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Copyright © 2021 Vania Freire

Capa: Hórus editorial


Revisão 1°: Lidiane Mastello
Revisão 2°: Natalia Souza
Diagramação: Vania Freire
_________________________
Somente Seu
Vania Freire
1ª Edição — 2022
______________________
Registro:
AVCTORIS2360991cee2e1af360e5b074c05a8eb42c71964b175a9f0d321d06f5be
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consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Índice
Copyright © 2021 Vania Freire
Mensagem da autora
Sinopse
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Epílogo
Agradecimento
Outras obras
Redes Sociais
Mensagem da autora
Querida leitora, muito obrigada pelo carinho e por interesse em
minha obra.

A história de Thomas e Melissa aborda; relacionamento familiares,


primeiras experiencias e decepções. Tudo envolto em muita paixão
e uma dose deliciosa de implicância.
Desejo que vocês se encantem com a história desse casal.

PS: Este livro é recomendado para maiores de 18 anos, contém


cenas de sexo explícito, gatilhos emocionais para pessoas
sensíveis, pois há cenas de violência.
Sinopse
Melissa e Thomas são o que podemos chamar de inimigos desde o
berço.
Melissa sonha em estudar dança e não mede esforços para atingir
os seus objetivos.
Thomas esconde tantos segredos que apenas sonha com o dia em
que poderá respirar aliviado por não viver mais com uma corda no
pescoço enforcando-o lentamente.
Ele ama implicar com ela.
Ela retribui na mesma moeda.
Até serem obrigados a morarem juntos e descobrirem que há muito
mais entre eles do que o ranço mútuo.
Afinal, dizem que a outra face do ódio... É o amor
Playlist
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Capítulo 1
Melissa
Chuto algumas pedras imaginárias enquanto aguardo minha
mãe e minha madrinha do lado de fora da imobiliária. Elas estão
concretizando a locação do apartamento que eu e a pessoa que
menos gosto no mundo vamos morar daqui a alguns meses, quando
eu for cursar faculdade de dança em Campinas.

― Ainda revoltada? ― indaga com um tom zombeteiro dando


um leve puxão em meus cabelos.

Estou com tanta raiva dele que nem consigo pronunciar uma
palavra sequer. Enquanto eu tentava fazer nossas mães desistirem
dessa ideia estúpida, Thomas ficou completamente mudo e, pior,
uma vez ou outra disfarçava o riso. Ele não escondia o quanto
estava se divertindo com a situação.

Vejo minha mãe e tia Beatriz saírem sorridentes da imobiliária,


segurando alguns papéis que devem ser da locação do
apartamento.

― Mãe, podíamos ter esperado mais para procurar um


apartamento, afinal, ainda faltam meses, sequer fiz as provas finais.
Vai que eu nem sou aprovada. ― Tento mais uma vez argumentar
enquanto entramos no carro da minha mãe.

― Tio Tadeu faz picadinho de você se não passar ― Thomas


provoca, sentando-se ao meu lado.
― Meu amor, um apartamento próximo à faculdade é muito
difícil de encontrar, a concorrência é muito grande. O melhor
momento para procurar é alguns meses antes ― diz Beatriz,
carinhosa.

― Sem falar que assim dá tempo de organizar, temos muitas


coisas para ver. E nem pense em repetir, senão, seu pai infarta ―
minha mãe completa.

Nem olho para Thomas, sei que ele está com aquela
expressão de “eu te disse” no rosto, resolvo ficar calada. Ele fala
algo, mas não dou a menor importância. Então, minha mãe começa
a conversar com minha tia sobre a ONG dela e do marido, para
mulheres em situação vulnerável. Mesmo frustrada, um sorriso
carregado de orgulho brinca em meus lábios enquanto observo as
duas falarem da palestra a respeito de empoderamento feminino
que minha mãe ministrará lá.

Empoderamento feminino é uma palavra forte e desafiadora.


Contudo, uma mulher não nasce empoderada, pelo menos não
todas. A grande maioria precisa de algo que as impulsione a se
colocar em primeiro lugar, a evoluir e se fortalecer.

Algumas vezes, pode ser uma traição ou decepção por seu


cônjuge, amigo, um familiar ou um colega de trabalho. Também
pode ser por motivos financeiros ou a perda de um ente querido.
Seja qual for o motivo, sempre há um ponto em que a mulher dá um
basta e resolve mudar, e depois que a semente do empoderamento
nasce em seu íntimo, não existe absolutamente nada que a faça
desistir.
Muitas vezes esse processo é lento e doloroso e eu tenho
uma enorme sorte de ter dois exemplos de mulheres empoderadas
em minha vida: minha mãe e minha madrinha/tia/segunda mãe,
Beatriz, a melhor amiga dela.

As duas são mulheres tão diferentes e ao mesmo tempo tão


unidas e amigas, que se ajudam, se apoiam desde criança. Cada
uma enfrentou seus desafios, mas ambas sempre souberam que
podiam contar uma com a outra.

Minha mãe teve uma infância difícil, permeada por diversos


conflitos familiares e cercada de pobreza. Já tia Beatriz, é o oposto,
vem de uma das famílias mais ricas do país. Elas se conheceram no
jardim de infância, minha tia estudava no refinado e caríssimo
colégio que é da sua família até hoje e a minha mãe acompanhava
minha avó, que faxinava o local. Uma amizade entre a herdeira rica
e a filha pobre da faxineira começou e no decorrer dos anos elas
enfrentaram preconceito e desconfianças.

Quando jovem, minha mãe foi presa por espancar com um


pedaço de madeira um ex-namorado da tia Beatriz enquanto ele
tentava abusar sexualmente dela. Sua melhor amiga a tirou da
cadeia e desde esse dia, mamãe jurou que lutaria, mas dentro da
lei, para defender mulheres na mesma situação.

Com a ajuda financeira da sua melhor amiga, minha mãe se


formou em Direito e hoje é promotora e ferrenha defensora dos
direitos das mulheres. Minha tia também entrou para a faculdade de
direito, mas o mesmo fato que fez minha mãe querer se tornar
advogada, fez surgir nela o desejo de lecionar. Por isso, ela desistiu
do curso de direito e fez pedagogia, para o desespero da família,
mas para apaziguar os ânimos, também cursou administração. Hoje,
ela se equilibra entre administrar os negócios, a ONG e a família.

― Eu só queria entender por que sou obrigado a assistir mais


uma palestra sobre empoderamento feminino ― Thomas, filho de
Beatriz, resmunga, interrompendo meus pensamentos.

Ele simplesmente não consegue deixar as pessoas em paz


com seus próprios pensamentos, existe um comichão dentro dele
que o faz falar algo sem sentido quando todos estão em silêncio ou
simplesmente não lhe dando atenção. Estou com tanta raiva dele
que minha vontade é de simplesmente jogá-lo pela janela.

Além de ter ficado calado na imobiliária, semana passada


arrastou meu pai para um estúpido jogo do time preferido deles, no
mesmo dia do meu campeonato de dança. E o pior é que ele sabe o
quanto meu pai é contra meu desejo de seguir a carreira artística.

Este é o meu último ano no colégio, daqui há alguns meses


vou para a faculdade, por isso, queria passar mais tempo com meus
pais, tentar fazê-los mudar de ideia e aceitar o meu sonho, mas este
moleque não faz outra coisa a não ser atrapalhar todos os meus
planos.

Odeio-o mais do que consigo expressar em palavras.

― Não começa, Thomas ― minha mãe o repreende, olhando-


o pelo espelho.

― Mas, tia, eu ouço a senhora falar sobre isso desde que me


entendo por gente. Eu sei absolutamente tudo sobre o quanto é
importante uma mulher ser dona das suas vontades, etc. e tals, e
exatamente por isso que eu...

― Cala a boca idiota ― ralho, o interrompendo.

Dou um tapa em seu braço e ele tem a coragem de me


mostrar a língua. Elevo uma mão para novamente bater nele e sua
mãe me repreende:

― Melissa, pelo amor de Deus. ― Solta um gemido.

― Mas foi ele quem começou, tia, eu estava aqui calada.

― Ela estava me cutucando ― o ridículo ao meu lado mente e


a sua cara nem arde.

Vejo nossas mães se olharem e rirem.

― E eu que sonhava que esses dois seriam os melhores


amigos de toda uma vida. ― Minha mãe suspira.

― Está mais para ódio eterno ― murmuro.

― Se lembra que passamos nossa gestação imaginando


como nossos filhos seriam amigos e almas gêmeas? ― Beatriz soa
sonhadora e eu reviro os olhos.

Escuto essa ladainha desde que me entendo por gente. Elas


planejaram a gestação e até mesmo o parto para o mesmo dia, o
sonho delas era que fôssemos os melhores amigos de todo o
universo. Mas isso não aconteceu.

Está mais para ódio mútuo desde o berço. Não me lembro


como começou, ouço histórias de que Thomas roubou minha
chupeta e eu puxei seu cabelo e daí em diante não paramos mais
de brigar.

Contudo, apesar dos nossos atritos, tínhamos um convívio


harmonioso, cada um em seu canto, só nos víamos em datas
comemorativas e nos evitávamos no colégio como se tivéssemos
uma doença contagiosa e assim seguimos até os 17 anos sem nos
atacar fisicamente.

Porém, algo mudou há alguns meses, Thomas começou a


aparecer mais em minha casa, ficou mais grudado em meu pai e foi
aí que a merda se deu.

― Em minha defesa, quero deixar claro que eu sou um anjo


de candura ― o descarado diz, mais falso que nota de três reais,
arrancando um sorriso dos lábios das duas, que pouco tempo
depois voltam a conversar e eu faço um meneio negativo.

Viro minha cabeça e fito o céu azul enquanto mentalmente


conto nuvens do horizonte, sempre faço isso quando estou
estressada ou simplesmente quero ignorar a pessoa que está ao
meu lado, o que é exatamente que quero neste momento.

Fecho meus olhos ao sentir mais uma vez um leve roçar em


minha pele.

― Está contando nuvens ou os postes? ― A voz suave, um


pouco rouca e um pouco debochada de Thomas sussurrada ao meu
ouvido me faz olhá-lo pelo canto do olho a ponto de pegar o sorriso
cínico em seus lábios, que logo se desfaz quando ele vira o rosto
para frente, rapidamente e fita nossas mães.
Resmungo algo incompreensível e tento mais uma vez fingir
que o ridículo Tom Tonto não está ao meu lado sacudindo seu
maldito pé e tocando no meu, com o intuito de me perturbar, para eu
explodir, xingá-lo, minha mãe brigar comigo e, de quebra, ainda
levar um sermão daqueles.

Giro minha cabeça lentamente e fixo meus olhos nele,


projetando todo o meu desagrado por ele estar sentado ao meu
lado. Tal olhar já fez muitos garotos correrem, mas o infeliz apenas
levanta uma sobrancelha.

― Chegamos, e pelas próximas horas, não briguem! ― sua


mãe ordena, usando sua melhor versão de professora autoritária e
nós apenas assentimos com a cabeça, sem emitir nenhum som.
Provavelmente mentiríamos se falássemos algo.

Eu não tenho nenhuma pretensão de me casar. Este é um


pensamento que sempre cruza a minha mente quando vejo meu
padrinho interagir com minha madrinha.

Frederico e Beatriz, são o clichê perfeito que deu muito certo.


O garoto mais bonito da faculdade se apaixonou pela gordinha
tímida que estava magoada pela merda que seu ex-namorado fez
com ela.
Eles são perfeitos juntos, há tanto amor e carinho entre eles
que eu não entendo como puderam fazer uma peste como Thomas.
Meus padrinhos Fred e Beatriz, são carinhosos, apaixonados, vivem
declarando o seu amor, pouco ligando para quem está ao seu redor,
mesmo depois de quase vinte anos de casamento e de terem
enfrentado o câncer de mama que Beatriz teve há dois anos. Aquela
foi a pior época das nossas vidas, não gosto nem de me lembrar do
medo que senti de perdê-la, mas essa fase ruim passou e hoje eles
não perdem a chance de celebrarem o seu amor.

― Novamente suspirando pelo meu pai. ― Sinto a garrafa de


água que seguro ser arrancada das minhas mãos.

Tirando os cabelos castanhos escuros, Thomas é fisicamente


muito parecido com o pai, mas as semelhanças acabam aí.
Enquanto tio Fred é um homem maravilhoso, Tom Tonto é um idiota.

― Você não tem outro lugar para sentar, não? ― reclamo,


pegando a garrafa de volta enquanto ele bebe, deixando algumas
gotas caírem em sua blusa e molhando-a no processo.

― Aqui é o melhor lugar. ― Reviro meus olhos e ele joga um


dos braços em minha direção, mas eu rapidamente afasto a minha
garrafa.

― Para com isso, vai comprar a sua água.

― Sua garrafa está cheia. ― Tenta mais uma vez tirar de


mim.

― Eu não sei onde você bota essa boca.


― Ah, mas eu acho que você sabe, sim. ― Pisca um olho
lentamente e sorri de lado.

Eu sinceramente não compreendo por que as meninas que eu


conheço se derretem por esse garoto sempre que ele sorri desse
jeito. Talvez seja por causa dos olhos esverdeados que mudam de
cor de acordo com seu humor, ou os cílios escuros e volumosos, as
sobrancelhas grossas, talvez, quem sabe, pelas tatuagens que ele
começou a fazer nos últimos meses, que lhe conservam um ar de
bad boy safado. Só sei que, em mim, só urge a vontade de lhe dar
um soco bem no meio da cara.

Por fim, resolvo fazer o que eu mais gosto: ignorá-lo. Viro meu
rosto para a frente e solto um suspiro ao fitar seus pais.

― E lá vai ela aspirando em encontrar um cara como meu pai


― zomba e arranca a garrafa da minha mão novamente.

Penso por cinco longos segundos se vale a pena continuar


brigando por ela, aí me lembro que ele já a encostou em seus lábios
e me recordo que ele sumiu logo que chegamos aqui,
provavelmente estava com alguma mulher. Um arrepio de asco me
pega em cheio e eu desisto da água com um suspiro.

― Seu pai é perfeito, não penso em encontrar alguém como


ele, porque não existe, por isso não pretendo me casar.

― Perfeição não existe. ― Sua voz perde o tom debochado


que sempre usa ao falar comigo, e isso me faz virar e fitá-lo com
atenção.
― Como pode duas pessoas tão amorosas terem feito um ser
humano tão cínico? ― indago e aguardo sua resposta com sincero
interesse.

― Se quer usar alguém como exemplo, se espelhe em seu


pai.

Bufo e volto a olhar para a frente.

― Meu pai não tem interesse em ouvir os meus desejos e até


a relação dele com minha mãe anda estremecida. Sem falar que ele
dá mais atenção ao afilhado que à própria filha. ― Não escondo o
ressentimento em minhas palavras.

― Tio Tadeu anda tendo alguns problemas no trabalho e tem


me ajudado em umas coisas ― explica sem dar maiores
informações.

― Que coisas? ― Sua fala aguça a minha curiosidade.

― Coisas minhas, mas o importante é que, às vezes, algo


visto de longe é sempre muito lindo e quando nos aproximamos,
não passam de uma cortina de fumaça.

― O que quer dizer com isso?

― Nada não. ― Ele se levanta e se inclina para pegar a


mochila. ― Obrigado pela água, Melzinha.

Ele sacode a garrafa na minha cabeça, me fazendo gritar ao


sentir vários pingos gelados molharem minha pele, então o meliante
ri para mim e sai correndo quando faço menção de me levantar. Eu
volto a fitar seus pais que olham a cena com um sorriso no rosto e
um vinco se forma em minha testa.
Capítulo 2
Melissa
Sinto a música me envolver como um abraço bem
aconchegante, que me aquece e impulsiona a me movimentar. De
olhos fechados, mexo meu corpo no ritmo da melodia, seguindo os
passos sincronizados que treinei por tanto tempo.

Ao terminar a coreografia, meu corpo está vibrando, a


respiração ofegante, o meu peito sobe e desce rapidamente e meu
coração bate acelerado.

― Você errou novamente, Melissa, sempre o mesmo


movimento, o giro ― pontua o coreógrafo, Gilberto, ou Gil como ele
prefere ser chamado.

Abro os olhos e o fito, confusa. Eu pensei que havia feito tudo


certo, segui todas as suas instruções.

Busco minha amiga, Rafaela, e noto que ela revira os olhos.

― Quando falo com você, eu exijo total atenção, caso


contrário não tem porquê estar aqui ― Gil soa ríspido. Eu engulo em
seco e junto com a saliva, forço garganta a baixo uma réplica bem
mal-educada.

― Vou treinar com mais afinco. ― Tento soar calma, não sei
se consigo. Quero mesmo é mandá-lo ir à merda, mas não posso
dar a munição que ele quer para me tirar do grupo de dança.
Gil me fita por mais algum tempo, não esconde o desagrado e
depois desvia sua atenção para outra pessoa, fazendo-a se sentir
miserável como quase me fez sentir.

Discretamente, saio da formação e caminho entre os


dançarinos da companhia de Dança Gil Guarnieri. Com um discreto
sorriso, me aproximo de Rafaela, que me puxa e me aconchega em
seus braços em um gesto meio carinhoso, meio de apoio.

Evitamos conversar enquanto Gil está fazendo as suas


considerações para os outros dançarinos e todos levam um puxão
de orelha. Nosso professor não aceita nada menos que a perfeição,
esse é o lema da sua companhia de dança e foi exatamente por isso
que eu batalhei tanto para fazer parte dela, até mesmo briguei com
meus pais, ou melhor, meu pai, para seguir meu sonho.

Após opinar sobre cada aluno, Gil nos dispensa e busco


minha mochila, despeço-me dos dançarinos e saio da academia
com Rafaela. Esperamos na calçada pelo carro de aplicativo que ela
pediu, minha amiga está cabisbaixa ao meu lado, Gil pegou pesado
com ela.

― Mas, olha, hoje ele estava mais irritado que nos outros dias
― Lucas comenta parando ao nosso lado com outros dançarinos.

― Ele fez a Cristina chorar ― Rita, outra integrante da


companhia, diz.

― Confesso que hoje quase fiz o mesmo ― Rafa murmura e


eu a abraço.
― Rafa, pense em nosso objetivo final. Gil é um grosso, mas
suas instruções vão nos ajudar a entrar na faculdade de dança que
tanto queremos.

― É nisso que penso, mas é desanimador. Nada está bom. ―


Suspira.

― Vamos sair um pouco? Acho que todo mundo está


precisando relaxar ― convido correndo meus olhos pelo grupo.

Alguns aceitam e outros estão tão abalados que preferem ir


para casa. Fixo meus olhos na minha amiga e ela apenas assente
mordendo o lábio inferior.

― Te entendo, eu treinei meu giro feito louca e, mesmo assim,


ele disse que não ficou bom... ― Não consigo concluir, pois um
puxão no meu rabo de cavalo me fez soltar um gemido.

Eu nem precisei me virar para saber quem é, Thomas treina


no mesmo prédio da companhia de dança.

― Oi, Rafa. Oi, meninas ― soa sedutor e somente neste


instante vejo que está acompanhado por Cristiano Guerrero, que
chamamos apenas pelo sobrenome.

Ele é melhor amigo de Thomas e parece uma montanha de


tantos músculos, treina artes marciais e participa de algumas lutas
de boxe. Ganhou algumas vezes, perdeu outras, e eu acho que
assim que se formar, entrará para o MMA, pelo menos creio que
esse seja o sonho dele.
Ele é extremamente lindo e calado, apesar de também ser um
idiota, não enche meu saco como o babaca ao seu lado.

― Para de implicar com a minha amiga, Thomas ― Rafa o


repreende risonha e as outras garotas apenas suspiram.

Noto os olhos de Rafaela fixos em Guerrero. Ela tem uma


queda por ele, que não retribui o interesse, o que é uma pena, pois
minha amiga é muito gata, uma preta alta, linda e muito bem
resolvida com seu corpo voluptuoso.

― Oi, meninas. ― A voz rouca e baixa de Guerreiro levanta


mais uma onda de suspiros. ― Vou te esperar no estacionamento
― Se dirige a Thomas, ajeita a mochila nas costas e sai tomando
cuidado de desviar da minha amiga.

Bonito e babaca.

Viro meu rosto para a fonte do meu mau humor e, a


contragosto, eu tenho que admitir: ele é um homem bonito, dono de
uma pele bronzeada pelas muitas horas na praia, cabelo castanhos
escuros curtos, sorriso cativante, um corpo atlético conquistado na
academia tudo isso em 1,95 de pura sensualidade tosca e
arrogante. Realmente ele é um homem lindo, mas, ainda assim, é o
Tom Tonto que inferniza minha vida.

― Mas eu não fiz nada. ― Pisca um olho matreiro. Reviro


meus olhos e ele volta sua atenção para mim. ― Vamos para casa?

― Se eu fosse para casa, iria para a minha casa e você para


a sua, da forma como falou é como se morássemos na mesma
casa.
― Apenas modo de falar.

― Modo errado de falar.

― Mas, então, vamos?

― Não.

― Por que, vocês vão para algum lugar?

― Sim.

― E não vai me dizer onde vão.

Ao invés de responder, eu apenas rio.

― Nós vamos sair. ― Rafa pisca o olho para mim.

― Você pode ir com a gente ― Rita convida, sem esconder o


seu interesse e Thomas sorri matreiro, descendo o olhar por ela
demoradamente. ― Eu também brigo muito com meu primo ― ela
se dirige a ele em tom de confidência.

― Não somos primos! ― dizemos ao mesmo tempo.

― Ele não é meu parente. ― Aponto em sua direção e o


infeliz segura meu dedo e morde, fazendo-me soltar um grito e
arrancando altas gargalhadas de todos. Bem, de quase todos,
menos de Rafaela, que faz um meneio negativo.

― Vou deixar para próxima, tenho que me preparar para as


provas finais. ― Pisca um olho para Rita e vira em minha direção.
― Vê se não chega tarde.

― Ou então o quê?
― Eu vou te buscar onde você estiver. ― Segura minha nuca,
aproxima minha cabeça dele e beija minha testa, em seguida, sai,
se despedindo do pessoal com um aceno.

― Ele é um gato. ― Rita suspira alto.

― Um chato ― murmuro, sentindo o local que ele beijou


formigar. ― Então, vamos? ― digo animada.

Rafaela cancela o carro no aplicativo e saímos dali


conversando sobre assuntos aleatórios, fazendo-me esquecer o
encontro com Thomas.

Seguro a respiração e mordo o lábio inferior enquanto viro a


maçaneta da porta de casa, tomando cuidado para não fazer muito
barulho.

― Ela acabou de chegar, tio. E eu acho que está tentando


entrar sem fazer alarde. ― A voz debochada de Thomas me faz
bufar.

Entro, fecho a porta, ando sem pressa em direção à sala de


jantar e respiro fundo antes de enfrentar meu pai.

― Isso são horas de chegar, Melissa? ― o rugido que meu


pai solta me faz encolher.
Volto a morder o lábio inferior enquanto fito meu pai, Thomas
e Guerreiro sentados. Noto vários livros, cadernos e dois notebooks
ligados evidenciando que meu pai os estava ajudando a estudar.

― Desculpa, pai, era para ter chegado mais cedo, acabamos


perdendo a hora. Mas eu enviei uma mensagem para o senhor.

Sem tirar os olhos de mim, meu pai busca o celular na mesa e


somente depois de ligar a tela, desvia os olhos dos meus.

― “Pai, vou chegar tarde, estou na casa da Rafaela. Não se


preocupe!” ― Sua voz se eleva um pouco a cada palavra que
pronuncia.

Até cheguei a abrir a boca para falar algo, mas a prudência


me faz ficar calada.

― As provas finais estão chegando, Melissa.

― Eu sei, pai.

― Não parece! ― esbraveja.

Troco o peso do pé e vejo Guerrero começar a recolher seus


livros.

― Obrigado pela ajuda, senhor Tadeu. Vou me esforçar ao


máximo para conseguir a bolsa de estudos para a faculdade de
educação física ― agradece e meu pai assente, ele aperta meu
ombro rapidamente e pisca para mim.

― Vou levá-lo para casa, tio ― Thomas diz, também se


levantando.
― Você vai voltar? ― meu pai indaga.

― Sim ― responde após um longo suspiro e meu pai faz um


meneio afirmativo.

― Por que ele não aproveita e dorme na casa dele? ― indago


incomodada por Thomas passar mais uma noite em nossa casa.

A mãe de Guerrero trabalha na mansão dos pais de Tom


Tonto e ambos moram lá.

― Você, mocinha, deveria estar mais interessada em me dar


uma boa desculpa para ter chegado tão tarde ao invés de ficar se
preocupando com assuntos que não lhe dizem respeito ― meu pai
diz rispidamente e eu outra vez engulo uma réplica.

Sei o quão bravo ele está, qualquer coisa que eu disser, só vai
piorar.

Thomas sorri matreiro e sai com Guerrero enquanto eu fico


ouvindo meu pai, calada.
Capítulo 3
Melissa
Jogo minha mochila no banco de concreto e me sento,
fazendo uma careta pelo incômodo.

― Não sei por que você insiste em vir comer aqui ― reclamo,
abrindo minha mochila, retirando uma maçã e dando uma enorme
mordida antes de me inclinar para trás.

― A vista é maravilhosa, tem muito ar fresco, tem esse lindo


campo de atletismo.

― E tem Guerrero correndo sem camisa, todo suado ― soo


irônica e mordo de novo minha maçã enquanto ela faz careta.

― E conseguiu falar com seus pais sobre a ideia de


dividirmos um apartamento perto da faculdade? ― pergunta, mas
não olha para mim, seu rosto está virado para a frente,
acompanhando cada movimento que a massa de músculo sexy faz.
― Esse homem não tem defeitos. ― Suspira.

― Tem sim, ele não te vê. ― Cutuco sua costela com um


dedo e eu levo um tapa na mão.

― Sou gorda, amiga, isso é um fato e infelizmente tem muito


homem que tem problemas com isso.

― Como disse, ele tem sérios problemas, você é gata, dança


muito e é simplesmente maravilhosa.
― Você tem razão, fazer o que se sou muita areia para ele. ―
Ela movimenta os ombros falando de forma engraçada. ― Mas ele
tem um caminhão tão grande.

― Tarada.

― Virgem.

― Olha quem fala! Como se tivesse já transado.

Olhamos uma para outra e rimos da nossa conversa sem


sentido.

― Mas, e então, seus pais concordaram? Para os meus, tudo


bem, eles não querem que eu vá morar sozinha mesmo. ―
Movimenta os ombros e revira os olhos.

― Sequer consegui mencionar o assunto. Ontem levei um


sermão daqueles do meu pai e hoje de manhã o clima lá em casa
estava terrível. Não sei que merda está acontecendo, mas é algo
envolvendo Thomas.

― Será que eles vão aceitar? Eles querem que vocês morem
juntos.

― Nossos pais têm a ilusão de que, se ficarmos juntos,


poderemos um cuidar do outro. Mais fácil um esganar o outro.

Acabo de comer a fruta e pego a garrafa de água. Tomo um


longo gole antes de voltar a falar:

― Às vezes, parece que eles se esquecem que vou fazer 18


anos.
― Tenho a mesma impressão com meus pais, estou contando
os dias para irmos para faculdade e termos mais liberdade.

― Eu te entendo. Vou tentar falar com eles hoje. Agora vamos


comer rápido e estudar um pouco, porque se eu tirar uma nota
baixa, aí, sim, que não vou conseguir nada ― brinco, pego um
sanduíche e minha amiga volta a olhar para seu crush.

Olho para a pilha de livros à minha frente, faço uma careta e


encosto a testa na mesa. Rafaela foi treinar, eu deveria estar
treinando, Gil vai acabar comigo se não conseguir fazer a
coreografia do jeito que ele quer. Por outro lado, meu pai também
está me pressionando.

― Eita! O desespero é tanto que está tentando fazer que as


coisas entrem em sua mente na base da pancada. ― A voz
zombeteira de Thomas me faz gemer.

― Apenas vá embora.

― Onde está sua amiga?

― Treinando, vai embora. ― Elevo minha voz e ouço um


ranger de garganta. Nem preciso levantar minha cabeça para saber
que é a bibliotecária reclamando. Estamos na biblioteca do colégio e
eu estou tentando estudar. ― Por favor, Thomas, vai embora, não
tenho tempo e nem vontade de discutir com você.

― Não vim discutir, vim estudar com você.

Giro minha cabeça e fito seu rosto sorridente.

― Por quê? ― pergunto desconfiada.

Ele apenas movimenta os ombros.

― Anda, senta direito, temos muitas coisas para estudar.

Pelas próximas horas, ficamos concentrados nos livros,


falamos o mínimo possível, mas a todo tempo eu verifico as horas
para conferir se está no horário da aula de dança.

― Tem compromisso?

― Tenho aula ― revelo com um suspiro. ― É, simplesmente


uma semana infernal. Prova aqui e testes no grupo de dança e
ainda tenho que pensar no teste de habilidade para entrar na
faculdade. Isso tudo está me deixando doida.

― Você vai viajar quando, para fazer o teste?

― Assim que terminarem as provas. Mas, para Gil, não estou


pronta ainda.

― Pensei que você não tivesse problemas no grupo de


dança, sempre demonstra que aquele estúdio é o seu lugar
preferido no mundo. ― Não consigo identificar se foi uma ironia ou
não. Analiso seu rosto, mas ele não me entrega nada.
― E realmente é.

― Se você se esforçar de verdade nos estudos, eu treino com


você.

― E desde quando você sabe dançar? ― zombo, jogo a


cabeça para trás e fecho meus olhos. ― Quando estou dançando, é
como se todos os problemas desaparecessem ― sussurro.

Sinto algo fino tocar meu rosto, abro meus olhos e me viro
para Thomas. Ele está com a caneta em sua mão e com ela tira
uma mecha de cabelo que escorrega em meu rosto.

Normalmente eu não consigo ficar muito perto dele sem sentir


uma vontade absurda de xingá-lo, mas neste momento, não sinto.
Na verdade, sequer tenho vontade de falar algo, também não quero
fazer o mínimo de esforço para analisar o que isso significa.

No momento, só quero deixá-lo fazer o movimento com a


caneta, depois ele me fita nos olhos e em seguida sorri de lado, sem
de fato abrir a boca, e eu também sorrio. É como se selássemos um
acordo de paz, pelo menos por enquanto.

Ajeito-me na cadeira e começo a guardar os livros. Meu


celular vibra e eu sorrio abertamente ao ver o nome do meu tio na
tela.

― Seu pai está perguntando como você está, ele está aqui
perto e perguntou se quer carona ― falo, ainda em um tom
animado, mantendo o mesmo clima de antes.

― Não ― soa ríspido e seu tom me faz encará-lo.


― Obrigada por me ajudar. ― Movimento minhas
sobrancelhas em direção aos livros na mesa.

― Eu devia isso ao seu pai, ele me ajudou ontem. Na


verdade, tem me ajudado muito.

― Por isso me ajudou?

― E teria algum outro motivo, Melissa? Queria tirar um pouco


da preocupação que ele tem com você.

― Não começa, Thomas. ― Sugo uma boa quantidade de ar


enquanto começo a guardar as minhas coisas.

― Eu nem tento, você vai precisar de muito mais do que


alguns sermões para parar de ter atitudes tão infantis.

― E quando eu tenho atitudes infantis?

― Todo dia, Mel. Você está tão preocupada com sua dança e
a faculdade dos seus sonhos que não está prestando atenção no
que está ao seu redor. Está desgastando uma relação com um cara
foda que é seu pai por bobeira.

― Digo o mesmo de você. Seu pai é maravilhoso e você


passa mais tempo com o meu, e de quebra me impede de... ― Paro
de falar quando vejo que revira os olhos. Ele busca a mochila, se
levanta e me deixa falando sozinha.

Com a raiva borbulhando dentro de mim, ajeito a minha


mochila nos ombros, seguro meus livros contra o peito e caminho
apressada atrás dele. Encontro-o se dirigindo ao estacionamento.
― Olha só quem está tendo uma atitude infantil agora!

― Chega, Melissa.

― Você solta um monte de merda e quando começo a falar do


seu pai você explode?

Ele não responde e volta a caminhar. Acelero os passos e


seguro seu braço, fazendo-o parar.

― Por quê? ― inquiro irritada.

― Você não está realmente interessada, a única coisa que


você quer é que ninguém interrompa a sua vidinha perfeita. Mas,
adivinha, a vida não é perfeita e existe muitos monstros em pele de
cordeiro! ― ele grita, fazendo-me recuar alguns passos.

Estou com os olhos arregalados e realmente assustada com a


sua explosão. Ele respira com dificuldade e passa a mãos nos
cabelos, para frente e para trás, bagunçando-os no processo.

― Merda! ― sua voz soa baixa, ele vira o corpo e vai embora
e, desta vez, eu não o sigo.

― Você está bem? ― Sinto um toque em meu braço e


demoro a olhar.

Respondo ainda olhando para a direção: que Thomas seguiu

― Sim.

Pelo canto do olho, vejo que é Guerrero.

― Ele está com muita coisa na cabeça.


― Você sabe o quê?

― Não, mas dá para notar que a merda é das grandes. ―


Assinto e somente aí o fito, esperando-o revelar algo mais, o que
não faz. ― Vou atrás dele antes que faça alguma besteira. Está bem
mesmo?

Mais uma vez afirmo e ele segura minha mão rapidamente


antes de correr na direção que o amigo foi. E eu fico ali, confusa
demais, sem saber o que pensar, começando a achar que estou
perdendo alguma coisa, que algo está acontecendo e eu não
percebi, mas por mais que eu busque em minha mente, não consigo
imaginar o que poderia ser.

― Melissa, minha querida, Frederico está nos aguardando no


carro ― Beatriz me chama, coloco um sorriso nos lábios e ando
devagar até ela, tentando passar uma tranquilidade que de fato não
sinto.

O pai de Thomas me cumprimenta com um beijo na testa e


um forte abraço. Entro na parte traseira do carro e durante todo
percurso analiso o casal, não há absolutamente nada diferente
neles, continuam carinhosos e amorosos como sempre foram um
com o outro.
Capítulo 4
Melissa
Chego em casa com o corpo cansado, o treino hoje foi
exaustivo, mas satisfatório. Pelo menos não levei nenhum grito de
Gil. Sigo para a escada pensando em tomar um banho e cair na
cama, mas vozes alteradas chamam a minha atenção.

Meus pais estão discutindo no escritório. Não consigo


distinguir o que eles falam, a curiosidade me pega em cheio e me
aproximo para tentar ouvir melhor, encosto-me na parede e olho
pelo vão da porta, tomando cuidado para não ser vista.

Minha mãe vocifera que meu pai precisa revelar o que está
acontecendo, e ele, com a voz mais baixa, parecendo triste e com
uma expressão frustrada de quem já falou a mesma coisa várias
vezes responde que não é um segredo dele para contar.

Minha mãe caminha em direção à porta e eu me afasto


rapidamente, com medo de ser pega fuxicando.

― Filha, chegou agora? ― minha mãe questiona, olhando


para mim e virando o rosto em direção ao escritório, onde sei que
meu pai está.

― Sim, o treino acabou há pouco.

Ofereço um sorriso largo e ela dá alguns passos em minha


direção e me abraça. Ela gosta de fazer isso, seus braços me
enlaçam e ela balança nossos corpos de um lado para o outro
devagar e eu sorrio em seu abraço.

― Como foi o treino? ― indaga com a testa nos meus


cabelos.

― Cansativo, mas bom.

― Como estão as coisas no colégio?

― Bem também, tirando as provas finais.

Ela se afasta e me fita.

― Já decidiu onde será sua festa de 18 anos? ― Retira


alguns fios de cabelos do meu rosto.

― Não quero festa, vou sair com Rafaela. ― Ela acaricia meu
rosto.

― E sobre a faculdade, você sabe que tem opções, não é?


Você também passou no vestibular para administração.

― Vou fazer a faculdade de dança, mãe, decidi isso há muito


tempo e não vou mudar de ideia.

Fiz os vestibulares para administração e para dança, passei


nos dois, sendo que para dança, além das provas teóricas, eu ainda
preciso passar por um teste de habilidades, e é exatamente por isso
que ando treinando tanto.

― Tudo bem — diz, calma, como se fosse deixar esse


assunto de lado e depois tentar novamente. Ela sempre faz isso.
― Você jantou?

― Não.

― Vou tomar um banho e faço algo para gente comer. ―


Volta a beijar minha cabeça e sobe as escadas devagar.

Acompanho-a com o olhar, minha mãe é absurdamente linda,


uma mulher espetacular. Faço menção de segui-la, mas paro e me
viro para o escritório.

Faz muito tempo que não consigo ficar sozinha com meu pai,
talvez essa seja uma boa oportunidade de conversar com ele sobre
morar com Rafaela. Com este pensamento, sigo para lá, bato à
porta algumas vezes e entro.

― Papai eu gostaria de conversar com o senhor.

Entro e o encontro sentado no sofá com os cotovelos


apoiados nas pernas e as mãos segurando a cabeça. Seus cabelos
estão despenteados como se tivesse repetido o gesto várias vezes,
é a imagem de um homem desolado.

Me calo, engulo em seco e fico parada, sem saber o que


fazer, o que falar e tudo o que Thomas me disse hoje à tarde volta
para mim como uma avalanche, desestabilizando-me, e,
infelizmente, terei que dar razão a ele. Não tenho a menor ideia do
que está acontecendo.

Dou alguns passos vacilantes em sua direção. Ver meu pai


assim me abala de uma forma que nem sei descrever. Ele sempre
fora uma figura altiva, autoritária, às vezes, até impiedoso.
Mas, neste momento, demonstra uma vulnerabilidade que
está me assustando.

― Pai... ― Sento-me ao seu lado e toco seu ombro.

― Não consigo conversar agora, Melissa ― sussurra.

Até sua voz soa fragilizada.

― O que houve? ― indago, acariciando seus cabelos.

Ele me olha e eu vejo tanta angústia no seu olhar, mas ele


desvia rapidamente.

― Está tudo bem, filha ― responde sem me olhar.

― Não está, pai ― retruco, apertando levemente seu braço.

― O que você queria me dizer? ― Desvia com o intuito de


mudar a conversa.

― Era sobre a faculdade, ou melhor, sobre morar com a Rafa


ao invés de com Thomas. Mas não quero falar sobre isso agora,
fiquei preocupada com o senhor.

― Mas eu não quero que se preocupe. ― Ele se encosta no


sofá e me puxa ao encontro do seu peito. ― Essa é minha tarefa, eu
que tenho que me preocupar com você, e não ao contrário.

― E eu ando te preocupando com maestria. ― Não consigo


esconder a tristeza em minha voz.

― Eu só quero o melhor para você, minha filha, quero que


você tenha um futuro lindo.
― A dança é meu futuro, pai. Hoje em dia, o mercado nesse
nicho é imenso, a faculdade que escolhi tem professores com
renome internacional, não quero que se preocupe comigo nem com
meu futuro. Vou trilhar meu caminho, amo o que eu faço.

― Eu sei que ama, eu e sua mãe não tivemos os mesmos


privilégios que você tem. Confesso que ainda tenho muitos
pensamentos arcaicos, mas prometo que não vou mais ficar
implicando com a dança. ― Levanto a cabeça e o fito com a
sobrancelha franzida. ― Tá bom, nós dois sabemos que é mentira.

Rimos juntos.

― Estava com saudades de conversar com o senhor sem


brigar.

― Eu também, filha. Desculpa se ando estressado. ― Beija


minha cabeça.

― Não ando facilitando sua vida. ― Evito falar que foi


Thomas que me alertou.

― Sobre o apartamento, não. Ainda prefiro que você fique


com Thomas, vou ficar mais tranquilo, não só por você, mas por ele
também.

Até penso em contestar, mas sua última frase chama a minha


atenção.

― Por que o senhor está preocupado com seu afilhado? Por


que Thomas anda tanto aqui, pai? Vocês sempre foram próximos,
mas ultimamente ele anda estranho, hoje explodiu comigo no
colégio e o senhor insiste na ideia de dividirmos um apartamento
enquanto estivermos na faculdade, mas corremos um sério risco de
nos matar lá dentro.

Meu pai ri e volta a beijar minha cabeça.

― Porque vocês vão estar longe de nós, em outra cidade e


vocês se conhecem desde que nasceram, um vai tomar conta do
outro.

― Eu conheço a Rafa desde criança e ela também vai estudar


em Campinas, na mesma faculdade, os pais dela são neuróticos e
não querem que ela more sozinha em Campinas, seria perfeito.

― Vocês duas juntas, sozinhas e desprotegidas? Nem pensar.


Vou conversar com os pais da sua amiga, acho que tenho uma boa
sugestão para eles.

― Qual?

― Ela pode dividir com Guerrero, ele também vai estudar em


Campinas, tem ótimos treinadores de boxe por lá e as chances dele
subir na luta são grandes, também está procurando um lugar, não
tem muita condição de pagar um sozinho. Eu até pensei em
convidá-lo para morar com vocês, mas o apartamento que sua mãe
e Beatriz escolheram só tem dois quartos.

Afasto-me e olho para meu pai, surpresa, e ele continua:

― Gosto muito daquele rapaz. É esforçado, está batalhando


para conseguir uma bolsa, mas se não conseguir, já conversei com
sua mãe para ajudarmos.
― Duvido que os pais da Rafa a deixem morar com Guerrero.
― Rio só de imaginar a cena, a mãe dela vai dar um ataque e minha
amiga surtará com a mera possibilidade. ― Não existe a menor
chance de o senhor mudar de ideia?

― Não, filha. Posso te pedir uma coisa?

― O que? ― falo desanimada, vendo que não terei como


morar com a minha amiga.

― Tenha mais paciência com Thomas, ele está passando por


alguns problemas.

― Quais problemas?

― Coisas dele, filha.

― Ele disse a mesma coisa sobre o senhor.

Olho-o com atenção e meu pai apenas sorri e morde o lábio


inferior.

― Não gosto de saber que ele sabe algo sobre o senhor que
eu não sei. ― Não escondo o ciúme que corre solto em minhas
veias.

Meu pai joga a cabeça para trás e ri com gosto.

― Minha menina ciumenta. ― Beija minha testa. ― Não se


preocupe, são apenas assuntos do trabalho e ele não sabe, pelo
menos não ao todo.

― É sobre trabalho mesmo?


― Sim. Seu pai é contador, então dor de cabeça é o que não
falta ― brinca e eu sorrio.

Meu pai trabalha com os pais de Thomas. Eu sinto vontade de


falar que não parecia ser apenas isso quando ele estava
conversando com minha mãe, mas me seguro. Depois de muito
tempo, estamos bem e quero conservar esta harmonia.

― Mas me prometa que se Thomas te procurar para


conversar, ouça-o sem julgar e sem brigar. Você pode fazer isso por
mim?

Observo-o intrigada por alguns segundos, mas desisto de


fazer qualquer questionamento. Sei que ele não vai me entregar
nada, então eu apenas assinto, meu pai acaricia meus cabelos e
ouvimos uma batida na porta, em seguida minha mãe entra.

― O jantar está quase pronto.

― Nossa criança cresceu, tem um monte de sonhos a realizar


e daqui a algumas semanas vai fazer 18 anos e se mudar para outra
cidade.

