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PERIGOSAS NACIONAIS

Paixão Sombria

UM CONTO

L R Spector

1º edição

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright © 2018 L. R. Spector

Esta é uma obra de ficção. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos
são produtos da imaginação do autor.

Qualquer semelhança com nomes, datas, e


acontecimentos reais é mera coincidência.

Qualquer outra obra semelhante, como essa será


considerado plágio, como previsto em lei.

Grafia atualizada segundo o Acordo


Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que
entrou em vigor no Brasil em 2009

Todos os direitos reservados. É proibido


armazenamento e/ou reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios – tangível
ou intangível – sem o consentimento do autor.

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A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.

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Sumário
Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

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Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezesseis

Capítulo Dezessete

Capítulo Dezoito

Capítulo Dezenove

Capítulo Vinte

Capítulo Vinte e Um

Capítulo Vinte e Dois

Epílogo

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Capítulo Um

Amy sabia que algo estava errado. O medo se


enrolou como uma corda apertada em volta de seu
estômago, o vento chacoalhou seu cabelo
fustigando seu rosto. Cruzou os braços diante do
corpo, tentando proteger-se embora soubesse que
aquilo era um ato infantil. O frio se infiltrou pela
sola de seus pés, e logo ela percebeu que seus
dedos haviam ficado dormentes. Arrependeu-se de
ter levantado da cama e aberto a porta, devia ter
ficado dentro de sua casa protegida do frio e do
homem parado diante dela.

- Eu não entendo Peter... – as palavras deixaram


seus lábios de forma trêmula, quase vacilantes. Por
um momento tentou se convencer que o temor que
sentia percorrer todo seu corpo era devido ao frio
invernal, e não ao pressentimento ruim que parecia
agitar suas asas sobre sua cabeça – Por que você
está fugindo? Pra onde está indo?
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A sua frente à figura franzina de Peter mal


podia ser reconhecida debaixo do imenso casaco de
esqui. Agitado ele lançou um olhar sobre seus
ombros, como se tivesse esperando que alguém
pulasse das sombras escuras ao redor dos prédios
para atacá-lo a qualquer momento.

- Eu já disse Amy, eu preciso dar um tempo. As


coisas se complicaram você não precisa saber dos
detalhes. É temporário, eu só preciso que você
guarde umas coisas pra mim até eu voltar.

As palavras dele soaram de maneira apressadas,


caóticas. Por um momento a garota fitou o homem
parado em frente a sua porta quase sem conseguir
reconhecer sua figura. Os cabelos compridos e
oleosos não tinham brilho algum, o rosto encovado
e pálido o deixava com uma aparência
fantasmagórica, haviam manchas muito escuras sob
seus olhos, que naquele momento exibiam um olhar
vitrificado. Aquela era uma imagem muito
diferente do que ela guardava em suas lembranças
do irmão mais velho divertido e com um sorriso no
rosto. Mas, tudo aquilo parecia ter ficado para trás,
num passado distante bonito e inatingível.
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- Peter, o que você fez dessa vez? – A pergunta


escapou de seus lábios num sussurro, em sua mente
ela já começava a imaginar o pior cenário possível.
Conhecia o irmão bem demais e seus problemas
para saber que o fato dele estar parado em frente a
sua casa de madrugada, lhe pedindo um favor
definitivamente não podia significar algo positivo.

- Por que você acha que eu fiz alguma coisa


heim? – perguntou seu irmão de maneira
acusatória, lançando um olhar cheio de irritação em
sua direção – Você se acha muito melhor não é
mesmo? Pra você eu sempre sou o culpado, sempre
enfiando os pés pelas mãos.

Amy precisou morder a língua para não lhe


responder, o remorso queimou em seu peito de um
jeito incômodo, desviou seu olhar fitando os pés
pálidos descalços sobre a soleira de sua porta. Ela
parecia completamente deslocada ali fora, sem uma
única blusa de frio vestida em seu pijama surrado.
Sentiu a tristeza em seu coração como uma
agulhada, e tentou ao máximo ignora-la sabendo
que não podia deixar aqueles sentimentos
atrapalharem seu raciocínio.
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- Eu não fiz nada ok? Você precisa acreditar em


mim Amy. Você é minha irmã!

Amy ergueu seus olhos como se as palavras


dele tivessem lhe atingido fisicamente. Ali estava a
parte mais dolorosa e verdadeira daquela conversa.
Ele era sua família. A única família que havia lhe
restado em todo mundo. Conhecia seus defeitos tão
bem como se fossem os dela própria, e embora
houvesse um laço entre eles de mágoas e
ressentimentos, isso não havia sido capaz de apagar
todas as outras coisas que os uniam. Sua mãe
costumava dizer que o sangue era mais denso do
que água uma forma de explicar como família era
importante. Indivisível. Inseparável. Talvez fosse
exatamente por esse motivo que ela sentira de
forma tão intensa a traição de seu irmão.

- Você se lembra o que aconteceu da última vez


que me pediu para confiar em você Peter? Eu ainda
estou pagando sua dívida!

Ela não queria que suas palavras soassem com


tamanho ressentimento. A raiva contida em sua fala
sou estranha em seus ouvidos. Quando aqueles
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sentimentos de revolta e desgosto haviam crescido


em seu coração sem que ela soubesse?

O rosto de seu irmão se contorceu diante


daquelas palavras, a sombra da vergonha cobrindo
seus olhos azuis tão semelhantes aos dela. Foi à vez
dele de desviar o olhar, incapaz de olhar em seu
rosto.

- Eu vou te pagar. Prometo – murmurou o rapaz


como resposta, esfregando a ponta de seu surrado
tênis no chão danificado em frente a sua casa, um
gesto de nervosismo que ele carregava desde que
eles eram crianças.

Amy sentiu as pontas de suas unhas afundarem


na parte interna de seu braço. O vento chicoteou
seu corpo lembrando-a que ela precisava se abrigar.
A parte racional em seu cérebro lhe dizia para
terminar aquela conversa e entrar em sua casa, mas
seu corpo não parecia nem um pouco disposto a lhe
obedecer.

Ela desejava poder agarrar seu irmão pelos


braços e chacoalhá-lo até conseguir colocar algum

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juízo naquela cabeça dura. Não queria o dinheiro


dele, ou sua pena, sabia que ela não tinha nenhum
poder para mudar o ritmo das coisas. Amy sabia
muito bem que não havia dinheiro algum no mundo
que poderia ressarci-la por tudo o que ela havia
passado no último ano graças aos erros do seu
irmão.

Por um momento sua mente foi arrebatada para


as lembranças daquela noite. Um calafrio
horripilante deixou os pelos do seu braço em pé ao
perceber em como aquela situação era parecida,
quase como se ambos estivessem vivendo um déjà
vu.

Aquela noite Peter também havia aparecido em


sua casa de madrugada, ele havia surrado sua porta
aos berros, quando Amy conseguiu alcança-lo ele
caiu no chão a seus pés, o sangue manchou o piso
de sua cozinha, uma mancha que ela nunca mais
conseguiu limpar, uma testemunha silenciosa do
que havia acontecido entre eles.

Amy lembrava-se com muita clareza do horror


puro que havia tomado conta dela quando percebeu
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como seu irmão segurava de maneira precária um


pano completamente ensopado de sangue junto a
seu peito. Em suas memórias ela se lembrava com
nitidez como sentira o coração bater dolorosamente
em seu peito, de uma maneira como se ele fosse
explodir sua caixa torácica. Diante dela o irmão se
contorcia numa agonia indescritível, o rosto
machucado exibia hematomas de várias colorações,
as lágrimas escorriam livremente por suas
bochechas vermelhas. Amy tentara acalma-lo de
todas as formas, mas ele parecia não ser capaz de
ouvi-la. Sem saber o que fazer, enquanto o pânico
corria em suas entranhas, ela deixou o irmão se
aninhar em seu colo, como se ele fosse uma criança
em busca de consolo. Ele havia deitado ali e
chorado como um bebê buscando nela uma
proteção que Amy não sabia se era capaz de
oferecer.

Quando os nervos dele melhoraram, ela


conseguiu respirar de maneira mais controlada,
embora suas mãos continuassem ainda trêmulas.
Com todo cuidado do mundo ela alcançou a mão
que ele continuava segurando diante de seu peito,
ele parecia ter se esquecido dela, mas quando os
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dedos de Amy tocaram sua mão ele urrou em dor.


Amy ainda conseguia se lembrar com uma nitidez a
sensação de tocar a mão ensanguentada de seu
irmão, a forma como as pontas de seus dedos
sentiram a viscosidade vermelha, manchando sua
pele, enquanto o cheiro metálico ficava preso
dentro de seu nariz.

O lamento de seu irmão encheu seus ouvidos


enquanto ela retirava de sua mão o pano que ele
usara como uma espécie de torniquete, o tecido
havia perdido completamente sua cor que havia
sido consumida pelo sangue deixando tudo num
tom de vermelho berrante. Quando Amy finalmente
conseguiu desfazer o improvisado curativo, sentiu
de maneira muito clara, por um instante os
batimentos de seu coração pararem dentro de seu
peito quando olhou o dedo anelar de seu irmão
escorregar da trouxa de tecido caindo de maneira
desengonçada no chão.

O horror tomou conta de sua expressão,


enquanto as palavras de seu irmão ditas numa voz
chorosa ecoaram em seus ouvidos.

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- Estou perdido Amy... Eles disseram que vão


me matar, se eu não pagar o que devo a eles... Vão
me cortar pedaço por pedaço.

Amy fechou os olhos por um instante tentando


conter as lembranças que se desenrolavam de
maneira descontrolada sob suas pálpebras. A
imagem da mão mutilada de seu irmão vibrava
diante dela, sentiu o gosto ácido da bile arranhar
sua garganta. Naquela noite ela havia ficado tão
horrorizada que tivera certeza que iria perdê-lo. O
medo crescera no centro de seu peito como uma
flor que desabrochava enquanto estendia suas
raízes que se espalhavam por todo seu corpo.

Ela havia acolhido seu irmão, e quando ele se


recusara a ir até um hospital ou mesmo chamar a
polícia, Amy tentara o seu melhor cuidando de suas
feridas. Enquanto as horas avançavam no relógio,
ela levou Peter para dentro de sua casa, enquanto
ouvia atentamente o que acontecera.

Com frases desconexas e voz embargada, ele


lhe contara como se envolvera com a Máfia
Italiana, seu vício em cocaína e outras drogas,
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fizeram com que ele aceitasse aceitar trabalhar para


alguns traficantes, quando seus serviços já não
eram mais suficientes, ele havia pegado dinheiro
emprestado para suprir seu vício cada vez mais
descontrolado. As dívidas começaram a se
acumular como uma bola de neve, até que se
transformaram numa avalanche que ele fora
incapaz de controlar.

Amy ouvira tudo em silêncio, o medo parecia


apertar seus membros como um cobertor pesado
sobre seu corpo. Tentou controlar o pânico
crescente em seu interior dizendo a si mesma que
juntos ambos poderiam sair daquela situação. Ela
acolhera seu irmão, engolindo as milhares de
reprimendas que pareciam se acumular em seus
lábios. Embora odiasse profundamente as escolhas
que Peter fizera uma parte dela era capaz de
compreendê-las, a vida nunca fora exatamente fácil
para ambos, e tudo parecia ter piorado
consideravelmente após a morte da mãe, algo que
Amy sabia muito bem que seu irmão ainda não fora
capaz de se recuperar totalmente.

Naquela noite ela decidira que faria tudo em


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seu alcance para ajudá-lo. Embora estivesse ainda


profundamente magoada com ele, acima disso tudo
se preocupava com sua segurança. Nos dias que se
seguiram Amy usara todas suas economias para
ajudar seu irmão a quitar sua dívida com a máfia.
Nunca seria capaz de esquecer o olhar de descrença
e alívio que ocupara o rosto de seu irmão quando
ela lhe oferecera o dinheiro para ajudá-lo naquele
momento. Pela primeira vez após tantos anos ele a
abraçara, e por um instante que durou muito pouco
eles realmente se pareceram como uma família
unida para enfrentar todos os problemas.

Infelizmente para Amy o dinheiro de suas


economias não foram o suficiente para quitar a
dívida de seu irmão. Ela descobriria mais tarde que
o valor que ele devia para a máfia era
extremamente alto, e nenhum deles estava disposto
a renegociar os termos de seu acordo.

Temendo pela vida de seu irmão e sua


segurança, a garota aceitou todos os serviços que
podia, enquanto tentava consolidar sua nova
realidade com sua vida universitária que com o
passar do tempo tornou-se insustentável.
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Como se isso não fosse o suficiente, Peter não


foi capaz de manter sua promessa de continuar
sóbrio, antes mesmo que seu ferimento tivesse
totalmente cicatrizado, ele havia voltado até um de
seus traficantes e interrompera seu curto período de
abstinência.

As dívidas dele apenas aumentaram, e embora


ela trabalhasse em três empregos distintos Amy não
fora mais capaz de ajudá-lo financeiramente, por
fim acabou trancando a faculdade, vendera seu
carro o único bem que possuía em seu nome e dera
o dinheiro nas mãos de seu irmão. Naquela manhã,
ele dissera que aquela seria a ultima vez que pediria
sua ajuda. Amy lembrava-se nitidamente de como
não encontrara palavras para lhe responder. Seu
corpo doía terrivelmente das horas de serviço
braçal realizados, não conseguia se lembrar da
última vez que tivera uma noite completa de sono.
Sua vida parecia ter se tornado tão estranha que na
maior parte do tempo ela nem ao menos era capaz
de reconhecer o reflexo da garota que lhe encarava
de maneira distante todas as manhãs no espelho.

Ela havia dito a seu irmão que acreditava nele,


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embora dentro de sua mente uma voz maliciosa e


gélida que lembrava muito sua própria consciência
lhe dizia que ela apenas estava mais uma vez
fazendo papel de boba.

Amy afastara aquela voz para a parte mais


profunda de sua mente, sem querer lhe dar atenção.
Enquanto observava seu irmão se afastar pedia em
silêncio que de uma vez por todas aquela fosse a
última vez que ele precisasse de sua ajuda.

Mais tarde naquela mesma semana Amy


descobriria que a voz em sua mente estivera certa o
tempo todo. Após sair de sua casa seu irmão não
pagará sua dívida com os traficantes da máfia, ao
contrário disso usara o dinheiro que ela lhe dera
para comprar uma quantia suficiente de drogas que
seria capaz de mandá-lo por vários anos para a
prisão caso ele fosse preso.

Seu irmão decidira a partir daquele momento


que também seria o traficante dessa forma então
teria seu vício atendido, e dinheiro sempre que
desejasse. Mas, os planos de Peter não ocorreram
da forma que ele imaginara.
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Consumido por sua audácia e ganância, ele


distribuiria drogas a milhares de viciados, enquanto
usava seu estoque livremente. No fim, Amy havia
sido chamada até o hospital de seu bairro, seu
irmão fora encontrado espancado e com sinais de
overdose debaixo de uma das pontes da cidade.
Enquanto observava seu corpo deitado na cama, a
garota percebeu que uma dífícil escolha estava
diante dela.

Por um momento ela imaginou-se levantando


daquela cadeira sem nenhum conforto atravessando
aquelas paredes descascadas, e voltando para sua
casa. Podia enterrar na parte mais profunda de sua
mente o fato de que tinha um irmão. Poderia viver
sua vida como se ele nunca tivesse existido, ou
melhor, ainda como se estivesse morto.

A parte racional de seu cérebro lhe dizia que


aquela era a melhor escolha. Embora dura e
terrivelmente fria, Amy sabia que precisava admitir
que não conseguia mais lidar com os problemas
que seu irmão havia lhe causado, a vida de ambos
se tornara uma confusão sem fim graças as escolhas
dele, e a garota não desejava mais pagar por erros
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que não cometera.

Por um instante, embora soubesse que aquela


decisão pesaria para sempre sobre sua consciência
Amy disse a si mesma que desistiria de Peter.
Enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto, ela
ordenou a si mesma que se movesse, fosse embora
sem olhar para trás, mas quando seus dedos
alcançaram a mão de seu irmão sobre a cama,
soube com uma certeza avassaladora em seu
coração, que não seria capaz de tomar tal atitude.

Embora soubesse que permanecer ao lado de


seu irmão apenas lhe traria dor e sofrimento, sabia
que não seria capaz de abandoná-lo. Embora
repleto de defeitos, Peter era sua única família, se
ela o perdesse então estaria admitindo que não se
importava em estar sozinha, e não havia nada no
mundo que Amy mais detestava do que a solidão.

Ela permaneceu a seu lado, velando seu sono,


embora toda sua racionalidade lhe repetisse de
maneira insistente que ela estava cometendo um
grande erro.

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No fim das contas ela era tão egoísta quanto seu


irmão, incapaz de ficar sozinha, ela permanecera a
seu lado, embora isso machucasse profundamente
seu coração. E quando a luz do sol invadiu o quarto
de hospital aquela manhã Amy jurara para si
mesma, que faria de tudo para finalmente conseguir
salva-lo. Mesmo que isso lhe causasse ainda mais
sofrimento.

Afinal era isso o que famílias faziam não é


mesmo? Eles se sacrificavam por aqueles que
amavam.

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Capítulo Dois
Enquanto seu irmão continuava inconsciente no
hospital, Amy havia procurado o chefe da Máfia a
qual Peter devia dinheiro. Encontra-lo havia sido
muito mais fácil do que ela imaginara, e
definitivamente Tiziano Bianchi estava muito além
de suas expectativas.

Jovem e com uma aparência de modelo e bom


moço, o jovem Bianchi nada lembrava o monstro
assustador que Amy imaginara que havia sido
capaz de mutilar seu irmão. Mas, aparências eram
enganosas, e o mundo não era um lugar amigável
para aqueles ingênuos o suficiente para acreditarem
em imagens belas e exteriores.

Amy contara a Tiziano sua situação com o


irmão, com olhar atento e calculista o mafioso lhe
ouvira de maneira quase desinteressada, por fim ele
dissera a Amy que pouco poderia fazer por seu
irmão. Perdoar a dívida era impossível, e quando
Amy contara que não tinha mais como conseguir
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dinheiro, o olhar de Tiziano sobre ela tornou-se


gélido e escuro.

Imediatamente ela descobriu que ir até aquele


lugar havia sido um gigantesco erro. Sua intenção
havia sido boa, mas nada daquilo seria capaz de
salvar a ela e seu irmão, e de boas intenções o
inferno estava cheio, como sua mãe gostava de
dizer.

Com o coração batendo de forma descontrolada


em seu peito, Amy observara o olhar de Tiziano
percorrer seu corpo, não com luxúria, mas de
maneira calculista, como se sua cabeça estivesse
elaborando um complexo e intricado plano, quando
ele novamente voltou a falar Amy teve certeza de
que aquele lugar, era muito mais semelhante ao
inferno do que ela poderia ter imaginado.

Tiziano Bianchi lhe fizera uma proposta. Ele


havia lhe dado à chance de escolher trabalhar para
ele, como uma de suas dançarinas em sua casa
noturna particular, o Dionísio. Amy ainda
conseguia lembrar com clareza como suas
bochechas se tornaram quentes diante daquela
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palavra. Ele podia chamar de ‘dançarina’, mas ela


sabia muito bem que aquilo era o eufemismo do
ano. Ela recusara imediatamente, mas quando
Tiziano lhe recordara novamente a soma total da
divida de seu irmão, sentira como se seu coração
tivesse parado de funcionar dentro de seu peito.

Ela nunca conseguiria dinheiro suficiente


trabalhando de forma honesta para pagar aqueles
homens, era como tentar tirar água de um barco
afundando no meio do oceano. Amy sabia que iria
se afogar, e aquilo seria apenas questão de tempo.

A parte racional de seu cérebro lhe gritava com


todas as letras que ela não deveria aceitar a
proposta de Tiziano que aquilo era uma armadilha,
mas ela havia prometido que faria de tudo para
salvar seu irmão, ele era a única família que lhe
sobrara no mundo, àquela era sua obrigação. Afinal
ele faria o mesmo por ela. Não é mesmo?

Enquanto assinava o contrato que Tiziano lhe


oferecera de maneira tão educada Amy tentava não
se sentir como se tivesse abrindo mão de sua alma.
Quando os lábios de Tiziano tocaram de maneira
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respeitosa a parte de cima de sua mão, ela teve


certeza que nem mesmo o diabo poderia ser tão
bonito ou letal quanto aquele homem.

Ela saíra daquele lugar sabendo que no dia


seguinte, estaria ali de volta para trabalhar para
aquele homem, enquanto tentava pagar a dívida que
seu irmão havia contraído, e que naquele momento
estava completamente alheio aquilo enquanto se
recuperava numa cama de hospital.

Amy abriu os olhos encarando a figura de seu


irmão que continuava diante dela esperando uma
resposta. Um ano havia se passado desde seu
encontro com Tiziano e o acordo que fora firmado
entre ambos. Naquele outono ela havia começado a
trabalhar como dançarina no Dionísio tinha
acabado de completar dezenove anos, e diante dela
sua vida parecia mais um pesadelo do qual ela não
parecia ter controle algum.

Um ano inteiro se passara desde então, embora


dentro de seu coração sentia como se houvesse se
passado muito mais. Como se ela tivesse trabalhado
naquele lugar, dez anos seguidos. Às vezes embora
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não gostasse de admitir para si mesma, ela quase


não era capaz de se lembrar da Amy de
antigamente. Uma garota simples e sem
preocupações, que havia desejado coisas tão banais
quanto um diploma universitário, amigas e um
namorado carinhoso.

- Amy, por favor, sei que não mereço sua


confiança, ou tudo o que você fez por mim. Mas,
essa é a ultima vez eu juro, eu só preciso que você
guarde algumas coisas pra mim até eu voltar.

A voz dele soava tão desamparada, a garota


ordenou a si mesma a endurecer seu coração, e não
deixar ser levada por mais um de seus pedidos
perigosos e sem sentindo que poderia muito bem
colocar ambos em perigo.

Sem esperar por uma resposta Peter empurrou


uma bolsa surrada em suas mãos, Amy tentou
rejeitar o pacote, mas ele fechou os dedos sobre
eles como se não pudesse aceitar sua recusa.

- Peter não!

A voz dela soou de maneira quase histérica a


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seus ouvidos, um carro passou pela rua desértica


àquela hora da madrugada atraindo a atenção de
ambos os irmãos, a luz dourada dos faróis iluminou
os prédios antigos e malcuidados da vizinhança.
Embora trabalhasse de dia num shopping, e a noite
como dançarina, pouco sobrava para Amy viver de
forma decente tendo de pagar a dívida de seu
irmão. Aquele tipo de lugar caindo aos pedaços,
num bairro perigoso era tudo o que ela podia se dar
ao luxo de pagar.

- Confie em mim, Amy, eu não estou mentindo,


eu não fiz nada de errado dessa vez.

Amy fitou longamente os olhos azulados de


Peter querendo desesperadamente acreditar em suas
palavras. Quando eram crianças, ela nunca havia
sido capaz de duvidar de seu irmão mais velho, ele
era seu melhor amigo, seu herói, onde aquele
garoto havia ido parar? Ela mal era capaz de
reconhecer o homem diante dela.

Com o fôlego preso entre seus dentes, Amy


deixou a contragosto, seus dedos correrem sobre o
pacote que Peter colocara em seus braços, muito
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lentamente ela abriu o zíper da surrada bolsa de


viagem, enquanto fitava incrédula, lombadas de
livros antigos e surradas, com páginas amarelas e
marcadas. Uma onda de desconfiança pairou sobre
sua mente.

- Desde quando você se tornou um leitor Peter?


– a voz dela soou de forma acusatória, enquanto
sentia seus dedos apertarem de maneira intensa a
alça da bolsa em suas mãos.

- São apenas livros Amy, eu juro e alguns


documentos, fotos de família. Eu não tenho como
carrega-las. Estou saindo da cidade, mas é apenas
temporário.

- E você realmente quer que eu acredite nisso?


– perguntou a garota tentando controlar o tremor
que percorria todo seu corpo, ela não sabia dizer se
era de frio ou nervosismo – Peter, por favor, se
você fez alguma coisa... Precisa me deixar te
ajudar.

Pela primeira vez desde que batera em sua porta


Amy pode visualizar a raiva cruzar o rosto de seu

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irmão, por um momento ela não foi capaz de


reconhecer o puro olhar de ódio que ele lançou em
sua direção, algo que deixou seu coração batendo
de forma lenta e dolorosa em seu peito.

Ele desviou o olhar focando sua atenção na luz


difusa do poste próximo a ambos, quando voltou
novamente a encará-la, Amy apenas encontrou os
olhos claros e límpidos, fazendo com que ela
tivesse imaginado se realmente havia observado a
raiva cruzar suas feições.

Com passos vacilantes ele se aproximou dela,


com toda cautela do mundo ergueu a mão direita
deixando que as costas de seu dedo pousassem
sobre sua bochecha. O coração de Amy rangeu de
dor enquanto ela não era capaz de desviar seu olhar
de sua mão mutilada. A perda de seu dedo anelar
havia sido total, no lugar havia um vazio
insubstituível onde a pele crescera deixando uma
cicatriz que chegava até o dorso de sua mão. Amy
sabia o quanto Peter odiava aquela cicatriz, na
maior parte do tempo ele costumava esconder sua
mão nos bolsos de suas blusas, ou calças, como se
quisesse esquecer constantemente que lhe faltava
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um pedaço de sua mão.

Amy não podia se dar ao luxo de esquecer,


embora aquilo trouxesse pesadelos que ela ainda
não havia sido capaz de superar durante as noites,
ela guardava aquela imagem sempre em sua mente.
Um lembrete do destino que poderia novamente
cair sobre ambos.

- Sei que não tenho sido um bom irmão


ultimamente maninha, você com certeza merece
coisa muito melhor. Mas, quando eu voltar vai
mudar prometo.

Amy fechou os olhos por um momento


dilacerado entre aproveitar o toque carinhoso e
fraternal e querer empurrar para longe seu irmão de
sua presença. Ela nem ao menos conseguia se
lembrar a ultima vez que alguém lhe tocara com
tamanha delicadeza, e aquilo a encheu de uma
tristeza sem tamanho.

- Peter, por favor – sussurrou Amy em resposta


de maneira tão baixa que apenas ele, pudesse ouvi-
la – O que quer que você tenha feito ainda não é

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tarde demais.

Peter pareceu não ouvi-la os braços dele


puxaram-na com mais força do que o necessário em
sua direção, Amy tentou se afastar, mas suas
tentativas foram em vãos, quando ele finalmente a
soltou, suas mãos continuaram sobre seus ombros,
de maneira protetora, como se ele fosse o melhor
irmão do mundo.

- Quando eu voltar, vamos nos mudar daqui,


iremos para qualquer lugar. Você escolhe. Nossa
vida vai melhorar Amy! Acredite em mim!

Todos os alertas de perigo pareceram explodir


em sua mente, enquanto ela observava o sorriso
gigantesco e insano que seu irmão ostentava em seu
rosto.

- Peter não...

Ele não lhe deu nenhuma oportunidade para


responder. Dando-lhe um beijo rápido entre suas
sobrancelhas, soltou seus ombros como se ambos
tivessem tido a melhor conversa do mundo, e sem
dar mais explicações, seus passos alcançaram a rua,
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levando-o para longe enquanto sua figurava cada


vez mais se distanciava de Amy.

- Peter! Peter volte aqui!

O grito dela ressoou por toda rua de maneira


agourenta até ser completamente engolido pelo
vento, ao longe o som de uma sirene pode ser
ouvida atravessando toda a cidade, em nenhum
momento Peter olhou para trás, Amy ficou
extremamente tentada a correr atrás dele, e jogar o
que ele havia deixado em suas mãos bem no meio
de seu rosto, mas seus pés pareceram terem criado
raízes diante de sua porta.

Quando ela já não era mais capaz de enxergar a


silhueta de seu irmão, sentiu seus membros
chacoalharem com violência, enquanto percebia a
onda de frio correr por todo seu corpo. Havia se
esquecido completamente que ela estava
completamente despreparada para enfrentar o frio
invernal.

Sem perder tempo a garota abriu a porta de sua


casa com violência, o som da madeira chocou-se

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audivelmente alto enquanto ela trancava o mundo


inteiro lá fora. Por um longo momento a única
coisa que foi capaz de fazer era permanecer ali em
silêncio aproveitando o calor fornecido por seu
aquecedor, um dos únicos poucos luxos que ela se
dava o direito de possuir.

Pouco a pouco seu corpo pareceu recobrar a


sensibilidade, enquanto o silêncio ecoava em seus
ouvidos Amy mexeu lentamente os dedos de seu
pé, tentando ordenar os pensamentos caóticos que
corriam em sua mente naquele instante. O pacote
que seu irmão deixara com ela, pesava de maneira
incomoda contra seus dedos, um lembrete de que
tudo aquilo que estava acontecendo era real, e não
um pesadelo conjurado por sua mente.

Com dificuldade Amy deixou que o pacote


caísse no chão, o som dos livros pareceu ecoar na
casa vazia enquanto aterrizava sob o linóleo
encardido. Os olhos dela se prenderam no pacote
por um longo momento, esperando que ele criasse
vida, ou explodisse a qualquer instante. Embora
Peter tivesse lhe assegurado mais de uma vez que
não havia nada de perigoso ali, nada que pudesse
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prejudicá-la, havia uma parte de sua mente que não


era capaz e acreditar naquelas palavras.

Com o corpo trêmulo Amy deixo que suas


costas escorregassem sobre a madeira resistente de
sua porta. Ali dentro os sons do vento invernal,
pareciam abafados e muito distantes, por um
momento o som de sua própria respiração soou
muito alto até mesmo para seus ouvidos. Amy
estendeu seus dedos, deixando que eles tocassem o
tecido surrado daquela bolsa. Ela não queria mexer
ali, não queria saber o que seu irmão poderia estar
planejando, não era mais capaz de suportar aquele
tipo de vida que ambos levavam.

Sentia-se completamente cansada enquanto


observava toda sua existência ser sugada para pagar
um erro que nem ao menos havia sido ela que
cometera. Ela não queria descobrir os segredos de
Peter, porque tinha certeza de seria prejudicada,
mesmo assim não era capaz de ignorar aquele
pacote, e fingir que ele não existia fingir que seu
irmão nunca havia lhe dado aquilo. Agora era tarde
demais, ela já estava totalmente envolvida.

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A contragosto Amy fechou sua mão sobre a


bolsa, carregando ela consigo enquanto levava em
direção a pequena sala de sua casa, acendeu a luz
que incomodou seus olhos enquanto sentava de
maneira muito tensa em seu sofá comprado de
segunda mão.

Abriu a bolsa com todo cuidado enquanto


tentava conter a onda de nervosismo que viajava
enlouquecidamente por seu sangue. As palavras de
seu irmão voltaram em sua mente para lhe
assombrar, mais do que nunca queria acreditar no
que Peter lhe dissera, acreditar que dessa vez ele
estava sendo sincero, que não havia cometido
nenhum erro perigoso que lhe obrigara a fugir da
cidade, mas uma voz gélida parecia sussurrar em
seus ouvidos para que ela não pudesse esquecer
todas as vezes que havia sido enganada por seu
irmão.

Os dedos dela tremeram sobre o zíper da


surrada bolsa de forma visível. Num canto de sua
mente Amy perguntou a si mesma se não estaria
ficando paranóica. Será que aquele seria o tipo de
relação que teria dali pra frente com Peter? Sempre
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desconfiando de cada palavra que ele lhe dissera,


com medo de cada uma de suas escolhas, olhando
sempre por sobre seus ombros esperando o pior
acontecer?

Imaginar um futuro como aquele provocou um


incômodo imenso que pareceu se acomodar
diretamente sobre seu estômago, empurrando todos
os pensamentos em sua mente para um lado onde
não pudesse incomodá-la, a garota tentou se
concentrar na bolsa diante dela.

Não parecia haver nada de suspeito ali dentro,


nada que pudesse piorar a situação de seu irmão,
delicadamente Amy revirou todo o conteúdo
buscando entre seus pertences, qualquer coisa que
pudesse incriminá-lo, que indicasse qual realmente
havia sido o motivo que fizera com ele lhe
procurasse essa noite.

Os livros que ela avistara mais cedo


continuavam tão inofensivos quanto antes, além
deles, havia uma escova de cabelo, uma carteira
com algumas fotos antigas e um frasco de perfume
pela metade. Nada ali dentro parecia suspeito, nada
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que pudesse prejudicar ainda mais a situação de seu


irmão.

Lentamente a corda de nervosismo presa ao


redor de seu coração pareceu afrouxar lentamente,
com cuidado Amy deslizou os dedos pelas capas
envelhecidas e desgastadas dos livros ali dentro.
Todos tinham uma aparência de serem muito
usado, o tipo de livro tão manuseado que suas
páginas haviam adquirido uma tonalidade própria
assim como um formato estranho de muitos dedos.

Os olhos dela percorreram de maneira curiosa


os títulos escritos sobre as capas com letras
douradas num estilo clássico que ainda parecia belo
nos dias de hoje, ela nunca havia lido nenhum
daqueles títulos, embora gostasse de ler aquele não
era um hobby que ela tivera a oportunidade de
cultivar durante sua vida, principalmente nos
últimos anos. Livros eram exatamente o tipo de
luxo que ela não podia arcar.

Amy abriu dezenas de vezes o livro, revirou


cada pequeno canto daquela bolsa buscando ali
algo que pudesse explicar as atitudes desconexas de
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seu irmão, mas tudo o que encontrou ali foram


livros antigos algumas fotos, e objetos simples.
Absolutamente nada de perigoso, exatamente como
Peter lhe dissera.

Uma onda de vergonha e arrependimento


correu por seu corpo enquanto Amy se lembrava a
maneira fria e distante com que havia tratado seu
irmão aquela noite. Ela praticamente havia o
expulsado de casa acusando-o de lhe trazer mais
problemas. Sabia que não fazia sentido algum ele
ter vindo até ali no meio da madrugada apenas para
lhe entregar aquela bolsa que parecia não possuir
nada de valor, mas talvez tudo aquilo não tivesse
passado de uma desculpa para vê-la. Nos últimos
meses ambos haviam se afastado incapazes de
saberem como lidar com tudo o que acontecera em
sua vida. Ela ainda continuava trabalhando para
Tiziano para pagar as dívidas de Peter, e embora
aquilo tivesse sido uma escolha sua a garota não
podia negar o ressentimento que havia crescido em
seu coração por causa daquela decisão.

Ela não havia planejado, mas suas escolhas


haviam levado-a para longe de Peter. Um sorriso
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melancólico brincou em seus lábios enquanto ela


pensava em toda a ironia daquela situação. Amy
havia aceitado aquele trato com medo da solidão
caso alguma coisa acontecesse com Peter, para
salvar seu irmão ela havia escolhido aceitar um
acordo que pouco a pouco havia a levado para um
caminho longínquo e solitário.

Cansada Amy devolveu todas as coisas de seu


irmão de volta a bolsa. Não havia nada ali dentro
com que ela precisasse se preocupar, quanto mais
pensava a respeito mais ficava claro que tudo
aquilo não passara de uma estratégia de Peter para
se aproximar dela. Talvez ela não quisesse admitir,
mas ambos sentiam falta um do outro.

Com o coração mais leve, Amy guardou a


surrada mochila sobre uma das prateleiras em sua
sala, deixaria a bolsa ali, exatamente como seu
irmão lhe pedira, e da próxima vez que ele viesse
lhe encontrar, ela estaria o esperando e dessa vez
seria mais paciente e receptiva.

Afinal era para que isso que famílias serviam.


Acima de tudo elas sempre estavam juntas.
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Capítulo Três
Amy acordou assustada, o som de algo se
quebrando havia penetrado em seu sono agitado
fazendo com que ela abrisse seus olhos, encarando
a escuridão total em seu quarto. Uma sensação
incômoda se instalou dentro de seu peito,
espalhando-se por seus membros, como um reflexo
encolheu o corpo debaixo do edredom puído como
se daquela forma ela se tornasse sua forma menor
para não chamar atenção.

Por um longo momento ela permaneceu ali


apenas em silêncio deitada em sua cama, a orelha
pressionada contra a fronha de seu travesseiro fazia
com que ela fosse capaz de escutar muito
claramente as batidas frenéticas de seu coração. O
sono havia escapado completamente de sua mente,
deixando-a agitada e desperta. Na escuridão de seu
quarto, ela mal conseguia visualizar as formas de
seus móveis, lá fora a cidade milagrosamente
parecia calma, o som do tráfego dos carros parecia
muito distante, como se ela tivesse ouvindo tudo
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através de uma grossa parede de vidro.

Amy detestava dormir no escuro, havia sido


assim desde que era criança. Havia algo na
completa escuridão que lhe deixava nervosa e
apreensiva, como se ela precisasse manter-se
constantemente em alerta. Sua mãe sempre dissera
que aquilo era algo que ela iria superar quando se
tornasse adulta, e ela havia esperado ansiosamente
por esse dia que nunca chegara. Continuava não
gostando do escuro, exatamente como em sua
infância, mas havia amadurecido o suficiente para
saber que existiam coisas piores no mundo do que a
ausência de um ponto de luz. Todas as noites ela se
forçava a dormir na escuridão, encarando-a de
frente, numa forma que havia escolhido para
enfrentar e vencer seus medos. Podia ser algo bobo,
e até mesmo infantil, mas havia um pequeno
pedaço de seu coração que se aquecia com orgulho
quando acordava na manha seguinte e percebia que
mais uma vez havia vencido seu mais antigo medo
infantil.

Desconfortável a garota virou-se em sua cama,


ajeitando o corpo de uma forma mais agradável.
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Provavelmente acordara assustada daquela forma


por causa de um pesadelo que já não era mais capaz
de recordar. Não havia escutado vidro algum se
quebrando, sua mente lhe pregara algum tipo de
peça. Bastava ser racional o suficiente para
perceber o silêncio amistoso ao seu redor. Ela não
corria perigo algum.

Esses eram exatamente os pensamentos que


preenchiam a mente de Amy, quando ela sentiu
algo cobrir sua boca, enquanto mãos bruscas
levantavam seu corpo da cama.

Seu grito ficou preso entre sua garganta e a mão


do desconhecido que havia a capturado na
escuridão, de olhos muito abertos, a garota tentou
se soltar de maneira frenética das mãos que
prendiam seu corpo, e o arrastavam de qualquer
maneira pelos corredores de sua casa.

Todos os pensamentos foram esvaziados de sua


mente, deixando para trás apenas a necessidade de
sobrevivência, Amy debateu-se com violência sem
se importar com absolutamente nada mais. Naquele
momento a única coisa que ela poderia desejar era
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escapar.

