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por Marilia Fontes, Analista | postado em 17/04/2024

Debênture Aes Potengi Holdings S.A.


Vale a pena investir?

A emissão é de R$ 210 milhões, destinada a investidores qualificados, e está


sendo ofertada na XP até o dia 23 de abril.

A debênture possui classificação AA pela Fitch Ratings e é incentivada,


contando, portanto, com isenção de imposto de renda para pessoas físicas.

A série única possui taxa fixa de Tesouro IPCA 2035 + 0,9% a.a., a ser definida
em bookbuilding, com vencimento em 14 de outubro de 2042.

Garantias

A emissão conta com garantia na forma de fiança, sendo 76% coberta pela AES
Brasil Energia e os 24% restantes, prestada pela BRF S.A. Demais
características da oferta podem ser encontradas na tabela abaixo.

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Fonte: Lâmina da Oferta. Elaboração Nord Research.

Emissora

A Potengi Holdings S.A. é uma joint-venture (acordo comercial entre duas


empresas que decidem unir recursos para realizar um projeto específico) entre
uma controlada da AES Brasil Energia (Tucano Holding I) e a BRF.

A parceria visa o desenvolvimento de projeto de energia eólica no Rio Grande


do Norte e foi iniciada no segundo trimestre de 2022.

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Como a companhia é controlada pela AES Brasil Energia e pela BRF, as quais
são responsáveis pela fiança da emissão, analisaremos o resultado de ambas as
empresas.

Resultados

AES Brasil Energia

A AES Brasil Energia S.A. foi constituída em 2020 com o propósito de servir
como nova holding do grupo AES no Brasil, atuante na geração de energia
100% renovável.

A receita líquida da companhia vem sendo expandida, tendo alcançado R$ 3,4


bilhões em 2023, um aumento de 20,6% em relação a 2022. O aumento é
explicado por um ganho de margem operacional líquida nos segmentos de
energia eólica, solar, hídrica e outros.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

O custo dos bens e serviços vendidos apresentou crescimento, porém menor do


que o das receitas, em 11,35%, atingindo R$ 2,2 bilhões em 2023.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

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Como resultado, o lucro líquido da AES Brasil apresentou crescimento de 4%
em relação a 2022, atingindo R$ 333 milhões. Embora o ROE também tenha
aumentado, ainda que marginalmente (0,3 p.p.), o indicador segue em patamar
reduzido (6%).

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

A AES Brasil também registrou um EBITDA crescente, alcançando R$ 1,7


bilhão em 2023, com uma margem EBITDA elevada de 49,1%.

O aumento é justificado pelos ganhos com: (i) energia eólica, referentes à


contribuição de novos complexos eólicos; (ii) energia hídrica, com aumento do
preço médio de venda aliado à redução no preço médio de compra de energia; e
(iii) energia solar, decorrente de ajuste dos contratos por inflação e redução de
despesas.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

Em relação ao endividamento da companhia, houve uma elevação de 37% na


dívida líquida (subtração entre a dívida bruta da companhia e o caixa e
equivalentes disponíveis), a qual alcançou R$ 9 bilhões em 2023.

A elevação ocorreu por uma redução de 40% do caixa disponível, o qual foi
endereçado para investimentos na construção de complexos eólicos.

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Com esta elevação do EBITDA, a alavancagem da companhia, observada pela
razão entre a dívida líquida e o EBITDA, apresentou uma redução, saindo de
5,55x para 5,36x, porém ainda se encontra em um patamar bastante elevado.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

Fonte: AES Brasil Energia. Elaboração Nord Research.

Após a redução, o caixa e equivalentes somam R$ 2,63 bilhões. Para o curto


prazo, o cronograma está apertado, somando R$ 4,87 bilhões a serem pagos
entre 2024 e 2025.

A companhia tem se esforçado para alongar o prazo médio de suas dívidas,


substituindo os empréstimos ponte (bridge) com vencimento entre 2024 e 2025
por financiamentos de longo prazo.