Meu pai me abraça e se levanta, dá alguns passos em direção


à minha mãe pegando-a desprevenida no colo. Ela grita e bate nele,
então ele sussurra alguma coisa em seu ouvido e logo depois busca
seus lábios com paixão. E eu sorrio, sabendo que, pelo menos por
enquanto, a paz reina entre eles. Eu só espero que ela permaneça
por muito tempo.
Capítulo 5
Melissa
Jogo-me na cama e observo o teto cheio de adesivos de
estrelas. Quando apago as luzes, parece que estou sob um céu
estrelado. Sorrio ao me lembrar que meu pai passou uma tarde
colando os adesivos. Faz anos, eu era criança na época, mas, às
vezes, quando ele me pergunta se eu não me cansei, sempre
respondo que não. Gosto de conta-las, normalmente me acalma
quando estou ansiosa por algum motivo, mas hoje não está surtindo
o efeito desejado.

Durante o jantar com meus pais, tentei disfarçar, e acho que


realmente consegui fazer com que meu pai acreditasse que havia
esquecido como ele estava no momento em que entrei no escritório.
Mas não esqueci. Como também não apaguei da memória o
seu pedido em relação a Thomas, o que apenas me deixou mais
intrigada. Está mais do que claro que algo está acontecendo, o Tom
Tonto vive jogando indiretas, mas ainda não sei o que é.

Interrompo a linha de pensamento quando meu celular toca,


estico meu braço para buscá-lo e me surpreendo ao ver o nome de
Guerrero na tela. Solto uma alta gargalhada ao me lembrar da
sugestão que meu pai deu de Rafaela morar com ele.

― Minha amiga vai surtar!

Tomo fôlego após mais uma explosão de gargalhadas. O sério


Guerrero com a espevitada Rafaela dividindo um apartamento, rio
ainda mais ao pensar nisso, aí me lembro que será igual a mim e
Thomas, reviro os olhos e atendo a ligação.

― Melissa, preciso da sua ajuda! ― Ele é direto e sua voz


está um pouco ofegante, o que me põe em alerta imediatamente.

― Oi, o que houve?

― Você está em casa ou ainda no estúdio de dança?

― Em casa. Fala logo o que aconteceu, Guerrero!

― Preciso que você venha até o local que eu vou te passar,


mas que não deixe seus pais saberem. Thomas precisa de ajuda.

― O que houve com ele? Não é melhor chamar os pais dele?

― Não! ― O grito que ele dá me deixa assustada. ― Apenas


venha me ajudar, por favor — implora e eu mordo ambos os lábios.
Tenho vontade de contestar, de mais uma vez sugerir que fale
com os pais dele, mas a fala do meu pai novamente vem à minha
mente.

― Tudo bem, me passe o endereço, vou inventar uma


desculpa para o meu pai.

― Traz algum dinheiro, eu estou sem nenhum e ele está sem


carteira.

― Por que ele está sem carteira? Ele foi assaltado?

― Eu não sei bem o que aconteceu, só venha, ok?!

― Tudo bem, estou indo.

Desligo o telefone e, em um impulso, levanto da cama. Saio


do meu quarto pensando em uma desculpa para dar aos meus pais,
torço para que já tenham ido para o quarto para assim conseguir
sair sem ser vista e, em consequência, sem perguntas.

Não sei que merda está acontecendo, mas se Guerrero pediu


para não falar com os pais de Thomas, é certeza de que também
não vai querer envolver os meus. Bem, a verdade é que eu não
quero envolvê-los e assim, quem sabe, descobrir o que ele tanto
esconde. Mas não dou sorte. Assim que chego à sala, vejo meus
pais sentados no sofá vendo um filme.

― Aonde você vai a esta hora? ― Meu pai indaga assim que
me vê, acendendo a luz do ambiente em seguida.

― Vou me encontrar com a Rafa, acredita que esqueci? ―


Tento soar o mais convencida possível.
― E vai voltar muito tarde? ― minha mãe pergunta enquanto
meu pai me olha com atenção.

― Não sei, qualquer coisa eu durmo na casa do tio Fred, que


é mais perto da casa dela que aqui.

― Não quero que durma lá ― meu pai soa ríspido.

― Por que não? ― retruco com a mão na cintura.

― Por que ela não pode dormir na casa da Beatriz? ― minha


mãe questiona com a sobrancelha levantada.

Meu pai coça a nuca, ele faz esse movimento quando está
procurando o que falar. Troco olhares com minha mãe e neste
instante reparo que ela também está achando tudo muito estranho.

― Eu me desentendi com ele há alguns dias, apenas isso.

― Mas o que isso tem a ver comigo? O filho dele


praticamente está morando aqui, por que não posso passar a noite
lá? ― insisto.

― Nada, filha, foi besteira minha, pode dormir lá sim. Beatriz


vai amar ter você lá. ― Ele sorri e eu volto a trocar olhares com
minha mãe.

Queria ficar mais tempo insistindo para saber por que


brigaram se sempre se deram tão bem, mas Guerrero está me
esperando, então eu imprimo um sorriso em meus lábios, dou um
beijo de despedida neles e saio de casa fingindo que engoli a
desculpa que meu pai deu.
Peço um carro pelo aplicativo e assim que entro, ligo para
Rafaela e explico que se meus pais perguntarem, deve dizer que
estou na casa dela. Ela concorda, mas quando pede para dizer o
que houve, prometo revelar mais tarde.

O motorista me avisa que chegamos e noto que paramos em


uma praça, em Botafogo, próxima à praia. Quando busco meu
celular para avisar a Guerrero que cheguei, ouço-o chamar meu
nome.

― Melissa, estamos aqui!

Giro a cabeça olhando ao redor, procurando por eles, e os


encontro sentados em um banco. Aproximo-me e noto que Thomas
está com a cabeça abaixada e seu amigo ao seu lado com as mãos
nas suas costas como se o segurasse.

― O que aconteceu com ele? ― pergunto assim que chego


perto.

― Recebi uma ligação do dono do bar em que ele estava,


aquele em que trabalhei por um tempo. Parece que arrumou uma
briga lá.

― Meu Deus. ― Sento-me ao lado dele e levanto sua cabeça,


ele está com o olho roxo e um cheiro forte de álcool. Desço meu
olhar pelo seu corpo e reparo nos arranhões e outras marcas roxas.
― Ele está fedendo e machucado, tia Beatriz vai dar um ataque se
vê-lo assim.

Parece que somente neste instante Thomas nota que eu


estou ao seu lado.
― O que você está fazendo aqui? ― sua voz soa arrastada.

― Guerrero me ligou. ― Tento tirar o cabelo da sua testa,


mas ele afasta a cabeça.

― Por que a chamou? ― vira seu rosto para o amigo e indaga


raivoso.

― Precisamos de ajuda ― Guerrero retruca trocando um


olhar comigo. ― Será que dá para levá-lo para sua casa?

― Eu disse para meus pais que ia me encontrar com a Rafa,


não será melhor irmos ao hospital?

― Não quero ir para o hospital, estou bem. ― Sua cabeça


tomba para trás e ele respira com dificuldade, e nessa posição, dá
para ver seu rosto melhor, ele está muito mais machucado do que
eu imaginava. ― Não vou pra casa, nunca mais... ele é um cretino...
nunca mais... ― balbucia.

― Quem é um cretino?

― Eu acho que se ele tomar um banho...

Interrompo seu amigo.

― Você me chamou para ajudar e eu estou aqui. Primeiro


vamos levá-lo ao hospital e, se tudo estiver bem, invento uma
desculpa e o levo para minha casa e amanhã ele me explica que
merda que houve. ― Não escondo minha irritação misturada com a
preocupação e tantas coisas que nem sei definir.
Nunca imaginei que sentiria tanta angústia ao ver Thomas
assim. Na verdade, sequer pensei em um dia encontrar o garoto que
é tido como um perfeito exemplo, com um futuro brilhante pela
frente, neste estado. Nunca mesmo.

― Vamos, então. Você está com dinheiro aí? ― Seu amigo


chama minha atenção e eu fito seus olhos tão angustiados quanto
os meus, tão perdido, tão sem saber que merda está acontecendo
quanto eu.

Com as mãos trêmulas, peço um carro e ajudo Guerrero a


levantar Thomas, que protesta, mas depois de um tempo nos ajuda.
Apoiado em nós, conseguimos levá-lo para o carro. O motorista nos
olha desconfiado e eu peço para seguir para o hospital o mais
rápido possível.

― Você sabe o que está acontecendo com ele? Thomas


nunca foi de arrumar briga, muito pelo contrário, é o mais brincalhão
do colégio, todos gostam dele ― indago e olho para Guerrero que
passa as mãos no cabelo várias vezes.

― Não sei o que houve, quando recebi a ligação, até achei


que era trote, foi uma merda levá-lo para a praça. Desculpa te ligar,
eu não sabia o que fazer, o clima com o pai dele está terrível e se
ligasse para lá, poderia piorar ― explica e eu assinto.

Thomas deita a cabeça no meu ombro e solta um leve


gemido.

― Que merda você fez, Ton Tonto? ― murmuro.


Capítulo 6

Melissa
Mais uma vez escorrego meu olhar para televisão que informa
o nome do paciente que será atendido. Volto meus olhos para
Thomas que está sentado na cadeira, eu estou de pé entre as
pernas dele, que agarra firmemente a minha cintura.

― Me leva pra casa, Mel. ― Sua voz sai enrolada.

Olho para o teto e respiro fundo, Guerrero é o único de nós


três que já é maior de idade, por isso conseguimos ser atendidos,
Thomas e eu fazemos aniversário daqui a algumas semanas, mas
se ele for internado, será impossível não chamar nossos pais, e eu
não quero nem pensar no quanto vamos escutar.
― Vou levar assim que tiver certeza de que está tudo bem
com você. ― Baixo a cabeça e sussurro ao seu ouvido e eu tenho
certeza de que ele não ouve uma única palavra.

― Vocês são um casal tão lindo ― a senhora sentada ao


nosso lado diz. ― Mas você não deveria deixar seu namorado beber
tanto e se envolver em brigas, mocinha ― recrimina.

Era só o que me faltava, depois de tudo, ainda levo sermão de


uma desconhecida.

― Não somos namorados ― soo ríspida.

― Eles são quase primos. ― Guerrero, que está sentado ao


nosso lado, nem esconde que está contendo o riso.

― Não somos primos ― falamos ao mesmo tempo.

Suas mãos que envolviam minha cintura despencam para


baixo e ele inclina o corpo em direção à senhora e diz em tom de
confidencia:

― Eu a desejo ardentemente, mas ela me odeia com todas as


forças do seu ser, cada pedacinho dela me odeia e ela admira meu
pai, que é...

E antes de completar a frase, ele simplesmente vomita em


cima da senhora.

― Meu Deus! ― a mulher grita.

― Puta merda ― Guerrero xinga.


E eu só consigo ficar com a boca aberta chocada demais com
o que ele revelou, enquanto Thomas segue esvaziando o estômago
em cima da mulher. Seu amigo resolve agir, se levanta e vira o rosto
dele, mas já era tarde, o estrago já foi feito.

― Melissa, me ajuda ― Guerrero fala e só então eu saio da


paralisia que entrei desde o momento em que Thomas disse que me
desejava.

Olho em volta procurando por algo que possa ajudar a mulher


a se limpar e enquanto ela grita, Guerrero se desculpa, Thomas ri e
as outras pessoas olham.

Um show de horrores.

Corro até o banheiro e pego algumas folhas de papel, faço


tudo no automático, tentando não pensar no que Thomas disse,
volto para a sala de espera e entrego para a senhora que está em
um estado lamentável.

― Me desculpe, ele... bem, ele... ― Eu não sei nem o que


falar, porque é uma situação pela qual não tenho como me
desculpar.

Ela arranca as folhas da minha mão de forma ríspida e segue


em direção ao banheiro. Uma mulher da limpeza se aproxima no
exato momento em que o nome de Thomas é chamado para
atendimento.

Após passar pela avaliação médica, foi constatado que apesar


da ingestão excessiva de álcool e dos machucados, não era nada
muito sério. Então, depois de passar pela enfermaria, fazer os
curativos, e de escutarmos um monte, ele foi liberado.

― E agora, para onde vamos levá-lo? ― Solto um gemido ao


sentir meu estômago revirar mais uma vez com o odor terrível que
Thomas está exalando.

― Eu vou para a sua casa ― ele diz, tentando se sentar no


chão e eu e Guerrero o impedimos. ― A essa hora já deve estar
todo mundo dormindo e seus pais nem vão notar.

― Você já foi lá para casa de madrugada, bêbado? ―


pergunto e ele movimenta os ombros e não me responde.

― Acho que é a melhor alternativa ― Guerrero concorda.

― Tudo bem, vou chamar um carro. ― Solto um suspiro e


busco meu celular.

― Pelo amor de Deus, não faz barulho ― peço ao entrarmos


em minha casa.

― Vou ficar quieto, prometo ― Thomas fala, embriagado,


tentando conter o riso.
― Vamos levá-lo lá para cima, vou te ajudar e depois vou para
casa ― Guerrero oferece.

― Nem sei como faria para entrar com ele sem a sua ajuda...

Mal termino de falar e ouço a voz do meu pai:

― Melissa, é você?

― Merda! ― sussurro e minha mente começa a imaginar uma


desculpa quando o tonto diz:

― Sou eu, tio Tadeu, tô bêbado! ― Thomas diz com voz


enrolada e ri.

― Cala a boca. ― Em um impulso, lhe dou um beliscão e ele


solta um grito piorando tudo.

Meu pai aparece na escada, com os cabelos despenteados


evidenciando que acabou de acordar.

― O que está acontecendo aqui?

― Tô bêbado ― o infeliz volta a afirmar, levantando um braço.

― Isso eu estou vendo, Thomas ― meu pai esbraveja,


descendo até nós com uma expressão enfurecida no rosto. ― O
que você tem na cabeça?

Ele se aproxima de nós, mas quando sente o cheiro do álcool


misturado com vômito, faz uma careta.

― Você está fedendo! ―Vira seu rosto para mim. ― Você me


disse que ia para casa da sua amiga ― acusa, irritado.
― Desculpa ter mentido pai, mas eu fui ajudar Thomas, o
senhor mesmo me disse que era para fazer isso. — Devolvo em um
tom manso e ele franze o cenho antes de voltar o olhar para o seu
afilhado.

― Ele está todo machucado. O que houve, Guerrero? ―


indaga em um tom raivoso.

― Senhor Tadeu, nem eu sei direito, recebi uma ligação do


bar que ele estava e fui lá, aí liguei para Melissa. Seguimos para o
hospital e assim que fomos liberados, viemos para cá ―
contextualiza e meu pai franze o cenho, olhando-o com atenção e
eu acho que está tentando decidir se acredita nele ou não.

― Foi exatamente isso que aconteceu, pai ― confirmo,


fazendo um meneio afirmativo.

― E por que não me ligou quando viu que ele estava assim?

― Porque pensamos que poderíamos resolver tudo, o senhor


mesmo diz que temos que ser mais responsáveis ― tento ponderar.

― E vocês chamam isso de ser responsável? ― Rugi. Mordo


meus lábios para me manter calada. ― Vamos levá-lo lá para o
quarto de hóspede e pôr debaixo do chuveiro. ― Ele faz uma
careta.

― Vou ajudar o senhor e depois vou para casa ― Guerrero


diz enquanto segura o amigo.

― Você vai é dormir aqui também, está muito tarde, dorme no


quarto de hóspedes junto de Thomas e não se esqueça de avisar
sua mãe! ― Range os dentes e tenta controlar o tom de voz para
não acordar minha mãe, porque aí, sim, seria um drama daqueles.

Eu me mantenho calada, subo os degraus mordendo interior


da minha bochecha e ao chegar próximo ao quarto de hóspedes,
meu pai diz:

― Vai dormir, Melissa. Eu e Guerrero cuidamos dele.

Assinto, vendo-os entrarem no quarto.

― Que houve? ― Ouço a voz sonolenta da minha mãe, viro


meu rosto e a vejo sair do seu quarto no final do corredor. Ela desvia
os olhos de mim e fita a porta que meu pai acabou de entrar com
Thomas e Guerrero. ― Você estava com Thomas? Não disse que ia
se encontrar com Rafaela? ― lembra com uma sobrancelha
levantada.

― Guerrero me ligou pedindo ajuda e eu preferi não


comentar, desculpa ter mentido.

Ela faz um meneio negativo com a cabeça.

― Amanhã eu converso com você sobre isso, vai dormir que


já está muito tarde ― ordena indo em direção ao quarto de
hóspede.

Entro no meu e vou direto para o banheiro, após tomar um


banho e tirar todo o cheiro horroroso que estava impregnado em
minha pele, visto algo leve, deito-me e apesar do cansaço, é
simplesmente impossível adormecer. Minha mente não deixa.
Nas ultimas vinte e quatro horas, fui bombardeada de
informações que me desnortearam. No momento, eu não tenho
certeza de mais nada.

Fito meu teto cheio de estrelas e começo a contá-las,


tentando encontrar a calma que esse ato sempre me traz, mas que
pela segunda vez, não está surtindo o efeito.

De tudo que ouvi e vi o que mais martela em minha mente é a


confissão de Thomas.

― Não é possível que seja verdade ― murmuro, mordendo o


interior da bochecha.

Desisto de ficar deitada e me sento na cama, cruzo minhas


pernas e as balanço vigorosamente.

― Vamos aos fatos! ― digo alto, elevando uma mão.

― Um, nos odiamos. ― Levanto um dedo.

― Dois, mal ficamos no mesmo ambiente sem brigar.

― Três, ele não perde uma oportunidade de me irritar.

― Quatro, nunca demonstrou nenhum sentimento por mim.

― Cinco, tirando hoje, quando me ajudou a estudar na


biblioteca, nunca antes havia feito um ato de gentileza. ― Fito
minha mão aberta. ― E, mesmo assim, disse que só fez pelo meu
pai.

Apoio minha testa na mão e gemo, frustrada.


Jogo meu corpo para trás e abro meus braços.

― É obvio que era a fala de um bêbado idiota, ou seja, Tom


Tonto sendo ele. ― Bufo e reviro os olhos.

Volto a me levantar e arregalo os olhos.

― Por que eu sequer estou pensando nisso? ― murmuro.

Arrasto-me pela cama e deito-me de lado.

― Vou esquecer o que ele disse e tudo vai voltar a ser como
antes e nos odiaremos para sempre.

Fecho meus olhos com um sorriso decidido nos lábios.


Capítulo 7
Melissa
Ouço a voz do meu pai que grita enraivecido conforme desço
os degraus da escada. Sigo para a cozinha e encontro Guerrero
comendo à mesa e minha mãe tomando café enquanto lê um
documento. Penso em passar despercebida e evitar o sermão que
prometera ontem, mas, obviamente, não consegui. Então, pelos
próximos vinte minutos, escuto minha mãe durante meu café.
Quando se dá por satisfeita, ela me dá um beijo na testa e sai para
o trabalho.

― Não sei quem é pior falando, minha mãe ou meu pai. ―


Gemo batendo a testa na mesa.
― Eu também escutei um monte dos dois e não sei quem
falou mais ― o outro resmunga, eu o fito e rio.

― Vocês já acabaram? ― indaga meu pai, entrando na


cozinha acompanhado por Thomas.

Guerrero faz um movimento afirmativo e meu pai olha para


mim.

― Eu vou buscar minha mochila. ― Saio da cozinha com um


sorriso nos lábios.

Ouço passos atrás de mim, é Thomas quem está me


seguindo.

― Posso falar com você? ― pergunta parando ao meu lado.


― Eu queria me desculpar. ― Encosta o corpo na parede e me
olha, sorrindo de lado.

― Não precisa se desculpar ― falo lentamente, olhando seu


rosto com atenção em busca de algum traço do sentimento que ele
disse existir.

― Guerrero disse que eu falei e fiz muita merda. ― Passa as


mãos no cabelo e faz uma expressão engraçada.

― Não posso discordar dele.

Prendo o sorriso e ele olha em direção à escada.

― Podemos conversar no seu quarto?

Assinto e entramos no quarto, ele corre os olhos pelo


ambiente, observa o teto e um lento sorriso se abre como se boas
lembranças o abraçassem, afinal, brincamos e brigamos muito no
meu quarto. Acompanho o seu olhar, mas rapidamente desvio para
os seus olhos, sento-me na cama e cruzo minhas pernas.

― Por que você bebeu tanto? Com quem brigou? Por que
estava naquele estado? ― Bombardeio-o de perguntas.

Ele olha para mim, deixa o corpo tombar lentamente para trás,
até apoiar suas costas na porta, cruza os braços, respira
profundamente e solta o ar lentamente.

― Digamos que um marido não muito feliz encontrou sua


mulher em um momento íntimo com um rapaz mais novo no
banheiro do bar e resolveu, junto com os amigos, dar umas
porradas nesse rapaz. ― Ele movimenta os ombros como se fosse
pouca coisa.

E meu queixo quase cai.

― Foi por causa de mulher? E eu pensei que era algo mais


sério. ― Bufo, levantando e conferindo se coloquei todos os meus
livros dentro da mochila.

― Bebi um pouco demais e fiz merda. Coisa estúpida, admito.

Reviro meus olhos e faço menção de sair do quarto, mas ele


segura meu braço.

― Não temos mais o que falar, Guerrero me chamou e eu


ajudei, ponto final. ― Movimento as mãos no ar, começando a sentir
um frio na barriga.
― E por que me ajudou? ― questiona, dando um passo em
minha direção, fazendo-me prender a respiração e sentir coisas que
estão me deixando confusa.

― Você me ajudou a estudar. Além disso, meu pai pediu. ―


Minha voz sai agressiva.

Quero que ele se afaste, sua proximidade está mexendo


comigo e eu não estou gostando nem um pouco do que estou
começando a sentir.

Por um momento não falamos nada, apenas nos olhamos,


seus olhos percorrem meu rosto lentamente, param na minha boca
e voltam para os meus olhos. Ele está perto demais, invadindo meu
espaço pessoal, estou quase sentindo a sua respiração, vendo as
narinas se dilatarem, seu peito subindo e descendo e o meu está do
mesmo jeito. Sinto meu coração bater acelerado, um frio na barriga,
minha pele se arrepia e eu fujo, desviando olhar, engolindo em seco.
Nunca o fitei por tanto tempo e estranho as sensações conflitantes
que me dominam.

Viro meu corpo e abro a porta do meu quarto.

― Temos que ir, meu pai está nos esperando. ― Estranho


minha voz, mais baixa e rouca, mas se ele notou a diferença não
comentou nada.

Ele solta meu braço lentamente e passa por mim, perto


demais, nossos corpos quase se tocam, a ponto de eu sentir a
fragrância do sabonete do banho recém-tomado.

― Tudo bem.
Não consigo identificar seu tom de voz. Ele enfia as mãos no
bolso da calça e caminha em direção às escadas. Em um impulso,
eu faço a pergunta que anda martelando a minha mente desde
ontem e que me fez ficar tão consciente dele como nunca estive
antes.

― Thomas, você disse ontem que me desejava, isso é


mentira, não é? Quero dizer, você falou aquilo porque estava
bêbado e...

Ele me interrompe.

― É obvio que é mentira, Melzinha ― pronuncia meu nome


em um tom de deboche. ― Essa foi uma das merdas que mencionei
antes, por isso queria me desculpar. Pensei que você podia
começar a imaginar coisas e a ter estúpidas fantasias românticas
comigo. ― Ri descaradamente.

Esse é o Tom Tonto que eu estou acostumada e desprezo.


Sequer respondo, porque estou com raiva de mim mesma por ter
passado boa parte da noite pensando nisso e, pior ainda, por ter
sentido coisas que prefiro nem me aprofundar.

No decorrer dos dias, quase não vi Thomas e confesso que


também não fiz a mínima questão de encontrá-lo. Foi como se
tivéssemos feito um acordo mudo, como antigamente, cada um
cuidando da sua vida sem interferir na do outro. E nas poucas vezes
que nos vimos, soltamos uma farpa aqui, uma implicância ali, mas
nada muito sério. Apenas me foquei nas provas finais e nos ensaios.

Ao contrário do que imaginava, os pais da minha amiga


aceitaram que Guerrero dividisse o apartamento com ela,
principalmente quando ele disse que nunca teria o menor interesse
sentimental por ela. Rafa, obviamente, ficou revoltada. Ela diz que
perdeu completamente o seu interesse por ele, mas eu duvido
muito.

A trégua que meus pais deram durou pouco, minha mãe


insiste que meu pai está escondendo algo e eu tenho certeza de
que sim, principalmente porque ele anda cada dia mais estranho.

A única coisa que não voltou ao normal é a forma como meu


corpo reage a cada vez que estou perto de Thomas ou mesmo de
longe, basta meus olhos pousarem nele para ficar em alerta e sentir
minhas mãos suarem, tudo por causa de uma mentira tola que eu
simplesmente não consigo esquecer.

Minha intenção era de vê-lo o menos possível até esta coisa


estranha passar, porque eu tenho certeza de que é algo
momentâneo, mas ele começou a sair com a Rita, uma das
dançarinas do grupo de dança e dificultou ainda mais os meus
planos.

― O que você acha deste? ― Rafaela pergunta, cortando a


minha linha de pensamento. ― Melissa! Se você não escolher um
vestido, não vamos sair daqui nunca.
― Desculpa. ― Pego o vestido de suas mãos e caminho
apressada para o provador.

Estamos no shopping escolhendo uma roupa para sair


amanhã à noite e comemorarmos meu aniversário de 18 anos.

― Estava pensando no teste? Também não tiro isso da minha


mente, a próxima semana será decisiva para nós duas.

― Nem me fale ― murmuro deslizando o vestido pelo meu


corpo e fazendo uma careta. ― Rafa, acho que vou de calça e...

Ela me interrompe.

― Nem pensar! ― Abre a cortina do provador e enfia a


cabeça. ― Você prometeu que iríamos super produzidas na balada,
nada de calça jeans e blusa branca! ― reclama e eu rio.

Volto a me olhar no espelho e mordo o interior da bochecha.


O vestido preto adere às minhas curvas como uma segunda pele,
ele não tem alças, deixando os ombros à mostra. Viro o corpo e vejo
que também realça o meu bumbum.

― Amiga, você ficou linda demais com esse vestido.

Eu a olho pelo reflexo do espelho e mordo os lábios, indecisa.

― Não é o meu estilo, não faço o tipo sensual, sou mais


despojada ― digo enquanto mais uma vez giro o corpo. Ela segura
a minha mão, me puxa para fora da cabine e me leva para frente do
espelho no meio da loja.

― Aqui tem mais luz, você vai poder ver melhor.


― Estava vendo muito bem lá dentro, sua doida. ― Rio e ela
devolve a gargalhada.

― Vou vestir o meu e volto já.

Ela sai em disparada para o provador e eu fico me olhando no


espelho.

― Este vestido ficou realmente muito bem em você ― diz a


vendedora, com simpatia, e eu sorrio.

― Melissa, que surpresa te encontrar aqui! ― Olho em


direção ao chamado e encontro Rita com Thomas ao seu lado. ―
Viemos ver um filme.

― Ah, que legal. Divirtam-se! ― soo simpática.

Desvio meus olhos dela e fito Thomas. Ele, por sua vez,
desliza os olhos pelo meu corpo devagar, fazendo tudo dentro de
mim estremecer. Eu só queria que essa merda parasse logo!

― Você não acha que esse vestido está curto demais, não?
― Faz um movimento de cabeça em minha direção, fazendo-me
abrir um lento sorriso e eu quase agradeci a ele por este comentário
machista e idiota, por causa dele tudo que estava sentindo sumiu
feito mágica e aquela conhecida vontade de lhe dar uns bons tapas
veio com força.

― Não, não acho. Na verdade, eu acabei de decidir que vou


comprá-lo e vou comemorar meu aniversário amanhã com ele. ―
Passo as mãos demoradamente pelo meu corpo dando uma leve
rebolada.
― Seu aniversário é amanhã? ― Rita pergunta surpresa
enquanto eu travo uma troca de olhares furiosa com Thomas.

― Sim, e o dele também, ele não te disse? ― Indico seu


acompanhante com a cabeça.

― Amor, você faz aniversário amanhã? ― Ela o abraça e ele


assente, sem desviar os olhos de mim, demonstrando desagrado
por eu ter revelado.

― Vamos perder a sessão. ― Sai da loja sem falar mais nada,


puxando Rita, que acena em despedida.

― Grosso! ― murmuro e caminho decidida em direção ao


vestiário encontrando Rafaela no caminho.

― Demorei a me decidir, o que você acha deste? ― pergunta,


mostrando-me um vestido vermelho com um decote enorme.

― Lindo! Eu decidi que vou comprar este aqui. ― Aponto para


a peça e omito o fato de que foi o idiota do Thomas que me ajudou a
decidir.
Capítulo 8
Melissa
Sorrio lentamente ao sentir um leve carinho em minhas
costas.

― Parabéns pra você, nesta data querida... ― A voz alegre


da minha mãe preenche o quarto.

Viro-me na cama, esfrego meus olhos enquanto me sento e


bocejo, tudo ao mesmo tempo. Eles estão com um pequeno bolo
com uma bailarina em miniatura no topo segurando uma vela.

― Feliz aniversário, meu amor! ― Meus pais me abraçam e


minha mãe me dá uma caixa preta. Dentro, há um colar com um
pingente de sapatilha de brilhantes.
― Ah, que lindo! Eu amei! ― Aperto o colar perto do peito.

― Faça um pedido, filha ― pede enquanto eu assopro a vela.

Fecho meus olhos e desejo que eu consiga passar com louvor


nos testes da faculdade de dança.

― 18 aninhos, filha. Eu quero que o tempo volte 9 anos. ―


Meu pai me abraça.

― Todo ano o senhor diz isso, pai.

― E ano que vem vou querer que volte 10 anos ― afirma,


fazendo-me rir.

― Como pretende passar o seu dia? ― minha mãe pergunta


cortando uma fatia do bolo.

― Vou almoçar na casa da tia Beatriz, passar a tarde com ela,


depois vou sair com Rafaela e vou dormir na casa dela.

Conversamos por mais algum tempo, eles saem para o


trabalho e eu passo boa parte da manhã na cama, conversando
com a Rafaela e respondendo mensagens dos meus amigos. Por
volta das 11h da manhã, saio de casa, chamo um carro e sigo para
a casa da minha tia. Levo cerca de quarenta minutos para chegar e,
ao invés de entrar pela porta da frente, resolvo fazer uma surpresa e
entrar pela garagem, mas sou surpreendida por vozes alteradas.

― Você nunca mais ouse insinuar que eu não a amo. ― Não


distingo a voz que rosna enraivecida.
― Eu não estou insinuando, estou afirmando. ― Essa
reconheço, é a de Thomas.

Ouço alguns sons que parecem de tapas e quando dou


alguns passos para ver com quem Thomas está falando, minha tia
me chama.

Viro o rosto em sua direção, mas desvio a tempo de ver


Thomas, saindo pelo portão e entrando com uma mulher loira em
um carro. Não consigo ver se mais alguém está no carro com eles,
pois minha madrinha toca meu braço desviando a minha atenção.

― Melissa? O que você está fazendo aqui atrás? ― soa


alegre. ― Feliz aniversário, meu amor!

Seus braços me envolvem, girando nossos corpos. Forço um


sorriso ainda muito curiosa sobre com quem Thomas estava falando
e quem era a mulher com quem ele saiu.

― Quis fazer uma surpresa, mas foi a senhora que me


surpreendeu. ― Beijo sua bochecha e ela volta a me abraçar.

― Meus dois amores. ― A voz do meu tio Fred chega até a


mim junto com um abraço apertado e eu me sinto esmagada entre
os dois.

Ele ama fazer isso.

Viro meu rosto e procuro nele algum indício que era ele que
estava gritando com seu filho. Nunca o vi elevar a voz, seu tom
sempre fora calmo e tranquilo, tio Fred é uma pessoa de fala mansa
e carinhosa. Mesmo assim, enquanto ele me felicita por meu
aniversário, busco em sua face alguma evidência de que se alterou
recentemente, mas tudo parece normal, tanto sua voz, quanto seu
olhar ou sua expressão. Tudo como sempre foi.

― Esqueceu alguma coisa, querido? ― Beatriz estica o


pescoço e beija levemente os lábios do marido.

― Esqueci um documento. ― Eleva o braço e mostra uma


pasta em suas mãos. ― E também vim dar um abraço nessa
menina que mal vejo. Lembra quando ficava grudada na gente?
Parecia até que tínhamos dois filhos. ― Ele sorri largo.

― Verdade, hoje em dia eles não têm mais tempo para os


pais e padrinhos. ― Beatriz faz bico e eu reviro os olhos de forma
cômica.

― Cadê o Tom Tonto? ― pergunto de forma despretensiosa,


olhando ao redor e quando faço menção de ir até a garagem para
verificar se tem alguém lá, seu pai fica na minha frente.

― Vocês não perdem essa mania de implicar um com o outro.


― Beija minha testa e volta a me abraçar.

― Eu o vi assim que acordou, disse que vai passar o dia com


Guerrero e à noite vai sair. Você sabe se ele já foi, meu amor?
Fiquei presa em uma videoconferência e não sei se ele ainda está
em casa ― Beatriz pergunta ao marido e eu o olho, interessada na
resposta.

Eu escondo que ouvi uma discussão e que o vi sair com uma


mulher, apenas para ver qual será a reação do seu pai.
― Também não sei, amor. Quando entrei fui direto ao nosso
quarto pegar a pasta, não o vi em casa ― sua voz soa tranquila.

― Já deve ter saído, vou enviar uma mensagem para ele.


Agora vamos entrar, temos muito o que conversar ― Beatriz
convida abrindo a porta.

Entro na casa abraçada com Fred, com a cabeça próxima ao


seu coração que bate tranquilamente, sem nenhuma alteração. Uma
pessoa que gritou da forma que eu ouvi estaria com o coração
acelerado, não com os batimentos cardíacos normalizados, o que
me leva a crer que não era com ele que Thomas falava. Então quem
era?

Deixo o assunto momentaneamente de lado, assim que o


encontrar novamente, vou questioná-lo sobre isso.

Após alguns minutos, Fred voltou para a empresa, então, eu e


Beatriz passamos algumas horas agradáveis conversando. No final
do dia, me despeço dela e vou para a casa de Rafaela, que me
espera ansiosa. Arrumamo-nos com esmero e vamos para a boate
e, ao chegarmos, encontramos alguns amigos do colégio e do grupo
de dança parados na frente do local.

― Finalmente chegou a aniversariante! ― Batem palmas, me


fazendo sorrir.

Cumprimento a todos ao redor e quando nos preparamos para


entrar, vejo pelo canto do olho que Thomas também está no local.

Puxo Rafaela e sussurro ao seu ouvido:


― O que ele está fazendo aqui? Você sabia que ele vinha?

― Não, mas eu chamei o pessoal da companhia, ele


provavelmente veio com a Rita. Desculpa, amiga.

Solto um suspiro.

― Você não tem culpa, ele que não devia ter vindo, devia
estar curtindo com os amigos dele.

― Mas vocês conhecem praticamente as mesmas pessoas.

― Ah, que saber! dane-se Thomas! Não vou pensar nele, vou
curtir a minha noite!

Com isso em mente, assim que entramos, seguro a sua mão


e vamos para a pista de dança e ali faço o que eu mais amo, danço,
sentindo o ritmo envolver meu corpo, a adrenalina correr solta. Às
vezes, algum cara se aproxima e dança com a gente, uns são mais
atrevidos que os outros, mas sempre damos um jeito de nos safar e
acabamos dando boas risadas.

Em determinado momento, Rafaela vai comprar uma bebida


para a gente e um sorriso brinca em meus lábios quando começa a
tocar Let lt Go, de James Bay, fecho meus olhos, levanto os braços
e movo o corpo no ritmo da música lenta e sensual, sentindo minha
nuca molhada de suor. Levanto meus cabelos e sinto um sopro que
faz minha pele arrepiar.

Uma mão envolve minha cintura e aperta, não o suficiente


para doer, mas um aperto firme. Meu coração bate acelerado e, em
meio a vários cheiros, seu aroma chega mais forte, tão conhecido,
tão dele, da pessoa que anda entrando na minha mente e no meu
coração, bem devagar, sem pedir permissão, como se ali fosse o
seu lugar.

Engulo em seco, tudo desaparece à minha frente e dançamos


no ritmo da música. Lentamente movimento o corpo, ele não se
aproxima muito, como se tentasse manter uma distância segura,
não quero me virar, não quero encarar a realidade, só por um
instante, não quero fazer força para não gostar dele.

Algo frio toca minha nuca, uma gota gelada desliza pelas
minhas costas e novamente sinto o sopro quente e prendo a
respiração, quando sua mão aperta mais forte minha cintura.

Será que ele sabe o que me faz sentir?

Será que sabe que estou excitada, sugando o ar com força,


minhas pernas estão bambas e meu coração bate acelerado?

Será que ele tem alguma noção disso? Ou ele sabe


exatamente o que faz e está brincando comigo?

Uma garrafa de água aparece na minha frente.

― Feliz aniversário, Mel ― murmura em meu ouvido.

Seguro a garrafa e olho para Thomas. Seu rosto bonito está


muito próximo ao meu, ele desce os olhos bem devagar por mim e
sorri lentamente de lado, pisca um olho, se vira e se afasta de mim.

Ele fez de propósito! Essa certeza me pega em cheio,


deixando-me zonza.
― Amiga, você está bem? ― Rafaela pergunta, aproximando-
se de mim.

Não consigo falar, porque a raiva começa a correr pelas


minhas veias como lava de um vulcão pronto para entrar em
erupção.

― Volto já ― falo alto para ela ouvir e vou atrás de Thomas.

A boate está lotada, demoro uns dez minutos para avistá-lo.


Ele segura a mão de Rita e a puxa para um canto mais escuro, atrás
do palco em que o DJ está tocando. Sigo atrás deles com a intenção
de esganá-lo, contudo algumas pessoas entram na frente e acabam
dificultando a minha passagem, mas consigo me desvencilhar. Ao
chegar onde quero, paro e franzo os olhos, está escuro, tem um
casal se beijando, não tenho certeza se são eles, outros também
vieram para essa direção.

Solto um suspiro frustrado e resolvo sair dali. Desejando um


pouco de silêncio, vejo a saída de emergência e não penso duas
vezes antes de abrir a porta, sento-me no primeiro degrau da
escada e jogo a cabeça para cima, pensando na merda que
aconteceu, querendo entender por que estou sentindo essas coisas
por um cara que eu odeio.

Por que com ele?

Um alto gemido me faz arregalar os olhos. Estico meu


pescoço, olho para baixo e o que eu vejo faz meu queixo quase cair:
no degrau de baixo, Rita está de joelhos com o pau de Thomas na
boca, chupando-o avidamente e quando subo meu olhar, ele está
olhando diretamente para mim enquanto bebe uma cerveja direto da
latinha.

Eu quis sair correndo dali, mas é como se minhas pernas


estivessem presas. Sugo o ar com força, ele sorri de lado, tira o pau
da boca dela, contorna lentamente seus lábios, volta a meter e
novamente me olha. Ele bebe todo conteúdo da latinha e a joga
longe, então Rita levou um susto e afastou a cabeça.

― Este é meu presente de aniversário, docinho, agora chupa


gostoso ― sua voz soa rouca, ele fala alto o suficiente para eu ouvir
e tenho certeza de que essa é a sua intenção.

Thomas segura a cabeça dela e soca forte em sua boca, mais


uma vez me olha, promíscuo, devasso, respirando rapidamente,
seus olhos estão presos nos meus.

Aperto minhas pernas, excitada, molhada, sentindo meu


centro latejar, meu peito sobe e desce como o dele e não olho mais
para baixo, seus olhos me prendem e me mantêm cativa. E quando
ele os fecha, soltando um alto gemido, é como se o encanto se
quebrasse e eu finalmente saio rápido dali, antes que ele abra os
olhos, antes que seja pega por ela.

Procuro pela Rafa e a encontro dançando, ou parecia ser isso,


com Guerrero, sequer penso que estou atrapalhando algo antes de
dizer que não estou me sentindo bem. Seguimos para a casa dela e
não comento nada com minha amiga durante o percurso.

Como poderia, se nem eu acredito?


A única coisa que eu quero é esquecer que hoje eu queria
estar no lugar da Rita.
Capítulo 9
Melissa
Jogo-me na cama de Rafaela calada, pensativa, confusa, com
a mente borbulhando, buscando entender o que está acontecendo
comigo, com os meus sentimentos.

― Você está tão quieta. ― A voz da minha amiga chega até a


mim como um sussurro distante, viro meu rosto para fitá-la e noto
que ela também está deitada olhando fixamente para o teto.

― Você também ― devolvo no mesmo tom.

― Eu fiz uma merda tão grande que nem sei mencionar em


palavras.
― Tenho certeza de que não é maior que a minha. ― Solto
um suspiro alto e ela se senta na cama, fazendo-me deitar de lado,
ficando de frente para ela, e apoiar a cabeça no braço.

― Eu, literalmente, escalei Guerrero como se fosse uma


trepadeira no cio. ― Sua expressão horrorizada me faz rir, é algo
involuntário, não consigo evitar. Ela pega um travesseiro e me bate
com ele. ― Para de rir, é sério. Eu estava dançando com um
carinha e do nada ele apareceu e tirou o cara, aí minha mente
fantasiosa pensou que ele estava a fim de mim e pah, lá fui eu, toda
animada, envolvi o pescoço dele com os braços, aproximei meu
corpo, toda sensual, achando bobamente que ele estava na mesma
sintonia e quando levantei o olhar, vi que o homem me olhava sério,
tipo, bem sério.

Minha amiga eleva as mãos ao rosto e geme em frustração.

― Miga, eu estava me esfregando nele toda animada e ele


nem aí, mas, olha, bateu uma vergonha que nem gosto de lembrar.

― E o que você fez?

― Me fiz de louca, óbvio. ― Movimenta os ombros com os


olhos arregalados e eu mais uma vez tenho vontade de gargalhar,
mas me contenho, dado o seu desespero que é bem semelhante ao
meu. ― Fingi que estava bêbada, enrolei a língua, chamei ele de
outro nome, uma cena digna de um Oscar.

― E ele acreditou? ― indago incrédula por ter perdido essa


cena.
Muito provavelmente tudo isso aconteceu enquanto eu estava
paralisada vendo uma garota chupar o pau de Thomas.

― Sei lá, acho que sim, não tenho certeza, logo você chegou
me chamando e viemos embora. Foi a maior vergonha da minha
vida.

― Eu dancei com Thomas, fiquei toda animada e depois


saquei que ele estava apenas brincando, fiquei puta, fui atrás dele e
quando o encontrei, uma garota estava fazendo oral nele. Fiquei
olhando, não consegui sair do lugar e, pior, ele viu. Eu estou ficando
doida, amiga, porque acho que estou começando a desejá-lo, mas
juro que ainda o odeio com todas as forças, mas, mas... ― Suspiro.

― Mas não quer sentir nada.

― Não devo, eu o odeio! Pelo amor de Deus, é o Thomas o


maior idiota de todo universo! Como eu posso sentir algo por ele?

― Ai, miga, que merda.

― Nem me fale.

― O que vamos fazer?

― Eu não sei.

― Eu tenho uma sugestão.

― Qual?

― Vamos nos fazer de doidas.


― Depois de hoje à noite, eu estou seriamente questionando
minha sanidade mental.

― Miga, estou dizendo para falarmos que tivemos uma


amnésia pela bebida ― sugere balançando as sobrancelhas.

― Tipo, as reações que tive foram porque estava alcoolizada


e quando encontrá-lo, vou fingir que nada aconteceu, afinal, eu
estava bêbada! ― concluo o raciocínio, animada. ― Mas eu não
bebi nada alcoólico.