Ouviu a voz de um homem praguejando uma


maldição, quando seus dentes se fecharam com
toda sua força sobre a mão que continuava sobre
sua boca. O gosto de couro invadiu sua língua,
enquanto a bile arranhava sua garganta. Sentiu a
dor explodir ao lado de sua cabeça, quando algo lhe
acertou com violência, estrelas piscaram por trás de
suas pálpebras fechadas, por um momento seu
corpo pareceu perder as forças, suas mãos
escorregaram ficando flácidas ao lado de seu corpo,
sentiu que a arrastavam enquanto as pontas de seus
pés tocavam o chão gelado de sua casa.

A luz explodiu diante dela, piscando os olhos


Amy olhou ao redor confusa, a sala de sua casa
parecia ligeiramente fora de foco. Seu corpo foi
atirado ao chão com violência, a garota tentou usar
as mãos para aparar sua queda, mas seus
movimentos foram lentos demais, seu corpo parecia
não querer lhe obedecer.

Duas figuras entraram em seu campo de visão,


o coração explodiu em seu peito, quando ela não
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foi capaz de reconhecer nenhum dos dois homens


parados diante dela. O medo cobriu seu corpo por
inteiro, o horror tomou conta de suas feições
enquanto seu cérebro tentava compreender o que
estava acontecendo ao seu redor.

Os dois homens diante dela se afastaram suas


figuras pareciam tomar conta de toda a sala,
deixando o ambiente ainda menor do que realmente
era. Os olhos de Amy então se desviaram para a
figura sentada de maneira graciosa em seu sofá. Ela
não o conhecia, mas quando o olhar dele prendeu-
se ao seu soube que estava diante de um mafioso.

Amy usou o que havia sobrado de suas forças


para erguer seu corpo, com os dedos trêmulos ela
ajeitou a antiga camisola que cobria seu corpo,
como se daquela forma pudesse se proteger dos
olhares dos desconhecidos presos em sua direção.

Como se fosse o dono do lugar, o homem


sentado no sofá lhe sorriu de maneira amistosa,
como se eles fossem velhos amigos que se
encontravam após estarem muito tempo separados.
Amy notou que ele era jovem, o terno cinza que ele
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usava assim como o colete caia-lhe com perfeição,


a elegância dele, e de suas roupas deixava apenas
ainda mais claro a feiura e a pobreza de sua casa,
como se para ilustrar que ambos não faziam parte
do mesmo mundo.

- Se eu soubesse que você era tão bela assim,


teria encontrado uma outra forma para nos
conhecermos.

A voz dele era aveludada, o sotaque deixava


suas palavras arrastadas e mais melódicas. Amy
tentou controlar seu medo, sabendo que se
descontrolar naquele momento não era uma opção.
Ela precisava permanecer calma, para que dessa
forma pudesse conseguisse raciocinar de maneira
eficiente. Juntando toda sua coragem, a garota
deixou que a pergunta que atormentava sua mente
soasse em sua voz:

- Quem é você...?

Ela detestou o tremor em suas palavras, a forma


como fazia com que ela parecesse ainda mais frágil
e indefesa, seus olhos se desviaram para as figuras

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silenciosas dos dois homens parados como estátuas


ao lado da porta de entrada de sua casa. Uma
mensagem muito clara que ela não iria conseguir
escapar dali se eles não quisessem.

A sua frente o jovem sentado em seu sofá


ampliou seu sorriso embora não houvesse nenhuma
alegria por trás de seus olhos. Amy se encolheu
instintivamente, aquele era o tipo de homem que
ela costumava evitar enquanto estava trabalhando.
A máscara que ele exibia era perfeita demais,
construída de uma forma para que as pessoas
confiassem em sua pessoa, até que era tarde
demais. Por trás daquele sorriso ela tinha certeza
que se escondia uma imensidão escura.

- Perdoe-me minhas péssimas maneiras – disse


o homem elegante, levantando-se enquanto
caminhava em sua direção, e se abaixava até que
seus rostos estivessem apenas alguns centímetros
longe um do outro – Permita-me que eu me
apresente. Eu sou Pietro Fonezi, e você tem algo
que me pertence.

Todos os alarmes soaram dentro da cabeça de


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Amy, enquanto ela encarava o rosto do homem


diante dela. Tentou lembrar-se de qualquer
informação que pudesse ter a respeito do
sobrenome daquele homem, algo que pudesse usar
a seu favor, mas nunca havia antes escutado seu
nome.

Os dedos de Pietro pousaram sobre sua pele tão


leves quanto uma carícia, percorrendo a área ao
lado direito de seu rosto.

- Você está enganado – sussurrou Amy em


resposta, odiando o toque dele sobre seu corpo – Eu
não o conheço... Não tenho nada seu co...

Ela não teve tempo de terminar sua frase, os


olhos de Pietro tornaram-se gélidos e distantes
enquanto ele atingia seu rosto com as costas de suas
mãos. A dor explodiu em seus lábios, sangue
pingou na barra de sua camisola branca.

- Eu não gosto de ser interrompido. Muito


menos contrariado.

A voz dele soou gélida, o medo apertou as


entranhas de Amy enquanto ela tentou rastejar para
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trás tentando de maneira inútil afastar-se do homem


diante dela. Pietro foi mais rápido agarrando seu
cabelo, enquanto o torcia, fazendo com que ela
fosse obrigada a encarar seu rosto.

Havia uma expressão raivosa sobre sua face,


mas nem mesmo assim aquilo poderia deixá-lo
feio. De perto Amy percebeu que seus olhos eram
ambarinos, uma cor quase amarela que ela nunca
havia encontrado em nenhuma outra pessoa.

- Me solta... Por favor... – pediu a garota num


fio de voz, enquanto tentava ignorar a pontada de
dor que se alastrava como fogo por sua cabeça.

- Seu nome é Amanda Jones? – perguntou


Pietro de maneira mecânica e desinteressada, como
se ambos estivessem tendo uma conversa civilizada
– Você é irmã de Peter Jones?

Todos os instintos de Amy se revoltaram, ela


sentiu os olhos se arregalarem de horror em seu
rosto. Balançou a cabeça numa negativa débil
incapaz de acreditar no que estava acontecendo
naquele momento.

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- Me responda!

Os dedos de Pietro cavaram ainda mais em seu


cabelo, torcendo-os até que as lágrimas se
acumularam em seus olhos. O coração dela
disparou em seu peito, o medo rastejou por todo
seu corpo como uma segunda pele.

- Sim... Ele é meu irmão – chorou a garota em


resposta.

Os dedos de Pietro soltaram seu cabelo, ele se


levantou, erguendo seu corpo num único
movimento sem esforço algum. Os olhos dele
estavam fixos em seu rosto, e Amy pode ver toda a
violência contida em seus olhos.

- Preste muita atenção agora em minhas


palavras – disse Pietro soando de maneira
autoritária – Seu irmão teve a audácia de me
roubar, e acredite em mim quando eu digo que
ninguém engana um Fonezi. Meus homens o
seguiram ontem, e me disseram que ele esteve aqui.
Portanto não tente me enganar e diga onde; estão
meus diamantes?

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As palavras daquele homem lhe acertaram tão


profundamente quanto o tapa que ele havia
desferido contra seu rosto. Em sua mente ela reviu
o encontro com seu irmão na noite anterior,
enquanto o horror e a descrença deixavam um
gosto amargo em sua boca. Peter havia a enganado
novamente. Seu irmão a colocara em perigo.

- Não sei do que você está falando – respondeu


a garota com medo, de que o homem diante dela
não fosse acreditar em suas palavras – Eu não sei
sobre diamante algum.

- Não ouse mentir para mim sua vadia! Eu sei


que ele esteve aqui, eu quero meus diamantes!

- Eu não sei sobre diamante algum – rebateu


Amy desesperada, sentindo o sabor salgado das
lágrimas arderem em seu lábio ferido – Meu irmão
esteve aqui ontem, ele não me deu mais
explicações, apenas deixou aquela bolsa comigo!

Os olhos dela se desviaram para a bolsa


esfarrapada que continuava sobre a estante
exatamente como ela havia deixado na noite

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anterior. Os olhos de Pietro repousaram sobre um


de seus capangas que continuavam parados na
porta, sem abrir seus lábios o homem se adiantou
como se tivesse recebido uma ordem. Suas mãos
agarraram a bolsa que Peter havia lhe entregue na
noite anterior revirando o conteúdo de qualquer
forma no chão.

Os livros surrados e antigos caíram sobre o


tapete envelhecido com um estrondo abafado, os
olhos de Pietro se prenderam neles como se ele
tivesse tentando compreender o que aquelas coisas
estavam fazendo ali.

Como se tivesse todo o tempo do mundo, o


mafioso aproximou-se dos livros pegando-o o mais
grosso deles, algumas páginas se soltaram caindo
no chão onde permaneceram placidamente.

- Inferno, a Divina Comédia – comentou Pietro


lendo o título na capa – Muito propício para a noite
de hoje, embora seja uma atrocidade ler qualquer
versão dessa historia que não esteja em italiano.

Amy não conseguia prestar atenção totalmente

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ao discurso do homem diante dela, seus olhos se


desviaram para a janela que ficava no fundo de sua
casa em cima da pia de sua cozinha. Ela imaginou
quanto tempo teria se conseguisse correr até ali
para abri-la e pular para o lado de fora.

O rosto de Pietro assomou diante dela, o sorriso


mais uma vez estampado em seus perfeitos lábios,
um calafrio agourento escorreu por toda a extensão
de sua coluna.

- Por favor – pediu Pietro de maneira


extremamente educada – Não seja ingênua de achar
que pode escapar de mim. Mesmo que conseguisse
fugir um dos meus homens lá fora iria capturá-la e
eu seria obrigado a atirar em você. Tem ideia de
que tipo de dor uma bala no joelho pode causar?
Você nunca mais seria capaz de andar corretamente
de novo.

O corpo dela tremeu de maneira tão violenta


que Amy abraçou seu próprio tronco, na esperança
de ser capaz de conseguir se sustentar de pé. Em
sua frente, Pietro parecia extremamente intrigado
com os livros que seu irmão havia deixado para ela
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na noite anterior.

Uma sensação ruim rastejou por sua pele,


erguendo os cabelos atrás de sua nuca, mas a garota
tentou afastar aquele tipo de pensamento nefasto.
Naquele momento ela precisava ser racional. Não
sabia em que tipo de problemas Peter poderia ter se
metido, mas ela havia olhado aquela bolsa por
todos os lados e não encontrara nada.

O homem diante dela só poderia estar


enganado. Peter tinha muitos defeitos, mas não era
um ladrão. Ele jamais poderia ser tão burro ao
ponto de roubar um homem da máfia.

Os dedos aquilinos de Pietro correram pela capa


do livro como se ele tivesse sentindo cada pequeno
detalhe do objeto em suas mãos, de trás do bolso de
sua calça, ele retirou um canivete de cabo branco, a
lamina prateada brilhou diante do rosto de Amy,
enquanto ela sentia sua boca ficar completamente
seca.

Diante de seus olhos, ela observou Pietro


destroçar a parte da frente do livro, a capa ficou em

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pedaços sendo completamente rasgada pela lâmina


prateada. Sem nenhuma delicadeza ele chacoalhou
o que havia sobrado do livro, enquanto pequenas
pedras brilhantes como estrelas caiam no chão.

Observando em silêncio com o coração pesado


em seu peito, naquele momento Amy soube que sua
vida corria perigo.

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Capítulo Quatro
- Não sabe nada sobre diamantes? – perguntou
Pietro de maneira alegre, enquanto um sorriso
ferino se abria em suas feições.

Amy sentiu o frio se infiltrar por sua pele, como


se ela tivesse acabado de esquecer uma das janelas
de sua casa abertas. Com toda calma do mundo ela
observou Pietro se abaixar enquanto recolhia, uma
pedra pequena como a cabeça de um alfinete entre
a ponta de seus dedos. A luz da lâmpada refletiu
sobre a superfície brilhante, e mesmo aquela
distância Amy podia reconhecer o brilho quase
fulgurante, como se a própria pedra tivesse uma luz
interior. Não havia possibilidade de aquilo ser
confundido com um caco de vidro.

Pietro aproximou a pedra até quase encosta-la


em seu rosto, ao redor seus capangas cortavam o
que havia sobrado dos outros livros. Com o coração
em frangalhos Amy observou em silêncio uma capa
após a outra ser rasgada e de dentro delas pequenas
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pedras serem descobertas.

Como Peter poderia ter feito algo como aquilo?


Que tipo de loucura era aquela? As perguntas se
avolumaram em sua mente de tal maneira que até
mesmo raciocinar tornou-se um desafio. Como ela
poderia explicar que não sabia que aquela fortuna
estava escondida em sua casa? Como explicar para
o mafioso parado diante dela, que ela não havia
fazia parte de nada daquilo?

- São bonitos não é mesmo? – perguntou Pietro


aproximando-se dela com leveza, ele parecia ter
recuperado sua compostura, mas Amy podia
observar a frieza estampada em seus olhos
ambarinos – Diamantes são eternos. É por isso que
os seres humanos são tão fascinados por essas
belezinhas.

Com cuidado ele aproximou a pequena pedra de


sua orelha, embora ela não fosse maior do que a
ponta de sua unha Amy sentiu o toque gelado sobre
sua pele, enquanto seu coração parecia diminuir o
ritmo dentro de seu peito.

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- Brincos como esses ficariam ótimos em você


Amy. É apenas uma opinião pessoal, mas acho que
loiras ficam deslumbrantes com diamantes. Foi por
isso que você e seu irmão decidiram que podiam
roubá-los de mim? Planejava ficar com algum deles
pra você?

A língua parecia muito pesada em sua boca,


como se ela tivesse perdido completamente sua
habilidade de falar. Abriu os lábios trêmulos,
sentindo o gosto de ferrugem de seu próprio
sangue, enquanto focava seu olhar nos olhos de
Pietro.

- Eu não sabia que eles estavam aqui... – disse a


garota odiando o tremor em sua voz – Eu nunca
tinha visto essas pedras.

Ela podia dizer pela expressão no rosto de


Pietro que ele não acreditava nela, um sorriso
sarcástico brincou em seus lábios bem esculpidos,
como se ela tivesse acabado de lhe contar algo
extremamente engraçado.

- Você é uma ótima atriz. Com esses olhos

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grandes e expressivos. Mas, infelizmente você não


está com sorte. Acha mesmo que eu vou acreditar
em alguma palavra sua? Você é tão culpada quanto
seu irmão.

O nervosismo corria por seu sangue fazendo


com que ela sentisse a cabeça leve, tentando conter
o tremor que ainda chacoalhava seu corpo, Amy
agarrou a barra de sua camisola torcendo o tecido
gasto entre seus dedos. O que mais ela poderia
dizer para aquele homem, para convencê-lo de sua
inocência?

Pietro deu-lhe as costas como se tivesse farto


daquela conversa. De frente de sua velha mesa de
centro um de seus capangas contava
minuciosamente as pequenas pedras que eles
haviam encontrado escondidas nas capas dos livros.
Com horror crescente Amy observava a pequena
pilha aumentar. Ela não era nenhuma especialista
em jóias, mas aqueles diamantes embora pequenos
eram extremamente brilhantes, não tinha sombra de
dúvida de naquele pequeno amontoado de jóias
estava uma fortuna quase incalculável.

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Com todo cuidado do mundo Pietro depositou a


pedra que continuava nas pontas de seu dedo junto
com as demais. Ele pareceu admirá-las por um
momento, a ganância refletida de maneira evidente
em seus olhos.

- Devo agradecê-la por sua cooperação Amy –


disse de maneira quase ausente ainda de costas para
ela – Definitivamente você é uma garota muito
mais esperta do que seu irmão. Agora, por que não
me diz onde estão o resto dos diamantes?

Amy sentiu que seu rosto tornava-se gelado,


seus dedos ficaram estáticos na barra de sua
camisola, o fôlego ficou preso em sua garganta, de
repente parecia não haver oxigênio o suficiente
dentro daquele pequeno espaço.

- Eu... eu não sei...

Sua voz não passara de um sussurro, tão baixo


que por um momento ela imaginou que Pietro não
havia sido capaz de ouvi-la, o silêncio ao redor
deles era tão intenso, como se eles fossem às únicas
pessoas vivas no mundo.

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Por sobre seu ombro Pietro lançou-lhe um olhar


cheio de veneno em sua direção. O sorriso que ele
estivera ostentando apenas alguns segundos atrás
havia desaparecido completamente de seu rosto.

- Você não sabe?

O mafioso pontuou cada uma das palavras


pausadamente como se ele tivesse falando com
alguém mentalmente incapaz de compreendê-lo. O
medo deslizou por seu corpo, fazendo com que o
tremor em seus membros se tornasse insuportável.
Num piscar de olhos o homem diante dela se
aproximou cruzando os poucos metros que os
separavam, puxando seu cabelo para trás com
violência, enquanto encostava contra a pele de seu
pescoço a lâmina de seu canivete.

- Amy, por favor, não me faça perder a


paciência. Se você não me responder, eu serei
obrigado a cortar sua garganta. É isso o que você
quer? Sangrar até a morte como um porco no
abate? Posso garantir a você que o espetáculo não é
nada bonito.

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O pânico havia se instaurado em seu interior,


deixando sua mente vazia, era como se ela tivesse
perdido a habilidade de pensar, de existir. Naquele
momento tudo o que parecia haver dentro de seu
corpo, seu coração sua alma, era o medo que
parecia ser infinito.

Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto


sobre sua pele dolorida onde ela havia levado uma
pancada, o olhar ambarino de Pietro observou com
atenção, embora não houvesse nenhum tipo de
sentimento por trás de seus olhos. Eles pareciam
vazios, inumanos como se ela tivesse olhando para
dentro de um precipício.

- Eu estou dizendo a verdade – murmurou a


garota lentamente enquanto sentia a frieza da
lâmina sobre a pele de seu pescoço – Eu não sei
onde estão os outros diamantes.

- É mesmo? Então me diga onde está o bastardo


do seu irmão. Não é preciso ser muito inteligente
para saber, que ele fugiu com o resto das minhas
pedras!

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Pietro pressionou ainda mais a lâmina contra


sua garganta, o aço afiado cortou a pele exatamente
onde ela podia sentir a pulsação descontrolada de
seu coração. O sangue escorreu por seu pescoço,
dando-lhe uma sensação desagradável e agourenta.

- Eu não sei... – respondeu Amy desesperada,


não sabia mais o que dizer para que aquele homem
pudesse acreditar em suas palavras. Para que ele
acreditasse que ela estava dizendo a verdade – Não
sei onde meu irmão está. Ontem a noite ele
apareceu aqui, disse que sairia da cidade, não me
deu nenhum motivo. Eu não sabia o que ele tinha
feito.

O mafioso libertou sua garganta guardando


mais uma vez o canivete no bolso de sua calça.
Amy sugou o ar com força para dentro de seus
pulmões, levou os dedos em direção a seu pescoço,
sentindo a umidade sobre suas pontas. A dor era
apenas uma picada longínqua, pequena, mas real
demais para que ela pudesse ignorá-la.

Apavorada Amy fitou Pietro que continuava


parado diante dela, os olhos dele estavam
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frenéticos, olhando em sua direção de maneira


ausente como se ele tivesse tentando decidir o que
faria a seu respeito.

- Você não parece estar mentindo – disse o


mafioso por fim, sua voz soando de maneira
pensativa – Mas, como posso realmente ter certeza?
Eu preciso dos diamantes. Preciso saber onde seu
irmão está.

A saliva transformou em areia em sua boca,


agitada Amy sentiu a ponta de suas unhas
romperam a pele de seu pescoço, ela mal foi capaz
de registrar a dor, tudo o que podia sentir era o
pavor que parecia devorar suas entranhas.

- O que farei com você? – perguntou Pietro com


voz gélida – Você realmente não deseja
reconsiderar e me contar onde está seu irmão?

- Eu já disse – respondeu a garota num fio de


voz completamente derrotada – Eu não sei onde ele
está.

O silêncio tomou conta da sala, por um longo


momento, a ansiedade correu solta por seu corpo,
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enquanto ela sentia a respiração em seus pulmões


se tornar cada vez mais acelerada, como se ela
tivesse acabado de correr uma maratona, embora
continuasse estática como uma estátua.

- Então você não me deixa alternativas Amy.

A garota pode reconhecer um tom de tristeza


em sua voz, quase como se ele realmente estivesse
verdadeiramente arrependido por ter tomado aquela
decisão. Todos os instintos de Amy gritaram de
forma desesperada, implorando para que ela fugisse
daquele homem. Seus pés se moveram por vontade
própria se afastando, ela caminhou de costas até
que sentiu seus calcanhares tocarem a parede da
sala atrás de suas costas, diante dela Pietro
permanecia parado tranquilamente, uma expressão
serena tomando conta de suas feições.

- O que você vai fazer comigo?

A pergunta dela soou de uma forma quase


ingênua, suas palavras pairando no ar entre eles
pesadas como se estivessem carregadas de
significados ocultos. Quando Pietro permaneceu

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em silêncio a mente da garota conjurou milhares de


imagens horripilantes, uma após a outra desfilaram
diante de seus olhos enchendo seu coração de um
terror indescritível.

- Você vai me matar – A voz de Amy soou


frágil na escuridão, mal podendo ser ouvida acima
do silêncio que pairava naquele lugar. Não havia
sido uma pergunta, ela dissera aquelas palavras
como uma confirmação para o que estava vendo
refletido nos olhos ambarinos de Pietro.

O homem diante dela se movimentou com


classe, por um momento o ódio pareceu preencher
cada pequena parte de seu corpo, sem deixar espaço
para nada mais. Como ela podia aceitar que sua
vida, estava nas mãos de um monstro como aquele?
Como alguém capaz de tamanha atrocidade, e
horror podia possuir uma aparência tão bela e
perfeita?

Pietro se aproximou dela até que as pontas de


seus elegantes sapatos de marca estivessem tocando
seus pés descalços, o medo rastejou por sua pele
deixando uma fina camada de suor grudenta sobre
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seus braços. Os olhos dele estavam fixos sobre seu


rosto e embora Amy quisesse se afastar, sentia-se
como se tivesse presa sobre o encanto mortal de
uma serpente prestes a lhe dar um bote.

Com extremo cuidado Pietro tocou seu rosto, as


pontas de seus dedos pairando exatamente sobre o
machucado em sua face que doía de maneira
persistente. Amy odiou o toque dele sobre sua pele,
incapaz de se defender, ela fitou os olhos do
homem diante dela observando o vazio refletido em
seus olhos dourados. Pairando sobre ela como uma
espécie de Deus Pietro se erguia todo poderoso,
olhando em sua direção com tamanho desprezo
como se ela não passasse de uma simples formiga
caminhando pelo chão. Algo pequeno e
completamente descartável.

- Você é tão ingênua Amy – disse Pietro tão


baixo, apenas para que ela pudesse ouvir. – Eu
quase a me apiedar de sua ignorância. Acredite em
mim, há outros destinos muito piores do que esse.
Quando Caronte tiver terminado, você estará
desejando a morte como um alívio para suas dores.

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As palavras dele deixaram seu corpo


entorpecido, ela não havia sido capaz de
compreendê-las totalmente, mas sabia que suas
palavras guardavam um horror indizível.

Virando de costas para ela Pietro afastou-se de


Amy caminhando até a porta de sua casa, ele abriu-
a com tranquilidade como se ele fosse o dono do
lugar. Antes de sair sua voz soou de maneira
autoritária na sala para que todos ali ouvissem.

- Levem a garota até Caronte, e digam a ele que


preciso de todas as informações que possa
conseguir.

Sem olhar nem mais uma única vez em sua


direção, Amy observou em silêncio, o homem que
havia selado seu destino se afastar. Incapaz de fazer
qualquer coisa, ela permaneceu ali como uma corça
presa sobre a luz dos faróis de um carro que se
aproximava. Esperando indefesa até que fosse tarde
demais.

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Capítulo Cinco
Ela tentou se defender, como se finalmente
tivesse acordado de um pesadelo, o fôlego preso em
sua garganta. Amy virou-se em direção aos fundos
de sua casa, cada parte de seu corpo tensa como a
corda de um arco retesado. O horror preso em sua
garganta, engoliu os gritos sabendo que seriam
apenas uma perda de tempo, naquela região onde
morava da cidade, era importante que cada um
cuidasse de sua própria vida. Nenhum dos vizinhos
que escutasse seus gritos faria qualquer coisa para
salvá-la.

Suas mãos se atrapalharam com a chave na


porta da cozinha, os dedos trêmulos como folhas ao
vento contra a fechadura. Sentiu a mão pesada de
um dos capangas de Pietro pousar sobre seu ombro,
tentou afasta-lo, mas ele simplesmente a imobilizou
sem fazer nenhum esforço, enquanto o outro
homem silencioso se aproximava dela, tampando
seus lábios com uma tira de pano, e colocando um
saco negro sobre sua cabeça.
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A escuridão a engoliu completamente, cegando-


a de uma maneira assustadora, o fôlego em sua
garganta ficou acelerado o chiado de sua respiração
arranhando seus ouvidos. A claustrofobia deixou
seus movimentos lentos, podia sentir as mãos
daqueles homens sobre seus braços movendo seu
corpo como se ela não passasse de um objeto
inconveniente.

Ela foi levada por aqueles desconhecidos, seus


pés suspensos no chão, o coração rugia
descontroladamente em seu peito. Sentiu seus
pulsos serem presos por duas amarras de plástico,
seus movimentos ficaram ainda mais limitados, a
dor irradiando por todo seu braço, pela posição
incomoda.

O único som que podia produzir eram


grunhidos inteligíveis, as lágrimas escorreram por
sua bochecha deixando seu rosto ardido, enquanto
ela mordia o pano em sua boca que para conter a
onda de nervosismo que ameaçava sufocá-la.

Sem nenhuma gentileza, seu corpo foi jogado


no banco de trás de um carro, podia sentir o tecido
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macio contra a pele exposta de suas coxas, e o


cheio de cera nova recendia em suas narinas
mesmo com elas tapadas. O som de um motor em
movimento encheu seus ouvidos, nenhuma palavra
era trocada entre os ocupantes do veículo, para
aqueles homens Amy sentia-se como se fosse
apenas uma tarefa a ser cumprida, o destino dela
por mais horrível que pudesse ser não pesaria em
suas consciências.

O medo se infiltrou por sua mente, deixando


um gosto amargo em sua língua, embora seus
pulsos estivessem amarrados, isso não era capaz de
conter os tremores que chacoalhavam
completamente seu corpo. Tentando colocar os
pensamentos em ordens a garota ordenou a si
mesma a respirar com calma, começava a sentir a
cabeça leve, os pensamentos rápidos e frenéticos
demais para que ela pudesse se concentrar em
qualquer coisa. Se ela se desesperasse então
realmente qualquer chance de fugir estaria para
sempre perdida.

Embora não soubesse para onde eles estavam


indo, Amy tinha certeza de que eles seriam
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obrigados a parar em algum momento, sabia que


estavam totalmente em desvantagem. Vendada,
amarrada, e com dois capangas ao seu lado suas
chances eram irrisórias, mas o instinto a obrigava a
continuar lutando, afinal qual seria a outra
alternativa? Desistir? Esperar que algum daqueles
homens se cansassem dela e finalmente a
matassem?

A ideia encheu sua mente de um terror


indescritível. Em suas memórias as palavras de
Pietro soaram medonhas e agourentas. Eles
estavam a levando para alguém chamado Caronte.
O medo deslizou por seus braços, esfriando a fina
camada de suor que havia crescido sobre seus
membros. Ela nunca ouvira aquele nome antes.

Trabalhando como dançarina, num mundo


rodeado por mafiosos e homens que andavam as
margens da lei, Amy ouvira muitos nomes, e outras
histórias que sempre obrigava a si mesma a
esquecer, por sua própria segurança. O submundo
do crime era rodeado de alcunhas, e títulos, muitos
eram ostentados com orgulho e outros ditos em
vozes baixas e sussurradas, nomes que serviam
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como alertas, e alguns até mesmo como uma


sentença.

Amy nunca ouvira o nome Caronte, mas se


fosse totalmente honesta consigo mesma também
nunca ouvira nada a respeito sobre Pietro Fonezi, e
mesmo assim o homem estivera em sua casa aquela
noite. Em sua bochecha esquerda ainda podia sentir
as marcas dos dedos dele, uma lembrança que
provava o quanto ele era real.

Os pensamentos da garota se desviaram para


seu irmão. Por que ele havia cometido algo tão
estúpido quanto roubar um mafioso? Por que
deixara os diamantes em sua casa? Como Peter
pudera acreditar que um plano tão idiota e louco
como aquele podia dar certo?

As perguntas se acumularam em sua mente,


como se estivessem disputando espaço dentro de
seu cérebro, a preocupação corroeu suas entranhas,
quando ela pensou em seu irmão. Se Pietro havia
sido capaz de encontrá-la, então como Peter
poderia fugir ou mesmo se esconder de um homem
assim?
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Em silêncio a garota desejou ardentemente que


seu irmão estivesse bem e longe dali cegada pelo
capuz que cobria sua cabeça ela conseguiu rever
em suas memórias a última lembrança que tinha de
seu irmão. As costas encurvadas e frágeis como se
ele estivesse carregando o peso no mundo sobre os
ombros, os cabelos loiros saindo por debaixo de um
gorro desgastado. Ela havia chamado seu nome na
noite anterior, a raiva tingindo seu tom de voz que
havia sido engolido pela noite; aquela teria sido a
última vez que olhara para seu irmão?

A pergunta ecoou em sua mente deixando ainda


mais paralisada, o que ela faria se algo acontecesse
a Peter? O estômago se contraiu dentro de seu
corpo, como se um nó estivesse sendo preso a ele.
O fôlego que ela estivera tentando conter disparou
entre seus lábios assim como as batidas de seu
coração.

Naquele momento o som das rodas do carro


freando de maneira brusca conseguiu furar a
neblina de nervosismo que parecia pairar sobre sua
cabeça. Sentiu as mãos dos capangas repousarem
sobre seu corpo, retirando-a de dentro do carro com
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violência. O vento e o ar gelado da noite acertaram-


na em cheio seu corpo como um golpe físico, o som
de ondas e marolas do mar pairava ao seu redor,
mesmo com os olhos fechados Amy sabia que eles
estavam próximos ao porto da cidade.

As solas de seus pés tocaram o chão frio do


asfalto, ela foi arrastada com movimentos ágeis e
bruscos, seu corpo quase sendo carregado pelos
homens ao seu redor. Ao longe ela podia ouvir o
som do mar quase como um lamento, ali quase tão
afastados da cidade mal dava para se ouvir o
barulho dos carros que apinhavam as ruas da
metrópole de maneira constante, algo
completamente diferente da cacofonia ininterrupta
que ela sempre era capaz de escutar em sua casa.

A noite estava gélida, seus pés logo sentiram o


frio se infiltrar por suas solas descalças, sua
camisola mal fornecia proteção suficiente contra o
vento que continuava fustigando tudo ao redor. Os
passos de seus captores eram apressados, seus
movimentos ligeiros como se aquele lugar também
os deixasse nervosos, e eles quisessem se livrar o
mais rápido possível daquela tarefa.
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O som de uma porta metálica rangido sobre seu


peso ecoou na noite. Amy sentiu a ausência do
vento imediatamente, os sons pareceram mais
distantes e longínquos como se eles tivessem
finalmente entrado num ambiente coberto. Os
passos de seus captores ressoaram no chão ao seu
redor, para conter o nervosismo a garota mordeu o
pano que estava em sua boca, um dos capangas de
Pietro segurava seus braços atrás de suas costas, a
dor em seus pulsos havia se transformado num
numa sensação oca e incomoda os dedos haviam se
tornado levemente dormentes.

Sem nenhum aviso o capuz que cobria sua


visão foi retirado, a garota piscou diante do choque
da ofuscante luz sobre seu rosto, sentiu um
empurrão forte em seu ombro, seu corpo perdeu o
equilíbrio, ela tentou amparar sua queda, mas os
tremores não lhe permitiram, sentiu o tronco atingir
o chão com um baque duro, o gosto metálico
invadindo sua língua, havia mordido a parte interna
de sua bochecha durante a queda.

Tentou levantar-se imediatamente, sua visão


ainda atordoada pela luz correu o ambiente num
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frenesi desenfreado, as paredes ao seu redor eram


lisas, metálicas num profundo tom de chumbo sem
qualquer identificação, a única luz do recinto vinha
de uma lâmpada fluorescente sobre sua cabeça,
muitos metros acima dela uma única janela de
vidro exibia um céu noturno num profundo tom de
azul escuro, a visão enviou uma onda de adrenalina
que percorreu seu corpo, dando-lhe forças para que
ela usasse seus joelhos e se colasse em pé. Não
queria ser encontrada ali naquele chão, deitada e
indefesa como um animal que espera seu abate.

As figuras de seus sequestradores avançaram


em direção a parte mais afastada das paredes sem
nem ao menos lançar um único olhar em sua
direção. O medo infiltrou-se em seu coração,
deixando seus batimentos mais difíceis mais
pesados. O som metálico novamente inundou o
ambiente enquanto os homens de Pietro que haviam
a levado até ali, saiam em silêncio daquele lugar
como se não pudessem permanecer mais ali um
minuto a mais.

Amy forçou novamente os pulsos um contra os


outros, até sentir a pele ao redor dele ficarem
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esfoladas, queria retirar o pano preso em sua boca,


que parecia engolir sua voz assim como sua
respiração. Com o corpo trêmulo ela se levantou,
sentindo as pernas bambas como macarrão em água
fervente. Depois da escuridão que ela havia
presenciado debaixo do capuz, todo o ambiente ao
seu redor parecia brilhante demais, ofuscante diante
de seus olhos.

Piscou várias vezes tentando ajustar seu olhar


para conseguir enxergar os contornos embaçados
das coisas que permaneciam escondidas nos cantos
mais afastados daquele lugar. Ela não conseguia
reconhecer com clareza onde estava. As paredes ao
redor pareciam que se erguiam altas e de maneira
imponente, lembrando-lhe uma espécie de galpão,
o chão debaixo de seus pés era de cimento, e
parecia molhado deixando que a friagem penetrasse
por sua pele. Não havia móveis, ou qualquer coisa
ao redor, caixas estavam empilhadas num canto
próximo a janela, uma camada grossa de poeira
cobria suas superfícies, como se indicassem que
aquele lugar há muito tempo não era utilizado.

Um calafrio agourento escorreu por sua coluna,


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o silêncio martelou em seus ouvidos, assustada com


os nervos a flor da pele Amy girou seu corpo
esperando, tentando encontrar aquilo que parecia se
esconder na escuridão longe do alcance de seus
olhos.

O instinto mais primitivo que parecia habitar


seu corpo lhe dizia que ela não estava sozinha
naquele lugar, não estava segura. Suas pernas se
prepararam para correr, como se de alguma forma
ela pudesse sentir o predador espreitando ao seu
redor, caçando-a nas sombras escondendo sua
presença.

Ela tentou afastar os pensamentos caóticos, para


a parte mais distante de seu cérebro, os capangas
que a trouxeram até ali haviam saído por uma porta
na parede mais afastada, eles não pareciam ter
usado nenhum tipo de chave, estava imaginando
coisas, o nervosismo e o pânico haviam se
acumulado em seu interior fazendo com que ela
acreditasse em coisas que não estavam ali.
Precisava ser racional se quisesse ter uma chance
de escapar. Usaria aquela oportunidade para
encontrar algo para libertar suas mãos, e então
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sairia daquele lugar. Correria tão rápido que


independente de quem fosse Caronte, ou qualquer
outro homem de Pietro nunca seria capaz de
alcançá-la.

Estava tão focada, tão absorta em seus


pensamentos que num primeiro momento não
ouviu ele se aproximar embora algo dentro dela
tivesse sentindo a mudança no ar. Sutil quase
imperceptível, como se por um breve momento até
mesmo as ondas lá fora tivessem se silenciado.

Uma figura se mexeu na escuridão, uma sombra


silenciosa, por um instante Amy acreditou que seu
cérebro tivesse lhe pregando peças, criando
monstros imaginários. O coração disparou em seu
peito, ela podia sentir cada batida ressoando
debaixo de sua pele de maneira quase dolorosa.

Amy deixou que seus olhos percorressem todo


o ambiente, o silêncio ao redor dela pareceu
crescer, quase como se o próprio ar tivesse se
enchendo em expectativa. Então ele se colocou
diante dela, cruzando o limiar entre as sombras,
deixando que a luz banhasse suas feições.
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O fôlego pareceu ficar preso em seus pulmões,


os pensamentos escorreram de sua mente como
água sobre as pedras, enquanto ela fitava o homem
diante dela. Um rosto que ela reconhecia uma
figura forjada em seus pesadelos.

Ele se aproximou com cautela, seus


movimentos precisos calculados, como se tivesse
todo o tempo do mundo. O homem diante dela era
alto, erguendo-se sobre sua baixa estatura. O rosto
era quadrado, bochechas altas e aquilinas lhe
davam uma aparência feroz e determinada, o nariz
aristocrático, sobrancelhas espessas emolduravam
um par de olhos dourados, ambarinos reluzentes
como ouro derretido embaixo da luz, ela não sabia
dizer qual era a cor de seu cabelo, caindo sobre seu
pescoço de maneira suave ele parecia claro demais
para ser marrom e muito escuro para ser
caracterizado como loiro.

Amy sentiu o coração gelar em seu peito


quando o olhar do desconhecido recaiu sobre seu
rosto, um olhar que ela conhecia, um olhar que ela
pagaria qualquer preço no mundo para ser capaz de
esquecer. O rosto que estava diante dela, era o
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mesmo de Pietro, o homem que apenas algumas


horas atrás havia selado seu destino. Mas, aquele
não poderia ser Pietro, pois sobre aquele rosto
haviam cicatrizes embora nem mesmo elas fossem
capazes de desfigurarem sua beleza. A mais
profunda era cinzelada e cruzava seu olho direito,
alcançando a parte alta de sua bochecha, haviam
outras pequenas marcas brancas como raios que
cortavam sua têmpora esquerda, marcando sua pele
de maneira muito evidente, como se elas fossem
pintura de guerra que o homem diante dela exibia,
como se deixasse bem claro que ele era um
guerreiro. Que ele era perigoso.

Não havia dúvidas de que o homem parado


como se fosse feito de sombras diante dela, era
Caronte.

Amy tentou ordenar seu corpo a se mover, o


instinto gritava de maneira audível em seu cérebro
que ela deveria sair daquele lugar, correr o máximo
que suas pernas pudessem suportar esquecer
daquele homem daquela noite, mas seus membros
permaneceram petrificados, como se ela tivesse se
transformado numa estatua feita de sangue, carne e
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ossos.

