definir políticas públicas adequadas a partir de
cusses the entitlements and roles of different social diagnósticos tão diferentes? Infelizmente, não existe
actors and right related state obligations, which allow uma resposta simples para estas perguntas. Não exis-
for the elaboration of public policies with goals and te uma verdade única, mas sim diferentes visões de
performance that can be easily monitored by civil uma mesma realidade.
society. A brief analysis of the new Brazilian govern- Fazendo uma metáfora, acho que estamos viven-
ment policy to combat hunger is presented and sug- do o mesmo dilema dos sábios indianos a quem o rei
gestions are forwarded for the debate. solicitou que examinassem um elefante de olhos ven-
Key words: hunger, malnutrition, human right to food, dados e lhe informassem do que se tratava. O que pal-
food and nutrition public policies. pou a pata, definiu que se tratava do tronco de uma
árvore; aquele que examinou a orelha, identificou um
leque, e assim por diante.
Urban Jonsson, em um artigo originalmente publi-
cado há mais de 20 anos (Valente, 1986), já levantava
que cada área profissional tende a olhar para a “fome”
de um jeito diferente, e propor ações que decorrem
desta visão. O profissional da saúde “enxerga” desnu-
trição e doença e propõe vacinação, saneamento, alei-
tamento materno, etc. O agrônomo “diagnostica” fal-
ta de alimentos e propõe maior produção de alimen-
tos, ajuda alimentar, etc. O educador vê “ignorância e
hábitos alimentares inadequados” e propõe educação
alimentar. Os economistas clássicos “identificam” má
distribuição de alimentos e propõem uma melhor po-
lítica fiscal, geração de emprego e renda, etc. Os
planejadores diagnosticam “falta de coordenação” e
propõem a criação de conselhos de alimentação e nu-
trição e capacitação.
Infelizmente, o debate atual reflete exatamente o
mesmo problema. As pessoas não estão falando sobre
diferentes realidades, mas sim estão olhando para o
mesmo Brasil com diferentes olhares, o que acaba cer-
tamente levando a diagnósticos muito diferentes. O

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mais grave é que a adoção de somente um dos olhares, porque não consegue realizar a transformação do ali-
seja qual for o escolhido, dificilmente levará à elabora- mento em vida, em saúde, em humanidade.
ção de políticas, programas e ações que efetivamente Dentro desta perspectiva, tanto a fome como a má
reduzam o sofrimento das pessoas que hoje vivem a rea- nutrição e a desnutrição constituem-se em manifes-
lidade diuturna da fome, da insegurança alimentar, da tações claras de violações do Direito Humano à Ali-
desnutrição, e da desumanização nelas embutida. mentação Adequada.
A questão da alimentação, da fome e da má nutri- A incorporação da abordagem de Direitos Huma-
ção não pode ser olhada exclusivamente em sua di- nos na elaboração de Políticas Públicas de promoção
mensão econômica (acesso à renda), alimentar (dis- da Segurança Alimentar e Nutricional encontra forte
ponibilidade de alimentos) ou biológica (estado respaldo em tratados internacionais e na legislação
nutricional). O ato de se alimentar e alimentar familia- nacional, aportando uma nova forma de analisar o te-
res e amigos é uma das atividades humanas que mais ma da fome e da desnutrição, que é sumarizada a se-
reflete a enorme riqueza do processo histórico de guir com base no texto do relatório nacional apresen-
construção das relações sociais que se constituem no tado à Comissão de Direitos Humanos da ONU, em
que podemos chamar de “humanidade”, com toda a sua abril de 2003, pela Relatoria Nacional para os Direi-
diversidade, e que está intrinsecamente ligado à iden- tos Humanos à Alimentação, Água e Terra Rural. (Va-
tidade cultural de cada povo ou grupo social. (Valen- lente et al, 2003)
te, 2002).