― Ele não precisa saber, eu mesma vi você ingerir 3 doses de


conhaque, juro que vi! ― Ela cruza os dedos e os beija, fazendo-me
rir.

― Eu juro que vi você entornar 3 latinhas de cerveja e uma de


vodca ― digo segurando o riso.

Selamos nosso acordo com um aperto de mão, muita risada e


com muita

esperança que dê certo.

Acredito que tudo o que senti não passou de uma euforia


momentânea produzida por hormônios e sei lá o quê. Minha mente
trabalhou ferozmente em uma resposta plausível e eu cheguei à
conclusão que tive um surto, foi isso que aconteceu e ponto.

Depois que encontrei uma resposta, tudo ficou mais fácil,


contudo, por uma certa precaução, por alguns dias preferi evitar
Thomas, os preparativos para festa de formatura e treino tornaram
minha decisão mais fácil. E duas semanas após o episódio da
boate, eu o vi. Ou melhor, ele me encontrou.

Eu estava no meu banheiro, me maquiando, quando notei que


esqueci o batom na cômoda. Ao voltar para o meu quarto, ele
estava sentado em minha cama, confortavelmente.

Travei e segurei o ar, ele estava lindo trajando um terno preto,


camisa branca com alguns botões abertos revelando um pouco de
pele bronzeada. E todas as teorias que formulei em minha mente
evaporaram como fumaça, novamente eu senti aquele frio na boca
do estômago, aquela vontade boba de rir e de brigar, tudo ao
mesmo tempo e, para complicar mais um pouquinho, ele sorriu.
Lentamente.

Se ele soubesse o que esse sorriso faz comigo, não sorria


assim. Ou faria, só para me provocar, para mexer comigo, me fazer
suspirar, como está fazendo agora.

Eu engulo toda a confusão que está me corroendo, visto uma


máscara de desinteresse e caminho calmamente até a cômoda.
Pego o batom, giro meu corpo e volto para o banheiro.

― Você não deveria estar se arrumando, vai se atrasar ― falo


de costas para ele de olhos fechados fingindo que não estou
sentindo nada, quando a sua presença mexe demais comigo.

Sugo o ar uma, duas vezes, e o solto lentamente. Pelo


espelho do banheiro, vejo que ele encosta o corpo na parede
próximo a mim.

― Eu não te dei seu presente de aniversário ― sua voz soa


rouca, baixa e o sorriso de canto de boca está li, só para ferrar meu
juízo.

― Não precisava, não comprei nada para você ― digo rápido,


tentando esconder meu nervosismo.

― Tem 3 anos que você não me dá um presente de


aniversário, mas eu te dou um em todos os aniversários.

― Porque quando fizemos 15 anos te dei um relógio e você


me deu uma caixa toda enfeitada e eu abri feliz a bendita e dentro
havia um sapo que pulou em mim. Ano passado você me deu um
cordão de macarrão e no ano anterior, um de jujubas, os dois dentro
de caixas lindas ― zombo.

Lembro que fiquei puta.

― Mas dei um presente ― pontua.

Eu bufo, viro de costas para ele e começo a passar o batom.

Ele se aproxima, põe uma caixinha em cima da bancada da


pia e volta a se encostar na parede.

― Não vou abrir isso ― aviso, apontando para o objeto,


desconfiada.
Ele ri baixo, para atrás de mim, mas não encosta, apoia as
mãos na pia, envolvendo meu corpo, mantendo-me presa entre ele
e a pia.

Fito seus olhos através do reflexo do espelho, e folgado, ele


apoia o queixo no meu ombro, como se sempre tivesse feito isso,
mas nunca fez antes.

― Vou abrir para você ― murmura, arrepiando a minha pele,


não sei se ele notou, mas fico imóvel, sequer respiro.

Observo-o abrir a caixinha e de dentro dela tirar uma pulseira


com vários pingentes, todos relacionados à dança.

― Que lindo. ― Pego da sua mão e vejo com atenção, cada


peça tem uma pedrinha na ponta.

― Fico feliz que tenha gostado. ― Roça o queixo no meu


ombro causando um reboliço dentro de mim.

― Muito obrigada, agora se afaste, por favor ― peço,


elevando o tom de voz, mas ao invés de se afastar, ele se aproxima
mais, acabando completamente com qualquer espaço que havia
entre nós.

Thomas pega meu braço e prende a pulseira deslizando o


dedo devagar pelo meu pulso.

― Eu sei que você viu ― sussurra próximo à minha orelha,


devagar, rouco e mais uma vez respiro fundo.

― Viu o quê? ― Faço a minha melhor cara de desentendida.


Seus olhos me prendem no espelho e ele me fita da mesma
forma que daquele dia, e como naquele dia, sinto meu centro pulsar.

Quando ele faz menção de abrir a boca, eu o interrompo:

― Você está falando da discussão na sua casa? Sim, eu ouvi,


e também vi que saiu com uma mulher loira. Com quem você estava
brigando naquele dia? Eu não consegui ver a pessoa e nem
reconheci a voz. ― Pego-o completamente desprevenido e sua
expressão antes sedutora muda completamente.

Em silêncio, se afasta de mim e sai do banheiro e eu o sigo.

― O que está acontecendo, Thomas? Você está ficando com


uma mulher casada? É a mesma do bar, a que você disse que
brigou por causa dela? Nós vamos morar juntos daqui a algumas
semanas, seria interessante não haver segredos entre nós.

― Sabe o que seria interessante, Melzinha? Cada um cuidar


da sua vida.

― Mas...

― Nem mais nem menos, pode ficar tranquila que meus


problemas não vão te incomodar ― diz em um tom agressivo.

― Por que sempre que tento descobrir que merda está


acontecendo, e nem vem dizer que não está acontecendo nada,
porque está — você fica agressivo comigo?

― Porque não é da sua conta ― ruge.


― Ah, quer saber, eu desisto! A cada vez que eu acho que
estamos caminhando para sermos amigos, você ferra tudo com a
sua grosseria e estupidez, custava se abrir e me dizer o que está
acontecendo? Eu posso ajudar, sabia?!

― Você simplesmente não pode me ajudar, porque não


aguentaria e explodiria.

― Como você anda explodindo. ― Dou um passo em sua


direção. ― Olha, nunca fomos muito próximos, sempre nos
provocamos e brigamos mais que conversamos.

― Nunca conversamos, trocamos farpas.

― Que seja, mas podemos ser amigos, é isso que nossos


pais esperam da gente, afinal, estão nos obrigando a morar juntos.

Ele se aproxima e para muito perto de mim, respirando fundo,


como se tivesse corrido uma maratona, encosta a testa na minha e
diz, olhando nos meus olhos:

― Nunca seremos apenas amigos, Mel, e você sabe disso.


Ou a gente vai se odiar eternamente, ou... ― Ele não completa e
seus olhos recaem na minha boca, com fome, e eu faço o mesmo,
respiramos o mesmo ar, a nossa pele se arrepia, o desejo à flor da
pele, doido para explodir e queimar tudo.

― Ou? ― questiono, ansiosa e petulante ao mesmo tempo,


elevando o queixo, afrontosa, sabendo que nunca daria o primeiro
passo, jamais serei a primeira a admitir, brigarei contra isso, ele
sabe disso.
― Ou brigaremos eternamente ― diz por fim.

― Eu acho um bom acordo para mim. ― Levanto uma


sobrancelha, incitando-o a dizer o contrário, mas ele não fala nada,
apenas assente e sai do quarto e eu finalmente respiro aliviada.
Capítulo 10
Melissa
Queria poder dizer que consegui cumprir o que prometi,
realmente queria me vangloriar por ter sido forte o suficiente para
mantê-lo bem distante, como era antes, quando existia um muro
invisível revestido de agressividades, muitas implicâncias e uma
total falta de interesse pelo que acontece com Thomas.

Gostaria de poder ainda ficar tranquila, fingir que ele não


existe, ignorá-lo completamente. Do fundo do meu coração, eu
queria que isso tivesse acontecido.

Mas não aconteceu.

Simplesmente não consigo mais desviar meus olhos quando


ele entra no mesmo ambiente em que estou, é como se seu corpo
fosse coberto por um ímã que me atrai e rouba meu fôlego
confundindo meus sentidos.

Nunca senti algo assim por alguém, não consigo mais inventar
desculpas para o que estou sentindo, mas também ainda não
consigo nomear.

Ou melhor, não tenho coragem, e é melhor assim.

E ele também não ajuda em absolutamente nada, neste


momento, por exemplo, está sentado na minha frente chutando meu
pé debaixo da mesa de jantar, como fazia quando tinha cinco anos
de idade, esboçando um sorriso matreiro enquanto nossos pais
conversam e eu tento fingir que ele não está na minha frente, tento
não retribuir o sorriso bobo, tento inutilmente sentir aquela raiva que
sempre dominava meu corpo quando ele me irritava desse jeito.

Eu me recuso a me tornar uma daquelas meninas estúpidas


que ficam atrás dele.

― Pai, eu vou sair com a Rafaela ― aviso afastando a


cadeira em que estou sentada.

― Vai dormir lá? ― minha mãe indaga, no momento em que


lhe dou um beijo de despedida.

― Sim ― confirmo e envolvo o pescoço de Beatriz, beijando


seu rosto várias vezes, arranco um sorriso dela e repito o mesmo
processo com seu marido.

Despeço-me do meu pai e me viro para sair, ignorando


propositalmente Thomas. Eu e minha amiga vamos a uma festa na
casa de um colega do colégio e eu tenho certeza de que ele foi
convidado, pois o garoto é um dos amigos dele.

― Não vai se despedir de mim com um beijo e abraço, não,


Melzinha? ― Sua voz zombeteira chega até mim, fazendo-me
morder o interior da bochecha.

Sequer olho para ele, nossos pais riem e caminho rápido para
a saída.
― Amiga, lembra, sem álcool!

Rafaela afirma pela centésima vez desde que vimos Thomas


e Guerrero entrarem na festa, ridiculamente lindos e sozinhos. Meu
inimigo e fonte dos meus pensamentos pecaminosos corre toda a
sala com o olhar como se procurasse alguém e assim que me vê,
abre aquele sorriso meio safado, meio matreiro de quem está
prestes aprontar, e eu, rapidamente, segurei os braços da minha
amiga e saímos dali.

― Totalmente sem álcool! ― sussurrei, enquanto


caminhávamos em direção a um grupo de amigos.

Desligo-me completamente de tudo quando começou a tocar,


Carita de inocente, de Prince Royce, sou completamente
apaixonada nessa música. Rafa me chama para a pista de dança
improvisada ao lado da piscina, enlaça minha cintura e começamos
a movimentar o corpo no ritmo sensual da música, com várias
outras pessoas dançando ao nosso redor.

Sou apaixonada por dança, todas as vertentes dela, mas


dança de salão me ganha fácil.

Um movimento ao meu lado me chama a atenção, viro meu


rosto e vejo Thomas dançando no mesmo ritmo que nós, mas
sozinho. Desvio para Rafaela, que tenta inutilmente esconder um
sorriso, contudo, noto que ela não está olhando para mim e sim para
um ponto atrás de mim e eu nem preciso girar a cabeça para saber
que é para Guerrero.

Nós duas estamos muito ferradas.

Uma mão sorrateira aperta a minha cintura, arregalo os olhos


e belisco minha amiga que finalmente me fita e levanta uma
sobrancelha, dando-me a confirmação que eu preciso, como se
cada poro do meu corpo já não tivesse me avisado que era Thomas
que me tocava.

Sem pedir licença, envolve minha cintura com um braço e


aproxima seu corpo do meu.

― Thomas, eu e Melissa estamos dançando ― Rafaela


pontua sorrindo.

― Ué, eu também só estou dançando ― solta,


movimentando-se lentamente.

― Tínhamos um acordo, lembra? ― digo, raivosa, sem parar


de me mexer.

― Não, tenho memória seletiva e neste momento só quero


dançar com você ― soa cínico, descarado, fazendo-me ficar de
boca aberta e arrancando uma gargalhada da minha amiga.

― Você não tem o mínimo de vergonha na cara! Tom Tonto ―


resmungo.
― Isso você sabe desde o berço, Melzinha. ― Gira meu
corpo, fazendo-me ficar de frente para ele.

― Agora você quer tirar minha parceira de dança, Thomas!?


― minha amiga briga e ele apenas abre um sorriso largo, safado,
morde a ponta da língua, pisca um olho e depois me dedica sua
total atenção.

Tudo dentro de mim estremece.

― Só uma música, depois prometo que a devolvo. ― Volta a


piscar um olho para Rafaela e eu a fito, fazendo um movimento
afirmativo de cabeça.

Ela me olha como se dissesse “está fazendo merda”, e eu sei


disso.

Mas, mesmo assim, deixo-o me puxar para mais perto,


aproximando nossos corpos, porém ainda mantendo uma distância
segura.

― Você sabe dançar bachata ― constato, com um meio


sorriso.

Bachata é um ritmo cubano tanto para música quanto para


dança, os movimentos são extremamente sensuais para ambos os
parceiros.

Desço meu olhar e percebo que está fazendo os movimentos


certos.

― Quem te ensinou? Se bem me lembro, você nunca se


interessou por dança.
― Tem um tempinho que comecei a me interessar, eu até me
ofereci para te ajudar a treinar nos testes, mas você ignorou a minha
oferta, na verdade, sempre ignora.

― Eu não... ― comecei a contestar, contudo, me calei, porque


realmente não levei a sério sua oferta.

― Vem comigo, precisamos conversar. ― Segura minha mão


e me leva para trás da casa.

― Acho que já conversamos o suficiente e decidimos nos


manter bem afastados um do outro ― relembro, enquanto ele
caminha segurando firmemente a minha mão.

Paramos em um local pouco iluminado.

— Você gosta de lugares escuros, hein? — implico.

Ainda ouvimos a música, mas nenhuma voz, todos estão lá


dentro ou em volta da piscina.

― Você sabe que sim.

― Eu sei pouco sobre você.

― Me conhece desde que nasci, sabe quase tudo sobre mim,


por exemplo, sabe que sou um idiota. ― Seu dedo percorre meu
rosto e eu dou um passo para trás, e mais outro até sentir a parede
às minhas costas.

― Fato ― tento parecer tranquila, mas falho miseravelmente.

― Mas sou um idiota decidido e não sou covarde, não


costumo correr nem fugir do que eu quero.
A pergunta vem na ponta da língua, mas eu engulo em seco e
apenas o fito em silêncio.

― Não vai perguntar o que eu quero, Mel? ― indaga rouco,


falando bem pertinho do meu rosto.

Eu não confio na minha voz para emitir uma única palavra e


ele se aproxima mais, acabando com o espaço que existe entre nós,
encosta a testa na minha e murmura:

― Eu quero você ― confessa.

― Por quê? ― não consigo evitar a pergunta.

― Não sei ― soa sincero.

― Nós nem gostamos um do outro.

― Tenho que concordar, ainda assim, quero você.

― Isso é loucura.

― Não sei quando começou, foi devagar, tomando conta aos


poucos e a porra de um tesão filho da puta me faz acordar todos os
dias com o pau duro depois de ter sonhado com você ― confessa,
me fazendo respirar fundo e soltar o ar devagar.

― Então é atração? ― indago, afastando a cabeça.

― Não sei ― revela com um suspiro, parece sincero e tão


confuso quanto eu.

― É apenas sexo, algo que vai passar quando você transar


com alguém ― digo confiante.
Ele sorri de lado e eu mordo o interior da minha bochecha.

― Você viu uma mulher com o meu pau na boca e o tempo


todo eu imaginei que era você me chupando. ― Passa o dedo
levemente pelos meus lábios. ― Fantasiei que era sua língua
lambendo a cabeça bem devagar.

Puxa meu lábio inferior para baixo e toma fôlego soltando o ar


no meu rosto.

― Fechei meus olhos e sonhei que eram seus lábios se


abrindo e me engolindo. ― Passa a língua nos seus lábios e os
morde. ― Quando eu te vi, não consegui desviar o olhar. Meu pau
estava na boca dela, mas eu queria que estivesse na sua.

Desliza o dedo dos meus lábios, percorre um lento caminho


até o meu cabelo, introduz seus dedos nele, segura e traz a minha
cabeça em direção à sua.

― E você queria a mesma coisa.

Não nego, não consigo, pois ele morde levemente meu


queixo, fazendo-me arfar. Thomas aproveita esse momento e faz
algo que nós dois queremos ardentemente.

Ele me beija.
Capítulo 11
Thomas
Eu queria conseguir definir exatamente quando esse desejo
começou a me dominar, o exato momento em que comecei a olhá-la
diferente, sem aquela implicância implícita em nosso relacionamento
desde sempre.

Porém, para ser bem sincero, não sei se faria alguma


diferença, não creio que mudaria algo, mesmo sabendo o quão
complicadas as coisas estão em minha vida, ainda assim,
absolutamente nada me faria recuar ou desistir de fazer o que estou
fazendo agora.

Beijando Melissa.

Sentindo seus lábios contra os meus, sua boca recebendo


minha língua, seu corpo tocando o meu, suas mãos segurando
minha blusa, puxando-me para perto, com a mesma urgência e
paixão que sinto.

Ela geme baixinho, e eu escorrego as mãos pelas suas


curvas, que não saem da minha mente, dominam meus sentidos e
me deixam doido.

Mordo seu lábio e ela geme contra a minha boca.

― Gostosa ― murmuro no seu ouvido, em seguida mordo,


fazendo-a arfar.
― Isso é loucura. ― Volta a dizer, entre suspiros.

― Uma loucura gostosa ― devolvo rouco e mais uma vez


procuro a sua boca.

Encosto meu corpo no dela, desejoso, cheio de tesão, ela


puxa meus cabelos, afastando meu rosto do seu.

― Eu preciso raciocinar e não consigo com você muito perto


de mim.

― Mas eu não quero pensar, não agora, só quero sentir e


esquecer tudo ao nosso redor.

― Thomas...

― Melissa...

Nos fitamos em silêncio, a paixão correndo solta entre nós.


Percorro seu rosto lentamente, seus olhos verdes, cabelos
castanhos com mechas loiras na altura dos ombros, nariz
arrebitado, boca pequena bonita, gostosa de beijar. Melissa é
absurdamente linda.

Eu esperei seu próximo movimento, ansioso, dando seu


tempo para decidir o passo a seguir, doido para beijar sua boca,
doido para novamente sentir seu gosto, doido para ouvi-la gemer
baixinho outra vez.

A ação partiu dela, um leve roçar de lábios.

― Só mais um beijo ― promete antes de segurar minha


cabeça e me beijar com paixão, a mesma que sinto em meu corpo,
que domina os meus sentidos e faz um arrepio gostoso me
percorrer.

E do nada ela me empurra, rápido demais, queria mais dela,


mais tempo de nós dois juntos, não deu para saciar a fome, apenas
atiçou.

Mel respira com dificuldade, o peito subindo e descendo


rápido como o meu. Inclino para frente e ela faz um meneio
negativo, me segurando no lugar, com o olhar confuso e desejoso
como o meu, travando uma luta interna entre o desejo e a razão,
tentando entender o emaranhado de sentimentos que está tomando
conta de nós.

― Não podemos complicar as coisas, vamos morar juntos...

― Daqui a algumas semanas, eu sei, é o que você mais fala.


― Interrompo.

― Não vai dar certo. ― Ela intercala o dedo entre nós dois. ―
Essa coisa, tem tudo para dar errado.

― Concordo.

Jogo a cabeça para trás e solto um suspiro alto.

― A cada mulher que eu pego, cada orgasmo que tive nos


últimos meses, foi com a sua imagem em mente, cada vez que eu
fecho os olhos é em você que eu penso ― confesso, porque dentre
todos os segredos que eu guardo, este é o único que eu posso arcar
com as consequências.
― Não fala isso. ― Faz um meneio negativo, de costas para
mim.

Aproximo-me rápido e a abraço, pegando-a desprevenida.


Puxo seu corpo para mais perto, de encontro ao meu, ela
estremece, ou talvez seja eu, não sei a resposta. inspiro o aroma
que desprende dos seus cabelos, amo seu cheiro, sempre tento dar
um jeito de puxar seu cabelo, só para sentir sua fragrância, é uma
mistura de perfume com seu odor natural, que lhe confere uma
essência única, perfeita.

Subo minhas mãos pelo seu corpo, passando devagar pela


barriga, o vale entre os seios, seguro seu pescoço e viro sua cabeça
para mim.

― Eu simplesmente não consigo mais esconder o quanto te


quero.

E ela me beija, molhado, gostoso, carregado de paixão, mas


rapidamente, retira minhas mãos do seu corpo e corre para longe de
mim.

Esfrego o rosto e puxo meus cabelos, a vontade que eu tenho


é de gritar, de ir atrás dela, de beijá-la novamente, de tê-la por
completo. Até dou alguns passos na direção em que ela foi, mas
paro.

Solto um suspiro, ponho minhas mãos no bolso e caminho na


direção oposta, indo para piscina. Ao chegar, avisto Guerrero com
uma latinha de cerveja na mão e com os olhos fixos na pista de
dança improvisada.
Sigo seu olhar e vejo Rafaela dançando em meio a outras
pessoas, ela é a melhor amiga de Melissa e a pedra no sapato do
meu amigo.

Sorrio e avisto o dono da festa, desde que cheguei aqui só


tive olhos para Melissa, caminho até ele e conversamos por alguns
minutos. Caio também vai estudar em Campinas, como alguns dos
nossos amigos, já outros, vão fazer faculdade no Rio de Janeiro,
viajar, ou simplesmente parar de estudar.

Essa festa abre a temporada de festas de despedidas, terão


várias pelas próximas semanas, depois cada um começa a se
preparar para a nova vida, novos desafios. Alguns querem estudar
longe para ficar bem distante dos problemas, mesmo sabendo que
eles não desaparecerão.

― Sua prima está muito linda ― Caio solta fazendo


movimento com o queixo.

Reparo que Melissa voltou para a pista de dança, seus


cabelos estão molhados, denunciando que ela jogou água neles,
assim como em seu rosto, e eu não consigo impedir meu sorriso.

― Se eu fosse você, disfarçava ― Guerrero sussurra em meu


ouvido e eu viro o rosto para ele, intrigado.

― Nem vi você se aproximar. ― Rio e ele bufa.

― E você vê alguém ao seu redor quando Melissa está no


seu campo de visão? ― Levanta uma sobrancelha.
Eu abaixo a cabeça com uma risada baixa, mas não nego. Ele
tem razão.

― Sabe se ela tá ficando com alguém? ― Caio pergunta,


tocando meu ombro e apontando Mel com a cabeça.

Tudo indica que ele não ouviu a provocação de Guerrero.


Melhor assim, as coisas ainda estão muito enroladas para mais
alguém saber.

Não consegui esconder de Guerrero, ele me conhece mais


que eu mesmo, descobriu antes de mim que eu estava sentindo
algo a mais por Melissa, porém quando eu afirmo que é apenas um
tesão fodido, ele gargalha.

Somos amigos desde que eu tinha 2 anos e ele 5, quando


Roberta, sua mãe, foi trabalhar na minha casa. Minha madrinha
Luiza, mãe da garota que invade meus sonhos todas as noites, a
resgatou de um lar abusivo, e minha mãe a abrigou em nossa casa
até que ela tivesse um lar.

Como na época meus pais estavam precisando de uma


pessoa para cuidar da casa, ofereceram o trabalho e adaptaram a
casa da piscina para ela e o filho morarem com mais privacidade e,
desde então, ele é o meu melhor amigo e confidente, sabe de quase
tudo da minha vida, mas tem coisas que nem para ele contei,
porque é complicado demais, difícil demais.

― Poxa, vocês são primos, deve saber de alguma coisa ―


Caio insiste quando nota o meu silêncio refletivo.
― Não somos primos. ― Movimento meus ombros e bebo um
longo gole de cerveja, ignorando a pergunta anterior.

― E a Rafaela? Sabe se ela tem alguém? Ela é uma gordinha


muito gata ― elogia animado.

― Está atirando para todos os lados, Caio? ― Guerrero


provoca com uma voz fria e eu tento duramente não rir.

Obviamente falho.

― Vocês estão fodas hoje. ― Ele se afasta resmungando.

― Cara chato pra caralho ― reclama antes de beber toda a


bebida.

― E por que veio à festa dele?

― Apenas vim te acompanhar ― fala como se fosse óbvio e


eu bufo.

― Sei.

― Lá vai ele em cima dela, mas também, para que ficar


fazendo vídeo de dancinha para postar no Instagram, qual o objetivo
disso?

― Ela é bailarina ― rebato e meu amigo me olha com uma


expressão tão puta que eu elevo as mãos em sinal de paz.

Eu sei que Rafaela mexe com Guerrero, mas ele ainda vai
levar seu tempo para aceitar isso. Até lá, vai brigar com si mesmo e
com ela por causa desse desejo.
Bem, entendo esse sentimento.

― Vocês ficaram? ― Não estranho a sua pergunta, como


disse antes, ele me conhece.

― Sim. ― Evito dar maiores detalhes, isso é íntimo e pessoal,


algo somente meu e dela.

― E a vontade passou? ― Seu tom é de puro deboche como


se soubesse a resposta.

― Só aumentou ― confesso, jogando a cabeça para cima.

― Eu disse.

― É apenas tesão! Vai passar em breve.

― Se você está dizendo... ― Dá de ombros com um sorriso


irônico no rosto.

Não retruco, mas eu sei que é apenas algo de pele, que vai
passar com o tempo. Tenho certeza disso.
Capítulo 12
Thomas
Abro a porta da casa de Melissa e entro fazendo o mínimo
barulho possível.

― Você está cada dia mais parecido com Melissa. ― A voz do


meu tio me assusta, fazendo-me dar um pulo.

― Que susto, tio. ― Rio baixo esticando o pescoço,


procurando-o. ― Onde o senhor está?

― Estou no escritório. ― Eleva um pouco o tom de voz.

Caminho até lá e, ao chegar, me encosto na porta e o observo


enquanto ele lê um papel em sua mão sem se dar o trabalho de me
olhar.

― Como o senhor sabia que era eu, e não Melissa? ― indago


curioso.

Impulsiono meu corpo para frente, dando alguns passos em


sua direção e me jogo no sofá.

― Porque minha filha não sabe o que significa fazer silêncio,


ela entra fazendo todo tipo de barulho que você possa imaginar. Já
você, é mais cuidadoso e metódico.

― Mas, mesmo assim, o senhor sempre sabe quando


chegamos.
― Dizem que quando se torna pai, nunca mais se dorme
tranquilo até nossos filhos estarem bem e seguros em casa.

― Mel já é adulta e eu não sou seu filho.

― É como se fosse. Você sabe que amo você como um filho e


sempre vou me preocupar com vocês, não importa a idade que
tenham.

Sorrio, porque sei que esse sentimento é verdadeiro e


recíproco.

― Como fará para dormir quando estivermos na faculdade?


― Divirto-me com a sua careta.

― Prefiro não pensar nisso agora. ― Faz uma expressão


engraçada. ― Ela acabou de me enviar uma mensagem avisando
que chegou na casa de Rafaela. Você estava na mesma festa que
ela? ― pergunta de forma despretensiosa, começando a organizar
os papéis em sua mesa.

― Sim. ― Mordo o lábio inferior ao me lembrar de tudo o que


houve na festa.

Após o nosso beijo, Melissa fugiu de mim. Se eu me


aproximava, ela se afastava, foi engraçado e excitante ao mesmo
tempo.

Quando termina, meu tio solta um longo suspiro e me olha por


um tempo e eu sei o que esse olhar significa, ele quer tocar em um
assunto que, no momento, eu não pretendo pensar, não agora, não
quando o beijo de Mel ainda está tão vivo em minha mente e seu
aroma ainda inebria meus sentidos, fazendo-me sorrir bobamente.

― Vou dormir, tio, boa noite. ― Tento escapar, pulando do


sofá e andando rápido até a porta, mas sua pergunta me para.

― Sua mãe já fez os exames?

Abaixo a cabeça porque não tem como mantê-la em pé. Esse


assunto é pesado demais, triste demais. Fecho meus olhos e solto
um sussurro triste, pesado e impotente.

― Vamos fazer amanhã, ela não queria fazer antes do


encerramento das aulas.

― Eu não tenho mais como esconder de Luiza e de Melissa


que Beatriz está doente novamente. Minha mulher anda me
pressionando, sabe que estou omitindo algo, isso está desgastando
nosso relacionamento.

Minha mãe descobriu há alguns meses que infelizmente o


tumor voltou, mas iniciou o tratamento em segredo, não queria que
Melissa e sua mãe soubessem. Da última vez foi devastador para
todo mundo e desta vez não está sendo diferente, pelo menos para
mim. Na verdade, está muito pior, porque além disso, há outras
coisas envolvidas que me apertam a garganta a cada vez que
penso.

― Desculpe, tio. ― Não sei mais o que dizer e ele suspira.

― Não é culpa sua, me desculpe ter jogado em cima de você.

― Não jogou.
― Sim, eu joguei. Não era para ter te indagado. ― Ele me
abraça e beija minha cabeça. ― Desculpa seu padrinho, eu estou
preocupado com Beatriz.

― Também estou, ela está seguindo o tratamento, vai fazer os


exames amanhã para saber se a quimio está dando certo e se já é
possível fazer a operação.

― Como estão as coisas com seu pai?

― Tensas.

Desvio meus olhos dos dele. Tadeu não têm noção de como
realmente está meu relacionamento com meu pai e é melhor assim,
aqui ainda é meu refúgio e quero mantê-lo.

Só vou para casa nos dias em que minha mãe tem quimio,
durmo lá e fico com ela o máximo que consigo, mesmo com o clima
pesado entre meu pai e eu. Engulo toda a mágoa, raiva e
ressentimento para ficar perto dela.

Minha mãe não tem noção de por que o meu relacionamento


com meu pai está tão ruim e, enquanto ela estiver doente, tenho
medo de revelar e ela piorar, então eu engulo tudo e passo mais
tempo por aqui desejando a garota que eu passei a minha vida
odiando.

― Ela vai ficar bem. ― Ele me abraça forte, puxa minha


cabeça para baixo e a beija. ― Eu queria saber o que nós te demos
para você ter crescido tanto! Deveria ter tomado um pouco também.
― Tadeu bagunça meu cabelo, arrancando um sorriso dos meus
lábios.
Despeço-me dele e sigo para o quarto de hóspedes que
ocupo nos últimos meses. Depois de um banho gelado, me jogo na
cama e meu celular vibra com uma ligação da minha mãe.

― Está tudo bem mãe? ― atendo, em alerta.

― Sim, filho, queria saber se está na casa de Luiza, sabe que


fico preocupada ― soa calma e risonha.

― Acredita que Tio Tadeu falou algo parecido? ― Rio.

― Isso se chama amor, que não cabe no peito e ele não


sossega enquanto não sabe que o filho está bem.

― Eu amo a senhora, mãe.

― Não mais que eu, filho. Você vem almoçar comigo


amanhã?

― Vou, sim.

― Beijos, meu amor. Boa noite.

Desligo com um sorriso nos lábios que aos poucos morre, os


olhos pinicam e o peito aperta. Não seguro a lenta lágrima que
desce pelo meu rosto, nem tento limpá-la, seria inútil, logo estou
fungando baixinho, com um sentimento de impotência que
absolutamente nada do que faço consegue sanar.

O som característico de uma mensagem me faz virar a


cabeça e buscar meu celular, com a vista embaçada, vejo uma
mensagem de Melissa na tela do aparelho.

Limpo meu rosto, respiro fundo e abro a mensagem:


“Eu acho melhor esquecermos tudo o que aconteceu. Foi uma
loucura momentânea, eu nem gostei tanto assim, você beija mal,
espero não te encontrar na minha casa amanhã.”

E com essa mensagem carregada de mentiras, essa garota


atrevida me arranca um sorriso em meio às lágrimas.

“Você parecia estar gostando muito enquanto gemia contra a


minha boca e puxava meus cabelos” ― respondo encostando a
cabeça no travesseiro esperando ansioso a sua réplica.

“Eu já disse que foi uma loucura, perda da capacidade de


raciocínio por um breve momento, você beija muito mal!”

Esboço um sorriso.

“Está se tornando repetitiva, Melzinha.”

“Chato.”

“Gostosa.”

Espero uma nova mensagem por algum tempo, olhando


ansioso para o aparelho, e quando não vem, guardo-o e sorrio largo.
Mordo o interior da bochecha ansioso para vê-la novamente, nem
que seja para ela brigar comigo e dizer que me odeia, me chamar
de Tom Tonto com o rosto vermelho de raiva enquanto eu me
controlo para não beijá-la.

Ela não tem noção do bem que me faz, não faz ideia do
quanto a sua mensagem carregada de implicância me tirou de um
lugar escuro, sombrio, cheio de dor. Ela não sabe de nada disso e,
se depender de mim, não vai saber tão cedo.
Acordo sentindo um leve carinho em meus cabelos, abro
meus olhos devagar e vejo Luiza, sorrindo para mim.

― Briga comigo hoje não, tia ― resmungo, escondendo a


cabeça debaixo do travesseiro, ouvindo sua gargalhada.

― Eu só brigo com você quando chega bêbado. ― Belisca-


me e depois faz cosquinha, como fazia quando era pequeno e vinha
dormir aqui e ela me acordava da mesma maneira.

― Não cheguei bêbado ontem ― afirmo, sentando-me na


cama e fugindo da sua mão.

Ela acaricia meu rosto e sorri amorosa.

― O que você e Tadeu estão escondendo de mim? ― indaga


sem tirar o sorriso do rosto, mansamente, mas sem desviar os olhos
dos meus, como se analisasse cada reação do meu rosto buscando
alguma revelação.

― Nada, tia ― reclamo saindo da cama e caminho em


direção ao banheiro, me tranco lá e fecho a porta, não duvido nada
que ela tentasse entrar.

― É algo relacionado ao seu pai? Ele está agredindo sua mãe


e ela não está me contando? Eu gosto muito de Fred, mas juro que
arranco suas bolas se ele a machucar ― ameaça.

― Meu pai não agride minha mãe fisicamente, tia.

― Tadeu tem uma amante e você sabe e por isso estão


cheios de segredos. Pode falar, prefiro saber se estou sendo traída,
vou conversar amigavelmente. ― Ela eleva o tom de voz e eu reviro
os olhos enquanto escovo meus dentes.

― Eu não estou te traindo, Luiza, já falei isso inúmeras vezes.


― Ouço a voz cansada de Tadeu no quarto e fecho meus olhos,
tenho que conversar com minha mãe, ela precisa revelar o que está
acontecendo.

Saio do banheiro e olho para o casal, Tadeu e Luiza se olham,


ela magoada e ele com o olhar perdido e eu me sinto mal por essa
merda toda, mesmo sabendo que a culpa não é minha. Minha mãe
não tem noção do mal que seu segredo está fazendo e o pior é que
esse nem é o pior segredo que escondo.

― Tia, tira isso da cabeça, não estamos escondendo nada, tio


Tadeu a ama, você sabe disso, não tem amante, relaxa. ― Abraço-a
e ela me olha procurando alguma verdade e eu fujo do seu olhar e
beijo sua bochecha repetidamente.

Fito meu padrinho Tadeu que murmura um obrigado mudo.


Capítulo 13
Thomas
Os pais de Melissa saíram há mais de uma hora, já era para
estar me arrumando para ir embora, mas estou jogado no sofá,
mexendo no celular e de vez em quanto olho para a porta com a
ansiedade correndo solta dentro de mim.

Um barulho na porta, junto com praguejamento e o som de


algo caindo fazem um sorriso surgir em meus lábios, e eu tenho que
dar razão a Tadeu, Melissa realmente faz muito barulho ao entrar
em casa.

Fixo meus olhos no corredor e vejo o exato momento em que


ela passa devagar, olhando ao redor e arregala os olhos quando me
vê deitado com um sorriso no rosto.

― Bom dia, Melzinha, dormiu bem? ― Rio da sua expressão


engraçada.

― O que você está fazendo aqui? ― Joga sua bolsa no sofá


de frente ao que estou deitado e põe as mãos na cintura.

― Esperando você. ― Mordo o canto da boca vendo a sua


irritação, doido para beijar sua boca, mas me seguro, deixo-a
esbravejar quando deslizo meus olhos por ela.

Melissa está com os cabelos molhados, denunciando o


recente banho, e o mesmo vestido que usava ontem.
― Ontem enviei uma mensagem, bem clara e objetiva.

― É, eu recebi. ― Movimento os pés e sorrio matreiro.

― Meus pais já saíram? ― pergunta, olhando ao redor.

― Sim.

― Ótimo, assim podemos conversar. ― Contorna o sofá e se


senta.

― Você quer falar sobre o nosso beijo? ― provoco.

Ela cruza as pernas e assume uma postura fria.

― Eu entendo que temos química, isso é um fato, mas


simplesmente não podemos deixar isso seguir adiante.

― Por quê?

― Porque seria desastroso. Thomas, nós vamos morar juntos,


fazer faculdade em outro estado, coisa que apesar de até agora eu
não entender seus motivos, já que poderia fazer faculdade por aqui
mesmo ― pontua. Eu me sento direito e apoio os braços nas
pernas.

Fico imaginando qual seria a reação dela se soubesse que só


estou indo para a mesma faculdade que ela porque minha mãe
pediu para ficar ao seu lado, cuidar dela, porque ela acha que
Melissa vai surtar assim que souber da sua doença, como na outra
vez.

Eu queria falar, a revelação estava na ponta da minha língua.


― É sério, eu não entendo você, eu quero distância e você
deveria querer o mesmo.

― Existe alguma coisa que faria você desistir de ir para


Campinas e realizar o seu sonho de fazer faculdade de dança?

― Se nossos pais estivessem doentes, fora isso, nada.

E está ali a resposta que eu precisava. Encosto meu corpo no


sofá e a observo em silêncio.

― Por que essa pergunta sem sentido?

― Apenas curiosidade.

― Então concordamos que o melhor é cada um ir para um


lado?

― Depende.

― Do quê?

Impulsiono meu corpo para a frente e saio do sofá, dou alguns


passos em sua direção e posiciono-me à sua frente, com um joelho
no chão e o outro flexionado.

― Me dê mais um beijo. ― Aproximo meu rosto do dela, retiro


os cabelos que estão em seu ombro esquerdo e deposito um leve
beijo no local.

― Thomas! ― Suga o ar com força.

― Só mais um, de despedida. ― Percorro seu ombro com


beijos até sua orelha. ― Quero te beijar mais uma vez, Mel.
Descruzo suas pernas, abro-as e me encaixo entre elas,
seguro seu quadril e com um forte puxão, aproximo seu corpo do
meu.

Melissa arfa, morde os lábios e fita minha boca com desejo e


tesão. Deposito um casto beijo no canto dos seus lábios e ela
suspira, movo minha mão direita percorrendo seu corpo devagar até
sua nuca, seguro um punhado do seu cabelo, levo minha outra mão
ao seu rosto e acaricio a pele sedosa lentamente, ela joga a cabeça
para trás e eu a firmo onde quero, de frente para mim, olhando em
meus olhos.

Circulo seus lábios, respirando fundo com o coração batendo


acelerado.

― Diz que sim ― peço, tocando sua boca, olhando seus


lábios, louco para beijá-la.

Deslizo meus olhos para o seus e ela está tão imersa no


desejo quanto eu, um leve movimento afirmativo de cabeça é a
confirmação que preciso para fazer o que mais quero desde que saí
da festa ontem à noite.

Beijar Melissa novamente.

E mais uma vez, sou sugado para um lugar só nosso, como


se não existisse mais nenhuma preocupação, dor ou medo.

Só existimos Melissa, eu e nossa paixão.

Seus braços circulam meu pescoço, ela geme gostoso na


minha boca. Apesar de ter começado o beijo, ela que está mais
voraz, tão sedenta quanto eu, chupa minha língua, morde meu lábio
inferior, segura meu rosto e volta a me beijar com paixão, loucura,
desejo, os seus gemidos estão me deixando duro.

Encosto minha testa na sua, com respiração ofegante, meus


olhos presos nos dela, uma mão ainda segurando seus cabelos e a
outra descendo devagar, testando seus limites, querendo saber até
onde posso ir.

Chego na sua perna, aliso a região devagar, volto a beijá-la,


quente, fogoso, quando minha mão sobe vagarosamente, ela se
abre para mim, puxa meu cabelo, morde meu queixo, tudo ao
mesmo tempo. Introduzo a mão no interior da sua coxa, ela
estremece; beijo seu ombro, deslizo lentamente, beijo o caminho até
a sua orelha e quando toco sua calcinha, a encontro molhada.

― Puta que pariu ― rosno, mordendo seu pescoço.

Coloco sua calcinha de lado, toco sua intimidade devagar,


sentindo meu pau quase estourar dentro da cueca.

Mel sussurra meu nome, segura meu pescoço e puxa minha


cabeça em sua direção, e eu a acaricio lentamente, aproveitando o
momento, beijando sua boca, ouvindo seus gemidos, seu corpo
ondulando, sua boceta molhando e babando a minha mão,
deixando-me com água na boca, doido para prová-la. Seu orgasmo
vem rápido e poderoso, mas ela não para de me beijar e contra
meus lábios, faz um pedido que me deixa insano.

― Quero mais, não para ― implora, jogando a cabeça para


trás, levantando uma perna e a colocando em cima do sofá, ficando
completamente aberta para mim.

Olho para baixo e vejo sua calcinha molhada, o corpo ainda


trêmulo do seu recente orgasmo. Minha boca enche de água, eu
engulo saliva sento-me no chão. Já com a cabeça bem pertinho da
sua intimidade, levanto o olhar e a fito.

Minha inimiga/amante está mordendo o canto da boca, com o


olhar safado, o corpo trêmulo demostrando todo o tesão que está
sentindo e deixando claro que quer ser satisfeita e eu quero
satisfazê-la.

Sem tirar os olhos dela, deslizo sua calcinha pelas suas


pernas, e, novamente, ponho seu pé apoiado no sofá, devagar,
passo a língua por sua boceta e ela joga a cabeça para trás e geme
alto.

― É melhor do que imaginava. ― Suspira, enquanto lhe dou


uma chupada forte e paro.

Ela me olha.

― Sonhou comigo? ― pergunto, mordendo sua perna.

― Podemos não conversar agora? ― Revira os olhos.

― O que você quer que eu faça agora, Melzinha? ― provoco,


beijando sua boceta, arrancando um gemido dela.

― Você sabe ― diz ofegante.

― Sei não. Você vai ter que me dizer. ― Elevo meu corpo,
ficando bem próximo do seu rosto. ― Fala com todas as palavras o
que você quer que eu faça com você ― ordeno contra a sua boca.

Ela me olha e por um breve momento eu vejo a razão


começar a tomar conta dela e eu não quero isso, não quero ser
racional, e sim passional, quero paixão desejo e satisfação imediata,
depois pensamos nas consequências, agora eu apenas quero fazer
a mulher que não gosta de mim, mas que me deseja, gozar bem
gostoso na minha boca.

― Não pensa, apenas sinta. ― Toco seu clitóris inchado e a


beijo profundamente. ― Me diz o que você quer que eu faça?

― Que me faça gozar.

― Como?

― Thomas!

― Como você quer que eu te faça gozar, Mel? ― Belisco seu


clitóris, ela suga o ar e o solta devagar. ― Quero que me diga com
todas as palavras o que quer, fala para mim ― murmuro contra seus
lábios.

― Quero que me chupe, que me faça gozar na sua boca ―


solta em um fôlego só e antes que ela tenha um segundo
pensamento, estou em sua boceta, chupando forte.