Os olhos dele se fixaram em seu rosto,


brilhando de uma forma quase sobrenatural, o
silêncio entre eles cresceu pesado, intenso ecoando
como se todo o mundo ao redor deles tivesse
prendendo a respiração, assim como ela fazia
naquele momento.

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Capítulo Seis
Cézare Fonezi ouviu primeiro os passos
pesados ecoando pelo deque de madeira, antes de
enxergar as figuras encobertas pela noite que
haviam adentrado em seu galpão. O celular
repousava esquecido entre seus dedos, enquanto as
ordens de Pietro ainda ecoavam em sua mente. O
Capo não estava nenhum um pouco satisfeito.
Alguém havia tido a audácia de roubar seus
diamantes, e ele queria vingança, assim como
respostas. Era por esse motivo que ele havia sido
chamado aquela noite.

Os homens de Pietro não lançaram um segundo


olhar em sua direção enquanto se aproximavam,
trazendo uma figura diminuta, com as mãos
amarradas atrás de suas costas, e um saco cobrindo
suas faces. Por um momento ele sentiu a surpresa
tomar conta de suas feições, então tentou mascara-
las. Pietro havia o convocado, ele deixara bem
claro o quão necessário eram seus serviços, mas ele
nada dissera sobre torturar e assassinar uma garota.
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O pensamento pairou sobre sua mente enquanto


ele observava os homens do Capo se adiantarem,
não ousando se aproximarem muito mais. Com
pressa e sem nenhum cuidado, retiraram o saco que
cobria o rosto da garota, ela piscou contra a luz que
atingiu sua face, enquanto um deles a empurrava
para frente fazendo com que ela se desequilibrasse
e caísse com um baque surdo no chão.

Com as costas encostada em uma das paredes


mais distantes do galpão Cézare observou a cena
em silêncio, os homens que haviam trazido aquela
garota até ali, viraram suas costas deixando aquele
lugar como se não pudessem suportar estar ali mais
um único momento que fosse. Eles não podiam
suportar a presença do Barqueiro.

Eles o chamavam de Caronte, assim como o


personagem mitológico que era encarregado de
levar as almas para o Inferno, porque aquele era seu
trabalho, sua função dentro da famiglia Fonezi.
Muito mais do que uma alcunha, aquele era seu
título, sua posição. Um nome para sempre lhe
lembrar quem ele realmente era. Um assassino;
fazedor de almas.
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Sua presença não era aceita nem mesmo dentro


de sua própria família, eles o evitavam como se
fosse uma doença tratando-o como um pária, pois
todos os seres vivos temiam a morte. Aqueles que
nasciam dentro daquele mundo, que usavam um
sobrenome que os fazia conhecido como mafiosos
o ignoravam, como se os pecados deles fossem
diferentes dos dele.

Os olhos de Cézare recaíram sobre a pequena


figura caída no chão, o corpo da garota parecia
muito frágil contra a dureza do concreto, os
capangas de Pietro nem ao menos quiseram esperar
para lhe desamarrar os pulsos. Com dificuldade ela
levantou seu corpo, cada movimento seu parecia
lhe custar uma extrema concentração.

A luz derramou-se por sobre seus cabelos, uma


confusão de mechas loiras como trigo. Eles
escorriam como uma cascata dourada por seus
ombros, e costas, quando ela ergueu seu rosto pela
primeira vez Cézare pode observá-la
completamente. O rosto era oval e sem falhas, os
olhos duas gemas azuis que brilhavam como safiras
emolduradas por cílios longos que faziam sombras
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em suas bochechas.

Era bela de um jeito quase dramático, e por um


instante que pareceu se prolongar indefinidamente
a única coisa que Cézare foi capaz de fazer, foi
deixar que seus olhos engolissem sua imagem,
como se ele não pudesse se saciar totalmente da
visão diante dele.

Do lado direito de seu rosto havia uma mancha


arroxeada que ia em direção a raiz de seus cabelos,
na gola de sua roupa ele podia ver as pequenas
manchas de sangue que se destacavam no tecido
claro. Definitivamente os homens do Capo não
haviam sido gentis com ela, e nem ele poderia ser.

Em silêncio ele observou a garota se levantar,


os olhos dela vasculharam a área como se ela
pudesse encontrar nas paredes vazias ao seu redor,
uma saída, uma forma de escapar daquele lugar.
Ele conhecia muito bem o brilho de esperança que
sempre parecia faiscar nos olhos de suas vítimas.
Seres humanos tendiam a se agarrar a mais fugaz
das esperanças, movidos por um sentimento
enganador e efêmero.
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Ele sabia que precisava se adiantar, deixar que


aquela garota soubesse que não estava sozinha ali,
mostrar a ele que era seu destino, mas seu corpo
permaneceu muito firme na escuridão, como se a
simples ideia de dar o primeiro passo custasse um
esforço inimaginável.

A sua frente a garota parecia cada vez mais


assustada, ele observou enquanto ela machucava a
si mesma tentando soltar as amarras de seus pulsos,
a pele pálida se abriu exibindo um corte, mas ela
nem ao menos pareceu sentir o machucado. Seu
olhar tornou-se concentrado, como se em sua mente
ela tivesse arquitetando um plano ousado que iria
libertá-la. Ele precisava reconhecer sua coragem, a
maioria das pessoas que eram levadas a sua
presença, que conheciam seu mundo aquela altura
já estariam chorando ou ao menos pedindo por
misericórdia. Eles sempre pediam por misericórdia
no final.

Mas, ele precisava se lembrar que a garota


diante dele, não era alguém do seu mundo. Em sua
mente tentou lembrar-se por qual nome Pietro lhe
chamara, apenas alguns momentos atrás aquela
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informação havia parecido insignificante, ele nunca


se importara com o nome de suas vítimas, todas
elas eram apenas um trabalho, um número, uma
tarefa a mais a ser realizada para sua família. Tudo
em nome de sua dinastia. E mesmo sua mente
racional lembrando-lhe disso como uma voz que
soava como uma reprimenda em sua cabeça, ele
não era capaz de conter totalmente a curiosidade
que havia brotado em seu peito, desde que colocara
os olhos na mulher a sua frente.

Qual o segredo que ela guardava que


interessava tanto a Pietro? Qual seria o motivo pelo
qual o Capo havia desejado sua morte?

As perguntas rodearam sua mente sem uma


resposta que ele pudesse encontrar. Sabia que
aquele tipo de pensamento era inútil e improdutivo.
Era premissa do Capo dar as ordens, enquanto
todos os outros eram obrigados a obedece-lo. Ele
não precisava se justificar, ou dar explicações a
ninguém além do chefe acima de todos aqueles,
aquele que controlava todos os ramos das famílias.
O homem que eles chamavam de Don.

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Se o Capo da famiglia Fonezi queria a mulher


diante dele morta, então assim seria. Mas, primeiro
ele precisava descobrir quais segredos estavam
ocultos por aqueles olhos enormes cor de safira.

Como se tivesse sentindo sua presença, os olhos


da garota se desviaram em sua direção, por um
momento ele achou que ela havia conseguido
enxerga-lo através das sombras que o escondiam,
mas a sensação passou quando ela deixou seu olhar
recair para o outro lado do cômodo, apertando os
olhos ligeiramente como se tivesse sentindo o
perigo escondido na escuridão que a cercava.

Cézare então ordenou a si mesmo a se mover,


com movimentos calculados ele se aproximou de
sua vítima, que ainda não havia sido capaz de notar
sua presença. Ele a rodeou como um caçador que
encurrala sua presa, aproveitando do sentimento de
adrenalina que percorreu seu sangue, esquentando
os membros de seu corpo.

O que seus olhos iriam revelar quando ele


tivesse se posto diante dela? O que ela iria sentir
quando encontrasse o carrasco responsável por
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acabar com sua vida?

As perguntas se formaram em sua mente quase


como se tivessem vontade própria. Aquele não era
o tipo de reação que ele costumava ter diante de
alguém que era um serviço, uma responsabilidade,
nada mais do que isso, mas mesmo ciente disso, ele
não pode deixar de se perguntar o que a mulher
diante dele iria pensar quando olhasse seu rosto
desfigurado por suas cicatrizes.

O tempo pareceu se estender entre eles, Cézare


avançou adiante deixando que a luz tocasse seu
corpo, se revelando para a garota parada diante
dele, trêmula e indefesa. Incapaz de fugir ou de
defender dele que havia se tornado seu destino.

Algo se remexeu nas profundezas de seu


interior, inominado e indefinido, ele cessou seus
movimentos, deixando que toda sua figura ficasse
diante dela, para que ela pudesse observá-lo com
toda atenção. Ele estava tão próximo que pode ver
a surpresa faiscar em seus olhos azuis, de perto eles
pareciam ainda mais brilhantes, num tom profundo
e incomum como as águas do mar que refletiam o
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céu noturno. Ele pode enxergar uma centelha de


reconhecimento cruzar seu olhar, até que seu belo
rosto assumiu uma expressão de medo, o horror
deixando suas faces pálidas o sangue sendo
afugentado de suas bochechas.

Nenhuma palavra foi dita entre eles, lá fora


tudo o que ele podia ouvir era o barulho contínuo
da marola marítima e ocasionalmente a buzina de
algum navio cargueiro; diante dele a garota tremia
como se ele fosse uma criatura pavorosa saída de
seu pesadelo mais assustador. Ela mal podia saber o
quão certa estava em temê-lo.

Ele sabia que não deveria dar o próximo passo,


havia uma linha que ele nunca cruzava e mesmo
assim ele se viu cruzando esse limiar como se
tivesse olhando para as bordas de um precipício
desconhecido diante dele. Ainda sem compreender
totalmente suas razões ele observou sua própria
mão se erguer e retirar o pano que cobria seus
lábios, por algum motivo ele precisava enxergar o
rosto daquela mulher completamente agora que ela
estava diante dele.

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Esperou que os gritos dela enchessem o


ambiente, mas apenas o silêncio pairou entre eles, o
pano caiu no chão esquecido imediatamente. Os
olhos dele se focaram em seu olhar azul,
amedrontado, mas firme, quase desafiador, como se
ela tivesse tentando conter o medo dentro de seus
pensamentos.

Foi com espanto que ele observou a ponta de


seus dedos tocarem seus lábios, a maciez de sua
pele deixou cada grama de seu corpo em alerta, os
olhos dela se abriram em surpresa como se ela
também não fosse capaz de compreender a
mensagem por trás daquele toque.

Cézare deslizou o dedo por seu lábio inferior


percebendo como ele era mais volumoso, um
pequeno detalhe que só poderia ser percebido
aquela distância. Aquela era a primeira vez em
muito tempo que ele se recordava de tocar outro ser
humano sem a intenção de machucá-lo.

A garota diante dele pareceu se recuperar de


seu estupor, levantando ambas as mãos amarradas e
cruzando sobre seu tórax como se dessa forma ela
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pudesse se defender dele. Os lábios dela se


partiram, as palavras sussurradas chegaram até ele
de maneira trêmula e vacilante.

- O que você pretende fazer comigo?

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Capítulo Sete

A voz dela pairou na escuridão tão frágil que


por um momento Amy imaginou que seus lábios
nunca haviam se aberto. Os olhos dourados do
homem estavam fixos em seu rosto, sua mão direita
parada entre eles, estática como se tivesse sido
congelada no tempo. Usando o pouco de controle
que havia sobrado sobre seu corpo, deu mais um
passo para trás afastando-se da figura diante dela,
enquanto tentava ignorar a persistente sensação de
calor que o toque dele havia deixado sobre seus
lábios. Como se ele tivesse conseguido marca-la de
alguma forma.

- Quem é você? – perguntou a garota sentindo-


se uma tola assim que aquelas palavras escaparam
de seus lábios. Como saber a identidade daquele
homem poderia ajudá-la de alguma forma para
conseguir escapar?

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O estranho diante dela permaneceu em silêncio,


seu rosto austero contido. Amy fitou-o abertamente
embora seu coração estivesse batendo de forma
descompassada contra suas costelas. Sentiu as
unhas cavarem a pele em torno de seu pescoço, a
picada de dor deixou seus sentidos aguçados, uma
lembrança de que aquilo não era um delírio
produzido por sua mente, um pesadelo conjurado
por algum recôndito de seu cérebro, mas uma
realidade da qual ela precisava encontrar uma
forma de superar.

Aquele homem possuía uma semelhança


assustadora com Pietro, como se ambos fossem a
mesma pessoa, embora a figura diante dela exibisse
um rosto marcado por cicatrizes. Aquela não
poderia ser uma consciência pessoas não podiam
serem tão parecidas assim umas com as outras sem
possuírem nenhum tipo de ligação familiar. Embora
fosse difícil de aceitar, a parte racional de seu
cérebro lhe dizia que o homem diante dela era
irmão de Pietro. Seu irmão gêmeo.

As garras gélidas do medo deslizaram por suas


costas, enquanto ela se lembrava do homem que
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havia conhecido apenas algumas horas atrás. De


uma beleza estonteante e com um sorriso
acolhedor, ele havia aparecido em sua casa e
transformado sua vida num inferno sem igual. De
forma quase inconsciente os dedos de sua mão
direita subiram por seu rosto, tocando levemente o
alto de sua bochecha, no lugar que ficava próximo
a sua têmpora. Ali, ela ainda era capaz de sentir a
sombra da dor do golpe que recebera de Pietro. Um
alerta para que ela aprendesse seu lugar naquele
mundo onde as regras de sobrevivência eram cruéis
e injustas.

Erguendo seus olhos novamente deixou que


eles se fixassem no homem silencioso diante dela.
Ele não parecia nenhum um pouco perturbado com
sua presença também não demonstrava qualquer
tipo de indício que iria responder suas perguntas.
Como se ela não passasse de um mosquito irritante,
ele havia a ignorado completamente. Deixando bem
claro qual era o tamanho de sua insignificância
naquele momento.

A raiva borbulhou lentamente dentro de suas


entranhas e Amy tentou abafar suas labaredas, para
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conter seu temperamento explosivo. A última coisa


que ela precisava naquele momento era se
descontrolar. Não sabia o que esperar do homem
parado diante dela, portanto precisava se preparar
para o pior. Talvez ele fosse alguém muito pior que
seu irmão.

O pensamento enviou uma onda de medo por


seu corpo que deixou seu estômago enjoado, sentiu
a bile arranhar a parte de trás de sua garganta,
enquanto mais uma vez ela tentou forçar as cordas
que prendiam seus pulsos a se soltarem, buscando
uma maneira de se ver livre enquanto seus olhos
corriam freneticamente ao seu redor.

Seu desespero pareceu atrair a atenção de seu


captor. Do bolso de trás de sua calça ele retirou um
canivete que acionou com um movimento elegante
de suas mãos. Como um animal acuado a garota
parou de se mexer, permanecendo muito quieta, o
fôlego contido em seus pulmões.

Ele se aproximou dela, colocando uma das


palmas de sua mão sobre seu ombro usando sua
força para mantê-la parada. Mesmo por sobre o
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pano a garota pode sentir o toque de sua pele, o


calor foi como um bálsamo para seu corpo gelado,
embora ela soubesse que a única coisa que aquele
toque poderia lhe oferecer era perigo.

Com movimentos desajeitados Amy tentou se


afastar daquele homem, mas a força que ele
exerceu sobre seu ombro com apenas uma das
mãos foi o suficiente para fazer com que ela ficasse
parada. A diferença de força entre eles era
assustadora, e constatar aquele fato apenas deixou-
o que o desespero abocanhasse mais um pedaço de
sua sanidade.

Sem saber o que dizer a garota sentiu as


palavras borbulharem na ponta de sua língua.
Enquanto os pensamentos se acumulavam como
uma avalanche em sua cabeça. Do que adiantava
pedir para que ele não lhe machucasse? Por que ele
ouviria qualquer um de seus pedidos quando até
mesmo segundos atrás estivera a ignorando?

Amy sentiu a proximidade daquele homem, e


lutou contra toda sua força, tentando escapar de
alguma forma, a lâmina do canivete encostou
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levemente sobre a pele de seu pulso, apenas


deixando-a mais desesperada e com movimentos
atrapalhados, ouviu o som de algo se rompendo
então o ar atingiu seus pulsos feridos, enquanto
seus braços se soltavam da prisão de sua algema e
agiam num impulso correndo para empurrar o
homem diante dela, enquanto ela tentava
desesperadamente colocar alguma distância entre
ambos.

O desconhecido foi mais rápido, num borrão as


mãos dele se movimentaram prendendo seus
punhos juntos novamente enquanto ele trazia o
corpo dela até o seu prendendo-a em seu agarre de
ferro.

Amy sentiu novamente a dor se irradiar por


seus braços, usando apenas uma das mãos ele havia
novamente feito-a de prisioneira. As brasas da raiva
que haviam em suas entranhas se acenderam
fazendo com que ela lutasse contra aquele homem
embora soubesse que a força dele ultrapassava em
muito a sua. Uma parte de sua mente lhe dizia que
ela não estava sendo racional, mas o desespero
havia finalmente a empurrado por sobre a borda.
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Ela já não conseguia mais pensar com clareza.

Os olhos dele se endureceram em seu rosto, a


boca elegante formando uma linha dura em
desagrado, com um braço forte ele rodeou sua
cintura, erguendo seu corpo, deixando-a apenas nas
pontas dos pés, colocando-se seus contornos aos
dela incapacitando completamente seus
movimentos.

A surpresa e o medo digladiaram-se em seu


coração, enquanto ela olhava para cima sentindo
sua face assumir uma expressão de medo e
incredulidade. A proximidade dele deixou seu
corpo completamente em alerta num sentindo que
não era totalmente negativo, o calor dele se
estendeu por seus membros tocando cada pequeno
pedaço de sua pele exposta fazendo com que ela
tivesse de lutar contra a ânsia de se aconchegar
ainda mais naquele contato.

O olhar dele estava fixo sobre seu rosto, os


olhos ambarinos haviam adquirido uma tonalidade
gélida, lembrando-lhe ouro derretido. Estavam tão
próximos que a respiração dele atingiu o alto de sua
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face, deixando seus pensamentos confusos e


erráticos.

Assustada agora com a avalanche de sensações


confusas que haviam tomado conta de seu corpo
Amy forçou mais uma vez os pulsos do aperto de
mão daquele homem. Ela precisava conseguir
colocar alguma distância entre eles.

- Não faça isso – a frase dita de maneira baixa


soou como uma ordem no galpão silencioso.
Estática a garota cessou qualquer movimento,
enquanto erguia mais uma vez seu rosto para
encarar seu captor. – Não se mova – ordenou ele
tranquilamente – Você não vai conseguir escapar.

A voz dele era encorpada, o sotaque forte e


estrangeiro deixando que suas palavras soassem de
maneira imponente e altiva.

- Me solta – pediu a garota odiando como sua


própria voz soava esganiçada se comparada a dele
– Você está me machucando!

Suas palavras ressoaram pelo ambiente, sendo


reproduzidas de volta até ela como um eco
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praticamente inaudível.

As mãos dele a libertaram de seu agarre, o


braço que a prendia, soltando seu corpo num
movimento brusco. Amy cambaleou para trás
assustada tentando manter o pouco controle que
havia lhe sobrado sobre suas pernas bambas.

Eles se entreolharam em silêncio por um


momento como se ambos tivessem se avaliando.
Amy engoliu em seco enquanto deixava a ponta de
seus dedos correrem sobre seus pulsos doloridos,
agora que suas mãos haviam sido libertas ela podia
sentir o fluxo do sangue voltar a correr novamente
por suas extremidades fazendo com que ela sentisse
suas mãos dormentes e doloridas.

Incapaz de conter por mais um segundo que


fosse Amy ergueu seu rosto, encarando o homem
diante dela enquanto lhe olhava com olhos repletos
de raiva.

- Onde estou? O que você pretende fazer


comigo?

Suas palavras eram ríspidas, sua voz quase


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irreconhecível até mesmo para seus próprios


ouvidos. A dor em seus pulsos havia aumentado,
fazendo com que ela se comportasse de uma
maneira temerária ignorando o perigo que corria.

O homem diante dela lançou lhe um olhar


distante e não lhe deu nenhuma resposta, aquilo
serviu apenas para enfurecê-la ainda mais.

- Quem é você? O que você quer comigo?

Mais uma vez sua voz soou pelo galpão,


enquanto apenas o silêncio ao seu redor era uma
resposta. A sua frente o olhar de seu captor tornou-
se mais uma vez gélido e distante. Num único
movimento ele agarrou seu braço sem dizer uma
única palavra e começou a arrasta-la para s fundos
do galpão.

Com o que havia sobrado de suas forças Amy


tentou se defender, socando, batendo chutando o
homem que a prendia. Seus esforços para ela eram
parecidos com os de uma formiga tentando mover
uma pedra dez vezes maior do que seu tamanho.

Sem nenhum esforço da parte dele ela foi


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arrastada até a parede mais afastada daquele


galpão, ali enquanto tentava se soltar observou ele
usar a mão livre para deslizar aberta uma porta de
correr que ela nem ao menos sabia que existia
naquele lugar.

Seu corpo foi empurrado para aquele lugar sem


qualquer gentileza, ela tropeçou nos próprios pés
mas evitou a queda jogando as mãos para frente
que caíram sobre um móvel que ela não era capaz
de visualizar totalmente enquanto por sobre seu
ombro, olhava a figura de seu captor recortada
apenas por um fresa aberta da porta.

- Não perca seu tempo gritando. Ninguém irá


ouvi-los – disse o desconhecido, seu olhar dourado
faiscando na escuridão – Você está com Caronte e
não pode escapar.

Sem esperar uma resposta ao som da porta


metálica se fechando soou pelo ambiente deixando
completamente sozinha naquele lugar, ele havia
trancando-a ali dentro como um animal enjaulado,
enquanto esperava por um destino terrível e
irrevogável.
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Amy sentiu os braços caírem ao lado de seu


corpo enquanto sentia toda a esperança que havia
nutrido até aquele momento escapar naquele
movimento, com passos vacilantes ela caminhou
para trás até sentir a firmeza das paredes de aço
pressionar suas costas.

A força de vontade que havia segurado seu


corpo em pé até aquele momento havia
desaparecido extremamente cansada, a garota
sentiu seu corpo deslizar pela parede até que pode
sentir a frieza do piso de cimento debaixo de seu
corpo. Em nenhum momento seus olhos
conseguiram se desviar da porta a sua frente. A
barreira que a separava do mundo real lá fora, de
sua vida naquele momento parecia ser
instransponível.

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Capítulo Oito
Amy abriu os olhos com extrema dificuldade
então os fechou logo em seguida. A claridade
infiltrou-se por debaixo de suas pálpebras tingindo
seu mundo de colorido. Lentamente percebeu sua
consciência voltar à superfície enquanto focava seu
olhar sobre o estranho ambiente ao seu redor.

Havia uma dor persistente no alto de sua


bochecha, com cuidado a garota levou os dedos até
a região ferida tocando seu rosto, a dor pareceu se
alastrar por sua face fazendo com que ela
transformasse sua expressão numa carranca,
enquanto suas lembranças eram inundadas por
imagens do motivo pelo qual ela havia ganhado
aquele machucado.

O sono pareceu desaparecer completamente de


seu sistema, como se um véu tivesse sido retirado
de frente de seus olhos. Muito alerta Amy deixou
que seu olhar vagasse pelo quarto onde estava,
conseguindo pela primeira vez ter uma noção clara
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de onde se encontrava.

O quarto onde estava não era amplo, paredes de


metal cercavam-na por todos os lados, não havia
janelas, apenas uma claraboia na parte mais
afastada do teto que permitia a entrada da luz solar
por uma embaçada proteção de vidro. Pela pequena
abertura ela conseguiu visualizar lá fora um pedaço
do céu, durante a noite as nuvens haviam se
acumulado trazendo uma tonalidade acinzentada
para o céu deixando que a pouco luz que iluminasse
o local fosse quase imperceptível. Partículas de
poeira deslizaram tranquilamente pela claridade e
por um instante Amy apenas focou seu olhar nelas,
enquanto deixava seus pensamentos vagarem
livremente sem nenhuma direção.

A noite passada não havia sido um pesadelo.


Fechando os olhos por um momento a garota tentou
espantar a sensação incômoda que havia crescido
em seu peito, espalhando suas raízes por todo seu
corpo. Sabia que uma parte de seu cérebro estava
em negação, como se ele não pudesse aceitar a
própria realidade ao seu redor, enquanto a outra
metade em sua cabeça lhe dizia que ela precisava se
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recuperar e colocar suas ideias do lugar, embora ela


não soubesse de que forma aquilo seria possível.

Com extrema dificuldade Amy ergueu seu


corpo do chão, o frio havia se infiltrado por
debaixo de sua camisola, sua única peça de roupa
que não lhe produzia nenhum um tipo de conforto
ou calor. Percorreu as palmas de suas mãos sobre
seu pescoço sentindo a rigidez naquele local assim
como em suas costas. Ainda não conseguia
acreditar que fora capaz de dormir num lugar como
aquele, mas estivera tão cansada que seu cérebro
havia em algum momento simplesmente se
recusado em continuar trabalhando.

Deixou que seu olhar mais uma vez recaísse


sobre a claraboia sobre sua cabeça. Havia perdido
completamente a noção de tempo, pelo pequeno
pedaço de céu que era capaz de visualizar ali em
cima não poderia dizer quantas horas haviam se
passado desde que ela havia sido sequestrada. O
nervosismo um sentimento que já estava se
transformando em algo bastante conhecido deslizou
por sua mente.

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Quanto tempo iria demorar até que algum de


seus conhecidos desse falta de sua presença? A
pergunta ecoou em sua mente de maneira solitária.
Quem iria se importar com seu desaparecimento?
Se fosse sincera consigo mesmo então precisava
admitir que muito tempo teria de se passar até que
alguém notasse realmente sua ausência.

Ela não tinha nenhum contato com seus


vizinhos, trabalhando sempre a noite era difícil
conseguir se lembrar do rosto, ou nomes das
pessoas que moravam próximos a ela. Ela não
havia feito muitas amizades no Dionísio, embora
conhecesse todas as garotas daquele lugar e fosse
simpática com todas, não podia realmente
considerar nenhuma sua amiga. Todas as meninas
que estavam ali, não tinham tempo para criarem
laços ou qualquer coisa do tipo, portanto Amy
duvidava que alguma delas pudesse realmente se
interessar por sua ausência. Talvez Tiziano notasse
sua falta e pudesse ao menos ter algum tipo de
curiosidade a seu respeito? Ela não podia dizia que
conhecia muito o chefe mafioso, mas ainda estava
devendo ele algum dinheiro, talvez ele se
importasse pensando que ela teria fugido, e pudesse
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vir a procurá-la, mas a quem ela estava enganando?


Nenhum mafioso iria brigar com outro por seu
bem-estar. Era mais fácil Tiziano lhe entregar para
Pietro com um laço amarrado em sua cintura se ele
soubesse que teria algum tipo de benefício em
troca. Esse era o tipo de homem que ele era.
Disposto a fazer qualquer tipo de negócio, desde
que tivesse algum tipo de retorno.

O desanimo se abateu sobre ela. Os


pensamentos se desviaram em direção a seu irmão.
Ele era sua única família, a única pessoa que
realmente poderia se preocupar com ela, e tentar
ajuda-la de alguma forma, mas ela não poderia
esquecer que ele havia sido em primeiro lugar a
causa de tudo aquilo que lhe estava acontecendo
naquele momento.

Se não fosse por Peter, e sua estúpida ideia de


roubar um mafioso, então naquele momento ela não
estaria presa, esperando sabe-se que tipo de
conclusão terrível. Amy esperou que a raiva
borbulhasse em seu estômago, correndo como lava
por suas veias, mas tudo o que podia sentir era um
vazio corrosivo em seu peito que parecia ter
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roubado o lugar de seu coração. Ela queria detestar


seu irmão, odiar suas decisões estúpidas e
equivocadas, mas tudo o que podia sentir naquele
momento era uma preocupação genuína. Será que
Pietro havia o encontrado assim como fizera com
ela? Será que seu irmão estaria bem.... Estaria
vivo?

O silêncio cresceu em seus ouvidos enquanto as


intermináveis perguntas permaneciam sem resposta
em sua cabeça. Ela sabia que não podia deixar seus
pensamentos irem em direção ao desespero.
Caminhava numa corda bamba muito estreita, mas
precisava manter o pouco de compostura que lhe
havia sobrado como uma maneira de conseguir
manter sua mente sã e ocupada.

Empurrando os pensamentos desenfreados para


a parte mais afastada de sua cabeça, Amy decidiu
que o melhor que poderia fazer naquele momento
era tentar reconhecer o lugar onde estava e embora
à tarefa parecesse impossível buscar uma forma de
escapar dali. Era isso ou continuar petrificada no
mesmo lugar enquanto esperava seus próprios
pensamentos incoerentes levarem-na a loucura.
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Decidida a garota colocou-se em pé movimento


o corpo dolorido e enregelado, enquanto deixava
que seus olhos corressem livremente ao seu redor.
Ela não havia conseguido observa-lo com clareza
na noite anterior, por isso sentia-se como se tivesse
vendo aquele lugar pela primeira vez.

O lugar não era espaçoso, mas também não


podia chamá-lo de cubículo. Com paredes feitas do
mesmo material do que o galpão fora daquelas
portas, ele se erguia ao seu redor como uma caixa
de metal que já vira dias melhores. As paredes
possuíam um tom velho e descascado de cinza, o
cheiro seco de poeira parecia impregnado no
próprio ar, como se aquele fosse um lugar que não
era usado há muito tempo.

Ao seu redor havia poucas coisas que ela


pudesse notar; uma cama de solteiro estava
encostada na parede mais distante, sem cabeceira
ou qualquer tipo de enfeite, o colchão apresentava
uma aparência bagunçada com edredons e lençóis
jogados dispersamente sobre a cama, como se a
pessoa que fosse dona do lugar tivesse acabado de
se levantar naquele exato momento.
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Na noite anterior Amy havia ignorado


completamente aquele detalhe, com todas as luzes
apagadas e apenas um pedaço da lua para iluminar
aquele lugar, ela havia deixado passar por completo
aquele móvel ou qualquer outro detalhe ali dentro.
Ao lado da cama improvisada, havia um velho
criado mudo de madeira pequeno. Um copo de
água metade cheio permanecia esquecido, assim
como algumas folhas de sulfite e uma caneta
esquecida ali aleatoriamente. A única porta que
havia ali, era a que ela usara na noite anterior. Não
havia banheiros ou janelas. Uma jaula que erguia
suas paredes ao seu redor como para conter um
animal de fugir.

Os pés da garota moveram-se de forma abafada


pelo chão, enquanto cruzava a pequena distância
que a separava do antigo criado mudo. Seus dedos
se fecharam sobre o copo esquecido ali, enquanto
ela o levava em direção aos lábios sorvendo o
líquido tentando aplacar a sede que ardia em sua
garganta. A água escorreu por sua língua quase
como uma carícia embora o conteúdo ali fosse
pouco demais para aplacar sua sede. Passou a ponta
da língua sobre seu lábio enquanto depositava
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novamente agora o copo vazio sobre o criado


mudo. Será que o homem que na noite anterior
havia a prendido naquele lugar, pretendia lhe
torturar daquela forma, matando-a de fome e sede?

Suas memórias evocaram imagens dele na noite


passada, com muita clareza Amy conseguiu
visualiza-lo completamente como se ele estivesse
naquele momento diante dela. Alto e imponente,
sua figura parecia estar mergulhada em sombras,
como se ele fosse feito de tal material, embora seus
olhos reluzissem na escuridão, um farol dourado
ofuscante. O medo deslizou por seu estômago,
como se uma cobra estivesse rondando seu interior.

O que ela iria fazer?

A pergunta rodeou seu cérebro, enquanto a


ansiedade se espalhou por seu organismo,
crescendo gradativamente, sentiu o corpo se retesar
como se de alguma forma ela estivesse esperando
para que o pior acontecesse naquele momento.

Seus pensamentos foram interrompidos quando


ela conseguiu ouvir mesmo que de maneira

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distante, sons de passos e portas se abrindo. Apurou


os ouvidos tentando escutar com mais atenção, os
barulhos se tornaram mais próximos, até que ela
pode escutar claramente o som de uma chave
girando na fechadura, em seguida a porta de metal
de seu quarto foi aberta, enquanto seu captor
entrava ali dentro sem lançar um único olhar em
sua direção.

Amy sentiu o coração explodir em seu peito,


inconscientemente mordeu o lado interno de sua
bochecha, o gosto de ferrugem se espalhou por sua
língua. Sentiu seu calcanhar tocar o pé do criado
mudo em suas costas, como se naquele gesto ela
pudesse se camuflar no ambiente, escondendo-se
do homem diante dela.

A sua frente o desconhecido continuava lhe


ignorando, fazendo apenas que ela se sentisse mais
intimidada. Na noite anterior ele havia parecido
como uma imagem assustadora conjurada de um de
seus pesadelos. Hoje em plena luz do dia, ela podia
perceber quão real ele era.

A aura de perigo pairava ao seu redor ainda, um


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aviso que poderia ser percebido até mesmo pelo


mais incauto. De costas para ela, Amy podia notar
os músculos que formavam sua figura, vestia-se
com simplicidade e completamente em negro.
Camiseta, e calça jeans, os pés exibiam botas do
tipo motoqueiro muito surradas. Uma imagem
completamente oposta, do estilo requintado de
Pietro, o homem que ela havia conhecido na noite
anterior e tinha certeza de que era seu gêmeo.

Ele ergueu o rosto focando seu olhar no seu,


Amy prendeu a respiração por um instante devido a
surpresa. Desejou ser capaz de quebrar aquele
contato, mas sentia-se petrificada demais,
amedrontada demais para fazer algo a não ser
permanecer ali, como uma presa diante de seu
predador.

- Eu trouxe algumas roupas.Vista-se.

A ordem dele soou muito clara dentro daquele


ambiente, sua voz ressoando nas paredes de metal,
com seu sotaque característico. No Dionísio, seu
lugar de trabalho Amy havia ouvido aquela mesma
cadencia de palavras antes, o jeito que as letras
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pareciam serem mais esparsas enquanto se falava,


quase como se ele estivesse lendo um poema. Não
tinha dúvidas de que o homem diante dela, era um
mafioso italiano.

- Você não me ouviu? – perguntou ele de


maneira impaciente – Ou prefere continuar
passando frio?

Amy sentiu sua mandíbula trincar, engoliu as


palavras mordazes que borbulharam em sua língua.
Ela preferia estar em sua casa, muito longe de sua
presença, e esquecer que a noite passada havia
existido. Infelizmente aquilo não era possível.

Fechando as mãos em punhos, a garota ordenou


a si mesma a se controlar. O instinto de
sobrevivência, dizia que a atitude mais sábia a se
fazer era obedecer, ficar em silêncio. Ela não
ganharia nada o desafiando abertamente.

Ela havia ignorado as sacolas que ele trouxera


para dentro do quarto, elas repousavam esquecidas
sobre a cama, deixou que seu olhar caísse sobre
elas, mas logo voltou a encarar o desconhecido em

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sua frente, sentia-se como se precisasse manter sua


atenção constantemente nele, como uma tentativa
estar sempre preparada para se defender.

O primeiro passo que ela deu em sua direção


custou toda sua força de vontade, suas pernas se
recusavam a se mover, enquanto seu instinto lhe
dizia que era uma loucura se aproximar dele.
Mesmo assim ela forçou seus movimentos,
caminhando com lentidão, até estar tão próxima a
ele, que podia sentir o peso de seu olhar sobre ela,
quase como um toque sobre sua pele exposta.
Abaixou a cabeça, deixando que os cabelos
formassem uma cortina diante de seu rosto, forçou
sua mente a se concentrar na tarefa a sua frente.

Sua mão alcançou a sacola mais próxima,


puxou até ele quase despencar pela beirada da
cama, aquilo era o máximo que ela tinha coragem
de se aproximar. Seus olhos fitaram o interior da
bolsa, e ela sentiu o coração despencar em seu
peito.

- Você esteve na minha casa.

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Não era uma pergunta, suas palavras soaram


como uma afirmação, seu tom soando quase
acusativo. Deixou que as pontas de seus dedos
corressem pela textura de suas roupas conhecidas.
O cheiro do amaciante que ela usava chegou até
suas narinas, não deixando dúvidas de que ele
realmente havia mexido em seu guarda-roupa. Por
um momento seu cérebro tentou imaginar a
imagem daquele homem em sua casa, abrindo suas
gavetas, guardando as roupas em uma de suas
sacolas, mas não teve muito êxito.

Com calma ela retirou as roupas que estavam


ali dentro, deixando que elas caíssem sobre a cama
bagunçada. Suas roupas pareceram deslocadas
naquele lugar cercado por metal ao som contínuo
do mar, exatamente como ela se sentia.
Definitivamente ele havia revirado seu guarda-
roupa. Reconheceu a blusa branca de gola alta, que
ela deixava para ser usada apenas em ocasiões
especiais, os vestidos simples de verão, e suas
surradas calças de yoga. Sem chinelos, ou qualquer
outra comodidade, como escova de dente ou
cabelo, mas ela observou que ele não havia
esquecido de trazer sutiã e calcinha.
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Pensar em alguém como ele mexendo em sua


gaveta de peças íntimas foi o suficiente para deixar
seu sangue fervendo. Aquele homem tinha a
audácia de bagunçar toda sua vida, ameaçá-la com
um futuro horrível e mesmo assim ela sentia-se de
mãos atadas. Impotente diante de tudo aquilo.

- Vamos Amy, eu não tenho o dia inteiro.

Os olhos da garota voltaram a se focar no


homem ao seu lado. Detestou ouvir seu nome ser
chamado por ele, como se ele estivesse se
aproximando cada vez mais, e ela não fosse capaz
de manter a distância, daquela figura odiosa; em
suas mãos ele segurava seus documentos. Ela podia
enxergar ali sua identidade, e a carteira de
motorista repleta de pó, esquecida em alguma
gaveta desde o dia em que ela havia sido obrigada a
vender seu carro para pagar as dívidas de seu
irmão. Parecia que nenhuma parte de sua
privacidade havia sido respeitada por ele.

- Pra que você precisa que eu troque de roupas?


Você não pretende me matar de qualquer forma? –
a pergunta saiu rouca de sua garganta, sua voz
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parecia ressequida assim como suas cordas vocais,


como se ela tivesse perdido a habilidade de
articulas as palavras.

Assim que as palavras deixaram seus lábios ela


sentiu a onda de arrependimento lhe atingir em
cheio. Não devia desafiar aquele homem, ou
mesmo lhe perguntar coisas que sabia que não
estava preparada para descobrir a resposta. O que
ela desejava com aquilo? Que ele retirasse a arma
que tinha visto mais cedo de sua cintura e colocasse
uma bala no centro de sua testa?