A alimentação humana se dá na interface dinâmi-
Direito Humano à Alimentação e Nu-
ca entre o alimento (natureza) e o corpo (natureza
humana), mas somente se realiza integralmente quan- trição Adequadas
do os alimentos são transformados em gente, em ci-
O direito humano à alimentação adequada está pre-
dadãos e cidadãs saudáveis.
visto na Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Por estas características, uma abordagem adequa-
Artigo XXV - 1. Toda pessoa tem direito a um pa-
da ao tema exige a incorporação do quadro de referen-
drão de vida capaz de assegurar a si e a sua família
cia dos Direitos Humanos, que permite um olhar ho-
saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário,
lístico embasado nos princípios básicos de universali-
habitação, cuidados médicos e os serviços sociais in-
dade, equidade, indivisibilidade, inter-relação na reali-
dispensáveis, o direito à segurança, em caso de desem-
zação, respeito à diversidade e não discriminação.
prego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros ca-
Como bem define o Comentário Geral 12, do Comi-
sos de perda dos meios de subsistência em circuns-
tê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU,
tâncias fora de seu controle.” (ONU, 1948)
a realização do direito humano à alimentação adequa-
O artigo 11 do Pacto Internacional dos Direitos
da não pode ser reduzida ao mero fornecimento de
Econômicos, Sociais e Culturais traz o detalhamento
uma ração básica nutricionalmente balanceada
do referido Direito e propõe mecanismos de operacio-
(CDESC, 1999) nem tampouco à constatação da eutro-
nalização do mesmo:
fia nutricional.
“Los Estados Partes en el presente Pacto recono-
Um escravo bem nutrido não tem seu direito huma-
cen el derecho de toda persona a un nivel de vida
no à alimentação garantido, porque ele ou ela continua
adecuado para sí y su familia, incluso alimentación,
escravo, e portanto, violado/a em sua humanidade. Um
vestido y vivienda adecuados, y a una mejora conti-
adulto ou uma criança que se alimenta do lixo, mes-
nua de las condiciones de existencia.
mo que “bem nutrida”, continua a ter seu direito hu-
1) Los Estados Partes tomarán medidas apropiadas
mano violentado, pois ela ainda tem fome e, mais do
para asegurar la efectividad de este derecho, recono-
que tudo, tem sua cidadania violentada. Por outro lado,
ciendo a este efecto la importancia esencial de la
uma pessoa que tenha acesso a alimentos em quanti-
cooperación internacional fundada en el libre con-
dade e qualidade suficiente, mas que está enferma ou
sentimiento.
não tem condições para preparar este alimento, tam-
bém tem seu direito humano à alimentação violado, 2) Los Estados Partes en el presente Pacto, reconocien-

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do el derecho fundamental de toda persona a estar formação sobre a adequação de dietas e conteúdo nu-
protegida contra el hambre, adoptarán, individual- tricional dos alimentos.
mente y mediante la cooperación internacional, las Há, no presente momento, um grupo de trabalho
medidas, incluidos los programas concretos, que se intergovernamental, secretariado pela FAO, instituí-
necesitan para: a) Mejorar los métodos de producción, do para elaborar Diretrizes Voluntárias para a imple-
conservación y distribución de alimentos mediante la mentação nacional do Direito Humano à Alimentação,
plena utilización de los conocimientos técnicos y ci- até 2005, com base em decisão da Cúpula Mundial da
entíficos, la divulgación de principios sobre nutrición Alimentação, cinco anos depois, realizada em Roma,
y el perfeccionamiento o la reforma de los regímenes 2002.
agrarios de modo que se logren la explotación y la Neste debate será fundamental a delimitação de
utilización más eficaces de las riquezas naturales;” quais são as dimensões claras das titularidades do
(CDESC,1966) portador do direito humano à alimentação adequada,
Finalmente, a clarificação do conteúdo deste direi- ou seja, o que estes portadores podem reclamar como
to humano está contida no Comentário Geral nº 12, direito, e as correspondentes obrigações dos estados,
do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: sociedades e outros atores relevantes, incluindo com-
“... o direito à alimentação adequada é indivisivel- panhias multinacionais e organismos intergoverna-
mente ligado à dignidade inerente à pessoa humana mentais, no âmbito da proteção, do respeito, da promo-
e é indispensável para a realização de outros direitos ção e da realização do direito. A contribuição do Brasil
humanos consagrados na Carta de Direitos Humanos. será fundamental neste debate.