Ela segura meu cabelo, eu evito usar os dedos, quero fazê-la


gozar em minha língua. Rebola gostoso, de olhos fechados, geme
alto, não aguento e abro minha calça. Levo minha mão para dentro
da cueca e me masturbo enquanto a faço delirar em minha língua.
Melissa explode em um orgasmo alucinante e eu sigo chupando e,
quando estou gozando, escutamos barulho do alarme indicando que
o portão eletrônico foi destravado.

― Merda, será que meu pai voltou?! ― Ela se afasta ofegante


e me olha com os olhos arregalados.

― Deve ser ele.

― Ele leva cerca de 10 minutos estacionando o carro. ―


Olha-me matreira, fita meu pau duro e se ajoelha. ― Não sei fazer
isso direito ― avisa antes de levar a boca ao meu pau, fazendo-me
conter o ar.

― Mel... ― Seguro sua cabeça e olho para a câmera de


segurança, confirmo que é realmente seu pai que está
estacionando.

Desvio para ela e a sinto engolindo meu pau de forma


desajeitada, de quatro, com a bunda empinada aparecendo, ela
cospe nele e sobe e desce com a boca, chupando como se fosse
um picolé.

Começo a suar frio, volto a olhar para a câmera e seu pai está
saindo do carro.

― Ele vai entrar ― digo ofegante quando ela começa a


massagear minhas bolas sem tirar o pau da boca. ― Ah, merda! ―
Meu coração está batendo forte, estou com um olho na câmera e o
outro nela, começo a sentir as fisgadas do gozo, seguro sua cabeça
e soco na sua boca rápido.
Pela câmera, vejo seu pai andando devagar para a entrada da
casa e ela me chupa pela última vez, depois se levanta, pega as
roupas e sobe as escadas correndo antes do pai entrar na casa.

Eu faço o mesmo, levanto as minhas calças, mas vou para o


quarto de hóspedes. Entro no banheiro, tiro minhas roupas e
debaixo do chuveiro, me masturbo pensando na minha inimiga de
infância.
Capítulo 14
Thomas
Belisco a comida que está em meu prato, pensativo pelo que
houve hoje, ainda sentindo o gosto dela na minha boca, seus
gemidos, toques e suspiros. Demos sorte de seu pai não nos pegar
no flagra. Quando saí do banheiro, ele já havia ido embora, até
pensei em procurar Melissa, mas desisti, já estava atrasado para o
encontro com minha mãe.

― Você está apaixonado? ― A voz suave e alegre da minha


mãe me faz fitá-la.

― Não estou, mãe, mas estou curtindo alguém. ― Prefiro


guardar para mim meu rolo com Mel, porque é exatamente isso,
ainda não definimos nada, só sentimos e deixamos o desejo falar
mais alto que a razão.

― Ah, os primeiros amores, que fase deliciosa. ― Estica a


mão e aperta a minha levemente. ― Viva cada momento, meu filho,
eu quero que você seja muito feliz. Plenamente feliz. ― Volta a
apertar a minha mão e eu vejo o pequeno curativo escondendo a
picada que a agulha deixou quando a enfermeira retirou seu sangue
há uma hora.

Estamos em um restaurante próximo à clínica onde minha


mãe faz seu tratamento e almoçamos enquanto esperamos os
exames de sangue ficarem prontos para levarmos para o seu
oncologista.
Acaricio lentamente o local e minha mãe puxa o braço.

― Quando vou conhecê-la? Espero que antes de você ir para


a faculdade. Quero saber quem é a garota que colocou esse sorriso
no seu rosto, se te fez feliz, eu já gosto dela, ou será que eu já a
conheço? ― insinua, fugindo do meu olhar.

― Como eu posso ser plenamente feliz sabendo pelo que a


senhora está passando? ― murmuro triste.

Minha mãe solta um longo suspiro eleva a mão direita


delicadamente e pede a conta ao garçom.

― Vamos caminhar pela orla, estamos pertinho de Ipanema e


o dia está lindo. Daqui a pouco tenho que voltar para a clínica, falta
fazer alguns exames de imagens, mas antes, quero ficar grudadinha
em você — convida com um sorriso largo.

Tenho vontade de gritar de frustração, mas apenas assinto


com a cabeça.

Saímos do restaurante e optamos por seguir andando até a


orla, de fato era próximo, apenas dois quarteirões de onde
estávamos. Minha mãe enrosca seu braço no meu e eu levo sua
mão ao meu lábio e beijo carinhosamente.

― Eu ainda posso ficar, mãe, posso mudar de faculdade e


ficar aqui, não preciso fazer em Campinas, tem ótimas faculdades
aqui. Quero estar perto da senhora.

― Estou bem, filho, quero que você faça faculdade lá, junto
com Melissa, um ajudando o outro.
― Ela pode fazer lá e eu aqui — insisto.

― Há quase 2 anos, quando tive câncer pela primeira vez, foi


devastador para todos.

― Eu sei. Por isso não quero me afastar.

― É exatamente por isso que eu quero que você curse


faculdade em Campinas, ao lado de Melissa e dos seus amigos.

Ela suga o ar com força e o solta devagar antes de recomeçar


a falar:

― Naquela época, eu surtei, minha melhor amiga parou a vida


dela, pediu licença no trabalho e ficou ao meu lado 16 horas por dia,
todo dia durante todo o meu tratamento, desde o diagnóstico até a
alta.

Ela fecha os olhos e eu vejo uma lágrima cair lentamente ao


se lembrar da dedicação da tia Luiza para com ela.

― Quando ela não estava, seu pai estava lá, ele saía da
empresa e ia para o hospital, saía do hospital para empresa,
definhava junto comigo. Ele quase enlouqueceu naquele período,
fingia que não sentia o cheiro de álcool e que não percebia as
olheiras profundas, sabia que submerso em todo aquele sofrimento
estava meu marido tão sorridente e que me amava tanto.

Ela para de falar quando chegamos à rua e temos que


atravessar o sinal e isso me dá o fôlego que eu preciso para não
dizer algo que ainda não posso, então minha mãe continua:
― Você e Melissa quase perderam o ano escolar de tão
transtornados que ficaram. Cheguei a ficar preocupada que
entrassem em depressão, não quero isso novamente.

― E teria como ser diferente, mãe? Nós amamos você.

― Eu sei, filho, mas dessa vez quero fazer diferente, quero


encarar de forma diferente. O doutor Carlos está otimista e eu
também, acredito que terei que passar por mais algumas sessões
de quimioterapia e depois retirar a mama e se tudo der certo, será
apenas a recuperação.

― E se não for assim?

― Se não for assim, vou enfrentar na hora certa, não agora.


Não quero aquela angústia novamente, me faz mal tanto quanto o
tratamento ver vocês daquele jeito, me machuca mais que o tumor,
não quero que vocês sofram, não mais que o necessário.

Ela segura minha mão e sorri.

― Na primeira vez, enfrentei cheia de negatividade em meu


coração, mas agora quero fazer diferente. Na verdade, estou
fazendo. Já faz alguns meses que estou em tratamento e tenho
levado uma vida normal, viajando, me divertindo, sendo feliz, estou
vivendo cada momento plenamente e quero o mesmo para você. Se
as coisas se complicarem, aí, sim, vou querer você grudadinho
comigo, mas, até lá, viva cada momento como se fosse o último.

Acaricia meu rosto.


― Você é um filho maravilhoso e eu quero apenas que seja
feliz.

― Eu te amo, mãe. ― Não faço nenhum esforço para segurar


a emoção, eu sei que este momento ficará gravado em minha mente
para sempre.

― Mas eu ainda acho que devo ficar aqui.

Ela ri alto.

― Preciso que você fique ao lado de Melissa, filho. Um vai


ajudar o outro, nem que seja entre brigas e implicâncias. ― Me toca
com o cotovelo. ― Ela vai desmontar, como da primeira vez, por
isso que não falei nem para ela nem para Luiza.

― Mas tem que contar, mãe. Tia Luiza já percebeu que Tadeu
está escondendo algo dela, ela acha que ele a está traindo.

― Ela me disse isso, eu ri por quase dez minutos. Aquele


homem é louco por ela.

― Ouvi algo parecido hoje de manhã ― relembro.

― Vou resolver isso, não se preocupe. O que eu quero agora


é que você fale mais sobre a mulher que fez você sorrir daquele
jeito. ― Eleva a sobrancelha e pisca um olho.

Gargalho e faço um meneio negativo.

Caminhamos por mais alguns minutos e voltamos para a


clínica. Assim que chegamos, avisto meu pai sentado em um sofá
próximo ao balcão de atendimento e, quando seus olhos pousam
em minha mãe, ele abre um largo sorriso, levanta-se e caminha em
sua direção.

Por alguns breves segundos, eu sou transportado para alguns


anos atrás, quando o meu mundo ainda não havia desabado e eu
não tinha que esconder tantos segredos, quando eu ainda
acreditava nele e no amor que ele diz sentir.

― Estava preocupado com você, amor.

Ele segura seu rosto, seus dedos acariciam sua pele devagar,
se aproxima e a beija, pouco se importando com quem está ao
redor. Não desvio meus olhos da cena procurando qualquer indício
de fingimento, e não encontro.

― Estávamos passeando pela praia e conversando. Está


esperando há muito tempo? ― Minha mãe abraça a sua cintura e
encosta a cabeça em seu peito.

Quem vê pensa que são um casal perfeito, mas, na verdade,


é o que minha mãe acha, e eu me sinto preso em uma rede de
mentiras por receio de tirar esta felicidade dela em um momento tão
complicado.

O nome da minha mãe é chamado para fazer os exames de


imagens e ela se despede de nós com um beijo no rosto, e assim
que ela vira as costas, a expressão do meu pai muda
completamente.

Ele segura meu braço com força e eu o puxo de volta, saindo


do seu aperto, mas o sigo em direção à saída da clínica.
― O que você falou para a sua mãe? ― Seu tom é de uma
ameaça velada e eu bem sei o que ele é capaz de fazer para que
minha mãe não saiba de nada.

― Não falei nada ― cuspo, não escondendo a minha raiva.

― Thomas ― rosna, dando alguns passos em minha direção.

― Não disse, por enquanto ― pronuncio a última parte


demoradamente com cada letra carregada de deboche.

Ele segura minha blusa e me puxa ao seu encontro, e eu


sorrio lentamente.

― Eu já ordenei que não perturbe a Beatriz.

― A única coisa que concordamos é que este não é o melhor


momento para minha mãe saber de todas as merdas que estão
acontecendo.

― Ela precisa de paz para passar por esse tratamento, não


quero que se preocupe com absolutamente com nada ― reitera
ferozmente e eu vejo bem lá no fundo dos seus olhos o medo de
perdê-la. Eu reconheço este sentimento, porque ele oprime meu
peito desde que descobri que o câncer havia voltado.

Empurro seu peito, afastando-me dele e caminho em silêncio


para dentro da clínica, sigo em direção ao banheiro e, ao entrar,
apoio minhas mãos na pia e me olho no espelho.

Abro a torneira e encho minhas mãos com água e jogo em


meu rosto, volto a fitar meu reflexo, minha face molhada e em meus
olhos, há alguns questionamentos:
Será que minha mãe me perdoará por esconder tudo o que
está acontecendo?

Será que estou fazendo certo em mascarar todas as merdas


para que ela tenha a felicidade que tanto almeja?

Não posso negar que ele a faz feliz, e neste momento, o que
ela mais precisa é ser feliz.

Minhas lágrimas se misturam com as gotas de água que


escorrem pelo meu rosto, molho-o novamente, recomponho-me e
saio dali pronto para encontrar a minha mãe e fingir que
absolutamente nada aconteceu.
Capítulo 15

Thomas
Entro no quintal de casa pela primeira vez em alguns dias,
desde o dia do exame da minha mãe, uma semana para ser exato,
que não venho aqui. Caminho devagar em direção ao imóvel, vim
porque minha mãe me pediu para acompanhá-la ao shopping, ela
quer comprar coisas para o apartamento.

Às vezes, parece que são ela e minha tia Luiza que vão morar
lá, não eu e Melissa, pois elas apenas nos mostram o que
compraram, não esperam de fato a nossa aprovação, somos meras
figuras ilustrativas em lojas de decorações e departamentos.

Mas, para ser bem sincero, não me importo, porque não tenho
a menor vontade de ficar horas e horas escolhendo utensílios
domésticos e peças de decoração para o nosso apartamento.

O mero pensamento em Melissa faz surgir um sorriso bobo


em meus lábios. Mal nos falamos desde o dia em que quase fomos
pegos pelo seu pai, dei o espaço que sei que ela precisava, levei um
tempo para aceitar o desejo que me queima por dentro e que por
muitas vezes mascarei com implicância e agressividade.

Fiquei com várias mulheres, mas ela não saía da minha


mente, e me mantive longe até o nosso aniversário. Ela estava linda
demais na pista de dança, mas mesmo naquele dia, fugi, fiquei com
Rita e fui flagrado por ela, e esse foi meu estopim. Vou me manter
distante enquanto der, o que sentimos é forte demais para ser
ignorado por um período muito longo.

Abro a porta e sigo para cozinha antes de ir à procura da


minha mãe. Lá, encontro tia Beta, mãe de Guerreiro, dançando
enquanto lava a louça e canta baixinho. Ela é uma mulher em seus
cinquenta e poucos anos que ama música sertaneja.

Caminho devagar em sua direção, ela não me vê e quando a


abraço por trás, se assusta.

― Eu não te vejo há dias, nem parece que você mora aqui ―


reclama quando lhe dou um beijo no rosto.

― Estou morrendo de fome, tia Beta.

― Menino, você já é um homem crescido, tem barba na cara


e eu não sei o que deu na cabeça da sua mãe para autorizar as
suas tatuagens e dar aquelas motos para você e para Guerrero, ou
melhor, bem sei, meu filho também me deixou doida até assinar o
bendito papel de autorização para as tatuagens e para fazer a auto
escola — Solta um suspiro exagerado. — E para com essa mania
de me chamar de Beta, isso era coisa de quando você tinha cinco
anos e mal sabia falar ― briga com um sorriso divertido nos lábios e
se vira para terminar sua tarefa.

― Betaaaaa. Tô com fome ― choramingo e ela gargalha,


sacudindo as mãos e buscando um pano de prato próximo ao fogão
para secá-las, em seguida dá alguns passos até a geladeira, a abre
e retira uma travessa de salada de bacalhau com batata. Põe uma
generosa porção em um prato e o escorrega na mesa à minha
frente.

― Eu queria saber como você vai se virar quando se mudar


para fazer faculdade em outro estado.

― Vou te levar junto. ― Abraço-a forte. ― Obrigado, Beta.

― Você não tem jeito. Fiz essa salada ontem, sua mãe pediu,
é um dos pratos preferidos do seu pai. Mas ao chegar, ele a
surpreendeu com uma viagem surpresa, eles foram para Búzios. ―
Não esconde o sorriso nos lábios.

― Minha mãe não está em casa? Ela me pediu para vir aqui
hoje.

Franzo o cenho enquanto enfio na boca uma boa quantidade


da salada. A comida de Roberta é simplesmente espetacular.

― Eu creio que ela vá chegar em breve, seu pai vive fazendo


essas surpresas, jantares românticos, viagens não planejadas, mas
quando é no meio da semana como hoje, normalmente, ela volta no
meio do dia. Eles parecem um casal em lua de mel, quase todo dia
ele lhe dá um presente ou manda flores de surpresa ― revela,
voltando para sua tarefa de lavar a louça.

― E como estão as coisas por aqui? ― sondo.

― Em relação a quê? ― Olha-me intrigada.

― Como minha mãe está, ela realmente está bem como diz?
Você é a pessoa que mais fica com ela. Se depender dela, nunca
saberei se estiver mal.
Roberta enche o pulmão e solta o ar devagar, seca suas
mãos, encosta o quadril na pia e me olha com atenção.

― Eu não sei o que houve entre você e seu pai, mas esse
afastamento a deixa muito triste ― assegura.

Sinto um incômodo dentro de mim, mas essa é uma situação


que não consigo evitar, não dá para simplesmente fingir que nada
aconteceu quando em poucos meses a bomba irá explodir para
todos os lados.

Ela continua:

― Em relação à sua saúde, em comparação a primeira vez,


ela está muito bem e otimista. Seu pai contratou uma nutricionista
para me auxiliar sobre quais são os melhores alimentos e melhores
receitas que eu posso fazer para ela em dia de quimioterapia. No
começo foi difícil para me adaptar, mais ainda para sua mãe, que
não recusa uma boa comida ― diz a última parte em tom de
confidência.

Rio junto imaginando a cena.

― Mas logo nos acostumamos. Na parte da manhã, faço os


sucos; depois, ela me arrasta para uma caminhada em volta da
piscina, como se eu não tivesse mais nada para fazer da vida. ―
Bufa, revirando os olhos, mas não esconde o carinho em cada
palavra pronunciada. ― Thomas, eu sempre admirei a sua mãe e
serei eternamente grata por tudo o que seus pais fizeram por mim e
pelo meu filho, mas a garra com que ela está enfrentando essa
doença desgraçada, eu não teria. ― Seus olhos se enchem de
lágrimas e os meus também, a ponto de não conseguir ver a comida
em minha frente, apenas um grande porão.

Roberta se aproxima e enlaça meu corpo, balançando de um


lado para o outro.

― Cuida dela para mim enquanto estiver longe?

― Claro que sim, e ela vai ficar bem, eu tenho fé nisso. Seu
pai acerca de cuidados e eu fico de olho sempre, não se preocupe.

― Eu sei que ela não vai me dizer se piorar.

― Mas eu digo. Prometo. ― Ela beija minha testa.

― Mas pensa em um homem que adora roubar as mães


alheias. ― A voz grossa de Guerrero invade a cozinha fazendo-nos
rir.

Fungo e discretamente limpo meu rosto, Roberta beija


novamente minha testa antes de se afastar.

― O que vocês estão cochichando? ― indaga meu amigo,


intercalando os olhos entre nós.

― Nada, filho. Você veio do treino, está com fome? Estava


andando com aquela moto? Você deveria trocar por um carro! ―
Beta muda de assunto.

Guerrero não sabe da doença da minha mãe, somente eu,


meu pai, Roberta e tio Tadeu sabemos, e ele só descobriu porque
um dia eu bebi demais e acabei revelando.

Minha mãe prefere manter em segredo por enquanto.


― Mãe, por favor, deixa minha moto em paz e sempre estou
com fome ― assegura, puxando uma cadeira e se sentando ao meu
lado. ― Mas não posso comer isso aí, meu treinador me mata se
souber. ― Movimenta a cabeça em direção ao meu prato.

― Vou pegar sua marmita. ― Ela aponta para mim. ― E você


continua comendo, sua mãe chegará daqui a pouco ― ordena,
antes de sair.

― E aí, resolveu os últimos detalhes com os pais da Rafaela?


Já sabem onde vão morar? ― questiono pouco antes de enfiar uma
porção generosa da salada na boca.

― Eu e Tadeu vamos, mais uma vez hoje lá na casa dela,


Luíza já escolheu um apartamento junto com a mãe da Rafaela.

― Sabe se será no mesmo prédio que o nosso?

― Parece que a um ou dois quarteirões de distância, pelo que


Luíza disse.

― Tudo certo com a bolsa?

― Porra nenhuma! Só consegui 50%, mas seu pai vai bancar


o restante.

― Meu pai!? ― indago surpreso. ― Eu pensei que meu tio


Tadeu faria isso, na verdade, ele chegou a comentar algumas vezes.

― Seu pai me viu doido no dia em que chegou a notícia e


disse que pagaria, pediu para não falar nada para você. Não sei
qual é a merda entre você e o seu pai, mas para mim ele é a única
figura paterna que eu conheço, ele e Tadeu, para ser exato, nenhum
dos dois, precisa fazer um caralho por mim, mas sempre que me
vejo em alguma merda, é para eles que recorro e nunca me
negaram auxílio.

Mexo no meu prato, já perdendo a fome. Sei que deveria ser


adulto, maduro e conseguir separar o meu pai, do homem e do
marido, mas um caralho que consigo fazer isso.

― E então, já decidiu como vai fazer para morar com


Rafaela? ― Mudo o rumo da conversa, não quero lidar com nada
complexo agora.

Guerrero joga a cabeça para cima e em seguida a bate na


mesa tirando uma gargalhada de mim.

― Aquela garota é maluca. Acredita que ela fez uma conta no


TikTok e fica postando dancinhas lá ― soa indignado.

― Você comentou. ― Afasto o prato e vou em busca de um


copo de água. ― Vai fazer as dancinhas no apartamento de vocês.
― Balanço o corpo e ele arremessa uma blusa molhada de suor.

Faço careta e devolvo.

― Vai rindo, Melissa também tem uma conta lá. ― Mexe no


celular e pouco depois, aponta para mim.

Na tela, Mel aparece junto com Rafaela, dançando


sensualmente.

― Porra!

― Eu disse. ― Movimenta os ombros, convencido.


Devolvo o aparelho e busco o meu em meu bolso, abro o
aplicativo e procuro pela conta de Melissa. Ela tem milhares de
seguidores e muitos vídeos postados.

Clico em um deles: ela está com um biquíni branco dançando


a música Fake love, da Anitta. Após assistir, clico nos comentários e
tenho que respirar fundo algumas vezes ao ler o tanto de
mensagens, tanto de homens quanto de mulheres, nada inocentes.

― Devolvo a mesma pergunta, como vai fazer para morar


com Melissa? ― Cada palavra está carregada de ironia e eu me
recordo do que houve há uma semana e um sorriso lento surge em
meus lábios.

Acho que já dei tempo demais à Melissa.


Capítulo 16
Melissa
A adrenalina corre solta no meu corpo enquanto o movimento
no ritmo da coreografia, ouvindo os gritos de Gil, tentando me
manter concentrada e não pensar em Thomas, mas falho
miseravelmente.

― Para! ― O berro de Gil me faz fechar os olhos. ― Qual é o


seu problema, Melissa? Tem como se concentrar? Estamos a
poucos dias da apresentação e você está atrapalhando todo mundo!
― grita, enraivecido.

― Desculpa ― murmuro olhando para os meus pés.

― Não quero desculpas, exijo sua total dedicação, ou te


substituo ― ameaça.

Eu apenas faço um movimento afirmativo, nem me atrevo a


proferir uma única palavra, quando ele está neste estado de ânimo,
o melhor é ficar bem longe dele.

Ele faz um giro com o dedo indicador e todos os dançarinos


retornam às posições iniciais, a música volta a tocar e eu tento
ferrenhamente manter minha mente focada nos passos. Ao terminar,
estou exausta, não pelos movimentos, mas sim pelo esforço mental.

Gil faz uma pausa de alguns minutos e chama o segundo


grupo. Aproveito para me arrastar até minha mochila, que está
jogada no chão ao lado de outras, sento-me ali, encosto meu corpo
na parede, busco minha garrafinha de água e ingiro uma enorme
quantidade do líquido gelado.

Puxo minhas pernas e abraço meus joelhos, pouso meu


queixo ali e um sorriso brinca em meus lábios ao ver minha amiga
Rafaela cumprindo todos os passos exigidos, sem perder o ritmo,
provavelmente sua mente está livre e não tão conturbada quanto a
minha.

Um movimento ao meu lado me faz virar a cabeça, noto que é


Rita, a mulher que estava, ou está, ficando com Thomas.

Que rolo de merda.

Volto a engolir longos goles de água e ela toca o cotovelo no


meu, chamando a minha atenção.

― Ei, calma, com tanto líquido, vai enjoar nos giros ―


aconselha, piscando um olho.

― Verdade, minha mente está voando.

― Pensando no teste final? Minha mãe anda me deixando


doida com isso. Às vezes, acho que ela sonha mais do que eu ―
desabafa.

Não há como eu dizer que estava pensando no homem que


eu não gosto nem um pouco, mas que desejo e que seria também
seu ficante. Não tem como falar isso.

Que confusão.
― Meus pais são mais tranquilos, na verdade, eles queriam
que eu fizesse administração.

― Como Thomas? ― pergunta, não escondendo o interesse


na voz.

Faço um meneio afirmativo.

― Gosto dele, é sexy, inteligente, brincalhão e muito gostoso


― declara com um sorriso bobo nos lábios. ― Mas ele não quer
nada sério. ― Solta um suspiro sonhador e novamente engulo uma
enorme quantidade de água. ― É como se sempre estivesse com a
cabeça em outro lugar. ― Movimenta os ombros.

Ao ouvi-la, eu engasgo, porque me lembro das palavras de


Thomas na primeira vez que nos beijamos.

“A cada orgasmo que tive nos últimos meses, foi com sua
imagem em mente, a cada vez que eu fecho os olhos, é em você
que eu penso.”

― Melissa, eu não falei para você parar de beber tanta água?!

Ela dá pequenas batidinhas nas minhas costas enquanto


tusso. Olho para a frente e vejo o olhar preocupado de Rafaela que
fita a nossa interação enquanto ouve as considerações de Gil.

― Obrigada ― agradeço, limpando o rosto.

― Você sabe se ele está com alguém? ― pergunta.

Tenho vontade de novamente quase me afogar na garrafa de


água.
― Não sei.

Neste momento, Gil grita, chamando nosso grupo. Levanto-


me, suspirando pelo caminho, e apenas após mais duas horas de
treino, Gil nos libera, desejando boa sorte nos testes.

― O que foi aquilo com Rita? ― Rafaela inquire assim que


passamos pela porta do estúdio.

― Ela fez um comentário sobre Thomas ― sussurro e ela


arregala os olhos.

Revelei quase tudo para minha amiga, preservando os


detalhes mais íntimos e obscenos, tipo, que quase fomos pegos
pelo meu pai enquanto eu chupava seu pau na sala de estar da
minha casa.

Isso é algo que ninguém além de nós dois precisa saber e por
mais que ache que ele seja um tonto, duvido muito que conte para
alguém.

― Podemos dar uma esticadinha lá na academia? ― ela pede


juntando as mãos.

― Miga, você não disse que ia tirar esse homem da sua


mente?

― E vou, mas tem um tempão que não o vejo, ele ia hoje lá


em casa com seu pai para acertar os últimos detalhes sobre a nossa
mudança, mas não podia deixar de vir ao ensaio para ficar babando
no meu futuro colega de quarto, que eu sonho em sentar até ficar
assada ― choraminga.
― Safada! Não vou entrar, não quero correr o risco de ver o
Thomas.

― Vai correr dele até quando? ― Levanta uma sobrancelha.

― Até quando der! ― Faço uma careta e ela ri.

Subimos os degraus que dão acesso ao terceiro andar, ela


abre a porta de vidro, entramos e corremos o ambiente com os
olhos.

O lugar é imenso, ocupa todo o andar. O ringue ficava no


fundo, mas de onde estamos temos uma boa visão dele e, para a
decepção da minha amiga, ele está escuro.

― Ei, não tem ninguém treinando hoje? ― Rafaela, que não


tem um pingo de vergonha em seu corpo cheio de curvas, pergunta
a um rapaz que passa por nós com o uniforme da academia.

― Olá, boa tarde! Hoje não, alguns dos nossos alunos vão
competir hoje à noite.

― E onde será essa competição? ― pergunto, curiosa.

― Em uma academia na Lapa.

― Guerrero vai competir? ― minha amiga sonda e o rapaz


compreende o seu interesse pelo moreno, tatuado e musculoso.

― Vai, sim ― responde com um sorriso. ― O endereço está


naquele cartaz ali. ― Aponta para um ponto atrás de nós, em
seguida, deseja boa tarde e sai.
Rafa me puxa em direção ao cartaz com um olhar pidão. Rio
com gosto enquanto jogo meus braços pelo seu pescoço,
empurrando nossos corpos para fora do estabelecimento.

Por volta das vinte horas, chegamos à academia em que


ocorrerá o evento. Confesso que a princípio estava meio
desanimada, mas após uma tarde descansando e refletindo sobre a
breve conversa que tive com Rita, resolvi que o melhor era sair para
me divertir e tirar Thomas da minha mente.

Ao contrário do que imaginava, o ambiente é muito arejado e


não se parece muito com uma academia tradicional. Há muitas
pessoas circulando pelo local e também em volta do ringue
observando dois competidores lutarem, outras comprando bebidas
em algumas barracas improvisadas enquanto uma música eletrônica
toca alto.

Estico o pescoço para ver melhor quem está lutando e não os


reconheço.

― Não é Guerrero ― comento com Rafaela.

― Acho que a dele é mais tarde ― fala olhando ao redor.


Encontramos uns amigos e acaba sendo mais divertido do
que previra, fizemos uma rodinha onde os assuntos eram diversos,
e foi assim, com o sorriso solto, completamente desprevenida, que
senti um leve puxão no cabelo.

― Te encontrei.

Seu sussurro e o aperto na minha cintura fazem meu corpo


estremecer dos pés à cabeça. Viro minha cabeça e ganho um beijo
estalado na bochecha, em seguida, ele rouba o copo de cerveja que
está em minha mão.

― Estava me procurando? ― Imprimo um tom de puro


deboche às minhas palavras e sinto os olhos dos meus amigos em
mim. A maioria das pessoas ao meu redor conhece Thomas e,
principalmente, sabe da nossa implicância épica.

Não quero que desconfiem que rolou algo entre nós quando
dentro de mim ainda está tudo tão confuso.

― Sim, seu pai disse que estava aqui. ― Pisca um olho e


cumprimenta as pessoas em volta.

Até penso em reclamar do copo que ele tirou da minha mão,


mas desisto, seguro a mão da Rafaela e, com um movimento de
cabeça, a convido para comprar outro. Caminho até a barraca
sentindo os olhos de Thomas em mim, compro a cerveja e quando
estamos voltando, anunciam o nome Guerrero e de uma outra
pessoa como os próximos a lutarem. Empolgadas, desviamos e
seguimos em direção ao ringue.
Durante a luta, sequer consegui tomar a cerveja, tomava
cuidado para não apertar o copo, mas não conseguia disfarçar a
careta que fazia a cada vez que um dos lutadores levava um soco.
Ao meu lado, Rafaela gritava empolgada.

Estico o pescoço, olhando ao redor, procurando por ele e o


vejo no mesmo lugar de antes, olhando para mim, é como se ele
não tivesse me perdido de vista nem um minuto, e eu gosto do que
senti ao pensar nisso. Viro o rosto para frente e ingiro um gole de
cerveja.

Para delírio da minha amiga, Guerrero derruba o homem no


chão, e, ao ser declarado vencedor, ele vai para as cordas e olha
diretamente para ela, que segura minha mão. Olho para baixo e
entrelaço nossos dedos, ela me aperta forte, a ponto de doer, mas
não reclamo, sei o quanto espera por isso, por este olhar, por ele
finalmente vê-la.

― Vamos embora ― pede após um suspiro.

― Por quê? ― pergunto confusa e, ao virar meu rosto, meu


queixo quase caiu ao ver Guerrero beijando uma mulher que subiu
no ringue.

― Não acredito que ele está beijando outra depois de te olhar


daquele jeito. ― Não consigo esconder a minha indignação.

― Eu acho que precisava ver isso para pôr um ponto final


definitivo nessa fantasia que só acontece na minha cabeça, você se
incômoda de a gente ir?

― Claro que não.


Enquanto caminhamos para a saída, bebo todo o conteúdo do
copo e antes de sairmos do local, ouço Thomas me chamar.

― Melissa! ― Olho para trás e o aguardo vir até a mim.

― Vou pedir o carro para irmos embora ― Rafaela diz,


fastando-se um pouco.

― Você vai para casa? ― Thomas pergunta, parando à


minha frente.

― Não, vou ficar com a Rafa. ― Respiro fundo. Seu cheiro


invade minhas narinas e confunde meus sentidos.

― Fica, precisamos conversar. ― Desliza um dedo pelo meu


braço deixando minha pele arrepiada.

― Outro dia.

Desvio meus olhos dele e fito a Rafa, que olha para cima.
Minha amiga está sofrendo e, por mais que eu queira resolver esta
bagunça que está entre mim e Thomas, hoje, ela precisa de mim.

― Outro dia conversamos.

― Quando?

― Não sei, outro dia.

― Não foge mais de mim ― pede, segurando minha mão,


puxando-me para perto.

Inclino a cabeça aproximando nossos rostos e murmuro ao


seu ouvido.
― Não vou mais fugir.

Rafaela avisa que nosso carro chegou, entramos e, de dentro


do automóvel, vejo-o sorrir enquanto olha o veículo se afastar.

― Você poderia ter ficado com ele ― Rafaela soa triste. ―


Sei que tem coisas a resolver, não precisava ficar ao lado da sua
amiga boba, que veio a uma luta só para ver um cara que está nem
aí para ela.

― Você é minha amiga, e ele sabe disso, nossa conversa


pode esperar, mas a dose excessiva de carinho que vou derramar
em cima de você hoje, não.

Beijo seu rosto e novamente entrelaço nossos dedos.


Capítulo 17
Melissa
Gosto de pensar que só voltei para casa na noite posterior
porque estava mimando minha amiga, em parte é verdade. Ouvi
cada lamento dela por ter perdido tanto tempo gostando de um
babaca e planejando a viagem que faremos em alguns dias para
realizar o teste da avaliação.

Ao entrar em casa, confesso que prendi a respiração, por


receio, curiosidade, ansiedade e um pouco de medo, tudo junto e
misturado, criando um frio na barriga. Sabia que Thomas estaria ali
e que, muito provavelmente, mais uma vez não conversaríamos,
meus pais estão em casa e seria quase impossível.

Mesmo sabendo disso, abro a porta e ao passar pela sala,


encontro-o deitado no sofá, mexendo no celular, do mesmo jeito que
estava deitado alguns dias atrás. Ele nota a minha presença e sorri
daquele jeito que faz meu estômago dar cambalhotas e eu devolvo
o sorriso, é involuntário. Mordo o interior da bochecha para impedir,
mas não consigo e volto a olhar para ele, que agora se levanta e
caminha devagar em minha direção com um olhar sedutor.

Eu sei que devo sair daqui, ouço as vozes dos meus pais no
escritório, as chances de eles saírem a qualquer momento são
enormes, sei que devo mover meus pés para bem longe, meu ex-
inimigo cheira à confusão, o problema é que eu nunca pensei que o
aroma fosse tão bom.
Então eu fico parada, esperando-o se aproximar, pensando
que ele dirá algo e prendo a respiração quando ele segura meu
rosto com as duas mãos e rouba um beijo rápido, gostoso, que me
deixa ofegante.

― Melissa, é você? ― A voz do meu pai me faz empurrá-lo


para longe.

Ele se afasta mordendo o lábio inferior enquanto tenta conter


um sorriso. Meus pais aparecem na sala e minha mãe intercala os
olhos entre nós dois.

― Vocês estavam brigando novamente? ― reclama


aborrecida.

― Imagina, tia, estávamos nos pegando ― Thomas solta em


um tom debochado e meu queixo quase cai. ― O que fazer se eu
sou irresistível. ― Se joga no sofá, arrancando um riso frouxo da
minha mãe.

― Ela, como sempre, estava me abalando profundamente. ―


Eleva uma mão ao peito de forma cômica.

― Você é terrível, Thomas. ― Minha mãe se inclina e beija a


sua cabeça.

Eu observo tudo de boca aberta.

― Ah, menino, você não tem jeito, é por isso que vocês
brigam tanto. ― Meu pai despenteia o seu cabelo.

E lá está ele, o Tom Tonto que eu conheço em toda sua glória,


manipulando a situação a seu favor, e eu tento ficar com raiva, juro
que até faço um esforço, mas não consigo.

Com medo de acabar entregando algo, viro meu corpo em


direção às escadas falando:

― Esse garoto não presta! Vou tomar banho e já desço.

Subo correndo, tranco-me no meu quarto e desabo na cama


com um sorriso bobo nos lábios.

Quarenta minutos depois, entro na cozinha e meus pais estão


conversando em um clima amistoso, não consigo impedir um
sorriso, anda tão difícil vê-los assim.

Dou alguns passos na direção deles e os abraço juntos.

― Vou sentir saudades de vocês. ― Aperto-os.

― Espero que sinta mesmo! ― Meu pai beija minha cabeça.

― Eu e Beatriz estamos deixando o apartamento que vocês


vão morar lindo ― minha mãe soa orgulhosa.

― Eu sei, mãe.

Sorrio ao me recordar de todas as vezes que minha mãe me


arrastou para alguma loja de decoração ou das conversas que me
obrigou a ter com a decoradora.

― Vou levar essas travessas para mesa ― informo pegando o


utensílio e me encaminhando para sala de jantar.

No caminho, esbarro em Thomas, que ia para cozinha. Ele


pisca um olho, matreiro e segue seu caminho. Mordo o lábio inferior
e acabo de concluir minha tarefa.

O jantar é permeado de perguntas, meus pais querem saber


quando irei para Campinas fazer os testes, se ficarei no
apartamento ou em um hotel e por quanto tempo. Minha mãe
também questiona a Thomas se ele já se encontrou com tia Beatriz
e se está tudo bem com ela, pois nos últimos dois dias não
conseguiram se falar direito.

Estranhei a troca de olhares entre meu pai e ele, foi algo


muito rápido, só reparei porque desde o momento em que sentei
nesta mesa, não consegui desviar meus olhos dele. Em resposta,
ele movimenta os ombros e diz que seus pais fizeram uma viagem
romântica, e eu não consegui deixar de sorrir ao pensar no meu
padrinho Fred.

Minha mãe sugere que seu afilhado, aproveite que eu vou


fazer o teste e viaje comigo, com o intuito de ir verificar
pessoalmente como estão as coisas no apartamento.

O safado demora uns bons dez minutos reclamando, dizendo


que há várias festas para ir neste período, mas minha mãe é bem
insistente e, no fim, ele faz cara de quem foi convencido a fazer a
terrível tarefa de viajar comigo.

Cretino!

Eu até admito que tenho um puta tesão nele, mas, às vezes,


ainda sinto uma vontade surreal de lhe dar uns bons tapas.

No mais, ficou decidido que viajaremos juntos, mas ficaremos


em um hotel, pois na concepção da minha mãe, é impossível
ficarmos no apartamento antes de ele ficar pronto, o que deveria
ocorrer poucos dias antes de nos mudarmos em definitivo.

Gostei desse acordo? Óbvio que não, poderia perfeitamente


passar dois dias no apartamento, mas estou evitando atrito
desnecessário com meus pais e a verdade é que enquanto eles
pagarem tudo, são eles que mandam.

Anseio pela minha mudança para assim finalmente ter um


pouco mais de liberdade.

Após o jantar, me despeço dos meus pais e vou para meu


quarto e, como gosto de me organizar com antecedência, começo a
preparar a minha mala. No processo, troco mensagens com Rafaela
e, por volta da meia-noite, quando acho que todos estão dormindo,
saio do meu quarto, espio pelo corredor e reparo que está tudo
escuro e silencioso.

Caminho devagar até o quarto em que Thomas dorme,


tomando cuidado para não fazer muito barulho, na esperança de
que hoje ele tenha dormido aqui. Bato à porta discretamente e
alguns segundos depois, ele abre e me puxa para dentro.

― Seu louco... ― Não termino a frase, pois seus lábios


pressionam os meus, exigentes, sua língua invade minha boca de
forma audaciosa, suas mãos enlaçam minha cintura e ele dá um
passo para trás, fazendo-me acompanhá-lo.

O sem-vergonha joga o corpo na cama, levando-me junto,


sorrindo contra meus lábios e eu arregalo os olhos.
― Você está ficando doido! ― Tento sair, mas ele segura
firmemente a minha cintura. ― Vai acordar meus pais. ― Dou-lhe
alguns tapas que o fazem rir e ponho minha mão em sua boca. ―
Não faça barulho.

Tira minha mão da sua boca e me beija rapidamente.

― Não vou fazer barulho ― sussurra em meu ouvido,


beijando o local em seguida, arrancando um gemido dos meus
lábios.

― Não vim aqui para isso ― murmuro, jogando a cabeça para


trás facilitando o seu acesso ao meu pescoço. ― Precisamos
conversar.

― Depois. Agora eu preciso de você desesperadamente. ―


Posiciona-se em cima de mim e me beija.

Eu o abraço forte, sentindo a mesma urgência que ele, não


sei como chegamos a este estado tão desesperado, com esse ardor
que nos queima por dentro.

O ajudo a tirar sua camisa e volta a me beijar, roubando meu


fôlego, eu me esfrego nele, sentindo a excitação tomar conta de
tudo. Desce uma alça do meu pijama e morde meu ombro, fazendo-
me suspirar.

― Não geme alto ― pede baixinho próximo à minha boca e


morde meu lábio inferior, enquanto abaixa mais um pouco a alça
revelando meu seio. ― Eu vou te chupar todinha, muito gostoso, até
você gozar na minha boca.
Desce a cabeça e lambe lentamente o bico, depois o
abocanha chupando forte. Contorço-me debaixo dele, gemendo,
arranho suas costas e ele dá a mesma atenção ao outro, deixando-
me louca de tesão. Intercala os bicos, lambendo, chupando, introduz
uma mão entre nós dois, sorrateiro, enfiando-a em minha calça de
moletom, direto para dentro da minha calcinha.

― Amo o quanto você fica molhada para mim.

Ele suspira beijando o vale entre meus seios, tocando-me


devagarinho e eu me abro para ele, que volta a dar atenção ao meu
seio enquanto seus dedos me fazem delirar.

O orgasmo vem rápido e forte, fazendo-me jogar a cabeça


para cima, fechar os olhos e morder meus lábios para conter o grito.
Ele não para seus dedos, que agora tocam meu botão em um ritmo
alucinante, enquanto chupa meu seio. Minhas pernas tremem, meu
centro lateja, o ar foge dos meus pulmões, eu mordo seu ombro,
desço minha mão pelo seu abdômen, mas ele é mais alto, não
alcanço seu quadril.

― Quero te tocar ― suplico.

― Depois, quero te fazer gozar novamente.

Thomas pisca um olho e percorre um lento caminho de beijos


até a minha barriga, descendo completamente a minha calça, pega
minha perna, põe em seu ombro e abocanha a minha intimidade.
Ele passa a língua devagar, depois rápido e segue nesse ritmo, às
vezes chupando forte, outras devagar, fazendo-me procurar o
travesseiro e colocá-lo no meu rosto para abafar o gemido.
Elevo o quadril, buscando mais, sinto um redemoinho se
formar em meu íntimo, meu corpo inteiro treme e, por fim, explodo
em um orgasmo delicioso.

Não sei quanto tempo fico esticada na cama, sentindo meu


corpo flutuar, também não sei se consegui gemer baixo, mas eu sei
que foi bom demais.

Sinto o travesseiro ser retirado do meu rosto, abro meus olhos


e encontro Thomas sorrindo para mim.

― Você gemeu tão gostoso que me fez gozar nas calças. ―


Beija minha testa e desaba ao meu lado com um sorriso bobo nos
lábios e eu levo as mãos a boca para conter o riso.

Naquela noite não conversamos.


Capítulo 18
Thomas
Sequer tento disfarçar todas as emoções que sinto com o
simples pensamento de passar duas noites sozinho com Melissa.

Ao sair da sua casa, tentei ficar a sós com ela, mas foi
impossível. Há algumas noites, quando ela foi ao meu quarto, não
conseguimos conversar, sei que ela queria falar algo, mas meu
receio de que fosse sobre encerrarmos o que nem começamos
direito foi tão grande, que não a deixei falar nada, apenas a beijei e
não parei até ela sair do meu quarto com um sorriso bobo de quem
gozou gostoso. E desde então, não conseguimos ficar sozinhos.

Sei que em algum momento teremos que conversar, mas


agora só quero curtir, só quero sentir e anestesiar todas as tantas
coisas ruins que estou passando.