Sentiu as unhas se afundarem no tecido macio


de lã de sua blusa favorita, enquanto observava o
homem diante dela se aproximar com passadas
decididas; os olhos dele brilharam de forma gélida
enquanto ele abaixava seu rosto, até ela poder sentir
sua respiração tocar o alto de suas bochechas
devido a proximidade.

- Você vai se vestir, porque eu estou mandando,


e seria inteligente da sua parte não tentar contestar
minhas palavras.

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Amy sentiu o medo assim como a raiva se


remexeram no interior de seu estômago, pressionou
os lábios um contra os outros, numa tentativa de
controlar seu temperamento. Ela sempre havia sido
mais esperta do que aquilo. Ela se considerava um
sobrevivente, a vida nunca havia sido fácil,
portanto a única alternativa que lhe sobrara fora se
adaptar. Não sabia por que estava desafiando
aquele homem, sabendo do risco que corria. Seu
cérebro parecia se recusar a se comportar,
assumindo um comportamento agressivo que ela
sempre tinha um extremo cuidado em manter
escondido, talvez o estresse e o nervosismo de toda
aquela situação bizarra, fizesse com que finalmente
ela perdesse o controle. O que definitivamente não
poderia ter acontecido numa pior situação.

- Ao menos eu posso ter alguma privacidade? –


perguntou a garota agarrando a blusa que estava em
suas mãos prendendo em frente ao corpo como se
aquele pedaço de roupa fosse algum tipo de escudo.

Os olhos do desconhecido desviaram de seu


rosto, percorrendo seu corpo com uma lentidão
enervante. Ela reconheceu em seus olhos
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apreciação, e aquilo apenas deixou suas mãos ainda


mais geladas. O que faria caso ele se recusasse a
sair do quarto? Ela trabalhava como dançarina, mas
odiava a forma como os homens olhavam para seu
corpo, como se ela fosse uma posse, um objeto para
ser apreciado. Havia enterrado aquele sentimento
de revolta na parte mais profunda de seu coração, e
agora não conseguia se imaginar abaixando a
cabeça diante daquele homem. Se tinha de morrer
então ao menos seria com o que havia sobrado de
seu orgulho.

Os olhos dele voltaram a se fixar em seu rosto,


a cicatriz tornou-se mais pálida contra sua pele
bronzeada, sua expressão tornou-se feroz, como se
fosse culpa dela o fato dele ter apreciado observa-
la.

- Vista-se – ele respondeu quase um grunhido –


e venha para fora, precisamos conversar.

Sem dizer mais nenhuma palavra observou o


estranho girar em seus calcanhares deixando o
quarto rapidamente, como se não pudesse mais
permanecer um minuto que fosse em sua presença.
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Confusa, e com medo a garota foi deixada para


trás, enquanto sentia como se ela não fosse mais
capaz de controlar sua própria vida.

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Capítulo Nove
Cézare odiou o barulho metálico que ressoou
em seus ouvidos enquanto ele fechava a porta de
seu quarto. Seu. Embora naquele momento ele
estivesse sendo ocupado por uma maldita garota,
que desde a noite anterior não havia sido nada mais
além de um gigantesco pé em suas bolas.

Cansado o rapaz caminhou pelo salão metálico


que usava temporariamente como lar. Ele detestava
aquela cidade. Nova York sempre fora agitada
demais, caótica demais para seu gosto. Sentia falta
do clima quente da Itália, da tranquilidade da vida
provinciana. Ele só conseguia um pouco de
tranquilidade quando estava ali, as beiras do mar o
som das ondas constantemente no fundo de sua
mente, o silêncio que era apenas interrompido
ocasionalmente pela buzina de algum navio que
atracava no portão, e o som das vozes masculinas
trabalhando. Mas, aqueles eram ruídos que ela
podia suportar.

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Frustrado deixou que seus dedos corressem


pelo cabelo bagunçado. Uma dor de cabeça já havia
começado a se formar atrás de seus olhos, o
suficiente para deixa-lo mal-humorado o resto do
dia. Ele não havia conseguido dormir o suficiente
na noite anterior. Depois do telefonema de Pietro,
ele havia esperado os homens de seu irmão
deixarem em sua porta o informante que ele havia
sido encarregado de conseguir informações, e
depois matar. A ordem viera diretamente de seu
Capo portanto ele não tinha o direito de contestar,
ou recusar. O serviço parecia ser simples rápido,
ele havia se acostumado a lidar com aquele tipo de
situação, e mesmo assim nada havia o preparado
para quando aquela garota havia caído de joelhos
no chão, os cabelos loiros reluzindo como ouro na
escuridão noturna.

Cézare sabia que estava simplesmente adiando


o inevitável. Na noite anterior ele havia feito a
escolha de lidar com toda aquela situação na manhã
seguinte. Sentia-se exaurido, as últimas semanas
tinham sido uma completa loucura, ele estivera na
Itália a menos de doze horas, quando fora chamado
para ajudar seu irmão em Nova York, havia pego
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um voo direto, e desde então estivera trabalhando


como um louco, embora em momento algum
tivesse reclamado. Ele sabia muito bem que aquele
era o tipo de atitude que não seria tolerada. No
meio de tudo isso a última coisa que ele precisava
era ter de conseguir informações de uma mulher.
Portanto ele havia simplesmente escolhido que não
iria lidar com aquele problema naquele momento.
O tipo de escolha que ele nunca fazia. Indo contra
todo seu bom-senso ele prendera a misteriosa
garota em seu quarto, enquanto esperava a manhã
chegar, esperando que a luz do sol melhorasse a
situação das coisas.

Aquilo claramente fora um erro. Incapaz de


dormir, já que a única cama em todo aquele
ambiente havia ficado escondida, atrás de uma
porta que ele não tinha nenhuma intenção de abrir,
ele fora obrigado a fazer um travesseiro
improvisado de sua própria blusa e colocar sob sua
cabeça enquanto sentia o frio da madrugada
infiltrar-se pelo chão de cimento extremamente
inapropriado para que ele continuasse deitado ali.
As horas haviam se arrastado como um caramujo, e
quando as primeiras cores cinzentas da madrugada
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tingiram o ambiente ela já estava de pé para


começar seu dia, e cumprir suas obrigações.

Pelo menos ela não havia enchido seus ouvidos


com choros e lamentos durante a noite. Algo que
ele não tinha certeza se era capaz de suportar.

Com um telefonema ele havia conseguido a


informação que precisava para saber, onde os
capangas de seu irmão haviam conseguido
encontrar aquela mulher. As ordens do Capo ainda
ressoavam em seus ouvidos. Alguém havia roubado
seus diamantes, e aquela garota sabia onde
encontrar o culpado assim como as joias que
faltavam. Ele precisava encontrar aquelas respostas.
A qualquer custo. Simples assim.

Portanto aquela manhã ele havia dirigido pela


cidade, até parar em frente a uma casa parcialmente
caindo aos pedaços, num dos bairros mais
perigosos da região. Ele não mesmo havia
precisado arrombar a porta, os idiotas dos capangas
de seu irmão haviam a esquecido aberta, como se
eles precisassem chamar ainda mais a atenção da
polícia.
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Com cautela Cézare havia vasculhado o lugar


de cima abaixo, procurando por respostas, que
talvez aquela garota estivesse disposta a esconder,
mas tudo aquilo havia sido uma perda de tempo.
Ele era muito bom em descobrir segredos, aquele
era seu trabalho, e mesmo assim não havia sido
capaz de descobrir nada realmente significante da
mulher trancada em seu quarto naquele momento.
A única certeza que tinha, era que Amy Jones era
uma pessoa completamente contraditória.

Sentindo a frustração crescer em seu interior,


irritando-o ainda mais, o rapaz voltou seu corpo na
direção da porta fechada em seu quarto, focando
seu olhar sobre o metal envelhecido como se
pudesse ver a figura escondida por trás daquela
porta. Talvez, ele soubesse algo a mais sobre
aquela garota. Ela era terrivelmente teimosa. O que
significava que ele precisaria ser ainda mais
contundente.

Falhar em um serviço para ele, não era uma


opção.

Cézare cruzou os braços sobre o peito enquanto


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pensava exatamente nas informações que possuía


naquele momento sobre Amy. Ela era jovem, os
documentos que encontrara em sua casa, não
pareciam falsificados ou nada do tipo. Pelo que fora
capaz de descobrir trabalhava como dançarina num
clube noturno, chefiado por um dos mafiosos mais
influentes da cidade, embora ele não conseguisse
entender como aquilo era possível. Não que a
garota fosse feia era exatamente o oposto, ele sabia
muito bem que garotas bonitas muitas vezes
costumavam lucrar em casas gerenciadas pela
máfia, que forneciam um tipo de entretenimento
adulto, muito procurado no mundo que ele estava
acostumado a frequentar, mas no caso de Amy ela
não parecia estar recebendo nenhum benefício. Ele
estivera em sua casa, o lugar estava numa condição
deplorável para se dizer o mínimo. Os móveis de
segunda mão enchiam os cômodos apertados, as
paredes exibiam manchas de bolor visíveis, ele
tinha certeza que aquele lugar não via a tinta a
vários anos. Com certeza dinheiro era um tópico
complicado para ela, talvez esse fosse o motivo que
haviam feito ela tomar a decisão de se tornar uma
ladra?

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Os pensamentos se acumularam em sua mente,


enquanto ele tentava descobrir a verdade escondida
por detrás de todos aqueles fatos. A verdade era
que alguém havia sido extremamente ousado em
roubar seu irmão, um erro que essa pessoa não seria
capaz de cometer novamente, e Amy havia sido
incluída nessa situação. Ele havia escutado de
Pietro, que os diamantes haviam sido encontrados
em sua casa, aquilo era o suficiente para incrimina-
la, portanto ela pagaria por aquele crime, mas
Cézare não conseguia deixar de perguntar se
perguntar... Se ela estava em posses dos diamantes
por que também não fugira assim como seu
cúmplice?

Aquele era apenas mais um dos mistérios que


parecia rondar aquela garota, como uma neblina
densa, aguçando sua curiosidade embora seu lado
racional lhe dissesse que nada de bom poderia sair
daquilo.

Ele não deveria interferir, ou se interessar por


qualquer coisa que pudesse desviar sua atenção. O
serviço era sua prioridade. Ponto final.

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Ele sabia disso, sempre soubera e mesmo assim


não era capaz de negar a atração que sentia pela
garota atrás daquelas portas. Como na noite
anterior, desde o momento que ele havia posto os
olhos sobre sua figura, havia sido atraído até ela,
incapaz de perceber quando dera o primeiro passo
em sua direção. Como se uma força desconhecida o
movesse adiante, uma atração tangível, assim como
a lua exercício sobre o mar e suas ondas. Cézare
desprezou aquele sentimento com cada fibra de seu
corpo, sabendo exatamente o quão inútil e
perigosas aquelas sensações eram.

E mesmo assim ele não havia sido capaz de se


conter, apenas algumas horas atrás ele havia estado
em sua casa, tocado em suas coisas, imaginando
como uma garota daquelas viveria num ambiente
como aquele, e quais os motivos fizeram com que
ela acabasse se envolvendo em seu mundo. Ele
havia estado em seu quarto deprimente, sentindo o
leve aroma cítrico que havia emanado de seus
lençóis. Como se tivesse entrando em solo sagrado
ele pisara devagar sobre o chão, enquanto seu olhar
vagava por todos os cantos, gravando cada pequeno
detalhe em sua mente. Escolhera as roupas que ela
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iria usar, imaginando como cada peça ficaria em


seu corpo. Ficara surpreso após abrir seu guarda
roupa e perceber que ali dentro não havia nada de
excepcional. Suas roupas não eram bonitas, e a
maioria tinha uma aparência desgastada e usada,
como se fosse de segunda mão. Ele tinha
imaginado que uma garota bela como ela, gostaria
de se vestir de maneira elegante, para chamar a
atenção, embora roupas e acessórios apenas
servissem como meros coadjuvantes para alguém
com aquele tipo de beleza.

Apenas alguns minutos atrás ele havia sido


completamente atraído por ela, seus olhos fixos em
sua figura, na suave silhueta de seu corpo. Ela não
percebera, enquanto caminhava em sua direção
deixara seu corpo em frente a luz da claraboia, o
tecido malcuidado puído e velho de sua camisola
tornara-se transparente contra a luz, deixando que
por apenas um segundo ele tivesse um vislumbre
que havia ali embaixo enviado para longe todos os
pensamentos em sua cabeça.

A textura de sua pele parecia suave como


veludo, os seios empinados exibiam mamilos
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avermelhados que se destacavam em sua palidez


acentuada, a cintura era fina, ele imaginou que
poderia rodeá-la com ambas as mãos, sem nenhum
esforço. Seu cérebro havia fantasiado com seu
corpo, quando ele estivera naquela manhã em sua
casa, ele havia imaginado ela deitada naqueles
lençóis vagabundos, enquanto suas madeixas
douradas se espalhavam por todo o travesseiro, e
mesmo assim a realidade havia sido melhor do que
qualquer imaginação.

Cézare sentiu a onda de frustração misturada


com raiva aquecer seu sangue. Aquele era
exatamente o tipo de pensamento que ele estava
tentando combater, mas aparentemente sua mente
se recusava a seguir seus comandos.

O desgosto tingiu sua língua com um sabor


amargo, sabia muito bem que naquele momento
estava caminhando por uma linha tênue muito
perigosa, e ele não tinha nenhuma pretensão em
cair no precipício que se estendia a seu lado.

Pois embora ele não pudesse controlar a atração


que não conseguia compreender por aquela garota,
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no fim do dia, isso não significava absolutamente


nada. Suas ordens ainda eram claras em sua
memóias. Ele precisava conseguir respostas, e
quando isso chegasse a um fim, Amy estaria morta.

E aquele era um destino que nem mesmo ele o


Caronte era capaz de mudar.

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Capítulo Dez
Amy permaneceu no quarto silencioso a seu
redor, esperando os minutos se arrastarem
lentamente. Ela não possuía nenhum desejo de sair
daquele lugar, sabendo que lá fora aquele homem a
esperava, mas sabia que não tinha escolha alguma.
Não queria obedecê-lo, mas também não era
corajosa o suficiente para permanecer ali
desafiando abertamente.

Vencida a garota sentou-se na cama quando


sentiu que suas pernas ainda estavam trêmulas. A
simples presença daquele homem do qual ela nem
ao menos sabia o nome era capaz de mexer
profundamente com todas suas estruturas. Um
suspiro cansado escapou de seus lábios, a mecha de
seu cabelo que repousava sobre sua bochecha
ondulou preguiçosamente diante dela. De repente
sentiu uma vontade extrema de tomar um banho.
Sentia-se suja e completamente desgrenhada,
afastou o cabelo que estava em seu rosto desejando
poder lava-lo enquanto se banhava, deixando que a
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água quente massageasse seus músculos tensos e


doloridos. Aquilo lhe parecia um desejo tão
simples, e exatamente por saber disso e não ser
capaz de realizá-lo é que sentiu as garras afiadas da
tristeza cavando em seu coração.

Frustrada a garota deixou que seu olhar caísse


sobre suas roupas que estavam sobre a cama. Não
sentia nenhuma vontade usar nenhuma delas,
exatamente pelo fato de que essas haviam sido
escolhidas por seu sequestrador, mas também não
suportava continuar vestindo a simples camisola
que estava sobre seu corpo. O tecido outrora
branco, agora exibia um tom acinzentado e doentio,
as manchas de sangue haviam tingido a gola
próxima a seu pescoço, dando-lhe uma aparência
horrível. Com rapidez ela se despiu, sentindo o ar
gelado bater em cheio suas costas, deixando os
pelos de seus braços arrepiados. Deslizou o sutiã
por seus braços deixando que o cheiro de roupa
limpa acalmasse seus sentidos em frangalhos. Ela
não desejava usar seu suéter favorito num lugar
como aquele, mas não podia mais negar o frio que
parecia ter se agarrado em seu corpo, afastando
qualquer fagulha de calor para longe dela. Deslizou
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o suéter por seu corpo, sentindo a maciez


aconchegante contra sua pele, o frio pareceu se
abrandar um pouco, enquanto ela escolhia uma de
suas calças de yoga para usar. O tecido estava
gasto, mas não havia perdido seu conforto. Amy
jogou para longe dela a camisola, que ficou jogada
num canto do quarto, como um trapo descartado.

Não havia nada que ela pudesse usar em seus


pés, mas tentou dizer a si mesma, que aquilo era
apenas um desconforto menor, empurrando-o para
a parte mais afastada de sua mente. Correu os
dedos pelas mechas de seu cabelo, trançou-o
desfazendo os nós que haviam se formado numa
tentativa de fazer com que o tempo se esticasse um
pouco mais. Não se sentia preparada para enfrentar
o que estava por trás daquela porta, e embora
soubesse que não poderia continuar ignorando-o
por muito mais tempo, cada minuto que conseguia
prolongar aquilo, era uma tentativa para acalmar os
batimentos desenfreados de seu coração.

A ponta de sua trança caiu sobre seu tórax,


enquanto ela deixava os braços inertes repousarem
descansarem ao lado de seu corpo, seu olhar varreu
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o cômodo ao seu redor, o lugar era pequeno


demais, e ela já começava a perceber cada detalhe
ali, seus olhos se concentraram na luz que vinha da
claraboia sobre sua cabeça. Havia perdido qualquer
noção de tempo, não sabia dizer se era manhã, ou
se aquela era a claridade do fim da tarde. Sentia-se
completamente afastada do mundo que sabia
continuar a funcionar lá fora sem sua presença.

Seus pés se voltaram em direção a porta,


embora ela precisasse usar cada grama de força de
vontade que possuía, para manter-se ali, não queria
continuar em frente, mas sabia que naquele
momento ela não tinha nenhum poder de decisão.
Seus dedos tocaram o metal frio da porta e ela não
se surpreendeu quando a deslizou aberta para o
lado, encontrando a figura de seu captor parado
diante dela, não muitos metros distantes.

Os olhos dele estavam ainda mais brilhantes


sobre a luz do dia, ambarinos como ouro derretido,
e totalmente fixado em sua direção. Amy sentiu seu
corpo se petrificar debaixo daquele olhar, o fôlego
tornou-se mais forte em seu peito, enquanto as
mãos ficavam gélidas e pegajosas com suor. Não
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conseguia imaginar o que poderia estar por trás das


palavras daquele homem. Ela não tinha
absolutamente nada em que pudesse pensar para
discutir com ele, e não conseguia impedir o
pressentimento ruim de deslizar por seus
pensamentos, deixando-a ainda mais nervosa.

Sem dizer uma única palavra o desconhecido


virou-se em seus calcanhares caminhando para a
parede oposta daquele lugar. Amy sabia que ele
queria que ela o seguisse, mas por um momento
ainda permaneceu ali parada, tentando evitar
qualquer tipo de aproximação. Apurou os ouvidos
tentando escutar qualquer som fora daquelas
paredes de metais. Ela sabia que estava em algum
lugar próximo ao porto de Nova York, e agora
conseguia ouvir o barulho longínquo de pessoas
trabalhando. O som das ondas ela ligeiramente
abrandando por eles, embora ainda pudesse ser
ouvido, se você prestasse muita atenção. Por um
momento ela se perguntou se alguém ali nas
proximidades seria capaz de ouvir seus gritos. Eles
iriam ajuda-la? A dúvida rodeou seus pensamentos
deixando as palmas de suas mãos ainda mais
suadas. Ela não era ingênua, sabia que aquele lugar
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era controlado pela máfia. De um ponto de vista


estratégico toda família envolvida no submundo do
crime, controlava algum tipo de operação no porto.
Suas chances de encontrar ajuda ali, eram
pouquíssimas.

Tentando abafar o desanimo que parecia ter se


infiltrado em seus ossos, a garota forçou seus pés a
se aproximarem do homem diante dela, abafando
qualquer outro pensamento ou dúvida que ainda
pairava sobre sua cabeça. Ela ainda estava viva,
portanto naquele momento precisava se concentrar
em continuar dessa forma. Qualquer plano de fuga
poderia esperar.

O som de seus pés descalços soou abafado


contra o chão de cimento, ela se aproximou daquele
homem, embora no fundo tentasse manter uma
distância razoável entre eles. Ele havia empilhado
algumas caixas de papelão uma contra as outras
formando uma pilha de quase base quadrada, sobre
elas com espanto a garota observou alguns pães
ainda quentes, donuts brownies, e até mesmo
muffins de frutas vermelhas que imediatamente
deixaram sua boca salivando de desejo.
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Completamente hipnotizada pela comida, sentiu


o estômago se remexer em antecipação dentro de
seu corpo, ela não conseguia se lembrar qual havia
sido sua última refeição. Mas, agora diante daquele
pequeno banquete não podia deixar de notar a fome
que parecia contorcer suas entranhas.

Uma onda de calor agradável escorreu por seus


dedos, quando ela levantou a cabeça em surpresa
encontrou o olhar desafiador daquele homem fixo
em seu rosto. Ela não havia percebido ele se
aproximar, sem dizer uma única palavra ele
empurrara contra as palmas de sua mão um copo
descartável de papel. O aroma terroso do café
chegou até suas narinas, com cuidado ela rodeou o
copo em suas mãos reconhecendo o logo verde do
Starbucks. Ela também não conseguia se lembrar a
última vez que havia conseguido tomar um café
tranquilamente em qualquer uma de suas lojas. O
dinheiro contado em sua carteira, não lhe permitia
esse tipo de regalia.

Apertando o copo em suas mãos, sentindo o


calor se infiltrar por seus dedos Amy deixou seus
olhos fixos no homem ao seu lado, como se tivesse
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ignorando-a ele bebeu café de seu próprio copo,


enquanto uma careta se formava no final em sua
expressão.

- Horrível – ele comentou, em voz baixa –


Vocês americanos não sabem fazer café.

Amy não respondeu, deixou que seu olhar


repousasse sobre o copo em sua mão. Sentia o
corpo muito tenso, as costas retesadas. Sua cabeça
não podia acreditar totalmente no que estava
acontecendo naquele momento. Ela simplesmente
não podia aceitar que tomar café com aquele
homem, como se ambos fossem velhos conhecidos.
Não depois da noite da noite anterior. Não com o
medo nadando em seu estômago como uma enguia.

Olhando por sobre o ombro, os olhos dourados


dele fixaram em seu rosto enquanto ele dizia:

- Beba Amy. O café vai esfriar.

- É injusto que apenas você saiba meu nome –


disse a garota incapaz de conter a rispidez em seu
tom de voz.

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Amy sentiu seu coração falhar por uma batida


quando percebeu o olhar dele, fixo em sua direção
mais uma vez. Mordeu a ponta da língua como se
para se lembrar de não deixar os pensamentos
chegarem até sua boca com tamanha facilidade.

- Que diferença faz saber meu nome ou não? –


perguntou o homem diante dela, soando de maneira
fria – Isso não muda em nada a sua situação.

Os olhos de Amy se desviaram dele se focando


mais uma vez no copo em suas mãos, o calor havia
se abrandando em seus dedos deixando para trás
uma sensação morna. Ela não podia negar a lógica
por trás daquelas palavras. Saber o nome dele era
apenas um detalhe insignificante, e sem sentido,
como tudo o que estava acontecendo em sua vida,
desde que ela havia sido sequestrada. Talvez ela
devesse parar de se importar tanto com aqueles
detalhes.

- Você tem razão – rebateu ela por fim dando


de ombros, enquanto levava o copo finalmente aos
lábios. O gosto do pungente e encorpado do café
dominou completamente seus sentidos, e ela nem
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mesmo se importar pelo fato de sentir falta de um


pouco mais de açúcar.

- Eu me chamo Cézare Fonezi.

Amy ergueu seus olhos sobre a borda de sua


bebida, surpresa por aquela revelação. Sabia que
ele poderia estar mentindo para ela, mas não
parecia encontrar nenhuma desconfiança por trás de
seu olhar dourado. No canto mais afastado de sua
mente se perguntou se ele estaria revelando sua
identidade, porque não temia que ela pudesse
contar aquilo para alguém no futuro.

- Pensei que você se chamasse Caronte. Foi


dessa forma que eles te chamaram ontem... –
comentou a garota num sussurro de voz. Agora que
finalmente estava sendo capaz de conversar com
outro ser humano, ela percebia como havia sentido
falta de usar sua voz, e como o silêncio tinha sido
até então uma espécie de tortura.

- Caronte é uma alcunha – respondeu, ele sem


lançar um olhar em sua direção enquanto seus
dedos fortes apanhavam, um dos pães sobre a mesa

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improvisada. Havia uma tatuagem de cruz sobre


seu dedo indicador direito, algo que ela não havia
sido capaz de observar na noite anterior.

- O que significa? – perguntou Amy incapaz de


conter sua curiosidade.

- É apenas um personagem mitológico, como


nos livros.

Amy concordou com um aceno de cabeça,


desviando seu olhar para baixo, torcendo para que
ele não notasse o leve rubor que havia surgido em
suas faces. Ela nunca havia sido uma aluna
exemplar na escola. Havia sido obrigada a largar a
faculdade, mas preferia perder um dedo a admitir
que algum criminoso mafioso era mais culto do que
ela.

O silêncio mais uma vez se estendeu entre eles,


como uma névoa pairando ao redor, deixando a
garota apenas mais consciente da presença daquele
homem a seu lado. Ela tentava desviar sua atenção
dele, mas todo seu corpo agia como se soubesse
exatamente onde ele, estava analisando cada um de

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seus movimentos. Atento.

Para focar sua atenção em alguma outra coisa,


ela desviou seu olhar para os pães sobre as caixas,
haviam tantos, com certeza eles não seriam capazes
de comer tudo aquilo. Seus olhos se focaram sobre
o muffin de frutas vermelhas, quando criança
aquele era um de seus doces prediletos. Algo que
sempre fora uma piada interna entre ela e sua mãe.
Nada de chocolates para a pequena Amy. A
lembrança de sua voz carinhosa dizendo tais
palavras ainda era muito vivida em sua mente.

Sentiu o estômago se contorcer num espasmo,


indicando o quão vazio ele estava. Dando um
pequeno passo naquela direção a garota se permitiu
pegar a pequena iguaria contra seus dedos.
Aparentemente ela não precisava se preocupar em
ser envenenada. Tinha certeza que o homem a seu
lado encontraria uma forma muito mais cruel se
quisesse lhe matar. Mordeu o pequeno bolinho
deixando que o açúcar e a docilidade permeassem
toda sua boca. Precisou conter um murmúrio de
satisfação como um ronronado que vibrou em sua
garganta.
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Ela não conseguia se lembrar da última vez que


havia experimentado algo tão delicioso. Nos
últimos dois anos com o dinheiro contato para
pagar as dívidas de seu irmão, ela havia cortado
tudo o que podia para continuar economizando
cada centavo. Em algum momento ela fora
obrigada até mesmo mexer em seu orçamento para
comida. Na maior parte do tempo ela se alimentava
de porcarias que conseguia comprar em promoção,
ou produtos próximos do vencimento. Havia se
tornado uma especialista em fazer pão com geleia e
manteiga de amendoim. Três refeições ao dia
tinham se tornado um luxo do qual ela não podia se
dar durante os sete dias da semana. Suas roupas
começaram a se tornar largas, os ossos de sua
clavícula ficaram evidentes, as outras dançarinas
haviam lhe perguntado que tipo de dieta ela estava
fazendo. Com um sorriso sem graça Amy dissera
que apenas havia aumentado sua carga de
exercícios físicos embora a verdade fosse que ela
não tinha um tostão furado no bolso para pagar a
mensalidade da academia. Todos elogiaram sua
nova forma, mais magra e delgada, enquanto ela
tentava se acostumar com o vazio constante que
havia em seu estômago.
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Havia prometido a si mesma que quando


finalmente tivesse pago a dívida de seu irmão, iria
se dar ao luxo de comer um prato chique e
requintado no restaurante italiano que ficava sobre
o Dionísio. Na maioria das vezes quando chegava
para trabalhar, o cheiro de molho de tomate,
macarrão e massa assando no forno assaltava todos
seus sentidos, fazendo com que ela até mesmo
chegasse a sonhar com aquela comida. Um sorriso
entristecido brincou em seus lábios enquanto ela os
limpava com a costa de sua mão, o excesso de
açúcar que ficara ali. Muito provavelmente ela
nunca mais seria capaz de voltar naquele
restaurante. Talvez aquela ali estivesse sendo sua
última refeição.

O pensamento amargo estragou o gosto


delicioso de seu muffin, e ela perdeu o apetite
enquanto observava o pequeno pedaço que havia
sobrado em sua mão esquerda.

- Você disse que precisávamos conversar –


Amy ficou orgulhosa ao ouvir o som de sua própria
voz soar de maneira clara e controlada. Por dentro
ela sentia-se como se estivesse desmoronando em
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silêncio. Implodindo. Seus nervos haviam atingido


o ponto máximo de estresse que ela poderia
suportar. Independentemente do quão horrível fosse
o que aquele homem tinha para lhe dizer, ela estava
cansada de esperar.

Erguendo seu rosto ela encarou o olhar


indecifrável de Cézare Fonezi fixo em seu rosto, e
se preparou como podia para o pior.

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Capítulo Onze
- Onde estão os diamantes?

A voz dele soou de maneira controlada,


profissional distante, quase como se ele estivesse
lhe perguntando como estava o dia lá fora, ou que
horas eram no relógio.

O coração de Amy retumbou em seu peito


como um tambor, seus dedos largaram os restos do
muffim junto com os outros pães esquecidos sobre
as caixas diante deles.

- Eu não sei – respondeu a garota, sabendo que


sua honestidade não era aquilo que ele estava
buscando. Ele não iria acreditar em suas palavras.

Ergueu os olhos desafiando seu olhar. A


semelhança dele com Pietro, chegava a ser
assustadora. Se não fosse por suas cicatrizes pálidas
que cruzavam seu rosto, ela se perguntava se seria
capaz de distinguir um do outro. A dor pareceu se
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irradiar sobre sua bochecha, uma lembrança da


noite anterior que havia ganhado de seu irmão. Ele
também não havia acreditado nela, talvez o homem
diante dela também fosse reagir da mesma maneira.
Com violência.

- Resposta errada Amy. Vamos tentar mais uma


vez. Onde estão os diamantes?

O medo apertou ainda mais suas entranhas, ela


esperou que ele se aproximasse dela e lhe atingisse
com um golpe, apenas para deixar claro seu
descontentamento. Mas, ele simplesmente
permaneceu parado, terminando de beber o resto do
seu café, como se tivesse todo o tempo do mundo, e
eles estivessem tendo uma agradável conversa.

- Você não acredita em mim, mas eu não sei.


Realmente não sei onde estão os outros diamantes.
Eu nem ao menos sabia da existência deles em
primeiro lugar.

- Seu cúmplice não lhe explicou o tamanho da


quantia em dinheiro que ele estava roubando? –
perguntou Cézare erguendo uma sobrancelha

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morena em incredulidade – Você precisa escolher


melhor seus parceiros no crime.

Os dentes dela doeram enquanto ela apertava a


mandíbula de maneira muito firme para não dar
aquele mafioso, uma resposta entrecortada e
nenhum um pouco educada.

- Você pode dizer o que quiser, mas isso não


muda o fato de que eu não sei onde estão seus
diamantes.

- Talvez então eu deva mudar minha pergunta.


Onde está seu cúmplice? Tenho certeza que seu eu
o encontrar irei descobrir onde estão os o resto dos
diamantes.

Amy sentiu como se seu coração tivesse parado


em seu peito, o fôlego ficou preso em sua garganta,
deixando sua respiração esparsa. Ela nem ao menos
conseguia imaginar o que um homem como Cézare
Fonezi faria se encontrasse seu irmão.

O horror deslizou por sua pele como se fosse


um manto, todo o calor que o café havia deixado
sobre suas mãos foi levado embora, que se
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tornaram mais uma vez gélidas e trêmulas.

A parte racional em sua mente, dizia que ela


poderia lhe dar qualquer resposta. Eles precisariam
conferir se sua informação era verdadeira, e ela
usaria aquele momento para escapar, pois sabia que
quando ele descobrisse que havia sido enganado
voltaria para ela e tinha certeza que ela não
demonstraria nenhuma misericórdia. Era algo
arriscado demais, desesperado demais para se fazer.
Algo se agitou em seu interior de maneira
desconfortável, um sentimento desconhecido
enquanto o instinto de sobrevivência lhe dizia para
que ela entregasse seu irmão. Depois de tudo o que
ele havia feito, Amy sabia que era uma tola por
continuar a defende-lo. A lealdade que ela tinha
com Peter até aquele momento só havia feito com
que ela se prejudicasse no final. Ela realmente
estava disposta morrer por um erro que seu irmão
havia cometido?

- Eu já disse – respondeu por fim a garota


sentindo completamente derrotada – Eu não sei
onde ele está... Ele me disse apenas que iria sair da
cidade. É só isso que eu sei.
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As palavras dela lembravam cinzas em sua


boca. Contrariando qualquer instinto que se agitava
em seu interior, ela sabia que não podia entregar
seu irmão. Em sua mente, ela podia imaginar o
lugar para onde ele teria fugido, mas sabia que
jamais seria capaz de entregar essa localização para
Cézare. Ao menos se tivesse de morrer, seria com
sua consciência tranquila de que não havia traído
sua única família no mundo, embora no fundo isso
não lhe servisse muito de consolo.

- Você está apenas dificultando as coisas para


você.

Amy sentiu um calafrio escorrer por suas costas


enquanto as palavras de Cézare pareciam martelar
em seus ouvidos. Talvez ele não tivesse a intenção
de dizer aquilo como uma ameaça, mas a garota
não podia não se sentir intimidada, enquanto ouvia
as nuances perigosas escondidas em sua fala.
Cézare Fonezi, apenas estava lhe avisando o óbvio.
Que enquanto ela permanecesse calada, estava
apenas se colocando em perigo. Do tipo que ela não
era capaz de evitar.

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A garota tentou desviar seu olhar que


continuava fixo em seu rosto. Ele a encarava
abertamente, de forma avaliativa, como se tivesse
pesando cada palavra que ela havia lhe dito até
aquele momento, tentando decifrar se era verdade
ou não.

Amy sabia que não havia nada que ela pudesse


fazer, além de sustentar seu olhar inquisidor, estava
dizendo a verdade. Mas aquilo não era o suficiente.
Nem de perto. A frustração queimou em seu peito,
enquanto ela se revoltada contra a injustiça de toda
aquela situação da qual ela nunca havia desejado
fazer parte.

- Você está protegendo seu cúmplice – disse


Cézare de maneira muito séria – Acha que ele faria
o mesmo se tivesse em seu lugar?

- Provavelmente não – respondeu a garota,


enquanto um sorriso triste brincava em seus lábios.
Peter era seu irmão mais velho, mas ela
simplesmente não conseguia imagina-lo se
sacrificando de alguma forma para protege-la.

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- Então por que o protege? Acabe logo com


isso, me diga onde estão os diamantes. Mais cedo
ou mais tarde eu irei conseguir uma resposta sua.
Esse é meu trabalho.

Enquanto conversavam, Amy percebeu ele se


aproximar em sua direção. Sua figura pairando
sobre ela, deixando evidente a diferença em suas
estaturas, por um momento ela tentou imaginar
quais seriam suas chances se ela tentasse atacar um
homem como ele. Os músculos em seu tórax não
eram disfarçados pela camiseta comprida negra que
ele usava. Os braços torneados, deixavam bem
claro que ele era o tipo de homem que estava
acostumado a usa-los. Daquela pequena distância,
ela podia enxergar cicatrizes finas e irregulares
sobre os nós de seus dedos. Definitivamente ele era
um homem que as usava com frequência. Para
promover dor. Aquelas eram as mãos de um
lutador.

- Faria alguma diferença? – perguntou a garota


num fio de voz, incapaz de saber se ele podia ouvi-
la. – Eu sei muito bem, o que você fará comigo
depois que conseguir sua resposta.
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A voz dela tremeu no final, o coração batendo


em sua caixa torácica como uma borboleta
assustada, tentando desesperadamente escapar dali.
Por um instante um riso insano cresceu em sua
garganta. Ela jamais teria imaginado, que teria a
frieza necessária para falar daquela maneira com
um mafioso. Ela sabia muito bem o que havia
escondido por trás das palavras de Cézare, mesmo
que ele não tivesse lhe dito com todas as letras, eles
estavam discutindo a respeito de sua morte. Aquele
homem não parecia ter nenhum tipo de desejo de
esconder que seria seu assassino.

Ao menos ele não havia mentido para ela,


olhando de maneira prolongada, deixando que o
silêncio se arrastasse entre eles, ela tentava decifrar
o olhar por trás daquelas gemas ambarinas. Era
somente nos olhos notou Amy por fim, que ele se
diferenciava de seu irmão gêmeo. Embora a
coloração fosse extremamente semelhante, ela se
lembrava do medo que sentira ao olhar nos olhos de
Pietro, tão claros e ao mesmo tempo
completamente vazios. Como se não houvesse
absolutamente nada escondido ali. Nenhuma
emoção.
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Por outro lado, seu irmão marcado por


cicatrizes, parecia esconder uma imensidão de
sentimentos não revelados dentro de seu olhar.
Sentimentos esses que Amy não era capaz de
nomear.

- Há maneiras de que o processo não seja


doloroso – respondeu Cézare, desviando o olhar
dela pela primeira vez – Se me der o nome de seu
cúmplice, e me disser onde estão o resto dos
diamantes eu posso prometer que serei
misericordioso.

- Mesmo depois de conseguir sua resposta, você


ainda vai me matar?

- Sim – respondeu ele simplesmente. Não


parecia haver nenhuma emoção em sua voz.

- Por que? – perguntou a garota odiando o fato


de como sua voz pareceu se quebrar e soar de
maneira chorosa naquele lugar frio e metálico. –
Você não acredita em mim, mas eu sou inocente.

- Eu acredito que você seja inocente –


respondeu Cézare sinceramente a surpreendendo –
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Mas, também acredito que você está protegendo


alguém, e não me diria mesmo que soubesse seu
paradeiro. Eu não faço as ordens, apenas as
cumpro.

- Você não liga então de me matar? Você é


realmente um monstro.

- Eu sou Caronte – respondeu o rapaz dando-lhe


os ombros, como se eles estivessem discutindo
sobre o tempo – Eu apenas obedeço às ordens do
Capo, e ele quer você morta.

As lágrimas arranharam sua garganta, fazendo


com que ela ardesse, Amy engoliu o soluço com
força fechando as palmas de sua mão em punhos
apertados. O ódio e o horror queimaram suas
entranhas, naquele momento a única coisa que
desejava era poder ser capaz de tirar a expressão
neutra que pairava sobre o rosto do homem diante
dela.