Ele é também inseparável da justiça social, requeren- O conceito de Direito Humano à Alimentação vem
do a adoção de políticas econômicas, ambientais e sendo discutido com profundidade no Brasil, especial-
sociais, tanto no âmbito nacional como internacional, mente desde a criação da Ação da Cidadania Contra a
orientadas para a erradicação da pobreza e a realiza- Fome, a Miséria e Pela Vida, em 1992, que desenca-
ção de todos os direitos humanos para todos...” (grifos deou um amplo debate sobre o combate à exclusão so-
do autor) (CDESC, 1999) cial no contexto da promoção da cidadania e dos direi-
O Comentário Geral também define que: tos humanos.
“O direito à alimentação adequada realiza-se quan- Hoje se desenvolve o conceito que o direito huma-
do cada homem, mulher e criança, sozinho ou em com- no à alimentação deve ser visto como inseparável do
panhia de outros, tem acesso físico e econômico, inin- direito humano à nutrição, na medida em que o ali-
terruptamente, à alimentação adequada ou aos mei- mento só adquire uma verdadeira dimensão humana
os para sua obtenção. O direito à alimentação adequa- quando transformado em um ser humano bem nutri-
da não deverá, portanto, ser interpretado em um do, saudável, digno e cidadão. (Valente, 2002).
sentido estrito ou restritivo, que o equaciona em ter- Assim, a realização do direito humano à alimenta-
mos de um pacote mínimo de calorias, proteínas e ção adequada depende de muito mais do que da sim-
outros nutrientes específicos. O direito à alimentação ples disponibilidade de alimentos, mesmo que saudá-
adequada terá de ser resolvido de maneira progressi- veis. Depende do respeito a práticas e hábitos alimen-
va. No entanto, os estados têm a obrigação precípua tares, do estado de saúde das pessoas, da prestação
de implementar as ações necessárias para mitigar e de cuidados especiais a grupos humanos social e biolo-
aliviar a fome, como estipulado no parágrafo 2 do ar- gicamente vulneráveis (crianças, gestantes, idosos,
tigo 11, mesmo em épocas de desastres, naturais ou portadores de necessidades especiais, entre outros) e
não” (CDESC,1999) de estar inserido em um processo de construção da
A adequação da alimentação, segundo o mesmo capacidade de todo ser humano de alimentar e nutrir
comentário, incorpora aspectos relacionados à: a) di- a si próprio e à sua família, com dignidade, a partir do
versidade e adequação nutricional e cultural da die- seu trabalho no campo ou na cidade. Esta conceitua-
ta, incluindo a promoção do aleitamento materno; b) ção mostra a indivisibilidade e interrelação entre o
necessidade de estar livre de substâncias nocivas; c) direito humano à alimentação adequada e à nutrição
proteção contra a contaminação; c) existência de in- e o direito humano à saúde.

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Um exemplo claro que a realização do direito por falta de acesso à informação ou à uma alimenta-
humano à alimentação só ocorre com a realização si- ção de qualidade, leva ao surgimento de problemas
multânea do direito humano à nutrição está na rela- nutricionais ou de saúde decorrentes de práticas ali-
ção mãe-feto durante o período gestacional e de alei- mentares inadequadas.
tamento exclusivo. De forma mais detalhada, a realização do direito
O direito humano à alimentação do feto, no humano à Alimentação e Nutrição adequadas depen-
período intrauterino, depende diretamente da reali- de: a) da disponibilidade de alimentos saudáveis e se-
zação do direito humano à alimentação e nutrição guros, produzidos de forma sustentável; b) da possibi-
da mãe. O estado nutricional da mãe no momento da lidade de acesso aos mesmos, seja pela produção para
concepção terá impacto sobre a realização do direi- consumo, seja por um trabalho que gere a renda neces-
to humano à alimentação adequada da criança, mes- sária; c) da possibilidade de acesso a alimentos cultu-
mo que a mãe se alimente adequadamente durante a ralmente adequados; d) da existência de mecanismos
gestação. Caso a mãe não tenha seu direito à nutri- de transporte e armazenamento adequados; e) de con-
ção garantindo, o feto não terá nem o seu direito à dições de transformação adequada, com higiene, dos
alimentação nem à nutrição realizados, com um pro- alimentos no domicílio ou em espaços públicos (água
fundo impacto negativo sobre o seu desenvolvimen- limpa, saneamento adequado, utensílios, refrigerador,
to intrauterino e neonatal. O mesmo ocorre no perí- combustível, etc); f) das condições de vida e de habita-
odo do aleitamento exclusivo. ção das famílias; g) do nível de informação sobre hi-
A realização do direito humano à nutrição da mãe, giene e práticas e hábitos alimentares saudáveis; h)
portanto, é parte integrante e pré-requisito para a re- das condições de saúde das pessoas e famílias; i) do
alização do direito à alimentação e nutrição da crian- acesso a serviços de promoção e atenção à saúde e j)
ça. Mesmo reconhecendo que isto implica em que a de serviços de controle de qualidade dos alimentos,
titularidade do direito à alimentação adequada da cri- entre outros.