Não pegamos o mesmo voo porque eu queria ver minha mãe


antes de ir e Mel queria chegar cedo para treinar mais um pouco
antes do teste final, mas a noite seria nossa.

Ao entrar em casa, dou um beijo em Beta e sigo à procura da


minha mãe. Encontro ela sentada na sala lendo um livro.

Encosto-me na parede e perco um bom tempo a analisando,


ela aparenta estar bem, tranquila, um sorriso surge em seu rosto
junto com um franzir de testa que me faz sorrir junto. Minha mãe é
do tipo de leitora que, ao ler uma história, expressa seus
sentimentos em sua face, chega a ser cômico.

Subo um pouco meu olhar e reparo no porta-retrato em cima


do piano que ela ama tocar, nele está a foto dela e do meu pai no
dia do casamento deles.

Sempre me orgulhei de ser filho de um casal inter-racial, eles


têm personalidades tão distintas, mas que por muitos anos acreditei
que se completavam, que o amor deles duraria para sempre, era a
base que eu acreditava ferrenhamente e quando minha mãe ficou
doente, meu pai... ele mudou.

― Ei, por que essa cara triste? ― pergunta, olhando-me


preocupada e faz menção de se levantar.

― Impressão sua. ― Caminho rápido até ela e a beijo no


rosto.

― O que aconteceu? ― Procura em minha expressão uma


resposta para a pergunta que eu não respondi.

― Nada, mãe. ― Rio. ― Vou viajar hoje, vou para Campinas,


tia Luiza meio que me intimou a ir ver o apartamento, aproveitando
que Mel também vai.

― Ela me disse hoje mais cedo ― revela ainda me olhando


com atenção.

― Ei, está tudo bem, não se preocupe.

― Ah, filho, e tem como uma mãe não se preocupar com um


filho? ― Ela aperta minha mão. ― Animado para conhecer o
apartamento? ― Ela muda de assunto, mas conheço minha mãe,
vai seguir prestando atenção em cada palavra que eu disser.

― Estou sim.

— Eu e o seu pai decidimos liberar mais uma parte da


herança da sua avó para você. Na verdade, foi ideia do seu pai, ele
salientou que na faculdade, mesmo você dividindo um apartamento,
terá mais gastos e eu acabei concordando porque, dada a sua atual
situação com seu pai, tenho muitas dúvidas se iria falar sobre
dinheiro com ele.

Escolho ficar em silêncio, porque ela tem razão.

— Você mexeu muito na primeira parte que liberamos?

Minha mãe não ficaria feliz se soubesse com o que ando


gastando dinheiro, na verdade, nem um pouco feliz. Então, eu
resolvo contar mais uma mentira, já são tantas que meu medo é
acabar me enrolando nelas e deixar escapulir a verdade.

— Não muito, mas obrigado, realmente, a questão financeira


vai pesar, tem livros e outras coisas.

— Outras coisas... — Faz uma expressão engraçada.

— Muitas coisas. — Movimento a sobrancelha, fazendo-a rir.


— Mas obrigado, e agradeça meu pai também.

― Filho, você não acha que já está na hora de você e seu pai
conversarem?

― Mãe...
― Tudo bem, não vou forçar, mas é estranho, complicado, é
como se estivessem me escondendo algo que no momento não
quero saber. Bem egoísta da minha parte, não é? ― Suspira.

― Você tem todo direito de querer se preservar.

― Filho, todo mundo erra ― murmura e por um breve


momento, me pergunto se minha mãe está realmente alheia ao que
está acontecendo.

A vontade de questionar vem na garganta, mas eu a engulo,


não posso correr o risco de tirar o sorriso que eu vejo em seu rosto,
deslizo meus olhos por ela e noto que suas pernas estão um pouco
inchadas, sei que é um dos efeitos colaterais da quimioterapia,
mesmo ela querendo levar de uma forma mais leve o tratamento,
ele não deixa de ser agressivo e vai deixando suas marcas.

Volto meu olhar para o rosto dela e meu pai escolhe este
instante para entrar na sala anunciando que comprara algo para ela
e seus olhos se iluminam com a presença dele.

Levanto-me e o deixo ocupar meu lugar, ele lhe dá uma caixa


de veludo contendo um colar de brilhantes e depois a beija
delicadamente para deleite da minha mãe.

― Ah, meu amor, eu amei! ― Meu pai coloca o colar em seu


pescoço e tenho que admitir que ficou belíssimo em sua pele negra
e sedosa. ― Ontem, seu pai me deu um anel, mas ficou apertado,
ando bastante inchada desde o último ciclo da quimioterapia. Vendo
minha tristeza, ele trocou por um colar, não é lindo? ― Foi
impossível não sorrir com sua empolgação.
― Realmente lindo.

― Dei uma fugida da empresa apenas para lhe dar este


presente. ― Beija a testa dela.

― Poderia ter me dado à noite. ― Ela segura seu rosto e o


beija.

― Sim, poderia, mas queria fazer surpresa.

Volta a beijá-la e, ao sair, meu pai acena com a cabeça para


mim em despedida. Eu envio um beijo para minha mãe e sigo atrás
dele.

― O que foi agora, Thomas? ― Seu tom rude já não me


assusta como a um tempo atrás, aprendi que meu querido pai
consegue mudar de humor drasticamente de uma hora para outra.

Ele destrava o carro e antes de entrar, me olha com uma


sobrancelha levantada.

― Obrigado, por liberar o dinheiro da herança da minha avó.

Meu pai é o tutor legal da fortunar que herdei da sua mãe, até
eu fazer 21 anos.

— Apesar de você se esquecer na maioria das vezes, eu sou


seu pai, eu me preocupo com você.

— O problema é que eu não sei se esse gesto foi de um pai


preocupado ou uma manipulação para me manter calado. Se for a
segunda opção, não se preocupe. Você está fazendo minha mãe
feliz neste momento complicado. ― Por mais que nossa relação
esteja uma merda, e que a mágoa que eu sinto por ele esteja
fodendo tudo, não posso fechar os olhos para o quão bem ele está
fazendo a ela. ― Enquanto ela estiver feliz, fico calado.

Ele me segura pela camisa com agressividade, mas eu não


desvio olhar, nem mostro fraqueza, apenas espero até onde ele vai
e eu bem sei o quão longe ele pode chegar.

― Presta bem atenção no que eu vou te falar, seu moleque,


eu amo a sua mãe! Não estou fazendo porra nenhuma obrigado e
muito menos por estar com medo de um fedelho que nem
apreendeu direito o que é a vida como você.

― Então, por que... ― Ele não me deixa terminar.

― Já cansei de falar que aquela merda foi um erro do caralho,


que vou me arrepender pelo resto da minha vida, mas eu te juro que
não vou deixar ninguém atrapalhar o meu relacionamento com
Beatriz, ela não precisa saber, foi um erro que jamais irá se repetir,
não vou jogar fora mais de vinte anos de casamento com a mulher
que eu amo por causa disso.

Ele entra no carro e sai em disparada, deixando-me com os


punhos cerrados.
Capítulo 19
Thomas
Abro a porta do nosso apartamento e é impossível não soltar
uma gargalhada.

― Nossas mães são muito exageradas ― digo enquanto


caminho pelo apartamento desviando dos móveis ainda envoltos em
plásticos e diversos objetos sofisticados espalhados pelo chão
embrulhados em papel pardo.

Faço um meneio negativo e sigo em direção ao corredor, onde


noto mais coisas espalhadas como espelhos e louças. Passo por
duas portas, uma de frente para a outra, sigo mais à frente e, ao
final, há mais uma porta que constato ser de um banheiro ao fundo
que está igual à sala.

Volto e empurro uma outra porta que imagino ser um dos


quartos, tem uma cama virada para cima, e algumas caixas no
chão.

― Acho que minha madrinha tem razão, realmente ainda não


dá para ficar aqui ― murmuro saindo dali e voltando para sala.
Somente então reparo que a cozinha é interligada com a sala.

Há uma geladeira ainda embalada, fogão do mesmo jeito e


várias caixas de eletrodomésticos.

Suspiro frustrado, pensei que conseguiria passar a noite aqui


com Melissa, uma noite inteira sozinhos, para conversarmos e tê-la
somente para mim. A ansiedade para isso é tamanha que assim que
cheguei em Campinas, deixei as malas no hotel e vim direto para o
apartamento com a intenção de planejar algo romântico para ela.

― Puta merda, eu fazendo algo romântico para uma mulher e,


pior, para quem me deseja, mas que não gosta muito de mim. ―
Gargalho levando uma mão à cintura e esfregando a cabeça
enquanto meus olhos percorrem a bagunça.

Meu celular vibra e eu escorrego minha mão no meu bolso,


pego-o e vejo que é minha mãe.

― Chegou bem, filho? Já foi ao apartamento?

― Estou aqui agora. ― Não consigo esconder o desânimo na


voz.

― O que houve? Não gostou de algo?

― Pensei que teria algum cômodo arrumado.

― Pelo que a decoradora me disse, o quarto de Melissa está


quase pronto, pois ela foi a única que conversou com ela, já que
você se faz de surdo sempre que falo sobre a decoração do
apartamento.

― Hum... ― resmungo interessado e caminho em direção ao


quarto que será de Mel e ao abrir a porta, vejo que a cama de casal
está em um canto, além de guarda-roupa, cômoda, mesa para
computador, um enorme espelho na parede e algumas caixas
espalhadas pelo chão. ― Por que o quarto dela é maior que o meu?
― A implicância vem junto com as expectativas renovadas.
A risada da minha mãe me faz sorrir.

Logo em seguida, ela desliga e eu mordo ambos os lábios,


imaginando-me com Mel neste quarto. Penso em ligar, queria saber
se já acabou o teste, mas desisto e envio uma mensagem.

“Estou em nosso apartamento, quando acabar o teste, venha


direto para cá”.

Vejo que ela visualiza, mas não responde.

“Você não disse que queria conversar, aqui teremos


privacidade”. — Tento mais uma vez e dessa vez ela responde:

“Vou pensar”.

― Mas olha que garota atrevida!

Com um sorriso no rosto, saio do apartamento com a intenção


de preparar tudo para quando ela chegar.

Verifico as horas a cada cinco minutos e arremesso uma uva


ao ar fazendo-a cair em minha boca. Passo os olhos pelo quarto e
sorrio.

― Até que ficou legal, levo jeito para coisas românticas ― falo
alto, orgulhoso do meu feito.
O toque da campainha me faz dar um pulo na cama, eu
caminho apressado em direção à porta, abro-a e me sinto
deslumbrado pela imagem de Melissa, como sempre, está linda.
Seus cabelos úmidos, com um jeans branco e uma blusa preta e
aquele sorriso implicante que eu tanto gosto.

― Você está linda ― elogio, descendo meu olhar novamente


por ela.

― Não começa, Thomas, vim para conversar. ― Empurra-me


e entra no apartamento.

— Me fala como foi o teste?

— Foi mais difícil do que imaginei, mas deu tudo certo, eu e


Rafaela passamos. Saímos de lá como se estivéssemos andando
nas nuvens, choramos, gritamos, acho que as pessoas que
passavam por nós acharam que éramos loucas, foram muitos anos
sonhando e ralando para realizar esse sonho. — Seu sorriso é
enorme e ela está exalando felicidade pelos poros.

— Fico feliz por vocês, de verdade. — Elevo uma mão e toco


seu rosto, ela se afasta e muda de assunto.

― Meu Deus! Minha mãe tinha razão, não tem nem onde
sentar. ― Ela se assusta com a bagunça.

― Não exagera, Mel. ― Fecho a porta. ― Daria para ficarmos


aqui sim, seu quarto, por exemplo está quase pronto. ― Indico o
local com a cabeça, mas ela não está olhando para mim e sim para
os diversos objetos no chão.
― O que nossas mães acham que vamos fazer com tantos
vasos decorativos? ― Aponta para uma fileira de vasos de diversos
tamanhos, cores e formatos.

― Vai saber. ― Movimento os ombros. ― Mas o seu quarto...


― Tento mais uma vez e ela me corta.

― Eu sei que meu quarto está quase pronto, a decoradora me


mostrou um vídeo na última conversa.

― Você conversa com a decoradora por vídeo?

― Sim, você não?

― Claro que não, deixo tudo nas mãos das nossas mães. ―
Em resposta, ela ri.

― Nem me surpreendo ― julga, olhando ao redor e tocando


uma coisa ali, outra cá.

― Mas tem algo para você no seu quarto! ― revelo, irritado.


― Era para ser surpresa, mas você está chata pra um caralho e
estragou tudo.

― O que você fez com meu quarto? ― pergunta marchando


para lá. ― E o único chato aqui é você! ― cospe, abrindo a porta e
eu sorrio esperando que ela emita um suspiro, gesto emocionado,
ou quem sabe se jogue em meus braços.

Mas ela não faz nada disso!

― Que brega! ― solta, fazendo meu sorriso sumir.


Percorre com o olhar cada pedacinho do quarto que levei uma
hora decorando.

Em cima da cômoda, tem uma travessa com frutas e queijo


branco que eu sei que ela gosta. Na cama, um lençol bege, com
pétalas de flores vermelhas espalhadas formando um coração,
algumas jogadas pelo chão do quarto dando um ar que até ela
entrar, eu considerava romântico.

Volto meus olhos para ela que fita o quarto com uma
expressão de horror.

― Eu furei a porra do meu dedo para fazer esse coração e


espalhar as flores. Estava tentando ser romântico, cacete! ― Mostro
meu dedo indicador vermelho e ela explode em uma gargalhada,
sento-me na cama frustrado.

― Mas é muito tonto mesmo! Nossas mães vão descobrir que


estivemos aqui, olha a bagunça que você fez! ― Gira o dedo no ar.

― E se descobrirem? ― retruco, fazendo-a cessar o riso e


fitar-me com olhos arregalados.

Aproveito a sua distração, seguro sua cintura e a aproximo de


mim, colocando-a entre as minhas pernas.

― Somos maiores de idade, vamos morar juntos, fazer


faculdade longe dos nossos pais. E se descobrirem que estamos
juntos?

― Não estamos juntos ― devolve, arredia, mas a aperto,


puxando-a para mais perto, ela apoia as mãos no meu ombro.
― Não sei você, mas eu não consigo parar de pensar em nós
dois juntos. ― Sorrio de lado e ela revira os olhos.

― Nós dois concordamos que isso não vai dar certo.

― Quando foi isso? Não lembro. ― Mordo meus lábios,


retirando sua blusa da calça e ela foge dos meus braços, cruzando
os seus, dando alguns passos para bem longe de mim.

― Não se faça de desentendido, foi no dia da festa, antes do


nosso... ― Descola os olhos dos meus e fita um ponto à minha
direita. Respira fundo e fica de costas para mim antes de concluir:
― ... do nosso primeiro beijo.

― E de lá para cá, eu já beijei todo o seu corpo ― provoco,


impulsionando meu tronco para a frente e apoiando os cotovelos na
minha perna, dedicando-lhe toda a minha atenção.

Minha Mel bate um dos pés no chão demonstrando


impaciência e bufa, e eu tento disfarçar o sorriso que brota em meus
lábios, mas falho.

Minha Mel.

Interrompo a linha de pensamento ao me dar conta de que


gostei de chamá-la de minha, mesmo que mentalmente. Ainda não
ouso pronunciar em voz alta, é capaz de ela surtar de vez, Melissa
está por um fio, na corda bamba entre ceder ou sair daqui correndo
e me xingando.

Ela volta o corpo e me fita com raiva.


― Minha vontade é de tirar esse sorriso cínico do seu rosto na
base do tapa.

― Vem. ― Chamo com um dedo indicador. ― Assim, eu


gamo de vez. ― Pisco um olho.

― Não dá para conversar com você. ― Faz menção de sair


do quarto, mas sou mais rápido e ponho um braço na porta,
impedindo-a de escapar e a prendendo entre meu corpo e a porta.
― Me deixa sair, Thomas.

― Ainda não conversamos. ― Aproximo-me, ficando bem


pertinho dela, sentindo o aroma que desprende do seu corpo.

― Já sim e decidi que... Não faz isso, não beija aí... ― Solta
um leve gemido quando beijo seu ombro.

Deslizo meus lábios no curto caminho até sua orelha, mordo a


ponta e sinto o tremor que percorre seu corpo.

― Em meio ao caos emocional que estou vivendo, você é um


bálsamo, é a parte mais doce da minha vida ― sussurro ao seu
ouvido. ― Fica comigo, Mel ― peço, apoiando minha testa em seus
cabelos, escorregando minhas mãos pelo seu corpo, abraçando sua
cintura e a puxando para mim em um aconchego forte.

― E se der errado?

― Fazemos dar certo.

― Brigamos até por bala, imagina se ficarmos juntos.


― Não vou prometer que não iremos brigar, convenhamos
que você é muito chata.

― Thomas! ― Ela gira o tronco e me empurra. ― Como você


pode me pedir para ficarmos junto se me chama de chata.

― Mas você é! ― Rio da expressão indignada dela.

― Mas tem que ser muito idiota e burro para fazer uma
declaração assim para pessoa com quem quer ficar. ― Tenta mais
uma vez sair do quarto, pego-a no colo e ela solta um grito quando a
jogo na cama e caio ao seu lado logo em seguida.

― Você me conhece desde sempre, sabe como eu sou, mas


também sabe como somos juntos, no momento em que nos
tocamos, nossos corpos pegam fogo e esquecemos de tudo à nossa
volta e isso é fascinante, maravilhoso e excepcional, mas não vou
fingir que não gosto de implicar com você, simplesmente amo ver o
quão linda você fica quando está irritada.

Esfrego meu nariz no dela, ela me oferece um olhar frio e eu


continuo:

― Mas não serei desonesto, muito menos imitar um


personagem só porque estou louco por você. Este sou eu, cheio de
defeitos e problemas que estão quase me jogando em um buraco
negro, e você é meu ponto de luz, como se fosse uma vela que
quando chego muito perto, queima, arde, mas me aquece, me
ilumina, me faz sorrir, me faz feliz, me faz esquecer o quanto as
coisas estão ruins.

― Você é um idiota ― sua voz soa trêmula.


― Um idiota que está se apaixonando por você. ― Beijo sua
testa, seus olhos, bochechas e por último, sua boca. ― Fica comigo.
― Volto a pedir.

― O que está acontecendo de tão ruim na sua vida?

Respiro fundo, me afasto e sento na cama ficando o mais


distante dela que consigo, se ficar muito próximo, vou acabar
arrancando as suas roupas.

― Problemas com meu pai, em casa, coisas que ainda não


quero falar.

― Meu pai está envolvido? ― questiona, sentando-se na


cama e me fitando com uma expressão séria.

― Não ― me limito a dizer.

― É por esse motivo que você tem ficado tanto tempo em


minha casa?

― Sim.

― Vai me dizer o que é? Você e seu pai sempre se deram


muito bem, não imagino o que possa ter acontecido.

― Não dá para falar ainda, mas não é nada com seu pai, ele
tem sido um grande amigo. Apenas por enquanto, não posso falar.

― Não pode ou não quer?

― Não posso. Confie em mim.


Ela suspira, estica o corpo na cama, leva as mãos ao
abdômen e fica batendo os dedos no local, sei que ela está
ponderando e eu fico em silêncio, segurando-me para não a tocar.
Capítulo 20
Melissa
Eu estava em um momento decisivo, deitada na minha cama,
no apartamento em que vou morar com Thomas, olhando para o
teto com ele sentado aos meus pés e sei que seus olhos estão fixos
em mim.

Queria exigir que me falasse o que está acontecendo com ele,


mas sei que não posso, mesmo que estivéssemos em um
relacionamento sério, teria que esperar o seu tempo para que se
sentisse à vontade para falar.

Sinto uma leve carícia em meus pés e reprimo um sorriso, ele


sempre fora impaciente e imediatista.

Solto um suspiro, não existe uma forma melhor do que iniciar


algo a não ser sendo completamente sincera com seus sentimentos,
só não sei se ele vai gostar do que irei falar.

― Gosto e odeio você, tudo ao mesmo tempo, sinto vontade


de te bater e de te beijar e estou cansada de sentir raiva de mim
mesma por não conseguir mais te ver como antes, o garoto
implicante e insuportável, mesmo quando você faz coisas que
antigamente me levavam a sentir ânsia e que hoje faz surgir um
risinho besta no rosto ― desabafo.

Pauso por um momento, esperando-o falar algo, e quando


não o faz, continuo:
― Não gosto da forma folgada como você chega na minha
casa e a trata como se fosse sua, inclusive, praticamente roubando
meus pais! Eu sei que é uma atitude infantil da minha parte, um
ciúme bobo, mas eu sinto e ponto!

Ouço um riso escapar e imagino que ele esteja segurando


uma gargalhada, e o admiro por tentar se segurar, antigamente, ele
já teria explodido em risos.

― Eu não queria sentir nada por você, na verdade, era o


último ser humano que imaginei sentir algo.

― Essa doeu ― resmunga.

― Mas é a verdade, e, no entanto, eu mal consigo ficar no


mesmo ambiente com você sem querer te agarrar, isso é tão
frustrante. ― Jogo as mãos para cima.

― Porra, Mel! Reclamou da minha declaração, mas caralho,


você foi muito pior.

― Por isso que digo que seremos péssimos juntos.

― Então vamos começar nos tratando melhor, tomando


cuidado para não machucar um ao outro.

― E será que conseguimos?

― Eu quero tentar, Mel. ― Surpreende-me com um beijo


rápido. ― Quero viver essa nova fase com você e todas as que
vierem pela frente.
Seu rosto está bem próximo ao meu e eu luto contra a
vontade de tocar seus lábios e beijar sua boca gostosa.

— Também lutei contra esse sentimento, mas foi em vão,


quanto mais negava mais forte ficava, mais te queria, mais implicava
com você e achei erroneamente que se te irritasse o bastante, você
ficaria tão insuportável que sequer haveria outra forma de te ver,
porém não deu certo, quanto mais irritada, mais linda te via, com
mais tesão ficava e mais te queria. Não vou lutar contra, quero viver
isso com você.

— E se for apenas tesão? Se passar com o tempo? — inquiro,


demonstrando toda a confusão que trago dentro de mim.

— Só saberemos vivendo — retruca.

— Tem noção da confusão que fará? Nossas mães


simplesmente pirarão.

Ele exibe um sorriso divertido.

— Elas sempre quiseram que nos déssemos bem.

— Mas não tão bem assim, Thomas.

— Então o que você sugere? Não vou desistir de você. —


Deita a cabeça e morde meu ombro, causando um reboliço dentro
de mim.

— Poderíamos continuar escondidos.

— Mel! — protesta.
— Até termos certeza de que não é algo passageiro, vamos
começar a faculdade, conhecer pessoas novas, muita coisa ainda
pode acontecer, não vamos criar um alvoroço à toa.

— Então você aceita ficar comigo?

— Sem ninguém saber — pontuo elevando uma sobrancelha.

— Guerrero sabe que já te beijei — revela.

— Rafaela também, mas você contou fizemos mais que


beijar?

— Não, isso é um assunto só nosso, íntimo e bem pessoal. —


Deita o corpo em cima do meu, eleva o tronco e firma os braços na
cama como apoio. — Por enquanto, aceito a sua regra, contudo,
aqui em Campinas, não vamos esconder que estamos juntos, você
é gostosa demais para desfilar livre e solta na faculdade — impõe,
olhando-me sério, e eu abro um lento sorriso.

— Nunca imaginei que fosse ciumento, Tom Tonto — provoco.

— Realmente, nunca fui, mas você me faz sentir e fazer


coisas estranhas, Melzinha — salienta, levantando a minha blusa,
ajuda-me a tirá-la, em seguida, abre o fecho frontal do meu sutiã e
beija o vale entre meus seios.

Gemo baixinho quando ele passa a língua devagar pelo bico


dos meus seios.

— Mel, agora você pode gritar à vontade, finalmente, estamos


sozinhos e vou te fazer gozar como nunca antes — promete antes
de abocanhar meu seio.
Faço o que me pede, gemendo alto, enquanto ele intercala as
chupadas entre meus seios, escorrega uma mão pela minha barriga
e abre minha calça, enfiando uma mão dentro, e me toca devagar.

— Tom... — Suspiro, jogando a cabeça para trás.

— Molhadinha, Mel, você vai me deixar louco. — Sua voz


rouca me faz morder os lábios e abrir a pernas para facilitar o seu
acesso.

Ele me toca rápido, fazendo-me segurar o lençol e chamar


seu nome entre gemidos, quando estou começando a sentir o
redemoinho se formar em meu ventre ele para.

— Não para — imploro.

— Preciso te sentir na minha boca. Estou viciado no seu


gosto, fico maluco quando a sinto latejar em minha língua no
momento em que está gozando. — Pensei que não era possível que
ele me deixasse mais excitada, mas estava enganada, sua fala me
deixou mais melada do que já estava.

Tom retira minha calça junto com a calcinha e antes que tenha
a chance de suspirar, sua língua está na minha intimidade fazendo
sua mágica.

Seguro seu cabelo e rebolo, procurando o prazer que eu sei


que ele sabe me dar, esfrego-me contra seus lábios, lambuzando
seu rosto com minha essência, sentindo-me doida de tanto tesão e
ele me acompanha, chupando forte e lambendo desesperado,
esticando a mão pelo meu corpo até meus seios e os apertando,
enquanto me devora, gozo forte, gritando seu nome, as pernas
tremendo e ele continua chupando, mas eu me afasto.

— Volta aqui, mulher — ruge, fora de si, seu rosto molhado


com meu gozo e nunca esteve tão gostoso, puxo-o pela camisa e o
beijo, chupando sua língua e o empurrando na cama.

— Minha vez. — Sorrio safada e ele morde os lábios,


enquanto tira as calças rápido, jogando-as longe e me mostra seu
pau.

Já o tinha visto antes, até o tive em minha boca rapidamente,


fiquei com tanto tesão que me masturbei no quarto quando saí
correndo da sala. Mas agora não tem ninguém para nos atrapalhar,
o seguro e ele geme baixo.

— Você não tem noção do quanto sonhei em fazer isso


novamente — Arfa quando o ponho em minha boca e chupo
devagar, acostumando-me com seu tamanho, seu pau é grande,
largo e delicioso.

Masturbo-o devagar, ao mesmo tempo que deslizo meus


lábios por todo seu comprimento, fico de quatro na cama e apoio as
mãos nas suas pernas.

— Soca na minha boca — peço e vejo seu peito subir e


descer.

Seus olhos escorregam pelo meu corpo, segura meu cabelo e


faz o que eu peço, elevando o quadril, introduzindo seu pau em
minha boca.
— Caralho — ruge, aumentado os movimentos e sinto suas
pernas tremerem contra minha mão e finalmente entendo porque ele
gosta de me chupar: é delicioso dar prazer, senti-lo perder o controle
está me deixando excitada, minha lubrificação desce pelas minhas
pernas e eu as fecho para tentar conter a palpitação. — Porra, eu
vou gozar. Se toca enquanto gozo, Mel — anuncia chiando baixinho,
derramando sua essência na minha língua.

Elevo meu olhar, tiro uma mão das suas pernas e a levo a
minha intimidade me tocando rápido e começo a gemer com seu
pau em minha boca, chupo mais forte e ele urra enquanto goza.

Tom me assusta quando puxa minha cabeça e me beija ao


mesmo tempo que me coloca em seu colo.

— Não vou penetrar se não quiser, mas preciso ter sua boceta
encostada no meu pau. — Ofegante, posiciona-me onde quer e
fecha os olhos ao sentir o quão molhada estou. — Você vai me
deixar doido.

Volta a me beijar e começo a mexer o quadril.

— Porra, Mel, está me deixando duro novamente. — Segura


minha bunda com força e o sinto endurecer.

— Mas já? Você acabou de gozar. — Mordo seu lábio e o


sugo para dentro da minha boca.

— Não teria como ser diferente com você se esfregando no


meu pau desse jeito. — Morde meu queixo e desliza a mão pela
minha bunda até tocar a minha entrada, suspiro contra a sua boca
ao sentir seu dedo entrando em mim.
— Te quero dentro de mim.

— Estou dentro de você, sinta meu dedo entrando e saindo.

Levanto uma sobrancelha e ele abre a boca quando


finalmente entende.

— Tem certeza?

— Sim. Quero que minha primeira vez seja com você.

Posso ter muitas dúvidas na minha vida, mas não que esse
homem me deixa louca de tesão e me faz delirar de prazer.

Ele me tira do seu colo e sai da cama correndo atrás das suas
calças.

— Cadê a merda da calça? — xinga e corre pelo quarto atrás


da calça que está na beira da cama.

Eu gargalho alto, aquele homem enorme, excitado, correndo


de um lado para o outro.

— Tom, está na cama. — Aponto rindo alto.

Ele bufa, pega a calça, enfia mão no bolso e retira um pacote


de camisinha, rasga no dente, veste o pau e sobe na cama.

— Gosto quando me chama de Tom — diz pouco antes de me


beijar.

Suas mãos percorrem meu corpo devagar, eu abro minhas


pernas, ansiosa, o puxo para mais perto, ele sorri contra a minha
boca, e, afoita, seguro seu pau e o esfrego lentamente nas minhas
dobras.

— Me quer dentro de você, Mel? — murmura mordendo


minha orelha.

— Quero — quase imploro.

Ele segura meus braços em cima da minha cabeça, e prende


meus pulsos com uma mão e eu protesto.

— Xiii... — chia contra minha boca, passa o pau de cima para


baixo em minha boceta e bem devagar começa a introduzir.

— Eu acho que amo você — declara e me beija, metendo


fundo. Eu grito, ele para e encosta a testa na minha e esfrega o
nariz no meu. — Eu ia dizer que agora você é minha, mas, na
verdade, eu que sou seu, somente seu.

Elevo a cabeça e beijo sua boca, ele solta meu pulso e eu o


abraço forte, circulando minhas pernas em sua cintura e o
incentivando a se mexer.

Tom começa a movimentar o quadril devagar, no começo dói,


mas a dor logo vai embora e o prazer toma conta de tudo. Sinto-o
entrar e sair de dentro de mim, molhado, gostoso, meu coração bate
forte, nossos olhos estão grudados, a emoção corre solta,
respiramos o mesmo ar, nossos corpos estão suados.

Meu corpo estremece quando começo a sentir que vou gozar


novamente e vem forte, fazendo-me arranhar suas costas, gritar seu
nome e ele me acompanha em seguida, respirando fundo e
desabando em cima de mim.

Sinto que beija meus ombros, mas não falamos nada, apenas
sentimos, e sentimos tudo.
Capítulo 21
Thomas
Devagar, com receio de acordá-la, acaricio seu rosto. Não
consigo controlar o sorriso largo em meus lábios, muito menos a
felicidade que toma conta do meu peito e domina todos os meus
sentidos.

Por muito tempo acreditei que assim que a tivesse em minha


cama, essa obsessão passaria, achei que era algo de momento,
mas estava errado, o que sinto não é por causa de toda a euforia de
ter nos amado pela primeira vez.

É algo mais forte e profundo que domina todo meu ser e me


faz feliz, não sei o que o futuro nos reserva, mas sei que farei de
tudo para manter o que temos agora.

Sem conseguir me segurar, abaixo a cabeça e sorvo o aroma


que desprende dos seus cabelos, amo seu cheiro, seu gosto, seus
gemidos, a forma como me chama quando a estou fazendo delirar.
Amo sua entrega, sua paixão.

Eu a amo.

A certeza desse sentimento me golpeia forte, fazendo-me


suspirar. Ela escolhe este momento para acordar.

— Oi — soa rouca, eu acho que devido aos gritos e gemidos.


— Oi. — Seguro seu rosto e a beijo. — Tudo bem? —
pergunto, olhando-a com atenção.

— Sim — afirma, fazendo-me sorrir.

— Está sentindo dor? — me preocupo, quando ela se


movimenta na cama e faz uma careta.

— Apenas um incômodo, mas acho que é normal sentir, foi a


minha primeira vez.

— Foi perfeito. — Meus dedos percorrem seu rosto devagar e


ela morde os lábios.

— Minha garganta está arranhando.

— Você gritou muito — brinco. — Vou pegar um suco para


você.

Saio da cama, busco duas caixinhas de suco na sacola de


coisas que comprei em um mercado perto daqui e algumas frutas.

— Com fome?

— Não, só sede. — Aceita a bebida e desvia os olhos dos


meus.

— Você está quieta.

— É que eu meio não sei muito o que falar ou fazer. Nunca


estive nesta situação.

— Sou eu, Mel. — Aproximo-me dela. — Não precisa ficar


tímida comigo, na verdade, prefiro que você me xingue e me bata,
do que te ver envergonhada.

— Bobo. — Ela ri. — É só que... — Desvia os olhos de mim


para a cama e eu vejo uma mancha de sangue.

— Vem comigo.

Seguro sua mão, a puxo ao meu encontro e a pego no colo


fazendo-a sorrir.

— Vamos tomar banho juntos. — Pisco um olho e a levo para


o banheiro.

— Como vamos tomar banho, Thomas? Você comprou


produtos de higiene, mas não comprou toalhas? — Aponta para
uma sacola, contendo sabonete, escovas e pasta de dente.

— Mero detalhe, sacudimos o corpo até toda a água sair. —


Dou de ombros.

Ela gargalha e eu a levo para debaixo do chuveiro, ensaboo


seu corpo e é impossível não ficar excitado, mas me controlo, sei
que ela está dolorida. Eu queria ter sido mais delicado em sua
primeira vez, mas ao sentir sua boceta apertando meu pau, foi uma
doce tortura e não me controlei.

Ao terminar, secamo-nos com as fronhas dos travesseiros e


ela pede para pegar suas roupas no quarto; busco, e depois volto ao
ambiente e retiro o lençol que havia forrado na cama, jogando no
lugar a manta que comprei.

Ela volta ao quarto complemente vestida, como se tivesse a


intenção de ir embora.
— Você ainda está nu?

— Por que você está vestida, mulher irritante, está mesmo


decidida a acabar com minha noite romântica? Tira já essa calça e
traga essa bunda gostosa pra cá e vamos comer, tenho que te
alimentar para garantir que você tenha forças para gritar — digo
solenemente arrancando uma gargalhada dela e atingindo o meu
objetivo de eliminar aquele ar de insegurança de sua face.

— Você é ridículo, Thomas. E acho que hoje não rola mais


nada, ainda estou dolorida. — Faz uma careta frustrada.

— Melzinha, você sabe que existe outras formas de fazer


amor. — Passo a língua devagar pelos meus lábios e ela pondera
por alguns instantes e logo depois tira a calça com um sorriso
sacana nos lábios.

Faz dez minutos que me despedi de Melissa com beijo


apaixonado no aeroporto, depois de recolhermos tudo no
apartamento e deixarmos como encontramos, passamos dois dias
incríveis trancados no meu quarto do hotel.

Chegamos ao Rio e enquanto ela segue para sua casa, eu


vou à minha ver minha mãe e depois vou para a dela tentar dar um
jeito de beijar a garota que eu gosto e que agora já não me odeia,
mas acho que ainda não gosta de mim.

Pego um carro de aplicativo e durante o percurso até minha


casa, fico imaginando tudo o que decidimos nesses dias. Na
verdade, pouco falamos, o desejo era mais urgente e exigia ser
saciado de imediato, mas, no geral, decidimos que nas próximas
semanas, evitaremos que nossos pais descubram.

Eu achei besteira, estava bem certo do que queria e eu a


queria e ponto, mas ela não seria a garota que me irrita até o ultimo
fio de cabelo se não fosse do contra, e como a quero, resolvi aceitar.
Por enquanto.

E é com um sorriso no rosto, lembrando-me dos nossos


momentos e comemorando que ela passou no teste de dança, que
ao me aproximar de casa, vi a pessoa que tira a minha paz de
espírito, o segredo que escondo de todos.

Rosângela.

O sorriso morre em meus lábios, pago o Uber e desço do


carro segurando minha mochila, mas peço para ao motorista
esperar.

— O que você está fazendo aqui? — me irrito com sua


presença em frente à minha casa.

— Você sumiu! — devolve no mesmo tom.

— Já pedi para não vir aqui. — Seguro seu braço e a puxo


para o carro, entramos e seguimos ao endereço da sua residência.
— Não consegui entrar em contato, por isso vim aqui.

Suspiro. Deixei o telefone desligado ontem, queria curtir com


Mel em paz.

— Aconteceu alguma coisa? — indago esticando o olhar para


sua barriga avantajada. — O bebê está bem?

— Preciso de algumas coisas. — Seu tom é baixo. Ela


acaricia sua barriga.

— Te dei 2 mil reais há algumas semanas.

— Um bebê custa caro e depois que você brigou no bar, fui


demitida.

Fecho meus olhos ao me recordar da bendita briga que mal


me lembro de como começou de tão bêbado que estava, só me
recordo do Guerrero me tirando de lá e de Mel nos ajudando, no dia
seguinte inventei uma desculpa para ela, não havia como revelar a
verdade naquele momento.

— Como vou fazer quando você for para a faculdade em outro


estado? Você prometeu que assumiria as responsabilidades com o
bebê.

— E alguma vez deixei de cumprir? Vou continuar te


ajudando, estou pagando o plano de saúde e vou fazer depósitos
uma vez por mês.

Paramos na frente do seu prédio, eu desço do carro sendo


seguido por ela, e mais uma vez peço ao motorista para esperar.
— Você vai estar aqui quando o bebê nascer?

— Vou tentar.

— Se precisar de algo, será que seu pai... — Não a deixo


terminar.

— Rosângela, eu já pedi para não importunar a minha mãe.

— Não falei nada sobre a sua mãe, e sim seu pai!

Esfrego as mãos nos meus cabelos e olho para o céu vendo


nuvens escuras esconderem o sol, apagando o seu brilho, como ela
fez com o meu ânimo.

— Já disse que vou continuar depositando, não vai faltar


nada.

— Quando vir ao Rio ver sua mãe, você pode me visitar? —


pergunta com a voz mansa, acariciando meu braço.

Afasto-me dela e sinto vontade de esfregar o lugar onde ela


passou a mão, mas me seguro, a última coisa que eu preciso agora
é que Rosângela faça um escândalo e jogue a merda no ventilador.

— Venho te ver.

— Queria comprar algumas coisas para o bebê com você.

— Tudo bem. Eu tenho que ir.

— Mas tão rápido, ainda não conversamos, como disse, estou


precisando de...
Não a deixo terminar, busco meu celular em minha bolsa, abro
o aplicativo do banco e faço um pix de 5 mil reais.

Seu celular vibra e ao abri-lo um sorriso surge em seus lábios.

— Obrigada, Thomas. — Volta a acariciar meu braço.

— Mês que vem faço mais. Agora tenho que ir.

— Não se esquece de nós — pede acariciando mais uma vez


sua barriga e eu sigo o movimento de sua mão.

— Não tem como esquecer. Por favor, não vá mais à minha


casa.

— Não vou, não se preocupe.

Assinto e entro no Uber, sabendo que, enquanto eu pagar e


ficar calado, minha mãe estará longe dos problemas.
Capítulo 22
Melissa
Abro a porta da minha casa e até cogito chamar pelos meus
pais, mas me lembro que pelo horário, provavelmente eles estão
trabalhando. Sigo direto para o meu quarto, jogo minha mochila na
cadeira em frente à cômoda e me atiro na cama.

Pela primeira vez nos últimos dias, estou sozinha, todos os


acontecimentos me golpeiam forte e me fazem soltar um grito.

Foco no mural colado na minha parede, tem várias fotos


grudadas nele, cada uma é de um período da minha vida, a maioria
envolvendo dança. Com um grande sorriso, me levanto e mexo na
minha mochila até encontrar a foto que eu e Rafaela tiramos na
frente da faculdade logo depois de passarmos no teste mais difícil
que fizemos até agora.

Foi angustiante a espera, várias pessoas aguardavam pela


sua vez na porta do auditório, eu e minha amiga treinamos muito no
corredor. Ela foi a primeira a ser chamada e eu torci por ela como
sei que fez por mim, fiquei com os olhos fechados enquanto ela
estava lá dentro e ao sair, seu sorriso era tão grande que ela nem
precisou falar nada, estava impresso em seu rosto que havia sido
aprovada.

Quando chegou a minha vez, entrei tremendo. De primeira,


reconheci dois grandes nomes internacionais da dança, e os
motivos que me levaram a querer cursar essa faculdade. Engoli em
seco, respirei fundo e dancei como nunca havia feito, doando-me ao
máximo, deixando minha mente em branco e focando somente
naquele momento que era decisivo na minha vida profissional.

E foi lindo, mágico e glorioso. Ao terminar, eu não contive a


emoção, mal consegui ver a banca por trás das lágrimas, meu
coração batia tão forte que demorei alguns segundos para entender
que eu havia passado. Agradeci, saí e encontrei Rafaela de olhos
fechados e mãos juntas. Quando me aproximei, ela me abraçou
forte e eu sussurrei ao seu ouvido que tínhamos conseguido.

Saímos dali correndo e ao chegar na calçada, gritamos feito


duas loucas e tiramos uma foto em que estamos descabeladas,
suadas, com o rosto banhado de lágrimas e com um sorriso imenso
nos lábios.

Colo a foto no mural e volto a me jogar na cama.

Elevo uma mão e começo a numerar.

— Um, passei no teste. — Levanto um dedo.

— Dois, minha amiga também passou.

— Três, estou namorando escondido.

— Quatro perdi a virgindade.

— Cinco, fiz sexo por dois dias seguidos.

Falo em voz alta e gargalho ao ver minha mão aberta.

Giro o corpo ficando de lado, puxo meus joelhos na altura do


meu peito e faço uma careta ao sentir que ainda estou dolorida e as
lembranças de Tom me segurando por trás, enquanto puxava meu
cabelo e me tocava me faz suspirar.

— Essa, sim, é uma dorzinha boa — murmuro, imaginando


que ficará melhor e sem dor no decorrer do tempo.

O toque do meu celular me faz rolar na cama e esticar os


braços para pegar a mochila em busca do aparelho.

— Oi, amor, chegou bem em casa? — meu idiota preferido


pergunta, e imediatamente um sorriso bobo brota em meus lábios.
— Tem poucas horas que nos vimos, não era para estar com
saudade, mas estou — completa com um suspiro.

Ele fala umas coisas que faz o meu íntimo estremecer.

— Eu gosto tanto quando você fala desse jeito meio rouco,


isso causa um reboliço dentro de mim — confesso.

— Gosto disso, gosto muito.

— Que horas você vem?

— Também com saudades?

— Muita, estava agora pensando em nós dois na cozinha do


apartamento.

— Hum... Quando fizemos amor com você de quatro no chão


enquanto eu puxava seu cabelo.

— Sim. — Solto o ar devagar. — Acho que vou me viciar em


sexo.
— Adoro.

— Safado.

— Você gosta assim.

— Gosto muito — admito, fazendo-o rir.

— Porra, Mel! Me deixou de pau duro e eu nem vou poder te


ver hoje.

— Por quê? Você disse que viria para cá.

— Aconteceu um imprevisto. — Sua voz perde o tom alegre e


isso acende um alerta.

— O que houve?

— Nada sério, apenas preciso conversar com meu pai — soa


triste.

Mordo o interior da minha bochecha e seguro a vontade de


questionar, quero insistir, mas prometi que não vou pressionar.

— Me liga antes de dormir — peço manhosa.

— Eu queria mesmo era te beijar antes de dormir e acordar


abraçado com você. Mas como não vou conseguir pelas próximas
três semanas, eu te ligo, sim.

— Faltam 21 dias para nos mudarmos.

— Estou contando os dias.