Sua vida não lhe significava nada, sua


existência para ele era apenas um trabalho que ele
precisava cumprir e nada mais.

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Ele se aproximou ainda mais dela, o medo


agarrando-se em seu interior, ele cruzou os poucos
metros que os separavam, assomando
completamente em sua frente. Incapaz de conseguir
detê-lo, sentiu a mão dele tocar seu queixo,
erguendo seu rosto, até que a única coisa que ela
pudesse observar fosse sua face. As lágrimas
deixaram seus olhos úmidos, ela piscou para afasta-
las sentindo suas gotículas ficarem presas em seus
cílios.

- Você não precisa sofrer – disse Cézare de


maneira muito séria, quase pesarosa – Pode ser
rápido, indolor.

Amy rangeu os dentes, e tentou endurecer seu


olhar, ela tremia como uma vareta ao sabor do
vento, mas obrigava a si mesma a se manter em pé,
enfrentando aquele homem da maneira que podia.
Não sabia o motivo, mas ela se agarrava com todas
as forças que haviam lhe restado ao pequeno
pedacinho de orgulho que havia lhe sobrado.

- E se eu me recusar? – perguntou a garota num


sussurro, sabendo que não gostaria de escutar sua
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resposta.

- Então eu irei tortura-la, até você entregar a


resposta que eu preciso.

O aperto dele em seu queixo tornou-se mais


intenso, quase doloroso ela tentou empurra-lo para
longe, mas era como suas mãos tivesse tentando
mover uma montanha. Ela simplesmente não tinha
forças o suficiente.

- Você já quebrou um braço? – perguntou


Cézare tranquilamente – Uma perna? Sabe como é
essa dor? No primeiro momento, ela tira todos os
pensamentos de sua cabeça rouba seu fôlego,
latejando em lugares que você nem imaginava
possível. Depois todo seu membro fica adormecido
inutilizado. Sabe qual é a sensação de ter um
membro que você não consegue mover?

O horror descrito em suas palavras penetrou em


sua mente, deixando seus pensamentos caóticos,
imagens de ossos se partindo, sangue e milhares de
outras coisas terríveis, nadavam em seu cérebro.

Usando a mão livre Cézare agarrou seus pulsos


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imobilizando-a trazendo seu corpo, até que ele


estivesse escorado no dele, seus rostos distantes
apenas por um fio de cabelo. Amy sentiu o polegar
dele pressionar seu lábio inferior, seus olhos fixos
em sua reação, dourado fulgurante. Medo e
antecipação faziam seu coração bater como um
louco.

- Posso fazer o que quiser com você – sussurrou


ele, contra seus lábios – Sou um homem Amy, que
não possui escrúpulo algum, posso te torturar da
pior maneira possível para uma mulher. É
realmente isso o que você deseja?

- Não.. não é isso.

- Então me responda onde estão os diamantes?

Uma lágrima silenciosa rolou por seu rosto


ardendo sua bochecha molhando o toque dele sobre
sua pele. A parte racional em seu cérebro dizia que
ela estava cometendo uma insanidade. Ela
precisava lhe dar uma resposta. Qualquer resposta,
mesmo que isso colocasse seu irmão em perigo.
Mas, seu coração batia de forma dolorida em seu

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peito. Se ela o traísse então o que aconteceria com


ele? Ela poderia viver sabendo das consequências?

Fechando os lábios numa linha muito fina Amy


balançou a cabeça numa negativa quase
imperceptível, os olhos de Cézare se tornaram mais
brilhantes, ela acreditou que não fosse capaz mais
de suporta-lo. Era como tentar olhar o sol
diretamente.

- Se é assim que você deseja, então lembre-se


quando eu tiver acabado que essa foi uma decisão
sua.

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Capítulo Doze
Cézare tentou conter a fúria que rugia em seus
ouvidos, o sangue parecia correr de maneira
desesperada em suas veias, deixando seus
pensamentos fora de foco. Controlou a força em
sua mão tentando não machucar a mulher diante
dele. As marcas da mão de Pietro ainda podiam
serem vistas sobre o rosto dela. A mancha
arroxeada se estendendo por sua bochecha, de
forma muito visível por sua pele pálida. Ele sabia
que não havia nenhuma necessidade para que seu
irmão tivesse acertado seu rosto, mas ele conhecia
o Capo bem demais. Pietro gostava de destruir
coisas bonitas, e ele se perguntara se algum dia
chegara a enxergar algo mais bela do que a mulher
que naquele momento tinha em seus braços.

Quando ela saíra de seu quarto, trajando apenas


uma blusa branca, e calças apertadas que se
agarravam ao contorno de seu corpo, por um
momento ele chegara a pensar que não seria capaz
de se conter. Desde a noite anterior, e mais cedo
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aquela manhã a necessidade de toca-la parecia ter


crescido dentro de seu peito. Uma sensação da qual
ele não podia se dar ao luxo de experimentar. Suas
mãos estavam repletas de sangue, e serviam para
um único propósito. Conceber dor. Ele não sabia o
motivo pelo qual seu corpo ansiava tocar aquela
mulher, mas sabia que não podia confiar naqueles
instintos. Ele precisava manter sua mente focada,
porque mais cedo ou mais tarde, ele precisaria toca-
la, e sabia que ela não sentiria nenhum prazer nisso.

Como uma elegância natural, ela caminhara em


sua direção, passos curtos desconfiados. Ele podia
enxergar o medo estampado em seus olhos azuis,
embora soubesse que ele batalhava constantemente
com aquele sentimento, tentando esconde-lo
distante de seu rosto sua expressão. Mas, Cézare
era experiente, ele havia observado o medo em
todas as suas formas.

Ela não pertencia aquele lugar, aquele mundo.


Sua figura era graciosa demais, esbelta demais, ele
podia imagina-la facilmente cuidando de uma casa
confortável, enquanto seu marido trabalhava em
algum lugar sofisticado o suficiente para que ele
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fosse obrigado a usar uma gravata. Duas crianças


ao seu redor, que teriam os mesmos cabelos
dourados que ela. E mesmo assim ali estava ela,
rodeada por paredes de metais enferrujados,
estampando a marca da violência em seu rosto. Que
erros aquela garota teria cometido, para que sua
vida tivesse saído tão completamente fora de seu
controle?

As perguntas rodearam sua mente se


acumulando, em silêncio ele havia observado cada
pequena reação dela. A mulher se comportava
como um animal acuado, evitando se aproximar
dele, ao menos nisso ele podia enxergar alguma
sensatez. Era bom que ela o temesse, que soubesse
o perigo que corria, isso demonstrava que ela não
era uma tola completa. Ao menos ele tinha acredito
nisso, até que começara a sondar mais sobre sua
vida. Tentando fazer seu serviço. Buscando a
informação que precisava entregar a seu chefe.

Aquilo havia o deixado extremamente irritado.


Aparentemente Amy não era tão esperta quanto ele
tinha acreditado no princípio. Ela sabia sobre os
diamantes, e definitivamente estava protegendo
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alguém. Um homem pelo qual ela estava disposta a


morrer para proteger seu segredo. Ele não sabia se
considerava aquilo extremamente valente ou
estúpido. Fosse o que fosse no final não faria
diferença alguma.

Ela era uma tola se achava que mesmo após


tudo aquilo Pietro iria demonstrar algum tipo de
piedade. Ele estava atrelado a seu juramento, uma
promessa que ele não podia quebrar. As ordens do
Capo eram absolutas e ele precisava cumpri-las. A
garota diante dele pelo visto não havia sido capaz
de compreender isso.

Ela dissera que não sabia onde estavam os


diamantes, e Cézare havia acreditado. Não havia
mentiras nadando em seu olhar azulado, enquanto
ela o sustentava em sua direção, apenas desespero.
E mesmo assim ele sabia que as coisas não eram
tão simples. Amy podia não saber onde estavam os
diamantes e seu cúmplice, mas o homem que ela
estava protegendo claramente significava algo em
sua vida. Com certeza ela não iria tão longe por um
desconhecido, ou mesmo um simples parceiro de
crime.
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Naquele momento Cézare havia sentindo como


se a raiva tivesse borbulhado em seu peito, uma
sensação opressora havia se apoderado de sua
mente, e ele precisara usar todo seu autocontrole
para conter sua fúria.

A garota era uma tola por defender um homem


que claramente não se importava com ela. Um
homem que nem ao menos parecia perceber que ela
não estava se alimentado direito. Ele havia notado
os ossos saltos em sua clavícula, e sua cintura fina,
mas havia acreditado que aquela era apenas sua
escolha para manter um corpo atraente, não
entendia absolutamente nada sobre padrões de
beleza, mas até mesmo ele sabia do senso comum
que mulheres estavam sempre preocupadas com o
fato de estarem acima do peso, mas ele era capaz de
reconhecer o olhar de fome, vidrado e desejoso que
havia observado em seu olhar quando ela percebera
o café da manhã diante deles.

Ela havia devorado o pequeno muffim, como se


tivesse literalmente experimentado um banquete
suntuoso. Por um momento Cézare apenas foi
capaz de olhar em sua direção e imaginar que seus
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lábios naquele momento estariam tão doces como


açúcar.

Ele não sabia o motivo, mas aquilo o irritara


profundamente. Como uma garota que havia
roubado diamantes, estava passando fome? Aquela
história simplesmente não parecia fazer sentindo
algum.

Nada sobre aquela garota parecia ter coerência


alguma, e aquilo apenas servia para deixar Cézare
ainda mais irritado. Ele precisava cumprir sua
missão. Encontrar as respostas que Amy protegia
de maneira tão ferrenha. Ele havia a ameaçado
claramente, e pudera ver o medo crescer em seus
olhos até deixar que eles ficassem grandes demais
para seu rosto.

Sabia que ela compreendia o perigo que ele


representava, ao menos nesse ponto ela não era tão
ingênua, mesmo assim ela não havia cedido, e
mesmo contrariado Cézare havia admirado sua
coragem. Embora ele tivesse deixado muito claro
qual seria seu destino, ela não havia lhe pedido
misericórdia uma única vez que fosse.
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Ele era um assassino, uma máquina moldada


durante toda sua vida apenas para cumprir as
ordens dadas, e proteger sua família, ele já perdera
a conta de quantas vidas haviam sido ceifadas por
suas mãos, e elas não passavam disso, um número
esquecido em algum canto de sua mente. Estava
acostumado a receber pedidos de misericórdia, no
fim todos imploravam, por mais tempo, por
compaixão, pelo fim do sofrimento, mas a garota
diante dele havia permanecido em silêncio
enfrentando-o de cabeça erguida. Como uma
donzela das antigas histórias mitológicas que se
colocava diante de um monstro, prestes a se
sacrificar para salvar uma cidade inteira.

Tão bela e mortal.... Ingênua.

Sentindo o corpo dela contra o seu, a maciez


delicada de sua pele Cézare apertou ainda mais o
corpo daquela garota contra o seu, sentindo o calor
dela deslizar por sua pele, uma sensação inebriante.
Inédita.

Os olhos dela estavam arregalados em terror,


fixos em seu rosto, os esforços que ela fazia para se
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libertar eram inúteis. Em alguma parte de seu


cérebro, algo lhe disse que ele estava ultrapassando
uma linha proibida, tomando-a em seus braços
daquela forma, mas naquele momento ele não
conseguia se importar menos. Ele iria cumprir sua
missão, e também ensinaria aquela garota, o
verdadeiro significado da palavra terror. Ele era
capaz de reconhecer um espírito guerreiro quando
encontrava um, e aquela garota estava disposta a
lutar até o final. Por que ela ainda tinha esperanças
de conseguir sair daquela situação, de vence-lo, de
voltar a ser livre. Ela acreditava que por que
conhecia um pouco de dor então seria capaz de
suporta-la.

O polegar dele pousou sobre seus lábios


partidos, a respiração quente dela tocando a ponta
de seus dedos, ela nunca havia parecido mais bela
do que naquele momento. Indomável...

Ele iria mostrar a ela quão vãs podiam serem


suas esperanças. Ele iria lhe provar como ela estava
errada.

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Capítulo Treze
Os lábios dele se fecharam sobre os seus com
violência. A surpresa não permitiu que ela fechasse
seus olhos. Paralisada sentiu o corpo ser inundado
por uma avalanche de sentimentos tão intensas que
ela não podia distingui-los. Havia medo, mas
também prazer. O coração batia em seu peito de
maneira descontrolada, de tal forma que ela podia
sentir os batimentos como um eco em seus lábios,
pressionados pela maciez dos lábios de Cézare. Os
lábios dele eram completamente diferentes de suas
mãos, eram suaves.... Cálidos, ela não podia
acreditar que algo naquele homem pudesse ser tão
macio.

Os lábios dela se moveram como se tivessem


criado vida própria, reagindo ao instinto ela não
sabia dizer, a língua dele deslizou pela sua,
enquanto um gemido suave ecoava em sua
garganta. Ainda de olhos abertos tudo o que Amy
podia fazer era observa-lo, a concentração que
vincava sua testa, o jeito que o cabelo dele caia
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sobre seu rosto, tocando levemente sua testa. Sentiu


uma de suas mãos se libertarem, então os dedos
dele estavam sobre seu cabelo, moldando sua
cabeça para que ele pudesse aprofundar o beijo.

Assim como havia começado Cézare a


empurrou, segurando-a diante dele pelos ombros,
enquanto sua face exibia uma expressão raivosa. Os
olhos dele estavam arregalados, o negro de sua
pupila havia engolido o amarelo dourado, os lábios
masculinos estavam vermelhos, inchados, ela ainda
podia sentir sobre os seus o toque de seu beijo,
como se ele tivesse deixado ali uma marca.

A respiração acelerada dela ecoou pelo salão,


ressoando nas paredes de metais ao redor, o mundo
parecia um lugar tão silencioso, como se eles
fossem seus únicos habitantes. Os dedos de Cézare
cavaram ainda mais sobre seus ombros, mas ela
mal pode registrar o incômodo, diante dela, ele
parecia um homem atormentado, dividido entre a
vontade de se afastar dela, e traze-la para mais
perto.

Por fim, a última vontade foi escolhida.


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Amaldiçoando em sua língua estrangeira, ele


enlaçou novamente sua cintura, beijando-a mais
uma vez. Amy esperou que ele continuasse com seu
ardor, mas por um único momento a única coisa
que ele fez foi escovar os seus lábios contra os dela.
Delicadamente numa tortura agonizante. Sentiu as
pálpebras se fechando, deixando apenas que seus
outros sentidos aproveitassem aquele momento. O
toque delicado de suas mãos em sua cintura, o calor
de seu corpo que a aquecia por completo, o cheiro
de fresco que emanava de sua camisa.

Ele beijou-a com lentidão, destreza, a língua


dele percorreu sua boca com cautela, quase como
se ele precisasse se certificar de que aquele beijo
era real.

A parte racional em seu cérebro lhe dizia que


aquilo era errado. De todas as formas possíveis,
mas como ela poderia dar atenção aquela voz
naquele momento, quando essa parecia tão
longínqua?

Para seu corpo, tudo aquilo parecia ser a coisa


certa a se fazer. Ela beijou-o de volta com uma
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ânsia que não sabia conter dentro de si, deixou que


suas mãos corressem, enlaçando-o pelo pescoço,
usando ele de apoio para permanecer de pé. Tinha a
nítida impressão de que se ele a soltasse naquele
momento, ela cairia no chão.

Nunca havia sido beijada daquela forma, nunca


quisera tão desesperadamente sentir o toque de uma
pessoa em seu corpo, precisar da própria presença.

O prazer era uma droga em seu sangue,


nublando seus pensamentos, deixando-os lentos e
desconexos. Por um momento ela apenas desejou
que aquele beijou embora errado, durasse para
sempre.

Cézare afastou-se dela mais uma vez, agora até


mesmo a respiração dele estava acelerada. Eles se
encararam por um instante, compartilhando a
mesma respiração, as palavras entre eles ficaram
suspensas. Eles se entreolharam por um longo
momento, até a respiração de ambos voltar a ser
controlada, até que apenas silêncio ressoasse ao
redor deles.

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Amy fechou os lábios, sentindo o quão sensível


eles estavam. Desejou que ele lhe dissesse alguma
coisa, qualquer coisa seria melhor do que aquele
silêncio opressor, mas ele continuou em silêncio
enquanto ela observava seu olhar dourado se
preencher com milhares de sentimentos que ela não
podia compreender.

As mãos de Cézare caíram de seu corpo, ele


deu um passo para trás, depois mais outro, até que a
distância entre eles tivesse aumentado
consideravelmente. Sem saber o que dizer, falar, e
até mesmo sentir, a garota observou enquanto ele
girava em seus calcanhares e sair dali, se nem
mesmo lançar um segundo olhar em sua direção.
◆◆◆

O tempo transcorreu com a lentidão de um


caramujo que tentava atravessar uma planície
imensa. Trancada ali, sozinha e sem absolutamente
nada para fazer a garota chegou à conclusão de que
enlouquecer era apenas uma questão de tempo.

Ela permaneceu exatamente no mesmo lugar


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onde Cézare havia a deixado por um longo tempo,


olhando o espaço vazio diante dela, enquanto todos
seus sentidos se recuperavam lentamente da imensa
descarga de sensações que percorrera seu corpo.
Ergueu as mãos tocando da maneira mais suave
possível os lábios doloridos; eles ainda estavam
trêmulos entumecidos, imaginava que naquele
momento se olhasse sua imagem no espelho iria
encontra-los vermelhos e inchados, e mesmo assim
a sensação do beijo havia sido extremamente
prazerosa. Como algo tão errado quanto aquilo
podia ser tão bom ao mesmo tempo?

Perplexa consigo mesmo, e com o que acabara


de acontecer Amy sentou numa das caixas de
papelão que continuavam espalhadas por aquele
lugar. Não tinha ideia alguma do que elas
continham mas ficou feliz quando percebeu que
elas iriam sustentar seu peso. Sua mente naquele
momento, era um caos generalizado, uma parte de
seu cérebro havia começado um interminável
sermão sobre más escolhas e péssimas decisões,
enquanto o resto dele reprisava de maneira infinita
o beijo que Cézare havia acabado de lhe dar.

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Apenas a mera lembrança daquele ocorrido era


capaz de causar uma reação física em seu corpo.
Ela duvidava que seria capaz de esquecer as
sensações que aquele homem havia despertado em
seu corpo.

O pensamento deixou que um sorriso triste


brincasse em seus lábios, enquanto o desespero que
havia sido esquecido por um momento voltara a
atormenta-la com força total. Como ela podia ser
tão estupida? Quão ingênua ela precisava ser para
esquecer tudo o que aquele mafioso lhe dissera e
continuar ali fantasiando com seus beijos? Ele não
medira suas palavras, e havia deixado muito claro
qual o papel dele em seu destino.

A única pretensão que ele tinha era de matá-la.

Cansada, Amy cobriu o rosto fechando os olhos


desejando que pelo menos por um instante seus
pensamentos soassem mais baixo dentro de sua
mente. Ela precisava encontrar uma saída daquela
situação, e simplesmente não podia se dar ao luxo
de desistir. Se ela fizesse isso então o que iria lhe
sobrar?
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Levantando-se de uma vez, a garota disse a si


mesma que iria usar aquela oportunidade para
descobrir mais a respeito do lugar onde ela estava.
Ela duvidava que Cézare pudesse ter ido muito
longe, ele sabia que não era sensato deixa-la
completamente sozinha por muito tempo, portanto
ela precisava aproveitar aquele momento da melhor
forma possível.

Amy deixou que seus olhos vagassem mais uma


vez por aquele lugar, fitando a mesma imagem
desanimadora da noite anterior. Com exceção das
pilhas de caixas espalhadas pelo local, não havia
absolutamente mais nada ali dentro. Por um
momento ela contemplou a ideia de buscar algo
para abrir alguma daquelas caixas, e descobrir se ali
dentro haveria algo que ela pudesse usar para
escapar dali. A ideia brilhou em sua mente, mas por
fim a garota a descartou com um pequeno aceno de
cabeça. Se ela não conseguisse escapar dali, então
sabia que não teria como explicar para Cézare que
ela estivera em sua ausência, xeretando por todo o
ambiente. Com toda certeza ele não iria ficar nem
um pouco contente com aquilo.

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Decidiu que o melhor que poderia fazer naquele


momento era explorar o lugar. Na noite anterior ela
estivera apavorada demais para notar qualquer
coisa, mas agora que estava sozinha precisava
manter sua mente focada, e dar algo para que ela
pudesse se concentrar enquanto tentava esquecer o
que havia acabado de acontecer entre ela e o
mafioso italiano.

Com cautela Amy contornou as caixas


apurando os ouvidos tentando prestar bastante
atenção aos sons ao seu redor. Ela não pretendia ser
surpreendida, então decidiu que faria um
levantamento de toda a área de maneira rápida e
eficiente.

Seu olhar era constantemente atraído pelas


imensas janelas que ficavam muito acima de sua
cabeça. Aquela era a única entrada de luz do local,
se pudesse alcançar qualquer uma delas, poderia
quebrar o vidro facilmente e escapar daquele lugar,
mas elas se encontravam muitos metros acima de
sua cabeça, e não havia nada naquele ambiente que
ela pudesse usar como uma escada.

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Pousou a mão espalmada sobre o metal frio que


formavam as paredes ao seu redor, todo aquele
lugar lhe lembrava uma imensa caixa fechada,
como um contêiner. Tentou espantar a leve
sensação claustrofóbica que sentia quando deixava
os pensamentos se guiarem naquela direção.
Espirou fundo e se concentrou no som de sua
respiração ecoando em seus ouvidos. Debaixo de
seus dedos o metal parecia gélido como a neve,
imaginou que poderia permanecer ali por horas até
que alguém notasse que ela estava naquela
armadilha gritando por socorro.

Mordendo levemente o lábio inferior, Amy


ordenou a si mesma a manter a calma. Naquele
momento ela não tinha nenhuma escolha a não ser
continuar tentando. A única pessoa capaz de tira-la
daquela situação era ela mesma.

Os passos da garota a levaram até as paredes


mais afastadas do galpão, ali as caixas formavam
pilhas complexas que se avolumavam em estruturas
pesadas quase chegando a alcançarem metade da
parede. Uma poça de água parcialmente estava
sobre o chão de cimento, aquilo atraiu a atenção da
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garota que deixou que seu olhar caísse naquela


direção. Num primeiro momento ela não
compreendeu direito o que estava vendo, ergueu as
mãos deixando que seus dedos tocassem a antiga
maçaneta de uma porta que estava ali parcialmente
escondida pelas caixas.

A porta se abriu com um rangido metálico que


indicava que ela estava claramente enferrujada.
Com toda a umidade do mar que envolvia aquele
lugar, a garota ficara surpresa de não encontrar
ferrugem tingindo a ponta de seus dedos de
laranja.

O coração disparou em seu peito com a nova


descoberta, mas quando ela colocou metade de seu
corpo para dentro do pequeno cômodo, sentiu seu
ânimo ser estourado como uma bexiga. O lugar era
apenas um velho banheiro apertado, e sujo. O
cubículo parecia que tinha sido usado a pouco
tempo. O chuveiro pingava de maneira insistente, a
água havia se acumulado ali e transbordado para
fora do lugar formando a pequena poça que ela
tinha visto lá fora.

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Ela simplesmente não era capaz de imaginar


Cézare usando um lugar como aquele. Se fosse
sincera não era capaz de imaginar ninguém usando
aquele banheiro. A pia parafusada na parede exibia
um pedaço quebrado na porta, a torneira de latão
estava imunda. Um sabonete branco em barra
repousava ali, ao lado de uma lâmina de barbear.
Aquilo dificilmente poderia ser usado como arma.
Não havia janelas em lugar nenhum, o teto era
baixo e feito de alguma espécie de tapume que ela
não conseguia reconhecer, também não haviam
nenhum espelho a vista. Ela imaginava que aquilo
dizia algo sobre Cézare. Talvez ele não gostasse de
olhar o rosto coberto de cicatrizes, mas tudo aquilo
talvez não passasse de um pensamento incorreto
feito pelo seu cérebro hiperativo.

Seu olhar vagou pelo ambiente, tudo aquilo


parecia ser tão.... Melancólico.

Ela não conseguia imaginar os motivos pelo


qual ele ficaria num lugar como aquele. Dinheiro
não parecia ser um problema. Nunca era um
problema quando se tratava sobre famílias
mafiosas, então por que estava ali? Vivendo
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daquela forma? Do que estaria se escondendo, e de


quem?

A mente dela mais uma vez se desviou para


Cézare, ele parecia pairar sobre sua cabeça, sempre
no limiar de seus pensamentos. Seus lábios
sensíveis ainda sentiam o gosto de sua boca. Com
raiva Amy fechou os olhos espantando aqueles
pensamentos com força de sua cabeça, a última
coisa que ela precisava naquele momento era se
distrair com que havia acontecido com eles.

Tentando manter sua mente ocupada na


exploração a garota deu mais alguns passos
entrando completamente no banheiro, apenas por
curiosidade deixou que seus dedos pousassem
sobre o registro ligando-o.

Ela não esperava que ele estivesse funcionando,


mas o aparelho parecia estar em perfeitas
condições. Uma cascata de água extremamente
quente atingiu o chão, vapor deixou seu rosto
corado enquanto gotículas atingiam a calça que ela
usava, deixando que uma ideia se formasse em sua
mente
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Aproveitaria aquele momento de solidão para


tomar um banho, depois da noite anterior sentia
como se uma camada de sujeira tivesse se grudado
sobre sua pele, talvez naquele momento aquela
decisão pudesse ser considerado algo fútil, mas ela
estava sozinha e completamente entediada,
precisava ocupar sua mente enquanto esperava
Cézare ou simplesmente iria enlouquecer.

Decidindo que era exatamente aquilo que faria,


a garota voltou para o quarto onde estavam o resto
de suas roupas, com rapidez jogou-as de volta para
dentro da sacola, refez seu caminho até o banheiro.

O pequeno cubículo havia ficado coberta por


uma névoa densa devido a água quente. Amy sentiu
alguns fios de seus cabelos se grudarem em seu
pescoço por causa da umidade. Sem perder tempo
ela retirou todas suas roupas, deixando-as sobre a
pia. Entrando dentro debaixo da água quente do
chuveiro deixou que a cascata sobre suas costas
aliviasse ao menos um pouco a tensão que existia
sobre os músculos de suas costas.

Fechou os olhos e deixando que seus ouvidos


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apenas prestassem atenção ao som da água


escorrendo pelo ralo próximo a seus pés. O calor
invadiu seu corpo deixando sua pele que antes
estivera pálida e ressecada com uma aparência
viçosa. Usou o sabonete que estava sobre a pia para
ensaboar o próprio corpo, o cheiro suave de
eucalipto agradou todos os seus sentidos, por um
momento ela quase podia esquecer de tudo o que
havia a seu redor e imaginar que estava de volta a
sua casa, tomando um banho relaxante após uma
noite cansativa de trabalho. Deixou que aquelas
imagens preenchessem sua mente e acalmassem
seu coração mesmo sabendo que tudo aquilo não
passava de um alivio passageiro.

Foi com relutância que ela deixou que os dedos


alcançassem o registro do chuveiro atrás de suas
costas. Imediatamente sentiu os calafrios
percorrerem seu corpo, ela não tinha pensado muito
do que poderia usar como toalha, então no final
optou por secar seu corpo com os trapos de sua
camisola, ela não tinha mais nenhuma pretensão de
voltar a usar aquela peça de roupa. Vestiu
novamente seu moletom favorito, e uma de suas
calças jeans, poderia matar por um par de meias,
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mas aparentemente Cézare não se lembrara desse


pequeno detalhe.

Fechou a porta atrás dela, caminhando


tranquilamente de volta para o quarto, o outro único
cômodo naquele lugar. Sentia-se limpa e fresca, e
quase humana novamente. A dor em seu rosto
deixará de ser tão persistente passando a incomoda-
la apenas quando ela tocava aquele ponto em
específico.

Não havia nenhum espelho ali dentro para que


ela pudesse observar seu rosto, em seu estado atual,
mas talvez aquilo também fosse algo positivo.
Sabia que não seria capaz de apagar aquela imagem
de sua mente, já era o suficiente que ela tivesse de
sentir o machucado. Desfez as mechas de seu
cabelo de sua trança, e usou as pontas dos dedos
para penteá-los.

Ao seu redor o silêncio cresceu quase como se


tornasse uma força física. Sentou na beirada da
cama, focando seu olhar na claraboia do quarto
sobre sua cabeça. Odiava não ter nenhuma ideia da
passagem do tempo. Poderiam ter se passados
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horas, ou apenas alguns minutos, Amy não seria


capaz de dizer a diferença.

Deixou que seu corpo repousasse sobre a cama


sem nunca deixar de olhar para cima, fitando o céu
sobre sua cabeça e a liberdade que ela não era
capaz de alcançar.

Sem perceber deslizou para um sono agitado.


Sonhou com beijos e pássaros que voavam para
muito longe.

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Capítulo Catorze
Amy acordou assustada. Os olhos muito abertos
fitando a completa escuridão a seu redor. O
estrondo do trovão ressoou em seus ouvidos,
vibrando em seu peito. Lá fora um raio prata
azulado cortou as nuvens cinzentas que se
acumulavam no céu, sua luz fantasmagórica
iluminando como um flash o quarto a seu redor.

O coração havia disparado em seu peito


espantando completamente o sono, confusa a garota
ergueu-se na cama usando suas mãos, seu corpo
havia adormecido ali sem se importar de forma
alguma com a posição que estava. Mais um raio
riscou as nuvens acima de sua cabeça, o som
rítmico das gotas de chuva fustigava a claraboia no
teto. A noite cobria todo o lugar fazendo com que
as sombras nas paredes se tornassem mais intensas
dando uma ilusão de que por um momento as
paredes ao seu redor tivessem desaparecido.

Levando uma das mãos aos olhos, a garota


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apurou seus ouvidos, ao seu redor ela podia ouvir a


tempestade rugindo lá fora. O vento chiava
audivelmente batendo de frente contra as paredes
de metal que rangiam no esforço de conter a
tempestade.

Sentindo-se inquieta a garota levantou-se,


deixando que seus pés tocassem o piso frio, ela não
sabia direito para onde ir, ou até mesmo o que
fazer, apenas não conseguiria permanecer ali dentro
por mais tempo.

Ela cruzou o quarto com passos rápidos,


quando chegou do lado de fora no salão, seus olhos
demoraram um momento para se ajustarem a
claridade das luzes elétricas que brilhava diante de
seu rosto.

O fôlego ficou preso em sua garganta, os pés


travados no chão quando seus olhos caíram sobre a
figura de Cézare, ele estava de costas para ela, e
não parecia ter notado sua presença. Parecia
ocupado descarregando algumas sacolas, sobre as
caixas que eles haviam usado como mesa aquela
manhã. Amy havia simplesmente deixado a comida
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ali, intocada. Por um momento sentiu seu estômago


se contorcer pelo remorso, mas o homem diante
dela não parecia se importar nenhum um pouco.

Ele usava uma jaqueta de couro negro, que


cobria seus braços com perfeição, ela ainda
conseguia enxergar as gotas de chuva que haviam
se grudado ao couro, dando-lhe uma aparência
brilhante.

Por um momento sentiu-se dividida entre o


alívio e apreensão. A parte racional de seu cérebro
lhe dizia que ela não deveria ficar tão contente com
sua presença, mas o simples fato de poder estar
com outra pessoa após tantas horas sozinha em
silêncio era algo positivo.

Os olhos dela caíram mais uma vez sobre sua


figura, se focando agora na arma presa em sua
cintura. O cano prateado estava enfiado no cós de
sua calça. A saliva em sua boca tornou-se muito
densa, dificultando o ato de engolir, naquele
momento ela deve ter feito algum som, pois
observou ele erguer suas costas e olhar em sua
direção.
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Os olhos dele focaram em seu rosto, sua


expressão totalmente controlada. As palavras
pareciam dançar em sua língua. Não sabia o que
dizer, toda aquela situação entre eles havia saído
completamente de controle.

Os pés dela se moveram adiante, como se


tivessem vida própria. Ela estava muito consciente
da arma em sua cintura, da possibilidade de que se
ele realmente quisesse feri-la então isso não lhe
custaria esforço algum. Mesmo assim ela caminhou
em sua direção, o medo nadando em seu estômago
como um peixe.

Ele não fez um único movimento, enquanto


observava ela se aproximar, os lábios dele estavam
presos numa linha apertada, os olhos dourados
haviam perdido um pouco do brilho tormentoso.
Haviam pequenas manchas arroxeadas sobre seus
olhos que ficavam visíveis sobre sua pele
bronzeada, as pontas de seu cabelo haviam se
grudado em seu pescoço, ele devia ter pegado
chuva em algum lugar. Amy imaginou onde ele
teria estado durante aquela ausência.

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Ela parou a seu lado, seu olhar se desviou para


as coisas que jaziam espalhadas sobre a cama,
haviam alguns pacotes fechados que ela não
conseguiu reconhecer, e uma caixa de pizza aberta.
O cheiro de queijo derretido e molho chegou até
seu nariz, mas não foi o suficiente para atrair seu
apetite. Naquele momento ela nem ao menos sabia
o que sentir.

- Eu trouxe comida. Você deve estar com fome.

A frase dita de maneira tão simples, pegou-a


desprevenida. Em qualquer outro contexto aquilo
poderia ter a agradado, não se lembrava da última
vez que uma pessoa se preocupara com seu bem-
estar.

- Por que você liga pra isso? – perguntou Amy


incapaz de conter a acidez em seu tom de voz.

O olhar que Cézare lhe deu foi gelado, ela


pensou por um momento que ele iria responde-la
com algo atravessado, até mesmo rude, mas ele
permaneceu em silêncio desviando seu olhar
simplesmente, como se tivesse cansado demais para

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começar uma briga.

Eles permaneceram ao lado um do outro, como


se ambos estivessem esperando o próximo passo,
avaliando a reação da pessoa a seu lado. Por fim
Amy se incomodou com o fato de permanecer ali
sem fazer nada. Seus dedos caíram de forma
delicada sobre um dos pedaços já cortado da pizza,
ela levou-a até a boca saboreando o queijo e o
tomate que derreteram em sua língua. Ela não
sentia fome, mas seu corpo parecia estar mais
aliviado agora que ela estava se alimentando
novamente.

Ainda mastigando os olhos de Amy pousaram


sobre as mãos do rapaz, as pontas de seus dedos
ainda pareciam levemente manchadas, num tom
avermelhado que era inconfundível.
Independentemente de onde o Caronte estivesse
aquela noite, ele tinha feito alguém sangrar. A raiva
borbulhou como lava em sua corrente sanguínea, o
gosto da pizza tornando-se desagradável em sua
boca. A parte racional de sua mente lhe dizia para
manter a boca fechada, mas ela simples ignorou
aquela voz. Estava cansada demais para ser
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racional naquele momento.

- Então você vai me matar?

As palavras deixaram seus lábios mais como


um deboche do que uma pergunta. A raiva aquecia
seu corpo deixando que ela enxergasse tudo em
vermelho nas bordas de sua visão. Os olhos de
Cézare pousaram em seu rosto, ele pareceu cerrar a
mandíbula como se tivesse controlando de algum
jeito para não a machucar.

- Você ainda não me deu as respostas, que


preciso - respondeu o mafioso de maneira gélida.

- Você nunca as terá – rebateu Amy erguendo


seu tom de voz – Não entende? Eu não tenho as
respostas!

A voz dela foi abafada pelo som do trovão que


pareceu ecoar pelo mundo lá fora. A chuva havia
aumentado de intensidade deixando agora até
mesmo o som das ondas se quebrando no porto
evidente. Sentia-se como se aquela tempestade
fosse apenas um reflexo do que sentia acontecer
dentro do seu coração.
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- Você poderia acabar com isso de uma vez –


continuou a garota incapaz de acreditar nas
palavras que deixavam seus lábios naquele instante.

- Você não sabe o que está dizendo – respondeu


Cézare num grunhido abafado.

- Você vai acabar me matando de qualquer


jeito. Ao menos eu não precisaria sofrer esperando
isso acontecer.

- Está confusa, e tentando me provocar. Isso


não vai funcionar.

Pela primeira vez Amy conseguiu enxergar a


confusão em seus olhos dourados, mas foi algo tão
rápido que por um instante ela acreditou que
poderia apenas ter imaginado aquilo. Os olhos de
Cézare se tornaram mais uma vez distantes,
longínquos e ela odiou a pequena chama de
esperança de ainda ardia dentro de seu peito. Como
ela poderia vencer tamanha força de vontade? O
que poderia fazer para derrotar aquele homem?

As milhares de sensações desconhecidas,


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incharam seu coração deixando seus batimentos


mais lentos. Ela abaixou a cabeça sentindo-se
derrotada, devolvendo o pedaço inacabado de sua
pizza de volta na caixa.

- Você é um monstro – disse a garota surpresa,


que no final ela tivesse sido capaz de expressar
aquele pensamento em voz alta.

Cézare se aproximou dela lentamente, os olhos


como sempre fixos em seu olhar. O que ela não
daria para saber o que aquele homem pensava
quando a olhava daquela maneira. Para descobrir
ao menos uma única fraqueza que fosse.

Seu corpo se aqueceu com sua aproximação, a


antecipação deixando seu rosto corado. Sentiu-se
uma idiota dos pés a cabeça.

- Sim – respondeu o mafioso simplesmente


numa voz extremamente controlada – Eu realmente
sou.

A declaração dele não lhe parece debochada,


não havia nem mesmo irritação em sua voz. Apenas
uma aceitação resoluta.
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Sem dizer mais uma única palavra, ele passou


por ela, entrando no quarto. Amy sabia que nada de
bom viria de segui-lo, mas sentia-se como se
tivesse caminhando por uma linha muito tênue.
Queria desesperadamente escapar daquele lugar, a
claustrofobia havia voltado deixando o fôlego preso
em sua garganta, o barulho da tempestade
continuava a ferir seus ouvidos, e ela era incapaz de
não o ouvir.

Rodou em seus calcanhares e voltou até o


quarto onde Cézare havia entrado. A cena que
encontrou ali dentro foi o suficiente para deixa-la
confusa, e curiosa ao mesmo tempo.

Sentado em seus calcanhares Cézare enchia um


colchão inflável novo do tipo que as pessoas
costumavam levar quando iam para algum tipo de
acampamento. O objeto de inflava no centro do
quarto, deixando um leve cheio de borracha que
permeava todo o ar.

- O que você está fazendo?

- Eu não vou ceder minha cama por mais uma


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noite. Você dorme aqui no chão.

Como se aquilo fosse a coisa mais natural do


mundo, ele pegou o pacote que ela não tinha notado
até aquele momento que continuava a seu lado,
jogando algo em seus braços. Ela amparou o
edredom usando seu reflexo. Os dedos se
infiltraram no tecido macio aveludado.
Definitivamente aquele não era o tipo de peça que
devia estar cobrindo uma cama no chão, num
galpão caindo aos pedaços perto do mar.