ança implique em mais do que o simples provimento Base legal para a garantia do direito também
de alimentação adequada à mãe. Implica em que a pode ser encontrada em uma série de dispositivos
mãe, bem como a criança, tenham seu direito huma- constitucionais e da legislação nacional que acolhem
no à nutrição adequada realizado, incluídos aí os as- o conceito exposto. Um exemplo claro é o reconheci-
pectos relativos ao direito ao cuidado, a condições de mento da alimentação e da nutrição como pré-requi-
vida que promovam a saúde e à atenção à saúde. sitos fundamentais à realização do direito à saúde
A realização do direito humano à alimentação ade- nos artigos 6 e 23 da Constituição Federal (CF, 1988).
quada implica em obrigações específicas do Estado e A constituição federal também reconhece a obriga-
da sociedade de respeitar, proteger, promover e pro- ção do Estado em garantir o direito humano à alimen-
ver: a) acesso físico e econômico a uma alimentação tação dos escolares em seu artigo 208, que trata do
saudável e diversificada de forma sustentável; b) con- direito à educação e de sua efetivação mediante o en-
dições que propiciem um cuidado adequado na esco- sino fundamental público e gratuito, incluindo a
lha, preparação e ministração da alimentação (higie- implementação de Programa de Suplementação Ali-
ne, preparação de alimentos, creche, etc.); c) condições mentar (CF, 1988).
de vida que promovam a saúde e d) atenção integral à O Estatuto da Criança e do Adolescente, artigo 4º,
saúde. estabelece o direito humano à alimentação das cri-
Neste contexto, portanto, violações contra o direi- anças e adolescentes como prioridade absoluta (ECA,
to humano à alimentação adequada podem decorrer 1990). A Política Nacional de Alimentação e Nutri-
de inadequações na realização de qualquer uma des- ção, do Ministério da Saúde, reconhece a obrigação
tas dimensões, sendo legítima a impetração de recur- do estado brasileiro em garantir a realização do di-
sos administrativos e legais no sentido da reparação reito humano à alimentação para todos os cidadãos
das mesmas. Violações podem ocorrer também quan- e busca articular todas suas propostas de ação neste
do a ingestão excessiva ou inadequada de alimentos, sentido.

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Os conceitos e seu impacto no diag- tores como falta de atenção de saúde adequada ao pré-
natal e à infância, falta de saneamento básico, água
nóstico da situação alimentar e nutri- contaminada, entre outros. Dentro desta visão, a fome
cional do povo brasileiro já não seria um problema tão grave no Brasil.
Por outro lado, é fundamental reconhecer que es-
Há pelo menos duas polêmicas centrais em relação ao tes autores estão corretos ao afirmar que muitas cri-
diagnóstico alimentar e nutricional no Brasil. Uma, anças, e mesmo adultos, não estão desnutridos por-
brevemente mencionada anteriormente, está centrada que lhes falta alimentos, mas também acesso às ou-
na disputa técnica e política entre diferentes aborda- tras dimensões necessárias à promoção de uma boa
gens conceituais do tema. A outra está no âmbito da nutrição (cuidado, saúde, habitação, renda, etc). Isto
identificação de indicadores e da metodologia adequa- implica em que qualquer Programa Nacional de com-
da para a aferição da magnitude dos problemas exis- bate à Fome e à desnutrição deva ter uma forte articu-
tentes. As duas estão interligadas. Só se pode medir lação com a promoção de iniciativas de inclusão social
algo que está claramente definido. (rural e urbana) e com o fortalecimento e universali-
No entanto, existem duas dificuldades adicionais. zação das ações da área da Saúde e Nutrição.