Naquela noite, conversamos até de madrugada e no dia
seguinte também. Só nos vimos três dias depois, ele chegou de
surpresa na minha casa quando eu estava sozinha me preparando
para ir à casa da Rafaela, mas passamos a tarde transando no meu
quarto e quando meus pais chegaram, mal nos falamos.

Nesse ritmo, as semanas foram passando, consegui, ou pelo


menos acho, camuflar as emoções que duelavam em meu íntimo. Vi
Thomas pouquíssimas vezes, mas todos os nossos encontros foram
cercados de muita paixão e por uma indiferença fingida na presença
dos outros.

Rafaela e eu saímos para comemorar por termos passado no


teste e na apresentação de dança da companhia de Gil, dançamos
muito, nos divertimos, bebemos demais e no dia seguinte, tivemos
uma ressaca terrível e prometemos nunca mais beber na vida.

Obviamente mentimos.

Fizemos uma festa para nos despedir dos nossos amigos, foi
gostoso e emocionante. Discuti com Thomas nesse dia, ele estava
com ciúmes porque eu estava dançando com alguns amigos e eu,
com raiva pelo bando de mulheres em cima dele.

Não parei de dançar com os meus amigos e ele foi embora da


festa. Fiquei puta, passei dois dias sem querer ver a cara dele, e
teria ficado mais tempo se não fosse o bendito jantar que sua mãe
ofereceu para nossa despedida, que foi impossível não comparecer.

Sinto um leve cutucar nas minhas pernas, evito olhar para a


frente e fitar Thomas, sei que é dele o pé que me toca debaixo da
mesa.

— Finalmente, falta um dia para vocês se mudarem — minha


madrinha solta, fazendo-me fitá-la.

— Nossa, mãe, falando assim até parece que quer nos ver
longe — Thomas reclama.

— Desta vez tenho que concordar com seu filho — declaro e


nossos pais riem.

— Vocês passaram os últimos dias falando disso — meu pai


zomba.

— Verdade, o que mais se ouvia era “faltam ‘x’ dias”. — Minha


mãe faz aspas com as mãos.

E, pela primeira vez desde que nos sentamos à mesa, fito-o e


ele está com aquele sorriso de canto de boca sem-vergonha que
tanto gosto no meu idiota favorito. Seguro um suspiro, ele consegue
ficar mais lindo a cada dia passa.

— Mas vou morrer de saudades de vocês. — Beatriz abraça


seu filho.

— Diz isso depois de falar que finalmente chegou o dia de


irmos embora — resmunga.

— Para de fazer drama — implico.

— Você também não gostou — devolve.

— Mas não estou reclamando.


— Meu Deus, parem de brigar! Parece que têm 5 anos — seu
pai pede, falando pela primeira vez desde que chegamos.

Estranho um pouco seu comportamento, Fred sempre foi


muito extrovertido e hoje está mais reservado, creio que seja por
causa do seu relacionamento abalado com o filho.

Desvio meus olhos para Thomas e o vejo olhar para o pai com
uma expressão de desagrado. Chuto sua perna por debaixo da
mesa e ele me olha, faço um ligeiro meneio negativo e ele olha para
baixo, mas não esconde que está puto.

No decorrer do jantar, Tom não profere mais nenhuma palavra


e, ao terminar, sobe para seu quarto informando que volta logo.
Aproveito para me despedir dos meus pais e padrinhos.

— Já vai? — Fred pergunta, me abraçando. — Mal


conseguimos conversar, me desculpe não ter dado muita atenção.
Estou com algumas preocupações no trabalho. Mas, me diga, está
precisando de algo?

E aí está meu padrinho carinhoso e amoroso que eu conheço


e admiro.

— Está tudo bem, tio, meus pais já resolveram tudo. —


Retribuo o abraço.

— Se precisar de algo, sabe que pode nos procurar, não


sabe?

— Sei, sim, tio. Não se preocupe.


— Foque em realizar seus sonhos e não em brigar com meu
filho. — Aperta minha bochecha como fazia quando eu tinha 5 anos.

— Prometo tentar, mas o senhor sabe que ele me irrita.

— Você que é chata! — meu tonto irritante implica, entrando


na sala.

Ele se joga no sofá entre nossas mães, dá um beijo sonoro


em ambas, depois desliza os olhos por mim. — Vai a algum lugar?

— Sim.

— Na festa de despedida do Lucas?

Não respondo. Envio um beijo para nossos pais e, o


ignorando, caminho em direção à porta.

— Espera, eu te levo.

— Não precisa! — Sequer viro o corpo e sigo meu caminho


ouvindo as gargalhadas do nossos pais.

Mal passo pela porta ele segura meu braço.

— Me solta que estou puta com você — aviso, ele finge que
não ouve e me beija. — Você ficou doido? Eles podem ver.

Empurro-o olhando para a porta, receosa

— Estou pouco me fodendo se eles virem, estou cansado de


esconder que estamos juntos.

— Não estamos mais juntos, estamos brigados há dois dias


— saliento e novamente ele me puxa para si, mas desvio dos seus
lábios. — Para com isso!

— Então vem comigo — devolve e estende as mãos, suspiro


e a seguro.

Ele me leva a uma moto, sobe e me entrega o capacete.

— Aonde vamos? — indago. Ele me responde com um sorriso


travesso.

Subo, abraço sua cintura com um misto de raiva e excitação,


uma combinação perigosa.
Capítulo 23
Melissa
Em menos de meia hora, chegamos ao mirante de Ipanema.
Ele para, mas não desce, então eu saio da moto, porém seus
braços fortes me seguram.

— O que você está fazendo? — reclamo.

— Suba na moto — pede, chegando para atrás e me


ajudando a subir.

Posiciona-me no seu colo com o corpo virado para ele.

— Nós vamos cair — grito, soltando um riso e circulo o seu


pescoço.

— Nunca vou deixar você cair, Mel. Estava morrendo de


saudades de você —confessa, me beijando.

— Ainda estou com raiva de você.

Ele bufa.

— Mel, amanhã viajamos e vamos finalmente poder parar de


nos esconder, vamos ficar bem.

— E como será lá, vai implicar com cada bailarino com quem
eu dançar?

— E você com cada mulher que chegar em mim?


— Não foi implicância, a mãe de uma colega do colégio
estava te comendo com os olhos, você já ficou com ela?

— Não vamos falar sobre o passado.

— Thomas!

— Melissa!

Retiro meus braços do seu pescoço e faço menção de descer.

— Eu sou seu, Mel, você sabe disso e também sabe que eu


fui um pouco safado antes de ficarmos juntos.

— Um pouco? — replico debochada.

— Só um pouquinho. — Esfrega o nariz no meu. — Esquece


isso, Mel. — Beija-me levemente.

Segura minha cintura e me puxa para mais perto. Sem


deslocar os lábios dos meus, escorrega uma mão até a minha
bunda e a aperta.

— Vão nos ver — ralho enquanto ele percorre meu pescoço


com beijos e eu sinto seu sorriso em minha pele.

— Não tem ninguém aqui, relaxa. — Introduz uma mão por


dentro da minha blusa e acaricia meu seio.

— Mas pode chegar. — Gemo baixinho quando belisca meu


seio, fazendo-me contorcer-me no seu colo.

— Eu só quero te beijar, não vamos fazer nada demais. —


Morde meu queixo descendo a mão pela minha barriga, deixando
minha pele em brasa.

— Nossos beijos nunca são inocentes. — Seguro sua mão


que estava abrindo a minha calça. — Além do mais, temos que ir à
festa do Lucas, toda a turma do grupo de dança estará lá.

— Você prefere ir a uma festa cheia de dançarinos a ficar aqui


comigo? — Não esconde a indignação na voz.

Eu rio.

— Vamos morar juntos a partir de amanhã, mas eles, não sei


quando voltarei a ver, alguns até vão para a mesma faculdade que
eu. Já outros, vão para fora do país ou continuarão aqui.

— Como eu pude me apaixonar por uma garota tão má como


você?

Ele me faz sorrir. Seguro seu rosto e o beijo bem devagar.


Tom me abraça forte, introduz a língua na minha boca, envolvo sua
cintura com as minhas pernas e a moto balança.

Jogo a cabeça para trás e gargalho ao mesmo tempo que


sinto beijos molhados em meu pescoço.

— Deixa eu te fazer gozar, sei que está molhadinha. — Morde


minha orelha e assopra o local fazendo meu corpo arrepiar.

— Amanhã à noite, estarei ao seu dispor para fazer tudo o


que quiser.

— Sonho com esse dia, amor.

— Gosto quando me chama assim.


— Você me maltrata, mas eu te amo, Mel. — Encosta a testa
na minha.

— Eu amo você, Thomas, mesmo com você me irritando e


muitas vezes eu não gostando muito de você, ainda assim, amo
você.

O sorriso que ele me oferece me faz sorrir junto, meu peito


aperta com um sentimento que aumenta a cada dia que passa.

— Mas eu sou um anjo de candura. — Morde meu ombro,


abre rapidamente minha calça, introduz um dedo em minha boceta e
acaricia devagar, depois o tira e enfia na boca, chupando-o devagar,
fazendo-me engolir em seco.

— Hum... molhadinha e deliciosa.

— Você é um sem-vergonha, Thomas!

Saio da moto e bato em seu braço.

— Mas você me ama, mesmo assim. — Segura minha nuca e


me puxa para um beijo. — Eu queria te fazer gozar bem gostoso
enquanto te beijava, mas já que você não quer, sobe na moto que
vou te levar na festa daquele babaca que não perde uma
oportunidade de olhar para a sua bunda. — Sorri de lado, safado,
sabendo que me deixa mais excitada ainda.

— Maldade você falar isso.

— Se eu vou sofrer com o pau duro, você também vai sofrer


por preferir ir ver aquele babaca.
— Thomas, prometemos não mais brigar por ciúmes. Eu não
vou vê-lo, e sim os meus amigos.

— Tudo bem, Melzinha — zomba.

Subo novamente na moto e seguimos para a boate que Lucas


fechou para o evento, o local estava cheio, logo avisto meus
amigos, e pouco tempo depois estou me acabando na pista de
dança com eles.

Não demora muito, sinto seus braços me rodearem e


aproximarem nossos corpos, seu pau duro roça na minha bunda,
suas mãos percorrem meu corpo e eu deixo, porque estou excitada
demais, porque ele morde meu pescoço gostoso e porque eu quero
curtir com o cara que estou apaixonada, mas que às vezes me irrita.

Dancei muito com ele, mas também com Rafaela e com todos
os meus amigos, foi uma noite muito gostosa, passei boa parte dela
querendo beijá-lo. Ele estava perto e longe ao mesmo tempo e pela
primeira vez, me arrependi de ter pedido para manter nosso
relacionamento em segredo.

Sorrio largo ao entrar no apartamento seguida pela minha


mãe, Beatriz e Thomas.
— Está lindo! — minha mãe diz correndo os olhos pela sala
enquanto Beatriz vai em direção aos quartos.

— Realmente ficou perfeito — a mãe de Thomas diz alegre


quando volta para a sala. Seu filho se joga no sofá e fecha os olhos.
— Com sono, filho? Nem vi que horas chegou ontem.

Fujo para o meu quarto enquanto o escuto dar uma desculpa


para a mãe, volto algum tempo depois e encontro o apartamento
vazio e Tom dormindo no sofá.

Sento no chão, perto de onde ele está e passo meus dedos


lentamente pelo seu rosto.

— Como pode ser tão lindo — sussurro, inclino minha cabeça


e beijo levemente seus lábios e ele abre os olhos lentamente.

— Oi, amor. — Se espreguiça.

— Aonde nossas mães foram?

— Ao mercado. — Boceja. — Elas disseram que vão fazer


nossa primeira compra.

— Então vão demorar. — Mordo meu lábio inferior e subo no


sofá, sentando-me em seu quadril e rebolando devagarinho.

— No mínimo, meia hora.

— Dá para fazer muita coisa em meia hora. — Retiro meu


vestido e sutiã, ficando só de calcinha.

— Gostosa.
Segura minha nuca e me puxa para ele, suga meu lábio
inferior ao mesmo tempo que acaricia meus seios. Cesso os beijos
rapidamente somente pelo tempo que o ajudo a retirar a blusa e
voltamos a nos beijar.

Tom desliza uma mão entre nossos corpos e a enfia na minha


calcinha, indo direto para meu clitóris enquanto a outra segue no
meu seio apertando o bico e sua língua, faz sua mágica em minha
boca, parece que ele está em todos lugares. Começo a sentir a
excitação tomar conta de mim, minha lubrificação molha seus dedos
e ele geme contra meus lábios.

— Fico doido quando te sinto molhada assim. Traz sua boceta


para a minha boca que quero te chupar desde ontem — pede.

Ele não espera meu movimento: segura minha cintura, me


puxa para cima ao mesmo tempo que desce o corpo até posicionar
seu rosto entre as minhas pernas. Coloco minha calcinha de lado,
deixando minha intimidade livre para o ataque de sua língua.

Apoio as mãos nas coxas e olho para baixo, fascinada, sua


cabeça está entre as minhas pernas, os olhos fechados. Ele suga
meu clitóris forte e um gemido vem intenso, assim como um tremor.
Introduz a língua no meu canal, sua mão segura a minha cintura,
mantendo-me no lugar.

Rebolo na sua língua, seguro seu cabelo, ele gruda os lábios


no meu botão, uma mão sobe ao meu peito e o aperta forte. Jogo a
cabeça para trás, deixando o êxtase tomar conta, movimento meu
corpo, fora de mim, seus dedos brincam com meu seio, sua língua
me tortura e eu gozo chamando seu nome e declarando meu amor,
ele continua chupando, mas eu fujo.

— Agora é a minha vez. — Beijo sua boca melada com a


minha essência e desço devagar percorrendo seu corpo com beijos.

Não demoro a chegar à sua calça, rapidamente a abro, ponho


seu pau para fora e, sem demora, o enfio em minha boca, sugando
forte. Ele chama meu nome e eu demoro a atender, seu pau é
gostoso demais.

— Vamos fazer um meia nove.

Me posiciono sem demora, excitada demais, doida para sentir


sua língua novamente e ele não me decepciona, chupa forte, e, por
um momento, eu me esqueço de tudo. Sua boca me leva às nuvens.

Abro meus olhos e vejo seu pau na minha frente, passo a


língua devagar pela cabeça e ele me lambe com mais ímpeto.
Retribuo com a mesma intensidade, arranhando suas pernas.
Nossos gemidos se misturam juntos aos barulhos de sucção; ele
arremete o quadril na minha boca várias vezes e eu remexo
gostoso.

O jato me pega de surpresa, ele goza sem parar de me


chupar, apertando minha bunda. Eu sugo tudo, sentindo o orgasmo
se formar novamente, e me desfaço em sua boca.

— Amor, você nem me avisou que iria gozar, eu quase


engasguei — reclamo assim que minha voz volta ao normal.
Sinto seu peito subir e descer em cima de mim, Tom eleva o
corpo e me vira, de modo que fique de frente para ele.

— Me chama de amor novamente.

— Meu amor, todo meu. — O beijo sentindo nossas essências


misturadas.

Perdemos a noção do tempo deitados no sofá e o toque de


telefone faz Thomas buscar o celular. É sua mãe, pedindo para ele
ajudar com as compras.

Vestimo-nos correndo e vamos ajudar nossas mães rezando


para que elas não desconfiem do que fizemos.
Capítulo 24
Thomas
Escorrego meus olhos da tela do notebook e fito a porta da
sala ao ouvi-la ser aberta.

— Oi, amor. Boa noite — Mel soa cansada, exausta para ser
exato e praticamente arrasta o corpo para o seu quarto sem esperar
que eu cumprimente de volta.

Confiro as horas no meu relógio de pulso e noto que são


quase 19 horas. Fecho o notebook, os livros e os cadernos que
estão ao meu lado, levanto-me e caminho até o seu quarto. Ela
apenas se jogou na cama, sequer tirou o tênis, sua bolsa está
jogada no chão perto da porta.

Minha garota está cansada.

Sempre soube do seu amor e dedicação pela dança, mas


uma coisa é ver de longe. Apesar de nossa família ser muito
próxima e ocasionalmente dormirmos um na casa do outro, nunca
de fato estive dentro da rotina de Mel e somente quando fomos
morar juntos, vi o quão intensa é.

Daqui a alguns dias, faz três meses que nos mudamos, foi um
período interessante de adaptação. Desde as pequenas coisas
como decidir quem vai lavar a louça do jantar a quem vai fazer o
almoço, o que assim que começou as aulas, deixou de ser uma
grande preocupação.
Melissa mal parava em casa, confesso que sentia certo
preconceito com o curso de dança, não entendia para quê fazer
faculdade de algo que poderia apenas fazer um curso e começar a
trabalhar, até eu compreender que não é somente sair rebolando
por aí, ela estava aprendendo sobre a história da dança em todo o
mundo e suas origens. Na teoria e na prática também.

Então, era normal que ela estivesse de manhã com a cara nos
livros, à tarde, nas aulas práticas e ao final do dia, em treinos
infinitos até chegar em casa se arrastando.

Por outro lado, eu faço administração, que em comparação à


sua rotina, é mais tranquila e acabei ficando responsável por manter
a casa funcionando. Nenhum dos dois almoça aqui e o café da
manhã cada um faz o seu e eu faço o jantar, ou melhor, tento, e ela
demonstra o quanto me ama ao comer meu arroz queimado, o
macarrão “unidos venceremos” e as carnes salgadas, sem reclamar.

Bem, quase sem reclamar, afinal de contas, é Melissa, ela me


ama, mas não deixa de ser a chata implicante de sempre que eu
amo demais.

Impulsiono meu corpo para a frente e me sento na cama.

— Você almoçou, amor? — pergunto preocupado enquanto


tiro seu tênis.

— Eu e Rafaela dividimos um lanche — murmura.

— Quer que eu faça algo para você?


— Agora não, só quero dormir um pouquinho — pede
bocejando.

— Nem um suco?

— Não, amor. Me deixa descansar um pouco, daqui a umas


duas horas, Rafaela e Leo vêm aqui para estudarmos, temos que
entregar um trabalho amanhã.

Leo, ou melhor, Leonardo, se tornou um dos amigos de


Rafaela e Melissa. Eu o considero um cara legal, cursa dança, para
mim não fede nem cheira, mas é o algoz do meu amigo Guerrero
pelo simples motivo de o homem não esconder de ninguém seu
interesse por Rafaela.

Assinto, beijo o ombro de Melissa, acaricio seu cabelo,


levanto-me, apago a luz e fecho a porta. Volto para sala e começo a
recolher minhas coisas, guardo-as no quarto e quando estou
voltando, recebo uma mensagem de Guerrero perguntando se pode
passar aqui. Confirmo e vou para cozinha e, após dar uma olhada
na geladeira, opto por fazer uma massa e bife, fácil, rápido e as
chances de dar errado são mínimas.

Ponho o macarrão na água fervente e separo os ingredientes


para o molho. A campainha toca, eu deixo tudo na pia e corro até a
porta com medo de o barulho acordar Mel.

— Mas, olha, nunca pensei que te veria de avental na vida —


o safado zomba, pega seu celular e tira uma foto minha. — Minha
mãe precisa ver isso. — Ri com gosto enquanto digita.

— Fala baixo, caralho, vai acordar a Melissa.


— Xiii, ela também chegou podre? Rafaela se jogou no sofá
quando chegou e nem respondeu quando falei com ela.

— Vamos conversar na cozinha. —

Indico o local com a cabeça. Ao entrar, abro a geladeira, retiro


uma garrafa de cerveja e ponho em cima da bancada que divide a
cozinha e a sala. Guerrero aceita, puxando uma cadeira e se
sentando. — E aí, como estão as lutas, nos últimos meses mal
estamos conseguindo nos ver direito.

— Claro, todo final de semana você foge para o Rio. —


Movimenta a sobrancelha e toma um gole da bebida.

Desvio para o fogão e começo a preparar o molho da massa.

— Resolvendo umas merdas aí. — Me limito a dizer.

Além de ir ver minha mãe, também vou dar uma olhada em


Rosângela para garantir que ela continue a cumprir nosso acordo.

— Cara, por que você anda cozinhando? Eu, que sou um


fodido, peço comida direto.

— Se você namorasse, também iria querer fazer comida para


a sua namorada.

— Mesmo se namorasse, ainda preferiria pedir comida —


devolve debochado.

Não tem como eu falar para ele que ando segurando a grana,
que boa parte do meu dinheiro está indo para Rosângela. Não tem
como!
Guerrero é meu amigo, sei que posso confiar nele e que o que
falarmos ficará entre nós dois. Mas ele também já tem muita coisa
para lidar, não quero adicionar mais problemas em suas costas e
esse é um problema de família.

— Você sabe que Melissa também anda desconfiada, ela


acha que você está comendo alguém no Rio, a ouvi comentando
com Rafaela.

— Tá de sacanagem!?

— Estou falando sério.

— Ela não falou nada comigo. Se bem que ultimamente anda


mais fora de casa que dentro.

— Pois fica de olho, ela disse à Rafaela que está esperando


você falar.

— Você é um fofoqueiro, hein?! Puta que pariu.

— Ah, seu escroto, eu venho te dar um toque para não perder


a mulher que eu sei que ama há um tempo, e você me esculacha!
— Aponta a garrafa em minha direção, rindo.

— Obrigado, vou conversar com ela. — Dou-lhe um tapa no


braço em agradecimento e ele balança os ombros. — E me diz,
como está sendo morar com a mulher que você tem um tesão do
caralho há anos — implico e espero sua explosão que não demora a
chegar.

— Porra! Eu vou embora, hoje você está um cuzão.


— Ela vem aqui daqui a pouco — continuo quando o vejo
bufar.

— Provavelmente vai trazer aquele bosta que vive grudado


nela. Que cara chato, puta que pariu! Não posso levar uma mulher
para o apartamento que ela faz um escândalo, mas aquele idiota
vive lá grudado nela.

— Poxa, Guerrero, Leonardo é legal e pelo jeito gosta dela —


provoco mais um pouco.

— Foda-se se ele gosta dela, não o quero enfiado na porra do


nosso apartamento. Pelo menos, não é burro; quando entro e ele
está lá, apenas olho e ele enfia o rabo entre as pernas.

— Já imagino a cena, você soltando fogo pelas ventas. —


Misturo o macarrão no molho e logo depois começo a temperar os
bifes. — Quer jantar com a gente?

— Deus me livre, da última vez fiquei empanturrado com o


arroz empapado e o peito de frango duro igual à pedra. Não sei
como Melissa aguenta — desdenha.

— Ela me ama. Simples assim.

— Só se for por amor mesmo, porque por dote culinário, só


pela misericórdia.

— Está com raiva porque eu estou namorando a garota que


eu gosto e você ainda está trabalhado na estupidez e não admite
que tem uma queda por Rafaela.
— E como poderia me envolver com ela? — Solta uma risada
triste. — Sei que ela acha que é por causa do seu corpo, sei que
pensa que sou o tipo de homem que valoriza mais o estereótipo do
que o conteúdo e confesso que por anos lhe dei a entender isso,
mas como poderia enfiá-la nos meus problemas?

Fico em silêncio, sei de todos os seus conflitos internos.

— Se eu estou fazendo faculdade aqui é porque seu pai está


pagando a metade do curso, se estou dividindo o apartamento com
ela, é porque o pai de Melissa está pagando os gastos. Participo de
lutas para ganhar um dinheiro extra e nem todas ganho, minha mãe
também me ajuda, mas é foda, você sabe que aqui tudo é mais
caro, ainda não conheço muita gente e fica difícil participar das lutas
que dão mais dinheiro.

— E você acha que ela liga para isso?

— Mas eu ligo. Rafaela ganhou uma bolsa daquele merdinha


que eu nunca teria condições de dar, ela é rica, está acostumada
com essas coisas. Antes eu já desconfiava, mas vivendo com ela,
são gritantes as nossas diferenças.

— Ainda acho que você está colocando coisas que não tem
sentido na balança, sei de todos os seus objetivos, que quer vencer
no boxe, mas também quer fazer faculdade para ter uma segunda
alternativa se isso não der certo. Sei que quer pagar tudo o que já
fizeram e fazem por você, mas com alguém ao seu lado, tudo ficaria
mais fácil. Posso dizer por mim, estou passando por alguns
problemas com meu pai e tudo ficou menos complicado de se lidar
desde que eu e Melissa começamos a namorar.
— Não vou ficar com ninguém, não vou perder meu foco nos
objetivos — fala determinado.

— Você não tem conseguido lutar? — Decido mudar de


assunto, sei que não adianta continuar nisso, já tivemos essa
conversa muitas vezes.

— Tenho duas lutas neste final de semana. Se ganhar, tenho


grandes chances de conseguir o patrocínio de uma academia e isso
vai dar uma folga no meu orçamento.

— Porra, Guerrero, neste final de semana vou ao Rio.

— Você nunca comparece, né, Thomas!? Minhas lutas


sempre caem aos finais de semana.

Sorrio ao invés de responder, ponho a massa em uma


travessa e os bifes em outra e as levo até a mesa.

— Mas tenho certeza de que vai dar tudo certo. — Toco seu
ombro. — Segura aí que vou acordar Melissa e volto logo.

Entro no seu quarto e perco um tempo observando-a dormir e


o alerta que Guerrero me deu vem à minha mente. Decido que,
assim que voltar do Rio, vou revelar toda a verdade para Melissa.
Capítulo 25
Melissa
Entrego o envelope pardo contendo o trabalho que eu,
Rafaela e Leonardo fizemos ao professor Gustavo. Ele olha os
papéis por alguns segundos, depois me olha e fico igual a uma
pateta sorrindo, esperando que ele fale algo, o que não acontece.

Sem graça, mantenho o sorriso largo no rosto, saio da sala e


assim que passo pela porta, solto um gemido e caminho fazendo um
gesto negativo em direção aos meus amigos que me esperam um
pouco a diante.

— Esse professor me odeia, é oficial, ele não vai com a minha


cara — resmungo, apoiando a cabeça no ombro da minha amiga.

— Miga, ele é chato mesmo, pior é a professora de dança


contemporânea, Silvia, que é gordofóbica e acha que para ser
dançarina tem que ter um corpo magro e por isso inferniza a minha
vida — Rafaela reclama.

— Você é perfeita desse jeito, Rafaela. — Leonardo elogia,


ele não esconde o interesse por minha amiga, que ignora
solenemente.

— Nós só pegamos professores loucos. — Dou de ombros e


abraço sua cintura. — Mas entregamos o trabalho, agora é partir
para o outro e treinar para o teste no final do semestre.
— Calma, Melissa, ainda faltam meses para o período acabar
— Leonardo brinca caminhando ao nosso lado.

— Falou o garoto perfeito que é elogiado por todos que


cursam a faculdade de dança.

— Nem todos. — Seu olhar está em Rafaela que olha


fixamente para frente desprezando o elogio do colega.

Giro a cabeça e vejo Guerrero e Thomas conversando no


estacionamento. Suspiro. Ela pode até dizer que o esqueceu, mas,
às vezes, seu olhar a trai. Desvio para Leonardo e o vejo seguir
abaixar a cabeça. Minha vontade e de sacudir a minha amiga. Tem
um cara lindo e gostoso a fim dela e ela ainda olhando para o idiota
do Guerrero.

Noto que umas meninas se aproximam, entre elas está Rita, a


mesma que ficou com Thomas quando ainda estávamos no Rio de
Janeiro. Aperto meus olhos para ver qual será a reação do meu
namorado. Simpático e sorridente, ele cumprimenta todas com
beijos no rosto, mas mantém uma distância segura.

— Essa Rita... — Rafaela recrimina. — Ela sabe que você e


Thomas estão namorando, mas não perde uma oportunidade de
ficar grudada nele e quando leva um fora, se atira para o primeiro
que vê — julga, soltando faíscas pelos olhos quando a garota,
descartada pelo meu namorado, se aproxima de Guerrero.

— Entendo que você esteja puta, mas foi desnecessário esse


comentário — repreendo.

— Você é que devia estar puta da vida, isso sim.


— Não preciso criar uma rivalidade feminina tosca só porque
ela ainda está a fim do meu namorado. Quem tem um
relacionamento comigo é Thomas, então é com ele que tenho que
me entender, o que ela sente é problema dela, não meu — pontuo.

— Bem que seria interessante se ela e Guerrero ficassem


juntos — Leonardo murmura, atraindo a nossa atenção. Reparo que
ele não está olhando para nós, e sim para frente, como se tivesse
pensado em voz alta.

Desvio para Rafaela que me olha tão surpresa quanto eu e


segura minha mão.

— Desculpa, amiga, foi um comentário bobo da minha parte.


— Ela me abraça e eu retribuo.

Sei o quanto está sendo difícil a sua convivência com


Guerrero, principalmente depois que eles se beijaram após uma
briga que vi mais como uma crise de ciúmes da parte dele e tive a
certeza ontem, por causa do clima terrível que ficou em meu
apartamento quando ela chegou com Leonardo para estudar e
encontrou Guerrero conversando com Tom. Os olhos do lutador
brilharam de raiva ao ver a forma carinhosa que Leo trata minha
amiga.

Minha linha de pensamento é interrompida quando uma


sombra enorme paira sobre mim. Reconheço seu aroma antes
mesmo de vê-lo, um sorriso bobo brinca em meus lábios e eu elevo
a cabeça para encontrá-lo com aquela expressão sem-vergonha
que eu tanto amo.
Seus braços rodeiam a minha cintura e sua boca encontra a
minha em um beijo apaixonado.

— O que está fazendo aqui? O prédio da administração fica


do outro lado do campus. — Esfrego meu nariz no dele, circulando
seu pescoço com meus braços.

— Queria almoçar com você antes de viajar — sussurra em


meu ouvido com a voz carregada de segundas intenções.

— Eu tenho treino — quase gemo de decepção.

— Ah, Melzinha. — Faz bico e beija meu nariz.

— Melissa, estou tentando convidar Thomas para ir à festa


amanhã, mas como sempre, ele vai para o Rio — Rita provoca,
segurando o braço de Guerrero.

Ouço alguém bufar e olho para o lado a tempo de ver Rafaela


virar o rosto.

— Ele tem coisas para resolver no Rio — respondo com um


sorriso nos lábios tentando esconder o quanto suas viagens me
incomodam.

Não por ele ir sem mim, e sim pela devastação que eu vejo
em seu olhar quando ele chega, não tem nenhuma única vez que
Tom não volte triste e abatido e confesso que estou cansada de não
saber o que está acontecendo, de esperar o seu tempo, de vê-lo
agonizado e não poder fazer nada para ajudar porque ele não me
revela a merda em que está envolvido.

Viro meu rosto para minha amiga e antes de falar algo, ela diz:
— Vai lá, eu invento uma desculpa para a professora. —
Sugere cúmplice.

— Também te ajudo — Leonardo completa.

— Nossa, como ele é prestativo. — Guerrero implica olhando


para ele.

— Melhor que você, que não faz um nada para ajudar os dois.
Vamos almoçar, Leo. — Rafaela enrosca seus braços no nosso
amigo e os dois saem juntos.

— Guerrero, para de implicar com ele! — censuro.

— Amor, deixe que eles se entendam, vamos que temos


pouco tempo. — Tom segura minha mão e me puxa para longe
deles, passando os braços em meus ombros e beijando minha
bochecha.

Ao chegar na entrada da faculdade, ele faz sinal para um táxi,


mas quando pergunto porque não vamos andando, já que são
apenas seis quarteirões, ele responde que tem pressa para chegar
em casa. E não estava mentindo, mal passamos pela porta, ele me
prende à parede e ataca minha boca com paixão.

— Vou foder sua boceta bem gostoso, estou morrendo de


saudades do seu gosto — promete enquanto retira minhas roupas,
deixando-me completamente nua.

Afoito, fica de joelhos, segura minha perna e a põe em seu


ombro. Eleva a cabeça e me olha, sem desviar o olhar, lambe-me
devagar. Respiro fundo, enchendo meus pulmões várias vezes,
seguro seu cabelo, tombo a cabeça para trás e rebolo, buscando
algo que eu sei que ele pode me dar.

— Me olha, amor, veja como eu amo te chupar — ordena,


com a voz rouca e eu obedeço, gemendo.

Ele rodeia meu clitóris com a língua e suga forte. Minhas


pernas tremem, o peito bate forte, entra com um dedo em minha
boceta, soca devagar sem parar de sugar, depois o tira e substitui
pela língua. Começa a acariciar o meu botão, que está duro, com
sua atenção. Esfrego-me em seu rosto, desesperada, arfando, e
gozo forte, gritando seu nome.

Tom levanta rápido e me coloca de costas para ele.

— Empina essa bunda gostosa — pede, segurando minha


cintura e puxando meu quadril.

Sinto seu pau cutucando minha entrada e entrando em uma


estocada. Ele para esperando me acostumar com sua grossura,
fazendo-me gritar e abrir mais as pernas. Uma mão sobe ao meu
cabelo e segura, trazendo minha cabeça para trás, beijando minha
boca. Sinto minha essência em sua língua, as minhas pernas ainda
estão trêmulas do recente gozo, a excitação desce por elas,
melando tudo.

A outra mão que aperta forte meu quadril, desliza para a


frente e toca minhas dobras, os dedos subindo e descendo sem
parar em um lugar específico, fazendo-me delirar.

— Mete mais forte — peço, desesperada para senti-lo


movimentando-se dentro de mim.
E meu amor, como sempre, não me decepciona, me come
feito um desesperado. Eu grito e o gozo vem como um foguete com
seus dedos mexendo no meu clitóris. Ele sobe a mão melada e
enfia um dedo na minha boca, eu chupo, sentindo-o entrar e sair em
várias estocada vigorosa; segura meu pescoço apertando-o e goza
urrando.

— Eu te amo tanto, mas tanto — declara, me abraça forte e


eu ainda o sinto latejando dentro de mim.

— Te amo.

— Vamos tomar banho antes de eu viajar? — Beija meu


ombro saindo de dentro de mim.

Viro meu corpo, desço meu olhar por ele e é impossível não
rir.

— Você está todo vestido. — Aponto para seu pau meio


flácido e o gozo na camisinha e gargalho.

— Ah, mulher chata! Eu aqui cheio de tesão e você rindo de


mim — ralha e eu solto um grito quando ele me joga em seus
ombros e me leva ao banheiro.

Tomamos banho juntos e mais uma vez fazemos amor. Ao


terminar, ele se arruma para viajar e eu fico jogada na cama,
olhando-o se vestir.

— Vai voltar para a faculdade? — pergunta ao terminar de se


vestir.
— Não. Meu namorado foi muito intenso, estou com aquela
moleza gostosa pós-gozo, minha professora vai sacar na hora que
faltei à aula para transar, melhor nem aparecer. — Espreguiço-me
nua e ele me olha mordendo os lábios.

— Assim fica difícil sair daqui.

— Transamos duas vezes, ainda quer mais? — indago


oferecida, abrindo as pernas e me mostrando para ele.

Tom pega minha perna e a eleva, beijando meu tornozelo,


escorrega o dedo até minha a intimidade e me toca devagar.

— Ah, garota sem-vergonha do caralho. — Morde minha


perna, abaixa a cabeça e passa a língua na minha boceta. — Quero
que me espere assim quando voltar. — Beija o local que lambeu,
levanta-se, segura minha mão e me puxa para ele.

— Vai voltar triste? — Ele não responde. — Quando vai me


dizer o que está acontecendo? — indago com a voz calma.

— Quando voltar.

— Promete?

— Sim, Melissa. Minhas idas ao Rio não têm nada a ver com
mulheres.

— Confesso que cheguei a cogitar isso.

— Não existe outra para mim, só você, amor. Quando voltar,


você vai entender tudo, ou pelo menos é o que eu espero.
Acaricia meu rosto, me dá mais um beijo e sai, me deixando
ansiosa e curiosa.
Capítulo 26
Melissa
À noite, escolho pedir uma pizza e chamo Rafaela para dormir
comigo. Depois de fazer o pedido, recebo uma ligação da mãe de
Thomas e atendo com o cenho franzido.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, cautelosa.

— Claro que não, meu anjo, apenas estou com saudades de


você e quero saber por que não veio com Thomas.

Porque seu filho não me convidou! — a resposta estava na


ponta da língua, mas a engulo em seco.

— Normalmente treino aos finais de semana — falo serena.


— Também estou morrendo de saudades de vocês.

— Você pode faltar neste final de semana, vou fazer um jantar


aqui em casa e gostaria que estivesse presente.

— Alguma data comemorativa que esqueci? — Penso


rapidamente nas datas de aniversário dela e do seu marido, mas
nenhuma está próxima.

— Não, meu anjo, apenas quero que você esteja presente, é


importante para mim.

Faço uma lista mental das minhas atividades e resolvo que dá


para tirar um final de semana de folga sem comprometer minhas
metas. Além do mais, seu pedido me deixou com uma pulga atrás
da orelha e algo se contorceu dentro de mim.

Sinto vontade de perguntar se está tudo bem com sua saúde.

Dentro de mim, gritou o desejo de questionar se está doente


novamente, contudo, não tive coragem de indagar. O simples
pensamento fez meus olhos lacrimejarem.

Por diversas vezes no decorrer dos meses, essa hipótese veio


à minha mente, isso explicaria algumas das atitudes de Tom. Mas fui
covarde, não fiz essa pergunta diretamente a ele e não tenho
coragem de fazer à sua mãe. Então, eu apenas confirmo em um
sussurro, rezando para que seja nada demais. Ela celebra e informa
que o jantar será amanhã à noite e logo depois desliga.

Vou até o banheiro, abro a torneira e encho minhas mãos e


jogo água no meu rosto, respiro fundo algumas vezes e quando
ouço o barulho da campainha, seco-o rapidamente. Ao abrir a porta,
me surpreendo ao encontrar minha amiga conversando alegremente
com o entregador.

— Ah, se Guerrero visse! — provoco assim que entramos.

— Nem me fale desse homem, quero simplesmente esganá-lo


— confessa, deixando o refrigerante na mesa e se sentando no
sofá.

— O que houve agora? — questiono, pousando a caixa na


mesinha de centro e indo até a cozinha buscar os copos.
— Ele expulsou o Leo do nosso apartamento e disse que se o
visse novamente ali o jogaria pela janela. O coitado arregalou os
olhos e quase saiu correndo — relata espumando de raiva.

Eu abro a caixa da pizza e pego um pedaço, e ela, outro. Dá


uma mordida e volta a falar.

— Aí, obviamente brigamos e depois ele me beijou e... eu vim


para cá — conclui ingerindo uma enorme quantidade de
refrigerante.

Escondo um sorriso sabendo que provavelmente muitas


coisas aconteceram entre o brigar e o vir para cá. Contudo, resolvo
ficar calada e não tecer nenhum comentário.

— E em relação a Thomas, conversou com ele sobre as suas


idas ao Rio?

— Mais ou menos.

— Tem certeza de que não tem mulher envolvida nisso?

— Ele me garantiu que não, creio que seja algo sério.


Amanhã vou para lá, minha madrinha me convidou para jantar, acho
que quer falar algo importante. — Não consigo disfarçar meu tom
triste.

— Não há de ser nada grave. Quer que eu vá com você?


Assim aproveito para ver meus pais e ficar um pouco longe de
Guerrero — soa mais como um pedido desesperado do que uma
oferta para acompanhar uma amiga.
Assinto sorrindo e começamos a conversar sobre os próximos
trabalhos que temos que entregar e assuntos diversos.

Resolvi fazer uma surpresa e não avisar aos meus pais que
vinha. Quando chegamos no Rio, Rafaela pega um carro para a sua
casa e eu resolvo ir ao shopping próximo da minha casa para
comprar uns doces que minha mãe e minha madrinha adoram.

Assim que saio do táxi, vejo meu padrinho entrar no


estabelecimento com uma expressão de poucos amigos. Até penso
em chamá-lo, mas desisto pela expressão feroz que vejo em seu
rosto.

Sabe aquelas coincidências da vida que nos fazem estar no


lugar certo e na hora errada? Talvez tenha sido isso que ocorreu.

Se eu tivesse ido direto para casa e não parado no shopping,


na bendita loja de doces e ficado lá escolhendo as delicias enquanto
degustava um suco gelado, não teria visto Thomas passar com uma
mulher gestante segurando seu braço enquanto ele carregava um
monte de bolsas de bebê no outro.

Engasguei, achei que estava delirando, tendo uma visão, ou


melhor, vivendo um pesadelo acordada. Deixo uma nota alta no
balcão para pagar o suco e saio na direção que eles seguiram. Eles
entram em uma loja e eu observo escondida do lado de fora,
sentindo minha cabeça latejar, ainda não acreditando no que estou
vendo.

Eles saem da loja com mais bolsas, a mulher sorri. Ela é


bonita, me recordo de já tê-la visto, mas não me lembro onde.

Minha cabeça rodopia, vejo tudo embaçado.

— Você está bem, moça? A senhora está chorando, está


passando mal? — um segurança pergunta.

Levo uma mão ao meu rosto e só então percebo as lágrimas.

— Eu estou bem — digo em um fôlego só.

Desvio dele e volto a procurar pelo casal. Encontro-os subindo


a escada rolante e eu vou atrás.

“Eu amo você, Mel”.

“Você é a luz na escuridão que é a minha vida”.

Suas declarações vão e voltam em minha mente, oprimindo


meu peito e destruindo cada pedacinho do que criamos juntos.

— Mentiroso! — rosno, sentindo o ódio tomar conta de tudo.

A distância, vejo-os passar pela saída para o estacionamento


e vou atrás, pronta para fazer um escândalo. Mas quando eu acho
que tudo não pode ficar pior, vejo que estava enganada.

Meu padrinho os intercepta e eles começam a discutir e,


agora, tudo faz sentido na minha cabeça. É um quebra-cabeça que
finalmente está ganhando forma.

Thomas engravidou uma mulher, o pai descobriu e por isso


eles andam brigando. Na certa, meu tio Fred, correto como é, não
aceita que o cretino do seu filho esconda de todo mundo uma
mulher grávida.

A primeira coisa que passa pela minha cabeça é virar as


costas e ir embora e nunca mais olhar na cara desse mentiroso,
mas a raiva fala mais alto e impulsiona meu corpo para frente. Saio
pela porta que dá acesso ao estacionamento e, com os olhos
arregalados, vejo o exato momento em que meu padrinho desfere
um tapa no rosto da mulher.

— Tio! — murmuro horrorizada colocando as mãos na boca e


corro para perto deles. Thomas segura o braço do pai para impedi-lo
de agredir novamente a mulher, eu nunca o vi ter uma atitude
agressiva.

— Você ligou para meu pai? Eu não estou aqui fazendo tudo o
que você quer? Estou pagando caro para você deixar minha mãe
em paz! — Thomas rosna.

— Essa vagabunda não presta! — Fred se desfaz do aperto


do filho e levanta a mão para novamente bater na mulher e eu berro.

— Fred!

Não entendo mais nada, olho a cena, confusa e horrorizada.

Ele me fita com os olhos arregalados, depois olha para o filho


e agarra o seu colarinho.
— Você contou para Melissa, seu moleque? — O tapa de mão
aberta no rosto do seu filho me fez gritar novamente. Tom não
reage, porque está olhando para mim, surpreso, e empurra o pai
para longe.

— O que está fazendo aqui, Melissa? — pergunta em um fio


de voz.

Eu não consigo falar nada, horrorizada demais com tudo que


estou vendo. Tom é puxado para longe de mim e braços fortes
seguram meus ombros.

— Presta bem atenção no que eu vou te falar, Melissa. Não


quero que diga uma única palavra sobre isso para Beatriz, está me
entendendo? — Ele me sacode com agressividade.