Amy tomou um momento para apreciar aquele


edredom, sabendo que ela nunca tivera uma peça
como aquela. A maioria de seus lençóis e jogos de
cama eram comprados em supermercados e grandes
atacados. A textura era terrível e as cores não
suportavam mais do que duas lavagens, mas eram
tudo o que ela podia pagar.

Ela já vira edredons como aqueles em sites e


lojas que vendiam roupas de cama. Sua atenção era
sempre atraída para vitrines que vendiam aquele
tipo de produtos, e suas camas belas e requintadas,
com imensas cabeceiras e milhares de travesseiros
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brancos e almofadas. Dizia a si mesma que um dia


iria reformar completamente seu quarto, e faze-lo
um refúgio dos sonhos, então teria sonhos como de
uma princesa de contos de fada.

Suas unhas se cavaram no tecido macio em suas


mãos, nada do tipo artificial, o toque era suave a
macio como algodão, num tom pálido de lavanda,
com pequenas flores brancas cobrindo toda sua
extensão. Imaginou se tudo aquilo pelo qual estava
passando não era uma grande piada de mal gosto do
universo. Um sorriso frustrado brincou em seus
lábios enquanto ela tentava conter a queimação das
lágrimas em seus olhos. Ela não iria chorar na
frente daquele homem. Embora soubesse o quão
ridículo era toda aquela situação. Ela precisara ter
sido sequestrada para comer bem, e dormir com um
edredom que custava metade do seu salário como
dançarina, tudo estaria perfeito se ela não tivesse
sido condenada a morte, por um presunçoso
mafioso, por um crime que ela nem ao menos havia
cometido. A vida definitivamente era uma droga.

Aos seus pés Cézare havia acabado de encher o


colchão inflável, aquela coisa não parecia nem um
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pouco confortável, mas aparentemente ela não tinha


direito a uma opinião.

- Deite-se – ordenou o homem a sua frente se


levantando – Estou cansado e preciso dormir.

Amy largou imediatamente o edredom que


estivera em suas mãos, como se aquilo fosse algum
tipo de doença contagiosa. Ela estava começando a
ficar extremamente irritada por ter que acatar as
ordens dele o tempo inteiro.

- Por que você simplesmente não volta para o


lugar onde estava, e dorme por lá e me deixa
continuar aqui sozinha?

- Porque este é o meu lugar e você não passa de


um contratempo irritante.

- Você é realmente bastante corajoso –


respondeu a garota com irritação tentando conter a
vontade de ranger os dentes – Não fica com medo
de que possa tentar te atacar durante a noite?

Os olhos de Cézare brilharam de maneira


perigosa, ele se aproximou dela muito rápido, ela
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mal pode conseguir enxergar seus movimentos,


pressionando contra a parede atrás de suas costas,
pousando seus lábios logo acima de suas orelhas, as
mãos espalmadas ao lado de sua cabeça.

- Você não vai fazer nenhuma bobagem durante


a noite – disse ele de maneira muito controlada – É
uma garota inteligente, e eu irei detestar ter que
deixá-la completamente amarrada. Agora pegue
suas coisas e vá dormir. Eu irei apagar as luzes.

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Capítulo Quinze
Amy não sentia o mínimo de vontade para
seguir a ordem que ele acabara de lhe dar. Ela tinha
acordado fazia pouquíssimo tempo, não havia a
menor possibilidade de que ela pegasse no sono tão
cedo, mas o olhar dourado de Cézare lhe dizia que
ele não admitia ser desobedecido.

Muito lentamente o mafioso afastou seu corpo


dela, fazendo com que o ar em seus pulmões
circulasse de forma mais suave. Tentou conter a
onda de calafrio que sacudiam suas costas de cima
abaixo. Eles ainda continuavam próximos o
bastante para que ela pudesse perceber a mudança
em seu olhar, por um breve instante que pareceu
durar um longo momento, os olhos dourados de
Cézare se focaram em seus lábios fazendo com que
ela revivesse toda a cena do beijo que eles haviam
trocado aquela manhã. Com o coração saltitando
em seu peito, a garota desviou seu olhar encarando
os pés como se de repente tivesse extremamente
interessada naquela visão. Sabia que estava
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fugindo, na melhor das hipóteses estava se


comportando como uma adolescente envergonhada,
mas naquele momento ela não dava a mínima para
qualquer tipo de julgamento. Desde que haviam se
encontrado Cézare não demonstrara nenhum
interesse em falar a respeito sobre o beijo que
acontecera aquela manhã. Se ele preferia fingir que
nada havia acontecido estava ótimo para ela.
Aquilo definitivamente havia sido um erro,
portanto, o melhor que tinha a fazer naquele
momento era simplesmente deixar o que estava no
passado atrás de suas de suas costas.

Cézare ainda permaneceu um longo momento


diante dela como se não se importasse com seu
desconforto, por fim ele voltou em silêncio até o
apagando as luzes fluorescente que iluminavam o
lugar. As botas dele ressoaram seus passos,
enquanto ela voltava para o quarto, que eles iriam
dividir. Por um momento achou que ele realmente
parecia cansado, as olheiras sob seus olhos
dourados haviam se tornado mais intensas,
assumindo um tom de lavanda muito parecido com
seu edredom.

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Sem olhar em sua direção, ele despiu sua


jaqueta de couro jogando-o num canto do quarto,
formando uma pilha bagunçada ao lado de um
capacete todo preto, por fim Amy ouviu o som de
um cinto sendo desafivelado, e soube exatamente o
que estava para acontecer.

Com pressa a garota virou seu rosto, focando


seu olhar na parede que ficava a sua frente. Ela
podia ouvi-lo claramente a seu lado se despindo,
enquanto sua mente masoquista escolhia
exatamente aquele momento propicio para imaginar
a cena com riqueza de detalhes.

A garota soltou um suspiro que foi um misto de


exasperação e alívio quando ouviu, o som do
colchão rangendo sobre seu peso. Sabendo que ela
não podia permanecer ali por mais tempo. Amy
deitou sobre o colchão que continuava ao lado de
seus pés.

O som de borracha soou por todo o quarto de


maneira embaraçosa, com rapidez a garota pegou o
edredom, usando-o para cobrir seu corpo e parte de
seu rosto que ela tinha certeza naquele momento
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estava vermelho como um morango.

Não havia nenhuma espécie de travesseiro,


portanto ela usou o próprio braço como apoio
sabendo que seria impossível conseguir descansar
de alguma maneira daquela forma. Atrás de suas
costas, Cézare apagou a única luz que ainda
iluminava no quarto, que provinha do pequeno
abajur que ficava no criado mudo ao lado de sua
cama.

As sombras se expandiram trancando Amy na


escuridão. Ela sentia-se desperta demais, como se a
ausência de luz apenas tivesse exacerbado seus
outros sentidos. Lá fora a tempestade continuava a
cair, embora a maioria dos raios e trovoes tivesse
diminuído deixando apenas um barulho constante
de chuva que batucava de maneira constante nas
paredes de metal a seu redor.

Ela tentou respirar pausadamente, soltando o ar


entre os lábios para conter os pensamentos caóticos
em sua cabeça. Havia uma confusão ali tremenda,
que apenas servia para lhe deixar ainda mais
nervosa.
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Apurou os ouvidos tentando ouvir qualquer


som produzido por Cézare em sua cama. Não podia
dizer se ele estava dormindo ou não, e aquilo
apenas servia para deixa-la ainda mais incomodada.
Virou o corpo no colchão, tentando encontrar uma
posição mais confortável e se arrependeu
imediatamente. O som de seus movimentos
reverberou por todo o cômodo, sentia suas pernas
inquietas debaixo do edredom, ela havia deitado de
qualquer forma, ainda usando sua calça jeans,
definitivamente aquela não era uma peça de roupa
confortável para que ela conseguisse pegar no
sono.

O calor do edredom infiltrou-se por seus


membros aquecendo-os, deixando sua pele ainda
mais sensível. Por um momento Amy imaginou que
seria capaz de enlouquecer, se continuasse da
forma.

Deitada de costas, deixou que seu olhar se


focasse no teto acima de sua cabeça, tão diferente
da visão que ela estava acostumada a observar em
seu quarto. Quando perdia o sono, Amy costumava
contar as pequenas linhas que se estendiam por
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todo o teto de gesso, imaginando que elas eram


como rios e seus afluentes. Havia uma certa
tranquilidade em sempre observar aquelas pequenas
linhas estáticas em seu lugar, e embora ela já
soubesse exatamente o número exato sessenta e
sete, ela sempre se sentia mais tranquila quando as
contava, novamente até o sono chegar.

Ali o teto sobre sua cabeça, era apenas uma


placa de metal sem nenhum tipo de ornamento,
estendendo-se sobre sua cabeça. Ele aparentava ser
exatamente igual e sem nenhum defeito ou ponto
que pudesse chamar sua atenção. Tão inquietante,
tão diferente de sua casa.

Os olhos de Amy se desviaram para a claraboia


sobre sua cabeça, ela mal podia divisar o céu lá
fora, com suas nuvens repletas de chuvas e
tormentas, ocasionalmente um raio cortava os céus,
iluminando todo o quarto num clarão branco que
parecia quase lhe cegar por um momento.

Com o coração batendo descompassadamente


dentro de seu peito, imaginou se aquela era a forma
que um pássaro se sentia ao observar a liberdade
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enquanto estava preso rodeado pelas grades de sua


gaiola. Amy sentia-se incapaz de desviar sua
atenção daquele pequeno ponto, enquanto ansiava
pela liberdade que sabia que estava além daquela
claraboia, do lado de fora daquelas paredes de
metal.

Apenas vinte e quatro horas haviam se passado,


desde que Pietro aparecera em sua casa na noite
anterior. Vinte quatro horas onde sua vida, havia se
transformado completamente da noite para o dia. O
desespero parecia ter criado raízes profundas em
seu coração, deixando-o batendo de uma maneira
dolorosa.

Não sabia como iria sobreviver se fosse


obrigada a permanecer ali por mais tempo. Como
poderia suportar mais um único dia que fosse
sabendo que sobre sua cabeça, pairava uma ameaça
que ela não era capaz de escapar? Naquele
momento, ela sentia-se tão desesperada que faria
qualquer coisa, que pudesse ao menos lhe dar uma
chance real de que isso pudesse acontecer.

Fechando os olhos com força Amy tentava


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focar seus pensamentos caóticos. Ela precisava


encontrar uma maneira, um plano, qualquer coisa
que pudesse ao menos lhe dar uma chance. Mas o
que exatamente?

A pergunta pairou sobre sua mente, como um


fantasma agourento assombrando-a noite afora. Ela
já havia percorrido todo aquele galpão. O lugar
mais parecia uma fortaleza, ela não era capaz de
vencer paredes de metal e não havia janelas que ela
pudesse quebrar. A única porta de entrada e saída
daquele lugar estava constantemente trancada, e ela
sabia muito bem que jamais conseguiria conseguir
a chave se tentasse utilizar de força bruta com seu
sequestrador.

Os pensamentos dela mais uma vez se


desviaram na direção de Cézare. Sua única chance
de escapar daquele lugar era encontrar uma maneira
de vencer aquele homem, de fazê-lo baixar a
guarda? Mas como ela poderia fazer isso? Qual
seria a fraqueza daquele homem?

Uma imagem muito vívida brilhou na mente de


Amy enquanto ela se lembrava do beijo que eles
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haviam compartilhado aquela manhã. As sensações


estavam ainda muito frescas em suas memórias, as
cenas discorrendo entre suas pálpebras fechadas,
fazendo com que ela se lembrasse com clareza, do
toque dos lábios dele sobre o seus, do jeito que ele
havia escovado sua boca com sua língua, deixando
sua face ardente.

A mente racional dela mais uma vez voltou a


lhe acusar, era incapaz de negar o prazer que havia
sentido enquanto aquele homem havia lhe beijado.
Seu corpo regira por puro instinto, como se não
pudesse ter o suficiente de seu sabor. A onda de
vergonha viajou por seu rosto, concentrando o calor
que sentia na parte alta de suas bochechas. Fora
uma tola por ter deixado aquilo acontecer, se
rendido de maneira tão fácil, e no final para que?
Não havia sido nem ao menos capaz de seduzi-
lo...

A palavra pairou na mente de Amy, como se


esse ecoando entre as paredes de seu crânio,
enquanto uma ideia parecia fixar suas raízes em seu
cérebro. Ela podia não ter sido capaz de seduzi-lo
com aquele beijo, mas isso não significava que o
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resultado seria o mesmo, se ela tentasse novamente


com mais afinco.

O coração da garota disparou em seu peito,


enquanto sua mente começava a trabalhar de
maneira frenética, buscando uma maneira de
colocar em pratica aquele seu plano desesperado. A
parte cética de seu cérebro tentava em vão ser
ouvida em meio ao caos de seus pensamentos,
tentando lhe lembrar do quanto aquilo podia ser
perigoso e sem sentido. Ela não tinha nenhuma
garantia de que era capaz de seduzir aquele homem,
mas ele havia a beijado aquela manhã não? E por
um momento Amy quase podia jurar que ele havia
baixado suas defesas.

Ela não podia se dar ao luxo de duvidar de si


mesma naquele momento. Aquele plano podia ser
algo completamente maluco, mas era a única
resposta que ela havia encontrado naquele
momento. Como prisioneira ela não podia se dar ao
luxo de manter algo como seu próprio orgulho, se
conseguisse seduzi-lo então poderia convence-lo a
não matá-la. Sabia que suas chances eram ínfimas,
mas naquele momento ela não tinha melhor
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alternativa.

Ela era uma sobrevivente, durante todos aqueles


anos, ela havia sido capaz de se sustentar sozinha
sem ajuda de ninguém. Faria qualquer coisa que
estivesse em seu alcance para conseguir se libertar.
Afinal de contas em sua atual situação, ela tinha
muito pouco a perder.

Amy se moveu com cautela sobre seu colchão,


o som do edredom farfalhando de maneira muito
alta em seus ouvidos. Tentou afastar todas as vozes
que povoavam sua mente naquele momento,
empurrando todos os pensamentos para a parte
mais funda de sua mente, deixou que seu corpo
fosse guiado exclusivamente por seu instinto. Uma
força invisível que parecia empurra-la sempre
adiante até onde Cézare estava.

O quarto estava completamente mergulhado na


escuridão, ela podia visualizar parcialmente apenas
sua silhueta recortada contra a parede, não sabia
dizer se ele estava dormindo, o som da chuva ainda
era muito alto batucando contra as paredes daquele
lugar.
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Ordenou a si mesma em não pensar no que


estava fazendo, se pensasse então sabia que iria se
acovardar e voltar para trás. Essa não era uma
escolha que ela podia se dar ao luzo de fazer.

Sentiu a aspereza do lençol que ele usava sobre


a cama nas palmas de suas mãos, enquanto içava
seu próprio corpo para cima, deitando-se ao lado
dele, na pequena cama de solteiro.

Ela não conseguia ver sua expressão, ele estava


virado de barriga para cima, uma de suas mãos
repousava por cima de sua cabeça. Por um instante
Amy apenas foi capaz de permanecer ali, esperando
que os batimentos de seu coração diminuíssem ao
menos um pouco, controlando o fôlego que
escapava rapidamente por entre seus lábios.

Com dedos trêmulos, a garota ergueu sua mão,


tentando tocá-lo, havia uma mecha de seu cabelo
que caia sobre sua testa, mas antes mesmo que ela
pudesse alcançá-la, a mão dele agarrou seu pulso
parando seu movimento.

- Você devia voltar para sua cama.

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A voz dele vibrou por todo o ambiente, embora


estivesse controlada, o toque dela sobre sua pele era
quente, espalhando calor por todo seu corpo.
Quando ele estivera se despindo, ela havia desviado
seu olhar, mas agora podia ver que ele estava
deitado usando apenas uma calça de moletom, com
o peito desnudo, sem se cobrir. Por um momento
ela se perguntou se ele não sentia nenhum frio.

- E se eu não quiser?

Amy mal reconheceu sua própria voz, havia ali


uma fraqueza que ela costumava esconder.
Detestava sentir-se como uma garota frágil e
impotente, mas o homem deitado a seu lado, não
pareceu notar isso.

Com a mão livre Cézare virou-se batendo-a no


pequeno interruptor ligando o velho abajur que
ficava ao lado de sua cama. Luz dourada inundou
todo o ambiente, cegando-a por um instante,
quando seus olhos se acostumaram novamente com
a claridade, ela pode fixar seu olhar sobre ele.

O fôlego ficou preso em sua garganta por um

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instante, enquanto ela contemplava aquela visão.


Os olhos dele pareciam ainda mais dourados
debaixo daquela luz, os cílios castanhos adornavam
seu olhar fazendo sombra sobre suas bochechas, as
cicatrizes prateadas que cortavam seu rosto mal
podiam serem vistas sobre aquela luz, e mesmo
assim não eram capazes de estragar sua beleza.
Poderosa e intimidante.

Cézare soltou seu braço assim que percebeu que


ainda a estava a segurando, uma expressão de
descontentamento surgindo em sua face.

- Você não sabe o que está falando – disse o


rapaz, focando seu olhar em seu rosto – Eu sei
exatamente o que você está fazendo, e não vai
funcionar.

O coração dela batia freneticamente como um


beija-flor entre suas costelas, enquanto em
sentimento de euforia percorria sua corrente
sanguínea. Ela não sabia dizer se Cézare estava
tentando convence-la de que aquilo era uma perda
de tempo ou a si mesmo.

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- Eu não sei do que você está falando –


respondeu a garota num sussurro de voz – eu
apenas quero te tocar.

Amy sentia as pontas de seus dedos formigarem


de desejo para toca-lo novamente. Como se ela não
pudesse acreditar que alguém como ele pudesse
existir, e estar a seu alcance. Sabia que aquilo era
completamente errado em todos os níveis, mas pela
primeira vez em sua vida, disse a si mesmo que não
se importaria com as consequências.

Dessa vez ele não a impediu de tocá-lo sua mão


caiu exatamente sobre seu pescoço, sentindo a
pulsação constante que corria em suas veias, os
lábios dele se entreabriam sua respiração
acelerando como e fosse um reflexo da sua. Ela
deslizou a ponta de seus dedos subindo-as por seu
pescoço, uma caricia suave uma deliciosa tortura
para ambos. Ele nunca desviou seu olhar dela,
como se estivesse esperando, deixando que ela
guiasse aquele momento.

Amy contornou o formato de seus lábios mais


uma vez surpresa pela maciez deles, firmes e
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ousados eles eram rosados, e convidativos, fazendo


com que ela se lembrasse do beijo que ele lhe
roubara aquela manhã. A pressão em seu baixo
ventre se acumulou fazendo com que ela apertasse
ambas as coxas uma contra a outra.

- Tão suave, tão lindo... – sussurrou a garota


deixando escapar o pensamento que permeava sua
mente.

Os olhos dele se tornaram gélidos por um


instante se estreitando nos cantos, enquanto ele
mais uma vez agarrava sua mão, agora com
violência.

- Lindo? Ao menos não se rebaixe ao ponto de


precisar mentir...

Amy sentiu a surpresa tomar conta de suas


feições, compreendendo exatamente o que ele havia
lhe dito. Ele acreditava que ela não podia admira-lo
por causa de suas cicatrizes. A contragosto, sentiu
seu coração se amolecer um pouco diante daquele
pensamento. Ela conhecia muito bem a sensação de
insegurança, e sentiu empatia por ele, embora

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soubesse muito bem que ele era um homem que


não merecia aquele sentimento.

Ela imaginou que ele iria empurra-lo de volta


para sua cama, como se o momento que eles
tivessem compartilhado tivesse chegado a um fim,
mas ele continuou segurando seu braço, e ela
acreditava que ele nem ao menos havia notado isso.

Amy deixou que seu olhar corresse com


franqueza todo seu corpo, observando-o com
atenção, até mesmo suas cicatrizes e imperfeições.
Agora que ele havia se despido ela podia notar que
elas não se concentravam apenas em seu rosto,
descendo por sua clavícula, cortando seu ombro
alcançando até mesmo seu peito ao lado de seu
mamilo. Ela imaginou quando ele poderia ter se
ferido daquela forma, as marcas pareciam antigas e
pela primeira vez ela imaginou o que estaria
escondido no passado daquele homem.

Ele sustentou seu olhar de queixo erguido,


como se tivesse se preparando para suportar seu
julgamento. Homem orgulhoso, e mais um pedaço
de seu coração pareceu se amolecer.
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Sabia que Cézare não acreditaria em nenhuma


de suas palavras, portanto ela se abaixou até estar
apenas alguns centímetros da cicatriz que cortava
seu peito, ali na pele beijada pelo sol, ela depositou
um beijo molhado, depois virou seu rosto
capturando seu mamilo entre seus lábios
mordendo-o gentilmente.

Um gemido rouco escapou pelo quarto e Amy


ergueu seus olhos para encontrar o rosto de Cézare
preso no seu olhar, sua expressão repleta de
incredulidade e desejo.

- Pra mim – respondeu ela seus lábios pairando


sobre seu coração – Você é estonteante.

Os olhos dele cresceram em confusão e


descrença como se ele não pudesse acreditar em
seus próprios ouvidos. Amy subiu suas mãos por
sobre seu corpo, tocando-o exatamente da forma
que ela estivera desejando fazer, o calor dele,
infiltrou-se por seu corpo, deixando-a
completamente deliciada, com as palmas das mãos
ela empurrou seu corpo ainda mais na cama,
passando uma de suas coxas sobre sua cintura,
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enquanto ela se reclinava por sobre ele, ela


depositou beijos cálidos sobre seu tórax ao redor de
sua clavícula, respirando em sua pele, inalando seu
cheiro fresco, deixou que a ponta de sua língua
corresse por seu pescoço saboreando o calor de sua
pele, sentindo sua pulsação acelerar, a respiração
dele tornou-se audível enquanto ela podia sentir um
gemido vibrar em sua garganta.

- Amy... – a voz dele se quebrou em rendição


quando ela sugou o lóbulo de sua orelha entre seus
lábios, mordiscando com desejo. Sua mente era um
campo abençoadamente vazio naquele instante sem
vozes para atormenta-la, sem julgamentos que a
condenavam, naquele momento ela era apenas uma
mulher, enlouquecida de desejo.

Erguendo-se em seus braços, ela se afastou por


um momento para observa-lo os cabelos rebeldes
caiam desajeitadamente contra o travesseiro, as
pupilas negras haviam devorado o dourado de seu
olhar, Amy focou sua atenção em seus lábios,
enquanto o desejo por Cézare consumia suas
entranhas. Sem pensar nas consequências, ou
mesmo no que fizera com que ela buscasse a
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companhia daquele homem, a garota cruzou o


pequeno espaço que os separava, tomando os lábios
dele nos seus, tentando saciar um desejo inominado
que crescia e devorava seu corpo.

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Capítulo Dezesseis
Cézare imaginou que fosse enlouquecer,
quando os lábios dela finalmente se chocaram
contra os seus, sua língua deliciosa invadindo sua
boca sem permissão. Nada parecia mais certo no
mundo.

O desejo rugiu em seus ouvidos, deixando seus


pensamentos acelerados; sua mente racional dizia
que ele precisava afastar aquela mulher de seu
corpo ou então ele não seria capaz de se conter, ele
iria simplesmente ceder sob seu beijo.

A mão dele subiu tocando a parte de trás de sua


cabeça, a língua dela se enroscando com a sua
dentro de sua boca. Ele precisava afasta-la, mas
seus dedos criaram vida própria se embrenhando na
maciez de seu cabelo, trazendo seu rosto ainda
próximo ao seu.

Prazer borbulhou em seu sangue, ele jamais


imaginara que alguém podia sentir tanto prazer de
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uma única vez. Correu as mãos por suas mechas, se


deliciando com o toque aveludado, ele havia
desejado toca-los desde a primeira vez que pusera
seus olhos sobre ela. O corpo dela se acomodou
sobre o seu, suas coxas roçando em sua cintura.
Sem membro endureceu em sua calça criando uma
pressão dolorosa, buscando se libertar. Ele estava
pronto para ela, precisava fazer com que ela fosse
sua. Finalmente sua.

O pensamento ecoou em sua mente, deixando


desconcertado ele precisava combate-la, não se
aninhar ainda mais em seus braços. Sabia que tudo
aquilo não passava de uma encenação, um plano
que ela havia montado para seduzi-lo, e tentar fazer
com que ele fraquejasse para não cumprir suas
ordens. Outros antes dela já haviam tentado
suborna-lo de todas as formas possíveis, mas ele
jamais cedera. Até a chegada daquela mulher.

Ela o fazia contestar todas as regras que


embasavam sua vida, despertando sentimentos e
sensações nele, que ele julgara não possuir. Era por
isso que ele precisava acabar com aquela farsa,
porque sabia muito bem, que tudo aquilo não
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passava disso, uma ilusão extremamente bem


planejada.

Recuperando o que havia sobrado de seu


autocontrole, Cézare empurrou o rosto de Amy,
afastando-a de seus lábios, o coração por um
momento pareceu parar em seu peito, quando olhou
em seu rosto.

Lábios partidos, respiração ofegante, o rosto


rubro, enquanto os olhos azulados estavam repletos
de luxuria, imediatamente ele soube que teria
aquela imagem dela gravada em sua mente para
sempre.

- Cézare....

Seu nome soou como uma súplica em seus


lábios, e seu corpo inteiro pareceu pronto para
atende-la. Suas mãos deslizaram por suas costas
sentindo a fragilidade de seus ossos debaixo de sua
pele, seria tão fácil feri-la, seus dedos cavaram sua
cintura, trazendo ainda mais para perto, embora ele
soubesse que aquilo ainda não era suficiente.

Num único movimento ele rodeou seu corpo


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invertendo a posição de ambos, os cabelos


dourados foram espalhados por seu travesseiro,
enquanto seus dedos corriam pela base de sua blusa
retirando-a de seu corpo.

Cézare elevou-se sobre ela, saboreando a visão


daquela mulher sob seu corpo, deitada sobre seus
lençóis a visão dela ali foi muito mais agradável do
que ele poderia ter imaginado, um sentimento de
posse que ele desconhecia pareceu se agitar em seu
estômago, como se aquela fosse a coisa mais
natural do mundo, tê-la exatamente daquela forma
sob o alcance do seu desejo.

Os olhos dela estavam brilhantes, dois pedaços


arredondados que lembravam as ondas do mar. Por
um instante ele sentiu confusão infiltrar-se por sua
mente, se ela era uma mentirosa então claramente
ele havia subestimado suas habilidades. Como ela
podia fingir desejo daquela forma? Necessidade
parecia estampada em cada pequeno detalhe de seu
rosto.

Sentiu seus olhos devorarem-na com paixão,


percorrendo seu corpo. Ela não usava nenhuma
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blusa por debaixo, apenas seu sutiã branco de


algodão que já vira dias melhores. Os dedos dele
pairaram sobre o fecho que ficava na parte da
frente, podia sentir o ressoar das batidas de seu
coração sob sua pele. Ela era tão formosa, tão
fodidamente bonita. Ela deveria estar coberta em
seda e joias.

Ele sabia que precisava se afastar colocar uma


distância confortável entre ele e aquela mulher, a
proximidade dela deixava seus pensamentos
bagunçados, ele esquecia de suas prioridades e
aquilo era algo extremamente perigoso para ambos.
E mesmo sabendo de tudo isso, não era capaz de
ordenar seu corpo a se mover. Ela viera até ele,
então talvez ele precisasse mostrar a ela o quão
perigoso era brincar com fogo...

Num único movimento Cézare deslizou seu


dedo por debaixo de seu sutiã usando sua força para
estourar o fecho, a pequena peça de roupa se
rasgou, enquanto ela a arrancava de seu corpo,
jogando-a num canto qualquer do quarto.

As mãos dela se ergueram cobrindo seus seios


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pálidos e desnudos, enquanto medo se infiltrava em


seu olhar.

- Não – ordenou Cézare incapaz de conter a


rouquidão no seu timbre de voz – Você veio até a
minha cama, então vai me deixar olhar seu corpo.

Ela sustentou seu olhar com ousadia, enquanto


deixava cair suas mãos, e diante daquela visão, ele
soube que nunca havia visto nada mais belo. Os
seios dela se erguiam pálidos a pele sedosa era
coroada por mamilos vermelhos, o ar frio havia
soprado sobre eles que se endureceram diante do
olhar de Cézare.

Todos os pensamentos foram expulsos de sua


mente, deixando apenas um vazio que foi
substituído pelo desejo de tocar aquela mulher, ele
abaixou seu rosto, até que ela estivesse a
centímetros de seus seios, depositando beijos
fugazes ao redor de seus seios empinados, que
pareciam reclamar sua atenção; ele podia ouvir a
respiração entrecortada de Amy, um gemido como
um suspiro escapando de seus lábios, e ele nem ao
menos havia a tocado.
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A ponta de sua língua tocou o mamilo rígido,


ele o beijou deixando-o úmido depois separou-o
assoprando sobre o ponto enrijecido, depois
acariciou-o novamente lambendo e sugando em
ritmo suave e constante. Sentiu Amy arquear as
costas enquanto os dedos dela se infiltravam por
seu cabelo.

Com pressa, seus dedos caíram sobre o botão de


sua calça jeans, ele abriu de qualquer forma ainda
beijando seus seios, as mãos dela vieram em seu
auxilio, enquanto ela erguia sua cintura retirando a
última peça de roupa, ficando apenas de calcinha
diante dele.

Cézare ergueu seu rosto, ainda sentindo o gosto


de sua pele permear totalmente sua língua, suas
mãos deslizaram sobre suas coxas, abrindo-as ainda
mais dando espaço para que ele pudesse se
posicionar no centro delas.

O rubor havia tingido sua pele, deixando-a


ainda mais bonita os lábios partidos vermelhos
combinavam com a cor de seus mamilos, os seios
pendiam intumescido como se desejassem ainda
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mais suas caricias.

Respirando fundo, Cézare obrigou que seu


olhar se travasse sobre o dela, enquanto forçava sua
voz a dizer:

- Quando eu colocar minhas mãos sobre você,


eu não vou mais parar.

O medo deixou seus olhos ainda mais


brilhantes, ele esperou que ela fosse recuar, por um
momento imaginou que ela iria se levantar pegar as
roupas espalhadas a seu redor, e sair de sua cama.
Sabia que tudo aquilo não passava de uma
encenação, não tinha como uma mulher daquelas
desejar seu toque.

Os olhos dela continuaram fixos nos seus


enquanto ela abria ainda mais as pernas, um convite
claro que deixou seu sangue ardendo em suas veias.

Sem perder tempo Cézare debruçou sobre seu


corpo beijando, lambendo sua pele, mordiscando,
enquanto deixava que suas mãos percorressem cada
centímetro daquele corpo, que ele queria
reivindicar como seu.
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Abaixou a cabeça enquanto percorria seu


caminho por toda sua cintura até seu rosto estar
diante de sua calcinha, tão simples quanto seu sutiã.
Erguendo os olhos Cézare encontrou Amy olhando-
o com expectativa e desejo, enquanto desejo
borbulhava por todo seu corpo. Com seus olhos
presos ao dela, ele deslizou seu dedo afastando a
pequena tira de tecido que a protegia, e quando
sentiu a umidade dela molhar as pontas de seus
dedos, sentiu como seu mundo tivesse sido
completamente estilhaçado.

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Capítulo Dezessete
Amy não conseguiu conter o gemido que
escapou de sua garganta quando Cézare tocou a
entrada de sua intimidade. Ela estava
completamente encharcada, sentindo sua umidade
molhar as partes internas de sua perna. A expressão
de espanto tomou conta do homem diante dela,
como se ele tivesse acabado de observar um
milagre, ele desviou os olhos então para aquela
região de seu corpo, enquanto rasgava os lados da
peça de roupa que cobriam seu corpo com
brusquidão.

A violência assustou Amy que tentou livrar-se


daquela posição onde eles estavam, mas mãos dele
foram mais rápida prendendo-a em seu lugar,
enquanto ela forçava seus joelhos ainda mais
abrindo-os observando-a com atenção.

- Não se esconda de mim – disse ele numa voz


carregada, seu sotaque quase inteligível – Nunca
esconda essa beleza de mim.
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Amy sentiu o ardor subir sobre suas bochechas


enquanto ela relaxava mais uma vez debaixo de seu
aperto, sentiu seu sexo se apertar num reflexo
quando a língua vermelha dele lambeu seus lábios
volumosos.

- Eu preciso toca-la... Preciso prova-la.

Incapaz de articular qualquer frase, a garota


ergueu-se em seus cotovelos para observar aquela
cena, apreciando cada segundo enquanto seu corpo
inteiro esperava em antecipação. Como se tivesse
sendo controlado Cézare baixou seu rosto diante de
seu corpo quase com uma expressão de reverencia,
seus dedos abriram lentamente seu sexo, expondo-a
completamente para ele observa-la.

A língua dele lambeu toda sua extensão, quente


aveludada levando-a a loucura enquanto ela
empinava seu quadril para que ele pudesse toca-la
ainda mais fundo.

As mãos dela subiram por seu corpo


encontrando seus seios doloridos, ela massageou-
os, estimulando a si mesma, apertando seus

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mamilos contra seus dedos. Com cuidado, Cézare


abriu sua entrada, introduzindo um dedo dentro
dela, acompanhando o movimento com sua língua,
prazer inundou sua mente deixando sua respiração
mais difícil.

Amy jogou sua cabeça para trás apertando os


olhos com força, diante dela, Cézare deslizou para
fora seu dedo, enquanto o sugava, deixando seus
lábios úmidos com sua excitação.

- Tão molhada, tão deliciosa.

As palavras dele apenas serviram para deixa-la


ainda mais excitada, ela abriu os olhos enxergando
por debaixo das pálpebras entreabertas, enquanto
ele mais uma vez abaixava seu rosto para sexo
lambendo-a completamente com volúpia, ele
deslizou a língua por sua entrada, introduzindo-a a
ponta em seu canal, depois subiu em direção ao seu
clitóris dolorido, lambendo-o com gentileza,
chupando o pequeno botão entre seus lábios.

Amy não foi mais capaz de suportar a pressão


que se construía em seu corpo, tremula ela deitou

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na cama, completamente a mercê daquele homem,


enquanto ele deslizava um dedo novamente por sua
entrada, investindo em sua abertura para frente e
para trás, até sentir-se completamente cheia e
repleta.

Ele esfregou as mãos forte por sua coxa


abrindo-as ainda mais, elevando suas nádegas para
que ele pudesse saciar a ânsia que parecia devorar
ambos, enquanto lhe dava mais uma lambida
brusca.

Ela começou a balançar seus quadris, atraindo


sua atenção, tentando acompanhar o ritmo de seus
beijos molhados, seu corpo se estremeceu quando
ele adicionou mais um de seus dedos, apertando seu
canal, enquanto seu sexo molhado parecia se
moldar ao redor deles.

- Eu não consigo mais... eu vou...

Amy não conseguia reconhecer seu próprio


timbre de voz e a sensualidade ali contida. Ela viera
até ali para seduzi-lo, para encontrar uma brecha
em suas defesas, e no final ela quem acabara sendo

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seduzida.

Por um momento ele rompeu seu beijo,


erguendo seu rosto, pairando sobre seu monte de
vênus depilado, prendendo seu olhar, os lábios dele
estavam inchados e vermelhos, e aquilo serviu
apenas para deixa-la ainda mais excitada, enquanto
ela sentia os dedos dele deslizando por sua entrada
úmida numa lentidão tortuosa.

- Você gosta disso – disse Cézare sua voz


repleta de incredulidade e sensualidade – Peça-me e
eu farei você gozar.

Amy chacoalhou a cabeça no travesseiro


incapaz de formular uma frase coerente que fosse,
um gemido rouco escapou de seus lábios, enquanto
ele introduzia um terceiro dedo dentro de seu sexo
que se apertou ao seu redor antecipando o prazer
que continuava a se construir dentro dela.

- Cézare – balbuciou ela em resposta


debilmente – Por favor...

Aceitando seus gemidos, ele deslizou a língua


por seu monte de vênus, beijando com ardor, com a
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mão livre separou sua coxa, e seus lábios internos,


enquanto encontrava ali o perola de seu clitóris, ele
lambeou o pequeno botão até ele estar
completamente dolorido enquanto arremetia seus
dedos dentro dela aumentando o ritmo, e chupava
seu clitóris apertando-o entre seus lábios.

Amy acreditou que o prazer que reverberava


por seu corpo fosse enlouquece-la, empinou seus
quadris acompanhando o movimento dele, até
ambos estarem frenéticos, enquanto gemidos
doloridos escapavam de sua garganta.

O orgasmo inundou sua mente, deixando seu


corpo flácido, as mãos de Cézare ampararam seu
corpo enquanto ele continuava a arremeter sua
língua sobre sua carne sensível de novo e de novo,
deslizando seus dedos mais uma vez para dentro
dela, lambendo-a com sofreguidão como se não
pudesse ter o suficiente daquilo, dela, daquele
momento. A segunda onda de prazer a atingiu de
tal maneira que ela achou que fosse se desintegrar
ali mesmo na cama, deixando para trás apenas
lembranças do que ela um dia fora. Uma casca
vazia e nada mais.
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Cézare ergueu seu rosto de seu corpo, com


lentidão os olhos ainda fechados como se ele
estivesse em profundo deleite. O coração dela mais
uma vez acelerou em seu peito quando ele lambeu
seus próprios lábios, saboreando seu gozo, seu
gosto.

O olhar que ele prendeu nela era esfomeado,


quase predatório, os olhos dela desceram para a
ereção bastante visível em suas calças, ele sentou-
se em seus próprios calcanhares respirando fundo,
um som que pareceu preencher todo o quarto.

Amy quase não pode se reconhecer quando


estendeu sua mão tocando o cós de sua calça, as
unhas dela roçaram na carne acima do osso de seu
quadril, ela desejou poder toca-lo exatamente ali,
enquanto deslizava uma linha de beijos sob sua
pele quente.

A calça escura escorreu por suas pernas


bronzeadas e torneadas, libertando sua ereção, a
palma de sua mão tocou sua ereção, o gemido que
saiu dos lábios dele parecia torturado agonizante,
ele empurrou o corpo em sua mão, enquanto ela
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apertava seu pênis ao redor de seu tamanho. Ele


parecia ter se perdido no momento jogando a
cabeça para trás, os cabelos caindo sobre seus
ombros em rendição, incapaz de tirar os olhos dele,
Amy tocou seu corpo, desejando que ele se
aproximasse, desejando saboreá-lo exatamente
como ele fizera.