Primeira, o Brasil tem uma base de dados ainda ina- A partir de um outro olhar, o novo governo federal,
dequada, especialmente no que tange ao monitora- com base em estudo coordenado pelo Instituto da Ci-
mento dos distúrbios nutricionais e de suas conseqü- dadania, ressaltando que não se pode tratar fome e
ências sobre a saúde e a mortalidade de grupos espe- pobreza como sinônimos, considera que “as pessoas
cíficos. Segunda, as dimensões da fome e da má nutri- que não têm renda suficiente para adquirir uma cesta
ção no Brasil são muitas e não podem ser analisadas básica” são aquelas que “passam fome” ou, pelo me-
exclusivamente a partir de análises estatísticas tra- nos, são vulneráveis a isso (Instituto da Cidadania,
dicionais. As diferentes realidades exigem uma avali- 2001). Com base neste critério, o mesmo estudo che-
ação qualitativa para que se consiga efetivamente ga à estimativa de 44 milhões de pessoas em situação
chegar ao âmago das questões e orientar a elabora- de insegurança alimentar, ou seja, em risco de passar
ção e implementação de políticas públicas que tenham fome, para o ano de 1999. A partir deste enfoque, a
resolutividade. ênfase nos primeiros meses de governo tem sido na
Aprofundando um pouco a dimensão conceitual, implementação de iniciativas que garantam o acesso
a língua portuguesa não tem palavras específicas para físico e econômico aos alimentos por parte destas pes-
“famine” (fome aguda epidêmica) e para “starvation” soas, seja pelo alavancamento de ações solidárias, seja
(processo agudo de fome/desnutrição que pode levar pela implementação de programas de transferência
à morte). Assim, a palavra fome no português pode ser de renda, especificamente para a compra de alimen-
usada para uma enorme variedade de situações, des- tos (cartão alimentação) ou não (Bolsa Escola, bolsa
de a situação mais simples e fisiológica de estar com Alimentação, bolsa renda, entre outros).
vontade de comer até a situação extrema da fome epi- Dentro de uma outra abordagem, a qual o autor
dêmica, como mencionado anteriormente. deste artigo subscreve, a fome não pode ser reduzida
Alguns conceituados profissionais da saúde que nem à sua dimensão econômica nem ao seu impacto
trabalham com a área de nutrição adotam um concei- biológico mensurável. Como apresentado no início do
to de fome que reduz a mesma a alterações de massa artigo, a fome e a alimentação, dentro de uma perspec-
corpórea (redução de peso ou de massa corpórea abai- tiva de direitos humanos, são facetas de um fenôme-
xo dos níveis considerados saudáveis). Ou seja, a fome no muito mais amplo do que isto. Elas incorporam di-
se manifestaria em quadro de subnutrição, pela au- mensões relacionadas a diferentes necessidades his-
sência de alimentos, em associação ou não com ou- tóricas, culturais, psicológicas e espirituais dos seres
tros fatores (Monteiro, 2003; Victora, 2003). Segundo humanos, incluindo a questão básica da dignidade.
os mesmos autores, a maior parte dos quadros de des- O conceito de fome, no Brasil, utilizado por dife-
nutrição observados em crianças não são decorren- rentes setores da população, abarca desde aquela sen-
tes da falta de alimentos, mas sim devido a outros fa- sação fisiológica ligada à vontade de comer, conheci-

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da de todos nós, até as formas mais brutais de violen- ares com alimentos, de inquéritos de consumo alimen-
tação do ser humano, ligadas à pobreza e à exclusão tar, ou mesmo de indicadores de estado nutricional,
social. Ver os filhos passarem fome é passar fome. diretos ou indiretos. A fome tem facetas fortemente
Comer lixo é passar fome. Comer o resto do prato dos subjetivas.
outros é passar fome. Passar dias sem comer é passar Qualquer tentativa de reduzir a alimentação e a
fome. Comer uma vez por dia é passar fome.Ter que se fome à sua dimensão estritamente nutricional, seja
humilhar para receber uma cesta básica é passar fome. do ponto de vista de ingestão de nutrientes seja de
Trocar a dignidade por comida é passar fome. Ter medo estado nutricional, representa limitar o ser humano
de passar fome é estar cativo da fome. Estar desnutri- à sua biologicidade, limitar o corpo humano a um ins-
do também é passar fome, mesmo que a causa princi- trumento ou máquina e a comida a nutrientes, com-
pal não seja falta de alimento. bustível e partes de reposição. Nós somos muito mais
O conceito de má nutrição, por outro lado, é de uso complexos do que isto.