Meu tio, meu padrinho, o homem que eu considero meu


segundo pai, que para mim sempre fora exemplo perfeito de homem
me aperta com força, machucando-me, me encarando com olhos
vermelhos, a voz desconhecida, tão diferente da que sempre se
dirigiu a mim e eu sinto como se meu mundo estivesse desabando
naquele momento.

Antes, eu estava com raiva do meu namorado traidor; agora,


estou me sentindo despedaçar. Cada pequeno pedaço do que eu
julgava ser o homem perfeito está se desfazendo em minha frente,
quebrando-se em tantos cacos que eu acho que nunca mais serei
capaz de reconstruir.

Thomas lhe dá alguns murros, mas ele segue me sacudindo,


enraivecido, fora de si, e eu vejo tudo nublado, confusa, magoada,
despedaçada, até que meus olhos recaem na mulher, em sua
barriga, e eu volto a olhar para o homem que por anos julgava como
perfeito e o marido mais carinhoso que existia. E finalmente eu
entendo, ou acho que entendo, o que está acontecendo.

— É seu filho, você traiu minha tia. Seu escroto, como pode
nos enganar esse tempo todo, como pôde fingir que a amava?! Ela
não merecia isso, não merece você! — berro descontrolada e o tapa
vem forte, fazendo-me virar a cabeça, mas não dói tanto quanto a
decepção que me rasga por dentro.

— Nunca mais fale isso! Eu amo Beatriz, isso tudo é a porra


de um engano do caralho.

Thomas consegue me separar do seu pai e os dois rolam no


chão aos socos. Eu não consigo sequer me mexer, cada músculo do
meu corpo dói.

Os seguranças chegam e os separam.

— Melissa, me desculpa, eu me descontrolei. Me perdoa, isso


é um engano, eu não sou o pai da criança, vocês têm que acreditar
em mim! — Ele puxa os cabelos, desesperado.

— Vá embora, apenas saia daqui! — Thomas ordena ainda


sendo contido pelos guardas.

Após garantir que está tudo bem, os seguranças vão embora.


Thomas pede um táxi e embarca a mulher, que não falou nada
diante de toda a cena e eu estou abraçada ao meu corpo, abalada
demais para dizer qualquer coisa.
— Não queria que você descobrisse assim. — Tenta me
abraçar, mas eu desvio.

— Você comprou roupas e passeou no shopping com a


mulher que está gravida do seu pai? — acuso sentindo a raiva
borbulhar em minhas veias.

— O quê? Não é nada disso. Você entendeu tudo errado.

— Então o que é? Porque eu vi você entrando e saindo de


lojas de bebês com ela agarrada ao seu braço e cheio de bolsas.

Empurro-o sentindo raiva dele e do seu pai por estarem


enganando minha tia.

— Como você pode ser tão baixo, como pôde não contar para
sua mãe?

— Melissa, me deixa explicar. — Tenta segurar meu braço e


eu me desfaço do seu aperto.

— Eu nunca mais quero ver a sua cara na minha frente.

Saio correndo dali, ouvindo-o me chamar. Um táxi para,


deixando uma passageira, e eu aproveito e entro, dou ao motorista
o endereço da minha casa e choro, magoada demais.
Capítulo 27
Melissa
Entro em minha casa e agradeço por ela estar vazia, não
conseguiria lidar com ninguém agora. Sigo para o meu quarto e me
jogo na cama.

Decepção, raiva e mágoa bombardeiam meu sistema. Não


entendo como Thomas pôde esconder o que o pai está fazendo, e
muito menos como meu padrinho pôde ser tão cínico. Durante anos,
eu o idolatrei como o homem mais perfeito do mundo, cheguei a
pensar que jamais encontraria alguém como ele.

Como eles podem mentir assim?

Meus ombros ardem, meu rosto dói, mas a dor maior está em
meu coração partido. Pela pessoa que considerava meu segundo
pai e pelo homem por quem me apaixonei. Não sei quanto tempo
fico na cama, mas, em determinado momento, com o ódio correndo
solto em minhas veias, sento-me na cama e limpo meu rosto de
forma ríspida.

— Não vou deixar Beatriz ser enganada nem mais um minuto.

Busco meu celular e chamo seu número. Depois de alguns


toques, ela atende à ligação.

— Oi, querida — sua voz soa fraca, como se estivesse


cansada.
— Tia, eu preciso falar com a senhora, é urgente.

— Meu anjo... — Ela começa e faz uma pausa, como se


buscasse o ar.

— A senhora está passando mal?

— Melissa, mais tarde nos falamos, minha querida — Faz


mais uma pausa —, estou um pouco ocupada no momento,
resolvendo os últimos detalhes para a noite. Mais tarde
conversamos, meu anjo.

Ela desliga, deixando-me frustrada. Uma batida na porta me


faz prender a respiração.

— Melissa. — Fecho meus olhos ao ouvir a voz de Thomas.


— Por favor, meu amor, me ouve. — Ele entra, causando-me mais
angústia.

— Não quero te ouvir, quero que suma da minha frente, seu


mentiroso! Eu já tentei falar tudo para a sua mãe, ela não pode me
ouvir, mas a noite eu conto tudo, não vou deixá-la ser enganada —
ameaço indo em direção ao banheiro e ele me segue.

— Por favor, não faça isso — implora e eu tenho vontade de


esganá-lo.

— Como pode me pedir algo assim? Como pôde ser


conivente com seu pai? — Esmurro seu peito e ele deixa, com os
braços rentes ao corpo, com os olhos cheios de lágrimas. — Como
você pôde? — desabafo, com raiva, chorando, sentindo-me
enganada, magoada, ferida e traída.
— Por favor, apenas me ouça. — Acaricia meu cabelo e eu o
afasto, volto para o meu quarto e paro próximo à janela, de costas
para ele.

— Não há nada que você me diga que me faça mudar de


ideia — murmuro cansada e sentindo a garganta arranhar de tanto
gritar.

— Descobri o caso de meu pai com a Rosângela quando


minha mãe estava se recuperando do tratamento contra o câncer —
revela, fazendo-me virar para ele, horrorizada.

— Ele a traiu enquanto ela estava lutando para sobreviver.


Quão podre um homem pode ser ao fazer isso? E pior, você sabia e
não disse nada — pronuncio cada palavra sentindo um nojo surreal
deles.

— Minha mãe soube, descobri porque ouvi uma briga deles.


Depois ela caiu em depressão, na época vocês acharam que era
por causa do tratamento, mas acho que era pelas duas coisas —
revela.

— Eu sequer prestava atenção em qualquer coisa naquela


época, mas eu via seu pai todos os dias no hospital, tão destruído
como todos ali, passava as noites no hospital e dividia os cuidados
da esposa com minha mãe. Como esse homem poderia estar
traindo a mulher? — pergunto sem de fato esperar por uma
resposta. — Não faz sentido na minha cabeça. — Sento-me na
cama, cansada demais.
— Ela o perdoou, mas eu não. O confrontei sem que ela
soubesse e ele me mostrou um lado que nunca vi, foi por isso que
eu comecei a passar mais tempo aqui — confessa e eu o fito.

— Meu pai sabe? Esse é o segredo de vocês? — inquiro,


olhando-o com atenção.

— Não, seu pai não sabe da traição. Ninguém além de mim e


meus pais sabe e minha mãe nem desconfia que eu sei.

Respiro aliviada. Não sei se saberia lidar com meu pai


também encobrindo tudo.

Thomas se ajoelha na minha frente e continua a falar:

— Há alguns meses, Rosângela apareceu na minha casa


dizendo que estava grávida e que o filho era do meu pai. Por sorte,
minha mãe não estava. Questionei meu pai, ele nega, mas é a
mesma mulher com quem ele ficava.

— Por que não falou para sua mãe? Se ela quisesse perdoar
novamente, era um problema dela, mas você deveria ter revelado
tudo.

— Não consegui, meu pai a estava fazendo feliz, a cobria de


mimos, era um momento delicado, não saberia como ela lidaria com
isso.

— Não tem momento delicado que seja motivo para encobrir


uma mentira.

Ele me olha triste, uma lágrima desce pelo seu rosto e eu o


acompanho quando entendo o porquê.
— Ela está doente novamente. — Não foi uma pergunta, e
sim uma afirmação.

— Esse é o segredo que seu pai sabe. Desabafei em um


momento de raiva e desespero, sem saber como agir, não querendo
que minha mãe sofresse mais.

— Por que meu pai não falou? — Levo as mãos ao meu peito,
sentindo uma dor surreal.

— Minha mãe pediu, implorou, para ser exato. Ela não queria
que você e sua mãe soubessem, não queria que vocês sofressem e
parassem a vida por causa dela. E durante os últimos meses, eu
tenho dado dinheiro à Rosângela para ela ficar quieta e não
incomodar a minha mãe. Me sinto preso em uma rede de mentiras,
porque meu pai trata a minha mãe de forma apaixonada e ela está
feliz, fazendo o tratamento de forma otimista, mesmo com algumas
complicações.

— Meu Deus. — Seguro minha cabeça sentindo que ela vai


explodir.

— Eu não podia te contar, revirava meu estômago vê-la


elogiar meu pai. Minha mãe pediu para acompanhá-la na faculdade
dizendo que um ajudaria o outro a passar por essa fase sem jogar
tudo para o alto e surtar como da última vez. Acho que ela já
desconfiava que eu estava apaixonado por você antes mesmo de
admitir isso para mim.

Fico em silêncio vendo tudo embaçado pelas lágrimas.


— Eu estou confusa. Por favor, vá embora. Eu preciso ficar
sozinha para assimilar tudo.

— Mel... — murmura com uma voz sofrida.

— Vai embora, Thomas. Eu estou muito confusa, é muita


coisa. Nos vemos à noite.

— Te amo, Mel, não se esqueça disso. Não apague tudo o


que vivemos, não teria suportado toda essa merda sem você ao
meu lado.

— Me deixe sozinha — peço, sentindo-me esgotada.

Ele resiste por breves momentos, então, se levanta e sai do


meu quarto.

Não sei o que pensar, a cada nova revelação, tudo parece


muito sórdido e sujo.

Entro no banheiro, tiro minhas roupas e, ao me olhar no


espelho, vejo as marcas de dedos em meu braço e no meu rosto.
No local onde levei o tapa, havia uma mancha vermelha. Mais uma
vez, grossas lágrimas descem pelo meu rosto, seguro-me na
bancada da pia e derramo toda a dor que levo em meu coração.

— Filha, você está aí? — Algumas batidas na porta me fazem


limpar o rosto. Jogo água na face algumas vezes enquanto minha
mãe bate na porta. — Melissa, você está bem?

— Estou tomando banho, mãe, daqui a pouco desço. — Tento


controlar meu tom de voz, não sei se consigo, ela responde com um
“tudo bem” desconfiado.
Debaixo do chuveiro, penso no próximo passo. Resolvo seguir
com meu plano original e revelar tudo à minha madrinha no jantar.
Mesmo doente, ela não merece ser enganada.

Uso maquiagem para disfarçar a mancha no rosto e uma


blusa de manga longa para esconder as do braço, mas não consigo
disfarçar meu olhar triste ao chegar na sala e encontrar meu pai
ingerindo uma dose de whisky. Ele nunca bebe e dá para notar o
quanto está nervoso.

— Estava com saudades, filha. — Ele se aproxima de mim e


me abraça forte. Sinto vontade de novamente me desmanchar em
lágrimas.

— Por que você não nos contou, pai? — falo em um fio de voz
e sinto-o travar.

— Como soube? Thomas te disse?

— Sim.

— Sua mãe sabe?

— Ainda não.

Ele segura meu rosto nas mãos.

— Esses últimos meses foram complicados. Beatriz implorou


para não revelar, ela queria contar. Sua mãe desconfiava que havia
outra mulher e eu escondi que sua amiga estava doente.

— E sobre o Fred, o que o senhor sabe? — pergunto,


olhando-o com atenção.
— Fred? — retruca confuso. — Eu ainda não entendi por que
ele se desentendeu com o filho, e algumas atitudes agressivas dele
me deixaram intrigado. Até chegamos a nos desentender por causa
disso, mas já resolvemos. Por que a pergunta?

Ele parece sincero, mas até então, eu também considerava


Fred sincero. Ainda assim, lhe dou um voto de confiança. A dor que
eu vejo em seus olhos me abala.

— Só estou confusa — desconverso.

— Estou preocupado com sua mãe, ela vai desabar e não sei
qual será sua reação ao saber que eu escondi isso.

— Ai, meu Deus, é tanta coisa na minha cabeça que havia me


esquecido disso — murmuro.

Minha mãe entra na sala e me abraça por trás.

— Que saudades, meu amor. — Ela balança nossos corpos


juntos.

— Também estava, mãe.

— Por que essa voz triste?

Abro e fecho a boca e não consigo falar. Minha mãe ficou tão
devastada da última vez que minha tia ficou doente, que eu não
tenho coragem de dizer que ela está novamente mal.

Busco meu pai com o olhar e vejo refletido nele a mesma


dúvida que me corrói.
— Briguei com Thomas. — Não deixa de ser verdade. —
Vamos chegar atrasados.

Beijo seu rosto e ela me fita por um momento, depois ao seu


marido, e assente.
Capítulo 28
Melissa
No decorrer de todo o percurso até a residência da família de
Thomas, minha mãe ficou em silêncio, torcendo suas mãos. Às
vezes, olhava pelo espelho retrovisor e buscava meu olhar.

Minha mãe não é burra, ela já percebeu que algo está errado.
Eu não consigo disfarçar minha expressão desolada e muito menos
meu pai sua preocupação.

Ao chegarmos, entro na casa com a respiração presa e


somos recebidos por Beatriz, que está abraçada a Fred, e tudo o
que ocorreu de manhã vem à minha mente como uma avalanche.

Minha madrinha sorri largo, eu a observo com atenção,


tentando encontrar algum vestígio de tristeza, mas aparece estar
realmente feliz. Seu marido demonstra carinho e zelo com sua
companheira e essas demonstrações de afeto sempre me fizeram
sorrir. Eles eram meu casal ideal e agora que sei toda verdade
sobre ele, sinto uma enorme tristeza.

Em silêncio, ouço-a comentar sobre as recentes viagens e os


presentes que ganhara dele. Em certos momentos, desvio meus
olhos dela e fito Thomas sentado ao fundo da sala de cabeça baixa.

O jantar foi uma tortura. Fred cobria a esposa de atenção,


carinhos e os olhos de Beatriz brilhavam ao fitá-lo e a raiva dentro
de mim só crescia por ele a estar enganando desse jeito.
Quando estou a ponto de jogar tudo para o alto, minha tia
pede para que todos a acompanhe à sala.

— Amo estar com vocês, mas este jantar é para dar uma
notícia que estou adiando há alguns meses, não por maldade, e sim
porque queria evitar que sofressem — começa a falar e sua voz
treme. Seu marido senta ao seu lado e segura sua mão, levando-a
aos lábios e a beijando levemente.

Desvio o olhar para minha mãe e ela está com os olhos


fechados, creio que esteja fazendo uma oração para que suas
desconfianças sejam só isso, uma mera desconfiança.

Busco sua mão e meu pai a outra. Sabemos que ela vai
desmontar e não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Eu
mesma estou por um fio, agarrando-me à raiva para não me
afundar.

— Infelizmente, há alguns meses, eu tive o diagnóstico de que


meu tumor voltou — minha tia soa mansa, como se testasse o
terreno.

Eu vejo tudo nublado pelas lágrimas.

Minha mãe aperta minha mão com força. Dói, mas não ligo,
eu preciso sentir que não estou vivendo um pesadelo. Thomas já
havia me dito, mas tê-la confirmando é mais triste e doloroso do que
imaginei.

— Por que não me falou? — A voz da minha mãe sai entre


soluços, ainda nos segurando como se fôssemos uma âncora que a
mantém sã.
— Eu não queria vê-la como está agora. — Minha tia soluça
vendo a minha mãe chorar. — Sei como ficou da última vez, não
queria que parasse sua vida, não queria aquele sofrimento sem fim,
me fazia mal ver você sofrendo daquele jeito.

Ela toma fôlego e segura a mão do marido que a abraça e


beija sua testa. O tempo todo ele evita contato visual comigo.

— Implorei para que Thomas e Tadeu não te contassem, eu


queria falar.

— Você sabia? — Minha mãe vira o rosto para meu pai, que
limpa seu rosto com o dorso da mão e beija seus lábios levemente.

— Sim, esse era o segredo que escondia, não era meu para
contar.

Minha mãe o olha por um tempo e depois se vira para minha


madrinha.

— Como você está? — minha mãe indaga. Creio que ainda


esteja decidindo se perdoa ou não meu pai.

Tia Beatriz toma fôlego antes de começar a falar:

— Ah, Luiza, minha grande amiga, companheira de uma vida,


sei o quanto me ama e meu amor é tão grande quanto o seu, não
fique com raiva do Tadeu, ele apenas fez o que pedi. Estou bem,
resolvi enfrentar esse tratamento com otimismo, viajando, vivendo
uma nova lua de mel, sendo feliz. Uma forma egoísta, eu sei, mas
estou me permitindo isso.

Toma fôlego e volta a falar:


— Eu quero ser feliz, amiga, mesmo com toda a amargura
que vem com a doença, e quero que você também veja dessa
forma. E estou conseguindo com a ajuda de Fred, meu querido
marido anda mais romântico e carinhoso do que nunca. — Ela sorri
e estende a mão para minha mãe.

— Beatriz. — Minha mãe solta a nossa mão e se senta ao


lado da amiga, a abraçando.

Elas ficam um tempo abraçadas. Minha mãe tenta segurar o


choro, minha madrinha garante que está bem e que vai ficar bem.

A observo e noto que suas pernas estão inchadas, imagino


que seja consequência do tratamento. Meu peito aperta, lembro-me
das dores, vômitos, do que ela passou, do quanto sofreu e do
quanto sofremos.

Desvio os olhos das duas e foco Thomas olhando para elas


com um sorriso nos lábios. Ele encontra o meu olhar e, neste
momento, sua mãe resolve me chamar.

— Melissa, o que você queria me contar hoje à tarde? —


Beatriz indaga e seu marido acaricia seus ombros e ela segura sua
mão e a beija, o sorriso sempre em seu rosto.

Eu travo.

Todas as atenções voltadas para mim, minha mãe ao lado da


amiga, meu pai me observando com o cenho franzido, Fred com
súplica. Thomas, segura o olhar por pouco tempo, logo depois
abaixa a cabeça e finalmente olho para a pessoa mais importante
nisso tudo: Beatriz, minha madrinha, está feliz e, depois de tudo o
que ela falou, não tenho coragem de tirar o sorriso dos seus lábios,
pelo menos não nesse momento, na frente de todos.

Ainda pretendo conversar com ela, mas não agora.

Então eu abro e fecho a boca procurando por uma desculpa e


não encontro nada.

— Por acaso queria revelar que você e meu filho estão


namorando? — Minha madrinha me surpreende. Busco Thomas
com o olhar e noto que está tão surpreso quanto eu.

— Ah, filha, nós já sabemos há alguns meses. — Minha mãe


solta uma leve risada.

— Vocês sabiam? — Thomas finalmente diz alguma coisa


desde que chegamos.

— Vocês mal conseguem despregar os olhos um do outro —


meu pai zomba.

— Ficamos muito felizes, mas esperamos vocês falarem. —


Minha mãe sorri.

— Sempre sonhamos que vocês virassem amigos. — Beatriz


não esconde a alegria. — Imagina a felicidade quando começamos
a desconfiar de um envolvimento amoroso.

— No momento, não gosto muito do seu filho. — Sou sincera,


causando uma explosão de risadas em minha mãe, Beatriz e meu
pai. Thomas passa uma mão nos cabelos e Fred permanece ao lado
da sua esposa.
Minha madrinha comenta que na primeira vez que foi ao
nosso apartamento, foi fazer compras e na volta pediu ajuda com as
bolsas e chegamos ao estacionamento desalinhados.

Ela gargalha, e meus pais riem junto, desfazendo o clima


triste que sua revelação trouxe.

Eu sorrio amarelo, sentindo o nó na garganta, com um monte


de coisas para falar, sem ter coragem de dizer.

Naquela noite, não consegui um minuto a sós com minha


madrinha. Seu marido estava o tempo todo ao seu lado, a cobrindo
de carinhos. No dia seguinte, fizeram uma viagem romântica e, sem
ter alternativa, voltei para Campinas, frustrada.

Thomas retornou comigo, mas não tentou se aproximar


nenhuma vez, o que agradeci mentalmente, ainda não estava pronta
para conversar com ele. Tudo ainda estava muito confuso dentro de
mim, a mágoa ainda era fervente, queimando-me lentamente. Em
minha mente, revivia aquele maldito dia várias vezes, tentando
encontrar alguma forma de entender toda aquela merda.

Mas quanto mais pensava, pior ficava. Não compreendia


como Fred foi capaz de fazer as coisas que fez, ele me agrediu,
bateu naquela mulher, brigou com o filho e, à noite, estava pleno e
sereno ao lado da sua esposa, demonstrando tanto amor e carinho
que por várias vezes me fez pensar que talvez tivesse imaginado
tudo o que houve, que talvez minha mente tivesse me pregado uma
peça.
Mas meu rosto ardendo e as manchas em meu braço me
traziam à realidade. E para completar, minha madrinha ainda estava
novamente doente. Naquela noite, ao retornar para casa, passei um
bom tempo abraçada à minha mãe, chorando por tantos motivos
que ela nem imaginava, que se soubesse faria o inferno na terra.

Calei-me, para não magoar uma das pessoas mais


importantes para mim e que no momento estava doente.

É uma confusão do cacete. Sinto-me presa em uma rede de


mentiras.

No decorrer dos dias, faço as coisas no automático. Falei com


minha madrinha todos os dias, ela sempre demonstrava estar bem e
feliz, apesar do tratamento. Minha mãe confirmou que ela estava
bem e ainda elogiou a dedicação e empenho de Fred de fazer de
tudo para que a mulher fosse feliz.

Meu padrinho tentou me ligar, não atendi às ligações, e em


consequência, recebi várias mensagens de desculpas, mas não
respondi nenhuma. Quando ouvia essas declarações, eu fechava os
olhos. Em minha garganta, a revelação de toda a mentira vinha
forte, mas eu engolia junto com minha frustração, porque pensava
em minha madrinha, em minha mãe, que com certeza não deixaria
quieto e faria um escândalo e isso tudo poderia piorar a saúde de
Beatriz.

Meu relacionamento com Thomas voltou a zero. Mal nos


falamos e quando o fazemos, brigamos. A implicância voltou com
força, confesso que por minha culpa. Estou com raiva de toda a
situação e estou descontando nele.
Capítulo 29
Thomas
Encostado no muro, com uma perna cruzada na outra, olho
para baixo esperando Guerrero. Ele me chama, sei que viu a
explosão de Mel, também sei que não vai desistir até vir falar
comigo.

Faz quase três semanas que ela descobriu toda a merda e


está cada dia mais complicado. Tem dias que eu me imagino
esganando-a lentamente, e em outro a fodendo até expulsar toda
essa frustração do nosso corpo.

Ela arruma motivos para brigar, às vezes, por pequenas


coisas, como agora, que apareci de surpresa no seu treino e levei
um lanche. Sei que ela não está se alimentando direito e resolvi ficar
um pouco para vê-la dançar, amo ver seu corpo em movimento, sua
entrega, sua paixão.

No entanto, ela não gostou nem um pouco, acusou-me de


estar atrapalhando e tirando sua concentração. Na verdade, Melissa
não gosta de absolutamente nada que eu faço ultimamente, não
importa o quanto eu tente agradá-la.

— Que porra foi aquela? — Guerrero pergunta, aproximando-


se.

— Ela anda estressada.

— Nota-se. Você está bem?


— Sim — murmuro, mas não estou bem, nada está bem.

A única pessoa que me ajudava a levar toda a confusão que


está a minha vida, no momento não quer saber de mim. Minha mãe
está começando a apresentar sintomas mais fortes da doença,
Rosângela está a ponto de ganhar o bebê e meu pai anda mais
agressivo que nunca.

― Por que Melissa está com tanta raiva de você? — indaga e


eu faço um movimento de cabeça para irmos andando.

― E quando ela não está puta comigo? ― Elevo uma


sobrancelha.

― Mas você também não facilita, provoca a mulher até o


limite.

Não nego. Apesar de que, ultimamente, se eu oferecer um


copo de suco, ela já encara como provocação.

— Como está a sua mãe? Mano, eu desabei quando você me


disse. A princípio achei que era papo de bêbado, mas quando minha
mãe me confirmou aos prantos, larguei tudo aqui e fui dar um
abraço nela, sua mãe é muito importante para mim, você sabe
disso, não é? — Muda de assunto tocando em um que me traz um
aperto no peito.

— Sei, sim, ontem ela foi ao hospital porque não estava se


sentindo bem, mas foi apenas um mal-estar, logo foi liberada. Sua
mãe e a de Melissa estavam com ela.
— Cara, como você conseguiu esconder isso por tanto
tempo?

— Ela pediu.

— Sabe que podia confiar em mim, não sabe? Ela é como


uma segunda mãe para mim, nunca serei grato o suficiente pelo o
que ela fez por mim e minha mãe, e o que ainda faz por mim.

— Sim, eu sei.

Após minha mãe revelar a doença para os amigos, eu


comentei com Guerrero em uma noite de bebedeira, na qual estava
afogando minhas mágoas no álcool.

— Parabéns pela vitória na última luta. — Dou-lhe um soco


de leve, trocando de assunto. Ele sorri. — Desculpa por não ter ido,
agora você já sabe o que faço aos finais de semana — concluo,
excluindo o fato de que nos últimos finais de semana não vi minha
mãe, pois meu pai sempre dá um jeito de fazer uma viagem
romântica aos finais de semana.

Porém, ainda tenho a dor de cabeça chamada Rosângela. Até


o bebê nascer e fazer o teste de DNA, estou em suas mãos.

Meu pai ainda jura que o filho não é dele, mas não consigo
mais confiar nele, em nada, principalmente depois que agrediu
Melissa, a garota dos seus olhos, a menina que ele dizia ser a filha
que não teve e por quem demonstrava todo amor e carinho. Que
quando criança, chegava a me causar ciúmes e, mesmo assim, ele
a sacudiu como um saco de batatas enquanto eu socava suas
costas e não muito contente lhe deu um tapa no rosto. Ele estava
ensandecido, completamente fora de si. Depois disso, eu acho que
ele é capaz de qualquer coisa para que minha mãe não saiba das
suas merdas.

— Obrigado — agradece atraindo minha atenção para ele. —


Consegui um patrocínio, ou melhor, um convite. Fui convidado para
participar do reality The New Fighter Las Vegas — revela sem
nenhuma animação na voz.

— Porra! Esse reality já revelou grandes lutadores, já


passamos várias noites vendo as lutas, cara. Era seu sonho
participar de algo assim, isso é motivo para ficar feliz, por que não
vejo empolgação em você? — pergunto, confuso.

— Terei que trancar a faculdade, me mudar para Las vegas.

— Por que você está hesitando se esse era seu sonho?

Ele me olha e eu vejo a resposta em seu olhar.

— Minha mãe — concluo e ele assente.

Respiro fundo e volto a falar:

— Quando minha mãe intimou que eu viesse para Campinas,


eu fiquei doido. Por ela estar doente, não queria me afastar, mas ela
me disse que queria que eu fosse feliz e focasse nos estudos, e foi
o que eu fiz. Os últimos meses têm sido melhor do que imaginei,
claro que não deixei de pensar nela ou mesmo de ir visitá-la sempre
que posso, mas fiz o que ela queria, e tenho certeza de que ela te
falaria a mesma coisa.

— É bem a cara da sua mãe fazer isso.


— Sei o quanto é grato por ela, como também sei que ela
nunca ficaria chateada por você estar indo atrás dos seus sonhos.

— Obrigado, precisava ouvir isso. Mas ainda quero conversar


com ela e com seu pai.

Assinto e não teço mais comentários, apenas por citar meu


pai, meu humor já muda.

Despeço-me dele e sigo para o apartamento. Ao chegar, tomo


um banho, sem disposição alguma de ir para a cozinha, peço algo
para comer. Ligo para minha mãe e sua voz fraca me preocupa,
envio uma mensagem para minha madrinha e ela me diz que o
médico mudou a medicação da minha mãe para uma mais forte e
por isso as reações estão mais severas, mas que posso ficar
tranquilo, pois ela está lá, ao lado dela.

Minha mãe até tentou evitar que isso acontecesse, mas ela e
Luiza são amigas de infância, do tipo para vida toda, que ficam lado
a lado na felicidade e na tristeza. Eu sabia que assim que ela
soubesse, remanejaria toda a sua agenda para estar disponível para
minha mãe, e foi exatamente isso que ela fez.

Melissa chegou por volta das 20h, eu estava estudando.


Murmura um oi e vai para o quarto.

Dentro de mim, duela a vontade de ir atrás dela e resolver


logo essa merda ou deixar mais o tempo para ver se a raiva dela
passa. Mas eu sei que não vai, da mesma forma que a minha não
passou.
Com um suspiro, me levanto e sigo para o seu quarto. Com
certo receio, bato à porta e abro, mas o encontro vazio. O barulho
do chuveiro denuncia que ela está no banho.

Sento-me na cama e aguardo. Ela surge na porta com os


cabelos molhados e segurando uma toalha branca, seu rosto
demonstra surpresa ao me encontrar ali e seus olhos estão
vermelhos e eu desconfio que as gotas que descem pelo seu rosto
sejam lágrimas.

Há um monte de coisas presas em minha garganta prontas


para sair. Estou pronto para implorar para pararmos de brigar, mas
tudo é esquecido ao ver seu rosto triste.

Sem dizer uma única palavra, me levanto e a tomo em meus


braços e ela se deixa ser acalentada. Sua cabeça pousa em meu
peito e ela se debulha em lágrimas. Acaricio suas costas, beijo seus
cabelos e prometo baixinho que tudo vai ficar bem.

— Faz essa dor passar? — pede entre lágrimas.

— Me diz como? — Seguro seu rosto, sofrendo tanto quanto


ela.

— Me ame, me faça esquecer — diz, tocando seus lábios nos


meus, soltando a toalha e me empurrando para a cama.

Fazemos amor, mas desta vez é diferente, o desejo está ali, a


paixão, a explosão está presente, mas a dor e a mágoa também. Ao
terminarmos, ela deita a cabeça em meu peito e eu sinto suas
lágrimas molharem minha pele.
— Não consigo esquecer a forma como seu pai me tratou, a
mentira que estamos escondendo da sua mãe e o pior é que nada
disso deveria ser mais importante que a doença dela, mas essas
coisas ficam rodando na minha cabeça, me deixando doida.

— Agora você está sentindo o que eu venho passando nos


últimos meses.

Envolvo seu corpo com meus braços e a abraço forte


querendo mantê-la perto de mim para sempre.

— Eu não sei quando comecei a te amar, esse sentimento


chegou devagar, sorrateiro, tomando conta do meu sistema. Entre
brigas e farpas, você era a única que me fazia esquecer as merdas
que estavam acontecendo, a mentira que eu tinha que encenar por
causa da minha mãe. Estou me sentindo desolado sem você, Mel,
não me mantenha mais afastado.

Sinto um leve beijo em meu peito.

— Desculpa pela forma como venho te tratando. Estava


descontando em você a raiva que estou sentindo. — Volta a beijar
meu peito.

— Quando descobri, implicava com você e praticamente


mudei para a sua casa. Amo você, Mel, desculpa ter escondido,
mas não podia te contar, e eu acho que você não conseguiria lidar
com isso naquela época, sua mente estava toda focada em ser
aprovada na faculdade de dança.

— Você dizia que eu não via o que estava ao meu redor, e


tinha razão. Como pude ser tão tapada?! E ainda joguei tudo em
cima de você quando descobri.

Seguro seu rosto e a beijo.

— Vamos esquecer isso, o que importa é que estamos juntos.

Ela se senta na cama e envolve o corpo nu no lençol.

— Seu pai tentou falar comigo, não aceitei a ligação, enviou


mensagem pedindo desculpas, dizendo que perdeu a cabeça, mas
segue afirmando que não é o pai do bebê. Não consigo acreditar
nele.

— Eu também não.

— Por que não fizeram o teste de DNA com a mulher grávida?

— Porque ela se recusa enquanto o bebê não nascer. Eu


poderia obrigá-la judicialmente, mas isso chegaria à minha mãe.

— Thomas, não podemos esconder da sua mãe, ela que tem


que decidir se perdoa ou não seu pai.

— Você conseguiu falar quando a viu feliz como estava? Ele


anda a fazendo feliz mais do que nunca, como tirar o sorriso dos
seus lábios em um momento tão complicado? Me chame de
covarde, mas não consegui.

— E o que pretende fazer, vai continuar sustentando a


mulher?

— Sim, até o bebê nascer, até fazer o teste de DNA e tirar a


dúvida.
— Mesmo que o bebê não seja do seu pai, isso não significa
que ele não ficou com ela novamente.

— Eu sei, mas estou focando uma merda de cada vez.

— Mas acabamos o protegendo assim.

— Enquanto ele a estiver fazendo bem, prefiro segurar a


barra.

— Não está mais segurando sozinho. — Estica uma mão e


segura a minha. — Todas as vezes que for ver essa mulher, quero ir
junto.

— Obrigado.

— Porém eu quero contar para sua mãe. Não abro mão disso,
Thomas, ela precisa saber, precisa decidir o que fazer. Não
podemos tirar dela essa escolha, isso vai contra tudo o que as
nossas mães ensinaram para nós. Precisamos contar, se ela decidir
perdoar seu pai, aí já é uma decisão dela.

Suspiro, porque sei que ela está com razão.

— Tudo bem, nesse final de semana contamos.

Puxo-a para mim, colando minha boca na dela, cansado de


tantas mentiras, sentindo um alívio no peito pela primeira vez em
semanas.
Capítulo 30
Melissa
Às vezes, em meio ao caos, procuramos algo que nos traga
um alívio, uma sensação de conforto e segurança, mas Thomas é
muito mais que isso. Com todos os seus defeitos e imperfeições, ele
é meu porto seguro, aquele que aguenta o tranco, e eu sou a que
foge, que se desespera. Ele é mais forte que eu e isso foi uma grata
surpresa.

— Estou sentindo que está me observando, eu sei que sou


lindo demais — soa convencido, ainda com os olhos fechados.

Estamos deitados em minha cama, passamos boa parte da


noite conversando e acordei cedo e fiquei olhando-o enquanto
minha mente vagava.

— Gostoso e tosco, uma combinação quase perfeita. —


Seguro seu queixo e o beijo.

Surpreende-me ao se deitar sobre mim me arrancando uma


risada.

— Para, tenho que levantar, vou chegar atrasada. — Gargalho


enquanto ele morde minha barriga, me fazendo cosquinha.

Ele muda de posição e circula meu umbigo com a língua.

— Tom, vou me atrasar.


— Quero fazer amor com você, tem um tempo que não
fazemos. — Beija o vale entre meus seios.

— Fizemos ontem.

— Ontem foi diferente, havia muita mágoa e raiva envolvida,


eu quero amar seu corpo, adorar cada pedacinho, sem pensar em
nada, somente nós dois e no nosso amor.

— Acho que eu posso chegar um pouquinho atrasada. —


Sorrio de lado, retirando minha camisola.

Thomas não perde tempo e abocanha meu seio, chupando


forte. Desliza uma mão entre nós dois e toca minhas dobras.

— Hum... molhadinha do jeito que eu gosto. — Pisca um olho


e percorre meu corpo com beijos, mordidas e lambidas e me faz
gozar em sua boca.

Fazemos amor devagar, com os olhos presos um no outro,


trocando carícias e juras de amor.

Chego atrasada à aula, tomo bronca do professor, mas o que


prende a minha atenção é a expressão triste de Rafaela. Assim que
saímos, seguro seu braço e a levo para um canto reservado.

— Rafa, o que e houve, porque você está quase chorando?

— Eu e Guerrero fizemos amor — revela e perde a batalha


contra as lágrimas.

— Ele te machucou? Você não gostou? — pergunto,


preocupada.
— Foi lindo, ele foi gentil e carinhoso.

— Então, por que as lágrimas?

— Quando terminamos, ele disse que estava se mudando


para Las Vegas, para participar de um programa de televisão.

— Ah, Rafa...

— Sou uma idiota, achei que teríamos uma linda história de


amor e, no entanto, foi somente uma noite de sexo — lamenta.

Sem saber o que dizer, eu a abraço forte. Sei da sua paixão


por Guerrero, como também do sonho dele em vencer na luta.
Thomas ontem me disse que ele recebeu um convite para participar
de um reality que já revelou grandes lutadores. Ele está indo em
busca do seu sonho e deixando a garota que gosta dele de coração
partido.

— Sei que deveria estar feliz por ele, há uma parte de mim
que está comemorando sua conquista, mas há uma outra enorme
que está sofrendo — desabafa.

— Eu entendo. — Beijo sua testa e volto a abraçá-la.

Após chorar por algum tempo, puxa o ar e o solta rápido,


limpa o rosto e força um sorriso.

— Nem todas histórias de amor têm um final feliz, não é


mesmo?! — Dá de ombros. — Vou me despedir dele, desejar que
seja muito feliz, realize seus sonhos e guardar o que eu sinto por ele
em um lugar especial em meu coração — murmura demonstrando
uma força que eu sei que não sente.
— E eu vou estar ao seu lado minha amiga, em todos os
momentos, como você está do meu.

— Eu sei, já pode reservar muitas noites de choros e


bebedeiras, Thomas que lute para me aguentar. — Solta uma risada
triste e eu sorrio.

— Aí dele se reclamar. — Dou-lhe um forte apertão.

— Agora vamos parar de falar sobre meu drama amoroso e


me diz, vocês se entenderam? Amiga, você anda maltratando o
homem.

— Eu sei que peguei pesado. Fizemos as pazes e pedi


desculpas.

— E já decidiu o que fazer em relação à sua madrinha?

Desabafei com Rafaela sobre todas as merdas que


aconteceram.

— Decidimos que vamos conversar com ela nesse final de


semana.

Seguimos para a próxima aula e o assunto ficou de lado, era


para ser somente um dia normal de estudos e treino, mas
infelizmente não foi assim.

Uma ligação recebida no meio do treino me fez largar tudo e


sair correndo para o apartamento.

Era minha mãe, avisando que Beatriz foi hospitalizada, que


tivera uma parada cardiorrespiratória e que ela estava tentando falar
com Thomas, mas não conseguiu.

Acho que nunca corri tanto da faculdade até em casa.


Moramos a poucos quarteirões do campus e acho que empurrei
umas 10 pessoas que não saíram do meu caminho.

Ao entrar, a primeira coisa que vejo é Thomas sentado no


chão da sala, com vários livros abertos e o notebook no seu colo.

— Mel, o que está fazendo em casa a essa hora, não deveria


estar na faculdade? Aconteceu alguma coisa? — indaga, olhando-
me preocupado enquanto eu busco o ar com força. Sua reação me
mostra que ele ainda não sabe.

— Você está com o celular desligado? — Jogo minha bolsa no


chão e devagar, me aproximo.

— Descarregou, deixei carregando no quarto — explica


apontando para o local. — Veio correndo porque não conseguiu
falar comigo? — brinca e eu me sento ao seu lado e aos poucos seu
sorriso vai embora.

— Minha mãe ligou — começo a falar e ele me interrompe.

— Puta que pariu! — Dá um salto e sai correndo para o quarto


ligando o aparelho e eu vou atrás dele. — O que aconteceu, Mel?
Me fala, por favor.

— Sua mãe teve uma parada cardiorrespiratória. Não sei bem


como aconteceu, minha mãe estava muito nervosa na ligação. —
Aproximo-me dele. — Vou arrumar nossas bolsas, tomar um banho
rápido e vamos para o aeroporto.
Ele murmura um obrigado enquanto liga para minha mãe. Em
menos de quarenta minutos, saímos do apartamento em direção ao
aeroporto e, por sorte, conseguimos um voo saindo em duas horas.
Esperamos de mãos dadas, o tempo todo em contato com meus
pais que estavam com ela. Quando finalmente chegamos ao Rio, já
é noite e vamos direto para o hospital.

Depois de passar pela recepção e a atendente nos orientar,


chegamos à sala de espera e encontramos Fred sentado no chão,
com as mãos segurando a cabeça e chorando.

A cena é impactante e o medo vem forte. Meus olhos se


enchem de lágrimas e eu travo, sem nem conseguir respirar,
sentindo um frio tomar conta da minha espinha.

Thomas aperta minha mão forte demais, mas não reclamei,


nem tento me afastar, estou em choque, sem conseguir me mexer.

Ouço a voz da minha mãe de longe, mas não consigo tirar


meus olhos de Fred, sentado no chão aos prantos.

— Melissa, me ouve. Beatriz está estável — minha mãe fala


várias vezes e eu demoro a absorver esta informação.

— Ela está viva? — pergunto em um fio de voz.

— Sim, está viva, mas ainda precisa de cuidados.

— Por que ele... — Aponto para Fred.

— Ele está assim desde que a trouxe, não conseguimos tirá-lo


dali. Está chorando há horas, já falei que ela está estável, mas nada
o tira daquele lugar.
Olho para o lado e vejo que meu pai está conversando com
Thomas.

— Tente falar com ele, filha, até o pessoal do hospital já


tentou tirá-lo dali. Seu padrinho gosta tanto de você — minha mãe
pede e mais uma vez sinto um aperto em meu peito, porque houve
um tempo em que não hesitaria em ir até ele e lhe dar conforto, há
um mês, eu não sentiria esse aperto no peito, mágoa e remorso.

Mas agora, eu sinto tudo isso e não consigo me aproximar.

— Vai lá, filha — minha mãe insiste e eu a fito, sentindo um nó


na garganta, uma vontade louca de dizer todos os motivos que me
levam a titubear.

Volto meu olhar para Thomas enquanto dou passos indecisos


em direção ao seu pai. Ele me olha com atenção, desvio dele e foco
em Fred.

Enquanto me aproximo, minha mente é invadida pelo


momento em que a imagem que eu tinha dele, o homem perfeito, se
quebrou em pedaços tão pequenos que eu sei que não importa o
que aconteça, nunca mais poderei reconstruir, ele nunca mais será
o que um dia fora.

Paro ao seu lado e ele eleva a cabeça. Seus olhos estão


vermelhos, lágrimas descem incessantemente pelo seu rosto e a
expressão de dor está estampada em sua face.

— Eu contei para ela, falei toda a verdade para ela —


sussurra entre lágrimas, fazendo-me arregalar os olhos.
Capítulo 31
Thomas
Meu padrinho explica a situação da minha mãe. Já
compreendi que ela está estável, meu coração já voltou a bater ao
normal, até ver Melissa caminhando lentamente em direção ao meu
pai.

Meu corpo se mexe antes que eu consiga processar o que


estou fazendo. Em largas passadas, estou ao lado da minha
namorada, tentando protegê-la do que possa acontecer.

Mas nada me preparou para o que ouço meu pai dizer.

— Você falou para a minha mãe? Contou tudo para ela? —


pergunto, incrédulo, desviando os olhos dele e rapidamente fitando
Melissa, que está tão chocada quanto eu, e voltando meus olhos
para ele.

— Do que vocês estão falando? — minha tia pergunta, sem


entender nada, e eu abro e fecho a boca, completamente perdido,
sem saber o que dizer.