Além disso, ela também vem substituindo gradualmente a exposição a dívidas


atreladas ao CDI pelo IPCA, visando melhorar o casamento de seus passivos e
ativos, uma vez que os contratos de venda de energia são ajustados anualmente
pelo índice de inflação.

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Fonte: AES Brasil Energia.

BRF S.A.

A BRF, com mais de 80 anos de história, é uma das maiores companhias de


alimentos do mundo. Em seu portfólio, possui marcas como Sadia, Perdigão e
Qualy.

A receita líquida vinha apresentando crescimento consistente nos últimos anos.


No entanto, em 2023, houve uma leve redução da receita, a qual saiu de R$ 53,8
bilhões em 2022 para R$ 53,6 bilhões.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

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O custo dos produtos vendidos também foi levemente reduzido, saindo de R$
45,6 bilhões para R$ 44,8 bilhões. Por outro lado, houve aumento das despesas
operacionais, que atingiram R$ 8,2 bilhões.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Os custos e despesas operacionais acima das receitas, somados com despesas


financeiras, resultaram em um prejuízo líquido de R$ 1,9 bilhão, mantendo a
rentabilidade negativa (ROE de −12%).

Vale observar que o resultado foi uma redução do prejuízo observado em 2022,
que havia atingido R$ 3,1 bilhões, devido a maiores custos e despesas
financeiras.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

O EBITDA da companhia apresentou uma elevação de 42,2% em relação ao


ano anterior, atingindo R$ 4 bilhões. No entanto, vale ressaltar que o indicador
segue abaixo dos patamares observados nos anos anteriores, em torno de R$ 5,2
bilhões.

A margem EBITDA vinha apresentando uma trajetória decrescente, com os


ganhos de receita menores do que os ganhos de EBITDA. Apesar da leve alta
em relação a 2022, essa margem segue baixa, em 7,6%.

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Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Em relação ao endividamento, houve uma melhora da dívida líquida, reduzindo


de R$ 14,6 bilhões para R$ 9,5 bilhões. Com isso, a alavancagem foi reduzida
para 2,01x, um patamar confortável.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

Fonte: BRF. Elaboração Nord Research.

O caixa e equivalentes atuais de R$ 10,1 bilhões tornam o cronograma de


vencimentos de dívidas tranquilo.

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Fonte: BRF.

Nossa visão

A AES Brasil Energia, responsável por 76% da fiança desta emissão, vem
apresentando crescimento de receita e de EBITDA, proporcionando uma
margem EBITDA elevada.

No entanto, a companhia ainda apresenta uma baixa rentabilidade, com ROE em


torno de 6%, e uma elevada alavancagem de 5,36x, devido ao crescimento dos
investimentos, principalmente atrelados a projetos eólicos. Isso sem falar no
cronograma de obrigações de curto prazo bastante apertado.

Já a BRF, responsável pelos 24% restantes da fiança, apresentou uma redução


da dívida líquida e uma alavancagem confortável. Porém, por conta da
estabilização das receitas e altas despesas, a companhia apresentou prejuízo,
ainda que menor do que o prejuízo observado em 2022.

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Sendo assim, a BRF apresenta uma alavancagem confortável e um caixa
elevado, porém acompanhados de um prejuízo, enquanto a AES apresenta
crescimento de receita e margem EBITDA elevada, seguidos de um elevado
endividamento em fase de investimentos em infraestrutura.

Considerando o risco de crédito das companhias, o prêmio de risco


bastante reduzido da emissão e seu longo prazo de vencimento, optamos
por não participar desta oferta.

Em observância à Resolução CVM 20/2021 eu, Marília Fontes , responsável


principal pelo presente relatório de análise, declaro que: i) as opiniões aqui
contidas foram elaboradas por mim de forma independente e autônoma,
inclusive em relação à Nord Research.

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