quase restrito à área da saúde. Refere-se às manifesta- Qualquer tentativa de reduzir a alimentação e a
ções corpóreas - clínica, antropométrica e laboratorial- fome à sua dimensão estritamente econômica ou de
mente constatáveis – decorrentes da interação de uma disponibilidade de alimentos, representa submeter
complexidade de determinantes do estado nutricional, integralmente o processo alimentar às leis do merca-
tais como: grau de segurança alimentar domiciliar; do onde o alimento comparece como mercadoria e o
cuidados no nível familiar e comunitário; condições de ser humano como consumidor, quando tem condições
vida e qualidade dos serviços de atenção à saúde para comprar.
(UNACC/SCN, 2000). A má nutrição, enquanto conceito Neste sentido, é cientificamente incorreto mensu-
abrangente, engloba tanto a desnutrição decorrente de rar o nível de fome exclusivamente a partir de dados
carências nutricionais (energia, proteína e micronu- de renda, de subnutrição em adultos e desnutrição em
trientes) como os quadros causados por uma ingestão crianças.
excessiva ou desbalanceada de nutrientes, tais como a No entanto, ter parâmetros individuais e popula-
obesidade, dislipidemias e outras doenças crônicas. cionais da fome, da má alimentação, da desnutrição é
É importante ressaltar que a maior parte dos casos fundamental para orientar a elaboração e implemen-
de má nutrição, sejam aqueles com características tação de políticas e programas públicos capazes de
carenciais ou aqueles associados a excessos ou dese- promover um desenvolvimento humano sustentável,
quilíbrios nutricionais, não pode ser atribuída exclu- que tenha como um dos eixos centrais a redução das
sivamente ao nível inadequado de ingestão de alimen- desigualdades sociais e econômicas e a erradicação
tos e/ou nutrientes. Enquanto facetas de um mesmo da fome.
processo social e biológico, a má nutrição e a fome são Para isto, esta mensuração tem que partir de uma
reflexos das complexas relações humanas que estabe- nova conceituação que incorpore a dimensão da indi-
lecem quais seres humanos tem direito ao quê e quando. visibilidade dos direitos humanos e da visão de mundo
A partir das conceituações apresentadas, inferi- das populações excluídas, e tenha como princípio e
mos que fome e desnutrição são diferentes dimensões finalidade última a universalização da humanidade.
de um mesmo evento e que, portanto, demandam for-
mas também distintas de avaliar sua magnitude. A má Implicações da questão conceitual pa-
nutrição, por sua definição e dimensão essencialmen-
te biológica, pode ser aferida por métodos quantitati- ra a elaboração de políticas públicas
vos: antropometria, exames laboratoriais e sinais e Alguns passos são fundamentais para que se avance
sintomas clínicos, sem que isto elimine a importân- na elaboração de uma Política Nacional de Seguran-
cia da avaliação qualitativa do quadro clínico nutri- ça Alimentar e Nutricional que consiga promover a
cional no contexto da vida de cada ser humano. realização do Direito Humano à Alimentação. O pri-
Não se pode dimensionar a fome humana somen- meiro passo consiste no estabelecimento de um pro-
te a partir de indicadores de disponibilidade de ali- cesso de debate técnico e político que permita a cons-
mentos no mercado ou no domicílio, de gastos famili- trução de um consenso técnico e político sobre o que

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se define como fome, como insegurança alimentar, síveis em crianças e adultos vítimas de desnutrição
como desnutrição, como subnutrição, etc. O segundo, na infância (ONU, 2000).