Os movimentos tornaram-se mais intensos, a


garota sentiu a umidade brotar da ponta de sua
ereção molhando seus dedos, Amy apertou-o com
mais firmeza, sentindo ele se endurecer ainda mais,
com um grito rouco deixando sua garganta, ela
observou ele atingir seu orgasmo enquanto gozava
em completa rendição no lençol da cama ao seu
lado.

O silêncio retumbou em seus ouvidos,


lentamente o mundo pareceu entrar em foco, o
corpo dela aquecido, de repente permaneceu
estático, em expectativa, como se ela não soubesse
o que fazer em seguida, ela nem ao menos era
capaz de explicar a si mesma o que havia
acontecido.

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Os dedos dela lentamente deslizaram do corpo


dele, pairando sobre ela sua figurante ainda
deslumbrante Amy observou lentamente a íris
negra retroceder dentro do olhar do mafioso que
estava fixo em sua direção. A respiração dele se
tornou mais tranquila, enquanto ela observava seu
olhar cada vez mais dourado brilhar de forma
gélida.

Um calafrio desagradável percorreu seu corpo,


num único movimento Cézare se colocou em pé,
vestindo as calças que haviam sido esquecidas aos
pés da cama. Sem lançar um único olhar em sua
direção, ele caminhou a passos rápidos em direção
a porta do quarto.

A parte racional em seu cérebro lhe dizia que o


melhor que ela poderia fazer naquele momento era
deixa-lo partir, mas seu corpo agiu com vontade
própria erguendo-se e correndo atrás deles, palavras
desconexas pareciam borbulhar em sua língua, mas
ela não sabia o que lhe dizer. Naquele instante era
nem ao menos sabia o que estava sentindo. O que
eram aqueles sentimentos desconhecidos que
pareciam espreita-las num canto de seu coração?
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Sem pensar do que estava fazendo, os dedos


dela se fecharam sobre seu antebraço, impedindo
que ele desse mais um passo.

- Cézare...

O nome dela pairou entre ambos, ele virou seu


rosto para encara-la de frente embora sua expressão
fosse completamente velada e raivosa. Ela não
conseguiu continuar sua frase, como ela poderia
explicar o que estava sentindo, se nem ao menos
era capaz de entender?

- Tire suas mãos de mim...

A voz dele soou completamente controlada, e


distante. A dor se infiltrou por seu peito rastejando
sobre seu coração, a rejeição deixando um gosto
amargo em sua língua.

- Precisamos conversar – insistiu a garota


apertando ainda mais seus dedos sobre seu braço,
por algum motivo que ela ainda não era capaz de
compreender, ela não queria que ele a deixasse,
como se a presença dele naquele momento fosse a
única coisa que a mantinha inteira.
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- Se você tem qualquer apreço por sua


segurança, você deve me soltar.

Havia uma ameaça em sua voz, que ela


reconheceu prontamente, o rosto dele assumiu uma
expressão de completo desprezo, com relutância a
garota abaixou sua mão, dando um passo para trás
aumentando a distância entre eles.

Lá fora a tempestade cessara, o mundo parecia


coberto por um manto silencioso, mas Amy não era
capaz de se concentrar em nada a seu redor, tudo o
que ela podia enxergar era o homem parado diante
dela, que a olhava como se tivesse contendo uma
raiva que não podia ser mensurada.

O que ela tinha feito?

- Não me siga – repetiu ele agora num


murmúrio de voz – Se não quiser se machucar.

A garota soube que o que ele dizia era verdade,


o medo apertou ainda mais suas entranhas, depois
do que havia acontecido entre eles, aquela era a
última emoção que ela desejava sentir. Como podia
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temer, e desejar um homem ao mesmo tempo? O


que havia de errado com ela? As perguntas se
acumularam em sua mente, embora ela não pudesse
encontrar nenhuma resposta, ela observou ele se
afastar deixando-a sozinha mais uma vez naquele
lugar, rodeada por mais nada além de silêncio e
escuridão.

A pequena chama de esperança que ela havia


mantido aquecida em seu peito, para fugir daquele
lugar, para deixar de ser uma prisioneira
tremeluziu, deixando para trás apenas uma brasa
praticamente invisível.

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Capítulo Dezoito
Ela nem ao menos foi capaz de chorar.

Deitada na cama, o sono continuava a lhe


escapar fugindo dela como se não pudesse suportar
sua presença. O tempo se arrastou a seu redor,
enquanto ela permanecia ali deitada rodeada pelo
silêncio os pensamentos caóticos e sem sentido
algum polvilhando sua mente.

Sentia-se como se tivesse atravessado uma


barreira da qual ela não era capaz de compreender,
seu mundo havia virado de cabeça para baixo,
enquanto suas prioridades pareciam completamente
distorcidas em sua mente.

Havia uma urgência em seu peito cada vez mais


presente, que lhe dizia para levantar daquela cama,
e procurar uma saída daquele lugar, e embora esse
pensamento estivesse sempre rodeando sua mente,
ela continuou deitada como se o simples esforço de
sair daquela cama, fosse algo muito mais do que ela
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poderia suportar.

Seus dedos se apertaram na base do travesseiro


o aroma dele permeou seu nariz deixando-a ainda
mais desperta. Ela havia se enrolado no edredom
que ele lhe dera, usando-o como se fosse um casulo
para proteger seu corpo, embora ela não sentisse
frio algum naquele momento.

Deitada na escuridão, mantinha seus olhos


abertos enxergando apenas sombras que se
alongavam na parede cada vez mais. Tentava se
manter atenta a qualquer ruído, como se dessa
maneira ela pudesse descobrir o que ela estava
fazendo lá fora.

Sabia que naquele momento sua atitude era no


mínimo estúpida e perigosa. Ela não podia se dar
ao luxo de esquecer que o homem lá fora era seu
sequestrador, e apenas vinte quatro horas atrás
havia a ameaçado de maneira muito clara. Ela não
devia estar se preocupando com ele, devia usar seu
cérebro para encontrar uma maneira de fugir dali,
escapar daquele lugar, mas ela simplesmente não
conseguia colocar seus pensamentos em ordem,
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nem esquecer o toque dele sobre sua pele.

Havia sido um erro de aproximar de Cézare, um


erro gigantesco da qual ela sabia que nunca seria
capaz de consertar. Como ela poderia ter previsto
que algo como aquilo iria acontecer? Como poderia
ter sido tão ingênua?

Jamais imaginara que seu corpo responderia


daquela forma a seu toque, que seu desejo por ele
iria nublar suas decisões de tal maneira que ela se
esqueceria de quem era, e de onde estava.

Ainda podia sentir os beijos que ele havia


depositado em seu corpo, como o fantasma de uma
marca sobre sua pele, o prazer escorrendo por cada
parte de seu corpo, deixando o ritmo de seu coração
descompassado.

O medo deslizou por seu estômago, mas agora


o sentimento era mais afiado e assustador, ela não
temia mais Cézare e sim o desejo que havia brotado
entre eles, a atração que ela sentia por estar
próxima a ele, a vontade que sentia de sentir
novamente os lábios dele contra os seus.

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Talvez ela estivesse enlouquecendo, sentia-se


realmente como se tivesse perdendo sua mente.
Encarcerada naquele lugar distante de qualquer
outro ser humano, ela não era capaz de
compreender os sentimentos que rodeavam seu
coração. Deixando-a confusa. Sentia-se apreensiva,
assustada porque agora não confiava em si mesma,
e aquilo apenas ampliava a sensação de solidão que
parecia pesar sobre ela.

Um suspiro cansado deixou seus lábios


vibrando no silêncio, ela não queria dormir, tinha
medo até mesmo do que seu subconsciente iria
revelar em seus sonhos, mesmo assim suas
pálpebras caíram pesadas, enquanto o cansaço
pesava em seus ombros, sem perceber totalmente
ela deslizou para um sono agitado, sentindo como
se o coração fosse uma pedra em seu peito.

Quando Amy acordou novamente uma névoa


densa parecia cobrir seus olhos, as sombras da noite
anterior haviam perdido um pouco de espaço
deixando que uma luz cinzenta cobrisse tudo ao seu
redor, erguendo seu rosto um pouco a garota deixou
que seus olhos fitassem a claraboia acima de sua
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cabeça. Lá fora o céu parecia ainda não ter


despontado das nuvens que cobriam tudo com uma
cor acinzentada.

Esfregando os olhos ela afastou o resto de sono


que pairava sobre ela, mexeu-se na cama sentindo o
corpo dolorido, como se ela tivesse permanecido
durante muito tempo numa posição incomoda.
Jogando o edredom para o lado, Amy vestiu apenas
o seu suéter de frio que continuava jogado no
colchão ao lado da cama em que ela havia dormido,
sentia-se exposta daquela forma, mas acreditava
que depois de tudo o que acontecera ontem à noite,
ficar com vergonha de como o mafioso poderia
observa-la era algo completamente infantil.

O piso era gelado sob seus pés, mas ela


simplesmente ignorou a sensação enquanto
caminhava em direção a porta. As palavras de
Cézare ainda ressoavam em seus ouvidos, ele
dissera que ela não devia se aproximar, caso não
quisesse se machucar. Havia uma parte dela que
acreditava completamente naquela sentença,
enquanto outra lhe dizia para ela desafiar suas
palavras. O que mais ela poderia fazer? Continuar
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ali atrás daquela porta, cercada por uma falsa


sensação de segurança? A ansiedade cresceu em
seu peito, deixando os batimentos de seu coração
vacilante. Sentia-se exausta de estar
constantemente naquela situação, temendo cada
passo que cada naquele lugar. Sabia que nada de
bom poderia vir de se arriscar daquela forma, mas
naquele momento ela simplesmente não poderia
mais se dar ao luxo em continuar passivamente
esperando seu futuro se desenrolar diante dela.

Com os olhos fixos na porta de metal, Amy


deixou que suas mãos se deslizassem pelo material
rígido, afastando-a para um lado revelando o amplo
galpão diante dela. Ali o frio parecia ser mais
evidente, uma nevoa esbranquiçada pairava pelo ar,
acima de sua cabeça os vidros que filtravam a
pouca luminosidade exibiam pequenas partículas de
água que haviam condensado.

O silêncio do lugar era completo, deixando que


ela pudesse escutar o murmúrio das ondas por trás
daquelas paredes. Depois da tempestade da noite
anterior, ela imaginava que o mar estivesse agitado.
Ela estava naquele lugar apenas alguns dias, mas
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em algumas vezes ela esquecia o quão perto de casa


ela estava. Aquele lugar havia se transformado
numa prisão a seu redor, fazendo com que ela
sentisse que sua casa estava impossivelmente
longe.

Sem um destino certo em mente a garota vagou


pelo lugar, seus passos mal soando pelo piso de
concreto, seus olhos procuravam a figura de Cézare
embora ela não soubesse exatamente o que faria
nem o que iria lhe dizer quando o encontrasse.

Ela já estava se convencendo de que ele mais


uma vez havia saído, deixando-a completamente
sozinha naquele lugar quando avistou sua figura
sentada no canto mais afastado do galpão.

Ele parecia completamente perdido em


pensamentos e alheio a tudo a seu redor, suas
costas estavam escoradas em algumas caixas ao
redor, os joelhos erguidos, o rosto virado para
baixo, observando com atenção o chão abaixo dele,
o cabelo caia sobre sua testa em seus olhos,
impedindo que Amy pudesse realmente enxergar
sua expressão.
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A garota não tinha certeza se deveria se


aproximar, depois da noite anterior, de tudo o que
havia acontecido entre eles, todas as certezas que
possuía haviam sido carregadas para longe
deixando um buraco em sua mente, repleto de
dúvidas e conflito.

A ansiedade cravou as garras em seu estômago


enquanto ela se aproximava um passo de cada vez,
embora Cézare continuasse alheio a sua presença,
ignorando-a como se não pudesse observar que ela
estava bem a sua frente.

A cada passo que se aproximava Amy sentia o


coração bater mais rápido em seu peito, quando
seus olhos se fixaram na arma que ele carregava em
suas mãos, sentiu o fôlego ser expelido de seus
pulmões de uma única vez. Ela parou exatamente
onde estava, incapaz de se aproximar ou mesmo
refazer seus passos para longe dele. Lentamente
Cézare ergueu a cabeça, cravando seu olhar em seu
rosto.

A expressão dele era amedrontadora, seus olhos


ambarinos pareciam afiados, embora houvesse
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olheiras visíveis debaixo deles, deixando seu rosto


bronzeado com uma aparência cansada. Parecia que
ele estivera acordado a noite inteira, ela nem ao
menos era capaz de imaginar o que ele estivera
pensando durante todo aquele tempo.

Ela sentiu a língua pesar em sua boca,


procurando palavras em sua cabeça para explicar a
confusão que havia se formado em seu interior, mas
nada parecia fazer sentido.

Ainda em silêncio Cézare se levantou do chão


frio, seus movimentos pela primeira vez pareceram
lentos e desconfortáveis como se ele precisasse usar
toda sua força de vontade para continuar se
movendo.

Ele atravessou a pequena distância que os


separava, seus passos também não ressoaram ao
redor, algo dentro dela pareceu despertar uma ânsia
um medo primordial que pediram que ela corresse
se afastasse daquele homem, mas seu corpo
simplesmente não foi capaz de obedecê-la. Seus
pés pareciam terem criado raízes no chão, quando o
mafioso a alcançou erguendo a mão que ele
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carregava sua arma e apontando diretamente para


sua têmpora tudo o que Amy conseguiu fazer foi
sentir os olhos se abrirem em espanto e horror.

- Cézare...

- Onde estão os diamantes? – pela primeira vez


ela ouviu o descontrole em sua voz, embora ela
tivesse controlada e não passasse de um murmúrio
que mal parecia romper o silêncio do galpão.

Amy fechou os olhos com força tentando


controlar sua respiração que se tornara difícil, o
cano da arma em sua pele era gelado, o metal frio e
extremamente rígido lhe trazia uma sensação de
desconforto. Engolindo em seco ela ordenou a si
mesma a controlar o pânico que borbulhava em seu
interior, forçando as palavras a saírem de seus
lábios.

- Eu não sei...Eu não tenho outra resposta para


te dar.

Os olhos dele se estreitaram como se ele não


tivesse gostado nenhum um pouco de sua resposta,
a pressão que ela sentia ao lado de sua cabeça
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apenas se intensificou.

- Mesmo com uma arma apontada pra sua


cabeça, você ainda vai continuar mantendo essa
resposta? Você é realmente tão estúpida assim? O
jogo acabou.

- Você acha que isso é um jogo para mim? –


perguntou a garota incapaz de esconder o tom
raivoso em sua voz – Essa é a minha vida!

- Diga-me onde estão os diamantes! – gritou


Cézare sua voz retumbando ao redor, ecoando pelas
paredes de metal.

Amy trincou os dentes, cravando a ponta de


suas unhas nas palmas de suas mãos, sua mente não
era capaz de processar nada do que estava
acontecendo com ela naquele momento, o medo
pressionava cada ponto de seu corpo, fazendo com
que ela desejasse se salvar de qualquer maneira
mesmo que isso custasse a própria segurança de seu
irmão, mas ela não era capaz de fazer com que
aquelas palavras chegassem até sua boca. Não tinha
a força necessária para trai-lo, ela não queria

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morrer, mas também não era capaz de usar a vida


de Peter como moeda de barganha.

- Você vai me matar de qualquer forma –


respondeu ela por fim tentando controlar o tremor
em sua voz, que fazia com que suas palavras
soassem fracas e incorretas. – Não importa o que eu
diga.

- Eu posso poupa-la da dor, nem mesmo assim


você vai me dizer onde está seu cúmplice? Você
mesma disse que ele não teria a mesma
preocupação com você, então por que se importar?

Os olhos de Cézare pareciam brilhantes demais


assombrados e eram tudo o que a garota podiam
enxergar naquele momento, um pensamento
mórbido cruzou sua mente. Aquela seria a última
imagem que ela iria enxergar antes de fechar seus
olhos para sempre.

- Ele é meu irmão... – respondeu Amy num


sopro de voz quase inaudível – Por que ele é meu
irmão...

Ela observou a descrença tomar conta do rosto


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de Cézare, a mão que ele segurava a arma contra


sua cabeça, pareceu perder a força por um breve
instante.

- Você morreria pelo seu irmão? – perguntou


ele numa voz que não era capaz de esconder o
horror e o espanto.

- Ele é minha família – respondeu a garota


enquanto um sorriso triste brincava em seus lábios
– Não é isso que é ser família? Proteger um aos
outros?
◆◆◆

Cézare não podia acreditar em seus olhos ou


mesmo em seus ouvidos, diante dele a garota que
ela era seu alvo sorria de forma singela ignorando a
arma apontada contra sua cabeça.

Uma certeza se infiltrou por sua mente,


deixando sua cabeça ainda mais pesada, ele nunca
conseguiria arrancar dela o nome de seu irmão.
Embora aquela pudesse ser a decisão mais estúpida
do mundo, ela iria protege-lo até o fim. Mantendo
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sua identidade em segredo, levando para o tumulo o


lugar onde ele se escondera. Mantendo-a em
segurança. E ele sabia que o filho da puta não
merecia metade daquela consideração.

A decisão mais racional a se tomar naquele


momento era clara, eles haviam chegado a um
impasse, ele poderia continuar perdendo seu tempo,
buscando extrair qualquer informação que
conseguisse através da tortura, mas duvidava que
ela fosse trair seu irmão. Ele deveria matá-la e
acabar logo com isso de uma vez por todas? Sabia
que o Capo não iria se opor, então ele poderia
continuar a procurar seu irmão, partindo de outras
pistas, e conseguindo informações em outros
lugares. Essa seria a melhor abordagem, então por
que ele simplesmente não era capaz de realiza-la?
Por que parecia haver um peso descomunal em seu
dedo, impedindo que ele apertasse o gatilho?

Ela estava indefesa diante dele, exatamente da


mesma forma que ele a vira pela primeira vez. Ela
não era diferente de nenhuma das outras vítimas
que haviam encontrado um fim em suas mãos. Ele
nunca pensara em nenhuma daquelas pessoas,
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nunca havia as encarado além de um trabalho a ser


cumprido, até ela chegar. Ele estava prestes a falhar
pela primeira vez em sua vida, e a culpa era da
garota diante dele.

Raiva deixou seu sangue fervendo e nem


mesmo isso foi capaz de irrita-lo o suficiente para
obriga-lo a cumprir com sua tarefa. Diante da arma
apontada para sua cabeça, ela tremia como uma
árvore muito jovem exposta ao vento, as lágrimas
se acumulavam em seus olhos, enquanto ela tentava
bravamente segura-las represando-as em seu olhar.
Altiva até mesmo no final.

Ela dissera que protegia seu irmão porque ele


era sua família, porque isso era o que eles faziam, e
Cézare não podia achar aquilo mais confuso ou
mentiroso. Para ele família não passava de um
sobrenome, um peso, uma obrigação. Ele sabia
muito bem que ninguém no clã Fonezi levantaria
um dedo para protege-lo de espontânea vontade.
Todos cuidavam se seus próprios assuntos, usando
o sobrenome que o destino havia lhe dado, e todos
eles protegiam suas próprias costas. Sentimentos
como lealdade, amor, proteção não passavam de
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ilusões, que apenas serviam para controlar as


pessoas. Ele próprio havia apreendido aquela lição
muitos anos atrás, quando seu gêmeo um garoto de
oito anos de idade havia rasgado seu rosto para
provar ao avô deles quem era o mais forte, e o mais
apto aquele que iria seu herdeiro no futuro. Ele
sabia que Pietro nunca iria se sacrificar por ele, e
embora ele obedecesse às ordens de seu irmão, ele
não poderia se importar menos com ele. As coisas
eram simples assim.

Cézare gostaria de lhe dizer isso, de falar o


quanto ela estava sendo uma tola ingênua por agir
daquela forma, mas do que isso adiantaria? Ela era
uma prisioneira, apenas mais um serviço. Aquela
não deveria ser diferente de qualquer outra
execução que ele um dia havia realizado, e mesmo
assim por que ele continuava parado diante dela,
petrificado como simplesmente não pudesse
conseguir seguir adiante?

As lembranças da noite anterior dispararam por


sua mente, fazendo com que seu punho se fechasse
com ainda mais força sobre o cabo de sua arma. As
sensações ainda eram muito vividas em sua
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memória, frescas demais fazendo com que ele


ainda pudesse sentir a forma com que ela tocara seu
corpo, o jeito que ele havia percorrido suas mãos
sobre sua pele, sentido o aroma de seu sabonete aos
lados de seu pescoço. Ele havia gostado daquela
sensação. Muito mais do que ele seria capaz de
admitir.

A mulher diante dele, era um perigo, uma


ameaça que ele não era mais capaz de ignorar
porque ele não conseguia resistir a atração
desconhecida e inominada que ele havia cultivado
por ela. A parte criminosa em sua mente lhe dizia
claramente que ele precisava elimina-la. Qualquer
coisa que pudesse colocar sua sobrevivência em
risco precisava ser tirada de seu caminho, fora
assim que ele aprendera a viver, havia sido dessa
forma que ele trilhara seu caminho até ali, e nada
mais estava claro para ele do que o fato de que
aquela garota podia muito bem ser sua perdição.
Ele precisava puxar o gatilho, assim como fizera
todas as outras vezes.

Ele engatilhou sua arma o som ressoou pelo


ambiente alto como badalar de sinos, a sua frente a
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garota ergueu seu olhar assustado, seus olhos azuis


muito grandes em seu rosto delicado, o lábio
trêmulo. Ela não pediu que ele parasse, nem lhe
implorou por misericórdia, não pediu que ele lhe
poupasse, simplesmente o encarava de frente
aguardado, o rosto erguido enfrentando de frente
seu pior pesadelo, e ele soube que nunca mais
conseguiria se livrar daquela mensagem.

Cézare nunca tinha sido assombrado por seus


atos, mas uma certeza naquele momento pareceu
crescer dentro de seu peito. Se ele matasse aquela
mulher, então seu fantasma iria assombra-lo o resto
de seus dias.

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Capítulo Dezenove
Amy tentou conter o tremor que varreu seu
corpo, quando a arma apontada diretamente foi
engatilhada, o suor escorreu por suas costas, o
coração retumbando em seu peito de maneira
dolorosa. Tentou conter os pensamentos erráticos
em sua mente, forçando a si mesma a acreditar que
ela não sentiria dor, tudo seria rápido demais, ela
não podia impedir desviar correr. O medo pesava
em seu corpo como uma mortalha de aço.

- Você pensou que poderia me enganar – disse


Cézare sua voz soando como uma lixa que se
arrastava pelo chão pedregoso, deixando seu
sotaque ainda mais carregado. – Achou que eu iria
cair em sua sedução.... Por que você deixou que eu
te tocasse?

As palavras dele fizeram com que o sangue


corresse ainda mais rápido em seu corpo se
concentrando em suas bochechas, além de ameaça-
la com uma arma ele ainda era capaz de humilha-la,
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Amy sentiu a raiva correr como lava em seu


sangue.

- Responda – perguntou ele soando de maneira


descontrolada – Por que você me deixou toca-la?
Você realmente achou que pudesse me controlar?

- Eu não vou responder nada pra você! –


rebateu a garota enquanto uma lágrima teimosa
escorria por seu rosto contraído – Você pode fazer
o que quiser comigo! Eu estou cansada das suas
ordens, das suas ameaças!

A voz dela se partiu enquanto ela gritava, suas


palavras se tornando afiadas doendo contra sua
garganta assim como o choro que ela conter. As
emoções haviam a engolfado completamente como
se ela tivesse se afogado no mar de sentimentos que
parecia ter se represado atrás das portas de seu
coração.

A sua frente os olhos de Cézare se tornaram


mais afiados, ele deu um passo em sua direção,
fazendo com que ela fosse obrigada a se afastar, ela
tentou conte-lo usando seu corpo empurrando-o

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com suas mãos. Sabia que nunca seria capaz de


derrota-lo usando força bruta, mas não era mais
capaz de pensar com clareza alguma. A parte
racional de seu cérebro estava completamente
silenciosa, agora apenas o instinto parecia guia-la.

Com brusquidão suas costas se chocaram contra


a parede, o folego foi retirado com o impacto de
seus pulmões, mas ela nem ao menos foi capaz de
registrar a dor. Ela usou as mãos para tentar acerta-
lo de alguma forma, afastando a arma apontada em
sua cabeça. De repente a única coisa que ela
precisava era se afastar dele, daquele lugar daquele
mundo do qual ela não pertencia.

- Você quer me matar? – gritou a garota sua voz


soando completamente enraivecida e desconhecida
para seus ouvidos – Então faça! Eu não aguento
mais isso! Não suporto mais você!

Com apenas uma das mãos Cézare segurou seus


pulsos acima da sua cabeça, ela tentou se soltar
usando seu corpo, chutando-o com toda sua força,
mas ele imobilizou seu corpo usando o seu próprio,
até que ela estivesse prensada entre a parede de
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metal gélida e seu corpo ardente.

Rangendo os dentes em frustação até que sua


mandíbula estivesse doendo, Amy enfrentou o
olhar dele, ignorando a arma que ele ainda segurava
em sua mão embora tivesse afastado de seu rosto.
Ele a olhava com uma expressão indecifrável os
olhos dourados brilhando mais do que nunca,
completamente focados em seu rosto.

- Por que você me deixou toca-la? – repetiu ele


mais uma vez, apertando suas mãos contra seus
pulsos como se não pudesse suportar o fato de que
ela não lhe entregava uma resposta.

- Eu odeio você!

- Se você me odeia tanto quanto diz, então por


que me deixo toca-la? Seu corpo reagiu ao meu, e
isso não era algo que você pudesse fingir.

As palavras dele serviram apenas para inflamar


a raiva que parecia ocupar cada parte de seu corpo,
ela desejou poder ataca-lo com a mesma força que
ele exercia sobre seus pulsos. O medo que ela
sentira apenas alguns momentos atrás parecia ter
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sido varrido para longe, naquele momento sentia


como se tivesse experimentando uma montanha
russa de emoções da qual ela não era capaz de
controlar.

Sem saber o que responder, enquanto sua mente


se enchia das imagens de ambos se tocando na
noite anterior Amy desviou seu olhar, fitando
qualquer coisa que não fosse o rosto de Cézare que
pairava sobre o seu. Fechou os lábios com firmeza,
sentindo eles se transformarem numa linha fina e
apertada.

-Tudo não passava de uma estratégia não é


mesmo? Você achava que se fosse capaz de me
seduzir eu iria te libertar...

-Você não sabe do que está falando – rebateu


Amy incapaz de conter a fúria em sua voz.

-Admita – insistiu o mafioso sobre ela, seus


olhos brilhando de uma maneira enlouquecida – Ao
menos seja capaz de admitir isso.

-Você é um monstro.... Ontem a noite você nem


ao menos foi capaz de olhar em minha direção, me
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ignorando como se eu fosse a única que tivesse


perdido a cabeça. Você quer que eu admita? Quer
saber a verdade. Eu odeio você! Odeio sua família,
e tudo o que eles me fizeram passar por culpa do
meu irmão! Mas, acima de tudo isso eu me odeio
mais ainda, porque eu não queria ter sentido
nenhum prazer noite passada quando você me
tocou!

As palavras dela ecoaram ao redor, sua voz se


perdendo no salão, diante dela ela percebeu a
expressão incrédula e irritada que surgiu por toda a
face de Cézare, ela não sabia compreender os
sentimentos erráticos e confusos que bagunçaram
sua mente naquele instante, mas ela não se
importava mais. Todo o peso que ela havia sido
obrigada a suportar havia se tornado insustentável,
e ela simplesmente empurrar para fora de seus
lábios para que dessa forma ao menos ela pudesse
aliviar nem ao menos um pouco que fosse a pressão
que havia se acumulado em seu peito.

-Era isso o que você queria ouvir? - perguntou


Amy, agora que ela começara a despejar seus
sentimentos, ela sentia como se não fosse mais
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conseguir conter – Era isso o que você queria que


eu te contasse antes que...

Ela nunca foi capaz de terminar a frase, os


lábios de Cézare se fecharam sobre os com
violência e possessividade, beijando-a com
ganancia e desespero. O choque a deixou
completamente estática enquanto uma onda de
sentimentos prazerosos e dolorosos a atingiam ao
mesmo tempo. Usando os braços ela tentou afasta-
lo dela, forçando seus ombros para trás, enquanto
tentava se libertar dele, virando seu rosto,
interrompendo o beijo roubado.

- Não - Murmurou a garota, o fôlego acelerado


preso em seus lábios, o coração batendo
ensandecido dentro de seu peito - Você não tem o
direito de fazer isso, não depois de ter me
ameaçado com essa arma!

Suas palavras pareceram trazer um pouco de


clareza ao homem que a mantinha prisioneira, seus
olhos fixos sobre ela eram duas gemas brilhantes
indescritíveis. Mesmo após tudo isso havia uma
parte dela que se sentia atraída por ele, o quão
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doente sua mente precisava ser, para que ela se


sentisse daquela maneira.

- Você vai me matar – disse ela num sussurro


dolorido – e mesmo assim você nem ao menos me
deixou manter meu orgulho... Eu odeio você...
Odeio...

A voz dela se quebrou mais uma vez, e


finalmente as palavras dela pareceram atingi-lo, a
arma que ele segurava caiu no chão com um estalo
audível de metal, as mãos dele soltaram seus pulsos
enquanto seus braços enlaçavam seu corpo tremulo.
As lágrimas jorraram de seus olhos, sua visão ficou
embaçada, suas pernas tremulas, ela sabia que
deveria se afastar dele, mas seu corpo não era capaz
de se mover naquele momento. Seus dedos
agarraram em sua camisa, seu choro molhando seu
peito, enquanto o som de seu lamento retumbava
em seus ouvidos.

Ela chorou com desespero, as lágrimas


encharcando seu rosto deixando-o ardido, seus
lamentos ecoaram em seus ouvidos sua garganta se
contorceu em agonia, o desespero era uma torção
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dolorosa em seu peito, mas quando finalmente o


volume de suas lágrimas diminuiu pela primeira
vez ela sentiu que era capaz de respirar com mais
tranquilidade, embora exausta sentia como se ao
menos uma pequena parcela do peso esmagador
que ela tivera carregando em suas costas havia sido
retirada.

Ergueu os olhos, sentindo as últimas lágrimas


se prenderem em seus cílios, lentamente ela soltou
a camiseta de Cézare, em sua agonia ela havia
agarrado sua camiseta como se suas mãos fossem
garras, trazendo-o mais perto de seu corpo, usando-
o como apoio, a única coisa que parecia mantê-la
firme nas ondas agitadas que eram seus sentimentos
naquele momento. Seus pensamentos ainda eram
um caos completo. Amy não era capaz de
compreender o que havia entre ela e o homem que
a amparava em seus braços. Alguns segundos atrás
ele havia apontado uma arma em sua direção, agora
seus braços rodeavam sua cintura com uma
gentileza quase insuportável. A contradição de toda
aquela situação, cada vez mais a aproximava do
abismo da loucura.

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Os olhos do mafioso estavam fixos sobre seu


rosto, deixando-a ainda mais confusa, ela tentou
mais uma vez se afastar, usando o que havia
sobrado de suas forças para empurrando-o com as
mãos se tórax para longe, mas seus esforços mais
uma vez foram inúteis.

Sem dizer uma única palavra, ou mesmo


desviar seu olhar Cézare tocou seu rosto com
cuidado no alto de suas bochechas. O gesto a
surpreendeu por sua delicadeza, deixando-a ainda
mais confusa. A ponta de seu polegar deslizou por
sua pele lentamente, seu toque quase incerto, como
se ele também não soubesse o que estava fazendo.

Amy queria se afastar dele, mas a sensação que


sentia naquele momento viajou por todo seu corpo
provocando uma onda de sensações avassaladoras.
Lentamente o medo pareceu regredir embora ela
soubesse que não deveria confiar no homem que a
mantinha em seu abraço. Ele era seu inimigo, e
mesmo assim nunca ninguém havia a tocado
daquela maneira, olhado para ela daquela forma.

Ele se aproximou diminuindo ainda mais a


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distância entre eles, com toda cautela do mundo


seus lábios roçaram sua testa, suas pálpebras. Ele
poderia sentir o gosto salgado de suas lágrimas? O
pensamento a deixou incomodada, ela precisava ser
mais forte do que aquilo.

- O que você fez comigo? – murmurou Cézare


de forma confusa, como se ele realmente não
soubesse encontrar uma resposta – Amy... Você
consegue me entender? Eu não quero te machucar...

O coração da garota falhou um momento em


seu peito como se ela não pudesse acreditar
totalmente nas palavras que ele estava lhe dizendo.
Assustada, fitou os olhos dourado dele enquanto
deixava que seus lábios se partissem dizendo.

- Então não me machuque...

O toque de Cézare se tornou mais firme, ela


sentiu a outra mão livre dele prende-la pela cintura,
na parte mais distante de seu cérebro ela ouviu sua
consciência lhe dizendo que aquilo era errado e ela
iria se arrepender, mas ela afastou essa voz,
ignorando-a por completo. Ela sabia que aquilo era

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errado, mas estava cansada e confusa e por um


único momento ela decidiu que iria agir sem pensar
nas consequências.

Dessa vez ele a beijou com delicadeza, os


lábios dele roçaram sobre os seus como uma caricia
leve como uma pluma. As mãos dela tremeram
sobre sua camisa, erguendo-se nas pontas de seus
pés ela enlaçou seu pescoço, trazendo-o mais perto,
pressionando seus seios contra seu corpo. O beijo
tornou-se mais agressivo, e Cézare respondeu
devorando sua boca, mordiscando seu lábio. Um
gemido doloroso ressonou em sua garganta, e Amy
sentiu seu coração se derreter, com dificuldade ele
se separou de seus beijos, seu rosto pairando sobre
o dela, suas respirações se misturando no ar gelado
da manhã.

- Me diga que é isso que você quer Amy. Eu


preciso... saber preciso ter certeza de que isso não é
apenas uma artimanha.

Os dedos dela se infiltraram por seu cabelo, a


maciez deles deixou-a encantada, o cheiro de capim
limão invadiu todos seus sentidos, ela nunca mais
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seria capaz de dissociar aquele aroma de sua figura.

- Eu quero você Cézare – respondeu ela


ofegante, sua voz distorcida pela emoção, enquanto
ela depositava um beijo em seu queixo – Agora...

A barba dele por fazer era áspera em seus


lábios, a sensação de prazer indescritível. Ele
capturou mais uma vez seus lábios, o beijo se
tornando faminto sôfrego, a respiração dela se
tornou descompassada enquanto as mãos dele
subiram por suas coxas, tocando o alto de sua
cintura, até que ela sentiu os dedos dele agarrando a
carne macia de suas nádegas. Ele usou sua força
para amparar seu corpo, enquanto ela enlaçava suas
pernas ao redor de sua cintura torneada. A ereção
dele pressionou exatamente contra seu centro, e
Amy se apertou contra ela rebolando, tentando
aumentando ainda mais a onda de prazer que
crescia em seu baixo ventre.

Ele se deslocou com ela, seus passos agora


apressados soando alto no silêncio do galpão, ela
havia esquecido completamente o frio, enquanto a
língua dele invadia sua boca, ela deixou que seus
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dedos percorressem seu pescoço forte, suas costas


repletas de músculos sem conseguir o suficiente de
contato. Nunca era o bastante.

O quarto onde ficava sua cama, entrou em foco,


com apenas algumas passadas ele cruzou todo o
ambiente, deitando seu corpo de costas contra a
cama. Ele se separou dela apenas
momentaneamente para observa-la, os braços dele
aprisionaram contra o colchão ao redor de seu
rosto. Com a respiração descompassada ela abriu as
pernas, deixando que ele se acomodasse entre suas
coxas.

As mãos de Cézare viajaram para a barra de sua


blusa, as pontas de seus dedos roçando a pele
sensível ao redor de seu umbigo, ele ajudou-a a
tirar seu suéter deixando que a peça de roupa
ficasse esquecida aos pés da cama.

Completamente nua sob ele, Amy deixou que


seus olhos dourados devorassem seu corpo. Na
noite anterior a única luz que havia os iluminado
era a do abajur ao lado de sua cama. Agora ela
podia observar com detalhe cada pequeno contorno
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de seu rosto, da forma como se corpo parecia ter


sido esculpido em mármore. As cicatrizes dele
rodeando sua pele prateadas como mercúrio. Seu
rosto concentrado, seus olhos brilhando de forma
fulgurantes fixos em seus seios, deslizando por toda
a extensão de seu corpo até alcançarem seu sexo
nu. Amy sentiu o olhar dourado de Cézare como
uma carícia. Como se fosse o toque morno do sol
sobre sua pele.

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Capítulo Vinte
Cézare sabia que nunca seus olhos haviam visto
uma imagem mais bela do que a da mulher que ele
tinha naquele momento presa em sua cama. As
ondas de seu cabelo dourado enchiam o travesseiro
como rios de ouro, os olhos azuis estavam escuros
repletos de luxuria, suas pálpebras pesadas. Os
lábios vermelhos inchados de seus beijos, de suas
mordicadas tão macios, deslizando a língua sobre
sua própria boca, ela podia sentir o gosto dela.
Nunca teria o suficiente daquilo.

Abaixando seus olhos, deixou que seu olhar se


fixassem em seus seios. A carne pálida e macia se
erguia para ele exigindo que ele os acariciasse, os
mamilos rosados se ergueram por causa do frio.
Com todo cuidado Cézare se abaixou, um de seus
joelhos abrindo mais de suas pernas, para que ele
pudesse se esfregar contra seu centro. Sua língua
rodou sobre um de seus mamilos erguidos, prazer
explodindo em sua boca. Embaixo dele Amy jogou
a cabeça para trás, seus gemidos ecoando em seu
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ouvido, excitando além da racionalidade.

Ele lambeu seu mamilo, chupando a ponta até


deixa-la úmida palpitante, enrijecida. Seus dedos
cavaram a carne macia ao redor deles, apertando-os
os gemidos dela agora se tornaram quase doloridos,
ela soltou um de seus mamilos, deixando que sua
língua percorresse sua aureola, até desviar sua
atenção para o próximo. Recomeçando sua tortura,
novamente chupando-a, mordendo apertando sua
carne macia contra suas mãos. Ele empurrou seu
quadril contra ela apreciando a fricção entre seus
corpos, sentindo seu calor mesmo através do tecido
de sua calça. O instinto gritou dentro dele,
primitivo ele precisava estar dentro daquela mulher.
Reivindicá-la completamente.