Meu pai se levanta, encosta na parede e eleva sua cabeça,


lágrimas descem pelo seu rosto livremente e ele não olha para
ninguém enquanto fala.

— Hoje, resolvi fazer uma surpresa para Beatriz. Ela estava


triste por causa das reações da quimioterapia, então saímos e
almoçamos fora e o sorriso voltou ao seu rosto. Mas, ao voltarmos,
Rosângela estava no nosso portão. Acho que o único objetivo da
vida daquela mulher é infernizar a minha vida, mas, enfim, Beatriz a
viu e não perguntou o porquê. Saí do carro e fui brigar com a mulher
grávida e ela nem teceu nenhum comentário quando voltei, liguei o
carro e entramos na nossa propriedade.

Ele fica em silêncio, limpa o rosto e toma fôlego antes de


continuar:

— Seu silêncio permaneceu até que entramos em casa, ela


me olhou de uma forma que não pude mais mentir, nem esconder
nada. Perguntou se eu a amava, eu disse que mais que a mim
mesmo, e não menti, a amo desesperadamente e por causa disso
fui capaz de magoar pessoas tão importantes para mim. Quando me
dei conta, estava vomitando tudo, contando cada erro que cometi,
as ameaças que fiz ao nosso filho e afilhada, as vezes que os
agredi, que implorei para que acreditasse em mim.

Volta a tomar fôlego e eu olho rapidamente Melissa e ela está


com as mãos na boca e ele continua:

— Que perdi o controle porque tinha medo que ela


descobrisse, que se separasse enquanto estava fazendo o
tratamento e que isso a prejudicasse e eu a perdesse para sempre.

— O que você quer dizer quando diz que agrediu a minha filha
e seu filho? — a voz da minha madrinha soa baixa e fria.

— Mãe, deixa isso para lá — minha namorada pede, mas ela


é mais rápida que todo mundo e segura meu pai pela camisa.
— Você bateu na minha filha? — indaga, puxando-o para
perto do seu rosto.

— Me desculpa... — Ele nem termina a frase e ela já está com


o joelho em suas partes íntimas e um soco certeiro fez sua cabeça
chicotear.

— Luiza! — Tadeu a segura e consegue tirá-la de perto de


Fred, que nem reage, apenas se curva gemendo de dor.

— Mãe, pelo amor de Deus, estamos em um hospital! Tia


Beatriz está se recuperando, deixa isso para depois — Melissa a
repreende quando um segurança se aproxima.

Tadeu vai conversar com ele e quando volta, abraça a esposa.

— Vou levá-la lá para fora. — Sai abraçado com minha


madrinha e nem tenho reação de tão absorto que ainda estou com o
fato de meu pai ter confessado tudo para minha mãe.

— Como minha mãe veio parar aqui? — pergunto em um fio


de voz. — Você disse que ela estava bem, o que aconteceu depois
que você revelou toda essa merda?

— Após nossa conversa, ela não quis falar comigo. Foi para o
quarto chorando e algum tempo depois, eu fui ver como estava e a
encontrei desmaiada. Chamei a ambulância e, no caminho para cá,
ela teve uma parada respiratória. — Ele volta a chorar.

Eu só sinto que também estou chorando quando Melissa me


abraça.
Passei por tantas coisas para que minha mãe não sofresse,
para que nada disso acontecesse, que agora sinto como se tivesse
sido tudo em vão. Minha mãe não aguentou a verdade e esse era
meu medo, ela estava feliz demais, vivendo em uma ilusão perfeita
e descobrir que tudo aquilo não passava de uma mentira sórdida,
talvez tenha sido demais para alguém que já estava debilitado.

— Me perdoem, eu estava fora de mim — meu pai suplica


eleva uma mão em minha direção e me afasto, sem condições de
falar nada, muito menos de perdoar, não quando minha mãe está
em observação no hospital, não quando a mágoa ainda corre
quente em minhas veias e estou me segurando para não ter a
mesma reação que minha madrinha.

Deixo Melissa me puxar para longe dele e nos sentamos em


um banco distante. Não conseguimos ver minha mãe naquele dia,
mas também não saímos dali.

Na manhã seguinte, ela estava liberada para receber visitas e


eu fui o primeiro a entrar. Meu coração perdeu uma batida ao ver
minha mãe debilitada, mas forçando um sorriso, tentando parecer
forte, e eu tentei fingir também, mas falhei. E quando ela me
estendeu os braços, eu fui chorando, porque estava com um medo
surreal de nunca mais conseguir fazer isso.

— Ei, estou bem, tive um piripaque de leve, mas já estou bem,


só estão me prendendo por aqui para controlar minha pressão, que
já está boa também. — Sorri largo e depois solta um suspiro. — Seu
pai me contou tudo, sabia que as coisas entre vocês estavam
tensas, mas nunca poderia imaginar que fosse algo assim, não era
sua responsabilidade, filho.

— Não vamos falar sobre isso agora, a senhora ainda está se


recuperando do susto que nos deu.

No entanto, ela me ignora.

— Não quero que você se preocupe mais com isso, este é um


assunto que eu e seu pai iremos resolver.

— Não queria que a senhora se machucasse.

— Eu sei, filho, mas, em contrapartida, você vem sofrendo


nesses últimos meses, nenhuma mãe gosta de saber disso. E como
disse, não quero que se preocupe mais com isso.

Assinto apenas para ela não se estressar, mas nós dois


sabemos que não vou conseguir esquecer.

Uma semana depois

Um mundo de coisas aconteceu em uma semana e minha


namorada não saiu do meu lado um minuto sequer.

Minha mãe saiu do hospital dois dias depois da internação e


assim que chegamos em casa, ela quis conversar a sós com meu
pai.

Minha madrinha andava de um lado para o outro na sala de


estar, com os ouvidos atentos a qualquer grito no andar de cima, e
eu não estava diferente, mas nenhum de nós ousou interferir, aquele
era o momento deles.

Minha mãe disse que poderia perdoar muitas coisas, até


mesmo outra traição, mas não o que ele fez comigo e Melissa em
nome do amor que ele diz sentir por ela. Ela pediu para ele sair de
casa, mas ele não foi embora de uma forma agradável, implorou
para ficar, disse que a amava, que eles poderiam resolver isso e
somente depois de minha mãe muito insistir, meu pai se deu por
vencido. Porém, não ficou de fato distante, ligava todos os dias
querendo saber como ela estava.

Ela diz estar bem, mas não se acaba um casamento de quase


20 anos enquanto enfrenta um tratamento contra o câncer e fica
bem, ela não estava bem, mas fingia estar para não nos preocupar.

Peguei-a chorando diversas vezes e também vi meu pai


chorar dentro do carro na frente da nossa casa.

Ele pediu perdão a mim e à Melissa também, várias vezes.


Ainda não consigo esquecer, talvez com o tempo a mágoa passe e
a raiva vá embora, mas, por enquanto, ainda não.

Levamos uma bronca enorme dos pais de Melissa por manter


segredo do que estava acontecendo, contudo, eu confesso que
ainda manteria tudo escondido só para ter o sorriso sincero que
minha mãe exibia e que hoje em dia não vejo mais em seu rosto.
Talvez o tempo também conserte isso.

Em meio a essa confusão, Rosângela me enviou uma


mensagem e eu fui ao seu encontro com Melissa.

Ao chegarmos, ela estava me esperando na frente do prédio e


não disfarçou que não gostou nem um pouco que eu estivesse
acompanhado.

— Você se esqueceu de mim. — Segura meu braço e como


sempre, sinto certo asco.

Mas ao contrário das outras vezes, quando tinha medo dela


falar algo para minha mãe, agora não tenho mais, então me afasto
com raiva.

— Thomas, querido, estou precisando de algumas coisas para


o bebê. — Ela mais uma vez me segura e Melissa bufa.

— Então seria melhor você falar direto com o pai do seu bebê
e sugiro esquecer o telefone do meu namorado.

— Eu e Thomas temos um acordo. — Ela sorri de lado,


segura de que ainda me tem em suas mãos.

— Não temos mais, eu pedi para você ficar longe da minha


casa, mas você foi lá e por isso nosso acordo acabou. De mim, não
vê nem mais um real sequer, agora que se entenda com meu pai.

Seu sorriso morre aos poucos.

— Sua mãe não iria gostar... — Melissa a interrompe.


— Ela já sabe de tudo, essa é a última vez que você entra em
contato com Thomas, agora sua conversa é com Fred.

— Mas meu filho será seu irmão — choraminga.

— Resolva com meu pai e não me procure mais.

— Eu vou para a justiça — ameaça.

— Você pode ir para puta que pariu se quiser, desde que não
me perturbe mais. — Seguro a mão de Melissa e saímos dali
ouvindo Rosângela me chamar e dizendo que isso não ficaria assim.

— Rosângela não queria só dinheiro, seu corpo também


estava no pacote, ela estava quase te comendo com os olhos e
aposto que foi na sua casa de propósito.

— Já desconfiava disso, acho que ela pensou que indo lá iria


conseguir mais dinheiro, só que deu tudo errado e no final foi melhor
assim.

Ela assente e vamos para a minha casa e, ao chegarmos,


encontramos minha mãe na sala, sentada no sofá, com um livro
aberto em seu colo, o olhar perdido e uma expressão triste.

— Mãe — chamo e ela respira fundo antes de abrir um sorriso


que não chega aos seus olhos.

— Vocês já almoçaram?

— Ainda não, e a senhora, já? — devolvo a pergunta,


sentando-me ao seu lado.
— Tia, ponha as pernas para cima, ajuda no inchaço. —
Melissa pede, ajeitando algumas almofadas embaixo das pernas
dela e nas suas costas.

— Já. Roberta é um general com a minha alimentação —


brinca, fazendo um carinho em minha mão. — Vão almoçar, ela fez
uma carne assada que está uma delícia.

— Vamos tomar banho e mais tarde descemos.

— É tão bom ver vocês juntos. — Segura nossas mãos e a


beijamos juntos, cada um em lado da bochecha.

— Ah, eu também quero um beijo assim! — A mãe de Melissa


entra na sala com uma bandeja contendo alguns remédios e um
copo de água e minha mãe faz careta, quando ela lhe oferece a
medicação. — Nem adianta fazer cara feia — minha tia implica e eu
rio com gosto.

Eu e Melissa a beijamos e depois subimos abraçados.

Após tomarmos banho juntos, descemos e almoçamos. Minha


mãe e minha madrinha estavam conversando e resolvemos deixá-
las a sós e ir para o meu quarto, deitamos na minha cama e eu a
aconchego em meus braços.

Um leve beijo em meu peito me faz olhar para a garota que eu


gosto e que agora eu sei que me ama, só espero que ela entenda
tudo o que vou dizer para ela.

— Ainda acho engraçado estar aqui com você sem precisar


esconder. — Acaricio seu rosto.
— Até agora eu fico besta de nossos pais fingirem que não
sabiam sobre nós dois. — Ri com gosto.

Sorrio e depois solto um suspiro, preparando-me para o que


eu vou falar.

— Meu pai saiu de casa a pedido da minha mãe — começo


em um murmúrio.

— Eu sei. — Sua voz não passa de um sussurro.

— Não posso voltar para Campinas agora, Mel, não tenho


como deixá-la aqui, está uma bagunça do caralho. Ela finge estar
bem, o bebê de Rosângela está para nascer a qualquer momento e
ela não demonstra, mas eu sei que isso a está machucando. Se for
filho do meu pai, não sei como ela irá reagir.

— Compreendo, no seu caso, faria o mesmo. Não tem como


sair do lado dela agora.

— Vou pedir transferência para alguma faculdade do Rio.

— Eu tenho que voltar, já estou longe há muito tempo — soa


triste.

— Vou sentir sua falta. — Beijo seu pescoço. — Vamos nos


ver aos fins de semana, prometo que vou para lá em todos.

— Também posso vir, não todos, porque vou ter que me


esforçar em dobro agora, mas sempre que der.

— Vamos fazer dar certo, mesmo a distância — prometo com


minha testa grudada na dela.
— Vou conversar com meus pais e chamar Rafaela para
morar comigo, já que Guerrero vai se mudar para Las Vegas —
revela acariciando meu rosto.

— Melissa, não é algo definitivo, será somente até as coisas


se acalmarem por aqui, talvez eu volte para Campinas no próximo
ano.

— Tudo bem, vou esperar por você.

— Além do mais, quando for te visitar, vou querer fazer amor


em todos os cantos da casa. Como podemos fazer isso com Rafaela
dormindo lá? — Pisco um olho e ela solta uma gargalhada.

— Você tem razão, tem tantas coisas que eu quero fazer com
você. — Pisca um olho.

— Me diz algo que ainda não fizemos. — Mordo seu queixo.

— Seu pervertido!

— Mas você me ama, mesmo assim.

— Eu te amo, meu idiota favorito.

— Eu te amo, minha chata.

E ela me beija sorrindo contra meus lábios. Nós dois sabemos


que ainda vamos enfrentar muitos desafios, mas temos o mesmo
objetivo: ficarmos juntos, nem que seja na base da briga, implicância
e, claro, muito amor.
Capítulo 32
Thomas
Sigo o gotejar do soro enquanto minha mãe adormece. Ela
passou por mais uma sessão de quimioterapia, mas como se sentiu
mal, o médico preferiu deixá-la em observação.

Desvio meus olhos, foco em meu celular e sorrio, Melissa me


enviou uma foto com uma mensagem com a legenda: “Desculpe
pelo meu ciúme bobo”. Na imagem, ela está deitada no chão, com o
rosto molhado de suor, cabelos grudados na testa, uma blusa
branca tão úmida que dá para ver o top vermelho por baixo e ela
sorri amplamente.

Parece que ela enviou a foto no meio do treino. Na nossa


última discussão, prometemos não passar mais de um dia brigados
e desde então, temos cumprido o nosso acordo e eu apenas queria
beijá-la e tirar todas as bobagens que às vezes passam em sua
cabecinha linda e teimosa.

Estou cheio de saudades, tem cinco semanas que não nos


vemos. Tentamos diminuir o aperto no peito com mensagens, fotos,
áudios e ligações que gostaria que fossem mais longas.

É normal estarmos conversando e do nada eu escutar o leve


ressonar, indicando que ela adormeceu. Quando isso acontece,
termino a ligação e envio uma mensagem desejando boa noite e
uma declaração de amor, sabendo que assim que ler, ela irá me
retornar pedindo desculpas e dizendo que me ama.

Quando estávamos morando juntos, era normal ela dormir em


meu peito exausta pelos excessos do dia, então não é uma grande
surpresa, contudo, com a distância, a saudade aperta ainda mais.

Da última vez que fui para Campinas, consegui ficar apenas


um dia. Ela me encontrou no aeroporto, a vontade de ficarmos
juntos era tanta, que transamos no banheiro e quase fomos
flagrados. Passamos o dia trancados no apartamento fazendo amor
e no dia seguinte voltei para o Rio deixando a garota que eu gosto
com um sorriso nos lábios e lágrimas nos olhos.

Tivemos alguns atritos no decorrer desse tempo, ciúmes,


tanto do meu lado quanto do dela, inseguranças e, claro, medo,
receio de que a distância nos separe, de que as inquietações e a
angústia nos levem para longe um do outro de tal forma que não
consigamos mais nos reencontrar e no meio disso tudo, ainda tinha
a apreensão por causa da minha mãe.
Nós dois tínhamos temor pelo que o futuro nos reservava,
mas também havia muita vontade de fazer dar certo e eu estou
doido para beijar a boca da garota que eu amo.

— Que sorriso lindo, filho, aposto que é uma mensagem de


Melissa. — Minha mãe solta um suspiro enquanto se ajeita na
cama, tomando cuidado para não perder o soro.

— É sim — confirmo enquanto ajeito o travesseiro em suas


costas. — Como a senhora está?

— Poderia estar melhor, mas bem, sem enjoos e acho que a


tontura passou. — Ela me oferece um sorriso, seus lábios estão
pálidos.

Apenas assinto passando-lhe um copo com água.

— Você vai este final de semana para Campinas? Pode ir


tranquilo, filho, estou bem. Além do mais, duvido muito que Luiza
me deixe sozinha — brinca enquanto ingere o líquido devagar.

— Neste não, mas vou no próximo. Saio na sexta à tarde e


volto no domingo.

— Fico feliz em saber. Não o quero enfurnado dentro de um


hospital direto comigo — resmunga.

— Mãe, não existe outro lugar para estar agora, a senhora


precisa de mim.

— Existe sim, você poderia ter continuado sua vida lá e vindo


me ver de vez em quando.
— E como eu ficaria lá em paz, mãe? Sabendo do turbilhão
pelo qual a senhora está passando, não teria como.

Ela solta um suspiro e não retruca. Fita seu celular que vibra
e, no visor, aparece o nome do meu pai. Vejo-a engolir em seco e
seus olhos ficam preso no aparelho.

— A senhora citou tia Luiza e ela está demorando a chegar.


— Chamo a sua atenção, usando um assunto aleatório e consigo o
efeito desejado, ela me olha forçando um sorriso fechado.

— Verdade, ela já deveria estar aqui.

— Vou ligar para ela. — Pego meu celular e profiro um


xingamento interno ao ler a mensagem que minha madrinha enviou
informando que já está no hospital, mas ainda não subiu porque
meu pai está lá embaixo querendo ver minha mãe.

— Mãe, ela já chegou, mas tem um atendente bem chato


dizendo que só a libera se eu descer — invento uma desculpa, beijo
o rosto da minha mãe e me despeço com um aceno.

Ajeito minha mochila em meus ombros assim que chego à


recepção. Luiza ficou um pouco receosa de me deixar com meu pai,
mas pedi que ficasse com minha mãe, pois ficaria bem.

Assim que ela sai, fixo meus olhos no homem de expressão


desolada segurando um buquê de flores.

— Vamos sair daqui. — Abrando meu tom de voz, não quero


chamar a atenção das pessoas ao redor.
— Me deixe vê-la, ou pelo menos me diz como ela está.
Beatriz não atende minhas ligações, estou ficando maluco de
preocupação, por favor, me diz se ela vai ficar internada novamente
— implora.

Uma pequena parte dentro de mim ainda quer acreditar nele,


ainda quer aquele conto de fadas no qual cresci, onde meu pai e
minha mãe eram felizes, ainda queria que tudo fosse uma grande
mentira, mas não é.

— Minha mãe acabou de fazer uma sessão de quimioterapia,


os medicamentos estão mais fortes e ela se sente mal quando
acaba, por isso o médico pede que fique algumas horas em
observação. Ela já está se sentindo melhor e deve ser liberada na
parte da tarde — informo, porque, apesar de tudo que ele me fez, é
visível que também está sofrendo por minha mãe, talvez seja
remorso, não sei ao certo e também não sei se quero saber.

— Obrigado, vou aguardar... — O interrompo.

— Não, minha madrinha não vai deixá-lo se aproximar da


minha mãe agora. — Faço um meneio negativo.

— Ela não pode me manter afastado, sou marido de Beatriz.


— Levanta a voz.

— Tia Luiza apenas a está protegendo, da mesma forma que


você o fez, afinal, essa não foi a sua justificativa? A cada vez que
tentava me agredir ou ameaçava, você dizia que estava protegendo
a minha mãe. — Não consigo e nem mesmo quero esconder a
minha mágoa.
Ele abre e fecha a boca algumas vezes, mas não encontra
argumentos para debater, sabe que estou certo. Passa as mãos nos
cabelos e volta seus olhos para as flores em sua mão.

— E como vamos conversar, nos reconciliar? O filho de


Rosângela vai nascer em poucas semanas, já mandei fazer o teste
de DNA assim que a criança nascer, para provar que o filho não é
meu e enterrar esse assunto — revela, frustrado.

— E você realmente acha que isso resolve tudo? — Solto um


riso triste. — A minha mãe pediu para eu não me envolver e estou
tentando cumprir o seu desejo, estou fazendo uma força surreal
para não gritar com você, estou me esforçando ao máximo para não
extravasar tudo o que sinto.

Tomo fôlego e aperto minhas mãos. Só em mencionar a


mulher que por meses fez da minha vida um verdadeiro inferno e do
homem que diz não ter nada com ela, mas que eu não acredito em
uma única palavra que sai da sua boca, me sinto furioso. Rosângela
não iria fazer tantas ameaças com tanta segurança se não tivesse
certeza de que o filho é do meu pai.

— Quando ela estiver pronta, vai procurar você, mas


enquanto isso, se mantenha distante, pelo bem dela. Minha mãe
merece um pouco de paz para conseguir superar esse tratamento.

Ele eleva a cabeça e fita o teto.

— Você nunca irá me perdoar?

— Não sei. — Sou sincero, realmente essa é uma resposta


que não tenho agora. — Ainda é muito cedo para isso.
— E Melissa? — soa sofrido. — Queria tentar falar com ela.

— Não é uma boa ideia, pelo menos não por enquanto.

— E quando será?

— Talvez quando ela esquecer que o homem que ela julgava


perfeito a agrediu e ameaçou — devolvo, maldoso, metendo o dedo
na ferida sem nenhum dó.

— Você me deixa informado sobre sua mãe? — pede em um


sussurro.

— Se ela piorar, você ficará sabendo, fora isso, se mantenha


longe.

Ele assente, me olha por um tempo e depois vai embora de


cabeça baixa, me deixando com um gosto amargo na boca.

O cheiro de comida me envolve antes de eu abrir a porta da


cozinha.

— Tia Beta, o que a senhora está fazendo de bom? — A


abraço, beijo seu rosto e ela solta uma gargalhada.

— Nada de especial, apenas uma carne assada com arroz e


salada.
— Tudo o que a senhora faz é especial. — Volto a beijar seu
rosto e ela se derrete. — Minha mãe já chegou? — pergunto abrindo
as panelas e levando um tapa na mão.

— Sim, está lá em cima. Sua tia Luiza está conversando com


o marido na biblioteca, vê se não vai lá — avisa e eu sopro um beijo
para ela.

A curiosidade me pega em cheio e não sigo o seu conselho,


meus padrinhos estão tentando se acertar desde que Luiza
descobriu toda a verdade. Sorrateiro, olho pela fresta da porta e
flagro os dois se beijando. Saio dali antes de ser visto e feliz por
saber que tudo ficará bem.
Capítulo 33
Melissa
Mal presto atenção na aula, de quinze em quinze minutos
verifico se chegou alguma mensagem de Thomas, e quando a aula
termina, levo uma advertência do professor.

— Ele ainda não entrou em contato? — Rafaela pergunta


assim que saímos da sala, cabisbaixa.

Faço um meneio negativo.

— Estou preocupada com minha madrinha e com ele. Na


última vez que conversamos, ele disse que o pai foi à sua casa
bêbado e fez um escândalo na frente do portão, só parou quando
sua mãe apareceu e pediu para ele ir embora. — Suspiro e aperto
os livros nos meus braços como se assim conseguisse aplacar um
pouco a saudade e o receio.

Rafaela passa um braço pelos meus ombros e me puxa ao


encontro do seu corpo. Pouso a cabeça em seus ombros e tento
inutilmente segurar as lágrimas.

— Queria entender quando me tornei essa massa


amedrontada e insegura — sussurro.

— Oh, minha amiga, e como não ficar aflita com tudo o que
vocês estão passando?

— Estou louca para acabar logo o semestre e conseguir ficar


lá com eles. Me sinto culpada por estar aqui, com medo do que
pode acontecer sem estar lá, temor por perder minha madrinha. Me
sinto péssima a cada vez que adormeço enquanto estamos
conversando e raiva dos ciúmes idiotas que tive. Como eu pude
brigar por ele estar sorrindo em uma foto com alguns alunos da
faculdade — me recrimino.

Solto um suspiro e minha amiga acaricia meu rosto.

— Vou acabar perdendo Thomas por ter atitudes tão infantis,


ele está ao lado da mãe, passando por situações terríveis e eu
apenas queria estar ao lado dele, segurando sua mão e não longe,
explodindo por ser invadida por inseguranças estúpidas.

— Amiga, sei que é difícil, mas tenta ficar mais calma, vai dar
tudo certo, vocês se amam. E como você mesma falou, está tensa,
com medo, distante da família, mas pense nele, que também está
sofrendo, sei o quanto a situação é complicada e pode sempre
desabafar comigo.

— Obrigada por ouvir meus dramas. Você tem razão, vou me


segurar, ele não precisa saber de todas as minhas inseguranças
idiotas.

— Pode jogar tudo em mim, assim nos ajudamos, porque de


insegurança, eu entendo. — Suspira e eu a abraço.

— E me diz como está sua situação com Guerrero, ele já


disse quando vai? — pergunto, respirando fundo e limpando meu
rosto discretamente.

— Daqui a um mês, no final do semestre. Quando ele me


falou que iria para Las Vegas, eu pensei que era algo de imediato,
mas parece que a temporada do programa só começa em setembro.

— Também pensei que ele iria assim que recebeu o convite,


assim teria mais tempo para se adaptar ao local. Talvez outra coisa
o esteja prendendo aqui. — Levanto as sobrancelhas de modo
sugestivo e minha amiga morde os lábios.

— Desisti dele, amiga, de vez, estou tratando com educação,


porém distante — soa decidida.

Assinto e resolvo não tecer mais nenhum comentário. Volto a


olhar meu celular enquanto caminhamos pelo corredor da faculdade
e mordo meu lábio inferior ao ver uma mensagem de Thomas.

“Minha chata preferida, amo você”.


Beijo o aparelho várias vezes como se ele estivesse na minha
frente.

— Já vi que ele enviou mensagem. Vou seguir para o estúdio,


não vá se atrasar. — Acena em despedida e eu começo a trocar
mensagens com meu amor com um sorriso nos lábios.

Arrasto-me até meu apartamento, cansada demais. estamos


preparando a apresentação de final de ano e além das aulas
teóricas, há vários trabalhos para serem entregues, ainda tem os
treinos que o corpo de dançarinos faz até a exaustão.

Obrigo-me a tomar um banho frio para relaxar os músculos,


que protestam sob o jato gelado. Faço um lanche e bocejo enquanto
digito uma mensagem para Thomas.

Ao invés de responder, ele faz uma chamada de vídeo.

— Porra, está para nascer mulher mais gostosa — elogia


arrancando um sorriso dos meus lábios.

Sem conseguir me conter, contorno sua imagem na tela do


celular.

— Eu te amo tanto, mas tanto, queria tanto estar ao seu lado


agora — declaro sentindo tantas coisas ao mesmo tempo, respiro
fundo e solto o ar devagar.

— Eu amo mais e também te queria aqui. — Abre um lindo


sorriso.

— Vou para aí no domingo bem cedinho, passamos o dia


juntos e volto à noite — decido sentindo a animação tomar conta do
meu corpo.

— Neste domingo? Não vai te enrolar? Estava planejando ir


na semana que vem — revela tentando esconder a empolgação.

— Não vou consegui aguentar mais uma semana sem te


beijar, sentir seu cheiro, seu gosto, sem ficar bem junto de você. A
saudade é tanta que chega a doer, meu Tom Tonto.

Ele sorri largo e beija a tela.

— Me diz a hora que você vem que eu vou te esperar no


aeroporto. — Pisca um olho, matreiro.

— Não acho uma boa ideia, lembra da última vez? — Solto


uma risada.

— Vou pegar o carro da minha mãe, assim não corremos o


risco de sermos pegos no banheiro — sua voz soa carregada de
segundas intenções e eu gargalho.

— Eu acho uma boa ideia. — Ele envia um beijo para mim e


eu retribuo sem conseguir tirar o sorriso dos lábios.

Solto um longo suspiro antes de perguntar sobre sua mãe.


— Como foi a quimioterapia? — Com tristeza, vejo o sorriso
se desfazer nos seus lábios.

Ele começa a me relatar como está sua mãe, comenta que


seu pai foi ao hospital, revela o que sentiu e mais uma vez eu queria
estar ao seu lado, abraçando-o ou apenas fazendo um carinho
enquanto ele desabafava, mas como não posso, fico em silêncio,
ouvindo-o falar de todo amargor que sente.

No domingo, madruguei para chegar no Rio de Janeiro às 6h


da manhã e encontrá-lo me esperando. Fizemos amor no carro,
passamos a manhã juntinhos, à tardinha ficamos com nossos pais
e, à noite, ele me levou de volta ao aeroporto e eu fui embora com
lágrimas nos olhos e deixando o garoto que eu gosto com uma
expressão triste.

Thomas

Abro a porta do apartamento de Campinas e inspiro


profundamente enchendo meus pulmões e soltando o ar devagar,
absorvendo todos os aromas, cheiros e o perfume de Melissa que o
impregna, fazendo-me sorrir e fechar os olhos sentindo algo gostoso
vibrar dentro de mim.

Não avisei à Melissa que viria, tem duas semanas que nos
vimos, quero fazer uma surpresa. Sigo para o meu quarto, tomo um
banho e ligo para Guerrero avisando que estou na cidade e ele diz
que vai dar uma passada no apartamento.
Algum tempo depois, ele chega e noto que está meio
cabisbaixo, fala que não imaginou que seria tão difícil trancar a
faculdade.

— Você está indo em busca do seu sonho. — Movimento os


ombros e estico os olhos para o relógio, ansioso com a chegada da
minha namorada.

— Vou deixar muitas coisas aqui, será que tudo estará como
deixei quando eu voltar? — soa pensativo.

— Está se referindo à Rafaela? — indago já sabendo a


resposta e ele apenas me olha, não confirmando nem negando. —
É difícil saber, vai depender de você.

— Não quero que ela fique presa a mim, não sei se dará certo
lá fora.

— Então vai correr o risco de perder a mulher que gosta. —


Jogo em sua cara e ele desvia o olhar e não rebate, sabe que é
verdade.

A porta é aberta e Melissa entra com um grupo de pessoas,


falando alto e soltando gargalhadas e eu vejo a cena em silêncio,
travado no lugar. Ela está linda, sorridente e é impossível segurar o
ciúme que vem forte.

Melissa demora a me notar e quando o faz, solta um grito,


eleva as mãos ao rosto e corre em minha direção abraçando-me e
colando os lábios nos meus. Minha namorada deposita vários beijos
no meu rosto, dizendo o quanto estava com saudades, que me ama
e, quando fito seus olhos, eu vejo ali tanto sentimento que por um
momento tive medo de ter sido abalado.

Beijo sua testa enquanto acaricio seu rosto, sentindo suas


lágrimas molharem minhas mãos e tomo sua boca em um beijo
apaixonado, carregado de saudades e muito amor.

— Pessoal, acho melhor irmos para o meu apartamento. —


Ouço a voz de Rafaela e sorrio contra a boca da minha namorada.

Ela se vira, segura meus braços e os enlaça em sua cintura.

— Desculpa, gente, mas vou curtir meu amor, não sei quando
vamos conseguir nos ver novamente — Melissa soa risonha.

— Não se preocupe, pode ficar curtindo. — Rafaela pisca um


olho. — Boa parte das pesquisas já fizemos e o trabalho é só para
semana que vem, vamos comer uma pizza e terminar lá no meu
apartamento — sugere e os amigos dela assentem.

— Vou com vocês — a voz de Guerrero soa alta, como se


quisesse chamar a atenção da amiga de Melissa que finge que ele
não está ali.

Despedimo-nos deles e Melissa gruda os lábios nos meus,


beijando-me com volúpia.

— Aqueles dois... — Ela não me deixa terminar e volta a


atacar minha boca.

— Não quero saber de absolutamente nada que não seja sua


boca na minha — ordena mordendo meu lábio inferior e logo em
seguida o sugando, fazendo-me gemer baixinho.
— Isso soa como um bom acordo. — Mordo o seu queixo.

— É um excelente acordo. — Segura meu rosto e me beija


gostoso.

Fazemos amor na sala e depois em todos os cômodos da


casa.

Naquele final de semana, fizemos diferente das outras vezes,


quando ficamos enfurnados dentro do apartamento, transando feito
dois insaciáveis. Não posso negar que transamos muito, mas
também, saímos para dançar com Rafaela e Guerrero, foi meio que
uma despedida de Guerrero, meu amigo está indo embora para
seguir o seu caminho.

Rafaela ficará e também irá atrás das suas conquistas.

Já eu e Melissa, selamos um acordo no meio da pista da


boate, com nossos corpos suados de tanto dançar, a excitação
exalando pelos nossos poros e tomando conta de tudo, prometemos
cuidar do nosso relacionamento com mais zelo e carinho, e, claro,
muito amor e paixão até conseguirmos estar juntos sem hora para
nos separar.

Até lá, enfrentaremos todos os desafios com a certeza de que


nos amamos, e muito.

Mas não prometemos que nunca mais brigaremos, afinal, eu


me apaixonei pela minha inimiga de infância e ela, pelo garoto que
não gostava muito, mas desejava. Então, umas briguinhas e uma
dose gostosa de implicância, que sempre acabam em uma transa
fenomenal, também fazem parte do nosso acordo.
Fim
Epílogo
Melissa
Um ano e meio depois

Houve um tempo em que eu diria que seria impossível eu ficar


no aeroporto por mais de uma hora esperando um voo para
encontrar Tom Tonto. Sorrio ao me lembrar desse passado não tão
distante.

Hoje eu sou uma massa ansiosa, transbordando saudades


pelos poros, louca para encontrá-lo, jogar-me em seus braços e
cobri-lo de beijos. Ele está voltando para Campinas, em definitivo,
não será somente para passar um, dois dias ou apenas algumas
horas como já aconteceu diversas vezes nesse período em que
estávamos enfrentando momentos nebulosos. Meu idiota favorito
vem para ficar e eu mal estou me aguentando de felicidade.

As coisas demoraram a se acertar, eram muitos problemas,


muitas merdas, coisas a serem resolvidas. A começar por
Rosângela, que para desgosto da minha madrinha, foi comprovado
que o filho é realmente de Fred. Achamos que ela iria quebrar
quando descobrisse, mas eu não admiro essa mulher à toa, para
desespero do meu padrinho, ela pediu o divórcio e ele demorou
meses para aceitar.

Minha madrinha venceu o câncer pela segunda vez, e assim


que seu divórcio saiu, ela viajou com Roberta, mãe de Guerrero,
para Las Vegas, ver uma luta dele. Em seguida, embarcaram em um
cruzeiro pela Europa, isso já faz dois meses, e eu acredito que ela
não volte tão cedo.

Errada ela não está, com o dinheiro que tem e todas as dores
que tem por aqui, nada melhor que uma viagem para esquecer.

Guerrero ganhou o reality que participou e hoje é visto como


uma das promessas do MMA. Está realizando seu sonho,
conquistando fama e fortuna.

Poucos meses após a partida de Guerrero, minha amiga,


Rafaela, me surpreendeu ao anunciar seu namoro com Leonardo,
eu gostei, e muito. Ele a amava e fazia de tudo para vê-la feliz, mas
a revelação de que estava grávida com poucas semanas de
namoro, pegou-me de surpresa.

Nunca cheguei a questionar minhas suspeitas de que esse


filho era de Guerrero, e ela muito menos comentou sobre o assunto.
Ela e Leo se casaram poucos meses depois e eu fiquei ao seu lado
durante toda a gestação e, quando Amanda nasceu, se tornou meu
xodó.

Rafaela não desistiu da faculdade, cursou-a mesmo gestante


e voltou logo depois que seu bebê nasceu. Ela e Leo enfrentaram
vários obstáculos e estão felizes juntos. E, no momento, eu apenas
espero que certo lutador não volte para bagunçar a vida da minha
amiga, mas essa é uma história que um dia ela irá contar...

Vejo meu amor acenando para mim, fazendo-me esquecer de


tudo e correr para me jogar em seus braços.
— Que saudades da minha chata que eu amo tanto. — Beija-
me e tudo ao nosso redor desaparece.

3 anos depois

Thomas
Uma sensação maravilhosa faz um gemido escapar pela
minha boca antes de estar completamente desperto. Abro meus
olhos e vejo Melissa engolindo meu pau com volúpia.

— Hum... que jeito maravilhoso de acordar. — Seguro seu


cabelo e soco meu pau na sua boca.

Tento puxá-la para cima, mas ela faz um movimento negativo


com a cabeça e em pouco tempo estou gozando em sua boca.

— Bom dia, amor. — Senta em meu quadril, nua, fazendo-me


suspirar.

— Como pode ficar mais linda a cada dia que passa? —


Seguro sua nuca e a puxo para mim, beijando sua boca enquanto
ela esfrega a boceta melada no meu pau que está começando a dar
sinal de vida.
— Amo como você se recupera rápido. — Mal termina a frase
e me beija.

Fazemos amor sem pressa, aproveitando cada momento. Ao


terminarmos, ficamos um tempo abraçados.

— Você vai chegar atrasado à empresa. — Ela geme


baixinho.

— E você, no instituto de dança. — Acaricio suas costas. —


Amei nossa noite, anda tão raro conseguirmos um tempo para sair à
noite e nos divertir.

— Também, chego em casa quase morta. Todos os dias eu e


Rafaela dissemos que cometemos uma loucura ao abrir o instituto
de dança, é desafiador, algumas pessoas ainda não confiam em
nós, temos pouco nome no mercado. Afinal, nos formamos há
menos de um ano. Cada novo aluno é uma comemoração imensa.

— Eu sei que em breve será um sucesso. E se você chega


cansada, eu chego exausto. Com a saída do meu pai da empresa,
as cobranças sobre mim aumentaram e muito, antes eu era apenas
um aprendiz na empresa da minha família, agora estou sendo
preparado para me tornar um CEO, sei que minha mãe não vai ficar
na administração por muito tempo.

Assim que nos formamos, voltamos a morar no Rio de Janeiro


e eu comecei a trabalhar na empresa da minha família. Meu pai saiu
da administração alguns meses após o divórcio e assim que minha
mãe voltou de viagem, deixou o magistério para se dedicar à
empresa com a ajuda do meu tio Tadeu.
Meu relacionamento com meu pai hoje em dia digamos que
seja cordial, acho que nunca mais teremos o mesmo vínculo de
antes. Até hoje ele tenta voltar com minha mãe, ainda diz que a ama
e vive em conflito com Rosângela, mãe do seu filho.

Vi a criança uma vez, quando nos encontramos por acaso e


senti pena por sua mãe usá-la como moeda de troca.

Melissa abriu um instituto de dança com Rafaela, as duas


seguem unidas e uma ajudando a outra. Tornamo-nos padrinhos da
pequena Amanda, sua filha com Leonardo. Ela não sabe que foi ou
ainda é o grande amor de Guerrero. Meu amigo, ao saber que ela
se casou e teve uma filha, desistiu de voltar para o Brasil, hoje em
dia é um famoso campeão de MMA, conseguiu o que queria, fama e
dinheiro.

— Saudade do tempo que minha preocupação era somente


infernizar a sua vida. Agora temos que decorar este apartamento
que acabamos de comprar, temos trabalho e responsabilidades que
cada dia aumentam mais. — Solto um suspiro dramático e espero o
tapa que não demora a chegar.

Compramos nosso apartamento há um mês. Antes,


estávamos nos dividindo entre a casa dos nossos pais, estávamos
morrendo de vontade de voltar a morar juntos, só que, desta vez,
somos nós que estamos organizando tudo.

— E eu que reclamei quando nossas mães decoraram o


apartamento que moramos em Campinas, agora estou vendo o
quanto as obras são estressantes. E você ainda me deixa doida,
meu idiota favorito.
— Minha chata favorita.

Eu a beijo.

6 anos depois

Melissa
Aperto minhas mãos, nervosa, sem conseguir desviar meus
olhos do palco. Mesmo depois de tantos anos, ainda sinto um frio na
barriga a cada apresentação dos meus alunos.

Da coxia do teatro, estico o pescoço e fito a plateia e é


impossível não sorrir ao ver os olhos das pessoas brilharem com os
nossos bailarinos se apresentando.

— Tia, minha mamãe me mandou te trazer um copo d’água.


Ela disse que a senhora está muito nervosa. — Minha afilhada, me
entrega e o copo e levanta uma sobrancelha.

Em seus quase 10 anos de idade, Amanda é uma criança


muito esperta, amorosa e arteira.

— Obrigada, meu amor. — Beijo seu rosto e aceito. Rafaela


me conhece, sabe que estou uma pilha. Enquanto gosto de ficar na
coxia olhando os dançarinos se apresentarem, ela gosta de ficar nos
bastidores, vendo se tudo ocorre como planejado.

Minha pequena encrenqueira pisca o olho e, antes de sair


andando, para e vira o rosto.

— Ah, meu tio Thomas chegou. — Assopra um beijo e sai


correndo.

— Amanda! — repreendo.

— Tá bom! Me esqueci que não pode correr aqui. — Levanta


as mãos para o alto.

— Aposto que esse comportamento é influência de Thomas


— recrimino com um sorriso nos lábios e volto a focar na
apresentação.

Perto do final, Rafaela aparece ao meu lado segurando minha


mão e quando termina, entramos no palco, abraçamos os
dançarinos e agradecemos à plateia ao som de aplausos.

Quando saio, encontro Thomas me esperando com um


arranjo de flores.

— Como sempre, foi perfeito. Parabéns, meu amor. —


Esmaga os lábios nos meus.

— Você não viu o começo. — Faço bico.

— A reunião demorou mais do que imaginei, assim que


terminou, vim correndo para cá.

— Meu CEO Tom Tonto.


— Minha coreografa chatinha.

Tarde da noite, em nossa cama, após termos feito amor, deito


a cabeça no seu peito e solto um suspiro satisfeito.

— Tenho algo para te contar.

— O quê? — Acaricio seu peito.

— Guerrero está voltando ao Brasil — revela e é impossível


não pensar em minha amiga.

— Ele ainda pergunta por Rafaela? — sondo.

— Todas as vezes que nos falamos.

— Você contou que ela se separou de Leo? — Não foi uma


pergunta, e sim uma afirmação e ele me oferece um sorriso sem
graça.

— A história deles foi interrompida.

— Nisso eu tenho que concordar com você.

— Já a nossa, acho que está na hora de dar o próximo passo.

Ele estica o braço, abre a gaveta da mesinha ao lado e me


entrega uma caixinha preta e eu levanto uma sobrancelha.

— Ah, mulher infame, tem muito tempo que não apronto nada.

— Não tem dois meses que você, junto com Amanda, me deu
uma caixa com baratas falsas. Quase infartei e por um triz não
esganei vocês.
Ele gargalha alto.

— Aquela pequena é uma ótima aprendiz. Mas pode abrir,


prometo que não tem nenhum bicho.

Abro a caixa e encontro um anel com um pequeno diamante.

— Minha chata favorita, minha inimiga de infância, meu


primeiro e único amor, aceita ser minha esposa e companheira por
toda a minha vida? Eu garanto noites quentes, muitos sustos, altas
gargalhadas e uma dose de irritação. — Segura meu rosto e me
beija.

Eu rio alto e assinto, ele põe o anel no meu dedo e eu o beijo.

— Eu amo você, meu Tom Tonto.

Fim.
Há dez anos eu deixei a mulher que amava e fui em busca do
meu sonho.

Está na hora de volta e conquistar aquela que sempre foi


minha!

Em breve...
Agradecimento
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, pois sem ele
nada seria possível. E a minha amada e luz da minha vida, minha
filha, Gabi.

Agradeço às parceiras e amigas literárias, pelas indicações e


ajuda nas divulgações, a Anu e a Juliana, da assessoria CRAZY
FOR HOT BOOKS, que escutam meus surtos quando acho que não
vai dar certo e a minha Beta Natália, que com sua voz, meiga, calma
e tranquila diz que vou consegui terminar, que sempre me incentiva
a escrever novas histórias, obrigado por tudo, adoro vocês. E
agradeço ainda a você leitor pelo desejo de conhecer minha obra.
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