a partir dos conceitos definidos, deve concentrar-se A precariedade dos dados sobre o tema, apesar da
na identificação de indicadores que possam monitorar abundante base de dados existente no Brasil, nos re-
a evolução da situação alimentar e nutricional. O ter- mete a termos que discutir prioridades. Será impossí-
ceiro momento deverá ser dedicado ao estabelecimen- vel, em curto e médio prazo, produzir todas as informa-
to de metas a serem alcançadas em relação a cada um ções necessárias para termos um quadro realista da
dos indicadores e dos prazos necessários para fazê- situação alimentar e nutricional da população brasi-
lo. Por último, devemos identificar quais ações e pro- leira, mesmo que cheguemos a um consenso sobre a
gramas, desenvolvidos pelos distintos setores gover- questão conceitual.
namentais e da sociedade, são prioritários para atin- Isto sem falar que não existem dados nutricionais
gir as metas, e a partir disto definir os recursos huma- no Brasil que permitam sua desagregação por raça ou
nos e financeiros necessários para o seu sucesso, por etnia, na medida em que esta preocupação somen-
incluindo-se aí a implementação e fortalecimento dos te surge recentemente com o crescimento da protago-
mecanismos de monitoramento da evolução dos indi- nismo dos afrodescendentes e dos povos indígenas.
cadores selecionados. Enquanto avançamos na construção deste novo
É importante ressaltar que se temos problemas quadro de referência e o colocamos em prática, é fun-
com a mensuração da fome, também os temos em rela- damental que busquemos o estabelecimento de alguns
ção à da má-nutrição. acordos mínimos que possam orientar nossa atuação
Estudos nacionais realizados ao longo das duas enquanto técnicos e seres políticos.
ultimas décadas demonstram uma redução progressi-
va da prevalência da desnutrição infantil. No entanto,
Conclusões
não temos informações recentes. Dados de 1996 apon-
tam para uma prevalência de 10,5% de nanismo nu- A priorização do combate à fome pelo novo governo
tricional na população menor de 5 anos e de 5,6% de federal enquanto eixo norteador das políticas econô-
baixo peso para idade. Isto significa que cerca de um micas e sociais e do próprio novo modelo de desenvol-
milhão e meio de crianças ainda apresentam desnu- vimento, e não só como objeto de políticas de caráter
trição no país. A situação do Nordeste brasileiro apre- exclusivamente compensatório, é pioneira e deve re-
senta uma situação muito mais grave, com índices ceber todo o nosso apoio.
duas vezes mais altos que a média nacional (Monteiro, O estabelecimento de políticas públicas conse-
2000). qüentes que possam levar à superação da fome e da
Em relação aos problemas nutricionais decorren- desnutrição exige um esforço de integração e articu-
tes de carências de micronutrientes, os dados são mais lação de ações governamentais, e destas com as inici-
precários, só existindo estudos pontuais. No entanto, ativas da sociedade civil, partindo da re-pactuação
há fortes indicativos que o quadro de anemia ferro- política e técnica dos conceitos básicos de fome, des-
priva vem se agravando nos últimos anos, inclusive nutrição, pobreza e mesmo alimentação e nutrição
nos setores médios da população brasileira, e que ain- como direitos humanos, e não só da redefinição das
da se mantém um quadro preocupante de hipovitami- linhas de pobreza. Nenhum conceito é neutro. Todo
nose A em algumas regiões do país (OPAS, 2002). conceito traz nele embutidas visões de mundo e, por-
São, também, totalmente insuficientes e desatua- tanto, delimita as possibilidades de superação ou não
lizadas as informações sobre a prevalência de sobre- dos problemas identificados.
peso, obesidade e das doenças crônicas associadas em No momento, estamos restritos a conceitos que ain-
crianças e adultos. Isto é preocupante, especialmente da não incorporam a riqueza dos processos históricos,
em se tendo em conta o conhecimento científico acu- políticos, sociais e científicos vividos pelo Brasil, nos
mulado, divulgado em sucessivos relatórios da ONU, tempos recentes, especialmente no que se refere ao
que aponta para o risco significativamente aumenta- crescente protagonismo político e cultural das classes
do de surgimento de doenças crônicas não transmis- populares, nas diferentes esferas da vida brasileira.