Soltando seus mamilos, Cézare depositou uma


trilha de beijos molhados descendo por seu corpo,
até alcançar seu umbigo, ali ele mordiscou sua pele
seus dentes marcando-a levemente, erguendo seu
olhar ele fitou seu rosto, um rubor rosado deslizou
por suas feições enquanto a ponta de seus dedos
cobria seu monte de vênus, ali sua carne era lisa e
pálida Cézare lambeu-a antecipando o momento,
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saboreando o calor de sua pele, enquanto voltava a


fixar novamente seu olhar sobre Amy:

- Abra suas pernas para mim, eu quero vê-la por


completo.

O corpo dela tremeu sob seu toque, com ambas


as mãos ele forçou lentamente seus joelhos abertos
enquanto deslizava seus dedos até o alto de suas
coxas, prendendo-a naquela posição, então seus
olhos se fixaram em seu sexo.

- Você está molhada Amy... encharcada pra


mim...

Cézare quase não conseguiu conter o desejo que


pareceu tomar conta de todo seu corpo. Sua ereção
pulsava em suas calças de maneira dolorida, mas
ele tratou de ignorar isso focando-se no que havia
diante dele. Deslizou os dedos de sua mão direita
sobre seu sexo lentamente, tocando-a e abrindo
ainda mais. Ela estava úmida, sua pele rosada deu-
lhe água na boca. Ela precisava chupa-la
completamente sentir seu sabor em sua língua,
deslizar seu corpo no fundo de se canal.

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Ele deslizou um dedo dentro de sua abertura, o


gemido dela ecoou em seus ouvidos, o quadril dela
se remexendo, enquanto suas mãos pálidas
apertaram os próprios seios se excitando diante
dele, apenas para tortura-lo ainda mais.

- Você gosta disso... Você gosta de sentir meu


toque sobre você – ele deslizou mais um dentro
para dentro dela, sua pequena abertura os sugando
com avidez. Amy retorceu seu próprio corpo, se
balançando contra sua mão, os olhos pesados
brilhando com luxuria.

- Cézare – ela murmurou seu nome, erguendo


seu rosto afogueado, seu nome soando como uma
súplica em seus lábios. Naquele momento ele teria
entrega-lhe o mundo se ela tivesse lhe pedido – Eu
estou tão perto...

- Ainda não bela, eu ainda não tive o suficiente


de você – respondeu ele deslizando os próprios
dedos para fora de seu calor, levando-os até sua
boca. Ele chupou sua umidade com voracidade o
gosto dela penetrando em sua língua, fazendo com
que seu membro latejasse em suas calças. Ele não
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iria conseguir suportar muito mais daquilo.

Ele voltou a toca-la, deslizando novamente os


dedos para seu interior, as paredes de sua abertura
apertando-os enquanto ele os movimenta agora
com velocidade enquanto a palma de sua mão
roçava em seu clitóris inchado.

- É disto que você precisa – murmurou Cézare


sem conseguir reconhecer o som de sua própria voz
crua de emoção – Eu lhe darei tudo. Você foi feita
pra mim.
◆◆◆

Amy não conseguia encher seus pulmões


completamente, o prazer havia anuviado sua mente,
deixando-a atordoada. Suspiros deixaram seus
lábios enquanto ela também não podia conte-los.
Com as pontas dos dedos ela apertou os mamilos de
seus seios, o prazer irradiando por eles enquanto
sentia os dedos de Cézare em sua intimidade
molhada. Preenchendo-a completamente. Toda vez
que ele os movimentava ela sentia a plenitude no
movimento, e toda vez que os ele os retirava o
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vazio a torturava.

Ela precisava de seu corpo, dentro dela


tocando-a no fundo do seu para que ela conseguisse
suportar a onda de luxúria que percorria todo seu
sangue.

Erguendo uma das mãos a garota deixou que


seus dedos tocassem a cintura de sua calça,
deslizando-a para baixo, os olhos de Cézare se
prenderam ao seu, entendendo o significado
daquele gesto ele agarrou seu pulso, prendendo seu
olhar ao dela.

- Você entende o que isso significa? Se


continuarmos eu não vou ser capaz de parar dessa
vez.

A emoção deixou sua língua pesada, os dedos


dele ainda estavam em sua carne úmida, mas já não
eram mais o suficiente. O desejo dela por seu corpo
estava se tornando insuportável.

- Eu preciso de você – respondeu a garota num


sussurro de voz, erguendo seu corpo e se apoiando
em seus próprios cotovelos, para poder observa-lo
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completamente.

Ela esperou que sua mente racional lhe


criticasse, mas naquele momento seus pensamentos
estavam vazios. Ela dissera a verdade, precisava
daquele homem com um desejo primitivo e
incontrolável. Nunca sentira aquilo por nenhuma
outra pessoa. Como se ele tivesse a viciado em
algum tipo de droga desconhecida.

Com lentidão Cézare soltou seu pulso, com


cuidado ele também retirou os dedos de dentro de
seu corpo, tocando o cordão que prendia a calça em
sua cintura, deslizando-a por suas pernas.

A ereção dele pulou livre, para que ela pudesse


aprecia-la totalmente. O membro dele se erguia de
seu corpo rígido como pedra, uma pequena gota
perolada se formando se agarrava no alto. Amy
deixou que seus dedos se fechassem ao redor de seu
comprimento, ela deslizou sua mão para baixo
apreciando a maciez de sua pele, e a rigidez por
debaixo daquele contato.

Calor inundou seu baixo ventre, sua abertura

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ficando ainda mais molhada, ela tocou-o deslizando


a palma de sua mão contra sua ereção.

- Amy – rosnou ele balançando seu quadril para


frente, fodendo seu aperto, enquanto gotas de suor
apareciam em suas têmporas e ele jogava sua
cabeça para trás os cabelos caindo em cascata
contra seus ombros fortes.

Ela queria tortura-lo de prazer, mordeu o lábio


interior enquanto seu olhar percorria seu corpo com
avidez. Ele era magnifico, os músculos talhados de
seu tórax, os ombros encorpados e esticados, as
pernas musculosas recobertas com pelos dourados.
Ele era completamente bronzeado, como se o sol
tivesse beijado cada pequeno pedaço de sua pele.
Ela imaginara que iria encontrar uma marca mais
pálida onde ele usava suas roupas de baixo, mas
todo seu corpo exibia a mesma tonalidade. Ela
imaginou que ele deveria viver num lugar onde o
sol estava sempre presente, e que ele estava
acostumado a estar ao ar livre completamente nu.

A imagem dele daquela forma surgiu em seus


pensamentos apenas para atormenta-la ainda mais,
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erguendo-se na cama a garota agarrou sua ereção


lambendo a ponta brilhante sentindo em sua língua
seu gosto levemente salgado.

As mãos fortes de Cézare agarraram seu corpo,


prendendo-a com firmeza, havia a sombra de uma
loucura pairando sobre seus olhos dourados, e ela
se perguntou se aquilo também poderia ser visto em
seu olhar.

- Não... não faça isso, eu ainda quero estar


dentro de você, e estou perto demais.

Sem perder tempo Cézare empurrou seu corpo


com delicadeza na cama, apoiando-se sobre seu
corpo. Amy soltou seu comprimento, deixando
agora que seus dedos percorressem seu tronco
esculpido em músculo. Com a ponta dos dedos ela
traçou a linha de suas cicatrizes, beijando-as e
chupando sua pele quente, incapaz de conseguir o
suficiente daquele homem.

As mãos fortes dele, separaram seus joelhos, e


ele se posicionou contra seu corpo, segurando seu
membro Cézare o colocou em sua abertura úmida.

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O contato foi o suficiente para que um grito


estrangulado deixasse sua garganta, ela sentiu as
pontas de suas unhas penetrarem em suas costas,
mas ele nem ao menos parecia ter notado.

Ele deslizou sua ereção por todo o comprimento


de sua entrada, torturando-a, enquanto usava seu
próprio pênis para masturba-la.

Amy balançou seus quadris, aumentando a


fricção entre eles, enquanto sentia a ponta de seu
membro deslizar por sua abertura torturando-a de
prazer. Sem desviar os olhos dela Amy sentiu uma
das mãos de Cézare segurar seu movimento
pressionando sua cintura na cama, enquanto a outra
mão alcançou o alto de sua entrada brincando com
seu clitóris sensível.

Foi demais para que ela pudesse suportar,


rolando seus quadris ainda mais enquanto um
gemido sufocado vibrava em sua garganta. O
prazer a engolfou com a força do de uma em alto
mar.
◆◆◆

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O calor úmido dela o apertava e Cézare achou


que não fosse suportar mais a pressão que sentia
correndo por seu membro. Ele nem havia sido
capaz de penetra-la totalmente, ele estava tão perto
que sentia que seria incapaz de suportar mais três
pressões.

O coração era um machado retumbando contra


suas costelas, o grito dela de prazer ainda ecoando
em seus ouvidos, ele queria ouvir seus gemidos
novamente. Ele queria ouvi-la gemer daquela forma
milhares de vezes. Ele nunca poderia ter o
suficiente daquela mulher, daquele prazer.

Cézare descansou seu corpo em seus


antebraços, afundando-se ainda mais em seu calor.
Centímetro por centímetro ele preencheu sua
entrada até estar completamente dentro de seu
corpo, sentindo o canal dela aperta-lo, aumentando
a pressão em sua ereção.

Os olhos azuis dela estavam brilhando ainda


mais, como dois pedaços de estrelas, o instinto
gritou dentro dele ordenando que ele se movesse
dentro dela. Seu quadril, se inclinou para frente
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desejando movimentar-se sobre ela, seus músculos


tensos de conter o desejo que tomá-la por completo.

As mãos dela deslizaram por suas costas, suas


pequenas unhas arranhando sua pele sensível, ele
sentiu seus músculos se ondularem debaixo de seu
toque, a respiração dela batendo contra seu pescoço
incendiou o desejo em seu sangue.

Ele contraiu seus quadris balançando seu corpo,


enviando seu eixo ainda mais fundo em seu
interior. O movimento foi profundo, e ele apenas o
repetiu mais uma vez e de novo, apoiando os
joelhos contra a cama, entrando no corpo dela,
preenchendo-a totalmente.

- Deus Cézare – murmurou ela contra seu


ouvindo, seus lábios capturando o lóbulo de sua
orelha – Estou perto... de novo... Não pare.

As palavras dela o empurraram próximo da


borda, ele aumentou o ritmo sentindo uma gota de
suor escorrer por suas costelas. Ela estava
completamente apertada em torno dele, levando-o
ao limite de sua sanidade.

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Um gemido choroso escapou de seus lábios,


espasmos tomando conta de seu corpo, seus olhos
brilhantes de fecharam no prazer do momento,
enquanto o sexo dela apertava seu pênis, uma vez e
mais outra até ele perceber que havia chegado em
seu limite.

Os gemidos dela encheram sua cabeça, o


orgasmo dela ondulando por toda sua ereção.
Cézare aumentou o ritmo, o som de seus corpos se
chocando ecoando no ambiente. Nunca sentira nada
como aquilo, o puro prazer indescritível.

A necessidade de preenche-la o inundou seu


instinto tomando conta de seu corpo
completamente, jogando sua cabeça para trás,
enquanto sentia seus olhos se fecharam num reflexo
a força de sua ejaculação arrancou um grito
estrangulado de seus pulmões, e ele sentiu que se
derramava completamente dentro dela, uma vez e
mais outra até que o prazer tivesse tomado conta
completamente de todos seus sentidos até não ter
sobrado nada mais.

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Capítulo Vinte e Um
O coração dela lentamente voltou a bater em
seu ritmo normal. Desacelerando até que ela
pudesse deixar de sentir os movimentos frenéticos
em seu peito. Seu corpo relaxou como se tivesse
envolvido numa nuvem de tranquilidade os
membros languidos. Sem saber o que dizer ela
ergueu os olhos, deixando que eles se focassem
sobre o rosto de Cézare.

Havia um rubor visível sobre sua pele


bronzeada no alto de suas bochechas, o fôlego dele
estava acelerado, seu cabelo bagunçado caindo
contra seus olhos. A imagem dele se perdendo em
seu orgasmo ainda estava fixa em sua mente, e ela
tinha certeza que levaria um longo tempo para que
pudesse esquece-la.

Seus lábios se partiram enquanto ela tentava


forçar as palavras a saírem de sua garganta. Mas o
que ela poderia dizer depois do que havia acabado
de acontecer entre eles. Todos os pensamentos
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erráticos e confusos que ela havia esquecido na


parte mais afastada de sua mente voltaram para
assombra-la, o medo mais uma vez prendendo suas
garras afiadas contra seu estômago.

- Não faça isso – pediu Cézare num murmúrio


colocando a ponta embaixo de seu queixo,
erguendo seu rosto para que ele pudesse olha-la de
frente por completo.

- Isso o que?

- Não se martirize dessa forma. Você é tão


transparente Amy, posso ver claramente sua mente
ser povoada pelo medo.

- E eu não deveria estar? ... – perguntou a


garota num sussurro embora ela não tivesse certeza
se queria escutar aquela resposta.

Os olhos dourados dele se tornaram mais


intensos, embora ela não pudesse compreender o
que se passava em seus pensamentos. Se ela era um
livro aberto, então Cézare com certeza era um cofre
fechado a sete chaves.

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As unhas dela se apertaram ainda mais na carne


de seus ombros, ela percebia que mais uma vez
estava se agarrando a ele, buscando algum tipo de
proteção, embora ela soubesse muito bem que era o
próprio Cézare seu principal temor.

Ainda em silêncio ele deslizou com cuidado de


seu corpo, seu membro roçando sua perna numa
caricia intima. Ela mordeu os lábios tentando
conter um suspiro involuntário, enquanto tentava
conter a onda de desejo que viajava por seu corpo.
Como se ela ainda não pudesse ter tido o suficiente
daquele homem.

Ela esperou que ele se afastasse, e se levantasse


como da ultima vez, evitando-a por completo, mas
sua expressão se tornou confusa e assustada, quanto
ele deitou-se ao seu lado da cama, puxando seu
corpo contra o seu prendendo-a num abraço
aconchegante.

- O que você está fazendo? – perguntou a garota


incrédula.

- Estou cansado – respondeu ele simplesmente,

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usando seu próprio braço para apoiar a cabeça dela


– Não consigo me lembrar qual foi a última vez que
consegui dormir mais do que duas horas seguidas.

Amy sentiu seus a surpresa tomar conta de sua


expressão. De olhos fechados Cézare usou a mão
que estava livre para puxar o edredom atrás de suas
costas sobre o corpo de ambos. Ela não estava com
frio, mas logo o tecido aconchegou sua pele,
enquanto seus corpos eram enclausurados num
casulo de maciez.

Como se fossem duas peças de um quebra-


cabeça, o corpo dele se encaixou ao dele. Uma de
suas mãos repousava sobre sua cintura enquanto
suas pernas se encaixavam numa proximidade
acolhedora e extremamente confortável.

Amy sentiu o corpo ficar tenso, enquanto


observava o rosto de Cézare daquela pequena
distância entre ambos. Com olhos fechados e
respiração compassada, seus cílios longos e
dourados na ponta faziam sombra sua bochecha.
Por um instante ele pareceu mais humano daquele
jeito, como se ela tivesse vendo ele por um outro
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ângulo. Um que o deixava mais frágil. Sentiu uma


vontade imensa de controlar o desejo incomum que
surgiu em seu interior de tocar as cicatrizes que
percorriam seu rosto. Sentir o toque dele sobre sua
pele.

- Não me olhe dessa forma vá descansar. –


disse o rapaz ainda de olhos fechados, como se
estivesse sabendo exatamente o que ela estava
fazendo.

A quentura se espalhou por suas bochechas de


maneira incomoda, sentia-se inquieta demais para
descansar, os pensamentos correndo numa
velocidade insana dentro de sua mente, enquanto
uma parte dela bastante barulhenta lhe gritava com
todas as forças, que ela não deveria permanecer ali
mais um único momento que fosse ao lado desse
homem.

Dividida entre milhares de pensamentos


conflitantes, Amy observou os olhos dourados de
Cézare se abrirem enquanto ele a fitava longamente
em silêncio.

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- Não vou pedir para que você confie em mim –


disse ele de forma muito tranquila, sem em nenhum
momento desviar sua atenção dela – Sei que seria
demais, depois de tudo o que eu disse pra você...
Mas, eu não vou machuca-la.

As palavras dele retumbaram em seus ouvidos,


enquanto seu coração explodia em seu peito, por
um momento ela não pode acreditar no que ele
estava lhe dizendo.

- Cézare seu irmão quer me ver morta... E isso


não muda nada, eu não contaria nada pra você
mesmo se soubesse onde ele está.

Ela pode ver um musculo pulsar em seu queixo,


seus olhos se estreitando ligeiramente, claramente
ele não havia gostado do que ela lhe dissera, mas
eles já tinham problemas o suficiente para que ela
precisasse adicionar a pilha algumas mentiras.

- Você pode manter seu silêncio – respondeu


Cézare – Mas, isso não muda o fato de que é minha
responsabilidade encontra-lo. Ninguém rouba da
família Fonnezi e sai impune.

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- Isso significa que eu também terei de pagar


em algum momento.

- Seu irmão enganou você. Eu irei discutir o


assunto com o Capo, por enquanto apenas
descanse, você não corre nenhum perigo aqui ao
meu lado.

As palavras dele não lhe trouxeram nenhum


conforto, como se seu cérebro se recusasse a
acreditar naquela realidade. Ela passara os últimos
temendo por sua vida, buscando uma maneira de
sobreviver. As coisas ainda lhe pareciam confusas
demais, para que ela pudesse relaxar, mas o peso de
todo o stress e cansaço que ela vinha suportando
ultimamente pesou sobre seus membros. Seu corpo
se tornou cada vez mais relaxado, se aconchegando
na calidez do edredom e no corpo de Cézare que
estava abraçado ao seu.

Suas pálpebras se fecharam contra sua vontade.


Ela queria continuar conversando com ele, fazendo-
lhe milhares de perguntas que borbulhavam em sua
mente, mas sentiu-se como se sua língua estivesse
muito pesada em sua boca, as palavras bagunçadas
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em sua cabeça. Antes que ela pudesse impedir o


sono arrastou sua consciência para longe dali.
◆◆◆

Amy sentiu as pálpebras tremularem enquanto


um raio de luz incômodo parecia estar diretamente
se infiltrando sobre seus olhos, ela se moveu
buscando a proteção do travesseiro, tentando mais
uma vez voltar a dormir. Suas pernas se remexeram
pela cama, enquanto ela se enroscava ainda mais no
edredom ao redor de seu corpo. Virando de um
lado para o outro, percebeu que estava sozinha.

A consciência daquilo limpou os últimos


vestígios de sono de sua mente, abrindo os olhos a
garota deparou-se com um quarto silencioso e
vazio. Cézare não podia ser encontrado em lugar
algum. Sentindo a ansiedade infiltra-se sobre seus
ossos, a garota se apoiou em um de seus cotovelos
erguendo-se na cama.

Acima de sua cabeça, a claraboia deixava uma


luminosidade embaçada ser filtrada por seu vidro,
lá fora as nuvens carregadas encobriam o céu
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predizendo que mais tarde naquele mesmo dia


haveria chuva sobre a cidade.

A desorientação de não saber as horas, deixou-a


mais uma vez incomodada, jogando as pernas para
fora a garota encontrou as roupas que ela havia
descartado de qualquer jeito na noite anterior.

Vestiu sua calça jeans sentindo uma dolorosa


sensação em suas pernas e partes intimas. As
lembranças da noite passada invadiram sua mente,
deixando que um sorriso singelo brincasse em seus
lábios. Seu suéter estava escondido debaixo de sua
cama, assim como suas meias, ela vestiu-a também
tentando esquentar os pés que já começavam a ficar
gelado. Havia dormido profundamente e não sentira
frio algum mas tinha certeza de que isso devia ser
porque durante todo aquele tempo Cézare estivera a
seu lado.

A euforia já havia sido um pouco diluída em


seu sangue, agora ela conseguia sentir que seus
pensamentos estavam um pouco mais lúcidos,
havia uma preocupação constante como um
incomodo persistente que ficava sempre em sua
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nuca, mas ela não era mais capaz de sentir o


desesperado que parecia corroer suas entranhas.

Por algum motivo, embora soubesse que talvez


estivesse sendo ingênua, ela acreditava nas palavras
de Cézare. Ele dissera ontem a noite que não iria
feri-la. E Amy havia acreditado em suas palavras,
mesmo contra todo o bom senso. Mesmo assim ela
sabia que não estava em segurança. Cézare dissera
que não iria lhe machucar, mas ela ainda correria
perigo enquanto o irmão dele, e Capo da família
Fonezi a quisesse morta. Como se isso não fosse o
suficiente seus pensamentos deslizaram em direção
a seu irmão. Nos últimos dias ela tentara evitar
nele, pensando exclusivamente em encontrar uma
maneira de escapar de seu cativeiro. Agora ela se
perguntava onde ele poderia estar. Preocupação
inundou seu corpo, deixando um gosto acido em
sua boca. Ela sabia muito bem que o motivo dela
estar naquela situação era culpa de Peter, mas não
podia deixar de se sentir apreensiva depois do que
Cézare havia lhe dito. A família Fonezi estaria atrás
de seu irmão, em busca dos diamantes perdidos, e
Amy não queria descobrir o que eles fariam com
ele quando o encontrassem
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Tentando abafar ao menos um pouco todos os


pensamentos que expandiam dentro de sua cabeça
naquele momento, Amy deixou que seus passos a
levassem em direção a porta. Estava se
perguntando onde Cézare poderia ter ido, quando
palavras ditas em voz baixa chegaram até seus
ouvidos, fazendo com que ela parasse de chofre
permanecendo muito quieta atrás da porta.

- O serviço ainda não foi realizado – ela poderia


facilmente reconhecer a voz de Cézare, o jeito
tranquilo e letal que ele construía suas frases – Eu
sei que você disse que tem urgência... Mas eu irei
conseguir a informação. Não é isso o que eu
sempre faço?

O horror puro tomou conta de sua expressão,


enquanto ela começava a entender o conteúdo
daquela conversa. Com a mão direita sobre seus
lábios ela abafou sua respiração descompassa,
enquanto calafrios corriam livremente sobre sua
coluna.

- O cúmplice dela é o irmão; Ela não irá trai-


lo... Sim eu tenho certeza a garota não sabia de
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nada ele foi a cabeça por trás desse plano.

Tremula Amy precisou usar toda sua força de


vontade para fazer seu corpo se mover, a porta de
correr do quarto estava entreaberta, mas ela podia
visualizar a pequena fresta que dava em direção ao
galpão lá fora. Deslizando seu rosto centímetro por
centímetro a garota fitou o que acontecia por trás
daquela barreira de metal.

Não muito longe dali, e de costas para ela


Cézare estava em pé, um celular moderno em seu
ouvido, ele havia vestido as mesmas calças de
moletom que usara na noite anterior, e parecia que
havia acabado de sair da cama. A imagem dele
provocou um salto descompassado do seu coração,
assim como um enjoo nada bem-vindo que agitou
seu estomago.

- Você não precisa se preocupar Pietro –


respondeu ele de maneira fria, deixando que seus
dedos percorressem as mechas de seu cabelo. – Eu
sei exatamente qual é o meu trabalho, e você não
precisa me lembrar dele.

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Amy não podia acreditar no que estava


ouvindo, depois da noite anterior ela havia
acreditado no que o mafioso lhe dissera. Havia
acreditado que ele não seria uma ameaça. Ela
dormira em seus braços. Como poderia ter sido tão
ingênua? Tão manipulável? Achara que poderia
engana-lo o seduzindo, mas havia sido ela quem
fora traída!

Tudo não havia passado de uma estratégia que


ele fizera na noite anterior para conseguir sua
confiança. Suas respostas!

O ódio queimou em seu coração, deixando o


canto de seus olhos vermelhos, afastando-se
agarota esticou as costas contra a porta, apurando
seus ouvidos completamente, para terminar de
ouvir o que ele estava dizendo.

- Eu só estou lhe pedindo mais alguns dias, e


você terá seus diamantes – uma pausa soou, onde
ela imaginou que ele estava esperando uma
resposta – Ela confia em mim, ela me levara até
eles.

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O coração de Amy afundou em seu peito, as


pontas de suas unhas cavando a parte macia de
dentro de sua mão. Em frenesi ela olhou ao redor,
sem saber o que fazer, desesperada! Os olhos dela
então pousaram sobre um dos objetos que ele havia
esquecido no dia anterior do quarto. Não era um
bom plano, e milhares de coisas que poderiam dar
errado invadiram sua mente naquele momento, mas
ela sabia que não poderia continuar ali nem mais
um segundo. Ela precisava se arriscar.

Dando um passo adiante, foi exatamente isso o


que ela fez.

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Capítulo Vinte e Dois


Os dedos trêmulos dela se fecharam sobre o
capacete que ele trouxera para o quarto na noite
anterior. Esquecido atrás da porta a garota não
havia lhe lançado um segundo olhar em sua
direção. Erguendo-o com ambas as mãos Amy
apertou a peça com força contra seu peito, tentando
conter o tremor que parecia vibrar por todo seu
corpo. Rangeu os dentes, tentando apagar todos os
outros pensamentos de sua cabeça. Ela não
precisava de nenhuma deles agora, não precisava
de nenhuma dúvida, ela havia feito uma escolha, e
iria até o fim.

Olhando pela fresta da porta, ela esperou


pacientemente enquanto observava Cézare, ele
trocou mais algumas palavras com seu irmão, mas
agora ela já não conseguia mais compreende-lo
porque ambos estavam falando em italiano. Com
olhos fixos nele, ela observou enquanto ela
desligava a ligação, e permanecia mais um tempo
olhando a tela de seu celular, com os dedos ele
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deslizou sobre a tela de vidro, depois digitando algo


sem que ela pudesse saber exatamente o que era. O
rosto dele assumiu uma expressão contrariada e
Amy daria qualquer coisa no mundo para saber o
que ele estava pensando. Correndo os dedos mais
uma vez por seu cabelo, o mafioso guardou o
celular no bolso, espreguiçando-se lentamente.

Ele parecia extremamente calmo. Não parecia


culpado, não parecia se importar de forma alguma.
Ela não passara de um joguete em suas mãos.

Os dedos dela se apertaram no capacete em


suas mãos, as unhas se chocando contra a superfície
lisa, onde seu reflexo era refletido. Um gosto de
ferrugem pinicou sua língua, sem perceber ela
havia mordido o próprio lábio até que ele
sangrasse.

Os passos de Cézare soaram abafados sobre o


galpão, ecoando o ritmo de seu próprio batimento
cardíaco, sem pensar nas consequências, Amy
esperou que ele se aproximasse do quarto, cada
segundo parecendo demorar uma imensidão de
tempo.
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Sem notar sua presença o mafioso abriu a porta,


ela pode notar o olhar repleto de surpresa que
surgiu em seu rosto, antes dela acertar sua cabeça
com força usando o capacete em suas mãos.

O som de carne se chocando reverberou pelo


lugar, a adrenalina deixando seus movimentos
confusos, trêmulos, agitados. Cézare tentou se
defender, mas cerrando os dentes a garota o atacou
novamente atingindo dessa vez seu rosto. Eles
caiaram no chão, numa confusão de membros, os
braços dele, tentaram alcançar o capacete que ela
usava, mas Amy o ergueu mais uma vez
desferindo-o contra seu rosto. O golpe atingiu em
sua têmpora e dessa vez os movimentos dele
cessaram.

A respiração chiada dela soou muito alta no


galpão, raspando em seus ouvidos, sem conseguir
acreditar direito em seus olhos, Amy observou um
filete de sangue escorrer da cabeça de Cézare
manchando o chão ao lado de seu rosto, num tom
de vermelho intenso que chegava a ser quase negro.

Seu estômago se revoltou com aquela visão,


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bile arranhando sua garganta. Suas mãos tremiam


violentamente assim como seu corpo. Parecia não
haver oxigênio naquele lugar, abrindo os lábios
amplamente a garota respirou com força sentindo o
mundo girar ao seu redor.

Ela teria conseguido mata-lo?

O pensamento lançou-a numa espiral caótica,


enquanto tudo ao seu redor parecia perder o
sentindo. O som do capacete se chocando contra o
chão tirou-a de seu estado imóvel. Ela nem ao
menos havia sido capaz de perceber que ele havia
escorregado de suas mãos.

Amy se levantou com dificuldade, suas pernas


tremiam como gravetos ao vento. Seu olhar se
fixou sobre o peito de Cézare, quando ele subiu de
maneira tímida inalando uma respiração, a garota
não soube dizer qual o sentimento pareceu se
alastrar por todo seu corpo.

Ordenando seu cérebro a se concentrar a garota


correu até a porta de entrada do galpão, forçando
suas mãos sobre a pesada porta de metal, que não

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se mexeu. Os olhos dela recaíram sobre o pesado


cadeado que trancava o local, impedindo sua fuga.
Sabendo que não teria muito tempo, a garota correu
de volta ao quarto, lançando um olhar em direção a
Cézare que continuava caído no vão da porta do
quarto.

Tentou combater a onda de remorso que


pareceu se infiltrar em seu coração. Ela não deveria
se sentir daquela forma. Ele havia a trancado ali
dentro, ameaçado com uma arma. Ela fora uma
vítima em toda aquela situação, portanto ela devia
fazer o que era certo e fugir daquele lugar enquanto
tinha uma chance.

Mesmo sabendo de tudo isso, uma parte dela se


recusava a deixa-lo, algo que lhe assustou
profundamente. Precisou se lembrar da conversa
que ela ouvira ele ter com seu irmão para virar as
costas para ele, fechando a porta do quarto atrás
dela com um estrondo audível.

Os olhos de Amy correram o lugar de maneira


enlouquecida, enquanto ela tentava buscar ali algo,
qualquer coisa que pudesse fazer com que ela
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conseguisse escapar daquele cativeiro.

A luz acinzentada da claraboia refletiu em seu


rosto, obrigando-a a fechar os olhos
momentaneamente, e naquele instante uma ideia
perigosa, mas provavelmente eficiente brilhou em
seu cérebro.

Com o fôlego acelerado, Amy correu


novamente para o galpão tentando carregar
algumas caixas de papelão que estavam ao redor, o
processo demorou muito mais do que ela gostaria,
enquanto se trancava mais uma vez dentro do
quarto, ela fitou o corpo de Cézare. Ele continuava
desacordado e embora e mancha de sangue ao redor
de sua cabeça, lhe desse uma aparência terrível sua
respiração já começara a se tornar mais estável. Ela
não tinha muito tempo.

Empurrando a cama até que ela ficasse


exatamente embaixo da claraboia, Amy jogou o
antiquado abajur no chão que se espatifou fazendo
um estardalhaço ao som de porcelana se quebrando,
enquanto ela apanhava o pequeno criado mudo em
cima do colchão. A imagem não lhe trouxe
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nenhuma segurança, mas ela não se deixou abalar


por aquilo, ela só tinha aquela chance para alcançar
seu objetivo. Ordenou a si mesma a não duvidar de
seus pensamentos, empurrando-os até o ponto mais
distante de sua mente. Ela sobreviveria aquilo.

Empilhando caixa, sobre caixa em cima do


criado mudo Amy construiu uma precária torre que
lhe permitia alcançar. Os objetos haviam se
empilhado de maneira precária sobre a cama, como
uma torre que lembrava um castelo de cartas.

Por um momento seu cérebro lhe mostrou


imagens onde aquele plano não daria certo, ela
acabaria se machucando, caindo daquela altura e
continuaria presa naquele lugar, até que Cézare
recobrasse sua consciência e ela sabia que nesse
momento ela estaria perdida.

O medo era uma bola comprimindo seu


estômago para baixo quando ela subiu na cama,
tentando controlar o tremor que viajava por todo
seu corpo. O pé dela falhou sobre o criado mudo
enquanto tentava se equilibrar sobre sua torre de
objetos improvisados que tremeu violentamente.
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Usando todo o equilíbrio que havia adquirido


aprendendo a dançar nos últimos anos, no Dionísio,
Amy distribuiu o peso de seu corpo, erguendo seus
braços, até que ela estivesse completamente em pé
sobre as caixas, e suas mãos estivessem tocando a
claraboia sobre sua cabeça.

Seus dedos deixaram marcas sobre a poeira que


havia se acumulado no vidro, enquanto seu coração
explodia em seu peito, um pássaro enjaulado dentro
de suas costelas. O desespero deixou seu corpo
agitado, suas mãos suavam copiosamente. A
garganta seca como o vento do deserto.

Ela tentou não pensar no que estava prestes a


fazer, concentrando toda sua força de vontade em
escapar daquele lugar. Equilibrando-se como uma
malabarista sobre uma corda simples, Amy cobriu a
própria mão esquerda com seu suéter e usando toda
sua força, atingiu a claraboia sobre sua cabeça. O
primeiro golpe reverberou por todo seu braço, a dor
se infiltrando até seus ossos, rangendo os dentes ela
continuou atingindo o vidro até que ele se
espatifasse ao seu redor como uma chuva afiada, e
o sangue tivesse manchando completamente sua
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blusa.

Sem perder tempo Amy se içou para cima da


janela, usando toda sua força seus dedos se
cravando sobre as bordas afiadas, o vidro se
infiltrando em sua pele, a dor na parte de trás de
sua cabeça era abafada pela ânsia de escapar dali,
finalmente ser capaz de acordar do pesadelo. Lá
fora o céu era cinzento como um pedaço de prata
polido.

Com o corpo trêmulo, a garota ergueu seu


corpo pairando sobre o galpão, ao longe as
silhuetas dos prédios da cidade se recortavam sobre
o dia que mal acabara de nascer.

O vento em seu rosto tinha sabor de liberdade.

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Epílogo

Antes mesmo de recobrar totalmente sua


consciência Cézare sabia que ele estava sozinho. O
silêncio ao seu redor era profundo demais, denso
assim como a nuvem estranha que parecia pairar
sobre sua cabeça.

Seus olhos se abriram lentamente com esforço,


a dor viajando como ondas por seu crânio. Num
reflexo ele sentiu seus dedos viajarem para a parte
dolorida, as pontas ficaram molhadas, trazendo a
mão para diante de seu rosto, ele observou seu
sangue refletir na luz da manhã.

Ela o havia acertado com força.

Usando seus cotovelos, ele içou seu corpo para


cima, ignorando a dor em sua cabeça. Uma corrente
de vento levantou as pontas de seu cabelo, o som
lamurioso reverberando ao seu redor.
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Por um momento que pareceu se estender


indefinidamente, ele não soube o que fazer além de
permanecer naquele lugar, os pés sobre seu próprio
sangue. Os sentimentos que rodeavam seus
pensamentos naquele momento, eram estranhos
desconhecidos. Deixavam-no confuso.

Relembrando em suas memorias, ele tentava se


recordar corretamente do que havia acontecido. Ele
fora atingido por Amy, olhando ao redor seu olhar
caiu sobre seu capacete caído próximo dali. Havia
uma mancha vermelha perto de sua viseira que
estava amaçada. Ele precisava admitir que ela havia
sido corajosa, ousada até mesmo. Mas, nada
daquilo teria acontecido se ele não tivesse baixado
sua guarda.

A raiva floresceu em seu peito, brilhante e


vermelha, esse sentimento ele conseguiu distinguir
com clareza. Caminhando ao redor Cézare deixou
que seus passos o levassem até o quarto, a porta
estava fechada, ele precisou colocar força sobre ela
para que ela se movesse, quando finalmente
conseguiu o som de metal sendo forçado rasgou o
ambiente.
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A tontura o assaltou, seus dedos cavando com


firmeza no metal a sua frente para que ele não
despencasse no chão. Sentiu um calor desagradável
escorrer por sua nuca. Ele ainda estava sangrando,
talvez a ferida que ela lhe dera fosse muito pior do
que ele havia imaginado.

Quando finalmente conseguiu entrar no quarto,


o frio envolveu todo seu corpo, o sangue secando
sobre sua pele. O lugar era uma completa bagunça.
Sua cama havia sido arrastada até ficar debaixo da
claraboia, seu criado mudo estava caído, espatifado
no chão, uma de suas pernas quebradas, as caixas
do galpão se espalhavam ao redor assim como seu
conteúdo, como se alguém tivesse perdido um bom
tempo destruindo-as a seu bel prazer. Ele não se
importou de caminhar sobre o vidro, agora a dor
havia sido esquecida por sua mente, que já
começava a voltar a funcionar com clareza.

Ela havia o traído. Tudo o que acontecera entre


eles na noite anterior não passara de uma farsa. Um
sorriso sarcástico brincou em seus lábios embora
uma onda de vergonha percorresse todo seu sangue,
ele não podia dizer que se sentia completamente
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surpreso. Os sinais estiveram sempre ali claros


como a luz do dia.

Ele que fora cego o suficiente para não


enxerga-los. Os olhos dele se fixaram sobre as
pequenas manchas de sangue que ele podia
enxergar na claraboia quebrada. O quão
desesperada, ela deveria estar para arquitetar uma
plano como aquele? Sentiu-se um idiota por fim
enquanto lembrava a conversa que tivera com seu
irmão. Ele pedira mais tempo a ele, dissera que iria
se responsabilizar por aquela garota, enquanto no
fundo de sua mente ela já começara a esquematizar
uma maneira para conseguir poupar sua vida. Ele a
desejava a seu lado, como nunca havia desejado
nada em sua vida. Estivera disposto a dizer isso a
seu irmão. Ele nunca havia pedido nada a ele, nada
aos Fonezi, imaginou que eles iriam entregar a
garota, desde que ele fosse capaz de encontrar os
diamantes e seu irmão. Quanto a esse, Cézare não
demonstraria piedade, ele que pagasse por sua
audácia sozinho.

Como ele havia sido tolo. Patético, enganado


por dois olhos azuis e um rosto ingênuo. A
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vergonha fez com que ele cerrasse os punhos até


sentir o aperto de maneira dolorosa.

Aquele deveria ter sido o plano dela desde o


início, ela deveria ter arquitetado sua fuga desde a
primeira que colocara os olhos sobre ele. Ela o
traíra, e ele fora estúpido o suficiente para baixar
sua guarda, deixar que a atração entre eles
continuasse indefinidamente, uma atração que
apenas ele sentira. Ele deveria ter colocado uma
bala na cabeça daquela maldita, mas agora o
arrependimento que sentia era apenas mais uma
fraqueza.

Baixando-se contra o chão Cézare observou


com cuidado a cena, tentando encontrar ali
vestígios que lhe dessem algumas pistas. Àquela
altura ela já deveria estar longe. Ela deve ter
procurado a polícia achando que isso iria protege-
la, mas estava enganada, não havia nada nem
ninguém que pudesse protege-la dele nesse
momento.

Ele a caçaria até o fim do mundo se fosse


preciso, e ela iria pagar por seus crimes. Ela era sua
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presa, e ele era a morte. E ninguém era capaz de


escapar de suas garras.

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