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Os conceitos a serem utilizados neste novo mo- Referências Bibliográficas
mento têm que incorporar o olhar e a visão de mundo
daqueles que vivem a realidade de fome e exclusão, CDESC. “Comentário Geral nº 12 – o direito humano à
enriquecendo a discussão e rompendo com as barrei- alimentação” in: VALENTE, F.L.S. Direito Humano
ras corporativas impostas pela academia e pela tec- à Alimentação – desafios e conquistas. 1ª ed. São
nocracia. Somente a partir desta nova compreensão Paulo, Cortez Editora, 2002. p 261-272
da realidade poderemos mensurar de forma mais apro- ESTATUTO da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº
ximada as condições de fome e desnutrição do nosso 8069, de 13 de julho de 1990. <http://www.mj.
povo, desenvolver políticas adequadas e monitorar seu gov.br/sedh/dca/eca.htm>. Acessado no dia 14 de
impacto. março de 2003
Ao mesmo tempo, os técnicos responsáveis pela IPEA, SEDH, MRE. A segurança Alimentar e Nutri-
elaboração das políticas terão que sair de seus casu- cional e o Direito Humano à Alimentação no Brasil.
los profissionais, conformados por uma formação aca- Brasília, IPEA, 2002. p 23.
dêmica fragmentadora e reforçados pelas estruturas
INSTITUTO DA CIDADANIA. Projeto Fome Zero: uma
estanques dos órgãos públicos setoriais, que dificul-
proposta de política de Segurança Alimentar para
tam a transdisciplinaridade necessária ao enfrenta-
o Brasil. São Paulo, Instituto da Cidadania, 2001.
mento da fome e da desnutrição. 118 p.
Cabem duas tarefas centrais neste momento a to-
JONSSON, U. “As causas da fome” in: VALENTE, F.L.S.
dos os setores da sociedade brasileira. Por um lado, a
(org) Fome e desnutrição: determinantes sociais.
de cobrar que o novo governo federal cumpra os com-
São Paulo, Cortez Editora, 1986 : 48-65
promissos assumidos de: 1) superar políticas fragmen-
tárias e assistencialistas no tratamento da fome e da MONTEIRO, C.A. Velhos e novos males da saúde no
desnutrição; 2) promover uma verdadeira articulação Brasil a evolução do país e de suas doenças. São
de políticas e programas emergenciais e estruturais, Paulo, HUCITEC/NUPENS/USP, 2ª edição revisada
de promoção do Direito Humano à Alimentação, por e aumentada/2000.
meio da implementação de uma Política Nacional de MONTEIRO, C.A. Fome, pobreza e desnutrição:além da
Segurança Alimentar e Nutricional, integradora e semântica. São Paulo, 2003. mimeo.
transversal. MS/CGPAN – Ministério da Saúde – Coordenação Geral
Por outro, a de dar sua contribuição para a cons- da Política de Alimentação e Nutrição. Política Na-
trução de um novo modelo de desenvolvimento para o cional de Alimentação e Nutrição <http://portal.
país. Nenhum governo, sem o apoio efetivo da maio- saude.gov.br/alimentacao/politica.cfm>. Acessado
ria da sociedade brasileira, será capaz de atingir esta no dia 14 de março de 2003.
meta. São imensos os desafios nacionais e internaci- OPAS. Bibliografia sobre deficiência de micronu-
onais que terão que ser ultrapassados para que consi- trientes no Brasil 1990-2000. Brasília, OPAS, 2002
gamos efetivamente reduzir as brutais desigualdades
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
que maculam a humanidade e cidadania de todos nós.
Nova Iorque, ONU, 1948 <http://www.unhchr.ch/
O Brasil precisa mais do que um projeto de com-
udhr/lang/por.htm>. Acessado no dia 23 de junho
bate à fome. Precisamos de uma política nacional de de 2003.
promoção de alimentação, nutrição e modos de vida
ONU. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
saudáveis, enquanto parte integrante de um proces-
Sociais e Culturais. Nova Iorque, ONU, 1966.
so de desenvolvimento humano sustentável, com a
<http://www.unhchr.ch/spanish/html/menu3/b/
meta central de promover a dignidade humana e a re-
a_cescr_sp.htm>. Acessado no dia 23 de junho de
dução da discriminação e das desigualdades.
2003.

Saúde e Sociedade v.12, n.1, p.51-60, jan-jun 2003 59


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on the World Food Situation – Nutrition throughout e Culturais. Plataforma Brasileira de Direitos Hu-
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Recebido em: 16/05/2003


Aprovado em: 28/06/2003

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